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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – MEC Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul de Minas Gerais Câmpus Inconfidentes – MG Licenciatura em Ciências Biológicas APOSTILA DE GEOLOGIA Parte 01 Prof. D.Sc. Márcio Luiz da Silva Prof. D.Sc. Ademir José Pereira Inconfidentes - MG 2019 Apostila de Geologia 2 AULA 01 – INTRODUÇÃO À GEOLOGIA 1. INTRODUÇÃO A Terra é um lugar único, a casa de milhões de organismos, incluindo nós mesmos. Nenhum outro local que já tenhamos descoberto tem o mesmo delicado equilíbrio de condições para manter a vida (PRESS et al., 2006). Esse planeta, dinâmico e complexo, vem sofrendo mudanças contínuas desde que se formou, há 4,6 bilhões de anos. Essas mudanças e as características atuais resultaram das interações entre os vários sistemas e ciclos internos e externos à Terra. A Terra é única entre os planetas do nosso sistema solar pelo fato de nela haver vida e oceanos de água, uma atmosfera hospitaleira e uma variedade de climas. A vida na Terra se deve a uma combinação de fatores, tais como a sua distância do Sol e a evolução do seu interior, crosta, oceanos e atmosfera. Por seu turno, os processos vitais, no decorrer do tempo, têm influenciado a evolução da atmosfera terrestre, oceanos e, em alguma medida, sua crosta. Esses fatores físicos e as mudanças que eles trazem também têm afetado a evolução da vida (WICANDER et al., 2009). Esse planeta, devido sua complexidade e dinâmica, guarda em si uma natureza sistêmica, uma vez que, na prática, continuamente e simultaneamente ocorre interação e integração entre matéria e energia nos seus componentes. Assim, analisando a Terra como um todo, podem-se ver inúmeras interações ocorrendo entre seus vários componentes. Esses componentes não agem isoladamente, mas são interconectados. Quando uma parte do sistema muda, afeta as outras partes. Nesse sentido, o conceito de sistema torna mais fácil estudar um assunto tão complexo, tal como a Terra. Dessa maneira, pode-se apreciar melhor a complexidade da Terra pensando nela como um sistema. Um sistema é uma combinação de partes relacionadas que interagem de modo organizado (Figura 1). Figura 1. Interações entre os principais subsistemas da Terra Fonte: Wicander et al. (2009) Os principais componentes ou subsistemas da Terra são a atmosfera, a hidrosfera, a biosfera e a litosfera. Alguns autores ainda incluem a esfera dos solos (pedosfera) como um subsistema terrestre. Segundo Wicander et al. (2009), informações, materiais e energia externos que penetram no sistema Apostila de Geologia 3 Terra são os insumos (inputs), enquanto as informações, materiais e energias que deixam o sistema são os resultados (outputs). A geologia guarda significativa importância, uma vez que busca entender como os vários sistemas da Terra funcionam e interagem entre eles. 1.1. A Geologia como ciência: objeto e método A geologia, do grego geo e logos, é definida como o estudo da Terra. É a ciência que estuda a origem, formação, composição e dinâmica da Terra, através das rochas. Ela busca entender como a Terra, seu objeto de estudo, surgiu, evoluiu, como funciona e como podemos ajudar a preservar os habitats que sustentam a vida (PRESS et al., 2006). Nesse sentido, a geologia estuda os processos da dinâmica da Terra e os produtos gerados por estes processos. A geologia estuda fenômenos desde sub- microscópicos, como a desintegração radioativa, estrutura cristalina dos minerais, dentre outros, até o movimento de placas litosféricas. De acordo com Popp (2004), o objeto da geologia geral reside no estudo dos agentes de formação e transformação das rochas, da composição e disposição das rochas na crosta terrestre. Em geral, a geologia é dividida em duas grandes áreas: geologia física e geologia histórica. Segundo Wicander et al. (2009), a geologia física estuda os materiais da Terra, tais como os minerais e as rochas, bem como os processos que operam no interior da Terra e na sua superfície. A geologia histórica, conforme os autores, examina a origem e a evolução da Terra, seus continentes, oceanos, atmosfera e vida. Essa ciência ainda se comporta como pura e aplicada (Figura 2). Quando busca o saber pelo saber, isto é, o avanço do conhecimento geológico, a geologia assume seu caráter intelectual, de ciência pura. O desenvolvimento de hipóteses e teorias sobre a evolução do planeta, sobre movimento de placas crustais, formação de continentes e oceanos, sobre a evolução paleobiológica, dentre outros, são exemplos da geologia como ciência pura. Entretanto, ao direcionar suas pesquisas para aplicação direta dos conhecimentos geológicos, a geologia assume sua condição de ciência aplicada. Nesse sentido, ela usa, em grande parte, conhecimentos anteriormente adquiridos da pesquisa pura. Entre os vários exemplos, está o desenvolvimento de métodos geofísicos para estudos geológicos, as pesquisas em desenvolvimento de novos métodos de exploração e monitoramento ambiental de águas subterrâneas, pesquisa sobre minérios (óleo, gás, metais, etc.), estudos visando prevenção de desastres provocados por fenômenos geológicos e naturais (terremotos, maremotos, enchentes, etc.), estudos climatológicos (conhecimentos sobre causas e efeitos das grandes mudanças paleoclimáticas são importantes para entender os possíveis impactos da atividade humana sobre o ambiente), dentre outros. Como toda a ciência, a geologia também, visando buscar o entendimento e explicação dos fenômenos inerentes à Terra através de teorias, adotada o método científico, isto é, um plano geral de pesquisa baseado em observações metodológicas e experimentos. Assim, ela propõe hipóteses, teorias e modelos. A hipótese pode ser entendida como uma tentativa de explicação baseada em dados coletados por meio de observação e experimentação, sujeita a críticas e testes. Uma hipótese que sobreviveu a repetidas mudanças e acumulou significativo corpo de suporte experimental é elevada à condição de teoria. Assim, todas as teorias, também na geologia, são formuladas por meio de processos conhecidos como método científico. Um modelo científico, por sua vez, é a representação de algum aspecto da natureza com base em um conjunto de hipóteses (incluindo, geralmente, algumas teorias bem estabelecidas). Apostila de Geologia 4 Figura 2. Subdivisões da Geologia Fonte: Diversos autores 1.2. Teorias e práticas modernas da Geologia Com em muitas ciências, a Geologia depende de experimentos em laboratórios e simulações computacionais para descrever as propriedades físicas e químicas dos materiais terrestres e modelar os processos naturais que ocorrem na superfície e no interior da Terra. Entretanto, a Geologia tem seu próprio estilo e visão particular. Segundo Press et al. (2006), ela é uma “ciência de campo” que se fundamenta nas observações e experimentos orientados no local do objeto de estudo e coletados por dispositivos de sensoriamento remoto, como o de satélites orbitais. Especificamente, os geólogos comparam as observações diretas dos processos, na forma como ocorrem no mundo atual, com aquelas que inferem a partir do registro geológico. O registro geológico é a informação preservada nas rochas originadas em vários tempos da longa história da Terra. No século XVIII, o médico e geólogo escocês James Hutton antecipou um princípio histórico da Geologia, que pode ser assim resumido: “o presente é a chave do passado”. Princípios são leis fundamentais da Geologia necessária para sua interpretação. A lei consiste numa teoria que não tem nenhuma razão aparente para ser negada. O conceito de Hutton tornou-se conhecido como o princípio do uniformitarismo, o qual considera que os processos geológico que vemos atuantes hoje também funcionaram de modo muito semelhante ao longo do tempo geológico.O método consiste em tentar entender os fatos e fenômenos naturais do passado pelo conhecimento de como eles ocorrem no presente. Como preceitua Salgado-Labouriau (1994), o princípio do uniformitarismo (ou atualismo conforme os geólogos da Europa Ocidental) foi uma contraposição ao princípio do catastrofismo ou cataclismo, teoria teológica das destruições e criações divinas, que explicava de maneira não científica, os fenômenos e processos que diziam respeito à origem e evolução da superfície da Terra. Apostila de Geologia 5 O princípio do uniformitarismo não significa que todo fenômeno geológico ocorre de forma lenta. Alguns dos mais importantes processos ocorrem como eventos súbitos. Um meteoróide grande que impacta a Terra – um bólido – pode escavar uma vasta cratera em questão de segundos. Outros processos ocorrem de maneira mais lenta. Milhões de anos são necessários para que continentes migrem, montanhas sejam soerguidas e erodidas, e sistemas fluviais depositem espessas camadas de sedimentos. Assim, os processos geológicos ocorrem numa extraordinária gama de escalas tanto no espaço como no tempo. (Figura ). Apesar do sucesso de sua abordagem, o princípio de Hutton é muito limitado para mostrar como a ciência geológica é praticada atualmente. A moderna Geologia deve ocupar-se com todo o intervalo da história da Terra. Como lembram Press et al. (2006), os violentos processos que moldaram a primitiva história da Terra foram substancialmente diferentes daqueles que atuam hoje. 1.3. Campos de atuação da Geologia A Geologia atua nas mais diferentes áreas (Figuras 2 e 3). Essa ciência é tão ampla que é subdividida em muitos campos diferentes ou especialidades. A figura 3 lista os muitos campos da geologia e sua relação com as ciências da astronomia, física, química e biologia. Praticamente, cada aspecto da geologia apresenta alguma relevância econômica ou ambiental. Muitos geólogos estão envolvidos na pesquisa de recursos minerais e energéticos, usando seu conhecimento especializado para localizar os recursos naturais nos quais está baseada a nossa sociedade industrializada. Figura 3. Especialidades da geologia e seu relacionamento geral com as outras ciências Fonte: Wicander et al. (2009) Apostila de Geologia 6 A Paleontologia, por exemplo, descreve e classifica os antigos seres viventes que se encontram nas rochas. A Estratigrafia ordena as rochas estratificadas, sistematizando-as a partir das mais antigas. A Geografia, cujos campos de ação estão na superfície da Terra e seus habitantes, quando de ocupa da conformação da crosta e de sua evolução (Geografia Física), passa a ser um campo especial da Geologia (POPP, 2004). 1.4. Breve histórico da Geologia De acordo com Popp (2004), até meados do século XVIII persistiu um “obscurantismo” com relação aos interesses pelos fenômenos geológicos naturais. Não havia até então estímulos à especulação pela crosta terrestre, exceto na busca de minerais úteis. Segundo Popp (2004), nessa época, além das observações esparsas de filósofos gregos, haviam surgido publicações de manuais de Mineralogia que tratavam de métodos de mineração e metalurgia escritos por Agrícola (1494-1555). Na segunda metade do século XVIII, as observações científicas de Steno, na Itália, e Hooke, na Inglaterra, produziram interpretações corretas do significado cronológico da sucessão de rochas estratificadas. James Hutton (1726-1797) recusou-se a imaginar a criação da Terra a partir de um dilúvio, ou seja, um evento repentino e único. Examinando as rochas estratificadas, encontrou vestígios de repetidas perturbações nas rochas em alternância com longos e calmos períodos de sedimentação. O ponto de vista de Hutton veio a ser chamado “uniformitarismo”, pois seus argumentos baseavam-se nas observações da erosão dos rios, vales e encostas, concluindo que todas as rochas se formaram de material levado de outras rochas mais antigas e explicando a formação de todas as rochas com base nos processos que estão agora operando, não se exigindo, para isto, outra coisa senão o tempo. Abraham G. Werner (1749-1815), um dos mais persuasivos e influentes mestres europeus, defendia ardosamente uma doutrina denominada “netunista”, a qual se coadunava melhor com a história bíblica. Outras investigações científicas realizadas posteriormente na Europa por Cuvier e Lamark, entre outros, terminaram por afastar a doutrina do netunismo. Com a publicação da obra Princípios de Geologia, de Charles Lyell, os conceitos de Hutton passaram a ser a idéia dominante. A grande obra de Lyell teve substancial influência no preparo do terreno para o florescimento das idéias de Charles Darwin desenvolvidas no século XIX a respeito da evolução dos seres vivos. No Brasil, o primeiro trabalho (publicado em 1792) científico realizado foi da autoria de José Bonifácio de Andrada e Silva e seu irmão Martim Fonseca Ribeiro de Andrada sobre os diamantes brasileiros. Em 1883, o alemão Willhem L. von Eschwege, engenheiro de minas, publica O Pluto brasiliensis, reeditado recentemente, sobre a geologia e mineralogia brasileiras. Von Martius publica, em 1854, um mapa geológico da América do Sul. As primeiras pesquisas no campo da Paleontologia foram realizadas pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund, descrevendo as ossadas de vertebrados pleistocênicos encontradas nas cavernas de Minas Gerais. Em seguidas, Agassiz estuda peixes fósseis do Ceará enviados por Gardner, britânico inglês que visitara o Brasil. Com a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto, a partir de 1876, o Brasil iniciou a formação de geólogos que vieram a trazer grande impulso à pesquisa e ao ensino de Geologia no país (POPP, 2004). Apostila de Geologia 7 Referências: POPP, J. H. Geologia geral. 5. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: LTC, 2004. PRESS, F.; GROTZINGER, J; SILVER, R.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Editora Bookman, 2006. SALGADO-LABOURIAU, M. L. História ecológica da Terra. 2. ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher, 1994. WICANDER, R.; MONROE, J. S. Fundamentos de geologia. Tradução Harue Ohara Avritcher. São Paulo: Cengage Learning, 2009. Leitura Complementar: POTAPOVA, M. S. Geologia como uma ciência histórica da natureza. Terrae Didática, v. 3, n. 1, p. 86-90, 2008. FRODEMAN, R. O raciocínio geológico: a geologia como uma ciência interpretativa e histórica. Terrae Didática, v. 6, n. 2, p. 85-99, 2010. Exercícios de Fixação e Reflexão 01 – Por que o planeta Terra pode ser considerado um sistema complexo? 02 – Comente sobre as esferas ou subsistemas que compõe o sistema Terra. 03 – Qual a relação da Geologia com a Biologia e qual a importância da Geologia na sua formação profissional? 04 – O que é Geologia? Como essa ciência é divida didaticamente? 05 – Por que a Geologia pode ser considerada uma ciência pura e aplicada? 06 – Dê exemplo de uma hipótese, uma teoria, um modelo e um princípio na Geologia. 07 – Defina o Princípio do Atualismo ou Uniformitarismo. 08 – Fale sobre dois campos de atuação da Geologia. 09 – Qual a importância de James Hutton e Charles Lyell para a sistematização e consolidação da Geologia? 10 – Comente, resumidamente, a trajetória evolutiva da geologia brasileira. Apostila de Geologia 8 AULA 02 – O UNIVERSO 2. O UNIVERSO A teoria mais aceita para a origem do universo propõe que ele seja o resultado duma grande explosão, logo após a qual a matéria estava extremamente densa, comprimida e quente. Essa matéria primordial era composta, principalmente, de partículas elementares, como quarks (subpartículas) e elétrons. O Universo se constitui de um sistema ordenado de diversos astros. Dentre eles destacam-se as estrelas e as galáxias. As estrelas agrupam-se em galáxias, cujas dimensões são da ordem de 100.000 anos luz com mais de 100 bilhõesde estrelas. As galáxias podem ser elípticas ou espirais. As galáxias são compostas por estrelas, quasars (são galáxias com buracos negros fortemente ativos no centro), buracos negros, espaços interestelares, sistemas solares, etc. A galáxia de nosso sistema solar é conhecida como Via-láctea. Um agrupamento de galáxias forma um Aglomerado, que corresponde a dezenas a milhares de galáxias. O Aglomerado que contém a Via-láctea, contém ainda no grupo local a galáxia de Andrômeda e as Nuvens de Magalhães. Existem os Superaglomerados com centenas a dezenas de milhares de galáxias. Sabe-se que o Universo está em rápida expansão, com temperaturas colossais e altíssima densidade, uma situação lembrando muito uma explosão. A expansão é comprovada pelo aumento do espaço entre os aglomerados (o espaço entre as galáxias de um aglomerado não se altera devido à atração da gravidade). A velocidade da expansão acompanha a constante de Hubble (18 km/s x 106 anos luz). 2.1. A origem do Universo É concebido como um ponto reunindo toda a matéria e energia do universo (sistema fechado) que explodiu num evento único a cerca de 15 bilhões de anos atrás: Big Bang. A Teoria do Big Bang explica o início do universo através de uma explosão cósmica ocorrida há 10-15 G.a. (bilhões de anos A.P. – antes do presente). Segundo essa teoria, antes disso toda matéria e energia estava compactada em uma única e ultra-densa matéria. O modelo da criação súbita, mais conhecido como “Big Bang”, foi proposto por Georges Lemaître e George Gamow. Este modelo simples, que propõe a origem como sendo um evento explosivo, explica as propriedades do Universo atual e é corroborado por muitas evidências recentes da pesquisa astronômica. Porém a nossa observação do Universo - vasto em tempo e espaço – é limitada ao curto período da história da humanidade, de modo que os dados observacionais são necessariamente limitados. 2.1.1. Após a explosão: Período Planckiano: com duração de cerca de 10-44 s, quando o universo era constituído de prótons, nêutrons e subpartículas. Os primeiros instantes desta era estão totalmente indeterminados e são denominados de “tempo de Planck”. Relaciona-se à propagação da luz, altas temperaturas e intensa radiação. Expansão e criação contínua do espaço: separação das forças: Eletromagnética, Nuclear e Gravitacional – O universo se esfria quando se expande, cerca de 10-34 s após o Big Bang. A era radiante ocorrida após 100 s, com duração de aproximadamente 1 milhão de anos, foi dominada pela energia dos fótons. Temperatura e densidade decrescem propiciando condições para a formação da matéria através da nucleogênese: Prótons, Nêutrons e Elétrons, em seguida H e He. Nesta era ocorreu o decaimento de nêutrons (em prótons, elétrons e antineutrinos) e a nucleossíntese primordial: núcleos de elementos leves (Deutério, Trítio, Hélio3, Hélio4, Lítio7 e Berílio7) se formaram - até o momento em que os fótons não tinham mais energia suficiente para manter os prótons ionizados - ocorreu a formação de átomos a partir dos núcleos existentes. Apostila de Geologia 9 Evolução Estelar: Se o número de prótons e nêutrons for alto, mais freqüentemente eles colidem e mais Hélio é produzido. A nucleossíntese no Big Bang só formou os elementos leves: hidrogênio, deutério, hélio e lítio. Todos os elementos químicos mais pesados foram produzidos mais tarde, no interior das estrelas. À medida que a temperatura do Universo se tornava menor, os átomos se mantinham mais estáveis e passaram a capturar elétrons, e o Universo se tornou transparente à luz. Temperatura ainda menores impediram a criação de outros elementos e permitiram a criação das imensas nuvens de gás. Nuvens de gás entram em colapso, e juntamente com a força da gravidade ocasionam núcleos aquecidos: a) Primeiras estrelas e primeiras galáxias (13 bilhões de anos atrás) b) Via-Láctea (8 bilhões de anos atrás) c) Sistema Solar (4,6 bilhões de anos atrás) 2.2. A gênese do Sistema Solar Muitos confundem a origem do Universo como sendo a origem da Terra e vice-versa. Na verdade a Terra e seu Sistema Solar surgiram pouco mais de 10 bilhões de anos após a origem do Universo. O Sistema Solar com 4,6 bilhões de anos, possivelmente resultou da explosão de uma supernova (conhecidas como a explosão de uma estrela de massa gigantesca) que gerou uma nebulosa solar que sintetizou o sol e seus planetas. Esta teoria baseia-se na hipótese nebular, sugerida em 1755 pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), e desenvolvida em 1796 pelo matemático francês Pierre-Simon de Laplace (1749-1827). Laplace calculou que: como todos os planetas estão no mesmo plano, giram em torno do Sol na mesma direção, e também giram em torno de si mesmo na mesma direção (com exceção de Vênus), só poderiam ter se formado de uma mesma grande nuvem de partículas em rotação. Essa hipótese sugeria que uma grande nuvem rodante de gás interestelar, a nebulosa solar, colapsou para dar origem ao Sol e aos planetas (Supernova). Uma vez que a contração iniciou, a força gravitacional da nuvem atuando em si mesma acelerou o colapso. À medida que a nuvem colapsava, a rotação da nuvem aumentava por conservação do momentum angular e, com o passar do tempo, a massa de gás rodante assumiria uma forma discoidal, com uma concentração central que deu origem ao Sol. Os planetas teriam se formado a partir do material no disco. Após o colapso da nuvem, ela começou a se esfriar. Apenas o Proto-sol, no centro, manteve sua temperatura. O resfriamento acarretou a condensação rápida do material, o que deu origem aos planetesimais, agregados de material com tamanhos da ordem de quilômetros de diâmetro. A composição dependia da distância ao Sol: regiões mais externas tinham temperaturas mais baixas, e mesmo os materiais voláteis tinham condições de se condensar, ao passo que nas regiões mais internas e quentes, as substâncias voláteis foram perdidas. Os planetesimais a seguir cresceram por acresção de material para dar origem a objetos maiores, os núcleos planetários. Na parte externa do sistema solar, onde o material condensado da nebulosa continha silicatos e gelos, esses núcleos cresceram até atingiram massas da ordem de 10 vezes a massa da Terra, ficando tão grandes a ponto de poderem atrair o gás a seu redor, e então cresceram mais ainda por acresção de grande quantidade de hidrogênio e hélio da nebulosa solar. Deram origem assim aos planetas jovianos. Na parte interna, onde apenas os silicatos estavam presentes, os núcleos planetários não puderam crescer muito, dando origem aos planetas terrestres. 2.2.1 – O Sistema Solar O sistema solar é composto pelo Sol, que concentra 99% da massa do sistema, e por todos Apostila de Geologia 10 os corpos que orbitam a seu redor (Figura 4). Destes, os de maior massa são os nove planetas conhecidos: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte (planetas terrestres), Júpiter, Saturno, Urano, Netuno (planetas gigantes) e Plutão. Além dos planetas ocorrem ainda satélites, cometas, asteróides e meteoritos. Figura 4. O Sistema Solar. Fonte: Press et al. (2006) Tendo acontecido muitos antes do surgimento da espécie humana, a origem do Sistema Solar só pode ser explicada através de teorias. Estas são formuladas com base em fundamentos teóricos e modelamentos matemáticos que procuram explicar as características essenciais do Sistema Solar como o conhecemos hoje. É certo que as teorias mostram um modelo simplificado do processo ocorrido e ainda que não seja possível dizer qual dessas teorias se aproxima mais da “verdade”, se é que alguma delas reflete o que realmente aconteceu na formação do Sistema Solar. As teorias podem ser consideradas como mais ou menos válidas dependendo da sua capacidade em explicar características essenciais deste sistema. 2.2.1.1. O Sol A energia solar é gerada no núcleo do Sol. Lá, a temperatura(15.000.000° C) e a pressão (340 bilhões de vezes a pressão atmosférica da Terra ao nível do mar) são tão intensas que ocorrem reações nucleares. O Sol converte 600 bilhões de quilos de hidrogênio em 595,8 bilhões de quilos de hélio a cada segundo. Os 4,2 bilhões de quilos restantes são convertidos na radiação que é despejada continuamente do Sol em todas as direções. O Sol vem consumindo hidrogênio em sua fornalha nuclear a 5 bilhões de anos e ainda restam mais 5 ou 8 bilhões de anos para o H ser todo consumido. No fim de sua vida, provavelmente o Sol comecará a fundir o hélio em elementos mais pesados e se expandirá, finalmente crescendo tão grande que engolirá a Terra. Quando as reações nucleares diminuírem e cessarem, não haverá resistência à atração da gravidade, haverá contração e ele rapidamente colapsará para uma anã branca. Pode levar um trilhão de anos para ele se esfriar completamente. O espaço entre o Sol e a Terra não é um vácuo quase perfeito, mas está preenchido por um gás ionizado constituído de partículas com diferentes energias (H e elétrons), que são emitidas pelo Sol e por isso, chamadas de Vento Solar. Apostila de Geologia 11 2.2.1.2. Os planetas Nosso sistema solar está composto pelo Sol, pelos nove planetas com suas luas e anéis, pelos asteróides e pelos cometas. Os planetas terrestres (menores e rochosos) possuem composição química bastante distinta dos planetas extraterrestres, que são conhecidos como gigantes e “gasosos” (Tabela 1). Tabela 1. Principal Composição Química Interna dos Planetas Terrestres (Internos) Jovianos (Gigantes Externos) Mercúrio, Vênus, Terra e Marte Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão Rochas (Silicatos) e Metais Pesados H, He, Água, NH3, CH4 Os cinco planetas mais brilhantes, que em grego quer dizer astro errante, já eram conhecidos desde a antiguidade. Depois da invenção do telescópio, outros 3 planetas do Sistema Solar foram descobertos: Urano em 1781 por William Herschel (1738-1822), Netuno em 1846 por previsão de Urbain Jean Joseph Le Verrier (1811-1877) e John Couch Adams (1819-1892) e Plutão, em 1930 por Clyde William Tombaugh (1906-1997). Seus nomes são associados a deuses romanos: Júpiter, deus dos deuses; Marte, deus da guerra; Mercúrio, mensageiro dos deuses; Vênus, deusa do amor e da beleza; Saturno, pai de Júpiter, deus da agricultura; Urano, deus do céu e das estrelas, Netuno, deus do Mar e Plutão, deus do inferno. O corpo dominante do sistema é o Sol. Todos os planetas giram em torno do Sol aproximadamente no mesmo plano e no mesmo sentido, e quase todos os planetas giram em torno de seu próprio eixo no mesmo sentido da translação em torno do Sol. Referências CORDANI, U. G. O planeta Terra e suas origens. In: TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. PRESS, F.; GROTZINGER, J; SILVER, R.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Editora Bookman, 2006. WICANDER, R.; MONROE, J. S. Fundamentos de geologia. Tradução Harue Ohara Avritcher. São Paulo: Cengage Learning, 2009. Leitura Complementar: STEINER, J. E. A origem do universo. Estudos Avançados, v. 20, n. 58, p. 232-248, 2006. Exercícios de Fixação e Reflexão 01 - Porque se acredita que o Universo está em expansão? 02 - O que nos leva a crer que o Universo veio de uma explosão? 04- Como são geradas as estrelas? Apostila de Geologia 12 05- Qual a idade da Via láctea e do Sistema solar? 06 - Investigue por outras fontes de informação se Plutão ainda é considerado um planeta. Caso a resposta seja negativa, justifique. 07 - Explique em que momento surgiram os elementos mais pesado (Fe) no Universo. 09 - Justifique porque se acredita que a Terra surgiu após a explosão de uma Supernova? E o Sistema Solar, como surgiu? 10 - Qual a relação entre a Lua e a Terra em termos de idade e composição? Pesquise. Apostila de Geologia 13 AULA 03 – A TERRA 3. A TERRA O planeta no qual vivemos mudou continuamente através de sua longa história. Para entender o que é a Terra e como ela funciona, é necessário combinar observações diretas dos processos atuantes em sua superfície com medidas indiretas de forças que atuam em seu interior. Deste conhecimento podemos deduzir como o planeta evoluiu – dos seus primórdios até o seu presente estado. 3.1. Características físicas da Terra 3.1.1. Forma da Terra A Terra tem forma quase esférica, muito próxima de um elipsóide de revolução (mais achatada nos pólos). Ela é um geóide achatado, ou seja, os seus diâmetros equatoriais e polares diferem entre si. Esse fato é justificado pela existência de rotação do planeta e da maior força centrípeta que existe no equador. Vejam dados sobre os diâmetros da Terra: Diâmetro do equador = 12.756,8 km Diâmetro dos pólos = 12.713,8 km Raio médio = 6.371 km 3.1.2. Massa da Terra Pela aplicação da lei geral da gravitação de Newton, a massa média da Terra calculada para a Terra é de 5,98X1024 kg. 3.1.3. Volume da Terra O volume aproximado da Terra é de 1,08X1027cm3. 3.1.4. Densidade A densidade média das rochas da superfície do planeta é de aproximadamente 2,7 g/cm3, enquanto que a densidade média calculada para a Terra é de 5,5g/ cm3. Isso implica que as rochas do interior do planeta são mais densas para compensar essa diferença de densidade. Assim, ao tecermos considerações sobre a composição interna da Terra devemos procurar por materiais com densidade superior à média das rochas da superfície do planeta. A composição química do globo terrestre não é homogênea, concentrando-se os elementos mais pesados no seu interior. Os elementos mais abundantes no globo terrestre são (% em peso): Fe - 36.9; 0 - 29.3; Si - 14.9; Mg - 6.7; Al - 3.0; Ca - 3.0; Ni - 2.9. O estudo de ondas sísmicas, cuja velocidade de propagação é, entre outras coisas, dependente da densidade do meio atravessado, sugere ainda que a densidade não aumenta gradualmente em direção ao interior do planeta, mas sim que existem alguns saltos marcantes de densidade, em limites relativamente definidos. 3.1. Estrutura e composição da Terra Estudar o interior da Terra é uma complicada tarefa. A Terra tem, em média, 6.400 Km de raio e, portanto, um estudo direto não poderá ir além de pequenas profundidades. A perfuração mais profunda atingiu aproximadamente 12.023 metros e foi realizada em 1984, na Península de Kola (ex- URSS), o que corresponde a 0,19% do raio da Terra. A perfuração de poços de grande profundidade permite que se realizem importantes investigações no domínio da petrologia, paleontologia, geoquímica e geofísica. As minas que se destinam à exploração de recursos minerais não excedem os 4 Km de profundidade. Apostila de Geologia 14 Estudos aprofundados dos afloramentos rochosos à superfície são de grande importância para o conhecimento da estrutura interna da Terra. Algumas rochas que têm a sua origem em profundidade podem aflorar à superfície quando submetidas à forças que as façam ascender e, posteriormente, sejam postas a descoberto pela erosão. O vulcanismo, no seu sentido limitado, é um fenômeno superficial, pois os produtos emitidos na superfície e a formação do aparelho vulcânico podem ser observados diretamente. Entretanto as causas do vulcanismo são de origem profunda. A matéria fundida (magma) que alimenta os vulcões forma-se no interior da Terra em conseqüência de perturbações do equilíbrio normal. Para as zonas que ultrapassam os processos de observação direta, devemos recorrer a outros métodos, chamados indiretos, como, por exemplo, o magnetismo, a sismicidade, o estudo dos meteoritos e a astrogeologia, única forma de sabermos o que se passa naquelas zonas do nosso planeta. Pelos estudos geofísicos foi possível a separação das principais estruturasda Terra (Figura 5): Figura 5. Esquema da estrutura da Terra. Crosta e litosfera: A crosta terrestre é a zona mais superficial e de menor densidade (d=2,7 g/cm3 a 2,9 g/ cm3). Com base na velocidade de propagação das ondas sísmicas, na crosta terrestre, os sismólogos chegaram aos seguintes resultados: à profundidade de cerca de 17 km há uma variação na velocidade de propagação das ondas P (primária) e S (secundária), o que pressupõe a alteração das características do material e por conseguinte a existência de uma descontinuidade, designada descontinuidade de Conrad. Entre a superfície e a descontinuidade de Conrad a velocidade de propagação das ondas sísmicas é: Vp (velocidade de propagação de ondas P)=5,6 km/s e Vs (velocidade de propagação de ondas S)=3,3 Km/s; a partir da descontinuidade de Conrad até à descontinuidade de Moho (Figura 6) os valores são: Vp=6 a 7 Km/s e Vs=3,7 km/s. Deste modo, a descontinuidade de Conrad subdivide a crosta continental em: crosta continental superior e crosta continental inferior. A primeira camada, também designada por Sial, devido ao predomínio do silício (Si) e do alumínio (Al), sendo constituída em grande parte por rochas do tipo geral do granito - camada granítica; a segunda, denominada Sima, por ser rica em silício (Si) e magnésio (Mg), deverá ser constituída por rochas da família do gabro e do tipo do basalto - camada basáltica. A crosta Apostila de Geologia 15 oceânica é formada por uma camada basáltica, com velocidades de propagação das ondas sísmicas do tipo P entre 4 a 5 km/s, com cerca de 1 a 4 km de espessura e pela camada oceânica, com velocidade de propagação das ondas do tipo P entre 6 a 7 km/s, com cerca de 5 a 6 km de espessura. Quer a crosta continental, quer a oceânica, possuem na sua parte superior uma camada sedimentar de espessura variável. A litosfera, com espessura de aproxidamente 100 km, engloba as rochas da crosta terrestre (continental e oceânica) e uma parte do manto superior, como uma unidade rígida. A litosfera é formada por um mosaico de placas rígidas e móveis - as placas litosféricas ou tectônicas. A astenosfera (do grego “asthenes” = fraqueza), representada na seção esquemática (Figura 5), entre os 400 e 650 km de profundidade, com a cor verde claro, segue-se à litosfera, fazendo parte do manto superior, é uma zona plástica constituída por rochas fundidas. Na astenosfera as ondas propagam- se com uma velocidade menor do que na litosfera, o que leva alguns autores a designá-la por zona de baixas velocidades. A astenosfera constitui uma camada importante na mobilidade da litosfera, não só por ser constituída por materiais plásticos, mas também por que nela se desenvolvem as correntes de convecção. Figura 6. Estrutura interna da Terra: o modelo clássico de primeira ordem, em camadas concêntricas, obtido a partir das velocidades das ondas sísmicas. Fonte: Teixeira et al. (2009). O manto inferior está separado da astenosfera pela descontinuidade de Repetti, prolonga-se até à base do núcleo (2.700 - 2.890 km). A camada “D” (Figura 5) tem uma espessura calculada entre 200 e 300 km. Faz parte do manto inferior, acontecendo que descontinuidades sísmicas sugerem que a camada “D” pode diferir quimicamente do manto inferior. O núcleo constitui a zona central, essencialmente formado por ferro e níquel (Nife) e diferente da composição dos silicatos que o envolvem. Com base nas propriedades físicas, é possível distinguir duas zonas: núcleo interno, sólido, e núcleo externo, líquido. Apostila de Geologia 16 A análise comparada de séries de sismogramas de diferentes estações sismográficas permitiu, em 1913, ao alemão Beno Gutenberg calcular a profundidade da descontinuidade entre o manto e o núcleo externo - 2.900 km. Por este fato, a esta fronteira que assinala o início do núcleo, dá-se o nome de descontinuidade de Gutenberg (que corresponde ao limite da camada D). Situado sob a descontinuidade de Gutenberg, o núcleo, é constituído essencialmente por ferro e níquel, podendo conter algum silício e enxofre. Subdivide-se em núcleo externo (até 5.200 km; 30,8% da massa da Terra; profundidade de 2.890 - 5.150 km), supostamente líquido, como se deduz do comportamento das ondas sísmicas, e núcleo interno (1,7% da massa de Terra; profundidade de 5.150 - 6.370 km), considerado como estando no estado sólido. A descontinuidade de Lehmann separa os dois meios. Referências ASSUMPÇÃO, M.; DIAS NETO, C. M. Sismicidade e estrutura interna da Terra. In: TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. OZIMA, M. Geo-história: a evolução global da Terra. Brasília: Editora UNB, 1991. PRESS, F.; GROTZINGER, J; SILVER, R.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Editora Bookman, 2006. Leitura Complementar: ERNESTO, M.; MARQUES, L. S. Investigando o interior da Terra. In: TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. Exercícios de Fixação e Reflexão 01- Explique como a geofísica pode investigar o interior da Terra. 02 – Faça um resumo abordando a forma, a massa, o volume e a densidade média da Terra. 03 – Pesquise sobre as ondas P e S. 04 – Discorra sobre a composição básica e estrutura da Terra. 05 - Qual a influência do núcleo (interno e externo) e do manto na crosta? 06 – Pesquise sobre o campo gravimétrico e magnético da Terra. 07 – Porque a gravidade terrestre varia de latitude para latitude? Pesquise. Apostila de Geologia 17 AULA 04 – A EVOLUÇÃO DA TERRA 4. A EVOLUÇÃO DA TERRA Ao longo do Tempo Geológico, os continentes foram se formando, juntando e novamente se fragmentando (ciclo de Wilson). As primeiras áreas continentais originaram o continente UR, durante Arqueano. No Proterozóico inferior formaram-se algumas áreas continentais denominadas de Ártica, Báltica e Atlântica (Figura 7). No Proterozóico médio uniram-se a Ártica e a Báltica formando o continente Nena que por sua vez, no Proterozóico superior, se uniu à Atlântica e ao UR formando o Supercontinente Rodínia (o nome é originado do verbo russo e significa gerar ou crescer ou “Mãe- Pátria”), rodeado pelo oceano de Miróvia (russo “Paz”). Figura 7. Evolução dos principais supercontinentes ao longo da história da Terra (a). Os três principais supercontinentes do último bilhão de anos (Rodínia, Pannótia e Pangea). Fonte: Teixeira et al. (2009). Ainda neste período o Rodínia se fragmentou em três continentes: E-Gondwana (Gondwana Oriental), W-Gondwana (Atlântica e outras placas da África) e Laurásia (Kazakistão, N-China, S- China e outras placas que formavam a Ásia). Esse supercontinene originado da junção da Gondwana Oriental, Ocidental e da Laurásia foi denominado de Pannótia (grego “Tudo no Sul”). No Início do Paleozóico, no Cambriano, uniram-se E-Gondwana e W-Gondwana formando o continente Gondwana (Figura 7). No período Carbonífero os continentes Gondwana e Laurásia uniram-se e formaram o terceiro Supercontinente, o Pangea, rodeado pelo mar Pantalassa (grego “Todos os Mares”). No final do período Permiano, este Supercontinente iniciou nova fragmentação que se concretizou no período Triássico, resultando novamente em dois continentes: o Gondwana (Hemisfério Sul) e a Laurásia (Hemisferio Norte) e entre eles o mar de Thethys (na mitologia grega, a mais jovem das titânidas, Apostila de Geologia 18 filha de Urano e de Gaia. Personifica a fecundidade do mar. Casou-se com o irmão, Oceano, e tornou- se mãe de 3.000 ninfas, chamadas oceânidas, e de 3.000 rios). Ainda neste período o Gondwana se dividiu em 4 continentes, África-América do Sul, Austrália-Antártida, Índia e Madagascar. Durante o período Jurássico o continente Laurásia se dividiu e originou doisoutros continentes: América do Norte e Eurásia (Europa e Ásia), e entre estes se instalou o Atlântico Norte. No final deste período a América do Sul e a África começaram a se fragmentar e separam-se definitivamente no período Cretáceo. No período Terciário separou-se a Antártida da Austrália, a Índia chocou-se com a Ásia, formando a Cordilheira do Himalaia e a América do Sul ligou-se à América do Norte pelo Istmo do Panamá. Hoje, através de pesquisas científicas, modelagens e simulações, sabe-se que a dinâmica de junção e fragmentação dos continentes é algo cíclico. A figura 8 ilustra a provável “dança” das Placas Sul- Americana e Africana desde o Neoporoterozóico até o Permiano. Figura 8. Posições das massas continentais da América do Sul e África de 750 milhões de anos atrás. Fonte: Teixeira et al. (2009). Possivelmente todos os continentes irão se reunir, em um futuro longínquo, em uma única massa continental. Cientistas já falam no fim do oceano Atlântico e junção de placas contentais, daqui a 50 ou 100 milhões de anos. 4.1. Teoria da Deriva Continental Durante o século XX a ciência passou por um grande impulso de desenvolvimento principalmente como conseqüência do acentuado desenvolvimento de tecnologia que o caracterizou: a ida do Homem à Lua tornou possível observar a forma do planeta Terra, satélites possibilitam obter imagens a partir do espaço que mostram com perfeição a configuração dos continentes permitindo uma Apostila de Geologia 19 perfeita definição dessa, métodos radiométricos permitem datar a idade absoluta das rochas, métodos batimétricos e sondagem em alta profundidade permitem conhecer o fundo oceânico em sua forma, composição e variação de idade, dados sísmicos coletados em todos os pontos da superfície do planeta possibilitaram reconhecer as principais divisões internas do planeta. Esse acesso a uma infinidade de dados sobre os materiais que constituem a Terra foi um marco fundamental para o desenvolvimento da geologia contemporânea, levando ao desenvolvimento da grande teoria dinâmica da Terra: A Teoria da Tectônica de Placas. A teoria de que os continentes não estiveram sempre nas suas posições atuais, foi conjeturada muito antes do século vinte; este modelo foi sugerido, pela primeira vez, em 1596 por um fabricante holandês, Abraham Ortelius. Ortelius sugeriu de que as “Américas” foram rasgadas e afastadas da Europa e África por terremotos e inundações e acrescentou: “os vestígios da ruptura revelam-se, se alguém trouxer para a sua frente um mapa do mundo e observar com cuidado as costas dos três continentes”. A idéia de Ortelius foi retomada no século dezenove. Entretanto, só em 1912 é que a idéia do movimento lateral dos continentes foi seriamente considerada como uma teoria científica designada por Deriva dos Continentes, escrita em dois artigos publicados por um meteorologista alemão chamado Alfred Lothar Wegener. Ele argumentou que, há cerca de 200 milhões de anos, havia um supercontinente – Pangea – que começou a se fraturar (Figura 9). Alexander Du Toit, professor de Geologia na Universidade de Joanesburgo e um dos maiores defensores das idéias de Wegener, propôs que o Pangeia, primeiro, se dividiu em dois grandes continentes, a Laurásia no hemisfério norte e a Gondwana no hemisfério sul. Laurásia e Gondwana continuaram então a se fraturar ao longo dos tempos dando origem aos vários continentes que existem hoje. Figura 9. Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia a norte e Gondwana a sul, pelo Mar de Tethys. Fonte: Teixeira et al. (2009). A teoria de Wegener foi apoiada em parte por aquilo que lhe pareceu ser o ajuste notável dos continentes americanos e africanos do sul (evidência geográfica), argumento utilizado por Abraham Ortelius três séculos antes. Wegener também estava intrigado com as ocorrências de estruturas geológicas pouco comuns e dos fósseis de plantas e animais encontrados na América do Sul e África, Apostila de Geologia 20 que estão separados atualmente pelo Oceano Atlântico (evidências geológicas e paleontológicas). Deduziu que era fisicamente impossível para a maioria daqueles organismos ter nadado ou ter sido transportado através de um oceano tão vasto. Para ele, a presença de espécies fósseis idênticas ao longo das costas litorâneas da África e América do Sul era a evidência que faltava para demonstrar que, no passado, os dois continentes estiveram ligados. Segundo Wegener, a Deriva dos Continentes após a fraturação da Pangeia explicava não só as ocorrências fósseis, mas também as evidências de mudanças dramáticas do clima (evidências paleoclimáticas) em alguns continentes (Figura 10). Por exemplo, a descoberta de fósseis de plantas tropicais (na formação de depósitos de carvão) na Antártida conduziu à conclusão de que esse continente, atualmente coberto de gelo, já esteve situado perto do equador, com um clima temperado onde essa vegetação poderia desenvolver-se. Do mesmo modo que os fósseis característicos de fetos (Glossopteris) descobertos em regiões agora polares, e a ocorrência de depósitos glaciários em regiões áridas da África, tal como o Vaal River Valley na África do sul, foram importantes argumentos invocados em favor da teoria da Deriva dos Continentes. Figura 10. a) Distribuição atual das evidências geológicas de existência de geleiras há 300 Ma. As setas indicam a direção de movimento das geleiras. b) Simulação de como seria a distribuição das geleiras com os continentes juntos. Fonte: Teixeira et al. (2009). Apostila de Geologia 21 Apesar das evidências, a proposta de Wegener não foi tão bem recebida, pela comunidade científica, embora estivesse, em grande parte, de acordo com a informação científica disponível, naquele tempo. Uma fraqueza fatal na teoria de Wegener era o fato de não poder responder satisfatoriamente à pergunta mais importante levantada pelos seus críticos: Que tipo de força podia ser tão forte para mover enormes massas de rocha contínua ao longo de grandes distâncias? Wegener sugeriu que os continentes se separavam através do fundo do oceano, mas Harold Jeffreys, um geofísico inglês notável, contra-argumentou, de modo científico, que era fisicamente impossível para uma massa de rocha contínua tão grande separar-se através do fundo oceânico sem se fragmentar na totalidade. Entretanto, após a morte de Wegener, em 1930, novas evidências a partir da exploração dos fundos oceânicos, bem como outros estudos geológicos e geofísicos reacenderam o interesse pela teoria de Wegener, conduzindo finalmente ao seu desenvolvimento. A chave para explicar a dinâmica da Terra não estava nas rochas continentais, mas no fundo dos oceanos. 4.2. Tectônica de Placas A Teoria da Tectônica Global descreve o movimento das placas e as forças atuantes entre elas. Ela é uma das principais teorias da ciência geológica. A partir dela podemos entender diversos fenômenos que ocorrem em nosso planeta. Por ser uma teoria relativamente jovem a tectônica de placas pode ser considerada revolucionária e hoje não se compreende Geologia sem ela. Ela é a chave para a compreensão da história geológica da Terra e de como será o futuro do planeta. A palavra “tectônica” vem do radical grego tektoniké, que significa “arte de construir”. Na década de 1940, durante a segunda guerra mundial, devido às necessidades militares de localização de submarinos no fundo dos mares, foram desenvolvidos equipamentos, como os sonares, que permitiram traçar mapas detalhados do relevo do fundo oceânico. Surgiram cadeias de montanhas, fendas e fossas ou trincheiras muito profundas, mostrando um ambiente geologicamente muito mais ativo do que se esperava. No início dos anos de 1950, os cientistas, usando instrumentos de medida do magnetismo (magnetômetros), começaram a reconhecer variações magnéticas impares através do fundo dos oceanos. Esta descoberta,embora inesperada, não foi inteiramente surpreendente porque se sabia que o basalto, uma rocha vulcânica rica em ferro e que faz parte dos fundos dos oceanos, contêm um mineral fortemente magnético (magnetita) que pode localmente obrigar à distorção das leituras da bússola. Sabendo que a presença da magnetita dá ao basalto propriedades magnéticas mensuráveis, estas variações magnéticas, recentemente descobertas, forneceram novos meios para o estudo dos fundos dos oceanos profundos. Como, durante os anos das décadas de 1950 e 60, foram sendo traçados mais mapas das anomalias magnéticas dos fundos oceânicos, ficou provado que as variações magnéticas não eram aleatórias mas obedeciam a padrões determinados. Quando estes padrões magnéticos foram traçados sobre grandes regiões, o fundo do oceano apresentou um padrão do tipo “zebra” (Figura 11). As bandas alternadas de diferentes polaridades magnéticas estavam colocadas, do lado de fora, em faixas, de um e do outro lado da crista médio-oceânica (mesooceânica): uma faixa com polaridade normal e a faixa adjacente com polaridade invertida. O teste padrão total, definido por estas faixas alternadas de rocha magnetizada com polarização normal e inversa, tornou-se conhecido como o “listrado” magnético. Em 1961, os cientistas começaram a teorizar sobre a estrutura das zonas das dorsais da crista médio-oceânica onde o fundo oceânico era rasgado em dois, longitudinalmente, ao longo da crista. O magma novo, proveniente de grandes profundidades da terra, subia facilmente, ao longo destas zonas de fraqueza, e era expelido ao longo da crista, criando uma crosta oceânica nova. Este processo, Apostila de Geologia 22 operando durante muitos milhões de anos construiu o sistema de 50.000 km ao longo das cristas ou dorsais médio-oceânicos. Esta hipótese era suportada por diversas linhas da evidência: a) Junto à crista as rochas são muito novas, e tornam-se progressivamente mais velhas quando afastadas da crista, isso tanto ao longo de faixas de um lado quanto do outro, simetricamente (Figuras 11); b) A rocha, mais nova, junto à crista, tem sempre uma polaridade magnética (normal) atual; c) As “listras” das rochas paralelas e simétricas à crista alternam na polaridade magnética (normal- invertida-normal, etc.), sugerindo que o campo magnético da terra se inverteu muitas vezes. Figura 11. Ilustração das bandas invertidas de polaridades magnéticas no fundo do assoalho oceânico. Um modelo teórico da formação da banda de anomalias magnéticas (+ e -). A nova crosta oceânica que resulta da consolidação do magma que sai, de forma praticamente contínua, da crista médio-oceânica, esfria e torna-se cada vez mais velha enquanto se move (sentido dado pelas setas) afastando-se da crista médio-oceânica originando a expansão do fundo oceânico: 1. Início e formação da primeira banda mais antiga. 2- formação da banda seguinte de idade intermediária e afastamento da primeira banda e 3 – afastamento das duas primeiras bandas e formação da banda atual, mais nova. Fonte: Parizzi (2008). Esta interpretação trouxe subsídio a favor do conceito da expansão do assoalho oceânico postulado por Harry Hess da Universidade de Princeton (EUA) no início da década de 1960 (Figura 12), quando a atenção dos pesquisadores estava voltada para o estudo de bacias oceânicas. Apostila de Geologia 23 Figura 12. Distribuição das idades geocronológicas do fundo oceânico do Atlântico Norte, onde se observam as idades (em Ma) mais jovens próximas à dorsal meso-oceânica. Fonte: Teixeira et al. (2009). Com base nos dados geológicos e geofísicos disponíveis, este autor propunha que as estruturas do fundo oceânico estariam relacionadas a processos de convecção no interior do planeta (Figura 13). Figura 13. Esquema de correntes de convecção atuantes na dorsal meso-oceânica. Fonte: Teixeira et al. (2009). Tais processos seriam originados pelo alto fluxo calorífero emanado na dorsal meso-oceânica, que provocaria a ascensão de material do manto, devido ao aumento de temperatura que o tornaria menos denso, onde se encontra representada uma célula de convecção. De acordo com o modelo de Hess, este material ao atingir a superfície, se movimenta lateralmente e o fundo oceânico se afastaria da dorsal (Figura 14). A fenda existente na crista da dorsal não continua a crescer porque o espaço deixado Apostila de Geologia 24 pelo material que saiu para formar a nova crosta oceânica é preenchido por novas lavas, que, ao se solidificarem, formam um novo fundo oceânico. Figura 14. Modelos sugeridos para mecanismos de correntes de convecção. a - Correntes de convecção ocorrendo somente na astenosfera. b - Correntes de convecção envolvendo todo o manto. Fonte: Teixeira et al. (2009). A continuidade deste processo produziria, portanto a expansão do assoalho oceânico. A deriva continental e a expansão do fundo dos oceanos seriam assim uma conseqüência das correntes de convecção. Assim, em função da expansão dos fundos oceânicos, os continentes viajariam como passageiros, fixos em uma placa, como se estivessem em uma esteira rolante. Com a continuidade do processo de geração de crosta oceânica, em algum local deveria haver um consumo ou destruição desta crosta, caso contrário a Terra expandiria. A destruição da crosta oceânica mais antiga ocorreria nas chamadas Zonas de Subducção ou Fossas que seriam locais onde a crosta oceânica mais densa mergulharia para o interior da Terra até atingir condições de pressão e temperatura suficientes para sofrer fusão e ser incorporada novamente ao manto. A existência de uma “casca” rígida, a litosfera, diretamente assentada sobre uma camada de comportamento parcialmente fundida, capaz de fluir, a astenosfera, é característica fundamental que define os processos da dinâmica interna da Terra. A litosfera está segmentada em diversas placas (Figura 15), que podem conter crosta oceânica e continental. Os processos da dinâmica interna afetam toda a litosfera provocando movimentos horizontais das placas (Tectônica de Placas) e movimentos verticais (Isostáticos) no interior das mesmas. Apostila de Geologia 25 Figura 15. Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números representam as velocidades em cm/ano entre as placas, e as setas, os sentidos do movimento. Fonte: Teixeira et al. (2009). Há quatro tipos de limites de placa: a) Limites divergentes: onde a nova crosta é gerada, enquanto as placas são “empurradas” afastando-se (Figura 16). Figura 16. Fragmentação de uma massa continental e desenvolvimento de margens continentais passivas. Fonte: Teixeira et al. (2009). Apostila de Geologia 26 b) Limites convergentes: onde a crosta é destruída, enquanto uma placa “mergulha” sob outra (Figura 17). Figura 17. Processos colisionais envolvendo: a) crosta oceânica com crosta oceânica; b) crosta continental com crosta oceânica; c) crosta continental com crosta continental. Fonte: Teixeira et al. (2009). c) Limites transformantes (conservativos): onde a crosta nem está a ser produzida nem a ser destruída, enquanto as placas deslizam horizontalmente uma em relação à outra (Figura 18). Figura 18. Falha de Santo André. Fonte: Teixeira et al. (2009). d) Zonas dos limites entre placas: as largas bandas em que os limites entre placas não estão bem definidos, e os efeitos da interação das placas não são claros. Em princípio os interiores das placas são geologicamente calmos. Existem, contudo, algumas exceções. Por exemplo, uma observação a um mapa do oceano Pacífico revela muitas ilhas na placa Apostila de Geologia 27 pacífica, afastadas dos seus limites. Todas elas são ou foram vulcões, isto é, tiveram origem no vulcanismo do fundo do mar. As ilhas do Havaí são um exemplo típico, formando um arquipélago alinhado (Figura 19).Figura 19. Formação de ilhas vulcânicas a partir de Hot spots: a) O Hot Spot produz a primeira Ilha Vulcânica; b) com o movimento da placa e o Hot Spot fixo a Ilha Vulcânica 2 irá se formar em outro lugar; c) as ilhas 1 e 2 se deslocam e a ilha vulcânica 3 se forma; d) Arquipélago do Havaí formado por ação de Hot Spot desde 5,6 milhões de anos atrás. Fonte: Teixeira et al. (2009). A datação de lavas da cadeia havaiana (e outras) mostrou que as suas idades aumentam à medida que nos afastamos do vulcão atualmente ativo. Os limites divergentes ocorrem ao longo das placas que estão em movimento de separação (afastamento; divergente) e a nova crosta é criada pelo magma que se eleva do manto. A imagem, é a de duas “correias” gigantes transportadoras, semelhantes a tapetes rolantes, enfrentando-se, mas movendo-se, lentamente, em sentidos opostos transportando a crosta oceânica recentemente formada a partir da crista oceânica. Talvez, os limites divergentes melhor conhecidos sejam os da crista oceânica Médio-Atlântica (Meso-Atlântica). Esta gigantesca montanha submersa, estende-se desde o Oceano Ártico até ao extremo sul de África. (Figura 20). Apostila de Geologia 28 Figura 20. A dorsal Meso-Atlântica. Fonte: Press et al. (2006). A velocidade de expansão (afastamento) das placas ao longo da crista oceânica Médio-Atlântica é de aproximadamente 2,5 cm/ano, ou de 25 km num milhão de anos. Esta velocidade de expansão pode parecer lenta para os padrões humanos, mas porque este processo teve a sua origem há cerca de 200 milhões de anos, resultou num afastamento das placas da ordem dos milhares de quilômetros. A figura 21 mostra uma simulação do movimento (velocidade) de uma placa: Figura 21. Modelo de movimento de uma placa curva sobre uma superfície esférica. Notar que os pontos 1 e 2, na placa B, exibem diferentes velocidades, pois têm de percorrer diferentes distâncias no mesmo intervalo de tempo, tendo o ponto 2 uma velocidade maior do que o ponto 1. Fonte: Teixeira et al. (2009). Apostila de Geologia 29 A expansão do fundo oceânico ao longo dos 200 milhões de anos passados fez com que o Oceano Atlântico crescesse a partir de uma minúscula entrada de água, entre os continentes da Europa, África e das Américas, dando origem ao vasto oceano que hoje existe. A Islândia é um país vulcânico, que está sobre a dorsal Médio-Atlântica, oferecendo aos cientistas um laboratório natural para estudarem, em terra, os processos que ocorrem ao longo das partes submersas de uma crista médio- oceânica. A Islândia está se abrindo longo do seu centro, expandindo-se entre as placas Norte- Americana e Euro-Asiática, dado que a América do Norte está em movimento para Oeste relativamente à Euro-Ásia. Já anteriormente foi referido que o tamanho da terra não mudou significativamente durante os últimos 600 milhões de anos, e muito provavelmente logo após sua formação há 4,6 bilhões de anos. O tamanho da terra, praticamente constante desde a sua formação, implica que a crosta tem de ser destruída segundo uma velocidade mais ou menos idêntica à que está a ser criada. Tal destruição (reciclagem) da crosta ocorre ao longo dos limites convergentes das placas que se movem uma contra a outra. Uma placa afunda-se (subducção) sob a outra. A região onde uma placa mergulha por baixo de outra é chamada zona de subducção. O tipo de convergência - chamada por alguns uma “colisão muito lenta” - que ocorre entre placas depende do tipo de litosfera envolvido. A convergência pode ocorrer entre uma placa oceânica e uma continental, entre duas placas oceânicas, ou entre duas placas continentais. A zona entre duas placas que deslizam horizontalmente, uma em relação à outra, é chamada um limite de falha transformante, ou simplesmente um limite transformante. A maioria das falhas transformantes são encontrados no fundo oceânico. Deslocam, geralmente, as dorsais ativas (em expansão), originando margens da placa em “zig-zag”. Aqui, têm origem, geralmente, os tremores de terra de baixa profundidade, também designados sismos rasos. Algumas falhas transformantes ocorrem nos continentes, por exemplo, a zona de falha de Santo André (San Andreas) na Califórnia e a falha Alpina na Nova Zelândia. Nem todos os limites das placas são tão simples quanto os tipos principais discutidos acima. Em algumas regiões da terra, os limites não estão bem definidos porque a deformação da placa em movimento que ali ocorre estende-se sobre uma larga região (chamada uma zona do limite entre placas). Uma destas zonas marca a região Mediterrânica-Alpina entre as placas Euro-Asiática e Africana, na qual diversos fragmentos menores das placas (microplacas) foram reconhecidos. Porque as zonas dos limites entre placas, envolvem pelo menos duas grandes placas e uma ou mais microplacas, tendem a ter estruturas complicadas. A Tectônica de Placas provou ser tão importante para as ciências de terra como a descoberta da estrutura do átomo foi para a Física e Química, assim como a Teoria da Evolução foi para as Ciências da Vida. Embora, atualmente, a teoria da Tectônica de Placas seja aceita pela comunidade científica, existem várias vertentes da teoria que continuam a serem debatidas. Referências TASSINARI, C. G. Tectônica Global. In: TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. PRESS, F.; GROTZINGER, J; SILVER, R.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Editora Bookman, 2006. SALGADO-LABOURIAU, M. L. História ecológica da Terra. 2. ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher, 1994. Apostila de Geologia 30 Leitura Complementar: CELINO, J. J. et al. Da Deriva dos Continentes a Teoria da Tectônica de Placas: uma abordagem epistemológica da construção do conhecimento geológico, suas contribuições e importância didática. Geo.br, n. 1, p. 1-23, 2003. Exercícios de Fixação e Reflexão 01 – O que é o Ciclo de Wilson? 02 – Comente sobre a formação dos três grandes supercontinentes gerados ao longo da história geológica da Terra: Rodínia, Pannótia e Pangea. 03 – O que diz a Teoria da Deriva Continental? Quem foi seu principal autor? Baseando em que evidências essa teoria foi elaborada? 04 – Que questionamento primordial a Teoria da Deriva dos Continentes não conseguiu responder satisfatoriamente? 05 – O que a explica ou descreve a Teoria da Tectônica de Placas? 06 – Por que se acredita que o assoalho oceânico encontra-se em expansão? 07 – Qual foi a contribuição do Paleomagnetismo para a estruturação da Teoria da Tectônica de Placas? 08 – Qual a importância da figura de Harry Hess para a consolidação da Teoria da Tectônica Global? O que vem a ser processos de convecção do magma? 09 – Comente sobre os limites ou movimentos convergentes, divergentes e conservativos (transformantes), apontando uma conseqüência direta de cada um deles. 10 – Por que a velocidade de deslocamento das placas pode ser considerada relativa? Apostila de Geologia 31 Parte II 5 - M I NE RA IS E R O CH AS 5.1– Introdução Como parte fundamental para estudo e exploração do solos tem-se necessariamente que acumular conhecimentos a respeito de seus materiais de origem. Fica então a pergunta, quais são os materiais de origem dos solos? Consideramos como materiais de origem dos solos: a) Rocha no estado íntegro ( sem alteração ); b) Produtos de alteração de rochas "in situ"; c) Produtos (sedimentos) inconsolidados transportados e depositados. Todos esses materiais de origem dos solos são constituídos, na sua grande maioria, por minerais. Dessa forma tem-se que primeiro, estudar e conhecer os principais minerais que formam os materiais de origem dos solos e em seguida, caracterizar esses materiais para depois identificar e interpretaros fenômenos de transformação desses produtos em solos. Com isto conclui-se que o primeiro passo é estudar Mineralogia e Petrologia e dentro deste contexto o primeiro problema que aparece é o de distinguir Mineral de Rocha. 5.2- Distinção entre Mineral e Rocha A condição necessária para conseguir a distinção entre Mineral e Rocha é ter o conhecimento dos conceitos que os definem. Tanto mineral como rocha são corpos naturais que constituem a Litosfera. Várias são as definições de minerais e rochas. Apresenta-se abaixo as de uso mais corrente: Espécie Mineral: É um sólido homogêneo, de ocorrência natural, geralmente inorgânico, com composição química definida e uma estrutura cristalina (arranjo ordenado de cátions e ânions). Ex.: Hematita (-Fe203), Calcita (CaCO3), Diamante (C). Mineralóide ou substâncias "amorfas": São substâncias inorgânicas que nãoapresentam um arranjo interno ordenado. Ex.: Vidro vulcânico Rocha : É um agregado natural, coerente, multigranular de uma ou mais espécies minerais. Podendo conter ainda, matéria orgânica e matéria vítrea. Ex.: Rocha Constituintes Principais Granito Quartzo, Feldspatos, Micas Calcário Calcita e Dolomita Arenito Quartzo Após esses conceitos, e utilizando-se dos critérios relacionados a seguir, é possível, após o exame de uma amostra, dizer se é um mineral ou uma rocha. Apostila de Geologia 32 A - Forma Externa: os minerais podem ocorrer espontaneamente com forma externa de cristais, devido apresentar uma estrutura cristalina definida. Podem exibir faces planas e regulares que no conjunto, podem formar poliédros (cubos, hexágonos, prismas, etc), embora isso não seja obrigatório. Uma rocha normalmente não apresenta forma poliédrica natural. a1) Apresentando forma poliédrica, mesmo que imperfeita, trata-se de um mineral ( Figura 1). a2) Não apresentando nenhuma face plana e regular, pode ser mineral ou rocha. B) Matéria Orgânica. Definindo mineral como uma substância inorgânica, toda amostra que contiver matéria orgânica como constituinte, será considerada uma rocha. Geralmente, a matéria orgânica é reconhecida por apresentar cor escura, odor característico, ao friccionar suja os dedos e em contato com fogo torna-se combustível. C) Número de Constituintes. Trata-se de uma avaliação do número de componentes da amostra (mineral, matéria orgânica, matéria vítrea). Em geral os diferentes constituintes são reconhecidos por apresentar propriedades distintas, como por exemplo cor, brilho, etc. c1) Se amostra apresentar mais de um constituinte, ela é uma rocha (Figura 2A). Entretanto, é possível na natureza, que alguns minerais apresentem impurezas disseminadas em seus cristais, como ilustrado nas Figuras 2B e 2C. c2) Se a amostra contiver apenas um constituinte, pode ser mineral ou rocha. Neste caso segue-se a análise e utiliza-se o critério da homogeneidade. D) Homogeneidade. Se a amostra for constituída por partículas distintas, a luz incidente sobre ela será refletida com diferentes orientações. Neste caso tem-se uma rocha Figura 1. Formas poliédricas de minerais Figura 2. Distinção entre mineral e rocha em função do número de constituintes. (A) material com mais de um constituinte → rocha; (B) material com dois constituintes, um deles considerado impureza → mineral; (C) material com várias partículas disseminadas, inclusões de um mineral em outro → mineral Apostila de Geologia 33 (Figura 3A). Se for constituído de uma única parte, toda amostra é um único indivíduo, não sendo possível reconhecer diferentes reflexões da luz nas partículas, têm-se um mineral ( Figura 3B). Evidentemente que os critérios apresentam limitações e alguns cuidados devem ser tomados no reconhecimento macroscópico de minerais e rochas. O tamanho dos constituintes pode ser fator limitante na identificação uma vez que estes podem ser muito pequenos (microscópicos) não sendo possível identificá-los a olho nu. Outros cuidados referem-se aos geodos e grupamentos cristalinos existentes nas rochas. Pode-se retirar (amostrar) uma parte de uma rocha no espaço de um geodo ou de um grupamento de cristais. Como exemplo, cita-se a retirada de uma porção de rocha no espaço de um geodo de um basalto vesicular (Figura 4A), ou a concentração de feldspatos ou micas de um granito, (Figura 4B). As amostras retiradas são grupamentos naturais de minerais que se formaram quando da consolidação da rocha, no caso do granito, ou após sua consolidação, no caso dos basaltos, não constituindo uma nova rocha. Os métodos macroscópicos de identificação de minerais e rochas citados, podem ser utilizados para a maior parte dos minerais e rochas de interesse agronômico. Entretanto, algumas vezes estes métodos podem ser insuficientes e devem ser utilizadas técnicas complementares de laboratório como por exemplo, difratometria de raios-X, microscopia óptica e eletrônica, análises químicas e etc., para solucionar o problema. Figura 4. (A) basalto vesicular mostrando geodo preenchido por cristais de quartzo; (B) granito mostrando acúmulo de micas. Figura 3. Distinção entre mineral e rocha em função da homogeneidade. (A) material constituído por partículas distintas, com diferentes orientações e posições de reflexões de luz → rocha; (B) material constituído de uma única parte, não sendo possível reconhecer diferentes reflexões da luz nas partículas → mineral. Apostila de Geologia 34 6-PR O P RI ED AD ES M A CR OS CÓ PI CA S DE M I N E RA I S 6.1. BRILHO – O brilho de um mineral é a capacidade de reflexão da luz incidente sobre sua superfície. O brilho de um mineral pode ser dividido em: METÁLICO – brilho semelhante a um metal. Ex.: pirita, hematita; NÃO METÁLICO – outros tipos de brilhos observados nos minerais. Exemplos: vítreo – brilho semelhante ao vidro. Ex.: quartzo (hialino, ametista, fumê, etc); sedoso – brilho semelhante a seda. Ex.: gipso resinoso – brilho semelhante a resina. Ex.: enxofre perláceo – brilho semelhante a pérola. Ex.: talco lamelar e granular micáceo – brilho intenso das superfícies das "placas" ou "escamas" dos minerais micáceos. Ex.: muscovita, biotita e lepdolita 6.2 DUREZA - A dureza (D) de um mineral é a resistência que sua superfície oferece ao ser riscada. Será adotada a escala de dureza de MOHS, estabelecida em 1824, na qual dez minerais comuns são ordenados em relação a resistência que oferecem ao risco (Figura 5). A escala de Mohs não é linear. Por exemplo, o diamante é cerca de 40 vezes mais duro que o talco, enquanto o coríndon que está logo abaixo do diamante (dureza 9), é da ordem de 9 vezes mais duro que o talco. A escala de Mohs é adimensional. Diz-se que o mineral tem dureza 5 ou 3, por exemplo, na escala de Mohs. Para utilizar a escala de Mohs toma-se com limites a dureza da unha (aproximadamente 2,8 - 2,9) e de uma lâmina de canivete (canivetes comuns da ordem de 5,5). Desta forma tem-se: DUREZA BAIXA: minerais riscados pela unha. (minerais de dureza 1 e 2); DUREZA MÉDIA: minerais não riscados pela unha, mas riscados pelo canivete (minerais com dureza até 5 – 5,5); Figura 5. Escala de Mohs utilizada para avaliação da dureza de um mineral. Apostila de Geologia 35 DUREZA ALTA: não riscado pelo canivete. A partir da escala de Mohs tem-se que: 1- O mineral de maior dureza risca o de menor dureza; 2- O mineral de menor dureza é riscado pelo de maior dureza; 3- Minerais de igual dureza ou muito próximas não se riscam. Entretanto, quando fortemente atritados podem (não necessariamente) se riscar. 6.3. CLIVAGEM - É a propriedade que apresentam muitos minerais de romperem com maior facilidade segundo determinados planos. Todo plano de clivagem é paralelo a uma face do cristal ou a uma face possível do cristal. A clivagem pode ser obtidapor simples pressão ou por choque mecânico mais forte. Os minerais podem apresentar superfícies de clivagem em: a) 3 direções (Figura 6A) - Ex.: calcita, galena b) 2 direções (Figura 6B) - Ex.: feldspato c) 1 direção (Figura 6C) - Ex.: micas, talco d) ausente - Ex.: quartzo, turmalina. 6.4 FRATURA - É o tipo da superfície não plana apresentada por um mineral, após o mesmo ter sido submetido a um choque mecânico. A fratura pode ser: a) CONCHOIDAL - quando o mineral apresenta superfície em forma de concha profunda (Figura 7) - Ex.: quartzo. b) SUB-CONCHOIDAL - quando o mineral apresenta superfície em forma de concha, mas pouco profunda – Ex.: aragonita. c) IRREGULAR - sem forma definida – Ex.: turmalina. Figura 6. Diferentes tipos de clivagem dos minerais. (A) clivagem em 3 direções; (B) clivagem em 2 direções; (C) clivagem em 1 direção Apostila de Geologia 36 Figura 7. Exemplo de fratura conchoidal 6.5 HÁBITO - É a forma externa mais freqüente de ocorrência de um mineral. O hábito depende da forma e velocidade de crescimento do mineral que por sua vez são influenciadas pela temperatura, pressão, impurezas, etc. Pode-se concluir que um mesmo mineral, em condições genéticas distintas, pode apresentar hábitos diferentes. O hábito nem sempre é uma propriedade que diferencia um mineral do outro, mas sem dúvida é de grande importância. A seguir serão apresentados alguns hábitos comuns observados nos minerais. O hábito de um mineral pode ser observado em um cristal isolado ou em agregados de minerais. Quando o mineral apresenta cristais isolados, considera-se as seguintes formas: A) Tabular - devido ao maior desenvolvimento de duas faces paralelas (Figura 8A). Ex.: barita B) Prismático - devido ao maior desenvolvimento do cristal segundo uma direção (Figura 8B). Ex.: quartzo C) Piramidal - devido ao maior desenvolvimento das faces que formam pirâmides. Pode ser também bipiramidal (Figura 8C). Ex.: zirconita D) Acicular cristais finos, como agulhas (Figura 8D). Ex.: actinolita Quando o mineral não ocorre em cristais bem individualizados, pode assumir as mais variadas formas, das quais citam-se: E) Granular - massa ou agregado constituído por grânulos: elementos cristalinos pequenos e irregulares (Figura 8E). Ex.: olivina, enxôfre F) Maciço - massas homogêneas cristalinidade aparente, isto é, situação em que a individualização dos constituintes não pode ser feita a olho nu (Figura 8F). Ex.: calcedônia G) Fibroso - massas aciculares finíssimas, onde não é possível distinguir formas geométricas nos indivíduos isolados (Figura 8G). Ex.: asbestos H) Estalactítico - em forma de concreções mais ou menos cônicas (Figura 8H). Ex.: calcita I) Lamelar ou Placóide - quando o material é constituído por um conjunto de lamelas ou placas empacotadas (Figura 8I). Ex.: talco, muscovita, sericita, lepdolita J) Escamoso - quando o material é constituído por um conjunto de cristais empacotadas em forma de pequenas escamas. Diferencia do placóide pelo tamanho reduzido (Figura 8J). Ex.: biotita, fucksita K) Concrecionário - na forma de concreções, isto é, agregados mais ou menos estáveis, de forma arredondada e alongada constituídos de material cristalino e/ou amorfo (Figura 8K). Ex.: concreções de hematita, goethita Apostila de Geologia 37 6.6 COR - A cor do mineral é um caráter importante em sua determinação. A cor de uma substância depende do comprimento de onda da luz que ela absorve. Por exemplo, um mineral que apresenta cor verde absorve todos os comprimentos de onda do espectro exceto aquele associado ao verde. Alguns autores consideram como fundamentais as seguintes cores dos minerais: branco, cinza, preto, azul, verde, amarelo, vermelho e castanho. Deve-se assinalar, entretanto, que podem ocorrer minerais das mais diversas tonalidades. As cores dos minerais, especialmente dos que apresentam brilho metálico, devem ser observadas na fratura fresca. Em geral a superfície exposta ao ar pode apresentar películas de alteração. Os minerais de brilho não metálico podem ser divididos em: Figura 8. Diferentes tipos de hábito/formas apresentados pelos minerais Apostila de Geologia 38 IDIOCROMÁTICOS – são aqueles que apresentam sempre a mesma cor dentro da espécie mineral, cor constante que depende da composição química. Ex.: enxofre (amarelo), malaquita (verde), azurita (azul), etc. ALOCROMÁTICOS – são aqueles que apresentam cor variável dentro da mesma espécie mineral em função da presença de impurezas na estrutura cristalina ou por causas de natureza física (ex.: aumento de temperatura, radiação, etc). Estes minerais são incolores quando puros. Alguns exemplos são: - FLUORITA - incolor, amarela, rósea, verde ou violeta - TURMALINA - incolor (acroíta), rósea (rubelita), verde (esmeralda brasileira), azul (indicolita) e preta (afrisita) - BERILO - incolor, verde (esmeralda), azul-esverdeado ou azul água marinha, amarelo (heliodoro). - QUARTZO - incolor (cristal de rocha, hialino); amarelo (quartzo citrino), róseo (quartzo róseo), verde (quartzo prase), violeta (quartzo ametista). A cor é uma propriedade física importante na determinação dos minerais, mas nem sempre é constante. Desta forma, deve-se utilizar esta propriedade com cuidado. 6.7 TRAÇO – A cor do pó fino de um mineral é designada de traço. Enquanto as cores dos minerais podem ser muito variáveis, as cores dos traços são normalmente constantes. O traço é obtido riscando-se com o mineral uma placa de porcelana não polida. Exemplos de diferentes cores de traços produzidos por minerais são apresentados na Figura 9. Figura 9. Exemplos de diferentes cores de traços produzidos por minerais. 6.8 DENSIDADE - Densidade é o número que expressa a proporção entre o peso do mineral e o peso de um igual volume de água a 4º C. Alguns minerais muito semelhantes em outras propriedades macroscópicas, podem possuir densidades bem diferentes. Exemplos: DOLOMITA CaMg (CO3)2, com uma densidade 2,85, pode ser distinguida de BARITA, BaSO4, de densidade 4,5. A densidade é determinada por meio de aparelhos especiais como a balança de Jolly, picnômetro, etc. 6.9 SOLUBILIDADE - A solubilidade dos minerais pode ser considerada em relação a diversos ácidos, tais como HCl, HNO3, H2SO4 e HF. Para os minerais mais comuns e de maior interesse do curso a utilização do HCl diluído é o suficiente. Utilizando-se HCl diluído é possível separar os minerais em: A - INSOLÚVEIS – aqueles que não reagem com HCl. Ex. quartzo, turmalina Apostila de Geologia 39 B - POUCO SOLÚVEIS – aqueles que só se solubilizam com HCl aquecido ou quando pulverizados. Ex.: dolomita C - SOLÚVEIS – aqueles que se solubilizam em condições normais, podendo ser acompanhado por desprendimento de gás carbônico (efervescência) (CaCO3 + 2HCl → CaCl2 + H2O + CO2). Ex.: calcita, aragonita 6.10 OUTRAS PROPRIEDADES – Existem outras propriedades específicas de alguns minerais como por exemplo estrias, untuosidade ao tato, avidez pela água, odor característico, plasticidade, magnetismo, etc. É importante ressaltar que as propriedades citadas são úteis na identificação dos principais minerais. Entretanto, como mencionado anteriormente, em alguns casos pode haver necessidade de técnicas mais apuradas na identificação dos minerais. Nos quadros abaixo tem-se relacionado os nomes dos principais minerais formadores de rochas de interesse para o curso e suas propriedades macroscópicas mais importantes. 2.11 QUADRO AUXILIAR PARA IDENTIFICAÇÃO DE MINERAIS DE BRILHO METÁLICO MINERAIS DE BRILHO METÁLICO Cor Dureza Clivagem / Fratura Hábito (comuns) Traço Solubilida -de em HCl diluído Outras propriedades / Observações Nome do
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