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Aventuras na História - Edição 179 - Abril de 2018

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it� Ir  MEDECINS SANS FRONTIERES ..,... MlDtCOS SEM FRONTEIRAS 
Somos uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde 
a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição 
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para arrecadar doações. Assim, enquanto comemoram, 
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hoje nahistórla __ 
Os neandertais faziam arte 
AGENDA 
A morte de Mussolini 
DÚVIDA CRUEL 
A China ainda é comunista? 
DITO & FEITO 
Brasil: "tu" vs 11você" 
HISTÓRIA MALUCA 
Há cheiro de quei jo na Casa Branca
AH10+ 
Vitórias que foram, na verdade, derrotas 
COMO FAZÍAMOS SEM ... 
Satélites 
PANELA VELHA 
A origem puritana do cereal matinal 
ARTE & HISTÓRIA 
EI Greco, o maldito 
LINHA DO TEMPO 
Instrumentos musicais 
URBANIDADES 
Cidade Murada de Kowloon 
PERSONAGEM 
Barão Vermelho, o ás dos ases 
CAPA 
A conquista da abolição 
LANÇAMENTOS 
Judeus em Nova York, Maria Madalena
FUTEBOL & HISTÓRIA 
Contrabando no tetracampeonato 
COLUNA DO HISTORIADOR 
Chávez e a crise na Venezuela 
FOTO-HISTÓRIA 
Escravos numa mina, 1888 
6 
10 
12 
14 
15 
16 
18 
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20 
22 
24 
32 
38 
50 
54 
56 
58 
r ' 
editorial 
, 
DEVIDOS CREDITOS 
xiste um mérito no que a Princesa Isabel fez ao tomar a pena para assi­
nar a lei possivelmente mais definitiva, causadora da mudança mais 
-- radical, da história do Brasil. Mas a mão que movia a pena não o fazia 
apenas por suas convicções. Isabel estava impedindo que o país implodisse. 
Livros didáticos, novelas e sambas-enredo não costumam fazer justiça à 
intensidade do movimento cívico pelo fim da escravidão. Um movimento que 
teve entre seus protagonistas os negros, livres e escravos, criando uma cora­
josa campanha de resistência, na qual colocavam na linha sua própria vida, 
carreira, reputação, terminando numa vitória legitimamente democrática. 
Nossa capa é sobre essa conquista, que, dolorosamente, nunca foi completa. 
Também nesta edição, uma duvidosa mas ainda assim aterradoramente 
impressionante realização da espécie humana: em Hong Kong, a mais 
complexa favela e o local mais denso, com maior concentração de pessoas 
de nossa história. Os 100 anos da morte do distinto cavaleiro do ar, o Barão 
Vermelho, um dos pioneiros que tiveram de inventar o combate aéreo na 
prática, em pleno a r . E uma dúvida bem contemporânea: será a China 
ainda comunista? 
Liberdade, que veio tão tardia. 
/ 
1 n -•
) 
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MAIS RÁPIDO, MAIS BONITO, MAIS PRÁTICO 
Fábio Marton 
Editor 
aventurasnahistoria.com.br 
E ASSINE NOSSA NEWSLETTER � bit.ly/aventurasnews 
0JRUOB�Sufffl1NJENOENU 
Luis Fernando Maluf 
01RUORES (ORPOAATIVOS 
Editorial : Claudio Gurmindo (Núcleo CetelNidades) 
e Pablo de la Fuen1e (Núcleos NIJVOS leitores e Mensa�) 
Publicidade: Luciana Jordáo 
Internet e Mídia Digital: Alan fontevecchia 
Juríd ico e RH: Wardi Awada 
Finanças e Control e: Marina Bonagura 
OY!nos Exuuvvo
TI: Ckero Branooo 
OutnORES 
Publ icidade: Thaís Haddad 
Escritório Rio de Janeiro: Pabto de la fuente 
GJRiHCIAS 
Ci1Culaçâo: Luciana Romano tA ssinaturas) 
Eventos: Walacy Prado 
Tecnologia Digital : Nicholas Serrano 
HfsróiuA 
[Lançada em 2003) 
Editor: fãblo Mafton; Arte Mafíl0 FIigueiras; 
Revisoo: Bianca Albert: Estagiários: Paula lepinski e Thiago Uncoins 
Â8('A$ COM!:!!8TIUCAQAS 
PUBllCIOAOE: Andre Cecci (execuivosJ; Meire Mc1riano e Aline Silva (assistentes} 
Rio <le Janeiro: c.wia CNves (ge,enreJ e Helga Viama texecvcivat FOTOGRAFIA: 
Rogério Palaua (SPJ, (adi Pllotto e Faoozia Granaüei (RI); Amanda Loureiro, 
Maliana Sordinha. -ro P<!reira. S.mant1'0 Ribeito e Talnara Pas� 
fAssisrentesJ: CIR<UlAÇÃO: Pablo Barreto; MARKETING PUOUOTÁIIIO E EVfHIOS: 
Móana Truj illo fE<fr°"J: MARKETING: Caroline Ryna e Natalie Fonzar 1/1/<IÍO}
.
TI: Carlos Almeida Dirceu Buen� Ricardo Jota e l'laor Fontes (Assisrenres}. 
LOGÍSTICA: Ani(ley Uma e "'º sant� RECURSOS HUMANO� Renê santos (Consullot}. AOMINISTllA(ÃO, ANA/IÇAS E CONTROLE : Alessanô:o g1va e AAll.Jr 
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PRE·PRESS: Claudio Costa. Emerson Luis ração e Rogelio Veiga 
INBBNET e Mío•A 01aTAL EDITOR: Ademi Conea: PlANEJAMENTO: Bianca <»veira (assislenle,t. MARKETING 
DIGITA� VÍCIO/ Calazans (Analista) 
Rui.(AO E COAAUPOHMHC1A 
SAf> PAULO: Av , Euséllio Matoso, 1375, s• andar, Bu1antá, CEP 05423,tBO , SP, Brasil; 
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te� (21) 2"3·2200, fax: (21) 2S43-1657. ESCRITÓRIO COMERCIAL BRASÍLIA: 
E<l�icio Le Quartie< Bureau. SHN �" l Bloco A S/N, lZ' andar • l<lla lZOO. Cep: 
70701,010, Brasia, � . Bra,il lei: (61) 3536•5138 I (611 3536-5139, e,màl:
caraSbras,:ia@,(arascom.� 
AVENTURAS NA HISTÓRIA 170 ISSN (1006·2415), ano ·� n• 2. é uma il'Ajicação 
mensal da Editora Caras. Ediç6es anteriores: Scfcite ao seu jOl'naleiro pelo preço da Ult ima edição em bancas, milliS despesa de remessa; sujBto a disponi>ilidade 
de estoque. Di.strlbuida em todo o país pela O!nap S.A. Oislíibuidora Nacicnit 
de Publicaçoe,, Sáo Paúo. AVENTURAS NA HISTÓRIA MO arl'nite puWcida<le 
redaciooat 
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AS NOVIDADES DA ARQUEOLOGIA E DOS ESTUDOS HISTÓRICOS 
hamados de Homo stupidus 
("homem estúpido") pelo bi ­
ólogo alemão Ernst Haeckel 
em seus estudos no século 19, os ne­
andertais viraram o jogo. Uma pes­
quisa feita por cientistas do Reino 
Unido e da Alemanha revelou que 
eles são os autores de pinturas ru­
pestres com mais de 64 mil anos 
encontradas em cavernas da Espa­
nha - humanos modernos só chega­
ram à região há 40 mil anos. 
"Todos nós esperamos que isso 
ajude a melhorar a percepção que as 
pessoas têm dos neandertais. Que 
elas não os vejam mais com um com­
portamento inferior ou com menos 
cultura em comparação à nossa es-
6 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
pécie", disse o arqueólogo e coautor 
do estudo Chris Standish em entre­
vista à Inverse Science.Três cavernas foram analisadas 
com o apoio do método urânio-tório, 
estudando crostas de carbonato que 
cobriam parte das pinturas. Basean­
do-se na datação dos símbolos, mar­
cas das mãos e na forma geométrica 
dos desenhos, exclui-se a hipótese de 
autoria por humanos modernos. 
Na caverna La Pasiega, em Puen te 
Vesgo, uma pintura em forma de es­
cada foi datada de mais de 64800 
anos atrás. Nela, pequenos animais 
sentam-se entre os "degraus", mas 
eles podem ter sido pintados quando 
o Homo sapiens chegou à Europa. Já
na caverna de Maltravieso, oeste es­
panhol, a marca da forma de uma 
mão foi estimada como tendo pelo 
menos 66700 anos. Na última caver­
na, a de Ardales, estalagmites e esta­
lactites, lembrando cortinas em pa­
redes, parecem ter sido pintadas de 
vermelho e existir há 65500 anos. 
O fato de os Neandertais terem 
escolhido deliberadamente as ima­
gens - e selecionado onde colocá-las 
- mostra que possuíam um compor­
tamento determinado, característica
antes atribuída só aos humanos mo­
dernos. O próximo passo é analisar
marcas em cavernas da França e de
outros países. E saber se a arte deles
era generalizada.
,r A -
MUITO GAS, POUCAS BENÇAOS 
MISTÉRIO ANIMAL SOLUCIONADO EM TEMPLO OE HAOES 
É possível caminhar pelos Portões 
do Inferno e sobreviver? Para os 
romanos, sim. Ao levar animais para 
uma das entradas do submundo, o 
templo de Hades em Hierápolís 
{hoje, Turquia}, sacerdotes voltavam 
intactos. Os bichos morriam em 
minutos. Mistério resolvido 
em um estudo da Universidade de 
Duisburg-Essen, Alemanha. Já era 
sabido existir uma fissura profunda 
no sítio arqueológico, responsável 
por emitir gás vulcânico, formado 
pelo tóxico e mortal dióxido de 
carbono. O biólogo Hardy Pfanz e a 
sua equipe foram além. Mediram a 
concentração do gás ao longo do 
dia. Sob a luz solar, o movimento do 
ar aquecido dissipava a substância. 
' 
, 
A noite, o gas se concentrava perto 
do chão em quantidade suficiente 
para matar em minutos. Conclusão: 
os animais não eram altos o 
bastante para manter a cabeça 
acima da névoa. O contrário 
acontecia com os sacerdotes. 
É uma visão de alguns 
dos primeiros exemplos 
do que podemos descrever 
e A e como c1enc1a 
TROELS PANK ARB0LL, DA UNIVERSIDADE DE COPENHAGUE, SOBRE ESTUDO EM 
TEXTOS DE 2700 ANOS, ESCRITOS EM ARGILA POR KISIR-ASHUR, UM ESTUDANTE 
DE MEDICINA DO FINAL DO SÉCULO 7 A.C., NO IMPÉRIO NEOASSÍRIO. HÁ DESCRI­
ÇÕES SOBRE A PRÁTICA EM ANIMAIS, PROGREDINDO PARA BEB�S E ADULTOS. 
PETS DO PALEOLITICO 
Pesquisa da 
Universidade de Leiden, 
na Holanda, sugere que 
os cães já eram de 
estimação há 14 mil 
anos. Resultado da 
análise de um túmulo
com um filhote (doente e
cuidado antes de 
morrer). O fato de esse 
filhote sem função ter 
sido cuidado indica uma
relação não utilitária. 
PROVA DE EXIST�NCIA? 
Selo em barro achado 
em Jerusalém pode ter 
o nome do profeta
Isaías - e ser a primeira 
evidência dele além da 
Bíblia. Os pedaços de 
argila referem-se a 
Yesha'yah[u] Nvy (l'.l.' 
17'1!/JJ'õl) - a primeira
parte seria "Pertence a 
Isaías" e a segunda está 
incompleta. 
sss (''') li 
PASSADO ALCOÓLICO 
Evidências de um 
estabelecimento para 
fazer cerveja e pão no 
Egito foram achadas por 
pesquisadores da 
Universidade de 
Chicago. A descoberta
ocorreu em Tell Edfu, 
perto do Cairo, e data 
de 2500 a 2400 a.e. 
-período da construção
das pirâmides. 
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 7
hoje na história 
O EUROPEU DE 10 
MIL ANOS ATRAS 
CABELOS ENCARACOLADOS, PELE 
NEGRA E OLHOS CLAROS 
Um estudo conduzido 
por especialistas em 
evolução humana e DNA 
do Natural History 
Museum e da University 
College London 
apresentou ao mundo o 
aspecto do Homem de 
Cheddar, o esqueleto 
humano completo mais 
antigo, do período 
Mesolítico, já encontrado 
na Grã-Bretanha. O 
visual, provavelmente 
comum para a época em 
que o Homem de 
Cheddar viveu, veio 
depois de uma pesquisa 
com análise de genoma. 
"Ele é apenas uma 
pessoa, mas também é 
um indicativo de toda a 
população da Europa 
naquele tempo", disse 
Tom 800th, arqueólogo 
do Natural History 
Museum. "Realmente 
mostra que essas 
categorias raciais 
imaginárias que temos 
hoje são construções 
modernas, ou bem mais 
recentes, e que não são 
aplicáveis ao passado." 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ' . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
sarcófagos 
DE PEDRA E CERCA DE 
estátuas 
pequenas 
ENCONTRADOS, 
AO SUL DO CAIRO, POR 
ARQUEÓLOGOS EGÍPCIOS 
NUMA NECRÓPOLE 
ANCESTRAL. AINDA HAVIA 
UM PINGENTE COM UM 
HIERÓGLIFO QUE SIGNIFICA 
"FELIZ ANO-NOVO". 
8 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
ENIGMA DECIFRADO 
Como os egípcios foram capazes 
de alinhar a Grande Pirâmide de 
Khufu (tradicionalmente Quéops) 
quase que perfeitamente ao 
longo dos pontos cardeais? A 
resposta pode estar com Glen 
Dash, engenheiro que estuda as 
pirâmides de Gizé. Em artigo 
publicado no Journal of Ancient 
Egyptian Architecture, ele diz que 
o equinócio de outono é a chave
para o mistério. No dia 22 d e
setembro de 2016 (equinócio de
outono daquele ano), Dash
colocou uma vara numa 
plataforma de madeira e marcou 
sua sombra ao longo do dia. 
Descobriu que a ponta da 
sombra corre em linha reta e 
quase perfeitamente a leste­
oeste - o grau de erro é 
ligeiramente no sentido anti­
horário, semelhante ao das
pirâmides de Khufu, Khafre e 
Menkaure. Mas o próprio Dash 
admite que não há 100% de 
certeza - não faltam pesquisas 
sobre outros possíveis métodos. 
ALHEIA 
PICASSO FEZ "RECICLAGEM" PARA CRIAR A MULHER 
VISTA NA OBRA MISERÁVEL AGACHADA 
Munidos de um moderno sistema 
de fluorescência por raio X, 
pesquisadores da Universidade de 
Northwestern, do Instituto de Arte 
de Chicago, da Galeria de Arte de 
Ontário e da Galeria Nacional de 
Arte de Washington descobriram 
que Pablo Picasso pintou La
Miséreuse Accroupie ("A Miserável 
Agachada"), de 1902, sobre a tela 
de um artista desconhecido. A 
mulher surgiu sobre os traços do 
topo de um penhasco. As linhas 
usadas para desenhar a margem 
do rochedo foram incorporadas às 
costas da mulher Além disso, 
incialmente, Picasso pintou a 
figura com o braço e a mão direita 
expostos, segurando u m disco. 
Mas mudou de ideia e fez o manto 
verde por cima - fato revelado pela 
diferença entre elementos da tinta 
que pintou os membros e o disco e 
o azul-verde que veio depois.
ESPORTE DE 
1900 ANOS 
Luvas de boxe romanas 
foram encontradas perto 
da Muralha de Adriano,
no norte da Inglaterra. O 
par remonta ao ano 120 
e é o único exemplar 
sobrev ivente conhecido.
Objetos assim foram
registrados em pinturas, 
esculturas e mosaicos 
greco-romanos - na 
Antiguidade clássica, a 
luta com os punhos era 
parte dos eventos 
olímpicos. Diferentemente
do que é usado hoje, 
cobrindo toda a mão, o
par é formado por faixas 
de couro acolchoadas, 
lembrando uma luva de 
MMA. Segundo os 
descobridores, da ONG 
Vindolanda Charity Fund, 
as luvas têm design 
confortável e protegem 
bem os dedos. Elas são 
recheadas de fibras 
naturais, contra o impacto, 
e se encaixam 
perfeitamente na mão 
humana. 
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 9
hoje na história -"GENDA
ACONTECEU EM 
Um número 
entre 200 e 2 m il
- �� civis romenos
1941 são mortos 
durante o Massacre de
Fantana Alba. A União 
Soviética havia invadido
a Romênia, e eles foram
impedidos de passar para 
o outro lado .
O RMS Titanic
inicia testes
-� - marítimos -
1912 o qu e se deu 
dois dias após o 
equipamento ser concluído 
e oito dias antes de sua 
viagem inaugural. A bordo 
estavam 78 foguistas 
e 41 oficiais e tripulantes.
Joseph Stalin 
torna-se 
--- - ... o primeiro
1922 secretário-geral 
do Partido Comunista da
União Soviética. Eleusaria
do inicialmente limitado
poder para derrubar a 
oposição e eventualmente 
controlar o país.
THE BEATLES 
"SHE LOVES VOU"
Os Beatles
ocupam 12 
...-,-- - posições no 
1964 Billboard Hot
100 singles chart, sendo
cinco delas no topo. O feito
impulsionou a banda para
uma seleta lista de artistas 
com mais canções que 
ficaram em primeiro lugar.
. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . �· ......................................... ' ......... : ..................................... ' ........ ' ... ••;, ................. ' ................................. . 
Na Virgínia, a 
índia americana 
Pocahontas 
1614 secasa com 
o colonizador inglês John
Rolfe. A união levou à
paz entre os colonos de 
Jamestown e as tribos 
de Powhatan, vindos de
um passado de confli to .
. . . . . . . . .
, Durante a , Nasce , 
. . .
. . . 
: Batalha de , Francisco , . . . . . . 
, Tapso, Julie , Xavier. : : 46 a.e. César derrota : 1506 O missionário : . . . 
: os politicos Marco Pórcio : católico foi cofundador da . . . 
: Catão, o Jovem, e Metelo : Companhia de Jesus e : 
. . . 
, Cipião. A derrota resultaria , liderou uma extensa missão : 
: no suícidio de ambos e na : na Ásia. Ainda foi muito : . . .. . . 
: morte de 1 O mil inimigos : influente na evangel ização, : ' ' 
I 
• 
, pelas tropas de César. , principalmente na lndia. , . . . . . 
.................................................... , ................................................... . 
1454 
O Tratado de 
Lodí encerra, 
finalmente, os 
conflitos entre 
Milão e Veneza. Era 
particularmente do 
interesse de Veneza, 
que tinha o seu império 
comercial ameaçado 
pelos otomanos. 
..............................................•.....
Iniciado o 
julgamento do
--- nazista Adolf
1961 Eichmann em 
Jerusalém. Considerado o 
responsável pela logística 
do Holocausto, disse ter 
"apenas cumprido ordens". 
Seria enforcado no ano 
seguinte. 
1 Ü AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
O vulcão 
Tambora entra 
em erupção na 
1815 ilha indonésia 
de Sumbawa. A catástrofe 
durou três meses, matou 
71 mil pessoas e impediu o 
verão no Hemisfério Norte, 
afetando o clima da Terra 
por cerca de dois anos.
I 
1981 
8 
Os atores
Douglas 
Fairbanks 
1918 e Charlie
Chaplin vendem, em 
Nova York, títulos de
guerra do governo 
financiavam operações
m ilitares e gastos na
época da Primeira Guerra. 
" 
1 
Na Escócia 
nasce Bonnie, 
-- -- a primeira cria 
1998 da ovelha Dolly.
O nascimento provou que 
um animal clonado é
capaz de se reproduzir 
normalmente. No ano 
seguinte ela daria à luz
cordeiros gémeos. 
1 
Quatro pessoas 
morrem no 
- --� Tiroteio
1881 dos Cinco 
Segundos, ocorrido 
em EI Paso, no estado
americano do Texas. Esse
é um dos momentos mais 
lembrados da era do 
Oeste Selvagem.
1 
Na semifinal
da Copa FA, 
- -- um erro nas
1989 catracas leva
a uma letal concentração
de pessoas no estádio de 
Hillsborough, Inglaterra. 
O Desastre de
Hillsborough tomaria 96 
vidas, a maioria por asfixia.
Para restaurar 
o catolicismo,
- - -jacobitas 1746 escoceses lutam
contra ingleses na Batalha
de Culloden, na Escócia. 
Derrota dos jacobitas:
tradições escocesas são
banidas e as Terras Altas 
ficam desabitadas. 
------------,· .................................................. : .................................................... , ................................................... . 
O francês 
Jacques 
Cartier começa 
1534 a sua viagem
em direção ao que é hoje 
o Canadá. O objetivo inicial
da sua comitiva era 
encontrar uma passagem 
ocidental para os
mercados da Ásia. 
É assinado 
o Tratado de
-- - Shimonoseki,1895 pondo fim à 
Primeira Guerra 
Sino-Japonesa. A China
é obrigada a abrir mão da
Coreia e a ceder Taiwan, 
a Península Liaodong e as 
Ilhas Penghu ao Japão. 
. . 
: Sob o : . .
: pseudônimo de :. . 
Irene de 
Atenas 
: Allan Kardec, : �� - organiza um
j 1857 Hippolyte Léon / 797 golpe contra. . 
: Rivail publica o Livro dos : seu próprio filho, o. . 
, Espíritos, considerado , imperador Constantino VI.. . 
: o inicio da codificação : Deposto, cego e ferido, ele. . 
: da doutrina espírita. Foi o : morre. Irene seria deposta . . 
: primeiro de cinco editados , numa conspiração de . . 
: por Kardec sobre o tema. : nobres, em 802. . . . ······ ...................... ······················:····· .................................. ·············:-· ...... ······················ .......... ······ ...... .
O líder 
separatista 
Tiradentes, 
uma das figuras 
principais da Inconfidência
Mineira (provavelmente
não seu líder) é executado 
e esquartejado. De classe
baixa e sem títulos, foi o 
único a receber essa pena. 
. . . . . .: O gás cloro é : . . 
, usado como :. .. . 
A Coca-Cola 
muda sua 
fórmula e: arma química : 
j pela primeira j 1985 lança a New
: vez. Cerca de 170 : Coke. A resposta é. . 
: toneladas foram usadas : esmagadoramente. . 
: pelo Exército alemão : negativa. A fórmula. . 
: contra as forças francesas : original estaria de volta. . 
: na Segunda Batalha de : ao mercado em menos 
. . 
: Ypres, Primeira Guerra. : de três meses. . . . . . .................... .......... .................. ................................ ... ....................... , .................................................... ., ............................................ . 
Termina a 
Conferência 
---- de Bandung.
1955 Na reunião, 29
nações da Ásia e da África 
redigiram uma declaração 
que condena o racismo e 
o colonialismo, e rejeita o
poder das superpotências 
durante a Guerra Fria. 
Atenas se rende 
a Esparta, 
--- encerrando 
404a.c. a Guerra do
Peloponeso. É o fim 
da liberdade política e 
da democracia ateniense. 
Caminho aberto para 
a unificação pelos 
macedónios. 
Mais de 3 mil
meteoritos 
--- caem na cidade
1803 de t.:Aigle, na 
França. O episódio
convenceu os cientistas 
europeus de que pedras 
extraterrestres existiam 
e deu início à meteorítica, 
os estudos de meteoritos.
Freedom Day, 
feriado sul­
--- africano que 
1994 comemora
as primeiras eleições
pós- apartheid. Marca 
o estabelecimento de um
novo governo democrático
liderado por Nelson
Mandela .
. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . ··,---..--- --
O ditador 
Benito 
---.. Mussolini e sua 
1945 esposa são
executados por integrantes 
das forças de Resistência
Italiana. Os corpos dos 
dois são exibidos
pendurados pelos pés
em um posto de gasolina. 
É fundada a 
Organização 
---.para a 
1997 Proibição de
Armas Químicas 
(Opaq). A qual tem como
mandato a destruição e a 
prevenção do surgimento 
de armas de destruição 
em massa. 
O físico 
britânico 
--- Joseph John 
Thompson 
anuncia o descobrimento
do elétron, partícula 
elementar do átomo,
responsável pelo
magnetismo, eletricidade 
e fenómenos químicos.
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 11 
LISTAS, CURIOSIDADES, ARTE E INFOGRÁFICOS 
DÚVIDA CRUEL 
, 
A ECONOMIA DE MERCADO CONVIVE COM UM 
PARTIDO ÚNICO COMUNISTA. FAZ SENTIDO ISSO? 
TEXTO Maria Carolina Cristianini 
A 
resposta técnica é sim. Afi­
nal, a China é comandada 
pelo Partido Comunista Chi­
nês. E a resposta óbvia é não. Fala­
mos de um país onde diversas mar­
cas de carro podem ser vistas pelas 
ruas, emolduradas por arranha­
céus modernos, novos-ricos desfi­
lando em roupas de grife, executivos 
ocupados com seus celulares. A 
expressão "negócio da China" faz 
mais sentido que nunca. Pequim e 
Xangai hoje estão muito mais para 
Nova York que Stalingrado. 
A verdade é mais difícil de apre­
ender. Para o historiador Marcos 
Cordeiro Pires, professor de rela­
ções internacionais e ciências so­
ciais da Unesp, a China é coerente­
mente marxista. "O capitalismo não 
se caracteriza apenas poruma eco­
nomia de mercado, mas pelo poder 
político da burguesia. Apesar de a 
China praticar a economia de mer ­
cado, a burguesia do país não tem 
esse poder. Todas as decisões eco­
nómicas são tomadas pelo Partido 
Comunista, também forte no setor 
12 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
de serviços, como os bancos. O par­
tido é, declaradamente, baseado nos 
princípios de Karl Marx." 
Os princípios, no caso, sendo que 
a revolução comunista nasce do pro­
letariado no capitalismo avançado. 
Essa ideia guiou ninguém menos 
que Lenin nos primeiros anos da 
União Soviética, quando lançou a 
Nova Política Económica (NEP), res­
tabelecendo uma economia de mer­
cado de forma limitada, após ter 
abolido toda a propriedade no come­
ço da Revolução Russa. 
A China também começou ten­
tando o caminho direto. Em 1949, 
quando Mao Tsé-Tung e o Partido 
Comunista Chinês venceram, o pen­
samento era de que a construção do 
socialismo deveria acontecer ime­
diatamente, mesmo com a China 
mergulhada no atraso. 
Essa ideia foi enterrada a partir 
de 1978, com a ascensão de Deng Xia­
oping. "A posição desse outro setor 
do partido entendia que a transição 
socialista teria como condição o de­
senvolvimento das forças produti-
vas, um aumento significativo da 
riqueza social da nação", explica 
Marcos Dei Roio, professor de ciên­
cias políticas da Unesp. 
Em 1979, o governo chinês lançou 
uma ampla reforma que pretendia 
fazer do país uma potência mundial. 
E conseguiu. A segunda maior eco­
nomia do mundo pratica o chamado 
capitalismo de Estado, nome tam­
bém usado para a NEP de Lenin. 
Para a chinesa Ann Lee, profes­
sora adjunta da Universidade de 
Nova York, são sinais de que o país 
"está mais para capitalista com as­
pirações socialistas". Lee defende 
que o comunismo não vem sendo 
praticado e falhou sob o comando de 
Mao. Que a revolução proletária ide­
alizada por Marx ficou na promessa. 
PROMESSA PARA O FUTURO 
Adiar a revolução indefinidamente 
não é exatamente hipocrisia. Isso 
faz sentido, de acordo com Ann 
Lee, numa sociedade que, segundo 
os próprios chineses, pensa em sé­
culos. "Se abrirmos o leque para 
2 mil anos, podemos observar que 
a sociedade chinesa nunca teve o 
individualismo, tão presente no 
mundo ocidental, como algo central. 
É uma questão de origem de um 
povo", diz Marcos Cordeiro Pires. 
Dentro do pensamento chinês, o 
prometido comunismo, o mundo 
sem propriedade privada, Estado 
o u opressão profetizado por Marx,
chegará um dia. Só não se sabe em
que século. Ou milênio.
Enquanto não vem o comunismo, 
o sistema chinês também não é exa­
tamente o capitalismo clássico. As
estatais não foram abandonadas.
Representando apenas 3% das em­
presas atuais, elas são responsáveis
por, de acordo com dados do Epoch
Times, entre 25% e 30% do total da
produção industrial.
Além disso, o partido, com quase 
90 milhões de membros, mantém 
integrantes ou seus familiares na 
direção de indústrias-chave. 
Alguns dos principais empresá­
rios chineses mantêm relações com 
o partido, apesar do endurecimento
recente do governo. Em 2017, o
nome de um desses bilionários,
WangJianlin, emergiu acompanha­
do de acusações de corrupção. Seu
conglomerado, apesar das boas re­
lações com o partido, acabou se tor ­
nando alvo de investigação sobre
fraude financeira e entrou na mira
do presidente Xi Jinping. Acabou
tendo seu financiamento cortado.
A China mantém as portas aber­
tas para os negócios, mas continua 
a ser um dos regimes mais repres­
sivos do mundo. Não há como saber 
se os chineses compram mesmo essa 
versão "paciente" do comunisn10. 
Para garantir que ninguém saia dos 
trilhos, um exército de 2 milhões de 
pessoas é empregado pelo governo 
para controlar a internet e a opinião 
pública. Por ora, da "ditadura do 
proletariado", os comunistas chine­
ses implementaram com sucesso a 
primeira parte. 
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 13
almanaque DITO & FEITO
vs 
.A. 
A ORIGEM DOS PRONOMES 
E COMO O BRASIL SE DIVIDE 
TEXTO Maria Carolina Cristianini 
R 
egistros das formas de trata­
mento tu e vós, ambas com 
origem n o latim, aparecem 
antes da língua portuguesa, no idio­
ma galego-português, em textos do 
início do século 13. Na época, estas 
eram as duas únicas formas de se 
referir à segunda pessoa, tu, mais 
informal, usado dentro das famí­
lias, e vós, mais respeitoso, como n o
tratamento dispensado à realeza. 
Foi só por volta de 1500, depois da 
separação entre português e galego, 
que modificações começaram a apa­
recer em vós, como vossa graça, vos­
sa excelência e vossa mercê. 
Pelo uso mais frequente, vossa 
mercê se tornou alvo de mais modifi­
cações fonéticas e semânticas. Assim, 
percorreu os seguintes estágios: vossa
mercê , vossernecê , vosrnecê , você.
14 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
.
.
• Os dados se referem às capitais
Já no fim do século 17, você aparece 
nas conversas em família, abando­
nando a origem respeitosa -que fica 
por conta de expressões como vossa 
excelência ou senhor. 
No Brasil, segundo o linguista 
Paul Teyssier, em História da Língua
Portuguesa, "o vós desapareceu, mas 
o tu sobrevive apenas no extremo
Sul e em áreas não suficientemente
delimitadas do Norte". Hipóteses
para tal falam em afirmação de va­
lores regionais - e, em Santa Catari­
na, da influência açoriana.
Catarinenses 
' e maranhenses \ empata�em segundo lugar no tu . 
'·. -
••••• 
''''' 
••••• 
''''' 
Sem qualquer variação desde sua 
origem, o tu vem do latim idêntico. 
É provável que tenha surgido no 
protoindo-europeu, falado há cerca 
de s mil anos, de onde também veio, 
entre outros idiomas, o sânscrito. 
Basta conhecer o significado do 
famoso nan1astê para constatar se­
melhanças entre o latim e o sânscri­
to demonstradas pelo tu. O termo é 
formado pela junção de nan1ah e te
-na,nah quer dizer "inclinar a cabe­
ça" ou "curvar-se" e te é um primo
do latim tu.
almanaque HISTÓRIA MALUCA
PRESIDENCIAL 
POR DOIS ANOS, A CIDADE DE WASHINGTON 
PÔDE ACHAR A CASA BRANCA PELO CHEIRO 
TEXTO Maria Carolina Cristianini 
'"""", que dar de presente ao ho­
mem mais poderoso do país? 
, .. �· Andrew Jackson, sétimo 
presidente dos EUA, se viu surpre­
endido com um agrado peculiar na 
Casa Branca. Um bloco de queijo. 
Não qualquer bloco de queijo. Um 
cheddar gigante com mais de meia 
tonelada - 635 quilos, exatamente. 
A façanha veio do fazendeiro 
Thomas S. Mecham, morador de 
Sandy Creek, em Nova York. Quan­
do a ideia de fazer um queijo gigante 
para celebrar o aniversário de gover­
no de Jackson surgiu, em 1835, Me­
cham não perdeu tempo - ele tinha 
os meios e o conhecimento para pro­
duzir a deliciosa monstruosidade. E 
não bastou fazer uma só: foram dez, 
expostas numa homenagem ao pre­
sidente realizada em Oswego. A roda 
de queijo destinada ao governante 
era, naturalmente, a maior de todas. 
Com cerca de 1,2 metro de diâmetro 
e o,6 metro de espessura, trazia uma 
faixa com os dizeres "a União, ela 
deve ser preservada" - frase famosa 
entonada por Jackson durante o De­
mocratic Jefferson Day de 1830. 
A data não era por nada. Esse não 
era o primeiro queijo na Casa Branca. 
Só o maior. O próprio Jefferson tam­
bém tinha sido dono de um queijo 
semelhante, com 560 quilos, em 1802. 
Após inspirar o patriotismo, o queijo 
foi enviado de barco até o seu novo lar 
na Pennsylvania Avenue. A tiracolo 
foram dois outros blocos com metade 
do tamanho - estavam endereçados 
para o v ice -presidente Martin Van 
Buren e para o governador nova-ior­
quino William L. Marcy. 
O que Jackson fez com tanto quei­
jo? Dividiu entre os seus amigos. 
Mas não havia amigo o suficiente. O 
queijo permaneceu alojado na Casa 
Branca por dois longos anos, ga­
nhando um odor cada dia mais in­
tenso. Em seus últimos dias, dizia-se 
que dava para senti-lo a seis quartei­
rões. Era possível achar a casa do 
presidente pelo cheiro. 
Somente em 22 de fevereiro de 
1837 Jackson conseguiu dar um fimno cada dia menos desejado hóspe­
de. Tratou de servi-lo aos convida-
1111111 111111 
m1n 1111111 1111111 
=-
í .. 1 .. ••1·· 1:: •• 1·
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lfil üll m 'I' 
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' 1 li 1 �· m Ili li 1 ,/' 1 UI 
'*" 
1 
dos de seu último evento público 
como presidente. Em duas horas, as 
10 mil pessoas que visitaram a Casa 
Branca comeram cada centímetro 
cúbico que o presidente e seu amigo 
não haviam dado conta de ingerir. 
Quando Martin Van Buren assumiu, 
no mesmo ano, sua primeira tarefa 
foi se livrar do peculiar perfume dei­
xado pelo antecessor. 
Em 2014, o governo an1ericano 
resolveu celebrar a memória de Jack­
son e ouvir o público com a criação 
do Big Block Cheese Day - ocorrido 
também em 2015 e 2016 no governo 
de Barack Obama. 
Misericordiosamente para o pró­
ximo ocupante da cadeira presiden­
cial, não houve queijo. Todos foram 
convidados a enviar mensagens e 
perguntas pelas redes sociais para a 
equipe da Casa Branca, que respon­
deu ao vivo. 
1:: •• 
._ • 
mUI
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 15
( 
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l! 
llli.
almanaque 
16 
• • • 
UMA VITÓRIA QUE, NA VERDADE, É UMA DERROTA. AO LONGO 
DA HISTÓRIA, MÚLTIPLOS GENERAIS GANHARAM A BATALHA PARA 
SE VEREM INCAPAZES DE VENCER A GUERRA 
1 BATALHA
.._DEASCULO 
. . ' 
Durante a Guerra Pírrica, os
romanos lutaram contra o exército 
grego do Epiro, sob o comando do 
rei Pirro. O plano dele era vencê­
los e fazer com que os italianos -
sob o domínio dos romanos -
passassem para o seu lado. Pirro 
esmagou as tropas romanas, mas, 
ao mesmo tempo, perdeu muitos
comandantes e oficiais que havia 
levado para a Itália. Os romanos, 
que perderam mais, puderam repor 
suas baixas, mas não os epirenses. 
Pirro perdeu, Roma começou a se 
tornar uma potência, e daí vem 
a expressão "vitória pírrica". 
1 BATALHA 
_DEAVA RAIR 
QUAND0:f;T:1.�.�-r:'!"rl�9!' 
QUEM: · , · , · . 
Império Sassânida 
De um lado, as tropas rebeldes
armênias lideradas por Bardanes li 
Mamicônio e, do outro, os exércitos 
sassânidas da planície de Avarair.
Os persas sassânidas pretendiam 
converter e impor o rito do sol e do 
fogo (do zoroastr ismo) aos
armênios, que se recusaram a 
abandonar a sua fé. Os sassânidas 
foram vitoriosos, mas os cristãos
só ganharam mártires, lutando 
ainda mais motivados. Em 484, 
o Tratado de Nvarsak deu aos
armênios o direito de manter sua fé.
ABRIL 2018
•. B�TALHA DE 
• LUTZEN
Travada nas proximidades 
do povoado alemão de Lützen, 
envolveu tropas protestantes 
(maioria de suecos) e católicas
(maioria de romano-germânicos). 
Os suecos estavam sob a liderança 
do general Gustavo Adolfo 11, que 
usou de sua superioridade em 
armas e tática para adquirir 
vantagem - e conseguiu. Mas 
não viveu para ver. Desatento 
por causa das más condições 
climáticas, acabou baleado pelos 
inimigos. Sem seu líder, os 
protestantes desistiram da guerra e 
os católicos mantiveram seu poder. 
• 
BATALHA DE 
MALPLAQUET 
�;
,· 
�
· 11 de setemoro de �709
• Monarquia Habsburgo,
P.rovincias Unidas, Grã-Bretantia 
e o Reino de Prússia x Bourbons 
da F.rança e Esr!anha 
A aliança holandesa-britânica, 
sob a liderança do duque John 
Churchill de Marlborough, era 
composta de 100 mil soldados. 
Os franceses, liderados pelo 
general Claude de Villars, 
contavam com cerca de 90 mil 
homens. Na batalha mais 
sangrenta do século 18, os 
britânicos venceram, perdendo 20 
mil homens, duas vezes mais que 
os franceses, que se retiraram de 
forma organizada.
BATALHA DE 
1 BU NKER HILL 
Foi no início da Guerra 
Revolucionária Americana,
durante o Cerco de Boston. 
Os líderes revoluc ionários dos EUA
descobriram o plano dos britânicos 
de levar as tropas até as colinas ao 
redor de Boston - com isso teriam 
controle sobre o porto da cidade. 
Os milicianos cercaram a colina de 
Bunker Hill e foram atacados pelos 
britânicos. Apesar da vitória do 
Reino Unido, houve mil mortes, 
enquanto os americanos perderam 
450 homens. 
BATALHA DE 
_BORODINO 
QUANDO: 
QUEM: 
Sob a liderança de Napoleão 
Bonaparte, o objetivo dos 
franceses era capturar Moscou, 
forçando os russos a se 
renderem. Após a vitória em 
Borodino, em 14 de setembro, 
a cidade estava sob seu controle. 
A batalha havia custado 35 mil 
vidas. Do lado russo, apesar das 
perdas elevadas - 40 mil mortos 
-, as tropas foram rapidamente 
substituídas. Na primeira noite 
de Napoleão em Moscou, a 
cidade foi incendiada. Ao final, 
os franceses tiveram de 
abandoná-la e recuar pela Rússia 
no inverno. Uma catástrofe. 
GUERRA 
DE IN VERNO 
QUANDO: !'i'111!,!l!.�
!!'Pr.�
QUEM: 
A guerra começou quando a 
União Soviética atacou a Finlândia 
com o objetivo de obter partes do 
território. Os soviéticos possuíam 
mais soldados, aeronaves e 
tanques. O Exército Vermelho hav ia
sofrido danos consideráveis pelos 
expurgos de Stalin, possibilitando 
que a Finlândia lhe infligisse perdas 
substanciais - 328 mil foram 
mortos ou feridos, contra 70 mil 
finlandeses. A União Soviética 
ganhou território finlandês, ao 
custo de sua reputação: foi expulsa 
da Liga das Nações. E outra guerra 
teve de ser travada em 1941. 
OFENSIVA 
_DO TET 
QUANDO: 
QUEM: 
30 de janeiro de 1968 
Vietcongue e Vietnã do 
Norte x Vietnã do Sul, Estados 
Unidos e aliados 
Diante dos ataques, as forças dos 
EUA e do Vietnã do Sul perderam 
o controle de várias cidades, mas
terminaram por causar baixas
arrasadoras aos vietcongues.
Apesar da vitória, houve um grande
impacto na opinião pública dos
EUA. Ninguém acreditou ter sido
mesmo uma vitória. Imagens na
imprensa fizeram os inimigos
parecerem meras vítimas. A
invasão criou uma sensação de
vulnerabilidade. Os EUA acabariam
desistindo da guerra.
BATALttA DAS 
__ TERMOPILAS 
• • • • 
Com o objetivo de conquistar 
a Grécia, até 300 mil guerreiros 
do Exército persa, liderados pelo 
rei Xerxes, bateram de frente 
com 7 mil soldados gregos em 
Termópilas (300 dos quais, os 
famosos espartanos). Por três dias, 
os gregos conseguiram impedir o 
avanço persa, até serem traídos. 
Apesar de aprisionar e matar quase 
todos, a resistência motivou os 
gregos. Xerxes perdeu mais de 
20 mil, vários deles entre seus 
melhores. A Grécia venceria. 
ATAQUE A PEARL HARBOR 
QUANDO: 
QUEM: 
O ataque-surpresa t inha como finalidade paralisar a Frota do 
Pacífico, de forma que os EUA não pudessem reagir às 
conquistas japonesas de territórios sob controle americano, 
como as Filipinas. Cometeram três erros: 1) a estrutura industrial 
foi ignorada; 2) o ataque veio antes da declaração de guerra (por 
acidente); o que levou a 3) a opinião pública dos EUA, até então 
contra a guerra, mudou furiosamente de lado. O Japão senti ria
a vingança literalmente na pele em Hiroshima e Nagasaki. 
almanaque COMO FAZIAMOS SEM •••
COPA DO MUNDO, SÓ PELO RADINHO; 
PERDER-SE NO MAR ERA PARTE DA PROFISSÃO 
TEXTO Letícia Yazbek 
A 
ssistir ao noticiário transmi­
tido do outro lado do mundo. 
Chegar a qualquer lugar 
guiando-se por um aplicativo. Saber 
detalhes da previsão do tempo. Be­
nesses do mundo moderno que eram 
pura ficção científica quando o pri­
meiro satélite, Sputnik I, foi lançado 
em 1957 pela União Soviética. 
Os satélites foram uma revolução 
para bem além da comunicação . Mas 
isso não quer dizer que, antes, o mun­
do não estivesse conectado. 
"O primeiro sistema de comunica· 
ção moderno a utilizar energia elétri· 
ca foi a rede de telégrafos, na primei­
ra metade do século 19. Para isso, 
foran1 desenvolvidos longos cabos 
elétricos", relembra Ricardo Kehrle 
Miranda, professor do Departamen­
to de Engenharia Elétrica da UnB. 
Em 1866, os cabos foram para baixo 
do oceano -o primeiro transatlântico 
para telégrafos conectava a Irlanda à
ilha de Terra Nova, no noroeste do 
Oceano Atlântico, perto do Canadá. 
Antes do telégrafo, o remédio 
eram as cartas, depois os jornais im­
portados por navio. As notícias vi­
nham literalmente à vela ou a vapor 
18 AVENTURASNA HISTÓRIA ABRIL 2018
e levavam semanas para atingir o 
outro lado dos oceanos. 
O telégrafo foi importante até 
tempos recentes. O telefone surgiu 
no fim da década de 1870, mas per· 
maneceu estritamente local por mui­
to tempo. O primeiro serviço inter­
con t in en t a l , por rádio, ligou 
Inglaterra e EUA em 1927. 
Com isso, em seus primeiros anos, 
a TV era inferior ao rádio em alcance. 
''.As Copas do Mundo antes de 1970 só
eram acompanhadas ao vivo pelo rá­
dio", relembra Paul Jean Jeszensky, 
professor do Departamento de Enge­
nharia de Telecomunicações e Con­
trole da USP. Foi no nosso tri que o 
campeonato teve, pela primeira vez e 
via satélite, transmissão ao vivo. 
Fora comunicações, algo central 
que os satélites resolveram - e isso 
ben1 recentemente - é a localização. 
O GPS soaria algo quase mágico para 
os antigos, que tinham de se virar 
com mapas e astrolábios. Astrolábios 
dão a latitude (sem a longitude). Ma­
pas, por mais precisos que sejam, não 
dizem onde você exatamente está, 
mas indicam pontos de referência. 
Que não existem em alto-mar. Per· 
der-se era parte da profissão naval. 
Só na Segunda Guerra surgiram sis­
temas de radiolocalização, mas esses 
dependiam da cobertura de estações 
receptoras em terra. 
Uma vida sem satélites também 
era sinônimo de previsão do tempo 
baseada na observação do céu e 
análise apenas diária de tempera­
tura, umidade e pressão. E de um 
cotidiano mais imprevisível, sem 
monitoramento de vulcões, do des­
locamento de geleiras e dos males 
da ação humana sobre o planeta. 
Havia bem menos dados sobre des­
matamento e poluição. 
Na área de comunicações, satélites 
perderam espaço para os velhos ca­
bos submarinos. Funcionando por 
fibra óptica, eles são a espinha dorsal 
da internet: resistentes, não estão su­
jeitos aos fenômenos que afetam o 
sinal via satélite. Os satélites, porém, 
atingem lugares aonde os cabos nun · 
ca chegaram. Transmitem TV, inter· 
net e telefone para áreas rurais e iso­
ladas, onde antenas parabólicas são 
uma visão comum. Um insólito caso 
em que a tecnologia nova atende à 
periferia e a tradicional, ao centro. 
almanaque 
CLÁSSICO DO CAFÉ DA MANHÃ ERA 
PARA SER UM "TRATAMENTO" 
TEXTO Maria Carolina Cristianini 
� � sobrenomedo médicoJohnHarveyKellogg
virou, há tempos, sinônimo de café da ma­
,.�· nhã. Mas algo que as pessoas não relacio­
nam a ele é uma forma particularmente radical de 
puritanismo sexual. 
Kellogg era um médico adventista do sétimo dia, 
extremamente devoto, que viveu um casamento de 
40 anos sem sexo. Ele acreditava que doenças e 
pecado andavam juntos: a decadência da alma cau­
sa a decadência do corpo. E, desses vícios, um dos 
mais letais seria a masturbação. Chegou a catalogar 
39 sintomas de quem se masturbava, incluindo 
acne, má postura, epilepsia e palpitações. 
Mas havia uma saída para esse mal terrível. 
Induzindo um estado mental "saudável", as tenta­
ções podiam ser amenizadas. Para o médico, o fim 
dos desejos passava por uma dieta sem carne e sem 
sabor. Enquanto trabalhou num sanatório em 
Battle Creek, Michigan, EUA, dedicou-se ao tema 
usando alimentos sem graça supostamente inibi ­
dores da libido. Como o milho puro. 
Uma das versões da história relata um erro do 
irmão mais novo do dr. Kellogg: Will Feith teria 
esquecido no forno, em 1894, uma maçaroca de 
milho a ser servida aos pacientes. Os dois tritura­
ram tudo e obtiveram flocos. Sucesso! Não tinha a 
menor graça. Corpos e almas seriam salvos. 
Em 1897, os irmãos criaram a Sanitas Food Com­
pany, que seria rebatizada de Kellogg Company 
quando Will adquiriu o controle acionário. Ele t i ­
nha outra ideia para o cereal: adicionou açúcar, 
tornando o produto muito mais excitante - e, cer ­
tamente, tentador. A ideia de John Kellogg fora 
pervertida: sucrilhos nunca curariam ninguém do 
mal manual. E os irmãos nunca mais se falariam. 
! 
ABRIL 2018 s 19 
NOME: La Trinidad 
DATA: 1577-1579 
AUTOR: Doménikos 
Theotokópoulos, 
EI Greco
TtCNICA: óleo 
sobre tela 
DIMENSÕES: 300 X 
179cm 
LOCAL: Museu do 
Prado, Madri 
almanaque LINHA DO TEMPO
A ÂNSIA POR COMUNICAÇÃO E A ETERNA CURIOSIDADE 
HUMANA NOS LEVARAM DO TAMBOR À GUITARRA ELÉTRICA 
TEXTO Letícia Yazbek 
A 
ntes mesmo do surgimento da palavra 
"música" - do grego mousikós, referen­
te às musas, poesia, artes -, pedras e 
ossos serviram de matéria-prima para os pri­
meiros instrumentos. Resultado da necessida­
de de povos pré-históricos de se comunicarem, 
reverenciar deuses ou simplesmente se diver­
tirem. A curiosidade humana nos levou adian -
te na construção de instrumentos mais com­
plexos de fazer - e de tocar. 
o 60000 3000 A.e. 
TAMBOR FLAUTA HARPA 
Peças construídas As primeiras, de Instrumento de corda 
por diversos povos ossos de animais, mais antigo, junto
pré-históricos tinham de dois a com a lira grega, foi 
provavelmente quatro furos. achado em tumbas 
eram usadas como O exemplar mais reais na cidade de 
tambores. O antigo foi encontrado Ur, na Mesopotâmia. 
instrumento era feito em Divje Babe, na Desenhos dele 
de troncos de árvore Eslovênia, e deve ter também aparecem 
ocos e revestido de cerca de 43 mil anos. em cavernas da 
peles de animais para Pinturas feitas em região. A teoria mais 
intensificar o som. cavernas, no entanto, aceita é de que surgiu 
Aparecia em rituais comprovam que o a partir do arco da 
religiosos, para instrumento já existia flecha. Os arqueiros 
cultuar deuses, há pelo menos 60 mil devem ter notado que 
e como forma de anos. O uso da flauta as cordas, feitas de 
comunicação a estaria ligado à crina de cavalo, latão 
distância. Ainda na dança, às atividades ou bronze, faziam 
P r é -História, deu guerreiras e aos ritos barulho ao serem 
origem ao pandeiro. rei igiosos. soltas. Na
Antiguidade, fez 
parte do dia a dia de 
hebreus, egípcios 
e gregos. 
22 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
2000 A.e. 
ALAUDE 
Precursor do violão, 
surgiu na Pérsia, em 
forma de gota e com 
braço curto. As 
cordas eram de tripas
de animais secas e 
retorcidas. Por volta 
do século 12, foi 
levado pelos árabes 
para a Península 
Ibérica, onde virou
objeto da nobreza. 
Durante o 
Renascimento, era 
usado no teatro, em 
músicas de grandes
compositores. Seu 
sucessor veio em 
1100, na Espanha, 
com três pares de 
cordas. O nome 
violão vem em
comparação com 
a viola portuguesa, 
menor, que surgiu 
ao mesmo tempo. 
1500 
TROMPETE 
Trompas, 
instrumentos 
parecidos com o 
trompete, já eram 
usadas na Pré-
História, feitas
de bambu e ossos 
de animais, para 
conduzir rebanhos. 
Mas os primeiros
trompetes, de bronze 
e prata, foram 
encontrados no 
túmulo do faraó 
Tutancâmon. Era 
utilizado em festas e
rituais - acreditava-se
que o som produzido 
afastaria os maus 
espíritos. As válvulas
só surgiram no 
século 19. 
\l':;;
ÓRGÃO 
Um dos instrumentos
mais antigos da
tradição musical do 
Ocidente foi 
inventado pelo 
engenheiro grego 
Ctesíbio de 
Alexandria. Ele
desenvolveu o órgão 
a partir da flauta
grega, utilizando 
um sistema hidráulico 
de injeção de ar 
comprimido em 
tubos, através de 
foles. Durante muitos 
séculos, o órgão 
foi usado no circo 
e no teatro. 
VIOLINO 
Criado a partir de 
instrumentos egípcios 
e chineses, o violino 
surgiu na Itália, onde
a fabricação ficou,
durante muitos anos, 
restrita às famílias 
Amati, Guarneri 
e Stradivarius. 
O crescimento da 
arte instrumental 
- estimulado pela
invenção da prensa
de Gutenberg, que
tornou possível a
divulgação de 
partituras - provocou
o aparecimento de
novos instrumentos,
como o violoncelo
e o contrabaixo.
Foi desenvolvido pelo 
italiano Bartolomeu 
Cristofori a partir do 
cravo, criado no 
século 14. A diferença 
entre os dois é que 
o piano percute as 
cordas com martelos,
enquanto o cravo as
tange, como no 
violão. Assim, um
piano pode produzir
sons suaves ou 
fortes, de acordo com
a intensidade com
que as teclas são
pressionadas.
1840 
SAXOFONE 
Aideia foi do belga
Adolphe Sax. 
Construtor de 
instrumentos, 
começou a 
desenvolver novos 
projetos e decidiu 
testar um objeto 
adaptado, com uma 
boquilha semelhante 
à do clarinete. O 
saxofone foi exibido 
pela primeira vez em 
1844, em Paris , e logo
se tornou popular. 
Diversas 
modificações foram 
feitas com o tempo, 
mas as 
características gerais 
permanecem as 
mesmas dos originais
de Sax. 
1930 
GUITARRA 
ELETRICA 
O suíço Adolf 
Rickenbacker 
equipou um violão 
comum oco com 
captadores elétricos 
- responsáveis por
transformar a
vibração das cordas
de aço em sinais
enviados a um
amplificador. As
de madeira maciça,
dispensando a
câmara de
reverberação
desnecessária,
vieram só em 1940.
O americano Leo
Fender foi o primeiro
a produzir guitarras
de corpo sólido em
escala comercial,
que se popularizariam
com o rock'n'roll.
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 23
URBANIDADES 
ra 23 de março 
de 1993 quando 
os tratores se 
postaram dian­
te de uma das 
. . mais impres-
sionantes, se 
não exatamente 
fáceis para os 
olhos, criações 
da espécie hu­
mana. A morbidamente fascinante 
Cidade Murada de Kowloon concen­
trou a maior densidade populacional 
jamais experimentada pelo homem. 
Um ano depois, em abril de 1994, 
coincidindo com a morte de J(urt 
Cobain, do Nirvana, estava feito. A 
favela não mais existia. Para o go­
verno, já ia tarde o lugar mais caó­
tico de Hong Kong, uma ferida aber­
ta na paisagem, uma vergonha 
diante do mundo. Mas, para seus 
milhares de moradores, o triste 
adeus a uma comunidade vibrante, 
que conseguiu prosperar de forma 
autónoma por quase 40 anos, sem 
qualquer ajuda governamental. 
Em seu apogeu, no final dos anos 
80, a Cidade das Sombras, como era 
conhecida, tinha construções de 40 
metros de altura e abrigava em seus 
27 mil metros quadrados, o equiva­
lente a pouco mais que dois campos 
de futebol, cerca de 50 n1il habitantes. 
Isso dá quase duas pessoas por metro 
quadrado. "Os residentes da favela 
tiveram sucesso ao criar o que arqui­
tetos modernos, com todos os seus 
recursos e expertise, não consegui­
ram: uma megaestrutura orgânica, 
que respondia às constantes mudan­
ças de seus usuários", diz o jornalis­
ta Peter Popham em City of Darkness: 
Life in Kowloon Wal/ed City (Cidade 
das Sombras: Vida na Cidade Mura­
da de Kowloon, sem tradução). 
26 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
FORTALEZA MURADA 
Diferentemente da maioria das 
grandes favelas, que surgem de cor­
tiços, sob viadutos, ou en1 áreas des­
campadas, a Cidade das Sombras se 
sobrepôs às ruínas de um antigo 
forte amuralhado. Desde o período 
da Dinastia Song (960 a.C .-1279), 
havia, ao norte da península de 
Kowloon, um pequeno posto militar 
que era usado para gerenciar o co­
mércio de sal e monitorar piratas que 
espreitavam a região. 
"Esse posto se manteve esquecido 
até 1842, quando os chineses preci­
saram dele novamente para proteger 
a península de J(owloon", comenta a 
historiadora Diana Preston, da Uni­
versidade de Oxford, sobre a tenta­
tiva desesperada da China em conter 
a expansão dos britânicos, que já 
haviam tomado a ilha de Hong Kong 
após a primeira Guerra do Ópio. 
O antigo posto transformou-se, 
então, em uma cidade murada, que 
foi posta à prova diversas vezes. Sua 
sorte, porém, não duraria para sem ­
pre. Em 1898, o domínio da Grã-Bre­
tanha se estendeu e a China foi obri­
gada a ceder a ela os chamados 
"Novos Territórios" de Hong Kong, 
incluindo 235 ilhas vizinhas e 
Kowloon. "Os britânicos puderam 
usufruir dessas regiões por 99 anos", 
comenta o jornalista Pepe Escobar 
, 
em seu livro 21, O Século da Asia. 
Em 1899, a península já estava 
completamente dominada, e a forti­
ficação, rendida ao controle inimigo, 
foi poupada da destruição e deixada 
em segundo plano. 
FORA DO ESTADO 
Nas décadas seguintes, alguns de 
seus antigos armazéns e casebres fo­
ram convertidos em igreja, asilo, es­
cola e hospital. "Mesmo com as inter­
venções, a cidade murada não perdeu 
sua antiga essência e tornou-se uma 
atração para colonos e turistas ingle­
ses", comenta a jornalista Julia 
Wilkinson no livro City of Darkness. 
Em 1941, durante a Segunda 
Guerra Mundial, o Japão invadiu 
Hong Kong. A cidadela foi totalmen­
te evacuada e sua muralha, demoli­
da. O entulho serviria de material 
de construção para as obras de e x ­
pansão do antigo aeroporto interna­
cional de Tai Kai, que ficava ali ao 
lado e atendia aos militares. 
Nesse meio-tempo, os britânicos 
ainda tentaram reaver o controle de 
sua colónia, mas só obtiveram êxito 
em 1945, com o fim da guerra. A Ci­
dade "Murada" lhes escapou aos 
dedos. Durante a ocupação japonesa, 
as fronteiras com a China foram 
abertas e, sem suas muralhas, a ci­
dadela recebeu milhares de refugia­
dos, incluindo marginais e antico­
munistas em busca de asilo político. 
APÓS 1948, A FAVELA 
PASSOU A EXISTIR POR 
SI SÓ, DESPROVIDA DE 
QUAISQUER SERVIÇOS 
PÚBLICOS, COMO SEGURANÇA, SAÚDE, 
EDUCAÇÃO, ÁGUA E ELETRICIDADE 
Depois de uma tentativa fracas­
sada de evacuar a área em 1948, os 
britânicos preferiram lavar as 
mãos. A polícia de Hong Kong não 
tinha permissão para entrar na fa­
vela que havia se formado sobre os 
escombros e a China continental se 
recusava em dar um jeito na bader­
na. Com isso, o local passou a exis­
tir por si só, desprovido de quais­
qu e r serviços públicos, como 
segurança, saúde, educação, água e 
eletricidade. 
OÁSIS DO CAOS 
Em meio à anarquia, a favela 
prosperou. Sem poder crescer para 
os lados, pois não tinha permissão 
de avançar um centímetro sequer 
sobre território britânico, começou 
a subir como um único bloco estru­
tural, uma escabrosa façanha que até 
hoje intriga a mente de físicos e en­
genheiros civis. 
Vendo a encrenca aumentar de 
tamanho, as autoridades britânicas 
tentaram intervir de todas as for­
mas. Especula-se até que tenham 
encomendado um incêndio crimi­
noso que desestabilizou a comuni­
dade na década de 50. Fato é que só 
conseguiram furar seu bloqueio 
quase dez anos mais tarde, depois 
que um assassinato ocorrido lá den­
tro provocou um in1passe diplomá­
tico com a China. 
Como era uma terra sem lei, fac­
ções criminosas conhecidas por 
Tríades, como 14K e Sun Yee On, 
promoviam negócios ilícitos, con­
trolando o narcotráfico, bares de 
ópio, redes de prostituição e de ca­
sas de jogos de azar ali instaladas. 
Além disso, os criminosos acolhiam 
médicos e dentistas sem registro 
para atender a população local e até 
financiavam esquemas para .. 
Havia 77 poços 
na cidade, alguns
com 90 metros 
de profundidade.
Bombas elétricas
levavam água até 
grandes tanques 
nos telhados. De lá, 
tubos estreitos iam
até as casas. 
No nivel da rua, 
misturavam-se 
dentistas e médicos
sem licença, 
barracas e catés 
com cães no menu. 
carne e outros 
al imentos vinham
de locais com 
pouco ou nenhum 
saneamento. 
Sem serviços 
mun icipa is, o
descarte de itens 
volumosos acontecia
nos telhados, 
onde objetos eram 
abandonados. 
As áreas com tonres 
altas interconectadas 
eram erguidas
sem arquitetos e 
engenheiros, sem o
controle das regras 
de construção e 
saneamento de 
Hong Kong. 
Alguns t elhados
serviam para se
exercitar, relaxar
e até para corridas
de pombo. 
Pequenas lojas de
fabricação de metals 
compunham boa 
parte das cerca de 
700 insta lações
industriais . A maioria
ficava entre o solo e
o quinto andar.
Moradores usavam 
guarda-chuvas para 
se protegerem da 
água pingando de 
canos, de forma 
constante, nos becos 
estreitos. 
Exis tiam muitas
escolas e jardins
de infância, alguns 
controlados por 
organizações como o
Exército da Salvação. 
Os traficantes de 
heroína eram muitos, 
mas intocáveis. 
A polícia não
podia prender não
residentes.
abastecer a cidade com água enca­
nada e energia elétrica. I(owloon era 
o lugar para ir se você quisesse evi­
tar ter conta to com a Justiça.
CIVIS 
Apesar das notícias e estereótipos 
que corriam por Hong Kong e o 
mundo, a maioria deseus moradores 
era gente trabalhadora, que não se 
envolvia com a criminalidade e vivia 
pacificamente com a vizinhança. 
Chan Pui Yin, proprietário de uma 
loja e residente da Cidade das Som­
bras por mais de 40 anos, descreve: 
"Não existiam assaltos - apesar de 
os criminosos usarem a cidade para 
se esconderem, todos se conheciam, 
então ninguém nunca tentava se ma­
chucar. Era um pouco como a vida 
nos vilarejos da China antigamente". 
Numerosas fábricas, lojas e co­
mércios familiares também prospe­
ravam ali, e alguns civis até se reu­
niam em associações para discutir 
e propor melhorias. Existia uma 
rede de coleta de lixo, um jardim de 
infância, várias ONGs de reabilita­
ção de dependentes químicos e até 
um corpo de bombeiros voluntário. 
"Ainda assim, histórias sensaciona­
listas da cidade foram contadas du­
rante esse período", comenta Seth 
Harter, professor de estudos asiáti­
cos, en1 Hong Kong's Dirty Little Se ­
cret (O Segredinho Sujo de Hong 
Kong, sem tradução). 
Era um reduto onde os chineses 
podiam viver entre os seus, sem 
pagar impostos ou serem persegui­
dos por fiscais da colônia à procura 
de explicações sobre vistos, taxas, 
condições de trabalho ou de higiene. 
Ali, todos podiam negociar, pros-
perar e enriquecer. 
Na Cidade Murada, gente deso­
cupada não tinha vez. Os jovens, 
por exemplo, aprendiam desde 
cedo, com os pais, algum tipo de 
ofício e o desenvolviam na prática 
para que no futuro pudessem se
garantir sozinhos ou até mesmo 
abrir seus próprios negócios. 
Diversos casos mostrados no li­
vro City of Darkness transmitem 
uma noção clara de como havia 
dignidade no modo de viver dos mo­
radores da favela e de como era la­
tente o preconceito dos que a enxer­
gavam do lado de fora. "A população 
da grande Hong Kong não acredita­
va que alguém da própria comuni­
dade pudesse ser bem-sucedido", 
comenta Harter. 
VIELAS SOMBRIAS 
Quanto ao seu crescimento espa­
cial, o lugar passou por um boom 
durante a década de 60, que se man­
teve em ritmo crescente até o f im 
dos anos 80. Por quase 30 anos, 
cerca de soo edifícios não licencia­
dos surgiram sem planejamento, 
formando um conglomerado de pe­
quenos apartamentos. 
Por serem tão próximos, os edifí­
cios da favela impediam a circulação 
de ar em seu interior. Empilhados 
uns sobre os outros, tinham varan­
das gradeadas e uma rede compar­
tilhada de escadas verticais conec­
tada a um labirinto de ruas sujas, 
úmidas e escuras. A sujeira vinha 
do lixo atirado da janela pelos mora­
dores com menos consideração. A 
umidade, dos canos e roupas pin­
gando do alto - o que obrigava os 
habitantes a andar com capas ou
guarda-chuvas no solo. E a escuri­
dão, do fato que o espaço todo, até o 
último andar, era tomado por fios, 
canos, varais e extensões das cons­
truções. Misericordiosamente, aqui 
e ali havia lâmpadas f luorescentes, 
ERA UM REDUTO ONDE 
OS CHINESES PODIAM VIVER 
ENTRE OS SEUS, SEM PAGAR 
IMPOSTOS OU SEREM 
PERSEGUIDOS POR FISCAIS DA COLÔNIA 
À PROCURA DE VISTOS E TAXAS 
quando muito, que eram postas pe­
los próprios moradores. 
Essa enorme estrutura modular 
só parou de crescer quando uma res­
trição em relação à sua altura foi 
imposta pelas autoridades. Devido 
à trajetória de voo dos aviões que 
subiam e desciam do aeroporto de 
Kai Tak, havia a possibilidade de 
uma colisão ocorrer caso os prédios 
não parassem nos 14 andares. Se não 
fosse por isso, provavelmente che­
gariam a níveis mais elevados, com­
parados aos de modernos arranha­
céus vizinhos. 
ADEUS AO LAR 
Apesar de o crime organizado ter 
diminuído na década de 70, após 
uma série de incursões policiais que 
resultaram em mais de 2500 prisões 
e o enfraquecimento das Tríades, 
com a aproximação de 1997, data de 
devolução das posses britânicas à 
China comunista, as autoridades 
concluíram que não era "bonito" 
manter uma favela dentro de Hong 
Kong. "Em 1987, sem negociar com 
a comunidade, o governo desapro­
priou os moradores e as empresas 
da favela, mediante compensações 
financeiras muito menores do que 
mereciam", comenta, em City of 
Darkness, o fotógrafo Greg Girard. 
A medida teve a aceitação de al­
guns, mas foi reprovada por uma 
maioria esmagadora, que foi despe­
jada à força e obrigada a recomeçar 
sua vida do zero. De 1988 a 1992, as 
moradias, então, se esvaziaram len­
tamente. Em entrevistas a emissoras 
locais, muitos argumentavam que a 
compensação oferecida era humi­
lhante e não valia a pena se compa­
rada ao paraíso isento de impostos 
que a favela proporcionava. 
Finalmente, em janeiro de 1993, a 
Cidade das Sombras se esvaziou por 
completo. Com a eletricidade inter­
rompida, suas quitinetes, barracões 
e vielas abandonadas se apagaram 
em silêncio antes que as máquinas 
de demolição iniciassem o estrondo­
so ruído do "progresso". 
Na área, desde 1995, funciona o 
Parque da Cidade Murada de Kow­
loon, ornamentado com belos jar­
dins do início da Dinastia Qing 
(1644-1912) e dividido em setores 
batizados com os nomes de constru­
ções e vielas da antiga fortaleza, mas 
que em nada recordam a ela. Maque­
tes em pequena escala são a única 
lembrança física de um dos mais 
singulares experimentos da Histó­
ria, a aterradora mas familiar face 
do que, para até 50 mil pessoas, um 
dia foi chamado de lar. Cll 
SAIBA MAIS: 
The Oarkness City: Ufe in Kowloon 
Walled City, Greg Girarei e lan Lambot,
Watermark Publicalions, 1993 
21, O Século da Ásia, Pepe Escobar,
Iluminuras, 1997 
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 31 
PERSONAGEM 
a tarde do dia 22 de abril 
de 1918, no pequeno cemi­
tério de Bertangles, perto 
de Amiens, norte da
França, soldados ingleses e austra­
lianos enterraram um piloto morto 
em combate. No mesmo momento, 
um esquadrão de aviões passou a 
baixa altitude em perfeita formação. 
Uma guarda de honra atirou ao alto 
em homenagem ao falecido. A ceri­
mônia teria sido quase banal se a 
honra não fosse a um de seus piores 
inimigos. Aquele que abatera mais 
de 80 aviões aliados em pouco mais 
de um ano e meio e se tornou o ás dos 
ases da aviação alemã. O capitão 
Manfred von Richthofen, Barão Ver-
32 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
melho. Piloto mais célebre da Pri­
meira Guerra Mundial e, um século 
completado de sua morte, ainda si­
nônimo para "ás". 
"O Barão Vermelho vale tanto 
quanto três divisões de nosso Exér­
cito." Assim o chefe de estado-maior 
alemão, general Erich Ludendorff, 
descreveu a importância de Richtho­
fen. Durante a guerra, o seu triplano 
escarlate aterrorizou os céus sobre a 
França. Os pilotos adversários tre­
miam ao ver esse avião cor de sangue 
sair das nuvens e se posicionar em 
suas caudas. Seriam abatidos em 
segundos. A forte personalidade de 
Richthofen, sua eficácia mortal nos 
combates aéreos, a coragem que bei-
rava a loucura e a honra com a qual 
lutava nos céus fizeram dele um he­
rói para as gerações de aviadores que 
viriam no futuro. 
Richthofen nasceu em 2 de maio 
de 1892, em Breslau, na Silésia, 
região do então Império Alemão 
(hoje Wroclaw, na Polônia), e m
uma família aristocrática prussia­
na com longa e antiga I inhagem 
militar. Segundo de quatro irmãos, 
seu pai era o barão Albrecht von 
Richthofen, oficial de cavalaria que 
serviu por longos anos o Kaiser, 
mas acabou ferido e colocado com­
pulsoriamente na reserva. Frus­
trado, Albrecht jogou as ambições 
militares nos filhos, principalmen-
te na educação - muito rígida e, a o
mesmo tempo, excelente. Todos s e
tornaram militares. 
O jovem Manfred foi estudar na 
Inglaterra, no Lincoln College em 
Oxford, antes de ingressar na escola 
de cadetes de Wahlstatt, onde se des­
tacou mais nas atividades físicas do 
que nos estudos. Desde pequeno 
mostrou grande paixão pela aventu­
ra e pela caça. Tanto que fez o pai lhe 
dar uma espingarda de ar compri­
mido para atirar contrapássaros e 
pequenos anin1ais na floresta. Um 
instinto predatório que o acompa­
nhou nos anos seguintes e determi­
nou as escolhas que foram funda­
mentais em sua vida. 
Após terminar o treinamento na 
Academia Militar Prussiana de 
GroB-Lichterfelde, juntou-se ao Pri ­
meiro Regimento de Ulanos, em 1911,
como tenente da cavalaria in1perial. 
UMA NOVA ERA 
Mas essa não seria uma guerra de 
cavalaria. Quando, em julho de 1914,
estourou o conflito, Richthofen par­
ticipou de algumas ações militares 
com o seu batalhão, mas logo ficou 
bloqueado por vãrios meses em Ver­
dun. Percebeu que esse conflito seria 
combatido com meios tecnológicos, 
como metralhadoras e aviões, os 
quais acabariam relegando a cava­
laria a papéis marginais. 
Terrivelmente atraído pela avia­
ção, perdeu o interesse por cavalgar. 
No início da guerra, os aviões ainda 
não eram concebidos como meio de 
ataque - tinham funções de reconh e ­
cimento, patrulha ou de apoio para 
a artilharia. Era o suficiente, por 
hora, para Richthofen. Após se quei­
xar com o Comando Geral, foi trans­
ferido para as Tropas Aéreas do 
Império Alemão (Fliegertruppen 
des deutschen Kaiserreiches), onde 
começou a operar como observador 
nun1 biplano modelo Albatros. No 
pedido de transferência, escreveu de 
seu próprio punho: "Eu não fui à 
guerra para coletar queijo e ovos, 
mas para outra finalidade!". .. 
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 33
O conflito foi, de fato, o primeiro 
período da aviação militar da His­
tória. Os aviões tinham sido inven­
tados havia apenas uma década e 
nenhuma Força Armada tinha uma 
aeronáutica independente. As táti­
cas de batalha aérea estavam na 
primeira infância. Generais do Alto 
Comando alemão não levavam a 
sério o potencial das aeronaves, que 
eles não consideravam confiáveis. 
Voar em aviões de combate confi­
gurava loucura: eram aparelhos 
primitivos, feitos de madeira, teci­
dos e com motores precários. Ainda 
não havia paraquedas, e os pilotos, 
geralmente, não passavam dos 20
anos. Richthofen representou a pri­
meira geração de jovens entusiastas 
do combate aéreo, que lançou as 
bases para a doutrina da guerra 
áerea moderna. 
Em 1915, impulsionado pela am­
bição, ele decidiu que não queria ser 
apenas um observador, mas um pi­
loto. Apesar de o primeiro pouso ter 
sido um desastre - destruiu o avião 
-, 15 dias depois decidiu tentar o 
34 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018
--
exame. Falhou. E não desistiu: com­
pletou o treinamento de voo em Ber­
lim e superou a prova. 
O MENTOR 
A grande virada para Richthofen 
estava prestes a acontecer. Em outu­
bro de 1915, ele encontrou por acaso, 
em um trem, Oswald Boelcke, o pai 
da aviação militar alemã. Boelcke foi 
o primeiro a formalizar as regras do 
combate aéreo, batizadas de "Dieta
Boelcke". Boa impressão deixada,
em junho de 1916 Richthofen recebeu
o convite para fazer parte do esqua­
drão de caças de Boelcke. "Ele lhe
ensinou as técnicas adequadas para
atacar uma aeronave inimiga e todos
os truques para ser um ás da avia­
ção. Foi graças a Boelcke que
Richthofen se tornou o Barão Ver­
melho", conta para a AH Harald
Fritz Potempa, PhD, tenente-coronel
da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) e
historiador militar.
A primeira vitória já tinha chega­
do, em abril de 1916, na derrubada 
de um avião modelo Nieuport, em 
-
• 
• 
Douaumont. Mas a aeronave caiu 
além das linhas francesas e o abate 
não foi reconhecido (na época, só 
eram contabilizadas as vitórias con­
firmadas por outros pilotos ou sol­
dados em terra). Em setembro, já na 
esquadrilha de Boelcke, Richthofen 
obteve seu primeiro sucesso oficial: 
forçou um avião inglês a pousar per­
to de Cambrai. 
Em outubro do mesmo ano, eram 
cinco as vitórias confirmadas. À me­
dida que a Primeira Guerra prosse­
guia, ele ganhava mais fama do que 
seu mentor - até porque Boelke aca­
bou n1orrendo em um acidente aéreo 
em outubro de 1916. Depois de chegar 
ao status de ás com dez aviões inimi­
gos abatidos, ficou claro para todos 
que Richthofen estava se tornando 
um talentoso piloto de caça. Nin­
guém escapava de suas duas metra­
lhadoras sincronizadas. A tática era 
a mesma usada por predadores na 
floresta: isolar as presas mais fracas 
do grupo e caçá-las até a patada final. 
"A maioria dessas vitórias, entre­
tanto, não foi obtida voando com o 
seu icônico triplano Fokker, como 
muitos acreditam. Richthofen pas­
sou a maior parte do tempo em vá­
rios aviões biplanos modelo Alba­
tros D., com os quais obteve 55 de 
suas 80 vitórias. Apenas 19 foram 
com o famoso triplano vermelho. 
Mas foi esse avião que teve u m
grande impacto na memória moder­
na da guerra", explica à AH Jeff 
Shaara, autor de To the Last Man
("Até o último homem", sem edição 
em português). 
Em novembro de 1916, depois de 
derrubar mais seis aviões inimigos, 
Richthofen recebeu o comando de 
um esquadrão inteiro de caças, o 
Jagdstaffel 11, e a mais alta condeco­
ração militar da Alemanha, a meda­
lha Pour le Mérite. A honraria era 
um objetivo de Richthofen desde o 
começo de sua trajetória. Ele usou a 
medalha em todos os voos seguintes, 
até seu precoce fim. 
O OPOSTO DA CAMUFLAGEM 
A decisão de pintar seu avião de ver­
melho veio em seguida. Objetivo: ser 
reconhecido pelos soldados no chão 
e pelos pilotos no ar e , ao mesmo 
tempo, intimidar e desafiar aberta­
mente os adversários. Surgia, assim, 
a lenda do Barão Vermelho. Sem 
qualquer conotação política à cor, 
seria uma homenagem à própria 
mãe de Richthofen, que não gostou 
da ideia. Em seu diário, escreveu: 
"Eu disse para Manfred que isso me 
parece um tanto ridículo". 
Quando assumiu o comando do 
Jagdstaffel 11, o esquadrão era um 
dos mais fracos da aviação alemã. 
Em poucos meses, tornou-se o grupo 
dos melhores pilotos do país, com 
formação de caça sem igual na guer­
ra. O esquadrão foi apelidado de 
"Circo Voador de Richthofen", pela 
habilidade dos pilotos. Houve mui­
tos momentos em que, quando o 
Jagdstaffel 11 aparecia nos céus, os 
soldados alemães e franceses para­
vam de atirar para assistir ao espe­
táculo. Todos os pilotos eram esco­
lhidos pelo Barão Vermelho. Entre 
eles, seu irmão, Lothar, seu primo 
Wolfram, e Hermann Gõring, futu-
ro chefe da Luftwaffe e um dos maio­
res líderes nazistas. 
As ações nos céus continuaram 
comprometendo seriamente o poten­
cial bélico da Força Aérea da Grã­
Bretanha. Ainda hoje, os britânicos 
chamam de "abril sangrento" esse 
mês de 1917. Durante aqueles 30 dias, 
por causa do Circo Voador, as perdas 
sofridas foram tão grandes que a ex ­
pectativa de vida dos pilotos britâni­
cos caiu de 295 horas para 92 horas. 
Apenas em um dia, Richthofen der­
rubou quatro aviões inimigos. 
MARCADO PARA MORRER 
Por isso, nas trincheiras britânicas, 
foi chamado de "Diabo Vermelho". 
Seu sucesso chegou ao oferecimen­
to de 5 mil libras em recompensa 
por sua cabeça - na época, o valor 
de um imóvel. 
Na Alemanha, o Barão Vermelho 
era um herói nacional. E acabou se 
tornando um objetivo estratégico dos 
britânicos, que criaram um esqua­
drão especial, muito bem treinado, 
com o propósito de eliminá-lo. Só .. 
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 35
PERSONAGEM , Duas metralhadoras 
f (capacidade para 500 
f disparos cada)
Leme de··· 
direção •·· •.. .•.
AMÁQU!NA 
DO BARAO 
VERMELHO 
Construído pelos alemães 
para bater a supremacia , 
inglesa nos ares, o triplano 
Fokker DR I tinha metralha­
doras frontais cujos tiros, 
por meio de um sistema 
sincronizado, atravessavam 
a hélice sem se chocarem 
com ela. Foi a bordo dele 
que Manfred von 
Richthofen fez seu último 
voo. Apesar de não ter sido 
a aeronave que mais deu 
vitórias a ele, deixou a 
marca do Barão Vermelho 
na História. 
Hélice de············ madeira
··· · · ····· ····· · ·· 
.
. 
...
. 
Motor de 110 cv· ····· 
(velocidademáxima: 
185 km/h)
que Richthofen continuou anulando 
todos os esforços dos inimigos. "Ele 
foi abatido em algumasocasiões, 
mas, graças à sua habilidade de voo, 
sempre conseguiu pousar em terri-
tório alemão ou evitar a captura ou 
morte", explica à AH Jon Guttman, 
autor do livro Pusher Aces of World 
War 1 (sem edição em português). 
A disciplina de ferro, a coragem 
na luta, a destreza em voo e as qua-
!idades de comandante resultaram
no cargo de capitão e no comando do
Jagdgeschwader I, uma unidade
recém-formada que incluia osJagds-
taffeln 4, 6, 10 e 11 - com o objetivo
de obter a superioridade aérea em
setores decisivos do front, comba-
tendo as formações aéreas britânicas
cada vez mais numerosas do British
Royal Flying Corps.
Mais do que as medalhas, a hon-
ra, os títulos e o comando, Richtho-
fen indicou sua maior recompensa 
em carta para a mãe: "Quando eu 
voo acima das trincheiras fortifica-
das, e os soldados me veem e gritam 
de alegria, eu olho para seus rostos 
36 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 
Depóstto de combustível 
(91 lttros, poss ibilitandoautonomia de voo de 1 h30) 
cinza, consumidos pela fome, pela 
falta de sono e pela batalha, somen-
te então estou feliz e alegre. Você 
deveria vê -los. Muitas vezes esque-
cem o perigo, pulam no telhado, agi-
taro seus fuzis para me saudar. Essa 
é a minha recompensa, mãe, minha 
mais linda recompensa". 
Richthofen e seuJagdgeschwader 
começaram a encarar combates cada 
vez mais brutais. Em julho de 1917, ele 
ficou gravemente ferido na cabeça. 
Foi operado e forçado a uma longa 
convalescência. O evento deixou se-
quelas. Trouxe dores de cabeça, náu-
seas e mudou seu comportamento. 
"Agora, após cada duelo aéreo, me 
sinto como um cão. Provavelmente 
uma consequência da lesão na cabeça. 
Quando saio do avião e coloco o pé em 
terra, me apresso a me esconder entre 
minhas quatro paredes para não ver 
ninguém, para não sentir nada. Essa 
é a verdadeira guerra, na minha opi-
·-
n1ao, não como as pessoas a imagi-
nam em casa. Tem muitas dores e 
gritos. Tudo é muito mais grave, 
feroz ... ", registrou em seu diário. 
! Retrovisor : Filetes de 
f madeira
Apesar das objeções dos médicos, 
ele decidiu voltar rapidamente à ba-
talha. E mais agressivo. O próprio 
Alto Comando alemão, que tentava 
promover a lenda do Barão Verme-
lho entre os soldados e ao redor do 
país, pediu que Richthofen evitasse 
riscos tão altos e lutasse com menos 
frequência. Até porque os britânicos 
tinham construído aviões tecnologi-
camente mais avançados. Ele se re-
cusou. Mesmo quando os superiores 
disseram que a entrada dos Estados 
Unidos na guerra fazia desse um 
conflito perdido, o Barão Vermelho 
não reduziu o ritmo. Ao pedido do 
governo para ser menos visível, por 
sua própria segurança, Richthofen 
fez o contrário. 
Foi então que os pilotos do Jagd-
geschwader decidiram pintar taro-
bém seus aviões de vermelho. A 
ideia era confundir o inimigo e pro-
teger o comandante. Irritado, Rich-
thofen decidiu parar de usar bipia-
nos. Optou pelo triplano para ser 
ainda mais visível. E começou a 
procurar batalhas o tempo todo. Ele 
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lutava pela fama, pela glória, por 
adrenalina. Dizia que, durante os 
duelos, sentia vontade de caçar. Mas, 
apesar de sua implacável letalidade 
na luta, respeitava os oponentes e 
exigiu que seus subordinados se
comportassem da mesma maneira. 
"Richthofen não era um vilão 
nem um canalha com sede de san­
gue, um serial killer sem alma como 
os filmes e a mídia muitas vezes o 
retrataram. Ele simplesmente era 
uma daquelas pessoas muito focadas 
nos objetivos, que trabalham muito 
para serem boas no que fazem. Par ­
te da cultura alemã", explica Shaara. 
O VOO DERRADEIRO 
Em 21 de abril de 1918, o Barão Ver­
melho subiu em seu avião pela últi­
ma vez. Tinha sido o único a não 
voltar da última missão de patrulha, 
que tinha que realizar antes de me­
recidas férias. Voando sobre a Som­
me, cuja capital é Amiens, engajou 
um duelo com um piloto canadense, 
mas superou as linhas inimigas. Fi­
cou sob o fogo de tropas australianas 
• 
no solo. Baleado no peito, pousou em 
Vaux-sur-Somme, mas morreu pou­
co depois. Não tinha 26 anos. 
"Ele acabou quebrando suas pró­
prias regras. Provavelmente por 
causa de seu ego, que o levou à mor­
te", explica Guttman. Ainda hoje há 
controvérsias sobre quem matou o 
Barão Vermelho. As pesquisas mais 
recentes indicam que ele foi atingido 
por um tiro de bala vindo de baixo, 
provavelmente a 750 metros de dis­
tância. A morte devastou o moral 
alemão. "Ele tinha olhos para todos 
os seus homens, que os amavam por 
isso. Era o tipo de liderança que to­
dos desejam. Por isso, sua morte foi 
um desastre para o Alto Comando 
alemão", explica Guttman. 
Mesmo diante de tantas perdas 
britânicas, Richthofen foi homena­
geado por seus inimigos na base do 
código de honra não escrito dos pi­
lotos militares. E respeitosamente 
enterrado. Em 1925, seus restos mor­
tais atravessaram o Reno de volta 
para a Alemanha, recebidos por 
uma multidão em I(ehl. Após um 
grande funeral, o Barão Vermelho 
foi enterrado junto aos maiores he­
róis alemães no cemitério do Invali­
denfriedhof, em Berlim. 
Ou não? Existe a especulação de 
Richthofen ter sobrevivido à guerra 
e entrado no Partido Nazista. "Eu 
acho que não. Ele foi um alemão pa­
triótico, mas não acho que tinha a 
mentalidade nazista. Seus aspectos 
nacionalistas não significam que ele 
teria se tornado um nazista. Toda­
via, nunca saberemos. Muitos ases 
depois da guerra entraram no par ­
tido, como Gõring, mas vários não 
quiseram compactuar com regime", 
diz Potempa. 
A figura do Barão Vermelho é 
lembrada não só por causa de sua 
incrível eficiência e habilidade de 
comando mas por ele ser um criador 
de táticas e princípios de combate 
aéreo durante o período da formação 
desse tipo de Forças Armadas. Ain­
da hoje, o 71° Esquadrão Aéreo Táti­
co da Força Aérea da Alemanha 
(Taktisches Luftwaffengeschwader 
71) leva o nome de Richthofen. !l:l
ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 37 
CAPA 
• 
Negra com Seu Filho, e. 1884, 
Salvador, Bahia, é uma das
lotos feitas por Marc Ferrez em
viagens pelo Brasil. Faz parte 
do acervo do Instituto Moreira
Saltes, que reúne 15 mil 
imagens do fotógrafo
HÁ 130 ANOS, O BRASIL ABOLIA A ESCRAVIDÃO. ISABEL, EM QUE 
PESE SUA BOA VONTADE, POSSIVELMENTE SÓ ASSINOU O INEVITÁVEL 
PARA O PAÍS. A VITÓRIA FOI DE UM GRANDE, CORAJOSO E AGRESSIVO 
MOVIMENTO, PROTAGONIZADO PELOS NEGROS TEXTO Tiago Cordeiro
sabei de Bragança pode aparecer como 
imagem nos altares das igrejas brasilei­
ras no futuro. Pelo menos é isso o que 
espera um grupo de fiéis católicos que 
solicita a beatificação da princesa brasilei­
ra. O pedido foi enviado para a arquidioce­
se do Rio de Janeiro, mas ainda não chegou 
ao Vaticano. De toda forma, a ideia de que 
a filha de Dom Pedro II não só libertou os 
escravos como foi uma pessoa de grande fé 
é recorrente no imaginário nacional. 
Seu grande momento, não é segredo, 
aconteceu há 130 anos, quando ela assinou 
a Lei Imperial número 3 353, às 15h do dia 
13 de maio de 1888. O texto era sucinto. 
Continha dois artigos. O primeiro afirma­
va apenas: "É declarada extinta desde a 
data desta lei a escravidão no Brasil". E o 
segundo dizia: "Revogam-se as disposi­
ções em contrário". 
O imperador estava em Milão desde ju­
nho anterior, tratando da saúde. Soube da 
abolição dez dias depois, quando sua espo­
sa, a imperatriz Teresa Cristina, leu para 
ele um telegrama enviado por Isabel. "Gra­
ças a Deus", sua reação registrada. 
As circunstâncias ao redor da assinatura 
do decreto são bastante conhecidas. Isabel 
estava na sala do trono, enquanto o palácio 
imperial, no Rio de Janeiro, se viu cercado 
por cerca de 10 mil pessoas eufóricas - qua­
tro dias depois, outras milhares se reuni­
riam no Campo de São Cristóvão para uma 
missa campal de celebração. A lei foi assina­
da em três vias, cada uma com

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