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Bolsa de residuos em Minas

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BOLSA DE RESÍDUOS EM MINAS GERAIS
E EM OUTROS ESTADOS DO BRASIL
Yone Melo de Figueiredo Fonseca
Bióloga, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestranda em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos pelo Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Minas Gerais
Rua Cyro Vaz de Melo, 514/7 - Dona Clara -Belo Horizonte - MG
CEP 31250-000 Fone/fax (031) 497-6918
E-mail: yone@gold.com.br
Maria Cristina Ribeiro
Geóloga, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais,
Master em Environnement Minier - França
Rua Pium-i, 1307/202 - Sion - Belo Horizonte - Minas Gerais
CEP 30310-080 Fone: (031) 226-2759
E-mail: crisgold@joinnet.com.br
Mauro César Pinto Nascimento
Engenheiro Sanitarista, formado pela Universidade Federal
de Minas Gerais
Rua Silvestre Ferraz, 312/303 - Sagrada Família - Belo Horizonte
CEP 31030-120 Fax: (031) 223-7432
Atualmente os resíduos gerados pelas indústrias constituem a principal fonte de degradação ambiental.
Em vista disso, as Bolsas de Resíduos são instituições criadas com os objetivos de reduzir, reciclar ou
reutilizar e valorizar resíduos; reduzir os custos de tratamento e disposição final; orientar quanto ao
manejo adequado, além de buscar uma melhoria contínua. O presente trabalho aborda a existência das
Bolsas de Resíduos no Estado de Minas Gerais e em outros Estados do Brasil e a situação atual das
mesmas.
Palavras-chave: Bolsa de Resíduos , Resíduos Industriais
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INTRODUÇÃO
No âmbito de nosso sistema econômico mundial, os resíduos industriais têm uma crescente importância,
sendo gerados por diferentes processos. Pode-se dizer que constituem a principal fonte de degradação
ambiental. Os produtores de resíduos são cada vez mais responsáveis em assumir uma eliminação
controlada e desenvolver uma gestão de resíduos ambientalmente correta.
Na última década, em todo o mundo industrializado e também no Brasil, têm sido desenvolvidas políticas
de gerenciamento de resíduos. Instituída em 1981, a Política Nacional de Resíduos Sólidos/Resolução
CONAMA, apresenta no artigo 1º seus principais objetivos em relação à política de resíduos sólidos no
Brasil, sendo:
• proteger e melhorar a qualidade do meio ambiente;
• assegurar a utilização adequada e racional dos recursos naturais;
• preservar a saúde pública.
Institui ainda que a manipulação, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e a
disposição final dos resíduos sólidos, em todo território nacional, devem atender à esses objetivos.
Para as unidades geradoras de resíduos industriais institui que as mesmas deverão elaborar plano de
gerenciamento desses resíduos, com aprovação pelo órgão ambiental competente.
Porém, mesmo com a legislação ambiental hoje disponível, o tratamento e/ou redução do volume de
resíduos produzidos apresenta limites técnicos operacionais e as alternativas de reciclagem ou reutilização
dos resíduos têm sido estratégias adotadas. As premissas para os modelos de gestão ambiental estão
contidas na proposta da Agenda 21 - documento da Eco/92, Rio de Janeiro, Brasil.
No estudo de resíduos podem-se apresentar 4 níveis de gestões, definindo-se 3 etapas abordadas
primeiramente.
a) Descrição da situação atual.
b) Alternativas sobre situações a escolher: valorização ou reciclagem.
c) Justificativas da escolha de eliminação.
Neste enfoque poderão atuar as alternativas:
• redução na fonte geradora;
• reciclagem/valorização;
• tratamento;
• eliminação/disposição final.
Neste contexto, a venda e/ou doação de resíduos e sua valorização em mercados diferentes vem sendo
apoiada por órgãos governamentais e privados; sendo a criação da Bolsa de Resíduos um forte elemento
para desenvolvimento do gerenciamento de resíduos. Em função de uma crescente conscientização das
questões ambientais, vem sendo desenvolvidos instrumentos de mercado, buscando compatibilizar a
produção e a qualidade dos produtos (IS0 9000) com a preservação ambiental (IS0 14000).
Desta forma para conseguir tal comercialização, sentiu-se a necessidade da criação de um mecanismo de
gestão ambiental de resíduos que agindo como um facilitador, permitisse a integração e a inter-relação
entre as empresas: a Bolsa de Resíduos.
Com o objetivo de planejar as estratégias de ação para atingir as metas da gestão ambiental, a Bolsa teria
como premissas:
• política de reduzir, reciclar, reutilizar;
• agregar valores ao resíduo;
• redução de custo de tratamento e disposição final;
• orientação quanto ao manejo adequado do resíduo;
• busca de uma melhoria contínua.
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Neste panorama as bolsas de resíduos aparecem como catalisadoras no incremento desta gestão de
resíduos, contribuindo sobre-maneira para a valorização progressiva em âmbito mundial dos mais diversos
e complexos resíduos. Em primeira instância, elas apresentam um sistema de troca de informações à
disposição das indústrias, sobre resíduos disponíveis e desejáveis, favorecendo o conhecimento de suas
características para reciclagem, riscos ambientais e operacionais inerentes e por vezes envolvendo também
a economia de energia e fontes alternativas de combustíveis.
OBJETIVO
Este trabalho visa apresentar a situação da Bolsa de Resíduos do Estado de MG e a existência e atuação
de Bolsas em outros Estados do Brasil.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para esta pesquisa, iniciou-se com o contato e entrevista com o Sr. Wanderley
Coelho Baptista, coordenador da Bolsa de Resíduos de Minas Gerais no Centro das Indústrias das Cidades
Industriais de Minas Gerais (CICI-MG), do qual obteve-se todas as informações e bibliografias disponíveis a
respeito da Bolsa de Resíduos de Minas Gerais, principalmente, e do Brasil.
Através da Bolsa de Resíduos de Minas Gerais e da Confederação Nacional da Industria (CNI) do Rio de
Janeiro, com a qual foram feitos vários contatos, obteve-se informações atualizadas a respeito das bolsas
em atividade no Brasil. Procurou-se então, fazer contato com todas as bolsas do País, solicitando
informações e bibliografias disponíveis. Além disso foram realizadas pesquisas bibliográficas de rotina.
BOLSAS DE RESÍDUOS DE MINAS GERAIS
No contexto da Política Ambiental do Estado, e em consonância com as diretrizes da AGENDA 21,
(Rio/92) e ISO 9000 e ISO 14000, foi traçada uma metodologia para implantar e operacionalizar a Bolsa de
Resíduos de Minas Gerais (BRMG).
Histórico
A BRMG foi criada em 1990, em ocasião do “Simpósio Nacional sobre Resíduos” - “Sistema de controle
Ambiental” - em Contagem-MG, por sugestão de equipe multiempresarial e multidisciplinar (AÇOMINAS,
MACIEL e VALLE, 1990), envolvendo representantes das indústrias, órgão ambiental, universidades,
centros de tecnologia e a comissão de meio ambiente do CICI.
Esta comissão elaborou sob a coordenação técnica da AÇOMINAS e da FEAM uma proposta inovadora,
com a missão de assessorar o setor produtivo mineiro no gerenciamento de resíduos, com a filosofia de
incrementar a adoção de processos de menor impacto ambiental.
Sua concepção abrange, além da troca de informações e negociações de resíduos (comuns a todas as
bolsas), uma gestão ambiental de resíduos e gestão de qualidade, compatibilizada com as diretrizes da
AGENDA 21, ISO 9000 e ISO 14.000 (MACIEL E VALLE, 1992, SOUZA et alli, 1995, SOUZA e MAIA,
1993). Esta concepção forneceu o diferencial entre a BRMG com as demais existentes no país.
Entrou em operação efetiva a partir de 1994, fruto da parceira entre a FIEMG, SEBRAE-MG, FEAM, UFMG,
UBQ e Câmara Internacional de Comércio (CIC-BR) , além da integração com as empresas AÇOMINAS,
PETROBRÁS/REGAP, MAGNESITA S/A, FIAT E BELGO MINEIRA.
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Através de convênios promoveram-se como entidades executoras o Centro de Assistência Industrial para o
Meio Ambiente (CAIMA) e o Centro das Indústrias das Cidades Industriais (CICI).
Objetivo
A bolsa de resíduos é um elo de comunicação e apoio entre empresas, visando facilitar e incrementar o
intercâmbio de resíduos em uma determinada empresa,que com freqüência, podem ser utilizados em outra
como matéria prima primária e/ou secundária em seus processos de produção.
O objetivo primordial é reduzir o volume de resíduos gerados industrialmente, apontando benefícios
ambientais e econômicos.
Para a BRMG, os objetivos definidos englobam:
• promover a comercialização de resíduos do processo produtivo, através da divulgação dos rejeitos
disponíveis e desejáveis;
• orientar as empresas sobre os métodos adequados de manuseio, transporte, armazenamento,
eliminação, reciclagem ou disposição de resíduos;
• fomentar pesquisas técnicas e científicas para redução da produção e expansão da reciclagem de
refugos industriais;
• integrar os usuários ao sistema SEBRAENET, para obtenção de informações sobre resíduos;
• fornecer informações sobre laboratórios que executem a classificação de resíduos industriais.
Diferenças BRMG/outros Estados
A concepção integrativa - “Qualidade produtiva/ Qualidade Ambiental” da criação da BRMG forneceu o
diferencial com relação às demais Bolsas estabelecidas no país, reunindo condições de executar, segundo
BAPTISTA (1996):
• indicar fabricantes de produtos e equipamentos de controle ambiental;
• assessorar as empresas quanto à legislação e normas ambientais;
• oferecer serviços de transportes de resíduos perigosos;
• oferecer serviços de profissionais de consultoria;
• elaborar e implementar tecnologias de despoluição;
• realizar gerenciamento de resíduos nas empresas;
• realizar análises laboratoriais;
• disponibilizar endereço eletrônico para negociação e troca de informações.
Este modelo de iniciativa apresenta estrutura necessária para suporte às empresas no âmbito competitivo
ao mesmo tempo que incrementa uma intensa diminuição nos impactos ambientais gerados por atividades
industriais.
Operacionalização da BRMG
As políticas e diretrizes definidas em 1991 pela equipe técnica interdisciplinar responsável pela implantação
e planejamento da BRMG englobaram estratégias e ações de acordo com cada objetivo traçado,
fornecendo uma matriz operacional que envolve etapas como:
- Estruturar a Bolsa de Resíduos: definindo metas e objetivos a partir de levantamento bibliográfico sobre
bolsas existentes, recursos humanos e operacionais, modelo de registro para operacionalização.
- Promover a Comercialização de Resíduos: para este objetivo foram traçadas estratégias de
cadastramento de empresas, e de resíduos, e sua posterior divulgação em boletins ou métodos afins
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(seminários, programas). Em apoio à comercialização foram definidas estratégias de procedimento fiscal e
cadastro de empresas transportadoras, concretização da comercialização.
- Promover intercâmbio técnico: entre empresas, universidades, centros de pesquisas e órgãos ambientais,
buscando tecnologias adequadas, incentivos fiscais e financiamento para implantação dessas tecnologias
de reciclagem e/ou minimização de resíduos.
Em conjunto, foram definidos organogramas e fluxogramas necessários à operacionalização da BRMG
(Anexo I).
Funcionamento atual da BRMG
A BRMG é definida como uma bolsa do tipo horizontal, que trabalha com todos os setores, proporcionando
uma maior possibilidade de aproveitamento dos resíduos devido à absorção pelos diversos setores.
Desde a criação em 1991, da BRMG e todos os procedimentos de operacionalização e incentivos, grande
parte ficou estagnada, de forma que nos últimos 3 anos a BRMG tem atuação passiva, fornecendo
informações sobre quem produz e quem compra, segundo seu cadastro em Banco de Dados. Desta forma,
tem funcionado até o momento como intermediária de informações e intercâmbio entre as empresas, não
estabelecendo negociações.
Os boletins semestrais contemplam informações cadastradas segundo código para cada empresa, nome
dos resíduos disponíveis e desejáveis, sugestões para aplicação e quantidade ofertada.
O cadastramento abrange classificações segundo a natureza do resíduo, sendo:
Categorias: - Borracha / Plástico
 - Diversos
 - Madeira mobiliário
 - Metais e ligas
 - Orgânicos
 - Produtos metálicos e
 minerais
 - Química/ petroquímica
 e têxtil.
O boletim de resíduos apresenta a diversidade dos produtos e quantidades. Há atualmente cerca de 120
empresas cadastradas pelo CICI na BRMG, com um volume mensal de 300.000 ton/mês de resíduos,
operando principalmente em empresas dos ramos de mineração, siderurgia, metalurgia, e que geram
escórias, borras e lamas.
As figuras 1, 2, 3 e 5 ressaltam a discrepância existente entre oferta e procura na maior parte dos resíduos
cadastrados.
6
5%
95%
Borracha/Plástico, diversos, metais/ligas , orgânicos,
madeira, química/petroquímica, têxtil
Metálicos e Minerais
Figura 1
Relação de Resíduos Disponíveis
Figura 2
Relação de Resíduos Procurados
4%
8%
27%
61%
Diversos, madeira, metais/ligas, têxtil,
química/petroquímica, orgânicos
Borracha/Plástico
Metálicos e Minerais
Combustíveis
7
Figura 3
Relação de Resíduos
Disponíveis x Resíduos Procurados
Dificuldades na operacionalização da BRMG
Apesar de uma política de objetivos e diretrizes bem delineada e trabalhada pela comissão responsável
pela criação da BRMG, diversos pontos problemáticos impediram sua plena atuação segundo os amplos
objetivos definidos a priori.
Segundo o responsável e coordenador atual, o CICI vem operando com poucos recursos financeiros e
técnicos desde a operacionalização da BRMG.
O cadastro enviado para as empresas não obteve ampla aceitação devido principalmente à vigência atual
de uma legislação ambiental punitiva e proibitiva em termos de reciclagem. De um lado, as empresas têm
receio de apresentar reais informações sobre o tipo e volume de resíduos gerados e estas informações
servirem de alvo para órgãos ambientais. Por outro, os órgãos ambientais não têm se mostrado ágeis na
resolução de liberação de licenças e afins, interferindo negativamente na relação tempo/custo no trabalho
das empresas.
Perspectivas Futuras
Em apoio à concepção original, a BRMG, segundo o coordenador atual, deve apresentar um perfil de Bolsa
de Resíduos ativa, sendo um instrumento de mercado visando lucro para sobrevivência própria.
Desta forma devem ser implantados programas de cooperação técnica e convênios com empresas
consultoras no ramo ambiental, passando a BRMG de uma função informativa para um perfil de prestadora
de serviços, com condições de fornecer às empresas um gerenciamento correto para seus resíduos.
Para tal, devem ser implantadas centrais de resíduos, com finalidades de absorver mercado para manuseio,
armazenamento, recuperação e destinação final para os resíduos industrializados. A BRMG pretende ser a
“ponte” com a empresa de consultoria ambiental para tratamento do rejeito e a empresa fonte geradora.
Resíduos
Disponíveis
Resíduos
Procurados
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Resíduos
Disponíveis
Resíduos
Procurados
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A parceria com as centrais de resíduos, através de ganhos percentuais sobre as vendas de serviços e
produtos, deve fornecer condições à BRMG e ao CAIMA de serem auto-sustentáveis. A experiência nos
últimos 4 anos de existência demonstrou que a BRMG não funciona bem sendo somente interlocutora de
compra e venda de resíduos.
No momento, com esta nova concepção, tem-se o projeto de inicialmente diagnosticar os resíduos,
programa este, em parceria com consultoria americana e nacional para fornecer subsídios para criação
das centrais de resíduos.
BOLSAS DE RESÍDUOS NO BRASIL
As idéias de criação de bolsas de resíduos no Brasil surgiram no início da década de 80.
Em 1984 surgiu a primeira proposta para implantação de uma bolsa de resíduos na Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Foi então, efetivamente criada em março de 1986, com
caráter horizontal, fazendo apenas a intermediação entre as indústrias. A participação das indústrias se
dava por meio da ficha de inscriçãoe da classificação em dois campos: resíduos disponíveis e resíduos
desejáveis.
A partir de sua criação, a bolsa da FIESP sofreu várias modificações. Tentou-se fazer com que a bolsa não
fosse um simples balcão de anúncios. A cada informativo colocava-se novamente sua finalidade, buscando
levar os empresários a participarem. Buscava-se a cada boletim de divulgação, torná-lo mais abrangente,
levantando dados sobre quanto estaria sendo vendido e em que isto estaria resultando em termos de
qualidade do meio ambiente.
Por problemas de perda do controle entre as negociações, a Bolsa de Resíduos de São Paulo fechou em
1994.
Em 1984 a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), do Rio de Janeiro, criou um
controle nada convencional: procurou promover a troca de resíduos, evitando assim uma disposição
inadequada ou um mal tratamento dos mesmos. Com o início da troca em 1985, surgiu a necessidade de
uma regulamentação em nível estadual. Lançadas essas diretrizes, recadastraram-se, através de
formulários próprios, todas as indústrias que geravam resíduos, buscando-se posteriormente dar
alternativas ou soluções aos problemas criados pelos resíduos. De início surgiram muitas solicitações
apenas no estado do Rio de Janeiro, que logo estenderam- se por outros Estados do Brasil.
Excelentes resultados foram alcançados com a publicação dos primeiros boletins. Em 1985 conseguiu-se
30% de comercialização, apesar de todas as dificuldades de percurso. A FEEMA instituiu dois níveis de
tratamento, um confidencial e um livre o que tornou possível atingir tal meta nos negócios. Aqueles que
desejassem, divulgavam seus resíduos livremente e faziam trocas ou negociações diretas. Os outros
faziam negócio com intermediação da FEEMA, divulgando os seus resíduos enquanto a própria instituição
encontrava empresas ou recicladores que os desejassem. Essa segunda forma era muito interessante para
a FEEMA, pois era possível exercer um controle maior sobre a circulação dos resíduos. No processo livre,
embora houvesse necessariamente um contato telefônico via FEEMA, foi perdido o controle da circulação
dos resíduos porque muitas negociações passaram a ser feitas diretamente. A instituição, que nem sempre
possuía recursos para desenvolver o trabalho de intermediação, passou a perder mais ainda o controle.
Sem recursos até mesmo para a impressão do boletim de divulgação da Bolsa, ficou quase impossível
promover trocas. A Bolsa de Resíduos do Rio de Janeiro também foi fechada e o que se tem conseguido
fazer atualmente é controlar precariamente a circulação dos resíduos dentro do próprio Estado, através do
“Sistema de Manifesto de Resíduos”. Com ele fica-se sabendo por onde está indo e o que vai ser feito com
o resíduo.
A Bolsa de Resíduos da Bahia foi planejada e executada em 1988 pela Federação das Indústrias do Estado
da Bahia (FIEB) em parceria com o governo estadual, através da Secretaria da Indústria, Comércio e
Turismo. As vantagens esperadas pelos parceiros incluíam a preservação ambiental, ganhos reais advindos
da comercialização de resíduos, diminuição, pela obtenção de insumos mais baratos e a possibilidade se
surgimento de novas oportunidades de investimentos e empregos (FIEB - CEDIC/BA, 1988 in LERIPIO et
alli, 1997).
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A metodologia de ação da Bolsa baiana consiste em distribuir às empresas do Estado um questionário
com informações referentes à empresa, tais como razão social, ramo de atividade e a identificação de seus
resíduos, o estado físico, a quantidade produzida/mês, a forma de comercialização e a reação química do
resíduo. A partir do 3º boletim, foi incluída a apresentação de uma indústria participante, onde constava o
objetivo da empresa, as aplicações de seus produtos, os resíduos e subprodutos gerados e ainda uma
sugestão para utilização dos resíduos. Em sua 3ª edição, a bolsa baiana contava com 67 empresas
cadastradas, as quais ofertavam 150 resíduos e procuravam outros 34 (LERIPIO et alli, 1997).
A Bolsa do Ceará foi criada em 1991 e além de ser uma bolsa de resíduos é também uma Bolsa de
negócios. O objetivo principal da Bolsa é gerar renda para comunidades carentes, através de sua integração
com o setor industrial e ao mesmo tempo oferecer soluções para os resíduos industriais. O objetivo
secundário é o de aumentar a vida útil de máquinas e equipamentos usados. Há um boletim de divulgação
com periodicidade trimestral, com aproximadamente 101 empresas cadastradas e tiragem de 2000
exemplares onde as empresas relacionam os resíduos que procuram, sua quantidade e periodicidade, os
resíduos que ofertam, sua quantidade e periodicidade e a procura e a oferta de máquinas e equipamentos
usados para subcontratação por hora.
A Bolsa de Resíduos e Negócios do Ceará é coordenada pela Federação das Indústrias do Estado do
Ceará (FIEC) através do Departamento de Assistência à Indústria do Estado do Ceará (DAMPI) e conta
com o apoio e participação do SEBRAE/CE, SESI/CE, SENAI/CE e da Universidade Federal do Ceará
(UFC), além da adesão participativa de 23 indústrias.
A Bolsa do Ceará não atua como intermediária nem se responsabiliza pelas operações realizadas através
dela. A metodologia obedece alguns passos, tais como: seleção na bolsa dos resíduos sujeitos ao
programa, estabelecimento de contatos com as empresas produtoras de resíduos, estabelecimento de um
cronograma de visitas, contato com as instituições conveniadas, visitação às empresas selecionadas,
coleta de materiais para análise e apresentação ou publicação da solução encontrada. Em sua edição de
1997, o boletim informativo apresentava 200 resíduos ofertados e 47 resíduos procurados, por parte de 58
empresas (FIEC - DAMPI/ CNI, 1997 in LERIPIO et alli, 1997).
No Rio Grande do Sul existe a Bolsa de Negócios, que surgiu de uma parceria entre a Federação das
Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul - FIERGS e o SEBRAE do Rio Grande do Sul, em 1992. A
Bolsa de Negócios funciona como a bolsa do Ceará, com o objetivo de promover a aproximação de
empresas interessadas na troca ou comercialização de resíduos industriais e máquinas e equipamentos
usados. Bimestralmente é distribuído um boletim com 6500 exemplares, contendo ofertas e procuras de
produtos e os telefones de contatos dos anunciantes. As negociações podem ser feitas diretamente entre
os interessados. Hoje a bolsa contabiliza 58 empresas participantes, 71 resíduos ofertados e apenas 12
procurados.
O Estado do Pará conta com a Bolsa de Resíduos e Negócios, coordenada pela Federação das Indústrias
do Estado do Pará - (FIEPA), pelo Instituto de Desenvolvimento Empresarial do Pará - IDEPAR e pelo
Instituto Elvaldo Lodi. Para participarem da Bolsa, as empresas preenchem a ficha de inscrição onde
relacionam a procura e a oferta de resíduos, dando características, quantidade e periodicidade, a procura e
oferta de máquinas e equipamentos usados e a procura e oferta de horas/máquina para sub-contratação.
Estes boletim são publicados semestralmente e as empresas mantêm contato diretamente entre si. A
bolsa não tem qualquer participação nos negócios e, uma vez efetuado o negócio, as empresas
comunicam imediatamente à bolsa para que esta atualize a próxima edição do boletim. A bolsa de
resíduos e negócios do Pará conta atualmente com 33 empresas participantes, 54 resíduos ofertados e 36
procurados.
A figura 4 expressa graficamente a oferta e a procura de resíduos, em número de itens, nos Estados do
Pará, Rio Grande do Sul, Ceará e Bahia.
10
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
P
ar
á
R
io
 G
ra
nd
e
do
 S
ul
C
ea
rá
B
ah
ia
Oferta
Procura
 Figura 4
Oferta e Procura de Resíduos
 em Relação ao Número de Itens
Além das bolsas brasileiras citadas acima, têm-se conhecimento de que existem bolsas de resíduos
atualmente em funcionamento nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Amazonas e no
Distrito Federal. Entretanto não foi conseguido contato com as bolsas desses Estados.
Perspectivas Futuras
Embora muitas Bolsas de Resíduos no Brasilestejam atuando com relativo sucesso, o que foi observado
como sendo um dos principais problemas das Bolsas é justamente a questão do caráter
horizontal/passivo.
As Bolsas de São Paulo e do Rio de Janeiro não conseguiram se manter justamente por sua
horizontalidade. O fato dessas Bolsas não participarem ativamente das negociações entre as indústrias,
resulta em suas exclusões, ou seja, uma vez que as indústrias já sabem os caminhos de seus interesses,
a presença das Bolsas perde o sentido. Esta é uma constatação que ocorre na maioria das Bolsas do
Brasil. Desta forma, a exemplo do que ocorre com a Bolsa de Minas Gerais, a tendência natural das
Bolsas do Brasil é começar a atuar , a participar ativamente, intermediando as negociações entre as
indústrias, inclusive visando lucros com estas negociações. Isto ajudaria a sustentar toda a estrutura
necessária a um bom funcionamento e, principalmente, as Bolsas teriam amplo controle sobre o que está
sendo gerado e os resultados que estão sendo obtidos.
CONCLUSÃO
Até o momento, em grande parte das Bolsas de Resíduos no País, e particularmente em Minas Gerais, a
atuação de modo passivo e horizontal não tem oferecido resultados condizentes com os amplos objetivos
traçados preliminarmente.
A experiência dos últimos anos vem demonstrando a necessidade crescente de implementar uma atuação
mais eficaz , de modo ativo.
Para tal , devem ser implantadas Centrais de Resíduos com finalidades de absorver mercado para
manuseio, armazenamento, recuperação e destinação final para os resíduos das indústrias.
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Em conjunto , devem ser incentivados programas de cooperação com os orgãos ambientais de modo a
desenvolver maior agilidade nas documentações legais exigidas para a identificação e comercialização de
resíduos industriais e também uma política ambiental que evolua de uma política punitiva para uma política
de cooperação.
Um dos grandes problemas ambientais do mundo moderno está relacionado com os resíduos sólidos. O
desenvolvimento atual baseado num consumo descontrolado dos bens, com um volume expressivo de
desperdício de matéria, vêm exaurindo os recursos naturais e agredindo a natureza, desrespeitando e
ignorando os seres vivos presentes no meio.
A agressão à natureza ocorre, por um lado durante a fase de obtenção dos bens e por outro, com a
geração de resíduos, volume destes que aumenta assustadoramente.
Porém, a preocupação com a preservação do meio ambiente vem crescendo. Na procura de um equilíbrio
entre o ser e o ambiente surge uma nova era, a expectativa de um 3º milênio voltado para uma visão
holística. Diante dessa nova visão criam-se alternativas baseadas num princípio de atuação que envolve a
ética, firmando um compromisso com o desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Sr. Wanderley Coelho Baptista, coordenador da Bolsa de Resíduos de Minas
Gerais e à Prof. Lizete Celina Lange, do Departamento de Engenharia Sanitária da Universidade Federal de
Minas Gerais, por suas cooperações.
ABSTRACT
At present, waste produced in industries is the main source of environmental degradation. Considering this,
the industrial clustering are created to reduce, recycle or reuse wastes; to costs reduction in treatment and
dispose; to guide proper management, besides searching for continous improvement. This work discuss
industrial clustering in Minas Gerais and others states of Brazil.
BIBLIOGRAFIA
AGENDA 21 - capítulos 19 e 21.
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CONAMA. Proposta de Resolução. Política Nacional de Resíduos Sólidos, 1981. 18p.
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1
10
100
1000
10000
100000
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Disponível
Procurados
Figura 5
Resíduos que Apresentam Quantidades Expressivas - Disponíveis x Procurados

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