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REVISÃO TÉCNICA 
 
João Pedro Favaretto Salvador 
Pesquisador do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV 
Direito SP. Mestrando em Direito Penal pela FD/USP. Bacharel em 
Direito pela FD/USP. 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DO CURSO ......................................................................................................................................... 1 
OBJETIVOS ................................................................................................................................................................................................. 1 
Objetivo geral ............................................................................................................................................................................. 1 
Objetivos específicos ............................................................................................................................................................ 2 
AUTORES DA APOSTILA .................................................................................................................................................................. 2 
ESTRUTURA DO CURSO .................................................................................................................................................................. 3 
BIBLIOGRAFIA COMENTADA ........................................................................................................................................................ 4 
INICIANDO O ESTUDO ..................................................................................................................................................... 1 
UNIDADE I – GARANTIAS À LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET ................................................... 5 
UNIDADE II – LIMITES E DESAFIOS............................................................................................................................. 9 
UNIDADE III – COMO OS ADOLESCENTES SE EXPRESSAM NA INTERNET? .......................................... 15 
RECAPITULANDO ............................................................................................................................................................. 19 
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................................................................ 22 
 
file://9j2004/ORACASE/Textos_manual_pdf/Modelagem%203.0/_CORPORATIVO/NIC.BR/Liberdade%20de%20Express%C3%A3o/diagramado/liberdade_expressao.docx#_Toc33712854
 
 
 
 
 
 
1 
 
 
 A liberdade de expressão é uma das bases da nossa sociedade, sem a qual não poderíamos 
sequer falar em democracia. É a partir do respeito a esse princípio que as pessoas podem ter contato 
com diferentes opiniões, discutir ideias, propor soluções e se expressar de forma geral. Nas últimas 
décadas, a internet introduziu uma série de novidades que modificaram a forma como as pessoas 
acessam a informação e divulgam as próprias opiniões, proporcionando também um alcance maior 
dos discursos, além das implicações destes, mesmo sendo proferidos por indivíduos “comuns”. 
Nesse cenário, compreender as características que atualmente moldam a expressão dos 
indivíduos em sociedade é fundamental para o exercício da cidadania, incluindo as garantias que se 
oferece à liberdade de expressão e também os limites a que ela está sujeita. Essas questões também 
são importantes para os adolescentes, visto que fazem parte de uma parcela da população com 
intenso contato com os espaços virtuais e, além disso, estão em fase de formação, usando vários 
meios para construir as identidades e expressar quem são. 
Dessa forma, este curso surge para apontar essas discussões e apresentar dicas práticas que 
podem ajudar em situações do dia a dia. Vamos entender quais são as possibilidades e os limites 
que a internet oferece à liberdade de expressão e como questões envolvendo esse tema vêm se 
desenrolando na prática. 
OBJETIVOS 
OBJETIVO GERAL 
Compreender as garantias que a nossa sociedade oferece à liberdade de expressão, assim como 
os limites e os desafios introduzidos pela popularização do uso da internet. 
APRESENTAÇÃO 
DO CURSO 
 
 
 
 
 
2 
 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
• entender o significado de liberdade de expressão, os desdobramentos desse princípio na 
internet e os desafios que, sobretudo, as redes sociais e outras plataformas virtuais 
instauraram; e 
• aprender a identificar os limites da liberdade de expressão em situações concretas da 
internet. 
AUTORES DA APOSTILA 
 
 Cesar André Machado de Morais 
 
Pesquisador do Centro Internacional de Direitos Humanos 
de São Paulo (CIDHSP) da Academia Paulista de Direito 
(APD). Mestrando em Direito e Desenvolvimento pela FGV 
Direito SP. Bacharel em Direito pela Universidade de São 
Paulo (USP), campus Ribeirão Preto. 
 
Guilherme Forma Klafke 
 
Líder de projetos e pesquisador do Centro de Ensino e 
Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP. Doutor (2019) e 
mestre (2015) em Direito Constitucional pela Universidade 
de São Paulo. Bacharel (2011) em Direito pela Universidade 
de São Paulo. É colaborador da Sociedade Brasileira de 
Direito Público desde 2011, na qual coordenou a Escola de 
Formação Pública (2017). Foi professor de Filosofia do 
Direito da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo 
(2017-2018). Coordena e desenvolve pesquisas nas áreas de 
Direito Constitucional, Jurisdição Constitucional, Ensino 
Jurídico, Ensino Participativo, Direitos Humanos Digitais e 
Filosofia do Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 Stephane Hilda Barbosa Lima 
 
Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação 
da FGV Direito SP. Doutoranda em Teoria do Estado pela 
Universidade de São Paulo. Mestre (2018) em Direito 
Constitucional e graduada (2014) em Direito, ambos pela 
Universidade Federal do Ceará, além de especialista (2016) 
em Direito Tributário e Processo Tributário pela Escola 
Jurídica Juris. Desenvolve pesquisas e atividades de ensino 
nas áreas de Ensino Jurídico, Metodologias Participativas, 
Direitos Humanos Digitais, Direito Educacional, Educação 
Digital e Regulação. 
 
Tatiane Guimarães 
 
Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da 
FGV Direito SP. Graduada (2019) pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 
 
 
 
ESTRUTURA DO CURSO 
Neste curso, vamos abordar o conteúdo sobre a liberdade de expressão por meio da seguinte 
estrutura: 
 
• Iniciando o estudo 
Vamos apresentar o conceito de liberdade de expressão e, em seguida, fazer uma brevíssima 
contextualização do conceito no Brasil e no âmbito mundial, de modo que, desde o 
início, seja possível compreender esse princípio como um dos pilares da democracia. 
Em seguida, vamos discutir como a internet ampliou a possibilidade de as pessoas se 
expressarem e serem ouvidas, assim como concordarem e divergirem umas das outras em 
relação àquilo que acreditam. Essas novas possibilidades não só contribuem para 
aperfeiçoar o que entendemos como democracia mas também abrem brecha para certas 
distorções e desafios. 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
• Unidade 1 – Garantias à liberdade de expressão na internet 
Entenderemos qual é a atual configuração de regulação da liberdade de expressão na 
internet, enfatizando os mecanismos que a potencializam e os que a limitam. 
 
• Unidade 2 – Limites e desafios 
Mostraremos como temas sensíveis à discussão podem se tornar hipersensíveis na 
internet, justamente por causa do alcance e do eco que encontram nesses ambientes. 
 
• Unidade 3 – Como os adolescentes se expressam? 
Trataremos brevemente de algumas características específicas da forma como os 
adolescentes usam a internet para se expressar. 
BIBLIOGRAFIA COMENTADA 
BRASILINO, L. A liberdade de expressão e a democracia. Le Monde Diplomatique Brasil. 2017. 
Disponível em: https://diplomatique.org.br/liberdade-de-expressao-e-democracia/. Acesso em: 14abr. 2019. 
Entrevista pautando a liberdade de expressão e a democracia com o filósofo, professor 
da USP e ex-ministro da Educação Janine Ribeiro. 
 
IRPC. Internet Rights & Principles Coalition. Carta de direitos humanos e princípios para a internet. 
Tradução: Gabriel Pennacchi Z. N. Itagiba. Rio de Janeiro: IGF; ITS, 2015. Disponível em: 
https://itsrio.org/pt/publicacoes/carta-de-direitos-humanos-e-principios-para-a-internet/. Acesso 
em: 13 abr. 2019. 
Essa carta trata de todos os direitos humanos contidos na Declaração Universal de 
Direitos Humanos e também de outros documentos que compõem a Carta Internacional 
de Direitos Humanos da ONU. Ela foi traduzida pelo Instituto de Tecnologia e 
Sociedade do Rio (ITS). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para que possamos compreender o que vem a ser a liberdade de expressão, vamos ter em 
mente as seguintes situações hipotéticas: 
 Criar ou não um canal de vídeos – Você é um professor do Ensino Médio carismático 
e bastante conhecido na rede pública de seu município. Eis que em um determinado ano, 
diante da falta de reajuste do salário dos professores, você foi incentivado por seus colegas 
a criar um canal de vídeos denunciando a posição adotada pela prefeitura, tanto para 
contagiar outros funcionários públicos da cidade como para chamar a atenção da 
população em geral. Suponha que você fique em dúvida sobre a legalidade ou não de 
publicar tais conteúdos na internet. 
 Comentários apagados – O seu sogro, bastante chateado, conta a você que foram 
excluídos os comentários dele sobre política escritos em resposta ao texto de uma 
reportagem veiculada por um portal de notícias. Segundo ele, raramente ele escrevia 
alfinetadas tão precisas quanto aquelas e, mesmo assim, elas foram excluídas sob a 
justificativa do site de serem “comentários que veiculam ofensa e/ou discurso de ódio”. 
Apesar de chateado, ele admite que, nos comentários, acabou “xingando” algumas pessoas. 
 Grupo desativado – Você participa de um grupo em uma rede social denominado 
Mulheres na Academia, no qual é publicada uma série de conteúdos afirmativos sobre 
gênero e sobre os desafios encontrados pelas mulheres no mundo acadêmico. O grupo é 
privado e, obviamente, só aceita mulheres. Eis que, de repente, você depara com uma 
mensagem alegando que o grupo foi desativado por violar as políticas da comunidade. 
 Apagar ou não vídeo de piadas – Um aluno seu, do Ensino Médio, que ficou bastante 
conhecido no colégio por criar um canal de vídeos, relata a você que, após publicar um vídeo 
fazendo piadas sobre um tema bastante polêmico, recebeu uma série de comentários negativos 
no canal, inclusive de adultos que sugeriam a ele apagar o vídeo para evitar problemas. 
INICIANDO O ESTUDO 
 
 
 
 
 
2 
 
 
Esses e vários outros casos estão ligados ao que entendemos por liberdade de expressão. Trata-se 
de um princípio aceito e reconhecido pelos vários países democráticos do mundo. Na verdade, 
entende-se que não é possível haver democracia sem liberdade de expressão, uma vez que este é um 
direito fundamental à existência de outros direitos, como a liberdade de organização e a liberdade de 
voto, dois pilares da democracia representativa. Como seria possível associar-se a um partido ou a 
uma corrente de ideias e depois votar nos indivíduos que se deseja eleger como representantes, sem 
poder discutir, criticar e ouvir? Ou seja, sem poder expressar opinião e sem ter acesso à opinião de 
outras pessoas? 
No Brasil, a liberdade de expressão faz parte dos direitos e garantias fundamentais previstos 
pela Constituição Federal de 1988, que estabelece ser livre a manifestação do pensamento, da 
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou 
licença. Já no plano internacional, e décadas antes da atual Constituição brasileira, a Declaração 
Universal de Direitos Humanos da ONU dispôs que: 
“[...] todo indivíduo tem direito à liberdade 
de opinião e de expressão, o que implica o 
direito de não ser importunado por suas 
opiniões e o de procurar, receber e difundir 
informações e ideias, sem limitações de 
fronteiras, por qualquer meio de 
expressão.” 
Perceba que, segundo essa definição, o direito à liberdade de expressão envolve não só o direito 
de um indivíduo de se expressar e não ser importunado por aquilo que diz mas também envolve o 
direito de participar ativa e passivamente do debate público; o que, aliás, é fundamental para que as 
pessoas possam construir opiniões e visão de mundo, conhecendo argumentos contrários aos delas, e 
se identificando com outras pessoas que partilham de pontos de vista semelhantes. 
Apesar da importância que o texto Constitucional brasileiro e outros documentos 
internacionais relevantes dão à liberdade de expressão, devemos ressaltar que, após o surgimento da 
internet, os conceitos relativos a esse direito foram duramente tensionados. Isso porque ela 
modificou radicalmente o papel da imprensa e também a forma como se dá o debate público: seja 
em relação aos novos atores que passaram a produzir conteúdo de largo alcance, como youtubers e 
blogueiros influentes, seja porque as “pessoas comuns” adquiriram um novo canal por meio do qual 
podem expressar as opiniões delas, que serão lidas ou ouvidas ao menos pelas pessoas mais próximas. 
Veremos ao longo das unidades que essas modificações trouxeram incrementos positivos à 
democracia mas também permitiram uma série de distorções que ainda estão sendo compreendidas 
pela sociedade de um modo geral. 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Por ora, cumpre a nós ressaltar que a internet demanda um modo específico de se pensar a 
liberdade de expressão, uma vez que é um espaço com características bastante peculiares, e é 
justamente nele que as pessoas hoje mais se relacionam.
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
Segundo a Coalizão pelos direitos e princípios na internet1, o direito à liberdade de expressão 
e de informação na internet inclui uma série de implicações, as quais não são de todo óbvias. Vamos 
detalhá-las a seguir: 
 Liberdade de protesto on-line: o direito que todo indivíduo tem de usar a internet para 
organizar e participar de protestos, seja de modo on-line ou off-line. 
 Proteção contra censura: é a proteção dos indivíduos contra qualquer medida que vise 
a intimidar ou a impedir as manifestações deles na internet. 
 Direito à informação: todo indivíduo tem o direito de procurar, receber e repassar 
informações e ideais que considere importante, incluindo aquelas informações que são 
disponibilizadas pelo governo. 
 Liberdade dos meios de comunicação: diz respeito à liberdade dos indivíduos em usar 
os diferentes meios de comunicação existentes na internet, sejam eles blogs, plataformas 
de vídeo, redes sociais, fóruns etc. 
 Proteção contra discurso de ódio: o direito à liberdade de expressão pode ser limitado 
de forma específica nos casos em que o exercício dele acarrete grave violação aos direitos 
humanos de terceiros. 
 
Definitivamente a internet revolucionou as formas por meio das quais as pessoas podem 
expressar as opiniões e ideias delas, nos campos científico, intelectual, artístico ou político. 
Chegamos a um momento em que certos comportamentos, atividades ou acontecimentos são ou 
 
1 IRPC. Internet Rights & Principles Coalition. Carta de direitos humanos e princípios para a internet. Tradução: Gabriel Pennacchi Z. N. Itagiba. 
Rio de Janeiro: IGF; ITS, 2015. Disponível em: https://itsrio.org/pt/publicacoes/carta-de-direitos-humanos-e-principios-para-a-internet/. 
Acesso em: 13 abr. 2019. 
UNIDADE I – GARANTIAS À LIBERDADE DE 
EXPRESSÃO NA INTERNET 
 
 
 
 
 
6 
 
 
só foram possíveis por causa da internet. É até mesmo difícil para alguns jovens pensar em meios 
de se organizar ou de divulgar as opiniões deles que não seja por meio da web. 
Por exemplo, segundo relatório divulgado pela Dubai School of Government, em 20112, a 
propagação do movimentoque ficou conhecido como Primavera Árabe não teria sido possível sem 
os recursos proporcionados pelas redes sociais, principalmente os serviços das redes sociais Facebook 
e Twitter. Foi por meio desses dispositivos que ativistas ganharam proeminência, aumentando 
vertiginosamente os números de seguidores, ao expressar oposição e fazer denúncias aos governos 
vigentes na região norte da África e Oriente Médio. Também foi por meio dessas redes sociais que 
os manifestantes narraram os conflitos que ocorriam, assim como organizavam protestos, o que 
contribuiu por aumentar exponencialmente a participação da população nas manifestações. 
No Brasil, um dos grandes gatilhos para as manifestações que ocorreram em todo o país em 
junho de 2013 foram as imagens de agressões policiais contra manifestantes, que acabaram 
ganhando atenção nas redes sociais e motivando os cidadãos a protestarem contra essas situações, 
consideradas indignantes. Dois anos depois, em 2015, milhares de brasileiros foram às ruas protestar 
contra políticos brasileiros organizando-se por meios de grupos do WhatsApp e eventos no 
Facebook. Isso sem falar nos vários canais de conteúdo que surgiram nesse período, nos quais 
“pessoas comuns” ganharam proeminência por fazer oposição a certas condutas e ideias políticas, 
tornando-se figuras referenciadas em seus círculos políticos3. 
Além disso, no campo artístico, plataformas como Instagram, Youtube, SoundCloud e Flickr, 
dentre tantas outras, permitem, por exemplo, que artistas visuais, músicos e atores divulguem e 
comercializem os trabalhos deles de forma ampla. Também no campo intelectual e científico, blogs, 
revistas digitais e plataformas de artigos acadêmicos possibilitam que estudiosos de diversos campos 
do conhecimento busquem dados e informações e divulguem os trabalhos que produzem nas 
respectivas áreas de atuação. 
Ora, tendo em vista as garantias que a Constituição prevê, podemos dizer que, de fato, essas 
novas possibilidades aperfeiçoaram o exercício do direito à liberdade de expressão dos indivíduos. 
Nesse sentido, por exemplo, criar um canal de vídeos para criticar as medidas tomadas por uma gestão 
da prefeitura, conforme a situação hipotética Criar ou não um canal de vídeos, apresenta-se como 
uma estratégia legal de pressão política por parte dos professores. Veja, como profissional e cidadão, 
você tem todo o direito de expressar seu repúdio às medidas adotadas por determinada gestão política, 
assim como incentivar a mobilização de outros profissionais da mesma categoria e da população em 
geral, isso tudo por intermédio do meio de comunicação que você bem entender, independentemente 
 
2 BORGES, T. Redes sociais foram o combustível para as revoluções no mundo árabe. Operamundi. 2012. Disponível em: 
https://operamundi.uol.com.br/noticia/18943/redes-sociais-foram-o-combustivel-para-as-revolucoes-no-mundo-arabe. Acesso em: 12 
abr. 2019. 
3 FERRARI, B. A era dos protestos conectados. Época. 2015. Disponível em: https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/03/era-dos-
protestos-conectados.html. Acesso em: 18 abr. 2019. 
 
 
 
 
 
7 
 
 
de qualquer licença. É claro, você pode fazer tudo isso desde que seu discurso se atenha à moderação 
e não veicule informações falsas ou ofensas a grupos específicos de indivíduos. 
Como nem tudo são flores, veremos, a seguir, alguns temas que são, por natureza, bastante 
sensíveis e podem gerar uma série de extrapolamentos e desentendimentos. Conforme mostramos 
em outro curso da série, o direito à liberdade de expressão muito facilmente pode resultar em 
práticas nocivas, como os discursos de ódio nos quais a ofensa é uma agressão contra toda uma 
parcela da população, como LGBTs, mulheres e negros, principalmente. 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
9 
 
 
Você provavelmente já ouviu o ditado popular: “Política, futebol e religião não se discutem”, 
mas será que você já se questionou se concorda com ele? Aliás, será que esse ditado é válido para as 
redes sociais, os fóruns e os demais ambientes de relacionamento na internet? Quando afirmamos 
que esses assuntos não devem ser discutidos, estamos dizendo que cada pessoa tem sobre eles uma 
opinião muito pessoal, muitas vezes carregada da própria fé, das próprias paixões e experiências de 
vida e, assim, discutir esses assuntos pode ser uma má ideia, uma vez que as pessoas podem se exaltar 
ou ofender umas às outras e acabar se prejudicando por causa disso. 
Mas será que para não ofender outras pessoas, é realmente necessário deixar de discutir esses 
assuntos? Isso não seria se privar da liberdade de expressão, esse princípio tão caro a nossa sociedade, 
conforme já vimos? 
E quanto ao humor, como saber o que pode e o que não pode ser dito? Aliás, será que, ao 
fazermos uma piada, não estamos quase sempre ofendendo alguém? 
Todos esses questionamentos dizem respeito aos limites da liberdade de expressão, assunto 
extremamente controverso, sobretudo no âmbito da internet, mas que ainda assim apresenta alguns 
pontos de consenso. A própria Constituição Federal, no artigo 5º, o mais importante quando se 
fala em Direitos Humanos protegidos pelas leis brasileiras, traz alguns direitos que se “sobressaem” 
à liberdade de expressão, limitando-a. Entre esses limites previstos na Constituição, temos, por 
exemplo: ofensas contra a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, X); 
crime de racismo, que é inafiançável, e a ideia de que a lei deve punir toda forma de discriminação 
que violar direitos e liberdades fundamentais (art. 5º, XLI e XLII). 
Na verdade, a publicação de conteúdos desse tipo pode ser classificada como crime de injúria, 
calúnia ou difamação, ou ainda, ser inserida na categoria de discursos de ódio, tema este que 
abordamos com mais profundidade em outro curso da série. 
 
UNIDADE II – LIMITES E DESAFIOS 
 
 
 
 
 
10 
 
 
Você se lembra do caso hipotético 2, Comentários apagados? Nesse caso, “seu sogro” tem 
todo o direito de manifestar a opinião política dele no portal de notícias on-line, desde que os 
comentários não violem de forma grave os direitos fundamentais de outros indivíduos ou de grupos 
específicos de indivíduos. Assim, uma vez que o comentário foi excluído do site sob a justificativa de 
“veicular ofensa e/ou discurso de ódio”, e uma vez que “seu sogro” admitiu ter xingado certas pessoas 
no comentário, podemos concluir que ele não se atentou para o fato de que o conteúdo redigido por 
ele podia estar carregando algum tipo de agressão a outros indivíduos e/ou grupos. Nesse caso, muito 
embora o comentário tenha sido tão somente excluído pelo site, em outras situações, as consequências 
poderiam ter sido mais graves, envolvendo inclusive processo na esfera penal. 
Nesses casos, as plataformas (como sites de notícias e de vídeos e redes sociais) geralmente 
oferecem um recurso por meio do qual o usuário pode denunciar comentários, páginas, vídeos, 
fotos e demais conteúdos ofensivos divulgados no site. Essas ferramentas são usadas principalmente 
pelas redes sociais, como o Facebook, e por isso indicamos nos tutoriais do “Para saber mais” alguns 
conteúdos com os quais você pode aprender a utilizá-las. 
É importante pontuar que a proeminência dos sites e das redes sociais como lugar de discussão 
e compartilhamento de ideias na internet trouxe a essas plataformas, em certa medida, o poder de 
definir o que é ou não conteúdo ofensivo ou inapropriado. Isso pode ser bastante eficiente, no que 
se refere à rapidez com que as denúncias podem ser feitas e ouvidas, levando conteúdos indesejáveis 
a serem retirados do ar (caso do “seu sogro”) mas também pode trazer algumas distorções, como a 
remoção de conteúdos que não são necessariamente ofensivos, mas que, por algum motivo, foram 
considerados contrários às políticas de uso do site. 
Isso nos leva ao terceiro caso hipotético apresentado, Grupo desativado. O grupo Mulheres 
na Academia do qual“você” participa, em que são compartilhados conteúdos afirmativos sobre 
gênero e os desafios das mulheres na carreira acadêmica, foi indevidamente excluído sob a 
justificativa de violar as políticas de comunidade do site. Veja, nesse caso, ainda que a justificativa 
não traga detalhes sobre o motivo de exclusão do grupo, pode-se imaginar que houve uma 
interpretação errônea por parte dos profissionais do site que fiscalizam a circulação de conteúdos 
ofensivos: eles podem ter interpretado um grupo composto só por mulheres como um tipo de 
atividade discriminatória, quando, na verdade, o objetivo do grupo era justamente o oposto, ou 
seja, a intenção era combater a discriminação a partir de um espaço no qual as mulheres pudessem 
se sentir confortáveis para compartilhar experiências e dialogar. 
Contrariamente ao caso anterior, em que comentários ofensivos foram excluídos pelo site, no 
terceiro caso, temos uma situação que pode ser entendida como censura! Veja que as mulheres 
participantes do grupo foram privadas do direito à liberdade de expressão sem qualquer justificativa, 
simplesmente por causa de uma percepção errônea da plataforma, que entendeu se tratar de um 
grupo ofensivo a outros usuários do site. 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
Esse, de fato, é um desafio à liberdade de expressão na internet. Estariam as empresas donas das 
plataformas aptas a dizer o que se enquadra ou não no direito à liberdade de expressão? Esta é uma 
questão complexa que foge aos objetivos deste curso. Ainda assim, devemos ressaltar que algumas 
plataformas já possibilitam que o usuário que teve conteúdo excluído recorra da decisão tomada pelo 
site, ou seja, no caso Grupo desativado, as participantes poderiam pedir a revisão do posicionamento 
do site, sobre o grupo ter violado as políticas da comunidade. Esse recurso funciona como uma espécie 
de “apelação”, da mesma forma que acontece nos tribunais judiciais, por exemplo, e você pode se 
informar melhor sobre eles nos tutoriais do “Para saber mais”, no ambiente on-line. 
 
Expressão nas redes sociais e questões de gênero 
Figura 1 – Foto representando a diferença de tratamento em relação às fotos “sem camisa” de 
homens e mulheres: à esquerda, foto masculina, abaixo da qual está escrito PERMITIDA (FREE); à 
direita, foto feminina, abaixo da qual consta CENSURADA (CENSORED). 
 
Fonte: Reprodução “Free the nipple” via Época4. 
Dentre as restrições de conteúdo praticadas pelas redes sociais, uma questão vem chamando a 
atenção das(os) usuárias(os) e está profundamente relacionada às questões de gênero. Mais 
especificamente, a questão diz respeito ao corpo feminino e aos vários casos em que as empresas 
Facebook e Instagram excluíram fotos de mulheres por elas estarem com os mamilos à mostra. 
A verdade é que esses casos se mostraram tão problemáticos ao ponto de serem removidas 
 
4 FERRARI, B. Instagram explica a razão para banir fotos de mamilos femininos: a Apple. Época. 2015. Disponível em: 
https://epoca.globo.com/vida/experiencias-digitais/noticia/2015/10/instagram-explica-razao-para-banir-fotos-de-mamilos-femininos-
apple.html. Acesso em: 13 abr. 2019. 
 
 
 
 
 
12 
 
 
capas de revista5 e reportagens com fotos de mulheres indígenas, como recentemente teve a 
Fundação Nacional do Índio (Funai) sua conta bloqueada no Facebook por publicar a foto de 
mulheres indígenas com o seio desnudo6. 
A principal contradição nesses casos é que, enquanto homens estão livres para postar fotos sem 
camisa, as mulheres não estão. Dentre as explicações para tanto, a empresa Instagram já divulgou 
nota na qual afirma nem sempre ser fácil “encontrar o equilíbrio entre permitir que as pessoas se 
expressem e manter uma experiência confortável para toda a nossa comunidade global, cultural 
e etariamente diversa”.7 Por outro lado, executiva representante do Facebook afirmou que essa 
proibição não tem a ver com a censura do corpo feminino mas existe para proteger as mulheres 
nas redes sociais, uma vez que é muito difícil determinar a idade de uma pessoa numa foto de 
nudez, e também é muito difícil determinar se houve consentimento para a publicação dessas 
fotos. A empresa ainda ressalta que, de acordo com as novas políticas adotadas, agora são 
permitidas fotos de seios no caso de mulheres que estão amamentando, fotos de procedimentos 
médicos e também registros de protesto de cunhos político8. 
No intuito de contestar essas regras, a campanha Free the nipple (“Libere os mamilos”, em 
português) busca promover a igualdade de gênero e se opor à objetificação sexual por meio de 
atos nas ruas e publicação de conteúdo nas redes sociais. A verdade é que, por mais insignificante 
que essa questão pareça, “a proibição dos mamilos femininos” nas redes sociais explicita as 
diferenças de tratamento entre homens e mulheres, que acaba por ter efeitos diretos na liberdade 
de expressão delas. 
Por fim, cabe salientar que essa questão está longe de ser resolvida, e por mais que a legislação 
brasileira não forneça normas específicas sobre o tema, as redes sociais têm autonomia para 
definir as regras de uso das plataformas, as quais são consentidas pelo usuário no momento em 
que ele cria a conta de acesso. 
 
Um segundo desafio à liberdade de expressão na internet se refere aos limites do humor. Na 
verdade, é de se supor que esse desafio sempre existiu, uma vez que liberdade de expressão e humor 
são temas discutidos desde muito antes da invenção da internet. Por outro lado, é evidente que os 
fóruns, as redes sociais e as plataformas de vídeo introduziram novas linguagens humorísticas e, 
principalmente, ampliaram o alcance que certos comediantes podiam ter. Nesse cenário, questões 
 
5 Nesse sentido, veja: SOUZA, M. Até quando as redes sociais vão censurar os mamilos femininos?. UOL Tecnologia. 2018. Disponível em: 
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/12/01/ate-quando-as-redes-sociais-vao-censurar-mamilos-femininos.htm. Acesso 
em: 18 maio 2019. 
6 MATSUURA, S. Facebook bloqueia conta da Funai por imagem de indígenas com seios nu. O Globo. 2018. Disponível em: 
https://oglobo.globo.com/sociedade/facebook-bloqueia-conta-da-funai-por-imagem-de-indigenas-com-seios-nus-23025312. Acesso em: 
13 abr. 2019. 
7 SOUZA, M. Op. cit. 
8 GNIPPER, P. Facebook explica porque mamilos femininos são tão polêmicos na rede social. Canaltech. 2018. Disponível em: 
https://canaltech.com.br/redes-sociais/facebook-explica-por-que-mamilos-femininos-sao-tao-polemicos-na-rede-social-112702/. 
Acesso em: 18 abr. 2019. 
 
 
 
 
 
13 
 
 
novas e antigas re(surgiram) no debate público, dividindo opiniões e, frequentemente, esbarrando 
em consequências jurídicas, as quais, atualmente, depois de tantos casos, talvez sejam um foco de 
bastante preocupação para os comediantes. 
No Brasil, vivemos atualmente uma fase de intensa judicialização de conflitos envolvendo 
humor e liberdade de expressão, principalmente casos em que os alvos são políticos e celebridades, 
os quais podem levar os autores a pagar indenização por danos morais ou até mesmo levá-los à 
prisão. Apenas a título de exemplo, em 2013, um blogueiro foi condenado ao pagamento de 
indenização de 10 mil reais por ter publicado uma fotomontagem na qual o rosto do prefeito de 
uma cidade paulista aparece no corpo de um porco para denunciar a “máfia do lixo”9. Por sua vez, 
em 2019, um humorista e apresentador de TV brasileiro foi condenado a seis meses e 28 dias de 
detenção, em regime semiaberto, por injúria contra uma deputada federal, o que aconteceu por 
meio de um vídeo no qual, dentre outras ofensas, o humorista passa um documento dentro da calça 
e dá a entender que o remeteria à deputada10. 
 
Bolhas ideológicas ou filter bubbles 
Figura 2 – Bolhas ideológicas 
 
Você já ouviu a expressão: “Fulano de tal vive dentro de uma bolha”? Se já ouviu, 
provavelmentefoi em um contexto em que uma pessoa criticava outra por viver 
superprotegida em um “mundo só seu”, ou convivendo apenas com os “semelhantes” dela, ou 
seja, com outras pessoas que possuem a mesma opinião, gosto, escolaridade ou posição 
socioeconômica. 
 
9 ANTONIALLI, D. Indenizações por dano moral ameaçam liberdade para se fazer humor na internet. Consultor Jurídico. 2016. Disponível em: 
https://www.conjur.com.br/2016-ago-31/dennys-antonialli-dano-moral-ameaca-liberdade-humor-internet. Acesso em: 18 abr. 2019. 
10 FÁBIO, A. C. O caso Danilo Gentili. E o debate sobre liberdade de expressão. Nexo. 2019. Disponível em: 
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/04/13/O-caso-Danilo-Gentili.-E-o-debate-sobre-liberdade-de-express%C3%A3o. Acesso 
em: 18 abr. 2019. 
 
 
 
 
 
14 
 
 
Embora no mundo real seja meio difícil viver nesse tipo de bolha, uma vez que as interações 
com outras pessoas e opiniões ocorram mesmo que a contragosto, na internet, algumas das 
funcionalidades dos sites mais acessados no mundo vêm permitindo que isso ocorra. 
É o seguinte: sites como Google e Facebook operam por meio de um mecanismo que filtra o 
conteúdo com base naquilo que os usuários têm mais afinidade. Assim, por exemplo, quando 
você faz uma busca por uma notícia no Google, o site vai identificar os portais e as páginas que 
você mais acessa, com base no seu histórico de pesquisas, e oferecer resultados compatíveis 
com o seu “perfil”. Ao buscar por um conteúdo no Google, se você acessa mais conteúdo de 
esquerda do que de direita, a chance de os resultados apontarem para páginas de esquerda é 
significativamente maior. De forma semelhante, o Facebook identifica seus gostos e suas 
preferências por meio daquilo que você “curte” e compartilha na plataforma. Assim, ao entrar 
em sua conta, o conteúdo que lhe é apresentado é selecionado com base nessas 
características, que foram previamente identificadas por meio de seu comportamento na rede. 
Esse fenômeno é especialmente preocupante quando se considera que esses sites estariam 
contribuindo para a reiteração de bolhas de opinião na internet, ou câmaras de eco, utilizando 
um mecanismo que não é explícito, uma vez que está embutido na própria estrutura dessas 
plataformas, ou seja, nas funcionalidades por meio das quais esses sites operam. Desse modo, a 
maioria das pessoas não sabe ou esquece que os conteúdos vistos nesses não são universais, 
ao contrário, são selecionados “sob medida” para cada usuário. 
Como decorrência, as pessoas têm contato só com o que lhes reforça as convicções políticas e 
sociais e, assim, a pluralidade de opinião e de informação, que contribui para o debate em uma 
sociedade democrática, dá lugar ao isolamento ideológico e à falta de diálogo. Esse é mais um 
dos desafios impostos pelas grandes empresas da internet, e mesmo que essas bolhas existam 
nos ambientes virtuais, estar ciente da existência delas e dos efeitos que elas geram sobre nós 
já é um passo importante. 
 
 
15 
 
 
Depois de todo o conteúdo visto até aqui, cabe pontuar algumas características da expressão 
dos adolescentes na internet. Para tanto, vamos focar em dois pontos. O primeiro diz respeito ao 
significado de “liberdade de expressão” nessa fase da vida, ou seja, qual o significado desse princípio 
para os adolescentes; o segundo se refere ao comportamento dos adolescentes na internet, mais 
especificamente ao tipo de conteúdo que eles mais produzem e/ou com o qual mais interagem. 
Inicialmente, um estudo apresentado pela Royal Society for Public Health (RSPH)11 ressalta 
a expressão e a identidade própria como aspectos importantes ao longo do desenvolvimento dos 
adolescentes e dos jovens adultos. Esse estágio é um período no qual os jovens testam coisas 
diferentes, e passam por várias fases de identidade antes de chegar a um senso confortável de quem 
são. Segundo o estudo, é importante, ao longo de todo esse período, que os jovens tenham meios 
de se expressar e explorar quem são como pessoas. Nesse sentido, as plataformas sociais podem 
funcionar como meios efetivos para a autoexpressão dos jovens, permitindo que eles externalizem 
o melhor de si mesmos. 
Pelas redes sociais, por exemplo, os adolescentes podem personalizar os perfis deles com 
imagens, vídeos e palavras que expressam quem eles são e como eles se identificam com o mundo 
em volta deles. As redes sociais também são espaços nos quais os jovens podem compartilhar 
conteúdo criativo e expressar os interesses e as paixões deles com os outros: poder “curtir” ou 
“seguir” páginas, grupos e personalidades significa que eles podem construir um catálogo identitário 
como pessoas. O estudo da RSPH aponta ainda que as mídias sociais permitiram aos jovens, de 
maneira inédita, expressar as identidades políticas deles, já que muitas vezes não se engajam 
politicamente nos canais convencionais. 
 
11 RSPH. Royal Society for Public Health. #StatusofMind: social media and young people’s mental health and wellbeing. [s. d.]. Disponível em: 
https://www.rsph.org.uk/our-work/campaigns/status-of-mind.html. Acesso em: 18 abr. 2019. 
UNIDADE III – COMO OS ADOLESCENTES 
SE EXPRESSAM NA INTERNET? 
 
 
 
 
 
16 
 
 
Dito isso, cabe então entender como essas características se dão na realidade brasileira. Para 
isso, vamos observar alguns dados colhidos do relatório TIC Kids Online Brasil – 201812, que diz 
respeito a crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos. Selecionamos duas categorias de 
atividades sobre as quais crianças e adolescentes foram consultados a respeito de já terem realizado 
na internet. A primeira diz respeito ao tema “cidadania e engajamento”; a segunda, a “produção e 
compartilhamento de conteúdo”. 
 
Gráfico 1 – Cidadania e engajamento na internet 
 
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do Relatório TIC Kids online Brasil – 201813. 
 
 
12 CETIC.BR. TIC Kids Online Brasil – 2018: crianças e adolescentes. 2018. Disponível em: https://cetic.br/tics/kidsonline/2018/criancas/. 
Acesso em: 18 maio 2019. 
13 CETIC.BR. B1C – Crianças e adolescentes, por atividades realizadas na internet: cidadania e engajamento. 2018. Disponível em: 
https://cetic.br/tics/kidsonline/2018/criancas/B1C/. Acesso em: 18 maio 2019. 
5%
20%
39%
43%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
Participou de
campanha/protesto na
internet
Conversou sobre política
ou problemas da
cidade/país
Participou de
página/grupo para
conversar sobre coisas
de que gosta
Conversou com pessoas
de outras
cidades/países/cultura
 
 
 
 
 
17 
 
 
Gráfico 2 – Produção e compartilhamento de conteúdo 
 
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de dados do Relatório TIC Kids online Brasil – 201814. 
Observe que os resultados falam muito por si sós, reforçando as características da expressão dos 
adolescentes na internet mencionada anteriormente. Ainda assim, cabe fazer algumas observações. 
A primeira delas é que, apesar da pouca adesão das crianças e dos adolescentes às temáticas 
políticas (o que é completamente natural), alguns estudiosos chamam atenção para as possibilidades 
de participação política dos adolescentes pela internet, o que também contribui para o aprendizado 
e a vivência dos mecanismos de deliberação nessa idade. Nesse sentido, Ronney Ferreira aponta que 
geralmente os adolescentes tomam contato com a participação em fóruns íntimos, como a família, 
mas que essa participação pode estender-se para fóruns públicos também, principalmente sobre 
assuntos que dizem respeito a eles, como é o caso da Educação. O autor lembra o caso da fan page 
Diário de Classe, criada por uma aluna de 13 anos de idade, cujo objetivo era expor os problemas 
da escola pública na qual ela estudava, em Florianópolis. O caso ganhou repercussão, a página 
recebeu centenas de milhares de seguidores,e acabou por se tornar um centro de distribuição de 
informações, divulgando denúncias e notícias sobre outras escolas do Brasil15. 
A segunda observação é que, definitivamente, a produção e o compartilhamento de fotos e 
vídeos são atividades privilegiadas pelas crianças e adolescentes na internet. Nesse sentido, 
destacamos o fenômeno dos youtubers e a proeminência dessa prática e desses conteúdos entre 
crianças e adolescentes. Por exemplo, o caso hipotético 4, Apagar ou não vídeo de piadas, que 
 
14 CETIC.BR. B1C – Crianças e adolescentes, por atividades realizadas na internet: produção e compartilhamento de conteúdo. 2018. Disponível 
em: https://cetic.br/tics/kidsonline/2018/criancas/B1C/. Acesso em: 18 maio 2019. 
15 FERREIRA, R. Quem não curte, compartilha: a participação política de crianças e adolescentes e os sites de redes sociais. In: FERREIRA, R. 
Liberdade de expressão e os direitos de crianças e adolescentes. Brasília: Ministério da Justiça, 2014. 
30%
46%
48%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
Postou texto/imagem/vídeo
de autoria própria
Compartilhou
texto/imagem/vídeo
Postou foto/vídeo no qual
aparece
 
 
 
 
 
18 
 
 
apresentamos na introdução do curso, e no qual “um aluno seu” do Ensino Médio relata a você 
que, após publicar uma piada em seu canal de vídeos, recebeu uma série de comentários negativos 
o alertando sobre os problemas que o vídeo podia gerar, apresenta uma situação bastante factível às 
práticas dos adolescentes na internet. Nesse sentido, para além dos aspectos positivos que a 
expressão dos adolescentes por meio de vídeos pode ter, é importante também se atentar para os 
perigos e para as limitações dessas práticas. 
Nessa idade, os jovens estão testando as próprias identidades, como já ressaltamos, e acabam 
dizendo coisas sobre as quais nem refletiram, ou nem mesmo sabem se concordam. Inclusive, não 
é raro que seja noticiado na mídia jovens youtubers que se enrolaram em situações semelhantes ao 
do caso hipotético apresentado, nas quais, por exemplo, fazem piadas ofensivas a certas pessoas ou 
grupos sociais. O tema dos canais de vídeos e dos youtubers pode ser um ponto interessante para 
trabalhar os conteúdos desenvolvidos aqui no curso com os adolescentes. 
 
 
 
 
 
19 
 
 
• Liberdade de expressão é o direito de não ser importunado pelas opiniões que se tem e o de 
procurar, receber e difundir informações e ideias. 
• Na internet, a liberdade de expressão inclui a liberdade de protesto on-line; a proteção 
contra a censura; o direito à busca de informação; a liberdade dos meios de comunicação; 
e a proteção contra discursos de ódio. 
• Ideias que tentem a restringir os direitos e a liberdade de alguém ou de determinado grupo, 
incitem a violência e a discriminação assim como agridam gravemente um indivíduo já não 
se encontram mais protegidas pelo direito à liberdade de expressão. 
• Algumas plataformas sociais oferecem a ferramenta de denúncia de conteúdos ofensivos 
e/ou que violem às políticas de comunidade do site; além disso, algumas delas oferecem uma 
ferramenta de “apelação”, na qual o conteúdo indevidamente excluído pode ser 
reconsiderado. 
• A internet e as redes sociais são possibilidades consideráveis à expressão própria e à formação 
da identidade dos jovens. 
• No tema cidadania e engajamento, as principais atividades de crianças e adolescentes na 
internet são “participar de páginas e/ou grupos para conversar sobre coisas que gostam” e 
“conversar com pessoas de outras cidades/países/culturas”. 
• No tema produção e compartilhamento de conteúdo, as principais atividades de crianças e 
adolescentes são “compartilhamento de textos/imagens e vídeos” e “publicação de fotos e 
vídeos no qual aparecem”. 
 
 
 
 
 
20 
 
 
ANTONIALLI, D. Indenizações por dano moral ameaçam liberdade para se fazer humor na 
internet. Consultor Jurídico. 2016. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-
31/dennys-antonialli-dano-moral-ameaca-liberdade-humor-internet. Acesso em: 18 abr. 2019. 
 
BORGES, T. Redes sociais foram o combustível para as revoluções no mundo árabe. Operamundi. 
2012. Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/noticia/18943/redes-sociais-foram-o-
combustivel-para-as-revolucoes-no-mundo-arabe. Acesso em: 12 abr. 2019. 
 
BRASILINO, L. A liberdade de expressão e a democracia. Le Monde Diplomatique Brasil. 2017. 
Disponível em: https://diplomatique.org.br/liberdade-de-expressao-e-democracia/. Acesso em: 14 
abr. 2019. 
 
CETIC.BR. TIC Kids Online Brasil – 2018: crianças e adolescentes. 2018. Disponível em: 
https://cetic.br/tics/kidsonline/2018/criancas/. Acesso em: 18 maio 2019. 
 
CETIC.BR. B1C – Crianças e adolescentes, por atividades realizadas na internet: cidadania e 
engajamento. 2018. Disponível em: https://cetic.br/tics/kidsonline/2018/criancas/B1C/. Acesso 
em: 18 maio 2019. 
 
CETIC.BR. B1C – Crianças e adolescentes, por atividades realizadas na internet: produção e 
compartilhamento de conteúdo. 2018. Disponível em: https://cetic.br/tics/kidsonline/2018 
/criancas/B1C/. Acesso em: 18 maio 2019. 
 
FÁBIO, A. C. O caso Danilo Gentili. E o debate sobre liberdade de expressão. Nexo. 2019. 
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/04/13/O-caso-Danilo-Gentili.-E-
o-debate-sobre-liberdade-de-express%C3%A3o. Acesso em: 18 abr. 2019. 
 
FERRARI, B. Instagram explica a razão para banir fotos de mamilos femininos: a Apple. Época. 
2015. Disponível em: https://epoca.globo.com/vida/experiencias-digitais/noticia/2015/ 
10/instagram-explica-razao-para-banir-fotos-de-mamilos-femininos-apple.html. Acesso em: 13 
abr. 2019. 
 
FERRARI, B. A era dos protestos conectados. Época. 2015. Disponível em: 
https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/03/era-dos-protestos-conectados.html. Acesso em: 
18 abr. 2019. 
 
 
 
 
 
21 
 
 
FERREIRA, R. Quem não curte, compartilha: a participação política de crianças e adolescentes e 
os sites de redes sociais. In: FERREIRA, R. Liberdade de expressão e os direitos de crianças e 
adolescentes. Brasília: Ministério da Justiça, 2014. 
 
GNIPPER, P. Facebook explica porque mamilos femininos são tão polêmicos na rede social. 
Canaltech. 2018. Disponível em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/facebook-explica-por-que-
mamilos-femininos-sao-tao-polemicos-na-rede-social-112702/. Acesso em: 18 abr. 2019. 
 
IRPC. Internet Rights & Principles Coalition. Carta de direitos humanos e princípios para a internet. 
Tradução: Gabriel Pennacchi Z. N. Itagiba. Rio de Janeiro: IGF; ITS, 2015. Disponível em: 
https://itsrio.org/pt/publicacoes/carta-de-direitos-humanos-e-principios-para-a-internet/. Acesso 
em: 13 abr. 2019. 
 
MATSUURA, S. Facebook bloqueia conta da Funai por imagem de indígenas com seios nu. O 
Globo. 2018. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/facebook-bloqueia-conta-da-
funai-por-imagem-de-indigenas-com-seios-nus-23025312. Acesso em: 13 abr. 2019. 
 
RSPH. Royal Society for Public Health. #StatusofMind: social media and young people’s mental 
health and wellbeing. [s. d.]. Disponível em: https://www.rsph.org.uk/our-work/campaigns/status-
of-mind.html. Acesso em: 18 abr. 2019. 
 
SOUZA, M. Até quando as redes sociais vão censurar os mamilos femininos?. UOL Tecnologia. 
2018. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/12/01/ate-quando-as-
redes-sociais-vao-censurar-mamilos-femininos.htm. Acesso em: 18 maio 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Blogueiro(a) – pessoa que publica em blogs, que são um tipo de site que permite a atualização 
rápida a partir de artigos ou postagens. Em alguns casos, são usados como uma espécie de diário. 
 
Democracia representativa – é a forma de governo do Brasil, na qual os representantes do povo 
são escolhidos por estes por meio do voto. 
 
Judicialização – efeito de judicializar, trazer um conflito para a esfera da Justiça (Judiciário). 
 
Tutorial – termo comumente associado à linguagem da internet,o qual diz respeito a qualquer 
guia de aprendizagem que oferece um roteiro passo a passo. 
 
Youtuber – pessoa que publica conteúdo, geralmente autoral e no qual aparece falando sobre algum 
assunto, na plataforma de vídeos YouTube. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	OBJETIVOS
	Objetivo geral
	Objetivos específicos
	AUTORES DA APOSTILA
	ESTRUTURA DO CURSO
	BIBLIOGRAFIA COMENTADA
	INICIANDO O ESTUDO
	UNIDADE I – GARANTIAS À LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET
	UNIDADE II – LIMITES E DESAFIOS
	UNIDADE III – COMO OS ADOLESCENTES SE EXPRESSAM NA INTERNET?

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