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Instituto Federal de Alagoas - IFAL Campus Maceió Bacharelado em Sistemas de Informação Isaac Roberto Ferreira Avaliação do Indicador de Trânsito em Cidades Inteligentes baseada no Modelo Br-SCMM: o Caso de Maceió-AL Maceió, 2015 2 Isaac Roberto Ferreira Avaliação do Indicador de Trânsito em Cidades Inteligentes baseada no Modelo Br-SCMM: o Caso de Maceió-AL Orientador: Prof. Dr. Marcílio Ferreira de Souza Júnior. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação do Instituto Federal de Alagoas como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Sistemas de Informação. Maceió, 2015 3 Avaliação do Indicador de Trânsito em Cidades Inteligentes baseada no Modelo Br-SCMM: o Caso de Maceió-AL Por Isaac Roberto Ferreira Orientador: Prof. Dr. Marcílio Ferreira de Souza Júnior Banca Examinadora: _____________________________________________ Prof. Msc. Ricardo Rubens Gomes Nunes Filho – IFAL (Examinador Interno) _____________________________________________ Prof. Msc. Ricardo Alexandre Afonso - UFAL (Examinador Externo) Maceió, 2015 4 Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, força criadora de tudo que existe e que nos proporciona a oportunidade de viver, aprender e evoluir neste mundo; agradeço também ao amado Mestre Jesus de Nazaré e a todos os irmãos de luz. Agradeço aos meus pais, Ana Lúcia Maria Ferreira e José Cicero Ferreira (in memoriam) que me ensinaram o quão maravilhoso é o conhecimento e me deram os meios para que eu pudesse ter a oportunidade de aprender, sempre; e às minhas irmãs, Angélica e Íris, pelo apoio e carinho. Sou grato ao meu orientador, professor Marcílio Ferreira, pela dedicação e confiança de sempre e à banca examinadora, os professores Ricardo Nunes e Ricardo Afonso. Agradeço de coração a cada professor do curso de Sistemas de Informação do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) campus Maceió pelos ensinamentos, assim como a cada colega que tive o prazer de conhecer e conviver. Muito feliz por vocês fazerem parte da minha jornada. 5 Resumo Na tentativa de enfrentar desafios no desenvolvimento das cidades e garantir melhor qualidade de vida para os seus habitantes, chegou-se ao conceito de cidades inteligentes ou smart cities, compreendido aqui como urbes que trazem em si maneiras de sanar problemas, como impactos ambientais, economia de energia, mobilidade, economia de água e várias outras questões, a partir do uso das tecnologias da informação e comunicação na tentativa de criar espaços inteligentes que alteram física, econômica e socialmente a vida urbana. Neste contexto, buscou-se avaliar o nível de “inteligência” da cidade de Maceió-AL no domínio de transporte a partir do modelo de maturidade Br- SCMM para Cidades Inteligentes, assumindo como indicador o número de óbitos nos acidentes de trânsito no ano de 2011. Como resultado, Maceió foi avaliada com nota 2,57 no domínio estudado. A avaliação foi feita através de um desenho metodológico que envolveu a análise dos dados colhidos em bases públicas e oficiais por intermédio do estudo das TICs implantadas no trânsito do município e a partir de entrevistas com profissionais ligados diretamente ao domínio de transporte. Palavras-chave: Cidades inteligentes, Modelo de maturidade, Trânsito 6 Abstract In an attempt to address challenges in the development of cities and ensure better quality of life for its inhabitants, it came to the concept of smart cities and smart cities, understood here as large cities that carry with them ways to solve problems such as environmental impact, economy energy, mobility, water saving and various other issues, from the use of information and communication technologies in an attempt to create smart spaces that alter physical, economic and social urban life. In this context, we sought to assess the level of "intelligence" of the city of Maceió-AL in the transport domain from Br-SCMM maturity model for Smart Cities, taking as an indicator the number of deaths in traffic accidents in the year 2011. As a result, Maceió was assessed with note 2.57 in the studied area. The evaluation was made through a methodological design that involved the analysis of data collected from public and official basis through the study of ICTs deployed in the city traffic and from interviews with professionals directly linked to the transport domain. Keywords: Smart Cities, Maturity Model, Traffic. 7 Lista de Figuras Figura 1 - Modelo de framework para cidades inteligentes .......................................... 16 Figura 2 – Modelo Europeu de Cidades Inteligentes .................................................... 26 Figura 3 - Modelo IBM de Smart Cities ...................................................................... 28 Figura 4 – Fórmula do modelo de dimensões de uma CI ............................................. 29 Figura 5 – Classificação das capitais brasileiras medidas pelos índices do Br-SCMM . 35 Figura 6 - Mapeamento de Recife no nível S do Br-SCMM......................................... 35 Figura 7 – Comparação das cidades de Florianópolis e Maceió no Br-SCMM ............. 36 Figura 8 - Desenho da pesquisa ................................................................................... 38 Figura 9 - Fórmula do cálculo do Z-Transformation .................................................... 40 Figura 10 - Gráfico do ranking de todas as capitais com o T-Score calculado .............. 45 Figura 11 - Relação Maceió - Arapiraca no indicador calculado .................................. 46 Figura 12 - Mapa da rede de fibra ótica do sistema de videomonitoramento ................ 50 Figura 13 - Sistema Apolo – videomonitoramento SEDS ............................................ 51 Figura 14 - Sistema Apolo de Videomonitoramento da SEDS ..................................... 51 Figura 15 – Imagens do Sistema Apolo de Videomonitoramento da SEDS .................. 52 Figura 16 - Sistema Apolo de videomonitoramento da SEDS ...................................... 52 Figura 17 - Centro de Controle Operacional - Videomonitoramento ............................ 54 Figura 18 - Centro de Videomonitoramento - SMTT ................................................... 57 Figura 19 - Centro de Videomonitoramento - SMTT ................................................... 57 Figura 20 - Centro de Videomonitoramento - SMTT ................................................... 58 Figura 21 - Videomonitoramento Transporte Público - SMTT ..................................... 60 Figura 22 - Videomonitoramento Transporte Público - SMTT ..................................... 61 Figura 23 - Funcionamento do aplicativo Cittamobi .................................................... 61 Figura 24 - Exemplo de Laço Indutivo ........................................................................ 63 Figura 25 - Exemplo de Laço Indutivo ........................................................................ 63 Figura 26 - Gráfico das notas de Maceió no modelo Br-SCMM .................................. 64 Figura 27 - Gráfico das notas de todas as capitais no BR-SCMM ................................ 65 8 Lista de Quadros e Tabelas Quadro 1 – Entrevistas realizadas na pesquisa ..............................................................38 Tabela 1 – Notas das capitais em nove indicadores básicos utilizados no Br-SCMM - o indicador de transporte ...................................................................................................42Tabela 2 – Soma, Média e Desvio Padrão calculados através das notas das capitais nos dez indicadores básicos utilizados no Br-SCMM ...........................................................42 Tabela 3 – Ranking das Capitais Brasileiras no Indicador .............................................44 file:///C:/Users/Isaac/Desktop/TCC%20-%20Isaac%20revisado%201.docx%23_Toc424249826 9 Lista de Abreviaturas e Siglas CI – Cidade Inteligente Br-SCMM - Brazilian Smart City Maturity Model CEBELA - Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos CMMI - Capability Maturity Model Integration CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito DENATRAN - Departamento Nacional de Trânsito DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito DIRET – Diretoria de Educação de Trânsito (SMTT) DISIN – Diretoria de Sinalização de Trânsito (SMTT) GPS – Global Positioning System IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBM - Internacional Business Machines IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IPEA - Instituto de Pesquisa Aplicada IPVA – Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores ISO - Organização Internacional de Normalização ITEC – Instituto de Tecnologia em Informática e Informação do Estado de Alagoas ITS - Sistema de Transportes Inteligentes MPS-BR - Melhoria do Processo de Software Brasileiro MTT - Modelo de Maturidade Tecnológica OCDE - Fórum Internacional do Transporte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMS - Organização Mundial da Saúde 10 ONU - Organização das Nações Unidas ONU - Organização das Nações Unidas PMAL – Polícia Militar de Alagoas SECTI – Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação SEDS – Secretaria de Estado da Defesa Social SERVIPA – Serviço de Vigilância Patrimonial SMTT – Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito TICs - Tecnologias da Informação e Comunicação FLACSO – Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais 11 Sumário 1 Introdução ................................................................................................................ 13 1.1 Delimitação do Tema ............................................................................................ 17 1.2 Problema de Pesquisa ........................................................................................ 20 1.3 Objetivos ........................................................................................................... 21 1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 21 1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 21 1.4 Justificativa ....................................................................................................... 21 2 Revisão da Literatura ............................................................................................... 24 2.1 Cidades Inteligentes .......................................................................................... 24 2.1.1 Trânsito e Cidade ........................................................................................ 30 2.2 Tecnologias de Informação e Comunicação ....................................................... 31 2.3 Modelos de Maturidade para Cidades Inteligentes ............................................. 32 2.3.1 Modelo Br-SCMM ..................................................................................... 33 3 Procedimentos Metodológicos.................................................................................. 37 3.1 Estratégia e Método da Pesquisa ........................................................................ 37 3.2 Coleta dos Dados............................................................................................... 38 3.3 Análise dos Dados ............................................................................................. 39 3.4 O Caso de Maceió-AL ....................................................................................... 40 4 Resultados e Discussões ........................................................................................... 42 4.1 Resultados da Etapa Quantitativa....................................................................... 42 4.2 Resultados da Etapa Qualitativa ........................................................................ 47 4.2.1 Dados sobre o indicador de trânsito de Maceió-AL ..................................... 48 4.2.2 Tecnologia de Videomonitoramento da SEDS ............................................ 49 4.2.3 Tecnologias da SMTT ................................................................................ 55 12 5 Considerações Finais ................................................................................................ 64 Referências ................................................................................................................. 68 Apêndice A ................................................................................................................. 70 Anexo A ..................................................................................................................... 71 Anexo B...................................................................................................................... 78 13 1 Introdução São inúmeros os problemas enfrentados pelas zonas urbanas contemporâneas. O desenvolvimento das cidades e a migração de pessoas de outras áreas, muitas vezes excedendo a sua capacidade de recepção, se apresentam como um sério desafio para os governos, que cada vez mais se lançam em busca de novas possibilidades de resolução desses problemas e de todos os outros que surgem por consequência. Visando superar os problemas e desafios das grandes áreas metropolitanas, Macadar e Freitas (2013) sugerem que políticas de cooperação e integração deveriam ser instituídas. Para alcançar os objetivos dessas políticas, esses autores apontam a tecnologia como meio para maximizar a cooperação entre os habitantes da cidade, inclusive os governantes. Os mesmos autores citam a área de e-government como promissora, que busca compreender a utilização de tecnologias da informação e comunicação (TIC) para melhorar a vida dos cidadãos numa perspectiva de valor público. Relacionado a isto estaria a entrega de valores públicos para as pessoas, como por exemplo, o fornecimento de informações, serviços e produtos, fomentando a participação maior dos habitantes e a transparência no próprio governo e usando as tecnologias da informação e comunicação como ferramenta na relação entre cidadãos e autoridades. De fato, as pessoas querem viver em cidades que lhes ofereçam melhor qualidade de trabalho, estudo, vida e relações sociais e que sejam lugares capazes de suportar suas expectativas, seja individual ou coletiva, compatível com os recursos finitos do planeta e os direitos humanos (MACADAR; FREITAS, 2013 apud TOPPETA, 2010). Foi na busca por sanar empecilhos antigos e importantes ao desenvolvimento das cidades e por uma melhor qualidade de vida para os seus habitantes, que chegou-se ao conceito de cidades inteligentes ou smart cities, compreendido aqui como urbes que trazem em si maneiras de sanar problemas, como impactos ambientais, economia de energia, mobilidade, economia de água e várias outras questões, a partir do uso de ferramentas como as TICs na tentativa de criar espaços inteligentes que alteram física, econômica e socialmente a vida urbana (FERNANDES; GAMA, 2006). Desta forma, o conceito de Cidades Inteligentes (CI), enquanto tema e área de estudo, surgiu há quase duas décadas e já está entre os mais explorados assuntos no 14 meio acadêmico por oferecer soluções e diagnósticospara problemas até então considerados crônicos da sociedade da informação, utilizando tecnologias digitais. Por ser um conceito aparentemente relativo, a aplicação do termo CI suscita alguns questionamentos: o que é uma cidade inteligente? Quais os requisitos para que uma cidade seja considerada dentro de uma situação que lhe permita ter determinado grau de inteligência? O que as cidades podem ou devem fazer para alcançar determinado patamar? Neste sentido, de acordo com Castiella (2014), relatórios e rankings de medição de cidades são discutidos como apontamentos para as características e condições das urbes em determinados campos. Há grande interesse na criação desse tipo de estudo e publicação, pois além da avaliação e diagnóstico da qualidade de vida nas cidades, muitas organizações também direcionam seus negócios apenas após a consulta prévia destes materiais, como é o caso, por exemplo, de empresas dos setores imobiliários, que apenas tomam suas decisões de investimento baseadas nos dados estatísticos desses relatórios. Castiella (2014) apresenta alguns exemplos de rankings e relatórios para avaliação de cidades, com destaque para o “Green City Index”, que foca o seu ranking na sustentabilidade ambiental aplicada pelas cidades. Há também o “Liveability Index”, da Economist Intelligence Unit, que se destaca pela sua abordagem global e pela quantidade de cidades incluídas. Já o “Mercer Quality of Living Worldwide Ranking”, concede informações sobre 460 cidades ao redor do mundo. A Organização Internacional de Normalização (ISO) publicou recentemente um novo padrão, a ISO 37120:2014, denominado “Sustainable Development of Communities”, que propõe um conjunto de indicadores para medir os serviços da cidade e da qualidade de vida. Entretanto, os relatórios e rankings muitas vezes abrangem apenas alguns aspectos da cidade e mesmo assim de maneira parcial ou pouco ampla, sendo que ainda podem contar com informações e opiniões não verificáveis de especialistas (CASTIELLA, 2014). Embora existam vários estudos na área de CI, Castiella (2014) expõe que falta um ponto de vista integral e estatístico, que meça a CI com a abrangência e visão geral dos elementos que a constituem. Castiella (2014) também diferencia os rankings e relatórios de outras metodologias de medição e avaliação de cidades, como os modelos de maturidade. Segundo esse autor, os dados dos relatórios seriam “bens de consumo destinados a entidades ou pessoas que, como usuários da cidade, utilizariam as informações para 15 tomada de decisão com base em diferentes horizontes e aspectos”. Enquanto os modelos serviriam como uma ferramenta de planejamento da cidade, ou seja, estariam ligadas diretamente a compreensão da infraestrutura e do funcionamento da cidade de forma mais intrínseca. É importante frisar que os modelos de maturidade são aplicados comumente na área de engenharia de software por oferecerem indicadores para classificar as empresas desenvolvedoras de softwares em níveis, servindo como parâmetro para essas organizações avaliarem o quanto elas precisam melhorar. Como expõem Gama et al. (2012, p.2), “a ideia de ter um modelo de maturidade serve como referencial para que as organizações evoluam continuamente seu processo de desenvolvimento de software e, consecutivamente, aumentem a qualidade do software produzido e obtenham uma maior aceitação no mercado”. Portanto, modelos de maturidade na engenharia de software têm como objetivo fazer com que as organizações tenham condições de medir e acelerar a progressão de capacidades e competências desenvolvidas em determinada área, como é o caso do Capability Maturity Model Integration (CMMI), que utiliza práticas genéricas e específicas e foi desenvolvido para padronizar e mensurar a qualidade do processo de melhoria corporativo, integrando diferentes modelos e disciplinas. Outro modelo encontrado na literatura de software é o MPS.BR ou Melhoria do Processo de Software Brasileiro, utilizado para amplificar a qualidade do processo de produção de sistemas e também atender a realidade do mercado brasileiro, além de ser compatível com o CMMI (AFONSO et. al, 2012). Por sua vez, a aplicação de modelos de maturidade no contexto das cidades inteligentes segue o mesmo princípio daquele da engenharia de software, pois avaliam o quanto uma cidade é considerada inteligente em relação ao uso das TICS, em domínios específicos, que são eixos fundamentais de uma cidade capazes de serem melhorados pela tecnologia. Nesse sentido, Lee e Hancock (2012) propõem a criação de um framework para estudo, acompanhamento e avaliação da evolução de cidades inteligentes, de modo que possa ser aplicado às práticas de cidades inteligentes por todo o mundo. Foram analisados casos nos EUA, Europa e Ásia - nas cidades de São Francisco, Amsterdã e Seul, respectivamente - procurando identificar características comuns no planejamento e desenvolvimento inteligente das cidades e a diferença entre os processos. O modelo também tem o objetivo de servir como um índice de identificação das áreas onde são 16 necessárias melhorias. Neste modelo, seis domínios também são estudados a partir de 18 perspectivas, como ilustra a figura 1. Figura 1 - Modelo de framework para cidades inteligentes Fonte: Disponível em fsi.stanford.edu No modelo de Lee e Hancock (2012) cada domínio e perspectiva são avaliados levando em consideração também as ferramentas que existem nas cidades estudadas, voltadas para cada perspectiva, e em seguida faz-se uma avaliação da condição de cada cidade naquela situação especifica e avalia-se qual obteve melhor êxito. Ao final, é discutida a situação das cidades chegando-se a uma conclusão de quais melhorias podem ser tomadas para evolução em cada domínio. Castiella (2014) também apresenta uma proposta de modelo de maturidade para CI, que pode ser considerado misto, pois traz uma parte formada por cálculos de dados estatísticos e outra por avaliação qualitativa, feita com base em informações fornecidas por pessoas qualificadas e envolvidas diretamente nos domínios estudados. O modelo proposto é composto por dimensões. Cada dimensão possui eixos, que possui fatores e que por sua vez possuem indicadores. É constituído por duas etapas de leitura: uma envolvendo a avaliação qualitativa dos fatores e a outra envolvendo o cálculo dos indicadores, com algumas regras simples, importantes para realçar aspectos primordiais dos indicadores. Uma dessas regras, por exemplo, é em relação à data dos indicadores, 17 para filtrar informações antigas. Cada indicador seria “penalizado” quando mais velhos do que dois anos. Já o modelo Brazilian Smart Cities Maturity Model (Br-SCMM), proposto por Afonso et.al (2014), apresenta uma escala de cinco níveis para classificar uma CI, que são: “S” (simplified), “M” (managed), “A” (applied), “R” (measured) e “T” (turned). O nível S é considerado o inicial, mas tais níveis não são incrementais, permitindo que as cidades sejam avaliadas em cada um dos níveis separadamente, observando estrategicamente qual seria o nível mais viável e em qual nível se alcançaria melhores condições. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho, foi aplicar um modelo de maturidade para avaliar o nível de “inteligência” de uma capital brasileira, utilizando como parâmetro o domínio de trânsito e o indicador de óbitos por acidente, buscando fornecer aos gestores uma escala mais eficiente de mensuração do uso da tecnologia no espaço urbano. Para tanto, adotou-se o modelo Br-SCMM para CI. 1.1 Delimitação do Tema A proposta do modelo Br-SCMM (AFONSO et.al, 2014) foi precedida pela construção de um modelo de maturidade para o contexto brasileiro, emprestado da engenharia de software, que fornecia uma escala com cinco níveis para mensuração, onde em cada nível era exposto uma situaçãoda cidade avaliada, como expõem Gama et. al (2012, p.3): Apesar de necessária uma visão holística do problema das cidades, defendemos a ideia de que o processo de tornar uma cidade numa cidade inteligente pode ser gradativo, e executado individualmente em cada domínio de problema, convergindo-os apenas nas etapas finais. Sendo assim, a motivação é usar o Modelo de Maturidade Tecnológica (MTT) como referencial no uso de TICs em soluções voltadas para cidades inteligentes. A intenção final é alcançar um nível otimizado no uso de recursos tecnológicos integrando as diferentes soluções empregadas em cada domínio. (GAMA; 2012, p. 3) Ainda de acordo com Gama et. al (2012), os níveis da escala do modelo MTT foram os seguintes: nível 0 (caótico), que é uma etapa de início para a maioria das cidades que não possuem TICs para auxiliar no seu processo de gerenciamento; nível 1 (inicial), fase de planejamento e modelagem de sistemas de informação para auxilio em determinado domínio; nível 2 (gerenciado), existência de dados que já são coletados e 18 que são acessíveis; nível 3 (integrado), no qual a cidade já possui sistemas com modelo de computação em nuvem em forma de serviço para os cidadãos e o nível 4 (otimizado), pois a cidade é considerada eficiente, inovadora e pioneira nas soluções dadas pelas TICs. A seu turno, domínios e indicadores norteiam o funcionamento do modelo brasileiro de maturidade Br-SCMM, predecessor do MTT. Os dados e informações coletados são apresentados com o objetivo de utilizar o primeiro nível de uma escala de cinco categorias, no intuito de identificar possíveis áreas de melhorias que podem tornar a qualidade de vida no domínio pesquisado na cidade analisada melhor. Como explicado anteriormente, Afonso et.al (2014) nomearam os níveis do Br- SCMM de maneira a compor a palavra SMART. Sendo assim, apresentam o nível S (Simplified - simplificado), que indaga se a cidade atingiu o limiar de pontuação para indicadores básicos; o nível M (Managed - gerenciado), que questiona: será que a cidade tem metas e práticas que apontam para uma gestão otimizada de recursos? O nível A (Applied - aplicado), que indaga se a cidade usa um modelo de maturidade para definir políticas públicas; o nível R (Measured - mensurado), que pergunta se a cidade estabeleceu indicadores estratégicos e tem práticas de medição e melhoria de desempenho; e o nível T (Turned), que avalia se a cidade atingiu índices satisfatórios no nível anterior. O presente trabalho visou adotar o Br-SCMM para analisar uma capital brasileira, no caso a cidade de Maceió-AL, dentro do primeiro nível do modelo, que indaga se a cidade conseguiu atingir bons índices nos indicadores básicos. O indicador utilizado na pesquisa faz parte do domínio de transporte, considerando o número de óbitos por acidentes no trânsito. Sendo a função dos domínios e indicadores compreender o atual quadro vivenciado pela cidade o trânsito torna-se atualmente uma boa fonte de informação nesse sentido. Portanto, os indicadores apresentam os pontos crítico da cidade naquele domínio, ou seja, aqueles que precisam de mais atenção, sendo suficiente comparar com os mesmos números de uma cidade com índices melhores naquele indicador e então inferir o nível de “inteligência” das mesmas. Cabe mencionar que o indicador de óbitos por acidentes no trânsito foi escolhido para o presente estudo por trazer estatísticas alarmantes sobre a questão de mortes por acidentes de trânsito, pois como apontaram os estudos feitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2010 e 2013, o número elevado de mortes está sendo considerado uma verdadeira epidemia letal no trânsito das vias públicas do planeta. 19 Ainda, ressalta-se que o indicador de número de óbitos por acidentes no trânsito foi uma contribuição do presente trabalho para o Br-SCMM, tendo em vista que na definição do modelo original foram utilizados os indicadores para água, educação, energia, governança, moradia, ambiente, saúde, segurança, tecnologia e transporte, sendo que neste último, especificamente, Afonso et al. (2014) escolheram o indicador de transporte de massa oferecido à população. Após a definição do domínio e dos indicadores para a pesquisa, empreendeu-se uma busca por dados brutos sobre o trânsito afim de normalizá-los matematicamente para manipulação e análise. Obteve-se acesso aos números de mortes no trânsito em Maceió no ano de 2011 a partir dos resultados mais recentes de uma pesquisa oficial. Para análise dos dados foi utilizado o método de normalização Z-Transformation, como explica Afonso et al. (2014, p.5): Os indicadores tiveram a padronização dos dados e foram matematicamente equiparados para atender a essa escala. Para o cálculo, foi utilizado o método Z-Transformation, que transforma todos os valores do indicador em valores padronizados com uma média de 0 e desvio padrão 1. Estes métodos oferecem a vantagem de se considerar a heterogeneidade dentro dos grupos e manter suas informações métricas. (AFONSO et al., 2014, p. 5) O nível simples do Br-SCMM foi utilizado para a análise porque permite que se obtenha uma gama significativa de dados comparativos entre os indicadores, direcionando assim o município nas tomadas de decisão e escolhas de estratégias para o aumento dos níveis da escala que se aproximam dentro do modelo proposto, pois de acordo com Afonso et al. (2014), o maior potencial do Br-SCMM está na oportunidade que ele traz para os gestores públicos no sentido de que eles possam comparar suas médias nos domínios desejados, buscando maneiras de melhorar seus indicadores, sejam com políticas específicas ou outras iniciativas pertinentes. O desenho metodológico dessa pesquisa foi concebido em duas etapas, sendo a primeira envolvendo uma análise quantitativa, com a apresentação dos dados brutos de trânsito da cidade matematicamente normalizados e contabilizando as mortes por acidente, seguida de uma segunda etapa de análise qualitativa, norteada pela mensuração do indicador da primeira etapa, e que envolveu a realização de entrevistas junto aos técnicos de órgãos públicos de Maceió-AL sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação para a melhoria da qualidade de vida e segurança de seus habitantes no trânsito. 20 1.2 Problema de Pesquisa Como discutido, uma cidade inteligente utiliza a combinação entre o uso de tecnologias, governança participativa e capital humano como combustível para oferecer melhor qualidade de vida para todos os seus habitantes (ARDELE; JUNIOR, 2013 apud CARAGLIU et al., 2011). No entanto, o conceito de CI não pode ser aplicado a quaisquer urbes, de maneira trivial, somente tomando como base informações básicas. Sendo assim, os modelos de maturidade, tal como o Br-SCMM, desempenham papel fundamental para auxiliar na “quantificação de inteligência” das cidades a partir da coleta de dados e realização de cálculos derivados de indicadores, permitindo uma comparação entre o uso das tecnologias nas cidades. É a partir da aplicação das metodologias para CI que ocorre a definição ou escolha de domínios e indicadores vitais para o funcionamento de uma cidade e que influenciam na qualidade de vida dos habitantes. Tais indicadores revelam a real situação e magnitude dos problemas das cidades e, principalmente, entregam aos gestores informações, mais precisas no emprego de TICs na resolução dos problemas ou na otimização de serviços. Conforme o Modelo Europeu de Smart Cities (STROHMAYER et al., 2015), uma cidade com bons índices no domínio de transporte e no indicativo de trânsito atinge um dos seis aspectos necessários para se tornar uma cidade inteligente, sendo que os outros quesitos são: economia, sociedade, governo, mobilidade, meio ambiente e qualidade de vida. Vale frisar que no modelo europeu, o domínio transporte adotadono presente trabalho, se insere no quesito mobilidade. Face ao exposto, a questão norteadora do trabalho foi: o que revela o modelo de maturidade brasileiro Br-SCMM ao ser aplicado o nível inicial “S”, no contexto da cidade de Maceió-AL, a respeito da gestão das ferramentas tecnológicas que visam a qualidade de vida dos cidadãos no domínio de transporte e utilizando como indicador o número de óbitos por acidentes no trânsito? 21 1.3 Objetivos O objetivo geral e os específicos propostos para esta pesquisa são apresentados nas subseções seguintes. 1.3.1 Objetivo Geral Avaliar a cidade de Maceió-AL com respeito a gestão das ferramentas tecnológicas que visam a qualidade de vida dos cidadãos no domínio de transporte, baseando-se no nível inicial (simplificado) do Modelo Brasileiro de Maturidade (Br- SCMM) e assumindo como indicador o número de óbitos nos acidentes de trânsito. 1.3.2 Objetivos Específicos Visando o alcance do objetivo geral do estudo, os seguintes objetivos específicos foram traçados para o trabalho: Mensurar os domínios presentes no modelo Br-SCMM nos contextos das capitais brasileiras; Propor um novo indicador para o domínio de transporte do modelo Br-SCMM; Comparar a partir de um ranking as capitais brasileiras no indicador de trânsito; Identificar as Tecnologias da Informação e Comunicação adotadas na cidade de Maceió-AL no domínio de trânsito; Propor soluções tecnológicas no contexto de cidades inteligentes para o domínio de trânsito de Maceió-AL. 1.4 Justificativa Considera-se neste trabalho sobre cidades inteligentes a aplicação e mensuração do indicador sobre o número de óbitos por acidente de trânsito numa capital brasileira, no caso Maceió-AL. Pesquisas neste sentido se revestem de uma relevância social e científica quando se busca compreender os dados que vêm sendo divulgados ao longo dos “Mapas da Violência” lançados pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino 22 Americanos (CEBELA) desde 1998 sobre o número de óbitos por acidentes no trânsito. Na última edição divulgada em 2013, que serviu de fonte para o presente trabalho, consta que os acidentes de trânsito representaram a terceira causa das mortes na faixa etária de 30 a 44 anos, a segunda na faixa etária de cinco a quatorze anos e a primeira na faixa de 15 a 29 anos. Silva et al. (2013, p. 532) corroboram com esta questão preocupante nas cidades: Os acidentes de trânsito matam 1,24 milhões de pessoas por ano, em todo o mundo, e deixam entre 20 e 50 milhões de pessoas feridas. No Brasil, em 2011, foi registrado no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) um total de 43.256 óbitos por Acidentes de Transporte Terrestre (ATT). Desse total, 82,3% foram homens e entre estes, 38,8% se encontravam na faixa de idade de 20 a 39 anos. (SILVA et al., 2013, p. 532) Atualmente, ao se discutir o tema cidades inteligentes, ressalta-se como as ferramentas baseadas em TICs poderiam melhorar a vida das pessoas nas cidades. Sendo assim, trabalhos nessa área, tal como este, trazem no seu bojo uma série de possibilidades de estudo e pesquisa sobre a qualidade de vida dos cidadãos e a aplicação efetiva de tecnologias digitais nos problemas da cidade. Waiselfisz (2013, p.4) explica esta medida no seu Mapa da Violência 2013, afirmando que as ações atuais estão “procurando, primeiro, estabilizar e, posteriormente, reduzir as cifras de vítimas previstas, mediante a formulação e implementação de planos nacionais, regionais e internacionais”. Justifica-se a escolha como caso do estudo a capital do Estado de Alagoas, porque no indicador proposto para o estudo, que foi o número de óbitos por acidentes no trânsito, a capital Maceió possui uma alta mortalidade decorrente por acidentes no tráfego. Ainda no caso de Maceió, este trabalho contribui no sentido de fomentar a discussão sobre mobilidade urbana na cidade e o que tem sido feito (e como tem sido feito) no emprego de TICs que beneficiem e assegurem a qualidade de vida dos maceioenses. O exemplo mais atual de tecnologia utilizada no trânsito da cidade é o sistema de videomonitoramento, inaugurado em 2012, que percorre a região do Tabuleiro dos Martins passando pelas principais vias do município, como as avenidas Fernandes Lima e Menino Marcelo, indo pelo litoral e alcançando o bairro do Trapiche da Barra. De acordo com o Anuário de Indicadores do Detran - AL de 2010/2012, as localidades que mais apresentam acidentes com vítimas são os bairros entre Tabuleiro 23 dos Martins e Farol, que são interligados pelas principais avenidas da Cidad: Fernandes Lima e Durval de Góes Monteiro. De acordo com a publicação, tais bairros apresentam índices de 125 a 136 vítimas, sem especificar óbitos. Outro aspecto que justifica este trabalho é a metodologia utilizada para a análise dos dados sobre os domínios de uma cidade, que foi o modelo de maturidade Br- SCMM. Como já foi explanado, é por intermédio dessa capacidade de quantificação e classificação das cidades como inteligentes que se pode finalmente vislumbrar uma via possível de consenso sobre a definição do que pode ser de fato uma CI, possibilitando aplicar este conceito no contexto do município de Maceió. O uso em especial do Br- SCMM também traz a importância de ser um modelo de maturidade brasileiro e seu uso e apresentação aos gestores pode se apresentar como uma ferramenta cada vez mais precisa de medição de cidades. 24 2 Revisão da Literatura Neste capítulo são apresentados os conceitos que sustentam teoricamente o estudo. Discute-se o que são cidades inteligentes, trânsito e cidade, tecnologias de informação comunicação, modelos de maturidade para cidades inteligentes e o modelo Br-SCMM. 2.1 Cidades Inteligentes O que torna difícil definir o que são cidades inteligentes em parte se deve pela abrangência do tema. As cidades comportam um grande leque de possibilidades e temas de estudo, disponível para inúmeras áreas do conhecimento. Da mesma maneira que a Tecnologia da Informação e áreas afins, como a Ciência da Computação e Sistemas de informação se detém a aspectos ligados ao uso da tecnologia digital para o desenvolvimento inteligente de cidades, arquitetos e urbanistas irão observar aspectos relacionados à infraestrutura física de construções, edificações, ruas e etc., planejando- as no que eles podem considerar como maneiras inteligentes e pode não envolver necessariamente tecnologias digitais. Sobre a pluralidade de estudos em CI por diferentes áreas, Castiella (2014) assevera: É comum para os diferentes especialistas carimbar o conceito com uma visão inerente aos seus campos. Assim, por exemplo, os planejadores de cidade tendem a incluir, como os tópicos mais relevantes dentro do conceito SC, as questões relacionadas com o desenho urbano e planejamento. (CASTIELLA, 2014, p2). Há a ideia de que o tema cidades inteligentes é apenas mais uma onda ligada à promoção de cidades, como uma estratégia governamental. No entanto, cada vez mais percebe-se que não é algo tão simplório, como explica Strapazzon (2009, p.3): “O tema das cidades inteligentes vem sendo apontado por alguns críticos como um novo modismo, uma nova onda do marketing urbano. No entanto, para boa parte da comunidade internacional, o tema está longe de se resumir a isso. As smart cities são, antes, a etapa mais avançada do relacionamento entre convergência tecnológica, gestão de cidades, qualidade de vida e competitividade econômica.” (STRAPAZZON, 2009, p3). Ainda segundo Strapazzon (2009), o termo cidades inteligentes começou a ser encarado com seriedade e como alternativa viável de desenvolvimento para cidades de médio e pequeno porte a partir de 1999, quando a cidade de Cingapura foi premiada 25 como a cidade inteligentedaquele ano. Gama et. al (2012) citam Cingapura, Brisbane (Austrália) e Durban (África do Sul) como locais onde também as TICs foram empregadas como estratégia governamental para transformar tais cidades em inteligentes. Duarte (2005, p.123) traz o caso da cidade de Montreal, a maior da província de Quebec, no Canadá, que em 1998 ficou conhecida como cidade multimídia. Quebec iniciou no começo da década de 1990 a prática de um projeto contendo uma grande política de desenvolvimento tecnológico, diferente pela ligação estreita com o desenvolvimento de áreas urbanas centrais que estavam degradadas. A solução foi desenvolver um polo tecnológico, fomentando a indústria multimídia. De acordo com esse autor, a cidade multimídia é segmentada em três aspectos: um programa de ajuda fiscal a empresas ligadas a novas tecnologias, uma sociedade imobiliária destinada à construção de escritórios e um projeto urbanístico para recuperação de um antigo bairro industrial. A partir do case de sucesso de Montreal, aquele autor infere o seguinte: Mais do que apenas um receptáculo, a cidade torna-se a catalisadora do desenvolvimento de um polo tecnológico inovador - tanto pela economia tecnológica quanto pela recuperação de um contexto urbano. (DUARTE, 2005, p123) Logo, a cidade não é apenas a estrutura acolhedora do movimento de desenvolvimento tecnológico e sim uma das incentivadoras mor e participante ativa do processo de evolução e, mesmo que este não seja o termo utilizado pelo autor, a criação de inteligência na região. Outro foco na definição de cidades inteligentes é de não serem mais apenas espaços delimitados por fronteiras geográficas e sim pela delimitação fronteirística dos fluxos de informação. Segundo Fernandes e Gama (2006) da relação entre a criatividade e o conhecimento surge um novo conceito que unifica as questões territoriais, interconectando o digital e o real, a cidade inteligente. As cidades seriam capazes de fomentar e desenvolver a inovação, a aprendizagem coletiva e o conhecimento, mas isso dependeria também da criação de territórios locais e regionais com capacidade para promover e garantir estes elementos territorialmente em conjunto com a dimensão digital. De acordo com os autores, a união dos ambientes real e virtual de inovação gera outra dimensão que marca o deslanchar das cidades inteligentes e/ou a sua ramificação para as regiões. 26 Fernandes e Gama (2006, p.6) também propõem um conceito de cidade digital. Esses autores descrevem a cidade digital como um sistema de pessoas e instituições conectadas por uma infraestrutura de comunicação digital, como por exemplo, a internet, tendo como parâmetro uma cidade real, mas cujos propósitos variam e poderiam incluir diferentes objetivos. As cidades digitais são uma nova forma de distribuição de fluxo de informação da sociedade, porém não são necessariamente inteligentes. No entanto, toda cidade considerada inteligente possui um componente digital integrado a ela. Vale ressaltar que não basta somente utilizar tecnologias e ter uma gama de pessoas conectadas por gadgets para que uma cidade venha a ser considerada inteligente. Não basta ter os recursos de hardwares e softwares potentes e que funcionem, deve-se saber empregar tais recursos, de maneira que estes venham a ser úteis no sentido de facilitar alguma atividade ou sanar algum problema específico em certo aspecto da cidade, melhorando a qualidade de vida daqueles que utilizam os eixos nos quais essas tecnologias são postas a trabalhar. Tecnologias como fibra ótica, banda larga entre outras, não são por si só, provas e significado de inteligência, esta é dependente de capacidades que se prendem com a competência, o talento, o coeficiente de inteligência e a adaptação social dos indivíduos (FLORIDA, 1995; SASSEN, 2001; KOMNINOS, 2002; SERRANO et al, 2005). O Modelo Europeu de CI, desenvolvido pela Technishe Univesität Wien - Vienna University of Technology, define cidades inteligentes como uma cidade com bons índices em seis áreas-chave no que tange a desenvolvimento urbano. Esses índices foram construídos dentro de uma combinação inteligente de doações e atividades vindas de cidadãos com capacidade de auto decisão, independentes e conscientes, sendo as áreas-chaves ilustradas na figura 2. Figura 2 – Modelo Europeu de Cidades Inteligentes Fonte: Disponível em http://www.smart-cities.eu 27 No modelo supracitado, o domínio de governança inteligente abrange, entre outros, os seguintes indicadores: consciência política, serviços públicos e sociais e administração eficiente e transparente; na economia inteligente: espírito inovador, empreendedorismo, imagem da cidade, produtividade, mercado de trabalho, integração internacional; mobilidade inteligente: sistema de transporte local, acessibilidade nacional e internacional, infraestrutura de tecnologias da informação e comunicação, sustentabilidade do sistema de transportes; ambiente inteligente: qualidade do ar (sem poluição), consciência ecológica e gestão sustentável dos recursos; população inteligente: educação, aprendizagem ao longo da vida, pluralidade étnica, mente aberta (que podemos interpretar como a capacidade de recepção da população aos novos costumes e inovações), pessoas inteligentes (capacidade de participação das pessoas no processo de inteligência da cidade, com ideias e atividades, a auto sustentabilidade do conceito europeu de smart city); qualidade de vida inteligente: equipamentos culturais e de lazer, condições de saúde. Mesmo sendo pertinentes e servindo como referência para estudos de cidades inteligentes pelo mundo, inclusive para o modelo de maturidade abordado neste trabalho, o Modelo Europeu é um ranking e como tal tem as questões próprias desse tipo de avaliação, como por exemplo, a não divulgação pública de índices mais baixos pelos gestores das cidades e os interesses bastante específicos que movem a avaliação da parte de fomentadores da pesquisa no lado da gestão da cidade. Vale ressaltar que no desenvolvimento do Br-SCMM, foi tomado como parâmetro o mesmo método de normalização dos dados dos indicadores utilizados no modelo europeu de cidades inteligentes: o Z-Transformation. Uma iniciativa que deve ser levada em consideração é o investimento feito pela Internacional Business Machines (IBM) no estudo, pesquisa e desenvolvimento voltados a cidades inteligentes. Para a empresa, uma cidade seria um sistema estruturado de sistemas baseado em um tripé formado pelos pilares pessoas, infraestrutura e operações, e que estes estando bastante firmes asseguraria uma cidade mais inteligente para todos. Dentro desses três domínios, existem uma série de eixos onde a cidade pode se desenvolver para se tornar mais inteligente, como ilustra a figura 3. 28 Figura 3 - Modelo IBM de Smart Cities Fonte: Disponível em www.ibm.com A IBM disponibiliza em seu site um espaço para cada eixo dos domínios. No caso específico de transportes, o objetivo principal do modelo da IBM é construir uma rede inteligente de transporte. Discute-se como os Sistemas de Transportes Inteligentes (ITS) podem transformar a maneira como as cidades olham para segurança e mobilidade, os custos econômicos dos congestionamentos, maneiras de melhorar a qualidade de vida da população no trânsito no sentido de diminuir o tempo no congestionamento e a qualidade dos meios de transporte - além do que as cidades devem levar em consideração em relação aos sistemas de transporte inteligente e como será no futuro os veículos ligados por smart grids. Outra ideia do que seria uma cidade inteligente é apresentada por Castiella (2014), que a descreve como um conceito que tem por base a capacidade de uma cidade em inovar e utilizar tecnologias para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes e dos que utilizam a cidade de algum modo.O diferencial é que a smart city seria composta primeiramente por três dimensões: pessoas, habitat e governo. As pessoas (habitantes fixos ou não) seriam os usuários finais de uma cidade inteligente e o elemento essencial de sua constituição. O habitat é a plataforma física onde ocorre a vida na cidade e o governo é a entidade que coordena as políticas para promover a ordem e melhorar as condições para que uma smart city possa atuar de maneira eficaz. 29 Castiella (2014) ainda acrescenta que essas três dimensões seriam reforçadas por uma quarta: a dimensão digital, que impulsionaria as outras três dimensões, ampliando a capacidade da cidade em prover uma melhor qualidade de vida. O conceito sobre essas três dimensões foi representado por uma formulação matemática, ilustrada na figura 4. Figura 4 – Fórmula do modelo de dimensões de uma CI Fonte: Castiella (2014, p. 11) Essa fórmula pode ser explicada da seguinte maneira: o indicador de uma cidade inteligente seria um indicador composto em base dez, utilizado para realizar comparações entre as cidades e para determinar seus pontos fortes e fracos, através da análise separada de seus componentes. Consiste em três dimensões e um fator multiplicador. Cada dimensão e cada componente do multiplicador consistem, por sua vez, de eixos, que são constituídos de fatores que são formados por indicadores. Apesar de um leque grande de definições que podem ser encontradas na literatura, o presente trabalho adota a definição de Gama et al. (2012, p.1) sobre CI: O termo “cidades inteligentes” tem sido cada vez mais, relacionado ao emprego eficiente de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como uma ferramenta para melhorar a infraestrutura e serviços da cidade, consequentemente trazendo melhor qualidade de vida. (Gama et.al, 2012, p.1) Cidades inteligentes já é uma questão mundial e devido às necessidades e os inúmeros desafios contemporâneos enfrentados pela humanidade, como poluição, recursos escassos de energia, transito caótico, insuficiência das áreas rurais para o abastecimento alimentício destas cidades, entre outros, o conceito de smart city 30 representam uma possível via para a transformação e reversão de problemas urbanos, tais como os que envolvem o trânsito. 2.1.1 Trânsito e Cidade O problema do desenvolvimento e crescimento das áreas urbanas se estende desde o século passado, e representa um verdadeiro desafio para a humanidade. No que tange às civilizações ocidentais, mais precisamente logo depois da segunda guerra mundial, houve grande migração do campo para as cidades. As pessoas estavam em busca de melhor qualidade de vida, o que aumentou a responsabilidade e desafio para os gestores governamentais em inovar, ter novas ideias e elaborar e executar projetos para suprir essa demanda (MACADAR; FREITAS, 2013). Um domínio da cidade onde esse crescimento populacional afetou foi o de transporte e trânsito. Segundo Castiella (2014), as cidades foram desenhadas há várias décadas, para um número modesto de habitantes e veículos, e hoje não conseguem comportar mais o número de veículos e pessoas que triplica ao longo das décadas, sem contar o impacto no meio ambiente causado pela emissão de resíduos em proporções difíceis de administrar, inclusive dos meios de transporte que poluem com combustíveis de bases fósseis, perturbando o equilíbrio ambiental. Para Mumford (2004), o eixo transporte é o componente dinâmico da cidade, responsável pelo alcance, aumento de tamanho e produtividade da mesma. O primeiro meio de transporte das cidades foram as vias aquáticas, sendo uma das razões pela qual o primeiro crescimento das cidades ter se dado em vale de rios. O transporte deu à cidade a possibilidade de equilibrar os excedentes e dar acesso a especialidades distantes, longe do alcance geográfico daquele povo. Segundo Figueiredo (2005), os transportes influenciam diretamente e tem primordial importância no desenvolvimento social e econômico da sociedade moderna, onde a necessidade e exigência de mobilidade é cada vez maior. De acordo com o relatório IBM Transporting e Fórum Internacional do Transporte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, o número de veículos no mundo já superou em 1,1 bilhão, devendo chegar a 2,5 bilhões em 2050. As nações emergentes seriam hoje as receptoras do crescimento de veículos, sendo que a maioria está na 31 capital da China, Pequim, que adiciona algo em torno de 1500 veículos às estradas, todos os dias. Sobre indicadores e domínios, Afonso et al. (2014) explicam que a função deles é auxiliar a compreender o cenário em que a cidade está inserida e assim entender os pontos fracos de sua estrutura e que necessitam de mais atenção para que a cidade possa ser comparada a uma cidade inteligente. De acordo com Waiselfisz (2013), no Mapa da Violência 2013 - Acidentes de Trânsito e Motocicletas, o trânsito traz números alarmantes no que se refere a óbitos, a nível mundial. O documento alerta que somente no ano de 2010 ocorreram 1,24 milhões de óbitos por acidentes de trânsito em 182 países do mundo, sendo que estes representam a 3ª causa de mortes na faixa etária de 30 a 44 anos, a 2ª na faixa de 5 a 14 anos e a 1ª de 15 a 29 anos. 2.2 Tecnologias de Informação e Comunicação O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tem sido empregado para prover suporte à infraestrutura nas áreas de educação, transporte, energia e saúde, dentre outras, resultando num uso inteligente e eficiente dos recursos. Ardele e Junior (2013) são taxativos quanto ao uso das TICs, vinculando-o ao surgimento das próprias smart cities quando colocam que não há na sociedade setor que não tenha sido totalmente impactado e sofrido interferência do uso dessas tecnologias, seja no campo ou nas zonas urbanas, sendo a partir desse contexto que surgem as cidades inteligentes. Exemplo disso compreende a nova geração de tecnologias de software, hardware e redes que provê os sistemas de TI com acesso em tempo real à base de dados e recursos avançados de mineração e análise (de dados) para tornar os serviços eficientes, para auxiliar as pessoas a tomarem decisões, além de permitir a escolha de ações que facilitarão a obtenção de resultados em processos e negócios. As tecnologias para cidades do futuro incluem comunicação, sensores e gestão: Comunicação e colaboração – VoIP; Redes – LAN/WAN, internet de banda larga e sem fio (Wi-fi, WiMax); Sensores – RFID, sistemas embarcados, GPS, bio chip, biometria; Gestão – Gestão de recursos, gestão de incidentes, gestão de energia. (FILHO, 2012). 32 Pode-se afirmar que as TIC são utilizadas para melhorar de alguma maneira o ambiente onde elas são aplicadas e geralmente facilitam a coleta de dados e o uso destes é que possibilitariam a otimização almejada do ambiente. Portanto, compreender cidade inteligente hoje sem fazer menção ao uso eficaz das TICs na resolução de problemas nas grandes metrópoles traria incompletude à pesquisa, visto que os dois conceitos estão diretamente interligados. 2.3 Modelos de Maturidade para Cidades Inteligentes Na engenharia de software, um modelo de maturidade serve para classificar as empresas desenvolvedoras de softwares em níveis, fornecendo parâmetros para essas organizações sobre o quanto elas precisam melhorar. Como afirmam Gama et al. (2012, p.2), “a ideia de ter um modelo de maturidade serve como referencial para que as organizações evoluam continuamente seu processo de desenvolvimento de software e, consecutivamente, aumentem a qualidade do software produzido e obtenham uma maior aceitação no mercado.” No contexto das CI esse tipo de instrumento é adotado para classificá-las em escalas com relação ao uso ou desuso das TICs, em domínios específicos, que são eixos fundamentais de uma cidadecapazes de serem melhorados pela tecnologia. Da mesma maneira como existem diversos conceitos e várias definições sobre cidades inteligentes, também ainda não existe um modelo consolidado para mensurar o grau de inteligência das cidades, pois ainda encontram-se no início dos estudos. Castiella (2014, p.12) explica que a cautela no estudo minucioso de metodologias de medição se deve a ideia de que inteligência por si só é algo bastante subjetivo de se poder medir ou mensurar, pois não se trata de algo tangível e assegura: A definição da extensão de uma cidade inteligente é como a medição da felicidade. Qual é a medida da felicidade? Existe uma escala de felicidade? Por exemplo, podemos falar de 6.4 ou 8.5 graus de felicidade? No entanto, há muitos anos, Aristóteles concluiu que a felicidade é uma virtude. Podemos dizer que virtude em uma cidade consistiria em atingir a qualidade de vida para os seus cidadãos e usuários? (CASTIELLA, 2006. p. 12) Atualmente, há estudos voltados às premiações e classificações das cidades que atingiram uma qualidade de vida para seus habitantes considerada satisfatória. Essas classificações são baseadas em aspectos básicos, como os apresentados no Atlas do 33 Desenvolvimento Humano, desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que utiliza as dimensões renda, longevidade e educação para classificar os municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerados baixo, médio, alto e muito alto. Todavia, segundo Castiella (2014), apenas a renda per capita, o produto interno bruto ou o próprio crescimento da cidade não seriam suficientes para determinar a medição de qualidade de vida, que é um fenômeno bem mais além. Nesse caso, faz-se necessária a utilização um modelo de medição que auxilie na compreensão de fatores complexos que compõem a vida da cidade de uma maneira geral. Logo, as técnicas de medição do grau de inteligência ou até mesmo de avanço de uma cidade é algo bastante recente. A existência de vários rankings e relatórios sobre cidades auxiliou no surgimento dos modelos de maturidade aplicados às cidades inteligentes. Nesse sentido, Afonso et al. (2014, p.1) destacam que: Atualmente, não existe um modelo de maturidade que possa medir o quão inteligente uma sociedade pode ser com base em indicadores sociais ou tecnológicos. Criar um modelo de maturidade pressupõe levantar requisitos, analisá-los e definir quais serão transformados em indicadores. (AFONSO et al., 2014, p. 1) O presente trabalho utilizou um modelo de maturidade brasileiro, denominado Br-SCMM, buscando avaliar o grau de inteligência das capitais brasileiras, no domínio de trânsito, adotando como caso de estudo a cidade de Maceió-AL. A pesquisa pretendeu iniciar o estudo de um parâmetro para as empresas de tecnologias, gestores públicos, profissionais em TICS e outros pesquisadores sobre o quanto ainda falta ou não para que uma cidade como Maceió possa ser classificada como smart city. Para alcançar este objetivo, pretende-se com a aplicação do Br-SCMM defender a ideia de que o processo de tornar uma cidade inteligente pode ser gradativo e executado individualmente em cada domínio do problema, mais especificamente no trânsito (KIEV; ÁLVARO; PEIXOTO, 2012), como será discuto na próxima seção. 2.3.1 Modelo Br-SCMM O modelo apresenta uma escala de cinco níveis, que são: S (simplified); M (managed); A (applied); R (measured) e T (Turned) para classificar uma cidade. O nível “S” é considerado o inicial, mas os níveis não são incrementais, permitindo que os 34 municípios sejam avaliados em cada um dos níveis separadamente, analisando qual seria mais viável e em qual haveria melhores condições tecnológicas no estágio atual. Desta forma, o Br-SCMM é descrito como um modelo de maturidade criado com o objetivo de possibilitar que dados extraídos de bases de dados públicas possam ser utilizados para auxiliar os gestores municipais. O nível escolhido para os objetivos deste trabalho foi o nível “S” do modelo, pois este foi estabelecido considerando determinado grau de gestão que só pode ser alcançado em uma obra de melhoria dos indicadores básicos. O indicador escolhido (número de óbitos por acidentes de trânsito) obedece aos critérios estabelecidos para um indicador básico: a disponibilidade de informação pública para medição e a capacidade de serem relacionados com outras cidades ao redor do mundo (AFONSO et al., 2014). Cabe destacar que o este trabalho não teve somente como objetivo aplicar o modelo de maturidade Br - SCMM para analisar o nível de “inteligência” de Maceió no domínio de transporte, assumindo como indicador básico as mortes em acidentes de trânsito. Ressalta-se que este indicador foi definido especialmente para este trabalho, visto que na definição do modelo original foram utilizados os indicadores para os domínios básicos de água, educação, energia, governança, moradia, ambiente, saúde, segurança, tecnologia e transporte, tendo cada um seu indicador. No que tange o domínio de transporte, o indicador proposto por Afonso et al. (2014) na definição do modelo foi o oferecimento de transporte público de massa. Decerto, numa sociedade onde a mobilidade urbana também está no cerne do desenvolvimento de uma cidade é fácil justificar a necessidade de um deslocamento confortável, de qualidade e com menos riscos à população. No entanto, este trabalho considera que as mortes no trânsito representam um indicador mais impactante baseando-se em estudos da OMS que se nada for feito nos próximos anos, o país terá 1,9 milhão de mortes no trânsito, subindo para 2,4 em 2030. No trabalho de Afonso et al. (2014) é possível verificar todos os índices resultantes do Br-SCMM no nível simplificado (S) das capitais brasileiras, sendo medidos nos dez domínios já citados e funcionando também como um mapa de calor dos indicadores municipais. A classificação das cidades é apresentada na figura 5, na qual pode-se observar os domínios avaliados individualmente ("a" a "j"), os índices mínimos obtidos em cada domínio (min) e a maior pontuação (max) atribuída ao município avaliado (attrib). É possível observar que Maceió aparece no último lugar na avaliação pelo Br-SCMM. 35 Figura 5 – Classificação das capitais brasileiras medidas pelos índices do Br-SCMM Fonte: Afonso et al. (2014, p. 6) Em outro resultado da sua pesquisa, Afonso et al. (2014) apresentam os dados da cidade de Recife-PE, conforme ilustra a figura 6. Esse tipo de demonstração permite que o avaliador obtenha uma grande quantidade de dados comparativos entre os indicadores e assim oriente o município sobre quais estratégias devem ser utilizadas para aumentar os índices onde há necessidade. Figura 6 - Mapeamento de Recife no nível S do Br-SCMM Fonte: Afonso et al. (2014, p. 6) 36 Já a figura 7 apresenta o resultado da comparação feita entre Florianópolis-SC (cidade classificada em primeiro lugar no modelo Br-SCMM) e Maceió (última posição na classificação) com relação a todos os domínios. Pode-se observar que existe uma diferença clara entre os indicadores de segurança e tecnologia dessas duas cidades. Com o Br-SCMM este tipo de comparação pode ser feita para todos os outros domínios, entre todas as outras capitais. Figura 7 – Comparação das cidades de Florianópolis e Maceió no Br-SCMM Fonte: Afonso et al. (2014, p. 6) No Br-SCMM o objetivo do nível “S” é de que os gestores públicos possam avaliar tais resultados e criem políticas para soluções práticas de melhorias dos indicadores básicos. Já no nível M são avaliadas as cidades com soluções práticas, que apresentem o melhor desempenho a fim de atingir as metas apontadas por intermédio dos indicadores. De acordo com Afonso et al. (2014), no nível “M”, diferente do nível inicial, tem poucas fontes de dados no quetange a estratégias de governo dos municípios e quais estão sendo tomadas. Para compor este nível seria necessário observar as leis locais, o estilo de governar para cada capital e verificar se elas estão em conformidade com as boas práticas de gestão. Por isso, o presente trabalho adotou o nível “S” para a avaliação do caso de estudo nos seus procedimentos metodológicos. 37 3 Procedimentos Metodológicos O trabalho proposto adota uma postura epistemológica pós-positivista, pois repulsa a postura realista que acredita na possibilidade de acesso direto à realidade em si. Mesmo preservando a ideia da existência do mundo objetivo dirigido por leis naturais, aceita-se que é impossível para os seres humanos verdadeiramente perceber e acessar a realidade com seus mecanismos sensoriais e intelectuais imperfeitos; e admite que só aproximadamente é possível alcançar a objetividade (DENZIN, LINCOLN, 2006). As subseções seguintes apresentam a estratégia e o método da pesquisa, assim como os procedimentos para coleta e análise dos dados, finalizando com uma breve descrição do caso estudado, que foi a cidade de Maceió-AL no domínio de transporte. 3.1 Estratégia e Método da Pesquisa A estratégia adotada para a pesquisa foi o estudo de caso, circunscrito na cidade de Maceió-AL, obtendo-se informações sobre a situação do domínio de transporte, tais como: números de veículos, de acidentes etc. Com relação ao método científico, o trabalho combinou o método quantitativo com o qualitativo nas duas etapas complementares que foram delineadas para a pesquisa. A primeira etapa teve um caráter descritivo e, portanto, considerada quantitativa, pois os números coletados de fontes primárias de dados sobre o sistema de transporte de Maceió foram calculados para o indicador de trânsito de cidades inteligentes proposto. Para a segunda etapa, por sua vez, adotou-se o método qualitativo, já que foram analisadas as tecnologias que estão implantadas na cidade a partir de entrevistas com técnicos dos órgãos responáveis e que visavam sanar ou diminuir os problemas de trânsito, bem como pesquisou-se as possibilidades de otimização dessas tecnologias, além do surgimento de novas. Desta forma, ao analisar e interpretar as falas dos indivíduos entrevistados, assumiu-se nesta etapa que o próprio pesquisador é um dos instrumentos fundamentais da pesquisa, como coletores de dados e informações, corroborando com a postura pós-positivista. 38 A figura seguinte resume todas as etapas desenhadas para o trabalho. Inicialmente, uma pesquisa bibliográfica sobre os modelos de maturidade de CI foi empreendida. Em seguida as etapas quantitativa e qualitativa, conforme descrito anteriormente, foram executadas. Por fim, os achados do estudo foram discutidos. Figura 8 - Desenho da pesquisa Fonte: Elaboração própria. 3.2 Coleta dos Dados A coleta dos dados da etapa quantitativa aconteceu por intermédio de base de dado pública, divulgada pelo Mapa da Violência 2013 – Acidentes de Trânsito e Motocicletas, publicado pelo CEBELA e pela FLACSO Brasil. A fonte deste documento foi o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. O SIM estrutura-se com base na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde – OMS, da qual o Brasil é membro (WAISELFISZ, 2013). Já na etapa qualitativa do estudo, a coleta de dados deu-se a partir de entrevistas realizadas com funcionários públicos das áreas de tecnologias e trânsito da cidade de Maceió, como também com outros profissionais ligados diretamente ao indicador de Resultados e achados Etapa Qualitativa da Análise Estudo de Caso de Maceió-AL Entrevistas com técnicos Etapa Quantitativa da Análise Cálculo do Indicador de Trânsito Classificação das cidades brasileiras Pesquisa Bibliográfica Modelos de Maturidade para CI Modelo BR-SCCM 39 trânsito. Visitou-se os órgãos responsáveis por regular o trânsito da cidade. As entrevistas aconteceram entre os meses de junho e julho de 2015, presencialmente e por telefone também. No total, foram realizadas 11 (onze) entrevistas. As perguntas seguiram o roteiro disponível no apêndice A. O quadro a seguir resume as entrevistas que foram realizadas. Cabe ressaltar que o anonimato dos entrevistados foi garantido. Os entrevistados foram identificados por letras (“A”, “B”, “C” etc.). Quadro 1 – Entrevistas realizadas na pesquisa Entrevistado Cargo Órgão Mês A Supervisor Técnico de Sistemas Secretaria de Defesa Social (SEDS) Junho/2015 B Supervisor Militar do Sistema de Videomonitoramento Secretaria de Defesa Social (SEDS) Junho/2015 C Analista de Sistemas Instituto de Tecnologia de Alagoas (ITEC) Julho/2015 D Suporte TI Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 E Diretora de Educação de Trânsito Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 F Coordenadora de Campanhas Educativas Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 G Agente de Trânsito Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 H Coordenador de Sinalização Semafórica Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 I Diretor de Operações de Trânsito Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 J Estagiário do Sistema para Transporte Coletivo Superintendência Municipal de Trânsito (SMTT) Julho/2015 K Coordenador de Instalações SERVIPA empresa terceirizada Julho/2015 Fonte: Elaboração própria. 3.3 Análise dos Dados Na etapa quantitativa do estudo, os dados colhidos das bases de dados públicas como fonte primária foram tratados com análise estatística. Foi utilizada normalização 40 matemática para que os dados pudessem ser manipulados sendo adotado o software Microsoft Office Excel© 2013, assim como também para a criação das tabelas e gráficos. Para a normalização matemática e manipulação de dados, foi utilizada a técnica Z-Transformation, proposta na elaboração do Br-SCMM. Esta técnica lida com três tipos de valores: dados (Score bruto), Z-Score e T-Score. Para calcular o Z-Score utilizou-se de soma e desvio padrão, transformando o dado em um score padronizado. Este procedimento auxilia no entendimento de um determinado score para relacioná-lo com os demais numa distribuição. A figura 9 ilustra a fórmula do Z-Score numa Z- transformation. Figura 9 - Fórmula do cálculo do Z-Transformation Fonte: www.psi-ambiental.net Após a aplicação da fórmula do Z-Score caso o valor resultante seja negativo torna-se necessário utilizar o T-Score, que padroniza o dado normalizado numa escala de 0 a 5 e adota a fórmula abaixo. Desta forma, obtém-se notas aproximadas de 0 a 5, o que facilita a explicação dos resultados da transformação. T-Score = (Z-Score + 5)*0.55 Já na etapa das entrevistas foi aplicada como técnica a análise temática para interpretar as falas dos entrevistados, tendo em vista os objetivos da pesquisa. 3.4 O Caso de Maceió-AL De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, que utilizou como fontes o Ministério das Cidades e o Departamento Nacional de Trânsito - 41 DENATRAN, dados de 2014, Maceió possui algo em torno de 1.005.319 de habitantes, distribuídos por 509,876 km², com densidade demográfica de 1.854,10 hab./km². Ainda de acordo com o IBGE, circulam pela Capital hoje para citar os meios de transporte mais usuais, 169.053 automóveis, 7.149 caminhões, 1.948 ônibus e 56.680 motocicletas. Esses números, obviamente, servem como parâmetros, porém crescem a cada dia. São também interessantes e uma quantidade considerável de transportes, que podem contribuir facilmente para classificar o trânsito na capital de Alagoas como caótico em horários considerados de pico, como às12 horas e às 18 horas. De acordo com o Anuário de Indicadores elaborado pelo Departamento Estadual de Trânsito de Alagoas - DETRAN-AL, publicado em 2012, foram acrescentados à frota de Alagoas nos últimos cinco anos 45.600 veículos, algo em torno de 3.800 veículos por mês. Um crescimento médio de 13% no Estado, 14% em Arapiraca (segundo maior município alagoano) e 15% em Maceió. Em relação ao indicador, Maceió aparece com 266 óbitos por acidentes de trânsito, cálculo feito baseado na população total, por 100 mil habitantes (Waiselfisz, 2013). Na normalização por Z-Transformation, a Capital alagoana ficou com o índice de 2,57, ocupando a 14ª posição no ranking decrescente. A primeira posição é ocupada por Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, e a última por São Paulo, Capital. No ranking elaborado neste trabalho, após normalizados os índices, das capitais nordestinas, Maceió ficou atrás apenas de Natal e João Pessoa. Este trabalho objetivou situar Maceió em um determinado nível seguindo um modelo de maturidade já proposto, inserindo-a no contexto de cidades inteligentes e focando no domínio de transportes. Após classificá-la dentro dessa escala de evolução quanto ao seu uso das tecnologias de informação e comunicação foi possível elaborar um parâmetro do quanto a capital ainda precisa galgar para chegar de fato ao status de cidade inteligente. 42 4 Resultados e Discussões A finalidade deste capítulo é interpretar, analisar e discutir os dados coletados no campo, seguindo o desenho da pesquisa descrito no capítulo anterior. Os resultados a seguir encontram-se agrupados em duas seções que denotam cada etapa do estudo: uma pesquisa quantitativa para cálculos dos indicadores de cidades inteligentes e uma pesquisa qualitativa para análise das entrevistas com técnicos de trânsito da cidade de Maceió-AL. 4.1 Resultados da Etapa Quantitativa Primeiramente, foi necessário coletar os dados do indicador de trânsito, ou seja, o número de óbitos por acidente no trânsito em Maceió-AL no ano de 2011. Conforme explicado no capítulo anterior, esses dados foram encontrados no documento “Mapa da Violência 2013”, que utilizou como fontes a OMS e o Ministério da Saúde através do seu Sistema de Informações de Mortalidade - SIM, Censos Demográficos do IBGE e as estimativas intercensitárias disponibilizadas pelo DATASUS e pela base internacional de dados do US Census Bureau. No anexo B encontra-se a tabela demonstrada pelo documento do mapa no que se refere o indicador de trânsito. Conforme o documento, a cidade de Maceió apresentou um total de 266 óbitos por acidente de trânsito no ano de 2011. Em seguida, os dados brutos foram manipulados com o uso de uma planilha eletrônica, calculando-se a soma, a média simples e o desvio padrão. Na tabela 1 consta o indicador de trânsito das capitais ainda utilizando os dados brutos, sendo apresentados a soma, a média e o desvio padrão resultantes dos cálculos. 43 Tabela 1 – Notas das capitais em nove indicadores básicos utilizados no Br-SCMM - o indicador de transporte Fonte: Dados da pesquisa. A tabela 2 apresenta um resumo do resultado da soma, média e desvio padrão calculados a partir dos dados brutos das capitais brasileiras obtidos no indicador de trânsito do domínio de Transporte. Tabela 2 – Soma, Média e Desvio Padrão calculados através das notas das capitais nos dez indicadores básicos utilizados no Br-SCMM Soma 9.817 Média 363,5925926 Desvio Padrão 302,5200895 Fonte: Dados da Pesquisa.. Após essas medições foi necessário utilizar a técnica Z-Transformation, proposta na elaboração do Br-SCMM, para a normalização matemática dos dados, conforme discutido na metodologia. Neste ponto, o foco do cálculo incidiu sobre os dados de Maceió. Contudo, no anexo A consta os cálculos das demais capitais. Na transformação foram trabalhados três tipos de valores: dados (Score bruto), Z-Score e T-Score. Primeiro, de posse da soma e do desvio padrão calcula-se o chamado Z-Score, que 44 transforma o dado em um score padronizado e ajuda a entender onde um determinado score se encontra em relação aos demais numa distribuição. Dessa maneira, dispondo de todos os elementos, o cálculo do Z-score da cidade de Maceió ficou da seguinte maneira: Z-Score = 266 (dados brutos) - 363,5925(média) /302,5201(desvio padrão) Z-Score = - 97,5925 /302,5201 = -0,3 Como é possível observar, o Z- Score de Maceió resultou num valor negativo. Sendo assim, foi aplicado um segundo cálculo do tipo de dado chamado T-Score, que padroniza o dado normalizado numa escala de 0 a 5, com a seguinte fórmula: T-Score = (Z-Score + 5)*0.55 Com este cálculo é possível alcançar as notas padronizadas e aproximadas de 0 (zero) a 5 (cinco). Aplicando a fórmula para o Z-Score de Maceió, tem-se o seguinte: T-Score = (-0,3 + 5)*0,55 = (4,6)*0,55 = 2,57 Desta forma, a capital alagoana alcançou a nota 2,57 neste indicador, que a classifica na décima quarta posição no ranking de todas as capitais brasileiras. Os valores normalizados dentro da técnica Z-Transformation de todas as capitais no indicador proposto dentro do Br-SCMM são apresentados na tabela 3 e figura 10 seguintes. 45 Tabela 3 – Ranking das Capitais Brasileiras no Indicador Fonte: Dados da pesquisa. Figura 10 - Gráfico do ranking de todas as capitais com o T-Score calculado Fonte: Dados da pesquisa. 46 Uma vez calculado o indicador e os valores das outras capitais do Brasil, é possível analisar o que segue: No ranking elaborado de acordo com os resultados dos scores de todas as capitais no indicador, Maceió obteve o 14º lugar. Como mostra a figura 9; Dentre as capitais do Nordeste, Maceió só ficou atrás de Natal (7º) e João Pessoa (9º); Florianópolis foi a capital mais otimizada em relação ao indicador. É o terceiro melhor IDH do Brasil, de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, ficado atrás apenas de São Caetano do Sul (SP), o primeiro, e Águas de São Pedro (SP), o segundo. São Paulo capital é no ranking do indicador a última colocada na posição 27º lugar. O score de Maceió foi apenas um pouco maior do que o de Arapiraca, segunda cidade do Estado (e em desenvolvimento), que obteve um score de 2,41, conforme ilustra a figura 11 abaixo. Figura 11 - Relação Maceió - Arapiraca no indicador calculado Fonte: Dados da pesquisa. É possível relacionar o fato de São Paulo ter sido classificada no último lugar (maior índice) no que se refere ao número de vítimas fatais em acidente de trânsito em 2011 devido à sua área territorial, que é a 11ª maior capital do Brasil, e à área populacional (a 1ª em número de habitantes, a mais populosa). No caso de Maceió, os dados obtidos foram: 14ª mais populosa (mesma posição no indicador) e em termos 47 territoriais ocupa a 17ª posição. Florianópolis, a “mais inteligente” no indicador, é a 22ª mais populosa e a 20ª em extensão territorial. No entanto, por mais que se busque relacionar os resultados para algumas capitais, não é possível generalizar essas inferências. Por exemplo: Porto Velho é a maior capital do País em Km², ocupando a 21ª posição em número de habitantes, mas no indicador calculado ocupou a 13ª posição, seguida por Maceió em 14º posição. Cabe ressaltar que a capital de Rondônia é muito maior que Maceió e possui menos habitantes que a mesma, mesmo assim ocupou uma posição antes da capital alagoana no indicador, que lhe segue imediatamente. Por estes motivos supracitados, Afonso et al. (2014) explicam que é insuficiente mensurar a inteligência de uma cidade apenas por critérios como número de habitantes, pois não leva em consideração aspectos regionais, políticos, sociais e econômicos das cidades.
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