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Livro - Teoria Politica

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Teoria 
Política
Mirian Elfo Collares
Curitiba
2015
Teoria
Política
Mirian Elfo Collares
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
C697t Collares, Mirian Elfo
Teoria política / Mirian Elfo Collares. – Curitiba: Fael, 2015.
162 p.: il.
ISBN 978-85-60531-13-4
1. Ciência política 2. Teoria política 3. Pensamento 
político 4. Estado e sociedade I. Título
 CDD 320.01
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Elaine Monteiro
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/maximmmmum
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Apresentação | 5
1 Surgimento do Pensamento Político | 7
2 Clássicos da Teoria Política | 23
3 Formação do Estado e a Sociedade Civil | 37
4 Sistemas e Regimes Políticos | 53
5 Formas de Poder | 67
6 Reflexões sobre a Organização do Estado a 
Partir do Pensamento de Max Weber | 79
7 Economia Política de Karl Marx | 91
8 Concepções de Democracia | 105
9 A Racionalização do Estado | 123
10 Mundo Global | 139
 Conclusão | 155
 Referências | 157
Apresentação
Bem-vindo à Teoria Política. Neste livro, você será apresentado às 
diferentes concepções sobre a formação, o papel e as relações do Estado e 
da Sociedade Civil, como elas foram surgindo e se construindo ao longo 
da história. 
Ainda que este livro tenha como ponto de partida diversas bases 
teóricas, nossa intenção está voltada para a reflexão sobre a prática, de 
modo que buscaremos, por meio dos estudos, ampliar seu domínio na lei-
tura e na linguagem própria da ciência política, atrelado aos diferentes con-
textos históricos e suas relações de poder. O objetivo é que, ao final, você 
possa compreender as diferentes formas de organização social e as diversas 
maneiras de atuação sobre ela, de modo a contribuir para sua organização, 
acessando e usando da melhor maneira os conhecimentos acumulados na 
Teoria Política.
– 6 –
Teoria Política
O livro foi organizado como um passeio histórico com o intuito de identificar 
os contextos que originaram as diversas concepções políticas. Iniciaremos com os 
primeiros escritos desenvolvidos na Grécia Antiga, as contribuições do Império 
Romano e do período monoteísta. Seguiremos pelo período da Renascença e pelo 
Iluminismo, nos quais foram construídas as bases conceituais do que se tornaria, 
mais tarde, o Estado moderno. Você verá que, durante o século XIX, com a Revo-
lução Francesa e a Revolução Industrial, novas formas de organização do Estado e 
da sociedade entram em debate. No século XX, temas como os diferentes regimes 
políticos, as formas de governo, a burocracia de Estado, a formação das elites, a 
intervenção do Estado na economia, entre outros, serão foco do seu estudo. Além 
disso, veremos debates atuais sobre a soberania dos estados nacionais na era da glo-
balização, atrelados às teorias sobre a democracia e o estado científico. 
Como você pode observar, esse livro percorre um período histórico longo, e, 
portanto, existem muitos temas a serem debatidos. Esperamos contribuir de forma 
decisiva em sua formação profissional e em sua prática como gestor público.
Surgimento do 
Pensamento Político
Nesta aula, você iniciará os estudos sobre o pensamento polí-
tico, conhecendo os primeiros pensadores políticos: os pensadores 
gregos (Sócrates, Platão e Aristóteles) e as contribuições do período 
do Império Greco-Romano, bem como a contribuição política do 
início da Era Cristã pelos povos monoteístas (cristãos e islâmicos).
Dessa forma, nesta aula introdutória, espera-se que você 
consiga compreender a importância das origens do pensamento 
político, buscando identificar como suas contribuições compõem 
nosso entendimento sobre a formação do Estado e da sociedade 
civil e como se construíram essas relações.
1
Teoria Política
– 8 –
Objetivo de aprendizagem:
 2 Conhecer a origem do pensamento social e político, associando 
conceitos da Antiga Grécia, do período romano e da Era Cristã.
1.1 O que é Teoria Política?
Em uma definição bem geral, partimos da compreensão de que a Teoria 
Política é um ramo da Ciência Política constituído por diversas contribui-
ções de várias disciplinas, em especial, da Filosofia Política e da História das 
Ideias Políticas. 
 Saiba mais
O conceito apresentado por Norberto Bobbio no livro Dicionário de 
Política, de 1998, compreende a Ciência Política como uma disciplina 
histórica que estuda o homem e seu comportamento, ou seja, a ciência 
empírica da política, das relações de poder, do Estado, do governo, das 
instituições políticas, da sociedade civil, enfim, das formas de poder. 
Segundo a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), a Teoria 
Política reúne um conjunto de conhecimentos adquirido pelas mais diver-
sas construções históricas das sociedades ocidentais enquanto organizações 
propriamente políticas. Assim, entende-se que a Teoria Política é um esforço 
intelectual que busca organizar um pluralismo de perspectivas ideológicas e 
visões de mundo. 
Pluralismo: a noção de pluralismo, conforme Bobbio (1998, 
p. 928-933), refere-se à associação de diversas perspectivas, 
sejam elas conciliatórias ou divergentes. Na esfera política, 
o pluralismo indica a participação de diversos grupos e inte-
resses na organização do estado, das instituições sociais e da 
sociedade civil, agindo, portanto, de forma democrática..
 
– 9 –
Surgimento do Pensamento Político
Como parte da Ciência Política – o estudo dos acontecimentos, das ins-
tituições e das ideias políticas –, a Teoria Política configura-se como a reflexão 
teórica dos conhecimentos desenvolvidos em seus aspectos filosóficos, jurídi-
cos ou políticos e sociológicos. Dessa forma, entende o pensamento político 
e social como um conjunto de ideias que definem o que seja a política, o 
Estado e suas instituições, e o que seja a sociedade e suas diferentes formas de 
organização (BOBBIO, 1998, p. 918-923).
 Importante
Organizações podem ser entendidas como sendo a coordenação 
planejada de atividades realizadas, por várias pessoas, para o alcance 
de um objetivo comum, por meio da divisão de trabalho e seguindo 
uma hierarquia de autoridade e responsabilidade.
A Teoria Política trata da história do pensamento político e social.
1.2 O pensamento político grego 
O início do pensamento social remonta aos ideais políticos de Platão e 
Aristóteles, tendo como inspiração a filosofia desenvolvida por Sócrates (nas-
cido entre 469-470 a.C.) e baseada na formação de uma sociedade de sábios, 
durante o período da Grécia Antiga, por volta do século V a.C. Esses pen-
sadores estabeleceram uma nova visão sobre a constituição do Estado, uma 
concepção de Estado ideal e perfeito vinculado às virtudes do cidadão. 
Segundo François Châtelet, em História das Ideias Políticas (1990), para 
a filosofia da antiga Grécia, a virtude do homem individual era tomada como 
virtude maior na forma de um Estado perfeito, de tal forma que, a partir da 
busca das virtudes individuais, era possível constituir um Estado ideal. 
1.2.1 Sócrates
A contribuição de Sócrates para a filosofia é tão vasta que a história do 
pensamento grego é dividida em dois períodos: o período pré-socrático ou 
Teoria Política
– 10 –
cosmologia – voltado para a compreensão da origem do mundo (physis) – e o 
período pós-socrático ou antropológico (surgiu por volta de século IV). 
A cosmologia surgiu por volta do século VI a.C. e pode ser caracteri-
zada pela explicação da transformaçãoda natureza como mudanças dos seres 
humanos, negando que o mundo tenha surgido do nada e afirmando que, 
na natureza, tudo se transforma. O futuro seria visível por meio do conhe-
cimento, portanto, o mundo estaria em constante mudança (em um movi-
mento contínuo, um devir) sem perder sua forma, sua ordem e sua estabili-
dade (CHAUÍ, 2000). 
Conforme a polis grega se desenvolve, Atenas torna-se o centro da vida 
social, política e cultural do Império Grego. Por conta disso, floresce a noção de 
democracia grega, afirmando a igualdade de todos os homens adultos perante 
as leis e o direito à participação direta no governo da polis, por meio do direito 
de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões nas decisões. Esse 
direito era atribuído na democracia grega aos cidadãos – excluídas as mulheres, 
os escravos, as crianças e os velhos, além dos estrangeiros (CHAUÍ, 2000).
Para poder participar da vida pública, os indivíduos deveriam ser edu-
cados e ensinados a ser bons cidadãos. É de Sócrates a máxima “conhece-te 
a ti mesmo”, e é a partir dela que se constrói todo o pensamento do período 
pós-socrático. Em outras palavras, o pensamento de Sócrates é voltado para o 
conhecimento do homem. “A Filosofia se volta para as questões humanas no 
plano da ação, dos comportamentos, das ideias, das crenças, dos valores e, por-
tanto, se preocupa com as questões morais e políticas” (CHAUÍ, 2000, p. 45).
Como Sócrates não deixou nenhum pensamento escrito, tudo o que 
conhecemos sobre seu pensamento foi registrado por seus discípulos, e o mais 
importante deles foi Platão.
1.2.2 Platão
Platão foi um importante filósofo grego, nasceu em Atenas por volta de 
427 a.C. e faleceu 347 a.C. As ideias platônicas, inspiradas em seu professor 
Sócrates, estão associadas a uma diferenciação entre o mundo das ideias (o 
– 11 –
Surgimento do Pensamento Político
mundo das ideias e a inteligência) e o mundo das coisas sensíveis (os seres vivos 
e a matéria). Para Platão, a “verdadeira arte política” é a arte que “cura a alma”. 
Dessa forma, a política é tomada como a arte que torna a alma do filósofo 
mais virtuosa, capaz de conceber um Estado fundado sobre os valores da jus-
tiça e do bem. A ideia é de que, quanto mais sábio o indivíduo se torna, mais 
justo, de tal forma que os sábios seriam os únicos conhecedores da arte polí-
tica, isso porque estariam mais habilitados para exercer sua missão: “governar 
outros indivíduos” (CHÂTELET, 1990).
 Saiba mais
De acordo com Bobbio (1998, p. 1107-1109), a concepção inicial de res 
publica não foi dada por Platão, mas, sim, por Cícero (filósofo romano 
que se mudou para a Grécia, por volta de 80-90 a.C.), ao distinguir os 
interesses comuns em conformidade com a lei comum e aos direitos. 
Para Platão, a partir do conceito de justiça é que surgem todos os outros 
conceitos, em interação entre si, formando o Estado ideal. As noções res-
ponsáveis pela formação do Estado ideal podem ser entendidas a partir de 
três virtudes – a temperança, a coragem e a sabedoria – que se organizam na 
noção da virtude da justiça (BOBBIO, 1998).
Assim, segundo Châtelet (1990), o governo é entendido como uma neces-
sidade que existe apenas para se evitar o “maior castigo”, ou seja, ser governado 
por alguém pior do que nós quando nós mesmos não queremos governar. Em 
resumo, para Platão, só há governo porque nem todos são “homens de bem”. 
Esse esquema é o seguinte: uma classe de cidadãos deve prover as neces-
sidades materiais da coletividade; sua virtude é trabalhar e obedecer; 
pertencem a essa classe que o cosmos fez nascer com uma alma na qual 
predominam os apetites. Uma outra tem como missão rechaçar os ini-
migos e garantir a segurança interna; sua virtude é a impetuosidade 
e a disciplina: é composta pelos indivíduos cuja alma é orgulhosa e 
corajosa. Finalmente, uma outra garante a autoridade soberana e gere a 
coletividade; é constituída pelas naturezas filosóficas, pelos “filhos das 
ideias”, que provaram – pelo exercício e pelo estudo sua capacidade 
para saber e, portanto, para comandar (CHÂTELET, 1990, p. 20-21)
Teoria Política
– 12 –
Para Platão, a sociedade não seria formada por iguais ou semelhantes, mas, 
sim, por desiguais, cabendo à primeira classe a virtude da temperança (disci-
plina dos prazeres e desejos e saber obedecer às classes superiores) responsável 
pelas necessidades materiais da sociedade, como alimentação, vestes e habita-
ção. A segunda classe teria como virtude a coragem (defensores e protetores do 
Estado) e seria responsável por inspecionar a educação vigente para que não 
haja introdução de hábitos e costumes que possam vir a prejudicar e fragmentar 
o Estado ideal. Já a terceira classe seria a dos governantes (filósofos-políticos), 
os quais devem conter a virtude da sabedoria, que é a única capaz de alcançar e 
contemplar a justiça e o bem. Esta é a definição de Chauí (2000).
Assim, Platão construiu sua reflexão política em cima de suposições 
imaginárias, utópicas, projetando o melhor futuro para a humanidade. Seu 
mais famoso discípulo, Aristóteles, trará o pensamento político para o mundo 
real, com base em sistemas políticos existentes, classificando-os, definido suas 
características. É o que você conhecerá a seguir.
Utópicas: o termo refere-se a algo que está no nível 
dos sonhos, das fábulas, portanto, sobre algo que 
não se realiza (BOBBIO, 1998, p.1284-1290).
 
1.2.3 Aristóteles
Nascido em uma pequena cidade do norte da Grécia (Estagira), em 384 
a.C., Aristóteles foi para Atenas aos 18 anos para iniciar seus estudos em filo-
sofia, falecendo em 322 a.C. 
 Você sabia
Aristóteles foi tutor/professor de um pequeno príncipe da Macedô-
nia, que mais tarde se tornou Alexandre, o Grande e liderou uma 
campanha militar que criou um vasto império, tomando terras desde o 
sudeste da Europa até a Índia (PESSANHA, 1987, p. 1-9). 
– 13 –
Surgimento do Pensamento Político
Figura 1 – Estrutura da Pólis Grega.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Segundo Châtelet (1990), na concepção aristotélica, a cidade é parte 
das coisas naturais, e o homem é, por natureza, um “animal político”, o que 
significa dizer que, nessa perspectiva, o indivíduo se estabelece em função do 
Estado e não o Estado em função do indivíduo.
O homem é um animal social e político por natureza. E, se o homem 
é um animal político, significa que tem necessidade natural de convi-
ver em sociedade, de promover o bem comum e a felicidade. A pólis 
grega encarnada na figura do Estado é uma necessidade humana. O 
homem que não necessita de viver em sociedade, ou é um Deus ou 
uma Besta (CHATÊLET, 1990, p.15-16).
Dessa forma, conforme Châtelet (1990), somente dentro da pólis 
(cidade) “o homem é um animal político”. Em outras palavras, é na cidade 
(organização fundada não sobre a força bruta, não sobre interesses passagei-
ros, não sobre as prescrições dos deuses) que o homem pode realizar a virtude 
inscrita em sua essência.
Segundo Bobbio (1998), em sua obra mais famosa, Política, a compre-
ensão de Aristóteles é de que cabe ao Estado estabelecer a ordem sobre o fun-
cionamento dos cargos e, sobretudo, o cargo de quem governa. A partir dessa 
compreensão, Aristóteles relaciona as três formas de governo existentes, criando 
uma classificação das formas de governo reto: a monarquia (governo de um só), 
a aristocracia (governo de poucos) e a democracia (governo de muitos). 
Teoria Política
– 14 –
 Importante
O que mantém a sociedade organizada é a justiça: “[...] a justiça é a 
base da sociedade; sua aplicação assegura a ordem na comunidade 
social [...]” (Política I, 1, 1253 apud. CHAUÍ, 2000, p. 495).
Da mesma forma que Platão, Aristóteles pensava que o tamanho do 
Estado ideal deveria ter proporções equilibradas (CHÂTELET, 1990). Assim, 
não devia ser nem pouco e nem muito populosopara que, desse modo, todos 
os verdadeiros cidadãos tivessem acesso às riquezas do Estado. 
Pode-se dizer que, para os pensadores gregos, a política não é um fim em 
si mesma, pois está submetida às intenções dos indivíduos (a ação moral em 
Platão e a felicidade em Aristóteles). 
Com as conquistas militares macedônicas, sob a liderança de Alexandre 
Magno – Alexandre, o Grande –, o Império Grego foi agregado ao Império 
Romano em 27 a.C. A cultura grega foi adotada pelos romanos, centrali-
zando o pensamento ocidental na cidade de Roma e resultando em novas 
formas de organização social e política. É o que veremos a seguir.
1.3 Pensamento político romano
A partir de agora, você conhecerá mais sobre a compreensão política 
dos romanos, que, assim como os gregos, atribuíam ao homem o papel fun-
damental na organização política. São compreensões muito distintas sobre 
a divisão e organização da cidade. Enquanto os gregos se preocupavam com 
uma divisão interna da pólis, os romanos entendiam a cidade – Roma – como 
uma organização fundada em um pacto único. 
Conforme Châtelet (1990), essa diferença na organização social 
caracteriza os dois impérios da antiguidade. A constituição de Roma 
como cidade cosmopolita, centro do mundo antigo, é muito diferente da 
composição da pólis grega. Por isso, a compreensão grega de um Estado 
ideal não muito populoso é oposta à compreensão da cidade romana, 
onde cabe o mundo todo. 
– 15 –
Surgimento do Pensamento Político
Figura 2 – Estrutura da cidade de Roma, o Coliseu.
Fonte: Shutterstock.
Ainda que se possa encontrar, desde a fundação de Roma (em 753 
a.C), uma série de regras e punições para os habitantes da cidade, segundo 
Chauí (2000), foi por volta de 450 a.C. que se criou a Lei das Doze Tábuas, 
a qual estabelecia a proteção ao pater familias (o pai como senhor abso-
luto da casa), com o objetivo de proteger a família, o cidadão, o homem 
livre. Dessa forma, os princípios do Direito Romano são instituídos 
nesse período.
 Importante
O Direito Romano é uma das principais contribuições políticas dos 
romanos. Inicialmente destinado a manter e controlar os territórios 
conquistados pelo Império, ele vai se estender até adquirir o direito 
de cidadania, configurando-se em um código estrito, regulamentando 
o conjunto da vida social e definindo as liberdades e os deveres de 
cada um (CHÂTELET, 1990).
Teoria Política
– 16 –
Conforme Châtelet (1990), outra importante contribuição romana à 
política são as instituições republicanas romanas, as quais estabeleceram os 
fundamentos jurídicos da comunidade com base num vínculo jurídico e numa 
ordem política estritamente determinada (pacto), atribuindo a res publica (coisa 
pública ou do povo) uma nova concepção: como a expressão da lei natural. Essa 
concepção coloca os interesses públicos em uma esfera diferente dos interesses 
particulares, o que veio a constituir a concepção política de República.
II. A REPÚBLICA DOS ANTIGOS. — Com res publica os romanos 
definiram a nova forma de organização do poder após a exclusão dos 
reis. É uma palavra nova para exprimir um conceito que corresponde, 
na cultura grega, a uma das muitas acepções do termo politeia, acep-
ção que se afasta totalmente da antiga e tradicional tipologia das for-
mas de Governo. Com efeito, res publica quer pôr em relevo a coisa 
pública, a coisa do povo, o bem comum, a comunidade, enquanto 
que, quem fala de monarquia, aristocracia, democracia, realça o prin-
cípio do Governo (archia) (BOBBIO, 1998, p. 1107).
Segundo Bobbio (1998), as instituições republicanas vão concedendo 
progressivamente o dir eito de cidadania aos povos conquistados, ampliando 
os beneficiários das garantias do direito romano, como o núcleo de 
uma organização universal que faz de cada indivíduo um cidadão do 
mundo, um cosmopolita.
Cosmopolita: designação dada a grandes centros urba-
nos, nos quais existe uma quantidade muito grande de 
indivíduos dos mais diversos lugares e países. A noção 
de cosmopolita refere-se também a uma grande cidade, 
onde encontramos uma vasta diversidade cultural, pre-
sente, por exemplo, na comida, nas artes, nos costumes, 
na forma de se vestir, etc. (BOBBIO, 1998, p. 293-301).
 
De acordo com Châtelet (1990), outra importante contribuição 
romana ao pensamento político é a noção de império como forma política, 
como um tipo de ordem exercida pela cidade – Roma –, realizada pela sua 
virtude de difundir universalmente sua civilização. Em outras palavras, é 
– 17 –
Surgimento do Pensamento Político
a noção de pertencer ao império que caracteriza sua condição de cidadão 
(civilizado), acrescentando funções sociopolíticas ao conceito de cidadania 
(tal como ocorre hoje). 
Antes da queda do último imperador romano, Teodósio, em 395 d.C., o 
Império Romano foi dividido em Império Romano do Ocidente, com capital 
em Roma, e Império Romano do Oriente, tendo como capital Constantinopla. 
No Império Romano Ocidental, dada a vasta área territorial, eram 
comuns, na época, as invasões de povos bárbaros em terras romanas, em 
especial em busca de terras férteis ou fugindo de conflitos com outros 
povos. Os povos bárbaros eram assim denominados por populações não 
nativas e/ou que não falavam sua língua. Eram compostos, em especial, 
de povos de origem germânica. Essas guerras principiaram a fragmentação 
do Império Romano após sucessivas batalhas, ocorrendo a gradativa dimi-
nuição das terras do Império e a reestruturação do poder político de Roma 
(CHAUÍ, 2000). 
Figura 3 – Mapa do Império Romano e as invasões de povos bárbaros.
Fonte: MEC (2010).
Já no Império Romano Oriental, com o surgimento das religiões mono-
teístas e, em especial, a expansão islâmica, originam-se novas visões de mundo 
e de reorganização das sociedades, bem como novas formas de poder interfe-
rem decisivamente no poder de Estado. É o que veremos a seguir.
Teoria Política
– 18 –
1.4 Período monoteísta
Saindo do mundo antigo, das sociedades politeístas (vários deuses), sur-
gem novas concepções religiosas baseadas na existência de um Deus único, 
atrelado às coisas mundanas. Segundo Chauí (2000), diferentemente dos 
deuses da mitologia greco-romana, os quais auxiliavam os homens nas coisas 
mundanas, o Deus monoteísta é dominador, é também o “rei” das coisas do 
mundo. Essa concepção marcará duradouramente as ideias e os costumes 
das sociedades ocidentais. 
As concepções monoteístas (cristã e islâmica), conforme a explicação de 
Chauí (2000), ainda que muito diversas entre si, encontram suas raízes nos 
textos sagrados do povo judaico, reunidos no que conhecemos como o Velho 
Testamento, baseado na superioridade absoluta de um Deus único, pessoal 
e criador, senhor da Lei. O monoteísmo, portanto, opõe-se à concepção do 
homem como criatura que mantém, com seu criador, relações pessoais espiri-
tuais. Defende, ainda, uma concepção da comunidade como sendo fundada 
não em um projeto ético-político (como os gregos), não em uma relação jurí-
dica (como os romanos), mas em uma aliança religiosa, alterando as noções 
de liberdade e de responsabilidade dos indivíduos em sociedade, isto é, sua 
função na organização social e política, como veremos a partir de agora. 
1.5 Cristianismo
Segundo Châtelet (1990), a primeira concepção política do cristianismo 
se dá com a máxima “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” 
enunciada por Paulo apóstolo, ao se referir a cobranças de impostos por parte 
do Império Romano sob o governo de Júlio Cesar no final do período repu-
blicado da Roma Antiga (509 a.C. a 27 d.C.), representando a noção inicial 
adotada pelos cristãos e entendendo que a obediência civil é uma virtude 
cristã, assim como a submissão aos poderes sociais e naturais.
Obediência civil: refere-se aos atos em que os indivíduos 
voluntariamente obedecem àsnormas e leis estabelecidas. 
Em contraposição, existem atos de desobediência civil, os 
– 19 –
Surgimento do Pensamento Político
quais se caracterizam pela desobediência às leis estabelecidas 
de forma deliberada, como um ato de protesto. É o que define 
Henry David Thoreau no livro A desobediência civil (2011).
 
Com o processo de expansão do cristianismo, ocorre também a amplia-
ção do poder da Igreja Católica. Isso significa, segundo Bobbio (1998, p. 9):
[...] um projeto totalizante sobre o homem e a sociedade: não 
somente reconduzir à fé cada indivíduo que dela se tenha afastado, 
mas também recriar um organismo social baseado em todos os níveis, 
inclusive no nível da organização civil e econômica, na doutrina da 
Igreja católica. Não há distinção, nessa perspectiva, entre “religioso” e 
“político”: os dois planos convergem num modelo ideal de sociedade 
hierarquicamente estruturada em que a Igreja — o Papa em primeiro 
lugar e os bispos dele dependentes — reveste a função de ordena-
dora última, como tal reconhecida pelo Estado que, em consequência 
disso, recebe dela a sua legitimação. 
Após os escritos de Santo Agostinho (o livro A Cidade de Deus, publi-
cado por volta de 413-427), as ideias religiosas ocuparam lugar na explicação 
e organização política social. Santo Agostinho, filósofo e santo da Igreja Cató-
lica, nasceu por volta de 413 d.C. e dedicou sua vida eclesiástica à elaboração 
de uma vasta obra que exerceu grande influência no pensamento ocidental. 
Sua principal contribuição à Teoria Política é a distinção entre a cidade de 
Deus e a cidade dos homens, tal como, em sua obra, a criação,
[...] o pecado original, a aliança de Deus com o povo judaico, o sacrifí-
cio do Messias, a fundação da Igreja, são as etapas desse devir sagrado, 
onde se reconhece a Providência divina, mas da qual cada um parti-
cipa segundo suas obras de fé, um devir que deve levar à Ressurreição 
dos corpos e à beatitude. Trata-se, dessa forma, de recordar a cada 
membro da comunidade cristã sua responsabilidade histórica: para 
além dos conflitos terrestres e por ocasião desses, importa não apenas 
trabalhar para a própria salvação, através do respeito às regras cristãs 
de vida, mas também assegurar, pelo triunfo espiritual da Igreja, a 
glória do Criador (CHÂTELET, 1990, p. 29).
Segundo Châtelet (1990), a teoria das duas espadas desenvolvida por 
Santo Agostinho entende, resumidamente, que é somente Deus quem detém 
a plenitude e a potência suprema. No entanto, o mundo é feito de espiritua-
lidade e de materialidade, de tal forma que Deus delega a dois poderes dis-
Teoria Política
– 20 –
tintos o cuidado de fazer a ordem divina triunfar: ao Pontífice, a legitimidade 
socialmente reconhecida, a mais alta dignidade; e ao Rei, o poder temporal 
com base no direito (potesta).
Essa concepção agostiniana, segundo Châtelet (1990), concilia os inte-
resses do domínio da Igreja Católica com os interesses do governo de Roma, 
distribuindo a cada soberano o seu domínio: ao Papa as matérias religiosas e 
eclesiásticas; ao Rei o poder sobre seus súditos, mantendo, assim, um certo 
equilíbrio nas relações de poder entre as duas esferas dominantes.
Eclesiásticas: referem-se às funções próprias do 
âmbito da Igreja ou de seus membros (sacerdotes, bis-
pos, eclesial, etc.). Administrativamente, a Igreja é um 
governo eclesiástico (CHAUÍ, 2000, p. 500-508).
 
Diferentemente do monoteísmo católico, o islamismo expande sua 
influência no pensamento político e social sem uma associação direta com os 
governos existentes, isso porque, para os islâmicos, não há distinção entre o 
espaço religioso e o espaço político, como veremos a seguir. 
1.6 Islamismo
 A fundação do Islã data do século VII na Arábia e teve rápido desen-
volvimento no Oriente, no Norte da África e até na Espanha. A Península 
Arábica, antes do surgimento do Islã, era dividida entre as regiões litorânea 
e desértica. A população do deserto era constituída por tribos vagantes sem 
organização política, os beduínos. A população do litoral era constituída por 
povos comerciantes com os quais os beduínos realizavam negócios, em espe-
cial nas maiores cidades da região, Meca e Yatreb, criando, assim, um envol-
vimento entre as regiões.
Com a crescente influência das pregações do profeta Maomé (nascido 
em Meca no ano de 570) sobre as revelações feitas pelo Anjo Gabriel agrupa-
das no livro sagrado do islamismo, o Corão, quanto à salvação por meio do 
– 21 –
Surgimento do Pensamento Político
Deus único, os povos que compunham a península foram unificados 
na Nação Árabe e, dessa forma, expandiram a fé islâmica na região. 
Figura 4 – Nação Árabe e a expansão islâmica.
Fonte: Google, 2015.
A religião teve como guia a figura do profeta Maomé, criando, segundo 
Châtelet (1990), um espaço religioso e um espaço político que se entrecru-
zam, de tal modo que a comunidade dos crentes insere os indivíduos ime-
diatamente à política. Ou seja, ser islâmico significa uma ação tanto religiosa 
quanto política. 
A concepção política do Islamismo, segundo Chauí (2000), parte da 
noção de que o Islã é um sistema completo de vida, e a política é uma parte 
da nossa vida coletiva. Dessa maneira, o Islã ensina, além do cumprimento da 
oração (Salat), a observação do jejum (saum), o pagamento ao tributo (zakat) 
e a peregrinação (haj), como dirigir o Estado, como formar o governo, como 
escolher os conselheiros e os membros do parlamento, como fazer tratados e 
conduzir os negócios e o comércio, entre outras coisas relacionadas ao modelo 
de vida islâmico. 
Assim, de acordo com Châtelet (1990), à medida que ocorre a expansão 
do Islamismo, as diferenças, as discórdias e os conflitos quanto à interpreta-
ção do Corão e as possibilidades de manutenção do poder militar e adminis-
trativo vão ampliando as divergências entre os próprios crentes. 
Teoria Política
– 22 –
As principais divergências entre os islâmicos atualmente estão relaciona-
das com o segmento mais tradicional da religião. Há uma preocupação com 
a permanência ou não de rituais e práticas antigas, como, por exemplo, o uso 
de véu pelas mulheres, ou formas mais modernas do exercício religioso por 
meio de uma revisão do estatuto do mundo islâmico. 
Resumidamente, podemos observar como a influência das religiões 
monoteístas constroem novas e diferentes visões de mundo, de como se 
devem organizar as sociedades e, portanto, as bases para novas ações políticas. 
Enquanto nas regiões cristãs a associação entre o poder religioso e o poder 
político se deu separadamente, ainda que com grande influência da Igreja 
Católica nas relações de Estado, nas regiões de influência islâmica, a associa-
ção entre o poder religioso e o poder político não existiu, isso porque, para 
esses povos, trata-se de um mesmo poder.
Resumindo
Nesta aula, você foi apresentado aos principais pensadores que iniciaram 
os estudos da política como instituição. Os gregos, partindo de sua configu-
ração social organizada nas pólis, compreendiam a esfera política como uma 
ampliação da esfera individual, limitando a participação aos cidadãos. Já os 
romanos, a partir da concepção da res pública, alargaram as concepções de 
cidadania atrelando-as ao Direito, levando em conta a visão mais universa-
lista, portanto, cosmopolita de Roma. 
Com a fragmentação do Império Greco-Romano e a expansão da crença 
cristã, abre-se espaço para o surgimento de outras fontes de poder, como o 
poder da Igreja Católica, a qual associou o poder divino ao poder do sobe-
rano, legitimando, assim, sua intervenção política. A intervenção religiosa 
no governo não se restringiu somente à Igreja Católica, mas, também, aos 
Estados de predomínio da fé islâmica. 
Clássicos da 
Teoria Política
A Teoria Política como um conjunto de conhecimentos 
sobre o pensamento e ahistória da sociedade ocidental tem sua ori-
gem nos escritos da Grécia e da Roma Antiga. Atravessando a Idade 
Média, o longo período de aliança de poder entre a Igreja Católica e 
os reis nos principais Estados europeus refere-se às relações políticas 
de uma concepção baseada na divisão entre esses dois poderes: o 
divino e o hereditário. Somente no século XV, com o movimento 
artístico e filosófico do Renascimento, por meio de releituras dos 
textos antigos (em especial, dos pensadores gregos e romanos), 
novas ideias surgem. 
Dessa forma, o Renascimento – movimento de retomada 
das obras artístico-filosóficas dos antigos gregos e romanos – abre 
caminho para novas visões de mundo, jogando as sementes para 
as principais teorias sobre o Estado. Resulta, ainda, em um novo 
2
Teoria Política
– 24 –
movimento filosófico cultural chamado Iluminismo, movimento contra o 
Antigo Regime (baseado no poder absoluto do rei e na divisão hierárquica 
social: nobreza, clero e súditos), que estabelecerá as bases para a organização 
do Estado e da sociedade civil e para a criação dos Estados Nacionais, tal 
como conhecemos hoje. 
Nesta aula, você conhecerá as principais contribuições do Renascimento 
e do Iluminismo para as reflexões que compõem o conjunto de conhecimen-
tos da Teoria Política, tendo como objetivo ampliar seu entendimento sobre 
os principais conceitos que constituem o debate sobre o Estado Moderno.
Objetivo de aprendizagem: 
 2 Conhecer e refletir sobre a conceitualização clássica acerca da cons-
tituição, do papel e das funções do Estado e da sociedade civil.
2.1 Idade Média
O final da Antiguidade, marcado pela queda do Império Romano (por 
volta do século IV), após sucessivas derrotas militares para os povos bárbaros, 
marca o início da Idade Média. Nesse período, surgem pequenos poderes 
locais que dariam mais tarde origem à estrutura feudal, em estreita aliança 
com o domínio da Igreja Católica. 
Povos bárbaros: o termo refere-se aos povos germânicos 
que habitavam o norte e o nordeste da Europa e o noro-
este da Ásia durante o Império Romano. Os Romanos 
consideravam bárbaros todos os povos que se encon-
travam fora das fronteiras do Império e os povos que 
não falavam o latim (CHAUÍ, 2000, p. 498-499).
 
Dada a estrutura da sociedade durante o feudalismo na Idade Média 
– composta de nobreza, clero e camponeses –, somente o clero e parte da 
– 25 –
Clássicos da Teoria Política
nobreza possuíam acesso à alfabetização. Além disso, a Igreja, por meio da 
instituição de um tribunal religioso chamado Santa Inquisição (que se iniciou 
em 1169 e perdurou até o século XIX) exercia o domínio sobre a leitura e 
a discussão de temas que pudessem questionar seu domínio e poder. Dessa 
forma, mantinha a exclusividade na formulação das teorias políticas cristãs 
para os reinos e impérios cristãos. Essas teorias são as responsáveis por uma 
concepção teológico-política do poder, isto é, o vínculo interno entre religião 
e política (CHÂTELET, 1990).
Ao final da Idade Média, sobretudo com a retomada das obras de Aris-
tóteles pelos teólogos, houve um esforço para separar a Cidade de Deus – a 
Igreja – e a Cidade dos Homens (noção desenvolvida por Santo Agostinho 
por volta de 413-427) – a comunidade política, refletindo a tradição teo-
crática medieval, que é composta de novas noções de comunidade política 
natural, lei humana política e direito natural dos indivíduos como sujeitos 
dotados de consciência e de vontade.
Teocracia: segundo Norberto Bobbio, na obra Dicioná-
rio de política (1998, p. 1237-1238), o termo refere-se a 
uma organização política na qual o poder é exercido pelos 
representantes de uma autoridade divina. Na concepção 
teocrática, o Estado está submetido aos interesses da Igreja. 
 
Aos poucos, de acordo com Châtelet (1990), em todo o Ocidente cris-
tão – composto dos domínios do Império Romano, em especial na Europa 
Ocidental, e pelo monopólio religioso da Igreja Católica Romana –, a prima-
zia da autoridade espiritual é questionada e substituída por laços baseados na 
ideia de uma hierarquia jurídico-administrativa centrada na noção de sobe-
rania. Em outras palavras, a autoridade real será exercida sobre um território, 
garantindo direitos e deveres aos seus habitantes. 
Soberania.
I. DEFINIÇÃO. — Em sentido lato, o conceito político-jurídico de 
Soberania indica o poder de mando de última instância, numa socie-
Teoria Política
– 26 –
dade política e, consequentemente, a diferença entre esta e as demais 
associações humanas em cuja organização não se encontra este poder 
supremo, exclusivo e não derivado. Este conceito está, pois, intima-
mente ligado ao de poder político: de fato a Soberania pretende ser 
a racionalização jurídica do poder, no sentido da transformação da 
força em poder legítimo, do poder de fato em poder de direito (BOB-
BIO, 1998, p. 1179).
2.2 Renascimento
No início do século XV, em algumas regiões da Europa, as antigas 
cidades do Império Romano e as novas cidades surgidas dos burgos medie-
vais – conjuntos de habitações que serviam de residência para os burgueses 
(comerciantes, negociantes e artesãos) – entram em desenvolvimento econô-
mico e social. Grandes rotas comerciais tornam poderosas as corporações e 
as famílias de comerciantes, enquanto o poderio agrário dos barões começa a 
diminuir (CHAUÍ, 2000).
Nesse período, as cidades estão iniciando o que viria a ser conhecido 
como capitalismo comercial ou mercantil. Com isso, conforme Chauí 
(2000), surgem lutas econômicas da burguesia nascente, ou seja, os habitan-
tes dos burgos (comerciantes, negociantes e artesãos), contra a nobreza feudal 
como reivindicações políticas: as cidades desejam independência de barões, 
reis, papas e imperadores.
A retomada das obras de pensadores, artistas e técnicos da cultura gre-
co-romana, particularmente das antigas teorias políticas, abre espaço para o 
surgimento de um ideal político novo: o da liberdade republicana, recupe-
rando a noção de res publica e colocando em relevo a coisa pública, a coisa do 
povo, o bem comum, a comunidade contra o poder de papas e imperadores.
Essa retomada das obras artístico-filosóficas dos antigos gregos e 
romanos deu origem ao movimento conhecido como Renascimento, e 
tinha por objetivo reencontrar o pensamento, as artes, a ética, as técnicas 
e a política existentes antes que o saber tivesse sido considerado privilégio 
da Igreja. Assim, “filósofos, historiadores, dramaturgos, retóricos, trata-
dos de medicina, biologia, arquitetura, matemática, enfim, tudo o que 
– 27 –
Clássicos da Teoria Política
fora criado pela cultura antiga é lido, traduzido, comentado e aplicado” 
(CHAUÍ, 2000, p. 508-509).
Figura 1 – A influência da Igreja na arte Renascentista – Pintura de mural em 
Florença/Itália.
Fonte: Shutterstock, 2015.
 Importante
O pensador político mais representativo da Renascença foi 
Nicolau Maquiavel. Entre 1513 e 1514, em Florença, é escrita a 
obra que inaugura o pensamento político moderno: O Príncipe.
2.2.1 Maquiavel
Nascido em Florença, na Itália, em 1469, Maquiavel foi Secretário da 
Chancelaria de Florença. Em 1512, com a queda do poder dos Médici, foi afas-
tado de suas funções públicas, retornando como historiador oficial de Florença 
em 1520, após o retorno da família Médici ao poder. Sua principal obra – O 
Príncipe – foi dedicada a Lourenço Médici (WEFFORT, 2001, p. 15-17). 
Teoria Política
– 28 –
 Saiba mais
A família Médici, detentora de um grande poder econômico e for-
mada por banqueiros e comerciantes, foi uma das mais influentes na 
Itália renascentista. Governaram a república de Florença de 1434 a 
1737. Posteriormente, os Médici tornaram-se políticos, clérigos e 
nobres (WEFFORT, 2001). 
Em sua obra, segundo Chauí (2000), Maquiavel não admite um fun-
damentoanterior e exterior à política (seja ele Deus, a Natureza ou a razão). 
Para ele, toda cidade está originariamente dividida por dois desejos opostos: 
o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser 
oprimido nem comandado. Para ele, a cidade é tecida por lutas internas que 
a obrigam a instituir um polo superior que possa unificá-la e dar-lhe identi-
dade, e esse polo é o poder político. 
 Importante
Para Maquiavel, a política nasce das lutas sociais e é obra da própria 
sociedade para dar a si mesma unidade e identidade.
Ainda de acordo com o autor, Maquiavel entendia como ponto de par-
tida da política a divisão social entre os grandes e o povo, de tal forma que 
a sociedade é originariamente dividida e jamais pode ser vista como uma 
comunidade voltada para o bem comum. É essa imagem da unidade que 
funciona como uma máscara com que os grandes recobrem a realidade social 
para enganar, oprimir e comandar o povo, como se todos tivessem os mesmos 
interesses e todos fossem irmãos e iguais.
Dessa forma, para Maquiavel, a finalidade política não é, como diziam 
os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas, 
como sempre souberam os políticos, a tomada e manutenção do poder. Chauí 
(2000, p. 512) fala que, para Maquiavel, 
[...] o verdadeiro príncipe é aquele que sabe tomar e conservar o 
poder e que, para isso, jamais deve aliar-se aos grandes, pois estes são 
– 29 –
Clássicos da Teoria Política
seus rivais e querem o poder para si, mas deve aliar-se ao povo, que 
espera do governante a imposição de limites ao desejo de opressão 
e mando dos grandes. A política não é a lógica racional da justiça 
e da ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder 
e da lei; [...]
Maquiavel defendia que o príncipe precisa ter virtú, ou seja, as qualida-
des do dirigente para tomar e manter o poder, mesmo que, para isso, deva 
usar a violência, a mentira, a astúcia e a força. Isso significa que o príncipe 
deve ser respeitado e temido e não precisa ser amado. Dessa forma, a virtude 
política do príncipe aparecerá na qualidade das instituições que soube criar e 
manter e na capacidade que tiver para enfrentar as ocasiões adversas, isto é, a 
fortuna ou sorte (WEFFORT, 2001).
 Você sabia
Essa concepção é que construiu o termo maquiavélico, que se refere de 
forma pejorativa ao indivíduo astuto que, para conseguir o que deseja, 
age sem escrúpulos, tal como encontramos em O Príncipe (Cap. XV): 
na política “os fins justificam os meios” (WEFFORT, 2001). Segundo 
Chauí (2000, p. 514), os termos maquiavélico e maquiavelismo, criados 
no século XVI e conservados até hoje, exprimem o medo que se tem da 
política quando esta é simplesmente política, sem as máscaras da religião, 
da moral, da razão e da natureza. 
Para Maquiavel, a lógica política nada tem a ver com as virtudes éticas 
dos indivíduos, inaugurando a noção de valores políticos medidos pela eficá-
cia prática e pela utilidade social, afastados dos padrões que regulam a mora-
lidade privada dos indivíduos (CHAUÍ, 2000). Maquiavel criou as bases para 
a teoria moderna, separando definitivamente o poder político da religião, da 
ética e da ordem natural. Ele faleceu em 1527.
2.3 Iluminismo
Surgido na França no século XVII, o Iluminismo é um movimento 
filosófico e cultural que se espalhou por todo o mundo Ocidental. 
Chauí (2000) destaca o movimento como um apelo à razão capaz de 
“iluminar” as trevas em que se encontrava a sociedade.
Teoria Política
– 30 –
O contexto histórico de seu surgimento é marcado pelo crescente 
desenvolvimento econômico das cidades, associado a novos fatores, 
como: o surgimento da burguesia comerciante ou mercantil; o cres-
cimento da classe dos trabalhadores pobres livres; as revoltas popu-
lares; a guerra entre potências pelo domínio dos mares e dos novos 
territórios descobertos; a queda de reis e de famílias da nobreza; a 
ascensão de famílias comerciantes e de novos reis que as favoreciam 
contra os nobres. Todos esses fatos evidenciavam que a ideia cristã 
herdada do Império Romano e consolidada pela Igreja Romana de 
um mundo constituído naturalmente por hierarquias não corres-
pondia à realidade.
 Você sabia
Um dos movimentos históricos mais importantes que antecederam ao Ilumi-
nismo é a Reforma Protestante, que questionou o poder econômico e polí-
tico da Igreja Católica. A Reforma foi iniciada, segundo Châtelet (1990), 
por Martinho Lutero, padre alemão, com a publicação, em 1517, de 91 
teses nas quais ele denunciava os abusos da Igreja de Roma na cobrança de 
indulgências (qualquer cristão poderia comprar o perdão de seus pecados). 
Dessa forma, Lutero afirma a separação total do reino de Deus e o reino do 
mundo e acaba, a partir do século XVI, por dividir o povo cristão em novas 
igrejas: as Igrejas Luteranas.
Em linhas gerais, podemos entender o Iluminismo como um movi-
mento contra o Antigo Regime, contra o Absolutismo. Defende os ideais 
de Igualdade, Liberdade e Fraternidade – que seriam, mais tarde, as bases 
da Revolução Francesa, em 1789 –, entendidos como: igualdade de direi-
tos; liberdade de direito, ninguém pode ser escravo, e liberdade econômica, 
princípio que foi defendido pelo pensamento liberal; e fraternidade ao pró-
ximo (BOBBIO, 1990, p. 605-611). Dessa forma, ainda que o Iluminismo 
tenha se originado no Renascimento, a diferença entre os dois movimentos 
está na ideia de razão: enquanto para os renascentistas a razão e a ciência 
seriam as bases para a compreensão do mundo, para os iluministas a razão 
poderia “iluminar as trevas” em que se encontrava a sociedade, entre misté-
rios e crenças religiosas. 
– 31 –
Clássicos da Teoria Política
2.3.1 Os contratualistas
As transformações ocorridas nesse período, segundo Chauí (2000), força-
ram os teóricos a buscar explicações sobre os homens e a vida social, além de 
desencadear uma busca de teorias capazes de solucionar os conflitos e as guerras 
sociais. Em outras palavras, os pensadores Iluministas foram forçados a refletir: 
qual é a origem da sociedade e da política? Como os indivíduos formam uma 
sociedade? Por que indivíduos aceitam se submeter ao poder político e às leis?
A resposta para essas perguntas conduziu os pensadores Iluministas às 
ideias de Estado de natureza e Estado civil. Entre as contribuições do Ilumi-
nismo, destacamos uma das mais influentes correntes de pensadores iluminis-
tas na Teoria Política: os contratualistas.
Em sentido muito amplo o Contratualismo compreende todas aque-
las teorias políticas que veem a origem da sociedade e o fundamento 
do poder político (chamado, quando em quando, potestas, imperium, 
Governo, soberania, Estado) num contrato, isto é, num acordo tácito ou 
expresso entre a maioria dos indivíduos, acordo que assinalaria o fim do 
estado natural e o início do estado social e político. Num sentido mais 
restrito, por tal termo se entende uma escola que floresceu na Europa 
entre os começos do século XVII e os fins do XVIII e teve seus máxi-
mos expoentes em J. Althusius (1557-1638), T. Hobbes (1588-1679), B. 
Spinoza (1632-1677), S. Pufendorf (1632-1694), J. Locke (1632-1704), 
J.-J. Rousseau (1712-1778), I. Kant (1724-1804). Por escola entende-
mos aqui não uma comum orientação política, mas o comum uso de 
uma mesma sintaxe ou de uma mesma estrutura conceitual para racio-
nalizar a força e alicerçar o poder no consenso (BOBBIO, 1998, p. 272).
2.3.2 Thomas Hobbes
Hobbes foi um dos principais pensadores contratualistas (1588-1679). 
Ele afirmava que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato: 
“[...] os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que 
somente surgiram depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as 
regras de convívio social e subordinação política” (WEFFORT, 2001, p. 53).
 Importante
Segundo Châtelet(1990), a concepção de Hobbes (no século 
Teoria Política
– 32 –
XVII) é de que, em Estado de Natureza, os indivíduos vivem isola-
dos e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos 
ou “o homem é lobo do próprio homem”. 
Nesse estado, para Hobbes, segundo Chauí (2000), reina o medo e, prin-
cipalmente, o grande medo: o da morte violenta, de tal maneira que, para se 
protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as ter-
ras que ocupavam. Essa noção de que a vida não tem garantias, a posse não tem 
reconhecimento e, portanto, não existe, tem como base uma única lei: a força 
do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar.
O autor afirma que Hobbes falava que os homens, dispersos, são 
motivados pelos desejos e não há nada que os limite. Seus sentimentos são 
predominantemente de inveja e de medo. Assim, o estado natural do homem 
é a “lei dos lobos”. Para poder conviver com outros homens, é necessária 
uma ordem política superior capaz de impor uma organização que limite e 
controle a violência natural. 
Segundo Châtelet (1990), a instituição da sociedade política, do Estado, 
pressupõe que os cidadãos, de comum acordo, transfiram sua potência indi-
vidual à autoridade pública. 
Em sua obra Leviatã, publicada em 1651, Hobbes apresenta os princípios 
do poder político atribuído ao governante, seja ele monárquico (governo de um 
só), oligárquico (governo de um grupo de indivíduos) ou democrático (governo 
exercido pelo povo): seu poder não pode ser contestado (a minoria tem de se 
submeter à maioria); possui a capacidade de julgar o que é necessário para a paz 
e a defesa dos súditos; detém o direito de ditar regras, de modo que ninguém 
possa tirar o que lhe pertence; faz valer a justiça; decide sobre a guerra e a paz; 
escolhe seus ministros; arbitra sobre as formas de castigar, bem como atribui 
hierarquias (BOBBIO, 1998). 
Leviatã: “Temos aqui o deus mortal, o Leviatã, esse monstro da 
lenda fenícia que é evocado pela Bíblia para dar a imagem de uma 
força corporal à qual nada resiste” (CHÂTELET, 1990, p. 52).
 
– 33 –
Clássicos da Teoria Política
De um modo geral, a condição primordial para o contrato é de que os 
indivíduos desejem obedecer às leis e às decisões impostas pelo poder sobe-
rano. Dessa forma, resolve-se a questão política do entendimento e da tran-
quilidade da República, possibilitando aos indivíduos livres entregar-se aos 
cuidados de suas vidas cotidianas. 
2.3.3 Jean-Jacques Rousseau
Nasceu em Genebra em 1712 e viveu até 1778. Segundo Châtelet 
(1990), Rousseau defendeu a concepção de que, em estado de natureza, os 
indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a natureza 
lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, o grito e o canto, 
numa língua generosa e benevolente. Esse estado de felicidade original, no 
qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina 
quando alguém cerca um terreno e diz: “é meu”. Portanto, é a divisão entre o 
que é meu e o que é teu –– a propriedade privada – que dá origem ao estado 
de sociedade, que corresponde, para Rousseau, ao estado de natureza hobbe-
siano da guerra de todos contra todos.
Dessa forma, segundo Châtelet (1990), o estado de natureza de Hobbes 
e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma percepção do social 
como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da força. 
É nesse sentido, para cessar esse estado de violência, que os indivíduos deci-
dem passar à sociedade civil, isto é, ao Estado civil, criando o poder político 
e suas leis. Em outras palavras, o contrato social. É por meio do contrato 
social que os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de 
bens e concordam em transferir ao soberano o poder de criar e aplicar as leis, 
tornando-se autoridade política.
 Importante
A teoria do direito natural e do contrato de Rousseau, segundo 
Weffort (2001), apresenta uma importante inovação: o pensamento 
político já não fala em comunidade, mas, sim, em sociedade. Isto 
significa, conforme o autor, que há uma passagem da ideia de comu-
nidade para uma noção de sociedade.
Teoria Política
– 34 –
Para Rousseau, a comunidade é a ideia de uma coletividade natural ou 
divina; já a sociedade é a ideia de uma coletividade voluntária, histórica e 
humana (CHÂTELET, 1990). 
Se separarmos então, do pacto social, o que não é de sua essência, 
percebemos que ele se reduz aos seguintes termos: “Cada um de nós 
põe em comum sua pessoa e todo seu poder sob a suprema direção 
da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como 
parte indivisível do todo” (WEFFORT, 2001, p. 230).
Para Rousseau, a sociedade civil é o Estado propriamente dito. Ou seja, 
é a sociedade vivendo sob o direito civil, sob as leis promulgadas e aplicadas 
pelo soberano. É por meio do pacto ou do contrato que os contratantes 
transferem seu direito natural ao soberano – direito de uso da força, da 
violência, da vingança, da regulamentação econômica e social – e, com isso, 
autorizam-no a transformá-lo em direito civil ou direito positivo, visando a 
garantir a vida, a liberdade e a propriedade privada.
2.3.4 John Locke
Locke viveu na Inglaterra de 1632 a 1704, onde ocupou diversas fun-
ções públicas de caráter diplomático. A concepção de Locke parte da defini-
ção do direito natural como direito à vida, à liberdade e aos bens necessários 
para a conservação de ambas, bens que são conseguidos por meio do trabalho.
Para isso, conforme Chauí (2000), Locke compreendia Deus como um artí-
fice, um obreiro, arquiteto e engenheiro que fez uma obra: o mundo. Assim, 
o mundo é obra do trabalhador divino e a ele pertence. É seu domínio e sua 
propriedade. Quando Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, deu-lhe 
o mundo para que nele reinasse. Com sua expulsão do Paraíso, Deus não lhe 
retirou o domínio do mundo, mas lhe disse que o teria com o suor de seu rosto.
Pelo pensamento de Locke, o direito à propriedade privada como frutos 
do trabalho foi instituído por Deus no momento da criação do mundo e do 
homem. Assim, a propriedade privada assume uma origem divina, sendo, 
portanto, um direito natural.
A instituição do Estado na concepção lockeana, segundo Châtelet 
(1990), a partir do contrato social possui as mesmas funções estabelecidas 
– 35 –
Clássicos da Teoria Política
por Hobbes: evitar a luta entre os homens. Porém, para Locke, a principal 
finalidade do Estado é garantir o direito natural de propriedade.
Dessa maneira, de acordo com Châtelet (1990), o pensamento locke-
ano atende aos interesses da burguesia, a qual se vê inteiramente legitimada 
e até mesmo superior à nobreza, uma vez que o burguês acredita que é pro-
prietário graças ao seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres seriam para-
sitas da sociedade.
Pode-se dizer que, para os contratualistas, o Estado seria uma criação 
humana resultante da divisão trabalho para garantir a propriedade privada. 
Estes veem na origem da sociedade àquela colaboração necessária a 
que o homem se viu impelido pela urgência de satisfazer suas próprias 
necessidades, e na origem do Governo apenas uma necessidade política 
claramente militarista, a da garantia da coexistência, exigência que vai 
de um mínimo, o da ordem e da paz social, a um máximo, o da maior 
segurança na tutela dos próprios direitos (BOBBIO, 1990, p.276).
Resumindo
Nesta aula, você estudou um longo período histórico. Saindo da Idade 
Média e das concepções teológicas e políticas, as quais associavam o poder 
divino ao poder político, e entrando na Idade Moderna por meio do movi-
mento Renascentista, com destaque para a contribuição fundamental de 
Maquiavel na inclusão do interesse popular na esfera do poder político. 
Falamos sobre o auge da Idade Moderna com as primeirascontribuições 
dos pensadores iluministas, em especial da corrente contratualista na inter-
pretação do Estado, na separação entre a sociedade política e a sociedade civil 
e, também, na defesa da propriedade privada.
Apresentamos nesta aula, em linhas gerais, o pensamento de três pen-
sadores contratualistas: Hobbes e sua compreensão do Estado como um mal 
necessário a fim de evitar a violência entre os homens; Rousseau e sua contri-
buição na ampliação das funções do Estado – além do controle da violência 
entre os homens, garantir os direitos civis; e finalizamos com Locke e a legiti-
mação da propriedade privada como fruto do trabalho. 
Dessa forma, você começa a compreender as concepções fundamentais 
que originaram a estrutura dos Estados e das sociedades modernas tais como 
Teoria Política
– 36 –
as conhecemos hoje. O objetivo é contribuir para sua formação e atuação 
enquanto agente responsável pela administração e gestão públicas. 
Formação do Estado 
e a Sociedade Civil
Nesta aula, você conhecerá um pouco mais da herança teó-
rica deixada pelo período do Iluminismo. Falaremos sobre as ideias 
que influenciaram as revoluções burguesas: a Revolução Industrial 
na Inglaterra, a Revolução Americana e a Revolução Francesa. As 
três revoluções resultaram na ascensão da burguesia, derrotando a 
realeza e a nobreza e dominando o Estado.
Você verá como essas revoluções construíram, a partir de um 
contexto histórico específico de ascensão da burguesia ao poder ins-
pirada fortemente pelos pensadores iluministas, as bases das teo-
rias políticas modernas que resultaram na constituição dos estados 
nacionais modernos e na separação institucional entre as esferas do 
poder político e da sociedade civil. 
3
Teoria Política
– 38 –
Objetivos de aprendizagem:
 2 Desenvolver reflexões a partir das diferentes constituições do 
Estado e organizações da sociedade civil. 
 2 Compreender a importância das Revoluções (Americana, Francesa 
e Industrial) no movimento histórico que possibilitou a criação dos 
Estados nacionais modernos.
3.1 Revolução Industrial
A Revolução Industrial foi um processo de inovação da produção 
mecanizada iniciado na Inglaterra do século XVIII. Os avanços na 
produção, proporcionados pelas inovações da máquina a vapor em 
1760, desenvolveram a indústria em quase toda a Inglaterra, trazendo 
uma série de mudanças sociais denominada de Revolução Industrial 
(HOBSBAWM, 2001). 
Figura 1 – A fumaça das fábricas passa a fazer parte da paisagem das cidades 
inglesas – Halton, Cheshire, Inglaterra, século XIX.
Fonte: Rede Brasileira de História Ambiental (2014).
– 39 –
Formação do Estado e a Sociedade Civil
 Você sabia
As primeiras máquinas a vapor foram desenvolvidas para a produção fabril. 
Antes eram confeccionadas por artesãos por meio de trabalho manual 
(HOBSBAWM, 2001).
Para Hobsbawm (2001), podemos compreender melhor os avanços tec-
nológicos proporcionados quando entendemos que as fábricas passaram 
da simples produção manual para uma complexa produção por máqui-
nas. Essa substituição acelerou a produção de mercadorias, que passaram 
a ser produzidas em larga escala, exigindo cada vez mais matérias-primas, 
mão de obra especializada e a ampliação do mercado de consumidores.
Outra importante consequência da expansão da produção e das ino-
vações tecnológicas da Revolução Industrial foi, segundo Hobsbawm 
(2001), o desenvolvimento do comércio marítimo, definindo a supre-
macia do comércio inglês no mundo, em especial ligando os países 
ocidentais e orientais.
Dessa forma, a expansão da indústria inglesa expandiu também o comér-
cio, fortalecendo as negociações inglesas com diversos países, principalmente 
com os países europeus, o Japão e a Índia. O comércio com a Índia já existia 
desde 1600 com a Companhia das Índias.
 Você sabia
A Companhia para as Índias, iniciada em 1600, era uma organização de 
mercadores ingleses que mantiveram por dois séculos a exclusividade 
comercial com a Ásia por meio da navegação até importantes portos da 
Índia (HOBSBAWM, 2001).
Outra inovação da Revolução Industrial foi o desenvolvimento dos 
meios de transporte, necessários para atender ao mercado de consumidores 
da crescente indústria. Esse crescimento estimulou o desenvolvimento das 
cidades, em especial para atender ao contingente de pessoas que migraram do 
campo para trabalhar nas fábricas, abrindo linhas ferroviárias entre os diver-
sos locais da região. Isso provocou um processo de urbanização das cida-
des industriais, dando especial atenção ao desenvolvimento de infraestrutura 
básica (saneamento), medidas de saúde e higienização e de moradias.
Teoria Política
– 40 –
Urbanização: Urbanização: termo que se refere ao processo 
no qual o desenvolvimento das cidades é maior do que o 
desenvolvimento do campo, ou, ainda, quando os territórios 
rurais transformam-se em centros urbanos (Brasil Escola).
 
 Em linhas gerais, de acordo com François Châtelet, no livro Histó-
ria das Ideias Políticas (1990), a Revolução Industrial pode ser compreen-
dida como o marco de passagem da economia mercantil (baseada em um 
pequeno comércio de bens e serviços entre cidades) para a economia capi-
talista (baseada em produção de larga escala e expansão do comércio entre 
cidades, regiões e países).
Francisco Welffort, na obra Clássicos da Política volume 1 (2001), diz que, 
politicamente, a Revolução Industrial pode ser caracterizada pela consolidação 
do Liberalismo. O modelo de Estado liberal existente na Inglaterra é difundido 
como o modelo de Estado para os demais países europeus e o Japão, país com 
fortes relações comerciais com a Inglaterra. Dessa forma, o modelo liberal de 
Estado acabou sendo associado ao desenvolvimento das relações capitalistas, 
consolidando o capitalismo liberal como modelo ideal de Estado.
No conjunto dos conhecimentos da Teoria Política, podemos entender 
que a Revolução Industrial nos deixou como legado o modelo de Estado 
que acabou por associar a lógica do poder político às relações comerciais 
(capitalistas). Porém, em outros lugares do mundo, além do território euro-
peu, outros eventos contribuíram decisivamente para a constituição dos 
Estados modernos (Estados nacionais), tal como a Revolução Americana 
em 1776.
Liberalismo: refere-se a um modelo de Estado que, em 
linhas gerais, defende a liberdade econômica sem inter-
venção do Estado (BOBBIO, 1998, p. 686-705).
 
– 41 –
Formação do Estado e a Sociedade Civil
3.2 Federalismo e a Revolução Americana
Após a Guerra dos Sete Anos ocorrida entre 1756 a 1763, a França e a 
Inglaterra entram na disputa pela posse das colônias na América do Norte. 
Ao sair vencedora, a Inglaterra passa a cobrar os custos de guerra dos colonos 
mediante a instituição de impostos e taxas, criando novas leis – Lei do Chá 
(garantia o monopólio sobre o comércio de chá), Lei do Selo (venda de pro-
dutos com selo inglês) e a Lei do Açúcar (a compra exclusiva do açúcar das 
Antilhas Inglesas). Essas cobranças acabam por suscitar diversas revoltas entre 
os colonos (WELFFORT, 2001). 
 Você sabia
Havia, no período da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), 13 colônias 
inglesas na América do Norte, independentes entre si, cada uma delas 
subordinada diretamente à coroa inglesa, com um elevado grau de autono-
mia político-administrativa. Cada colônia possuía um governador, nomeado 
e que representava os interesses da coroa vinculado às decisões de um 
conselho formado pelos homens mais ricos. Apesar de os governadores 
representarem os interesses da coroa inglesa, a organização das colônias 
possibilitou o aumento de sua influência, reforçando a ideia de direitos pró-
prios (HOBSBAWM, 2001).
A partir de 1774, com o Primeiro Congresso da Filadélfia, os colonos 
começam a elaborar medidas limitadoras do domínio dacoroa inglesa no ter-
ritório das colônias do norte. Com a recusa do rei inglês Jorge III, iniciou-se 
a Guerra de Independência, que só terminaria em 1783, com a assinatura do 
Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconhece a independência dos Estados 
Unidos da América. Em 1775, o Segundo Congresso da Filadélfia já reivindi-
cava a independência da colônia. Somente no terceiro Congresso da Filadélfia, 
em 1776, foi declarada oficialmente a independência norte-americana (BOB-
BIO, 1998, p. 61-64). 
Pode-se dizer que a Revolução Americana, que resultou na Declara-
ção de Independência em 1776 e na Declaração dos Direitos em 1787, foi 
desencadeada pela rebelião dos colonos de origem britânica, levando à cons-
Teoria Política
– 42 –
tituição da República dos Estados Unidos. A rebelião questionava a coroa 
inglesa sobre sua representatividade nas assembleias e também na defesa de 
um nacionalismo institucional – o reconhecimento da existência de uma 
nação americana, ainda que formada pelos 13 estados independentes – que 
caracterizou a república norte-americana a partir da noção de democracia 
atrelada à representatividade dos interesses dos 13 estados independentes 
(CHÂTELET, 1990).
Figura 2 – A Liberdade Iluminando o Mundo é o nome original da Estátua da 
Liberdade, monumento que comemora o primeiro centenário da independência 
dos Estados Unidos da América.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Nacionalismo: o termo refere-se à ideologia do Estado Nacio-
nal, ou seja, as ideias dos partidos, da estrutura de poder, a 
unificação da noção de Estado e de nação em um mesmo terri-
tório, uma língua, cultura e tradição (BOBBIO, 1998, p. 799).
 
– 43 –
Formação do Estado e a Sociedade Civil
Dessa forma, a Revolução Americana exerceu grande influência no 
início da Revolução Francesa e também desempenhou um papel capital no 
desencadeamento das insurreições que levaram as colônias espanholas e por-
tuguesas da América do Sul à independência.
Insurreições: segundo o dicionário de língua por-
tuguesa Priberam, o termo refere-se a uma revolta, 
um levante, contra uma ordem instituída.
 
[...], a Revolução americana é o primeiro exemplo de guerra de 
libertação anticolonial, movida por um povo em busca da inde-
pendência, de uma guerra longa e sangrenta que, no entanto, não 
provocou mudanças fundamentais na esfera socioeconômica, não 
obstante serem muitos os cidadãos americanos que se mantiveram 
fiéis súditos do rei da Inglaterra, tendo de pagar tal preferência com 
a confiscação dos bens e com o abandono do país. A despeito da 
mudança política fundamental, que culminou na criação da federa-
ção americana, uma vez que as relações socioeconômicas permane-
ceram substancialmente invariáveis e as elites políticas americanas 
que emergiram pertenciam já ao estrato superior da sociedade colo-
nial, a Revolução americana, com base em nossa definição, melhor 
se pode analisar sub specie de guerra de libertação nacional (BOB-
BIO, 1998, p. 1123).
A primeira constituição norte-americana é de 1781. Em 1787, inicia-se 
uma convenção para a elaboração de uma nova constituição para os Estados 
Unidos. Propondo pontos a essa nova constituição, um grupo de pensadores 
publicou uma série de artigos em Nova York em 1788, intitulados “O Fede-
ralista”. Os principais pensadores desse movimento são: Alexander Hamilton 
(1755-1804), James Madison (1751-1836) e John Jay (1745-1859) (WEL-
FFORT, 2001).
A Constituição proposta defendia a criação de uma nova forma de 
governo, até então não experimentada por qualquer povo ou defen-
dida por qualquer autor. [...] O termo federal, como nomeamos 
hoje esta forma de governo, era, até este momento, sinônimo de 
confederação. A distinção está no ponto assinalado por Hamilton; 
Teoria Política
– 44 –
enquanto em uma confederação o governo central só se relaciona 
com Estados, cuja soberania interna permanece intacta, em uma 
Federação esta ação se estende aos indivíduos, fazendo com que 
convivam dois entes estatais de estatura diversa, com a órbita de 
ação dos Estados definida pela Constituição da União (WEL-
FFORT, 2001, p. 248).
Os federalistas defendiam o pacto federal, regido constitucional-
mente, evitando a competição comercial entre as diversas confederações, 
fortalecendo o poder executivo, formando uma nação de grande exten-
são territorial, possível com a separação dos poderes – executivo, legisla-
tivo e judiciário – e evitando a sobreposição de um poder sobre os outros 
 (WELFFORT, 2001).
Outra contribuição teórica encontrada em “Os Federalistas”, con-
forme Welffort (2001), é a inovação da noção moderna de democracia 
– menos como expressão da vontade popular do que o controle sobre 
instituições representativas. A ideia é de que existe um grande risco de 
a decisão da maioria tornar-se tirania. A solução proposta por Madison 
é a república representativa como um modelo ideal de governo popular, 
garantindo representativamente ao poder central os meios para coordenar 
os diferentes interesses.
Dessa forma, podemos compreender que, assim como a Revolução 
Industrial contribuiu com a Teoria Política, em especial, por meio da noção 
de Estado liberal associado ao desenvolvimento capitalista, a Revolução Ame-
ricana nos trouxe contribuições teóricas importantes, tais como a constituição 
do pacto federativo e o modelo de democracia moderna. Porém, o marco his-
tórico de redesenho dos Estados nacionais ocorre com a Revolução Francesa, 
a partir de 1789. 
3.3 Revolução Francesa
A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, marca o final da Idade 
Moderna e o início da Idade Contemporânea. Ao derrubar o Antigo 
Regime (baseado no poder absoluto do rei e na hierarquia social), abriu 
caminhos para a institucionalização da sociedade moderna e do Esta- 
do moderno.
– 45 –
Formação do Estado e a Sociedade Civil
Figura 3 – Quadro de Delacroix de 1850, em homenagem à Revolução 
Francesa, denominado A Liberdade guiando o povo.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente 
sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideo-
logia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. A 
Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o “explo-
sivo económico que rompeu com as estruturas socioeconômicas tra-
dicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas revo-
luções e a elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um 
tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas 
as nações emergentes, e a política europeia (ou mesmo mundial) entre 
1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os princípios 
de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. A França forneceu o 
vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a 
maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o 
conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códi-
gos legais, o modelo de organização técnica e científica e o sistema 
métrico de medidas para a maioria dos países. A ideologia do mundo 
moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido 
às ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Esta foi 
a obra da Revolução Francesa* (HOBSBAWM, 2001, p. 71).
Teoria Política
– 46 –
 O contexto histórico da Revolução Francesa coincidia com o processo 
de rápida industrialização nas principais cidades francesas e a crescente divul-
gação dos ideais iluministas, baseados nas ideias de Liberdade, como princípio 
democrático, ou seja, para todos os cidadãos sem privilégios particulares, uma 
liberdade como um bem público do qual todo cidadão é possuidor; Igualdade, 
de direitos e de dignidade humana, ou seja, todos os cidadãos são iguais perante 
a lei, além disso, o princípio de igualdade iluminista é também direcionadoàs garantias da dignidade humana; e Fraternidade, completando os princípios 
iluministas. A fraternidade refere-se a uma conduta de vida de valorização e 
defesa da liberdade e da igualdade (os outros dois princípios iluministas). 
 Você sabia
A capital francesa, Paris, tornou-se conhecida como a Cidade Luz 
por ser considerada o cenário central da revolução e da difusão das 
ideias iluministas (HOBSBAWM, 2001).
As ideias iluministas combatiam o absolutismo e os privilégios da 
nobreza, além de reivindicarem alterações no modelo de comércio (mercanti-
lista) e a igualdade jurídica e tributária. Essas ideias encontraram terreno fértil 
entre os burgueses franceses, que expandiam seus negócios e desejavam ascen-
der ao poder. Para isso, seria necessário acabar com a monarquia hereditária e 
alterar as bases da hierarquia social. 
Outro ponto importante na insurgência da revolução é a intervenção 
do Estado na economia. Com a queda do Antigo Regime, a burguesia pode-
ria desenvolver livremente as relações econômicas. Esse ponto é de especial 
importância na teoria política do período, pois a partir da defesa de um mer-
cado sem intervenção do poder do Estado é que se constroem as bases do 
pensamento liberal e a ideia de Estado moderno (CHÂTELET, 1990). 
 Você sabia
O centro da revolução foi a Queda da Bastilha, ocorrida no dia 14 
de julho de 1789. A Bastilha era uma fortaleza construída em Paris em 
1370. A partir do século XV, passou a ser a prisão estatal, símbolo 
– 47 –
Formação do Estado e a Sociedade Civil
da autoridade real, onde eram presos todos os que se opunham 
ao poder absolutista do rei. Com a revolução, os prisioneiros foram 
liberados e a fortaleza foi destruída (HOBSBAWM, 2001).
Um dos resultados sociais mais importantes da Revolução Francesa foi a 
aprovação, em 26 de agosto de 1789, da Declaração dos Direitos do Homem 
e do Cidadão, como um dispositivo legal que garantia juridicamente: 
 2 o respeito à dignidade dos indivíduos;
 2 a liberdade e igualdade dos cidadãos;
 2 o direito à propriedade;
 2 a liberdade de pensamento e de opinião.
Após a revolução, foi instituída a Monarquia Parlamentar francesa, pos-
teriormente foi substituída pela República (em 1782), com a Constituição de 
1791, tendo por base:
 2 a divisão dos três poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário – 
cabendo à assembleia o poder legislativo e ao rei o poder executivo 
(poder hereditário);
 2 igualdade jurídica;
 2 a abolição dos privilégios do clero e da nobreza;
 2 o fim do sistema feudal;
 2 a liberdade econômica – de produção e do comércio;
 2 a separação entre a Igreja e o poder do Estado;
 2 a nacionalização dos bens do clero
Entre os avanços franceses resultantes da revolução, destaca-se a con-
quista militar de novos espaços em batalhas travadas contra os exércitos 
absolutistas. Nesse período, surge a figura do general Napoleão Bonaparte 
(1799-1815), que, diante de suas vitórias contra as invasões estrangeiras 
de 1799, tornou-se conhecido e admirado pelos franceses, alcançando a 
ascensão política e chegando a ocupar o poder como imperador em 1804 
(HOBSBAWM, 2001).
Teoria Política
– 48 –
Sobre o império de Bonaparte foi formulada uma nova forma de governo 
e também um Código Civil e um banco nacional. O imperador tornou-se 
uma das figuras mais conhecidas no mundo.
Para os franceses ele foi também algo bem mais simples: o mais bem-
sucedido governante de sua longa história. Triunfou gloriosamente 
no exterior, mas, em termos nacionais, também estabeleceu ou 
restabeleceu o mecanismo das instituições francesas como existem até 
hoje (HOBSBAWM, 2001, p.112).
Napoleão se manteve no poder do Estado francês até 1813, com a der-
rota militar para as tropas inglesas. Foi exilado na Ilha de Elba entre 1814 e 
1815, e novamente exilado na Ilha de Santa Helena até sua morte (de 1815 
a 1821). Com o fim do império de Napoleão, o Estado francês, juntamente 
com outras grandes potências – Inglaterra, Rússia e Áustria –, assina a Santa 
Aliança com o objetivo de reorganizar o mapa político da Europa, difun-
dindo as ideias da Revolução Francesa. 
Dessa forma, podemos compreender que a grande contribuição da Revo-
lução Francesa para os conhecimentos da Teoria Política deu-se por meio de 
um processo de tomada do poder monárquico pela burguesia, estabelecendo 
os princípios do governo liberal – já deflagrados na Revolução Industrial – e 
garantindo os direitos de cidadania – tal como ocorreu na Revolução Ame-
ricana. Assim, acabou por desenhar as bases que irão constituir os Estados 
nacionais modernos. 
3.4 Estado-nação
A instituição dos Estados nacionais modernos só foi possível após a 
queda dos regimes absolutistas, por volta dos séculos XVIII e XIX, com a 
Revolução Industrial, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução 
Francesa. Em meados do século XIX, já estavam, por toda parte, mais ou 
menos constituídos os Estados modernos. 
A ideia que dá modernidade ao Estado-nação é a separação entre as 
esferas do poder político – o Estado propriamente dito – e a sociedade civil. 
Essa distinção é utilizada ainda hoje, segundo Bobbio (1998, p. 1120-1121):
A contraposição entre Sociedade civil e Estado tem sido 
frequentemente utilizada com finalidades polêmicas, para afirmar, 
– 49 –
Formação do Estado e a Sociedade Civil
por exemplo, que a Sociedade civil move-se mais rapidamente do 
que o Estado, que o Estado não tem sensibilidade suficiente para 
detectar todos os fermentos que provêm da Sociedade civil, que na 
Sociedade civil forma-se continuamente um processo de deterioração 
da legitimidade que o Estado nem sempre tem condições de deter. 
Uma velha formulação desta mesma antítese é a que contrapõe o 
poder real ao poder legal. Daí a frequente afirmação de que a solução 
das crises que ameaçam a sobrevivência de um Estado deve buscar-se, 
antes de tudo, na Sociedade civil, onde é possível a formação de novas 
fontes de legitimidade e, portanto, novas áreas de consenso. Nos 
momentos de ruptura, se exalta a volta à Sociedade civil, tal como os 
jusnaturalistas exaltavam o retorno ao Estado de natureza. 
Sociedade civil: de acordo com Bobbio (1998, p. 1206-
1211), o termo é utilizado, em geral, para designar uma 
esfera em contraposição à esfera política – sociedade política 
e sociedade civil; sistema político e sociedade civil.
 
A consolidação do Estado-nação moderno deu-se especialmente no plano 
econômico. Para Châtelet (1990), a institucionalização dos sistemas econômi-
cos nacionais, por meio da garantia de direitos dos trabalhadores, da institui-
ção da esfera do mercado, das garantias da propriedade privada e dos lucros, 
com base nos ideias liberais – liberdade, igualdade e fraternidade –, configurou 
a estrutura do Estado capitalista. Em outras palavras, podemos entender o 
Estado nacional moderno como o Estado capitalista por excelência, caracteri-
zado por uma estrutura social de classes – burguesia e proletariado.
Estado capitalista: Estado capitalista: segundo Bobbio 
(1998, p. 141-148), o capitalismo é uma forma de produ-
ção historicamente determinada, que reorganiza o sistema 
social e político, baseada na acumulação de capital.
 
“O Estado moderno significava [...]: a instauração de um nível diferente 
da vida social, a delimitação de uma esfera rigidamente separada de relações 
sociais, gerenciada exclusivamente de uma forma política, [...]” (BOBBIO, 
1998, p. 429).
Teoria Política
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Em linhas gerais, conforme Châtelet (1990), o Estado nacional é o pos-
suidor legítimo do monopólio da força (ou do poder de decidir em última 
instância), atuando em três níveis: jurídico, político e social. No nível jurí-
dico, atua mediante a afirmação do conceito da soberania, confiando ao 
Estado o monopólio da produção das normas jurídicas, de forma a

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