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História 2

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CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
HISTÓRIA DO BRASIL - 01 
CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
PARTE 02 
 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O inteiro teor desta apostila está sujeito à proteção de direitos autorais. 
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por escrito da Loja do Concurseiro. 
 Nenhum conteúdo aqui mencionado deve ser interpretado como a concessão 
de licença ou direito de qualquer patente, direito autoral ou marca comercial da 
Loja do Concurseiro. 
 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
3 
 
 
PROGRAMA: 
 
I. HISTORIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS: 
 
4 Brasil 500 anos. 4.1 Estrutura econômica, política, 
social e cultural. 4.2 Sociedade colonial. 4.3 Família real 
no Brasil e os períodos regenciais. 4.4 Período 
republicano. 4.5 Tenentismo. 4.6 Crise de 1929. 4.7 Era 
Vargas. 4.8 A nova republica e a globalização mundial 
4.9 Aspectos históricos do Estado de Alagoas: 
colonização, povoamento, sociedade e indústrias. 
 
CAPÍTUL0 1 
 
A sociedade colonial: economia, cultura, trabalho 
escravo, os bandeirantes e os jesuítas. 
 
Há cinco séculos, no início de março de 1500, partiu de 
Lisboa, a principal cidade do Reino português, uma 
expedição de treze navios. Ia em direção a Calicute, nas 
Índias. 
Era a maior e mais poderosa esquadra que saía de 
Portugal. Dela faziam parte mil e duzentos homens: 
famosos e experientes navegadores e marinheiros 
desconhecidos. Eram nobres e plebeus, mercadores e 
religiosos, degredados e grumetes. Parecia que todos os 
portugueses estavam nas embarcações que 
enfrentariam, mais uma vez, o Mar Tenebroso, como 
era conhecido o Oceano Atlântico. 
A expedição dava prosseguimento às navegações 
portuguesas. Uma aventura que, no século XV, 
distinguira Portugal, por mobilizar muitos homens, 
exigir inúmeros conhecimentos técnicos e requerer 
infindáveis recursos financeiros. Homens, técnicas e 
capitais em tão grande quantidade que somente a 
Coroa, isto é, o governo do Reino português, possuía 
condições de reunir ou conseguir. Uma aventura que 
abria a possibilidade de obter riquezas: marfim, terras, 
cereais, produtos tintoriais, tecidos de luxo, especiarias 
e escravos. Uma aventura que também permitia a 
propagação da fé cristã, convertendo pagãos e 
combatendo infiéis. Uma aventura marítima que atraía 
e, ao mesmo tempo, enchia de medo, tanto os que 
seguiam nos navios, quanto os que permaneciam em 
terra. 
O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o 
título de "O Venturoso", confiou o comando da 
esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide - Mor de 
Azurara e Senhor de Belmonte. 
 Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais 
com o governante de Calicute, Samorim, para ter, com 
exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua 
intenção era, também, que fossem criadas condições 
favoráveis à pregação da religião cristã, por 
missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral 
reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da 
aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o 
religioso. E, ao que parece, Dom Manuel esperava 
ainda, com essa expedição, consolidar o monopólio do 
Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente 
marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama, em 
1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do 
litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de 
direito, pertenciam a Portugal, desde a assinatura do 
Tratado de Tordesilhas, em 1494. 
Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de 
abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" 
foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes 
arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo Capitão, 
conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao 
rei de Portugal. 
Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns 
dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 
de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos 
franciscanos, celebrou uma missa observada, à 
distância, por homens "pardos, maneira de 
avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem 
feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL 
E DE ALAGOAS 
 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
4 
estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas 
vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência 
como têm em mostrar o rosto", na descrição de 
Caminha. 
Os portugueses não puderam com eles conversar, 
porque nem mesmo o judeu Gaspar - o intérprete da 
frota - conhecia a língua que falavam. Neste momento 
de encontro, conhecido pelo nome de Descobrimento, a 
comunicação entre as culturas europeia e ameríndia 
tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas 
culturas apenas se tocavam, abrindo margem às 
interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. 
Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do Capitão, 
e começou a fazer acenos com a mão em direção a 
terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era 
"como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra". 
 
1.1-VISÕES DOS CONQUISTADORES 
A ação missionária tornava claro o choque cultural entre 
os brancos e os negros da terra. Os costumes destes 
últimos chocaram os europeus aqui estabelecidos a 
partir de Colombo e Cabral. Dependendo do grau de 
inquietação, os elementos culturais indígenas eram 
definidos como bárbaros, inocentes ou diabólicos. 
Na América espanhola, as populações indígenas, que 
inicialmente encantaram os europeus, os viram 
endurecer em suas atitudes. Começaram a ser vistos 
com um misto de desprezo e curiosidade divertida, e 
imaginados como um povo que cultuava objetos 
estranhos, polígamos insaciáveis e de alimentação 
exótica (farinha de mandioca, batata-doce e milho). Um 
povo desprovido de bom senso e sem noção do valor 
das coisas. 
A nudez, as práticas sexuais, a organização comunitária 
e os costumes dos indígenas eram “enquadrados” e 
catalogados sob-rótulos já conhecidos pelos 
conquistadores. Enquanto o Novo Mundo, por sua 
natureza abundante, parecia o Paraíso, sua população 
era considerada bárbara, sujeita a todo tipo de pecado, 
vício e tentação. Mesmo assim, os indígenas dividiram 
as opiniões dos conquistadores, e sua inocência foi 
diretamente associada à inocência paradisíaca. 
Como se o olhar dos europeus fosse intermediado por 
óculos ainda muito carregados de imagens medievais e 
procurasse confirmar aquilo que eles já sabiam. A 
disposição era reconhecê-los, e não para conhecê-los. 
 
1.2 O batismo da América 
A cada passo da aproximação e da conquista das novas 
terras, os portugueses repetiam as atitudes de Adão ao 
tomar conhecimento dos animais: conferiam nomes aos 
lugares.Primeiro,monte Pascoal, ao avistarem terras à 
época da Páscoa. Terra de Vera Cruz e Terra de Santa 
Cruz para definir a vinculação das possessões à 
cristandade. Baía de Todos os Santos, São Vicente, São 
Sebastião do rio de Janeiro, São Paulo. O batismo da 
nova terra antecedeu o batismo dos nativos. Como na 
Bíblia, nomear era uma forma de exercer o domínio e o 
controle simbólicos daquilo que se nomeia.Desde o primeiro relato produzido após a chegada de 
Cabral – a conhecida carta de Pero Vaz de Caminha , a 
postura dos portugueses era bastante clara. Chocava-se 
com a nudez daqueles que “não cobrem suas 
vergonhas” e mostravam-se surpresos com a 
“preguiça”: “não lavram, nem criam. Não há boi, nem 
vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha”, nem outro 
animal de criação para a alimentação dos homens. As 
terras, apesar de não se saber da existência de metais e 
pedras preciosas, possuíam “bons ares”, “águas 
infindas” e solos férteis, onde tudo poderia ser 
plantado. Apesar disso, Caminha chegou a insinuar a 
semelhança com o Paraíso Terrestre: “a inocência desta 
gente é tal que a de Adão não seria menor”. Mas, 
ainda segundo o escrivão de Cabral, “o melhor fruto, 
que dela se podem tirar me parece que será salvar 
esta gente. E esta deve ser a principal semente que 
Vossa Alteza em ela deve lançar”. 
A conquista do Novo Mundo foi interpretada como o 
acontecimento mais importante desde a encarnação de 
Cristo. Para muitos, a história estava chegando ao seu 
fim. A descoberta de milhões de homens que 
habitavam a América e o estabelecimento de contatos 
frequentes com a África e a Ásia eram vistos como a 
possibilidade de incorporar todos os povos pagãos ao 
corpo da cristandade. Assim, vivia-se uma época de 
preparação para o Juízo Final, de anúncio da palavra de 
Deus. A justificativa para a expansão marítima, de 
alargamento das fronteiras da verdadeira fé e de 
catequese universal, ficava portanto confirmada. 
Muitos navegadores, a começar por Colombo, 
imaginavam-se como auxiliares de Deus na obra da 
Redenção. A conversão de todos os povos, que haveria 
de antecipar o Fim dos Tempos, segundo os livros 
bíblicos, foi levada adiante pela cruz e pela espada. 
Aos ingênuos, àqueles considerados apenas ignorantes 
da verdade cristã, foram apresentados os símbolos e 
os dogmas da religião dos europeus. Aos pagãos, a 
todos os que cultuavam outros deuses e recusavam-se 
a abandonar suas crenças, ficou reservado o combate 
pelas armas. Uma nova cruzada estava em curso, 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
5 
dirigida principalmente pelos ibéricos, e tinha como 
metas combater os infiéis (muçulmanos e judeus), 
converter os indígenas e purificar os pecadores (negros 
africanos.) 
Diante da responsabilidade e da urgência da missão 
evangélica, os padres e monges mostravam-se 
impacientes. No México, alguns religiosos chegaram a 
batizar milhares de índios num só dia. De tanto erguer 
a vasilha de onde derramavam água sobre as cabeças 
dos nativos, os religiosos mal conseguiam erguer seus 
braços ao final do dia, tamanha era a dor que sentiam. 
Batizados à força e sem prévia catequese, os índios 
não se comportaram como era esperado pelos seus 
conversores. Resultado: muitos foram espancados 
para abandonar seus costumes contrários à religião 
cristã. 
 
1.3-Os conflitos com os nativos e a escravidão 
 
portaldoprofessor.mec.gov.br 1 
 
À medida que os europeus se apropriavam das terras 
do continente, intensificavam-se os conflitos com os 
ameríndios. Para os conquistadores, o trabalho 
manual devia ser realizado pelos nativos. Nas terras 
hoje pertencentes ao Brasil, os portugueses trocavam 
roupas, chapéus, ferramentas e outros objetos pela 
realização de determinadas tarefas, numa relação 
denominada escambo. Através deste os portugueses 
carrearam toneladas de pau-brasil, árvore da qual se 
extraía um pó avermelhado utilizado em tintura. Tal 
situação era precária e dependia da disposição do 
indígena de se submeter ao trabalho. 
Nem todas as tribos recebiam os lusitanos de forma 
pacífica. Muitas promoveram sucessivos ataques aos 
núcleos portugueses ou fugiram do litoral para o 
interior do continente, de forma a escapar dos 
conquistadores. Estudos indicam que, em 1539, cerca 
de 12 mil tupis deixaram a região litorânea em direção 
ao Peru, em busca da Terra sem Mal. Após a travessia 
do interior da América, vitimados por enfermidades e 
fome, sobreviveram apenas trezentos. 
 
Para os lusitanos, a guerra tornou-se uma excelente 
alternativa para o problema da mão de obra: os 
prisioneiros indígenas eram transformados em 
escravos. A chamada guerra justa legitimava a 
escravidão de todos os que se mantivessem hostis aos 
portugueses ou impedissem a propagação da doutrina 
cristã. 
 
1.4-Em nome da fé, do rei e da lei 
Com o início da crise do comércio com o Oriente, o 
tratamento dispensado às terras americanas passou a 
ser outro. Para garantir a defesa do território, dar 
sustentação ao escambo do pau-brasil e empreender a 
descoberta de metais e pedras preciosas, o governo 
português iniciou sua política de povoamento. Era 
necessário tornar mais lucrativos os domínios 
Atlânticos. 
Em 1532, Martim Afonso de Sousa fundou a vila de São 
Vicente, a primeira na América portuguesa, numa 
região próxima aos domínios castelhanos do sul do 
continente, procurando inibir suas incursões nos 
territórios lusos e, ao mesmo tempo, ameaçar o 
controle espanhol sobre a região do Prata. Mudas de 
cana-de-açúcar e colonos com experiência no seu 
cultivo e na produção do açúcar foram trazidos para a 
América pelo capitão-mor. 
Em 1534, a Coroa portuguesa resolveu lançar mão de 
um sistema denominado capitanias hereditárias, 
visando atrair investimentos privados. Nesse sistema, 
particulares recebiam grandes extensões de terras, 
sendo encarregados de promover o povoamento, 
realizar a exploração econômica e exercer o governo, o 
comando militar e os poderes de justiça. 
O sistema de capitanias não garantiu aos portugueses o 
domínio das novas terras. Conflitos com tribos 
indígenas e certo desinteresse demonstrado por alguns 
donatários, que sequer vieram conhecer suas 
capitanias, provocaram o fracasso da experiência 
colonizadora. Mas a principal dificuldade estava em 
estabelecer uma atividade economia estável que 
sustentasse a ocupação e o povoamento. Por mais que 
o trabalho eventual de derrubada das árvores de pau-
brasil estivesse integrado à vida dos nativos, em pouco 
tempo o recebimento de bugigangas europeias deixou 
de despertar seu interesse. 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
6 
Apenas as capitanias de Pernambuco e São Vicente 
tiveram desempenho satisfatório, devido à 
implementação mais sistemática do cultivo da cana-de-
açúcar, o que já apontava a solução para o controle 
efetivo das novas possessões. 
Em razão dos insucessos do sistema de exploração 
adotado e por considerar excessivo o poder dos 
donatários, a Coroa decidiu criar, em 1548, o governo-
geral, numa tentativa de centralizar a política de 
exploração dos domínios americanos. O governador-
geral, escolhido e nomeado diretamente pelo rei, era 
incumbido da defesa militar interna e externa, da 
Justiça, da arrecadação dos tributos devidos à Coroa, do 
estímulo às atividades econômicas e à fundação de vilas 
e povoações. 
Os governadores-gerais tiveram dificuldades para impor 
sua autoridade, devido às resistências dos capitães 
donatários e dos fazendeiros e à extensão do território 
a ser administrado. Nas vilas e cidades coloniais foram 
criadas as câmaras municipais, encarregadas das 
funções administrativas, judiciais, policiais e financeiras 
locais. Nas eleições de seus ocupantes só podiam 
participar os chamados “homens bons”, ou seja, 
homens de posses, fazendeiros, clérigos, funcionários 
do Império e nobres. Excluíam-se, portanto, mulheres, 
escravos, pobres, judeus, estrangeiros e pessoas que 
desenvolvessem trabalhos manuais. Com elevado grau 
de autonomia, as câmaras eram o principal espaço de 
expressão dos interesses dos poderosos dos municípios. 
À medida que se ampliavam os negócios na América, 
devido ao desenvolvimento da lavoura açucareira, a 
ocupação lusitana progredia. A produção de açúcar 
atraiu portugueses que vieram formar os primeiros 
núcleos populacionais com a fundação de vilas e da 
cidade de Salvador, primeira capital e sededo governo 
até 1763. 
 
A civilização do açúcar 
Povoar era fundamental para Portugal manter seus 
domínios americanos e resistir às incursões 
estrangeiras. Mas para povoar era necessário 
apresentar uma alternativa de enriquecimento e de 
poder que não fosse possível na Metrópole. 
O povoamento português só deslanchou com a 
vinculação das novas terras aos circuitos do comércio 
mundial. Para tanto, não bastava à extração do pau-
brasil. Era necessário encontrar pelo menos mais um 
produto desejado pelos europeus e que pudesse ser 
extraído ou cultivado na província americana. O açúcar 
foi a solução e tornou-se o principal meio de 
viabilização econômica da Colônia, gerando altíssimos 
lucros para a Metrópole portuguesa ao longo de toda a 
colonização. 
Já implementada pelos lusitanos nos arquipélagos dos 
Açores e de Cabo Verde e na Ilha da Madeira, a lavoura 
canavieira em larga escala foi desenvolvida em 
latifúndios (grandes propriedades) com a utilização de 
mão-de-obra escrava. A tendência dessas unidades 
produtivas era a monocultura de exportação, ou seja, a 
produção de um único gênero, no caso o açúcar, 
voltada para a venda no mercado mundial. Produção 
em larga escala, latifúndio, trabalho escravo e 
monocultura formaram os quatro elementos básicos de 
uma estrutura econômica dominante nas Américas 
durante o período colonial: a plantation. 
 
1.5-ESCRAVIDÃO E ALIANÇA 
Os indígenas fascinaram os portugueses desde que 
Caminha descreveu as “vergonhas tão altas e tão 
cerradinhas" das índias, excitando-os a dar "aos 
selvagens grandes somas de prazer de que eles nunca 
tinham tido sequer notícias'”. Mas logo as relações 
entre colonizados e colonizadores tomaram outro 
rumo. 
O índio era o escravo à mão. Bastava captura-lo. E, para 
os portugueses, o trabalho escravo foi fundamental: o 
Regimento dado ao primeiro governador-geral do Brasil 
obrigava-o a "reduzir o gentio à fé católica". Na prática, 
isso significava conquistar o índio - se necessário 
escravizando-o - para explorar a colônia. Enquanto não 
se organizou a escravidão negra, o índio foi importante 
como aliado ou escravo. 
Quando uma coisa entrava em choque com outra, e os 
colonizadores mais ambiciosos ultrapassavam os limites 
aceitos pela Coroa, as punições podiam ser rigorosas. 
Bartolomeu Barreiros de Athayde, enviado pelo 
governador do Pará ao Rio Amazonas com o propósito 
de descobrir minas, voltou trazendo 300 índios 
escravos. Foi condenado porque "tinha tão 
indignamente violado as leis atacando sem a menor 
provocação os índios para escravizá-los, que acarretou 
sobre si um processo criminal, cujas consequências o 
levaram à sepultura; implicado no crime também o 
governador, teve o seu quinhão de desgraça", informa 
Robert Southey, em sua História do Brasil. 
Registros desse tipo induziram alguns historiadores a 
entender que a Coroa zelava pelos índios. Mas, nos 
primeiros trinta anos, o Brasil recebeu pouca atenção. O 
processo de colonização começou pela ocupação da 
terra e escravização dos índios. Pera Vaz de Gandavo, 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
7 
no Tratado da terra do Brasil, diz sobre os colonos 
portugueses: 
"a primeira coisa que pretendem alcançar são escravos 
para lhes fazerem e granjearem suas roças e fazendas, 
porque sem eles não se podem sustentar a terra; e uma 
das coisas porque o Brasil não floresce muito mais é 
pelos escravos que se levantaram e fugiram para suas 
terras e fogem cada dia: e se estes índios não fossem 
tão fugitivos e mutáveis, não tivera comparação a 
riqueza do Brasil". 
O aprisionamento e a fuga de índios – enfim, a 
escravização – levaram à destribalização e à ruptura de 
seus costumes, condenando várias nações indígenas a 
um processo degenerativo que acabou por liquidá-las. 
Os índios não praticavam a escravidão: eles assimilavam 
à comunidade os prisioneiros que não eram executados. 
Com a escravidão, os portugueses introduziram entre os 
índios o hábito de trocar os prisioneiros de guerra por 
mercadorias, transformando algumas tribos em bandos 
militares que passaram a viver da caça aos inimigos. 
A escravidão indígena, no entanto, só interessava aos 
primeiros colonos. Contra ela ficaram os jesuítas e, a 
Coroa, direta ou indiretamente envolvidos no tráfico 
negreiro, e os próprios traficantes, que não queriam 
concorrência. 
Dessa oposição nasceram as falsas explicações sobre a 
índole dos índios, usadas como argumento contra a sua 
escravização. Os jesuítas diziam que eles eram 
indolentes, não resistiam às doenças e sentiam 
saudades da selva, quando, na verdade, morriam em 
consequência dos maus-tratos. Essas falsidades 
alimentaram o preconceito contra o caráter dos índios e 
serviram de justificativa para a importação de negros, 
lucrativa para a Coroa, para a Igreja e para os 
traficantes. Assim, o preconceito inicial contra a 
capacidade de trabalho indígena transferiu-se para o 
próprio índio, entendido como um "ser inferior. Para 
“protegê-los”, os jesuítas confinaram os seus índios em 
“reduções”, submetendo-os a um processo de 
desaculturação, impondo-lhes uma religião e punindo-
os com castigos corporais sempre que resistiam. 
 
1.6-O engenho de açúcar 
O engenho era verdadeiramente uma “máquina e 
fábrica incrível”, como observou o padre Fernão Cardim 
ao final do século XVI, combinando atividades agrícolas 
e manufatureiras. Nessa agroindústria desenvolvia-se 
todo o processo de produção do açúcar, do plantio da 
cana à embalagem do produto final. 
A partir de 1530 a produção açucareira espalhou-se por 
todo o litoral da América portuguesa, principalmente 
nas capitanias de Pernambuco e Bahia. O Nordeste 
brasileiro oferecia um conjunto de condições favoráveis 
para o desenvolvimento dessa lavoura: clima quente, 
solo de massapê e maior proximidade do continente 
europeu em relação às demais capitanias do Sul. 
Segundo o cronista Pero de Magalhães Gandavo, em 
1570 havia cerca de 60 engenhos na América 
portuguesa, 55 deles em capitanias do Nordeste. Nos 
relatos de Fernão Cardim, em 1583, o número subia 
para 115, dos quais 106 estavam distribuídos pelas 
capitanias de Pernambuco, Bahia, Ilhéus e Porto 
Seguro. 
Os lucros fabulosos e as facilidades encontradas 
permitiram ao açúcar brasileiro dominar o mercado 
mundial, ao menos até as primeiras décadas do século 
XVII. No entanto, grande parte das lucrativas atividades 
açucareiras não estiveram restritas às mãos dos 
portugueses. O refinamento do produto, sua 
distribuição e até mesmo o financiamento de engenhos 
foram realizados por holandeses. 
A produção açucareira foi implantada na América em 
associação direta com o trabalho escravo. A produção 
em larga escala e o “serviço insofrível”, como qualificou 
Fernão Cardim, exigia um número imenso de 
trabalhadores submetidos a uma situação de 
exploração quase ilimitada. Como já foi mencionado, a 
maioria dos colonos portugueses que vinha ao Novo 
Mundo não se dispunha às desonrosas atividades 
manuais e desejavam, de imediato, obter terras e 
escravos para seu sustento. Mesmo assim, nos 
trabalhos mais especializados, que requeriam técnicas 
apuradas, utilizavam-se trabalhadores livres e artesãos. 
As tarefas mais rudes e árduas foram, desde o início, 
destinadas aos escravos. 
Até o final do século XVI, a escravidão indígena foi 
amplamente empregada nos engenhos de açúcar. Nos 
séculos seguintes, ela continuou sendo utilizada nas 
capitanias do Sul e nas regiões do Grão-Pará e 
Maranhão, como solução para a necessidade de braços 
nas lavouras. 
Gradativamente, os engenhos foram introduzindo 
negros africanos escravizados, que acabaram por se 
tornar a mão-de-obra característica da produção 
açucareira. Além da resistência dos indígenas, que se 
deslocavam com suas tribos para o sertão, fugiam das 
fazendas ou promoviam ataques aos portugueses, 
destaca-se o motivo fundamental dessa mudança: a 
lucratividade do tráfico negreiro. Transportados e 
comercializados pelos portugueses, osescravos 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
8 
africanos geravam altíssimos lucros para a Metrópole, o 
que o cativeiro indígena estava longe de oferecer. Os 
negócios do açúcar, intimamente associados à 
escravidão africana, eram as “minas de ouro” da 
colonização portuguesa. Articulavam-se, assim, num 
mesmo sistema produtivo, as possessões portuguesas 
dos dois lados do Atlântico. Como afirma o historiador 
Fernando Novais: “Paradoxalmente, é a partir do tráfico 
negreiro que se pode entender a escravidão africana 
colonial, e não o contrário”. 
 
O trabalho nos engenhos colocava lado a lado escravos 
africanos, escravos indígenas e trabalhadores livres. Os 
mestres e outros artesãos coordenavam as principais 
etapas do processo de fabricação do açúcar. A 
qualidade do produto dependia da perícia desses 
profissionais. No entanto, com o passar do tempo, 
algumas funções especializadas começaram a ser 
também realizadas por escravos. Difundindo a 
escravidão para essas tarefas, os senhores deixavam de 
arcar com os salários dos artesãos ao mesmo tempo em 
que controlavam mais diretamente a produção do 
açúcar, uma vez que detinham sobre os escravos muito 
mais poder de mando. Contudo, tal substituição 
acarretou uma diminuição da qualidade do produto, 
atestada por cronistas do período colonial. A lógica do 
escravismo impunha o domínio do senhor de engenho 
sobre todo o processo produtivo. Dentro dessa lógica, a 
perda da qualidade era preferível à perda da 
autoridade. 
 
Outras atividades econômicas 
Apesar da tendência à monocultura de exportação, no 
interior das propriedades canavieiras desenvolveu-se a 
agricultura de subsistência e a fabricação de utensílios 
e instrumentos de trabalho, como canoas, carroças, 
selas, arreios e roupas rústicas. Outras atividades 
complementares à produção açucareira, como a 
pecuária e as lavouras de fumo e algodão, também 
foram desenvolvidas nessas unidades. 
 
A economia colonial no século XVI assentava-se nas 
capitanias do Nordeste. No Sul, o transporte para a 
Europa encarecia o açúcar, cuja produção mesmo assim 
desenvolveu-se nas capitanias do Espírito Santo, de São 
Vicente e de Santo Amaro, destinando-se mais ao 
contrabando que se realizava com a América espanhola 
através da região do Prata. A aguardente produzida nos 
engenhos do Nordeste servia para o comércio de 
escravos africanos que se intensificava ao final desse 
século. 
 
EXPLORAR, CASTIGAR, MATAR. 
Haja açoites, haja correntes e grilhões, tudo há seu 
tempo e com regra e moderação devida; e vereis como 
em breve tempo Fica domada a rebeldia dos servos; 
porque as prisões e açoites, mais que qualquer outro 
gênero de Castigos lhes abatem o orgulho e quebram os 
brios.(Padre Jorge Benci, A economia cristã dos 
senhores no governo dos escravos, 1700.). 
1.7-PESOS & MEDIDAS 
Os negros eram pesados e medidos. Eram "peças da 
África", chamados de “sopros de vida" e "fôlegos vivos". 
A forma de comercializá-los denuncia o processo 
desumanizador: não se vendia um, dois, cinquenta 
negros – vendiam-se “peças”. Uma peça não significava 
um escravo como uma tonelada não representava mil 
quilos de negros. 
 
A partir de 1660, uma “peça significava 1,75 metro de 
negro no padrão de medidas atual. Assim, cinco negros 
entre 30 e 35 anos, somando 8,34 metros, 
representavam não cinco escravos, mas 4,76 peças. 
Dois negros de 1,60 metro eram apenas 1,8 peça. O 
valor do negro media-se pelos músculos, pela idade, 
pelos dentes, pelo sexo, pela saúde, pelo aspecto geral. 
Por isso, o padrão de “peça” podia variar de 1,85 a 1,60 
metro, dependendo do estado do lote. Na prática, as 
coisas tornavam-se mais simples. Era comum dois 
negros mais idosos ou duas crianças de 4 a 8 anos 
valerem uma peça. Três negros de 9 a 18 anos (os 
“molecões) valiam duas peças. 
Até 1718, a Coroa deteve o monopólio do comercio 
negreiro no Brasil. Depois, quando concedia licença a 
terceiros, tabelava o preço das peças, lucrando até duas 
vezes sobre o custo. A procura crescente de escravos 
criou a concorrência: holandeses, franceses, ingleses e 
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9 
espanhóis entraram no mercado brasileiro. Os 
comboieiros - comerciantes que levavam os escravos 
para o interior, vendendo-os ou entregando-os aos 
fazendeiros – aumentavam mais o preço. Os altos juros 
nas transações a prazo endividavam cronicamente os 
compradores. 
Esses dados foram importantes, a partir dos estudos de 
Lúcio Azevedo (1855-1933), em Portugal, e de Pandiá 
Calógeras (1870-1934), no Brasil, para investigar 
quantos negros entraram no país (o pouco rigor dos 
primeiros historiadores exagerou o seu número). Mas 
também registram a transformação ideológica do negro 
em mercadoria, reduzido à condição de objeto de lucro, 
desumanizado e manipulado desde o começo do tráfico. 
 
1.8-CONDIÇÕES DE TRANSPORTE 
A crônica da época é rica sobre o transporte negreiro. 
No começo do tráfico, predominavam navios pequenos 
e mal construídos, com a pior marujada portuguesa. 
Viajando em condições precária de higiene e 
alimentação, os africanos contraíam moléstias que logo 
se transformavam em epidemias. Autores da época 
contam que os negros, amontoados nos porões infectos 
– onde não entrava luz -, tinham de defecar no lugar em 
que estivessem: no geral, era impossível mover-se. 
Viajavam durante os 120 dias das primeiras travessias e 
os 20 ou 30 das últimas (século XVI ao XIX), sentados ou 
deitados em cima de fezes, urina e vômitos. 
A falta de comida fresca trazia o escorbuto – chamado 
mal-de-Luanda -, que atingia também os marinheiros. 
Muitos africanos ficavam tuberculosos, especialmente 
as crianças de 6 a 16 anos. Os doentes eram jogados no 
mar, ainda vivos, para não contaminarem o resto da 
“carga. Compensava-se a perda com a superlotação dos 
navios – os sobreviventes possibilitavam lucros que 
superavam os prejuízos. Os abusos foram tantos que a 
Coroa interveio em março de 1684, determinou normas 
de transporte para evitar a excessiva lotação nos 
tumbeiros. 
Com o tempo, o tráfico se tornou mais organizado e os 
navios melhoraram. Concluiu-se que, em vez de perder 
metade dos negros com a superlotação, era mais 
racional transportar menos africanos e perder em tomo 
de 20% da carga. Mesmo assim, as melhorias das 
condições de transporte não significaram alívio para os 
cativos. Eles tiveram apenas um pouco mais de espaço. 
Já não havia, como nos primeiros tempos, até duas 
camadas de negros superpondo-se nos porões 
abafados. Mas as doenças continuaram, e os 
moribundos ainda eram jogados no mar. 
Alguns capitães dos tumbeiros, mais cuidadosos, 
obrigavam de vez em quando os negros a subir ao 
convés para se exercitarem ao sol. Famintos e sem 
energia, eles se deitavam sugando o ar puro, mas sem 
condições de praticar nenhum exercício. Então os 
marinheiros os chicoteavam, obrigando-os a uma 
"dança" que os ajudava a desentorpecer. Depois 
voltavam ao porão abafado, onde continuavam a 
morrer. 
Nos navios, o espaço era "economizado" para os 
africanos. Também se reduzia o "supérfluo": 
geralmente, o alimento que os negros consumiriam na 
travessia da costa africana à costa brasileira. A ração de 
água era de um copo a cada três dias, quantidade que 
os capitães dos tumbeiros comprovaram ser suficiente 
para o escravo não morrer de sede. Para os 120 dias de 
travessia dos primeiros tempos de tráfico, cada negro 
recebia quarenta copos de água. Todas essas restrições 
visavam ganhar espaço eliminando-se tonéis de água. 
Muitos negros não suportavam o regime: era os 20% 
(ou 50%, em algumas ocasiões) despejados nos mares – 
mas os restantes compensavam. A relação entre o 
espaço ganho com a redução dos tonéis de água e os 
negros que morriam de sede favorecia os comerciantes. 
A maioria dos negros era capturada nas guerras tribais. 
Os traficantes aproveitaram até conflitos religiosos, 
como as guerras santas – as jihads contra os negros não 
muçulmanos.Os africanos capturados eram vendidos 
aos portugueses, holandeses, espanhóis, ingleses e 
franceses. Essa mercadoria custava pouco na fonte e 
tinha um alto preço no Brasil. Daí a possibilidade de um 
trato rudimentar no seu transporte. 
Mas, com a vigorosa repressão ao tráfico que os 
ingleses começaram a praticar no século XIX, era 
necessário perder cada vez menos negros, para 
compensar os confiscos de carga e muitas vezes até dos 
navios. 
 
1.9 O TRABALHO NAS MINAS 
A partir do começo do século Xvlll, de cada 20 escravos 
empregados na mineração, apenas três sobreviviam. 
Nesse período, de cada 20 africanos trazidos ao Brasil, 
apenas três não seguiam para as minas. Isto é: dos que 
entravam no Brasil, 85% iam para a mineração; dos que 
trabalhavam nas minas, 85% morriam. Se chegassem 
três mil africanos, 2.550 iriam para as minas, e destes 
morreriam 2.167. Ou seja, a mineração matava 85% de 
seus escravos, que representavam mais de 70% dos que 
chegavam ao Brasil. Seiscentos mil negros morreram 
nas minas. No ciclo da mineração, a maior causa de 
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HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
10 
mortalidade era o trabalho. Quem trabalhava, morria. E 
trabalho era "coisa de negro". 
No entanto, na mineração houve certa mobilidade 
devido à peculiar organização de trabalho adotada. 
Primeiro, o negro não representou a totalidade da 
mão-de-obra: houve brancos trabalhando ao seu lado, 
autônomos ou assalariados. Alguns negros, embora 
escravos, mineraram por conta própria, pagando uma 
taxa ao patrão. Isso gerou uma disposição de luta social 
(a possibilidade de ganhar dinheiro e alforriar-se) e 
implicou também – justamente porque a alforria não 
agradava ao senhor um endurecimento repressivo. 
Apesar das evidências dessa situação, não faltam 
análises "otimistas", como a de Edison Carneiro, em O 
negro nas Minas Gerais: 
"A lenda do Chico - Rei, o rei negro de Vila Rica, ilustra, 
pelo menos, o sem-número de ocasiões, que tinham os 
escravos, de amealhar boa soma de dinheiro com que 
escapar às agruras de sua sorte. Pela primeira vez no 
Brasil, o negro foi explorado, em grande número, como 
negro de aluguel e, em proporção menor, como negro 
de ganho, cada vez mais autônomo, mais independente 
do senhor, mais responsável pessoalmente pelo seu 
trabalho e pelo seu comportamento. Tão geral foi esta 
ascensão social do negro em Minas Gerais que a 
passagem de escravo a cidadão se operou suavemente, 
sem choques nem episódios marcantes, depois de 
encerrado o ciclo da mineração". 
 
Interpretação tão simplista quanto irreal. 
A presença de brancos trabalhando na mineração 
confunde alguns historiadores, que veem nisso a 
predominância do trabalho livre e um sinal de relações 
cordiais entre senhor e escravo, como; se fosse possível 
haver cordialidade num regime escravocrata. As mortes, 
as torturas, os castigos e a própria sociedade, que às 
vezes mudava as formas de trabalho mas não os modos 
de produção, indicam o oposto. 
Nas minas, os escravos furtaram bastante. Furtavam 
pedras preciosas e ouro em pó. O furto, porém, quase 
sempre serviu para comprar alimentos e não para obter 
a alforria, como julgaram apressadamente alguns 
historiadores. Tabaco e bebidas eram comercializados 
clandestinamente nos garimpos com o que os negros 
surrupiavam. A venda de aguardente não desapareceu 
nem quando os alambiques foram proibidos. E, porque 
furtavam ouro e diamantes, os negros foram 
submetidos a uma dura vigilância. 
Após o trabalho, os escravos eram revistados pelos 
feitores e fiscais. O melhor meio de esconder pequenas 
pedras era introduzi-las no ânus. Quando os fiscais 
desconfiavam, os suspeitos recebiam clisteres de 
pimenta malagueta para expelir as pedras. Essa 
"lavagem dolorosa e humilhante, aplicada com uma 
brutalidade fácil de imaginar, não raro provocava graves 
danos ao negro. 
O simples fato de os escravos morrerem em grande 
número nas minas já nos faz pensar nas condições de 
trabalho que enfrentaram. As condições de vida – 
implicando aí o risco de morte - eram bem piores do 
que nos canaviais e engenhos. Os garimpeiros 
trabalhavam em minas mal concebidas, sem sistemas 
de renovação de ar, sem quaisquer cuidados 
elementares com a segurança das galerias. Muitos 
escravos morreram sufocados ou soterrados. Tinham de 
carregar grandes pesos - os sistemas mecânicos eram 
raríssimos na primitiva mineração brasileira -' e as 
hérnias e pneumonias foram constantes, como acentua 
o barão Guilherme Luís Von Eschwege (1777-1855), 
mineralogista alemão que trabalhou no Brasil. Ele conta 
que, em Minas Gerais, num único acidente pereceram 
cerca de 200 negros. 
 
1.10 OS JESUITAS e a Ocupação do Vale Amazônico 
As missões e os fortes desempenharam papéis 
importantes no Vale do Amazonas quanto à expansão 
territorial e a consequente colonização. Contribuíram 
para fixar marcos da penetração portuguesa naquele 
território disputado por outros povos. 
Sempre de sentinela nas lonjuras do Vale estavam os 
fortes, instalados ao longo do século XVII: eram 
unidades pequenas, com poucos homens e escassas 
peças de artilharia. Isto, entretanto, não era empecilho 
para que enfrentassem os ataques frequentes de 
estrangeiros ou de nativos. 
Em 1669 ergueu-se o forte de São José do Rio Negro, 
evitando que espanhóis descessem pelo Rio Amazonas. 
Os fortes do Paru e Macapá, fundados em 1685, 
visavam impedir a passagem dos franceses da Guiana. 
As ordens religiosas chegaram em épocas diferentes à 
região. Por exemplo: os carmelitas, em 1627, e os 
jesuítas, em 1636. Deparavam-se, porém, com os 
mesmos obstáculos como a competição entre os 
colonos e entre as próprias ordens religiosas pelo 
"direito de administrar o indígena", visto tanto como 
mão-de-obra quanto como fiel servo de Deus. 
 
 
 
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11 
A disputa acirrada entre as ordens exigiu a intervenção 
governamental 
Na tentativa de resolver esta contenda, que envolvia 
também a ocupação do Vale Amazônico, inúmeras 
Cartas Régias fixaram as áreas de atuação das ordens. 
Os franciscanos de Santo Antônio receberam as missões 
do Cabo do Norte, Marajó e Norte do Rio Amazonas; à 
Companhia de Jesus couberam as dos Rios Tocantins, 
Xingu, Tapajós e Madeira; os franciscanos ficaram com 
as da Piedade e do Baixo Amazonas, tendo como centro 
Gurupá; os mercedários com as do Urubu, Anibá, 
Uatumã e trechos do Baixo Amazonas; e os carmelitas 
com as dos Rios Negro, Branco e Solimões. 
Nos anos finais do século XVII as missões religiosas 
cobriam grande parte do espaço que viria a constituir a 
atual região amazônica brasileira. 
O papel do indígena na ocupação do Vale do Amazonas 
era de extrema importância. Não se dava um passo sem 
ele, pois conhecia o território, sabendo se movimentar 
naquela área desconhecida pelo europeu. 
Os nativos eram os guias pela floresta ou pelos rios. 
Canoeiros, conduziam as embarcações nas longas 
expedições fortemente escoltadas, em meio a milhares 
de quilômetros, pelos cursos emaranhados d'água. 
Eram também caçadores, identificando a variada fauna, 
e coletores das "drogas do sertão", pois conheciam 
como ninguém a flora local. 
A coleta se organizou no Vale sob a coordenação dos 
missionários. Os padres, que monopolizavam o trabalho 
indígena, usavam um artifício para que os nativos 
extraíssem elementos da flora em grande quantidade. 
Alegavam que, além das partes destinadas aos adultos, 
aos velhos e às crianças, deveriam extrair outra, 
destinada a Tupã. Esta fração - "Tupã baê" - acumulada 
nos depósitos das missões, era, posteriormente, 
exportada para a Europa onde seria comercializada com 
grande lucro. 
Conduzido pelos nativos, o "homem branco" penetrava 
pelo coração pulsante da mata espessa, formada por 
imenso e heterogêneo verde, onde não bastava querer 
para efetivamente ocupar. Era uma tarefa complexa, 
em meio a terrenos submetidos a chuvas constantes 
que provocavam um aumento no nível das águas que,por sua vez, arrastavam e deslocavam grandes porções 
de terra próximas aos cursos dos rios. Por conta disto, a 
exploração detinha-se no que a floresta oferecia e 
possibilitava espontaneamente. 
O isolamento de alguma canoa significava extremo 
risco; por isto, iam em grupos pelos igarapés, sob a copa 
de árvores gigantes, geralmente de folhas largas, 
cercados pelo silêncio cortado pelo zumbido dos insetos 
e pelo canto das aves. Assim, pouco a pouco, estes 
aventureiros divisavam, no lusco-fusco da floresta 
equatorial, um vale repleto de diferentes espécies 
animais e vegetais vivendo em equilíbrio. 
Pelos cursos d'água - "estradas líquidas", segundo o 
historiador Caio Prado Júnior -, vias de comunicação 
natural, iam sendo coletadas especiarias diversas, 
aproveitadas e utilizadas no comércio: plantas 
alimentícias e aromáticas como cravo, canela, 
castanha dita do Maranhão, salsaparrilha, cacau etc. 
Também eram extraídas madeiras valiosas e produtos 
de origem animal, desconhecidos, como uma espécie 
de óleo utilizado na alimentação e na iluminação, 
obtido dos ovos da tartaruga, ou o "manacuru" (peixe-
boi), exportado salgado e seco. 
Aos olhos dos colonizadores, o Vale Amazônico 
apresentava-se com possibilidades incalculáveis, 
inclusive dando a impressão de que seus produtos 
podiam substituir as especiarias das Colônias perdidas 
no Oriente. 
A colonização que ali se impôs, portanto, fundamentou-
se nas atividades extrativas, compondo um sistema 
original e peculiar que constituiu e marcou a vida 
econômica da região. 
 
1.11 RESISTÊNCIA ESCRAVA 
Comunidades quilombolas. 
Já se sabe da existência no Estado do Pará de 240 
comunidades quilombolas. Acredita-se que muitas 
outras ainda serão identificadas. 
À primeira vista pode causar estranheza a existência de 
número tão significativo de comunidades descendentes 
de quilombos no Pará em função da ideia bastante 
difundida de que na Amazônia a escravidão não teve 
tanta importância. 
Embora o emprego da mão-de-obra negra na Amazônia 
não tenha alcançado as mesmas cifras que em outras 
regiões do país, teve uma grande importância para a 
economia local. Nas várias regiões do atual Estado do 
Pará, os escravos negros foram utilizados como mão-
de-obra nas atividades agrícolas e extrativistas, nos 
trabalhos domésticos e nas construções urbanas. 
A história da escravidão no Pará foi marcada pela 
resistência de negros e índios que buscaram a sua 
liberdade por meio da fuga, da construção dos 
quilombos e da participação na Cabanagem. Parte 
dessa história é contada neste site.. 
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12 
Zumbi nasceu em Palmares, em 1655. Era neto da 
princesa Aqualtune, filha de um importante rei do 
Congo. Ainda bebê, Zumbi foi aprisionado pela 
expedição de Brás da Rocha Cardoso e entregue ao 
padre Antônio Melo, em Porto Calvo. Recebeu o nome 
de Francisco e uma educação formal. Aos 10 anos, já 
sabia latim e português e, aos 12, tornou-se coroinha. A 
inteligência do menino recebia elogios do padre, 
segundo relatam registros existentes. 
Com 15 anos, Francisco fugiu de volta a Palmares, 
adotando o nome de Zumbi e passando a fazer parte da 
Família Real, pois foi adotado pelo então rei Ganga 
Zumba. A nação palmarina começou a se formar por 
volta de 1597, com Aqualtune. Rapidamente a 
comunidade cresceu, porque era constantemente 
alimentada pela chegada de negros fugidos, de índios e 
de brancos pobres. Palmares chegou a ter 30 mil 
habitantes e, com sua organização e consequente 
fortalecimento, passou a ser visto como uma ameaça 
perigosa ao poder colonial. Além de praticarem uma 
agricultura considerada avançada para os padrões da 
época, desenvolveram uma atividade metalúrgica 
organizada para sua defesa e subsistência e chegaram a 
estabelecer comércio com localidades próximas. 
Entre 1596 e 1716, os palmarinos resistiram a 66 
expedições coloniais, tanto de portugueses como de 
holandeses. Foi a maior e mais longa expressão 
contestatória da escravidão em todo o mundo. De todos 
os líderes da resistência negra, dois se tornaram 
conhecidos: Ganga Zumba e Zumbi. Zumbi, porém, foi o 
líder mais famoso da confederação de quilombos de 
Palmares, que se estendia pelos territórios atuais de 
Alagoas e Pernambuco. 
Ganga Zumba, cansado de muitas guerras, assinou um 
acordo de paz com os portugueses, em 1678. Isso 
desagradou uma parte significativa dos quilombolas, 
que viam a transferência para Cucaú como uma forma 
de controlar a comunidade, além de não resolver o 
problema da escravidão. Foi nesse momento que Zumbi 
rompeu com Ganga Zumba, sendo aclamado Grande 
Chefe por aqueles que ficaram em Palmares. 
Durante um ataque em 1694, Zumbi caiu ferido em um 
desfiladeiro, o que gerou o mito de que o herói se 
suicidara para evitar a escravização. No entanto, em 
1695, Zumbi voltou a comandar ataques, mostrando 
que estava vivo. 
Depois de 17 anos de combates, Zumbi foi traído por 
um de seus principais comandantes, Antônio Soares, e 
assassinado durante expedição de Domingos Jorge 
Velho, em 20 de novembro de 1695. A cabeça de Zumbi 
foi decepada e levada para Recife, onde foi pendurada 
em local público até sua total decomposição. Palmares 
resistiu ainda por mais de 30 anos antes de sucumbir 
definitivamente. Em homenagem a Zumbi, a data de 
sua morte foi escolhida como Dia Nacional da 
Consciência Negra. 
FREITAS, Décio. Palmares, a guerra dos escravos. Porto 
Alegre: Movimento,1973. SANTOS, Joel Rufino dos. 
Zumbi. São Paulo: Moderna, 1985. 
 
1.12 Os bandeirantes 
Os bandeirantes despovoavam o sertão, mas a 
historiografia oficial os apresenta como 
“desbravadores”. Em 1911, na Sorbonne, em Paris, 
Oliveira Lima deu uma desculpa “sociológica” para a 
violência bandeirante: “É verdade que os audaciosos 
tiravam sua vingança sobre os índios –, reduzidos à 
escravidão aos milhares e trazidos para a costa, a fim de 
trabalharem nas plantações. Chamava-se a isso 
resgates. Somente os missionários resgatavam almas, 
trazendo ao seu credo seres sem cultura. 
Os bandeirantes resgatavam corpos, salvavam aqueles 
que eles pretendiam que fossem prisioneiros de tribos 
inimigas e voltados aos festins do canibalismo. A 
sociologia nos ensina, com efeito, que a escravidão é 
um progresso sobre o sacrifício humano”. 
Os bandeirantes tinham excelente mercado para suas 
capturas. O escravo índio custava 80% menos que o 
negro e por ser mais barato, “gastava-se” mais 
rapidamente. Maltratados, os índios morriam em tão 
grande número que em 1586, não havia alimento em 
São Paulo “por causa dos morados não terem escravaria 
com que plantar e beneficiar suas fazendas”. Em 1580, 
uma epidemia disentérica matou milhares de índios, 
além de “dois mil peças de escravos (negros)”. 
Índios morriam aos milhares de sífilis, tuberculose, 
disenteria. Enquanto isso, os bandeirantes trabalhavam 
avidamente: entravam pelos sertões, seqüestravam 
mais índios, traziam-nos e os vendiam com grande 
lucro. Eram mais barateiros e rápidos que os traficantes 
de negros. 
A igreja católica no Brasil defendeu os índios 
capciosamente. Em 1537, o papa Paulo III (1468-1549), 
pela bula Ventas Ipsa, proibiu a escravização dos 
indígenas – a não ser pelas guerras justas – sob pena de 
excomunhão. Mas decorreram cem anos antes que a 
proibição começasse a funcionar de fato no Brasil. Os 
jesuítas deram a impressão de proteger os índios ao 
denunciar – com exagero, quando lhes convinha – os 
abusos dos escravistas. Os padres tutelavam os índios 
para “reduzi-los” à fé católica. Depois foram contra a 
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HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
13 
sua escravidão quando os senhores de engenho 
puderam adquirir negros africanos. 
A razão mais forte para o fim do escravismo indígena, 
depois da resistência dos índios, foi a sua condenação 
pela Igreja e a expansão da agricultura da cana-de-
açúcar, gerando capitais que compraram negros 
africanos a partir do final do século XVI. 
O índio foi escravizadopor 221 anos, de 1534 a 1755. 
Ao se decretar o fim da escravidão indígena, pelas leis 
de 1755 e 1758, promulgadas pelo marquês de Pombal, 
a indústria açucareira continuava em expansão – havia, 
portanto, dinheiro para a compra de negros africanos. 
Os esforços dos jesuítas e da Coroa, que tentavam 
acabar com o apresamento de índios por meio de 
denúncias e regulamentações das guerras justas em 
1587, 1595, 1609, 1611, 1647, 1649, 1652, 1653 e 1680, 
pouco puderam fazer enquanto não houve capitais 
suficientes para a compra de africanos. Foi o esplendor 
do açúcar que afinal consolidou o comércio de negros. 
Quase cem anos depois de proibida a escravidão 
indígena, em 1846, Caxias (1803-1880) afirmou que “é 
uma grande desumanidade o deixarmos vagar por esses 
desertos ínvios sem os socorros da Religião e da 
civilização esses restos dos primeiros habitantes de 
nosso país, que tão úteis podiam ser, como muitos deles 
nos têm sido, enquanto que à custa de tantos perigos e 
desprezos vamos buscar braços africanos que nos 
ajudem”. 
São restos. Não poderiam ser aproveitados sequer 
como escravos. Estavam em extinção. O fato é que eles 
foram praticamente exterminados em poucos anos – 
um comprovado genocídio. 
O padre Antônio Vieira (1608-1697) relatou muitos 
crimes contra os índios. Tiranias, diz ele, que “excedem 
muito às que se fizeram na África: em espaço de 
quarenta anos se mataram e se destruíram por esta 
costa e sertões mais de dois milhões de índios e mais de 
quinhentas povoações, como grandes cidades, e disto 
nunca se viu castigo”. 
Os bandeirantes, não raro atuando como polícia do 
sistema, partiram contra os quilombos e forçaram os 
índios a acompanhá-los. Os índios não se solidarizavam 
com os negros. Aliavam-se aos portugueses e, como 
registra frei Vicente do Salvador (1584-1639) em sua 
História do Brasil, foram os primeiros capitães-do-mato 
e um dos fatores da derrota dos quilombos, guiando as 
tropas e servindo como soldados. Quase sempre 
aderiam aos portugueses por mercenarismo ou espírito 
guerreiro próprio de algumas culturas indígenas. Mas as 
tribos que se negaram a colaborar com os colonizadores 
foram exterminadas. O bandeirante Domingos Jorge 
Velho mandou cortar a cabeça de 200 índios que se 
recusaram a lutar contra os quilombos. 
"As aldeias de índios estão forçadas a entregar certa 
quantidade de seus membros aptos para realizar 
trabalhos (...), durante um prazo determinado. Esses 
índios são compensados com certa quantidade de 
dinheiro e destinados aos mais variados tipos de 
serviços." 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
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CAPÍTULO 2: 
A independência e o nascimento do Estado Brasileiro 
 
2.1 CAMINHOS E FRONTEIRAS 
 
Anhangüera, Fernão Dias, Raposo Tavares, Domingos 
Jorge Velho, Borba Gato, Paes de Barros, Cardoso de 
Almeida, Cunha Gago, Amaral Gurgel, Bandeirantes. 
Quem já circulou pelas rodovias, avenidas, praças e ruas 
do estado de São Paulo e de sua capital com certeza 
está habituado a esses nomes. Os mais conhecidos são 
facilmente associados a uma espécie de imagem heróica 
de desbravadores do sertão brasileiro, de alargadores 
das fronteiras do território nacional, de responsáveis 
pela grandeza de nosso país e incansáveis líderes de 
expedições em busca de metais e pedras preciosas. 
De fato, desde o século XVI, colonos e aventureiros 
dirigiam-se em expedições rumo ao interior do 
continente em busca de riquezas minerais. As 
constantes informações das minas da América 
espanhola alimentavam os sonhos dos luso-brasileiros 
de encontrar a montanha do Eldorado e de serras 
resplandecentes, cobertas de ouro, prata, diamantes, 
rubis, esmeraldas e outras pedras preciosas. 
No entanto, passaram-se quase dois séculos para que as 
áreas mineradoras fossem descobertas pelos 
conquistadores, ligados diretamente à história da vila 
de São Paulo. Nesse período, a ação dos bandeirantes 
teve sempre no horizonte a busca dessas riquezas. Mas 
seu papel na estruturação da Colônia foi muito mais 
complexo. O caráter heróico com que impregnaram a 
imagem desses aventureiros e as homenagens que se 
prestam a eles ainda nos dias de hoje dificultam a 
compreensão do funcionamento da sociedade colonial. 
 
2.2 A idade de ouro no Brasil 
“A sede insaciável do ouro estimulou tantos a deixarem 
suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos 
como são os das minas, que dificultosamente se poderá 
dar conta do número de pessoas que atualmente lá 
estão. Contudo, os que assistiram nelas nestes últimos 
anos por largo tempo, e as correram todas, dizem que 
mais de trinta mil almas se ocupam, umas em catar, e 
outras em mandar catar nos ribeiros do ouro, e outras 
em negociar, vendendo e comprando o que se há mister 
não só para a vida, mas para o regalo, mais que nos 
portos do mar. 
Cada ano, vêm nas frotas quantidade de portugueses e 
de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, 
vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, 
pardos e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se 
servem. A mistura é de toda a condição de pessoas 
homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, 
nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de 
diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil 
convento nem casa.” 
André João Antonil, Cultura e opulência no Brasil por 
suas drogas e minas, p.167 
O jesuíta Antonil retratou bem, no início do século XVIII, 
o que as notícias das descobertas de ouro e pedras 
preciosas no interior da Colônia provocaram na América 
portuguesa. A corrida para a região das minas envolveu 
milhares de pessoas de todas as capitanias. Vilas e 
pequenos povoados ficaram praticamente desabitados. 
Cerca de 600 mil portugueses deixaram a Metrópole 
para se aventurarem no interior do Brasil. A febre do 
ouro contaminou a população colonial. Com alguns 
séculos de atraso, os sonhos de riqueza dos 
conquistadores estavam se realizando. 
 
2.3 As regras da exploração 
Desde 1702 a Metrópole procurou regulamentar a 
distribuição das áreas a serem exploradas. Cada jazida 
era dividida em lotes, denominados datas. O 
descobridor da jazida tinha direito a duas datas e uma 
era destinada à Coroa. As outras eram sorteadas entre 
os interessados. Aqueles que possuíssem pelo menos 
doze escravos podiam receber uma inteira. Os demais 
tinham de se contentar com lotes menores, 
proporcionais ao número de escravos que possuíssem. 
Para fazer valerem as regras, impedir o contrabando e 
recolher os impostos devidos, a Coroa montou seu 
aparelho administrativo e fiscal, deslocando tropas de 
soldados da Metrópole para a região das minas. 
Não demorou para que o ouro de aluvião, ou seja, 
aquele encontrado nos leitos dos rios, se esgotasse. 
Para extraí-lo, mineradores com poucos recursos 
precisavam apenas de um pouco de sorte e de rústicos 
instrumentos com as batéias, bacias feitas de madeira 
ou metal. Chamados de faiscadores, esses garimpeiros 
perambulavam pela região, tentando suprir sua 
modesta sobrevivência. Os poderosos dispunham de 
vasta mão-de-obra escrava, máquinas hidráulicas para 
lavagem do cascalho e obras de represamento de rios. E 
os escravos continuavam a ser “as mãos e os pés de 
seus senhores”. 
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Descobertas por paulistas, as minas foram, no início, um 
empreendimento desses moradores da capitania de São 
Vicente. O abastecimento dos garimpos fazia-se pelos 
caminhos abertos a partir das vilas vicentinas. A 
produção paulista, anteriormente ligada ao consumo 
local, ampliou-se para atender aos mineiros. Os 
tropeiros vindos do Sul pousavam na vila de Sorocaba, 
ponto de encontro dos comerciantes e local de venda 
de animais, de onde se dirigiam para as minas. 
Em poucos anos, brotaram vilas e cidades na região 
mineradora. O ambiente urbano ali contrastava com o 
das atividades açucareiras: os grandes mineradoresostentavam seu poder e riqueza nas cidades. Luxo, jóias 
e escravos eram expostos como insígnias de poder. 
 
2.4 A sociedade dos mineradores e o comércio interno 
O mundo da sociedade mineradora era marcado pela 
instabilidade. A descoberta de uma região repleta de 
riquezas atraía aventureiros, mas, esgotada a extração 
de minérios ali, eles se dirigiam a outras partes, em 
busca do enriquecimento. 
A descoberta dos metais fez os preços dos gêneros de 
subsistência e dos escravos subirem assustadoramente. 
A riqueza extraída da terra atraiu mercadorias 
européias de luxo. O padrão social dos grupos 
dominantes era altíssimo e tudo custava muito caro. 
Muitos endividavam-se para sustentar sua posição 
social sem ter conseguido obter a riqueza suficiente. 
Jogos de azar, prostituição, rivalidades e diversas 
práticas ilegais conturbavam o ambiente dessa 
sociedade. 
A pequena vila de São Sebastião do Rio de Janeiro 
tornou-se porta de entrada de mercadorias estrangeiras 
para a região mineradora. Em 1763, devido a seu 
desenvolvimento urbano e a proximidade maior com a 
capitania das Minas Gerais, tornou-se sede do governo 
do Estado do Brasil. A Colônia, que nos primeiros 
séculos tivera uma estrutura econômica voltada 
principalmente para o mercado externo, vivia agora 
uma realidade mais complexa. Novos interesses surgiam 
e os conflitos passaram a ser mais constantes. 
 
2.5 A economia do império colonial português 
Com a entrada do ouro e dos diamantes do Brasil a 
economia portuguesa viveu algumas décadas de 
prosperidade. A aristocracia lusitana entregava-se aos 
prazeres do consumo de artigos de luxo e da 
ostentação. Grandes obras foram erguidas em Portugal, 
como o Palácio-Convento de Mafra, de 1.300 
dependências, entre salas, quartos e celas conventuais, 
que levou mais de trinta anos para ser construído e 
contou com mais de 50 mil trabalhadores para sua 
conclusão. Os gastos da Coroa e da aristocracia 
geravam um crescente déficit na balança comercial, 
equilibrada graças ao ouro brasileiro. 
A Metrópole exercia um controle cada vez maior sobre 
as colônias. Os caminhos das minas eram intensamente 
vigiados. Apenas aqueles que obtivessem autorização 
direta da Coroa podiam dedicar-se à procura de 
diariamente. O comércio e o deslocamento das pessoas 
eram controlados. A Coroa procurava impedir, com 
práticas violentas, o escoamento ilegal das pedras e 
garantir a cobrança da tributação devida. 
O aperfeiçoamento do aparelho administrativo colonial, 
acompanhado de uma série de medidas fiscais, 
realizava-se numa conjuntura de aumento acentuado 
do preço dos escravos africanos – para o qual 
contribuiu a mineração – e de deslocamento de 
recursos, mão-de-obra e colonos para a região das 
minas. Apesar das oscilações do preço do açúcar no 
mercado mundial e da concorrência antilhana, a 
atividade canavieira ainda mantinha sua importância, 
ao lado do tabaco, no Norte e Nordeste. 
O problema da mão-de-obra e a cobrança de tributos 
acabaram por gerar descontentamento e revoltas, que 
opunham os colonos às autoridades metropolitanas. 
 
2.6 A Inglaterra e a economia portuguesa 
Se, de um lado, a Coroa apertava os laços do controle 
sobre a Colônia, de outro, abria brechas para a intensa 
participação de outros Estados europeus em seu 
império. A Inglaterra foi a maior beneficiada, com vários 
acordos que acabaram por vincular a economia 
portuguesa aos interesses britânicos. O mais célebre de 
todos foi o Tratado de Methuen, de 1703, pelo qual 
Portugal consentia na isenção de barreiras 
alfandegárias para os artigos de lã ingleses em troca de 
uma taxação menor desta em relação aos vinhos 
portugueses. 
Apesar de fortalecer um setor da burguesia lusitana, o 
tratado selou a sorte dos grupos manufatureiros 
portugueses. Carentes de recursos técnicos e de 
capitais, os comerciantes e produtores de tecidos 
sofriam agora a concorrência direta da manufatura 
inglesa. Assim, além de não realizar seu 
desenvolvimento industrial, Portugal abria a fenda de 
escoamento do ouro brasileiro para a economia inglesa. 
 
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2.7 UM DESPOTISMO DE APARÊNCIA ILUMINISTA 
Uma monarquia esclarecida era o sonho de muitos 
iluministas: monarcas fortes, que colocassem em 
prática reformas racionais, eliminaram os controles 
mercantilistas sobre o comércio, permitiram o 
intercâmbio de idéias e poriam fim à censura aos livros. 
De fato, alguns monarcas do século XVIII instituíram 
reformas específicas na educação e no comércio, e 
combateram o poder do clero. Alguns Estados europeus 
economicamente atrasados, como a Prússia, a Áustria e 
a Rússia, procuraram agir rapidamente para alcançar o 
grau de desenvolvimento da Inglaterra e da França. 
Na Prússia, por exemplo, Frederico II, o Grande (1740-
1786), iniciou uma política de tolerância religiosa que 
atraiu refugiados protestantes franceses e dissidentes 
intelectuais, como Voltaire. Recebendo esses 
refugiados, Frederico deu a Berlim ma reputação de 
centro de cultura iluminista. Mas, por trás dessa 
reputação, havia a realidade do militarismo prussiano e 
da servidão de seus camponeses. Voltaire, que foi usado 
por Frederico para ganhar reputação de amante do 
conhecimento, acabou voltando para sua terra, 
desiludido com esse “despotismo esclarecido ou 
iluminado”. 
A expressão despotismo esclarecido, portanto, designa 
uma estratégia de governo que permitia a Estados 
atrasados se desenvolverem e a seus governantes 
propagandearem seus feitos. A idéia desses 
governantes era glorificar o Estado e ampliar seus 
poderes. Se, por um lado, suas reformas 
administrativas, fiscais e militares, com base em rígidas 
regulamentações, garantiam o enriquecimento do país, 
através da construção de estradas e canais, da criação 
de indústrias, por outro, não alteravam a estrutura 
arcaica da sociedade. Os camponeses permaneciam na 
servidão ou próximo dela, a burguesia continuava 
excluída do poder, a urbanização pouco se desenvolvia, 
enquanto a nobreza ampliava seus privilégios. A adesão 
à filosofia iluminista não passava de uma aparência. Em 
Portugal, o grande representante desse despotismo foi 
o Marquês de Pombal. 
 
2.8 As reformas pombalinas 
Com amplos poderes, Pombal empreendeu uma série 
de reformas, combinando os princípios mercantilistas 
com orientações de caráter iluminista. 
No Brasil, os mineradores da capitania de Minas tinham 
de pagar uma quota mínima de 100 arrobas de ouro 
anualmente. Se a quinta parte da produção não 
atingisse tal volume, os demais moradores deveriam 
arcar com a derrama, ou seja, uma outra taxação que 
deveria completar as 100 arrobas fixadas pelo poder 
metropolitano e seria cobrada de acordo com as posses 
de cada habitante. 
Pombal procurou estimular e fortalecer as atividades 
econômicas de setores da burguesia manufatureira e 
mercantil portuguesa e limitar ao máximo o volume de 
importações da Inglaterra. Novas companhias de 
comércio foram criadas na América: Grão-Pará e 
Maranhão, em 1755, e Pernambuco e Paraíba, em 1m 
1759. No Norte, a cultura do algodão foi estimulada 
para atender as manufaturas têxteis inglesas que 
começavam a desenvolver-se. 
Impopulares na Colônia, as novas orientações político-
econômicas provocaram reações também na 
Metrópole. Tratava-se de uma luta política que se 
desenrolava no interior do absolutismo português. Para 
enfrentar a ideologia aristocrática, apegada a seus 
privilégios e parasitária em relação às atividades 
mercantis e industriais, Pombal realizou reformas no 
ensino e, principalmente, combateu a influência dos 
jesuítas na sociedade portuguesa. Novos letrados, 
denominados pejorativamente pelos grupos 
conservadores de estrangeirados, porque estariam 
influenciados pelas idéias francesas, cercaram a nova 
administração. Eram, sem dúvida, indícios de novos 
tempos em Portugal. 
 
2.9 A extinção da Companhia de Jesus 
Pombal voltou-se contra a Companhia de Jesus, cuja 
influência noensino, na sociedade e na política da 
sociedade portuguesa era imensa na segunda metade 
do século XVIII. Na América, os jesuítas controlavam 
vastas áreas e as atividades econômicas de milhares de 
índios em suas missões religiosas. Se, de um lado, eles 
eram importantes para impedir o massacre dos 
ameríndios, de outro, impediam a plena integração 
destes na economia colonial. 
Além disso, após o Tratado de Madri, em 1750, a região 
dos Sete Povos das Missões passara a pertencer aos 
domínios lusitanos. Nos anos seguintes, tropas 
portuguesas e espanholas enfrentaram os indígenas, 
que foram auxiliados por jesuítas descontentes com os 
termos do tratado. O conflito, conhecido como guerras 
guaraníticas, terminou em 1757, com a destruição das 
missões da região. Os jesuítas foram então acusados de 
terem interesses particulares na América, contrários 
aos da Coroa portuguesa. Ainda em 1757, Pombal 
decretou o fim da escravidão dos índios no Maranhão e 
no Grão-Pará, estendendo a medida para o Estado do 
Brasil no ano seguinte. A administração das aldeias 
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passou às autoridades civis. Em 1759, por alvará régio, a 
Sociedade de Jesus foi extinta em Portugal, teve seus 
bens confiscados e seus membros expulsos de todos os 
domínios lusitanos. O império português deixou, assim, 
apenas de ser justificado por suas atribuições divinas. 
Não era mais o império de Deus pelos portugueses. 
Apesar de todas essas iniciativas, a modernização 
pombalina foi capaz de alterar profundamente a sorte 
de seu império. Além das dificuldades internas, o 
sistema econômico mundial apresentava mudanças 
consideráveis na segunda metade do século XVIII. A 
longa transição do feudalismo para o capitalismo estava 
se encerrando em algumas partes da Europa, sobretudo 
na Inglaterra, onde a sociedade industrial já começava a 
despontar. Por isso, mesmo tentando diminuir a 
participação dos britânicos no império luso, as ações de 
Pombal não tinham como deter o avanço do Estado que 
possuía a economia mais dinâmica da época, liderada 
por um poderoso setor têxtil, capaz de lhe assegurar a 
hegemonia internacional por mais de cem anos. 
Em Portugal, o poder pombalino não resistia à morte do 
rei d. José I em 1777. Com o reinado de d. Maria I, 
conhecida anos mais tarde como Maria, a Louca, 
setores conservadores promoveram a viradeira, 
movimento político que destituiu o primeiro-ministro e 
alterou várias de suas medidas político-econômicas 
 
2.10 CONSPIRAÇÕES E REVOLTAS NA AMÉRICA 
Potência hegemônica na Europa, a Inglaterra era a 
vanguarda das transformações industriais e ditava as 
novas regras em nome da liberdade de comércio. Ao 
mesmo tempo, os Estados ibéricos ressentiam-se de 
suas manufaturas medíocres, incapazes de concorrer 
com a produção britânica. 
Através de guerras, contrabando e acordos 
diplomáticos, a Inglaterra conseguia ampliar seu 
comércio com outras metrópoles e respectivas colônias, 
submetendo-as a uma dependência estrutural, ou seja, 
reservando-lhes o papel de fornecedoras de gêneros 
agrícolas e matérias-primas, e de consumidoras de 
produtos industriais. Assim, as estruturas agrárias dos 
demais Estados e respectivas colônias articulavam-se às 
estruturas industriais da potência inglesa, numa nítida 
relação de dependência econômica. No limite, a 
Inglaterra procuraria estimular a independência das 
colônias para consolidá-las como mercados 
consumidores, livres das restrições comerciais do pacto 
colonial. 
Com a Revolução Industrial, o Antigo Sistema Colonial, 
baseado na exclusividade de trocas mercantis entre 
colônia e metrópole, surgia como obstáculo para a 
expansão do capitalismo. 
Portugal dependia da parceria inglesa para defender 
seu combalido império ultramarino e tornou-se uma 
das principais áreas de influência britânica. Dessa 
forma, as bases do sistema colonial português foram 
gradativamente solapadas até se romperem 
completamente no início do século XIX. 
Testemunhos de viajantes, rumores, notícias e livros 
eram agora os pregadores dos princípios liberais, que os 
antigos poderosos não tardaram a nomear de 
diabólicos. As incendiárias idéias satânicas, no entanto, 
representavam para muitos o fim das tiranias 
cometidas em nome de Deus e o começo de uma nova 
época da História. Uma época de questionamentos e 
revoluções. 
Nas capitanias de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e 
Pernambuco, o descontentamentos dos colonos 
culminou na contestação do poder metropolitano. 
Instabilidade das atividades mineradoras, a crescente 
fiscalização e tributação por parte da Coroa portuguesa, 
o desenvolvimento de novos interesses econômicos 
ligados ao abastecimento interno das regiões 
americanas e as notícias acerca da independência dos 
Estados Unidos e da Revolução Francesa tornaram mais 
tensa e complexa a vida colonial. Ao contrário de outros 
movimentos e rebeliões ocorridos nos séculos 
anteriores (Revolta de Beckman, Guerra dos Emboaba, 
Guerra dos Mascates, Revolta de Filipe dos Santos, sem 
contar os inúmeros conflitos envolvendo os jesuítas), a 
Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração do Rio de 
Janeiro (1794) e a Revolta dos Alfaiates (1798) punham 
em causa a subordinação da Colônia ao poder da Coroa 
portuguesa, ampliando o horizonte político das revoltas 
coloniais. 
 
Figura 1 A revolução dos ricos 
 
 
 
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A revolução dos ricos 
Uma denúncia ao visconde de Barbacena, em 1789, 
trouxe à tona a Inconfidência Mineira – inicialmente 
rotulada como movimento de aversão à cobrança alta 
de impostos em Minas 
Foi de uma denúncia feita ao visconde de Barbacena, 
governador de Minas Gerais em 1789, que veio à tona a 
Inconfidência Mineira, um movimento de contestação 
ao governo que administrava a capitania. A acusação, 
feita pelo coronel Joaquim Silvério dos Reis, dizia que 
alguns indivíduos pretendiam organizar um motim 
contra a derrama – uma cobrança sobre cada cidadão 
da região para completar a quantia mínima de cem 
arrobas anuais de ouro. Naquele ano, Minas devia aos 
cofres públicos cerca de 538 arrobas, ou o equivalente a 
quase oito toneladas de ouro. 
Os revoltosos contavam com o temor da cobrança do 
quinto atrasado para obter apoio popular. Os sediciosos 
alimentavam o desejo de se ver livres das cobranças dos 
tributos e impostos feitas por Portugal, o que lhes 
garantiria liberdade comercial. Outro motivo de revolta 
era o ódio generalizado aos apadrinhados – pessoas que 
vinham para Minas Gerais, sob a proteção do 
governador, para administrar cargos públicos – que se 
aproveitavam de sua posição para se apossar de terras e 
rendas dos mineiros. 
Para diminuir o prejuízo e preservar suas riquezas, os 
principais fazendeiros, exploradores de ouro e 
diamantes, criadores de gado, militares, contratadores, 
magistrados e eclesiásticos resolveram aderir ao 
movimento. Os inconfidentes, como o poeta Cláudio 
Manuel da Costa, o ouvidor Tomás Antônio Gonzaga e o 
ouvidor e proprietário de terras Inácio José de 
Alvarenga Peixoto, eram quase todos escravistas e 
constituíam a elite letrada da época. O processo 
instaurado também condenou cinco religiosos: o 
cônego Luís Vieira da Silva, proprietário de uma das 
melhores bibliotecas do Brasil, e os padres Carlos 
Correia de Toledo, José Lopes de Oliveira, Manuel 
Rodrigues da Costa e José da Silva e Oliveira Rolim. 
Ainda foram considerados culpados o tenente-coronel 
Francisco de Paula Freire de Andrada, comandante do 
Regimento de Cavalaria e a mais alta patente envolvida 
na Inconfidência, o sargento-mor Luís Vaz de Toledo 
Piza, o comerciante e contratador Domingos de Abreu 
Vieira, o cirurgião Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, 
os doutores Domingos Vidal de Barbosa Lage e José 
Álvares Maciel e os latifundiários José Aires Gomes e 
Francisco Antônio de Oliveira Lopes, entre outros. 
Onze pessoas foram condenadas à morte, mas dez 
tiveram a pena modificada e foramdegredados para a 
África – os réus religiosos ficaram presos em Lisboa. O 
alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, 
considerado líder do movimento, foi enforcado, e teve a 
cabeça decepada e o corpo esquartejado no Rio de 
Janeiro, em 21 de abril de 1792. 
André Figueiredo Rodrigues é professor das Faculdades 
Guarulhos, do Centro Universitário Anhanguera de São 
Paulo e autor de "A fortuna dos inconfidentes: caminhos 
e descaminhos de bens de conjurados mineiros (1760-
1850)" (Globo, 2010) 
 
2.11 A Inconfidência Mineira 
 
TEXTO AUXILIAR 
...” Que estava plenamente provado o crime de lesa-
majestade (...) a que premeditadamente concorriam de 
se subtraírem da sujeição em que nasceram e que como 
vassalos deviam ter a dita senhora (Dona Maria I), para 
constituírem uma República, por meio de uma formal 
rebelião, pela qual assentaram de assassinar ou depor 
General e Ministros, a quem a mesma senhora tinha 
dado jurisdição e poder de reger e governar os povos da 
Capitania (...) Portanto condenam o réu Joaquim José da 
Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, Alferes que foi da 
tropa paga da Capitania de Minas, a que com baraço e 
pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da 
forca e nela morra morte natural, para sempre. E que 
depois de morto, lhe seja cortada a cabeça e levada a 
Vila Rica, onde em lugar mais público dela, seja pregada 
em um poste alto, até que o tempo a consuma e o seu 
corpo será dividido em quatro quartos e pregados em 
postas pelo caminho de Minas...” 
CASTRO, Therezinha de. História documental do Brasil. 
Rio de Janeiro: Record, 1968, p. 123-124. 
 
Muito mais que uma luta entre o bem e o mal, a 
Inconfidência Mineira foi a primeira tentativa de 
rompimento dos laços com a Metrópole portuguesa. 
Enriquecidos pelas atividades mineradoras no início do 
século XVIII, os habitantes de Minas Gerais viam-se 
agora às voltas com a queda da extração de ouro e 
pedras preciosas, e as constantes ameaças. Nessa 
situação, o confronto era inevitável. 
Paralelamente, muitos jovens, filhos da aristocracia 
local foram enviados às universidades européias, onde 
tomaram contato com as perigosas idéias ilustradas e 
liberais. Alguns deles retornaram trazendo informações 
sobre a recém-criada república norte-americana. 
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Em 1788 a Coroa nomeou Luís Antônio Furtado de 
Mendonça, visconde de Barbacena, para o governo de 
Minas Gerais. O novo governador recebeu ordens 
expressas de estabelecer a derrama: a cobrança das 100 
arrobas anuais devidas à Metrópole, que recairia sobre 
todos os habitantes da capitania. O anúncio de novas 
medidas acirrou os ânimos e aprofundou a insatisfação. 
Grande parte da elite econômica e intelectual mineira 
figurava entre os devedores da Coroa ou estava sendo 
perseguida por suas vinculações com o contrabando 
praticado na região. Outros setores da sociedade 
também seriam atingidos pelo tributo. 
Aproveitando-se desse clima, proprietários de terras e 
de minas, letrados e membros da administração 
envolveram-se numa conspiração que pretendia 
assassinar o governador e tornar Minas Gerais uma 
república independente. Além disso, cogitava-se criar 
uma universidade em Vila Rica (seria a primeira nas 
terras americanas colonizadas por Portugal), 
desenvolver a manufatura (limitada até então pelo 
pacto colonial), libertar os escravos da capitania 
nascidos no Brasil, perdoar as dívidas atrasadas, 
transferir a capital de Vila Rica para São João Del-Rei e 
criar uma guarda nacional composta por cidadãos. 
Os planos começaram a ser elaborados em uma 
reunião, em dezembro de 1788, na casa de Francisco de 
Paulo Freire de Andrade, comandante militar da 
capitania. Os revoltosos marcaram o início da rebelião 
para fevereiro de 1789, quando imaginavam que seria 
cobrada a derrama. No entanto, nesse entretempo, 
diante da insatisfação geral, o governador adiou a 
derrama, que foi oficialmente comunicada em 14 de 
março de 1789. Alívio para grande parte dos mineiros, 
que desse modo escaparam à pesada tributação. Ainda 
assim, um grupo de endividados teria de honrar seus 
compromissos. Eram os contratadores, homens que 
compravam da Coroa o direito de cobrar alguns 
impostos (o dízimo da Igreja e os tributos de 
importação) por determinado tempo. Entre esses 
figurava Joaquim Silvério dos Reis que, ao saber do 
adiamento da derrama, procurou uma outra forma de 
aliviar seus débitos. Denunciando seus companheiros 
no dia 15 de março de 1789, ele esperava ter suas 
dívidas perdoadas. 
 
A devassa 
O visconde de Barbacena comunicou os fatos do vice-
rei, Luís de Vasconcelos e Sousa, no Rio de Janeiro, que 
instituiu uma devassa para apurá-los. Imediatamente foi 
preso um dos conspiradores, Joaquim José da Silva 
Xavier, conhecido por Tiradentes, que, além de alferes, 
era um espécie de dentista da região. O mais entusiasta 
propagandista da independência não pertencia à elite 
colonial. Em seguida, ocorreram novas prisões e 
interrogatórios. Os prisioneiros negaram seu 
envolvimento na conspiração e muitos delataram seus 
companheiros. A 4 de julho, o poeta Cláudio Manuel da 
Costa foi encontrado morto em sua cela. Suicídio, 
segundo a versão das autoridades. 
Em janeiro de 1790, Tiradentes resolveu assumir 
sozinho a iniciativa da rebelião, apresentando-se como 
único líder do movimento. Evidentemente, não era 
verdade. Para a Metrópole, interessava caracterizar o 
movimento como insignificante, chefiado por um 
simples alferes inculto. Para a aristocracia mineira, 
Tiradentes era um excelente bode expiatório, que 
retirava dos poderosos a responsabilidade da 
conspiração. A hierárquica estrutura do império 
português produziria então um primeiro acordo de 
elites que seria uma das marcas da posterior história 
brasileira. Por iniciativa da rainha de Portugal, D. Maria 
I, conhecida como Maria, a Louca, o suposto líder do 
movimento foi condenado à morte por enforcamento e 
teve seu corpo esquartejado e exposto para intimidar a 
população. Numa extraordinária festa barroca, em 21 
de abril de 1792, Tiradentes foi executado no Rio de 
Janeiro. Traidor da monarquia portuguesa, que 
desejava separar as mãos e os pés coloniais da cabeça 
metropolitana, teve em seu corpo a aplicação de uma 
pena exemplar. Para os demais envolvidos, pena de 
degredo na África. A Metrópole bania os demônios 
coloniais para o outro lado do Atlântico, pois o sistema 
colonial já não funcionava mais com o purgatório dos 
brancos. 
 
Opulência e miséria 
 
A crise vivida nas regiões mineradoras contrastava com 
a situação econômica de outras partes da América 
portuguesa. No Estado do Grão-Pará e Maranhão, a 
produção algodoeira era estimulada pelas necessidades 
crescentes de matéria-prima da indústria têxtil inglesa. 
Além disso, a guerra de independência norte-americana 
provocou a interrupção temporária do fornecimento de 
algodão produzido no Sul dos Estados Unidos para a 
Inglaterra, favorecendo os plantadores luso-brasileiros. 
O cultivo da cana-de-açúcar, após décadas de 
problemas, experimentou uma conjuntura favorável até 
1830. Sua produção foi ampliada na região do Rio de 
Janeiro e teve seu vigor retomado em Pernambuco e 
Bahia. Além disso, a lavoura de algodão avançava na 
capitania pernambucana, enquanto o fumo trazia mais 
PM-AL 
HISTÓRIA GERAL, DO BRASIL E DE ALAGOAS 
 
 
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prosperidade aos grandes proprietários baianos. Nessas 
capitanias, no entanto, artesãos e pequenos 
comerciantes, cujas atividades econômicas eram limitas 
pela sociedade escravista colonial, ressentiam-se da 
falta de perspectivas de participação política. Opulência 
e miséria continuavam a compor as características 
fundamentais da vida colonial. 
 
2.12 A Revolta dos Alfaiates 
Os cuidados exagerados da Coroa com relação a 
movimentos separatistas não impediram que em 1798 a 
Bahia fosse sacudida por uma verdadeira revolução. A 
Revolta dos Alfaiates, como ficou conhecida, iniciou-se 
a partir

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