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PROVA ORAL MAGISTRATURA FEDERAL – TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO
PONTO 3
Conteúdo
CONSTITUCIONAL. Controle de Constitucionalidade. Sistemas. Controle Jurisdicional. Efeitos. Meio Ambiente. Família, Criança, Adolescente, Jovem e Idoso, índios. - Redução de 73 fls para 30.	2
Tributário: Discriminação Constitucional de Competências Tributárias. Repartição de Receitas. Infrações e Sanções Tributárias. Conceito e Natureza Jurídica do ilícito Tributário e dos Crimes Tributários. Denúncia Espontânea.	31
ADMINISTRATIVO - Poderes Administrativos. Vinculado. Discricionário. Hierárquico. Disciplinar. Regulamentar. Poder de Polícia. Competência Administrativa. Avocação e Delegação. Agente de Fato. Bens Públicos. Classificação. Regime jurídico. Alienação. Uso e Exploração. Monopólio Estatal. Regime Jurídico das Águas e dos Minerais. Domínio Público Aéreo e Terrestre. (PONTO 3)	41
PENAL: Teoria geral do crime: conceito; objeto; sujeitos; conduta; tipicidade; culpabilidade. Bem jurídico. Tempo e lugar do crime. Punibilidade. Erro. Concurso de crimes e crime continuado. Crimes contra a organização do trabalho (Código Penal). Crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (Código Penal). Crimes contra os costumes (Código Penal). Crime de corrupção de menores. Crimes contra a criança e o adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990). Crimes contra a família (Código Penal). ESTATUTO DO IDOSO. Crimes de produção, uso e tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.	87
PREVIDENCIÁRIO: Seguridade Social. Saúde, Previdência e Assistência. Distinções.	130
CIVIL - Pessoa Natural. Personalidade e Capacidade. Direitos da Personalidade. Tutela. Curatela. Ausência. Direitos reais: Usucapião. Acessão. Direitos Reais sobre coisas alheias.	135
COMERCIAL: Regime Jurídico do Estabelecimento Empresarial e do Nome Empresarial. Prepostos do Empresário. Escrituração Contábil.	178
CONSUMIDOR. Elementos Integrantes da Relação Jurídica de Consumo. Sujeitos: Conceitos de Consumidor e de Fornecedor. Objetos: Conceito de Produto e de Serviço. Vínculo: Conceito de Oferta e de Mercado de Consumo.	194
INTERNACIONAL PÚBLICO: A competência da justiça federal para questões decorrentes de tratados.	208
INTERNACIONAL PRIVADO - Cooperação jurídica internacional. Modalidades, tendências e instrumentos incluindo as cartas rogatórias e homologação de sentenças estrangeiras. Legislação sobre cartas rogatórias e sentenças estrangeiras. Cooperação direta.	212
PROCESSO CIVIL: Jurisdição. Conceito. Características. Natureza Jurídica. Princípios. Limites. Competência. Critérios Determinadores. Competência Internacional c Interna. Competência Absoluta e Relativa. Modificações. Meios de Declaração de Incompetência. Conflitos de Competência. Perpetuação da Jurisdição. Competência da Justiça Federal e dos Juizados Especiais Federais. Ação de Prestação de Contas. Ações Possessórias. Desapropriação. Ação Discriminatória.	227
PROCESSO PENAL: Jurisdição e competência. Questões e processos incidentes: prejudiciais; cxceções; incompatibilidades e impedimentos; incidente de falsidade e incidente de insanidade mental. Conflito de competência.	248
AMBIENTAL: Normas constitucionais relativas à proteção ambiental. Efetivação da proteção normativa ao meio ambiente: Poder Judiciário, Ministério Público e Administração Pública.	316
DIREITOS HUMANOS. Classificação DOS DIREITOS HUMANOS.	325
ECONÔMICO - A propriedade na ordem econômica. Fusão, incorporação, integração e outras formas de concentração de empresas. Limites. Requisitos.	330
Princípios Institucionais da Magistratura: Da disciplina judiciária.	347
CONSTITUCIONAL. Controle de Constitucionalidade. Sistemas. Controle Jurisdicional. Efeitos. Meio Ambiente. Família, Criança, Adolescente, Jovem e Idoso, índios. - Redução de 73 fls para 30.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Conceito: é mecanismo de controle da adequação dos atos infraconstitucionais à Constituição.
Pressupostos para o Controle:
(i) Constituição rígida - processo de alteração mais dificultoso;
(ii) Competência para resolver problemas de constitucionalidade atribuídas a um órgão – STF;
(iii) Supremacia da Constituição – norma que se sobrepõe às demais, no ápice da pirâmide.
ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE.
Inconstitucionalidade pode se dar por ação (edição de atos incompatíveis) ou por omissão (Síndrome da Inefetividade das Normas Constitucionais: Legislador se queda inerte).
- Omissão pressupõe um dever constitucional de legislar. Ela pode ser total (não há lei sobre o tema - ex.: art. 37, VII, da CF), parcial propriamente dita (legislação sobre tema é deficiente, do ponto de vista abstrato - ex.: art. 7º, , da CF) ou parcial relativa (lei não abrangeu todos os setores da sociedade que deveria ter abrangido, caso em que abrangida a hipótese da súmula 339 do STF: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia”).
- Inconstitucionalidade por ação é nomodinâmica (vício formal na dinâmica da edição do ato), nomoestática (vício material de incompatilidade entre conteúdo da norma e conteúdo da CF) ou – categoria defendida por Pedro Lenza – pode haver vício de decoro parlamentar (venda de votos para aprovação de lei macula a representatividade e a essência do voto).
 TIPOS DE VÍCIO FORMAL:
(i) inconstitucionalidade formal orgânica - é a inobservância da competência para legislar – ex.: Estado edita lei sobre matéria de competência da União;
(ii) inconstitucionalidade formal por violação dos pressupostos objetivos do ato, que se dá pela inobservância de elementos que não integram o devido processo legislativo, mas servem para firmar a competência legislativa – ex.: criação de Municípios sem observância do período definido em lei federal ou sem consulta plebiscitária prévia;
(iii) inconstitucionalidade procedimental por vício subjetivo, que é a inobservância de iniciativa para propositura de projeto de lei, ou por vício objetivo, que abarca outros vícios procedimentais, como a inobservância do bicameralismo ou do quórum mínimo.
INCONSTITUCIONALIDADE TOTAL E PARCIAL. Em regra, a declaração de inconstitucionalidade acarreta a pronúncia total de nulidade da norma. Admite-se, todavia, o princípio da parcelaridade, segundo o qual o órgão de controle de constitucionalidade pode suprimir seletivamente uma palavra ou expressão num dispositivo. Observe-se que, no veto presidencial, o art. 66, §2º, da CF determina a aplicação do princípio da não parcelaridade (Presidente não pode fazer supressão de apenas parte do dispositivo legal).
INCONSTITUC. CHAPADA, ENLOUQUECIDA ou DESVAIRADA. É aquela que é clara, evidente.
ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL. O Princípio da Vedação ao Atalhamento Constitucional tem por finalidade vedar qualquer mecanismo ou artifício que busque abrandar, suavizar, abreviar, dificultar ou impedir a ampla produção de efeitos das normas constitucionais. O exemplo mais debatido foi o da EC 52/06 que tentou acabar com a obrigatoriedade da verticalização das coligações partidárias em razão do caráter nacional dos partidos, trazendo dispositivo que violava o princípio da anualidade aplicável à vigência de leis que alterem o processo eleitoral. O STF reconheceu a tentativa de atalhamento constitucional pela medida e declarou a inconstitucionalidade da EC para a aplicação nas eleições no prazo de até 1 ano de sua promulgação.
INCONSTITUCIONALIDADE DIRETA E OBLÍQUA. A diferença está na existência de norma de interposição, no escalonamento de normas do ordenamento jurídico, entre o ato inconstitucional e a Constituição. Na inconstitucionalidade direta, não há norma interposta; há apenas ato normativo materialmente primário (que extrai sua validade diretamente da CF). Na oblíqua, há ato normativo materialmente secundário, existindo lei entre esse ato e a CF.
ARRASTAMENTO CONSTITUCIONAL. = Inconstitucionalidade consequente. STF não admite o controle de inconstitucionalidade oblíqua (ADI sobre decreto regulamentar), pois questão se resolveno controle de legalidade. Contudo, STF reconhece o arrastamento. Se é proposta ADI sobre o art. X da lei Y, há arrastamento vertical de decreto que regulamente o art. X (como consequência lógica, há a declaração de nulidade total em virtude de uma dependência unilateral). Há arrastamento horizontal quando a Corte reconhece a inconstitucionalidade de um ou alguns artigos da lei intimamente vinculados ao objeto do controle de constitucionalidade. Nesse caso, há declaração de nulidade total em virtude de dependência recíproca. Contaminação da nulidade pode ser reconhecida dentro do mesmo processo ou em processo posterior.
LEI AINDA CONSTITUCIONAL. Alerta-se que uma lei pode vir a se revelar incompatível com a Constituição após a modificação de circunstâncias fáticas. Ex.: prazo em dobro para Defensoria em processos penais. Quando as defensorias estiverem equipadas, haverá quebra da isonomia. Essa técnica decisória às vezes é conjugada com o Apelo ao Legislador, muito usado pela Corte alemã para instar o Legislativo a elaborar uma lei mais compatível com a CF, ante a possibilidade de modificação de entendimento da Corte quanto à constitucionalidade da lei existente.
INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL. A lei é constitucional, mas sua incidência pode se revelar contrária à CF em algumas circunstâncias. E.g. ADI 223 (discussão da norma que proíbe tutela antecipada contra a fazenda pública).
HISTÓRICO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
CF 1824 – Não previa forma de controle, senão pelo Poder Moderador. Vigorava dogma da soberania do Parlamento.
CF 1891 – Prevê pela primeira vez o controle de constitucionalidade difuso na via incidental.
CF 1934 – Manteve controle difuso. Inovou ao criar a ADI interventiva, a cláusula de reserva de plenário e a atribuição do Senado Federal de competência para suspender a execução, no todo ou em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional por decisão definitiva (forma de compensar a inexistência do stare decisis no direito constitucional brasileiro).
CF 1937 – Previu a possibilidade de o Presidente, em casos em que envolver o bem-estar do povo ou a promoção ou a defesa de interesse nacional de alta monta, submeter a decisão que declarar a inconstitucionalidade de determinada lei ao reexame pelo Parlamento, que, por sua vez, pela decisão de 2/3 dos membros de cada uma das Casas, poderia tornar sem efeito a referida declaração proferida pelo Tribunal, confirmando, assim, a validade da lei.
CF 1946 - Manteve o controle difuso de constitucionalidade. A EC 16/65 previu, pela primeira vez no Brasil, o controle concentrado, exercido pela representação inconstitucionalidade (ADI), de competência originária do STF, proposta, exclusivamente, pelo Procurador-Geral da República. Estabeleceu, também, a possibilidade de controle concentrado no âmbito estadual.
CF 1967 – O controle concentrado em âmbito estadual não mais foi previsto nesta Constituição, contudo, a EC nº1/69 criou controle de leis municipais ao prever a ADI para intervenção estadual.
INOVAÇÕES A PARTIR DE 1988
	- Redação originária da CF88: (i) amplicação do rol dos legitimados para propositura de ADI; (ii) criação do controle de inconstitucionalidade por omissão na via da ADI por omissão e do Mandado de Injunção; (iii) permitiu a Representação Estadual por Inconstitucionalidade, vedando a atribuição de legitimção a um único órgão; (iv) previu a criação da ADPF.
	- EC 03/93: estabeleceu a ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade.
	- EC 45/04: (a) igualou a legitimação ativa para o ajuizamento da ADC à da ADI, bem como (b) estendeu o efeito vinculante, previsto expressamente para a ADC, para a ADI. Aliás, segundo Lenza, caminha-se para a consagração da idéia de efeito dúplice ou ambivalente entre essas duas ações, faltando somente a igualação de seus objetos, já que a ADI cabe para lei ou ato normativo federal ou estadual, enquanto a ADC somente para federal.
SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Os Sistemas de Controle adotados pelos Estados podem ser:
(i) Político – controle é exercido por um órgão de natureza política, distinto dos três poderes, que tem como função garantir a supremacia da Constituição.
(II) Jurídico - Controle jurisdicional é exercido pelo Judiciário (seja por controle concentrado , seja por controle difuso). Brasil adotou controle jurisdicional misto (abstrato e difuso juntos).
(III) MISTO - Controle misto: É uma mistura dos dois sistemas, no qual algumas normas são levadas a controle perante órgão distinto dos três poderes (controle político), e outras, a apreciação do Poder Judiciário (controle jurisdicional).
Modelos de Controle de Constitucionalidade. Confiram-se as diferenças:
	MODELO AUSTRIACO (Hans Kelsen)
	MODELO NORTE-AMERICANO
	Portugal e Itália se filiaram a esse modelo.
	O Brasil se filiou a este modelo.
	Controle fica a cargo de corte política com integrantes investidos em mandato.
Juízes não têm competência para o controle, devendo, se for o caso, suspender o feito e provocar a Corte.
	Entende-se que existe competência do Poder Judiciário para o controle (Suprema Corte. Caso Marshall vs. Madison).
	Decisão tem eficácia CONSTITUTIVA (constitutiva-negativa)
	Decisão tem eficácia DECLARATÓRIA de situação preexistente
	Em regra, o vício é aferido no plano da EFICÁCIA
	Em regra, o vício é aferido no plano da VALIDADE
	Em regra efeitos EX NUNC
	Em regra efeitos EX TUNC
	A lei inconstitucional é ato ANULÁVEL
	A lei inconstitucional é ato NULO
	Lei provisoriamente válida
	Invalidação AB INITIO
	O reconhecimento da ineficácia da lei produz efeitos a partir da decisão (ex nunc) e erga omnes, respeitados os efeitos da lei produzidos até a decisão
	A lei nasce morta, nunca chegando a produzir efeitos, apesar de existir, não chegou ao plano da eficácia
Obs: em ambos os sistemas houve atenuação dos efeitos das decisões, sendo que o sistema austríaco passou a possibilitar a retroação da decisão em determinados casos, assim como o sistema norte-americano passou a prever a modulação de efeitos (caso Mapp x Ohio).
O Brasil adota o sistema norte-americano, com possibilidade de modulação de efeitos – art. 27, da Lei 9868.
No Brasil prevalece a ideia de que a decisão sobre a constitucionalidade ou não de um determinado ato normativo é de natureza declaratória, com efeitos ex tunc (invalidade desde o nascimento da norma).
Para conhecimento histórico: o caso Marbury vs. Madison. John Adams, presidente dos EUA, foi derrotado na eleição presidencial por Thomas Jefferson. Assim, antes de ser sucedido, Adams nomeou diversas pessoas ligadas ao seu governo para o cargo de juiz federal, entre elas, Marbury. Contudo, ao assumir o governo, Jefferson nomeou Madison como seu Secretário de Estado e, por entender que a nomeação de Marbury era incompleta, por não ter-lhe sido entregue, até aquele momento, a sua comissão, determinou que Madison não mais efetivasse a nomeação de Marbury. Marbury, então, impetrou writ of mandamus em face de Madison, a fim de buscar a sua nomeação. A Suprema Corte saiu pela tangente, alegando inconstitucionalidade de lei que criava / ampliava sua competência para apreciar o writ impetrado. Decidiu a Suprema Corte que qualquer lei incompatível com a Constituição é nula e que os tribunais e os demais departamentos são vinculados a ela. “Havendo conflito entre a aplicação de uma lei em um caso concreto e a Constituição, deve prevalecer a Constituição por ser hierarquicamente superior.”
TIPOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE.
Quanto ao momento. Controle pode se dar antes da edição da norma (controle preventivo, feito em regra pelo Legislativo e Executivo) ou após (repressivo, feito, em regra, pelo Poder Judiciário).
Quanto ao critério subjetivo ou orgânico. Há o controle difuso (feito por qualquer juiz) e o concentrado (feito por corte específica).
Quanto ao critério formal. Há o controle concreto (ou incidental), que resolve questão prévia para solucionar litígio entre partes, e o controle abstrato (ou principal), em que processo objetivo afere, abstratamente,se lei é compatível com a Constituição.
	Em regra, controle concreto é difuso... mas há a ADI interventiva, que é forma de controle concentrado concreto.
Controle Preventivo no Brasil
	Pelo Executivo
	Pelo Legislativo
	Pelo Judiciário
	Através do veto jurídico do Chefe do Poder Executivo.
	Através das comissões de constituição e justiça, existentes na Câmara dos Deputados, bem como no Senado Federal. Também o plenário ou as comissões das referidas casas poderão verificar a inconstitucionalidade do projeto de lei, seja durante as votações do próprio projeto em questão ou não.
* Michel Temer observa que esse controle não ocorre sobre projetos de medidas provisórias, resoluções dos Tribunais e decretos.
	Através do julgamento, no caso concreto, de defesa de direito público subjetivo, pertencente apenas aos parlamentares, de participar de um processo legislativo hígido (devido processo legislativo) que não contrarie as regras de vedação de deliberação expressamente contidas na Constituição.
Barroso entende que o veto do executivo (veto jurídico), bem como a rejeição a projeto de lei na CCJ são exemplos de controle político.
Controle preventivo judicial. Legitimidade Ativa. STF não a reconhece a terceiros que invocam sua potencial condição de destinatários da norma, sob pena de criar controle preventivo em abstrato.
Hipóteses de cabimento, conforme Plenário do STF (MS 32033/DF, 20/6/2013). A regra é o do não cabimento de ação judicial de controle preventivo judicial de constitucionalidade. Há 2 exceções:
a) proposta de emenda à Constituição manifestamente ofensiva à cláusula pétrea; e
b) tramitação do projeto de lei ou de emenda à Constituição que viola regra constitucional sobre o processo legislativo.
ATENÇÃO: a tramitação de projeto de lei com violação apenas de regimento interno da Casa é matéria interna corporis, não sujeita à apreciação do Judiciário. O Parlamentar tem direito líquido e certo apenas a não ser obrigado a participar de processo legislativo contrário à CF.
Controle Repressivo no Brasil
	Pelo Legislativo
	Pelo Executivo
	O Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, poderá sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitarem dos limites de seu poder de regulamentar definido pela própria lei a ser regulamentada (na verdade, trata-se de um controle de legalidade e, não, de constitucionalidade), ou dos limites da delegação legislativa lhe atribuída por meio de resolução pelo Congresso. (Art. 49, V, da CF)
	Ainda ao Congresso deverão ser submetidas imediatamente as medidas provisórias adotadas pelo Presidente da República, a fim de serem convertidas em lei, ocasião na qual será verificado o atendimento de seus pressupostos constitucionais (controle posterior propriamente dito).
	Lei inconstitucional. Repúdio. Chefe do Executivo pode determinar que seus subordinados não observem uma lei inconstitucional.
Doutrina antes da CF/88: fundamento era fato de Presidente não ser legitimado para propor ação de controle concentrado.
Hoje, Gilmar Mendes defende que apenas Prefeitos podem repudiar lei, pois eles não são legitimados à ADIN. Presidente e Governadores deveriam judicializar eventual inconstitucionalidade, ante a expansão da legitimidade ativa para ADIN.
Barroso: supremacia da Constituição é o fundamento para qualquer Chefe de Executivo negar vigência a lei inconstitucional.
STJ: Os chefes dos Poderes Executivos federal, estaduais, distrital e municipais, ao tomarem posse com o compromisso de guardar especial observância à Constituição (arts. 78 da CF/1988 e 139 da Constituição estadual), podem deixar de cumprir lei que entendam por inconstitucional, ainda que sem manifestação do Judiciário a respeito, decisão essa que vincula toda a Administração Pública a eles subordinada e importa na assunção dos riscos decorrentes de suas escolhas político-jurídicas. (Resp 23121-1 GO nov. 1993)
Tribunal de Contas. Súmula 347 STF: “O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público”. Enunciado está em discussão no STF. No MS 25.888, discutia-se atuação do TCU, que reputou inconstitucional regulamento da Petrobrás sobre procedimento simplificado de licitação. Gilmar Mendes deferiu liminar suspendendo decisão do TCU. Não houve ainda decisão definitiva. Para Gilmar Mendes, a partir da CF88, com ampliação dos legitimados para a ADI, Súmula 347 deve ser reavaliada.
CONTROLE JURISDICIONAL
1) Cisão da Competência Vertical → Na ADPF incidental ou indireta, poderá ser concedida liminar para que juízes suspendam o andamento de processos ou de seus efeitos, caso em que a competência para análise da questão constitucional passa a ser de órgão superior (STF).
2) Cisão da Competência Horizontal → É quando outro órgão da mesma corte é o competente para análise da questão incidental relativa à alegação de inconstitucionalidade. O caso mais conhecido será analisado abaixo:
CF. “Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.”
CLÁUSULA DE RESERVA DO PLENÁRIO. Vale tanto no controle difuso quanto no concentrado, mas seu fim é fortalecer presunção de constitucionalidade, de modo que só vale para os casos de reconhecimento de vício de constitucionalidade. Turma Recursal não é Tribunal e não precisa, portanto, se submeter à reserva de plenário. Cláusula se aplica na via do Incidente de Inconstitucionalidade nos Tribunais (arts. 480 a 482 do CPC), conforme passos abaixo:
- Alegada a inconstitucionalidade, relator submete questão à turma/câmara, após ouvir MP.
- Se órgão fracionário entender pela inconstitucionalidade, lavrará acórdão de encaminhamento da questão ao órgão competente.
- Tribunal pleno ou órgão especial analisará a questão (lavra um segundo acórdão).
- Autos voltam ao órgão fracionário, que irá aplicar a decisão do plenário ao caso concreto, lavrando-se um terceiro acórdão (salvo dentro do STF, caso em que o art. 177 do RISTF determina que o próprio plenário aplique o julgamento).
Súmula 513 STF: “A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário ou extraordinário não é a do plenário, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a do órgão que completa o julgamento do feito”.
Súmula vinculante nº. 10 STF: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”
É dispensada a remessa ao órgão especial ou pleno se já houver pronunciamento destes ou do STF (art. 481, PU, CPC). Há precedente do no sentido de que não se aplica ao STF o art. 97: “O STF exerce, por excelência, o controle difuso de constitucionalidade quando do julgamento do recurso extraordinário, tendo os seus colegiados fracionários competência regimental para fazê-lo sem ofensa ao art. 97 da CF.” (RE 361.829-ED, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJE de 19-3-2010). Gilmar Mendes (2007, p. 1076) entende de forma diversa: com base no regimento interno do STF, afirma que nos processos de competência das Turmas, será feita remessa ao Plenário, em caso de relevante arguição de inconstitucionalidade.
No STF, há cisão horizontal da competência? Não, pois não há nem matéria fática nem matéria não constitucional submetida a debate.
Quais os meios apropriados para se requerer o controle de constitucionalidade de um ato?
- Contra qualquer inconstitucionalidade, cabe o controle concreto e incidental.
- Quanto às outras formas de controle previstas na CF, confira-se quadro abaixo:
	Inconstitucionalidade por ação
	Inconstitucionalidade por omissão
	Objeto de controle é só lei ou ato normativo
federal posteriores à CF88
	Objeto é lei ou ato normativo federal ou estadual posteriores à CF88
	Qualquer lei ou ato normativo que provoque controvérsia judicial de relevante fundamento
	Qualquer atodo Poder Público (mesmo atos concretos) que violem preceito fundamental
	Falta de ato normativo primário que regulamente noma constitucional de eficácia limitada sobre direitos e liberdades, nacionalidade, soberania e cidadania
	Falta de ato normativo primário ou secundário para regulamentar norma constitucional de eficácia limitada
	ADC
	ADI
	ADPF incidental ou indireta
	ADPF autônoma ou direta
	Mandado de injunção
(controle concreto e incidental)
	ADI por omissão
Princípio da subsidiariedade da ADPF: só cabe ADPF se não couber outro mecanismo de natureza objetiva apto a sanar a lesividade do ato. Se houver dúvida, viabiliza-se a fungibilidade entre ADPF e ADI e vice-versa.
Exceção: ADPF foi proposta pela OAB contra ato que nomeou juiz de carreira como desembargador sem observar o quinto constitucional. Gilmar Mendes considerou que o ajuizamento de MS coletivo pela OAB geraria o mesmo resultado prático. Havendo idêntica aptidão para sanar a lesividade ao preceito fundamental, a subsidiariedade observará também, excepcionalmente, mecanismos de natureza subjetiva.
+ ADI Interventiva → mediante propositura pelo PGR da Representação Interventiva, nos termos da Lei 12.562/2011 e do CF36, III, que deverá ser julgada pelo STF, determinando a atuação do Presidente da República, cabível quando houver qualquer ato dos Estados/DF que viole os princípios sensíveis.
→ Vale lembrar que a ação executória de lei federal, até a EC45/2004, era da competência do STJ, o que conflitava com a competência do STF para julgar conflitos federativos (CF102, I, f). O descumprimento de lei federal implica desrespeito à autoridade e à competência da União e, por isso, é considerado matéria constitucional pela doutrina. A mesma EC45 trouxe p/ o STF a discussão, em RE, de lei local contestada em face de lei federal (CF102, III, d), que antes era objeto de REsp no STJ. Para o STJ ficou o REsp sobre ato (secundário) local contestado em face de lei federal.
+ Representação Estadual de Inconstitucionalidade → regulado na Constituição Estadual, controla leis estaduais e leis municipais
Controle de atos municipais → pode se dar em controle incidental concreto bem como...
	
	Controle de lei local
	Controle de ato de governo local
	Com base na CF
	Cabe ADPF (violação de preceito fundamental) ou
ADI interventiva (violação de princípio sensível) ou
Ação Executória de Lei Federal
* 2 últimos casos valem para Municípios Territoriais
	Cabe ADPF
	Em face de Lei Federal
	Cabe RE (CF102, III, d)
	Cabe REsp (CF105, III, b)
Controle de atos municipais também pode se dar no TJ se o parâmetro for Constituição Estadual.
Normas revogadas como objeto de controle. É possível na via incidental ou, no controle abstrato, apenas em pedido subsequente, em ação contra a lei revogadora vigente. Se tanto a norma revogadora como a revogada são de constitucionalidade duvidosa, todo o complexo normativo deve ser impugnado, a fim de evitar o efeito repristinatório (ADI 3148).
Parâmetros registrados na doutrina utilizáveis em controle de constitucionalidade:
1) Normas Constitucionais Interpostas (conceito de Gustavo Zagrebelski): o conceito abrange as normas formalmente infraconstitucionais, mas materialmente constitucionais. Caberia o controle também em face delas. Tese não é aceita no Brasil.
é tudo que pode servir de parâmetro no controle de constitucionalidade
2) Texto Constitucional (bloco de constitucionalidade na acepção restrita) = Constituição + Atos e Disposições Constitucionais Transitórias. Eis aí, na sua acepção restritiva, o Bloco de Constitucionalidade (conjunto de normas-parâmetro no controle de constitucionalidade).
3) Bloco de Constitucionalidade em sentido amplo – A Ordem Constitucional : É o bloco na acepção restrita + princípios implícitos + tratados internacionais de direitos humanos [CF88: que foram aprovados conforme CF5º, par. 3º] → vale p/ ADI e ADC. É o parâmetro usado no Brasil.
4) Constituição Estadual - Utilizada apenas na Representação Estadual de Inconstitucionalidade perante o TJ. Jamais é utilizada como parâmetro pelo STF.
Preâmbulo. STF já considerou que preâmbulo não pode ser nem objeto nem parâmetro de controle de constitucionalidade.
Constituição revogada → em controle incidental de atos antigos, deve se aferir se a lei violou a constituição contemporânea a ela. A declaração de inconstitucionalidade pode ser feita em ordens constitucionais posteriores, ainda que o ato se adéque materialmente a constituições posteriores. Inconstitucionalidade não se convalida.
CASOS ESPECIAIS
1. Controle de Emenda Constitucional → o parâmetro são apenas as normas constitucionais sobre limitações ao poder de reforma (e.g. cláusulas pétreas, processo legislativo de aprovação)
2. Controle de inconstitucionalidade por omissão → parâmetro é apenas a norma constitucional que cria obrigação específica de legislar sobre um direito. Não inclui as obrigações abstratas (indefinidas), que definem apenas um tema (“É dever de todos a educação”). As obrigações definidas dizem quem é o devedor, quem é o credor, qual a prestação e quando ela é devida. Daí o STF ter decidido que existe o direito constitucional a creche a partir dos 4 anos, devido pelo Município (arts. 205, 208, I e § 1º c/c 211, § 2º, todos da CF), mas ter dito que o direito a erradicação do analfabetismo é um direito social, que depende de realização gradual, não havendo omissão da União no cumprimento dessa missão constitucional. No caso das creches, a obrigação é específica e independe de lei efetivamente promulgada. É cabível a alegação de inconstitucionalidade por omissão.
3. Os Preceitos Fundamentais - na ADPF, o parâmetro não inclui normas tão só formalmente constitucionais. Destaca-se ementa de cautelar na ADPF33: “Preceito Fundamental: parâmetro de controle a indicar os preceitos fundamentais passíveis de lesão que justifiquem o processo e o julgamento da argüição de descumprimento [, o que abrange] Direitos e garantias individuais, cláusulas pétreas, princípios sensíveis: sua interpretação, vinculação com outros princípios e garantia de eternidade.” Doutrina costuma elencar também os arts. 1º a 4º (princípios fundamentais), CF37, caput (princípios da administração pública) e cláusulas pétreas implícitas (1. titularidade do poder, que é do povo; 2. a vedação de dupla reforma; 3. os limites explícitos às cláusulas pétreas).
EFEITOS DA DECISÃO NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
(A) Efeitos no controle difuso
A coisa julgada produz efeitos ex tunc e inter partes. A inconstitucionalidade declarada como questão prejudicial não transita em julgado (limite objetivo da coisa julgado) nem afeta terceiros estranhos ao processo (limite subjetivo). A doutrina majoritária no Brasil situa a inconstitucionalidade no campo da nulidade, em razão da supremacia da constituição. Decisão que a reconhece tem natureza declaratória, e retroage até o nascimento do ato viciado. STF já admitiu, excepcionalmente, mitigação da retroação de efeitos, mediante ponderação de princípios e aplicação analógica do art. 27 da Lei 9868/99 (ex.: RE 197917). Questão é controversa. Argumento contrário à aplicação analógica: se art. 27 exige do STF quórum qualificado de 2/3 para modulação, seria inviável que o juiz de 1º grau modulasse os efeitos com menos restrições.
Papel do Senado no Controle Difuso. Segundo o art. 52, X, CR/88, cabe ao Senado suspender a lei declarada inconstitucional pelo STF em controle difuso, no todo ou em parte, conferindo eficácia erga omnes à decisão. Pela doutrina majoritária, o Senado não está vinculado à decisão do STF, existindo um campo de discricionariedade para decidir pela suspensão ou não da norma e pela sua extensão. O Senado tem competência para suspender norma federal, estadual e municipal. Como se disse antes, eficácia da decisão em controle difuso é entre as partes. Os terceiros serão vinculados pela Resolução do Senado apenas a partir da publicação na Imprensa Oficial (ex nunc), mas a Resolução opera efeitos retroativos com relação à Administração Pública Federaldireta e indireta (art. 1º, § 2º, do Decreto nº 2.346/97).
Abstrativização do controle difuso: O entendimento tradicional é o de que apenas o dispositivo da decisão transita em julgado. Todavia, no julgamento da repercussão geral no recurso extraordinário (art. 543-A, CPC) o legislador tendeu à abstrativização do controle difuso, permitindo, inclusive, o julgamento por amostragem (art. 543-B). Procedimento similar está previsto no art. 543-C para o REsp. Nas duas hipóteses há previsão legal para a participação do Amici Curiae. O controle difuso perderia, assim, o caráter subjetivo e passa a ter, de forma decisiva, a função de defesa da ordem constitucional objetiva. Nesse sentido, o STF (ADI 4071) decidiu que deve ser rejeitada a inicial de ADI que impugna norma cuja constitucionalidade tenha sido reconhecida pelo plenário do STF, ainda que no âmbito de recurso extraordinário. 
A Ordem Constitucional Global. Gilmar Mendes (Recl. 4335) propôs releitura do dispositivo, entendendo que, em mutação constitucional, a reclamação serviria para tutela de toda interpretação dada pelo STF à Constituição, em sede de controle difuso ou abstrato. Sepúlveda Pertence criticou. Art. 52, X seria da tradição constitucional e existem outros mecanismos para vincular a Administração, como a Súmula Vinculante. Tese de Gilmar Mendes não foi fundamental para decidir aquela reclamação e foi rechaçada pela Corte na Recl. 10793. Tese é controversa.
Ação Civil Pública. A ACP pode versar sobre questão incidental relativa a inconstitucionalidade. A ACP não pode ser manejada para subtrair a competência do TJ ou STF para o controle abstrato.
Mandado de Injunção. Efeitos da decisão final são ex nunc e inter partes. Âmbito da decisão é...
a) tese não concretista: apenas decreta a mora do Poder omisso.
b) concretista individual intermediária: fixa um prazo para o Legislativo suprir a omissão, findo este prazo sem o saneamento passa o autor a ter assegurado o seu direito.
c) concretista individual direta: implementa o direito apenas para o autor da ação.
d) concretista geral: decisão com efeitos erga omnes até que sobrevenha a norma. O STF adotou nos primeiros julgamentos a posição não concretista, atualmente tem adotado a posição concretista geral (MI 670, 708 e 712). A colmatação será limitada temporalmente até a atuação do legislador.
(B) Efeitos no controle abstrato
No controle abstrato, a decisão sobre inconstitucionalidade ocorre em processo objetivo, em que não há partes materiais, com causa de pedir aberta, sem lide e sem possibilidade de ajuizamento de ação rescisória. Efeito vinculante se destina aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública Direta e Indireta. Inobservância dá ensejo a reclamação. Não ficam vinculados à decisão o STF, em julgamentos futuros, ou o Poder Legislativo, no exercício de sua função típica.
FOSSILIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Se STF e Legislativo ficassem vinculados às decisões pretéritas em sede de controle abstrato, haveria petrificação da evolução social e perda do equilíbrio entre os Poderes.
Institutos do Direito Norte-Americano. Stare decisis é instituto que obriga as Cortes a não reconsiderarem, em regra, os precedentes com idêntica questão jurídica decidida. O stare decisis, no plano horizontal, cria vinculação dentro do próprio tribunal de que emanou o precedente. Quando vincula tribunais inferiores, fala-se em efeito vertical, denominado de "binding effect".	 
A súmula vinculante se assemelha ao bindding effect, mas estabelece um enunciado de caráter geral e abstrato, diferindo do efeito vinculante adstrito a um caso concreto (como ocorre no binding effect). Nesta diferença reside crítica de parte da doutrina em relação à súmula vinculante, entendendo que tal instituto revela caso de usurpação de competência legislativa, pois apenas o legislativo, com sua legitimação democrática, poderia ser apto a constituir regras de caráter geral e abstrato.
Decisão Cautelar. Sobre a natureza jurídica do instituto previsto no art. 10 da Lei 9868, parte da doutrina entende que se cuida de tutela antecipada. Outra parte pondera que se cuida de cautelar, pois se cuida de decisão de suspensão de eficácia que salvaguarda eventual decisão final sobre a validade da norma. Apenas se concedida a cautelar, os efeitos da decisão serão erga omnes, ex nunc e, segundo o STF, vinculante (apesar de não haver previsão expressa na CF). Se STF indefere cautelar (por falta de pressupostos da cautelar), juízes de 1ª instância podem considerar a lei inconstitucional. O indeferimento da cautelar, portanto, não dá ensejo ao ajuizamento de reclamação (STF. Rcl 3267, 2010).
A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente. É o EFEITO REPRISTINATORIO TÁCITO NA CAUTELAR salvo expressa manifestação em sentido contrário (art. 11, §§ 1º e 2º, da Lei nº 9.868/99).
A decisão cautelar na ADC também tem efeitos vinculantes e erga omnes.
Decisão final. Ela é vinculante, quer pronuncie a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade. Tem caráter dúplice ou bivalente (art. 24 da lei 9868), pois a procedência de ADI equivale a improcedência de ADC e vice-versa. Qualquer decisão de 1º grau que seja divergente do decidido pelo STF dará ensejo a reclamação. Na ADI, ADC, ADO e ADPF, a declaração de inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc, erga omnes e vinculante.
Transcendência dos Motivos Determinantes. A teoria extensiva lê o art. 102, § 2º da CF como indicativo de que não apenas o dispositivo, mas também a fundamentação vincularia o Judiciário e a Administração Pública. Portanto, decisão sobre a lei do Município X seria vinculante com relação a lei idêntica do Município Y, não submetida a julgamento. Tese não é pacífica na Corte. Há precedente de 2012 da 1ª Turma (Rcl 11477) e de 2011 do Pleno (Rcl3294), rejeitando a Tese da Transcendência. STF, nesses casos, adotou tese restritiva, que limita o efeito vinculante ao dispositivo.
(C) Início dos efeitos das decisões do STF
Em regra, a decisão tem eficácia já a partir da publicação da ata de julgamento no DJU.
OBS.: a ADI 4357 deve ser acompanhada. Talvez nela se externe novo entendimento. Nela, o STF declarou inconstitucionais diversos artigos da Emenda 62 e o art. 1º-F da Lei 9494 (por arrastamento vertical). O STF concedeu cautelar determinando aos tribunais o pagamento de precatórios pela sistemática anterior e cassou algumas decisões do STJ que davam aplicabilidade imediata ao decidido na referida ADI.
TÉCNICAS DECISÓRIAS EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Situação Perfeita da Norma → ocorre quando caracterizada a plena adequação da norma à CF ou a plena inadequação. Técnicas utilizáveis podem ser as de:
(i) Decisão Estimatória Total ou Declaração de Inconstitucionalidade com pronúncia Total de Nulidade com Redução de Texto – expurga de um ordenamento um texto e sua norma.
(ii) Decisão Estimatória Parcial a respeito do texto ou Declaração de Inconstitucionalidade com pronúncia parcial de nulidade com redução de texto (aplica o princípio da parcelaridade para eliminação seletiva de palavra ou expressão dentro do texto legal)
(iii) Decisão Desestimatória Pura e Simples – atesta a constitucionalidade da norma.
Para situações imperfeitas, aplicam-se as técnicas abaixo de decisões intermediárias:
(iv) Declaração Desestimatória Interpretativa (ou declaratória de constitucionalidade condicionada): reconhece a constitucionalidade de norma plurívoca com reservas, condicionando-a à interpretação fixada. Ex.: a norma diz que a Administração pode revogar os seus atos. A interpretação conforme pode aditar um sentido: desde que observado o contraditório e a ampla defesa.
(v) Declaração Desestimatória com Apelo ao Legislador - Reconhece a inconstitucionalidade, mas sem pronunciar a nulidade, em nome da segurança jurídica, apelando-se ao Legislador, para que este legisle modificando o quadro normativo, fazendo cessar a situação de inconstitucionalidade.
(vi) Declaração de Estimação Futura ou ou Declaração de constitucionalidade restrita(Lei Ainda Constitucional) – Reconhece que norma hoje é constitucional, ante o quadro fático existente, mas que a tendência é que esse quadro se modifique, acarretando futuro reconhecimento de inconstitucionalidade, que fica desde já sinalizado, embora não realizado.
(vii) Decisão Estimatória Parcial a respeito da norma em sentido estrito – técnica usada na ADIn 1.377, que versou sobre norma que permitia a filiação do membro do MP a partidos políticos, apesar de a CF proibir os integrantes do MP de exercer atividade político-partidária. STF preservou a aplicação da norma nas hipóteses de afastamento do MP de suas funções institucionais. É uma declaração de inconstitucionalidade com pronúncia parcial de nulidade sem redução de texto.
Lacunas jurídicas ameaçadoras. Conceito desenvolvido no direito alemão. A busca pela “exclusão do benefício incompatível com o princípio da igualdade” pode ser mais prejudicial do que a sua manutenção, não podendo, por outro lado, haver a extensão pelo Poder Judiciário, eis que não pode atuar como legislador positivo. Nesses casos, declara-se a invalidade e preserva-se a norma.
A Interpretação Conforme a Constituição:
	Visão do STF
Se a norma for plurívoca, cabe
(i) a Decisão Desestimatória ou
(ii) a Interpretação Conforme a Constituição.
A polissemia dessa norma é pressuposto dessa última técnica decisória, que fixará o sentido compatível com a Constituição.
O STF julga ADIs parcialmente procedentes para pronunciar a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto (DIPSRT), dando interpretação conforme a constituição à norma (ICC). A ICC seria um subtipo de DIPSRT utilizado no reconhecimento da inconstitucionalidade.
Há a declaração da inconstitucionalidade das demais interpretações. Ambas devem caminhar juntas. Por isso, o STF fala em julgamento de parcial procedência.
	Visão de Francisco J.D. Revorio
- Correta delimitação da interpretação conforme a Constituição: realiza declaração de CONStitucionalidade condicionada à observância de uma única interpretação compatível com o texto constitucional. A ICC é técnica decisória que pode salvar a constitucionalidade da norma. É aplicada para o reconhecimento da CONStitucionalidade do único sentido possível da norma.
- Correta delimitação da inconstitucionalidade parcial sem redução de texto: realiza declaração de INconstitucionalidade restrita a um dos significados possíveis do enunciado.
STF adota doutrina alemã, que, ao contrário da italiana, não distingue a sentença interpretativa de constitucionalidade de seu oposto, a sentença interpretativa de inconstitucionalidade.
DISTINGUISHING E OVERRULING. Institutos peculiares a Common Law. Distinguishing é o diferenciamento (demonstrar que sua causa não é igual àquela que gerou o precedente e portanto a mesma solução não pode ser aplicada). Overruling é a superação do precedente através de um argumento novo (nova orientação jurisprudencial), permitindo uma oxigenação no sistema jurídico.
SENTENÇAS MANIPULATIVAS – essa categoria foi desenvolvida pela doutrina italiana e abrange 3 espécies: as decisões aditivas, as substitutivas e as redutoras. Elas reconhecem, em parte, a inconstitucionalidade de uma norma, preservando-a sob a adição de uma condição, registrando uma condição que deveria ter constado da lei ao invés da efetivamente incluída pelo Legislador, ou reduzindo uma das interpretações possíveis da norma. Os portugueses Canotilho e Jorge Miranda não reputam manipulativas as decisões redutoras.
ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL = Desvio do Poder Constituinte. O Princípio da Vedação ao Atalhamento Constitucional tem por finalidade vedar qualquer mecanismo ou artifício que busque abrandar, suavizar, abreviar, dificultar ou impedir a ampla produção de efeitos das normas constitucionais. O exemplo mais debatido foi o da EC 52/06 que tentou acabar com a obrigatoriedade da verticalização das coligações partidárias em razão do caráter nacional dos partidos, trazendo dispositivo que violava o princípio da anualidade aplicável à vigência de leis que alterem o processo eleitoral. O STF reconheceu a tentativa de atalhamento constitucional pela medida e declarou a inconstitucionalidade da EC para a aplicação nas eleições no prazo de até 1 ano de sua promulgação.
CASO DOS MUNICÍPIOS PUTATIVOS. ADI 2240/BA. Discutiu-se a violação da CF pela criação do Município Luís Eduardo Magalhães (BA) em ano de eleições municipais, sem LC federal fixando período de criação de Municípios, sem prévia consulta a toda população do Município original que sofreu o desmembramento, entre outras coisas. Decisão do STF foi de declarar a inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade com Apelo ao Legislador. Foi fixado prazo de 18 meses para o Congresso Nacional elaborar a LC federal, a partir do qual seriam contados 6 meses para Municípios corrigirem vícios. Viria a se configurar hipótese de atalhamento constitucional, pois Congresso viria a editar a EC 57/2008, que buscou convalidar os vícios de constitucionalidade na criação de Municípios como o supra mencionado por meio da inclusão do dispositivo abaixo reproduzido no ADCT: "Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação". O STF viria a julgar que a ADI2381, sobre o mesmo tema, perdeu seu objeto com a superveniência da emenda, chancelando essa excepcional convalidação de inconstitucionalidade, a despeito de a doutrina afirmar que, em regra, o vício de inconstitucionalidade é insanável.
Fundamentos declinados por Eros Grau para preservação ao menos temporária dos Municípios irregulares: (i) segurança jurídica; (ii) princípio federativo; (iii) princípio da continuidade do Estado – art. 1º da CF vedaria a descontinuidade de ente federativo; e, ainda:
(iv) princípio da força normativa dos fatos – decisão política deu ensejo a autonomia municipal, criando efetivamente um Município, o que não poderia deixar de ser observado;
(v) Princípio da Reserva do Impossível – distingue o reconhecimento da nulidade de um casamento putativo e o reconhecimento da nulidade de um Município putativo, pois, no segundo caso, seria impossível a anulação da decisão política que criou ente federativo sem agressão ao princípio federativo.
	Judicialização da Política
	Ativismo Judicial
	É o fenômeno da colocação de várias questões de repercussão política ou social para serem decididas pelo Poder Judiciário, em contraposição às vias políticas tradicionais do Executivo e Legislativo. Transfere poder às Cortes. É fruto do acesso à Justiça e serve à concretização de direitos fundamentais, possuindo a Reserva do Possível como contrapeso.
Segundo Barroso, é decorrência
(i) da redemocratização (maiores prerrogativas para MP e juízes enfrentarem mais equitativamente tais questões políticas).
(ii) da constitucionalização abrangente,
(iii) do modelo jurídico misto de controle de constitucionalidade.
	Fenômeno de proeminência do Poder Judiciário na solução de demandas sociais através da interpretação principiológica. É uma escolha, uma atitude proativa do STF em interpretar a Constituição de forma a expandir o seu sentido e alcance, possibilitada, principalmente, pela omissão dos demais poderes, que também têm legitimidade constitucional para definir a solução dada.
Exemplos de Barroso:
(i) aplicação direta da CF a situações não previstas expressamente, desconsiderando-se, prévia manifestação do legislador ordinário;
(ii) declaração de inconstitucionalidade de atos normativos emanados do legislador, com base em critérios menos rígidos que os de patente e ostensiva violação da Constituição;
(iii) imposição de condutas ao Poder Público, notadamente em matéria de políticas públicas.
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. ESPÉCIES E PROCEDIMENTOS.
1. ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) genérica
1.1 PREVISÃO CONSTITUCIONAL: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente,a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: 
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;”
1.2 OBJETO: lei federal ou estadual e ato normativo federal ou estadual.
O que é lei? → Art. 59 da CF: emendas constitucionais (por emanarem do poder constituinte derivado reformador), leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias (por terem força de lei, mas desde que em plena vigência, ou seja, não convertidas ainda em lei ou não tendo perdido a sua eficácia por decurso de prazo), decretos legislativos e resoluções (esses dois últimos somente se estiverem revestidos de generalidade e abstração), Leis orçamentárias.
O que são atos normativos? → qualquer ato revestido de indiscutível caráter normativo, tais como (i) resoluções administrativas dos Tribunais e (ii) o regimentos internos dos Tribunais.
Ayres Britto destacou uma peculiaridade: estes regimentos internos possuem natureza dúbia, porquanto podem ter natureza de atos primários, quando dispõem sobre competência e funcionamento dos órgãos jurisdicionais e administrativos de cada qual deles (tribunais); e de atos secundários, quando dispuserem sobre o dever de observância das normas de processo e das garantias processuais das partes.
Atos normativos também abrangem (iii) deliberações administrativas dos órgãos judiciários; (iv) as deliberações dos TRTs, salvo convenções coletivas de trabalho; (v) medidas provisórias (cujos requisitos da relevância e urgência somente podem ser apreciados em casos excepcionais - ADI 2.213; (vi) resoluções do Conselho Interministerial de Preços - ADIn 8-0/DF; (vii) resoluções do Senado Federal - art. 52, VII, VIII e IX e art. 155, § 2º, V, alíneas a e b, todos da Constituição Federal; (viii) decreto autônomo — art. 84, VI, CF; (ix) resolução do Conselho Nacional de Justiça; (x) resolução do TSE.
Decisão Administrativa em PAD. STF (ADI3202) entendeu que decisão de TJ em processo administrativo que amplia desmedidamente o conjunto de beneficiários de gratificação prevista em lei produz efeitos com generalidade e abstratividade. Assim, embora decisão tenha cunho administrativo, se equipara a ato normativo primário material e, portanto, passível de controle na via concentrada.
Medidas Provisórias. Controle dos requisitos de relevância e urgência pode ser feito excepcionalmente, quando um deles se apresente objetivamente ausente (ADI-MC 2527). A lei de conversão da MP não convalida os vícios formais porventura existentes na MP (ADI-MC 3090).
Controle de créditos orçamentários. STF (ADI 4048-MC) decidiu que pode haver controle concentrado excepcional quanto aos requisitos da imprevisibilidade e urgência de Medidas Provisórias para abertura de créditos orçamentários extraordinários. Razões: a) CF não restringe o objeto da ADIn consoante o tipo de leis, e, em verdade, amplia-o para abranger atos (só cabem atos normativos); b) estudos da teoria do direito apontam a possibilidade tanto de se formular uma lei formal de efeitos concretos quanto atos administrativos regulando complexo amplo de situações. “[A] lei não precisa de densidade normativa para se expor ao controle abstrato de constitucionalidade, devido a que se trata de ato de aplicação primária da Constituição. Para esse tipo de controle, exige-se densidade normativa apenas para o ato de natureza infralegal”
Leis orçamentárias. Excepcionalmente, se se demonstrar que referida lei tem certo grau de abstração e generalidade, o STF tem admitido seja ela objeto de controle abstrato de constitucionalidade (ADI 2.925/DF, em 2003).
TRATADOS INTERNACIONAIS. Podem ser objeto de controle em ADIn.
	Sobre direitos humanos
Aprovados conforme art. 5º, § 3º,da CF
(aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos de seus respectivos membros) → Equivalem a emendas constitucionais e, portanto, podem ser objeto de controle de constitucionalidade.
	Sobre direitos humanos
Aprovados pela regra anterior à EC 45/2004
Têm natureza supralegal (porém infraconstitucional) e, portanto, podem ser objeto de controle de constitucionalidade (RE 466.343, 03 de dezembro de 2008).
	Tratados de natureza diversa
Equivalem a meras leis ordinárias e podem, portanto, ser objeto de controle de constitucionalidade.
NÃO PODEM SER OBJETO DE CONTROLE CONCENTRADO
(a) Súmulas: por não possuírem grau de normatividade qualificada pela generalidade e abstração, mesmo no caso de súmula vinculante. No caso de SV, há procedimento de revisão, na forma da Lei nº 11.417/2006.
TAMPOUCO CABE ADPF - "A arguição de descumprimento de preceito fundamental não é a via adequada para se obter a interpretação, a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante." - ADPF 147-AgR, julgamento em 24-3-2011, Plenário, e ADPF 80-AgR, 2006.
(b) Regulamentos ou decretos regulamentares expedidos pelo Executivo e demais atos normativos secundários: por não estarem revestidos de autonomia jurídica. Trata-se, no caso, de questão de legalidade, por inobservância do dever jurídico de subordinação normativa à lei.
→ O decreto autônomo pode ser objeto de ADI, ante a violação da reserva legal. (ADI 3.731-MC)
(c) Normas constitucionais originárias: pois são sempre constitucionais, devendo os aparentes conflitos entre as suas normas ser harmonizados através de uma interpretação sistemática do caso concreto. (princípio da unidade, concordância prática)
(d) Normas anteriores à Constituição: são recepcionadas, ou não, e, nesse caso, são revogadas, pelo novo ordenamento jurídico, não se podendo falar em inconstitucionalidade superveniente. (Conflito de leis no tempo, e não hierárquico). A ADPF pode ser utilizada para, de forma definitiva e com eficácia geral, solver controvérsia relevante sobre a legitimidade do direito ordinário pré-constitucional em face da nova Constituição. Há discussão sobre a possibilidade de modulação da decisão de declaração de não recepção de norma perante à CF, tendo por base o previsto no art. 27 da lei nº 9.868/99. Celso de Mello entende que não (RE-AGr 353.508 2007), Gilmar Mendes, em seu voto, defendeu que sim. Pedro Lenza entende ser cabível, pois o próprio STF aceita a tese da norma ainda constitucional (ação civil ex delicto).
(e) Atos estatais de efeitos concretos (aceita, todavia, o controle sobre atos de efeitos concretos editados sob a forma de lei): por não possuírem densidade jurídico-material (densidade normativa). Obs: Salvo no que tange à Lei orçamentária que o STF aceita o controle concentrado. O STF distinguiu ato de efeitos concretos de atos de efeitos concretos editados sob forma de lei. A matéria, por ter sido delineada no bojo de medida cautelar, ainda não está consolidada. INFO 527 de 07 de outubro de 2008.
(f) Respostas do TSE a consultas que lhe forem endereçadas: ao contrário do que se dá com as resoluções do TSE, aqui se tem ato de caráter meramente administrativo, que não vincula os demais órgãos do Poder Judiciário.
(g) Atos normativos já revogados ou de eficácia exaurida: porque a sua eventual declaração teria valor meramente histórico. Se a revogação se dá durante curso da ADIn, há a perda do objeto, com a prejudicialidade da ação. Efeitos residuais concretos que possam ter sido gerados pela aplicação da lei ou ato normativo não mais existente poderão ser questionados na via ordinária, por intermédio do controle difuso de constitucionalidade.
Exceção: se revogação se dá em fraude processual, para impedir o julgamento da ADIn. Foi o que o STF entendeu nos casos das ADIns 3232 e 3306.
E se for revogada a norma que serve como parâmetro de controle da constitucionalidade?
Posição tradicional do STF: A superveniente ab-rogação ou derrogação da Constituição, por afetar o próprio paradigma (parâmetro) de confronto invocado no processo de controle concentrado de constitucionalidade, configura a prejudicialidade da ação pela perda de seu objeto.
ADI 2158 – Mudança de Posicionamento - STF rejeitoua preliminar de prejudicialidade, mesmo tendo havido a modificação no parâmetro de confronto. ADIn deve ser julgada, pois não se pode deixar às vias ordinárias à solução de problemas que podem ser resolvidos de forma mais eficiente, eficaz e segura, no âmbito do controle concentrado de constitucionalidade.
1.3 COMPETÊNCIA: É do STF, em caso de controle de lei ou ato normativo federal ou estadual.
Observe-se que o controle de ato normativo estadual ou municipal em face da Constituição Estadual é da competência do TJ local.
Havendo tramitação simultânea de ações, uma buscando declarar a inconstitucionalidade de lei estadual perante o STF (confronto em face da CF) e outra perante o TJ local, cuidando do controle da mesma norma em face de norma de reprodução obrigatória explicitada na CE, deverá haver suspensão da Representação Estadual por Inconstitucionalidade até o julgamento final da ação intentada perante o STF. Se STF declarar inconstitucionalidade da lei estadual, Representação Estadual perde seu objeto. Do contrário, esta volta a ser processada, para aferição da compatibilidade da lei estadual em face da CE.
Lei do Distrito Federal. DF acumula competências dos Estados e Municípios. “Não cabe ADIn de lei do DF derivada da sua competência legislativa municipal” (Súmula 642 do STF). É possível controle em face da Lei Orgânica perante o TJDFT (Art. 8º, I, “o”, da Lei nº 11.697/2011).
Lei Orgânica do Município. Não é considerada parâmetro para controle de constitucionalidade. Trata-se, pois, de simples caso de legalidade.
1.4 LEGITIMIDADE - rol de legitimados para ajuizar ADI e ADC consta do art. 103 da CF:
	
	Legitimados Universais ou Neutros
	Legitimados Especiais
	
Legitimados que já têm capacidade postulatória
	Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
	 [Os legitimados especiais devem demonstrar a pertinência temática]
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
	Legitimados que precisam constituir advogado
	
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
	
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Obs.1: Mesa do Congresso Nacional não tem legitimidade para propositura de ADI.
Obs.2: Apenas os legitimados acima podem recorrer em sede de controle abstrato. Na ADI 1663, STF registrou que Estado-Membro não tem legitimidade para interpor recurso, ainda que ADI tenha sido ajuizada pelo Governador.
Obs.3: Dica CEP (CONFEDERAÇÃO, ENTIDADE DE CLASSE E PARTIDOS – necessitam de advogado)
Representação de Partido Político. Basta que partido tenha ao menos 1 parlamentar em qualquer das Casas Legislativas no momento do ajuizamento da ação. Entendimento atual do STF é o de que perda superveniente de representação política não dá ensejo à extinção da ADIn.
Entidades de Classe. Representam categoria profissional, organizadas em 09 ou mais Estados da Federação (aqui se utiliza analogicamente a lei dos partidos políticos 9096/95, exigindo 1/3 dos estados da federação). Exceção: se a atividade econômica atingir menos Estados.
Não se considera entidade de classe a reunião de categorias diversas ou permeada por membros vinculados a extratos sociais, profissionais ou econômicos diversificados, cujos objetivos individuais são contrastantes. EX: UNE (ADI 894-DF).
CLT art. 534 e 535 = as confederações sindicais devem ser constituídas por, no mínimo, 03 Federações Sindicais (federação = 5 sindicatos). Obs: Central Única dos Trabalhadores - CUT não possui legitimidade ativa para ADI (STF ADI 271) 
STF, alterando entendimento anterior, passou a admitir o ajuizamento de ADI por Associação de Associação (Ex.: ADEPOL). (ADI 3153)
1.5 PROCEDIMENTO
Previsão: Art. 103,§§1°e3°, da CF. Art. 169 a 178 do RISTF. Lei n° 9.868/99.
- Quando imprescindível a presença de advogado, a procuração deverá ser outorgada com poderes especiais, indicando, ainda, objetivamente, a lei ou ato normativo que estejam sendo levados à apreciação do Judiciário e respectivos preceitos caso não se trate de impugnação de toda a lei.
- Se a petição inicial for inepta, por não indicar o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado, ou não for fundamentada ou for manifestamente improcedente, poderá o relator indeferi-la liminarmente, cabendo, no entanto, contra tal decisão recurso de agravo.
- Não sendo o caso de indeferimento liminar, regra geral, o relator pede informações aos órgãos ou às entidades das quais se emanou a lei ou o ato normativo impugnado, as quais deverão prestá-las no prazo de 30 dias, a contar do recebimento do pedido. Pode o relator, ainda, sendo relevante, solicitar a manifestação de outros órgãos ou entidades.
- Após as informações, são ouvidos, sucessivamente, o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, que devem se manifestar, cada qual, no prazo de 15 dias.
Papel do Advogado Geral da União. Posição Tradicional: o AGU deveria defender o ato impugnado. Modernamente, STF passou a entender que AGU não está obrigado a defender a constitucionalidade de ato normativo quando (i) STF já se pronunciou pela sua inconstitucionalidade; (ii) quando a União tiver interesse na declaração da inconstitucionalidade – Na ADI 3916, Gilmar Mendes defendeu que entender o oposto implicaria retirar a função primordial da AGU plasmada no art. 131 da CF, bem como que não há sanção a impôr ao AGU pela falta de defesa da constitucionalidade
Papel do Procurador-Geral da República. PGR dá parecer tanto favorável quanto desfavorável. Pode opinar pela improcedência em ações ajuizadas por ele, o que não implica desistência.
Amicus Curiae. A admissão de outros órgãos ou entidades é permitida em caráter excepcional, desde que o relator considere a relevância da matéria e a representatividade dos amici curiae. Admissão pode se dar até entrada do processo na pauta (no caso de ADIns no STF) ou até o início do julgamento (no caso de recursos repetitivos no STJ, conforme decidido no QO no REsp 1.152.218-RS em 2014).
Tem natureza jurídica de modalidade sui generis de intervenção de terceiros, apesar de já haver posicionamento anterior identificando-o como mero colaborador informal (Mauricio Correia). Consiste em verdadeiro fator de legitimação social das decisões da Suprema Corte, na medida em que democratiza o debate constitucional (Celso de Mello). Cabe ao relator a análise dos requisitos de admissibilidade (relevância da matéria e representatividade do postulante), mas o Tribunal pode deixar de referendar a decisão monocrática, afastando a intervenção. Decisão pela admissão de amicus curiae é irrecorrível, a fim de se evitar tumulto processual. O amicus curiae só tem legitimidade recursal para agravar da decisão que indeferiu sua admissão. Desde a ADI2777 (2003), admite-se a sustentação oral pelo amicus curiae.
O amicus curiae é admitido em todas as ações de controle concentrado (ADI, ADC, ADO, ADPF, Representação Interventiva). Não obstante o § 2º do artigo 18 da Lei nº 9.868/99 ter sido vetado, admite-se ainda a figura do amicus curiae na ação declaratória de constitucionalidade (ADC), com as ressalvas já apresentadas, em aplicação analógica do artigo 7º, § 2º, da Lei nº 9.868/99, considerando se tratar a ADI e ADC de ações dúplices ou ambivalentes.
Outras hipóteses de cabimento do amicus curiae:
(a) processos de interesse da CVM (artigo 31 da Lei nº 6.385/76),
(b) processos de interesse do CADE (artigo 89 da Lei nº 8.884/94),
(c) processos de controle difuso de constitucionalidade (art. 482, § 3º, CPC),
(d) processos no âmbito dos Juizados Especiais Federais (artigo 14, § 7º, da Lei nº 10.259/01),
(e) no procedimento de edição, revisão e cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo STF (artigo 3º, § 2º, da Lei nº 11.417/06),(f) na análise da repercussão geral no julgamento de recurso extraordinário (artigo 543-A, § 6º, do CPC, introduzido pela Lei nº 11.418/06).
* Pedro Lenza ainda entende ser possível a admissão de parlamentar na condição de amicus curiae, desde que, presente a situação de relevância da matéria, demonstre ele, designado por via eleitoral para desempenhar função política na democracia representativa sobre o qual se funda o regime democrático instituído no país, atuar como verdadeiro representante ideológico de uma coletividade. Lembre-se, porém, de que inexiste, por ora, um posicionamento do STF a esse respeito. Alerte-se que o STF não vem aceitando a atuação de pessoa natural na condição de amicus curiae ADI 4.178/GO.
Leading case (MS 32033) = no qual o Senador da República Pedro Taques, por meio da Petição conseguiu ingresso no feito na qualidade de amicus curiae, ressaltando ser membro da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que seu pedido não se amparava em sua condição de pessoa física, mas no caráter coletivo e institucional do mandato de Senador da República e em sua atribuição de exercer o mandato em defesa da Constituição e do Estado de Direito, bem como afirma pretender colaborar com a solução do feito por meio de argumentos qualificados e originais. OBSERVEM QUE NESSE CASO FOI ADMITIDO AMICUS CURIAE EM MS.
Especialistas. Se houver necessidade de esclarecimentos de matéria ou de circunstância de fato ou houver notória insuficiência de informações existentes nos autos, pode o relator requisitar outras, designar perito para emitir parecer sobre a questão, ou designar audiência pública para ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria. Artigo 9º, § 1º, da Lei nº 9.868/99
Informações sobre aplicação da norma impugnada. O relator pode solicitar informações aos Tribunais Superiores, aos Tribunais Federais e aos Tribunais Estaduais acerca da aplicação da norma impugnada no âmbito de sua jurisdição.
Não se admite assistência jurídica a qualquer das partes, nem intervenção de terceiros, ressalvados os caso acima citados.
Quórum. A declaração de inconstitucionalidade será proferida pelo voto da maioria absoluta dos membros do STF (mínimo de 6), observado ainda o quorum necessário para a instalação da sessão de julgamento (mínimo de 8). Artigos 22 e 23 da Lei n° 9.868/99.
QUORUM INSTALAÇÃO = 8 MINISTROS
QUORUM DELIBERAÇÃO = 6 MINISTROS
- É vedada a desistência da ação já proposta (Artigo 5° caput da Lei n° 9.868/99).
- A decisão proferida é irrecorrível (salvo a interposição de embargos declaratórios) e irrescindível (Artigo 26 da Lei n° 9.868/99).
- Não se aplicam prazos diferenciados para fazenda pública
- Causa de pedir aberta: em vista da natureza objetiva da ação de controle concentrado de constitucionalidade, não fica o STF condicionado à causa petendi apresentada pelo postulante, mas apenas ao seu pedido, motivo pelo qual ele poderá declarar a inconstitucionalidade da norma impugnada por teses jurídicas diversas.
- Medida cautelar na ADI: será concedida, salvo no período de recesso, por decisão da maioria absoluta dos membros do STF, observado o quorum mínimo para a sua instalação, após a audiência, exceto nos casos de excepcional urgência, dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que se pronunciarão no prazo de 5 dias. Se o relator ainda julgar indispensável, serão ouvidos o AGU e o PGR, no prazo de 3 dias cada. Artigo 10, caput e §§, da Lei nº 9.868/99. E ainda é facultada a sustentação oral aos representantes judiciais da parte requerente e dos órgãos ou autoridades responsáveis pela expedição do ato, na forma estabelecida pelo Regimento Interno do STF.
- Procedimento “sumário” (art. 12) em face da relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá o relator, após a prestação das informações, no prazo de 10 dias, e a manifestação do AGU e do PGR, sucessivamente, no prazo de 5 dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação. Artigo 12 da Lei nº 9.868/99
1.6 – EFEITOS: já foram estudados acima. Em regra, são ex tunc, erga omnes e vinculantes.
Modulação dos efeitos. Por motivos de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, o STF, por manifestação qualificada de 2/3 de seus membros (8 Ministros), poderá:
(i) declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo sem a pronúncia de sua nulidade, restringindo os efeitos da referida declaração
(ii) ou [EFEITO ABLATIVO] decidindo que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado, ou seja, atribuindo-lhe efeito ex nunc, nos termos do artigo 27 da Lei nº 9.868/99.
Nesse último caso, os referidos efeitos só se iniciarão a partir do trânsito em julgado da decisão (e não a partir da publicação da ata de julgamento no DJU).
	
QUORUM MODULAÇÃO DE EFEITOS = 2/3
EFEITOS DA DECISÃO = SÓ A PARTIR DO TRANSITO EM JULGADO
Coisa julgada inconstitucional. Colisão entre segurança jurídica e força normativa da CF.
	Caso 1: quando sentença foi proferida, contrariou entendimento do STF já existente com efeitos vinculantes.
	Caso 2: sentença foi proferida adotando entendimento contrário ao que viria a ser adotado depois pelo STF.
	Gilmar Mendes faz distinção entre efeito ex tunc da decisão em controle abstrato no plano normativo e os efeitos pro futuro no plano singular. Conclusão: será possível revisar a questão constitucional apenas no prazo da ação rescisória (2 anos).
	Súmula 343 do STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.”
No caso 2, somente a sentença poderá ser rescindida se for afastado o posicionamento da súmula 343/STF e se a matéria for de cunho constitucional, com base na foça normativa da constituição e na deferência ao STF como seu intérprete final.
Investigação de Paternidade. Aplicando a ponderação dos interesses, STF aceitou a relativização da coisa julgada depois do prazo da rescisória, nos casos de improcedência por falta de provas sem investigação de paternidade com teste de DNA. Fundamento é a busca da identidade genética como manifestação do direito da personalidade. Vide RE 363889.
Suspensão da Eficácia da Sentença. A Lei nº 11.232/2005 criou mecanismos para inviabilizar a execução de título judicial transitado em julgado que veio a se contrapor ao entendimento do TF. Nesse caso, a questão não se resolve no plano da validade da sentença, mas no da eficácia.
CPC, Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:
II – inexigibilidade do título; (...)
§ 1o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
→ Redação do art. 741, sobre execução contra a Fazenda Pública, é praticamente idêntica.
2. Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC)
2.1 Conceito: Introduzida pela EC 03/93 e regulada pela Lei nº 9.868/99, a ADC tem a finalidade de transformar uma presunção relativa de constitucionalidade (iuris tantum) em absoluta (iure et iure). Sua utilização pressupõe quadro de incerteza sobre a validade ou aplicação da aludida lei (controvérsia atual e relevante no seio do Judiciário ou entre Judiciário e Administração Pública).
2.2 Objeto: Lei ou ato normativo federal (não cabe face a norma estadual).
2.3. Competência: STF
2.4. Legitimidade Ativa. Rol é idêntico ao da ADIn
	
2.5. Procedimento	
É praticamente o mesmo seguido na ação direta de inconstitucionalidade, porém com algumas observações (peculiaridades):
- A petição inicial será liminarmente indeferida pelo relator, se for inepta, se não for fundamentada,ou ainda se for manifestamente improcedente, cabendo contra essa decisão agravo regimental.
 	
- O AGU não será citado, uma vez que não há ato ou texto impugnado a ser defendido. Pedro Lenza entende que o AGU deve ser citado, pois a ADC é uma ADI com sinal trocado, logo a improcedência acarreta no reconhecimento da inconstitucionalidade da lei.
- Vista dos autos ao PGR, por 15 dias (art. 19 da Lei nº 9.868/99), sendo que, havendo pedido cautelar, poderá haver decisão sobre a liminar antes da manifestação do PGR.
- Havendo necessidade de esclarecimento ou insuficiência das informações, o relator pode requisitar informações aos Tribunais Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma questionada no âmbito de sua jurisdição, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria, a serem realizadas no prazo de 30 dias a contar da solicitação do relator (§§ 1º a 3º do art. 20 da Lei nº 9.868/99).
Quórum. É idêntico ao da ADIn: 8 ministros para instalação e 6, para decisão.
Decisão de mérito é irrecorrível, salvo a interposição de embargos de declaração. Não cabe rescisória.
Medida Cautelar. Consiste na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até o seu julgamento definitivo (art. 21 da Lei nº 9.868/99). Lei prevê suspensão por até 180 dias. Para Gilmar Mendes, a despeito da falta de previsão, se a questão constitucional não tiver sido decidida nesse período, poderá o STF autorizar a prorrogação do prazo de suspensão. Deferimento depende do voto da maioria absoluta (6 ministros).
2.6. Efeitos da decisão. Já se estudou que os efeitos da decisão em ADC são erga omnes, ex tunc e vinculante.
Tendo o STF decidido pela constitucionalidade, a questão se torna preclusa e vincula todo o Judiciário?
(I) O próprio STF não fica vinculado, de modo que, em caso de decisão de procedência, poderá ser ajuizada ADI futuramente em decorrência das mudanças de fatos (ADC/1 min. Carlos Veloso). Lei pode ser constitucional no presente e se tornar inconstitucional no futuro.
Exemplo: Na ADI 1232/DF, STF reputou constitucional o critério de miserabilidade referido no § 3º do art. 20 da Lei 8.742/93. Todavia, anos depois, a mesma Corte, ao julgar a Recl. 4374, reputou que era possível a superação do precedente em sede de reclamação e consignou a inconstitucionalidade superveniente do critério de miserabilidade da LOAS em face de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado).
(II) Não há preclusão para análise da inconstitucionalidade circunstancial em sede de controle difuso. Lei pode ser abstratamente constitucional, mas pode ser, no caso concreto, tida como inconstitucional (ADI 223 - sobre plano Collor).
Tese alemã do duplo controle de constitucionalidade. Segundo Gilmar Mendes, essa tese define que é possível, mesmo após o Tribunal Constitucional pronunciar-se acerca da inconstitucionalidade de determinada norma, que as instâncias inferiores dela igualmente conheçam, tendo em vista o caso concreto e calcadas no princípio da proporcionalidade.
Exemplo: ADC/04 reconheceu a constitucionalidade da lei que proíbe a antecipação de tutela contra a Fazenda Pública, mas o STF garantiu uma margem para que os tribunais analisassem a inconstitucionalidade circunstancial por falta de razoabilidade.
Súmula 729 STF: “A decisão na Ação Direta de Constitucionalidade 4 não se aplica à antecipação de tutela em causa de natureza previdenciária”.
2.7. ADC no âmbito estadual - A doutrina entende possível a Constituição Estadual instituir ADC no tocante às leis estaduais em face da respectiva Constituição Estadual. Contudo, seria necessário observar o modelo da CF, isto é somente caberia em face de lei estadual, não de lei municipal (já que a ADC no âmbito federal só abrange lei federal, e não estadual). Tal entendimento se mostra coerente com a noção de que ADI e ADC são ações ambivalentes.
3. ADI por omissão
3.1. Conceito. A ADI por omissão tem por finalidade tornar efetiva norma constitucional de eficácia limitada, não regulamentada. Objeto é amplo e abrange omissão por qualquer dos Poderes, com relação mesmo a atos administrativos.
Diferenças. Mandado de Injunção. Este é forma de controle difuso de omissões inconstitucionais. O objeto do MI é mais restrito (falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania – art. 5º, LXXI, da CF). Legitimidade ativa para MI é ampla, atribuída a qualquer pessoa natural ou a pessoas jurídicas nas mesmas hipóteses de MS coletivo.
Fungibilidade. Para Gilmar Mendes (ADI 875), ADO por omissão parcial e ADI são fungíveis.
Todavia, não há fungibilidade entre Mandado de Injunção e ADO (MI 395 – QO), em razão de se tratarem de pedidos diversos.
3.2. Objeto da ADO: (i) a inércia do Legislativo em editar atos normativos primários, (ii) a inércia do Executivo em editar atos normativos secundários, como regulamentos e instruções, e (iii) a inércia do Judiciário em editar os seus próprios atos. O objeto da ADO é uma norma constitucional de eficácia limitada com relação a qual a Constituição determina a edição obrigatória de norma regulamentadora, sendo que, sem a norma infraconstitucional, torna-se inviável o exercício do direito. Na classificação das normas constitucionais, José Afonso da Silva ensina que elas podem ser de eficácia plena, contida ou limitada. As últimas se subdividem em princípios programáticos genéricos, específicos e em princípios institutivos (ou organizatórios). Os princípios programáticos genéricos (ex.: art. 3º da CF) não exigem norma específica e não dão ensejo a ADO. Direitos sociais como os do art. 7º da CF podem consistir em princípio programático específico apto a gerar o dever de legislar, dando ensejo à ADO. Esse também é o caso dos princípios institutivos, desde que eles sejam obrigatórios (art. 134, §1º, da CF), e não facultativos (art. 25, §3º, da CF).
Perda do Objeto. STF extingue ADO quando há revogação da norma por ser regulamentada ou quando é encaminhado projeto de lei ao Congresso Nacional sobre a referida matéria. Essas situações descaracteriam a inertia deliberandi das Casas Legislativas.
Temperamento: STF reconhece a mora do Legislador quando ultrapassado prazo razoável sem discussão e votação (ADI3682).
3.3. Competência: STF
3.4. Legitimidade Ativa. Rol de legitimados é idêntico ao da ADIn.
3.5. Procedimento: é regulado na Lei 9868 e é praticamente idêntico ao da ação direta de inconstitucionalidade, porém com algumas peculiaridades:
AGU. STF dispensava citação da AGU na ADO. Lei 12.063 alterou a lei 9868 (12-E, §2º) e positivou a possibilidade de o relator solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União (prazo de 15 dias) após a apresentação das informações pelas autoridades responsáveis pela eventual omissão, no prazo de 15 dias.
Medida Cautelar. É possível na ADO diante de excepcional urgência e relevância da matéria, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, no prazo de 5 (cinco) dias. Medida consiste na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal.
Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido.
3.6. Efeitos dadecisão. Posição tradicional do STF: ADI por omissão comunica ao Congresso mora no dever de legislar. Isso vem mudando um pouco. No caso da criação dos Municípios putativos, STF fixou um prazo.
Decisão tem caráter mandamental, constituindo em mora o poder competente que deveria ter elaborado a lei e não o fez.
Se omissão for de órgão administrativo, este terá o prazo de 30 dias para saná-la ou em prazo razoável quando a excepcionalidade do caso assim recomendar.
A posição do tribunal pode ser no sentido da modulação de efeitos (declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade) ou a sentença de perfil aditivo.
SENTENÇAS ADITIVAS. São decisões que integram ou complementam um regime previamente adotado pelo legislador ou, ainda, quando a solução adotada pelo Tribunal incorpora solução constitucionalmente obrigatória. A adição de textos de conteúdo normativo nessas sentenças representam mais do que uma interpretação conforme. Há uma maior autonomia.
	
Já se defendeu o descabimento da inconstitucionalidade por omissão, ao argumento de que a teoria da nulidade preveria controle apenas nas hipóteses de extrapolação de limites pelo Legislador. Concepção se adequava ao Estado Liberal clássico. Avanço dos direitos sociais e culturais exige do Estado condutas ativas prestacionais, inclusive pelo dever de legislar. Nessas hipóteses, a omissão parcial pode ser melhor tratada por meio de declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, sob pena de se criar lacuna jurídica ameaçadora.
4- ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF)
4.1. Previsão: art. 102, § 1º, da CF (redação dada pela EC 03/93). Lei nº 9.882/99.
4.2. Preceito fundamental. Lei não definiu o conceito. Doutrina cita, como exemplo, os princípios fundamentais dos artigos 1º a 4º, as cláusulas pétreas do artigo 60, § 4º, os princípios constitucionais sensíveis do artigo 34, inciso VII, os direitos e garantias individuais dos artigos 5º a 17, os princípios gerais da ordem econômica e financeira do artigo 170 etc.
O veto não pode ser contestado por meio de ADPF, já que se tratada de manifestação de ato político.
4.3. Hipóteses de cabimento.
	Arguição Autônoma
	Arguição Incidental, por equivalência ou equiparação
	Art. 1º, caput, da Lei nº 9.882/99 → ADPF pode ser preventiva ou repressiva. Exige lesão ou ameaça de lesão a preceito fundamental causada por lei ou ato normativo federal, estadual, municipal e distrital, incluídos os anteriores à Constituição de 1988, violadores de preceito fundamental.
	Art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 9.882/99 → superar controvérsia (divergência jurisprudencial ou administrativa) constitucional, com fundamento relevante, sobre lei ou ato normativo federal, estadual, municipal e distrital, incluídos os anteriores à Constituição de 1988.
	Se admite a impugnação de decisões judiciais por meio da ADPF, antes mesmo de estarem maduras para um RE. Leva-se uma questão constitucional presente no debate de 1ª instância para abreviá-lo. Admite-se também o controle de leis revogadas.
4.4. Competência: STF (art. 102, § 1º, da CF)
4.5. Legitimidade Ativa. Rol é idêntico ao da ADIn. Havia um dispositivo no projeto de lei que legitimava qualquer pessoa pudesse levar a ADPF ao STF, mas foi vetado.
4.6. Procedimento
- A petição inicial será indeferida liminarmente pelo relator, quando não for o caso de argüição de descumprimento de preceito fundamental, quando faltar algum de seus requisitos, ou quando ela for inepta, sendo cabível contra essa decisão a interposição de agravo, no prazo de 5 dias. Art. 4º, caput e § 2º, da Lei nº 9.882/99
- A ADPF possui caráter residual, sendo-lhe aplicável, destarte, o princípio da subsidiariedade, segundo o qual somente será ela admitida quando não houver qualquer outro meio eficaz capaz de sanar a lesividade indicada, compreendido no contexto da ordem constitucional global, como aquele apto a solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata. Art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99
Subsidiariedade: não pode haver outro meio de controle em processo objetivo. Se couber MS, RE, pode caber a ADPF mesmo assim, pois ela gera eficácia geral, ao passo que os outros têm, em princípio, eficácia inter partes. Ex: ADPF 33 – piso salarial de servidores – lei pré-constitucional revogada – decidiu-se que o princípio da subsidiariedade legitimava a apreciação da ADPF, pois a existência de pendências judiciais não é bastante para resolver o caso na amplitude da ADPF.
Fungibilidade. A ADPF pode ser conhecida como ADI, se presentes os requisitos desta, inclusive pedido principal de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo por ofensa a dispositivos constitucionais. Da mesma forma, ADI pode ser conhecida como ADPF (ADI 4163)
Medida Cautelar. Será deferido por decisão da maioria absoluta (6 ministros). Decisão monocrática pelo relator é cabível em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave ou, ainda, em período de recesso (que é distinto de férias), devendo haver referendo pelo pleno. Liminar pode consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto de arguição de descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.
- Se entender necessário, o relator poderá ouvir, ainda em sede de liminar, os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado, bem como o AGU ou o PGR, no prazo comum de 5 dias. Art. 5º, § 2º, da Lei nº 9.882/99.
- Após a apreciação da medida liminar requerida, o relator solicita informações às autoridades responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de 10 dias.
- cabível amicus curiae, perícia etc.
- O Ministério Público, na condição de custos legis, tem vista do processo, por 5 dias, após o decurso do prazo para as informações. Art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 9.882/99
Quórum. É idêntico ao da ADIn: 2/3 dos ministros para instalação ou para decidir por modulação dos efeitos (art. 11 da lei 9882). Maioria simples para julgamento.
Julgamento. Decisão pode não versar sobre constitucionalidade, mas sim sobre revogação de norma anterior à CF88. Também pode haver interpretação do objeto ou do paradigma. Decisão é irrecorrível. Não cabe rescisória. Cabe reclamação contra o descumprimento de decisão proferida, em sede de ADPF.
4.7. Efeitos da decisão = ADI/ADC (erga omnes e vinculante). Decisão na ADPF é imediatamente auto-aplicável: Presidente do STF determina imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente - § 1º do art. 10 da Lei nº 9.882/99.
5. ADI interventiva
5.1. Conceito: é uma ação cujo provimento é pressuposto para decretação de uma das hipóteses de intervenção da União nos Estados, no DF ou nos Municípios localizados em Território Federal, bem como dos Estados em seus respectivos Municípios. É controle concentrado e concreto de constitucionalidade de lei ou ato normativo em tese realizado em um caso concreto.
5.2 Objeto: lei ou ato normativo, ou omissão, ou ato governamental estaduais ou distrital de natureza estadual, contrários aos princípios sensíveis da CF; bem como lei federal cuja execução esteja sendo recusada.
- São princípios sensíveis: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Art. 34, inciso VII, da CF
5.3 Competência: STF
5.4 Procedimento:
Deflagra-se com representação do PGR, único com legitimação ativa para essa ação.
Lei 12.562/2011 regulou o procedimento, prevendo o indeferimento liminar da inicial pelo relator (em decisão atacável por agravo regimental), e também medida cautelar deferível por maioria absoluta, facultando-sea prévia oitiva dos órgãos responsáveis pelo ato questionado ou do PGR no prazo comum de 5 dias.
A Representação Interventiva se desenvolve com prazo de 10 dias para o requerido se manifestar, seguido de 10 dias para a AGU e, depois, 10 dias para o PGR se manifestarem. Se entender necessário, Relator pode determinar realização de Audiência Pública, requerer informações adicionais, perícia e, por fim, submeter o feito a julgamento. Não há previsão legal de amicus curiae.
Quórum. É idêntico ao da ADIn.
Prazo para Presidente: 15 dias. Julgada procedente a ADI interventiva, o STF requisitará ao Presidente da República que expeça o decreto suspendendo o ato normativo estadual infrator ou, caso necessário, decrete a intervenção, nomeando interventor, bem como afastando as autoridades responsáveis de seus cargos. Se ocorrer o afastamento do Governador e nomeação de interventor, o decreto deve ser enviado para apreciação do CN no prazo de 24 horas.
Decretação da intervenção. José Afonso da Silva entende que Presidente fica vinculado à determinação do STF e que não decretar a intervenção em 15 dias seria crime de responsabilidade nos termos da lei 1.079, art. 12, III. Para Zeno Veloso, ato é discricionário.
ADI interventiva estadual. Prevista no art. 35, inciso IV, da CF, in verbis: “O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando o Tribunal de Justiça der provimento à representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.” Competência é do TJ local. Legitimidade ativa é do Procurador-Geral de Justiça (art. 129, IV, da CF).
Procedimento é igual ao da ADI interventiva federal. Julgada procedente a ação, pela maioria absoluta dos membros de seu órgão especial (art. 97 da CF), o Presidente do TJ local comunicará a decisão ao Governador do Estado, o qual, por sua vez, se limitará, através de Decreto, a suspender a execução do ato impugnado e, apenas se essa medida não for suficiente para o restabelecimento da normalidade, decretará a intervenção, nomeando interventor, bem como afastando as autoridades responsáveis de seus cargos.
6. Reclamação
Hipóteses de cabimento: (i) usurpação de competência; (ii) desrespeito à autoridade do tribunal. Nesse sentido, o art. 103-A, § 3º, da CF prevê reclamação no STF contra decisão judicial que não aplica ou aplica erroneamente Súmula Vinculante.
	Não é cabível: (i) contra o Poder Legislativo, que não sofre o efeito vinculante; ou (ii) contra decisão transitada em julgado, pois reclamação não é sucedâneo de ação rescisória.
Efeito: Decisão do STF de procedência não tem natureza recursal. Decisão atacada é cassada e juiz comunicado deve proferir nova decisão de acordo com o decidido previamente pelo STF. Cuidando-se de ato administrativo, STF decretará a nulidade. RISTF161 e art. 17 da Lei 8038.
Legitimação Ativa: desde a Rcl 1880 (2002), qualquer prejudicado pode ajuizar reclamação, e não apenas os legitimados ao ajuizamento de ADIn.	
Natureza Jurídica da Reclamação. Tema é controvertido na doutrina.
	- Para Pontes de Miranda, trata-se de ação;
	- Para Moacir Amaral e Alcides de Mendonça Lima, trata-se de sucedâneo de recurso;
	- Para Orozimbo Nonato, trata-se de remédio incomum;
	- Para certos doutrinadores, trata-se de incidente processual;
	- Outros o vêem como medida de Direito Processual Constitucional (José Frederico Marques);
	- Há aqueles que a tratam como medida processual de caráter excepcional;
	- Para alguns (STF), é instrumento de extração constitucional, com dupla finalidade: preservar a competência e garantir a autoridade das decisões;
	- Para Ada Pelegrini, trata-se de simples direito de petição (5º, XXXIV). O Supremo adotou esse entendimento ao permitir a reclamação no âmbito estadual (TJ)
	
	Para O STF apesar de ser direito de petição a Reclamação faz coisa julgada.
	Não há previsão na CF de reclamação nos TRFs e, de acordo com o STF para os tribunais estaduais deveria haver previsão nas constituições dos Estados, bem como no regimento interno.
	Reclamação no âmbito estadual: é possível, desde que haja previsão da CE, pois se trata de direito de petição.
	Reclamação e tribunal superior: Em outro julgado, o STF fixou o entendimento de que não é cabível a previsão, unicamente por regimento interno de Tribunal Superior, deste instituto, fazendo-se necessária a existência de lei ou previsão constitucional.
7. Controle abstrato de constitucionalidade nos Estados-Membros
Nos termos do art. 125, § 2º, da CF, in verbis: “Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.”
Pedro Lenza: deve-se permitir também, pelo princípio da simetria, a implementação dos demais meios de controle, quais sejam, ADC, ADI por omissão etc.
3. Competência: TJ local.
4. Legitimados: serão definidos na Constituição Estadual, não havendo reprodução obrigatória do rol da ADIn.
→ Leis estaduais e municipais sofrem duplo controle de constitucionalidade, em controle concentrado e abstrato, seja perante o TJ e tendo como parâmetro a Constituição Estadual, seja perante o STF e tendo como parâmetro a Constituição Federal.
	
TRATADOS INTERNACIONAIS E CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE
Pode haver controle de adequação de leis tanto em face da CF como de Tratados Internacionais.
ANISTIA. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) tem precedentes no sentido de que as anistias autoconcedidas violam os direitos humanos. Todavia, na ADPF153, o STF admitiu a constitucionalidade da lei brasileira de anistia, anterior à CF88, ao argumento de que não é dado ao Poder Judiciário rever anistia já consumada e integrada pela atual ordem constitucional. No caso Gomes Lund, a CIDH realizou controle de convencionalidade e responsabilizou o Brasil no plano internacional pela falta de investigação e julgamento dos responsáveis pelo desaparecimento de pessoas na Guerrilha do Araguaia na primeira metade da década de 1970.
TRANSCONSTITUCIONALISMO. É o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas (ex.: ordem estatal e supranacional), em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional. Não há solução para o conflito entre decisões proferidas em ordens diversas, tal como ocorre no caso da ADPF 153 e do Caso Gomes Lund. Há apenas mecanismos de aproximação e diálogo entre jurisdições de instâncias diversas.
CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. A adequação da lei interna de um país a uma Convenção Internacional pode ser analisada no plano interno ou por um organismo de função judicial (OMC, Tribunal Permanente de Arbitragem do MercoSul, Corte Internacional de Justiça, etc). No plano interno, os tratados de direitos humanos, como visto anteriormente, podem ter status equivalente ao de lei ordinária ou podem ser dotadas de supralegalidade (caso de tratados de direitos humanos não incorporados conforme rito do art. 5º, §3º, da CF). Pode o STF realizar controle de convencionalidade?
O tema é novo e não pacificado na doutrina. Os tratados incorporados à CF por remissão integram o Bloco de Constitucionalidade e servem de parâmetro no controle concentrado. Há quem entenda que o direito local pode ser controlado pelo STF difusamente em RE (art. 102, III, d) em face de normas com status de lei. Por sua vez, Luiz Guilherme Marinoni (Curso de Direito Constitucional) registra que não se deve confundir tratado internacional com emenda a Constituição ou direito supralegal com lei, o que dificultaria interpretar ampliativamente a competência do STF e STJ com relação ao controle de convencionalidade. De toda sorte, o STF, no RE 466343, conheceu da questão do depositário infiel e abordou a alegação de violação a direito reconhecido como supralegal.
Caso Rubens Paiva. Processo 0023005-91.2014.4.025101. Em maio de 2014, a 4ª VFCr do Rio recebeu denúncia por homicídio qualificadopor tortura alegadamente ocorrido em 1971. Fundamento: a anistia abarcou crimes políticos ou conexos a estes, bem como punições com fundamento em Atos Institucionais. Aí não se incluiria o homicídio, cuja prescrição teria parado de correr por força da Convenção Interamericana contra a Tortura. O Des. Fed. Messod Azulay, do TRF2, denegou HC, frisando que a ocultação de cadáver era crime permanente e que as leis brasileiras não poderiam se sobrepor a normas internacionais sobre DH. O caso está no STF. Em out/2014, o Min. Teori Zavacki concedeu liminar na Rcl 18686 por entender que a decisão de 1ª instância violou o entendimento do STF na ADPF153. O mérito ainda não foi enfrentado pelo STF.
MEIO AMBIENTE
Conceito: é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. Conceito é multifacetado, abarcando a dimensão natural (águas, solo, recursos minerais, fauna, flora), a dimensão artificial (espaço urbano construído e equipamentos públicos – regulado no Estatuto da Cidade) e a dimensão cultural (patrimônio artístico, histórico e arquitetônico). Há quem reconheça a dimensão do meio ambiente do trabalho (local de desempenho de atividades laborativas). Wladimir Passos considera a dimensão intelectual do meio ambiente (conjunto das descobertas científicas e criações do espírito).
Natureza jurídica: é bem de uso comum (fruição é coletiva, nos termos da lei). Direito a meio ambiente equilibrado é transindividual, fundado na solidariedade intergeracional (3ª geração).
Macrobem ambiental vs. Microbem ambiental. O 1º é o meio ambiente unitário, incorpóreo e imaterial de uso comum do povo. O 2º se sujeita a regime regulado de exploração particular. É o caso de animais, individualmente considerados, de recursos da flora, etc.
CF, Art. 225. “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.”
O dispositivo acima, ao mencionar “(...)essencial à sadia qualidade de vida (...)”, combina o direito ao meio ambiente e a dignidade da pessoa humana. Ao referir-se ao Poder Público e à coletividade, estipula dever de participação e dever de o Poder Público criar mecanismos que viabilizem essa participação.
Art. 225, § 1º - “Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.”
→ Majoritariamente, entende-se que o dispositivo acima não reconhece os animais como sujeitos de direito. Prevalece a tese minimalista – antropocêntrica (apenas homens são sujeitos de direito), muito embora a tese ecocêntrica (meio ambiente deve ser preservado independentemente dos interesses prevalentes de uma espécie) tenha adeptos.
Responsabilidade no Direito Ambiental. A pessoa física e jurídica podem ser responsabilizadas nos planos civil, administrativo e penal. No caso de danos nucleares, o art. 22, XXIII, da CF firmou a responsabilidade objetiva. Para o dano ambiental em geral, a CF não é tão taxativa, tendo sido a lei a estipular a responsabilidade objetiva.
FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE. Pode ser extraído da CF e do Código Civil (art. 1228, § 1º). Propõe que o exercício da propriedade não pode gerar prejuízos a terceiros e, muito menos, ao meio ambiente. Permite-se a estipulação de limitações administrativas. Segundo o art. 186 da CR/88, por exemplo, a função social da propriedade rural é cumprida quando ela atende à utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente. STF: A própria Constituição da República, ao impor ao poder público o dever de fazer respeitar a integridade do patrimônio ambiental, não o inibe, quando necessária a intervenção estatal na esfera dominial privada, de promover a desapropriação de imóveis rurais para fins de reforma agrária, especialmente porque um dos instrumentos de realização da função social da propriedade consiste, precisamente, na submissão do domínio à necessidade de o seu titular utilizar adequadamente os recursos naturais disponíveis e de fazer preservar o equilíbrio do meio ambiente (CF, art. 186, II), sob pena de, em descumprindo esses encargos, expor-se à desapropriação-sanção a que se refere o art. 184 da Lei Fundamental." (MS 22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-10-95, DJ de 17-11-95)
O art. 170, VI, da CF. A defesa do meio ambiente é princípio que rege a ordem econômica. Desde a EC42/03, a CF permite inclusive o tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Tutela-se o meio ambiente, quer seja tomado como fonte de matérias-primas ou como destinatário de externalidades do processo produtivo.
Importação de pneus usados. ADPF101. Num primeiro momento, atos do Executivo proibiram a importação de pneus em nome da tutela da saúde pública e do meio-ambiente (Portaria 08/00 DECEX). No MERCOSUL, restou definido que isso violava acordos do MercoSul. A Resolução 38 da Câmara de Comércio Exterior do Mercosul limitou a importação definindo quotas para cada país do Mercosul. Após questionamento pela União Europeia, esse quadro foi levado até a OMC, que condenou a regulação brasileira. A OMC autorizou represália europeia, pois Brasil não poderia aceitar importações dentro do bloco e rejeitar importações de terceiros, eis que isso seria incongruente com a pretendida defesa da saúde pública, alegada pelo Brasil. No plano interno, começaram a ser ajuizadas demandas aduzindo violação da isonomia e da livre concorrência e os juízes começaram a admitir a importação de pneus remoldados provenientes de qualquer país do mundo. Com base na divergência de decisões, foi proposta a ADPF 101 no STF, em que a Corte Suprema admitiu a vedação, entendendo que a importação afrontava os preceitos de saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado. STF declarou inconstitucionais, com efeitos ex tunc, as interpretações, incluídas as judicialmente acolhidas, que permitiram ou permitem a importação de pneus usados de qualquer espécie, aí insertos os remoldados. Ficaram ressalvados os provimentos judiciais transitados em julgado, com teor já executado e objeto completamente exaurido — v. Informativo 538.
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE
Ato lesivo ao meio ambiente pode ser anulado por meio de ação popular ( art. 5°, LXXIII, CF). É função do MP promover o Inquérito Civil Público e a ACP voltada para defesa ambiental. As terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental são bens da União.
Art. 23, III, VI e VII, CF – competência material comum (U, E, DF e M)
-proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
-proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
-preservar as florestas, a fauna e a flora;
Art. 24, VI, VII e VIII, CF – competência legislativa concorrente (U, E, DF)
-florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
-proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
-responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
FAMÍLIA
Conceito. É “um fato natural, (...) não sendo resultante de uma ficção criada pelo homem. Trata-se de um conjunto de pessoas que se vinculam pelo matrimônio, pelo companheirismo, pela filiação biológica, pela filiação socioafetiva. O termo 'família', assim, apresenta pluralidade de conceituação (...)” - Dr. Guilherme Calmon. A família no direito penal. p.24
CF, Art. 226. “A família, base da sociedade,tem especial proteção do Estado.”
"[A] milenar proteção da família como instituição, unidade de produção e reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos" na CF88, segundo Gustavo Tepedino.
A instituição família é vista hoje deixando de lado o patriarcalismo, e alicerçando-se em uma compreensão dos Direitos Humanos, a partir da noção da dignidade da pessoa humana, da qual decorrem alguns princípios que regem a família, tais como:
	1) Princípio do pluralismo familiar (ou da liberdade de constituição de uma comunhão de vida familiar) - A norma constitucional abrange a família matrimonial, bem como quaisquer outras entidades familiares, como a união estável e família monoparental, mesmo que note-se certa resistência ao reconhecimento de famílias simultâneas pela jurisprudência do STF, justamente invocando a tutela da família.
	2) Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e companheiros - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher;
	3) Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos - Decorre do princípio da dignidade da pessoa humana, iguala a condição dos filhos havidos ou da relação do casamento, ou por adoção, não mais admitindo-se qualquer diferenciação entre os mesmos; e
	4) Princípio da paternidade responsável e planejamento familiar - O planejamento familiar é livre decisão do casal, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável.
A EC66/2010 revogou a exigência constitucional de 2 anos de interregno entre a separação judicial e o divórcio, tornando o casamento imediatamente dissolúvel (art. 226, §6º, CF).
Tutela Constitucional do Idoso. O art. 229 da CF reconheceu o princípio da solidariedade nas relações familiares, incumbindo os pais do dever de ampararem os filhos menores e estes ampararem aqueles na velhice, carência ou enfermidade. Como desdobramento natural, a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (art.230, CF). Além disso, os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares (art. 230, §1º, CF).
Foram editadas a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/94), e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03). Tais diplomas trouxeram uma série de princípios e garantias assecuratórios da dignidade humana na terceira idade (ex.: a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida.)
Tutela constitucional da Criança, do Adolescente e do jovem - Sobressai da ordem social preconizada na Constituição Federal de 1988, no Capítulo VII, Título VIII, a explícita priorização na proteção da criança, do adolescente e do jovem, com o estabelecimento de uma ordem de proteção máxima e especial que lhes fora atribuída, conforme se constata do caput do art. 226, c/c o art. 227 e seu § 3º (“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao laser, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”).
Tal função garantista da CF deve ser compreendida com a convocação do meta-princípio da dignidade da pessoa humana, em face da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento em que sem encontram as crianças e adolescentes. No entanto, também deve-se identificar o adolescente como sujeito de suas ações; como sujeito de direitos, mas também de obrigações.
Obs: A EC 65/2010 inclui o jovem no mesmo âmbito de proteção das crianças e adolescentes, além de inserir o §8º no art. 227 da CF, com a seguinte redação.
§ 8º A lei estabelecerá: (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens;
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas.
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado pela Lei 8.069/90. O Estatuto da Juventude foi criado pela Lei 12.853/2012. É jovem aquele que tiver entre 15 e 29 anos, aplicando-se o ECA preferencialmente, em caso de conflito, ao jovem adolescente (de 15 a 18 anos).
ADOÇÃO. Há previsão expressa desse instituto na Constituição. Confira-se:
Art. 227, § 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Direito a Especial Proteção da Criança. Abrange os seguintes aspectos:
 1) idade mínima de quatorze anos (de 14 a 16, apenas como menor aprendiz) para admissão ao trabalho, proibidas atividades perigosas ou insalubres aos menores de 18;
 2 )garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
 3) garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;
 4) garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica;
 5) obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
 6) estímulo do poder público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;
 7) programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.
ÍNDIOS
Conceito. É índio quem se sente índio. Essa auto-identificação se funda no sentimento de pertinência a uma comunidade indígena e na manutenção dessa identidade étnica, fundada na continuidade histórica do passado pré-colombiano. A CF 34 foi a primeira a trazer proteção aos Índios.
Transcrição de dispositivos pertinentes da CF. [Recomenda-se a leitura!] Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido,em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
→ STF já entendeu que a convocação de índio para depor em CPI viola a vedação constitucional de remoção de grupos indígenas.
Indigenato. Não se confunde com ocupação ou posse (títulos aquisitivos). É fonte primária e congênita de posse imemorial enquanto direito originário. Daí se falar em demarcação, e não em desapropriação. A Teoria do Indigenato (não é possível precisar data inicial de posse imemorial) foi substituída pela Teoria do Fato Indígena na demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol (Ação Popular em Face da União onde 8 ministros entenderam que importa a comprovação da ocupação na data da promulgação da constituição - 5/10/1988).
Portanto, ocupação tradicional não é caracterizada (a) pela imemorialidade; (b) nem pela ocupação pré-colombiana; não há laudo arqueológico porque a territorialidade dos povos indígenas é constantemente redefinida por múltiplos aspectos (“não há como recuperar Copacabana para os índios”). Não descaracteriza o animus possidendi dos índios terem sido forçados a se retirar de suas terras (STF, ACO 323/93).
Usufruto das riquezas existentes. Não é transferível para qualquer apropriação individual. Os resultados de qualquer uso ou trabalho serão sempre coletivos. É possível o uso indireto, como o trabalho alheio ou o contrato que explore riqueza do território. É vedado o exercício do direito de propriedade (brasileiro) nas terras indígenas, onde é cogente o direito consuetudinário indígena, que pode permitir apropriação individual segundo seus costumes (Marés, 1998). No caso Raposa Serra do Sol, o STF instituiu as seguintes “Salvaguardas institucionais”: (a) pode ser relativizado por relevante interesse público da União em LC; (b) não abrange (b.1) o aproveitamento dos recursos hídricos e potenciais energéticos (autorização do CN); (b.2) pesquisa e lavra de riquezas minerais (índios têm participação nos resultados, e idem); (b.3) garimpagem nem faiscação (exige permissão); (c) Política de Defesa Nacional, cujas ações são implementadas independentemente de consulta às comunidades e à Funai; idem para as ações das Forças Armadas e a Polícia Federal; (d) não impede a instalação pela União de equipamentos públicos; (e) em unidade de conservação fica sob responsabilidade do ICMBio, que administra a UC e deve ouvir as comunidades; nas UC admite-se visitantes e pesquisadores não-índios; no restante da área, idem mas administrado pela Funai; sempre sem cobrança; (f) terras indígenas não podem ser objeto de arrendamento ou qualquer ato ou negócio que restrinja o pleno exercício do usufruto e da posse direta pela comunidade; (g) são vedadas aos não-índios a caça, pesca, coleta ou agropecuária extrativa. Terra, usufruto e rendas gozam de imunidade tributária plena. É vedada a ampliação de terra já demarcada (certamente contra posição do MPF). Direitos às terras são imprescritíveis, inalienáveis e indisponíveis.
Imunidade Tributária. Dentre as determinações aprovadas no julgamento da ação popular sobre demarcação da Reserva Indígena Raposo Serra do Sol, decidiu-se que: as terras sob ocupação e posse dos grupos e das comunidades indígenas, o usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes nas terras ocupadas, observado o disposto nos artigos 49, XVI, e 231, § 3º, da Constituição da República, bem como a renda indígena, gozam de plena imunidade tributária, não cabendo a cobrança de quaisquer impostos, taxas ou contribuições sobre uns ou outros.
Procedimento para reconhecimento e demarcação de terras indígenas. Demarcação de terras indígenas – é procedimento declaratório; a proteção jurídica deve existir mesmo antes da demarcação (não é assim na jurisprudência), já que baseada na mera ocupação tradicional. Cabe ação declaratória para exigir a demarcação. Contra a demarcação processada não cabe interdito possessório, facultado aos interessados a via petitória ou demarcatória. É assegurada a participação das UF em todas as etapas do processo de demarcação. STF entendeu ser dispensada a manifestação do Conselho de Defesa Nacional durante o processo homologatório de terra indígena em área de fronteira (Caso Raposa Serra do Sol).
Competência
Art. 22, XIV, CF – competência privativa da União para legislar sobre populações indígenas.
Art. 20, XI, CF – terras tradicionalmente ocupadas por índios são bens da União.
Art. 49, XVI, CF – competência exclusiva do CN para autorizar exploração e aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa de riquezas minerais em terras indígenas.
Defesa judicial dos índios. Para ela têm legitimidade ativa os índios, suas organizações e comunidades, bem como o MP. “Compete à Justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima” (Súmula 140 do STJ). A competência, em regra, é da Justiça Estadual, mas o art. 109, XI, da CF atribui à JF o julgamento de:
(i) disputas cíveis envolvendo a coletividade indígena - ex.: disputas sobre a organização social, costumes, línguas, crenças, tradições ou sobre o indigenato
(ii) crimes relacionados à coletividade, como os de genocídio de indígenas (RE 263010. STF)
(iii) crimes ligados aos interesses coletivos (HC 91121. STF).
Tributário: Discriminação Constitucional de Competências Tributárias. Repartição de Receitas. Infrações e Sanções Tributárias. Conceito e Natureza Jurídica do ilícito Tributário e dos Crimes Tributários. Denúncia Espontânea.
Wellington Lopes da Silva - wton.lopes@yahoo.com
3.2.1. Discriminação constitucional de competências tributárias
União, Estados e Distrito Federal têm competência legislativa concorrente para legislar sobre direito tributário (CF/88, art. 24, I). Os Municípios têm competência legislativa suplementar (CF/88, art. 30, II).
Competência para legislar sobre direito tributário é diferente de competência para instituir tributos.
Competência para instituir tributos
É a aptidão que cada um dos entes políticos possui para a instituição do tributo. “A competência tributária de cada ente político é estabelecida taxativamente pela Constituição da República em seus arts. 145 a 149-A, sendo, pois, numerus clausus as possibilidades de tributação” (Paulsen).
A instituição de tributo (pelo ente que tem competência para tanto) e a distribuição/repartição dos tributos arrecadados (como previsto na CF/88, conforme adiante) constituem formas de financiamento dos entes federados.
A Constituição não cria tributos, mas apenas confere competência para que os entes políticos o façam. As emendas constitucionais, as constituições estaduais e as leis orgânicas também não criam tributos.
Características da competência tributária
a) Privatividade. Não cabe aos entes federativos transferir as suas competências entre si, sob pena de violação da vontade do legislador constitucional. A exclusividade da titularidade é do ente ao qual o texto constitucional atribuiu a competência.
b) Indelegabilidade. “A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra [...]” (CTN, art. 7º). “A competência, como parcela dopoder fiscal, é indelegável, ou seja, não pode a União, por exemplo, delegar aos Estados a instituição do Imposto de Renda, pois cuida-se de imposto federal concedido à União, exclusivamente, no art. 153, III, da Constituição. As funções fiscais (regulamentar, fiscalizar, lançar) são delegáveis, porquanto tal implica tão somente a transferência ou compartilhamento da titularidade ativa (posição de credor na relação jurídica tributária) ou apenas de atribuições administrativas (atribuições de fiscalizar e lançar)” (Paulsen).
Competência para instituir Não pode ser delegada.
Atribuição de arrecadar/fiscalizar/executar Pode ser delegada.
c) Incaducabilidade. O não exercício da competência tributária não implica perda da possibilidade de fazê-lo, tampouco a transfere “a pessoa jurídica de direito público diversa daquela a que a Constituição a tenha atribuído” (CTN, art. 8º).
d) Inalterabilidade. A competência, da forma como foi estabelecida pelo constituinte originário, não poderia ser objeto de modificação. Nesse sentido, uma emenda à Constituição que pretendesse alterar substancialmente a repartição das competências tributárias poderia incidir no limite ao poder reformador imposto no art. 60, § 4º, I.
e) Irrenunciabilidade. O ente federativo não pode renunciar a competência a ele atribuída. Em regra, somente o titular de um direito é que tem a possibilidade de dele dispor. Ocorre que o ente federado não é o titular do interesse público. Ele, tão somente, tutela esse interesse, que é indisponível (princípio da indisponibilidade do interesse público). Nessa linha, a competência tributária não pode ser renunciada.
f) Facultatividade. O exercício da competência tributária é uma faculdade do ente federativo, conforme se depreende do art. 145, caput, da CF/88: “[...] poderão instituir os seguintes tributos [...]”. De outro lado, porém, o art. 11 da LC 101/00 (LRF) preceitua que “Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação”.
O art. 11 da LC 101/00 (LRF) é constitucional? Se sim, tornou obrigatório o exercício da competência tributária pelo ente político? Há divergência. Para uns, o dispositivo é inconstitucional, por pretender alterar uma prerrogativa atribuída pela Constituição aos entes federativos, qual seja, o exercício da competência tributária como sendo uma faculdade. Para outros, o dispositivo é constitucional e, a partir dele, não mais existiria a facultatividade para o exercício da competência tributária. Uma terceira posição (conciliatória) afirma que o art. 11 da LRF não tornou obrigatório o exercício da competência tributária (que, à luz da CF/88, continua sendo facultativa), mas apenas estabeleceu uma consequência para o seu não exercício: a vedação do recebimento de transferências voluntárias (parágrafo único do dispositivo em exame). Cuidado! A vedação (LRF, art. 11, p.u.) se dirige apenas às transferências voluntárias, de sorte que não são atingidas as transferências previstas no texto constitucional, que são obrigatórias.
Exceções à facultatividade apontadas pela doutrina:
a) Instituição do ICMS. Nesse caso, não haveria facultatividade, pois, caso um Estado-membro não instituísse o ICMS, provocaria uma guerra fiscal.
b) Tributos cuja receita deve ser repartida entre entes federados. O exercício da competência, nesse caso, seria obrigatório, pena de ferir o pacto federativo.
Competência tributária x capacidade tributária
Competência tributária (poder fiscal, poder de instituir tributo) não se confunde com capacidade tributária. A competência tributária já foi examinada acima. A capacidade tributária se subdivide em capacidade tributária ativa e capacidade tributária passiva.
Capacidade tributária ativa é a aptidão para integrar a relação jurídica tributária no polo ativo, exigindo o tributo.
Enquanto o exercício da competência tributária é facultativo, o exercício da capacidade tributária ativa é obrigatório (dever-poder), de acordo com o que se extrai do próprio conceito de tributo trazido pelo art. 3º do CTN: “[...] cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada [...]”.
Delegação da capacidade tributária ativa. A capacidade tributária ativa pode ser delegada. O instrumento para fazê-lo será aquele previsto na norma que instituiu o tributo. Note-se, pois: enquanto a competência tributária é indelegável e de exercício facultativo, a capacidade tributária ativa é delegável e de exercício obrigatório.
O § 3º do art. 7º do CTN dispõe que “não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas jurídicas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos”. Vale lembrar que, nessa linha, o fato de o banco receber o pagamento do tributo não significa que ele possua capacidade tributária ativa.
Capacidade tributária passiva é a aptidão para integrar a relação jurídica tributária no polo passivo, respondendo pelo tributo (é a posição do contribuinte/responsável).
Critérios de distribuição da competência tributária na CF/88
As normas de competência constam dos arts. 145 a 149-A, encontrando, ainda, especificações nos arts. 177, § 4º, e 195 da CF/88. Tais normas, ao distribuir a competência tributária, se valem de um destes critérios: 
i) Critério da atividade estatal: a competência é outorgada em função da atividade estatal, como é o caso das taxas e das contribuições de melhoria.
ii) Critério da base econômica a ser tributada: ao outorgar competência tributária, a Constituição restringe a tributação a determinadas bases econômicas, taxativamente arroladas. Assim, por exemplo, os arts. 153, 155 e 156 estabelecem as bases econômicas sobre as quais cada ente político, de forma privativa, poderá instituir um imposto, sem prejuízo, por certo, das competências residual e extraordinária da União (art. 154). Por isso, determinadas riquezas são tributadas pela União (importação, exportação, renda, operações com produtos industrializados etc), outras pelos Estados (circulação de mercadorias, propriedade de veículos automotores etc) e outras pelos Municípios (prestação de serviços de qualquer natureza etc). Leandro Paulsen lembra que “a outorga de competência pelo critério da base econômica, implica, efetivamente, por si só, uma limitação da respectiva competência às possibilidades semânticas (significado das palavras) e sintáticas (significado das expressões ou frases como um todo [...]) do seu enunciado”. Rememora, nesse contexto, o art. 110 do CTN, segundo o qual a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição, para definir ou limitar competências tributárias.
iii) Critério da finalidade: por vezes, a distribuição da competência tributária leva em conta as áreas de atuação que justificam a instituição de tributos para o seu custeio. É o que se dá em relação às contribuições e aos empréstimos compulsórios. Valendo-se dessa técnica, o constituinte opta pela funcionalização de alguns tributos, admitindo-os quando venham ao encontro da promoção de políticas arroladas constitucionalmente como relevantes para a sociedade brasileira: o tributo como instrumento da sociedade para a viabilização de políticas públicas (caráter instrumental do tributo).
Repartição de competências na federação brasileira
· IMPOSTOS: a competência é discriminada exaustivamente na Constituição, que faculta apenas à União Federal criar impostos residuais, mas por lei complementar, não-cumulativos e desde que não incidam sobre a mesma base de cálculo ou fato gerador dos demais impostos já discriminados.
· Taxas: a competência é concorrente, ou seja, todos os entes podem instituir taxas, bastando que tenham competência para prestar o serviço ou exercer o poder de polícia (ex.: taxa de emissão de passaporte só a União Federal pode criar, pois só ela tem a competência para tanto). 
· CONTRIBUIÇÕESDE MELHORIA: competência concorrente. Institui a contribuição de melhoria o ente que realiza a obra pública.
· EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS: competência exclusiva da União Federal.
· CONTRIBUIÇÕES GERAIS: a competência é, em regra, da União Federal. Exceção para as contribuições para iluminação pública (CIPE), de competência dos municípios e do DF, bem como para o custeio da previdência dos servidores.
· Impostos:
· Federais: II, IE, IPI, IOF, IR, ITR, IGF, impostos residuais, impostos extraordinários.
· Estados: IPVA, ICMS, ITCMD.
· Municípios: ISS, IPTU, ITBI
· Terminologias de competências tributárias para os impostos:
	COMPETÊNCIA PRIVATIVA
	É a competência “exclusiva” da entidade impositora.
	Todos os entes políticos
	COMPETÊNCIA RESIDUAL
	É a competência “remanescente” dada com exclusividade à União para a instituição de impostos “novos” (CF/88, art. 154, I) ou contribuições sociais “novas” (CF/88, art. 195, § 4º).
	Só a União
	COMPETÊNCIA EXTRAORDINÁRIA
	É a competência afeta à União no tocante à instituição do IMPOSTO EXTRAORDINÁRIO DE GUERRA (IEG – CF/88, art. 154, II)
	Só a União
	COMPETÊNCIA CUMULATIVA
	É a competência afeta aos IMPOSTOS no DF e nos territórios.
	DF 
(CF/88, arts. 155, caput, c/c 147, in fine) 
(impostos estaduais e municipais)
	
	
	TERRITÓRIOS
	
	
	Sem Municípios
	Com Municípios
	
	
	União é competente para a instituição dos impostos estaduais e municipais
	União competente para a instituição somente dos impostos estaduais
· Competência extraordinária – regras gerais:
· Guerra externa ou sua iminência: não são fatos geradores, mas circunstâncias que permitem a criação do IEG.
· Poderão ter a mesma hipótese de incidência, base de cálculo e fato gerador de imposto ordinário já instituído pela União, Estados, DF ou Municípios; ou seja, ele é repetitivo, é uma clonagem tributária, que vai conviver, simultaneamente, com o imposto ordinário ou residual já existente. Ou seja, poderá haver bitributação ou bis in idem.
· Não exige não-cumulatividade.
· Devem ser transitórios, mas podem perdurar por 5 anos depois da celebração da paz (CTN, art. 76). CF/88 fala em “extinção gradual”.
· Podem ser instituídos por lei ordinária ou MP.
· Não se submetem ao princípio da anterioridade simples e nonagesimal.
· Competência residual – regras gerais:
· Pode ser utilizada a qualquer tempo.
· Exige lei complementar.
· Exige não-cumulatividade
· Exige inovação do FG e da BC (segundo o STF, só existe dentro da própria espécie tributária. Ex.: uma contribuição só pode ser criada se o seu fato gerador e a sua base de cálculo forem diferentes daqueles definidos para as contribuições já criadas).
· São permanentes (não há exigência de natureza temporária)
· Submetem-se ao princípio da anterioridade e à noventena.
Bis in Idem (ou bitributação econômica): quando o mesmo ente tributante institui mais de tributo decorrente do mesmo fato gerador. Não há no texto constitucional uma genérica vedação expressa ao bis in idem. Exemplo de bis in idem: COFINS e PIS; II e IPI/Importação (REsp 846.667/RJ)
Bitributação (ou bitributação jurídica): quando entes tributantes diversos exigem do mesmo sujeito passivo tributos decorrentes do mesmo fato gerador. Em regra, é proibida no Brasil. Duas situações em que a bitributação é legítima: 1) Instituição, pela União, de impostos extraordinários de guerra com fato gerador próprio de tributos de competência estadual ou municipal; 2) casos envolvendo Estados-nações diversos (ex: possibilidade de cobrança de IR por Estados-Nações diversos)
3.2.2. Repartição de receitas
As transferências tributárias constitucionais da União para os Estados e Municípios podem ser classificadas em transferências diretas (repasse de parte da arrecadação para determinado governo) ou transferências indiretas (mediante a formação de fundos especiais). No entanto, independentemente do tipo, as transferências sempre ocorrem do governo de maior nível para os de menores níveis, quais sejam: da União para Estados; da União para Municípios; ou de Estados para Municípios.
	RECEITAS TRIBUTÁRIAS DA UNIÃO
	Percentual da Repartição
	Receita
Tributária
	Beneficiário
	Mandamento Constitucional
	100%
	IR retido pelos Estados e DF
	Estados e DF
	157, I
	20%
	Imposto de Competência Residual (154, I)
	Estados e Distrito Federal
	157, II
	30%
	IOF
	Estados e DF
	153, §5º, I
	10%
	IPI, proporcionalmente às exportações (nenhum Estado recebe mais de 20% do total distribuído)
	Estados e DF
	Art. 159, II
	21,5%
	IR e IPI
	Fundo de Participação dos Estados e do DF
	159,I, a
	100%
	IR Fonte retido pelos Municípios
	Municípios
	158, I
	70%
	IOF (ouro)
	Municípios
	153, §5º, II
	50% ou 100%
	ITR
	Municípios
	158, II
	24,50%
	IR e IPI
	Fundo de Participação dos Municípios
	159, I, b, d e e
	1,8%
	IR e IPI
	Região Nordeste (metade ao Nordeste Árido)
	159, I, c
	0,6%
	IR e IPI
	Região Norte
	Idem
	0,6%
	IR e IPI
	Região Centro-Oeste
	Idem
	29%
	CIDE-Combustível (única contribuição)
	Estados e DF
	159, III
	RECEITAS TRIBUTÁRIAS DOS ESTADOS
	Percentual de Repartição
	Receita a repartir
	Mandamento Constitucional
	50%
	IPVA
	158, III
	25%
	ICMS (ver obs abaixo) 
	158, IV
	25%
	IPI (10% da União que vai para os Estados)
	159, §3º
	25%
	CIDE (29% da União vai pra os Estados)
	159, §4º)
Observação quanto à repartição do ICMS (25%) com os Municípios O creditamento será realizado da seguinte maneira (CF/88, art. 158, parágrafo único, I): i) mínimo de ¾ proporcionalmente ao “valor adicionado” (conforme definido em lei complementar - CF/88, art. 161, I) nas operações realizadas em seus territórios; ii) até 1/4 , de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territórios, lei federal.
Outras observações relevantes:
i) Cabe à lei complementar estabelecer normas sobre a repartição de receitas tributárias da União com os Estados, DF e Municípios, bem como definir os critérios de rateio dos fundos (FPE, FPM, dentre outros), objetivando promover o equilíbrio socioeconômico entre Estados e Municípios (CF/88, art. 161, II).
ii) Cabe ao TCU efetuar o cálculo das quotas referentes a esses fundos (CF/88, art. 161, parágrafo único).
Jurisprudência relevante sobre o tema:
“[...] A parcela do imposto estadual sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, a que se refere o art. 158, IV, da Carta Magna pertence de pleno direito aos Municípios. O repasse da quota constitucionalmente devida aos Municípios não pode sujeitar-se à condição prevista em programa de benefício fiscal de âmbito estadual. Limitação que configura indevida interferência do Estado no sistema constitucional de repartição de receitas tributárias. ” (RE 572.762, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 18-6-2008, Plenário, DJE de 5-9-2008, com repercussão geral.)
“ICMS. Distribuição da parcela de arrecadação que pertence aos Municípios. Lei estadual que disciplina a forma de cálculo do valor adicionado para apuração do montante fixado no inciso I do parágrafo único do art. 158 da CF. Matéria expressamente reservada à lei complementar (CF, art. 161, I). Vício formal insanável que precede a análise de eventual ilegalidade em face da Lei Complementar federal 63/1990. Violação direta e imediata ao Texto Constitucional.” (ADI 2.728, Rel. Min.Maurício Corrêa, julgamento em 28-5-2003, Plenário, DJ de 20-2-2004.)
Restrições à repartição das receitas tributárias:
Regra É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (CF/88, art. 160).
Exceções A União ou o Estado pode condicionar a entrega de recursos nas seguintes situações (CF/88, art. 160, parágrafo único):
a) Como condição para pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias.
b) Se não forem aplicadas as verbas mínimas para a saúde, previstas no art. 198, § 2º, II e III.
3.2.3. Infrações e sanções tributárias
A infração tributária (ou ilícito tributário) é o comportamento,comissivo ou omissivo, traduzido no descumprimento de norma tributária que determina o pagamento de tributo (obrigação principal) ou a observância de deveres instrumentais (obrigação acessória). Uma vez praticada, dá ensejo a uma sanção prevista em lei tributária (castigo). Assim, a sanção tributária pode ser aplicada como resposta a uma infração substancial (não prestação do tributo, como, por exemplo, a falta de pagamento do IR) ou a uma infração formal (descumprimento de dever instrumental, a exemplo da não apresentação da declaração de IR).
O CTN (art. 97, V) exige lei em sentido formal para regular a imposição de penalidades (sanções tributárias). 
Responsabilidade por infrações
A responsabilidade por infrações pode ser objetiva (regra) ou subjetiva.
Leandro Paulsen lembra que há três regras gerais quanto às infrações tributárias:
A 1ª REGRA estabelece a responsabilidade objetiva, com o efeito de afastar qualquer exigência de culpa ou dolo para a caracterização da infração, com o que se tornaria desnecessário perquirir da intenção do agente (CTN, art. 136, 1ª parte), o que não dispensa, contudo, que tenha praticado o ato ou concorrido para o mesmo.
A 2ª REGRA é no sentido de que a responsabilidade por infrações independe da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato, ou seja, praticado o ato que a legislação indica como infração a que comina multa, não se perquirem outros aspectos atinentes à situação (CTN, art. 136, 2ª parte).
A 3ª REGRA estabelece o caráter pessoal da responsabilidade pelas infrações que configuram crimes ou contravenções, definidas por dolo específico ou que envolvam dolo específico (art. 137, I, II e III) (responsabilidade subjetiva).
Críticas à responsabilidade objetiva prevista no art. 136 do CTN: i) baseia-se em culpa presumida (Hugo de Brito); ii) é inconstitucional, porque viola o princípio da individualização da pena, que não se limita ao direito penal (Edimar Oliveira).
Ricardo Lobo Torres menciona a relativização do art. 136 (responsabilidade objetiva) promovida pelo art. 112 do CTN, pelo qual “a lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto (I) à capitulação legal do fato; (II) à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; (III) à autoria, imputabilidade ou punibilidade; (IV) à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação”.
O STJ já ponderou que “apesar de prever o art. 136 que a responsabilidade do contribuinte ao cometer um ilícito é objetiva, admitem-se temperamentos na sua interpretação, diante da possibilidade de aplicação da equidade e do princípio da lei tributária in dubio pro contribuinte – arts. 108, IV, e 112 [...]” (REsp 278. 324/SC).
O descumprimento, omissivo ou comissivo, de norma tributária pode gerar:
a) acréscimos compensatórios: juros de mora (no caso do adimplemento extemporâneo da obrigação tributária principal);
b) acréscimos de mera recomposição: correção monetária;
c) multas repressivas: multas punitivas, quer isoladas, quer moratórias, quer de ofício (conceituadas adiante);
d) apreensão de mercadorias e de documentos, bem como de veículos: a devolução fica condicionada ao pagamento do tributo devido, com as penalidades cabíveis; ou, então, querendo discutir a legitimidade do procedimento fiscal, o interessado terá de oferecer fiança idônea ou depósito de valor correspondente à mais elevada multa aplicável à espécie;
e) sujeição a regime especial de controle: ocorre em relação a certos impostos, como o IPI e o ICMS. Consiste na rotulagem especial, na numeração ou no controle quantitativo dos produtos; no uso de documentos ou livros de modelos especiais; na prestação de informações periódicas sobre as operações do estabelecimento; na vigilância constante dos agentes do Fisco;
f) cassação de regimes especiais de pagamento do imposto, de uso de documentos ou de escrituração de livros específicos.
Correção monetária não é sanção, mas representa apenas a atualização do valor da dívida, para recompor a perda decorrente da desvalorização da moeda. Embora, em termos aritméticos, haja majoração, o resultado corrigido traduz apenas o valor atual da dívida. É um minus que se evita, mas não um plus que se adita. Logo, a correção monetária nem é punição, nem é indenização.
Sanção política
Os instrumentos utilizados pelo Fisco com o intuito, declarado ou disfarçado, de forçar o contribuinte pagar o tributo, sem observância dos procedimentos legais (lançamento, cobrança, inscrição em dívida ativa, execução fiscal), constituem cobrança indireta (oblíqua), ou seja, sanção política, o que representa violação do devido processo legal, quer em sua vertente formal (regular procedimento, com contraditório, ampla defesa etc), quer em sua vertente material (razoabilidade e proporcionalidade).
Discussões importantes, dentro do tema:
1) O protesto de certidão de dívida ativa. Para muitos, a Fazenda Pública, que já conta com meios próprios de cobrança de seus créditos, não poderia realizar o protesto da CDA. Nessa linha, para MAURO LUIS ROCHA, o protesto da CDA é inconstitucional, por representar sanção política, em razão de: a) o tributo não é sujeito tecnicamente a protesto, pois este pressupõe prova da inadimplência (a mora do tributo é automática) e obrigação originada em títulos (o tributo decorre de lei); b) o protesto é inútil, pois para a cobrança do tributo basta a inscrição em dívida ativa, bem como a Fazenda não pode requerer a falência do devedor do tributo; c) o interesse do Fisco seria apenas o de negativação do nome do devedor no SPC, o que violaria o devido processo legal exigível para cobrança de seus créditos (vinculação à lei). Em 2010, o STJ, por meio de suas 1ª e 2ª Turma, manifestou-se contrariamente ao protesto, sob o argumento de que “a CDA, além de já gozar da presunção de certeza e liquidez, dispensa o protesto. Correto, portanto, o entendimento da Corte de origem, segundo a qual o Ente Público sequer teria interesse para promover o citado protesto” (AgRg no Ag 1.172.684/PR). O CNJ, recentemente, manifestou-se favoravelmente ao protesto de CDA, ao argumento de que não há qualquer dispositivo legal que vede o protesto dos créditos inscritos em dívida ativa. Em 2012, a Lei n. 12.767/12 deu nova redação ao art. 1º da Lei n. 9.492/97, admitindo expressamente o protesto de CDA. 
2) Regularidade fiscal como condição para adesão ao Simples Nacional. Para muitos, o requisito previsto no art. 17, V, da LC n. 123/07 (não possuir débitos exigíveis perante o INSS e as Fazendas federal, estaduais e municipais) como condição para enquadrar-se no Simples Nacional representaria sanção política, além de violar a isonomia. O STF (RE 627.543) não acolheu a tese.
3) Outras sanções permitidas no ordenamento jurídico: i) proibição de concessão de benefícios fiscais federais; ii) exigência de quitação de todos os tributos para obtenção de recuperação judicial.
O STF considerou legítima, ainda, a imposição de limitações decorrentes do exercício do poder de polícia, neste caso: “A hipótese de retenção temporária de mercadorias prevista no art. 163, § 7º, da Constituição de São Paulo, é providência para a fiscalização do cumprimento da legislação tributária nesse território e consubstancia exercício do poder de polícia da Administração Pública Fazendária, estabelecida legalmente para os casos de ilícito tributário. Inexiste, por isso mesmo, a alegada coação indireta do contribuinte para satisfazer débitos com a Fazenda Pública” (ADI 395, j. 17/5/2007).
3.2.4. Conceito e natureza jurídica do ilícito tributário e dos crimes tributários
Ontologicamente, não há diferença entre ilícito civil, administrativo, tributário, dentre outros, e o ilícito penal. A diferença é apenas valorativa, consistente na gravidade da violação do bem jurídico tutelado.
Luciano Amaro leciona que “as infrações que atingem elevado nível de gravidade (conforme a avaliação feita pelo legislador) são conceituadascomo crimes, e ensejam a aplicação das chamadas sanções penais ou criminais”. O mesmo autor faz uma distinção entre “direito penal tributário” (capítulo do direito penal que tutela a arrecadação de tributos, tipificando os crimes tributários) e “direito tributário penal” (setor do direito tributário que comina sanções não criminais para determinadas condutas ilegais, definindo as “infrações administrativas” ou “ilícitos administrativos”, aos quais comina “sanções administrativas”).
Assim, o ilícito tributário de natureza administrativa é aquele de que se ocupa o sistema estatal sancionatório administrativo, sobre o qual incidem as regras do “direito tributário penal” (na acepção acima), aplicadas por autoridades administrativas, mediante processo administrativo. De outro lado, ilícito tributário de natureza penal é aquele que, por sua maior gravidade, segundo prévia escolha do legislador, é objeto do sistema estatal sancionatório penal, disciplinado pelas normas do “direito penal tributário”, aplicadas em juízo criminal, mediante processo penal.
Princípios comuns às sanções administrativas e penais: i) princípio da legalidade das infrações e das sanções (CTN, art. 97, V; CP, art. 1º); ii) princípio do in dubio pro reo (CTN, art. 112); iii) retroatividade benigna (CTN, art. 105, II; CP, art. 107, III); iv) devido processo legal (CF/88, art. 5º, LIV e LV).
As sanções administrativas ou penais para os ilícitos tributários têm objetivos comuns: i) inibir possíveis infratores, intimidando-os (prevenção geral); ii) castigar o infrator, evitando a reincidência (prevenção especial).
Distinções:
i) responsabilidade objetiva (infrações tributárias, em regra) e subjetiva (infrações penais);
ii) responsabilidade da pessoa jurídica (admitida nas infrações tributárias e não admitida nas infrações penais tributárias);
iii) espécies de pena (tributário pecuniárias / penais privativa de liberdade e pecuniárias);
iv) tipos fechados (penal) e abertos (tributário);
v) sanções patrimoniais (tributário) e pessoais (penal).
 
3.2.5. Denúncia espontânea
A denúncia espontânea é o instituto jurídico tributário que tem por objetivo estimular o contribuinte infrator a tomar a iniciativa de se colocar em situação de regularidade, pagando os tributos que omitira, com juros, mas sem multa. Dispõe o CTN: “Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração”.
Aspectos principais sobre o instituto da denúncia espontânea:
1) A denúncia espontânea valoriza a boa-fé do sujeito passivo que se antecipa à fiscalização administrativa e paga o tributo devido, acompanhado dos juros de mora.
2) Só se considera espontânea a denúncia oferecida antes de qualquer medida de fiscalização tendente à constituição do crédito tributário (CTN, art. 138, p.u.).
3) A denúncia espontânea incide por excelência nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação (CTN, art. 150), pois é nessa modalidade que a constituição do crédito tributário independe de ato do Fisco. Todavia, nessa hipótese, duas situações podem ocorrer: i) se o fato gerador não foi declarado pelo contribuinte, ainda não houve constituição do crédito tributário (STJ, Súmula n. 436), de modo que se afigura possível a denúncia espontânea; ii) se o fato gerador já foi declarado (apresentada a declaração, o crédito tributário estará constituído, conf. STJ, Súmula n. 436), mas não houve pagamento, a denúncia espontânea restará inviabilizada a partir da declaração, pois afirma o STJ (Súmula n. 360) que “o benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo”.
4) Segundo o STJ, a denúncia espontânea só se aplica às infrações relativas ao descumprimento de obrigação principal (pois o art. 138 do CTN fala em “[...] acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido [...]”). Em sentido contrário, alguns sustentam que o instituo alcança, sim, as obrigações acessórias, em razão da presença, no mesmo dispositivo, da expressão “se for o caso”.
5) O pagamento (quer do tributo devido, com os juros de mora, quer da importância arbitrada pela autoridade fiscal) é requisito indispensável da denúncia espontânea. Considera-se que a expressão “tributo devido” (CTN, art. 138) engloba a correção monetária. No âmbito federal, a Selic já contempla juros e correção monetária. A denúncia acompanhada de mero pedido de parcelamento (ainda que com o pagamento da 1ª parcela) não se presta à obtenção do benefício estabelecido pelo art. 138 do CTN, que pressupõe “pagamento” integral do tributo e dos juros devidos. Nesse sentido, a Súmula n. 208 do extinto TFR: “A simples confissão da dívida, acompanhada do seu pedido de parcelamento, não configura denúncia espontânea”.
6) Multa moratória é aquela devida simplesmente quando, embora reconhecido formalmente pelo contribuinte, o débito não é pago no vencimento. Multa de ofício é aquela aplicada pela autoridade fiscal, por meio de auto de infração, quando ela própria verifica o inadimplemento. Discute-se se a denúncia espontânea excluiria as duas espécies de multa punitiva (multa moratória e multa de ofício). Leandro Paulsen adverte que essa discussão, todavia, é descabida. Ora, a multa de ofício só tem lugar quando da lavratura de auto de infração pela autoridade fiscal, nas hipóteses em que o contribuinte nem pagou nem confessou o tributo devido. Ocorre que a lavratura de auto de infração pressupõe prévio procedimento administrativo, o que, a toda evidência, afasta a possibilidade de denúncia espontânea, nos termos do art. 138, parágrafo único, do CTN.
7) De outro lado, a denúncia espontânea não se aplica à multa isolada (aquela concernente ao descumprimento de obrigação acessória). Diz-se isolada porque não está vinculada a um débito principal (o valor de um tributo devido), mas resulta da simples inobservância de uma obrigação acessória (CTN, art. 113, § 3º). Como visto acima, o STJ entende ser “inaplicável o instituto da denúncia espontânea quando se trata de multa isolada imposta em face do descumprimento de obrigação acessória” (AgRg REsp 916.168).
8) A denúncia espontânea é incompatível com os tributos sujeitos ao lançamento de ofício, uma vez que, nas hipóteses de seu cabimento (CTN, art. 159), a infração é sempre posterior ao lançamento, não havendo o que antecipar.
9) A denúncia espontânea é compatível com os tributos sujeitos ao lançamento por declaração (CTN, art. 147), quer quando o fato gerador não tenha sido declarado pelo contribuinte (especialmente porque a parte final do art. 138 do CTN se refere expressamente aos casos em que “o montante do tributo dependa de apuração”, o que é típico dos tributos sujeitos ao lançamento por declaração), quer quando, após a declaração, o contribuinte procede à sua retificação, antes da atuação fiscal.
ADMINISTRATIVO - Poderes Administrativos. Vinculado. Discricionário. Hierárquico. Disciplinar. Regulamentar. Poder de Polícia. Competência Administrativa. Avocação e Delegação. Agente de Fato. Bens Públicos. Classificação. Regime jurídico. Alienação. Uso e Exploração. Monopólio Estatal. Regime Jurídico das Águas e dos Minerais. Domínio Público Aéreo e Terrestre. (PONTO 3)
	*** poderes administrativos ****
	Decorrem do regime jurídico de direito público e fazem parte do rol das prerrogativas e privilégios conferidos à Administração Pública.
	-representam instrumentos para que a administração pública atinja seu objetivo, qual seja, o atendimento do interesse público. - são poderes instrumentais.
	a Administração é dotada de poderes administrativos, que diferem dos poderes políticos. Tais poderes são instrumentos de trabalho, adequados à realização das tarefas administrativas, são verdadeiros PODER-DEVER, posto que não são meras faculdades. 
 	-classificação: [doutrina clássica]a)CRITÉRIO: LIBERDADE DE ATUAÇÃO
 			PODER VINCULADO ou PODER DISCRICIONÁRIO;
		b)CRITÉRIO: NECESSIDADE DE ORDENAÇÃO DOS AGENTES E FUNÇÕES
 			PODER HIERÁRQUICO;
 		c)CRITÉRIO: POSSIBILIDADE DE APURAR E PUNIR INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS DOS AGENTES PÚBLICOS E OUTRAS PESSOAS VINCULADAS À ADMINISTRAÇÃO: PODER DISCIPLINAR;
 		d)CRITÉRIO: POSSIBILIDADE DE REGULAMENTAR ATIVIDADES INTERNAS E EXPLICAR O CONTEÚDO DAS LEIS 	PODER REGULAMENTAR PODER NORMATIVO;
 		e)CRITÉRIO: POSSIBILIDADE DE CONDICIONAR E RESTRINGIR O EXERCÍCIO DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS E O USO, GOZO E DISPOSIÇÃO DA PROPRIEDADE DOS ADMINISTRADOS: PODER DE POLÍCIA (POLÍCIA ADMINISTRATIVA).
 	-necessidade de exercício obrigatório dos poderes administrativos quando configurados os pressupostos de sua atuação. Não pode haver OMISSÃO nem RENÚNCIA de poder administrativo.
	
	****PODER VINCULADO***
	Boa parte da doutrina inclui entre os poderes administrativos o chamado poder vinculado, em oposição ao poder discricionário, com o que o autor (José dos Santos Carvalho Filho) não concorda, pois não se trataria de um poder, já que não confere prerrogativa de direito público alguma. Ao contrário, a atuação vinculada reflete uma imposição ao administrador, obrigando-o a conduzir-se rigorosamente em conformidade com os parâmetros legais. Caracteriza-se, assim, mais como uma restrição do que como uma prerrogativa.
	As atividades vinculadas são atividades administrativas cuja execução fica inteiramente definida na lei, sem qualquer liberdade ao agente quanto à escolha dos critérios e momento da prática do ato. Tais atos vinculados se distinguem dos atos discricionários porque nestes últimos há liberdade de ação. 
[CABM]: é incorreto dizer que o ato é discricionário ou vinculado. Na verdade o que é discricionário é a apreciação de determinados aspectos e vinculado a situação em relação a tudo aquilo que se possa considerar já resoluto pela lei.
	****PODER DISCRICIONÁRIO ****
	É a prerrogativa concedida aos agentes administrativos de elegerem, entre várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público.
	Conveniência diz respeito às condições em que se vai conduzir o agente. A oportunidade liga-se ao momento em que a atividade deve ser produzida. Ressalte-se, porém, que a liberdade de escolha do agente deve estar atrelada ao fim colimado na lei. A discricionariedade pode ser exercida tanto no momento em que o ato é praticado quanto no de sua revogação.
	Limitações ao Poder Discricionário	
	
O que se veda ao Judiciário é a aferição dos critérios administrativos (conveniência e oportunidade) firmados em conformidade com os parâmetros legais, o que implicaria invasão de funções.
	A liberdade de escolha dos critérios não se coaduna com a atuação fora dos limites da lei. A discricionariedade é atuação dentro dos limites da lei, ao passo que a arbitrariedade implica controle de legalidade sobre a conduta do agente, posto que ilegítima.
	Controle judicial	
	
	A discricionariedade nunca é total, já que alguns aspectos são sempre vinculados à lei.
	Não é um cheque em branco (Cáio Tácito).
	É discricionário, em tese, o OBJETO e o MOTIVO. 
	Elementos
a) Sujeito: sempre há vinculação
b) Finalidade: 
i) Sentido amplo (interesse público): é discricionário, em razão de conceitos vagos;
ii) Sentido estrito (resultado específico): é vinculado. 
c) Forma: vinculado
d) Objeto (conteúdo): 
i) Discricionário, em regra;
ii) Vinculado, quando a lei estabelecer apenas um objeto. 
e) Motivo:
i) Discricionário, quando a lei não o definir ou utilizar noções vagas (conceitos jurídicos indeterminados); Conceitos jurídicos indeterminados são:
		i.1) conceitos técnicos: não há espaço de decisão, pois depende de um parecer técnico;
		1.2) conceitos de experiência: não há espaço de decisão, porque existem critérios objetivos extraídos da experiência comum.
		1.3) conceitos de valor: a discricionariedade pode existir (interesse público, moralidade) 
j) Vinculado, quando a lei utilizar noções precisas. 
	O controle judicial, entretanto, não pode ir ao extremo de admitir que o juiz se substitua ao administrador. Ou seja, não pode o magistrado perquirir os critérios de conveniência e oportunidade (mérito administrativo). Assim, o controle judicial só poderá alcançar os aspectos de legalidade dos atos administrativos e verificar se a Administração não ultrapassou os limites da discrionariedade. 
LIMITES DA DISCRICIONARIEDADE E CONTROLE PELO PODE JUDICIÁRIO [MSZP] - TEORIAS para analisar os LIMITES do exercício do PODER DISCRICIONÁRIO:
a) DESVIO DE PODER: vício quanto à FINALIDADE do ato praticado.
b)TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES: a VALIDADE DOS MOTIVOS INDICADOS PARA O ATO compromete a VALIDADE do próprio ato, SE HOUVER VÍCIO NAQUELE, HAVERÁ VICIO NESTE.
c) CONCEITOS LEGAIS INDETERMINADOS: somente os CONCEITOS COM SIGNIFICAÇÃO IMPRECISA DOTADOS DE CONTEÚDO DE VALOR é que serão considerados como DISCRICIONÁRIOS e NÃO SOFRERÃO CONTROLE do poder judiciário. Já os CONCEITOS COM SIGNIFICAÇÃO EXATA e o CONCEITO COM SIGNIFICAÇÃO IMPRECISA DOTADO DE CONTEÚDO EMPÍRICO OU DE EXPERIÊNCIA poderão sofrer controle.
d) PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE: a RAZOABILIDADE é analisada como LEGALIDADE EM SENTIDO AMPLO e não como MÉRITO DO ATO, por isso a possibilidade do controle do ato segundo esse critério.
e)PRINCÍPIO DA MORALIDADE: a MORALIDADE é analisada como LEGALIDADE EM SENTIDO AMPLO e não como MÉRITO DO ATO, por isso a possibilidade do controle do ato segundo esse critério.
	****PODER HIERÁRQUICO***
	
	-conceito: é o poder administrativo que permite a distribuição e o escalonamento de funções dos órgãos públicOs, englobando os poderes de ordenar, coordenar, controlar e corrigir a atuação de seus agentes, estabelecendo uma relação de subordinação entre os diversos agentes e órgãos públicos.
 	-pressupostos da organização administrativa
		- DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
		- HIERARQUIA: relação de coordenação e subordinação entre órgãos e agentes.
	JSCF: Derivação do escalonamento hierárquico é a delegação e avocação 
Delegação = é a transferência de atribuições de um órgão a outro no aparelho administrativo abrange funções genéricas e comuns visa maior eficiência nas ações dos administradores públicos
Avocação = chefe superior pode substituir-se ao subalterno, chamando a si (avocando) questões afetas a este, salvo quando a lei só lhe permita intervir nelas após a decisão do subalterno caráter excepcional da avocação
- Subordinação e vinculação: 
Subordinação = caráter interno e se estabelece entre órgãos de uma mesma pessoa administrativa, como fator decorrente de hierarquia;
Vinculação = caráter externo e resulta do controle que pessoas federativas exercem sobre as pessoas pertencentes à Administração Indireta
- Hierarquia e Funções Estatais
Hierarquia é cabível apenas no âmbito da função administrativa (em quaisquer dos Poderes). Não há hierarquia no âmbito das funções jurisdicional (princípio da livre convicção do juiz), nem no plano legislativo (partilha de competências)
SUPERVISÃO MINISTERIAL é uma relação de controle de tutela, e não uma relação hierárquica.
-é possível que haja RECURSO IMPRÓPRIO (precisa previsão legal) - recurso contra decisão de um órgão da administração indireta direcionado para órgão da administração direta. É possível que haja PODER DE REVISÃO sem que seja caracterizada a RELAÇÃO HIERÁRQUICA.
PODER DA TUTELA ADMINISTRATIVA - forma de se garantir que as ENTIDADES da ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA observem o PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE, ou seja, sua finalidade institucional. (Controle finalístico)
	
	****PODER DISCIPLINAR****
	-é o poder que a Administração Pública possui para APURAR INFRAÇÕES e APLICAR PENALIDADES aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina da administração. 
	- pressupõe a existência vínculo jurídico.
	-o pode disciplinar decorre do poder hierárquico.
 	
	- o CNJ e o CNMP têm poder disciplinar tanto na esfera federal e estadual em relação a juízes e promotores,respectivamente, ressalvado os Ministros do STF (os ministros do supremo não estão sujeitos ao controle).
 	-na aplicação da sanção disciplinar é necessário o atendimento ao PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA, PROPORCIONALIDADE e NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO.
	- PODER DE POLÍCIA X PODER DISCIPLINAR: em ambas às situações há uma sujeição do particular à administração pública. A distinção entre uma situação e outra está no fundamento desta sujeição.
	SUBORDINACÃO/SUJEIÇÃO GERAL  todos os administrados estão sujeitos à uma determinada disposição. (PODER DE POLÍCIA)
			
	SUBORDINAÇÃO/SUJEIÇÃO ESPECIAL  somente àquele que tem uma relação preexistente com a Administração Pública que se sujeitará. (PODER DISCIPLINAR)
	
**** PODER REGULAMENTAR OU NORMATIVO: ****
Tecnicamente, poder normativo é gênero do qual emanam as funções legislativa e regulamentadora.
A função legislativa apresenta como peculiaridade a característica de inovação da ordem jurídica mediante a criação de direitos e obrigações.
O poder regulamentar é a prerrogativa de que dispõe a administração pública de editar atos administrativos gerais com o objetivo de dar fiel execução às leis.
Assim, o exercício do poder regulamentar não se confunde com a função legislativa. 
Apesar disso, a doutrina administrativista costuma utilizar como sinônimos os termos poder normativo e regulamentador, de maneira que não isso não caracteriza erro.
O poder regulamentar é consequência do caráter relativo do princípio da separação dos poderes e da adoção, no nosso arcabouço constitucional, do sistema de checks and balances, em que cada um dos órgãos responsáveis pelo exercício dos poderes do Estado desempenham funções típicas (precípuas) e atípicas (secundárias), de forma que um possa controlar o outro.
O poder normativo da administração pode ser exercido por meio da delegação legislativa ou do próprio poder regulamentar. Enquanto a delegação legislativa possibilita a prática de ato normativo primário com força de lei pelo Presidente da República (na órbita federal), a exemplo das Medidas Provisórias (delegação atribuída diretamente pelo Poder Constituinte Originário) e das leis delegadas, o poder regulamentar encerra uma atividade administrativa, de cunho normativo secundário.
No direito norte-americano, a delegação legislativa é fundamentada por duas teorias:
a)	Filling up details (preenchimento de detalhes): executivo deve esmiuçar a norma legal (aproxima-se do poder regulamentar do ordenamento brasileiro)
b)	Delegation with standards (delegação com parâmetros; princípio claro): traçam-se parâmetros suficientes para pautar e controlar a atuação do órgão delegado (aproxima-se da delegação legislativa para edição de MP – parâmetros traçados pelo constituinte originário no art. 62 -, de Leis Delegadas – parâmetros traçados via resolução do CN - e de normas reguladoras das Agências de mesmo nome – fenômeno da deslegalização ou delegificação).
Diogo de Figueiredo Moreira Neto classifica a delegação legislativa nas seguintes modalidades:
a)	delegação receptícia: delega-se a função legislativa ao Poder Executivo para editar, dentro do período e das matérias determinadas no ato delegante, normas com força de lei (ex: lei delegada);
b)	delegação remissiva: edição de atos normativos pela Administração, sem força de lei e respeitando a moldura legal (ex: regulamento executivo do art. 84, IV, da CRFB);
c)	deslegalização: legislador transfere o tratamento de determinada matéria ao administrador, estabelecendo parâmetros gerais que deverão ser observados no momento da fixação dos direitos e obrigações (ex: art. 96, I, a, 207, caput, e 217, I, da CRFB)
Atos normativos da administração ou atos administrativos normativos são a expressão do poder regulamentador. Ele consiste na aplicação da lei de ofício aos casos concretos visando à satisfação dos interesses públicos. O administrador público é um aplicador da lei (sem lide e sem necessidade de provocação externa). 
1. Regulamento – é o ato normativo emanado do poder regulamentar, ostentando um caráter derivado, sabido que encontra fundamento de validade na lei (atos normativos primários por excelência). 
Tanto o ato normativo originário como o derivado têm efeitos gerais e abstratos, porém, os primeiros instauram um direito novo, geram situações jurídicas novas, ao passo que os atos normativos derivados explicitam ou especificam um conteúdo normativo preexistente, sem ultrapassar os horizontes da legalidade. 
O poder regulamentar decorre da própria CF, artigo 84.
2. Decreto – a forma de que se revestem os atos praticados pelo chefe do poder executivo. O seu conteúdo pode variar, podendo ser: um regulamento (DECRETO-REGULAMENTAR) ou sem o conteúdo regulamentar (DECRETO–NÃO REGULAMENTAR), por exemplo, dar o nome a um prédio público.
Regulamento – é o conteúdo do ato. Se emitido pelo chefe do executivo, ele terá aplicação a toda administração subordinada. 
O exercício do poder regulamentar via decreto é privativo do chefe do poder executivo.
O poder regulamentar é exclusividade dele, segundo a maioria da doutrina. Há atos normativos que, editados por outras autoridades administrativas, podem caracterizar-se como inseridos no poder normativo da administração, exemplo das instruções normativas, resoluções, portarias etc. Contudo, a regulamentação direta da lei é de competência privativa do chefe do Poder Executivo. Daí se extrai a seguinte classificação: 
a)	atos de regulamentação de primeiro grau - seriam os decretos regulamentares
b)	 atos de regulamentação de segundo grau - serviriam para explicitar o teor daqueles, como as instruções expedidas pelos Ministros de Estado. 
Bom exemplo de ato de regulamentação de primeiro grau dado por JSCF são as instruções expedidas pelo TSE para fiel execução da Lei 9.096/95, que dispõe sobre partidos políticos (art. 61).
Tipos de regulamento:
a) executivo;
b) autônomo (divergência - art. 84, IV e VI e art. 25, ADCT, da CF).
 
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
VI – dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
Regulamento e a Lei: em regra, o regulamento é subordinado à lei. Mas possuem as seguintes diferenças básicas: 1) órgão que elabora – regulamento em regra é feito pelo chefe do Poder Executivo; em regra, quem faz a lei é o Poder Legislativo; 2) procedimento de elaboração – no regulamento, não há discussão pública; ao passo que a lei possui várias etapas, com procedimento mais amplo e poderoso, com representação geral de todas as classes sociais.
Há dois tipos de decretos: 
1) DECRETO EXECUTIVO = serve para complementar matéria constante em lei. Não se muda o conteúdo da lei, buscando-se a uniformização de procedimentos nela estabelecidos. O regulamento pode também complementar os conceitos que estejam vagos na lei, jamais criando uma obrigação ou situação jurídica nova.
2) DECRETO AUTÔNOMO = independe da existência de uma lei. Encontra fundamento de validade na própria Constituição, podendo criar uma situação jurídica nova. 
Cabimento do decreto autônomo no Brasil:
A) Hely Lopes Meirelles: entendia possível o decreto autônomo em qualquer circunstância. Repousa sua conclusão na teoria dos poderes implícitos. A Administração pode suprir as omissões do Legislativo, com fundamento direito na CRFB, para concretização dos seus deveres constitucionais.
B) Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Diógenes Gasparini, STF: entendem que a CF/88, originalmente, não dava espaço para a possibilidade de regulamentos autônomos. Em seu art. 84, VI, previa a competência do chefe do Executivo para “dispor sobre a organizaçãoe o funcionamento da administração federal, na forma da lei”. O art. 25 do ADCT, por sua vez, determinou a revogação, a partir de 180 dias da promulgação da CF, dos dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela CF ao Congresso Nacional. 
Contudo, a EC nº 32/2001 alterou a redação do art. 84, VI, atribuindo ao Presidente da República competência para dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa, nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. 
A mencionada corrente também se baseia nos art. 103-B, §4º, inciso I, e 130-A, §2º, inciso I, da CRFB/88, inseridos pela EC nº 45/2004, que conferiram direta e respectivamente ao CNJ e ao CNMP poder normativo, ao afirmar que ambos os órgãos podem expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência.
Com isso, doutrina majoritária e o Pretório Excelso vêm admitindo a existência de regulamento autônomo no ordenamento brasileiro, embora a regra continue sendo o regulamento executivo. Note-se que, em qualquer hipótese, o Chefe do Executivo não pode criar ou extinguir órgãos e nem as suas medidas podem determinar aumento de custos. Para Maria Sylvia, no particular, somente a hipótese da alínea “a” configura regulamento autônomo, pois a alínea “b” revelaria um mero ato de efeitos concretos.
A defesa da existência de regulamentos autônomos passa pelo reconhecimento do neoconstitucionalismo como fenômeno jusfilosófico que alterou a metodologia de interpretação e aplicação das normas jurídicas, reposicionando a constituição como estrutura normativa superior e central do sistema jurídico. Partindo-se de tal premissa, não haveria óbice à edição, com base na CRFB, de regulamentos autônomos preordenados ao atendimento dos fins constitucionais, em relação às matérias não sujeitas à reserva legal.
C) Celso Antonio Bandeira de Mello: em nenhuma hipótese cabe o decreto autônomo. O administrador não pode criar órgãos e nem aumentar despesas, então está simplesmente regulamentando o que está na lei, assim, o decreto é simplesmente complementar à lei. Os adeptos da corrente capitaneada por CABM partem da concepção liberal tradicional, segundo a qual Administração só possui legitimidade para atuar se expressamente autorizada pelo legislador (princípio da reserva de lei ou doutrina do positive bindung)
Maria Sylvia afirma que a hipótese constitucional de regulamento autônomo não fere o Estado de Direito, pois diz respeito a questões administrativas internas, não estabelecendo normas voltadas para os cidadãos em geral (essas normas, sim, não podem ser objeto de regulamento autônomo, pois os particulares somente podem ser obrigados ou proibidos de fazer algo em virtude de lei).
Formas de controle – devem ser verificadas as possibilidades de controle pelo:
1)	Poder Judiciário – tendo em vista o disposto no art. 5º, XXXV, da CF (sistema da unidade de jurisdição), qualquer ato praticado pelas agências reguladoras, desde que cause lesão ou ameaça de lesão, pode ser apreciado pelo Poder Judiciário. 
Cabe ADI contra os regulamentos, exatamente porque veiculam normas gerais e abstratas. Vide o precedente do STF: (…) 2. O Decreto 5.820/2006, pelo menos quanto aos dispositivos objeto da ação direta, ostenta um coeficiente de generalidade, abstração e impessoalidade que afasta a alegação de se cuidar de ato de efeito concreto. Até porque "a determinabilidade dos destinatários da norma não se confunde com a sua individualização, que, esta sim, poderia convertê-lo em ato de efeitos concretos, embora plúrimos" (ADI 2.137-MC, da relatoria do ministro Sepúlveda Pertence). (ADI 3944, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 05/08/2010, DJe-185 DIVULG 30-09-2010 PUBLIC 01-10-2010 EMENT VOL-02417-01 PP-00024)
Atentar apenas para o entendimento do STF de que não será admitida a ADI quando seu autor alega que o regulamento exorbitou os limites da lei, pois aí se trata de CRISE DE LEGALIDADE, sendo a violação da CF meramente reflexa. 
Quando o Poder Executivo se omitir em editar regulamentos necessários para tornar efetiva norma constitucional, cabível ADI por omissão. Se a omissão tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, cabível mandado de injunção.
2)	Poder Legislativo – o Congresso Nacional deverá fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta (artigo 49, X, CF) e poderá sustar os atos administrativos que exorbitem o poder regulamentar, ou seja, pode suspender os efeitos do ato (artigo 49, V, CF). Além disso, estão sujeitos ao controle financeiro, contábil e orçamentário exercido pelo Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas, conforme previsto no art. 70 e seguintes da CF. 
3)	Poder Executivo – mediante a autotutela em relação aos órgãos e agentes da administração direta ou a tutela administrativa, quando expressamente autorizado a tanto pela lei que criou ou autorizou a criação da entidade da administração indireta. Quanto aos atos das agências reguladoras, como elas gozam de uma maior autonomia quando comparadas às entidades da administração pública indireta, seus atos não podem ser revistos ou alterados pelo Poder Executivo. 
Conteúdo dos regulamentos: Se o regulamento não pode inovar na ordem jurídica (regulamentos executivos), qual será o seu conteúdo? O que significa explicitar e pormenorizar o texto legal?
O regulamento é admissível quando a lei pressupõe, para sua execução, a instauração de relações entre a Administração e os administrados cuja disciplina comporte uma certa discricionariedade administrativa. Partindo-se dessa premissa, os regulamentos servem e são válidos a:
1.	Limitar a discricionariedade administrativa
a.1) dispondo sobre um regramento procedimental para regência da conduta que os órgãos e agentes administrativos deverão observar e fazer observar para cumprimento da lei na efetivação das relações com os administrados. É o caso dos Regulamentos de IR, que dispõe sobre formulários, prazo, horário de apresentação de declarações etc. 
a.2) caracterizar fatos, situações ou comportamentos enunciados na lei mediante conceitos vagos, cuja colmatação se instrumentalize via critérios e avaliações técnicas, por ser a regra legal demasiadamente geral e abstrata (leis que pressupõem um operacionalização técnica). Nesse caso, o regulamento vem estreitar o campo de atos administrativos possíveis, possibilidade o tratamento isonômico em favor dos administrados e a preservação da segurança jurídica. Ex. a lei diz que o carro deve trafegar com equipamentos indispensáveis à segurança, sob pena de aplicação de multa. Cabe ao regulamento, valendo-se de critérios técnicos e considerando o avanço científico do momento, definir o que é “equipamento indispensável à segurança”, restringindo a discricionariedade do agente administrativo na hora de aplicar ou não a multa. Trata-se, aqui, dos standards antes referidos. 
2.	Decompor analiticamente o conteúdo de conceitos sintéticos, mediante simples discriminação integral do que neles se contém. Como dito, a edição de regulamento pressupõe a existência de um espaço de discricionariedade, ainda que mínimo, conforme os dois exemplos acima explicitados. Quando a lei define regra de competência vinculada, não haveria o que regulamentar. Este caso, contudo, constitui exceção à regra geral. A lei prevê uma única possibilidade de comportamento por parte do agente administrativo (ato vinculado), só que a enuncia de modo sintético. O regulamento, além de nada acrescer à lei (afinal, isso seria mesmo vedado tendo em vista o próprio conceito de regulamento executivo), também nada restringe, assumindo função exclusivamente interpretativa. É o caso de a lei atribuir a vantagem X aos “servidores públicos civis” e o regulamento estatuir que fazem jusà vantagem X os servidores não militares a) da Administração direta; b) das autarquias e fundações.
Regulamentação X Regulação: por fim, cumpre observar que não se deve confundir regular com regulamentar. 
O poder regulamentar:
a)	é de competência primária do chefe do Poder Executivo, em que pese seja exercida, de forma secundária, também por outros órgãos da estrutura administrativa;
b)	envolve a edição de normas gerais para fiel execução da lei;
c)	apresenta conteúdo político.
Função inerente à regulamentação: normativa.
De outra parte, o poder regulador ou regulatório reúne as seguintes características:
a)	competência atribuída às entidades administrativas e exercida precipuamente pelas agência reguladoras;
b)	engloba o exercício de atividade normativas, executivas e judicantes;
c)	possui conteúdo técnico
Funções inerentes à regulação: 
a)	normativa
b)	fiscalizadora
c)	sancionatória
d)	julgadora (solução de conflitos)
Âmbitos de atuação da regulação: 
e)	regulação dos monopólios, evitando que eles lesem a economia popular, controlando os preços e a qualidade dos produtos e serviços, em virtude de ser restrita ou até inviável a competição. 
f)	regulação para a competição, na hipótese de atividades econômicas sensíveis ao interesse público, em que se busca assegurar a livre concorrência no setor privado. 
g)	a regulação dos serviços públicos, que busca assegurar a universalização, a qualidade e a tarifa adequada. 
Em síntese: regulação é uma função discricionária, diretiva, normativa e sancionatória, vocacionada à intervenção direta ou indireta do Estado na atividade econômica.
Alexandre Santos de Aragão não distingue regulação e regulamentação, entendendo elas apenas como aspectos do fenômeno regulatório da economia. Formula, assim, a seguinte classificação:
(a) regulação estatal - feita pelas regras emitidas por órgãos do próprio Estado, mesmo que deles participem representantes de organismos intermédios da sociedade; 
(b) regulação pública não-estatal - feita por entidades da própria sociedade, mas por delegação ou por incorporação das suas normas ao ordenamento jurídico estatal; 
(c) auto-regulação, levada a cabo autonomamente por instituições privadas, geralmente associativas (auto-regulação associativa), sem qualquer delegação ou chancela estatal; 
(d) desregulação, consistente na ausência de regulação institucionalizada, pública ou privada, ficando os agentes sujeitos apenas ao livre desenvolvimento do mercado. 
Diante do exposto, a regulamentação seria apenas um dos poderes inerentes à atividade de regulação. 
As agências reguladoras pressupõem o desenvolvimento da ideia de deslegalização pelos entes políticos, permitindo-se, por conseguinte, o surgimento de normatizações secundárias, setoriais e especializadas. Segundo Francisco Queiroz, é mais correto dizer que as agências reguladoras pressupõem o fenômeno da “deslegalização” e não “desregulação”, pois o que se observa é a redução da disciplina legal e o incremento da disciplina regulamentar. 
O grande debate travado na doutrina consiste em determinar, precisamente, a natureza do poder normativo das agências reguladoras, como forma de desenvolvimento de sua função reguladora.
Para uns, ele seria uma decorrência da técnica de delegação normativa definida como deslegalização (posição de Diogo Moreira Neto), que consiste na retirada, pelo legislador, de certas matérias da seara legal com sua conseqüente transferência para o domínio do regulamento. A lei discorreria de maneira sucinta sobre o assunto, abrindo espaço amplo à regulamentação das agências. 
Para Marçal Justen Filho, o poder normativo das agências seria uma manifestação da discricionariedade técnica – a lei disciplinadora deixaria margem à complementação do administrador, com base em juízos técnicos. Quando o tema envolve questões técnicas específicas, que demandam conhecimentos que vão além da capacidade do legislador, tem se admitido que o regulamento discipline originariamente a matéria. A lei trata dos aspectos gerais (políticos e administrativos) e delega ao regulamento a disciplina primária da matéria técnica. 
Com a deslegalização, opera-se uma verdadeira degradação da hierarquia normativa (descongelamento da classe normativa) de determinada matéria que, por opção do legislador, deixa de ser regulada por lei e passa para a seara do ato administrativo.
Limites constitucionais à deslegalização:
a)	casos de reserva legislativa específica ou reserva legal;
b)	matérias que devem ser reguladas por lei complementar, espécie de reserva legal específica
c)	matérias que devem ser legisladas com caráter de norma geral, considerando que irradiam efeitos sobre os demais entes federativos.
Conflito entre lei anterior e superveniência de ato regulatório: fenômeno da revogação diferida
É possível a ocorrência de conflito entre lei anterior que regia a matéria delegificada e o ato regulatório editado em respeito à lei deslegalizadora.
Nesse caso, doutrina majoritária entende que, estando o ato regulatório circunscrito aos lindes traçados pela lei deslegalizadora, tem ele o condão de revogar a lei anterior incompatível. Tal não significa que o ato administrativo tenha primazia sobre a lei. A revogação da lei anterior não é operada diretamente pelo ato administrativo, mas sim pela própria lei deslegalizadora, que utiliza o ato da agência para revogar, de forma diferida no tempo, a lei anterior (Revogação diferida)
Conflito entre atos regulatórios e atos regulamentares
Como se resolve o conflito entre regulamentos executivos e regulamentos setoriais ou regulatórios?
Há dois entendimentos:
a)	prevalece o regulamento presidencial, considerando a sua superioridade hierárquica, considerando que o art. 84, II, da CRFB prevê a direção do Chefe do Executivo sobre toda a administração pública (Mª Sylvia)
b)	primazia do ato setorial sobre o regulamento do chefe do Poder Executivo, por força do princípio da especialidade (Gustavo Binenbojm)
Creio que o primeiro fere a larga autonomia que protege as agências reguladoras das ingerências políticas perpetradas pela chefia do executivo. Além do mais, não há hierarquia entre o ente federado e a agência, e sim tutela administrativa mitigada pelo regime especial de que se reveste. Responderia que o critério a ser adotado é o da especialidade, prevalecendo o ato regulatório.
O que é reserva de administração?
É a competência conferida constitucionalmente ao Poder Executivo para, em caráter exclusivo, tratar de determinadas matérias, não sendo lícita, nessa órbita, a ingerência do Legislativo.
Divide-se em:
a)	reserva geral de administração: fundamentada na separação de poderes, impede que cada órgão estatal invada o núcleo essencial da competência do outro, cabendo à administração executar leis e exercer a discricionariedade administrativa;
b)	reserva específica de administração: a constituição destaca determinadas matérias, submetendo-as à competência exclusiva do Poder Executivo.
O princípio da reserva da administração já foi reconhecido pelo STF em caso no qual declarou a inconstitucionalidade de ato do Poder Legislativo que anulou concurso realizado pelo Executivo por suposta ilegalidade (ADInMC 2.364/AL), por reputar que o Parlamento substituíra o Executivo no exercício da autotutela.
O poder regulador corresponde a um conjunto de funções atribuídas às agências reguladoras. Dentre todas as funções exercidas pelas agências reguladoras, a que mais suscita discussão em face do direito brasileiro é a sua função normativa, em razão do princípio da legalidade e da separação de poderes. 
A doutrina majoritária entende que esse poder normativo não pode gerar regulamentos autônomos – esses são da competência privativa do Presidente, nas estritas hipóteses do art. 84, VI da CF. Confira-se trecho de artigo de José dos Santos Carvalho Filho, citado num voto da Min. Denise Arruda, do STJ:
Não nos parece ocorrer qualquer desvio de constitucionalidade no que toca ao poder normativo conferido às agências. Ao contrário do que alguns advogam, trata-sedo exercício de função administrativa, e não legislativa, ainda que seja genérica sua carga de aplicabilidade. Não há total inovação na ordem jurídica com a edição dos atos regulatórios das agências. Na verdade, foram as próprias leis disciplinadoras da regulação que, como visto, transferiram alguns vetores, de ordem técnica, para normatização pelas entidades especiais - fato que os especialistas têm denominado de 'delegalização', com fundamento no direito francês ('domaine de l'ordonnance', diverso do clássico 'domaine de la loi'). Resulta, pois, que tal atividade não retrata qualquer vestígio de usurpação da função legislativa pela Administração, pois que poder normativo - já o acentuamos - não é poder de legislar: tanto pode existir este sem aquele, como aquele sem este.
Recentemente, o STF julgou caso, publicado no informativo nº 646, no qual reconheceu a constitucionalidade de lei que, fixando as balizas para cálculo e atualização do salário mínimo, delegou a fixação do seu valor a decreto do Poder executivo. Vejam-se os principais excertos: (...) Rejeitou-se o argumento de que a lei conteria delegação para que o Presidente da República fixasse o valor do salário mínimo. Reiterou-se que haveria mera aplicação aritmética, nos termos legalmente previstos, dos índices, fórmulas e periodicidade fixados pelo Congresso Nacional, a serem expostos por decreto presidencial, que não inovaria a ordem jurídica, sob pena de abuso do poder regulamentar, passível de fiscalização e controle pela via legislativa ou judicial(...) O Min. Luiz Fux acrescentou que a espécie caracterizaria o fenômeno da deslegalização. (...) O Min. Celso de Mello (...)robusteceu a assertiva de que o decreto presidencial não constituiria situações novas, encontrando-se estritamente vinculado aos padrões estabelecidos pelo próprio legislador. ADI 4568/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 3.11.2011. (ADI-4568)
Por fim, alerta a doutrina para a inconstitucionalidade, por afronta ao princípio da legalidade, da denominada delegação legislativa disfarçada ou genérica, que consiste na técnica legislativa vocacionada a transferir ao Poder Executivo o poder de disciplinar determinada matéria sem densificar adequada e minimamente os seus contornos. Defere-se ao regulamento a definição, por si mesmo, das condições ou requisitos necessários ao surgimento do direito, do dever ou da restrição.
Deslegalização X desregulação
A DESLEGALIZAÇÃO é o fenômeno pelo qual a normatização de determinadas matérias passa a ser feita por ato infralegal. 
A DESREGULAÇÃO é o fenômeno de diminuição da quantidade de regras sobre determinados setores da economia, de modo a permitir que o mercado se autorregule pela competição entre os diversos agentes. 
A regulação é um fenômeno novo? Não. 
O Estado já faz regulação há muito tempo. Cite-se, a título de exemplo, o antigo Dnaee (Departamento Nacional de Energia Elétrica, que disciplinava quanto ao serviço de energia elétrica antes do surgimento da Aneel) e o BACEN (que disciplina, por meio de suas resoluções, o SFN). A novidade fica por conta da existência de autoridades administrativas independentes para desenvolver esta função .
**** PODER DE POLÍCIA *****:
SENTIDOS:
a)	amplo - toda e qualquer atuação estatal restritiva à liberdade e à propriedade que tenha como objetivo a satisfação de necessidades coletivas. Envolve tanto a atividade legislativa quanto a atividade administrativa
b)	restrito – significa o exercício da função administrativa, fundado em lei, que restringe e condiciona o exercício de direitos e atividade com o objetivo de implementar o interesse público. É o conceito de poder de polícia administrativo. Conceito legal: art. 78 do CTN
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 28.12.1966)
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
FUNDAMENTO
SUPREMACIA GERAL da Administração Pública sobre seus administrados, ou seja, o poder de polícia não exige um vínculo específico do particular com a administração pública para ser exercido. A supremacia geral é decorrente do domínio eminente (poder que o Estado exerce sobre todas as coisas e pessoas que estão no seu território). 
A atividade restritiva exercida pela administração pública calcada na supremacia especial, a qual decorre de relações especiais de sujeição previstas em lei ou em instrumento negocial, não é reveladora do poder de polícia, mas sim do poder disciplinar (ex: exigências do poder concedente sobre o concessionário depende da existência de um contrato entre as partes; PAD contra servidor público e encarcerado; alunos de escolas e universidades públicas). 
OBS: o princípio da legalidade, no âmbito das relações especiais de sujeição, é aplicado de forma mais flexível, reconhecendo-se maior liberdade na atuação administrativa, inclusive mediante a edição de regulamentos. Contudo, tais regulamentos devem ancorar-se em lei e cingir-se ao atendimento das finalidades a que se destina o órgão fiscalizador (ex: regulamentação do uso de biblioteca pública).
Em síntese, a finalidade do poder de polícia seria a manutenção da ordem pública, com fundamento na supremacia do interesse público sobre o particular.
MOMENTOS DE ATUAÇÃO DO PODER DE POLÍCIA
1) Atuação Preventiva – a maioria dos autores, situam o poder de polícia como uma atuação basicamente preventiva, busca evitar um prejuízo ao bem comum.
2) Atuação Repressiva – a repressão surge do exercício da atuação preventiva, ou seja, quando estiver atuando na prevenção, o Administrador pode estabelecer penalidades, quando já verifica a situação prejudicial ao interesse público.
3) Atuação Fiscalizadora – visa a fiscalizar o cumprimento das exigências decorrentes das autuações preventiva e repressiva.
POLÍCIA ADMINISTRATIVA X POLÍCIA JUDICIÁRIA
POLÍCIA ADMINISTRATIVA					POLÍCIA JUDICIÁRIA
Apura ilícitos não penais.						Apura ilícitos penais.
Exaure-se em si mesma.					Tem continuidade no processo penal.
É atividade principal.							É atividade instrumental.
É inerente e se difunde por toda a Administração		Concentra-se em órgãos determinados.
Reprime, por vezes, comportamentos lícitos.	 Somente reprime comportamentos ilícitos.
Essa distinção está cada vez mais fragilizada, diante dos inúmeros caos em que a polícia administrativa se manifesta de modo repressivo, a exemplo das sanções aplicadas pela autoridade sanitária. Nesse caso, existe o caráter preventivo em relação aos particulares em geral, mas também o caráter repressivo em relação ao proprietário do estabelecimento.
Existe uma relação entre o poder de polícia e o direito tributário, pela qual pode haver a cobrança de taxa pelo exercício do poder de polícia e pela prestação de serviço público específico e divisível, efetivamente utilizado ou posto à disposição do contribuinte.
PODER DE POLÍCIA ORIGINÁRIO X PODER DE POLÍCIA DELEGADO OU OUTORGADO
O primeiro é exercido diretamente pelas pessoas políticas; o segundo, pelas pessoas administrativas da administração indireta.
CLICO DE POLÍCIA
São as fases do poder de polícia.
a)	ordem – norma legal estabelece, de forma primária, as restrições e as condições para o exercício das atividades privadas;
b)	consentimento – anuência do Estado para que o particular desenvolva determinada atividade ou utilize a propriedade particular. Divide-se em
b.1) licença – atovinculado por meio do qual a Administração reconhece o direito do particular (ex: licença para dirigir veículo)
b.2) autorização – ato discricionário pelo qual a Administração, assentada em juízo de conveniência e oportunidade, faculta o exercício de atividade ou a utilização de bens particulares, sem a criação, em regra, de direitos subjetivos ao particular (ex: autorização para porte de arma)
c) fiscalização – verificação do cumprimento, pelo particular, da ordem e do consentimento de polícia. Pode ser iniciada de ofício ou por provocação (ex: fiscalização de trânsito).
d) sanção – medida coercitiva aplicada ao particular que descumpre a ordem de polícia ou os limites impostos no consentimento de polícia (ex: multa de trânsito, interdição de estabelecimento, apreensão de mercadorias).
OBS: Tradicionalmente, licença e autorização, espécies de consentimento de polícia, não se confundem. Enquanto a licença é vinculada, devendo ser expedida cumpridos os requisitos legais pelo administrado, a autorização é discricionária, conferindo margem de liberdade decisória ao administrador. Contudo, a distinção vem sendo relativizada, por não ser expressamente encampada pela ordem jurídica, que prevê autorizações com predominância do caráter vinculado (ex: art. 131, §1º, da lei 9472/97 – autorização de serviço de telecomunicações como ato administrativo vinculado) e licenças revestidas de forte margem de discricionariedade e precariedade (ex: licenças ambientais).
ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
a) discricionariedade – liberdade conferida pelo legislador ao administrador para escolher o melhor momento de sua atuação ou a sanção mais adequada ao caso concreto quando há previsão legal de duas ou mais sanções para a mesma infração. Contudo, em determinados casos, o legislador não deixar qualquer margem de liberdade de conformação do administrador e a atuação de polícia será vinculada (ex: licença para construir)
b) auto-executoriedade das medidas – a possibilidade que tem a administração pública de, com os próprios meios, fazer cumprir as suas decisões sem a necessidade de recorrer previamente ao Poder Judiciário. A regra é de que ela depende de previsão legal ou do caráter emergencial da situação concreta, não sendo possível aguardar a decisão judicial (exemplo de atuação auto-executória: interdição de estabelecimento; exemplo em que não há: cobrança de multa). 
A doutrina afirma que a auto-executoriedade é dividida em dois momentos: 
b.1) exigibilidade (privilège du préalable ou executoriedade indireta): o administrador pode exigir do cidadão o cumprimento de obrigações, mas recorrendo a meios indiretos de persuasão (pela cominação de multa, por exemplo);
b.2) executoriedade (privilège d’action d’office): o administrador pode executar materialmente aquilo que impôs ao cidadão e este não cumpriu. Significa a possibilidade de Administração promover por si mesma a conformação do comportamento do particular às injunções dela emanadas.
A possibilidade de prática de um ato dotado de executoriedade retira o interesse de processual da Administração (necessidade) para recorrer ao Poder Judiciário, salvo demonstração da inviabilidade concreta de materialização do ato. É o entendimento do STJ.
OBS: A auto-executoriedade NÃO dispensa contraditório e ampla defesa.
c) coercibilidade – possibilidade de impor obrigações a terceiros independentemente de sua concordância. Assim, os atos decorrentes do poder de polícia são obrigatórios, imperativos.
Todo poder de polícia é dotado de coercibilidade, mas a validade da sanção imposta depende de 3 (três) requisitos: 1) que seja razoável e proporcional à infração cometida (controlável pelo Judiciário externamente através da teoria do devido processo legal substantivo); 2) deve ser eficaz, não sendo ínfima para não perder o caráter preventivo, nem excessiva, para não perder o caráter retributivo; 3) última razão (ultima ratio): a administração deve esgotar os meios preventivos antes de punir (não se admite que a administração surpreenda o particular para puni-lo, sem que este tenha sido previamente comunicado de sua irregularidade ou de que era fiscalizado).
OBS: apesar de tais atributos, o cidadão sempre poderá recorrer ao Judiciário para evitar ou reparar danos decorrentes do exercício ilegal ou abusivo do poder de polícia.
OBRIGAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS
Tradicionalmente, a doutrina destaca o caráter negativo do poder de polícia, calcado na imposição de abstenções ao particular (obrigações de não fazer). Contudo, atualmente, entende-se que a atuação de polícia pode ensejar obrigações negativas e positivas (ex: imposição de limpeza de terrenos por particulares e dever de edificação compulsória da propriedade).
LIMITES DO PODER DE POLÍCIA 
1) Necessidade – a medida de polícia administrativa somente deve ser adotada para evitar ameaças reais ou prováveis de danos ao interesse público.
2) Proporcionalidade – relação necessária entre a medida de polícia a ser adotada e o dano que se pretende evitar. A medida há de ser proporcional ao dano. Trata-se de limitação de grau, que deve ser somente o suficiente para evitar o dano. A medida não pode ficar além.
3) Eficácia – a medida de polícia deve ser adequada a impedir o dano ao interesse público. A medida não pode ficar aquém.
A Lei nº 9.873/99 estabelece o prazo de prescrição de cinco anos para o exercício da ação punitiva da Administração Federal decorrente do poder de polícia, contado da data da prática do ato ou, em se tratando de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
Art. 1o Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
 § 1o Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso.
 § 2o Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
Art. 1o-A. Constituído definitivamente o crédito não tributário, após o término regular do processo administrativo, prescreve em 5 (cinco) anos a ação de execução da administração pública federal relativa a crédito decorrente da aplicação de multa por infração à legislação em vigor. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Art. 2o Interrompe-se a prescrição da ação punitiva: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
 I – pela notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por meio de edital; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
 II - por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato;
 III - pela decisão condenatória recorrível.
 IV – por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da administração pública federal. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Art. 2o-A. Interrompe-se o prazo prescricional da ação executória: (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
 I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
 II – pelo protesto judicial; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
 III – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
 IV – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
 V – por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da administração pública federal. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Art. 3o Suspende-se a prescrição durantea vigência:
 I - dos compromissos de cessação ou de desempenho, respectivamente, previstos nos arts. 53 e 58 da Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994;
 II - do termo de compromisso de que trata o § 5o do art. 11 da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, com a redação dada pela Lei no 9.457, de 5 de maio de 1997.
Art. 4o Ressalvadas as hipóteses de interrupção previstas no art. 2o, para as infrações ocorridas há mais de três anos, contados do dia 1o de julho de 1998, a prescrição operará em dois anos, a partir dessa data.
Art. 5o O disposto nesta Lei não se aplica às infrações de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributária.
O mencionado diploma legislativo determinou a observância de três prazos distintos:
a)	prazo prescricional de cinco anos para o exercício do poder de polícia e constituição do crédito (art. 1º)
b)	prazo de prescrição intercorrente de três anos para a conclusão do processo administrativo instaurado para se apurar a infração administrativa (art. 1º, §1º);
c)	prazo prescricional de cinco anos para a cobrança da multa aplicada em virtude da infração a ser cometida (art. 1º-A).
Com base na Lei 9873/99, o STJ editou a seguinte súmula:
Súmula 467 – Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.
NÍVEIS DE RESTRIÇÃO DA ATIVIDADE PRIVADA E A ATIVIDADE COMUNICANTE
Em escala decrescente, o Estado pode:
a)	retirar a atividade econômica da livre-iniciativa, classificando-a como serviço público de titularidade do Estado. Nesse caso, a prestação do serviço público por particular depende necessariamente de delegação forma do Poder Público (ex: concessão e permissão de serviços públicos;
b)	condicionar o exercício da atividade privada ao seu prévio consentimento, restringindo a livre iniciativa (ex: licença para dirigir veículo);
c)	exigir que o exercício de determinadas atividades privadas sejam comunicadas ao Estado, como intuito de possibilitar a fiscalização de polícia, e não para obter o consentimento estatal (atividades comunicativas)
d)	não exigir o seu consentimento nem a comunicação prévia para exercício de determinadas atividades, inseridas no campo da livre iniciativa, submetendo-as apenas à sua fiscalização genérica.
Diante disso, atividades comunicativas são atividades privadas que devem ser comunicadas ao Estado, por determinação legal, facilitando a fiscalização de polícia.
Exemplo: reunião pacífica em locais abertos ao público (art. 5º, inciso XVI, da CRFB).
DELEGAÇÃO DOS ATOS DE POLÍCIA 
Em regra, o poder de polícia é INDELEGÁVEL (STF já reconheceu esse aspecto, quando declarou inconstitucional o artigo 58 da Lei 9649/98, que pretendia estabelecer o exercício dos serviços de fiscalização das profissões regulamentadas por entidades privadas, delegatárias do Poder Público).
 
Em situações excepcionais, a legislação reconhece a possibilidade de exercício de poder de polícia por pessoas físicas ou pessoas jurídicas de direito privado (exemplos: art. 139 do Código eleitoral atribui o exercício de poder de polícia dos trabalhos eleitorais aos presidentes de mesas receptoras e o art. 166 do Código Brasileiro de Aeronáutica estabelece que o comandante é o responsável pela operação e segurança das aeronaves).
O STF segue a posição doutrinária que sustenta a indelegabilidade do poder de polícia a particulares, tendo em vista que o exercício de autoridade por um particular em detrimento dos demais colocaria em risco o princípio da igualdade.
A indelegabilidade não impede, todavia, o exercício privado de atividade materiais acessórias, prévias ou posteriores ao ato de polícia, denominadas atividades de apoio (exemplos: fiscalização das normas de trânsito por meio de equipamentos eletrônicos e a demolição de obras irregulares por particulares contratados pelo Poder Público), uma vez que, nesse caso, não haveria qualquer margem de liberdade decisória ao particular. Assim, ao particular somente é delegado o ATO MATERIAL, cabendo a ele a mera constatação objetiva do fato, mas à Administração caberá decidir se houve infração de trânsito e impor a respectiva sanção.
COMPETÊNCIA PARA AS MEDIDAS DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA
Depende da repartição de competências feita na CF (competência privativa, comum, concorrente, etc)
Súmulas pertinentes:
SÚMULA Nº 419 STF: 
OS MUNICÍPIOS TÊM COMPETÊNCIA PARA REGULAR O HORÁRIO DO COMÉRCIO LOCAL, DESDE QUE NÃO INFRINJAM LEIS ESTADUAIS OU FEDERAIS VÁLIDAS.
Súmula 645 do STF
É COMPETENTE O MUNICÍPIO PARA FIXAR O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL.
Súmula 646 do STF
OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A INSTALAÇÃO DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM DETERMINADA ÁREA.
Súmula 19 do STJ
A FIXAÇÃO DO HORARIO BANCARIO, PARA ATENDIMENTO AO PUBLICO, E DA COMPETENCIA DA UNIÃO.
SÚMULA 312 DO STJ:
NO PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO, SÃO NECESSÁRIAS AS NOTIFICAÇÕES DA AUTUAÇÃO E DA APLICAÇÃO DA PENA DECORRENTE DA INFRAÇÃO.
SÚMULA 434 DO STJ:
O PAGAMENTO DA MULTA POR INFRAÇÃO DE TRÂNSITO NÃO INIBE A DISCUSSÃO JUDICIAL DO DÉBITO.
OBS: PODER DE POLÍCIA INTERFEDERATIVO
É aquele exercido por um ente federativo sobre o outro. Decorre da repartição de competências constitucionais determinada pela forma federativa de Estado. Não se trata, portanto, de hierarquia.
Exemplo: as repartições públicas federais e estaduais devem respeitas as normas municipais de zoneamento e construção.
Exceção: a instalação de usinas nucleares pela União e a construção de presídios pelos Estados não precisam observar a legislação municipal de zoneamento e construção, mas sim a legislação federal e estadual, respectivamente.
PODER DE POLÍCIA X REGULAÇÃO
O Poder de Polícia está atrelado à restrição e ao condicionamento de liberdade ou direito pelo Poder Público, fundamentados na supremacia geral que o Estado exerce sobre os particulares. Partindo-se dessa premissa, pode-se afirmar que o poder de polícia e a atividade regulatória se interpenetram, apesar de não coincidirem.
Isso porque, a depender da conformação que assume a agência reguladora e o objeto que lhe é dado regular, pode a sua atividade restritiva da esfera particular repousar no exercício da supremacia geral ou especial.
Para bem entender o marco diferencial entre ambos os institutos, é de rigor dividir a área de atuação das agências reguladoras da seguinte forma:
a)	regulação de serviços públicos prestados por terceiros (ANATEL, ANEEL, ANTT, ANTAQ e ANAC);
b)	regulação de uso de bens público por terceiros (ANA, ANP, ANEEL e ANATEL)
c)	regulação de atividade de fomento (ANCINE)
d)	regulação de atividade econômica monopolizada (ANP)
e)	regulação de atividade econômica ou social aberta à iniciativa privada (ANVISA, ANS, ANP, BACEN e CVM)
As agências poderão atuar na disciplina de atividades escorada em vínculos especiais nas quatro primeiras hipóteses. Isso porque os serviços públicos e os bens públicos são titularizados pelo Estado e a delegação de sua prestação e autorização de seu uso, respectivamente, dependem de adesão específica de terceiro, que sujeita a determinadas condições. Também na atividade de fomento, o particular, atendidas determinadas condições, logra os incentivos oferecidos pelo Poder público.
No último caso (regulação de atividade econômica ou social aberta à iniciativa privada), só haverá vínculo especial caso a atividade exercida, por força da repercussão social que ostenta, sujeitar-se à autorização do Poder Público ou de alguma espécie de cadastro ou registro. No mais, eventual sujeição das pessoas reguladas por essas agências a suas normas se caracterizará como vínculo geral de sujeição, amparada pela supremacia geral, identificando-se aqui com o poder de polícia e exigindo, em razão disso, expressa disposição legal para imposição de obrigações. Assim, nem toda atividade restritiva e sancionadora exercida através da função regulatória repousa no poder depolícia.
****COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA. AVOCAÇÃO E DELEGAÇÃO*****.
COMPETÊNCIA: é o CONJUNTO DAS ATRIBUIÇÕES das PESSOAS JURÍDICAS, ÓRGÃOS e AGENTES fixado pelo DIREITO POSITIVO. 
	REGRA: é IRRENUNCIÁVEL e é exercida pelos órgãos administrativos a que foi atribuída;
	EXCEÇÃO: nas HIPÓTESES LEGAIS ela poderá ser DELEGADA e AVOCADA.
CARACTERÍSTICAS:
a) DECORRE SEMPRE DE LEI - o próprio órgão não pode estabelecer suas próprias atribuições.
b) INDERROGABILIDADE - a COMPETÊNCIA é conferida em benefício do INTERESSE PÚBLICO, NEM por VONTADE DA ADMINISTRAÇÃO, nem por VONTADE DE TERCEIRO é possível que ela seja DERROGADA.
c) POSSIBILIDADE DE DELEGAÇÃO - ATENDIDOS OS LIMITES LEGAIS a COMPETÊNCIA pode ser DELEGADA.
 Requisitos de validade (ou elementos) do ato administrativo
Com base na lei que regula a ação popular, a doutrina costuma apontar cinco requisitos do ato administrativo: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. São requisitos de validade, haja vista que a prática em desacordo com o estabelecido em lei leva à sua nulidade (exceção: em caso de vício nos elementos competência ou forma, poder-se-á ter atos apenas anuláveis, ou seja, potencialmente aptos à convalidação).
a)	COMPETÊNCIA (ou “sujeito”, para alguns doutrinadores)
Para a prática de qualquer ato administrativo é necessário que o agente tenha poder específico para o desempenho das atribuições do seu cargo, sendo esta a definição de competência. 
CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO dá bastante ênfase para o fato de que os agentes públicos têm, antes de tudo deveres e que, somente para o cumprimento desses é que o ordenamento lhes confere poderes ou prerrogativas especiais. Tais poderes são atribuídos na exata medida do que seja necessário para que o agente atinja os fins que o ordenamento lhe impõe, sempre voltados ao interesse publico. 
Somente a lei pode estabelecer competências administrativas. Portanto, seja o ato administrativo vinculado ou discricionário, esse elemento é sempre vinculado.
 Fontes da Competência:
a)	fonte primária – é quem define no primeiro plano a competência, ou seja, a lei em sentido amplo (englobando o texto constitucional)
b)	fonte secundária – é quem define no plano interno do órgão, ou seja, para apontar exatamente quem é o sujeito, que será previsto em ato administrativo.
 Características da competência:
a)	é de exercício obrigatório, ou seja, o sujeito é obrigado a exercitar a competência (idéia de dever-poder de CELSO ANTONIO);
b)	Irrenunciável - não pode ser renunciada pelo agente, porque se trata de um múnus público, ou seja, não pertence ao agente; se não lhe pertence não pode renunciar;
c)	NÃO pode também ser transacionada, pelo mesmo motivo acima;
d)	NÃO pode ser modificada pela vontade do agente; sendo elemento vinculado, somente a lei pode modificá-la;
e)	NÃO prescreve pela inexistência de exercício efetivo, ou seja, mesmo que o agente não a utilize não quer dizer que depois perderá o seu direito de utilizá-la;
f)	NÃO se prorroga, de maneira que a competência não se estende automaticamente a órgão ou agente incompetente pela simples circunstancia de haver ele praticado o ato ou de ter sido o primeiro a tomar conhecimento do fato que originou o ato;
g)	via de regra, é INDELEGÁVEL (ou intransferível), mas, mediante justificativa, e atendidos os requisitos da lei, pode ser delegada.
Obs.: 1. o que se delega é o exercício da competência (e não sua titularidade);
2. quando o agente transfere a competência para subordinado não deixa de ser competente surgindo a COMPETÊNCIA CUMULATIVA (tanto quem transferiu quanto quem recebeu são competentes);
 Vício de Incompetência. Excesso de poder, função de fato e usurpação de função
a) Por incompetência: ocorre por excesso de poder, usurpação de função ou função de fato.
Ocorre excesso de poder quando o agente atua fora ou além de sua esfera de competências, estabelecida em lei (no mesmo sentido do disposto no art. 2, parágrafo único, alínea a da Lei n. 4717/65). Ex.: a autoridade competente para aplicar pena de suspensão, aplica penalidade mais grave.
Obs.: 1. abuso de poder é o gênero, do qual são espécies o excesso de poder (vício de competência) e o desvio de poder (vício no elemento finalidade dos atos administrativos).
 2. Tanto o excesso como o desvio de poder podem configurar crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65), hipótese em que ficará sujeito à responsabilidade administrativa e à penal, podendo ainda responder civilmente, se de seu ato resultarem danos patrimoniais e morais.
O vício de competência (excesso de poder) admite convalidação, salvo se se tratar de competência em razão da matéria ou de competência exclusiva. Nestes dois últimos casos, o excesso de poder gera um ato nulo.
As duas próximas figuras são trazidas pela DI PIETRO.
A usurpação da função é o crime (art. 328 do CP) que é cometido por alguém que não foi por nenhuma forma investido no cargo, emprego ou função públicos. O agente não tem nenhuma espécie de vinculo funcional com a administração.
Neste caso, a maioria da doutrina considera o ato inexistente.
Ocorre a função de fato quando a pessoa foi investida no cargo, emprego ou função pública, mas há alguma ilegalidade em sua investidura ou impedimento para a prática do ato. Ex.: idade inferior ao mínimo legal; ato praticado por servidor apos vencido o prazo da contração.
Em função da teoria da aparência (para os administrados, a situação tem total aparência de legalidade, de regularidade), o ato é considerado válido, ou pelo menos o são os efeitos dele decorrentes.
b) Por incapacidade: A Lei 9.784/99 prevê, em seu art. 18, os casos de impedimento, e no art. 20, os casos de suspeição de autoridade ou servidor público, praticamente nos mesmos moldes do CPC. Cumpre salientar, porém que, no Direito Administrativo, ambas as hipóteses se enquadram como atos anuláveis, passíveis de convalidação por autoridade que não esteja na mesma situação de impedimento ou suspeição.
DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA: [art. 12, Lei 9.784/99]
Tomando por base o disposto na Lei n. 9784/99, arts. 11 a 14, MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE PAULO [Direito Administrativo Descomplicado. 2011. p. 444] enumeram como sendo relevantes os seguintes pontos sobre delegação de competência:
a)	“a regra geral é a possibilidade de delegação de competência, a qual somente não é admitida se houver impedimento legal;
b)	a delegação pode ser feita para órgãos ou agentes subordinados, mas ela também é possível mesmo que não exista subordinação hierárquica, nos expressos termos do art. 12 da lei;
c)	a delegação deve ser de apenas parte da competência do órgão ou agente, não de todas as suas atribuições;
d)	a delegação deve ser feita por prazo determinado;
e)	o ato de delegação pode conter ressalva de exercício da atribuição delegada, vale dizer, e exercício da atribuição pode não ser conferido em sua plenitude ao agente delegado, e sim com restrições e ressalvas. Por exemplo, o delegante, se assim entender conveniente, pode enumerar casos ou circunstancias em que o agente delegado necessite receber dele uma autorização prévia especifica para exercer a atribuição delegada, ou mesmo especificar situações ou hipóteses em que fique vedado o exercício da atribuição pelo delegado;
f)	o ato de delegação é um ato discricionário e é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante;
g)	o ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial;
h)	o ato por delegação deve mencionar expressamente esse fato e é considerado adotado pelo delegado, ou seja, a responsabilidade recai sobre ele (SÚMULA 510 STF - Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.)””
Em alguns casos, a lei VEDA A DELEGAÇAO (art. 13): atos administrativos normativos, decisão em recursos administrativos e matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Ressalte-se que a vedação existe na Lei n. 9784/99, que é lei federal, nada impedindo, portanto, que haja diferença de regramento emleis de outras esferas.
- a DELEGAÇÃO deve atender pelo menos um dos seguintes fins:
	a)conveniência técnica;
	b)conveniência social;
	c)conveniência econômica;
	d)conveniência jurídica;
	e)conveniência territorial.
-REQUISITOS PARA O ATO DE DELEGAÇÃO: [art. 14, Lei 9.784/99]
	especificação da matéria e poderes transferidos;
	especificação dos limites da atuação delegado;
	especificação da tempo de duração da delegação;
	especificação dos objetivos da delegação;
	especificação do recurso cabível;
	publicidade.- o ato de delegação deve ser publicado no meio oficial.
TEORIA DA ENCAMPAÇÃO se o MS for impetrado contra autoridade hierarquicamente superior, e essa defender o ato, ela passa a ser parte legítima.
-requisitos para aplicação da teoria da encampação:
	
a)AUTORIDADE INDICADA DEVE ADENTRAR NO MÉRITO DA QUESTÃO;
	b)EXISTÊNCIA DE HIERARQUIA IMEDIATA ENTRE A AUTORIDADE INDICADA E A AUTORIDADE QUE DEVERIA TER FIGURADO NO FEITO.
	c) que o ingresso do encampante não modifique a competência para o julgamento do mandado de segurança.
AVOCAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Quanto à avocação, é regulada em apenas um artigo da Lei n. 9784/99, segundo o qual: “art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior”.
Prevalece na doutrina que não é possível avocar sem que exista hierarquia entre os agentes envolvidos.
Ainda em linha de distinção, não se pode confundir revogação de um ato de delegação (é do delegante a titularidade da competencia) com avocação (a competencia legal avocada é do subordinado).
CARACTERÍSTICAS DA AVOCAÇÃO:
	a)DEVE TER CARÁTER EXCEPCIONAL;
	b)DEVE SER JUSTIFICADA/MOTIVADA E DECORRER DE MOTIVO RELEVANTE; 
	c)DEVE TER CARÁTER TEMPORÁRIO;
	d)DEPENDE DE VINCULAÇÃO HIERÁRQUICA. - deve ser competência atribuída a órgão de hierarquia inferior.
***ATENÇÃO***a delegação de competência PRESCINDE de vinculação hierárquica, ao passo que a avocação não.
*****AGENTE DE FATO******
Os servidores públicos são uma espécie dentro do gênero ‘agentes públicos’. (...) Esta expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode conceber(...). Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um agente público. (C.A)
Dois são os requisitos para a caracterização do agente público: um, de ordem objetiva, isto é, a natureza estatal da atividade desempenhada; outro, de ordem subjetiva: a investidura nela. (C.A)
Funcionário de fato é aquele cuja investidura foi irregular, mas cuja situação tem aparência de legalidade. Em nome do princípio da aparência, da boa-fé dos administrados, da segurança jurídica e do princípio da presunção de legalidade dos atos administrativos reputam-se válidos os atos por ele praticados, se por outra razão não forem viciados. (C.A)
Podem ser agrupados em duas categorias:
a)	os agentes necessários: são aqueles que praticam atos e executam atividades em situações excepcionais, como, por exemplo, as de emergência, em colaboração com o Poder Público e como se fossem agentes de direito; e
b)	os agentes putativos: são que desempenham uma atividade pública na presunção de que há legitimidade, embora não tenha havido investidura dentro do procedimento legalmente exigido.
Nos dois casos acima, a administração anuiu e sendo assim responderão por atos de improbidade.
Note-se, porém, que o agente de fato jamais poderá usurpar a competência funcional dos agentes públicos em geral, já que este tipo de usurpação da função pública constitui crime previsto no art.328 do Código Penal. (J.S)
-efeitos do agente de fato:
	a)AGENTES NECESSÁRIOS: os atos, se não forem praticados com abuso, serão confirmados pelo Poder Público;
	b)AGENTES PUTATIVOS: TEORIA DA APARÊNCIA: são VÁLIDOS os atos perante TERCEIROS DE BOA FÉ, não sendo necessário devolver a remuneração recebida pelo seu trabalho, sob pena de caracterizar enriquecimento ilícito da Administração.
DOMÍNIO PÚBLICO:	
CONCEITO:
Segundo Hely Lopes Meirelles, em sentido amplo, é o poder de dominação ou de regulamentação que o Estado exerce sobre bens do seu patrimônio (bens públicos), ou sobre os bens do patrimônio privado (bens particulares de interesse público), ou sobre as coisas inapropriáveis individualmente, mas de fruição geral da coletividade (res nullius ou adéspotas). 
Teremos em seus desdobramentos político e jurídico, a exteriorização do domínio público em poderes de soberania e em direitos de propriedade, respectivamente. Aqueles se exercem sobre todas as coisas de interesse público, sob a forma de DOMÍNIO EMINENTE; estes só incidem sobre os bens pertencentes às entidades públicas, sob a forma de DOMÍNIO PATRIMONIAL.
O DOMÍNIO EMINENTE é o PODER POLÍTICO pelo qual o Estado submete à sua vontade todas as coisas em seu território. É uma das manifestações da Soberania interna; não é direito de propriedade. Alcança não só os bens pertencentes às entidades públicas como a propriedade privada e as coisas inapropriáveis, de interesse público. Esse poder superior é geral, mas não é absoluto, pois está condicionado à ordem jurídico-constitucional. É o domínio GERAL e POTENCIAL sobre bens alheios, que FUNDAMENTA a desapropriação, a servidão administrativa, etc.
O DOMÍNIO PATRIMONIAL do Estado sobre seus bens é DIREITO DE PROPRIEDADE (pública) sujeito a um regime administrativo especial. A esse regime subordinam-se todos os bens das pessoas administrativas, assim considerados bens públicos e, como tais, regidos pelo Direito Público, embora supletivamente se lhes apliquem algumas regras da propriedade privada. Advirta-se, porém, que as normas civis não regem o domínio público; suprem, tão somente, as omissões das leis administrativas.
BENS PÚBLICOS:	
São aqueles bens móveis ou imóveis pertencentes às pessoas de direito público, bem como aqueles que, ainda que pertencentes à iniciativa privada, estão se prestando à prestação de serviço público (AFETADOS AO SERVIÇO PÚBLICO, ou seja, destinados ao serviço público). Exemplo: ônibus usado pelas concessionárias de transporte público coletivo.
Bens públicos, para José dos Santos Carvalho Filho, são todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título, pertençam às pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, sejam da Administração descentralizada, como as autarquias e fundações de direito público.
Celso Antônio Bandeira de Mello inclui ainda aqueles bens que, embora não pertençam a uma dessas pessoas, estejam afetados à prestação de um serviço público, sob o fundamento que, uma vez afetados, se submetem ao regime jurídico dos bens de propriedade pública.
O CC/02 restringiu bastante os bens públicos, afirmando que em seu artigo 98 que: 
São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Esse conceito restringe os bens públicos à titularidade das pessoas jurídicas de direito público.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS:
1) Classificação dos bens públicos quanto à TITULARIDADE:
a) Bens da União – art. 20, CF.
b) Bens estatais ou distritais – art. 26, CF
c) Bens municipais – não foram expressamente contemplados na Constituição, mas há vários bens que lhes pertencem pela sua localização.
2) Classificação dos bens públicos quanto à DESTINAÇÃO:
O critério desta classificação é o da destinação ou afetação do bem.
Segundo a destinação, o Código Civil reparte os bens públicos em três categorias: 
a) De uso comum – Art. 99, I, CC. Destinados ao uso indistinto de todos, em virtude de sua natureza ou por lei. Ex: praias (em razão da natureza) e praças (em razão da lei de parcelamento do solo urbano).
b) De uso especial – Art. 99, II, CC. Destinam-se especialmente à execução do serviço público, sendo, por esta razão, instrumentos desses serviços. Ex: cemitério ou prédio da prefeitura
c) Dominicais/dominiais – Art. 99, III, CC. São bens do Estado como objeto de direito real ou pessoal, i.e., os que constituemo patrimônio DISPONÍVEL. Há a possibilidade sempre presente de utilizá-los para qualquer fim. Não tem destinação pública determinada nem finalidade específica. Sujeito ao regime jurídico de direito privado DERROGADO por normas de direito público.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS
Para José dos Santos Carvalho, os bens das pessoas administrativas privadas, como é o caso das empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas de direito privado, devem ser caracterizadas como BENS PRIVADOS, seguindo a jurisprudência do STF:
O Tribunal entendeu que os bens e direitos das sociedades de economia mista não são bens públicos, mas bens privados que não se confundem com os bens do Estado, de modo que não se aplica à espécie o art. 72, II, da CF, que fixa a competência do TCU para julgar as contas dos responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos. Vencidos os Ministros Carlos Velloso, relator, e Ellen Gracie, que votaram pelo indeferimento da ordem sob o fundamento de que o inciso II do art. 71 da CF é expresso ao submeter à fiscalização do TCU as contas dos administradores e demais responsáveis por entidades da administração indireta (...). (MS 23.627-DF, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ acórdão Min. Ilmar Galvão,7.3.2002, Informativo n.º 259, março/2002).
PRINCÍPIO DA AFETAÇÃO OU DA CONSAGRAÇÃO: afetação consiste em destinar o bem para alguma utilização ESPECÍFICA (desafetação é retirar a utilização específica), uso comum ou uso especial, implicando na mudança de categoria do bem.
Competência para afetar: exclusiva da pessoa jurídica proprietária do bem, que também tem competência exclusiva para dizer “se” e “quando” o bem poderá ser afetado ou desafetado.
A afetação ocorre, necessariamente, POR LEI ou POR ATO do chefe do executivo. Alguns autores defendem que existem outros meios de afetação, exemplo: hospital que pega fogo e não tem mais como ser utilizado, logo, um evento provocou a desafetação do bem de forma tácita. Note-se que, se o prédio pertence ao Estado, ele pode servir para a ocupação com o serviço público, independentemente de um ato específico de afetação. Assim, existem duas correntes doutrinárias:
a) Mais RESTRITA, que somente aceita a afetação com atos específicos;
b) Mais AMPLA, que permite também a afetação tácita.
3) Classificação dos bens públicos quanto ao ASPECTO JURÍDICO:
Em virtude da destinação com o uso específico ou não, os bens públicos podem ser classificados juridicamente em:
1) Bens de Domínio Público (uso comum e uso especial) (são inalienáveis) e;
2) Bens de Domínio Privado, sem utilização pública (bens dominiais) (podem ser alienados).
Com maior rigor técnico, tais bens são reclassificados, para efeitos administrativos, em bens do domínio público (os de primeira categoria: de uso comum do povo), bens patrimoniais indisponíveis (os da segunda categoria: de uso especial) e bens patrimoniais disponíveis (os da terceira e última categoria: dominicais).
3) Classificação dos bens públicos quanto à DISPONIBILIDADE:
Quanto à disponibilidade, são: indisponíveis (bens de uso comum: mares, ruas, logradouros públicos), patrimoniais indisponíveis (bens de uso especial: afetados ao serviço público) e patrimoniais disponíveis (dominicais em geral).
CARACTERÍSTICAS DOS BENS PÚBLICOS
 Bens do Domínio Público: caracterizam-se por serem afetados ao uso coletivo (bens de uso comum) ou ao uso da Administração, submetidos a regime jurídico de direito público derrogatório e exorbitante do direito comum. 
Características: AFETAÇÃO + REGIME DE DIREITO PÚBLICO
Em razão destas características tais bens estão fora do comércio jurídico de direito privado (Di Pietro)
 Bens do Domínio Privado (dominicais): comportam função patrimonial ou financeira e submetem-se a um regime jurídico de direito privado:
Características: DESAFETAÇÃO + REGIME DE DIREITO PRIVADO
Di Pietro, no entanto adverte: “Hoje, já se entende que a natureza desses bens não é exclusivamente patrimonial; a sua administração pode visar, paralelamente, a objetivos de interesse geral. (...) Esse novo modo de encarar a natureza e função dos bens dominicais leva alguns autores a considerar a sua administração como serviço público sob regime de gestão privada. O duplo aspecto dos bens dominiais justifica a sua submissão a regime jurídico de direito privado PARCIALMENTE DERROGADO pelo direito público.”
Atento às características acima de cada classe de bens, compreende-se melhor a razão da submissão ou não de cada uma delas às cláusulas da inalienabilidade, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossibilidade de oneração:
1) INALIENABILIDADE ou INDISPONIBILIDADE - ocorre em razão da supremacia dos bens públicos regidos pelo regime de domínio público, ou seja, os bens de uso comum e de uso especial. Os bens dominicais podem ser alienados, os bens de uso comum e de uso especial somente podem ser alienados, mediante a DESAFETAÇÃO (DESCONSAGRAÇÃO, terminologia de Diógenes Gasparini). Mas a alienação dos bens dominicais deve obedecer a um rito previsto na Lei 8.666, devendo haver: justificativa, autorização legislativa, avaliação do bem e alienação por licitação, na modalidade de concorrência, dispensada nas hipóteses previstas no artigo 17.
a) DAÇÃO em pagamento; 
b) DOAÇÃO, permitida exclusivamente para OUTRO ÓRGÃO ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas “f”, “h” e “i”; (Redação dada pela Medida Provisória nº 458, de 2009)
c) PERMUTA, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta Lei; (O STF, em medida cautelar deferida no julgamento da ADIn 927-3, de 3.11.1993, suspendeu os efeitos desta alínea)
d) INVESTIDURA; 
e) VENDA a outro ÓRGÃO ou ENTIDADE da administração pública, de qualquer esfera de governo; (Incluída pela Lei nº 8.883, de 1994)
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de PROGRAMAS HABITACIONAIS ou de REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; (Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007)
g) procedimentos de regularização fundiária de que trata o art. 29 da Lei no 6.383, de 7 de dezembro de 1976;  (Redação dada pela Medida Provisória nº 458, de 2009)
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de USO COMERCIAL de âmbito local com área de até 250 m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União na Amazônia Legal onde incidam ocupações até o limite de quinze módulos fiscais ou mil e quinhentos hectares, para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais; (Incluído pela Medida Provisória nº 458, de 2009)
II - quando MÓVEIS, dependerá de AVALIAÇÃO prévia e de licitação, DISPENSADA esta nos seguintes casos:
a) DOAÇÃO, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de sua oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de alienação; 
b) PERMUTA, permitida exclusivamente ENTRE ÓRGÃOS ou entidades da Administração Pública; (O STF, em medida cautelar deferida no julgamento da ADIn 927-3, de 3.11.1993, suspendeu os efeitos desta alínea)
c) VENDA DE AÇÕES, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica;
d) VENDA DE TÍTULOS, na forma da legislação pertinente;
e) venda de bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da Administração Pública, em virtude de suas finalidades;
f) venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Administração Pública, sem utilização previsível por quemdeles dispõe. 
O Novo CC dispõe serem inalienáveis apenas os bens públicos de uso comum do povo e de uso especial (art. 100). Os dominicais perderam essa peculiaridade (art. 101). Mas, de se observar que a perda dessa inalienabilidade não vulnera os bens públicos à aquisição por usucapião (essa proibição foi mantida no novo texto, art. 102, com fundamento em comando expresso da CF/88, art. 183, §3º)
CARVALHO FILHO, ao tratar dessa característica dos bens públicos, prefere denominá-la de alienabilidade condicionada, termo mais tecnicamente preciso.
2) IMPENHORABILIDADE – os bens públicos não podem ser objeto de penhora (processo de constrição sobre um bem), pois as dívidas judiciais do Estado serão pagas por meio de precatórios (art. 100, CF/88). As estatais (SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA e EMPRESAS PÚBLICAS) são pessoas jurídicas administrativas, mas estão sujeitas ao regime de direito privado, sendo assim, seus bens estão sujeitos à penhora, bem como, elas não podem se beneficiar com o pagamento de suas dívidas judiciais por precatório. Para as estatais que desempenham atividade econômica, sob a forma de serviço público (“instrumentalidades estatais”), aqueles bens diretamente ligados à prestação de serviço público NÃO podem ser penhorados. 
O STF vem fazendo DISTINÇÃO entre empresa pública e sociedade de economia mista exploradora de atividade econômica da prestadora de serviço público. Quanto a estas últimas reconhece que as mesmas não se submetem ao regime próprio das empresas privadas, devendo ser observado o regime de precatório:
RE 220906 / DF - DISTRITO FEDERAL 
Relator(a):  Min. MAURÍCIO CORRÊA 
Julgamento:  16/11/2000           Órgão Julgador:  Tribunal Pleno
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. IMPENHORABILIDADE DE SEUS BENS, RENDAS E SERVIÇOS. RECEPÇÃO DO ARTIGO 12 DO DECRETO-LEI Nº 509/69. EXECUÇÃO. OBSERVÂNCIA DO REGIME DE PRECATÓRIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. À empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços. Recepção do artigo 12 do Decreto-lei nº 509/69 e não-incidência da restrição contida no artigo 173, § 1º, da Constituição Federal, que submete a empresa pública, a sociedade de economia mista e outras entidades que explorem atividade econômica ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias. 2. Empresa pública que não exerce atividade econômica e presta serviço público da competência da União Federal e por ela mantido. Execução. Observância ao regime de precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 100 da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e provido.
3) IMPRESCRITIBILIDADE – ligada à prescrição aquisitiva, que não se aplica aos bens públicos, ou seja, que não podem ser usucapidos. Mesmo os bens dominiais NÃO podem ser usucapidos. Por outro lado, o poder público pode usucapir bem particular. É possível o usucapião do domínio útil (enfiteuse) do bem público? Há precedentes nesse sentido, a exemplo do que segue:
Civil e processo civil. Recurso especial. Usucapião. Domínio público. Enfiteuse. - É possível reconhecer a usucapião do domínio útil de bem público sobre o qual tinha sido, anteriormente, instituída enfiteuse, pois, nesta circunstância, existe apenas a substituição do enfiteuta pelo usucapiente, não trazendo qualquer prejuízo ao Estado. Recurso especial não conhecido. (REsp 575.572/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/09/2005, DJ 06/02/2006, p. 276)
A jurisprudência do STJ diz não ser possível a posse de bem público, pois sua ocupação irregular (ausente de aquiescência do titular do domínio) representa mera detenção de natureza precária. Consoante precedente da Corte Especial, são bens públicos os imóveis administrados pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), empresa pública em que figura a União como coproprietária (Lei n. 5.861/1972) e que tem a gestão das terras públicas no DF, possuindo personalidade jurídica distinta desse ente federado. Sendo assim, na ação reivindicatória ajuizada por ela, não há falar em direito de retenção de benfeitorias (art. 516 do CC/1916 e art. 1.219 do CC/2002), que pressupõe a existência de posse. REsp 841.905-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/5/2011.
4) NÃO ONERÁVEIS – não podem ser dados em garantia, ou seja, os bens públicos não servem de direito real de garantia (penhor, hipoteca e anticrese). Com o ajuizamento da ação judicial, as garantias transformam-se em penhora, assim, se os bens públicos são impenhoráveis, não se justifica a constituição de um direito real de garantia.
Em uma questão para juiz, caiu a pessoalidade como característica dos bens públicos, isso está errado, não há nenhuma correlação.
ALIENAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS
 
A alienação dos bens públicos demanda o preenchimento dos seguintes requisitos:
1) Desafetação (tratando-se de bens de uso comum e de uso especial)
2) Obediência às normas dos artigos 17 a 19 da Lei 8.666/93.
ATENÇÃO: Em Medida Cautelar na ADIN 927-3, foi suspensa a eficácia dos seguintes dispositivos do art. 17 da Lei n.º 8.666/93: inc. I, ‘b’ – DOAÇÃO IMÓVEIS (quanto à expressão ‘permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração Pública’) e ‘c’- PERMUTA IMÓVEIS; inc. II, b - PERMUTA MÓVEIS (quanto à expressão “permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração Pública”) e § 1º- REVERSÃO DA DOAÇÃO.
Sumula 103 STJ: INCLUEM-SE ENTRE OS IMOVEIS FUNCIONAIS QUE PODEM SER VENDIDOS OS ADMINISTRADOS PELAS FORÇAS ARMADAS E OCUPADOS PELOS SERVIDORES CIVIS.
INVESTIDURA
É um instituto de alienação especial e próprio do Direito Administrativo. Esse instituto dispensa a licitação (artigo 17, § 3o.).
A investidura tem como grande peculiaridade a ausência de licitação. Os outros requisitos têm que ser preenchidos: avaliação, declaração de interesse público e autorização legislativa, quando se tratar de bens imóveis.
§ 3o  Entende-se por INVESTIDURA, para os fins desta lei: 
I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50% (cinqüenta por cento) do valor constante da alínea "a" do inciso II do art. 23 desta lei; 
II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins residenciais construídos em núcleos urbanos anexos a usinas hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis na fase de operação dessas unidades e não integrem a categoria de bens reversíveis ao final da concessão.  
(o titular de concessão já exerce a posse do bem público, assim é justo que tenha a preferência na aquisição do bem)
Exemplo típico de investidura, citado por CARVALHO FILHO, ocorre quando a Administração implementa novos projetos urbanos e alteração do traçado de alinhamento, remanescendo áreas contíguas a propriedades privadas.
AQUISIÇÃO DE BENS PÚBLICOS
CARVALHO FILHO divide a aquisição em dois grupos: a aquisição originária e a aquisição derivada. 
Na aquisição ORIGINÁRIA, não há a transmissão da propriedade por qualquer manifestação de vontade. A aquisição é direta. O adquirente independe da figura do transmitente. Nesse tipo de aquisição, não há ensejo para discussão sobre vícios de vontade ou vícios de legalidade quanto à transmissão do bem.
Já na aquisição DERIVADA, há uma cadeia de transmissibilidade do bem, ou seja, alguém transmite um bem ao adquirente mediante certas condições por eles estabelecidas. Esse tipo de aquisição rende ensejo à discussão sobre vícios da vontade e sobre o próprio negócio jurídico de transferência do bem. 
Formas de aquisição da propriedade pelo poder público:
1) compra: Requisitos: imóveis – autorização legislativa, interesse público justificado, prévia avaliação, licitaçãona modalidade concorrência (ressalvadas as situações previstas no art. 17, I, da Lei 8.666). Móveis – dispensa autorização legislativa específica, licitação na modalidade leilão, dispensada em alguns casos (ex: art. 24, VIII).
Regida pelo art. 481, do CC, uma vez que não há venda administrativa.
2) doação: É procedimento excepcional na Administração Pública e deve atender a interesse público demonstrado.
Requisitos: autorização legislativa, interesse justificado, avaliação prévia, licitação prévia (dispensável se for para outro órgão ou entidade da Administração Pública de qualquer esfera do governo). Art. 17, II, a, Lei 8666/93.
Modernamente as doações vêm sendo substituídas por concessões de direito real de uso.
A maioria da doutrina entende que não cabe a doação com encargo.
3) permuta: Significa uma simultânea alienação e aquisição. Art. 533, CC.
Requisitos: autorização legislativa, avaliação prévia dos bens, interesse público justificado. A licitação é normalmente dispensada (art. 24, X). 
4) dação em pagamento: Entrega de bem, que não seja dinheiro, para solver dívida anterior. Art. 356, CC.
Requisitos: autorização legal, avaliação do bem a ser transferido, demonstração do interesse público no acordo.
5) arrematação em hasta pública: arrematação é o meio de aquisição de bens através da alienação de bem penhorado, em processo de execução, em praça ou leilão judicial;
6) adjudicação de bem: é o meio pelo qual o credor obtém o direito de adquirir os bens penhorados e praceados, oferecendo preço não inferior ao fixado na avaliação. Esse critério, hoje enunciado no art. 685-A do CPC, substituiu o anterior, pelo qual o preço não poderia ser inferior ao fixado no edital (art. 714 do CPC, revogado pela Lei n.º 11.382/06);
7) usucapião: não há óbice à aquisição, pelo Poder Público, de bens por meio do instituto do usucapião. O que se proíbe é que bens públicos sejam usucapidos;
9) herança: os bens públicos podem originar-se de aquisição causa mortis. 
CARVALHO FILHO faz as seguintes considerações: No sistema adotado pelo Código Civil revogado (art. 1.603, V), os Municípios, o Distrito Federal e a União figuravam na relação dos sucessores hereditários legítimos. O Código vigente, no entanto, não mais inclui aquelas pessoas federativas no elenco da vocação hereditária, como se pode observar na relação do art. 1.829. Não obstante, consigna que, não sobrevivendo cônjuge, companheiro ou algum outro parente sucessível, ou, ainda, tendo havido renúncia por parte dos herdeiros, a herança se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada em seus respectivos territórios, ou à UNIÃO, caso esteja situada em território federal (art. 1844). 
No caso de herança jacente, dispõe a lei civil, empregando a mesma fórmula acima que, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, passarão os bens arrecadados ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados em seus territórios, ou se incorporarão ao domínio da União, quando situados em território federal (art. 1822, CC).
Ressalte-se, ainda, a possibilidade de sucessão testamentária;
10) acessão natural (aluvião e avulsão; é abrupta);
11) confisco (perda dos objetos do crime, terras para cultivo de psicotrópico e como conseqüência da improbidade);
12) parcelamento do solo urbano (formação de loteamentos);
13) reversão – Ocorre nas concessões de serviços públicos, conforme Lei n.º 8.987/95, art. 35, § 1º : Extinta a concessão, retornam ao poder concedente todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos ao concessionário conforme previsto no edital e estabelecido no contrato;
Além dos instrumentos comuns do direito privado (venda, doação, permuta), existem formas de alienação próprias de direito público, quais sejam:
- Concessão de Domínio: é o instrumento pelo qual uma entidade de direito público transfere a outrem, gratuita ou remuneradamente, bem público de seu domínio.
- Investidura: é a alienação aos proprietários lindeiros de área remanescente de obra pública, quando esta se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação.
- Incorporação: é a forma alienativa pela qual o Estado, ao instituir entidade administrativa privada, faz integrar no seu capital social dinheiro ou bens móveis ou imóveis. 
- Retrocessão: instituto no qual a entidade que processou a desapropriação de bem oferece-o de volta ao ex-proprietário, quando o bem não tiver o destino para o qual fora preordenado, ou se não houver sua utilização em obras e serviços públicos (definição de CARVALHO FILHO).
- Legitimação da Posse: é o instituto através do qual o Poder Público, reconhecendo a posse legítima do interessado e a observância dos requisitos fixados em lei, transfere a ele a propriedade da área integrante do patrimônio público.
- Desapropriação: procedimento administrativo pelo qual o Poder Público impõe ao proprietário a perda do seu bem para fins de necessidade ou utilidade pública ou interesse social, mediante o pagamento prévio de uma justa indenização.
Acima estão as principais hipóteses, já que outras poderão surgir.
Como regra geral, quem usa o bem é a própria pessoa jurídica titular do bem, obedecendo a sua finalidade. Mas excepcionalmente, a utilização pode ser anormal ou ser realizada pelo particular.
UTILIZAÇÃO DE ACORDO COM OS FINS:
A utilização pode ser:
1) Uso Normal: cumpre sempre a finalidade precípua do bem. Exemplo: usar rua para tráfego é uso normal.
2) Uso Anormal: utilização com finalidade diversa ou estranha à sua destinação geral. Exemplo: usar rua para fazer uma festa. 
A utilização anormal do bem demanda a interferência do Poder Público, que exercerá um controle sobre a utilização do bem. Exemplo: direito de reunião da CF pode ser restringido em decorrência da utilização do bem.
UTILIZAÇÃO DE ACORDO COM A GENERALIDADE:
Existem 03 situações distintas:
1) UTILIZAÇÃO COMUM: todos os indivíduos têm direito de utilizar o bem; não há discriminação ou distinção; é bem coletivo. Exemplos: escolas, ruas, praias, praças. A utilização é feita sem distinção ou discriminação. ATENÇÃO: quando há cobrança de entrada, há discriminação que dá origem a uma utilização especial.
- Características: aberto a todos; é, em geral, gratuito, mas pode ser remunerado (divergência doutrinária); sujeito ao Poder de Polícia do Estado que corresponde à regulamentação do uso, fiscalização do uso, aplicação de medidas coercitivas para preservar o bem e proteger o usuário.
- Bens sujeitos ao uso comum: normalmente bens de uso comum, mas também os de uso especial.
- Posição do administrado frente ao bem afetado ao uso comum: a) como membro da coletividade tem interesse coletivo na preservação do bem; b) individualmente considerado tem direito subjetivo ao uso comum do bem.
Segundo Maria Sylvia, o uso comum pode ser:
1) USO COMUM ORDINÁRIO: é aberto a todos indistintamente, sem exigência de instrumento administrativo de outorga e sem retribuição de natureza pecuniária;
2) USO COMUM EXTRAORDINÁRIO: está sujeito a maiores restrições impostas pelo poder de polícia do Estado, ou porque limitado a determinada categoria de usuários, ou porque dependente de outorga administrativa ou remuneração (ex: pedágio em estrada).
Hely Lopes Meireles, neste ponto seguido por José dos Santos Carvalho, entende que o uso comum deve ser gratuito. Logo, a classificação de uso comum extraordinário, na realidade seria uma espécie de uso especial, independente de se tratar de forma de uso de bem de uso comum ou de uso especial.
2) UTILIZAÇÃO ESPECIAL OU PRIVATIVA: Conferido pela Administração Pública, mediante título jurídico individual, a pessoa ou grupo de pessoas determinadas, para que o exerçam com exclusividade sobre parcela de bem público. Exemplo: banca de revista. 
- Pode ser para pessoa física ou jurídica, pública ou privada.
- Não transfere a propriedade
- Características: exclusividade da utilização do bem; exigência de título jurídico individual e formal; precariedade.
- Bens de uso comum ou de uso especial: só admitemo uso privativo através de três institutos = autorização, permissão e concessão de uso. Uso sujeito ao regime de direito público.
- Bens dominicais: podem ser concedidos aos particulares através dos institutos supracitados. Podem ser objeto de contratos regidos pelo código civil. Ex: locação, comodato, enfiteuse, arrendamento.
São modalidades de utilização especial:
1) Utilização remunerada.
2) Uso privativo.
3) Utilização Compartilhada: é a utilização em conjunto do particular e do poder público. Exemplo 01: concessionária de serviço de telefonia que instala um orelhão na calçada, o bem é utilizado pelo poder público e pela prestadora do serviço público. Exemplo 02: sob a residência do particular passa o encanamento para a casa dos fundos. 
INSTRUMENTOS DE OUTORGA DE USO PRIVATIVO: AUTORIZAÇÃO, PERMISSÃO E CONCESSÃO
O que mais interessa aqui é saber a natureza da utilização dos bens públicos pelo particular. Exemplo: banca de revista na calçada (bem público de uso comum). 
Os bens públicos de domínio público são usados por utilização pública pelo Estado; se o particular vai fazer um uso privado, que não pode colidir com a utilização pública, será regido pelas regras de direito público. Os instrumentos que viabilizam a sua utilização serão de direito público: CONCESSÃO, AUTORIZAÇÃO e PERMISSÃO.
ATENÇÃO: esses institutos não se confundem com os destinados à prestação de serviço público. Aqui, trata-se de uso de bens públicos.
CONCESSÃO DE USO
É contrato administrativo através do qual a Administração Pública confere a pessoa determinada o uso privativo de determinado bem público, de acordo com a sua destinação, que deve ser precedido de licitação. Exemplo: utilização dos quiosques na praia. Mas, na prática, o mais comum é a permissão, porque se trata de ato discricionário e precário. Quem escolhe é o administrador, não há uma enumeração própria.
Características: contrato administrativo, sinalagmático, oneroso ou gratuito, comutativo e realizado intuitu personae.
A lei define qual o instrumento de utilização (todo contrato administrativo tem prazo determinado).
A concessão de uso é permanente. Exemplo: restaurante em uma repartição pública.
O aspecto de maior ou menor interesse público, relevante para a distinção entre autorização e permissão, não tem relevância no que diz respeito à concessão de uso (Hely Lopes discorda de tal entendimento). Ex: concessão de uso para utilização de um prédio público como hotel, concessão de uso para distribuição de terras públicas rurais.
CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA:
Como os imóveis públicos não são suscetíveis de serem adquiridos pelo usucapião, sentiu-se a necessidade de adotar para eles instrumento que guardasse similitude com o usucapião especial de imóvel urbano particular previsto na CF/88, art. 183, para atender às necessidades reclamadas pela política urbana. Foi criada, assim, a concessão de uso especial para fins de moradia, disciplinada pela MP nº 2.220, de 04.09.01.
Seus pressupostos são semelhantes aos do usucapião especial: a) posse por 5 anos até 30 de junho de 2001, b) posse ininterrupta e pacífica (sem oposição), c) imóvel urbano público de até 250 metros quadrados, d) uso do terreno para fins de moradia do possuidor ou de sua família, e) não ter o possuidor a propriedade de outro imóvel urbano ou rural (art. 1º).
Tem natureza de DIREITO REAL, sendo transferível por ato inter vivos ou causa mortis. 
No caso de morte do possuidor, o herdeiro legítimo continua na posse do antecessor, desde que já resida no imóvel ao tempo da abertura da sucessão. Sem esta condição, não haverá continuidade e, em conseqüência, inviável será a outorga da concessão. 
 
A formalização pode efetivar-se por termo administrativo (quando o pedido for atendido na via administrativa, sem a formação de litígio), ou por sentença judicial (quando, denegado o pedido ou omissa a Administração, o ocupante formular o pedido em juízo). Além disso, o título da concessão, seja ele formalizado por ato administrativo, seja por sentença judicial, necessita de registro no cartório de registro de imóveis. Se se tratar de imóvel da União ou dos Estados, o interessado deve instruir o pedido de concessão com certidão do órgão municipal competente, na qual seja certificado que o imóvel se localiza em área urbana e que se destina realmente à moradia do ocupante ou de sua família. Distingue-se da concessão de direito real de uso prevista no Dec. 271/67 por ser para finalidade exclusiva de moradia.
A natureza jurídica da concessão de uso especial para fins de moradia é a de ATO ADMINISTRATIVO VINCULADO (e não de contrato administrativo, porque não há qualquer tipo de negócio bilateral que denuncie a celebração do contrato, além de a lei não ter outorgado qualquer margem de liberdade para a Administração decidir ou não sobre a outorga ou não da concessão), de outorga de direito real de uso de imóvel público para fins de moradia do possuidor ou de sua família.
Segundo José dos Santos Carvalho, preenchidos os requisitos pelo ocupante, tem ele direito subjetivo à concessão. Se a administração opuser algum interesse público incontornável para a outorga, terá que indenizar integralmente o concessionário, como o faria se o caso fosse de desapropriação.
Para evitar o desvio de finalidade, o direito à concessão só será reconhecido apenas uma vez ao mesmo possuidor. Pode extinguir-se de duas maneiras: a) desvio de finalidade, b) o concessionário adquirir a propriedade de outro imóvel urbano ou rural. Se extinta, também se deve averbar no cartório, por meio de declaração da Administração.
Há ainda a figura da concessão coletiva de uso especial para fins de moradia (art. 2º da MP 2220), semelhante também ao usucapião especial coletivo de imóvel urbano particular. Outorgada para moradia em imóvel público urbano com área superior a 250 metros quadrados, ocupado por população de baixa renda para sua moradia, por 5 anos, ininterruptamente, e sem oposição, não sendo possível identificar os terrenos ocupados por possuidor, não podendo este ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. A cada concessionário é atribuída fração ideal do terreno. 
Concessão X usucapião: 
1- objeto; 2- previsão de termo final para aquisição do direito.
Nas palavras de Carvalho Filho: A distinção entre a concessão de uso especial para fins de moradia e o usucapião especial urbano, quanto aos pressupostos, reside em dois pontos: 1º) nesta o objeto é imóvel privado, ao passo que naquela é imóvel público (federal, estadual, distrital ou municipal, desde que regular a ocupação, como reza o art. 3º); 2º) na concessão só se conferiu o direito ao possuidor se os pressupostos foram atendidos até 30 de junho de 2001, ao passo que no usucapião não foi previsto termo final para a aquisição do direito.
Concessão X concessão de direito real de moradia: finalidade exclusiva de moradia, presente nesta última.
PERMISSÃO DE USO
Permissão de uso - ato administrativo, UNILATERAL, DISCRICIONÁRIO, PRECÁRIO, gratuito ou oneroso, através do qual a Administração faculta ao particular a utilização individual de determinado bem público para fins de interesse público. Pode ser com ou sem condições, gratuito ou remunerado, por tempo certo ou indeterminado, conforme estabelecido no termo próprio, mas sempre modificável e revogável unilateralmente pela Administração, quando o interesse público exigir, dada sua natureza precária e o poder discricionário do permitente para consentir ou fazer cessar o uso especial do bem público.
ATENÇÃO: permissão DE SERVIÇO é um CONTRATO e não um ato administrativo como o é a permissão de uso de bem público.
Em virtude da natureza jurídica do bem que está sendo utilizado, será ato discricionário, ou seja, a administração decidirá se permite ou não a sua utilização pelo particular. 
É ATO PRECÁRIO, ou seja, a administração tem o poder de revogá-lo a qualquer tempo, por razão de conveniência ou oportunidade; não há prazo certo. Assim, não cabe indenização pela revogação, exemplo: osquiosques da Praia de Itapuã. Pode ou não ser precedida por licitação. Há autores que dizem que deve ser precedida de licitação também, assim como a concessão. Como ato unilateral, normalmente, não se licita, exemplo: mesinha na calçada só interessa ao dono do bar que esteja em frente à calçada. Mas se houver interesse de mais pessoas, é possível a licitação. Exemplo: banca de revista em local concorrido.
A permissão está relacionada a uma situação mais permanente que a autorização.
Sua concessão é feita em interesse público e privado em patamar de igualdade. Na permissão de uso, os interesses são nivelados: a Administração tem algum interesse público na exploração do bem pelo particular, e este tem intuito lucrativo na utilização privativa do bem. Por isso que, como há interesse público na exploração do bem, contrariamente do que ocorre na autorização de uso, há por parte do permissionário o dever de utilização do bem para o fim predeterminado, sob pena de não o fazendo, ser-lhe retirada a permissão.
Se não houver interesse para a comunidade, mas apenas para o particular, o uso especial não deve ser permitido nem concedido, mas, simplesmente autorizado, em caráter precaríssimo. Vê-se, portanto, que a permissão de uso é um meio-termo entre a informal autorização e a contratual concessão, pois é menos precária que aquela, sem atingir a estabilidade desta. A diferença é de grau na atribuição do uso especial e na vinculação do usuário com a Administração. É praticado intuitu personae, razão pela qual sua transferência a terceiros só se legitima se houver consentimento expresso da entidade permitente.
Exemplos: lojinhas em mercado de artesanato, bancas de revistas, mesinha na calçada de barzinho. Normalmente, são institutos de permissão.
A permissão de uso especial de bem público, como ato unilateral, é normalmente deferida independentemente de lei autorizativa, mas depende de licitação, podendo, ainda, a legislação da entidade competente impor requisitos e condições para sua formalização e revogação.
Ao outorgar permissão qualificada ou condicionada de uso (prazo), a Administração constitui uma autolimitação ao seu poder de revogá-la, o que somente será possível quando a utilização se tornar incompatível com a afetação do bem ou se revelar contrária ao interesse coletivo, sujeitando, em qualquer hipótese, a Fazenda Pública a indenizar o permissionário pelos prejuízos sofridos. 
Segundo Maria Sylvia, a permissão qualificada é dotada da mesma estabilidade de que se reveste a concessão de uso, pois no ato de outorga não haverá traço de precariedade, havendo direito subjetivo à indenização em caso de revogação antes do prazo determinado. A diferença entre os dois institutos estará apenas na formação do ato, pois a permissão se constitui por ato unilateral e, a concessão, por contrato precedido de autorização legislativa e licitação.
AUTORIZAÇÃO DE USO
Autorização de uso - ato unilateral, discricionário e PRECÁRIO pelo qual a Administração consente na prática de determinada atividade individual incidente, com exclusividade, sobre um bem público. TRF1: é ato administrativo e não ato negocial.
Sem forma especial, bastando que se substancie em ato escrito, é REVOGÁVEL sumariamente a qualquer tempo e sem ônus para a Administração. Como é discricionário e precário, ficam resguardados os interesses administrativos e, sendo assim, o consentimento dado pela autorização de uso não depende de lei nem exige licitação prévia.
A autorização de uso atende só remotamente o interesse público, sendo concedida, primordialmente, no interesse do particular.
Como regra, a autorização não deve ser concedida com prazo certo. Contudo, fixado prazo para uso, a Administração terá instituído autolimitação e deverá obedecer a fixação, razão por que o desfazimento antes do prazo atribui dever indenizatório à pessoa revogadora pelos prejuízos causados, os quais, no entanto, devem ser comprovados. 
 - Pode ser gratuita ou onerosa.
- Objetivo: interesse privado do utente; só remotamente atende a interesse público.
- Conseqüências da natureza da autorização de uso: 1. maior precariedade que a permissão; 2. outorgada em caráter transitório. 3. menores poderes e garantias ao utente. 4. dispensa licitação e autorização legislativa. 5. não cria dever de utilização, mas simples faculdade.
- Modalidades: simples e qualificada
É feita no interesse privado, em eventos ocasionais e temporários.
O seu grau de precariedade é muito maior do que a precariedade da permissão. Na autorização, há a permissão de utilização do bem público para eventos.
Autorização de uso de natureza urbanística – criada pela MP nº 2.220, de 04.09.01, lastreada nos arts. 183 e 184 da CF, que tratam da política urbana. Dispõe o art. 9º desta MP que é facultado ao Poder Público competente dar, de forma gratuita, autorização de uso àquele que, até 30 de junho de 2001, possui como seu, por 5 anos, de forma pacífica e ininterrupta, imóvel público de até 250 metros quadrados, em área urbana, utilizando-a para FINS COMERCIAIS. Para completar o prazo legal, a lei admite que o possuidor acrescente à sua posse a do antecessor, desde que sejam contínuas. Esse tipo de ato tem regime jurídico próprio, como a da autorização de uso, mas difere desta porque comporta uma face discricionária e outra vinculada (a discricionariedade é mais estrita porque, além dos fatores de valoração, é preciso que ainda se verifique a existência de pressupostos legais). Há casos em que a autorização pode ser dada para local diverso daquele ocupado pelo interessado: na hipótese de que ocupe local que seja perigoso à saúde ou área destinada à preservação ambiental.
Neste tipo específico de autorização, INEXISTE PRECARIEDADE: uma vez deferida a autorização, o uso se tornará definitivo.
Autorização de uso comum (ordinária) X autorização de uso de natureza urbanística:
Fatores diferenciais quanto aos aspectos temporal, territorial e finalístico, segundo CARVALHO FILHO:
a) Temporal: a autorização comum não tem qualquer limitação de tempo para ser concedida; a autorização urbanística só pode ser conferida para aqueles que completaram os requisitos legais até 30 de junho de 2001;
b) Territorial: na autorização comum, não há restrição quanto à dimensão do território; na autorização urbanística, o uso só é autorizado para imóveis urbanos de até duzentos e cinquenta metros quadrados;
c) Finalístico: a autorização comum admite qualquer tipo de uso pelo interessado, ao passo que a autorização urbanística só se legitima se o ocupante utilizar o imóvel para fins comerciais. 
QUADRO DE RESUMO
	AUTORIZAÇÃO
	PERMISSÃO
	CONCESSÃO
	Interesse do particular
	Interesse do particular e do poder público em igualdade
	Interesse público
	Eventos ocasionais e temporários
	Situação mais permanente
	Situação permanente
	Sem licitação
	Licitação obrigatória
	Ato administrativo Unilateral Precário Discricionário
	Contrato administrativo
CESSÃO DE USO (LEI 9.636/98):
Cessão de uso: cessão de uso é a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro, a fim de que o cessionário o utilize segundo a sua normal destinação, por tempo certo ou indeterminado. É ato de colaboração entre repartições públicas, em que aquela que tem bem desnecessário aos seus serviços cede o uso a outra que dele está precisando, nas condições estabelecidas no respectivo termo de cessão.
A cessão de uso entre órgãos da mesma entidade não exige autorização legislativa e se faz por simples termo e anotação cadastral, pois é ato ordinário de administração através do qual o Executivo distribui seus bens entre suas repartições para melhor atendimento dos serviços. Quando, porém, a cessão é para outra entidade, necessária se torna a autorização legislativa para essa transferência de posse, nas condições ajustadas entre as Administrações interessadas. José dos Santos Carvalho e Maria Sylvia entendem que ainda assim não se faz necessária a autorização legislativa.
Em qualquer hipótese, a cessão de usoé ato de administração interna que não opera a transferência da propriedade e, por isso, dispensa registros externos. 
A formalização da cessão de uso se efetiva por instrumento firmado entre os representantes das pessoas cedente e cessionária, normalmente denominado de termo de cessão ou termo de cessão de uso.
Alguns autores limitam a cessão de uso às entidades públicas, como é o caso de Hely Lopes Meirelles e Lúcia Valle Figueiredo. Outros a admitem para entidades da Administração indireta (Diógenes Gasparini). E alguns outros entendem que o uso pode ser cedido também, em certos casos especiais, a pessoas privadas, desde que desempenhem atividade não lucrativa que vise a beneficiar, geral ou parcialmente, a coletividade (José dos Santos Carvalho Filho e Maria Sylvia), como, por exemplo, a cessão de uso de sala, em prédio público, que o Estado faz a uma associação de servidores.
Prazo: O prazo pode ser determinado ou indeterminado, e o cedente pode a qualquer momento reaver a posse do bem cedido.
Fundamento: colaboração entre entidades públicas e privadas com objetivo de atender a interesses coletivos. 
Art. 18. A critério do Poder Executivo poderão ser cedidos, gratuitamente ou em condições especiais, sob qualquer dos regimes previstos no Decreto-Lei nº 9.760, de 1946, imóveis da União a:
I - Estados, Municípios e entidades, sem fins lucrativos, de caráter educacional, cultural ou de assistência social;
§ 3º A cessão será autorizada em ato do Presidente da República e se formalizará mediante termo ou contrato, do qual constarão expressamente as condições estabelecidas, entre as quais a finalidade da sua realização e o prazo para seu cumprimento, e tornar-se-á nula, independentemente de ato especial, se ao imóvel, no todo ou em parte, vier a ser dada aplicação diversa da prevista no ato autorizativo e conseqüente termo ou contrato.
UTILIZAÇÃO DE INSTITUTOS DE DIREITO PRIVADO
O emprego de institutos de direito privado para transferência de uso privativo somente é possível no caso de BENS DOMINICAIS, pois são os únicos que estão dentro do comércio jurídico de direito privado.
Assim, em relação aos bens públicos de domínio privado, como são bens disponíveis e desafetados, a cessão dos mesmos a particulares pode ser feita tanto por meio de instrumentos públicos (concessão, permissão e autorização), quanto por instrumentos de direito privado (locação, arrendamento, enfiteuse e as concessões de direito real de uso). 
- Enfiteuse ou aforamento – instituto civil que permite ao proprietário atribuir a outrem o DOMÍNIO ÚTIL de imóvel, pagando a pessoa que o adquire (enfiteuta) ao senhorio direto uma pensão ou foro, anual, certo e invariável. Consiste, pois, na transferência do domínio útil de imóvel público, a posse, uso e gozo perpétuos da pessoa que irá utilizá-lo daí por diante. Tecnicamente, é o direito real de posse, uso e gozo pleno da coisa alheia que o titular (foreiro ou enfiteuta) pode alienar e transmitir hereditariamente, porém, com a obrigação de pagar perpetuamente uma pensão anual (foro) ao senhorio direto. 
Esse domínio útil pode ser transferido a terceiro, desde que o senhorio direto (Poder Público) renuncie ao seu direito de preferência para reaver o imóvel. Caso haja a renúncia, poderá ser operada a transferência, mas o enfiteuta terá que pagar ao senhorio o laudêmio, calculado sobre o preço da alienação. 
O STF, a propósito da Lei nº 7.450/85, que fixara o foro em 0,6% do valor do respectivo domínio pleno (alterando o art. 101 do Decreto-lei nº 9760/46), decidiu que, apesar de assegurado o direito dos anteriores enfiteutas, por ser o contrato tido como ato jurídico perfeito, é admissível a correção monetária de seu valor a fim de evitar enriquecimento sem causa do enfiteuta (RE 185.578-RJ, 1ª Turma, Min. Ilmar Galvão, 06/10/98). Nesse sentido:
ADMINISTRATIVO. TERRENO DE MARINHA. TAXA DE OCUPAÇÃO. REAJUSTAMENTO ANUAL. A norma legal que prevê a simples atualização anual do foro é aplicável a todos os contratos de aforamento, inclusive aqueles anteriormente firmados. (STJ, 2ª Turma, RESP 30688-PE. Rel. Min. Hélio Mosimann. Julg. 15.03.95. Public.03.04.95)
O STJ decidiu que a transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de imóvel aforado da União constitui operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio (REsp 1.296.044-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/8/2013.)
O instituto está em desuso, por não mais existirem as primitivas razões que justificaram os infindáveis aforamentos que até hoje emperram a Administração local com obsoletas limitações ao domínio pleno dos bens municipais. O Novo CC não mais trata do instituto.
Ocorre, entretanto, conforme salienta CARVALHO FILHO, que há várias áreas federais cujo uso é conferido através de enfiteuse, como é o caso dos terrenos de marinha e seus acrescidos, o que é previsto, inclusive, no art. 49, § 3º, do ADCT da CF. A enfiteuse de terrenos de marinha, aliás, foi a única forma ressalvada pelo novo Código Civil (art. 2.038, § 2º), com a previsão de que seria regulada por lei especial.
Convém citar o enunciado da Súmula n. 496 do STJ, segundo a qual: “Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de marinha não são oponíveis à União.”
- Locação – contrato de direito privado pelo qual o proprietário transfere a posse do bem ao locatário, que tem a obrigação de pagar quantia certa – o aluguel – por período determinado de uso do bem.
Nos termos do Decreto-lei n.º 9.760/46, é possível a locação de bens dominicais da União, que se fará mediante contrato, não ficando sujeito a disposições de outras leis concernentes à locação.
É possível a rescisão do contrato caso o imóvel torne-se necessário ao serviço público. Isto se fará por ato administrativo da União (auto-executório), sem que esta fique obrigada a pagar ao locatário indenização, salvo benfeitorias necessárias. Além disso, se o locatário sublocar o imóvel ou deixar de pagar os aluguéis nos prazos estipulados, dar-se-á rescisão de pleno direito, imitindo-se a União sumariamente na posse da coisa locada.
José dos Santos Carvalho, no entanto, ressalta que há estudiosos que não aceitam o regime de locação civil para bens públicos. 
 Somente as locações de imóveis de propriedade da União, Estados, Municípios, autarquias e fundações públicas não se submetem às normas da Lei de Locações. Empresa pública e sociedade de economia mista continua sendo regida pela Lei n. 8.245/91 (REsp 1.224.007-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/4/2014.)
- Comodato – transferência do USO GRATUITO de bem por prazo determinado ou indeterminado. Diferente da locação, não é onerosa para o comodatário. 
- Arrendamento – previsto do Decreto-lei nº. 9.760/46 como modalidade de locação, quando sua utilização objetiva a exploração de frutos ou a prestação de serviços. Seu prazo máximo é de 10 anos, sendo assegurada a preferência aos Estados e Municípios.
- Direito de superfície: é aquele pelo qual o proprietário concede a outrem o direito de utilizar, no mínimo, a superfície de seu imóvel na forma pactuada no respectivo contrato. Embora seja contrato de direito privado, nada impede que ente público, desde que haja lei autorizadora, conceda ao administrado o direito de utilizar a superfície do imóvel público. Registre-se, aliás, que o art. 1.377, do Código Civil, admite expressamente que o referido direito seja constituído por pessoa jurídica de direito público interno, desde que haja motivação, a fim de se aferir a legalidade do negócio jurídico.
CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO (D.L. 271/67):
É o contrato pelo qual a Administração transfere o uso remunerado ou gratuito de terreno público ou sobre o espaço aéreo que o recobre a particular, como DIREITO REAL RESOLÚVEL, para que dele se utilize em fins específicos de urbanização, industrialização, edificação, cultivo ou qualquer outra exploração de interesse social.
Incide sobre terrenos públicos em que não existam benfeitorias ou sobre o espaço aéreo que se ergue acima da superfície (apesarde autores não aceitarem essa possibilidade, o art. 8º do Decreto-lei 271/67 admite expressamente a ocupação do espaço aéreo sobre a superfície de terrenos públicos ou particulares, o que é lembrado por Celso Antônio Bandeira de Mello).
A concessão de uso, como direito real, é transferível por ato inter vivos ou por sucessão legítima ou testamentária, a título gratuito ou remunerado, como os demais direitos reais sobre as coisas alheias, com a só diferença de que o imóvel reverterá à Administração concedente se o concessionário (ou seus sucessores) não lhe der o uso prometido ou o desviar de sua finalidade contratual. Desse modo, o Poder Público garante-se quanto à fiel execução do contrato, assegurando o uso a que o terreno é destinado e evitando prejudiciais especulações imobiliárias dos que adquirem imóveis públicos para aguardar valorização vegetativa, em detrimento da coletividade.
Desde a inscrição no livro próprio do Registro Imobiliário competente, o concessionário fruirá plenamente o terreno para os fins estabelecidos no contrato e responderá por todos os encargos civis, administrativos e tributários que venham a incidir sobre o imóvel e suas rendas.
A concessão substitui vantajosamente a maioria das alienações de terrenos públicos, razão pela qual deverá ser sempre preferida, mormente nos casos de venda ou doação. A concessão de direito real de uso, tal como ocorre com a concessão comum, depende de autorização legal e de concorrência prévia, admitindo-se a dispensa desta quando o beneficiário for outro órgão ou entidade da Administração Pública. Apesar de erigida em direito real, não se confunde com a enfiteuse ou aforamento, que é instituição civil bem diversa e menos adequada ao uso especial de bem público por particulares.
Reversão do uso: caso não seja dada a finalidade a qual se destina o bem.
Diferenças da concessão de uso: 1- natureza da relação jurídica; 2- finalidade EXPRESSA na lei autorizativa. 
Exemplo: concessão de uso de área municipal para incentivar edificação ou para implantar região industrial. 
Utilizado para moradia de população de baixa renda.
Por meio desse instrumento, alguém dá direito de uso a outrem de uma área. Esse direito de uso, de regra, tem natureza perpétua. A utilização que o particular faz é uma utilização de interesse público, sendo feita por meio de contrato, logo, deve preencher os requisitos: LICITAÇÃO e USO DE INTERESSE COLETIVO, exemplo: industrialização, parcelamento, cultivo. Esses contratos de concessão têm natureza RESOLÚVEL, caso não preencham o requisito de uso para o interesse coletivo. O contrato pode ser oneroso ou gratuito, dependendo das condições do contrato.
*****MONOPÓLIO****
MONOPÓLIO ESTATAL
	-o Estado desenvolve a atividade econômico sozinho, absorvendo toda a sua prática. é o MONOPÓLIO ESTATAL (INTERVENÇÃO POR ABSORÇÃO)
	HIPÓTESES DE MONOPÓLIO DE ATIVIDADE ECONÔMICA PELO ESTADO. [art. 177, CF]
Art. 177. Constituem monopólio da União:
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem;
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
	 CRIAÇÃO DE NOVAS HIPÓTESES DE MONOPÓLIO
 	-até a CF 69 era possível que lei instituísse hipóteses de monopólio.
 	-CF/88:-criação por lei: IMPOSSIBILIDADE.
 		-criação por EC: DIVERGÊNCIA.
			a)possibilidade: inexiste disposição expressa proibindo tal possibilidade.
			b)impossibilidade: eventual nova hipótese atentaria contra o princípio da livre concorrência.
REGIME JURÍDICO DOS RECURSOS MINERAIS
· No regime constitucional brasileiro de aproveitamento dos recursos minerais, o Estado detém o domínio e o controle sobre os recursos minerais e consente sua exploração ao particular. 
· O subsolo constitui unidade distinta do solo para FINS DE aproveitamento mineral.
· Os recursos minerais, por princípio constitucional, são propriedade distinta do solo e pertencem à União. Daí derivam-se todas as modalidades legais, regimes de aproveitamento, os procedimentos necessários para tal, e a existência do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), encarregado de normatizar e fiscalizar esses procedimentos. 
· Para fundamentar tais argumentos a Constituição Federal de 1988 (CF/88) prevê no art. 20, IX, que são bens da União: “os recursos minerais, inclusive os do subsolo”. Por força do art. 20, § 1º é garantida à União, Estados e Municípios PARTICIPAÇÃO no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou COMPENSAÇÃO FINANCEIRA por essa exploração.
· Quanto à competência para legislar, o art. 22, XII, prevê que compete privativamente a União legislar sobre jazidas, minas, recursos minerais e metalurgia.
· A CF/88 contemplou o mandamento legal previsto no Código de Mineração, diferenciando os termos mais utilizados: 
· JAZIDA é toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflorando à superfície ou existente no interior da terra, com valor econômico (art. 4º); 
· MINA é a jazida em lavra, mesmo que esteja suspensa; 
· a PESQUISA MINERAL (art. 14) consiste na execução de todos os trabalhos necessários à definição, avaliação, determinação da jazida e exigibilidade do seu aproveitamento econômico;
· LAVRA (art. 36) são operações coordenadas que visam o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração até o beneficiamento das substâncias minerais. 
· RECURSO MINERAL é uma concentração ou depósito na crosta da Terra, de material natural, sólido, em quantidade e teor e/ou qualidade tais que, uma vez pesquisado, exibe parâmetros mostrando, de modo razoável, que seu aproveitamento pode ser factível na atualidade ou no futuro.
· Subsolo é a parte inferior do solo; é constituído por camadas geológicas mineralizadas, superficiais ou não, contendo minerais com utilidade econômica.
· MINÉRIO é qualquer substância metalífera
· Referente à propriedade dos recursos minerais, o art. 176 da CF/88 institui que: As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
· O mandamento constitucional deixa claro que os recursos minerais não pertencem aos proprietários do solo, mas à União. O proprietário do solo tem garantido constitucionalmente o direito de participação nos resultados da lavra, tida como uma INDENIZAÇÃO, um ressarcimento, que deverá ser pago tanto na fase de pesquisa, quanto para a lavra, podendo ser feito através de um acordo entre o pesquisador ou minerador com o superficiário, ou, no Poder Judiciário, ocasião em que o DNPM fará uma avaliação mediante procedimento simplificado, acompanhado pelas partes e apurará os valores a serem pagos pelo titular do direito minerário.
· As substâncias minerais só podem ser utilizadas legalmente através dos Regimes de aproveitamento dos Recursos minerais, de maneira que o parágrafo primeiro do art. 176 descreve os requisitos constitucionais para atividade, nos seguintes termos: § 1º A pesquisa e a lavra de recursos mineraise o aproveitamento dos potenciais (...) somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
· Os Regimes de Aproveitamento de Autorização de Pesquisa e Concessão de Lavra serão outorgados a brasileiros ou empresa constituída sob a legislação brasileira, neste caso, desde que a sede e administração sejam no Brasil, na forma da lei, que disciplinará as condições específicas quando estas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
· Sendo os recursos minerais pertencentes à União, constituem MONOPÓLIO da União (art. 177, V, CF/88) a PESQUISA, LAVRA, ENRIQUECIMENTO, REPROCESSAMENTO, INDUSTRIALIZAÇÃO e o COMÉRCIO de minérios. Em teoria econômica, sabe-se que monopólio é a exploração de certo setor de atividade por alguém em caráter singular.
· Prescreve o art. 225, § 2º da Carta Política, que os recursos minerais têm natureza jurídica de bens ambientais, essenciais a qualidade de vida dos brasileiros e estrangeiros residentes no País.
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.
§ 3º - A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente.
§ 4º - Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do potencial de energia renovável de capacidade reduzida.
ESPÉCIES DE BENS PÚBLICOS
São divididos em dois grandes blocos:
- BENS DE DOMÍNIO HÍDRICO
- BENS DE DOMÍNIO TERRESTRE
BENS DE DOMÍNIO HÍDRICO:
A primeira disciplina foi do Código das Águas (D.L. 24.643/34 – adotado por CELSO ANTONIO e MARIA SYLVIA). 
Quando foi elaborado, a idéia era de que as águas não acabariam, por isso, as águas foram divididas em:
1) ÁGUAS PARTICULARES – Obs. Citadas apenas para fins de classificação.
2) ÁGUAS PÚBLICAS – que, por sua vez, foram divididas em:
a) águas correntes: mar territorial, rios e riachos, 
b) águas dormentes: lagos, lagoas e açudes,
c) potenciais de energia hidráulica (estabelecidos pela CF/88)
RIOS PÚBLICOS – são os situados dentro de terrenos públicos, bem como os navegáveis e os flutuáveis. Navegáveis são os rios que comportam navegabilidade de qualquer espécie de embarcação. Flutuáveis são os rios que comportam o transporte de hastes de lenha. Os braços de rios que saem desses rios e os que influenciam na construção de um rio navegável, também são públicos.
LAGOS E LAGOAS PÚBLICAS – mesma definição dada aos rios públicos.
MAR TERRITORIAL – oceano a partir da baixa-mar, costa, 12 milhas.
As águas públicas podem ser: 
1) FEDERAIS – se situam em território da União; que atravessam mais de um Estado; que servem de limite para mais de um país; que nascem em território estrangeiro e se estendem ao Brasil e vice-versa; mar territorial e potenciais de energia elétrica.
2) ESTADUAIS – todas aquelas que não forem do domínio da União.
Não existem águas municipais (artigo 20, III e artigo 26, I, da CF/88).
Existe uma corrente, mais moderna, que diz que essa titularidade de águas públicas e privadas não foi acolhida pela CF/88; por essa corrente todas as águas são PÚBLICAS, estaduais ou federais. A Justiça Federal já tem decisão nesse sentido, entendendo a água como bem de domínio público. A Lei 9.493/97 regulamenta a utilização das águas, tratando-as como bens de domínio público e de fornecimento finito. Há doutrinadores de peso defendendo esse entendimento de que NÃO há mais águas privadas.
BENS DE DOMÍNIO TERRESTRE:
São as terras devolutas, os terrenos de marinha, os acrescidos de marinha, os terrenos marginais, ribeirinhos ou reservados, e as ilhas.
TERRAS DEVOLUTAS – são conceituadas POR EXCLUSÃO, isto é, seu conceito é RESIDUAL. São terras vagas, abandonadas, não utilizadas quer pelo Poder Público quer pelos particulares. Seu conceito é residual justamente porque não se encontram destinadas a qualquer uso público, nem incorporadas ao domínio privado.
DL 9.7690/46, Art. 5º São devolutas, na faixa da fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito Federal, as terras que, não sendo próprias nem aplicadas a algum uso público federal, estadual ou municipal, não se incorporaram ao domínio privado:
a) por força da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, Decreto nº 1.318, de 30 de janeiro de 1854, e outras leis e decretos gerais, federais e estaduais;
b) em virtude de alienação, concessão ou reconhecimento por parte da União ou dos Estados;
c) em virtude de lei ou concessão emanada de governo estrangeiro e ratificada ou reconhecida, expressa ou implicitamente, pelo Brasil, em tratado ou convenção de limites;
d) em virtude de sentença judicial com força de coisa julgada;
e) por se acharem em posse contínua e incontestada com justo título e boa-fé, por termo superior a 20 (vinte) anos;
f) por se acharem em posse pacifica e ininterrupta, por 30 (trinta) anos, independentemente de justo título de boa-fé;
g) por força de sentença declaratória nos termos do Art. 148 da Constituição Federal, de 10 de novembro de 1937.
Parágrafo único. A posse a que a União condiciona a sua liberalidade não pode constituir latifúndio e depende do efetivo aproveitamento e morada do possuidor ou do seu preposto, integralmente satisfeitas por estes, no caso de posse de terras situadas na faixa da fronteira, as condições especiais impostas na lei.
As terras, no Brasil, foram divididas em 03 etapas: SESMARIAS, OCUPAÇÕES e a PRIMEIRA REGULAMENTAÇÃO DA LEI 601/1850. 
As SESMARIAS estão associadas à idéia de capitanias hereditárias, no Brasil Colônia; aqui surgiu a presunção de que todas as terras pertenciam ao Poder Público, pois todas pertenciam a Portugal (que era a Coroa). Sesmaria era um pedaço de terra que o donatário da capitania outorgava ao interessado, que tivesse interesse em ocupá-la, demarcá-la, fazer dela sua residência, cultivá-la. A outorga era feita por meio de uma CARTA DE SESMARIA (eram os primórdios da enfiteuse, porque o sesmeiro não tinha o domínio pleno, que permanecia à Coroa Portuguesa). Caso os deveres do sesmeiro não fossem cumpridos, a sesmaria caía em comisso, ou seja, voltava para a coroa.
As OCUPAÇÕES substituíram as sesmarias e consistiam na ocupação desordenada pelos posseiros, sem registro. Em 1850, foi editada a Lei 601, que regulamentou a questão das terras: foram legitimadas as ocupações, foram revogadas as sesmarias, proibidas novas ocupações e quem assim agisse seria considerado delinqüente; foi estabelecido, ainda, o primeiro conceito de terra devoluta. Atualmente, o conceito de terras devolutas é: são aquelas terras que não são utilizadas pelo poder público e não estão no domínio privado.
PROCEDIMENTO DISCRIMINATÓRIO foi criado pela Lei 6.383/76, que buscou uma forma de separar as terras públicas das privadas, é a esse fim que se destina o procedimento discriminatório; que é composto por 02 fases:
1) Fase Administrativa – no ES, oórgão responsável é o IDAF; nessa fase são feitas as publicações de editais para reclamação da terra, se ninguém comparece, passa a ser o Estado; se comparece e há título passa a ser titular.
2) Fase Judicial – ocorre por meio da AÇÃO DISCRIMINATÓRIA de rito especial, sendo a titularidade de seu ajuizamento do poder público.
Se o Estado não discrimina as terras, elas poderão ser usucapidas e o ajuizamento da usucapião impede a instauração do procedimento discriminatório.
As terras devolutas pertencem ou a União ou aos Estados, pela CF/88, artigo 20. São da União as terras devolutas indispensáveis à:
1) Defesa das fronteiras (faixas de fronteira são as áreas consistentes na faixa de terra para dentro do território nacional na distância de 150 km da fronteira com outros países) – as terras devolutas que estejam dentro da faixa de fronteira (que é bem particular com limitações) serão de titularidade da União e não dos Estados;
2) Defesa das fortificações e construções militares;
3) Defesa das vias federais de comunicação;
4) Preservação ambiental, definidas em lei.
INFO 619 STF
Em conclusão, o Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade requerida pelo Procurador-Geral da República para dar ao inciso X do art. 7º da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (Art.7º... X. São bens do Estado ... as terras dos extintos aldeamentos indígenas) interpretação conforme a Constituição, no sentido de que o dispositivo impugnado refere-se somente aos aldeamentos indígenas extintos antes da Constituição de 1891 — v. Informativos 274, 421,470 e 479. Na linha da jurisprudência da Corte, entendeu-se que tais terras teriam sido excluídas do domínio da União e as demais a ela pertenceriam, de modo que o Estado-membro não poderia legislar sobre a matéria. Vencido o Min. Joaquim Barbosa que julgava o pleito procedente. ADI 255/RS, rel. orig. Min. Ilmar Galvão, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski. 16.3.2011. (ADI-255)
SÚMULA Nº 477 STF: AS CONCESSÕES DE TERRAS DEVOLUTAS SITUADAS NA FAIXA DE FRONTEIRA, FEITAS PELOS ESTADOS, AUTORIZAM, APENAS, O USO, PERMANECENDO O DOMÍNIO COM A UNIÃO, AINDA QUE SE MANTENHA INERTE OU TOLERANTE, EM RELAÇÃO AOS POSSUIDORES.
TERRENOS DE MARINHA (DL 9760/46) – são áreas federais pertencentes à União, que estão sob o cuidado da SPU (Secretaria do Patrimônio da União). São as áreas que alcançam as áreas para dentro do continente da preamar (maré alta) de 1831 por 33 metros (tiro de canhão). Essa proteção era em razão da segurança e extração de sal. São bens dominicais. Para as áreas que não existiam nas cartas de marés, foi usada a sistemática da linha de JUNDU (vegetação rasteira na areia da praia), o que foi aceito pelo STF. Estão nos terrenos de marinha as áreas insulares e as águas doces que sofrem as influências das marés, mesmo os manguezais que estejam aterrados. A influência é a modificação do volume das águas pelo menos em 05 cm.
DL 9.769/46, Art. 2º: São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar médio de 1831:
a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés;
b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se façam sentir a influência das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos do nível das águas, que ocorra em qualquer época do ano.
ACRESCIDOS DE MARINHA – são as áreas natural ou artificialmente acrescidas aos terrenos de marinha. São bens públicos federais, pertencem à União.
DL 9.7690/46, Art. 3º São terrenos acrescidos de marinha os que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha.
OCUPAÇÃO DAS ÁREAS DE MARINHA – é a posse precária sem a existência de contrato com a União, que então cataloga o ocupante e cobra uma TAXA DE OCUPAÇÃO.
Súmula 496 STJ: "Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de marinha não são oponíveis à União."
Trata-se de recurso especial sob o regime do art. 543-C do CPC c/c Res. n. 8/2008-STJ no qual a Seção entendeu que, na forma em que dispõe o art. 1º do Dec. n. 2.398/1987, compete ao Serviço do Patrimônio da União a atualização anual da taxa de ocupação dos terrenos de marinha. A norma contida no art. 28 da Lei n. 9.784/1999 cede lugar à aplicação do referido decreto pelos seguintes motivos: o Dec. n. 2.398/1987 é diploma normativo específico, incidindo, no caso, os arts. 2º, § 2º, da LICC e 69 da Lei n. 9.784/1999; não se trata de imposição de deveres ou ônus ao administrado, mas de atualização anual da taxa de ocupação dos terrenos de marinha, à luz do art. 28 da Lei n. 9.784/1999 e da jurisprudência deste Superior Tribunal; a classificação de certo imóvel como terreno de marinha depende de prévio procedimento administrativo, com contraditório e ampla defesa, porque aí há, em verdade, a imposição do dever. Ao contrário, a atualização das taxas de ocupação, que se dá com a atualização do valor venal do imóvel, não se configura como imposição ou mesmo agravamento de um dever, mas sim recomposição de patrimônio devida na forma da lei. Daí porque inaplicável o ditame do dispositivo mencionado. No caso das taxas de ocupação dos terrenos de marinha, é despiciendo o procedimento administrativo prévio com participação dos administrados interessados, bastando que a Administração Pública siga as normas do Dec. n. 2.398/1987 no que tange à matéria. Após a divulgação da nova planta de valores venais e da atualização dela advinda, aí sim os administrados podem recorrer administrativa e judicialmente dos pontos que consideram ilegais ou abusivos. Não há, portanto, que falar em necessidade de contraditório para a incidência do art. 1º do Dec. n. 2.398/1987. REsp 1.150.579-SC, Rel.Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2011.
 IMÓVEL REGISTRADO COMO PARTICULAR - COBRANÇA INDEVIDA DE TAXA DE OCUPAÇÃO (GUILHERME COUTO DE CASTRO): Trata-se de imóvel que foi adquirido sem que nele constasse referência sobre tratar-se de terreno de marinha, estando regulares as anotações da cadeia dominial. A União, realizando procedimento administrativo através de seu órgão de patrimônio, concluiu tratar-se a área de terreno de marinha, realizando sua demarcação e passou a cobrar a chamada “taxa de ocupação”.
Para o Relator, o magistrado de primeiro grau apreciou corretamente a questão, pois, independentemente de o imóvel dos autores se enquadrar ou não no conceito de terreno de marinha, ou de originariamente pertencer ele à União Federal, ou de o procedimento administrativo ter sido feito de forma regular (e, no caso, não o foi, pois, segundo jurisprudência majoritária, os interessados devem ser intimados pessoalmente para defenderem sua propriedade), não pode a União, sem retificar ou cancelar o título dominial da parte, há muito existente e embasado em cadeia regular, afirmar ser público o bem, no caso, terreno de marinha.
Informativo 175 – TRF2
Relator: Desembargador Federal GUILHERME COUTO DE CASTRO
STJ: A alegação da União de que determinada área constitui terreno de marinha, sem que tenha sido realizado processo demarcatório específico e conclusivo pela Delegacia de Patrimônio da União, não obsta o reconhecimento de usucapião REsp 1.090.847-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/4/2013.
TERRENOS MARGINAIS OU RESERVADOS: são aqueles que, banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, se estendem até a distância de 15 metros para a parte da terra, contados desde a linha média das enchentes originárias. José dos Santos Carvalho alerta que há grande controvérsia sobre o domínio dos terrenos reservados, mas entende que pertencem aos Estados os localizados à margem de correntes ou lagos navegáveis, isto se, por algum título, não estiverem no domínio federal,municipal ou particular. Em relação aos rios não navegáveis, dispõe o art. 12 do Código das Águas que, dentro de uma faixa de 10 metros, fica estabelecida servidão de trânsito para os agentes da Administração, quando em execução de serviço.
Há muita controvérsia sobre a propriedade desses bens. Mas existe súmula do STF regulando o assunto.
STF, 479. As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização. 
MARIA SYLVIA: os terrenos reservados podem ser bens públicos ou bens particulares. A presunção é a de que sejam bens públicos. 
 
	UNIÃO
	Terrenos marginais dos rios navegáveis, em territórios federal, se por título legítimo não pertencerem a particulares.
	Terrenos marginais de rios e ilhas situadas nos territórios, na faixa de fronteira e nas zonas onde se faça sentir a influência das marés.
DL 9.769/46,Art. 1º Incluem-se entre os bens imóveis da União:
a) os terrenos de marinha e seus acrescidos;
b) os terrenos marginais dos rios navegáveis, em Territórios Federais, se, por qualquer título legítimo, não pertencerem a particular; 
DL 9.769/46, Art. 4º São terrenos marginais os que banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, vão até a distância de 15 (quinze) metros medidos horizontalmente para a parte da terra, contados desde a linha média das enchentes ordinárias. (O MESMO TEXTO É REPEDIDO NO ARTIGO 14 DO CÓDIGO DE ÁGUAS, DEC 24643, FALANDO DE TERRENOS RESERVADOS)
Acórdão Processo: 200151120004217	UF: RJ	Orgão Julgador: SEXTA TURMA ESPECIALIZADA Data Decisão: 09/12/2009	Documento: TRF-200225419 DJU - Data:: 29/01/2010 - Página:: Ementa
DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO. USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL. ART. 191, CF/88. RIO QUE BANHA MAIS DE UM ESTADO E TERRENOS MARGINAIS. ART. 20, III, CF/88. IRRELEVÂNCIA DO REQUISITO DA NAVEGABILIDADE. ART. 4°, DECRETO-LEI 9.760/46. QUINZE METROS CONTADOS DA LINHA MÉDIA DAS ENCHENTES ORDINÁRIAS. PROVIMENTO. 1. O tema em discussão no recurso interposto diz respeito à usucapião relativamente à determinada área que, segundo a Apelante, contém trecho consistente em bem imóvel público, a saber, a faixa de terreno marginal de quinze metros, a contar da linha média das enchentes ordinárias do rio Paraíba do Sul, que banha mais de um Estado da Federação. 2. O rio Paraíba do Sul, por banhar os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, se insere no conceito constitucional de bem da União Federal e, por isso, não há como admitir-se a usucapião especial sobre tal imóvel (arts. 183, § 3° e 191, parágrafo único, da Constituição Federal). Os imóveis da União são insuscetíveis de aquisição através da usucapião, sendo irrelevante a circunstância do rio ser (ou não) navegável. 3. O terreno usucapiendo efetivamente contém parte que, na realidade, integra o patrimônio público da União Federal. A área de quinze metros, a contar da linha média das enchentes ordinárias, correspondendo aos terrenos marginais do rio (CF, art. 20, III), deve ser excluída da usucapião reconhecida na sentença, para fins de estrita observância do disposto no art. 4°, do Decreto-Lei n° 9.760/46. 4. O Rio Paraíba do Sul e seus terrenos marginais são bens da União e, por isso, haveria clara ofensa ao art. 20 da Constituição Federal, caso houvesse a manutenção da sentença na sua inteireza. 5. Recurso e remessa necessária conhecidos e providos.
Relator
Desembargador Federal GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA
Os terrenos marginais pertencerão ao titular do rio (Federal ou Estadual). 
Os rios não navegáveis são bens particulares, mas que estão gravados pela servidão de passagem de agentes públicos na distância de 10 metros da margem para dentro do terreno. 
ILHAS – A CF/88 tornou públicas as ilhas, que podem ser estaduais ou federais (artigo 20, IV). As federais são as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limites com outros países; as ilhas oceânicas e costeiras, excluídas destas as pertencentes ao domínio dos Estados. Esse dispositivo constitucional foi objeto de emenda constitucional EC/46.
1) OCEÂNICAS – estão fora da plataforma continental
2) COSTEIRAS – estão dentro da plataforma continental
Art. 20. IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, EXCLUÍDAS, destas, as que contenham a SEDE de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
Cabe citar que o ADCT define que a ilha de Fernando de Noronha integra o Estado de Pernambuco.
PLATAFORMA CONTINENTAL: é a extensão das áreas continentais sob o mar até a profundidade de cerca de duzentos metros. Não está incluída na CF/88 como bem da União, mas sua posição já se encontrava definida na Constituição Federal anterior e assim foi mantida por força do disposto no art. 20, I, CF: “São bens da União: I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos.” O art. 20, V, prevê “os recursos da plataforma continental e da zona econômica exclusiva”.
ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA: (art. 6°; Lei 8.617) – De 12 até 200 milhas marítimas. Não é território nacional, isto é, não há incidência da norma brasileira nesse território, mas é de exploração econômica exclusiva do Brasil. Qualquer conflito ocorrido nessa área, deverá ser resolvido pelos meios de direito internacional, pois não há soberania sobre este território, mas sim exclusividade de exploração comercial;
FAIXA DE FRONTEIRAS: é a área de 150 KM de largura, que corre paralelamente à linha terrestre demarcatória da divisa entre o território nacional, como dita o art. 20, § 2º, da CF. Essa área não é, em sua integralidade, bem de domínio público. O que a CF registra é que pertencem à União as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras (art. 20, II), o que significa que nem todas as áreas situadas na referida faixa se caracterizem como bens públicos. 
****BENS DO DOMÍNIO AEREO****
Coisa insusceptível de domínio privado, pela própria natureza.
 Sua principal utilidade pública, como bem apreciável a justificar a preocupação dos Estados, refere-se ao tráfego aéreo, considerando-se como área de soberania nacional a projeção acima do respectivo território.
Por esse motivo, em não tendo havido solicitação prévia e prévia autorização específica de um governo para que uma aeronave estrangeira "cruze seus ares", terá se verificado uma invasão de seu espaço aéreo, constituindo causa de reação legítima que todos os governos reconhecem e acatam.
PENAL: Teoria geral do crime: conceito; objeto; sujeitos; conduta; tipicidade; culpabilidade. Bem jurídico. Tempo e lugar do crime. Punibilidade. Erro. Concurso de crimes e crime continuado. Crimes contra a organização do trabalho (Código Penal). Crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (Código Penal). Crimes contra os costumes (Código Penal). Crime de corrupção de menores. Crimes contra a criança e o adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990). Crimes contra a família (Código Penal). ESTATUTO DO IDOSO. Crimes de produção, uso e tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
Tráfico (livro pag 867/930 – 63pgs)
	***CONCEITO DE CRIME***
	Não há um conceito de crime atribuído pelo legislador. Predominam três conceitos na doutrina: conceito formal, conceito material e conceito analítico.
	
	Conceito formal: crime é toda conduta que atente à lei penal editada pelo Estado.
	Conceito material: crime é aquela conduta que viola os bens jurídicos mais importantes.
	Tais conceitos não traduzem com precisão o que seja crime. Para o conceito formal, se há uma lei penal, e o agente a viola, haverá crime. Já o conceito material sobreleva a importância do princípio da intervenção mínima. Contudo, se não houver uma lei penal protegendo-o, por mais relevante que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em face do princípio da legalidade.
	Conceito analítico: o crime consiste num fato típico, ilícito (antijurídico) e culpável, conforme quadro a seguir:CRIME
	FATO TÍPICO
	ANTIJURÍDICO
	CULPÁVEL
	Conduta: dolosa/culposa, comissiva/omissiva
	É elemento encontrável por exclusão, quando o agente não atua em:
	Imputabilidade
	Resultado
	Estado de necessidade
	Potencial consciência sobre a ilicitude do fato
	Nexo de Causalidade
	Legítima defesa
	Exigibilidade de conduta diversa
	Tipicidade: formal + conglobante (conduta antinormativa, não imposta ou fomentada e tipicidade material)
	Estrito cumprimento do dever legal
	
	
	Exercício regular de direito
	
	
	Quando não houver o consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude
	
	CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME
	A função do conceito analítico é a de analisar todos os elementos ou características que integram o conceito de infração penal sem que com isso se queira fragmentá-lo. O crime é um todo unitário e indivisível. 
	O conceito analítico prescreve que crime é o fato típico, ilícito e culpável, segundo a classificação tripartite (majoritário: ASSIS TOLEDO, WELZEL, LUIZ REGIS PRADO, ROGERIO GRECO)
	O fato típico é composto dos seguintes elementos:
	a) conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva;
	b) resultado;
	c) nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
	d) tipicidade (formal e conglobante).
	A ilicitude (antijuridicidade) é aquela relação de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. É encontrada por exclusão, ou seja, não se verificará se o agente houver atuado amparado por uma das causas excludentes da ilicitude previstas no art. 23 do CP. Além das causas legais de exclusão da ilicitude, a doutrina menciona o consentimento do ofendido.
	Para que o consentimento do ofendido exclua a ilicitude, é necessário:
	I – Que o ofendido tenha capacidade para consentir;
	II – Que o bem sobre o qual recaia a conduta do agente seja disponível;
	III – Que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou pelo menos numa relação de simultaneidade à conduta do agente.
	A culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. São elementos integrantes da culpabilidade, segundo a concepção finalista assumida pelo autor:
	a) Imputabilidade;
	b) Potencial consciência sobre a ilicitude do fato;
	c) Exigibilidade de conduta diversa.
	Há 3 acepções do princípio da culpabilidade:
	i – Princípio que integra o conceito analítico de crime;
	ii – Princípio medidor da pena – art. 59 – juízo de reprovação da conduta do agente;
	iii – Princípio impedidor da responsabilidade objetiva.
	CONCEITO DE CRIME ADOTADO POR DAMÁSIO, DOTTI, MIRABETE E DELMANTO
	Para estes autores, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade seria mero pressuposto de aplicação da pena. Rogério Greco discorda, pois o fato típico e a ilicitude também são pressupostos de aplicação da pena. Afinal, se não houver fato típico, ou se a conduta não for ilícita, não haverá pena.
	
	CONCEITO QUATRIPARTITE (Muños Condes e Basileu Garcia): fato típico, antijurídico, culpável e punível. 
	****OBJETO DO CRIME****
	OBJETO JURÍDICO – é o BEM JURÍDICO TUTELADO, é o interesse protegido pela norma.
	-todo crime possui OBJETO JURÍDICO.
	OBJETO MATERIAL – é a PESSOA, COISA ou INTERESSE sobre o qual recai a conduta típica.
	-pode haver crime sem OBJETO MATERIAL. [ex.: ato obsceno ou falso testemunho] 
	EXISTÊNCIA DE CRIME SEM OBJETO MATERIAL
 	-há quem interprete a expressão “material” de forma literal e identifica apenas a “pessoa” e a “coisa” sobre a qual recai a conduta típica. Nesse sentido afirmam ser possível a existência de crime sem objeto material.
 	-Guilherme Nucci diverge desse posicionamento e identifica, além da “coisa”e da “pessoa”, a possibilidade da conduta recair sobre “interesse”. Nesse sentido seria incorreto afirma que existiria crime sem objeto jurídico.
	***SUJEITOS DO CRIME***
	SUJEITO ATIVO DO CRIME – pessoa que pratica a conduta típica.
 	-o delito é ação humana, em princípio, somente pode ser sujeito ativo de crime o homem.
	PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO
	-previsão constitucional:
	[art. 173, § 5º, CF] – responsabilidade da pessoa jurídica nos atos praticados contra a ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA e contra a ECONOMIA POPULAR. 
	norma de eficácia limitada [ “A lei (...)”]
		[art. 225, § 3º, CF] – responsabilidade da pessoa jurídica quanto às CONDUTAS LESIVAS AO MEIO AMBIENTE.
			norma de eficácia limitada.
			-previsão infraconstitucional:
					[art. 3º, caput, Lei 9.605/98] – regulamenta o art. 225, § 3º da CF possibilitando a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
	-divergência quanto à possibilidade da pessoa jurídica figurar como sujeito ativo:
		a)IMPOSSIBILIDADE:
			fundamentos:
 				i)a pessoa jurídica NÃO TEM VONTADE.
				ii)a punição da pessoa jurídica representa verdadeira RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA, o que compromete o PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE. 
				iii)a pena deve ser PERSONALÍSSIMA e a punição da pessoa jurídica acabaria gerando a punição do sócio.
				iv)pessoa jurídica não pode ir para a prisão. A aplicação de multa pode ocorrer por qualquer outra área do direito. 
		b)POSSIBILIDADE:
			fundamentos:
 				i)a pessoa jurídica TEM VONTADE. 
 					
				TEORIA ORGANICISTA OU DA REALIDADE (OTTO GIERKE) – [ADOTADA NO BRASIL] – reconhece que a PJ tem vontade própria e distinta dos seus membros. A sua vontade é fruto da fusão das vontades dos seus membros.
 	em contraposição à essa teoria existe a TEORIA DA FICÇÃO (Savigny), que reconhece a PJ como uma ficção jurídica não dotada de consciência e vontades próprios, não adotada no ordenamento brasileiro.
				ii)em qualquer crime, quando se pune o agente, é possível existir pessoas inocentes prejudicadas, isso não quer dizer que ocorreria violação do PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE.
				iv)hoje, a ideologia do direito penal não se limita à aplicação de penas privativas de liberdade, sendo possível a aplicação de PENAS ALTERNATIVAS. 
					
	
	SUJEITO PASSIVO DO CRIME 
	É o titular do bem jurídico que sofre a conduta típica.
 	a)SUJEITO PASSIVO FORMAL (INDIRETO) – é o ESTADO.
 		todo crime viola normas editadas pelo Estado, bem como a paz social; 
 	b)SUJEITO PASSIVO MATERIAL (DIRETO) – é o TITULAR DO BEM JURÍDICO LESADO OU AMEAÇADO DE LESÃO. [pode ser pessoa jurídica]
 		se não existir um sujeito passivo determinado, este será considerado como sendo a sociedade 
	crime contra animais  sujeito passivo: sociedade.
	
***atenção*** o MORTO, os ANIMAIS e as COISAS INANIMADAS não podem ser sujeitos passivos do crime por não serem titulares de bens jurídicos.
		-é possível que a figura do SUJEITO ATIVO e do SUJEITO PASSIVO do crime estejam na mesma pessoa  crime de rixa.
	
	****CONDUTA****
	É o primeiro elemento integrante do fato típico, sinônimo de ação e comportamento. Embora o crime seja o resultado de uma ação humana, o legislador previu a possibilidade de punição da pessoa jurídica por prática de atividade lesiva ao meio ambiente (art. 225, §3º, da CF, e art. 3º da Lei nº 9.605/1998).
	A ação, ou conduta, compreende:
a. qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo);
b. doloso (agente quer a produção do resultado) ou culposo (inobservância de um dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).
	CONCEITO DE AÇÃO – CAUSAL, FINAL E SOCIAL
	Concepção causalista clássica: ação é o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior. Sem ato de vontade não há ação, não há injusto, não há crime. Mas isso também não ocorre se não houver modificação no mundo exterior. 
	
	Concepção finalista: ação é um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre a determinada finalidade, que pode ser ilícita (atuação com dolo, por exemplo) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas que, por negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado lesivo, previsto pela lei penal).
	Concepção da teoria social da ação:é toda atividade humana social e juridicamente relevante, segundo os padrões axiológicos de uma determinada época, dominada ou dominável pela vontade. 
	CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS
	Há dois tipos de condutas: dolosas e culposas. Ou o agente atua com dolo, quando quer diretamente o resultado, ou assume o risco de produzi-lo; ou age com culpa, quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência.
	CONDUTAS COMISSIVAS E OMISSIVAS
	Além de atuar com dolo e culpa, o agente pode praticar a infração penal fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser comissivas (positivas) ou omissivas (negativas).
	Nos crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. Ex: crime de furto – finalidade de subtrair os bens móveis pertencentes à vítima. Nos crimes omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei ao agente, como no crime de omissão de socorro (art. 135).
	Os crimes omissivos podem ser próprios (puros ou simples) ou impróprios (comissivos por omissão ou omissivos qualificados).
	Crimes omissivos próprios são os que objetivamente são descritos como uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. São delitos nos quais existe o chamado dever genérico de proteção.
	Crimes omissivos impróprios só podem ser praticados pelas pessoas referidas no § 2º do art. 13, uma vez que para elas existe um dever especial de proteção. São elas:
	I – pessoa que se encontre na posição de garante ou garantidor, ou seja, que tenha a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância;
	II – Pessoa que, de outra forma, assuma a responsabilidade de impedir o resultado;
	III – Pessoa que, com seu comportamento anterior, tenha criado o risco da ocorrência do resultado.
	AUSÊNCIA DE CONDUTA
	Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há a ação. Isso pode acontecer se o agente estiver impedido de atuar, como nos casos de força irresistível, movimentos reflexos e estados de inconsciência.
	A força irresistível pode decorrer da natureza ou da ação de terceiro. Ex: vento forte que arrasta a pessoa para cima de outra, causando-lhe lesões corporais. Coação física irresistível. Situação em que o agente é jogado por uma terceira pessoa de encontro a outras pessoas, vindo a lesioná-las. Em todos os casos, não há conduta, não respondendo o agente pelas lesões que vier a causar.
	Os movimentos reflexos são reações a determinados impulsos que podem causar danos. Ex: pessoa coloca fio de seu aparelho de som em uma tomada e recebe uma pequena descarga elétrica, causando, num efeito reflexo, ao movimentar seu corpo, lesão em terceiro. Não haverá conduta.
	
	Os estados de total inconsciência eliminam também a conduta do agente. Ex: sonambulismo, ataques epiléticos, hipnose, etc.
	No caso da embriaguez completa, desde que não seja proveniente de caso fortuito ou força maior, embora não seja predeterminada a intenção de praticar crime, o agente será responsabilizado. Aqui, na verdade, o agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em virtude do ato de querer, voluntariamente, embriagar-se, ou mesmo em razão de ter, culposamente, chegado ao estado de embriaguez. Ocorre a chamada actio libera in causa, tendo em vista que a ação foi livre na causa, devendo o agente responder pelos resultados dela decorrentes.
	****TIPICIDADE****
	
	Tipo penal: é um instrumento legal, logicamente necessário e de natureza predominantemente descritiva, que tem por função a individualização de condutas humanas penalmente relevantes (Zaffaroni). Se alguém adotar determinada conduta que se amolde perfeitamente àquele tipo, estaremos diante da tipicidade.
	Tipicidade: corresponde à subsunção perfeita da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal, isto é, a um tipo penal incriminador.
	Tipicidade penal: TIPICIDADE FORMAL + TIPICIDADE CONGLOBANTE
	Tipicidade formal: mera adequação da conduta ao tipo penal. Essa adequação deve ser perfeita, sob pena de o fato ser considerado formalmente atípico. 
	Tipicidade conglobante: conduta ANTINORMATIVA (contrário ao direito, e não imposta ou fomentada pela norma) e MATERIAL (ofensiva a bens de relevo para o Direito Penal).
	
	Ex: o art. 121 do CP diz ser proibido matar. No entanto, a proibição nele prevista não se dirige a todos, devendo ser excetuada com relação àqueles que têm o dever de matar. No confronto entre a proibição e uma imposição (norma que determina que o carrasco execute a sentença de morte), deve-se concluir que a proibição de matar, nos casos em que a lei prevê, não se dirige ao carrasco. Portanto, sua conduta não seria antinormativa, contrária à norma, mas de acordo, imposta por ela.
	
	O conceito de antinormatividade – e, por conseguinte, de tipicidade conglobante -esvazia um pouco as causas de exclusão de ilicitude relacionadas ao estrito cumprimento de dever legal. 
	Tipicidade material: consiste em critério que afere a importância do bem no caso concreto, a fim de que possamos concluir se aquele bem específico merece ou não ser protegido pelo Direito Penal. Relaciona-se diretamente ao princípio da intervenção mínima. Este preceitua que a finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes existentes na sociedade, como a vida, a integridade física, o patrimônio, etc. (princípio da lesividade – adequação social – intervenção mínima – fragmentariedade - insgnificância)
	Adequação típica: ocorre quando a conduta do agente se amolda perfeitamente ao tipo penal. Há 2 espécies:
	Adequação típica de subordinação imediata ou direta: ocorre quando tal adequação se dá de maneira perfeita à descrição do tipo. Ex: homicídio (art. 121 do CP). 
	Adequação típica de subordinação mediata ou indireta: ocorre quando o agente, embora atue com vontade de praticar a conduta proibida por determinado tipo incriminador, pratica conduta que não se subsume perfeitamente ao tipo penal. Ex: tentativa de homicídio – se João atirar várias vezes e não matar, embora o desejasse, não haverá perfeita adequação ao art. 121. 
	Para que se possa obter a tipicidade em casos de adequação típica de subordinação mediata ou indireta, deve-se utilizar as chamadas normas de extensão, que são capazes de ampliar o tipo penal, abrangendo hipóteses não expressamente previstas pelo legislador. Ex: art. 14 (tentativa), art. 29 (concurso de pessoas).
	
	****CULPABILIDADE*** 
	Diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. 
	Possui três sentidos fundamentais:
	I – Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime
	É o terceiro elemento do conceito analítico de crime (Welzel), após a análise do fato típico e da ilicitude. Após concluir que alguém praticou um injusto penal, inicia-se o estudo para saber se há ou não censura sobre o fato praticado. 
	Compõe-se:
	
a) imputabilidade do agente
b) potencial consciência da ilicitude 
c) inexigibilidade de conduta diversa.
	
	II – Culpabilidade como princípio medidor de pena
	Uma vez existente a infração penal (fato típico, ilícito e culpável), deverá haver condenação. O juiz deverá, então, encontrar a pena correspondente à infração penal praticada, tendo sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério regulador.
	Isso significa que o julgador deverá observar as regras do critério trifásico de aplicação da pena. Primeiro, a pena-base. Depois, todas as condições judiciais do art. 59, sendo que a primeira delas é a culpabilidade.
	III – Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, da responsabilidade penal sem culpa
	Significa que a culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em Direito Penal, a responsabilidade objetiva.
*** BEM JURÍDICO ****
Conceito (Bittencourt): são bens vitais da sociedadee do indivíduo, que merecem proteção legal exatamente em razão de sua significação social. Quando essa valoração e proteção é conferida por uma norma penal, a qual prevê tipos penais incriminadores e da cominação de sanções penais, verifica-se a existência de um bem jurídico-penal.
- Bem jurídico e função do Direito Penal 
	
	- Teoria da Proteção dos Bens Jurídicos (majoritária). A finalidade do Direito penal pode ser identificada na proteção dos bens jurídicos mais importantes e necessários ao convívio em sociedade, como a vida, a integridade física, a liberdade sexual, o patrimônio, a administração da justiça, etc.
	- Teoria da Proteção da Norma (minoritária): Günther Jakobs (sistema funcional sistêmico ou radical – amplamente conhecido como “Direito Penal do Inimigo”). Sustenta que a finalidade do Direito Penal é a proteção da norma penal, pois, quando a norma penal é aplicada, o bem jurídico já foi violado. 
	
	- Bem Jurídico e Princípio da intervenção mínima: Estabelece que o Direito Penal só deve preocupar-se com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade.
	****TEMPO DO CRIME****
	Há três teorias principais:
	I – Teoria da atividade (adotada pelo CP)
	O tempo do crime será o da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado (art. 4º do CP). 
	II – Teoria do resultado
	Determina que o tempo do crime será o da ocorrência do resultado.
	III – Teoria da ubiqüidade
	Concede igual relevo ao momento da atividade e ao momento do resultado, asseverando que o momento do crime será um ou outro.
	
	
	TEMPO DO CRIME – AÇÃO OU OMISSÃO
	EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL – ESPÉCIES
	A extra-atividade é um gênero que comporta a ultra-atividade e a retroatividade.
	Ultra-atividade: manifesta-se quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante sua vigência.
	Retroatividade: consiste na possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor.
	ULTRATIVIDADE E RETROATIVIDADE DA LEI PENAL – SEMPRE EM BENEFÍCIO DO AGENTE
	
	Aplicação da novatio legis in pejus nos crimes permanentes e continuados
	- Súmula nº 711 do STF, que assim determina: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
	
	ABOLITIO CRIMINIS
	Ocorre quando o legislador resolve não mais continuar a incriminar determinada conduta. Está prevista no art. 2º do CP (Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixar de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória).
	
	ABOLITIO CRIMINIS – AFASTA EFEITOS PENAIS, MAS MANTÉM EFEITOS CIVIS
	Abolitio criminis temporalis
	Também chamada de suspensão de tipicidade, consiste na situação na qual a aplicação de um determinado tipo penal se encontra temporariamente suspensa, não permitindo, assim, a punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão.
	É possível a aplicação de lei penal mais benéfica no período da vacatio legis? O STF entende que não, pois a lei ainda não é vigente. 
	
	SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO
	Corresponde ao surgimento de várias leis penais entre a data do fato praticado e o término do cumprimento da pena.
	Nessa sucessão de leis, deve-se observar as regras da ultra-atividade ou retroatividade benéficas.
	Lei intermediária
	Ocorre quando a lei a ser aplicada não é nem aquela vigente à época dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolação da sentença.
	Sucessão de leis temporárias ou excepcionais
	Estão previstas no art. 3º do CP (A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência).
	Lei temporária: quando a lei traz expressamente o dia do início e do término de sua vigência.
	Lei excepcional: editada em virtude de situações também excepcionais (anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da situação que levou à sua edição. Ex: lei excepcional durante o estado de guerra.
	
	COMBINAÇÃO DE LEIS
	Ocorre quando, a fim de atender aos princípios da ultra-atividade e da retroatividade in mellius, ao julgador é conferida a possibilidade de extrair de dois diplomas os dispositivos que atendam aos interesses do agente, desprezando aqueles outros que o prejudiquem. Importante: O STF e o STJ não admitem a combinação de leis, pois na verdade estar-se-ia aí o Judiciário legislando, criando uma terceira lei. O STJ inclusive editou Súmula a respeito: Súmula 501: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
		
	***LUGAR DO CRIME***
	Há três teorias sobre o lugar do crime:
	I – Teoria da atividade
	O lugar do crime é o da ação ou da omissão, ainda que outro seja o da ocorrência do resultado.
	II – Teoria do resultado
	O lugar do crime é tão-somente aquele em que ocorre o resultado.
	III – Teoria mista ou da ubiqüidade (Brasil adota)
	O lugar do crime será o da ação ou omissão, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado (art. 6º do CP).
	A teoria da ubiqüidade resolve muitos problemas de Direito Penal Internacional, já apontados pela doutrina. 
	TERRITORIALIDADE
	O art. 5º, caput, do CP determina a aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. É a regra da territorialidade.
	No entanto, tal regra não é absoluta, tendo o Brasil adotado a territorialidade temperada, pois o Estado brasileiro, soberano, pode abrir mão, em determinadas situações, da aplicação de sua legislação, em virtude de convenções, tratados e regras de direito internacional.
	
	 PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE
	Preocupa-se com a aplicação da lei brasileira às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros.
	Pode haver extraterritorialidade incondicionada e extraterritorialidade condicionada.
	Extraterritorialidade incondicionada (art. 7º, I, do CP): possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja necessário o concurso de qualquer condição.
	Hipóteses:
	Art. 7º – Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
	I – os crimes:
	a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (princípio da defesa, real ou de proteção);
	b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do DF, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
	c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
	
	d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no brasil.
	Para qualquer hipótese do inciso I do art. 7º, o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 
	Extraterritorialidade condicionada: refere-se à aplicação da lei brasileira para crimes cometidos no estrangeiro, desde que verificada determinadas condições.
	II – os crimes:
	a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir (princípio da universalidade, da justiça universal ou cosmopolita);
	b) praticados por brasileiro (princípio da personalidade ativa);
	c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados (princípio da representação).
	As condições são:
	a) entrar o agente no território nacional;
	b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
	c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
	
	d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
	
	e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
	O § 3º do art. 7º do CP dispõe, ainda, que a lei brasileira se aplica também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se reunidas as condições do § 2º do mesmo artigo, quais sejam:
	a) Não foi pedida ou negada a extradição;
	b) houve requisição do Ministro da Justiça.
	O princípio aplicável a esta situação é o princípio da defesa ou da personalidade passiva.
	Para guardar: genocídio é extraterritorialidade incondicionada e crime praticado por estrangeiro contra brasileiro exige condições especiais.
	No caso da tortura é igualmente hipótese de extraterritorialidade incondicionada. O fundamento legal não está no Código Penal, mas sim no art. 2º da Lei n. 9.455⁄97 (Lei de Tortura), que é uma previsão específica. Veja o que diz o dispositivo:
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
****PUNIBILIDADE***** 
· Conceito: 
	O Estado tem o direito abstrato de punir eventuais infratores,enquanto a lei penal não é violada. Entretanto, quando ocorre efetiva violação da lei penal, pela prática de crime ou contravenção, aquele direito, que até então era somente abstrato,torna-se concreto e faz nascer a possibilidade de o Estado aplicar sanção ao infrator da lei penal.
	Punibilidade é, então, a possibilidade jurídica de o Estado impor pena ao violador da lei penal.
	A punibilidade não é requisito do crime, mas sua consequência jurídica. 
	- Condições objetivas de punibilidade:
	Em regra, a pratica de um crime faz nascer a punibilidade. Ocorre que, às vezes, a punibilidade ou pretensão punitiva pode estar sujeita a determinadas circunstâncias, denominadas de condições objetivas de punibilidade. Situam-se entre o preceito primário e o preceito secundário da norma penal incriminadora.Constituem condições objetivas de punibilidade, por exemplo, “
ser o fato punível também no país em que foi praticado”  e “estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza extradição”.
	Estas circunstâncias possuem duas característiucas: a) situam-se fora do crime; b) sua ocorrência não depende do dolo do agente.
	- Causas extintivas da punibilidade:
	Mesmo tendo o sujeito praticado uma infração penal, é possível que ocorra uma causa extintiva da punibilidade, impeditiva do jus puniendi do Estado:
	- Escusas absolutórias: imunidade absoluta, que afasta a punibilidade (pena). 
	Existem ainda as causas de exclusão ou de isenção de pena,chamadas de escusas absolutórias , que fazem com que um fato típico, antijurídico e culpável, não se associe a nenhuma pena por motivo de utilidade pública. 
	Não se trata de excludentes de ilicitude, que excluem o crime, nem tampouco de excludentes de culpabilidade, onde o sujeito fica isento de pena.Para exemplificar, supondo que um filho subtraia dinheiro do pai.Fica isento de pena, incidindo uma escusa absolutória (CP, art.181, inciso II). O fato é ilícito e censurável a conduta, porém, por medida de utilidade pública, fica o sujeito isento de pena.
	As escusas absolutórias extinguem o poder-dever de punir do Estado, subsistindo o caráter ilícito do fato.
	*****ERRO****
	CONCEITO DE ERRO E SUA DISTINÇÃO DA IGNORÂNCIA
	Erro é a falsa representação da realidade ou o falso ou equivocado conhecimento de um objeto. É um estado objetivo. Difere conceitualmente da ignorância pois esta é a falta de representação da realidade ou o desconhecimento total do objeto (estado negativo).
	Não obstante tal distinção, erro e ignorância são tratados de forma idêntica pelo Direito Penal, com iguais efeitos.
	- Erro
a) Tipo (tipicidade): exclui o dolo, pode responder por culpa;
b) Tipo Permissivo (tipicidade): erro sobre a situação FÁTICA, é isento de pena, mas pode responder por culpa
c) Proibição: isento de pena; pode reduzir a pena. 
	- Descriminante putativa (teoria LIMITIDADA da culpabilidade) 
	a) Erro de Tipo = Situação FÁTICA
	b) Erro de Proibição = EXISTÊNCIA ou LIMITES da discriminante 
	ERRO DE TIPO
	É o que recai sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado que se agregue a determinada figura típica, ou ainda aquele incidente sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ou dados secundários da norma penal incriminadora.
	O tipo, com a teoria finalista, passou a ser complexo. Tipo complexo, como vimos, reúne elementos objetivos e subjetivos. A ausência de qualquer um deles elimina o tipo penal. Dessa forma, pode-se dizer que o erro de tipo, como excludente de tipicidade, tem como suporte a teoria finalista da ação, que coloca o dolo na área da tipicidade.	
	No erro de tipo, quem atua “não sabe o que faz”, faltando-lhe, para o dolo do tipo, a representação necessária.
	Ex: caçador que atira contra um arbusto, durante um safári, supondo que ali se encontrava um animal, vindo, contudo, a causar a morte de seu companheiro. O agente erra quanto à elementar “alguém”, prevista no art. 121 do CP. Ele não tinha vontade nem consciência de matar alguém, logo não há dolo. Poderá, porém, responder a título de culpa, desde que haja previsão legal para tanto.
	Outros exemplos clássicos de erro de tipo: quando o agente toma coisa alheia como própria (ex: veículo do estacionamento); relaciona-se sexualmente com vítima menor de 14 anos, supondo-a maior; contrai casamento com pessoa já casada, desconhecendo o matrimônio anterior; apossa-se de coisa alheia, acreditando tratar-se de res nullius; atira em alguém imaginando ser um animal; deixa de agir por desconhecer sua qualidade de garantidor; tem relações sexuais com alguém supondo-se curado de doença venérea.
	ERRO DE TIPO NOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS	
	O agente desconhece sua condição de garantidor – ou tem dela errada compreensão. Ex: agente não presta socorro, podendo fazê-lo, ignorando que se trata de seu filho, que morre afogado.
	CONSEQÜÊNCIAS DO ERRO DE TIPO
	Ao afastar a vontade e consciência do agente, o erro de tipo exclui sempre o dolo. No entanto, há situações em que se permite a punição de sua conduta culposa, se houver previsão legal. Por isso, fala-se em erro de tipo invencível (escusável, inevitável) e erro de tipo vencível (inescusável, evitável).
	Erro de tipo invencível (inevitável, escusável): agente, nas circunstâncias em que se encontrava, não tinha como evitá-lo, mesmo que tomasse todas as cautelas necessárias. Afasta-se tanto o dolo quanto a culpa, tornando-se atípico o fato. Ex: atirar contra arbusto, pensando que há animal se mexendo, quando na verdade é um amigo que estava fazendo uma graça e tinha-lhe dito horas antes que iria voltar pra barraca porque estava com sono.
	Erro de tipo vencível (evitável, inescusável): ocorre nos casos em que o erro seja considerado inescusável, ou seja, naquelas situações em que, se o agente tivesse atuado com a diligência exigida, poderia ter evitado o resultado. Sendo evitável o erro, embora o agente não responda pelo resultado a título de dolo, pois que este sempre restará afastado pela ausência de vontade e consciência, poderá ser-lhe atribuído a título de culpa, se houver previsão legal para esta modalidade de conduta.
	ERRO DE TIPO ESSENCIAL E ERRO ACIDENTAL
	Erro de tipo essencial: recai sobre elementares, circunstâncias ou qualquer outro dado que se agregue à figura típica. Se inevitável, afasta dolo e culpa; se evitável, só afasta o dolo, podendo incidir culpa, se prevista em lei.
	Erro acidental: não visa afastar o dolo do agente. Este age com a consciência da antijuridicidade do seu comportamento, enganando-se apenas quanto a um elemento não essencial do fato ou errando no movimento de execução.
	Hipóteses de erro acidental
	I – Erro sobre o objeto
	Quando o agente, tendo vontade e consciência de praticar uma conduta que sabe ser penalmente ilícita, age, por exemplo, subtraindo uma pulseira que, para ele, supunha-se ouro, quando, na verdade, era merabijuteria. Havia dolo para a subtração, só tendo ocorrido um equívoco quanto ao valor atribuído ao bem, o que nada influencia na definição jurídica do fato.
	Outro exemplo clássico: X, almejando subtrair uma saca de açúcar, por engano, subtrai outra contendo farinha. O erro recai sobre o objeto a que se destina a conduta, sendo, assim, irrelevante.
	II – Erro sobre a pessoa	
	Está previsto no § 3º do art. 20 (Não isenta de pena). É acidental porque o agente não erra sobre qualquer elementar, circunstâncias ou outro dado que se agregue à figura típica. O seu erro cinge-se, especificamente, à identificação da vítima, que em nada modifica a classificação do crime cometido.
	Ex: agente, volitiva e conscientemente, queria causar a morte de seu pai, mas, por estar em local ermo, atingiu pessoa estranha que confundiu com o genitor. Há dolo de matar do mesmo jeito.
	No erro sobre a pessoa, o dolo do tipo existe. Nesta situação, como determina o dispositivo acima citado, não se consideram as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. No exemplo, o agente responderá como se tivesse ocasionado a morte de seu pai (incidindo aqui a agravante correspondente).
	III – Erro na execução (aberratio ictus) e Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
	São também espécies de erro acidental.
	
	A aberratio ictus (erro na execução) ocorre quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, em vez de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. Aplica-se a regra do § 3º do art. 20, aplicável ao erro sobre a pessoa, respondendo como se tivesse atingido a vítima que pretendia ofender. Se atingir também a pessoa que o agente pretendia, aplicar-se-á a regra do concurso formal (art. 70). Na aberratio ictus, o erro ocorre de pessoa para pessoa.
	Ex: agente quer causar a morte de desafeto. Atira contra ele, mas, errando o alvo, fere ou mata outra pessoa que passava por aquele local. Neste caso, substitui-se a pessoa que fora atingida por aquela que deveria sê-lo. Se ambos são atingidos, aplica-se a regra do concurso formal.
	A aberratio criminis (resultado diverso do pretendido) ocorre quando, fora das hipóteses de erro na execução (aberratio ictus), sobrevier resultado diverso do pretendido. O agente responderá por culpa se o fato for previsto como crime culposo. Caso contrário, não será punido. Se ocorrer também o resultado pretendido, aplica-se a regra do concurso formal.
	Ao contrário da aberratio ictus, o erro deverá incidir de coisa para pessoa. Ex: X, visando destruir uma vitrine, arremessa uma pedra contra ela e, por erro, não acerta o alvo, mas atinge a lojista. Haverá lesão corporal culposa, sem responsabilidade por tentativa de dano.
	IV – Aberratio causae
	É a hipótese em que a aberração está na causa do resultado. Ex: agente, almejando matar a vítima por afogamento, a arremessa do alto de uma ponte, vindo esta, contudo, depois de chocar-se com o pilar central, a falecer por traumatismo craniano. Incluem-se também nas hipóteses de aberratio causae as situações de dolo geral. Ex: depois de estrangular a vítima, o autor, crendo que ela está morta, enforca-a para simular um suicídio. Todavia, fica comprovado que a vítima na verdade morreu em razão do enforcamento. Responde por um só homicídio doloso consumado.
	****CONCURSO DE CRIMES****
	Corresponde à pratica de uma pluralidade de delitos. O CP regulou a matéria por meio dos arts. 69, 70 e 71, que preveem, respectivamente, o concurso material (real), o concurso formal (ideal) e o crime continuado. O entendimento dominante é o de que, embora este assunto esteja previsto no Capítulo III (aplicação das penas) do Título V (das penas) do CP, não se trata de tema relegado à teoria da pena.
	CONCURSO MATERIAL OU REAL DE CRIMES	
	O concurso material cuida da hipótese em que o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, poderá ser responsabilizado, em um mesmo processo, em virtude da prática de dois ou mais crimes.
	Ação (CONCEITO FINALISTA): pode ser composta por um ou vários atos. Isso quer dizer que os atos que compõem uma ação não são ações em si mesmos, mas sim partes de um todo. Ex: agente, com dolo de matar, efetua vários disparos para matar seu desafeto. A ação consiste na conduta finalisticamente dirigida a causar a morte da vítima, sendo que cada disparo é um ato que forma a conduta do agente. Haveria vários atos de atirar, mas a única ação de matar alguém.
	
	
	Requisitos e consequências do concurso material ou real	
	Requisitos:
	a) mais de uma ação ou omissão;
	b) a prática de dois ou mais crimes.
	Consequência: - Aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade em que haja incorrido.	
	Se os crimes tiverem sido cometidos em épocas diferentes, investigados por processos diferentes, com várias condenações, não há, na opinião de Rogério Greco, concurso material, mas sim soma ou unificação das penas. O concurso material exigiria, assim, relação de contexto, conexão ou continência entre os crimes.
	Contudo, a posição majoritária entende que se caracteriza o concurso material ainda quando alguns dos delitos venham a ser cometidos e julgados depois de os restantes o terem sido, porque não há necessidade de conexão entre eles, podendo os diversos delitos ser objeto de processos diferentes.
	Concurso material homogêneo e heterogêneo
	
	Concurso material homogêneo: ocorre quando o agente comete dois crimes idênticos, não importando se a modalidade praticada é simples, privilegiada ou qualificada.
	Concurso material heterogêneo: ocorre quando o agente vier a praticar duas ou mais infrações penais diversas.
	
	CONCURSO FORMAL OU IDEAL DE CRIMES	
	Corresponde à hipótese em que o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicando-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. 
	As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior (concurso formal impróprio).
	Esta regra, fundada em razões de política criminal, foi criada em benefício dos agentes que, com uma única conduta, viessem a produzir dois ou mais resultados também previstos como crime.
	Há duas teorias sobre o concurso formal: teoria da unidade de delito e tese da pluralidade.
	Teoria da unidade de delito: afirma que, não obstante a lesão de várias leis penais, existe um só delito. A expressão concurso ideal já denota a inexistência de uma verdadeira pluralidade de delitos, havendo, na verdade, um único delito.
	Tese da pluralidade: sustenta que a lesão de vários tipos penas significa a existência de vários delitos. O fato de que há somente uma ação não quer dizer nada.
	Requisitos e consequências do concurso formal ou ideal	
	Requisitos:
	a) uma só ação ou omissão;
	b) prática de dois ou mais crimes.
	Consequências:
	a) aplicação da mais grave das penas, aumentada de um sexto até metade;
	b) aplicação de somente uma das penas, se iguais, aumentada de um sexto até metade;
	c) aplicação cumulativa das penas, se a ação ou omissão é dolosa, e os crimes resultam de desígnios autônomos.
	O concurso formal pode decorrer tanto de conduta dolosa quanto de conduta culposa. 
	Concurso formal homogêneo e heterogêneo
	Concurso formal homogêneo: ocorre quando as infrações praticadas (tipos penais) são idênticas. Com um mesmo fato, é realizado mais de uma vez o mesmo tipo penal. Ex: um mesmo disparo gera a morte de duas pessoas.
	Concurso formal heterogêneo: ocorre quando as infrações praticadas (tipos penais) são diversas. Com um só fato, satisfazem-se as exigências de distintos tipos penais. Ex: querendo matar, agente mata a vítima e fere pessoa que passava pela rua.
	Concurso formal próprio (perfeito) e impróprio (imperfeito)	
	A distinção varia de acordo com a existência do elemento subjetivo do agente ao iniciar a sua conduta.
	Concursoformal próprio (perfeito): corresponde à situação em que a conduta do agente for culposa na sua origem, sendo todos os resultados atribuídos ao agente a esse título, ou na hipótese em que a conduta era dolosa, mas o resultado aberrante lhe é imputado culposamente. Ex: Alguém, imprudentemente, atropela duas pessoas (culpa). A, almejando lesionar B, atira uma garrafa em sua direção, acertando-o, mas também atinge C (dolo + culpa). (Aqui há culpa-culpa ou dolo-culpa).
	Para este concurso, aplica-se o percentual de aumento de um sexto até a metade (exasperação).
	Concurso formal impróprio (imperfeito): diz respeito à possibilidade de o agente atuar com desígnios autônomos, querendo, dolosamente, a produção de todos os resultados conseguidos a partir daquela ação única. Desígnio autônomo quer dizer que a conduta, embora única, é dirigida finalística e dolosamente à produção dos resultados. Ex: enfileirar os judeus para matar todos com uma bala só (2ª Guerra). (Aqui há dolo-dolo).
	Para este concurso, aplica-se a regra do cúmulo material, isto é, as penas não serão exasperadas, mas cumuladas, da mesma forma que ocorre no concurso material.
	Concurso material benéfico	
	A regra da exasperação no concurso formal foi criada para beneficiar o agente. Em virtude desse raciocínio, previu o parágrafo único do art. 70 que a pena não poderá exceder à que seria cabível em caso de concurso material.
	Se a exasperação lhe for menos benéfica, aplica-se a pena com base no concurso material. A adoção de tal mecanismo nesta circunstância corresponde ao chamado concurso material benéfico.
	Dosagem da pena	
	No concurso formal próprio aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, devendo o juiz, em qualquer caso, aplicar o percentual de aumento de um sexto até a metade. A variação da aplicação do percentual de aumento dependerá do número de infrações penais cometidas pelo agente, consideradas pelo concurso formal de crimes.
	Assim, quanto maior for o número de infrações, maior será o percentual de aumento. Ao contrário, quanto menor for o número de infrações penais consideradas, menor será o percentual de aumento de pena.
	CRIME CONTINUADO	
	Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
	Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.
	Natureza jurídica do crime continuado	
	Há três teorias principais sobre a natureza do crime continuado: teoria da unidade real, teoria da ficção jurídica e teoria mista.
	Teoria da unidade real: as várias condutas que acarretam o crime continuado formam um crime único, composto de várias ações.
	Teoria da ficção jurídica: as várias ações levadas a efeito pelo agente, que já consistiam em infrações penais, são reunidas e consideradas fictamente como um delito único. Foi adotada por nossa legislação penal, a qual entende que, uma vez concluída pela continuidade delitiva, deverá a pena do agente sofrer exasperação.
	Teoria mista: reconhece no crime continuado um terceiro crime, fruto do próprio concurso.
	Requisitos e consequências do crime continuado	
	Requisitos:
	a) mais de uma ação ou omissão;
	b) prática de dois ou mais crimes, da mesma espécie;	
	c) condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes;
	d) os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro.
	Consequências:
	a) aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, aumentada de um sexto a dois terços;
	b) aplicação da mais grave das penas, se diversas, aumentada de um sexto a dois terços;
	c) nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, aumentada até o triplo;
	d) nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, aplicação da mais grave das penas, se diversas, aumentada até o triplo.
	Crimes da mesma espécie	
	Há várias posições para definir o que seriam “crimes da mesma espécie”. 
	I – aqueles que possuem mesmo bem juridicamente protegido (Fragoso, Rogério Greco). Ou seja, essa definição não inclui apenas aqueles previstos no mesmo artigo de lei, mas também aqueles crimes que ofendem o mesmo bem jurídico e que apresentam, pelos fatos que os constituem ou pelos motivos determinantes, caracteres fundamentais comuns. Ex: furto e roubo, estupro e atentado violento ao pudor – duplas da mesma espécie.
	II - são os que possuem a mesma tipificação penal, não importando se simples, privilegiados ou qualificados, se tentados ou consumados (Aníbal Bruno). Para esta posição, não haveria continuidade delitiva entre estupro e roubo.
	Embora se possa encontrar decisão em contrário, a posição majoritária dos Tribunais Superiores (STF, Mensalão) é no sentido de considerar como crimes da mesma espécie aqueles que tiverem a mesma configuração típica (simples, privilegiada ou qualificada).
	Condições de tempo, lugar, maneira de execução ou outras semelhantes	
	Com relação às condições de tempo, há divergências, tendo em vista que não existe um critério rígido para a sua aferição. Afinal, é difícil de mensurá-lo previamente.
	Segundo Rogério Greco, deve haver uma relação de contexto entre os fatos, para que o crime continuado não se confunda com a reiteração criminosa. Apesar da impossibilidade de ser delimitado objetivamente um tempo máximo para a configuração do crime continuado, o STF já proferiu decisões que estabelecem o prazo máximo de 30 dias. Ex: apropriação indébita previdenciária. 
	Há também controvérsia quanto à distância entre os vários lugares nos quais os delitos foram praticados. Discute-se sobre a possibilidade de se verificar o crime continuado somente dentro de um mesmo bairro, de uma mesma cidade, comarca ou até em Estados diversos. O STF já entendeu que é possível o crime continuado em cidades vizinhas (região metropolitana, por exemplo).
	A maneira de execução dos delitos – modus operandi do agente ou do grupo – também é um fator importante para a verificação do crime continuado. Um estelionatário que pratica um mesmo golpe, como o do bilhete premiado, ou aquele que comumente leva a efeitos os delitos de furto valendo-se de sua destreza utilizam o mesmo meio de execução. 
	O critério para aferir a maneira de execução, contudo, não é tão simples. O agente, embora possa ter um padrão de comportamento, nem sempre o repetirá, o que não poderá impedir o reconhecimento da continuidade delitiva, desde que, frisamos mais uma vez, exista uma relação de contexto, de unicidade entre as diversas infrações penais.
	O CP permite, ainda, o emprego da interpretação analógica, pois ao falar “pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução” acrescenta a expressão “e outras semelhantes”. Isso quer dizer que as condições objetivas indicadas pelo artigo devem servir de parâmetro à interpretação analógica por ele permitida, existindo julgados que têm entendido que o aproveitamento das mesmas oportunidades e das mesmas relações pode ser incluído no conceito de condições semelhantes.
	Os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro	
	O art. 71 exige que os crimes subseqüentes devem ser havidos como continuação do primeiro, ou seja, as infrações penais posteriores devem ser entendidas como continuação da anterior.
	Tal definição deriva da discussão entre três teorias sobre crimecontinuado: teoria objetiva, teoria subjetiva e teoria objetivo-subjetiva.
	Teoria objetiva: para o reconhecimento do crime continuado, basta a presença de requisitos objetivos (condições te tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes). Não há, para essa teoria, necessidade de se aferir a unidade de desígnio (relação de contexto).
	Teoria subjetiva: a unidade de desígnio (relação de contexto) é o que importa para a caracterização do crime continuado, independentemente dos requisitos objetivos.
	Teoria objetivo-subjetiva: devem ser exigidas ambas as condições (objetivas e subjetivas). Rogério Greco se filia a esta teoria, pois seria a mais coerente com o sistema penal, que não quer que as penas sejam excessivamente altas, quando desnecessárias, mas também não tolera a reiteração criminosa, de modo que o criminoso de ocasião não pode ser confundido com o criminoso contumaz. Atual STJ.
	Crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa	
	O parágrafo único do art. 71 permite a ficção jurídica do crime continuado nas infrações penais praticadas contra vítimas diferentes, cometidas com violência ou grave ameaça à pessoa. Ex: agente, por vingança, resolve exterminar todos os homens pertencentes a uma família rival à sua.
	Tal previsão derrubou a Súmula 605 do STF, que não admitia a continuidade delitiva nos crimes contra a vida. Hoje isso é plenamente possível.
	O parágrafo único do art. 71 permite ainda a aplicação do chamado concurso material benéfico, caso o aumento da pena até o triplo seja maior que a soma das penas, e determina sejam observadas as regras do art. 75, que cuida do limite das penas.
	Necessário observar, por oportuno, que a referência ao art. 75 não impede a aplicação de pena superior a 30 anos, pois este dispositivo só se refere ao tempo de cumprimento da pena, podendo, porém, o agente ser condenado a uma pena superior àquela que deverá efetivamente cumprir.
	O crime continuado qualificado (específico) prevê, segundo Cezar Bittencourt, a necessidade de 3 requisitos, que devem ocorrer simultaneamente:
	a – contra vítimas diferentes: se o crime for praticado contra a mesma vítima, haverá também continuidade delitiva, mas não se caracterizará a exceção prevista no parágrafo único. A sanção será a do caput;
	b – com violência ou grave ameaça à pessoa: mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou ficta – contra a pessoa, não haverá a continuidade específica, mesmo que haja violência contra a coisa;
	c – somente em crimes dolosos – se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa, mas não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizada a exceção.
	Consequências do crime continuado	
	Para o crime continuado simples, haverá a aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, ou do mais grave, se diferentes, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
	Para o crime continuado qualificado (triplo), o juiz, após considerar a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, poderá aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou do mais grave, se diversas, até o triplo.
	E qual seria o aumento mínimo? O CP não prevê, mas recomenda-se a utilização do mínimo de 1/6, previsto no caput do art. 71, uma vez que não seria razoável que o juiz procedesse a aumento inferior ao determinado na hipótese de crime continuado simples que, em tese, se configura em situação menos grave do que a do parágrafo único.
	Concurso material benéfico	
	O mesmo raciocínio do concurso formal deve ser aplicado aqui. O crime continuado é uma ficção estabelecida por razões de política criminal. Se o juiz verificar que a aplicação deste instituto será mais gravoso do que se houvesse o concurso material de crimes, deverá desprezar as regras daquele e proceder ao cúmulo material das penas (concurso material benéfico).
	Dosagem da pena no crime continuado	
	Da mesma forma que no concurso formal, no crime continuado – simples ou qualificado – a exasperação da pena dependerá do número de infrações praticadas.
	Crime continuado e novatio legis in pejus
	A lei posterior, mesmo que mais gravosa, será aplicada a toda a cadeia de infrações penais, posição compartilhada pelo autor. O argumento utilizado está relacionado ao fato de que o agente, mesmo conhecedor da nova lei penal, insistiu, ainda assim, em cometer novos delitos, devendo ser responsabilizado pelo todo com base na lei nova.
	APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO DE CRIMES	
	Na sentença que reconhecer qualquer um dos concursos (material, formal ou crime continuado), o juiz deverá, primeiramente, aplicar, isoladamente, a pena correspondente a cada infração penal praticada. Após, segue-se a aplicação das regras correspondentes aos concursos.
	Isso deve ocorrer porque o CP determina, no art. 119, que, no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um isoladamente, ou seja, o juiz não poderá levar a efeito o cálculo da prescrição sobre o total da pena aplicada no caso do concurso. Ele deverá conhecer a pena de cada um de modo a aferir se foi verificada a prescrição em relação a eles.
	MULTA NO CONCURSO DE CRIMES	
	O art. 72 prevê que no concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente.
	Ou seja, nos concursos as penas de multa deverão ser aplicadas isoladamente para cada infração penal. Situação: alguém pratica quatro crimes em concurso formal. Em vez de aplicar a exasperação, o juiz deverá encontrar a pena de multa isoladamente.
	No concurso material e no concurso formal imperfeito isso é tranqüilo. A maior discussão está no concurso formal perfeito e na continuidade delitiva. Para esta última, a jurisprudência tem feito a exasperação.
	***CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.**
DUPLA OBJETIVIDADE JURÍDICA.
	 1º Proteção dos direitos individuais e coletivos dos trabalhadores. 
	 2º Proteção da própria organização do trabalho. 
COMPETÊNCIA:
	STF / STJ: 
 Se o crime atinge direitos coletivos dos trabalhadores, atinge a categoria profissional dos trabalhadores em geral  JUSTIÇA FEDERAL.
 Crime que atinge direito individual do trabalhador  JUSTIÇA ESTADUAL.
	ART. 197 - CONSTRANGER ALGUÉM, MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA:
	I - A EXERCER OU NÃO EXERCER ARTE, OFÍCIO, PROFISSÃO OU INDÚSTRIA, OU A TRABALHAR OU NÃO TRABALHAR DURANTE CERTO PERÍODO OU EM DETERMINADOS DIAS:
	II - A ABRIR OU FECHAR O SEU ESTABELECIMENTO DE TRABALHO, OU A PARTICIPAR DE PAREDE OU PARALISAÇÃO DE ATIVIDADE ECONÔMICA:
	ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO E BOICOTAGEM VIOLENTA
	ART. 198 - CONSTRANGER ALGUÉM, MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA, A CELEBRAR CONTRATO DE TRABALHO, OU A NÃO FORNECER A OUTREM OU NÃO ADQUIRIR DE OUTREM MATÉRIA-PRIMA OU PRODUTO INDUSTRIAL OU AGRÍCOLA:
	
	ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO
	ART. 199 - CONSTRANGER ALGUÉM, MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA, A PARTICIPAR OU DEIXAR DE PARTICIPAR DE DETERMINADO SINDICATO OU ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL:
		
	PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM
	ART. 200 - PARTICIPAR DE SUSPENSÃO OU ABANDONO COLETIVO DE TRABALHO, PRATICANDO VIOLÊNCIA CONTRA PESSOA OU CONTRA COISA:
	
IMPORTANTE: Ocorre o crime independentemente da greve ser legal ou ilegal, já que o que se pune é a forma violenta. 
	Paralisação de trabalho de interesse coletivo
ART. 201 - PARTICIPAR DE SUSPENSÃO OU ABANDONO COLETIVO DE TRABALHO, PROVOCANDO A INTERRUPÇÃO DE OBRA PÚBLICA OU SERVIÇO DE INTERESSE COLETIVO:
PENA - DETENÇÃO, DE SEIS MESES A DOIS ANOS, E MULTA.
	INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM
ART. 202 - INVADIR OU OCUPAR ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA, COM O INTUITO DE IMPEDIR OU EMBARAÇAR O CURSO NORMAL DO TRABALHO, OU COM O MESMO FIM DANIFICAR O ESTABELECIMENTO OU AS COISAS NELE EXISTENTES OU DELAS DISPOR:
FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTAART. 203 - FRUSTRAR, MEDIANTE FRAUDE OU VIOLÊNCIA, DIREITO ASSEGURADO PELA LEGISLAÇÃO DO TRABALHO:
COAÇÃO PARA COMPRA DE MERCADORIAS 
§ 1º NA MESMA PENA INCORRE QUEM: (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
I - OBRIGA OU COAGE ALGUÉM A USAR MERCADORIAS DE DETERMINADO ESTABELECIMENTO, PARA IMPOSSIBILITAR O DESLIGAMENTO DO SERVIÇO EM VIRTUDE DE DÍVIDA;
II - IMPEDE ALGUÉM DE SE DESLIGAR DE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA, MEDIANTE COAÇÃO OU POR MEIO DA RETENÇÃO DE SEUS DOCUMENTOS PESSOAIS OU CONTRATUAIS.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho
ART. 204 - FRUSTRAR, MEDIANTE FRAUDE OU VIOLÊNCIA, OBRIGAÇÃO LEGAL RELATIVA À NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Exercício de atividade com infração de decisão administrativa
ART. 205 - EXERCER ATIVIDADE, DE QUE ESTÁ IMPEDIDO POR DECISÃO ADMINISTRATIVA:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO
ART. 206 - RECRUTAR TRABALHADORES, MEDIANTE FRAUDE, COM O FIM DE LEVÁ-LOS PARA TERRITÓRIO ESTRANGEIRO.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
Aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional:
§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem.  (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
O crime de redução à condição análoga a de escravo é previsto no art. 149 do Código Penal. Desse modo, tal delito encontra-se encartado no Título I, que trata sobre os “crimes contra a pessoa” e não no Título IV (“Dos crimes contra a organização do trabalho”).
Apesar disso, o STF entende que a topografia do delito (ou seja, sua posição no Código Penal), por si só, não tem o condão de fixar a competência da Justiça Federal.
Como explica o Min. Gilmar Mendes:
“Com efeito, o art. 109, VI, da Constituição Federal estabelece a competência da Justiça Federal para julgar os crimes contra a organização do trabalho. Contudo, a Lei Maior não se interpreta a partir do Código Penal e o nomen iuris de um capítulo do Diploma Penal não tem o condão de definir a natureza jurídica de um delito, tampouco sua objetividade jurídica.” (ARE 706368 AgR / SP)
Em suma, é possível encontrar crimes definidos no Título IV do Código Penal que não correspondem à norma constitucional do art. 109, VI, também sendo certo que outros crimes definidos na legislação podem configurar, dependendo do caso, crime contra a organização do trabalho (ARE 706368 AgR / SP)
Conclusão: 
O Plenário do STF, no julgamento do RE 398.041 (rel. Min. Joaquim Barbosa, sessão de 30.11.2006), fixou a competência da Justiça Federal para julgar os crimes de redução à condição análoga à de escravo, por entender "que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de relações de trabalho" (RE 541627, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 14/10/2008).
No mesmo sentido entende o STJ:
(...) A Terceira Seção desta Corte já pacificou o entendimento de que compete à Justiça Federal processar e julgar os autores do delito previsto no art. 149 do Código Penal, haja vista a violação aos direitos humanos e à organização do trabalho. (...)
(RHC 25.583/MT, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 09/08/2012, DJe 20/08/2012)
	***DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E RESPEITO AOS MORTOS***
	- Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo
	- Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária
	- Violação de sepultura
	- Destruição, subtração ou ocultação de cadáver
	- Vilipêndio a cadáver
	
	***CRIMES CONTRA A dignidade SEXUAL ***
	
	crime continuado entre estupro e atentado violento ao pudor - STJ e STF: é cabível (mesma espécie agora) 
	- CONJUNÇÃO CARNAL E ATOS LIBIDINOSOS (anal) CONTEXTOS DISTINTOS:
a) Dois crimes - 5ª Turma do STJ - tipo misto cumulativo 
b) Crime único: 6ª Turma do STJ - tipo misto alternativo
	Lei 12.015/09 – alterações realizadas no CP relacionadas aos crimes contra a liberdade sexual.
Estupro 
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 
“Violação sexual mediante fraude 
Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: 
	Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: 
“Ação penal 
Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. 
Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.” (NR) 
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual 
Art. 228.  Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: 
“Art. 229.  Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
	TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS	
	Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro.
	§ 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
	BEM JURÍDICO
	É a liberdade pessoal e sexual, bem como a dignidade da pessoa humana, ameaçada ou atingida pela exploração sexual.
	SUJEITO ATIVO	
	Qualquer pessoa (crime comum). Caso seja ascendente, descendente, cônjuge, tutor ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, há causa de aumento (§ 2º).
	SUJEITO PASSIVO
	A vítima direta é a pessoa encaminhada para a prostituição. Vítima indireta é a sociedade. Se a vítima é menor de 18 anos, há causa de aumento (§ 2º).
	TIPICIDADE OBJETIVA
	Promover ou facilitar para fins de prostituição. Antes falava-se em intermediação também. Agora o § 1º especificou hipóteses que seriam de intermediação: agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, ou mesmo transportá-la, transferi-la ou alojá-la (estas três últimas com conhecimento da condição). Certos atos preparatórios ou que pudessem configurar tentativa agora recebem a mesma pena.
	O consentimento da vítima não exclui o crime. Prova disso é que se não houver consentimento incide a causa de aumento do § 2º (a contrario sensu, o consentimento enseja, no mínimo, a forma simples).
	TIPICIDADE SUBJETIVA
	É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de realização da conduta descrita, incluindo a ciência de que a vítima está sendo encaminhada para fins de prostituição.
	CONSUMAÇÃO
	O crime é instantâneo e formal, consumando-se com o ingresso ou a saída da vítima do território nacional, não se exigindo, paraa consumação, o efetivo exercício da prostituição por parte da vítima.
	TENTATIVA
	Pode ocorrer. Ex: vítima não chega ao território do país de destino.
	CONCURSO MATERIAL	
	Em caso de lucro, há concurso com o crime do art. 230 do CP (rufianismo): Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.
	COMPETÊNCIA
	É da justiça federal, por cuidar-se de crime transnacional que o Brasil se comprometeu a reprimir, ao firmar a Convenção para Repressão a Tráfico de Mulheres e Crianças de Lake Sucess.
	Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual 
Art. 231-A.  Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: 
 “Estupro de vulnerável 
Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
“Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente 
Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” 
“Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável 
Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: 
***CRIME DE CORRUPÇÃO DE MENORES*** previsão do eca - revogação da lei n. 2.252/54
Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o  As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
	
STJ (2012): O entendimento firmado por esta Corte de Justiça é no sentido de que o crime tipificado no art. 1º da Lei 2.252/54 é formal, ou seja, para a sua caracterização não é necessária a prova da efetiva e posterior corrupção do menor, bastando a comprovação da participação do inimputável em prática delituosa na companhia de maior de 18 anos (Precedentes STJ).
***CRIMEs contra a criança e o adolescente****
Competência justiça federal	crimes do eca (competência da justiça federal)
Uma vez que o conteúdo é disponibilizado em qualquer país, a competência para julgar casos de pedofilia na internet é da Justiça Federal. No caso da pornografia infantil, o Brasil é signatário de convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança (promulgada através do Decreto Presidencial 99.710/90). Fundamento: art. 109, v, da cf.
 Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:  (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
 Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas,reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
I. O art. 109, V, da Constituição Federal estabelece que compete aos Juízes Federais processar e julgar "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente".
II. Para fixar a competência da Justiça Federal, não basta o Brasil ser signatário de tratado ou convenção internacional que prevê o combate a atividades criminosas relacionadas a pedofilia, inclusive por meio da Internet. O crime há de se consumar com a publicação ou divulgação, ou quaisquer outras ações previstas no tipo penal do art. 241, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 8.069/90, na rede mundial de computadores (Internet), de fotografias ou vídeos de pornografia infantil, dando o agente causa ao resultado da publicação, legalmente vedada, dentro e fora dos limites do território nacional.
Precedentes do STF e do STJ.
III. Na hipótese dos autos, e pelo que se apurou, até o presente momento, o material de conteúdo pornográfico, em análise no apuratório, não ultrapassou os limites dos estabelecimentos escolares, nem tampouco as fronteiras do Estado brasileiro.
IV. Não obstante a origem do material em questão seja, em tese, advinda da Internet, a conduta que se pretende apurar consiste no download realizado, pelo investigado, e na armazenagem de vídeos, em computadores de escolas municipais - o que se amolda ao crime previsto no art. 241, § 1°, II, da Lei 8.069/90, cuja redação, vigente ao tempo dos fatos, é anterior a Lei 11.829/2008 -, inexistindo, por ora, como destacou o Ministério Público Federal, indícios de que o investigado tenha divulgado ou publicado o material pornográfico além das fronteiras nacionais.
V. Assim, não estando evidenciada a transnacionalidade do delito - tendo em vista que a conduta do investigado, a ser apurada, restringe-se, até agora, à captação e ao armazenamento de vídeos, de conteúdo pornográfico, ou de cenas de sexo explícito, envolvendo crianças e adolescentes, nos computadores de duas escolas -, a competência, in casu, é da Justiça Estadual.
VI. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR , o suscitante.
(CC 103.011/PR, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2013, DJe 22/03/2013)
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL E PROCESSO PENAL. DIVULGAÇÃO DE IMAGENS PORNOGRÁFICAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES POR MEIO DA INTERNET. CONDUTA QUE SE AJUSTA ÀS HIPÓTESES PREVISTAS NO ROL TAXATIVO DO ART. 109 DA CF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
1. Este Superior Tribunal de Justiça tem entendido que só o fato de o crime ser praticado pela rede mundial de computadores não atrai a competência da Justiça Federal.
2. A competência da Justiça Federal é fixada quando o cometimento do delito por meio eletrônico se refere à infrações previstas em tratados ou convenções internacionais, constatada a internacionalidade do fato praticado (art. 109, V, da CF), ou quando a prática de crime via internet venha a atingir bem, interesse ou serviço da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (art. 109, IV, da CF).
3. No presente caso, há hipótese de atração da competência da Justiça Federal, uma vez que o fato de haver um usuário do Orkut, supostamente praticando delitos de divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes, configura uma das situações previstas pelo art. 109 da Constituição Federal.
4. Além do mais, é importante ressaltar que a divulgação de imagens pornográficas, envolvendo crianças e adolescentes por meio do Orkut, provavelmente não se restringiu a uma comunicação eletrônica entre pessoas residentes no Brasil, uma vez que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, desde que conectada à internet e pertencente ao dito sítio de relacionamento, poderá acessar a página publicada com tais conteúdos pedófilos-pornográficos, verificando-se, portanto, cumprido o requisito da transnacionalidade exigido para atrair a competência da Justiça Federal.
5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da Vara Federal e Juizado Especial Federal de Pato Branco – SJ/PR, ora suscitado.
(CC 111.338/TO, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 23/06/2010, DJe 01/07/2010)
***CRIME CONTRA A FAMÍLIA ****
TÍTULO VII
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO
        Bigamia
        Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
        Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento
        Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
       Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
        Conhecimento prévio de impedimento
        Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
        Simulação de autoridade para celebração de casamento
        Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento:
        Simulação de casamento
        Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa:
             Adultério
        Art. 240 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO
        Registro de nascimento inexistente
        Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:
               Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido
        Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:  
        Sonegação de estado de filiação
        Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil:
        CAPÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
        Abandono material
        Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
               Entrega de filho menor a pessoa inidônea
        Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: (Redação dada pela Lei nº 7.251, de 1984)
        Abandono intelectual
        Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
        Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:
        I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
        II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;
        III - resida ou trabalhe em casa de prostituição;
        IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:
        Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
CAPÍTULO IV
DOS CRIMES CONTRA O
PÁTRIO PODER, TUTELA CURATELA
        Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes
        Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, emvirtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame:
        Subtração de incapazes
        Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial:
**ESTATUTO DO IDOSO****
rt. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
        Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:
       Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:
        Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
        Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
        Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
        I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;
        II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
        III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
        IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
        V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.
        Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
               Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
               Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento:
        Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
        Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso:
        Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
        Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:
        Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida representação legal:
CRIMES DE PRODUÇÃO, USO E TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E DROGAS AFINS 
0. Introdução:
Temos 3 momentos importantes na retrospectiva do combate ao tráfico de drogas no Brasil:
- Lei 6.368/76
- Lei 10.409/02
- Lei 11.343/06
A Lei 6.368/76 trazia os crimes relacionados ao tráfico e o procedimento especial.
Veio em seguida a Lei 10.409/02, que queria substituir a Lei 6.368/76, já que trouxe os crimes relacionados ao tráfico e o procedimento especial para tais crimes. Mas o PR vetou o capítulo relativo aos crimes. Assim, esta lei trouxe um novo procedimento, mas que se relacionava ao direito material ainda da Lei 6.368/76.
Veio, então, a Lei 11.343/06 que tratou dos crimes e do procedimento, revogando as duas leis anteriores.
0. Alterações trazidas pela Lei 11.343/06:
Esta lei substituiu a expressão “substância entorpecente” por “droga”. As denúncias, portanto, têm que trazer a expressão legal “droga”.
Para se saber se é ou não droga, é preciso saber se a substancia é ou não psicotrópica e quem prevê isso é uma Portaria. Acontece que a Portaria não consegue prever tudo. Assim, há quem entenda que quem tem que dizer se é ou não droga é um perito. É a lição de Vicente Greco, mas esse entendimento fere o Princípio da taxatividade.
A existência da norma penal em branco é, pois, mais segura, porque ela diz expressamente o que é ou não droga.
Droga, portanto, é aquilo que assim estiver rotulado na Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde – Portaria SVS/MS nº 344/98.
Ex.: lança perfume.
Caso curioso: o lança perfume já ficou 2 dias sem constar da Portaria SVS/MS, período suficiente para gerar a abolitio criminis e beneficiar o filho de um grande empresário. Depois voltou a constar da Portaria e, a partir de então, voltou a configurar o crime.
Qual é o procedimento para incluir ou retirar alguma substância dessa Portaria? Depende do malefício que pode causar a substância, ou seja, depende da potencialidade lesiva da substância.
Outra característica importante dessa nova lei é a proporcionalidade.
A Lei 6.368/76 foi corrigida pela Lei 11.343/06 porque ela punia com pena de 3 a 10 anos o traficante de drogas, o traficante de matéria prima, aquele que induzia outrem a usar drogas, o “mula” ou o “avião” primário ou de bons antecedentes, e aquele que utilizava seu imóvel para servir a traficante. Todos esses comportamentos, que eram diversos, eram punidos com a mesma pena. Isso era desproporcional. 
A lei nova, portanto, pune esses comportamentos com penas diferentes, obedecendo ao Princípio da proporcionalidade. Fala-se, então, que esta nova lei usa e abusa de exceções pluralistas à teoria monista.
Uma terceira característica é o fato de que a lei nova incrementou as multas, ou seja, ela quer atingir o patrimônio do traficante. Tem penas, inclusive, que ultrapassam 2.000 dias multa.
Análise dos principais arts. da lei.
0. Art. 28:
 A primeira discussão importante sobre este art. é justamente saber-se se esta figura é ou não crime. Há 3 correntes que discutem a natureza jurídica desse art. 28:
1ª Corrente: Entende que é crime, pois o capítulo que abrange o art. 28 é intitulado “dos crimes”. Ademais, o art. 28, §4º fala em reincidência, ou seja, só pode estar se referindo a crime. E mais, o art. 30 fala em prescrição. Ora, se trata da prescrição é porque prescreve pena, e pena é conseqüência de crime. O art. 5º, XLVI, CR/88 permite outras penas que não reclusão ou detenção. Esta é a posição do STF. Se se entender que não é crime, não seria possível também punir (em verdade reeducar) o menor infrator.
2ª Corrente: Entende que não é crime, é uma infração penal sui generis. Seus argumentos são: o nome do capítulo nem sempre corresponde ao seu conteúdo (há leis como o Dec Lei 201/67 que chama de crimes de prefeitos infrações político-administrativa). O fato de falar em reincidência também não significa crime, pois a reincidência ai foi utilizada em seu sentido vulgar, significando repetição do fato e não de crime. Ademais, prescrição não é próprio de crime (ilícitos civis e administrativos e os atos infracionais também prescrevem e não são crimes). Par esta corrente, crime é punido com reclusão e detenção contravenção penal é punida com prisão simples. E se o art. 28 não traz nenhuma dessas penas, só pode ser uma infração penal que não é nem crime e nem contravenção. É, pois, infração penal sui generis. Tanto não é crime que o usuário de drogas não será levado à Delegacia, ele deverá ser encaminhado ao juiz (art. 48, §2º, Lei 11.343/06). Quanto ao último argumento da 1ª corrente, ela também não mereceprosperar porque não se quer punir o menor infrator e sim ressocializá-lo (art. 101, ECA). Esta é corrente mais adequada, segundo o prof.
3ª Corrente: Entende que é fato atípico do ponto de vista penal, ou seja, não é crime. Segundo ela, a Lei 11.343/06 fala em medida educativa, que é diferente de medida punitiva. Ademais, o descumprimento da “pena” não gera conseqüência penal. Esta corrente trabalha com o Princípio da intervenção mínima. Por fim, eles dizem ainda que a saúde individual é um bem jurídico disponível.
Sujeito ativo do art. 28: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: é a coletividade, porque o em jurídico tutelado não é a saúde individual, mas sim a saúde coletiva. É o risco que o usuário gera à saúde pública.
Este art. traz 6 núcleos típicos: adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo.
Ele é punido a título de dolo e se consuma com a prática de qualquer um desses núcleos.
Cuidado: a lei não pune quem fumou droga no passado. Esta conduta não entra em nenhum dos núcleos típicos do art. A materialidade delitiva já desapareceu. O fato é pretérito e não é punível.
A lei admite a tentativa no caso do verbo “adquirir”, e pune o tentar adquirir.
As penas são penas alternativas (restritivas de direitos) de natureza principal, não são substitutivas da pena privativa de liberdade.
Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de posse/porte de droga para consumo pessoal (art. 28 da Lei n. 11.343/2006). Para a jurisprudência, não é possível afastar a tipicidade material do porte de substância entorpecente para consumo próprio com base no princípio da insignificância, ainda que ínfima a quantidade de droga apreendida.
STJ. 6a Turma. RHC 35.920-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/5/2014 (Informativo 541).
art. 44, CP.
Em geral, a prescrição dos crimes depende da pena cominada. E, a depender da pena máxima abstrata, a prescrição varia. Mas este art. 28 não comina PPL e então, a Lei 11.343/06 precisou, em seu art. 30, determinar um prazo prescricional fixo, que será de 2 anos sempre.
Art. 30.  Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.
0. Art. 33:
O caput desse art. pune o crime de tráfico. E, a partir do §1º temos o tráfico equiparado. Até aqui as penas são as mesmas (5 a 15 anos). A partir do §2º as penas já são diferentes (1 a 3 anos ou 6 meses a 1 ano).
O art. 33, caput pune o tráfico propriamente dito.
O §1º pune o tráfico por equiparação.
E os §§ 2º e 3º trazem o que a doutrina chama de formas especiais do crime.
O §4º traz um privilégio.
Por isso se diz que a lei nova trabalha com proporcionalidade. Na lei anterior todas essas condutas estavam sujeitas à mesma pena.
Vamos a análise do art. 33:
· Art. 33, caput:
Bem jurídico tutelado: temos aqui um bem jurídico primário, que é a saúde pública, e um bem jurídico secundário, que é a saúde individual de pessoas que integram a sociedade.
Sujeito ativo: em regra o tráfico é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Mas, no núcleo prescrever ele é crime próprio, só podendo ser praticado por médico ou dentista.
Sujeito passivo: a vítima primária é a sociedade, podendo com ela concorrer alguém prejudicado pela ação do agente (ex.: um inimputável que usou a droga).
Pergunta: vender droga para menor de idade configura o art. 33 da Lei 11.343/06 (pena de 5 a 15 anos) ou o art. 243, ECA (pena de 2 a 4 anos)? 
O art. 33 da Lei 11.343/06 tem como objeto material exatamente a droga, já o art. 243, ECA tem como objeto material produto cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica. Pelo Princípio da especialidade só configurará o art. 243, ECA se o produto não estiver contido na Portaria 344/98, como droga.
Ex. de produto que não está na portaria e configura o art. 243, ECA e causa dependência: cola de sapateiro.
Bebida alcoólica (ex.: cerveja) configura o art. 243, ECA? Existe discussão na jurisprudência quanto a isso (há quem afirme que só a bebida não causa dependência, o que causa é o seu uso exagerado).
Comportamentos punidos no art. 33, Lei 11.343/06:
O art. 33, §1º pude o tráfico por equiparação, prevendo uma punição com penas de 5 a 15 anos (igual à do caput).
O art. 33, §§ 2º e 3º traz as formas especiais do crime.
O § 2º tem punição com penas de 1 a 3 anos. Já o § 3º prevê punição com penas de 6 meses a 1 ano.
- Fornecer Drogas, ainda que gratuitamente:
Há uma discussão doutrinária sobre a cessão gratuita para juntos consumirem, fornecedor e consumidor.
	Antes lei de drogas
	Depois da lei de drogas
	- 1ª Corrente: configurava o art. 12, da Lei 6368/76.
- 2ª Corrente: configurava o art. 12, da Lei 6368/76, porém não equiparado a crime hediondo, por não estar caracterizada a mercancia.
- 3ª Corrente: não caracterizava tráfico, mas sim usuário (era a que prevalecia).
	- Pode configurar: art. 33, caput, ou art. 33, §3º.
→ Quem oferece droga eventualmente será responsabilizado pelo crime do art. 33, §3º.
→ Se houver objetivo de lucro haverá a incidência do caput.
→ Se o fornecimento for à pessoa de seu relacionamento haverá a incidência do §3º.
Quantos são os verbos núcleo do tipo? São 18. Há, pois, ai, um crime de ação múltipla ou conteúdo variado (crime plurinuclear). É importante essa diferenciação, eis que, se o sujeito ativo praticar mais de um núcleo, no mesmo contexto fático, o crime continua sendo único, devendo o juiz considerar a quantidade de núcleos na fixação da pena.
Sendo um crime de ação múltipla, na hipótese de o agente praticar mais de um verbo no mesmo contexto fático isso não desnatura a unidade do crime. O crime continua único. Todavia, faltando proximidade comportamental entre as várias condutas, haverá concurso de crimes.
É imprescindível que o agente pratique o núcleo sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Isso quer dizer que existem algumas pessoas que podem ter a autorização legal para o manejo de drogas ( art. 2º e art. 31).
Equivale à ausência de autorização o desvio de autorização, ainda que regularmente concedido.
Cabe o argumento do estado de necessidade? A jurisprudência não reconhece o estado de necessidade no tráfico. Dificuldade de subsistência por meios lícitos não justifica apelo a recurso ilícito, moralmente reprovável e socialmente perigoso.
A quantidade de droga não é suficiente para caracterizar o tráfico ou a posse para uso próprio. Art. 52:
Art. 52.  Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou
II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.
Há, pois, um rol de circunstâncias que deve ser considerado pelo juiz quando do momento da sentença. Não deve haver um apego à quantidade apenas.
O crime de tráfico será punido a título de dolo. É imprescindível que o agente saiba que a substância que ele mantém em depósito é proibida.
Consumação: o crime se consuma com a prática de qualquer um dos núcleos, independentemente de obtenção do lucro. Atenção: existem alguns núcleos cuja consumação se prolonga no tempo.
Esses crimes admitem flagrante a qualquer tempo. 
A prescrição só começa a correr depois de cessada a permanência. A superveniência de lei mais grave incide no caso, conforme determina a Súm. 711, STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou permanência”.
Pergunta: Esse crime admite tentativa? Prevalece que a quantidade de núcleos tornou inviável a tentativa. Os 18 núcleos são muito abrangentes, a ponto de não deixar brechas para eventual

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