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• p it� Ir  MEDECINS SANS FRONTIERES ..,... MlDtCOS SEM FRONTEIRAS Somos uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem acesso à assistência médica em cerca de 70 países. Você pode nos apoiar de um jeito muito especial: organizando iniciativas solidárias para arrecadar doações. Assim, enquanto comemoram, Aniversários, casamentos, formaturas e outras comemorações você e seus convidados nos ajudam a salvar vidas. Shows e apresentações artísticas Bazares, feiras, leilões, rifas e exposições y Competições esportivas e gincanas Acesse agora www.msf.org.br/iniciativas-solidarias � . sumano hoje nahistórla __ Os neandertais faziam arte AGENDA A morte de Mussolini DÚVIDA CRUEL A China ainda é comunista? DITO & FEITO Brasil: "tu" vs 11você" HISTÓRIA MALUCA Há cheiro de quei jo na Casa Branca AH10+ Vitórias que foram, na verdade, derrotas COMO FAZÍAMOS SEM ... Satélites PANELA VELHA A origem puritana do cereal matinal ARTE & HISTÓRIA EI Greco, o maldito LINHA DO TEMPO Instrumentos musicais URBANIDADES Cidade Murada de Kowloon PERSONAGEM Barão Vermelho, o ás dos ases CAPA A conquista da abolição LANÇAMENTOS Judeus em Nova York, Maria Madalena FUTEBOL & HISTÓRIA Contrabando no tetracampeonato COLUNA DO HISTORIADOR Chávez e a crise na Venezuela FOTO-HISTÓRIA Escravos numa mina, 1888 6 10 12 14 15 16 18 19 20 22 24 32 38 50 54 56 58 r ' editorial , DEVIDOS CREDITOS xiste um mérito no que a Princesa Isabel fez ao tomar a pena para assi nar a lei possivelmente mais definitiva, causadora da mudança mais -- radical, da história do Brasil. Mas a mão que movia a pena não o fazia apenas por suas convicções. Isabel estava impedindo que o país implodisse. Livros didáticos, novelas e sambas-enredo não costumam fazer justiça à intensidade do movimento cívico pelo fim da escravidão. Um movimento que teve entre seus protagonistas os negros, livres e escravos, criando uma cora josa campanha de resistência, na qual colocavam na linha sua própria vida, carreira, reputação, terminando numa vitória legitimamente democrática. Nossa capa é sobre essa conquista, que, dolorosamente, nunca foi completa. Também nesta edição, uma duvidosa mas ainda assim aterradoramente impressionante realização da espécie humana: em Hong Kong, a mais complexa favela e o local mais denso, com maior concentração de pessoas de nossa história. Os 100 anos da morte do distinto cavaleiro do ar, o Barão Vermelho, um dos pioneiros que tiveram de inventar o combate aéreo na prática, em pleno a r . E uma dúvida bem contemporânea: será a China ainda comunista? Liberdade, que veio tão tardia. / 1 n -• ) CONHEÇA NOSSO NOVO SITE MAIS RÁPIDO, MAIS BONITO, MAIS PRÁTICO Fábio Marton Editor aventurasnahistoria.com.br E ASSINE NOSSA NEWSLETTER � bit.ly/aventurasnews 0JRUOB�Sufffl1NJENOENU Luis Fernando Maluf 01RUORES (ORPOAATIVOS Editorial : Claudio Gurmindo (Núcleo CetelNidades) e Pablo de la Fuen1e (Núcleos NIJVOS leitores e Mensa�) Publicidade: Luciana Jordáo Internet e Mídia Digital: Alan fontevecchia Juríd ico e RH: Wardi Awada Finanças e Control e: Marina Bonagura OY!nos Exuuvvo TI: Ckero Branooo OutnORES Publ icidade: Thaís Haddad Escritório Rio de Janeiro: Pabto de la fuente GJRiHCIAS Ci1Culaçâo: Luciana Romano tA ssinaturas) Eventos: Walacy Prado Tecnologia Digital : Nicholas Serrano HfsróiuA [Lançada em 2003) Editor: fãblo Mafton; Arte Mafíl0 FIigueiras; Revisoo: Bianca Albert: Estagiários: Paula lepinski e Thiago Uncoins Â8('A$ COM!:!!8TIUCAQAS PUBllCIOAOE: Andre Cecci (execuivosJ; Meire Mc1riano e Aline Silva (assistentes} Rio <le Janeiro: c.wia CNves (ge,enreJ e Helga Viama texecvcivat FOTOGRAFIA: Rogério Palaua (SPJ, (adi Pllotto e Faoozia Granaüei (RI); Amanda Loureiro, Maliana Sordinha. -ro P<!reira. S.mant1'0 Ribeito e Talnara Pas� fAssisrentesJ: CIR<UlAÇÃO: Pablo Barreto; MARKETING PUOUOTÁIIIO E EVfHIOS: Móana Truj illo fE<fr°"J: MARKETING: Caroline Ryna e Natalie Fonzar 1/1/<IÍO} . TI: Carlos Almeida Dirceu Buen� Ricardo Jota e l'laor Fontes (Assisrenres}. LOGÍSTICA: Ani(ley Uma e "'º sant� RECURSOS HUMANO� Renê santos (Consullot}. AOMINISTllA(ÃO, ANA/IÇAS E CONTROLE : Alessanô:o g1va e AAll.Jr Matsuzaló /Analistas/; PROCESSO� Henricve �reira e Fernanda wassermann: PRE·PRESS: Claudio Costa. Emerson Luis ração e Rogelio Veiga INBBNET e Mío•A 01aTAL EDITOR: Ademi Conea: PlANEJAMENTO: Bianca <»veira (assislenle,t. MARKETING DIGITA� VÍCIO/ Calazans (Analista) Rui.(AO E COAAUPOHMHC1A SAf> PAULO: Av , Euséllio Matoso, 1375, s• andar, Bu1antá, CEP 05423,tBO , SP, Brasil; RIO OE JANBRO: Rua Barão da Torre. 334 A-ll)anema-CEP: 22411- 000, RJ, Brasi, te� (21) 2"3·2200, fax: (21) 2S43-1657. ESCRITÓRIO COMERCIAL BRASÍLIA: E<l�icio Le Quartie< Bureau. SHN �" l Bloco A S/N, lZ' andar • l<lla lZOO. Cep: 70701,010, Brasia, � . Bra,il lei: (61) 3536•5138 I (611 3536-5139, e,màl: caraSbras,:ia@,(arascom.� AVENTURAS NA HISTÓRIA 170 ISSN (1006·2415), ano ·� n• 2. é uma il'Ajicação mensal da Editora Caras. Ediç6es anteriores: Scfcite ao seu jOl'naleiro pelo preço da Ult ima edição em bancas, milliS despesa de remessa; sujBto a disponi>ilidade de estoque. Di.strlbuida em todo o país pela O!nap S.A. Oislíibuidora Nacicnit de Publicaçoe,, Sáo Paúo. AVENTURAS NA HISTÓRIA MO arl'nite puWcida<le redaciooat A Editora CARAS infama que não reaizaootrança telefônicadedéDtos pendentes e não apica qualcµef � de m.Jtta e:n virtude de cance«Mnento de assinatu,a Todos os nossos boletos sao erritidos através do �co san1ande<, com cede<\te E<frtora CARAS SA Em caso de dúvida. 6gue par a nós. 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P1ttN(IPAIS Pa(M195 & EvENTQS QA EpnQRA (ARAS '""" C-, 1 P-COHTIOOl 0< Tu,voio 1 (ASltlO DE(..., 15,-00 8tM·ESTAII EooOR ReSf'ONSÂ\:u Wardi Awada DA COZINHA FRANCESA LIGUE JA E ASSINEI (segunda a sexta das 9h às 18h, exceto feriados) SP: (11) 3512-9479 / RJ: (21) 4063-6989 / BH: (31) 4063-8156 Assine CARAS e GANHE um kit com 29 peças* - - * Assine CARAS com 15% de desconto e ganhe um kit ----=- f6.!'.� �-=-� PETITES CASSEROLES com 29 peças. www.assineclube.com .br VISA 4·:f:irl o � AS NOVIDADES DA ARQUEOLOGIA E DOS ESTUDOS HISTÓRICOS hamados de Homo stupidus ("homem estúpido") pelo bi ólogo alemão Ernst Haeckel em seus estudos no século 19, os ne andertais viraram o jogo. Uma pes quisa feita por cientistas do Reino Unido e da Alemanha revelou que eles são os autores de pinturas ru pestres com mais de 64 mil anos encontradas em cavernas da Espa nha - humanos modernos só chega ram à região há 40 mil anos. "Todos nós esperamos que isso ajude a melhorar a percepção que as pessoas têm dos neandertais. Que elas não os vejam mais com um com portamento inferior ou com menos cultura em comparação à nossa es- 6 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 pécie", disse o arqueólogo e coautor do estudo Chris Standish em entre vista à Inverse Science.Três cavernas foram analisadas com o apoio do método urânio-tório, estudando crostas de carbonato que cobriam parte das pinturas. Basean do-se na datação dos símbolos, mar cas das mãos e na forma geométrica dos desenhos, exclui-se a hipótese de autoria por humanos modernos. Na caverna La Pasiega, em Puen te Vesgo, uma pintura em forma de es cada foi datada de mais de 64800 anos atrás. Nela, pequenos animais sentam-se entre os "degraus", mas eles podem ter sido pintados quando o Homo sapiens chegou à Europa. Já na caverna de Maltravieso, oeste es panhol, a marca da forma de uma mão foi estimada como tendo pelo menos 66700 anos. Na última caver na, a de Ardales, estalagmites e esta lactites, lembrando cortinas em pa redes, parecem ter sido pintadas de vermelho e existir há 65500 anos. O fato de os Neandertais terem escolhido deliberadamente as ima gens - e selecionado onde colocá-las - mostra que possuíam um compor tamento determinado, característica antes atribuída só aos humanos mo dernos. O próximo passo é analisar marcas em cavernas da França e de outros países. E saber se a arte deles era generalizada. ,r A - MUITO GAS, POUCAS BENÇAOS MISTÉRIO ANIMAL SOLUCIONADO EM TEMPLO OE HAOES É possível caminhar pelos Portões do Inferno e sobreviver? Para os romanos, sim. Ao levar animais para uma das entradas do submundo, o templo de Hades em Hierápolís {hoje, Turquia}, sacerdotes voltavam intactos. Os bichos morriam em minutos. Mistério resolvido em um estudo da Universidade de Duisburg-Essen, Alemanha. Já era sabido existir uma fissura profunda no sítio arqueológico, responsável por emitir gás vulcânico, formado pelo tóxico e mortal dióxido de carbono. O biólogo Hardy Pfanz e a sua equipe foram além. Mediram a concentração do gás ao longo do dia. Sob a luz solar, o movimento do ar aquecido dissipava a substância. ' , A noite, o gas se concentrava perto do chão em quantidade suficiente para matar em minutos. Conclusão: os animais não eram altos o bastante para manter a cabeça acima da névoa. O contrário acontecia com os sacerdotes. É uma visão de alguns dos primeiros exemplos do que podemos descrever e A e como c1enc1a TROELS PANK ARB0LL, DA UNIVERSIDADE DE COPENHAGUE, SOBRE ESTUDO EM TEXTOS DE 2700 ANOS, ESCRITOS EM ARGILA POR KISIR-ASHUR, UM ESTUDANTE DE MEDICINA DO FINAL DO SÉCULO 7 A.C., NO IMPÉRIO NEOASSÍRIO. HÁ DESCRI ÇÕES SOBRE A PRÁTICA EM ANIMAIS, PROGREDINDO PARA BEB�S E ADULTOS. PETS DO PALEOLITICO Pesquisa da Universidade de Leiden, na Holanda, sugere que os cães já eram de estimação há 14 mil anos. Resultado da análise de um túmulo com um filhote (doente e cuidado antes de morrer). O fato de esse filhote sem função ter sido cuidado indica uma relação não utilitária. PROVA DE EXIST�NCIA? Selo em barro achado em Jerusalém pode ter o nome do profeta Isaías - e ser a primeira evidência dele além da Bíblia. Os pedaços de argila referem-se a Yesha'yah[u] Nvy (l'.l.' 17'1!/JJ'õl) - a primeira parte seria "Pertence a Isaías" e a segunda está incompleta. sss (''') li PASSADO ALCOÓLICO Evidências de um estabelecimento para fazer cerveja e pão no Egito foram achadas por pesquisadores da Universidade de Chicago. A descoberta ocorreu em Tell Edfu, perto do Cairo, e data de 2500 a 2400 a.e. -período da construção das pirâmides. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 7 hoje na história O EUROPEU DE 10 MIL ANOS ATRAS CABELOS ENCARACOLADOS, PELE NEGRA E OLHOS CLAROS Um estudo conduzido por especialistas em evolução humana e DNA do Natural History Museum e da University College London apresentou ao mundo o aspecto do Homem de Cheddar, o esqueleto humano completo mais antigo, do período Mesolítico, já encontrado na Grã-Bretanha. O visual, provavelmente comum para a época em que o Homem de Cheddar viveu, veio depois de uma pesquisa com análise de genoma. "Ele é apenas uma pessoa, mas também é um indicativo de toda a população da Europa naquele tempo", disse Tom 800th, arqueólogo do Natural History Museum. "Realmente mostra que essas categorias raciais imaginárias que temos hoje são construções modernas, ou bem mais recentes, e que não são aplicáveis ao passado." . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ' . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . sarcófagos DE PEDRA E CERCA DE estátuas pequenas ENCONTRADOS, AO SUL DO CAIRO, POR ARQUEÓLOGOS EGÍPCIOS NUMA NECRÓPOLE ANCESTRAL. AINDA HAVIA UM PINGENTE COM UM HIERÓGLIFO QUE SIGNIFICA "FELIZ ANO-NOVO". 8 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 ENIGMA DECIFRADO Como os egípcios foram capazes de alinhar a Grande Pirâmide de Khufu (tradicionalmente Quéops) quase que perfeitamente ao longo dos pontos cardeais? A resposta pode estar com Glen Dash, engenheiro que estuda as pirâmides de Gizé. Em artigo publicado no Journal of Ancient Egyptian Architecture, ele diz que o equinócio de outono é a chave para o mistério. No dia 22 d e setembro de 2016 (equinócio de outono daquele ano), Dash colocou uma vara numa plataforma de madeira e marcou sua sombra ao longo do dia. Descobriu que a ponta da sombra corre em linha reta e quase perfeitamente a leste oeste - o grau de erro é ligeiramente no sentido anti horário, semelhante ao das pirâmides de Khufu, Khafre e Menkaure. Mas o próprio Dash admite que não há 100% de certeza - não faltam pesquisas sobre outros possíveis métodos. ALHEIA PICASSO FEZ "RECICLAGEM" PARA CRIAR A MULHER VISTA NA OBRA MISERÁVEL AGACHADA Munidos de um moderno sistema de fluorescência por raio X, pesquisadores da Universidade de Northwestern, do Instituto de Arte de Chicago, da Galeria de Arte de Ontário e da Galeria Nacional de Arte de Washington descobriram que Pablo Picasso pintou La Miséreuse Accroupie ("A Miserável Agachada"), de 1902, sobre a tela de um artista desconhecido. A mulher surgiu sobre os traços do topo de um penhasco. As linhas usadas para desenhar a margem do rochedo foram incorporadas às costas da mulher Além disso, incialmente, Picasso pintou a figura com o braço e a mão direita expostos, segurando u m disco. Mas mudou de ideia e fez o manto verde por cima - fato revelado pela diferença entre elementos da tinta que pintou os membros e o disco e o azul-verde que veio depois. ESPORTE DE 1900 ANOS Luvas de boxe romanas foram encontradas perto da Muralha de Adriano, no norte da Inglaterra. O par remonta ao ano 120 e é o único exemplar sobrev ivente conhecido. Objetos assim foram registrados em pinturas, esculturas e mosaicos greco-romanos - na Antiguidade clássica, a luta com os punhos era parte dos eventos olímpicos. Diferentemente do que é usado hoje, cobrindo toda a mão, o par é formado por faixas de couro acolchoadas, lembrando uma luva de MMA. Segundo os descobridores, da ONG Vindolanda Charity Fund, as luvas têm design confortável e protegem bem os dedos. Elas são recheadas de fibras naturais, contra o impacto, e se encaixam perfeitamente na mão humana. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 9 hoje na história -"GENDA ACONTECEU EM Um número entre 200 e 2 m il - �� civis romenos 1941 são mortos durante o Massacre de Fantana Alba. A União Soviética havia invadido a Romênia, e eles foram impedidos de passar para o outro lado . O RMS Titanic inicia testes -� - marítimos - 1912 o qu e se deu dois dias após o equipamento ser concluído e oito dias antes de sua viagem inaugural. A bordo estavam 78 foguistas e 41 oficiais e tripulantes. Joseph Stalin torna-se --- - ... o primeiro 1922 secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética. Eleusaria do inicialmente limitado poder para derrubar a oposição e eventualmente controlar o país. THE BEATLES "SHE LOVES VOU" Os Beatles ocupam 12 ...-,-- - posições no 1964 Billboard Hot 100 singles chart, sendo cinco delas no topo. O feito impulsionou a banda para uma seleta lista de artistas com mais canções que ficaram em primeiro lugar. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . �· ......................................... ' ......... : ..................................... ' ........ ' ... ••;, ................. ' ................................. . Na Virgínia, a índia americana Pocahontas 1614 secasa com o colonizador inglês John Rolfe. A união levou à paz entre os colonos de Jamestown e as tribos de Powhatan, vindos de um passado de confli to . . . . . . . . . . , Durante a , Nasce , . . . . . . : Batalha de , Francisco , . . . . . . , Tapso, Julie , Xavier. : : 46 a.e. César derrota : 1506 O missionário : . . . : os politicos Marco Pórcio : católico foi cofundador da . . . : Catão, o Jovem, e Metelo : Companhia de Jesus e : . . . , Cipião. A derrota resultaria , liderou uma extensa missão : : no suícidio de ambos e na : na Ásia. Ainda foi muito : . . .. . . : morte de 1 O mil inimigos : influente na evangel ização, : ' ' I • , pelas tropas de César. , principalmente na lndia. , . . . . . .................................................... , ................................................... . 1454 O Tratado de Lodí encerra, finalmente, os conflitos entre Milão e Veneza. Era particularmente do interesse de Veneza, que tinha o seu império comercial ameaçado pelos otomanos. ..............................................•..... Iniciado o julgamento do --- nazista Adolf 1961 Eichmann em Jerusalém. Considerado o responsável pela logística do Holocausto, disse ter "apenas cumprido ordens". Seria enforcado no ano seguinte. 1 Ü AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 O vulcão Tambora entra em erupção na 1815 ilha indonésia de Sumbawa. A catástrofe durou três meses, matou 71 mil pessoas e impediu o verão no Hemisfério Norte, afetando o clima da Terra por cerca de dois anos. I 1981 8 Os atores Douglas Fairbanks 1918 e Charlie Chaplin vendem, em Nova York, títulos de guerra do governo financiavam operações m ilitares e gastos na época da Primeira Guerra. " 1 Na Escócia nasce Bonnie, -- -- a primeira cria 1998 da ovelha Dolly. O nascimento provou que um animal clonado é capaz de se reproduzir normalmente. No ano seguinte ela daria à luz cordeiros gémeos. 1 Quatro pessoas morrem no - --� Tiroteio 1881 dos Cinco Segundos, ocorrido em EI Paso, no estado americano do Texas. Esse é um dos momentos mais lembrados da era do Oeste Selvagem. 1 Na semifinal da Copa FA, - -- um erro nas 1989 catracas leva a uma letal concentração de pessoas no estádio de Hillsborough, Inglaterra. O Desastre de Hillsborough tomaria 96 vidas, a maioria por asfixia. Para restaurar o catolicismo, - - -jacobitas 1746 escoceses lutam contra ingleses na Batalha de Culloden, na Escócia. Derrota dos jacobitas: tradições escocesas são banidas e as Terras Altas ficam desabitadas. ------------,· .................................................. : .................................................... , ................................................... . O francês Jacques Cartier começa 1534 a sua viagem em direção ao que é hoje o Canadá. O objetivo inicial da sua comitiva era encontrar uma passagem ocidental para os mercados da Ásia. É assinado o Tratado de -- - Shimonoseki,1895 pondo fim à Primeira Guerra Sino-Japonesa. A China é obrigada a abrir mão da Coreia e a ceder Taiwan, a Península Liaodong e as Ilhas Penghu ao Japão. . . : Sob o : . . : pseudônimo de :. . Irene de Atenas : Allan Kardec, : �� - organiza um j 1857 Hippolyte Léon / 797 golpe contra. . : Rivail publica o Livro dos : seu próprio filho, o. . , Espíritos, considerado , imperador Constantino VI.. . : o inicio da codificação : Deposto, cego e ferido, ele. . : da doutrina espírita. Foi o : morre. Irene seria deposta . . : primeiro de cinco editados , numa conspiração de . . : por Kardec sobre o tema. : nobres, em 802. . . . ······ ...................... ······················:····· .................................. ·············:-· ...... ······················ .......... ······ ...... . O líder separatista Tiradentes, uma das figuras principais da Inconfidência Mineira (provavelmente não seu líder) é executado e esquartejado. De classe baixa e sem títulos, foi o único a receber essa pena. . . . . . .: O gás cloro é : . . , usado como :. .. . A Coca-Cola muda sua fórmula e: arma química : j pela primeira j 1985 lança a New : vez. Cerca de 170 : Coke. A resposta é. . : toneladas foram usadas : esmagadoramente. . : pelo Exército alemão : negativa. A fórmula. . : contra as forças francesas : original estaria de volta. . : na Segunda Batalha de : ao mercado em menos . . : Ypres, Primeira Guerra. : de três meses. . . . . . .................... .......... .................. ................................ ... ....................... , .................................................... ., ............................................ . Termina a Conferência ---- de Bandung. 1955 Na reunião, 29 nações da Ásia e da África redigiram uma declaração que condena o racismo e o colonialismo, e rejeita o poder das superpotências durante a Guerra Fria. Atenas se rende a Esparta, --- encerrando 404a.c. a Guerra do Peloponeso. É o fim da liberdade política e da democracia ateniense. Caminho aberto para a unificação pelos macedónios. Mais de 3 mil meteoritos --- caem na cidade 1803 de t.:Aigle, na França. O episódio convenceu os cientistas europeus de que pedras extraterrestres existiam e deu início à meteorítica, os estudos de meteoritos. Freedom Day, feriado sul --- africano que 1994 comemora as primeiras eleições pós- apartheid. Marca o estabelecimento de um novo governo democrático liderado por Nelson Mandela . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . ··,---..--- -- O ditador Benito ---.. Mussolini e sua 1945 esposa são executados por integrantes das forças de Resistência Italiana. Os corpos dos dois são exibidos pendurados pelos pés em um posto de gasolina. É fundada a Organização ---.para a 1997 Proibição de Armas Químicas (Opaq). A qual tem como mandato a destruição e a prevenção do surgimento de armas de destruição em massa. O físico britânico --- Joseph John Thompson anuncia o descobrimento do elétron, partícula elementar do átomo, responsável pelo magnetismo, eletricidade e fenómenos químicos. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 11 LISTAS, CURIOSIDADES, ARTE E INFOGRÁFICOS DÚVIDA CRUEL , A ECONOMIA DE MERCADO CONVIVE COM UM PARTIDO ÚNICO COMUNISTA. FAZ SENTIDO ISSO? TEXTO Maria Carolina Cristianini A resposta técnica é sim. Afi nal, a China é comandada pelo Partido Comunista Chi nês. E a resposta óbvia é não. Fala mos de um país onde diversas mar cas de carro podem ser vistas pelas ruas, emolduradas por arranha céus modernos, novos-ricos desfi lando em roupas de grife, executivos ocupados com seus celulares. A expressão "negócio da China" faz mais sentido que nunca. Pequim e Xangai hoje estão muito mais para Nova York que Stalingrado. A verdade é mais difícil de apre ender. Para o historiador Marcos Cordeiro Pires, professor de rela ções internacionais e ciências so ciais da Unesp, a China é coerente mente marxista. "O capitalismo não se caracteriza apenas poruma eco nomia de mercado, mas pelo poder político da burguesia. Apesar de a China praticar a economia de mer cado, a burguesia do país não tem esse poder. Todas as decisões eco nómicas são tomadas pelo Partido Comunista, também forte no setor 12 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 de serviços, como os bancos. O par tido é, declaradamente, baseado nos princípios de Karl Marx." Os princípios, no caso, sendo que a revolução comunista nasce do pro letariado no capitalismo avançado. Essa ideia guiou ninguém menos que Lenin nos primeiros anos da União Soviética, quando lançou a Nova Política Económica (NEP), res tabelecendo uma economia de mer cado de forma limitada, após ter abolido toda a propriedade no come ço da Revolução Russa. A China também começou ten tando o caminho direto. Em 1949, quando Mao Tsé-Tung e o Partido Comunista Chinês venceram, o pen samento era de que a construção do socialismo deveria acontecer ime diatamente, mesmo com a China mergulhada no atraso. Essa ideia foi enterrada a partir de 1978, com a ascensão de Deng Xia oping. "A posição desse outro setor do partido entendia que a transição socialista teria como condição o de senvolvimento das forças produti- vas, um aumento significativo da riqueza social da nação", explica Marcos Dei Roio, professor de ciên cias políticas da Unesp. Em 1979, o governo chinês lançou uma ampla reforma que pretendia fazer do país uma potência mundial. E conseguiu. A segunda maior eco nomia do mundo pratica o chamado capitalismo de Estado, nome tam bém usado para a NEP de Lenin. Para a chinesa Ann Lee, profes sora adjunta da Universidade de Nova York, são sinais de que o país "está mais para capitalista com as pirações socialistas". Lee defende que o comunismo não vem sendo praticado e falhou sob o comando de Mao. Que a revolução proletária ide alizada por Marx ficou na promessa. PROMESSA PARA O FUTURO Adiar a revolução indefinidamente não é exatamente hipocrisia. Isso faz sentido, de acordo com Ann Lee, numa sociedade que, segundo os próprios chineses, pensa em sé culos. "Se abrirmos o leque para 2 mil anos, podemos observar que a sociedade chinesa nunca teve o individualismo, tão presente no mundo ocidental, como algo central. É uma questão de origem de um povo", diz Marcos Cordeiro Pires. Dentro do pensamento chinês, o prometido comunismo, o mundo sem propriedade privada, Estado o u opressão profetizado por Marx, chegará um dia. Só não se sabe em que século. Ou milênio. Enquanto não vem o comunismo, o sistema chinês também não é exa tamente o capitalismo clássico. As estatais não foram abandonadas. Representando apenas 3% das em presas atuais, elas são responsáveis por, de acordo com dados do Epoch Times, entre 25% e 30% do total da produção industrial. Além disso, o partido, com quase 90 milhões de membros, mantém integrantes ou seus familiares na direção de indústrias-chave. Alguns dos principais empresá rios chineses mantêm relações com o partido, apesar do endurecimento recente do governo. Em 2017, o nome de um desses bilionários, WangJianlin, emergiu acompanha do de acusações de corrupção. Seu conglomerado, apesar das boas re lações com o partido, acabou se tor nando alvo de investigação sobre fraude financeira e entrou na mira do presidente Xi Jinping. Acabou tendo seu financiamento cortado. A China mantém as portas aber tas para os negócios, mas continua a ser um dos regimes mais repres sivos do mundo. Não há como saber se os chineses compram mesmo essa versão "paciente" do comunisn10. Para garantir que ninguém saia dos trilhos, um exército de 2 milhões de pessoas é empregado pelo governo para controlar a internet e a opinião pública. Por ora, da "ditadura do proletariado", os comunistas chine ses implementaram com sucesso a primeira parte. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 13 almanaque DITO & FEITO vs .A. A ORIGEM DOS PRONOMES E COMO O BRASIL SE DIVIDE TEXTO Maria Carolina Cristianini R egistros das formas de trata mento tu e vós, ambas com origem n o latim, aparecem antes da língua portuguesa, no idio ma galego-português, em textos do início do século 13. Na época, estas eram as duas únicas formas de se referir à segunda pessoa, tu, mais informal, usado dentro das famí lias, e vós, mais respeitoso, como n o tratamento dispensado à realeza. Foi só por volta de 1500, depois da separação entre português e galego, que modificações começaram a apa recer em vós, como vossa graça, vos sa excelência e vossa mercê. Pelo uso mais frequente, vossa mercê se tornou alvo de mais modifi cações fonéticas e semânticas. Assim, percorreu os seguintes estágios: vossa mercê , vossernecê , vosrnecê , você. 14 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 . . • Os dados se referem às capitais Já no fim do século 17, você aparece nas conversas em família, abando nando a origem respeitosa -que fica por conta de expressões como vossa excelência ou senhor. No Brasil, segundo o linguista Paul Teyssier, em História da Língua Portuguesa, "o vós desapareceu, mas o tu sobrevive apenas no extremo Sul e em áreas não suficientemente delimitadas do Norte". Hipóteses para tal falam em afirmação de va lores regionais - e, em Santa Catari na, da influência açoriana. Catarinenses ' e maranhenses \ empata�em segundo lugar no tu . '·. - ••••• ''''' ••••• ''''' Sem qualquer variação desde sua origem, o tu vem do latim idêntico. É provável que tenha surgido no protoindo-europeu, falado há cerca de s mil anos, de onde também veio, entre outros idiomas, o sânscrito. Basta conhecer o significado do famoso nan1astê para constatar se melhanças entre o latim e o sânscri to demonstradas pelo tu. O termo é formado pela junção de nan1ah e te -na,nah quer dizer "inclinar a cabe ça" ou "curvar-se" e te é um primo do latim tu. almanaque HISTÓRIA MALUCA PRESIDENCIAL POR DOIS ANOS, A CIDADE DE WASHINGTON PÔDE ACHAR A CASA BRANCA PELO CHEIRO TEXTO Maria Carolina Cristianini '"""", que dar de presente ao ho mem mais poderoso do país? , .. �· Andrew Jackson, sétimo presidente dos EUA, se viu surpre endido com um agrado peculiar na Casa Branca. Um bloco de queijo. Não qualquer bloco de queijo. Um cheddar gigante com mais de meia tonelada - 635 quilos, exatamente. A façanha veio do fazendeiro Thomas S. Mecham, morador de Sandy Creek, em Nova York. Quan do a ideia de fazer um queijo gigante para celebrar o aniversário de gover no de Jackson surgiu, em 1835, Me cham não perdeu tempo - ele tinha os meios e o conhecimento para pro duzir a deliciosa monstruosidade. E não bastou fazer uma só: foram dez, expostas numa homenagem ao pre sidente realizada em Oswego. A roda de queijo destinada ao governante era, naturalmente, a maior de todas. Com cerca de 1,2 metro de diâmetro e o,6 metro de espessura, trazia uma faixa com os dizeres "a União, ela deve ser preservada" - frase famosa entonada por Jackson durante o De mocratic Jefferson Day de 1830. A data não era por nada. Esse não era o primeiro queijo na Casa Branca. Só o maior. O próprio Jefferson tam bém tinha sido dono de um queijo semelhante, com 560 quilos, em 1802. Após inspirar o patriotismo, o queijo foi enviado de barco até o seu novo lar na Pennsylvania Avenue. A tiracolo foram dois outros blocos com metade do tamanho - estavam endereçados para o v ice -presidente Martin Van Buren e para o governador nova-ior quino William L. Marcy. O que Jackson fez com tanto quei jo? Dividiu entre os seus amigos. Mas não havia amigo o suficiente. O queijo permaneceu alojado na Casa Branca por dois longos anos, ga nhando um odor cada dia mais in tenso. Em seus últimos dias, dizia-se que dava para senti-lo a seis quartei rões. Era possível achar a casa do presidente pelo cheiro. Somente em 22 de fevereiro de 1837 Jackson conseguiu dar um fimno cada dia menos desejado hóspe de. Tratou de servi-lo aos convida- 1111111 111111 m1n 1111111 1111111 =- í .. 1 .. ••1·· 1:: •• 1· · Wi tlt•• •• :..: •• Ili •• •• • • UI ._ ._ '-- .. .. ,1/ • ....  • lfil üll m 'I' li � " ' 1 li 1 �· m Ili li 1 ,/' 1 UI '*" 1 dos de seu último evento público como presidente. Em duas horas, as 10 mil pessoas que visitaram a Casa Branca comeram cada centímetro cúbico que o presidente e seu amigo não haviam dado conta de ingerir. Quando Martin Van Buren assumiu, no mesmo ano, sua primeira tarefa foi se livrar do peculiar perfume dei xado pelo antecessor. Em 2014, o governo an1ericano resolveu celebrar a memória de Jack son e ouvir o público com a criação do Big Block Cheese Day - ocorrido também em 2015 e 2016 no governo de Barack Obama. Misericordiosamente para o pró ximo ocupante da cadeira presiden cial, não houve queijo. Todos foram convidados a enviar mensagens e perguntas pelas redes sociais para a equipe da Casa Branca, que respon deu ao vivo. 1:: •• ._ • mUI ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 15 ( , .. .. :: ._ .... l! llli. almanaque 16 • • • UMA VITÓRIA QUE, NA VERDADE, É UMA DERROTA. AO LONGO DA HISTÓRIA, MÚLTIPLOS GENERAIS GANHARAM A BATALHA PARA SE VEREM INCAPAZES DE VENCER A GUERRA 1 BATALHA .._DEASCULO . . ' Durante a Guerra Pírrica, os romanos lutaram contra o exército grego do Epiro, sob o comando do rei Pirro. O plano dele era vencê los e fazer com que os italianos - sob o domínio dos romanos - passassem para o seu lado. Pirro esmagou as tropas romanas, mas, ao mesmo tempo, perdeu muitos comandantes e oficiais que havia levado para a Itália. Os romanos, que perderam mais, puderam repor suas baixas, mas não os epirenses. Pirro perdeu, Roma começou a se tornar uma potência, e daí vem a expressão "vitória pírrica". 1 BATALHA _DEAVA RAIR QUAND0:f;T:1.�.�-r:'!"rl�9!' QUEM: · , · , · . Império Sassânida De um lado, as tropas rebeldes armênias lideradas por Bardanes li Mamicônio e, do outro, os exércitos sassânidas da planície de Avarair. Os persas sassânidas pretendiam converter e impor o rito do sol e do fogo (do zoroastr ismo) aos armênios, que se recusaram a abandonar a sua fé. Os sassânidas foram vitoriosos, mas os cristãos só ganharam mártires, lutando ainda mais motivados. Em 484, o Tratado de Nvarsak deu aos armênios o direito de manter sua fé. ABRIL 2018 •. B�TALHA DE • LUTZEN Travada nas proximidades do povoado alemão de Lützen, envolveu tropas protestantes (maioria de suecos) e católicas (maioria de romano-germânicos). Os suecos estavam sob a liderança do general Gustavo Adolfo 11, que usou de sua superioridade em armas e tática para adquirir vantagem - e conseguiu. Mas não viveu para ver. Desatento por causa das más condições climáticas, acabou baleado pelos inimigos. Sem seu líder, os protestantes desistiram da guerra e os católicos mantiveram seu poder. • BATALHA DE MALPLAQUET �; ,· � · 11 de setemoro de �709 • Monarquia Habsburgo, P.rovincias Unidas, Grã-Bretantia e o Reino de Prússia x Bourbons da F.rança e Esr!anha A aliança holandesa-britânica, sob a liderança do duque John Churchill de Marlborough, era composta de 100 mil soldados. Os franceses, liderados pelo general Claude de Villars, contavam com cerca de 90 mil homens. Na batalha mais sangrenta do século 18, os britânicos venceram, perdendo 20 mil homens, duas vezes mais que os franceses, que se retiraram de forma organizada. BATALHA DE 1 BU NKER HILL Foi no início da Guerra Revolucionária Americana, durante o Cerco de Boston. Os líderes revoluc ionários dos EUA descobriram o plano dos britânicos de levar as tropas até as colinas ao redor de Boston - com isso teriam controle sobre o porto da cidade. Os milicianos cercaram a colina de Bunker Hill e foram atacados pelos britânicos. Apesar da vitória do Reino Unido, houve mil mortes, enquanto os americanos perderam 450 homens. BATALHA DE _BORODINO QUANDO: QUEM: Sob a liderança de Napoleão Bonaparte, o objetivo dos franceses era capturar Moscou, forçando os russos a se renderem. Após a vitória em Borodino, em 14 de setembro, a cidade estava sob seu controle. A batalha havia custado 35 mil vidas. Do lado russo, apesar das perdas elevadas - 40 mil mortos -, as tropas foram rapidamente substituídas. Na primeira noite de Napoleão em Moscou, a cidade foi incendiada. Ao final, os franceses tiveram de abandoná-la e recuar pela Rússia no inverno. Uma catástrofe. GUERRA DE IN VERNO QUANDO: !'i'111!,!l!.� !!'Pr.� QUEM: A guerra começou quando a União Soviética atacou a Finlândia com o objetivo de obter partes do território. Os soviéticos possuíam mais soldados, aeronaves e tanques. O Exército Vermelho hav ia sofrido danos consideráveis pelos expurgos de Stalin, possibilitando que a Finlândia lhe infligisse perdas substanciais - 328 mil foram mortos ou feridos, contra 70 mil finlandeses. A União Soviética ganhou território finlandês, ao custo de sua reputação: foi expulsa da Liga das Nações. E outra guerra teve de ser travada em 1941. OFENSIVA _DO TET QUANDO: QUEM: 30 de janeiro de 1968 Vietcongue e Vietnã do Norte x Vietnã do Sul, Estados Unidos e aliados Diante dos ataques, as forças dos EUA e do Vietnã do Sul perderam o controle de várias cidades, mas terminaram por causar baixas arrasadoras aos vietcongues. Apesar da vitória, houve um grande impacto na opinião pública dos EUA. Ninguém acreditou ter sido mesmo uma vitória. Imagens na imprensa fizeram os inimigos parecerem meras vítimas. A invasão criou uma sensação de vulnerabilidade. Os EUA acabariam desistindo da guerra. BATALttA DAS __ TERMOPILAS • • • • Com o objetivo de conquistar a Grécia, até 300 mil guerreiros do Exército persa, liderados pelo rei Xerxes, bateram de frente com 7 mil soldados gregos em Termópilas (300 dos quais, os famosos espartanos). Por três dias, os gregos conseguiram impedir o avanço persa, até serem traídos. Apesar de aprisionar e matar quase todos, a resistência motivou os gregos. Xerxes perdeu mais de 20 mil, vários deles entre seus melhores. A Grécia venceria. ATAQUE A PEARL HARBOR QUANDO: QUEM: O ataque-surpresa t inha como finalidade paralisar a Frota do Pacífico, de forma que os EUA não pudessem reagir às conquistas japonesas de territórios sob controle americano, como as Filipinas. Cometeram três erros: 1) a estrutura industrial foi ignorada; 2) o ataque veio antes da declaração de guerra (por acidente); o que levou a 3) a opinião pública dos EUA, até então contra a guerra, mudou furiosamente de lado. O Japão senti ria a vingança literalmente na pele em Hiroshima e Nagasaki. almanaque COMO FAZIAMOS SEM ••• COPA DO MUNDO, SÓ PELO RADINHO; PERDER-SE NO MAR ERA PARTE DA PROFISSÃO TEXTO Letícia Yazbek A ssistir ao noticiário transmi tido do outro lado do mundo. Chegar a qualquer lugar guiando-se por um aplicativo. Saber detalhes da previsão do tempo. Be nesses do mundo moderno que eram pura ficção científica quando o pri meiro satélite, Sputnik I, foi lançado em 1957 pela União Soviética. Os satélites foram uma revolução para bem além da comunicação . Mas isso não quer dizer que, antes, o mun do não estivesse conectado. "O primeiro sistema de comunica· ção moderno a utilizar energia elétri· ca foi a rede de telégrafos, na primei ra metade do século 19. Para isso, foran1 desenvolvidos longos cabos elétricos", relembra Ricardo Kehrle Miranda, professor do Departamen to de Engenharia Elétrica da UnB. Em 1866, os cabos foram para baixo do oceano -o primeiro transatlântico para telégrafos conectava a Irlanda à ilha de Terra Nova, no noroeste do Oceano Atlântico, perto do Canadá. Antes do telégrafo, o remédio eram as cartas, depois os jornais im portados por navio. As notícias vi nham literalmente à vela ou a vapor 18 AVENTURASNA HISTÓRIA ABRIL 2018 e levavam semanas para atingir o outro lado dos oceanos. O telégrafo foi importante até tempos recentes. O telefone surgiu no fim da década de 1870, mas per· maneceu estritamente local por mui to tempo. O primeiro serviço inter con t in en t a l , por rádio, ligou Inglaterra e EUA em 1927. Com isso, em seus primeiros anos, a TV era inferior ao rádio em alcance. ''.As Copas do Mundo antes de 1970 só eram acompanhadas ao vivo pelo rá dio", relembra Paul Jean Jeszensky, professor do Departamento de Enge nharia de Telecomunicações e Con trole da USP. Foi no nosso tri que o campeonato teve, pela primeira vez e via satélite, transmissão ao vivo. Fora comunicações, algo central que os satélites resolveram - e isso ben1 recentemente - é a localização. O GPS soaria algo quase mágico para os antigos, que tinham de se virar com mapas e astrolábios. Astrolábios dão a latitude (sem a longitude). Ma pas, por mais precisos que sejam, não dizem onde você exatamente está, mas indicam pontos de referência. Que não existem em alto-mar. Per· der-se era parte da profissão naval. Só na Segunda Guerra surgiram sis temas de radiolocalização, mas esses dependiam da cobertura de estações receptoras em terra. Uma vida sem satélites também era sinônimo de previsão do tempo baseada na observação do céu e análise apenas diária de tempera tura, umidade e pressão. E de um cotidiano mais imprevisível, sem monitoramento de vulcões, do des locamento de geleiras e dos males da ação humana sobre o planeta. Havia bem menos dados sobre des matamento e poluição. Na área de comunicações, satélites perderam espaço para os velhos ca bos submarinos. Funcionando por fibra óptica, eles são a espinha dorsal da internet: resistentes, não estão su jeitos aos fenômenos que afetam o sinal via satélite. Os satélites, porém, atingem lugares aonde os cabos nun · ca chegaram. Transmitem TV, inter· net e telefone para áreas rurais e iso ladas, onde antenas parabólicas são uma visão comum. Um insólito caso em que a tecnologia nova atende à periferia e a tradicional, ao centro. almanaque CLÁSSICO DO CAFÉ DA MANHà ERA PARA SER UM "TRATAMENTO" TEXTO Maria Carolina Cristianini � � sobrenomedo médicoJohnHarveyKellogg virou, há tempos, sinônimo de café da ma ,.�· nhã. Mas algo que as pessoas não relacio nam a ele é uma forma particularmente radical de puritanismo sexual. Kellogg era um médico adventista do sétimo dia, extremamente devoto, que viveu um casamento de 40 anos sem sexo. Ele acreditava que doenças e pecado andavam juntos: a decadência da alma cau sa a decadência do corpo. E, desses vícios, um dos mais letais seria a masturbação. Chegou a catalogar 39 sintomas de quem se masturbava, incluindo acne, má postura, epilepsia e palpitações. Mas havia uma saída para esse mal terrível. Induzindo um estado mental "saudável", as tenta ções podiam ser amenizadas. Para o médico, o fim dos desejos passava por uma dieta sem carne e sem sabor. Enquanto trabalhou num sanatório em Battle Creek, Michigan, EUA, dedicou-se ao tema usando alimentos sem graça supostamente inibi dores da libido. Como o milho puro. Uma das versões da história relata um erro do irmão mais novo do dr. Kellogg: Will Feith teria esquecido no forno, em 1894, uma maçaroca de milho a ser servida aos pacientes. Os dois tritura ram tudo e obtiveram flocos. Sucesso! Não tinha a menor graça. Corpos e almas seriam salvos. Em 1897, os irmãos criaram a Sanitas Food Com pany, que seria rebatizada de Kellogg Company quando Will adquiriu o controle acionário. Ele t i nha outra ideia para o cereal: adicionou açúcar, tornando o produto muito mais excitante - e, cer tamente, tentador. A ideia de John Kellogg fora pervertida: sucrilhos nunca curariam ninguém do mal manual. E os irmãos nunca mais se falariam. ! ABRIL 2018 s 19 NOME: La Trinidad DATA: 1577-1579 AUTOR: Doménikos Theotokópoulos, EI Greco TtCNICA: óleo sobre tela DIMENSÕES: 300 X 179cm LOCAL: Museu do Prado, Madri almanaque LINHA DO TEMPO A ÂNSIA POR COMUNICAÇÃO E A ETERNA CURIOSIDADE HUMANA NOS LEVARAM DO TAMBOR À GUITARRA ELÉTRICA TEXTO Letícia Yazbek A ntes mesmo do surgimento da palavra "música" - do grego mousikós, referen te às musas, poesia, artes -, pedras e ossos serviram de matéria-prima para os pri meiros instrumentos. Resultado da necessida de de povos pré-históricos de se comunicarem, reverenciar deuses ou simplesmente se diver tirem. A curiosidade humana nos levou adian - te na construção de instrumentos mais com plexos de fazer - e de tocar. o 60000 3000 A.e. TAMBOR FLAUTA HARPA Peças construídas As primeiras, de Instrumento de corda por diversos povos ossos de animais, mais antigo, junto pré-históricos tinham de dois a com a lira grega, foi provavelmente quatro furos. achado em tumbas eram usadas como O exemplar mais reais na cidade de tambores. O antigo foi encontrado Ur, na Mesopotâmia. instrumento era feito em Divje Babe, na Desenhos dele de troncos de árvore Eslovênia, e deve ter também aparecem ocos e revestido de cerca de 43 mil anos. em cavernas da peles de animais para Pinturas feitas em região. A teoria mais intensificar o som. cavernas, no entanto, aceita é de que surgiu Aparecia em rituais comprovam que o a partir do arco da religiosos, para instrumento já existia flecha. Os arqueiros cultuar deuses, há pelo menos 60 mil devem ter notado que e como forma de anos. O uso da flauta as cordas, feitas de comunicação a estaria ligado à crina de cavalo, latão distância. Ainda na dança, às atividades ou bronze, faziam P r é -História, deu guerreiras e aos ritos barulho ao serem origem ao pandeiro. rei igiosos. soltas. Na Antiguidade, fez parte do dia a dia de hebreus, egípcios e gregos. 22 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 2000 A.e. ALAUDE Precursor do violão, surgiu na Pérsia, em forma de gota e com braço curto. As cordas eram de tripas de animais secas e retorcidas. Por volta do século 12, foi levado pelos árabes para a Península Ibérica, onde virou objeto da nobreza. Durante o Renascimento, era usado no teatro, em músicas de grandes compositores. Seu sucessor veio em 1100, na Espanha, com três pares de cordas. O nome violão vem em comparação com a viola portuguesa, menor, que surgiu ao mesmo tempo. 1500 TROMPETE Trompas, instrumentos parecidos com o trompete, já eram usadas na Pré- História, feitas de bambu e ossos de animais, para conduzir rebanhos. Mas os primeiros trompetes, de bronze e prata, foram encontrados no túmulo do faraó Tutancâmon. Era utilizado em festas e rituais - acreditava-se que o som produzido afastaria os maus espíritos. As válvulas só surgiram no século 19. \l':;; ÓRGÃO Um dos instrumentos mais antigos da tradição musical do Ocidente foi inventado pelo engenheiro grego Ctesíbio de Alexandria. Ele desenvolveu o órgão a partir da flauta grega, utilizando um sistema hidráulico de injeção de ar comprimido em tubos, através de foles. Durante muitos séculos, o órgão foi usado no circo e no teatro. VIOLINO Criado a partir de instrumentos egípcios e chineses, o violino surgiu na Itália, onde a fabricação ficou, durante muitos anos, restrita às famílias Amati, Guarneri e Stradivarius. O crescimento da arte instrumental - estimulado pela invenção da prensa de Gutenberg, que tornou possível a divulgação de partituras - provocou o aparecimento de novos instrumentos, como o violoncelo e o contrabaixo. Foi desenvolvido pelo italiano Bartolomeu Cristofori a partir do cravo, criado no século 14. A diferença entre os dois é que o piano percute as cordas com martelos, enquanto o cravo as tange, como no violão. Assim, um piano pode produzir sons suaves ou fortes, de acordo com a intensidade com que as teclas são pressionadas. 1840 SAXOFONE Aideia foi do belga Adolphe Sax. Construtor de instrumentos, começou a desenvolver novos projetos e decidiu testar um objeto adaptado, com uma boquilha semelhante à do clarinete. O saxofone foi exibido pela primeira vez em 1844, em Paris , e logo se tornou popular. Diversas modificações foram feitas com o tempo, mas as características gerais permanecem as mesmas dos originais de Sax. 1930 GUITARRA ELETRICA O suíço Adolf Rickenbacker equipou um violão comum oco com captadores elétricos - responsáveis por transformar a vibração das cordas de aço em sinais enviados a um amplificador. As de madeira maciça, dispensando a câmara de reverberação desnecessária, vieram só em 1940. O americano Leo Fender foi o primeiro a produzir guitarras de corpo sólido em escala comercial, que se popularizariam com o rock'n'roll. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 23 URBANIDADES ra 23 de março de 1993 quando os tratores se postaram dian te de uma das . . mais impres- sionantes, se não exatamente fáceis para os olhos, criações da espécie hu mana. A morbidamente fascinante Cidade Murada de Kowloon concen trou a maior densidade populacional jamais experimentada pelo homem. Um ano depois, em abril de 1994, coincidindo com a morte de J(urt Cobain, do Nirvana, estava feito. A favela não mais existia. Para o go verno, já ia tarde o lugar mais caó tico de Hong Kong, uma ferida aber ta na paisagem, uma vergonha diante do mundo. Mas, para seus milhares de moradores, o triste adeus a uma comunidade vibrante, que conseguiu prosperar de forma autónoma por quase 40 anos, sem qualquer ajuda governamental. Em seu apogeu, no final dos anos 80, a Cidade das Sombras, como era conhecida, tinha construções de 40 metros de altura e abrigava em seus 27 mil metros quadrados, o equiva lente a pouco mais que dois campos de futebol, cerca de 50 n1il habitantes. Isso dá quase duas pessoas por metro quadrado. "Os residentes da favela tiveram sucesso ao criar o que arqui tetos modernos, com todos os seus recursos e expertise, não consegui ram: uma megaestrutura orgânica, que respondia às constantes mudan ças de seus usuários", diz o jornalis ta Peter Popham em City of Darkness: Life in Kowloon Wal/ed City (Cidade das Sombras: Vida na Cidade Mura da de Kowloon, sem tradução). 26 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 FORTALEZA MURADA Diferentemente da maioria das grandes favelas, que surgem de cor tiços, sob viadutos, ou en1 áreas des campadas, a Cidade das Sombras se sobrepôs às ruínas de um antigo forte amuralhado. Desde o período da Dinastia Song (960 a.C .-1279), havia, ao norte da península de Kowloon, um pequeno posto militar que era usado para gerenciar o co mércio de sal e monitorar piratas que espreitavam a região. "Esse posto se manteve esquecido até 1842, quando os chineses preci saram dele novamente para proteger a península de J(owloon", comenta a historiadora Diana Preston, da Uni versidade de Oxford, sobre a tenta tiva desesperada da China em conter a expansão dos britânicos, que já haviam tomado a ilha de Hong Kong após a primeira Guerra do Ópio. O antigo posto transformou-se, então, em uma cidade murada, que foi posta à prova diversas vezes. Sua sorte, porém, não duraria para sem pre. Em 1898, o domínio da Grã-Bre tanha se estendeu e a China foi obri gada a ceder a ela os chamados "Novos Territórios" de Hong Kong, incluindo 235 ilhas vizinhas e Kowloon. "Os britânicos puderam usufruir dessas regiões por 99 anos", comenta o jornalista Pepe Escobar , em seu livro 21, O Século da Asia. Em 1899, a península já estava completamente dominada, e a forti ficação, rendida ao controle inimigo, foi poupada da destruição e deixada em segundo plano. FORA DO ESTADO Nas décadas seguintes, alguns de seus antigos armazéns e casebres fo ram convertidos em igreja, asilo, es cola e hospital. "Mesmo com as inter venções, a cidade murada não perdeu sua antiga essência e tornou-se uma atração para colonos e turistas ingle ses", comenta a jornalista Julia Wilkinson no livro City of Darkness. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão invadiu Hong Kong. A cidadela foi totalmen te evacuada e sua muralha, demoli da. O entulho serviria de material de construção para as obras de e x pansão do antigo aeroporto interna cional de Tai Kai, que ficava ali ao lado e atendia aos militares. Nesse meio-tempo, os britânicos ainda tentaram reaver o controle de sua colónia, mas só obtiveram êxito em 1945, com o fim da guerra. A Ci dade "Murada" lhes escapou aos dedos. Durante a ocupação japonesa, as fronteiras com a China foram abertas e, sem suas muralhas, a ci dadela recebeu milhares de refugia dos, incluindo marginais e antico munistas em busca de asilo político. APÓS 1948, A FAVELA PASSOU A EXISTIR POR SI SÓ, DESPROVIDA DE QUAISQUER SERVIÇOS PÚBLICOS, COMO SEGURANÇA, SAÚDE, EDUCAÇÃO, ÁGUA E ELETRICIDADE Depois de uma tentativa fracas sada de evacuar a área em 1948, os britânicos preferiram lavar as mãos. A polícia de Hong Kong não tinha permissão para entrar na fa vela que havia se formado sobre os escombros e a China continental se recusava em dar um jeito na bader na. Com isso, o local passou a exis tir por si só, desprovido de quais qu e r serviços públicos, como segurança, saúde, educação, água e eletricidade. OÁSIS DO CAOS Em meio à anarquia, a favela prosperou. Sem poder crescer para os lados, pois não tinha permissão de avançar um centímetro sequer sobre território britânico, começou a subir como um único bloco estru tural, uma escabrosa façanha que até hoje intriga a mente de físicos e en genheiros civis. Vendo a encrenca aumentar de tamanho, as autoridades britânicas tentaram intervir de todas as for mas. Especula-se até que tenham encomendado um incêndio crimi noso que desestabilizou a comuni dade na década de 50. Fato é que só conseguiram furar seu bloqueio quase dez anos mais tarde, depois que um assassinato ocorrido lá den tro provocou um in1passe diplomá tico com a China. Como era uma terra sem lei, fac ções criminosas conhecidas por Tríades, como 14K e Sun Yee On, promoviam negócios ilícitos, con trolando o narcotráfico, bares de ópio, redes de prostituição e de ca sas de jogos de azar ali instaladas. Além disso, os criminosos acolhiam médicos e dentistas sem registro para atender a população local e até financiavam esquemas para .. Havia 77 poços na cidade, alguns com 90 metros de profundidade. Bombas elétricas levavam água até grandes tanques nos telhados. De lá, tubos estreitos iam até as casas. No nivel da rua, misturavam-se dentistas e médicos sem licença, barracas e catés com cães no menu. carne e outros al imentos vinham de locais com pouco ou nenhum saneamento. Sem serviços mun icipa is, o descarte de itens volumosos acontecia nos telhados, onde objetos eram abandonados. As áreas com tonres altas interconectadas eram erguidas sem arquitetos e engenheiros, sem o controle das regras de construção e saneamento de Hong Kong. Alguns t elhados serviam para se exercitar, relaxar e até para corridas de pombo. Pequenas lojas de fabricação de metals compunham boa parte das cerca de 700 insta lações industriais . A maioria ficava entre o solo e o quinto andar. Moradores usavam guarda-chuvas para se protegerem da água pingando de canos, de forma constante, nos becos estreitos. Exis tiam muitas escolas e jardins de infância, alguns controlados por organizações como o Exército da Salvação. Os traficantes de heroína eram muitos, mas intocáveis. A polícia não podia prender não residentes. abastecer a cidade com água enca nada e energia elétrica. I(owloon era o lugar para ir se você quisesse evi tar ter conta to com a Justiça. CIVIS Apesar das notícias e estereótipos que corriam por Hong Kong e o mundo, a maioria deseus moradores era gente trabalhadora, que não se envolvia com a criminalidade e vivia pacificamente com a vizinhança. Chan Pui Yin, proprietário de uma loja e residente da Cidade das Som bras por mais de 40 anos, descreve: "Não existiam assaltos - apesar de os criminosos usarem a cidade para se esconderem, todos se conheciam, então ninguém nunca tentava se ma chucar. Era um pouco como a vida nos vilarejos da China antigamente". Numerosas fábricas, lojas e co mércios familiares também prospe ravam ali, e alguns civis até se reu niam em associações para discutir e propor melhorias. Existia uma rede de coleta de lixo, um jardim de infância, várias ONGs de reabilita ção de dependentes químicos e até um corpo de bombeiros voluntário. "Ainda assim, histórias sensaciona listas da cidade foram contadas du rante esse período", comenta Seth Harter, professor de estudos asiáti cos, en1 Hong Kong's Dirty Little Se cret (O Segredinho Sujo de Hong Kong, sem tradução). Era um reduto onde os chineses podiam viver entre os seus, sem pagar impostos ou serem persegui dos por fiscais da colônia à procura de explicações sobre vistos, taxas, condições de trabalho ou de higiene. Ali, todos podiam negociar, pros- perar e enriquecer. Na Cidade Murada, gente deso cupada não tinha vez. Os jovens, por exemplo, aprendiam desde cedo, com os pais, algum tipo de ofício e o desenvolviam na prática para que no futuro pudessem se garantir sozinhos ou até mesmo abrir seus próprios negócios. Diversos casos mostrados no li vro City of Darkness transmitem uma noção clara de como havia dignidade no modo de viver dos mo radores da favela e de como era la tente o preconceito dos que a enxer gavam do lado de fora. "A população da grande Hong Kong não acredita va que alguém da própria comuni dade pudesse ser bem-sucedido", comenta Harter. VIELAS SOMBRIAS Quanto ao seu crescimento espa cial, o lugar passou por um boom durante a década de 60, que se man teve em ritmo crescente até o f im dos anos 80. Por quase 30 anos, cerca de soo edifícios não licencia dos surgiram sem planejamento, formando um conglomerado de pe quenos apartamentos. Por serem tão próximos, os edifí cios da favela impediam a circulação de ar em seu interior. Empilhados uns sobre os outros, tinham varan das gradeadas e uma rede compar tilhada de escadas verticais conec tada a um labirinto de ruas sujas, úmidas e escuras. A sujeira vinha do lixo atirado da janela pelos mora dores com menos consideração. A umidade, dos canos e roupas pin gando do alto - o que obrigava os habitantes a andar com capas ou guarda-chuvas no solo. E a escuri dão, do fato que o espaço todo, até o último andar, era tomado por fios, canos, varais e extensões das cons truções. Misericordiosamente, aqui e ali havia lâmpadas f luorescentes, ERA UM REDUTO ONDE OS CHINESES PODIAM VIVER ENTRE OS SEUS, SEM PAGAR IMPOSTOS OU SEREM PERSEGUIDOS POR FISCAIS DA COLÔNIA À PROCURA DE VISTOS E TAXAS quando muito, que eram postas pe los próprios moradores. Essa enorme estrutura modular só parou de crescer quando uma res trição em relação à sua altura foi imposta pelas autoridades. Devido à trajetória de voo dos aviões que subiam e desciam do aeroporto de Kai Tak, havia a possibilidade de uma colisão ocorrer caso os prédios não parassem nos 14 andares. Se não fosse por isso, provavelmente che gariam a níveis mais elevados, com parados aos de modernos arranha céus vizinhos. ADEUS AO LAR Apesar de o crime organizado ter diminuído na década de 70, após uma série de incursões policiais que resultaram em mais de 2500 prisões e o enfraquecimento das Tríades, com a aproximação de 1997, data de devolução das posses britânicas à China comunista, as autoridades concluíram que não era "bonito" manter uma favela dentro de Hong Kong. "Em 1987, sem negociar com a comunidade, o governo desapro priou os moradores e as empresas da favela, mediante compensações financeiras muito menores do que mereciam", comenta, em City of Darkness, o fotógrafo Greg Girard. A medida teve a aceitação de al guns, mas foi reprovada por uma maioria esmagadora, que foi despe jada à força e obrigada a recomeçar sua vida do zero. De 1988 a 1992, as moradias, então, se esvaziaram len tamente. Em entrevistas a emissoras locais, muitos argumentavam que a compensação oferecida era humi lhante e não valia a pena se compa rada ao paraíso isento de impostos que a favela proporcionava. Finalmente, em janeiro de 1993, a Cidade das Sombras se esvaziou por completo. Com a eletricidade inter rompida, suas quitinetes, barracões e vielas abandonadas se apagaram em silêncio antes que as máquinas de demolição iniciassem o estrondo so ruído do "progresso". Na área, desde 1995, funciona o Parque da Cidade Murada de Kow loon, ornamentado com belos jar dins do início da Dinastia Qing (1644-1912) e dividido em setores batizados com os nomes de constru ções e vielas da antiga fortaleza, mas que em nada recordam a ela. Maque tes em pequena escala são a única lembrança física de um dos mais singulares experimentos da Histó ria, a aterradora mas familiar face do que, para até 50 mil pessoas, um dia foi chamado de lar. Cll SAIBA MAIS: The Oarkness City: Ufe in Kowloon Walled City, Greg Girarei e lan Lambot, Watermark Publicalions, 1993 21, O Século da Ásia, Pepe Escobar, Iluminuras, 1997 ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 31 PERSONAGEM a tarde do dia 22 de abril de 1918, no pequeno cemi tério de Bertangles, perto de Amiens, norte da França, soldados ingleses e austra lianos enterraram um piloto morto em combate. No mesmo momento, um esquadrão de aviões passou a baixa altitude em perfeita formação. Uma guarda de honra atirou ao alto em homenagem ao falecido. A ceri mônia teria sido quase banal se a honra não fosse a um de seus piores inimigos. Aquele que abatera mais de 80 aviões aliados em pouco mais de um ano e meio e se tornou o ás dos ases da aviação alemã. O capitão Manfred von Richthofen, Barão Ver- 32 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 melho. Piloto mais célebre da Pri meira Guerra Mundial e, um século completado de sua morte, ainda si nônimo para "ás". "O Barão Vermelho vale tanto quanto três divisões de nosso Exér cito." Assim o chefe de estado-maior alemão, general Erich Ludendorff, descreveu a importância de Richtho fen. Durante a guerra, o seu triplano escarlate aterrorizou os céus sobre a França. Os pilotos adversários tre miam ao ver esse avião cor de sangue sair das nuvens e se posicionar em suas caudas. Seriam abatidos em segundos. A forte personalidade de Richthofen, sua eficácia mortal nos combates aéreos, a coragem que bei- rava a loucura e a honra com a qual lutava nos céus fizeram dele um he rói para as gerações de aviadores que viriam no futuro. Richthofen nasceu em 2 de maio de 1892, em Breslau, na Silésia, região do então Império Alemão (hoje Wroclaw, na Polônia), e m uma família aristocrática prussia na com longa e antiga I inhagem militar. Segundo de quatro irmãos, seu pai era o barão Albrecht von Richthofen, oficial de cavalaria que serviu por longos anos o Kaiser, mas acabou ferido e colocado com pulsoriamente na reserva. Frus trado, Albrecht jogou as ambições militares nos filhos, principalmen- te na educação - muito rígida e, a o mesmo tempo, excelente. Todos s e tornaram militares. O jovem Manfred foi estudar na Inglaterra, no Lincoln College em Oxford, antes de ingressar na escola de cadetes de Wahlstatt, onde se des tacou mais nas atividades físicas do que nos estudos. Desde pequeno mostrou grande paixão pela aventu ra e pela caça. Tanto que fez o pai lhe dar uma espingarda de ar compri mido para atirar contrapássaros e pequenos anin1ais na floresta. Um instinto predatório que o acompa nhou nos anos seguintes e determi nou as escolhas que foram funda mentais em sua vida. Após terminar o treinamento na Academia Militar Prussiana de GroB-Lichterfelde, juntou-se ao Pri meiro Regimento de Ulanos, em 1911, como tenente da cavalaria in1perial. UMA NOVA ERA Mas essa não seria uma guerra de cavalaria. Quando, em julho de 1914, estourou o conflito, Richthofen par ticipou de algumas ações militares com o seu batalhão, mas logo ficou bloqueado por vãrios meses em Ver dun. Percebeu que esse conflito seria combatido com meios tecnológicos, como metralhadoras e aviões, os quais acabariam relegando a cava laria a papéis marginais. Terrivelmente atraído pela avia ção, perdeu o interesse por cavalgar. No início da guerra, os aviões ainda não eram concebidos como meio de ataque - tinham funções de reconh e cimento, patrulha ou de apoio para a artilharia. Era o suficiente, por hora, para Richthofen. Após se quei xar com o Comando Geral, foi trans ferido para as Tropas Aéreas do Império Alemão (Fliegertruppen des deutschen Kaiserreiches), onde começou a operar como observador nun1 biplano modelo Albatros. No pedido de transferência, escreveu de seu próprio punho: "Eu não fui à guerra para coletar queijo e ovos, mas para outra finalidade!". .. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 33 O conflito foi, de fato, o primeiro período da aviação militar da His tória. Os aviões tinham sido inven tados havia apenas uma década e nenhuma Força Armada tinha uma aeronáutica independente. As táti cas de batalha aérea estavam na primeira infância. Generais do Alto Comando alemão não levavam a sério o potencial das aeronaves, que eles não consideravam confiáveis. Voar em aviões de combate confi gurava loucura: eram aparelhos primitivos, feitos de madeira, teci dos e com motores precários. Ainda não havia paraquedas, e os pilotos, geralmente, não passavam dos 20 anos. Richthofen representou a pri meira geração de jovens entusiastas do combate aéreo, que lançou as bases para a doutrina da guerra áerea moderna. Em 1915, impulsionado pela am bição, ele decidiu que não queria ser apenas um observador, mas um pi loto. Apesar de o primeiro pouso ter sido um desastre - destruiu o avião -, 15 dias depois decidiu tentar o 34 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 -- exame. Falhou. E não desistiu: com pletou o treinamento de voo em Ber lim e superou a prova. O MENTOR A grande virada para Richthofen estava prestes a acontecer. Em outu bro de 1915, ele encontrou por acaso, em um trem, Oswald Boelcke, o pai da aviação militar alemã. Boelcke foi o primeiro a formalizar as regras do combate aéreo, batizadas de "Dieta Boelcke". Boa impressão deixada, em junho de 1916 Richthofen recebeu o convite para fazer parte do esqua drão de caças de Boelcke. "Ele lhe ensinou as técnicas adequadas para atacar uma aeronave inimiga e todos os truques para ser um ás da avia ção. Foi graças a Boelcke que Richthofen se tornou o Barão Ver melho", conta para a AH Harald Fritz Potempa, PhD, tenente-coronel da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) e historiador militar. A primeira vitória já tinha chega do, em abril de 1916, na derrubada de um avião modelo Nieuport, em - • • Douaumont. Mas a aeronave caiu além das linhas francesas e o abate não foi reconhecido (na época, só eram contabilizadas as vitórias con firmadas por outros pilotos ou sol dados em terra). Em setembro, já na esquadrilha de Boelcke, Richthofen obteve seu primeiro sucesso oficial: forçou um avião inglês a pousar per to de Cambrai. Em outubro do mesmo ano, eram cinco as vitórias confirmadas. À me dida que a Primeira Guerra prosse guia, ele ganhava mais fama do que seu mentor - até porque Boelke aca bou n1orrendo em um acidente aéreo em outubro de 1916. Depois de chegar ao status de ás com dez aviões inimi gos abatidos, ficou claro para todos que Richthofen estava se tornando um talentoso piloto de caça. Nin guém escapava de suas duas metra lhadoras sincronizadas. A tática era a mesma usada por predadores na floresta: isolar as presas mais fracas do grupo e caçá-las até a patada final. "A maioria dessas vitórias, entre tanto, não foi obtida voando com o seu icônico triplano Fokker, como muitos acreditam. Richthofen pas sou a maior parte do tempo em vá rios aviões biplanos modelo Alba tros D., com os quais obteve 55 de suas 80 vitórias. Apenas 19 foram com o famoso triplano vermelho. Mas foi esse avião que teve u m grande impacto na memória moder na da guerra", explica à AH Jeff Shaara, autor de To the Last Man ("Até o último homem", sem edição em português). Em novembro de 1916, depois de derrubar mais seis aviões inimigos, Richthofen recebeu o comando de um esquadrão inteiro de caças, o Jagdstaffel 11, e a mais alta condeco ração militar da Alemanha, a meda lha Pour le Mérite. A honraria era um objetivo de Richthofen desde o começo de sua trajetória. Ele usou a medalha em todos os voos seguintes, até seu precoce fim. O OPOSTO DA CAMUFLAGEM A decisão de pintar seu avião de ver melho veio em seguida. Objetivo: ser reconhecido pelos soldados no chão e pelos pilotos no ar e , ao mesmo tempo, intimidar e desafiar aberta mente os adversários. Surgia, assim, a lenda do Barão Vermelho. Sem qualquer conotação política à cor, seria uma homenagem à própria mãe de Richthofen, que não gostou da ideia. Em seu diário, escreveu: "Eu disse para Manfred que isso me parece um tanto ridículo". Quando assumiu o comando do Jagdstaffel 11, o esquadrão era um dos mais fracos da aviação alemã. Em poucos meses, tornou-se o grupo dos melhores pilotos do país, com formação de caça sem igual na guer ra. O esquadrão foi apelidado de "Circo Voador de Richthofen", pela habilidade dos pilotos. Houve mui tos momentos em que, quando o Jagdstaffel 11 aparecia nos céus, os soldados alemães e franceses para vam de atirar para assistir ao espe táculo. Todos os pilotos eram esco lhidos pelo Barão Vermelho. Entre eles, seu irmão, Lothar, seu primo Wolfram, e Hermann Gõring, futu- ro chefe da Luftwaffe e um dos maio res líderes nazistas. As ações nos céus continuaram comprometendo seriamente o poten cial bélico da Força Aérea da Grã Bretanha. Ainda hoje, os britânicos chamam de "abril sangrento" esse mês de 1917. Durante aqueles 30 dias, por causa do Circo Voador, as perdas sofridas foram tão grandes que a ex pectativa de vida dos pilotos britâni cos caiu de 295 horas para 92 horas. Apenas em um dia, Richthofen der rubou quatro aviões inimigos. MARCADO PARA MORRER Por isso, nas trincheiras britânicas, foi chamado de "Diabo Vermelho". Seu sucesso chegou ao oferecimen to de 5 mil libras em recompensa por sua cabeça - na época, o valor de um imóvel. Na Alemanha, o Barão Vermelho era um herói nacional. E acabou se tornando um objetivo estratégico dos britânicos, que criaram um esqua drão especial, muito bem treinado, com o propósito de eliminá-lo. Só .. ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 35 PERSONAGEM , Duas metralhadoras f (capacidade para 500 f disparos cada) Leme de··· direção •·· •.. .•. AMÁQU!NA DO BARAO VERMELHO Construído pelos alemães para bater a supremacia , inglesa nos ares, o triplano Fokker DR I tinha metralha doras frontais cujos tiros, por meio de um sistema sincronizado, atravessavam a hélice sem se chocarem com ela. Foi a bordo dele que Manfred von Richthofen fez seu último voo. Apesar de não ter sido a aeronave que mais deu vitórias a ele, deixou a marca do Barão Vermelho na História. Hélice de············ madeira ··· · · ····· ····· · ·· . . ... . Motor de 110 cv· ····· (velocidademáxima: 185 km/h) que Richthofen continuou anulando todos os esforços dos inimigos. "Ele foi abatido em algumasocasiões, mas, graças à sua habilidade de voo, sempre conseguiu pousar em terri- tório alemão ou evitar a captura ou morte", explica à AH Jon Guttman, autor do livro Pusher Aces of World War 1 (sem edição em português). A disciplina de ferro, a coragem na luta, a destreza em voo e as qua- !idades de comandante resultaram no cargo de capitão e no comando do Jagdgeschwader I, uma unidade recém-formada que incluia osJagds- taffeln 4, 6, 10 e 11 - com o objetivo de obter a superioridade aérea em setores decisivos do front, comba- tendo as formações aéreas britânicas cada vez mais numerosas do British Royal Flying Corps. Mais do que as medalhas, a hon- ra, os títulos e o comando, Richtho- fen indicou sua maior recompensa em carta para a mãe: "Quando eu voo acima das trincheiras fortifica- das, e os soldados me veem e gritam de alegria, eu olho para seus rostos 36 AVENTURAS NA HISTÓRIA ABRIL 2018 Depóstto de combustível (91 lttros, poss ibilitandoautonomia de voo de 1 h30) cinza, consumidos pela fome, pela falta de sono e pela batalha, somen- te então estou feliz e alegre. Você deveria vê -los. Muitas vezes esque- cem o perigo, pulam no telhado, agi- taro seus fuzis para me saudar. Essa é a minha recompensa, mãe, minha mais linda recompensa". Richthofen e seuJagdgeschwader começaram a encarar combates cada vez mais brutais. Em julho de 1917, ele ficou gravemente ferido na cabeça. Foi operado e forçado a uma longa convalescência. O evento deixou se- quelas. Trouxe dores de cabeça, náu- seas e mudou seu comportamento. "Agora, após cada duelo aéreo, me sinto como um cão. Provavelmente uma consequência da lesão na cabeça. Quando saio do avião e coloco o pé em terra, me apresso a me esconder entre minhas quatro paredes para não ver ninguém, para não sentir nada. Essa é a verdadeira guerra, na minha opi- ·- n1ao, não como as pessoas a imagi- nam em casa. Tem muitas dores e gritos. Tudo é muito mais grave, feroz ... ", registrou em seu diário. ! Retrovisor : Filetes de f madeira Apesar das objeções dos médicos, ele decidiu voltar rapidamente à ba- talha. E mais agressivo. O próprio Alto Comando alemão, que tentava promover a lenda do Barão Verme- lho entre os soldados e ao redor do país, pediu que Richthofen evitasse riscos tão altos e lutasse com menos frequência. Até porque os britânicos tinham construído aviões tecnologi- camente mais avançados. Ele se re- cusou. Mesmo quando os superiores disseram que a entrada dos Estados Unidos na guerra fazia desse um conflito perdido, o Barão Vermelho não reduziu o ritmo. Ao pedido do governo para ser menos visível, por sua própria segurança, Richthofen fez o contrário. Foi então que os pilotos do Jagd- geschwader decidiram pintar taro- bém seus aviões de vermelho. A ideia era confundir o inimigo e pro- teger o comandante. Irritado, Rich- thofen decidiu parar de usar bipia- nos. Optou pelo triplano para ser ainda mais visível. E começou a procurar batalhas o tempo todo. Ele </> o < o 3: "' � � </> "' lutava pela fama, pela glória, por adrenalina. Dizia que, durante os duelos, sentia vontade de caçar. Mas, apesar de sua implacável letalidade na luta, respeitava os oponentes e exigiu que seus subordinados se comportassem da mesma maneira. "Richthofen não era um vilão nem um canalha com sede de san gue, um serial killer sem alma como os filmes e a mídia muitas vezes o retrataram. Ele simplesmente era uma daquelas pessoas muito focadas nos objetivos, que trabalham muito para serem boas no que fazem. Par te da cultura alemã", explica Shaara. O VOO DERRADEIRO Em 21 de abril de 1918, o Barão Ver melho subiu em seu avião pela últi ma vez. Tinha sido o único a não voltar da última missão de patrulha, que tinha que realizar antes de me recidas férias. Voando sobre a Som me, cuja capital é Amiens, engajou um duelo com um piloto canadense, mas superou as linhas inimigas. Fi cou sob o fogo de tropas australianas • no solo. Baleado no peito, pousou em Vaux-sur-Somme, mas morreu pou co depois. Não tinha 26 anos. "Ele acabou quebrando suas pró prias regras. Provavelmente por causa de seu ego, que o levou à mor te", explica Guttman. Ainda hoje há controvérsias sobre quem matou o Barão Vermelho. As pesquisas mais recentes indicam que ele foi atingido por um tiro de bala vindo de baixo, provavelmente a 750 metros de dis tância. A morte devastou o moral alemão. "Ele tinha olhos para todos os seus homens, que os amavam por isso. Era o tipo de liderança que to dos desejam. Por isso, sua morte foi um desastre para o Alto Comando alemão", explica Guttman. Mesmo diante de tantas perdas britânicas, Richthofen foi homena geado por seus inimigos na base do código de honra não escrito dos pi lotos militares. E respeitosamente enterrado. Em 1925, seus restos mor tais atravessaram o Reno de volta para a Alemanha, recebidos por uma multidão em I(ehl. Após um grande funeral, o Barão Vermelho foi enterrado junto aos maiores he róis alemães no cemitério do Invali denfriedhof, em Berlim. Ou não? Existe a especulação de Richthofen ter sobrevivido à guerra e entrado no Partido Nazista. "Eu acho que não. Ele foi um alemão pa triótico, mas não acho que tinha a mentalidade nazista. Seus aspectos nacionalistas não significam que ele teria se tornado um nazista. Toda via, nunca saberemos. Muitos ases depois da guerra entraram no par tido, como Gõring, mas vários não quiseram compactuar com regime", diz Potempa. A figura do Barão Vermelho é lembrada não só por causa de sua incrível eficiência e habilidade de comando mas por ele ser um criador de táticas e princípios de combate aéreo durante o período da formação desse tipo de Forças Armadas. Ain da hoje, o 71° Esquadrão Aéreo Táti co da Força Aérea da Alemanha (Taktisches Luftwaffengeschwader 71) leva o nome de Richthofen. !l:l ABRIL 2018 AVENTURAS NA HISTÓRIA 37 CAPA • Negra com Seu Filho, e. 1884, Salvador, Bahia, é uma das lotos feitas por Marc Ferrez em viagens pelo Brasil. Faz parte do acervo do Instituto Moreira Saltes, que reúne 15 mil imagens do fotógrafo HÁ 130 ANOS, O BRASIL ABOLIA A ESCRAVIDÃO. ISABEL, EM QUE PESE SUA BOA VONTADE, POSSIVELMENTE SÓ ASSINOU O INEVITÁVEL PARA O PAÍS. A VITÓRIA FOI DE UM GRANDE, CORAJOSO E AGRESSIVO MOVIMENTO, PROTAGONIZADO PELOS NEGROS TEXTO Tiago Cordeiro sabei de Bragança pode aparecer como imagem nos altares das igrejas brasilei ras no futuro. Pelo menos é isso o que espera um grupo de fiéis católicos que solicita a beatificação da princesa brasilei ra. O pedido foi enviado para a arquidioce se do Rio de Janeiro, mas ainda não chegou ao Vaticano. De toda forma, a ideia de que a filha de Dom Pedro II não só libertou os escravos como foi uma pessoa de grande fé é recorrente no imaginário nacional. Seu grande momento, não é segredo, aconteceu há 130 anos, quando ela assinou a Lei Imperial número 3 353, às 15h do dia 13 de maio de 1888. O texto era sucinto. Continha dois artigos. O primeiro afirma va apenas: "É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil". E o segundo dizia: "Revogam-se as disposi ções em contrário". O imperador estava em Milão desde ju nho anterior, tratando da saúde. Soube da abolição dez dias depois, quando sua espo sa, a imperatriz Teresa Cristina, leu para ele um telegrama enviado por Isabel. "Gra ças a Deus", sua reação registrada. As circunstâncias ao redor da assinatura do decreto são bastante conhecidas. Isabel estava na sala do trono, enquanto o palácio imperial, no Rio de Janeiro, se viu cercado por cerca de 10 mil pessoas eufóricas - qua tro dias depois, outras milhares se reuni riam no Campo de São Cristóvão para uma missa campal de celebração. A lei foi assina da em três vias, cada uma com
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