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IX ENCONTRO DA ABCP AT – Pensamento Político Brasileiro A IDÉIA DE LIBERALISMO SOCIAL NO PENSAMENTO POLÍTICO DE JOSÉ GUILHERME MERQUIOR Kaio Felipe (IESP/UERJ) Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014 A IDÉIA DE LIBERALISMO SOCIAL NO PENSAMENTO POLÍTICO DE JOSÉ GUILHERME MERQUIOR Kaio Felipe (IESP/UERJ) Resumo do trabalho: O propósito deste artigo é descrever e analisar o que o sociólogo e diplomata José Guilherme Merquior (1941-1991) entende por liberalismo social. Merquior defende tal ideologia política em seus escritos da década de 1980, buscando uma alternativa ao socialismo de estado e ao neoliberalismo, na medida em que considerava que estas duas ideologias não seriam capazes de enfrentar os desafios colocados pelo progresso das sociedades modernas: a socialista, pela ineficiência econômica; a neoliberal, por se preocupar pouco com as desigualdades sociais; e ambas, pelo déficit democrático. Sendo assim, o primeiro objetivo do artigo é mapear, a partir de ensaios e artigos de Merquior de 1980 até 1990 (ano em que concluiu sua obra "O Liberalismo: Antigo e Moderno"), em quais termos este autor concebe a doutrina do liberalismo social. O segundo objetivo é interpretar como Merquior, a partir de sua leitura da história do liberalismo, resgatou o ideal social-liberal, atualizando-o para oferecer soluções para os problemas enfrentados pelo Brasil no processo de redemocratização e crise econômica nos anos 1980. Palavras-chave: liberalismo; liberalismo social; liberdade; pensamento político brasileiro 1. Introdução O diplomata e sociólogo José Guilherme Merquior (1941-1991) pode ser considerado um autor mais elogiado do que lido e estudado. Desde a sua morte precoce, não faltam louvores quase hagiográficos a este “fenômeno” (como diria José Mário Pereira); recentemente, a Academia Brasileira de Letras, da qual Merquior foi membro, fez uma mesa-redonda em homenagem aos 70 anos de seu nascimento. Surpreendentemente, no entanto, é escassa a produção acadêmica sobre sua obra. Embora seus escritos sobre crítica literária ainda tenham alguma recepção entre os scholars de Letras1, nas ciências sociais são raros os estudos sobre suas obras de antropologia, sociologia e teoria política. 1 Exemplo disso é que o responsável pela reedição de suas obras é João Cezar de Castro Rocha, professor do departamento de Letras da UERJ, e que dois dos três volumes já publicados – Razão do Poema (1965) e Verso Universo em Drummond (1975) - são de crítica literária. O provável próximo livro a ser relançado é também desta área: Formalismo e Tradição Moderna (1974). Para mais informações, ver: FILHO, Antonio Gonçalves. Uma Talvez um triplo estigma político contribua para o “esquecimento” de Merquior. Em primeiro lugar, por ter trabalhado como assessor especial de Leitão Abreu, ministro da Casa Civil do governo Figueiredo2; em segundo, por ter sido um dos raros intelectuais públicos brasileiros que defendia posições liberais na década de 80, com direito a polêmicas com acadêmicos de esquerda como Marilena Chauí3, José Arthur Giannotti4 e Ricardo Musse5; finalmente, por ter escrito boa parte do discurso de posse de Fernando Collor de Mello, além da base programática do Partido Social Liberal Brasileiro que o ex-presidente pretendia fundar. (cf. PILAGALLO, 2002, p. 190) Tudo isso contribuiu para que fosse, tanto em vida quanto postumamente, estereotipado como “neoliberal”, “cabeça da ditadura”, “reacionário”, “guru de Fernando Collor” etc.6 De certa maneira, José Guilherme sofre do mesmo estigma que a própria ideologia que defende: o liberalismo, mais especificamente em sua vertente social- liberal. Diante de tantas pechas que vulgarmente se atribui ao pensamento liberal (elitista, burguês, abstrato, ultrapassado etc.), é possível recorrer às palavras de Antonio Paim: “Embora prevaleça a impressão equivocada de que os liberais teriam voltado as costas para o social, essa idéia errônea não resiste ao confronto com a realidade.” (PAIM, 1998, p. 45) A partir desse cenário, o propósito desse artigo é, em primeiro lugar, mapear, nos textos de Merquior de 1980 até 1990 (ano em que concluiu sua última obra, O Liberalismo: Antigo e Moderno), em que termos este autor concebe a doutrina do liberalismo social; em seguida, pretende-se interpretar como José Guilherme, a partir de sua leitura da história do liberalismo, resgatou o ideal social-liberal, atualizando-o para oferecer soluções para os problemas enfrentados pelo Brasil no processo de redemocratização e crise econômica nos anos 80. coleção para o polemista maior. Estadão – Cultura (site). 7 de janeiro de 2012. Link: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,uma-colecao-para-o-polemista-maior-imp-,819676 2 Ver GRAIEB, Carlos. O vampiro iluminista. Revista Veja. São Paulo: Abril, edição 2348, p. 132, 20 de novembro de 2013. 3 Ver CORRÊA, Marcos Sá. Um mestre da polêmica. Revista Veja. São Paulo: Abril, edição especial nº 26, edição 1821, 24 de setembro de 2003. Link: http://veja.abril.com.br/especiais/35_anos/ent_merquior.html 4 Ver MERQUIOR, José Guilherme. Retórica Ex Cathedra: Resposta a José Arthur Giannotti. Novos Estudos. São Paulo: CEBRAP, 2008. Link: http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/53/20080623_retorica.pdf 5 Ver COPETTI, Rafael Zamperetti. A Polêmica Literária no Suplemento Letras da Folha de S. Paulo (1989-1990). Boletim de Pesquisa NELIC v. 5, n. 6/7 - Polêmicas. Santa Catarina: Periódicos UFSC, 2003, pp. 58-69. 6 Ver CUNHA, Martim Vasques da. O cadafalso da inteligência brasileira. Dicta & Contradicta (site). 24 de agosto de 2011. Link: http://www.dicta.com.br/o-cadafalso-da-inteligencia- brasileira/ As fontes primárias para o desenvolvimento deste artigo são os ensaios A Natureza do Processo (1982), O Argumento Liberal (1983 [1981]) Algumas Reflexões sobre os Liberalismos Contemporâneos (1991 [1986]) e O Liberalismo: Antigo e Moderno (1991). Quanto à literatura secundária, vou recorrer a autores como Monica Piccolo Almeida (2008), Roberto Campos (1991), Hélio Jaguaribe (1996) e Celso Lafer (1996) – no caso dos três últimos, em textos da coletânea Liberalism in Modern Times: Essays in Honour of José G. Merquior (1996). Pretendo também levar em consideração o contexto histórico da fase social- liberal de Merquior; isto é, a década de 1980, que no Brasil foi marcada pela transição política do autoritarismo para a democracia (cujos marcos simbólicos foram as Diretas Já, a Assembléia Constituinte e as eleições presidenciais de 1989) e pela crescente intervenção estatal na economia, através dos planos heterodoxos (Cruzado, Bresser, Verão e Collor). O debate ideológico que marcou aquela época também interessava a Merquior: diante do desgaste de doutrinas e práticas dirigistas tanto de esquerda quanto de direita, este autor procurou extrair lições do “renascimento liberal” na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas mantendo uma postura crítica ao receio dos neoliberais quanto à democracia. Antes de tudo, cabe explicar, do ponto de vista conceitual e histórico, em que consiste o liberalismo social. 2. Uma breve contextualização histórica e teórica do liberalismo social Segundo Antonio Paim (1927), o tempo e lugar em que surgiu a inflexão social do pensamento liberal foram a segunda metade do Século XIX, na Inglaterra. O avanço da industrialização e o crescimento dos centros urbanos trouxeram novos problemas, tais como a disseminação de favelas, epidemias, pobreza e desigualdade social. Diante desse cenário, alguns dos liberais britânicos compreenderam que aaglomeração urbana “cria situações em que as pessoas, normalmente divididas por interesses de natureza divergente, (...) encontrem-se numa condição em que emerge uma esfera onde a nota dominante é a comunidade de interesses.” (PAIM, 1998, p. 50) Com isso, surge um conflito no interior do liberalismo, entre os liberistas (isto é, os liberais estritamente econômicos) – por exemplo, Herbert Spencer (1820-1903) – e os liberais “positivos” ou sociais, de posições mais democráticas e cívicas: No que tange à Inglaterra, é o caso particularmente de Thomas Hill Green, que teoriza uma “liberdade em sentido positivo” no próprio decorrer da polêmica contra os liberistas do seu tempo, empenhados em condenar a regulamentação estatal do horário de trabalho nas fábricas ou do trabalho das mulheres e das crianças, em nome da “liberdade de contrato” e de uma liberdade entendida exclusivamente como não-interferência do poder político na esfera privada das relações de produção e de trabalho. (LOSURDO, 2006, p. 297) Este afastamento da doutrina do laissez-faire que caracterizava o liberalismo clássico também é bem representado por Leonard Hobhouse (1864-1929). Em sua obra Liberalism (1911), este autor argumenta que é função do Estado garantir as condições para que os cidadãos possam ser capazes de conseguir por seus próprios esforços tudo aquilo que é necessário para uma plena capacidade cívica. Além disso, Hobhouse alega que o liberalismo procura fazer justiça tanto ao socialismo quanto ao individualismo, na medida em que permite conceber o bem comum em termos de bem-estar de todos os indivíduos que constituem a sociedade. (cf. HOBHOUSE, 1911, p. 68; 90) Sendo assim, tornou-se possível defender, sem ferir os princípios liberais (por exemplo, a afirmação da prevalência do indivíduo sobre o Estado), a provisão de serviços públicos como saneamento básico, a pensão para idosos e o seguro- desemprego. Em meio ao debate sobre políticas públicas com os socialistas na transição dos Séculos XIX e XX, os social-liberais defendiam que o Estado deveria assumir certas responsabilidades sociais respeitando os pilares da sociedade (p.ex., a família) e sem desestimular a ação voluntária. Nesse sentido, acreditavam que o problema da proposta socialista consistia no fato de que propunha resolver problemas comunitários introduzindo “novas formas de organização social, comprometedoras da liberdade e desestimuladoras da responsabilidade individual.” (PAIM, 1998, p. 59) Em termos teóricos, pode-se dizer que o liberalismo social representa o momento que “os liberais tiveram de repensar sua atitude com relação ao Estado”. As transformações sociais nas primeiras décadas do século passado, principalmente as acarretadas pela Grande Depressão, levaram os liberais modernos a defender uma maior ação estatal com base na igualdade de oportunidades: Se determinados indivíduos ou grupos são desfavorecidos pelas circunstâncias sociais em que se encontram, o Estado tem responsabilidade social de diminuir ou eliminar as desvantagens para criar oportunidades iguais, ou ao menos não tão desiguais. (...) Os liberais modernos compartilham com os clássicos a preferência por indivíduos auto-suficientes que assumem a responsabilidade pela própria vida; a diferença essencial é o reconhecimento de que isso só pode ocorrer se as condições sociais o permitirem. Logo, o principal objetivo do liberalismo moderno é ajudar os indivíduos a se ajudarem. (HEYWOOD, 2010, p. 67) Outra inovação teórica do liberalismo social é a concepção mais sofisticada de individualidade, contrastando com a abordagem utilitarista do indivíduo que predominou na versão britânica do liberalismo clássico. O pioneiro dessa mudança é John Stuart Mill (1806-1873), que em On Liberty (1859) demonstra forte herança do romantismo alemão e do liberalismo cultural/humanista de Wilhelm von Humboldt (1768-1835) – sobre quem falaremos mais adiante. Mill contribuiu para a compreensão da individualidade como “realização pessoal alcançada por meio da percepção da identidade ou das qualidades únicas de um indivíduo”. (Ibidem, p. 65) Há, portanto, uma ênfase no auto-cultivo do ser humano, na formação do caráter: o indivíduo deve poder fazer escolhas; assim, será livre para usar e interpretar a experiência humana à sua própria maneira. Os costumes são úteis paras certas circunstâncias, mas não desenvolvem qualidades distintas; os poderes mentais e morais só se aprimoram na medida em que são usados. (cf. MILL, 2003, pp. 123-124) 3. A guinada liberal em A Natureza do Processo Ao longo da década de 1970, José Guilherme Merquior se afastou das influências do marxismo ocidental e do estruturalismo francês e se aproximou de um estilo de pensamento mais “britânico”, portanto mais liberal e simpático à modernidade. O diplomata e economista Roberto Campos (1917-2001), de quem Merquior foi conselheiro na embaixada de Londres, e Ernest Gellner (1925-1995), seu orientador no doutorado em Sociologia pela London School of Economics and Political Science, foram alguns dos que contribuíram para essa transição ideológica. Se em seus ensaios dos anos 60 e 70 (principalmente Saudades do Carnaval, de 1972), predominava certa nostalgia por uma época em que ainda era possível um ideal formativo humanista, em A Natureza do Processo (1982) este autor já está convicto de que a crise da cultura ocidental é um desafio perfeitamente superável e que o progresso econômico não é algo a ser demonizado. Além disso, a partir de 1979 Merquior passou a participar de forma mais intensa no debate cultural em periódicos e jornais brasileiros, principalmente no Jornal do Brasil; seus artigos foram compilados em várias coletâneas, dentre elas As Idéias e as Formas (1981) e O Argumento Liberal (1983). É, contudo, no ensaio A Natureza do Processo que Merquior melhor apresenta sua nova visão de mundo, isto é, sua tomada de posição em prol das idéias liberais. Não por acaso, este livro é considerado, na opinião do filósofo Miguel Reale (1910-2006), “a mais orgânica de suas obras”. (cf. PEREIRA in MERQUIOR, 2013, p. 322) Em linhas gerais, A Natureza do Processo é um ensaio sobre a evolução social, política e econômica do Ocidente nos últimos três séculos. Esta obra emana uma filosofia da história progressista, inspirada em Hegel (1770-1831).7 Contrário ao “radicalismo filosófico de salão” que rejeita a ciência e o progresso, o autor defende a tradição moderna, corporificada em instituições como a democracia e a economia de mercado. (cf. MERQUIOR, 1982, p. 213) José Guilherme deixa claro que não parte de uma visão evolucionista da história, segundo a qual a civilização seria algo basicamente homogêneo e o desenvolvimento tecnológico alcançado pelo Ocidente moderno seria independente da diversidade das culturas. Segundo o autor, a história é sempre um plural de histórias: mesmo quando há uma modernização intencional, como a conduzida em países “em desenvolvimento” (como o Brasil), “o interno passa pela assimilação do externo.” O progresso humano, portanto, não é uma necessidade da natureza; pelo contrário, “sempre dependeu muitíssimo do fato de que o homem não é capaz de controlar plenamente a conduta social.” Baseando-se no economista Friedrich Hayek (1899-1992) e sua desconfiança em relação ao racionalismo planejador, Merquior afirma que “o progresso é um crescimento cumulativo que jamais poderia ser totalmente planejado”; sendo assim, ele é “um incessante e bem-sucedido processo de adaptação”. (Ibidem, pp. 31-36) No âmbito da economia, esta noção de que o progresso não executa um “plano racional” se sustenta no fato de serem justamente os países socialistas de estado, os quais adotaram o dirigismo (planejamento global da produção e da técnica), que apresentam menor velocidade de desenvolvimento e maior sensação de fracasso7 Esta influência, no entanto, é mais bem explicada em O Marxismo Ocidental. Hegel, de acordo com Merquior, ajudou a legitimar uma visão histórica do homem e aceitou, de forma madura, o espírito da sociedade moderna, “com sua crescente divisão do trabalho, a expansão das liberdades individuais e uma nova compreensão da capacidade do homem para moldar a história.” Ver MERQUIOR, José Guilherme. O Marxismo Ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 53. econômico. (cf. Ibidem, p. 39) José Guilherme argumenta que a economia de mercado é uma forma de organização social superior, devido a pelo menos três fatores: o uso mais efetivo dos fatores de produção (terra, capital, trabalho); o jogo da oferta e da procura, que “mesmo sem levar ao equilíbrio ingenuamente suposto por alguns dos clássicos da teoria econômica, demonstra ser o meio mais racional de distribuir recursos e dirigir investimentos” (Ibidem, p. 50); e, por ser o ambiente mais propício ao lucro, que é o melhor indicador da minimização dos custos. No capítulo V de A Natureza do Processo, Merquior discute os motivos pelos quais a democracia liberal é a expressão política mais adequada ao progresso que caracteriza a modernidade. Em primeiro lugar, ela garante minimamente o exercício da igualdade política. O autor afirma que “o fundamento da legitimidade moderna, da representação democrática, é o senso da racionalidade da norma e da responsabilidade do poder”. Ou seja, o regime democrático se baseia na transparência racional do poder, portanto repele todo elitismo, pois “poder que não presta contas racionalmente aos interesses da sociedade não é, as olhos modernos, autoridade legítima, e sim, ilícita coerção.” (Ibidem, p. 116) Em segundo lugar, é o regime liberal-democrático o que melhor conjuga liberdade política (autonomia e participação) e liberdade civil (não-impedimento, o “gozo tranqüilo da independência individual”). No caso do primeiro tipo de liberdade, o moderno regime representativo, baseado no sufrágio universal, é mais aberto que outros sistemas de governo a “movimentos populares, reivindicatórios de direitos políticos e civis”; quanto ao segundo tipo, a democracia liberal permite “uma grande variedade de ocupações e estilos de vida”. (Ibidem, pp. 124-125) Em terceiro lugar, retomando a crítica à mentalidade planejadora, Merquior afirma: “ao nível da experiência comum dos homens (...) não há tecnocracia, não há sapiência especializada, que conheça melhor que nós mesmos o que nos afeta.” (Ibidem, p. 149) A democracia, nesse sentido, está mais a serviço da liberdade humana do que regimes que restringem, mesmo que se guiando pelas melhores intenções, a livre participação nos mecanismos decisórios. Por fim, há um motivo de cunho ético-moral, relacionado à virtude cívica. A participação regular na condução dos negócios públicos favorece “a busca individual de padrões de excelência nas várias formas do agir e do fazer”; ou seja, a democracia é “o regime político mais propício à elevação do caráter.” (Ibidem, pp. 150-151) No sexto capítulo desta obra também fica claro que, ainda que seja um social- liberal, José Guilherme Merquior foi um ácido crítico do socialismo. Um exemplo é quando afirma que tal doutrina possuía raízes totalitárias “na própria idéia socialista, toda vez que ela é identificada com a ditadura de um partido ‘gnóstico’, autodesignado salvador do gênero humano, e a concentração em suas mãos do poder de decisão econômica.” (Ibidem, pp. 162-163) Sua crítica se desdobra tanto ao marxismo, o qual considerava superado como proposta teórica8, quanto à social-democracia – que, embora tenha o mérito de desligar o socialismo da “mística da igualdade absoluta” proveniente da fusão do marxismo com o comunismo, foi política e economicamente derrotada no final dos anos 70. O renascimento liberal pode ser visto como uma conseqüência da insatisfação generalizada com o estatismo, como demonstrou, por exemplo, a vitória de Margaret Thatcher (1925-2013) nas eleições britânicas de 1979. O tema final de A Natureza do Processo é importante para entender o elemento humanista do liberalismo social: no capítulo final, Merquior discute a importância da educação e da formação cultural para o desenvolvimento. Este autor afirma que “cultura sem instrução coletiva é uma vã nostalgia conservadora; instrução sem cultura, uma atrofia do desenvolvimento.” (Ibidem, p. 207) Em outras palavras, é preciso combinar especialização com cultura geral, saber técnico e perspectiva histórica; as tecnocracias cultas da França e do Japão são dois bons exemplos de elites formadas em uma educação generalista. Segundo José Guilherme, somente o teor crítico da genuína educação poderá reverter esse itinerário; é preciso caminhar de novo da vida para a cultura, ao contrário do que propõem os vitalistas e irracionalistas do Século XX. (Ibidem, pp. 209-211) O seguinte trecho demonstra a importância dada por Merquior à Cultura, no sentido universalista da palavra, para o pleno desdobramento dos potenciais de nossa civilização: A humanidade não é uma tribo aguardando nossa autocomplacência de membros - é um clube cobrando nosso esforço pessoal por ter o direito de ingresso. Com isso, 8 “Eu acho que o marxismo está, realmente, como proposta teórica, considerada no que lhe possa restar de unidade, num momento de liquidação. (...) Acho que o mundo moderno se tornou ao mesmo tempo mais complexo na realidade e mais sofisticado intelectualmente para poder se permitir essa visão tão globalizante, que ainda tem uma marca religiosa, mesmo em espíritos tão pouco religiosos quanto Marx (...). Eu acho que o mundo moderno aposentou os sistemas, aposentou toda espécie de tentativa tão grandiosa de abarcar a explicação da história no seu conjunto.” Ver SINGER, André. O marxismo está morto: Para José Guilherme Merquior, o ensaísta e embaixador do Brasil no México, a teoria marxista não tem nenhuma perspectiva e não se sustenta à luz da razão. Folha de S. Paulo. São Paulo, 30 de agosto de 1987. Link: http://almanaque.folha.uol.com.br/leituras_16set00.shtml Chesterton captou nada menos que a essência da cultura no velho sentido humanístico da palavra: cultura como autocultivo, cultura como fenômeno eminentemente perfectivo. A civilização moderna aliviou as tarefas do homem na natureza, humanizou as relações entre os indivíduos; mas não diminuiu nem um pouco a necessidade – ou a glória – desse empenho de auto- aperfeiçoamento das pessoas e sociedades. (Ibidem, p. 212) Desta forma, o autor conclui o ensaio ressaltando que “a natureza do processo é o progresso da liberdade”, e que a democracia é o único regime capaz de lidar com a responsabilidade de formar uma sociedade instruída e culta “sem violentar a fisionomia moral do homem moderno – o seu acendrado, irredutível individualismo.” (Ibidem, pp. 200; 212) 4. O resgate do liberalismo social em O Liberalismo: Antigo e Moderno Se, como vimos no capítulo anterior, Merquior fez críticas contundentes aos socialistas, ele também não poupou de críticas o liberismo defendido por filósofos como Hayek e Robert Nozick (1938-2002), pois julgava irrealista pensar que o estado poderia deixar de dirigir as finanças ou planejar a economia; o importante é que ele não a controlasse. Além disso, a coerção estatal não é o único obstáculo à liberdade; barreiras econômicas e sociais também o são, o que torna legítimo, para removê-las, o recurso à ação do estado. Ao contrário do que pensam os neoliberais (expressão contemporânea do liberismo), o estado pode ser um poderoso instrumento para promover liberdade para todos. A partir desta crítica aos socialistas e neoliberais, José Guilherme afirma que um liberalismo com preocupações sociais é a única doutrina política contemporânea que leva em consideração o idealdemocrático no sentido rigoroso da palavra, isto é, de governo do povo. Em O Liberalismo: Antigo e Moderno, sua última obra, este autor procura, a partir de sua leitura da história das diversas vertentes do pensamento liberal, rastrear as origens deste liberalismo social. Antes de tudo, cabe mencionar que, para Merquior, o liberalismo reflete a diversidade da história, tanto nos tempos antigos quanto nos modernos e contemporâneos. Sendo assim, é preferível fazer uma descrição comparativa do liberalismo, em suas diversas manifestações históricas, do que tentar uma definição precisa. A tolerância religiosa e o governo constitucional foram os primórdios do pensamento liberal, evocando sua mensagem de divisão da autoridade e limitação do poder. Em contraposição aos conservadores e utópicos radicais, “o liberalismo pressupõe uma grande variedade de valores e crenças”. (MERQUIOR, 1991a, pp. 15- 19) Um dos trechos mais relevantes desta obra se localiza no sub-capítulo sobre as três escolas de pensamento liberal. Na primeira delas, a inglesa, os pensadores costumavam ver a liberdade como independência, “ausência de obstáculos externos”; chocam-se, assim, com a tradição humanista, que se ancora nos valores cívicos. A tradição francesa, ao contrário, tem um viés mais republicano, defendendo a liberdade política em oposição aos privilégios. É, contudo, a escola alemã que oferece a abordagem mais instigante das três. Partindo de uma concepção mais cultural e humanística da liberdade, autores como Wilhelm von Humboldt (1768-1835) enfatizam o ideal da Bildung, isto é, o cultivo da personalidade através de uma formação universal: Humboldt exprimiu um tema liberal profundamente sentido: a preocupação humanista de formação da personalidade e aperfeiçoamento pessoal. Educar a liberdade, e libertar para educar – esta era idéia da Bildung, a contribuição goethiana de Humboldt à filosofia moral. (Ibidem, pp. 30-31) De acordo com José Guilherme, o conceito de Bildung está “ligado à liberdade política porque também salienta a autonomia; contudo, não gira em torno da participação política, mas em torno do desdobramento do potencial humano.” (Ibidem, p. 31) Nas palavras do próprio Humboldt, a verdadeira finalidade do Homem é a “formação a mais alta e harmoniosa possível de suas forças em direção a uma totalidade completa e consistente.” (HUMBOLDT, 2004, p. 143) Desta forma, o anseio por liberdade se origina na possibilidade de que as forças vitais possam se manifestar e realizar, sendo que “este vigor individual combina-se com a pluralística diversidade em prol da originalidade.” (Ibidem, p. 145) Ainda sobre este ponto, na palestra Algumas Reflexões sobre os Liberalismos Contemporâneos o autor enfatiza a conexão entre liberalismo e humanismo, a qual é “permeada pelo tema da excelência, da autoformação”. Embora não compartilhe da “rebelião contra o raciocínio utilitarista” que verifica em alguns liberais modernos, Merquior deixa explícita a sua adesão à idéia humanista de “aprimoramento pessoal”. (Idem, 1991b, pp. 15-16) Como já foi dito anteriormente, o liberal britânico John Stuart Mill se inspirou no ideal da Bildung para conceber uma visão mais romântica da liberdade, segundo a qual o bem-estar é mais bem alcançado se houver um livre desenvolvimento da individualidade. Stuart Mill defendia uma mescla desta concepção alemã do aperfeiçoamento humano com os conceitos clássicos ingleses e franceses de liberdade – independência pessoal e autogoverno coletivo, respectivamente. Segundo Merquior, a visão social-liberal consolidou-se através de pensadores como Thomas Hill Green (1836-1882) e Leonard Hobhouse. Green deu um caráter anti-utilitarista à ideologia liberal ao alegar que, quando falamos em liberdade como algo de inestimável, pensamos num poder positivo de fazer coisas meritórias ou delas usufruir. Este pensador também via a liberdade como o direito que se tem de produzir o melhor de si mesmo, “conjugando os valores básicos dos direitos e liberdades individuais com uma nova ênfase na igualdade de oportunidades e no ethos de comunidade.” (MERQUIOR, 1991a, p. 154) Hobhouse, por sua vez, revelava uma preocupação com a justiça social e com os excessos do laissez-faire preconizado pelo liberalismo clássico, e desejava demonstrar que a sociedade progride por força da cooperação humana, e não (apenas) pelo auto-interesse dos atores sociais. Embora mantenha caráter individualista, o liberalismo social revolta-se contra a liberdade negativa9, propondo um resgate de sua faceta positiva. Para esta corrente de pensamento, não se trata de uma discussão sobre mais ou menos estado, mas sim de mais ou menos liberdade: Os novos liberais queriam implementar o potencial para o desenvolvimento do indivíduo que fora caro a Mill em seguimento a Humboldt, e ao fazê-lo pensaram no direito e no Estado como instituições habilitadoras. Esta preocupação com a liberdade positiva levou-os a ultrapassar o Estado minimalista. (Ibidem, p. 165) José Guilherme, portanto, endossa a noção do liberalismo social de que a liberdade é algo a ser desfrutado por todos os membros da sociedade, contanto que as linhas de ação livremente escolhidas não envolvam dano a outrem. Além disso, a liberdade é algo valioso apenas na medida em que seja meio para um fim: o bem comum. Ao contrário do liberalismo conservador, cuja característica principal é a 9 Sobre a dicotomia das liberdades estabelecida por Isaiah Berlin (1909-1997), eis uma breve explicação: a liberdade positiva é a auto-identificação com um ideal, visando a alcançar a independência; ou seja, é a conquista da autonomia, do domínio de si mesmo, da auto- realização. Já a liberdade negativa significa não sofrer coerção pela vontade arbitrária dos outros; é a ausência de restrições ou limitações externas ao indivíduo, na medida em que cada pessoa deve ser independente, livre de interferências e capaz de agir segundo as próprias escolhas. Ver BERLIN, Isaiah. Dois conceitos de liberdade. In: Estudos sobre a Humanidade: Uma Antologia de Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. desconfiança sobre a democracia10, os social-liberais valorizam a participação política, ligando-a à idéia de aperfeiçoamento social. Descrito o aspecto político da adesão de Merquior ao liberalismo social, como ele a justifica no âmbito econômico? Para este autor, demandas distributivistas de caráter imediatista implicam um alto grau de intervenção na economia, levando a mais inflação e não a menos desigualdade. A solução, portanto, seria combater a inflação sem deixar de buscar a redistribuição de renda. Caberia ao estado empreender uma reforma fiscal e patrimonial, assegurando maior liquidez ao Tesouro e maior eficiência à ação governamental. (cf. ALMEIDA, 2008, p. 6) Se por um lado tece duras críticas ao distributivismo, por outro lado José Guilherme também não poupa o caráter “estatofóbico” de liberistas como Spencer11 e de seus herdeiros neoliberais, preocupados com a liberdade econômica, mas pouco atentos às desigualdades sociais. Sendo assim, defende a atualização do liberalismo clássico diante das novas demandas geradas pela crise que os estados capitalistas de modernização tardia atravessavam. Propunha, então, a manutenção dos pressupostos fundamentais do pensamento liberal combinada com profundas reformas do aparelho estatal e uma maior garantia de direitos sociais. (cf. Ibidem, pp. 9-10) Em suma, O Liberalismo: Antigo e Moderno prossegue a defesa de Merquior do liberalismo, porém em sua vertente social, não a conservadora nem a laissez-faire. Para este autor, o escopo da atuação do Estado não deve ser minimalista, pois lhe cabe a promoção das condições favoráveis à vida moral; sendo assim, a participação política é enaltecida, na medida em que gera virtude cívica e auto-cultivo.Sobre o diálogo criativo que Merquior estabeleceu com a tradição liberal, Celso Lafer (1941) observou certa vez que, “no pluralismo um tanto centrífugo da doutrina liberal e nas várias vertentes da liberdade que contempla, encontrou José Guilherme uma visão das coisas e do mundo que se ajustava à multiplicidade das suas curiosidades intelectuais e da sua personalidade.” (LAFER, 2011, p. 31) 10 De acordo com Merquior, os liberais conservadores – dentre eles Spencer e Lord Acton (1834-1902) – “diferiam dos conservadores, liberais ou não, pela fidelidade aos traços básicos da visão liberal do mundo, como o individualismo e o latitudinarismo, e na rejeição do holismo e da autoridade religiosa. Mas coincidiam com os conservadores na sua inclinação contra a democracia”, em seu “dissabor pela política de massa ou cultura igualitária”. (MERQUIOR, 1991, pp. 149-150) 11 Segundo o autor, “o liberismo não significou o laissez-faire dogmático. Longe de ser um artigo de fé nos clássicos da economia, o laissez-faire rígido foi pregado muito mais tarde por não-economistas como Herbert Spencer.” (MERQUIOR, 1991, p. 81) Conclusão Espero, ao longo deste artigo, ter demonstrado a centralidade do liberalismo social no pensamento político de José Guilherme Merquior. Concluída a exposição, creio que o seguinte trecho de O Argumento Liberal sintetiza de forma clara a posição de Merquior: O liberalismo moderno é um social-liberalismo, é um liberalismo que não tem mais aquela ingenuidade, aquela inocência diante da complexidade do fenômeno social, que o liberalismo clássico tinha. O liberalismo moderno não possui complexos frente à questão social, que ele assume. É a essa visão do liberalismo que eu me filio. (MERQUIOR, 1983) Apresento abaixo dois dos comentadores da obra de José Guilherme Merquior, os quais permitem esclarecer e qualificar aspectos do pensamento deste autor. Roberto Campos, que foi fundamental para a aproximação de Merquior com o pensamento liberal, não concordou com todas as posições de seu pupilo em O Liberalismo: Antigo e Moderno: ele teria sido generoso demais em relação ao social- liberal John Maynard Keynes12 (1883-1946) e pouco indulgente no tocante a Hayek13. Campos, entretanto, observou que em suas últimas conversas com o amigo, sentiu que ele se tornava cada vez mais “liberista”, no sentido de acreditar que, “se não houver liberdade econômica, as outras liberdades – a civil e a política – desaparecem.” Roberto Campos também alega que o diagnóstico de ambos sobre a moléstia brasileira era convergente: “ao Brasil de hoje não falta liberdade. Falta liberismo.” (CAMPOS in MERQUIOR, 1991a, p. 11) O sociólogo Hélio Jaguaribe (1923), um dos principais expoentes do pensamento nacional-desenvolvimentista, reconheceu em Merquior um intelectual politicamente engajado – não no sentido de uma militância partidária, mas no domínio da militância 12 José Guilherme afirma que este economista tornou-se, a partir da década de 1930, “a principal referência do liberalismo reconstruído.” Keynes estaria certo quando escreveu que “o problema político da humanidade consiste em combinar três coisas: eficiência econômica, justiça social e liberdade individual.” Além disso, “deu ao liberalismo ortodoxo o golpe de morte com seu livro The End of Laissez-faire, de 1926.” (Ibidem, p. 174) 13 Merquior alega uma “cega confiança de Hayek na ciência da evolução como tradição”, na medida em que ele afirma, mais do que prova, “a sabedoria oculta de instituições há muito existentes.” Este adesão quase mística de Hayek à “ordem espontânea” poderia justificar inclusive instituições intervencionistas, como o controle de preços e a taxação progressiva. Além disso, “a liberdade, para Hayek, é, no fundo, um instrumento de progresso; o mérito supremo do indivíduo ‘hayekiano’ é contribuir (inconscientemente) para a evolução social”. (Ibidem, p. 195) Tal visão neo-evolucionista o afasta de uma abordagem mais sofisticada, como o humanismo de Humboldt. de idéias e na construção de um pensamento que se relacionasse com o bem público. Sobre a evolução ideológica de José Guilherme, Jaguaribe aponta que ele se atraiu na juventude pela social-democracia propagada pelo diplomata San Tiago Dantas (1911- 1964), mas que em seguida passou – assim como Roberto Campos – por um profundo desencantamento em relação à maquinaria estatal, levando-o em direção ao liberalismo. (cf. JAGUARIBE, 1996, pp. 21-22) Ao contrário de Campos, Hélio Jaguaribe não viu no autor de O Liberalismo: Antigo e Moderno um deslocamento do social-liberalismo para o liberismo, e sim o oposto: Merquior teria começado numa vertente mais conservadora, como a de Hayek ou Ludwig von Mises (1881-1973), para em sua maturidade direcionar suas convicções liberais para uma tradição de viés mais social, dentro da qual figuram pensadores como Thomas Hill Green, Raymond Aron (1905-1983) e Ralf Dahrendorf (1929-2009). Desta forma, José Guilherme teria apoiado um liberalismo que equilibra a maximização da liberdade com uma ampla dose de eqüidade social; portanto, estava longe de endossar o neoliberalismo. (cf. Ibidem, p. 36) É possível perceber, assim, que obras como A Natureza do Processo e O Liberalismo: Antigo e Moderno agradam pensadores tão díspares como o liberal Roberto Campos e o nacionalista Hélio Jaguaribe. Enquanto o primeiro poderia enaltecer a defesa que Merquior faz da economia de mercado, o segundo ressaltaria o elogio de José Guilherme à participação democrática e sua preocupação com a redução das desigualdades sociais; como diria Rouanet, “seu liberalismo era inseparável de uma visão de igualdade e de justiça social.” (ROUANET, 2011, p. 20) Ambos, contudo, possivelmente concordariam com a visão progressista deste autor diante do tema da Cultura. Em sua fé na liberdade humana, Merquior enfatiza a importância de combinar cultura e civilização, educação e desenvolvimento. Não é por acaso que algumas das páginas mais poderosas deste autor são as que dissertam sobre temas mais humanistas: no caso de O Liberalismo: Antigo e Moderno, as passagens sobre a concepção alemã de liberdade e sobre o liberalismo social evocam uma visão mais elevada da condição humana. Por fim, cabe reconhecer, sem medo de superestimá-lo, que José Guilherme Merquior possuía uma “fulgurante capacidade de síntese” e uma “arguta competência analítica”. (LAFER, 2011, p. 31) Concordo com Celso Lafer quando diz que a vida e obra de Merquior são uma Bildung, um processo contínuo de auto-cultivo que revela a construção e o despertar progressivo de uma grande personalidade que procurou arduamente esclarecer idéias de múltiplas maneiras. (cf. Idem, 1996, p. 215) Retomando um tema que abordei no capítulo 2 deste artigo, não seria errôneo alegar que a filiação teórica e ideológica deste autor ao liberalismo social tem bastante a ver com o valor que esta visão de mundo dá à individualidade, ao auto-aprimoramento. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Monica Piccolo. José Guilherme Merquior e Fernando Collor de Mello: O Moderno Liberalismo Social. Anais do Segundo Congreso Internacional: La Escuela Austríaca en el Siglo XXI. Rosário, 2008. CAMPOS, Roberto. 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