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1 Curso de Fitoterapia Aplicada Capítulo 9. Sistema locomotor Índice Introdução......................................................................................................... 1 Curcuma longa ................................................................................................. 2 Cordia curassavica ........................................................................................... 3 Harpagophytum procumbens ........................................................................... 5 Uncaria tomentosa & Uncaria guianensis ......................................................... 7 Symphytum officinale ..................................................................................... 10 Baccharis trimera ............................................................................................ 12 Outras plantas potencialmente úteis para o sistema locomotor ..................... 12 Referências .................................................................................................... 12 Introdução O tratamento das doenças do aparelho locomotor frequentemente envolve o uso de anti-inflamatórios. Essa classe de medicamentos pode ser dividida em dois grandes grupos, de acordo com o mecanismo de ação: esteroidais e não esteroidais. Os anti-inflamatórios esteroidais, dos quais o principal representante é a hidrocortisona, são moléculas derivadas do cortisol. Essas moléculas ditas esteroidais desempenham grande número de atividades fisiológicas no organismo: mineralocorticoide, glicocorticoide e esteroides sexuais. Neste capítulo, daremos atenção ao grupo dos glicocorticoides, que possuem grande atividade anti- inflamatória. Essas moléculas agem ligando-se ao receptor de cortisol, localizado no núcleo celular, induzindo ou inibindo a transcrição de genes específicos ligados à inflamação. Entretanto, produzem efeitos colaterais importantes, como imunossupressão, retardamento da cicatrização, osteoporose, hipercoagulabilidade, fraqueza muscular, catarata, obesidade, síndrome de Cushing, demência esteroidal, glaucoma, entre outros. Os anti-inflamatórios não esteroidais podem ter diferentes mecanismos de ação. Agem principalmente inibindo a atividade de subtipos da enzima ciclo- oxigenase (COX), impedindo assim a síntese de eicosanoides derivados da cascata do ácido araquidônico. A primeira droga desta classe foi o ácido acetilsalicílico, uma molécula derivada da salicina, que é extraída da casca da árvore Salix alba L. (salgueiro). Essa classe de medicamentos apresenta grande número de efeitos adversos: dispepsia, sangramento gástrico, náuseas e vômitos, alergias, insuficiência renal, síndrome de Reye, e acidose metabólica. Os efeitos indesejáveis são menores com o uso de drogas inibidoras seletivas da COX-2. As plantas com potencial terapêutico nas enfermidades do aparelho locomotor possuem três grandes propriedades: anti-inflamatória, analgésica, e regeneradora do tecido ósseo e cartilaginoso. Em geral, as plantas com atividade anti-inflamatória também são analgésicas. Muitas espécies de plantas medicinais são popularmente conhecidas como arnica. Isto pode causar confusão e problemas na prescrição. A espécie europeia Arnica montana não cresce em território brasileiro, o que levou a população a buscar alternativas. Entre as espécies também popularmente conhecidas como arnica podemos citar: Solidago microglossa, Lychnophora ericoides e Brickelia brasiliensis. Farmácia da Natureza 2 Entre as plantas com atividade regeneradora do tecido ósseo e cartilaginoso, podemos citar: Symphytum officinale, Chenopodium ambrosioides e Dorstenia brasiliensis. Muitas das informações contidas neste capítulo são extraídas do Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais (Pereira et al., 2010) e do Formulário Fitoterápico da Farmácia da Natureza (Pereira et al., 2014). Curcuma longa ESPÉCIE: Curcuma longa L. Esta planta já foi apresentada no capítulo sobre o sistema respiratório. COMENTÁRIOS: A Curcuma longa é uma das plantas com maior potencial terapêutico que existem. Como um poderoso anti-inflamatório, pode ser usada com muita segurança em todas as doenças inflamatórias, agudas ou crônicas. É particularmente útil nas doenças inflamatórias crônicas, incluindo aquelas que acometem o sistema locomotor. Seus mecanismos de ação incluem a capacidade de interagir com numerosas moléculas envolvidas na cascata inflamatória (Jurenka, 2009), parecendo envolver a regulação de vários alvos moleculares (alterando a expressão gênica ou agindo diretamente) em fatores de transcrição (como o NF-kB), fatores de crescimento (como o fator de crescimento endotelial vascular), citocinas inflamatórias (como o TNF-α, IL-1 e IL-6), proteínas quinases, e enzimas como a ciclo-oxigenase e a lipoxigenase (Shishodia, 2013). Um medicamento comercialmente disponível à base de extrato seco de Curcuma longa, chamado Motore®, é indicado no tratamento da osteoartrite e da artrite reumatoide. MODO DE USAR: Farmácia da Natureza 3 • Droga vegetal – Uso oral: 1 cápsula de 350–400 mg ou 1 colher de café do pó, 1–2 x/dia (Pereira et al., 2014) ou 1,5–3,0 g por dia (Micromedex [Internet], 2017). o Uso pediátrico: 1 colher de café do pó, na comida, em 1–3 x/dia. • Decocção – Uso oral: 1,5 g em 150 mL, 2 x/dia (BRASIL, 2011); ou 0,5 g em 150 mL, 2–3 x/dia (Pereira et al., 2017a). o Uso pediátrico: 5 mL/kg/dia, em 2–3 x/dia (Pereira et al., 2017a). • Tintura – Uso oral: 0,1–1,5 mL (como antidispéptico) ou 1–3 mL (como anti- inflamatório), 3 x/dia (BRASIL, 2018); ou 1–3 gotas/kg/dia, em 2–3 x/dia (Pereira et al., 2014). o Uso pediátrico: 1–3 gotas/kg/dia, em 1–3 x/dia (Pereira et al., 2014). • Pomada, creme ou gel – Uso tópico: aplicar na área afetada, 2–3 x/dia (Pereira et al., 2014). • Extrato fluido – Uso oral: 10–30 gotas, 3 x/dia (Micromedex [Internet], 2017). o Uso pediátrico: 0,1–0,3 gotas/kg/dia, em 2–3 x/dia. • Extrato seco – Uso oral: 80–160 mg/dia (extrato etanólico 13-25:1 com etanol a 96%), em 2–4 x/dia, ou 100–120 mg/dia (extrato etanólico 5,5-6,5:1 com etanol a 50%), em 2 x/dia (BRASIL, 2018). • Extrato seco etílico (75 a 85% de curcuminoides) – Uso oral: 1 cápsula de 670 mg, 3 x/dia após as refeições (BRASIL, 2018). Cordia curassavica ESPÉCIE: Cordia curassavica (Jacq.) Roem. & Schult. SINONÍMIA BOTÂNICA: Varronia curassavica Jacq, Varronia verbenacea (DC.) Borhidi, Cordia verbenacea A. DC. Farmácia da Natureza 4 FAMÍLIA: Boraginaceae. NOMES REGIONAIS: Erva-baleeira. HISTÓRICO: É uma planta nativa da Mata Atlântica, utilizada pelas populações nativas do litoral. A população usa as folhas da planta diretamente sobre as lesões, em caso de ferimentos, e também na composição de garrafadas e chás para o alívio de dores musculoesqueléticas. A utilização desta planta pelos indígenas brasileiros, como anti-inflamatório, está documentada na obra de Gulielmus Piso denominada "De Medicina Brasiliensi". PARTE UTILIZADA: Folhas. CONSTITUINTES QUÍMICOS: • Flavonoides: artemetina; • Óleos essenciais; • Pigmentos; • Alantoína; • Açúcares; • Triterpenos: cordialina A e B; 7,4'-dihidroxi-5-metoxiisoflavona e 7,4'- dihidroxi-5-metilisoflavona; • Minerais: iodo, entre outros. TROPISMO: Sistema locomotor. PRINCIPAIS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Processos inflamatórios e dolorosos em geral. AÇÕES TERAPÊUTICAS: • Geral: cicatrizante, anti-inflamatória potente e analgésica. • Sistema osteoarticular: anti-inflamatória e analgésica potente. COMENTÁRIOS: O mecanismo de ação da C. curassavica envolve a inibição da produção de prostaglandinas (PGE2) e das citocinas pró-inflamatórias IL-1β e TNF-α. Parece também haver inibição da COX-2 e da iNOS. A C. curassavica dou origem ao primeiro fitoterápico de nova geração no Brasil, denominado Acheflan®. Sua atividade anti-inflamatória está bem documentada em vários estudos (Fernandes et al.,2007; Medeiros et al., 2007; Passos et al., 2007). MODO DE USAR: • Infusão – Uso externo: 3 g em 150 mL, aplicar compressa na região afetada, 3 x/dia (BRASIL, 2011); ou 1 g em 150 mL, aplicar externamente, 2–3 x/dia (Pereira et al., 2017b). • Pomada a 10% – Uso externo: passar nas áreas afetadas, 1–3 x/dia (BRASIL, 2011). ADVERTÊNCIAS: Suspender o uso se houver alguma reação indesejável. Não é recomendado para gestantes e lactantes. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Não há dados na literatura. EFEITOS COLATERAIS E TOXICIDADE: Não há dados na literatura. Farmácia da Natureza 5 Harpagophytum procumbens ESPÉCIE: Harpagophytum procumbens (Burch.) DC. ex Meisn. SINONÍMIA BOTÂNICA: Harpagophytum zeyheri Decne. FAMÍLIA: Pedaliaceae. NOMES REGIONAIS: Garra do diabo. HISTÓRICO: É uma planta da família do gergelim, nativa do sul da África. Seu nome deriva do formato de seus frutos, com ganchos, que se agarram ao pelo dos animais para transportar as sementes. Há ainda muitas incertezas sobre a nomenclatura da espécie, e alguns autores acreditam que o H. procumbens e o H. zeyheri são espécies diferentes. Entretanto, ambos são usados como medicamento. PARTE UTILIZADA: Raízes. CONSTITUINTES QUÍMICOS: • Glicosídios iridóides (Harpagosídeo) • Arpagida, procumbida, estigmasterol, beta-estigmasterol, beta-sitosterol, ácidos graxos, ácidos aromáticos, triterpenos, açúcares, goma, resinas e flavonoides. TROPISMO: Sistema locomotor. PRINCIPAIS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Processos inflamatórios e dolorosos em geral. AÇÕES TERAPÊUTICAS: • Geral: cicatrizante, anti-inflamatória potente e analgésica. • Sistema osteoarticular: anti-inflamatória e analgésica. COMENTÁRIOS: Esta planta possui capacidade de inibir a síntese de leucotrienos, e inibe a lipo-oxigenase, reduzindo a inflamação. Farmácia da Natureza 6 Em uma meta-análise envolvendo 2 estudos clínicos de alta qualidade, foram encontradas fortes evidências de que doses padronizadas de 50 a 100 mg de harpagosídeo por dia foram melhores do que placebo para a melhora a curto prazo em lombalgias não específicas (Gagnier, van Tulder, Berman, & Bombardier, 2006). Segundo a Farmacopeia Europeia, o H. procumbens está indicado em casos de artrite reumatoide, artrose, bursite, fibromialgia, epicondilite e tendinite. MODO DE USAR: • Droga vegetal – Uso oral: 1–3 g de raízes ou quantidade equivalente de extrato aquoso ou hidroalcoólico (BRASIL, 2016). A dose deve equivaler a 30 a 100 mg de harpagosídeo ou 45 a 150 mg de iridoides totais expressos em harpagosídeos (BRASIL, 2014). • Extrato mole (2,5-4,0:1; etanol 70% v/v) – Uso oral: 10 mL (BRASIL, 2016). • Extrato seco (1,5-2,5:1; água) – Uso oral: 300 mg a 2,4 g, divididos em 2–3 x/dia (BRASIL, 2016). • Extrato seco aquoso (5-10:1, água) – Uso oral: 600 a 800 mg, divididos em 2–3 x/dia (BRASIL, 2016); ou 200 mg, 1–4 x/dia (BRASIL, 2018). • Extrato seco (2,6-4: 1; etanol 30% v/v) – Uso oral: 460 mg a 1,6 g, divididos em 2–4 x/dia (BRASIL, 2016). • Extrato seco (1,5-2,1:1; etanol 40% v/v) – Uso oral: 600 mg a 2,7 g, divididos em 2–3 x/dia (BRASIL, 2016). • Extrato seco hidroetílico (3-5:1; etanol 60% v/v) – Uso oral: 960 mg, divididos em 2–4 x/dia (BRASIL, 2016); ou 240 mg, 1–4 x/dia (BRASIL, 2018). • Extrato seco hidroetílico (3-6:1; etanol 80% v/v) – Uso oral: 300 mg, divididos em 3 x/dia (BRASIL, 2016); ou 100 mg, 3 x/dia (BRASIL, 2018). • Extrato seco hidroetílico (6-12:1; de etanol 90% v/v) – Uso oral: 90 mg, divididos em 2 x/dia (BRASIL, 2016); ou 90 mg/dia (BRASIL, 2018). ADVERTÊNCIAS: Suspender o uso se houver alguma reação indesejável. Não é recomendado para gestantes e lactantes. Contraindicado em portadores de gastrite ou úlcera gastroduodenal, de obstrução das vias biliares, na síndrome do cólon irritável, e no diabetes mellitus. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Evitar o uso concomitante com antiarrítmicos, anti-hipertensivos e varfarina. EFEITOS COLATERAIS E TOXICIDADE: Pode causar cefaleia, zumbido, perda de apetite e do paladar, flatulência, dor abdominal e náuseas. Pode ter ligeiro efeito laxativo no início do tratamento. Farmácia da Natureza 7 Uncaria tomentosa & Uncaria guianensis ESPÉCIES: Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) DC & Uncaria guianensis (Aubl.) J.F.Gmel. SINONÍMIA BOTÂNICA: Para U. tomentosa: Nauclea aculeata Kunth., Nauclea tomentosa Willd. ex Roem. & Schult., Ourouparia tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) K. Schum., Uncaria surinamensis Miq., Uncaria tomentosa var. dioica Bremek. Para U. guianensis: Nauclea aculeata (Willd.) Willd, Nauclea guianensis (Aubl.) Poir, Ourouparia guianensis Aubl, Uncaria aculeata Willd, Uncaria spinosa Raeusch, Uncaria versicolor Willd, Uruparia guianensis (Aubl.) Kuntze. FAMÍLIA: Rubiaceae. NOMES REGIONAIS: Unha-de-gato. HISTÓRICO: Planta originária da Amazônia, foi muito usada pelos Incas para o tratamento de doenças reumáticas, digestivas e infecciosas. PARTE UTILIZADA: Folhas e ramos. CONSTITUINTES QUÍMICOS: • Alcaloides o Oxindólicos § Tetracíclicos (SNC) § Pentacíclicos (sistema imune) o Especiofilina, Mitrafilina, Uncarina F, Isomitrafilina, Pteropodina, Isopteropodina • Glicosídeos ácido quinóvico • Polifenois • Triterpenos TROPISMO: Sistema locomotor. PRINCIPAIS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Doenças inflamatórias agudas e crônicas e processos dolorosos crônicos. AÇÕES TERAPÊUTICAS: Farmácia da Natureza 8 • Geral: anti-inflamatória, analgésica, antipirética, antiespasmódica, antiviral, antifúngica e antioxidante. • Boca: antisséptica. • Pele e anexos: antisséptica, antialérgica e cicatrizante. • Sistema circulatório: hipotensora e inibidora da adesividade plaquetária. • Sistema digestório: eupéptica, anti-inflamatória e vermífuga. • Sistema endócrino: hipoglicemiante. • Sistema imunológico: anti-inflamatória, imunoestimulante, imunomodulador e antialérgica. • Sistema nervoso: redutora da hiperatividade em crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e depressora leve do sistema nervoso central. • Sistema osteoarticular: anti-inflamatória e relaxante muscular suave. • Sistema reprodutor: reguladora menstrual e tônica uterina. • Sistema respiratório: anti-inflamatória e antialérgica. • Sistema urinário: diurética e anti-inflamatória de vias urinárias. COMENTÁRIOS: A atividade farmacológica desta planta é predominantemente anti- inflamatória, atavés da inibição da iNOS, da inibição da produção de TNF-α e PGE2, da inibição da morte celular, e da inibição da ativação do NF-kB. Além disso, aumenta a produção de determinadas citocinas e aumenta a atividade fagocítica e a produção de leucócitos, potencializando a atividade de linfócitos T-auxiliares (Lemaire, Assinewe, Cano, Awang, & Arnason, 1999; Winkler et al., 2004). Sua atividade anti-inflamatória já tem comprovação em modelos animais, com efeito semelhante ao da indometacina (Aguilar et al., 2002). O extrato de U. tomentosa foi capaz de inibir a degradação de cartilagens induzida em laboratório, e também de aumentar a regeneração do tecido cartilaginoso (Akhtar, Miller, & Haqqi, 2011). Em humanos, 50 pacientes portadores de artrite reumatoide, em tratamento com sulfassalazina ou hidroxicloroquina, foram randomizados para receber um extrato de U. tomentosa rico em alcaloides pentacíclicos ou placebo durante 24 semanas (1a fase) e depois todos receberam o extrato (2a fase) por mais 28 semanas. Após a 1a fase, pacientes que receberam o extrato de U. tomentosa relataram redução mais significativa do número de articulações dolorosas, quando comparado ao placebo. Aqueles pacientes que receberam U. tomentosa somente na 2a fase apresentaram também redução da intensidade da dor e do edema articular (Mur, Hartig, Eibl, & Schirmer, 2002). Em outro estudo, 55 pacientes portadores de osteoartrite do joelho receberam U. guianensis ou placebo por 4 semanas. Os pacientesque receberam U. guianensis apresentaram redução significativa da dor quando comparados aos que receberam placebo, tanto na avaliação do paciente quanto do médico (Piscoya et al., 2001). MODO DE USAR: • Tintura – Uso oral: 1–3 gotas/kg/dia, em 2-3 x/dia (Pereira et al., 2014). • Extrato fluido – Uso oral: 2,5–5,0 mL, 1–2 x/dia (BRASIL, 2016). • Extrato seco – Uso oral: 1 cápsula de 350 mg, 2 x/dia (BRASIL, 2016). • Droga vegetal – Uso oral: 1 cápsula de 300–500 mg, 2–3 x/dia (BRASIL, 2016). Farmácia da Natureza 9 • Extrato seco (aquoso) – Uso oral: 20–35 mg/kg, 1 x/dia (BRASIL, 2016); ou 1 cápsula de 100 mg, 2–3 x/dia (BRASIL, 2018). • Decocção – Uso oral: 0,5 g em 150 mL, 1–3 x/dia (BRASIL, 2016); ou 1,5 g em 150 mL, 2 x/dia (Pereira et al., 2017b). ADVERTÊNCIAS: Suspender o uso se houver alguma reação indesejável. Não é recomendado para gestantes e lactantes. Não usar em pacientes com coagulopatias ou histórias de hemorragias, e observar possíveis hematomas durante o tratamento. Evitar em pacientes hemofílicos que recebem crioprecipitados de plasma sanguíneo fresco. Como toda planta com atividade anti-inflamatória, é recomendável fazer uma pausa no tratamento, de 10 a 15 dias, a cada 3 meses, para reduzir o risco de imunossupressão. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Evitar uso concomitante com antiácidos, inibidores da histamina (H2), anticoagulantes e antiagregantes plaquetários. Potencializa o efeito dos anticoagulantes podendo causar hemorragias se combinados, especialmente antes de procedimentos cirúrgicos. Protege contra o efeito irritativo gastrointestinal dos anti-inflamatórios não hormonais. Evitar o uso junto com citostáticos químicos ou imunossupressores. Minimiza os efeitos colaterais da quimioterapia no tratamento antitumoral. Em indivíduos que usam laxativos, podem ocorrer cólicas e diarreias transitórias. Pode potencializar a ação anti-hipertensiva de vários agentes hipotensores, principalmente os betabloqueadores. Como inibe o sistema do citocromo P450, pode interferir com o efeito de várias drogas que são metabolizadas ou biotransformadas por este sistema. O uso concomitante de Bixa orellana potencializa o efeito anti-inflamatório da Uncaria tomentosa. EFEITOS COLATERAIS E TOXICIDADE: Pode provocar, em doses mais elevadas, diarreia ou obstipação dependendo da sensibilidade do indivíduo, além de efeito anticonceptivo relativo. Pode causar infertilidade transitória na mulher após 3 meses de uso. No início do tratamento, em pacientes mais sensíveis, e em doses mais elevadas, pode provocar hipotensão ortostática. Testes de toxicidade não evidenciaram qualquer alteração funcional ou bioquímica do fígado, rim e sistema hematopoiético. Não apresentou toxicidade ou atividade mutagênica em estudos de DL50, em ratos, com extrato aquoso padronizado nas doses diárias de 80 mg/kg por 8 semanas e 160 mg/kg por 4 semanas. Em doses tóxicas pode afetar o nervo óptico e o pâncreas, mas muitos estudos tem mostrado boa segurança e baixo nível de toxicidade. Farmácia da Natureza 10 Symphytum officinale ESPÉCIE: Symphytum officinale L. SINONÍMIA BOTÂNICA: Symphytum peregrinum Ledeb. FAMÍLIA: Boraginaceae. NOMES REGIONAIS: Confrei. HISTÓRICO: As folhas do confrei são utilizadas desde a antiguidade na preparação de chás para o tratamento caseiro de doenças gastrintestinais, disenterias, inflamações, reumatismos, hemorroidas, tosses e várias outras enfermidades. No entanto, estudos recentes mostram que o uso prolongado da planta pode ser tóxico ao fígado (levando a doença veno-oclusiva hepática e a casos de insuficiência do órgão) e causar o aparecimento de tumores malignos no fígado, nos brônquios e na bexiga, não sendo recomendado o seu uso por via oral. PARTE UTILIZADA: Folhas. CONSTITUINTES QUÍMICOS: • Alcaloides pirrolizidínicos (mais nas raízes): Acetillicopsamina, Echimidina, Heliosupina, Intermedina, Lasiocarpina, Licopsamina, Simfitina. • Alantoína • Ácido cafeico, mucilagem, ácido rosmarínico e ácido tânico (nas raízes) TROPISMO: Sistema locomotor. PRINCIPAIS INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Fraturas ósseas, artrite reumatoide e dores nas articulações. AÇÕES TERAPÊUTICAS: • Sistema osteoarticular: analgésica e anti-inflamatória. COMENTÁRIOS: A presença de alcaloides pirrolizidínicos, potencialmente hepatotóxicos, levou à restrição do uso do S. officinale em vários países. Entretanto, revisões da Farmácia da Natureza 11 literatura sugerem que a espécie possa não ser tão perigosa quanto se pensava (Rode, 2002). Em um estudo clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, a aplicação diária de um produto contendo extrato de raiz de S. officinale (Kytta- Salbe®), por 3 semanas, em 220 pacientes com osteoartrite dolorosa do joelho, resultou em redução significativa da dor avaliada por diversas escalas, além de melhorar a qualidade de vida, a mobilidade do joelho e a impressão clínica geral (Grube, Grünwald, Krug, & Staiger, 2007). Em outro estudo, um produto contendo S. officinale (4Jointz®), aplicado 3 vezes ao dia por 12 semanas, foi avaliado em 133 adultos com osteoartrite do joelho. O uso do produto levou a redução significativa da dor, porém sem mudar parâmetros inflamatórios no sangue. Alguns pacientes que usaram o produto tiveram uma vermelhidão no local de aplicação (Laslett et al., 2012). Em outro estudo randomizado, multicêntrico, duplo-cego, com 3 braços, controlado por placebo, um produto tópico contendo 35% de extrato de raiz de S. officinale foi comparado com placebo para o tratamento de dor nas costas (alta e baixa). Foram incluídos 379 pacientes, que usaram o produto 3 vezes ao dia por 5 dias, e tiveram redução significativa da dor (Pabst, Schaefer, Staiger, Junker-Samek, & Predel, 2013). Em pacientes com entorse aguda do tornozelo, em um estudo duplo-cego, multicêntrico, randomizado e controlado por placebo, a aplicação do produto Kytta- Salbe® (contendo S. officinale) 4 vezes ao dia por 8 dias resultou em melhora significativa da dor e edema do tornozelo, além de mobilidade e eficácia global. Não houve reações adversas (Koll et al., 2004). MODO DE USAR: • Pomada ou creme com extrato hidroalcoólico a 10% – Uso externo: aplicar nas áreas afetadas, 1–3 x/dia (BRASIL, 2011; Pereira et al., 2014). ADVERTÊNCIAS: Suspender o uso se houver alguma reação indesejável. Não é recomendado para gestantes e lactantes. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Não há dados na literatura. EFEITOS COLATERAIS E TOXICIDADE: Cuidado com uso interno (efeito cumulativo), pois pode causar lesões hepáticas, inclusive câncer hepático (alcaloides pirrolizidínicos). A planta causou adenomas hepatocelulares, adenocarcinoma de brônquios e tumores de bexiga em experimentos animais. O efeito cicatrizante é mais rápido que o efeito anti- inflamatório, e por isso é comum o paciente sentir dor na lesão mesmo após a cicatrização. Pode provocar fotossensibilização, e por isso deve-se proteger as partes tratadas com esta planta da exposição prolongada ao sol. Farmácia da Natureza 12 Baccharis trimera ESPÉCIE: Baccharis trimera (Less.) DC. Esta planta já foi apresentada no capítulo sobre o sistema digestório. COMENTÁRIOS: Um estudo determinou que as atividades antioxidante e anti-inflamatória de seis extratos de B. trimera, comprovadas em modelos animais, provavelmente devem-se à presença de compostos fenólicos (De Oliveira et al., 2012). MODO DE USAR: • Decocção – Uso oral: 2,5 g em 150 mL, 2–3 x/dia (BRASIL, 2011); ou 0,25 g em 150 mL, 3–4 x/dia (Pereira et al., 2017a). • Tintura – Uso oral: 3–9 mL, 2 x/dia (BRASIL, 2018); ou 1–3 gotas/kg/dia, em 2–3 x/dia (Pereira et al., 2014). • Droga vegetal – Uso oral: 1 cápsula de 250 mg, 1–3 x/dia (Pereira et al., 2014). Outras plantas potencialmente úteis para o sistema locomotor • Pterodon emarginatus Vogel. • Cucurbita pepo L. Referências Aguilar, J. L., Rojas, P., Marcelo, A., Plaza, A.,Bauer, R., Reininger, E., … Merfort, I. (2002). Anti-inflammatory activity of two different extracts of Uncaria tomentosa (Rubiaceae). Journal of Ethnopharmacology, 81(2), 271–276. 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