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Uma mulher de fraque no Jornal das Moças: Uma leitura da imagem na moda feminina. A cutaway woman in the Journal of Jornal das Moças: An image reading in women's fashion. Celso Sánchez (Professor Adjunto GEAsur, UniRio) celso.sanchez@hotmail.com Léa Maria Schmitt Leal (Pesquisadora GEAsur, UniRio) lea.schmittleal@yahoo.com.br Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a capa da publicação Jornal das Moças de 1917 aonde aparece uma mulher de fraque, para tanto foi efetuado o levantamento histórico e de imagens junto a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Pontuando como a política de gênero pôde refletir na cultura das aparências a moda feminina e como a prática do vestir influenciou a emancipação da mulher no período referido. Abstract: This project aims to analyze the cover of the Journal of Jornal das Moças in 1917 where it appears a cutaway woman, for that was made the historical survey in the subject, and of its images from the National Library of Rio de Janeiro. Punctuating how the gender policy can refletc Woman´s policy in the culture of appearances could reflect the culture of appearances women's fashion and how the practice of dressing influenced the emancipation of women in that period. Introdução: O que o presente artigo propõe e ́um estudo detalhado sobre a potência da roupa e da moda como plataforma privilegiada para pensar as sociedades, seus conflitos, hierarquias, rupturas e permanências. Antes de discorrer sobre o tema feminismo é preciso voltar na história e observar o papel que as mulheres exerciam no mundo para compreender a atual situação do feminismo, sendo necessário desta forma, conhecer como e em quais situações as mulheres viveram para então entender porque foi preciso lutar por sua liberdade profissional. Em relação as roupas, a sua trajetória está ligada ao seu processo histórico nas sociedades. O significado de cada roupa, adorno, ornamento se faz significante de acordo com delimitação temporal e o recorte dentro dos limites de cada sociedade. Problematizando o uso da indumentária feminina como meio de discurso de inserção e empoderamento das mulheres ao meio público, cotidiano e político onde por meio de uma capa de revista, será possível visualizar tal empoderamento. A personagem a qual propomos analisar neste artigo se chamava Aida Regina Borges, farmacêutica pela Universidade de Medicinada do Rio de Janeiro. Infelizmente na publicação não obtemos uma maior descrição para uma melhor pesquisa histórica. Mas pelo pouco que foi descrito pela revista Jornal das Moças, foi que a mesma seria filha de oficial da armadura brasileira, solteira e integrada na sociedade da época. Madeleine Ginsburg (1989) identifica gravata como a peça principal do uniforme feminista. Notamos pela imagem de capa da publicação é a altivez da figura retratada, sendo que a mesma se encontra em primeiro plano, com os cabelos presos e usando um fraque, peça usualmente masculina demostrando toda a emancipação feminina em uma publicação tradicional. A forma gráfica das letras e números não são decorativas, muito pelo contrário, são todas em caixa alta para a construção da imagem da mulher moderna e independente. Podemos alegar que usar os elementos de estilo alternativo como gravata, colete, chemisier, paletó demostravam uma posição de manifesto mais rígida. Mas além de ser um manifesto era Moda, e Diane Crane (2006) se pergunta em seu texto como os elementos mailto:celso.sanchez@hotmail.com mailto:lea.schmittleal@yahoo.com.br masculinos eram percebidos pelas mulheres que o adotaram no período. Toda época tem suas discursões sobre o vestuário, entre os que aceitam as normas vigentes e os que desejam e almejam que estas normas tomem uma nova direção. É interessante, como aponta a socióloga Crane (2006) as mudanças muitas das vezes ocorrem mais por fatores externos aos proponentes, como economia, tecnologia, mudanças sociais do que pelos seus discursos. Figura 1. Capa do jornal das Moças Jornal. Ano IV. Nº 125, p. 01 Ano 1917. Hábito ou maneira de ser, atitude ou modo de vida, a moda pode ser vista como uma manifestação cultural dinâmica que torna possível não apenas as alterações dos gostos os quais se expressam por meio do vestir sinalizando e carregando consigo marcas distintas através dos quais os sujeitos se relacionam. Alegaremos desta forma, que a indumentária tem um potencial simbólico próprio, e através da visualidade da imagem feminina, podemos referenciar as questões de gênero, período, identidade, comportamento e a personalidade do sujeito retratado. Resgatando e analisando historicamente o discurso da publicação e o inserindo como objeto de seu tempo. Podemos assim, ter um parâmetro de como na imagem do referido periódico, se delinearam as relações com o feminino e a questão do empoderamento. As revistas femininas são importantes fontes de pesquisa para o estudo da evolução da mulher dentro sociedade, para este artigo os principais recursos utilizados para o corpo da pesquisa foram: os livros, para situar historicamente o rumo da pesquisa; os artigos e a fotografia da publicação Jornal das Moças, encontrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O Jornal das Moças era um caderno ilustrado produzido na cidade do Rio de Janeiro no século XX (maio de 1914 a dezembro de 1968) e distribuído nacionalmente, seu conteúdo trazia informações sobre moda, culinária, comportamento, dicas de beleza e também anúncios de produtos variados como lingerie, remédios e filmes. No seu interior o Jornal das Moças trazia 44 páginas com textos, artigos, ilustrações e fotos. Para o historiador a análise e a pesquisa nas imagens do passado tem como finalidade a busca das sociedades que a produziram, possuem um potencial simbólico pois, através da visualidade das imagens apresentadas no periódico e a especificidade das fotografias de moda oferecem assim, a possibilidade de reconstrução histórica do comportamento e da personalidade feminina. Conseguimos ter um parâmetro social, econômico, político e tecnológico de um determinado período tornando-a assim, um parâmetro social, pois como ocorreu essa reapropriação da mesma junto a um meio tecnológico. Pretendemos analisar neste trabalho, de que maneira a identidade de uma capa foi capaz de referenciar a construção no imaginário coletivo e para o empoderamento. Pois não há sociedade senão por um fundo de ideias e de desejos em comum, é a semelhança entre os seres que institui o elo da sociedade. As roupas se tornam assim, uma presença visual do imagético na constituição e permanência da memória. Podemos pontuar que as mulheres do século XXI obtiveram a confirmação que ocorreram várias lutas pela libertação feminina no século XX, desta forma, as mulheres galgaram respeito e espaço no mercado de trabalho graças a participação de mulheres que se associavam mais ativamente na vida pública, socialmente, culturalmente e em menor grau, politicamente. Esses lugares concretos manifestaram um certo afastamento do lugar social tradicional destinado às mulheres em geral: o lar. Na primeira metade do século XIX, as mulheres voltaram a conquistar seu espaço no nível social, cultural e econômico. Para a autora Fujisawa (2006. p. 28) “ com a revolução industrial elas retornaram ao trabalho e no final do século XIX, eram a maioria nas indústrias têxteis. No entanto começava o preconceito quanto a mulheres casadas”. Durante vários séculos de nossa história, a função da mulher foi a de dona do lar, obediente ao marido e responsável pelos cuidados dos filhos, Segundo Novais e Sevcenko (1998) essa forma de educar nascia de uma crença que a natureza feminina dotada de uma predisposição biológica para as funções da vida do lar que consistia em casar, gerar filhos para a pátria e plasmar o caráter dos futuros cidadãos. Para Bauer (2001. p. 60) “as tarefas desempenhas pelasmulheres no âmbito do lar deixaram de ser consideradas trabalho, solapadas pela ideia de amor, de felicidade familiar e doméstica”. Paralelamente cresceram a participação feminina no mercado de trabalho na cidade do Rio de Janeiro. Existiam mulheres que lutavam para soltar as amarras do tradicionalismo, simplesmente por terem o desejo e o objetivo pelo reconhecimento social, profissional e pela emancipação. Para Bessanezi, Resgatando, analisando e comparando os discursos destas revistas podemos ter uma ideia de como se delinearam as relações homem- mulher em seus diversos aspectos, que vão desde a preparação de “destino feminino” até a convivência entre marido e esposa, passando pelas expectativas e imposições sociais, pelas idéias de felicidade, por insatisfações e decepções, pelos jogos de poder articulados em forma de dominação/submissão, de resistência e de convivência e de complementaridade. (BASSANEZI, 1996, p.12). A aparência era então um dos princípios de identificação da “mulher moderna” ou da futura mulher moderna. A importância conferida à aparência feminina é crucial para a noção de mulher moderna na concepção da elite, pois, era a forma mais direta de tornar visível a identidade moderna da mulher e do grupo social a qual pertencia. A imagem aparente modernizada desta mulher retratada na capa da publicação associada a modernização da cidade constrói esta imagem que pode ser compreendido não apenas como um modo moderno de formatar a fotografia. Nessa imagem fotográfica, a combinação de rigidez e “fragilidade” e a utilização de uma peça masculina nos oferece a possibilidade de interpretar a sua finalidade , o que efetivamente a imagem foi produzida para ser – a exposição de uma imagem moderna desta mulher representante da elite brasileira; como também a de lhe dar outra interpretação que nada tem a ver com a sua finalidade – mesmo havendo desejo para que o lugar social da mulher, principalmente da elite, fosse emancipado, a estrutura rígida e segmentada da sociedade seria sempre o limite ultimo para suas aspirações de emancipação. O papel secundário dado à mulher durante séculos proporcionou-a encontrar formas de superação diante dessa anulação da sociedade. Inventar novas formas de vestir e se comportar, foram caminhos encontrados pelo ser feminino de se auto afirmar e de participar da vida social de maneira mais relevante e visível. A seguir tentaremos mostrar historicamente como ocorreram as transformações dos primeiros vinte anos do século XX para a mulher e como a mesma buscou uma saída ao se deparar com as responsabilidades e transformações causadas por uma mudança social, cultural, arquitetônica e política. Este trabalho pretende refletir sobre a conquista da cidadania feminina, envolvendo o processo de desenvolvimento das questões de gênero para o empoderamento feminino junto à capa de uma revista tradicional carioca, garantindo igualdade de oportunidades e de direitos. Moda e Arquitetura O fenômeno da moda sempre esteve ligado ao desenvolvimento das cidades. A partir do século XX na cidade do Rio de Janeiro viu-se uma transformação arquitetônica, social e cultural. Tal modernidade estava presente nos novos hábitos de consumo e as novas formas do pensar social, surgidas para alavancar o progresso social. Na segunda metade do século XIX, a moda foi reinventada, contribuindo para algo novo e diferente. A sociedade de massa começava a se constituir e a cidade adquiria novo sentido para o desenvolvimento da produção e da dominação social. Como podemos perceber, a moda não é uma decisão ou intervenção tomada por indivíduos ou grupos. Ela é uma construção, uma interferência objetiva e estimulada no mundo social e comportamental, uma intervenção externa e intencional valorizada na perspectiva sobre o passado, empenhada em superá-lo, e que remete a uma interpretação do presente, passado e do futuro. O Rio de Janeiro do fim do século XIX e início do século XX, enfrentava graves problemas sociais, acentuados pelo rápido e desordenado crescimento. Com o declínio do trabalho escravo, a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e de ex-escravos, atraídos pelas oportunidades de trabalho assalariado. A explosão demográfica e, sobretudo, o aumento da pobreza, agravaram a crise habitacional que perdurava desde meados do século XIX. Na Cidade Velha e suas adjacências, área central do Rio, o problema era mais acentuado, pois ali se multiplicavam as habitações coletivas e eclodiam as violentas epidemias de febre amarela, varíola e cólera-morbo que conferiam à cidade fama internacional de porto sujo. Este quadro favorecia o discurso articulado dos higienistas sobre as condições de vida na cidade, os quais propunham intervenções drásticas para a restauração do equilíbrio da cidade, vista como um “organismo doente”. O primeiro plano urbanístico para o Rio de Janeiro foi elaborado entre duas epidemias muito violentas (1873 e 1876), mas graças à estabilidade político-econômica, a duras penas alcançada no governo Campos Sales, Rodrigues Alves pôde promover, entre 1903 e 1906, o ambicioso programa de renovação urbana da capital. Apoiada nas ideias de civilização e beleza, de regeneração física e moral, a reforma urbana, tratada como questão nacional, sustentou-se no tripé: saneamento, abertura de ruas e embelezamento, e objetivou a atração de capitais estrangeiros para o país. Com a reforma, houve intensa valorização do solo urbano da área central, determinante na expulsão da população de baixa renda ali concentrada. Cerca de 1.600 velhos prédios residenciais foram demolidos. O período que ficou conhecido como "Belle Époque", mais especificamente no período da gestão de Pereira Passos, 1902 a 1906, prefeito na cidade do Rio de Janeiro, então Capital da República, os meios de valorização da cidade, tanto nos aspectos arquitetônicos como na vida privada de seus cidadãos, foram expostos e exibidos na busca de um objetivo comum, a igualdade entre os moradores e visitantes. Implicaram um novo pensar da sociedade carioca. E a representação máxima desta nova cidade que surgia seria mais tarde, a recém-inaugurada, Avenida Central, futura Rio Branco, Andrzejewski,(2006, p. 60) “onde o “mostrar” se tornaria uma prática válida na configuração política, econômica, cultural e, sobretudo, social da cidade”. Desfilar os modelos comprados nas boutiques da área central, tornou-se atividade permanente social e cultural da nova cidade que surgia. Para Gilda de Mello e Souza (p. 34) existe uma imensa relação entre as formas que a arquitetura de uma determinada época utiliza e as formas estampadas na moda demostram estarem correlacionados com o espirito do tempo. Tanto a arquitetura quanto a moda distinguem-se por estarem em eterna mudança. As transformações de Pereira Passos redesenharam a cidade e a transformaram, com as suas devidas ressalvas, em uma pequena Paris dos trópicos. Pois Paris era o modelo a ser seguido cultural e comportamental, desta forma a reforma urbana implementada por Pereira Passos representou um esforço de modernização para cidade. Para os autores Pereira e Jr. (2006, p. 08). “Dentro de uma perspectiva ideológica pragmático positivista e de evidente compromisso com os capitais franceses e ingleses, a “cidade colonial” cedeu lugar, de forma definitiva, à “cidade burguesa”, moderna, do século XX, que tinha como parâmetros as metrópoles europeias”. Foi no fim de sua administração que a cidade ganhou o título de "maravilhosa". Podemos afirmar com posicionou, Gilles Lipovetsky (2014, p. 311) “não há sociedade senão por um fundo de ideias e de desejos comuns é a semelhança entre os seres que institui o elo da sociedade”. Contextualizada com as mudanças impostas pela administração da Nova República no início do século XX no Rio de Janeiro, nos permite afirmar que a moda se tornou uma presençaconstante na sociedade média e alta carioca. A moda encaminhou a mudança nos indivíduos e nos grupos, nas subjetividades e nas relações e comportamentos sociais, enquanto as reformas garantiam a continuidade dos interesses, estratégias, alianças e modelos relacionais e o fortalecimento do Estado e das instituições no controle, na disciplina e na hierarquização da sociedade Gibson Gils As Gibson Girl foram consideradas o primeiro ideal de beleza feminina nos Estados Unidos, Europa e América do Sul. Criada pelo artista Charles Dana Gibson (1867–1944), Gibson Girl apareceu em várias revistas e reproduções, tornando-se um dos ícones do século XIX e XX. Na Primeira Guerra Mundial, o corpo e as características aristocráticas das garotas eram consideradas como um modelo que muitas jovens desejavam copiar, um retrato romântico dos traços femininos. Também foi uma das primeiras pin-ups. Além de alta e magra, mas com formas, ela usava espartilho. Exibiam um nariz e boca pequena bem desenhados, mas seus olhos eram grandes. Elegante e bem vestida, correspondia com a imagem de uma senhora bem-educada. Figura 2. Imagens de Desenho das Ginbson Girl. Imagemretirada pesquisa internet. Em: http://www.torontopubliclibrary.ca/ve/fashion/gibson.jsp. http://www.torontopubliclibrary.ca/ve/fashion/gibson.jsp As “Gibson Girl” representavam no final do século XIX e início XX a imagem completa da moda, da beleza e do êxito social. As mulheres que se auto intitulavam desta forma, buscavam também uma certa independência e realização pessoal. Eram mulheres e jovens da burguesia e da alta sociedade que não abandonavam os seus estudos e viagens, desejavam que fossem elas a escolherem os seus futuros maridos, podemos afirmar que foram as primeiras “feministas” na sociedade ocidental, coloquei entre parentes tal terminologia pois as mesmas estavam inseridas dentro das amarras sociais vigentes na época. Obviamente, elas não possuíam total liberdade, mas para uma sociedade a qual, onde a maioria da população ainda era analfabeta, essas mulheres deram os primeiros passos para aquilo que veríamos a conhecer socialmente como as sufragistas, desportista, auto-confiante, sorriam com frequência, mas não costumavam rir, sempre mantendo uma certa distância. Com o aumento das sufragistas, e as transformações da sociedade culturalmente e arquitetonicamente, a moda mudou consideravelmente. Logo ficaram para trás os corsets, a favor dos vestidos curtos e sem formas. Na década de 20 a Garota Gibson foi ultrapassada em comparação com a moda de melindrosas. Com base nos ideais tradicionais de beleza feminina, Gibson criou uma imagem muito peculiar da mulher perfeita. O empoderamento Feminino as Sufragistas e o direito ao voto feminino. O empoderamento feminino, é o empoderamento das mulheres, que traz uma nova concepção de poder, assumindo formas democráticas, construindo novos mecanismos de responsabilidades coletivas, de tomada de decisões e responsabilidades compartidas. O empoderamento feminino é também um desafio às relações patriarcais, em relação ao poder dominante do homem e a manutenção dos seus privilégios de gênero, é uma mudança na dominação tradicional dos homens sobre as mulheres, garantindo-lhes a autonomia no que se refere ao controle dos seus corpos, da sua sexualidade, do seu direito de ir e vir. Nunca tal temática, e podemos supor, já existir a muitas décadas, pois desde o movimento sufragista pós- revolução Industrial no século XIX a qual as mulheres exigiam o direito ao voto, tal tema esteve tão atual nos nossos dias. A moda foi e sempre será reflexo de uma determinada sociedade, pois a moda feminina passou por diversas transformações sendo incorporada ao vestuário feminino, peças masculinas. Pois a roupa será sempre expressão das tensões sociais e econômicas em uma sociedade. Conforme Mello e Novais: No séc. XIX, as classes proprietárias e a classe média abonada viveram “sob a obsessão dos olhos dos estrangeiros”. (...) Foi essa preocupação ou temor do brasileiro diante do inglês ou do francês, de quem se acha inferior diante de quem se afirma superior, que desencadeou, já no início do século XIX, a cópia febril dos estilos de consumo e de vida próprios ao capitalismo desenvolvido. Já do final do século XIX em diante, e acentuadamente a partir dos anos 50, o grande fascínio, o modelo a ser copiado passa a ser cada vez mais o American Way of life. (MELLO e NOVAIS 1998, p.604). Desta forma cresceu a participação feminina no mercado de trabalho na cidade do Rio de Janeiro. Existiam mulheres que lutavam para soltar-se das amarras do tradicionalismo, simplesmente por terem o desejo e o objetivo pelo reconhecimento social, profissional e pela emancipação. Para Bessanezi, (2002 p. 12). Resgatando, analisando e comparando os discursos desta revista, podemos ter uma ideia de como se delinearam as relações homem-mulher em seus diversos aspectos, desde aquele período já se pontuava a participação das sufragistas nas revistas da época, pois mesmo em uma revista tradicional como Jornal das Moças, já se pronunciavam quanto a questão do voto feminino e o progresso social e cultural. Percebemos neste determinado artigo publicado na mesma revista que saiu na capa a mulher de fraque e cabelos presos; não obstante este artigo analisar a questão da mulher ter o direito ao voto pelo progresso social a qual o Rio de Janeiro se encontra, pontuaram em determinado momento que os policias de nossa terra nada fariam às nossas mulheres, pois as mesmas são seres “frágeis “ e conciliadores”. Percebe-se que ao mesmo tempo, no determinado artigo pontuaram a questão do progresso e mudanças culturais e comportamentais que estavam ocorrendo na sociedade carioca, paralelamente, percebesse ainda o embotamento ou melhor colocando o tradicional modo de ser para a mulher da época culturalmente e socialmente, onde o ser feminino era frágil, delicado e do lar. Existiam imposições sociais, pelas ideias de felicidade, por insatisfações e decepções, pelos jogos de poder articulados em forma de dominação/submissão, de resistência e de convivência e de complementaridade. Figura 2. “A Mulher e o direito ao Voto”. Jornal das Moças. Ano IV.Nº 125, p. 14. Ano 1917. A função das revistas feministas, projetavam mulheres que se percebiam e se faziam notar por intermédio de discursos que construíam a sua subjetividade na ordem do privado: diários, memórias e escritos íntimos, gêneros discursivos de escrita em si e que juntamente com os figurinos, tentavam normatizar a conduta feminina em seus múltiplos papéis. Para a autora Gilda de Mello e Souza, define no seu livro O espirito das Roupas, que a moda e´ uma Arte extremamente comprometida pelas injunções sociais do momento, e alega (1987, p. 50) “(..) para que possamos compreende-la em toda a sua riqueza, devemos inseri-la no seu momento e no seu tempo tentando descobrir as ligações ocultas que mantém com a sociedade”. A doutora Generoso Estrela é entendida por Hahner como uma feminista brasileira que lutou pelos direitos civis das mulheres, tendo exercido influência nos debates travados pela intelectualidade brasileira do século XIX que levaram D. Pedro II a assinar a Reforma Leôncio de Carvalho, decreto n.º 7247, abrindo as portas do ensino superior às mulheres no Brasil, em 19 de abril de 1879. Segundo a autora, a primeira médica brasileira, formada nos Estados Unidos, foi fonte de inspiração para outras mulheres dispostas a enfrentar um mundo masculino e hostil à entrada de mulheres nesse universo. Hahner (2003) mostra também que as mulheres pertencentes às elites dominantes brasileiras, que almejavam ser médicas, defrontaram-se com os preconceitos dos homens de sua própria classe social. Ainda que o feminismo político da época não houvesse se limitado apenas ao sufragismo, esta foi sua principal tendência e o que provocouas reações mais violentas por parte dos opositores. O voto feminino havia sido discutido na Assembleia Constituinte de 1891, sendo considerado para Miriam L. Moreira “o caminho da dissolução da família brasileira, pois, para a maioria dos deputados dessa assembleia, era indiscutível e inapelável o papel da mulher no lar e na família e o sufrágio feminino parecia-lhes uma ousadia “anti-social”. Abrir a possibilidade de voto às mulheres seria admitir-lhes a capacidade de pensar os rumos políticos da nação e de exercer atividades de cunho público, campo destinado apenas aos homens. Sem se intimidarem com as campanhas anti-sufragistas que se encontravam em todas as partes, surge no Rio de Janeiro de 1910 o Partido Republicano Feminino. Fundado pela professora Deolinda Daltro, o partido tinha como objetivo ressuscitar no Congresso Nacional o debate sobre o voto da mulher (abandonado desde a Assembleia 1891). Sete anos após sua fundação, em 1917, o Partido Republicano Feminino chegou a organizar uma passeata na capital do país à fim de reivindicar o direito ao voto feminino. Ainda que este direito não fosse conquistado naquele ano, obteve-se outra conquista no campo do trabalho e a mulher brasileira passou a ser aceita no serviço público do Brasil. No ano de 1919 outro passo significativo em prol do sufrágio universal é dado com a criação da Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher que, no ano de 1922, acabou por se transformar na Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF). O movimento de mulheres começava a tomar força, (BEM98. p 2). “Por iniciativa de alguns intelectuais, que estudaram no exterior e ao regressarem difundiram ideias emancipacionistas”. Historicamente ainda teríamos que aguardar algumas décadas para podermos termos assegurado o direito ao voto. Somente em 3 de maio de 1933, a mulher finalmente teve o direito de votar pela primeira vez em todo território nacional. Em 3 de maio de 1933, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, a mulher brasileira, pela primeira vez, em âmbito nacional, votou e foi votada. A luta por esta conquista durou mais de 100 anos, pois o marco inicial das discussões parlamentares em torno do tema começou nos debates que antecederam a Constituição de 1824, a qual não trazia qualquer impedimento ao exercício dos direitos políticos por mulheres, mas, por outro lado, também não era explícita quanto à possibilidade desse exercício. O exercício desses direitos foi introduzido no ano anterior, com a aprovação do Código Eleitoral de 1932, que, além dessa e de outras grandes conquistas, instituiu a Justiça Eleitoral, que passou a regulamentar as eleições no país. Conclusões finais. O início do século XX na cidade do Rio de Janeiro, foi um período permeado de mudanças, conflitos e de um novo modo de ver e perceber a cidade. A nova cidade que se apresentava aos moradores e visitantes mostrava uma cidade mais europeizada paralelamente as colunas de comportamento e capas sugeriram uma mudança comportamental. A moda e a indumentária, portanto, não são apenas meios pelos os quais os grupos sociais se constituem mas comunicam suas identidades. Fica evidente na capa da publicação a intenção de mostrar uma atitude ousada para a época, demostrando os movimentos sociais para a emancipação da mulher e o direito ao voto que estavam ocorrendo no período referido. Pois sair numa capa com um traje tipicamente masculino com cabelos presos eram, pois, um elemento representativo do desejo de emancipação no início do século passado em uma publicação tradicional, demostra nitidamente o desejo pela emancipação e da liberdade social e cultural para uma cidade moderna e cosmopolita para os padrões vigentes da época. Pois nos dias de hoje o trabalho é visto como um meio de socialização e um caminho para a efetiva emancipação da mulher. Mas no início do século passado, esta realidade era distinta, mulheres de classes pobres e imigrantes integravam a força de trabalhos nas fabricas, mas raras eram as vezes que tais imagens apareciam nas publicações. Mesmo a fotografia de uma mulher independente da elite, eram também muito raras; o principal determinante para a pouca representatividade do trabalho era que a expectativa de emancipação da mulher esbarrava na herança do passado colonial e patriarcal. Como tradicionalmente, o lugar da mulher continuava sendo o lar, os afazeres sociais, o trabalho estava abaixo do dito “normal” para a mulher. Hahner (2003) alega que isto foi reforçado pelo código civil de 1916, que ainda reduziu a inserção das mulheres nas fabricas, pois legalmente era necessário ter a autorização do marido às mulheres casadas que desejavam trabalhar fora. Quanto a mulheres da elite, as mesmas estiveram mais subordinadas do que as dos setores populares. Devido a posição econômica que ocupavam, a mesma lhe davam privilégios de usufruir as novidades dos tempos modernos, que em contrapartida, eram economicamente tolhidas no espaço e experiência das mulheres da camada social desfavorecida. Dentro desse discurso comum na época, procuramos tirar partido dos conceitos abordados da valorização feminina e os movimentos que permearam o início do século passado, onde a mulher tentou se livras das amarras da cultura e do ser tradicional. A moda teve sua parcela de contribuição tanto na cultura feminina de opressão quanto na libertação da mulher, hora ela funcionava como uma forma modeladora da mulher perfeita hora funcionava como um princípio libertador que a masculinizava e tornava apta para competir com o homem no mercado de trabalho. Devemos lembrar que em tal publicação, havia um público a atingir, tendo um papel especifico difundindo uma ideia de padrão comportamental no imaginário coletivo destinado à sociedade vigente, que reconhece e entende as suas mensagens. Desta formam percebe-se a importância da capa em questão para quebra de determinados tabus vigentes na época e de um modo de ser aceitável para as mulheres, ao mesmo tempo, que a revista e coluna de comportamento descreveram um novo tipo de comportamento mais adequado com seu tempo, essas mesmas colunas sugeririam a manutenção de um modo de ser tradicional, segundo eles próprios, já antiquado. Na verdade, o que muda e o que é importante neste momento é a imagem dessa nova mulher empoderada e social. Referências. Livros: BESSANEZI, Carla. Mulheres dos Anos Dourados. In PRIORI, Mary de (org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo. Contexto, 2002. P. 607-639 CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: SENAC, 2006. FUJISAWA, Marie Suzuki. Das Amélias às mulheres multifuncionais: a emancipação feminina e os comercias de televisão. São Paulo. Summus Editorial, 2006. HAHNER. June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil., 1850-1940. Florianópolis. Ed. Mulheres santa cruz do sul: EDUNISC, 2003. HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos. O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. GINSBURG, Madelaine. Paris Fashions: The Art Deco Style of the 1920's. Gallery Books, 1989. LEITE, Miriam Lichtz Moreira. Outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura. São Paulo. Atica, 1984. LIPOVETSKY, Gilles. 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