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7 A intersetorialidade nas publicações acerca do centro de atenção psicossocial infantojuvenil

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56Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de 
Atenção Psicossocial Infantojuvenil
Intersectional in publications about the Children and Youths Psychosocial Care Center
La intersectorialidad en las publicaciones acerca del Centro de Atención Psicosocial 
Infantojuvenil
Ednéia José Martins Zaniani* 
Cristina Amélia Luzio** 
Resumo
A atual política de saúde mental infantojuvenil propõe que as ações 
nesse campo devam se somar a várias outras, para que, num processo de 
diálogo intersetorial permanente, garanta-se integralidade dos cuidados, 
como pleiteia o paradigma da atenção psicossocial. Neste trabalho, 
refletimos sobre o lugar da intersetorialidade nas produções científicas 
da última década divulgadas em periódicos brasileiros, bem como a 
concepção de saúde mental que essas revelam. Para tanto, analisamos 
14 artigos indexados que tratavam dos Centros de Atenção Psicossocial 
Infantojuvenil (CAPSi). Observou-se, em grande parte das publicações, 
a primazia do olhar clínico-individual, sinalizando o entendimento de 
que a saúde mental é uma categoria ontológica, universal, dependente 
dos mecanismos intrapsíquicos do sujeito. Alguns estudos referenciam a 
intersetorialidade, sem, contudo, colocá-la em debate. Concluímos que, 
se as ações do CAPSi não podem prescindir às outras, tampouco tal discussão 
pode passar inadvertida e não problematizada nesse meio científico.
Palavras-chave: Criança. Adolescente. Atenção psicossocial. 
Intersetorialidade. Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil. 
Abstract
Current children and youth mental health policy proposes that actions 
assumed in this field should be added to many others, so that, in a process 
of permanent intersectional dialogue integral care is assured, according 
to the Psychosocial paradigm. This paper reflects upon the intersectional 
place in the last decade scientific papers published in Brazilian journals, 
* Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências 
e Letras de Assis; docente na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá-PR. Endereço: Departamento de 
Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Avenida Colombo, 5.790, Maringá-PR, CEP: 87020-900, Brasil. 
E-mail: edapsi@hotmail.com.
** Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de 
Assis. 
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A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
and their Mental Health conceptions. We analyzed fourteen indexed 
papers which dealt with Brazilian Children and Youth Psychosocial 
Care Centers (CAPSi). Most of these publications focused on individual 
clinical watch suggesting that Mental Health is understood as a universal 
and ontological category dependent on the subject’s intrapsychic 
mechanisms. Some of these studies make reference to the intersectional 
matter, although it is not clearly discussed. In sum, we understood that 
the actions assumed by CAPSi cannot neglect others, and discussions 
should be seriously considered in the scientific field. 
Keywords: Child. Adolescent. Psychosocial attention. Intersectoral 
Children and Youths Psychosocial Care Center.
Resumen
La actual política de Salud Mental infantojuvenil propone que las acciones 
en ese campo deben sumarse a otras para que, en un proceso de diálogo 
intersectorial permanente, se garantice la integralidad de los cuidados, 
como defiende el paradigma de la Atención Psicosocial. Reflexionamos 
aquí sobre el lugar de la intersectorialidad en las producciones científicas 
de la última década divulgadas en los periódicos brasileños así como 
el concepto de Salud Mental que revelan. Analizamos catorce artículos 
que trataban de los Centros de Atención Psicosocial Infantojuvenil 
(CAPSi). Se observó en gran parte de las publicaciones la primacía de 
una mirada clínico-individual, señalando el entendimiento de que la 
Salud Mental es una categoría ontológica, universal, dependiente de los 
mecanismos intrapsíquicos del sujeto. Algunos estudios hacen referencia 
a la intersectorialidad, pero sin colocarla en debate. Concluimos que si 
las acciones de los CAPSi no pueden prescindir de las otras, tampoco tal 
discusión puede pasar inadvertida y no problematizada en este medio 
científico.
Palabras clave: Niño. Adolescente. Atención psicosocial. 
Intersectorialidad. Centro de Atención Psicosocial Infantojuvenil.
Introdução
Discutir saúde mental infantojuvenil demanda revisitar concepções e práticas que foram histórica, social e culturalmente construídas e reconhecer qual tem sido nosso compromisso ético-político com aquelas 
crianças e adolescentes que, em condição peculiar de desenvolvimento, já 
carregam o peso do estigma da anormalidade. O modelo manicomial resiste 
ao tempo e aos espaços, e concorre com os esforços que confirmam que é 
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Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
possível assistir sem segregar, como defendido pela atual Política Nacional de 
Saúde Mental no Brasil.
Busca-se a construção de um novo modelo, denominado “atenção 
psicossocial”. Definido como um conjunto de ações nos campos teóricos, 
técnicos, políticos e sociais, aptos a constituírem um novo paradigma 
para as práticas em saúde mental, não se trata apenas de uma mudança 
na assistência, mas um processo de transição paradigmática e, como tal, 
requer uma transformação estrutural em constante movimento, com 
a participação de diversos atores sociais. A atenção psicossocial, que 
deriva do Movimento da Reforma Psiquiátrica, constitui, portanto, um 
processo social complexo, que demanda que ocorram, a um só tempo 
e articuladamente, transformações nos campos: técnico-assistencial, 
teórico-conceitual, político-jurídico e sociocultural (Amarante, 2007; 
Costa-Rosa, Luzio & Yasui, 2003).
A atenção psicossocial requisita uma compreensão ampla do “sofrimento 
psíquico”, em substituição às denominações de doença mental, distúrbio 
mental ou transtorno mental. Pressupõe a superação das concepções 
ontológicas e compartilha da proposta basagliana, buscando uma inversão: 
colocar a doença entre parênteses para entrar em contato com a existência-
sofrimento do sujeito, como lembra Amarante (1996). Colocar entre 
parênteses supõe desnaturalizar “pré-conceitos”, “pré-juízos”, verdades 
estabelecidas da vida cotidiana. Saúde-doença é um processo dinâmico 
e contraditório, no qual se articulam situações complexas e singulares 
da existência humana (Dalmolin, 2006). O sofrimento psíquico não é 
um mero estado interno, mas decorre de práticas sociais que conduzem 
esse indivíduo a um estado de não adaptação, de perdas de sentido, 
confusões, descentramentos, sentimento de impotência e vazio. Nessa 
perspectiva, tal estado produz dificuldades para o sujeito conduzir sua 
própria vida. Porém, como o usuário é percebido como sujeito implicado 
em seu sofrimento, entende-se que ele é capaz de lidar com seu mal-
estar e produzir transformações. Para tanto, falar em saúde inclui falar da 
participação ativa do homem, na busca de melhores condições de vida e 
de melhor atendimento à saúde (Luzio, 2010). 
Compreende-se que o ato de cuidado é, do mesmo modo, amplo e 
complexo, reivindicando serviços diversificados, criativos e entrelaçados 
em uma rede. Requer, por conseguinte, a ruptura com a clínica 
psiquiátrica/psicológica tradicional ou das especialidades, calcada no 
paradigma doença-cura e no tratamento para a supressão dos sintomas e 
adaptação à realidade. Pretende-se uma clínica integral, territorializada, 
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inter e transdisciplinar, ou seja,a “clínica ampliada”. 
Preconiza-se a intersetorialidade, entendida como estratégia em que os 
diferentes setores sociais, com seus saberes e práticas precisam se articular 
e se integrar com vistas a orientar e garantir a integralidade do cuidado. 
Entende-se que as ações de cuidado ultrapassam aquelas implantadas 
pela política de saúde e incluem todas as dispensadas pelas diferentes 
políticas setoriais, instituições e serviços (educação, assistência social, 
cultura, esporte e lazer, justiça, etc.) que compõem a rede de relações do 
sujeito. Como ponderam Couto e Delgado (2010, p. 272), mesmo que 
sua operacionalização e tradução sejam distintas conforme o setor que a 
nomeia como prioridade, é 
[...] consenso apenas o reconhecimento de que práticas 
intersetoriais são necessárias no enfrentamento de problemas 
reais e complexos, frente aos quais as respostas calcadas em 
tradições setoriais ou estritamente especializadas não têm se 
mostrado satisfatórias. 
Para reiterar a importância da intersetorialidade como princípio dentro 
da atenção psicossocial, em junho de 2010, a IV Conferência Nacional de 
Saúde Mental Intersetorial teve como um dos temas de debate “Direitos 
humanos e cidadania como desafio ético e intersetorial”. Nessa conferência, 
reafirmou-se que o conceito de saúde mental é amplo demais para ficar 
como encargo somente da política de saúde (Ministério da Saúde, 2010). 
Tais premissas também inspiraram, como veremos adiante, a criação 
do CAPSi, que, como um dispositivo público estratégico, vem sendo 
arrolado aos avanços da Política Nacional de Saúde Mental e, para tanto, 
o CAPSi não pode se resumir a mais um serviço. Destarte, qual lugar 
ocupa a intersetorialidade nas publicações que se propõem a discutir e 
pensar o CAPSi? Este artigo nasce com o objetivo de investigar como esse 
que é concebido como princípio das ações voltadas à saúde mental na 
infância e adolescência foi divulgado em periódicos científicos no período 
de 2001 a 2011, apreendendo qual a concepção de saúde mental revela, e 
questiona se o conhecimento que vem sendo socializado se articula ao que 
propõe a atenção psicossocial. 
Antes de analisarmos o material encontrado na pesquisa, faremos 
uma breve recuperação teórica sobre parte da história da saúde mental 
infantojuvenil no Brasil, considerando que esta pode contribuir para que 
as ações preconizadas pela atual Política Nacional de Saúde Mental não se 
afastem do ideário que as gerou.
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Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
Da fragmentação das ações à proposta de construção de um novo 
modelo de atenção
A defesa da proteção social e do atendimento prioritário às crianças 
e adolescentes começou a ser escrita no Brasil na aurora do século XX. A 
instauração da República representou os esforços empreendidos para a 
consolidação do capitalismo, e uma multiplicidade de fatos (a substituição da 
mão de obra escrava pelo trabalho livre e assalariado, a imigração europeia, a 
explosão demográfica, o processo de urbanização e industrialização das cidades, 
etc.) deflagrava as transformações que ocorriam nas condições econômicas e 
sociais do País. A despeito do otimismo republicano, o quadro sanitário do 
País dava sinais de risco eminente, aumentava-se a pobreza, o desemprego e 
o abandono...
Em outro lugar (Zaniani, 2008), vimos que, diante daquelas contradições, 
os alicerces de uma sociedade em construção eram demarcados por médicos, 
juristas e educadores que reconheciam, no descaso com a causa da infância, a 
esfinge do País que aspirava à civilização. A inserção do Estado na formulação 
das políticas passava a ser reivindicada porque a infância se tornara objeto 
de esperança e a desassistência uma ameaça à manutenção da ordem social. 
Todavia, somente em 1934, iniciou-se o planejamento de uma política 
nacional de assistência à infância quando Getúlio Vargas criou a Diretoria de 
Proteção à Maternidade e à Infância, vinculada ao Ministério da Educação e 
Saúde Pública. Em 1940, inaugurou-se o Departamento Nacional da Criança 
que, como expressão do fortalecimento progressivo do Estado, orientou 
programas e projetos durante os 30 anos subsequentes à sua fundação.
Nas primeiras décadas do século XX, as preocupações políticas eram 
delineadas conforme concepções fragmentadas do público a ser assistido: 
o deficiente social ou pobre, o deficiente mental e o deficiente moral ou 
delinquente (Ministério da Saúde, 2005a). Antes de indicar a compreensão 
da existência de várias infâncias, o que observou foi a ascensão de projetos 
voltados à institucionalização de todas as que resguardavam o estigma do 
desvio e da anormalidade. Outrossim, quando nos referimos à saúde mental 
infantil, é preciso lembrar que as discussões acadêmicas que envolvem o 
tema surgiram com as primeiras teses em psicologia e psiquiatria quando 
inaugurado o primeiro hospital psiquiátrico brasileiro, o Hospício Dom 
Pedro II, em 1852. Nesse período, as crianças consideradas insanas dividiam 
o mesmo espaço dos adultos, pouco se conhecia sobre as doenças mentais 
infantis e não existia classificação que as diferenciassem quanto às formas e 
manifestações adultas (Ribeiro, 2006). 
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A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
As iniciativas de institucionalização psiquiátrica, já em finais do século 
XIX, eram acompanhadas por manifestos da imprensa, relatórios oficiais e 
artigos que denunciavam a precária assistência dada às crianças internadas no 
Hospício Nacional de Alienados. Com isso, em 1904, criou-se o Pavilhão-
Escola Bourneville, cuja intervenção visava ao ajustamento às normas sociais 
e à aprendizagem de hábitos (leitura, escrita e profissionalização), revelando, 
segundo Silva (2008), a concepção de criança como um ser sensível às 
influências externas que poderia ter suas condutas modificadas por meio de 
atividades ocupacionais. 
Igualmente, as primeiras décadas do século XX registram a preocupação 
dos membros do denominado Movimento Higienista. No século XIX, esse 
movimento ligava-se à busca por soluções aos problemas sanitários enfrentados 
pela população brasileira, mas, no século XX, desdobrou-se no Movimento 
de Higiene Mental, cuja preocupação maior voltava-se às doenças mentais 
e à sua prevenção (Machado, Loureiro, Luz & Muricy, 1978; Costa, 1989; 
Boarini, 2003). Mendonça (2006) lembra que, na década de 1930, pela 
iniciativa desse movimento, foram instaladas, em escolas públicas do Rio 
de Janeiro e de São Paulo, clínicas de orientação infantil, que se ocupavam 
de avaliações médicas e psicológicas para determinar o nível de inteligência, 
habilidades e personalidade da criança, com vistas a diagnosticar e prevenir 
possíveis desajustes mentais e comportamentais. Embora pudessem sinalizar, 
à época, alternativas ao modelo hospitalocêntrico, Lobo (2005 como citado 
em Beltrame, 2010) lembra que os hospícios permanecerão como única 
instituição especializada no atendimento aos denominados transtornos 
mentais, fossem esses adultos ou crianças. 
A saúde mental infantojuvenil na atenção psicossocial
A assistência à saúde mental infantojuvenil será, enfim, problematizada 
no conjunto dos debates que perpassarão os rumos político, econômico 
e social, em finais da década de 1970, acompanhando o movimento pela 
redemocratização do País. Em decorrência das mobilizações sociais da 
época, tivemos a promulgação da Constituição Federal em 1988, a criação 
do Sistema Único de Saúde (SUS) posteriormente, a criação do Estatuto da 
Criança e do Adolescente [ECA] (1990). Essa lei discorrerá sobre os direitos 
fundamentais (vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, 
cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária) 
Lei n. 8.069 (1990), e suas medidas protetivas não discriminarão mais 
nenhum segmentonem tomará uma classe social como exclusiva. A partir de 
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Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
então, crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos em sua condição 
cidadã, reivindicando-se para elas a prioridade absoluta na elaboração das 
políticas públicas sociais. Ao concebê-las como pessoas em condição peculiar 
de desenvolvimento, a tarefa de garantir condições para que este ocorra de 
maneira saudável é confiada ao Estado. 
O reconhecimento dos direitos fundamentais emaranha-se a outras 
reivindicações, que, na história da saúde mental brasileira, foram propostas, 
sobretudo, nas conferências de saúde. Como espaços de construção coletiva e 
democrática, muitos debates ali nascidos subsidiaram mudanças importantes 
na construção da atual Política Nacional de Saúde Mental. Trazendo um 
pequeno recorte desse processo, lembramos que, durante a II Conferência 
Nacional de Saúde Mental (CNSM), em 1992, os debates apontavam para 
os efeitos perversos da institucionalização de crianças e jovens. Segundo 
Luzio e Yasui (2010), um conjunto de deliberações da II CNSM se converteu 
posteriormente em portarias ministeriais e conquistas de espaços estratégicos 
que transformaram diretrizes e propostas do Movimento da Reforma 
Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial em uma política pública oficial. 
Com a III CNSM, realizada em 2001, determinar-se-ia a urgência de ações 
político-assistenciais no cuidado e tratamento de crianças e adolescentes. 
Nesse mesmo ano, a Lei n. 10.216, abordou de maneira geral a proteção 
e os direitos das pessoas “portadoras de transtorno mental” e redirecionaria 
o modelo assistencial, com a política passando a ter na esfera pública sua 
referência (Ministério da Saúde, 2005b). Em 2002, como desdobramento 
da III CNSM, por meio da Portaria nº 336/02, atualiza-se a Portaria nº 
224/1992 que criara o CAPS, ampliando e definindo novas modalidades, 
sendo CAPS I, CAPS II e CAPS III, CAPS Infantojuvenil CAPSi e CAPS 
álcool e drogas (CAPSad). Esse dispositivo arrolava consigo o desejo da 
construção de um novo modelo de assistência cujas ações deveriam se dar no 
território, produzindo vida e não mais prostração, promovendo cidadania, no 
lugar da desqualificação social, rompendo com a segregação e favorecendo a 
inserção social dos usuários (Luzio, 2011, pp. 148-149). 
Com o CAPSi, constitui-se, pela primeira vez, uma modalidade de 
assistência específica para o segmento infantojuvenil. Seu trabalho voltar-se-
ia àquelas crianças e adolescentes acometidas por grave sofrimento psíquico 
(psicóticos, autistas, neuróticos graves, etc.), bem como para o ordenamento 
da demanda infantojuvenil no seu território de abrangência. Sua função era 
consolidar-se como unidade de base para o processo de desinstitucionalização, 
efetivando um novo modelo de atenção. Para tanto, o CAPSi deveria ter suas 
ações orientadas por alguns princípios (Ministério da Saúde, 2005a), como 
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A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
o de que criança e adolescente “são sujeitos de direitos”, responsáveis por sua 
demanda, sintoma e sofrimento, devendo ser ouvidos e tratados singularmente. 
Outro princípio é o do “acolhimento universal”, em que toda demanda que 
chega deve ser acolhida, ouvida e respondida. Um terceiro princípio é o de que 
os encaminhamentos necessários deverão ser “implicados” - quem encaminha 
precisa se envolver e acompanhar o encaminhado. Outro princípio é que as 
ações devem primar pela construção permanente de uma “rede de cuidados de 
base territorial”, em que o território não diz respeito ao espaço, mas às relações 
significativas estabelecidas, compostas por diferentes pessoas e instituições. 
Por fim, um último e crucial princípio é o da “intersetorialidade”, cujas ações 
de caráter clínico devem se somar às dos vários serviços e recursos disponíveis 
no território, num processo permanente de diálogo, com vistas à garantia da 
integralidade dos cuidados. 
É nossa intenção sublinhar que esses princípios arrolam outra forma 
de pensar e intervir junto ao sofrimento psíquico. Sendo o ato de cuidado 
amplo e complexo, a clínica da atenção psicossocial deve ser clínica integral, 
territorializada, inter e transdisciplinar, ou seja, deve ser uma “clínica 
ampliada”. Muitos autores, como Onocko-Campos (2001), denominam 
clínica ampliada ao conjunto de ações de cuidados diversificadas e intensivas 
oferecidas aos usuários para sustentar o seu cotidiano, inclusive suas relações 
sociais. Ela é de responsabilidade de toda a equipe, solicita a expansão de seus 
limites para fora dos serviços de saúde, das salas de atendimentos, a fim de 
que as ações cotidianas de saúde mental não se restrinjam ao espaço físico 
do equipamento. Não se configura numa mera transposição das práticas 
especializadas já consagradas nas profissões “psi”, como a medicação e a 
psicoterapia, para outros lugares do espaço público, mas se constitui como 
uma clínica 
voltada para o sujeito e seu contexto sociocultural, centrada na 
interlocução e no livre trânsito do usuário em seu território, 
buscando a sua singularização e, consequentemente, a produção 
e o usufruto de todos os bens da produção social (Luzio, 2011, 
p. 164). 
Nesse sentido, a clínica ampliada seria uma derivação do radical Klin, 
[...] como inclinação, não para baixo, mas para os lados, no 
sentido de bifurcar, divergir, de buscar novos sentidos. Teríamos 
assim uma das acepções fundamentais que podem ser dadas 
às crises, alcançando uma dimensão criativa, oportunidades 
de transformação de estados e situações insustentáveis. Aqui, 
também, não se trata mais de uma clínica do olhar, mas da escuta, 
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Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
ou do “olhar” que vê além do sintoma. A clínica como encontro, 
capaz de produzir senso, sentidos; produção de sentidos, no lugar 
de reprodução; como lugar onde as identidades dos participantes 
já não estão predefinidas (Costa-Rosa, et al., 2003, p. 30).
Assim, evidencia-se que a atenção psicossocial demanda que as ações 
em saúde mental não se restrinjam apenas a um grupo de profissionais. 
A interdependência dos saberes é a base da atenção psicossocial que pode 
contribuir para superação do “Paradigma psiquiátrico hospitalocêntrico e 
medicalizador” (Yasui & Costa-Rosa, 2008, p. 31). 
Metodologia
Para levantar as publicações que tratavam do CAPSi no Brasil entre os anos 
de 2001 e 2011, recorremos às fontes de busca (Google Scholar), além de 
consulta às bases de dados (Scielo, PePSIC e Lilacs). Essa busca foi de caráter 
exploratório e não sistemático, utilizando como descritores as palavras “centro 
de atenção psicossocial infantojuvenil”, “CAPSi”, “serviços substitutivos 
saúde mental”. Optamos por consultar bases que divulgam artigos científicos 
em detrimento daquelas que trabalham com outras modalidades de produção 
científica (teses, dissertações, livros e resumos em anais de eventos), uma 
vez que, na atualidade, os artigos indexados têm se constituído dos mais 
importantes meios de socialização e divulgação científica. 
Nesse levantamento, foram localizados 14 artigos que tratavam diretamente 
do CAPSi, sendo que 6 destes eram relatos de práticas/experiências (Schmid, 
2007; Rosa, 2008; Ronchi & Avellar, 2010; Bontempo, 2009a, 2009b; 
Brandão, 2009), 5 relatavam pesquisas com profissionais do CAPSi e 
usuários (Mânica & Tessmer, 2007; Falavina & Cerqueira, 2008; Scandolara, 
Rockenbach, Sgarbossa, Linke & Tonini, 2009; Quaresma, Silva & Quaresma, 
2011; Reis et al., 2009) e 3 eram estudos descritivos que traçavam perfis de 
usuários e do serviço (Hoffmann, Santos & Mota, 2008; Delfini, Dombi-
Barbosa, Fonseca, Tavares & Reis, 2009; Dombi-Barbosa, Bertolino, Fonseca 
& Reis, 2009).Com vistas à elucidação do lugar ocupado pelo princípio da intersetorialidade 
e qual concepção de saúde mental trazem subjacente, o material encontrado 
foi lido separadamente e, posteriormente, selecionados para análise somente 
aqueles artigos que tinham o CAPSi como foco principal de discussão. Para 
a análise desse material, recorremos a estudos que apoiam a atual política 
de saúde mental e se inspiram na lógica da atenção psicossocial (Amarante, 
2007; Ministério da Saúde, 2005a; Ministério da Saúde, 2005b; Costa-Rosa 
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et al., 2003; Luzio, 2010, 2011; Yasui & Costa-Rosa, 2008, entre outros). 
A proposta deste trabalho se justifica porque, entre os obstáculos apontados 
para o processo de construção de um novo modelo de assistência, está a falta 
de um conhecimento abrangente sobre a utilização dos serviços e o número 
reduzido de publicações científicas sobre a saúde mental infantojuvenil no 
Brasil, segundo Hoffmann et al. (2008). Acreditamos que as reflexões aqui 
engendradas podem contribuir para a produção de novas práticas sociais e de 
novos sentidos, bem como produção de análises reflexivas sobre as ações que 
vêm sendo priorizadas no Brasil, que, a nosso ver, as publicações acabam por 
expressar.
Resultados
O que revelam as produções acerca do CAPSi na última década?
Ao nos lançarmos a tarefa de analisar especialmente aqueles artigos 
que discutem o CAPSi, preocupamo-nos em observar como os discursos 
acadêmicos estão se apropriando das contribuições alvitradas pela atenção 
psicossocial no campo da saúde mental infantojuvenil. Entendemos que as 
ações que estruturam esse campo precisam envolver o movimento e o interjogo 
dos saberes e dos fazeres. Vimos que, no geral, os artigos foram escritos por 
pesquisadores, estudantes e professores de cursos de pós-graduação, bem 
como por profissionais que executam a política, apontando certa preocupação 
com a construção de uma prática atrelada à formação teórica. Por outro lado, 
notamos que a quantidade de publicações não ascendeu na última década. 
Do total de artigos encontrados, 2 datam de 2007, 3 de 2008 e a maioria, ou 
seja, 7 artigos que totalizam 53,85% datam de 2009, enquanto que, em 2010 
e 2011, encontramos apenas um artigo em cada ano. 
Estudos como o de Hoffmann et al. (2008) apontaram para o número 
reduzido de publicações científicas sobre esse tema no Brasil, fato que pode 
ser articulado à expansão tímida da própria política nos últimos anos. Em 
2011, os CAPSi distribuídos em todo Brasil totalizavam 122 unidades 
(Ministério da Saúde, 2011), porém enquanto a implantação dos CAPS para 
adultos aumentou 246% entre os anos de 2006 e 2010, a implantação dos 
CAPSi cresceu apenas 8%. A lenta expansão das ações e serviços constitui-se 
para muitos um “descaso histórico” evidenciado pela prioridade dada pela 
Reforma Psiquiátrica ao atendimento voltado ao público adulto, enquanto as 
conquistas na área da criança e adolescente seriam pouco visíveis (Wandscheer, 
2010). 
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Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
Tanto estudos anteriores à implantação dos CAPSi quanto outros 
mais recentes afiançam que, além da expansão da rede de serviços, existe 
a necessidade da adequação e articulação desta (Boarini & Borges, 1998; 
Couto, Duarte & Delgado, 2008). Essa referida articulação aparece 
deslocada na maioria dos artigos analisados, pois muitos deles se referem 
à construção de rede e se reportam à intersetorialidade, porém apresentam 
relatos de experiência e pesquisas cujos resultados não focam essa perspectiva 
na análise. 
O trabalho de Brandão (2009) inova ao apresentar e discutir a 
possibilidade de atendimento de uma criança em tenra idade no CAPSi 
(um bebê com diagnóstico suspeito de autismo), que, encaminhado ao 
serviço, suscita questionamentos acerca dessa demanda. O autor articula 
implicitamente o princípio da intersetorialidade ao discutir a recepção e o 
acolhimento, ressaltando que saúde mental “não é o trabalho de um só”, 
mas da “articulação dos vários profissionais, não só do próprio CAPS, como 
também da rede” (Brandão, 2009, p. 347). No curso da leitura, observa-se 
a importância aferida à rede de cuidados e o entendimento de que o CAPSi 
deva ser regulador e articulador desta. Contudo o que se observa é que o 
estudo ocupa-se em narrar o trabalho clínico-individual. Em que pese a 
ênfase dada à rede, o relato não explora como essa articulação dar-se-ia em 
casos como esse. Nesse mesmo curso de análise, Quaresma et al. (2011) 
descrevem particularidades do tratamento das crianças com diagnóstico 
de transtorno autista e do acompanhamento familiar, afirmando ser a 
metodologia fundamentada em abordagens psicanalíticas a mais adequada, 
pois explica os transtornos mentais e permite o entendimento da relação 
mãe-bebê.
Observamos, em outras publicações, a primazia do atendimento clínico 
e individualizado dentro do CAPSi. O estudo de Schmid (2007) refere-
se ao trabalho desenvolvido com um adolescente de 15 anos com longa 
história de institucionalização e sua trajetória a partir inserção num CAPSi. 
O texto reitera o quanto a institucionalização fora desnecessária, e a análise 
da intervenção relatada, construída sob a égide da psicanálise, procura se 
pautar numa “clínica de percursos” (Schmid, 2007, p. 188). Todavia a 
discussão do caso realça uma modalidade de intervenção terapêutica voltada 
ao indivíduo, argumentando a favor dessa clínica como viabilizadora da 
superação de dificuldades decorrentes do agravamento do quadro, devido 
ao longo período de segregação social.
A leitura psicanalítica perpassa também estudos que relatam práticas 
coletivas inovadoras dentro da instituição, como é o caso de Bontempo 
67Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
(2009a). A implantação de assembleias de usuários em um CAPSi é 
apontada como experiência que possibilita a circulação da palavra e que, 
embora não tenha objetivo terapêutico, acaba alcançando tal efeito uma 
vez que se configura como um “espaço de expressão, de fala dos pacientes e 
que pode provocar mudanças” (Bontempo, 2009a, p. 188). Apreende-se da 
leitura a incursão das ações coletivas como produtoras de novos processos 
de subjetivações, sendo possível aferir uma concepção de saúde mental 
centrada nos aspectos intrínsecos ao indivíduo. 
Reafirmamos que a clínica na atenção psicossocial pretende ser integral, 
territorializada, inter e transdisciplinar, voltada para o sujeito e seu contexto 
sociocultural (Yasui & Costa-Rosa, 2008; Luzio, 2010). Sob essa lógica, é 
necessária uma compreensão do processo saúde-doença que articule saberes, 
supere especialismos e a prática clínica tradicional e normativa, restrita a 
um espaço psicoterápico, voltado para a interioridade psicológica. Logo, o 
CAPSi precisa implantar um conjunto de ações de cuidados diversificados 
e intensivos, e envolver as redes sociais e relacionais desse sujeito. Cunha e 
Boarini (2011) ressaltam que a política atual preconiza a interdisciplinaridade 
e o trabalho em equipe. Todavia apreendemos que muitas publicações não 
coloca em destaque ações que expressem a interdependência dos setores 
sociais e dos saberes nas ações voltadas ao público infantojuvenil. 
Pensar como tem se constituído o diálogo entre o CAPSi e as demais 
políticas setoriais nos ajuda a compreender se a própria saúde mental seria 
ainda concebida com base em uma leitura médico-centrada. Tal pontuação 
foi assinalada no estudo de Ribeiro, Passos, Novaes e Dias (2010) que, por 
meio do levantamento sobre como a saúde mental infantojuvenil aparece 
na produção bibliográfica recente, observaram que a maioria dos trabalhostrata do tema sob a perspectiva clínica e apenas uma minoria o faz dentro 
de uma perspectiva mais ampla, como propõe a Reforma Psiquiátrica e, 
consequentemente, a atenção psicossocial. Outra conclusão do estudo 
diz respeito ao volume de textos que relatam pesquisas epidemiológicas, 
privilegiando a análise dos aspectos quantitativos. 
Hoffmann et al. (2008, p. 638) procuraram identificar o perfil 
epidemiológico da clientela atendida nos CAPSi após um ano de sua 
implantação, descrevendo características do serviço. Chamam a atenção 
para os diagnósticos voltados aos denominados “problemas de habilidades 
escolares” que indica “a necessidade de investimento na articulação e 
discussão entre profissionais da saúde e da área educacional, com a finalidade 
de reduzir encaminhamentos [...]”. Concluem que os CAPSi investigados 
funcionaram de maneira semelhante aos serviços ambulatoriais, apontando 
68 Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
a necessidade de novos estudos que auxiliem o planejamento da ampliação 
da rede e contribuam para as articulações intersetoriais, embora não seja 
foco do artigo aprofundar tal discussão. 
O trabalho de Dombi-Barbosa et al. (2009, p. 262) ressalta que as ações do 
CAPSi devem ocorrer “articulados numa rede de atenção que extrapola o campo 
da saúde e interage com os recursos do território de determinada comunidade 
para promover inclusão social [...]” contando “com a corresponsabilização das 
famílias, escolas e outros setores sociais”. Para compreender quais as condutas 
terapêuticas são ofertadas às famílias de crianças e adolescentes atendidas nos 
CAPSi do Estado de São Paulo, os autores utilizaram registros dos prontuários, 
concluindo que a família vem sendo atendida especialmente em grupo e que a 
figura materna é a mais referida. Acrescido à significativa ausência de registros 
dos atendimentos nos prontuários, os existentes apontam que as ações 
“estão centradas no interior dos serviços pesquisados e não revelam práticas 
extramuros, tais como as visitas domiciliares [...] que são incipientes” (Dombi-
Barbosa et al., 2009, p. 267). A despeito de considerarem importante, o estudo 
não identificou nos prontuários ações desenvolvidas em rede de cuidados de 
base territorial, composta por diferentes instituições e pessoas. 
Entendemos que independente do objetivo do estudo e metodologia 
utilizada, as publicações clarificam, em parte, qual é o compromisso dos 
autores com as premissas da atenção psicossocial. A pesquisa de Reis et al. 
(2009), que também discute sobre os prontuários, busca revelar o valor 
desse instrumento atribuído pelos coordenadores de CAPSi tanto para as 
equipes profissionais quanto para os usuários. Os autores observam que os 
coordenadores consideram que, para os profissionais os prontuários, são 
“essenciais para o processo de intervenção clínica e acompanhamento das 
crianças e adolescentes” (p. 391), enquanto que, para o usuário, de maneira 
geral, não percebem qual utilidade teria, embora o reconheçam como local 
de registro da história de vida do sujeito. Problematizam a qual “clínica” se 
referem os coordenadores na pesquisa, uma vez que o prontuário deveria se 
constituir ferramenta de diálogo se partisse da perspectiva de que lidam com 
sujeitos ativos durante o processo.
Encontramos produções que propunham avaliar a qualidade do serviço 
ouvindo os atores que o executam. É caso de Scandolara et al. (2009), 
que relatam entrevistas com os profissionais do CAPSi e apresentam uma 
concepção de saúde mental como “processo, e não como ausência de doença, 
na perspectiva de produção de qualidade de vida, enfatizando ações integrais 
e promocionais de saúde” (p. 340). Tal definição coaduna com o destaque 
dado ao fato de que a atenção integral e a luta pela cidadania “são marcos 
69Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
que devem sustentar o modelo de atenção à saúde mental” (Scandolara et al., 
2009, p. 341). As entrevistas apontaram grande dificuldade na comunicação 
entre as políticas setoriais (saúde, educação, justiça, etc.), certificando que 
a falta de diálogo entre a rede suscita encaminhamentos inadequados que 
abarrotam o serviço. Outrossim, concluem, com base no discurso dos próprios 
entrevistados, que o atendimento prestado pelo CAPSi é de boa qualidade e 
que este tem buscado a reinserção social. Atentamos para o fato de que a 
construção da almejada atenção integral, arrolada à intersetorialidade, não é 
posta em evidência, embora sua falta tenha sido apontada pelos entrevistados 
durante o estudo. 
Ouvir profissionais que executam a política foi igualmente a proposta 
de Mânica e Tessmer (2007). As autoras apresentam os resultados de um 
trabalho de conclusão de curso de especialização em Saúde Pública, cujo 
foco foi investigar a questão do terapeuta de referência sob a ótica de alguns 
profissionais do CAPSi. Embora citem a intersetorialidade, esta não é explorada 
com afinco, pois o objetivo maior do estudo foi discutir o significado de ser 
um terapeuta de referência para tais profissionais. 
Para traçar o perfil dos usuários e avaliar a qualidade das ações executadas 
pelos profissionais do CAPSi, Ronchi e Avellar (2010) analisaram os 
prontuários e concluíram que existe a falta de capacitação dos profissionais 
do serviço. As principais causas de encaminhamentos são as “queixas de 
agressividade, dificuldades escolares, transtornos do comportamento e 
emocionais e a medicalização”, e que estas “necessitam de maior investigação 
e sugerem a importância de ações intersetoriais, conjugando, por exemplo, 
aspectos socioculturais, educacionais e na área da saúde” (Ronchi & Avellar, 
2010, p. 81). 
O diálogo apontado como basilar nem sempre resguarda a característica de 
troca, de debate, de movimento. O estudo de Delfini et al. (2009), que buscou 
caracterizar o perfil do usuário por meio da análise dos prontuários de um 
CAPSi, aponta que, para além da falta de padronização, as falhas nos registros 
limitam uma análise mais abrangente desse perfil. Questionam as causas 
mais referidas para os encaminhamentos que, no CAPSi investigado, eram 
as queixas neuromotoras seguidas pelas escolares. Enquanto as primeiras se 
explicam pelo fato de o CAPSi absorver pacientes e profissionais de um serviço 
de reabilitação já extinto, as segundas preocupam porque testemunham o que 
outros estudos já têm asseverado: a escola como protagonista do processo. 
Não se trata, entretanto, de um protagonismo que possa ser proclamado 
como inclusivo e implicado, em que a escola é tida como instituição 
70 Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
fundamental no processo de cuidado da criança ou adolescente (no 
acolhimento, na elaboração do projeto terapêutico singular, na execução das 
ações, etc.). Citamos como exemplo o estudo de Falavina e Cerqueira (2008) 
que, ouvindo relatos dos pais ou responsáveis, evidenciaram queixas sobre a 
desassistência e o sofrimento decorrente da discriminação dirigida à criança 
e à sua família nos contextos sociais percorridos até a inserção no CAPSi. A 
escola aparece como protagonista ou porque é a instituição que encaminha ou 
porque valida o diagnóstico e, nesse sentido, configura-se como mecanismo 
auxiliar ou obstáculo para o desenvolvimento da criança e do adolescente. O 
estudo não discute os encaminhamentos considerados descomprometidos e 
não explicita a concepção de saúde mental que orienta o trabalho do CAPSi, 
mas dá indícios de que a saúde mental ainda é percebida como ausência de 
doença.
Acreditamos que são muitos os fatores que se entrelaçam e desnudam a 
existência de questões que certamente ultrapassam os limites das discussões 
aqui empreendidas e adentram outros campos,como o institucional e o 
social. A pesquisa de Beltrame (2010), por exemplo, constatou que, no afã 
de solucionar os conflitos produzidos no contexto escolar, tem-se recorrido, 
com frequência, à medicalização, agora com o respaldo dos diagnósticos 
formulados por profissionais do CAPSi. Assim, o CAPSi se desvia do seu 
propósito fundamental, oferecendo atendimento basicamente nos moldes 
ambulatoriais e assistindo a um público que não seria propriamente seu. 
Compreendemos que, quando o CAPSi se transforma em mais um mero 
serviço, pode incorrer e corroborar com práticas há tempos cristalizadas. As 
constatações do estudo de Beltrame (2010) nos inquieta, pois nos faz retornar 
a uma discussão que é histórica para a Psicologia: há pelo menos três décadas, 
critica-se a busca pela explicação e intervenção individual como resposta para 
o denominado fracasso escolar.
Essas pontuações desnudam que é preciso colocar em debate a questão do 
acolhimento da demanda, como demonstra o trabalho a seguir. Apresentando 
a experiência de estágio em serviço social em um CAPSi, Rosa (2008, p. 
254) observa que um dos maiores obstáculos ao trabalho é a superação 
da “ambulatorização da assistência”, que decorre da primazia das ações 
individualizadas como as consultas, em detrimento do trabalho grupal 
e das ações territoriais. Destaca-se que é preciso olhar criticamente para o 
acolhimento dos encaminhamentos das redes municipal e estadual de ensino 
de crianças com dificuldades no processo de escolarização, que é preciso 
desconstruir a demanda, em vez de acolhê-la indiscriminadamente. É urgente 
problematizar as ações no campo da saúde mental para infância e adolescência 
71Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
e sua necessária articulação com a política de educação. A falta de integração 
das ações do CAPSi com as escolas pode estar expressando como vem sendo 
entendido o princípio que anteriormente destacamos: o do “acolhimento 
universal”. Se o trabalho do CAPSi agencia que toda demanda seja acolhida, 
ouvida e respondida, perguntamos: caberia a ele atender indiscriminadamente 
os encaminhamentos da escola? 
Acolher e atender não são ações equivalentes. O acolhimento universal 
não equivale ao tratamento de todos os que procuram ou são referidos ao 
serviço. Acolher significa promover condições de acesso que viabilizem uma 
análise mais abrangente da situação de cada usuário. Quando se sublinha a 
questão do acolhimento universal, uma das possibilidades que se inscreve é 
justamente a da desconstrução da demanda, caso ela não seja para o CAPSi. 
Como assinala Elia (2005), o CAPS ou serviço correspondente ao qual a 
demanda é dirigida precisa desenvolver ações conjuntas também com a escola, 
a fim de problematizá-la e desconstruí-la, buscando juntos construir práticas 
que envolvam outros setores da sociedade, se necessário. 
Finalizamos este estudo trazendo o exemplo do trabalho de Bontempo 
(2009b), que, segundo nossa leitura, sinaliza a importância da intersetorialidade 
nas ações do CAPSi. Nesse estudo, relata-se a experiência de trabalho junto 
a uma adolescente atendida no projeto intitulado “Circulando pela cidade” 
implementado em um CAPSi. O projeto se propõe terapêutico porque, 
transitando pelos espaços da cidade, media a possibilidade de que crianças e 
adolescentes estabeleçam relações sociais em diferentes contextos. Desse relato 
de prática apreendemos uma concepção de saúde mental que corrobora aquela 
preconizada pela Política Nacional de Saúde Mental e pela atenção psicossocial, 
entendendo que a construção das ações em saúde mental infantojuvenil não 
podem se encerrar do lado de dentro das paredes do CAPSi. 
Considerações finais
Quando nos lançamos à tarefa de refletir sobre as produções que tratam do 
CAPSi, focando a intersetorialidade, buscamos evidenciar que, no campo da 
saúde mental infantojuvenil, as ações devem ir além dos limites da sua estrutura 
física e articular-se às esferas que entrecruzam na vida do sujeito, buscando 
recursos no território. Falar em saúde mental, portanto, ultrapassa falar dos 
conflitos e mecanismos intrapsíquicos, que podem ser resolvidos por meio 
de ações isoladas. Contudo, em parte das publicações analisadas, observamos 
um aparente olhar individual centrado na interioridade psicológica, comum 
à clínica tradicional ou das especialidades. Mesmo não tomando partido 
72 Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
Ednéia José Martins Zaniani, Cristina Amélia Luzio
nem criticando qualquer abordagem teórica em específico, entendemos que 
a clínica pleiteada pela atenção psicossocial é a clínica ampliada, e esta inclui 
no seu escopo aquilo que a clínica tradicional considerava como extraclínico. 
Quando uma publicação destaca apenas intervenções centradas no indivíduo, 
pode dar margem ao entendimento de que a saúde mental é uma categoria 
ontológica. 
O que desejávamos, mais que olhar particularmente para cada produção, 
era, no bojo da totalidade da análise, compreender como a política de saúde 
mental vem sendo implantada. Nesse sentido, vimos que alguns estudos 
referenciam a intersetorialidade como premissa para a integralidade do cuidado 
na prática do CAPSi. Não obstante, tal princípio permanece nos artigos 
numa conjuntura secundária, ou seja, não é posto em destaque. Com isso, 
não intentamos afirmar deliberadamente que todos os dispositivos tomados 
como objeto nos artigos analisados não privilegiam ações intersetoriais. Essa 
afirmação implicaria desconsiderar que nos debruçamos sobre um campo 
marcado por muitos impasses e desafios. Apenas assinalamos que, se as ações 
do CAPSi não podem prescindir de outras ações intersetoriais, tampouco 
essa discussão pode passar de modo tão inadvertida e não problematizada 
nas publicações veiculadas nos meios científicos.
A tarefa não é fácil. No entanto o desafio está posto e nos impulsiona 
a pensar que, para além da construção de novas redes, temos de cooperar 
para que a rede existente possa se pôr a dialogar. Como advertem Couto et 
al. (2008), a intersetorialidade, tão referendada nas bases legais, esbarra na 
desarticulação dos serviços públicos e não na ausência absoluta de recursos. 
Assim, advertem os autores, existiria uma rede intersetorial potencial de 
cuidado, ou seja, que pode tornar-se intersetorial.
Encerramos concluindo que, ao questionar sobre qual lugar ocupa a 
intersetorialidade nas publicações acerca do CAPSi, partimos do pressuposto 
de que as produções acadêmicas expressam, a seu modo, como têm se 
efetivado algumas transformações no campo teórico-conceitual e, ou, ainda 
técnico-assistencial. Há que se destacar que adentramos um campo em 
processo permanente de construção, que demanda, para uma efetiva transição 
paradigmática, transformações também nos campos político-jurídico e 
sociocultural, para, quiçá, desvelar-se na real transformação das práticas de 
cuidado como reivindica a atenção psicossocial. 
Reconhecemos os limites dessa investigação (por não ter feito um 
levantamento mais sistemático, seja pela utilização de um número reduzido de 
palavras-chave ou por não contemplar produções científicas de outra natureza, 
73Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 56-77, abr. 2014
A intersetorialidade nas publicações acerca do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
como dissertações, teses, livros, etc.), o que indica a necessidade de estudos 
mais abrangentes que ampliem consideravelmente o debate sobre o tema. 
Para o futuro, seguimos desejando que esses estudos venham a conformar-se 
em possibilidades teórico-práticas, pois se uma publicação revela concepções 
que norteiam a construção de uma política, também pode fomentar debates e 
reflexões que impliquem sobre nossos modos de saber e de fazer saúde mental.
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