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ANÁLISE DE FALHAS EM TRANSFORMADORES DE CORRENTE João Pedro Mattos Costa Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Jorge Nemésio Sousa Marianna Nogueira Bacelar Rio de Janeiro Março de 2018 ANÁLISE DE FALHAS EM TRANSFORMADORES DE CORRENTE João Pedro Mattos Costa PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA. Examinado por: Prof. Jorge Nemésio Sousa, M.Sc. (Orientador) Engª. Marianna Nogueira Bacelar, M.Sc. (Co-orientadora) Prof. Jorge Luiz do Nascimento, Dr.Eng. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MARÇO DE 2018 iii Mattos Costa, João Pedro Análise de Falhas em Transformadores de Corrente/ João Pedro Mattos Costa – Rio de Janeiro: UFRJ/ ESCOLA POLITÉCNICA, 2018. XIV, 98 p.: il.; 29,7 cm. Orientadores: Jorge Nemésio Sousa Marianna Nogueira Bacelar Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Elétrica, 2018. Referências Bibliográficas: p. 92-95. 1. Falha. 2. Transformador de Corrente. 3. Manutenção. 4. Vida Útil. I. Nemésio Sousa, Jorge et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Elétrica. III. Título. iv Agradecimentos A toda minha família e aos meus pais, Jorge e Regina, por todo carinho, todas as renúncias, todos os ensinamentos e todas as oportunidades que me ofereceram. Essa conquista também é de vocês. Obrigado! À minha namorada, Vanessa, por todo o apoio, por ser minha melhor amiga e companheira e por todos os momentos que vivemos nos últimos anos. Nossa trajetória se confunde com meu caminho na graduação e, sem você, nada disso seria possível. A todos os meus amigos que me ajudaram a vencer os desafios da graduação. Agradeço a todos os companheiros da UFRJ e em particular aos amigos Felipe Farage, Larissa Verlaine, Maisa Kashima, Maria de Fátima, Pedro Trindade e Robson Elias que fizeram parte de um verdadeiro time e me ajudaram em diferentes fases da faculdade. Aos meus orientadores, Jorge Nemésio e Marianna Bacelar, pela orientação e discussões que levaram à elaboração deste trabalho. A todos os professores que passaram pela minha vida. Especialmente, aos professores do DEE e em particular aos professores (as) Carmen, Jorge Nemésio e Tatiana pelo ofício de preparar e inspirar a mim e meus colegas. Fica a minha profunda admiração e agradecimento por todas as aulas, palestras, conversas e por nos passar um pouco de toda a experiência que têm. À UFRJ, Escola Politécnica e em particular ao DEE e seus funcionários que fizeram do Bloco H uma segunda casa. Ao ONS e aos colegas da GET e EGP, pelo imenso aprendizado ao longo dos dois anos de estágio. Agradeço especialmente à minha supervisora Marianna Bacelar, por todas as respostas para minhas inúmeras perguntas e pelo tanto que agregou na minha formação, à Andreia Maia e ao Antônio Carlos, por todas as oportunidades de crescimento e aprendizado, inspiração e confiança no meu trabalho e aos amigos de estágio Gabriel Longhi, Pedro Trindade e Victor Campos, pela parceria diária. À CAPES por proporcionar meu ano de intercâmbio pelo Ciência sem Fronteiras, período de enorme crescimento. v Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista. ANÁLISE DE FALHAS EM TRANSFORMADORES DE CORRENTE João Pedro Mattos Costa Março/2018 Orientadores: Jorge Nemésio Sousa Marianna Nogueira Bacelar Curso: Engenharia Elétrica O envelhecimento das instalações de alta tensão é uma questão que vem ganhando maior destaque nos últimos anos. Com isso, técnicas para monitorar e prever o fim da vida útil de equipamentos têm sido desenvolvidas. No Brasil, as tratativas de renovação das instalações e equipamentos do Sistema Interligado Nacional ganharam impulso a partir de 2015, com a publicação da Resolução Normativa 643/2014 da ANEEL. Enquanto isso, o grande número de falhas catastróficas de transformadores de corrente que acarretaram explosões suscita debates quanto à possibilidade desses equipamentos estarem operando com vida útil esgotada ou por esgotar. Esta hipótese levou à criação de um Grupo de Trabalho entre órgãos e empresas do Sistema Elétrico Brasileiro para discussão do tema. Com isso, são estudadas as falhas ocorridas de forma a mitigá-las. O presente TCC tratará das principais características técnicas dos transformadores de corrente, permitindo a compreensão sobre seu funcionamento. Serão apresentados os principais ensaios pertinentes, técnicas de manutenção, modos de falha, conceitos de vida útil e caracterização de fim de vida útil. Será realizada uma abordagem estatística das explosões de transformadores de corrente no Brasil com o cálculo das taxas de falha para esses equipamentos. Será feita ainda uma análise mais profunda do modelo com maior número de explosões, mostrando o processo de identificação das possíveis causas. Por fim, serão mostrados os números relacionados ao processo de substituição de transformadores de corrente por fim de vida útil. Palavras-chave: Falha; Transformador de corrente; Manutenção; Vida útil. vi Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/ UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Electrical Engineer. FAILURE ANALYSIS OF CURRENT TRANSFORMERS João Pedro Mattos Costa March/2018 Advisors: Jorge Nemésio Sousa Marianna Nogueira Bacelar Course: Electrical Engineering The ageing process of power transmission assets turned into a major concern in the last years. Hence, new techniques have been developed for monitoring and prediction of equipment’s end-of-life. In Brazil, the renewal process gained momentum through the publication of the Normative Resolution 643/2014 by ANEEL, which is in application since 2015. Meanwhile, the large number of current transformers’ catastrophic failures followed by explosion raises debates about the possibility that these equipment were operating beyond their lifetime. This hypothesis led to the creation of a Working Group among the Brazilian Electricity Sector bodies and transmission utilities to discuss this subject. By these means, the failures are investigated in order to mitigate their occurrence. This Bachelor thesis will address the main technical characteristics of current transformers leading to the complete understanding of its functioning. The relevant electrical tests, maintenance aspects, failure modes, lifespan concepts and end-of-life characterization will be presented. A statistical analysis of the failures in the Brazilian transmission grid as well as the failure rates calculation will be undertaken. A deeper analysis of the model with most number of explosions will be carried out in order to show the identification process of the explosions’ root causes. Finally, the substitution of current transformers due to end-of-life numbers in Brazil will be shown. Key-words: Failure; Current transformer; Maintenance; Lifetime. vii Sumário Capítulo 1 Introdução ................................................................................................... 1 1.1 Apresentação ....................................................................................................... 1 1.2 Proposta ...............................................................................................................2 1.3 Motivação ............................................................................................................ 2 1.4 Objetivos do estudo ............................................................................................. 3 1.4.1 Objetivo primário........................................................................................... 3 1.4.2 Objetivos secundários .................................................................................... 3 1.5 Relevância e importância do estudo .................................................................... 3 1.6 Limitações do estudo ........................................................................................... 4 1.7 Organização e descrição do trabalho ................................................................... 5 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica ................................................................................. 6 2.1 Transformador de corrente .................................................................................. 6 2.1.1 Conceitos básicos e definições ...................................................................... 7 2.1.2 Circuito equivalente ..................................................................................... 10 2.1.3 Especificação ............................................................................................... 13 2.1.3.1 Normas ................................................................................................. 14 2.1.3.2 Condições ambientais ........................................................................... 14 2.1.3.3 Serviço .................................................................................................. 15 2.1.3.4 Valores nominais .................................................................................. 17 2.1.3.5 Nomenclatura........................................................................................ 22 2.1.3.6 Representação ....................................................................................... 23 2.1.4 Características construtivas do TC .............................................................. 25 2.1.4.1 Tipos construtivos ................................................................................ 25 2.1.4.2 Partes principais .................................................................................... 29 2.2 Vida útil de um equipamento elétrico ............................................................... 30 2.2.1 Envelhecimento ........................................................................................... 30 2.2.2 Fim da vida útil ............................................................................................ 33 viii 2.3 Falhas em transformadores de corrente ............................................................. 36 2.3.1 Tipos de falha .............................................................................................. 37 2.3.2 Taxas de falha .............................................................................................. 38 2.3.3 Modos de falha de transformadores de corrente .......................................... 42 2.3.4 Explosões de transformadores de corrente .................................................. 43 2.4 Manutenção de transformadores de corrente .................................................... 47 2.4.1 Técnicas preditivas de manutenção para transformadores de corrente ....... 47 2.4.2 Manutenção corretiva para transformadores de corrente ............................. 52 2.5 Obras de melhorias e reforços ........................................................................... 54 2.5.1 Substituição e reforma de equipamentos em fim de vida útil ...................... 57 2.5.2 Receita anual permitida ............................................................................... 57 Capítulo 3 Metodologia da Pesquisa .......................................................................... 62 3.1 Delineamento da pesquisa ................................................................................. 62 3.2 Conceito e classificações de pesquisa ............................................................... 62 3.3 Classificação desta pesquisa .............................................................................. 64 Capítulo 4 Análise Estatística de Explosões de Transformadores de Corrente ......... 65 4.1 Estudo de caso: o modelo com mais explosões ................................................. 72 4.1.1 Investigação das causas das falhas .............................................................. 77 4.2 Taxas de falha de transformadores de corrente ................................................. 81 4.3 Substituição de transformadores de corrente por fim de vida útil ..................... 85 Capítulo 5 Conclusões Gerais .................................................................................... 89 5.1 Sugestões de trabalhos futuros .......................................................................... 90 Referências Bibliográficas .............................................................................................. 92 Anexo ............................................................................................................................ 96 ix Lista de Figuras Figura 2.1- Esquema básico de um TC [13]. ........................................................... 7 Figura 2.2 - Modelo real completo de um transformador de corrente. ............... 11 Figura 2.3 - Circuito simplificado de um TC. .................................................... 12 Figura 2.4 - Curva de saturação de transformadores de corrente para serviço de proteção e medição [18]. ................................................................................................... 17 Figura 2.5 - Trecho da placa de um TC com seus valores nominais. ................. 17 Figura 2.6 - Paralelogramo de exatidão para TCs de medição com classe de exatidão 0,3 [12]. .............................................................................................................. 19 Figura 2.7 - Paralelogramo de exatidão para TCs de medição com classe de exatidão 0,6 [12]. .............................................................................................................. 20 Figura 2.8 - Paralelogramo de exatidão para TCs de medição com classe de exatidão 1,2 [12]. .............................................................................................................. 20 Figura 2.9 - TC com núcleos e enrolamentos separados para proteção e medição [19]. ................................................................................................................................... 21 Figura 2.10 - Polaridades aditiva e subtrativa para TCs [18]. .............................. 24 Figura 2.11 - Terminais do primário e secundário de TCs [20]. ........................... 25 Figura 2.12 - TCs de barra. ................................................................................. 26 Figura 2.13 - TC do tipo janela [21]. .................................................................... 26 Figura 2.14 – Vista dos TCs de bucha instalados em um transformador. .......... 27 Figura 2.15- Transformador de corrente do tipo invertido associado a um disjuntor. ......................................................................................................................... 28 Figura 2.16 - Partes principais que compõe um transformador de corrente: (a) tipo Invertido; e (b) tipo Pedestal [23]. .................................................................................... 29 Figura 2.17 - Efeito dos estresses do equipamento com o aumento do risco de falha [27]. ...................................................................................................................................33 Figura 2.18 - Curvas típicas de taxa de falha em função do tempo em operação do equipamento [25]. ............................................................................................................. 40 Figura 2.19 - Rompimento dielétrico externo de um TC. ................................... 43 Figura 2.20 - Transformador de potência que pegou fogo após explosão de um TC. .................................................................................................................................. 44 Figura 2.21 - Foto de um TC no momento da explosão. .................................... 45 x Figura 2.22 - Foto de um TC após a explosão. ................................................... 46 Figura 2.23 - Estado do núcleo do TC após a explosão. ..................................... 46 Figura 2.24 - Indicativo de vazamento do óleo isolante de um TC. ................... 48 Figura 2.25 - Termograma de um TC. ................................................................ 49 Figura 2.26 - Retirada de amostra de papel isolante de um TC para ensaios. .... 50 Figura 2.27 - Decisões que podem ser tomadas ao longo da vida útil do equipamento [27]. ............................................................................................................. 54 Figura 2.28 - Composição da RAP [11]. ............................................................... 58 Figura 2.29 - Configuração da RAP [11]. ............................................................. 59 Figura 2.30 - Configuração da RAP com a realização de Melhorias e Reforços [11]. ........................................................................................................................................ 59 Figura 2.31 - Configuração da RAP após o fim do contrato de concessão [11]. .. 60 Figura 2.32 - Configuração da RAP com a adição da PAI [11]. .......................... 61 Figura 4.1 - Gráfico das explosões ao longo do tempo. ..................................... 65 Figura 4.2 - Mapa com os locais das explosões e a frequência de ocorrências. . 66 Figura 4.3 - Gráficos das explosões por Região do país (esquerda) e as Unidades Federativas (direita). ....................................................................................................... 67 Figura 4.4 - Gráfico da perda de carga causado pelas explosões. ...................... 68 Figura 4.5 - Gráficos da tensão operativa nominal dos TCs (esquerda) e os equipamentos aos quais estavam associados (direita). ................................................... 68 Figura 4.6 - Gráficos do Tipo Construtivo (esquerda) e Isolação (direita) dos TCs que explodiram. .............................................................................................................. 69 Figura 4.7 - Gráfico da idade dos TCs que explodiram. ..................................... 70 Figura 4.8 - Gráfico da distribuição da frequência de explosões por modelo de TC. ........................................................................................................................................ 70 Figura 4.9 - Gráfico da idade dos TCs que explodiram dentre os três modelos com maior número de ocorrências. ........................................................................................ 71 Figura 4.10 - Evolução do número de explosões envolvendo o TC de modelo J. ........................................................................................................................................ 73 Figura 4.11 - Mapa com os locais das explosões do modelo J, bem como a frequência de ocorrências. .............................................................................................. 74 Figura 4.12 - Ano de fabricação (esquerda) e idade dos TCs (direita) do modelo J que explodiram. .............................................................................................................. 75 Figura 4.13 - Equipamentos associados aos TCs do modelo J que explodiram. 76 xi Figura 4.14 - Gráfico da perda de carga causado pelas explosões do modelo J. 76 Figura 4.15 - Vãos da subestação testada. .......................................................... 80 Figura 4.16 - Total de TCs em operação e explosões por ano. ........................... 82 Figura 4.17 - Taxa de falha anual e média de TCs. ............................................ 83 Figura 4.18 - Taxa de falha anual e média de TCs - Rede de 230 kV. ............... 83 Figura 4.19 - Taxa de falha anual e média de TCs - Rede de 345 kV. ............... 84 Figura 4.20 - Taxa de falha anual e média de TCs - Rede de 500 kV. ............... 84 Figura 4.21 - Taxa de falha anual e média de TCs - Influência do modelo J na rede de 500 kV. ...................................................................................................................... 85 Figura 4.22 - Substituição de modelos envolvidos nas ocorrências de explosão de TC. .................................................................................................................................. 87 xii Lista de Tabelas Tabela 2.1 - Esforços que impactam no envelhecimento de transformadores de corrente [26]. ..................................................................................................................... 31 Tabela 2.2 - Vida útil regulatória e taxas de depreciação de alguns equipamentos. Em destaque as informações sobre transformadores de corrente [28].............................. 35 Tabela 2.3 - Modos de Falhas Maiores e Menores em TCs [26]. ......................... 42 Tabela 4.1 - Níveis básicos de isolamento para um TC da classe 550 kV [12]. ... 73 xiii Lista de Siglas Ω - Ohms – Unidade de resistência elétrica A – Ampère - Unidade de corrente elétrica ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas AIS – Air Insulated Substation ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica ANSI – American National Standards Institute CERNE - Centro de Excelência em Recursos Naturais e Energia CIGRÉ – Conseil International des Grands Réseaux Electriques CIGRÉ-Brasil – Comitê Nacional Brasileiro de Produção e Transmissão de Energia Elétrica DGA – Dissolved Gas Analysis ECE – Esquema de Controle de Emergência ECS – Esquema de Controle de Segurança EPE – Empresa de Pesquisa Energética GP – Grau de Polimerização GT – Grupo de Trabalho IEC – International Electrotechnical Comission IEEE – The Institute of Electrical and Electronics Engineers, Inc. MCPSE – Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico MME – Ministério de Minas e Energia MW – Mega Watt – Unidade de potência elétrica ativa NBI – Nível Básico de Isolamento NBR – Norma Brasileira aprovada pela ABNT O&M – Operação e Manutenção xiv ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico PAI - Parcela Adicional de Incentivo PAR – Plano de Ampliações e Reforços pC – Pico Coulomb – Unidade de carga elétrica PMI – Plano de Modernização de Instalações ppm – Partes por milhão PV – Parcela Variável RAP – Receita Anual Permitida RB – Rede Básica RBF – Rede Básica de Fronteira ReA – Resolução Autorizativa ReN – Resolução Normativa SEB – Setor Elétrico Brasileiro SEP – Sistemas Especiais de Proteção SIN – Sistema Interligado Nacional TC – Transformador de Corrente TI – Transformador de Instrumento TMEF – Tempo Médio entre Falhas TMPF – Tempo Médio para Falhar TSFI – Tensão Suportável Nominal à Frequência Industrial TSIA – Tensão Suportável Nominal de Impulso Atmosférico TSIM – Tensão Suportável Nominal de Impulso de Manobra UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá UV – Ultravioleta V – Volt - Unidade de tensão elétrica VA – Volt-Ampère – Unidade de potência elétrica aparente 1 Capítulo 1 Introdução 1.1 Apresentação As tensões e correntes elevadas observadas em sistemas de potência impossibilitam medidores e instrumentos convencionaisde exercerem suas funções conectados diretamente à rede. Com a intenção de contornar esse problema, surgiram os TIs - Transformadores de Instrumentos, para reduzirem os níveis de tensão ou corrente no secundário, permitindo a conexão dos instrumentos e medidores. Além disso, são responsáveis por isolar o chamado ‘circuito de força’, conectado ao seu enrolamento primário, dos circuitos de proteção, medição e controle, conectados ao seu secundário. Operando em tensão e corrente reduzidas, se torna viável a fabricação de instrumentos e medidores de tamanhos reduzidos, com vistas ao seu isolamento (FRONTIN, 2013) [1]. Pode-se ainda citar a possibilidade de padronização e normalização da tensão e corrente de operação desses dispositivos com a utilização de Transformadores de Instrumentos (SILVA, 2014) [2]. Transformadores de Corrente - TCs podem ser classificados como Transformadores de Instrumentos, responsáveis por reduzir os níveis de corrente proporcionalmente à corrente da rede conectada ao primário. Com a crescente expansão do Sistema Elétrico Brasileiro, naturalmente aumenta a quantidade de TCs conectados à rede e, aliado a esse movimento, observa-se ainda o envelhecimento dos equipamentos já existentes. Por consequência, a correta gestão e manutenção desses ativos se torna cada vez mais importante para as empresas do SEB – Setor Elétrico Brasileiro. Ocorrências que provoquem a indisponibilidade do equipamento incorrem em penalidades por parte da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL, 2016) [3] e devem ser evitadas a todo custo pelas transmissoras e geradoras. 2 1.2 Proposta Este trabalho trata de um estudo sobre a vida útil de transformadores de corrente, trazendo as diferentes formas de classificá-la e abordá-la, como ela é vista no Setor e como os proprietários desses equipamentos devem agir de forma a garantir a vida útil prevista. Por outro lado, será discutida a deterioração precoce desses equipamentos e consequente redução de sua vida útil, razão da maioria das falhas observadas no SIN – Sistema Interligado Nacional. 1.3 Motivação As recorrentes falhas envolvendo transformadores de corrente estão sendo tratadas e analisadas por um Grupo de Trabalho - GT composto por representantes das transmissoras, de órgãos do Setor Elétrico como o ONS, ANEEL e MME – Ministério de Minas e Energia, de fabricantes de modelos de TC com ocorrência de explosões e de um laboratório de ensaios elétricos em equipamentos de alta tensão. Inicialmente, esse GT foi criado para tentar relacionar as explosões de equipamentos com o estado de sua vida útil, com o objetivo de melhorar o processo de substituição desses ativos. Atualmente, devido ao aumento do número de explosões, o principal objetivo do GT é analisar as ocorrências e estudar as falhas visando a discussão de suas possíveis causas e possíveis formas de prevenção ou solução, sendo a substituição do equipamento uma delas. Com isso, o GT é chamado de Grupo de Trabalho de Vida Útil de Transformadores de Instrumentos. A grande motivação para a realização deste TCC foi a realização das reuniões do GT que trouxeram apresentações dos representantes das empresas transmissoras sobre a metodologia que estava sendo utilizada para a determinação das causas das explosões. Essas apresentações mostraram a importância do acompanhamento do equipamento de forma a prever, mitigar ou até mesmo evitar situações de falha, que envolvem a explosão do TC e podem provocar danos em outros equipamentos e trazer riscos para a equipe que trabalha no local. 3 1.4 Objetivos do estudo 1.4.1 Objetivo primário O presente trabalho tem como objetivo primário o estudo de conceitos ligados a vida útil, falhas e manutenção de transformadores de corrente e sua aplicação para entender o contexto da ocorrência de falhas seguidas de explosões no SIN. 1.4.2 Objetivos secundários Definir o que é a vida útil e como o fim de vida útil pode ser caracterizado. Elencar as possíveis formas de monitorar o desempenho e o estado de transformadores de corrente e quais ensaios podem ser feitos para prevenir falhas e garantir o serviço do equipamento durante o tempo planejado. Analisar estatisticamente as ocorrências de explosão de TCs na rede de transmissão. 1.5 Relevância e importância do estudo A vida útil de equipamentos é um tema extremamente atual e vêm ganhando relevância dentro dos grupos de estudo, sendo alvo de investigações dos Grupos A3 e C1 do CIGRÉ1 com diversas publicações na área (BACELAR et al., 2016) [4], (MONTEIRO et al., 2017) [5], (KOPEJTKOVA et al., 2014) [6], (JANSSEN et al., 2017) [7] e (CARVALHO et al., 2016) [8]. Por isso, seguindo a tendência global, a questão foi abordada pelo SEB de forma mais específica em 2014, com a publicação da Resolução Normativa – ReN N° 643 da ANEEL de 2014 (ANEEL, 2014) [9], que altera a ReN N° 443 de 2011 (ANEEL, 2011) [10] para tratar da substituição de equipamentos devido ao fim de vida útil, conceito tratado na seção 2.2.2. Sendo assim, a partir de então, iniciou- se em todo o SIN um grande processo de renovação dos equipamentos em operação. 1 O Cigré - Conseil International des Grands Réseaux Electriques é uma organização mundial sem fins lucrativos, fundada em 1921. Seu objetivo é promover o intercâmbio de conhecimento entre especialistas do mundo todo, unindo forças para desenvolver os sistemas elétricos do presente e do futuro. No Brasil, sua representação é chamada de CIGRÉ Brasil - Comitê Nacional Brasileiro de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, fundada em 1971. 4 No entanto, visando a modicidade tarifária, é de interesse da ANEEL que os equipamentos permaneçam em operação pelo maior tempo possível, recebendo a manutenção devida para que sua vida útil seja maximizada, sempre atentando aos indicadores necessários para evitar o sucateamento do sistema. Para isso, são estudadas medidas que possam incentivar os proprietários dos ativos a postergar sua substituição, como em GOMES e DORNINGER (2017) [11]. Além disso, os transformadores de corrente são equipamentos muitas vezes tratados como secundários, mas que tem papel fundamental na operação do sistema e podem ter grande impacto quando fora de operação. A falha de um TC traz diversas consequências, como a ocorrência de curto-circuito, perda de carga, explosão do equipamento e danificação dos equipamentos ao redor, entre outros. Por isso, os transformadores de corrente merecem a devida atenção e cuidado, para que operem segundo o planejado. 1.6 Limitações do estudo O tema abordado neste trabalho ainda é alvo de estudos e está em constante evolução. Como, no Brasil, começou a ser tratado recentemente, não há muitos anos de experiência para a aquisição de dados sobre o processo de substituição de equipamentos por fim de vida útil regulatória e falhas envolvendo TCs. O ONS, na posição de operador do sistema, não dispõe de uma base de dados completa contendo informações quantitativas e qualitativas sobre os transformadores de corrente instalados na RB. Com isso, o envio dos dados relativos aos equipamentos em fim de vida útil é de responsabilidade dos agentes2 para o atendimento da Resolução Normativa Nº 443/2011 da ANEEL. E, justamente por ser responsável por uma ‘visão macro’ do sistema, as falhas em TCs só são identificadas quando há uma perturbação na Rede Básica, que está sob supervisão do Operador. Isso pode acarretar subestimação dos eventos ocorridos no SIN, pelos casos que ocorrem fora da Rede Básica ou que ocorrem dentro dela sem que haja registro de perturbações em sua decorrência. 2 Os agentes do SEB são empresas titulares de concessões, permissões ou autorizações do Poder Concedente para desempenhar uma determinada função,seja ela de gerar, transmitir ou distribuir energia elétrica, entre outras. Como o presente trabalho aborda principalmente a rede de transmissão, a utilização de agente deve ser entendida como ‘empresa transmissora’, ou seja, detentora de ativos do setor da transmissão (ABRADEE) [37]. 5 Pelos motivos acima expostos, o enfoque das análises será dado aos TCs em operação em instalações classificadas como Rede Básica e Rede Básica de Fronteira, sendo estendida a tensões inferiores apenas ocasionalmente. 1.7 Organização e descrição do trabalho O presente trabalho se encontra dividido em seis capítulos, cujos conteúdos se encontram descritos abaixo. O Capítulo 1 apresenta a introdução do TCC, mostrando sua proposta, seu objetivo, a motivação para sua realização, sua relevância e suas limitações. No Capítulo 2, é realizada uma revisão bibliográfica com uma abordagem teórica sobre transformadores de corrente, ensaios e manutenção, modos de falha, vida útil e conceitos para a caracterização de fim de vida útil, além de aspectos regulatórios da substituição de equipamentos por fim de vida útil. No Capítulo 3, são apresentadas a metodologia e classificação deste estudo. No Capítulo 4 é exibido o histórico recente de ocorrências de explosões de TCs no SIN com uma análise gráfica sobre elas, além do cálculo das taxas de falha3. Há ainda um breve estudo do modelo com maior número de explosões, que tem sido tratado a fundo pelo Grupo de Trabalho de Vida Útil de Transformadores de Instrumentos. Por fim, será apresentado um panorama sobre o processo de substituição por fim de vida útil dos modelos de TCs envolvidos nas explosões. O Capítulo 5 mostra a conclusão do trabalho com seus principais pontos de destaque. A seguir, se encontra um anexo, com a lista de todas as ocorrências de explosão de TC verificadas no SIN, que serviram de base para a análise gráfica feita no Capítulo 4. Por fim, é apresentada a relação das referências bibliográficas utilizadas neste estudo. 3 As taxas de falha são um instrumento para a avaliação da confiabilidade. Sua conceituação teórica será feita na seção 2.3.2. 6 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2.1 Transformador de corrente Transformadores são equipamentos basicamente compostos por dois enrolamentos, não conectados eletricamente, e um núcleo ferromagnético. Seu funcionamento é baseado na produção de um fluxo magnético pela corrente passante por uma das bobinas, que percorre o núcleo e provoca a circulação de corrente na outra bobina, conforme fenômenos descritos nas Leis de Biot-Savart4 e de Faraday-Neumann- Lenz5, respectivamente. Estes equipamentos podem ser classificados quanto sua finalidade em Transformadores de Potência (ou Força), de Distribuição e de Instrumentos. Transformadores de Instrumentos têm como objetivo principal a reprodução proporcional das tensões e correntes, impostas ao seu enrolamento primário pelo sistema de potência ao qual ele está conectado, em seu enrolamento secundário sem provocar grandes alterações na posição fasorial da grandeza. Dessa forma, permite-se a monitoração das grandezas elétricas (tensão e corrente) dos sistemas de potência pelos relés, medidores e instrumentos conectados ao secundário do Transformador de Instrumentos. Segundo FRONTIN (2013) [1], ao mesmo tempo, a redução dos níveis de corrente e tensão possibilita a fabricação de instrumentos e medidores em dimensões mais reduzidas, por demandar menor isolação. Os Transformadores de Corrente são Transformadores de Instrumentos que promovem a redução proporcional da corrente do circuito primário para suprir os 4 A Lei de Biot-Savart relaciona a corrente elétrica que passa por um condutor com o campo magnético criado por ela. Foi formulada por Jean-Baptiste Biot (1774-1862), físico, astrônomo e matemático francês, e Félix Savart (1791-1841), físico francês (YOUNG e FREEDMAN, 2009) [35]. 5 A Lei de Faraday-Neumann-Lenz trata do comportamento de um campo magnético frente a um circuito elétrico, produzindo uma tensão induzida. Michael Faraday (1791-1867), físico e químico inglês, fez a descoberta da indução eletromagnética. Franz Ernst Neumann (1798-1895), mineralogista, físico e matemático alemão, foi responsável por sua formulação matemática. E Heinrich Lenz (1804-1865), físico estoniano, estabeleceu a relação entre o sentido da corrente elétrica induzida e o campo magnético que a gerou [35]. 7 dispositivos conectados ao circuito secundário. Seu enrolamento primário é colocado em série com o circuito de potência e a relação entre as espiras do enrolamento primário e do enrolamento secundário tem o papel de produzir a ‘imagem’ da corrente primária (IP) que será induzida no enrolamento secundário. Usualmente, utiliza-se a padronização da corrente secundária (IS) em 5A, podendo assumir também os valores de 1A ou 2A, segundo a NBR 6856-2015 (ABNT, 2015) [12], que trata da especificação de TCs. 2.1.1 Conceitos básicos e definições Para a compreensão do funcionamento dos Transformadores de Corrente, alguns conceitos precisam ser entendidos. Para isso, a Figura 2.1 apresenta um desenho esquemático de um TC, cujas descrições das partes envolvidas são apresentadas a seguir. Figura 2.1- Esquema básico de um TC [13]. Adaptado pelo autor. Núcleo Composto de material ferromagnético laminado em chapas para reduzir a indução de correntes de Foucault6. Devido à sua baixa relutância magnética, permite a circulação de fluxo magnético no interior do material. É envolvido pelos enrolamentos primário e secundário. Enrolamento Primário 6 As correntes de Foucault, também conhecidas como correntes parasitas, são correntes induzidas que escoam superficialmente em um material condutor quando submetido a um fluxo magnético variável. Provoca aumento na dissipação de energia por calor (Efeito Joule), aumentando as perdas no núcleo. Esse fenômeno foi descoberto por Jean Bernard Léon Foucault (1819-1868), físico e astrônomo francês, também inventor do Pêndulo de Foucault. (TERRA, 2013) [36] 8 É a bobina do TC que está em série com o sistema de potência. Pela Lei de Biot-Savart, a circulação de corrente pela bobina do enrolamento primário produz um fluxo magnético. Este percorre o núcleo e, pela Lei de Lenz, induz uma corrente no enrolamento secundário. Enrolamento Secundário Por onde circula a corrente que é induzida pelo enrolamento primário. Responsável pela alimentação das bobinas de corrente dos instrumentos de medição e dispositivos de proteção e controle. Circuito Primário Corresponde ao sistema de potência cuja corrente precisa ser medida ou monitorada. Está conectado em série com o enrolamento primário. Circuito Secundário Conjunto de medidores (amperímetro, wattímetro e medidores de energia) e dispositivos de proteção (relés) que são alimentados pelo enrolamento secundário do TC. Carga Impedância do circuito secundário conectado ao TC. Compreende a impedância dos medidores, dispositivos de proteção e controle e também dos cabos que os conectam aos painéis de controle. Carga Nominal Carga máxima para qual o TC garante o cumprimento dos requisitos de exatidão necessários. Corrente Primária (IP) Corrente que percorre o enrolamento primário. Devido à impedância desprezível oferecida pelo Transformador de Corrente, a corrente primária é imposta pelo sistema de potência no qual está instalado e reflete todas as alterações sofridas pela rede. Corrente Primária Nominal (IPN) Corrente primária para a qual o TC foi projetado e designado. Corrente Secundária (IS) 9 Corrente que percorre o enrolamento secundário e supre o circuito secundário. É uma imagem dacorrente primária. Corrente Secundária Nominal (ISN) Corrente secundária para a qual o TC foi projetado e designado. Relação Real (RRTC) Razão entre os valores eficazes das correntes primária e secundária, como segue: 𝑅𝑅𝑇𝐶 = 𝐼𝑃 𝐼𝑆 Onde: IP – corrente primária IS – corrente secundária RRTC – relação real do TC Relação Nominal (RTC) Valor de placa da relação de transformação do TC. É a razão entre as correntes primária e secundária nominais e inverso da relação entre as espiras do enrolamento primário e as do enrolamento secundário, como pode ser visto abaixo. 𝑅𝑇𝐶 = 𝐼𝑃𝑁 𝐼𝑆𝑁 = 𝑁𝑆 𝑁𝑃 Onde: IPN – corrente primária nominal ISN – corrente secundária nominal NP – número de espiras do enrolamento primário NS – número de espiras do enrolamento secundário RTC – relação nominal do TC Fator de Correção da Relação (FCR) Razão entre a Relação Real e a Relação Nominal do TC, ou seja, mostra o quão próxima da relação projetada é a Relação Real. Essa diferença se deve à compensação de espira, característica construtiva do TC. Pode ser escrito como: 10 𝐹𝐶𝑅 = 𝑅𝑅𝑇𝐶 𝑅𝑇𝐶 Onde: FCR – fator de correção da relação RRTC – relação real do TC RTC – relação nominal do TC Erro de Relação Percentual (E%) Valor, em porcentagem, que expressa o erro introduzido pela compensação de espira. É dado por: 𝐸% = 100(𝐹𝐶𝑅 − 1) Onde: E% – erro de relação percentual FCR – fator de correção da relação Ângulo de Fase (β) Defasagem entre os ângulos dos fasores das correntes primária e do inverso da corrente secundária, introduzida pela transformação. É positivo quando a corrente secundária está adiantada em relação à primária. Fator de Correção da Transformação (FCT) Leva em conta o erro introduzido tanto pelo Ângulo de Fase (β) quanto pelo Erro de Relação Percentual (E%). Para corrigir a leitura fornecida pelos medidores conectados no circuito secundário, basta multiplicar a medida pelo FCT. 2.1.2 Circuito equivalente O funcionamento dos transformadores de corrente pode ser bem entendido a partir da análise de seu circuito real. Na Figura 2.2, pode-se observar o modelo real completo de um transformador de corrente, cujos componentes buscam modelar os fenômenos que ocorrem em seu núcleo e enrolamentos. As resistências RP e RS representam, respectivamente, as resistências dos enrolamentos primário e secundário para a modelagem dos efeitos das perdas ôhmicas no cobre das duas bobinas; as reatâncias XP e XS modelam o fluxo de dispersão nos enrolamentos primário e secundário, 11 respectivamente; a resistência RC e a reatância XM formam o chamado ramo de magnetização ou de excitação e representam, respectivamente, as perdas por corrente de Foucault no núcleo e histerese do material ferromagnético que o compõe e a reatância de magnetização; já a impedância ZB representa a carga (burden) do TC, formada pelo seu circuito secundário. Figura 2.2 - Modelo real completo de um transformador de corrente. Fonte: Elaboração própria. A corrente de excitação Ie, que percorre o ramo de excitação, é composta de duas componentes. A primeira delas, chamada corrente de perdas no núcleo, percorre RC e está em fase com a tensão aplicada no núcleo; a segunda, corrente de magnetização, percorre XM e está atrasada de 90° em relação à tensão aplicada no núcleo. A Figura 2.3 mostra uma representação equivalente simplificada que pode ser usada para transformadores de corrente. Para isso, pode-se desprezar a resistência e reatância do primário, visto que, na maioria das vezes, o enrolamento primário é formado por um condutor ao qual o TC está conectado. Outra mudança é a reflexão do ramo de excitação para o secundário. Dessa forma, o circuito da Figura 2.3 agrega apenas as grandezas inerentes ao transformador de corrente. 12 Figura 2.3 - Circuito simplificado de um TC. Fonte: Elaboração própria. Percebe-se que as únicas correntes que percorrem o diagrama do TC da Figura 2.3 são IP/RTC, Ie’ e IS, que são, respectivamente a corrente do primário referida ao secundário, a corrente de excitação referida ao secundário e a corrente do secundário que percorre a carga. Com isso, fica em evidência uma importante conclusão acerca do funcionamento dos TCs. Pela Lei das Correntes de Kirchhoff7, sabe-se que 𝐼𝑃 𝑅𝑇𝐶 = 𝐼𝑒 ′ + 𝐼𝑆, o que mostra que nem toda corrente do primário é transformada em corrente do secundário, pois uma parte se perde na excitação do núcleo. Essa diferença traz outra interpretação para dois conceitos explicados na seção 2.1.1, que serão importantes na compreensão da exatidão do TC. Fator de Correção da Relação (FCR) Pode ser também escrito como: 𝐹𝐶𝑅 = 𝑅𝑅𝑇𝐶 𝑅𝑇𝐶 = 𝐼𝑃 𝐼𝑆 ⁄ 𝑁𝑆 𝑁𝑃 ⁄ = 𝐼𝑆 + 𝐼𝑒 ′ 𝐼𝑆 Onde: 7 Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887) foi um físico alemão, responsável pela elaboração das Leis de Kirchhoff para circuitos elétricos (SILVA) [34]. Segundo a primeira Lei de Kirchhoff, a soma das correntes que fluem na direção de um nó elétrico é igual à soma das correntes que saem desse mesmo nó. Já a segunda Lei de Kirchhoff afirma que a soma das quedas de tensão em qualquer caminho fechado percorrido por corrente é igual a zero. 13 FCR – fator de correção da relação RRTC – relação real do TC RTC – relação nominal do TC IP – corrente primária IS – corrente secundária NS – número de espiras do enrolamento secundário NP – número de espiras do enrolamento primário Ie’ – corrente de excitação referida ao secundário Erro de Relação Percentual (E%) Dado também por: 𝐸% = 100(𝐹𝐶𝑅 − 1) = 100 × 𝐼𝑒 𝐼𝑆 Onde: E% – erro de relação percentual FCR – fator de correção da relação Ie – corrente de excitação IS – corrente secundária 2.1.3 Especificação A especificação de transformadores de corrente segue padrões ditados pelas normas técnicas. Estas são as estabelecidas por organizações nacionais, como a ABNT, e internacionais, como a ANSI, IEEE e IEC. Assim, a partir da escolha de qual norma seguir por parte do responsável pela aplicação do TC, diferentes faixas de valores das características a serem especificadas ficam disponíveis, de acordo com o critério de cada organização. Seguindo o processo de especificação, há ainda de se observar se as condições ambientes previstas em norma serão cumpridas, pois, caso não sejam, os valores nominais especificados podem sofrer correções. A partir da escolha da norma e da avaliação do meio externo, deve-se identificar o propósito da utilização do equipamento, se ele tem o objetivo suprir medidores ou relés. E então, finalmente, a determinação dos valores nominais necessários para a especificação completa e nomenclatura de acordo com a norma escolhida. 14 2.1.3.1 Normas Abaixo, são listadas as normas técnicas relacionadas a transformadores de corrente e passíveis de utilização no Brasil: ABNT o NBR 6856 [12] Transformador de Corrente – Especificação e ensaios ANSI/ IEEE o IEEE Std C57.13-2016 [14] Standard Requirements for Instrument Transformers o IEEE Std C37.110-2007 [15] Guide for the Application of Current Transformers Used for Protective Relaying Purposes IEC o IEC 61869-1:2007 [16] Instrument transformers - Part 1: General requirements o IEC 61869-2:2012 [17] Instrument transformers - Part 2: Additional requirements for current transformers 2.1.3.2 Condições ambientais Segundo a NBR 6856, os TCs são projetados para operar respeitando alguns limites para o ambiente no qual o equipamento está instalado, tais como: Altitude de até 1000 m. Temperatura máxima ambiente de até 40°C. Temperatura mínima ambiente de até -10°C. Temperatura média de até 30°C para um período de 24 horas. No entanto, existem casos em que esses limites não podemser respeitados devido às condições locais. Para esses casos, são feitas correções nos valores nominais especificados. 15 A norma NBR 6856 ainda cita condições adversas que podem ser encontradas e que devem ser relatadas aos fabricantes para que sejam tomados os cuidados necessários. Exemplos citados pela NBR 6856 para condições especiais: Instalação em pontos com altitude superior a 1000 m. Temperatura ambiente fora dos limites normalizados. Exposição do equipamento à salinidade, vapor, gases ou fumaça Exposição excessiva à poeira. Exposição a ambientes corrosivos. Vibrações excessivas e abalos sísmicos. Exposição a ambientes explosivos. Transporte em condições precárias. Instalação em ambientes de alta umidade, possibilitando a formação de fungos. 2.1.3.3 Serviço Segundo SILVA (2014) [2], os TCs podem ser classificados quanto ao serviço para o qual foram designados da seguinte forma [2]: Transformadores de Corrente para Serviço de Medição O objetivo desses equipamentos é a medição de correntes em circuitos de alta tensão. Para tal, deve apresentar alta precisão, com erros de medição de 0,3% a 0,6% e baixa corrente de saturação de quatro vezes a corrente nominal, como pode ser visto na Figura 2.4. Durante curtos-circuitos, o ideal é que o TC entre em saturação, protegendo os equipamentos de medição do circuito secundário. Construtivamente, seu núcleo apresenta seção menor do que os TCs para serviço de proteção, de modo a promover a saturação do núcleo do equipamento. Transformadores de Corrente para Serviço de Proteção Esses equipamentos têm como objetivo a proteção de circuitos de alta tensão e, para isso, trazem em seu circuito secundário relés de proteção. Para esse serviço, não é necessária elevada precisão, podendo o equipamento apresentar até 10% de medição, mas é necessário apresentar elevada corrente de saturação, da 16 ordem de vinte vezes a corrente nominal, para que não saturem durante a ocorrência de curtos-circuitos, como mostrado na Figura 2.4. Para TCs de Proteção em operação em sistemas com religamento, como alimentadores com religadores ou com disjuntores com relé de religamento, há de se ter ainda cuidado com o magnetismo residual. Na ocorrência de eventos de religamento, a remanência, fenômeno que provoca a preservação de um magnetismo residual no núcleo, pode provocar a saturação do TC antes do ponto previsto. Assim, de acordo com FILHO, J. M. e MAMEDE, D. R. (2013) [18], uma medida comum para evitar esse problema é a inserção de um entreferro, de modo a tornar o núcleo antirremanente. Pode-se subdividir os transformadores de corrente para serviço de proteção em duas classes: o TCs da classe A (ABNT) ou classe T (ANSI): Possuem alta impedância interna, pois a reatância de dispersão do enrolamento secundário possui valor muito maior do que a impedância do total do circuito secundário em situação de carga nominal. Normalmente, apresentam ambas as bobinas primária e secundária enroladas sobre o núcleo. Possuem alta impedância interna, pois a reatância de dispersão do enrolamento secundário possui valor muito maior do que a impedância do total do circuito secundário em situação de carga nominal. Normalmente, apresentam ambas as bobinas primária e secundária enroladas sobre o núcleo. o TCs da classe B (ABNT) ou classe C (ANSI): Possuem baixa impedância interna, pois a reatância de dispersão do enrolamento secundário possui valor desprezível em relação à impedância total do circuito secundário em situação de carga nominal. Construtivamente, costumam apresentar núcleo toroidal, com o enrolamento secundário enrolado uniformemente sobre o núcleo. O enrolamento primário apresenta suportabilidade a altas correntes. 17 Figura 2.4 - Curva de saturação de transformadores de corrente para serviço de proteção e medição [18]. 2.1.3.4 Valores nominais Após a definição da norma a ser seguida e da função do transformador de corrente, é necessária a definição de seus valores nominais. Eles são exibidos na placa do equipamento, como mostrado na Figura 2.5. Conforme FILHO, J. M. e MAMEDE, D. R. (2013) [18], os valores nominais mais importantes a serem definidos são relacionados a seguir. Figura 2.5 - Trecho da placa de um TC com seus valores nominais. Fonte: Acervo do autor. Tensão máxima do equipamento e níveis de isolamento Os níveis básicos de isolamento são tensões para as quais há a garantia de não ocorrerem descargas disruptivas na isolação externa e são definidas por ensaio a partir da tensão máxima de operação do equipamento. São elas: Tensão suportável nominal à frequência industrial. Tensão suportável nominal de impulso de manobra. 18 Tensão suportável nominal de impulso atmosférico. Correntes nominais e relações nominais As correntes secundárias geralmente são normalizadas em 5 A, podendo também ser de 2 A ou 1 A, e as correntes primárias dependem do circuito em que o TC opera. Portanto, para o atendimento dos requisitos dos dispositivos do circuito secundário a partir da faixa de valores de corrente imposta pelo circuito primário, deve-se escolher a relação nominal adequada, que poderá ser obtida por ligações série e paralelo ou tapes na bobina do equipamento. Assim, poderão ser escolhidas relações nominais simples, duplas ou múltiplas. Frequência nominal Também chamada frequência industrial. No Brasil é definida por norma como 60 Hz, podendo variar entre 58 Hz e 62 Hz. Em outros países, como no Paraguai, é adotada a frequência de 50 Hz. A utilização de TCs para uma frequência não especificada pode acarretar aumento nas perdas internas e redução da exatidão. Cargas nominais A carga do circuito secundário do TC pode ser expressa como uma impedância, com resistência e reatância, ou como potência identificando o fator de potência, representando o consumo da carga para a corrente secundária nominal. Ressalta-se que, para o cálculo da carga total, são consideradas as impedâncias tanto dos relés e medidores quanto dos cabos. As normas definem a nomenclatura a partir da carga nominal do TC. Deve- se encontrar nas tabelas de cada norma a faixa de valores que atendem a carga designada ao transformador de corrente que está sendo especificado. A NBR 6856 [12] define a carga por meio da potência aparente (VA), enquanto a IEEE Std C57.13-2016 [14] utiliza a definição da carga pela sua impedância (Ω). Classe de exatidão A exatidão é uma característica muito importante de TCs, sobretudo para o serviço de medição. O equipamento real introduz erros na magnitude e ângulo das correntes medidas, causados pela Corrente de Excitação Ie e pelo ângulo de fase β. Por isso, são estabelecidos limites para esses pequenos erros introduzidos 19 pelos TCs, definidos pelos paralelogramos de exatidão. Estes são traçados para as diferentes classes de exatidão à disposição, segundo a norma escolhida. Nas Figuras 2.6, 2.7 e 2.8, podem ser vistos os paralelogramos de exatidão para as classes de exatidão 0,3, 0,6 e 1,2, definidas pela ABNT, para correntes de carga iguais à corrente nominal e à 10% da nominal. No eixo das ordenadas estão localizados os valores de FCR e no eixo das abcissas os valores de β. É interessante observar que os limites do FCR e β aumentam conforme a classe de exatidão também aumenta. Com isso, percebe-se que quanto menor a classe de exatidão, mais preciso é o TC, pois menor é o Erro de Relação Percentual E% admitido. Figura 2.6 - Paralelogramo de exatidão para TCs de medição com classe de exatidão 0,3 [12]. 20 Figura 2.7 - Paralelogramo de exatidão para TCs de medição com classe de exatidão 0,6 [12]. Figura 2.8 - Paralelogramo de exatidão para TCs de medição com classe de exatidão 1,2 [12]. 21 Como dito, enquanto os TCs de medição devem ser extremamentefiéis e saturar para altas correntes para proteger os medidores, os TCs de proteção não devem saturar para correntes altas, mas podem apresentar classes de exatidão maiores, de 5 e 10%, segundo a ABNT e de 10% segundo a ANSI. Isso quer dizer que o Erro de Relação Percentual E% fica limitado a 5% ou 10% para correntes secundárias desde seu valor nominal até 20 vezes o mesmo. Número de núcleos para medição e proteção Devido às características intrínsecas de núcleos para medição e proteção quanto à questão da saturação e conexão de enrolamentos secundários para cada função, é possível fazer a separação do núcleo em pernas, como mostrado na Figura 2.9. Assim, pela diferença das espessuras dos núcleos, garante-se a saturação do núcleo para medição e a correta operação do núcleo para proteção, quando da ocorrência de curtos-circuitos. A quantidade de núcleos para cada função depende da necessidade de alimentação do TC (sistemas de proteção, medição e faturamento, medição para controle da operação, por exemplo) e sua especificação é feita de acordo com o ponto em que o transformador de corrente está instalado. Figura 2.9 - TC com núcleos e enrolamentos separados para proteção e medição [19]. Fator térmico nominal O Fator Térmico é a razão entre a máxima corrente permitida no primário e a corrente primária nominal para que a temperatura do equipamento não exceda os valores estipulados em norma. 22 Corrente suportável nominal de curta duração Também chamada de Corrente Térmica. É o valor eficaz da maior corrente que o TC pode suportar por 1 segundo com o enrolamento secundário curto- circuitado sem sofrer avarias e perda de vida útil e sem ultrapassar os limites de temperaturas da sua classe de isolamento. Essa corrente tem origem em falhas, como curtos-circuitos. Valor de crista nominal da corrente suportável Também chamada de Corrente Dinâmica. É o valor do primeiro pico da corrente primária na ocorrência de defeitos para o qual o TC apresenta suportabilidade por geralmente 0,1s com seu enrolamento secundário curto- circuitado e sem que haja avarias elétricas e mecânicas causadas pelas forças de atração e repulsão (forças eletromagnéticas). Aterramento do sistema Especificação do aterramento do local do sistema onde o TC está instalado: sistema efetivamente aterrado, sistema isolado, entre outros. Uso interno ou externo Equipamentos de uso interno estão abrigados contra intempéries, enquanto os de uso externo se encontram ao ar livre, no pátio, sujeito às intempéries. 2.1.3.5 Nomenclatura A nomenclatura depende da norma utilizada, pois cada uma define sua própria regra. Assim, como forma de exemplificar, serão apresentadas as regras adotadas pela ABNT [12] e pela ANSI/IEEE [14]. O primeiro passo é definir o serviço do TC – proteção ou medição. Caso seja para proteção, este poderá ser do tipo A ou B (ABNT) ou T ou C (ANSI), sendo o tipo A equivalente ao tipo T da norma americana e o tipo B equivalente ao tipo C. Antes da letra, é escrita a classe de exatidão para a ABNT (suprimida pela ANSI por pertencer exclusivamente à classe 10) e após a letra é escrita a tensão secundária que aparece nos terminais secundários do TC quando ocorre a circulação de 20 vezes a corrente nominal no secundário. Caso seja para serviço de medição, para a ABNT, a nomenclatura ganha a letra C de carga, enquanto para a ANSI utiliza-se a letra B de Burden. Antes da letra, é 23 escrita a classe de exatidão e após a letra é escrita a carga conectada ao enrolamento secundário do TC em volt-ampéres para a ABNT e em ohms para a ANSI que verifica a classe de exatidão fornecida. Assim, um TC para serviço de medição classificado como 0,3C2,5 pela ABNT é classificado como 0,3B0,1 pela ANSI. Já um TC para serviço de proteção especificado pela ABNT como 5A200 corresponde ao T200 especificado pela ANSI. Para a especificação da relação nominal do TC, a ABNT utiliza dois pontos (:) para separar a relação entre as espiras, e o hífen (-) para separar as correntes nominais de enrolamentos diferentes. Já a ANSI, determina a utilização de dois pontos (:) para separar as correntes nominais e hífen (-) para a relação entre as espiras. Ambas definem a letra x para separar correntes nominais que podem ser obtidas por ligações série e paralelo dos enrolamentos, enquanto a barra (/) é usada para indicar correntes que podem ser utilizadas por meio da ação de tapes nos enrolamentos. Por exemplo, um TC que pode operar com correntes primárias de 300 A e 400 A, obtidas por meio de derivações, recebe a nomenclatura 300/400-5 A de acordo com a ABNT e 300/400:5 de acordo com a ANSI. Já um TC que pode operar com correntes primárias de 300 A e 600 A por meio de ligações série e paralelo, recebe a nomenclatura 300x600-5 A pela ABNT e 300x600:5 A pela ANSI. 2.1.3.6 Representação Os terminais de cada enrolamento do transformador de corrente devem ser corretamente identificados para garantir a correta conexão do equipamento à rede e dos dispositivos do circuito secundário ao equipamento. Para isso, são usadas marcas de polaridade e a identificação por letras e números. Polaridade A polaridade é a representação da relação entre os ângulos das correntes primária e secundária. Quando não há inversão da fase da corrente entre o primário e secundário, a polaridade é aditiva; quando a inversão de fase ocorre, a polaridade é subtrativa. Segundo a NBR 6856 [12], os TCs devem ter polaridade subtrativa e os terminais de igual polaridade devem ser marcados em baixo ou alto relevo de forma permanente ou apresentar buchas de cores diferentes. As representações para as polaridades aditiva e subtrativa são mostradas na Figura 2.10. 24 Figura 2.10 - Polaridades aditiva e subtrativa para TCs [18]. Adaptado pelo autor. Identificação dos terminais Os transformadores de corrente podem apresentar um ou mais enrolamentos primários e secundários e podem apresentar mais de dois terminais de conexão para cada enrolamento, como ‘tapes’. Quando o terminal pertencer ao enrolamento primário, deve receber a letra P quando especificado segundo a ABNT e a letra H quando especificado segundo a ANSI. Caso pertença ao enrolamento secundário, recebe a letra S segundo a ABNT e a letra X segundo a ANSI. O número do enrolamento ao qual o terminal pertence é identificado pelo algarismo antes da letra que identifica se se trata do enrolamento primário ou secundário. Portanto, por exemplo, caso seja um terminal do segundo enrolamento secundário, recebe a identificação 2S (ABNT) ou 2X (ANSI) e quando se trata de um terminal do primeiro enrolamento primário, recebe a identificação 1P (ABNT) ou 1H (ANSI). Já o número em seguida da letra de identificação do enrolamento representa a posição do terminal no enrolamento. A ordem das derivações do enrolamento é dada pela ordem dos algarismos escritos após a letra do enrolamento. Por exemplo, os terminais 1P1, 1P2 e 1P3 (ABNT) são as três derivações do primeiro enrolamento primário e estão na ordem do primeiro para o terceiro terminal. Quando houver mais de um enrolamento primário ou secundário, os dois terminais marcados com o número 1 deverão ter a mesma 25 polaridade. A Figura 2.11 mostra um exemplo de marcação de terminais considerando as regras de identificação por letras e números e polaridade. Figura 2.11 - Terminais do primário e secundário de TCs [20]. 2.1.4 Características construtivas do TC Os transformadores de corrente podem assumir diferentes formas. De forma genérica, as principais diferenças residem no isolamento interno (papel-óleo, resina epóxi ou a seco) e externo (gás SF6 ou ar) e na posição do enrolamento primário e secundário em relação ao núcleo, ou seja, na sua construção mecânica. Em instalações de alta tensão, alguns tipos são encontrados com maior frequência, comoos do tipo Bucha, do tipo Pedestal e do tipo Invertido, usualmente com isolamento a óleo em subestações isoladas a ar (AIS – Air Insulated Substation). A seguir, são descritos os principais tipos de TC e, em seguida, são mostrados os principais componentes de um TC típico. 2.1.4.1 Tipos construtivos Do ponto de vista mecânico o Tipo primário enrolado Para circuitos de até 15 kV, por possuir isolação limitada. Os enrolamentos primário e secundário se encontram montados permanentemente enrolados no núcleo. o Tipo barra Os enrolamentos primário e secundário se encontram montados permanentemente no núcleo e estão completamente isolados. O primário é formado por uma barra condutora fixa que atravessa a janela do núcleo, como pode ser visto na Figura 2.12. 26 Figura 2.12 - TCs de barra. Fonte: Acervo do autor. o Tipo janela Apenas o enrolamento secundário se encontra montado permanentemente no núcleo, pois o enrolamento é constituído de um condutor ou barramento que atravesse a janela, como na Figura 2.13. Figura 2.13 - TC do tipo janela [21]. o Tipo bucha 27 Análogo ao Tipo janela, mas fabricado para ser instalado no interior das buchas de equipamentos elétricos, como transformadores, disjuntores e reatores. Seu núcleo tem formato toroidal e tem o enrolamento secundário enrolado, enquanto o enrolamento primário é formado pelo condutor que o atravessa. Pelas suas características construtivas e sua instalação, seu circuito magnético é maior do que o dos outros. É mais preciso para altas correntes por possuir baixa saturação. Para baixas correntes, apresenta menor precisão por apresentar alta corrente de excitação. Por isso, é usado usualmente para altas correntes [2]. Muito empregado em transformadores de potência, como na Figura 2.14, para sua proteção diferencial, de forma a restringir a zona de proteção ao equipamento [18]. Figura 2.14 – Vista dos TCs de bucha instalados em um transformador. Fonte: Acervo do autor. o Tipo núcleo dividido Seu enrolamento secundário é montado permanentemente no núcleo, que possui parte separável ou articulada para permitir abraçar o condutor que serve de enrolamento primário. Difundido popularmente na forma do amperímetro alicate. o Tipo pedestal 28 Possui maior robustez mecânica, pois sua massa está concentrada em sua base. O condutor primário percorre o equipamento até o núcleo e enrolamento secundário e retorna ao topo do equipamento, como na parte (b) da Figura 2.16. o Tipo invertido O núcleo e o secundário se localizam na parte superior do equipamento; o primário é uma barra estacionária. Usado para altas correntes nominais e de curto-circuito. (RAMÍREZ, 1991) [22] Os terminais do secundário ficam acessíveis por meio de uma caixa de terminais localizada em sua base. Na Figura 2.15 pode ser visto um TC do tipo Invertido associado a um disjuntor: Figura 2.15- Transformador de corrente do tipo invertido associado a um disjuntor. Fonte: Acervo do autor. Do ponto de vista elétrico o Tipo com vários núcleos Possui vários enrolamentos secundários distintos isolados e montados cada um em seu próprio núcleo. O fluxo produzido pelas espiras do primário enlaça todos os enrolamentos secundários. Pode atender o caso de um único TC com núcleos separados para medição e para proteção, mostrado na Figura 2.9, mostrada anteriormente. o Tipo com ligações série-paralelo 29 Possui dois enrolamentos primários distintos que podem ser associados em série ou em paralelo, possibilitando duplicar sua capacidade de corrente sem alterar o enrolamento secundário e preservando a precisão. o Tipo com relações múltiplas Apresenta tapes no enrolamento secundário que permitem alcançar diversas RTCs. 2.1.4.2 Partes principais Na Figura 2.16, são vistos os principais componentes comuns aos TCs dos tipos Invertido e Pedestal, tipos encontrados facilmente nos pátios das subestações. Figura 2.16 - Partes principais que compõe um transformador de corrente: (a) tipo Invertido; e (b) tipo Pedestal [23]. Adaptado pelo autor. 30 2.2 Vida útil de um equipamento elétrico A vida útil de um equipamento é o período durante o qual ele está apto a cumprir sua função e a um custo de operação e manutenção razoável [24]. Durante esse período, o equipamento envelhece e são realizadas manutenções preventivas, que tratam de sua monitoração e de seus parâmetros, e corretivas, que atuam na correção de problemas de funcionamento ou na prevenção de problemas que podem ocorrer. Assim, permite-se que ele permaneça em serviço até o ponto em que os custos não justifiquem mais que ele permaneça em operação e então deve ser tomada a decisão de substituir o equipamento. No entanto, essa decisão também pode não ter nenhuma relação com o envelhecimento do equipamento, sendo ocasionada pelo fim da vida útil sob outros aspectos. 2.2.1 Envelhecimento Com dito, durante sua vida útil, o equipamento envelhece e, na ausência de manutenção, se deteriora. Se tratando de transformadores de corrente, esse envelhecimento é denotado principalmente por indicadores da qualidade do seu isolamento. Para transformadores de corrente com isolamento a óleo mineral e papel, sabe-se, de forma geral, que a ruptura mecânica do papel isolante é fator determinante para a ocorrência de falhas. Portanto, o acompanhamento das características mecânicas, além das físico-químicas, do sistema papel-óleo pode determinar o padrão de envelhecimento do equipamento. O envelhecimento segue normalmente um padrão esperado, mas a ocorrência de estresses excessivos no equipamento pode provocar seu aceleramento. Assim, como consequência do envelhecimento precoce, aumenta a probabilidade de falha, reduzindo sua expectativa de vida. Envelhecimento natural Diz respeito, principalmente, à degradação das substâncias orgânicas que, no caso, do isolamento de transformadores de corrente, podem ser o papel e o óleo mineral. Conforme NEMÉSIO SOUSA (2017) [25], a degradação da isolação pode ser proveniente de agressões térmicas, hidrolíticas ou oxidativas. O primeiro tipo gera, como subprodutos, glucose, água, ácidos orgânicos e óxidos de carbono 31 em decorrência da quebra das moléculas de celulose e ocorre na presença de calor. O segundo, é catalisado pela presença de água e ácidos no óleo e forma glucose livre. Já a agressão oxidativa ocorre sob presença de óxidos e oxigênio e produz ácidos, aldeídos e água e, secundariamente, óxidos de carbono e gás hidrogênio. Destaca-se a ação da água decorrente da degradação oxidativa, que, por meio de outras reações, influencia diretamente na resistência mecânica das fibras da celulose. Outros compostos que resultam da degradação do material isolante, especialmente o celulósico, e que merecem atenção são os Furanos e seus derivados, que são produzidos durante a operação normal do equipamento mesmo sob temperaturas baixas. Envelhecimento acelerado Os equipamentos são projetados para operar sob determinadas condições especificadas que os permitam suportar situações ambientais adversas, como terremotos, neve e chuva, e permanecer em serviço mesmo sob condições severas de curtos-circuitos e descargas atmosféricas, por exemplo. Quando o equipamento é estressado, ou seja, opera em condições fora de sua especificação, sofre esforços não planejados, acelerando sua deterioração, o que acentua o envelhecimento e pode levar à sua falha. Se tratando de transformadores de corrente, os fatores que levam ao envelhecimento acelerado podem ser separados em três ordens, expostas na Tabela 2.1. Tabela 2.1 - Esforços que impactam no envelhecimento de transformadores de corrente [26]. Esforços de ordem elétrica Esforços de ordem ambiental Esforços de ordem mecânica e térmica Estresses elétricos Chuva Estresses mecânicos Sobrecorrentese sobretensões Umidade Estresses térmicos Descargas atmosféricas Poeira 32 Esforços de ordem elétrica Esforços de ordem ambiental Esforços de ordem mecânica e térmica Efeito Corona Radiação UV Esforços dielétricos Temperatura Vento Os esforços elétricos por vezes acabam por se transformar em esforços térmicos, mecânicos ou dielétricos 8 , podendo a levar à degradação de componentes dos TCs. Falhas Menores9, tais como perda de alguma função e vazamento de óleo, podem ser provocadas por esses esforços, podendo chegar a Falhas Maiores 10 como ruptura dielétrica, danificação permanente de componentes e explosões [26]. Os esforços ambientais provocam esforços térmicos, mecânicos e dielétricos em decorrência da corrosão das partes metálicas externas, rachaduras em isoladores, danificação do verniz protetor, erosão, entre outros. Estes fatores podem levar a Falhas Menores e Maiores como as mencionadas. Os esforços mecânicos e térmicos podem ser provenientes de ações ambientais como terremotos e ventos ou também de estresses elétricos como a trepidação causada pela circulação de corrente de curto-circuito. Falhas Menores, como vazamento de óleo e aumento da resistência de contato, podem ocorrer, bem como Falhas Maiores, como perda de óleo, levando à falha dielétrica, e falha na conexão com o circuito primário. A Figura 2.17 ilustra, segundo o CIGRÉ WG C1.1 [27], o efeito de estresses excessivos na aceleração do envelhecimento do equipamento. A curva da direita (verde) representa a ‘resistência’ ou confiabilidade do equipamento, que, ao caminhar para a 8 Materiais dielétricos são responsáveis por impedir a passagem de corrente elétrica, ou seja, são isolantes. Por outro lado, permitem a manifestação de campo elétrico. Rigidez dielétrica é o valor da diferença de potencial que aplicada a um dielétrico provoca a passagem de corrente pelo material. Quando há a superação desse limite, há a ruptura dielétrica. Como os TCs apresentam uma camada dielétrica formada pelo sistema papel-óleo, quando há a ruptura dielétrica desse material, pode-se dizer que houve uma falha dielétrica. [25] 9 Conceito explicado na seção 2.3.1 - Tipos de falha. 10 Conceito explicado na seção 2.3.1 - Tipos de falha. 33 esquerda, fica gradativamente menor com o tempo. Na ocorrência de estresses, a curva se aproxima mais rápido da origem do gráfico do que o esperado. Assim, quando há superposição da ‘curva de suportabilidade’ do equipamento com a distribuição de esforços (curva da esquerda de cor azul) há uma chance de falha e, quanto maior a área de interseção, maior é o risco. Figura 2.17 - Efeito dos estresses do equipamento com o aumento do risco de falha [27]. Adaptado pelo autor. 2.2.2 Fim da vida útil O fim vida útil de um equipamento é um conceito complexo e multidisciplinar que exige o estabelecimento de indicadores ou parâmetros que permitam avaliar se ele está no fim de sua vida útil e sob qual aspecto isso ocorre. Assim, podem ser adotados alguns pontos de vista, segundo o CIGRÉ WORKING GROUP 12.09, 1993 [24]. Fim de vida útil estratégico É caracterizado pela decisão de substituição do equipamento por motivos sistêmicos e, como diz o próprio nome, estratégicos - do ponto de vista do planejamento eletroenergético, realizado pela EPE – Empresa de Pesquisa Energética11 e pelo ONS. Está relacionado à decisão de substituição pela previsão 11 A Empresa de Pesquisa Energética tem por finalidade prestar serviços ao MME na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, cobrindo energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados e biocombustíveis. (EPE) [39] 34 de superação de alguma de suas características elétricas devido à expansão e modificação do sistema em que está inserido. Dentre essas características, podem ser citadas, por exemplo, a superação dos valores nominais das correntes dinâmica e térmica do equipamento (definidas na seção 2.1.3.4), sobrecargas e sobretensões além do limite do equipamento. Como a decisão de substituição não se dá pela condição do equipamento, este pode ser reutilizado em outra instalação ou virar unidade reserva. Fim de vida útil econômico A vida útil econômica é o período de tempo durante o qual o equipamento ainda compensa o investimento em manutenção. Ou seja, é mais vantajoso mantê- lo em operação, arcando com os custos da realização da rotina de manutenção preventiva e ocasionalmente corretiva, do que o substituir por um equipamento novo. O fim de vida útil econômico é exatamente o momento em que é previsto um aumento dos custos de O&M – Operação e Manutenção que não justifique sua permanência em operação. Esse é o fim de vida útil diretamente ligado à degradação do equipamento. Fim de vida útil técnico O fim de vida útil técnico se dá quando o equipamento não se encontra mais apto a permanecer em operação, por não ser capaz de exercer a função para a qual foi concebido ou por exercê-la de forma insatisfatória. Isso pode acontecer em decorrência de falhas maiores, que podem ocasionar o sinistro do equipamento, ou após a ocorrência de sucessivas falhas menores, que poderiam ocasionar o sinistro, sendo a substituição recomendada como forma de prevenção. Esse fim de vida útil pode ser frequentemente ligado à degradação precoce do equipamento. Fim de vida útil regulatório A vida útil regulatória é período de total depreciação contábil para os ativos de transmissão, segundo taxas de depreciação estabelecidas pela ANEEL no Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico – MCPSE (ANEEL, 2015) [28]. Ou seja, após esse período, a empresa transmissora tem seu investimento recuperado, acrescido de juros referentes ao período de duração do contrato. As 35 taxas de depreciação, bem como a vida útil de alguns equipamentos se encontram sumarizadas na Tabela 2.2. Tabela 2.2 - Vida útil regulatória e taxas de depreciação de alguns equipamentos. Em destaque as informações sobre transformadores de corrente [28]. Adaptado pelo autor. Equipamento Descrição Taxa de Depreciação Vida útil (anos) Banco de Capacitores Paralelo ou Série Classe de tensão igual ou superior a 69 kV 5,00% 20 Classe de tensão inferior a 69 kV 6,67% 15 Barramento Rígido ou Flexível 2,50% 40 Conjunto de isoladores de pedestal 2,50% 40 Chave Secionadora com ou sem lâmina de terra, tensão igual ou superior a 69 kV 3,33% 30 Secionadora com ou sem lâmina de terra, tensão inferior a 69 kV 6,67% 15 Chave fusível, tensão igual ou superior a 69 kV 3,33% 30 Chave fusível, tensão inferior a 69 kV 6,67% 15 Chave de aterramento, tensão igual ou superior a 69 kV 3,33% 30 Chave de aterramento, tensão inferior a 69 kV 6,67% 15 Compensador de Reativos Compensador de reativos estático ou rotativo 3,33% 30 Condutor Classe de tensão igual ou superior a 69 kV 2,70% 37 Classe de tensão inferior a 69 kV 3,57% 28 Conjunto de cadeia de isoladores 2,70% 37 Disjuntor Classe de tensão igual ou superior a 69 kV 3,03% 33 Classe de tensão inferior a 69 kV 3,03% 33 Gerador Gerador 3,33% 30 Para-raios Para-raios 4,17% 24 Transformador de Aterramento Transformador de aterramento 3,33% 30 Transformador de Distribuição Aéreo 4,00% 25 Pedestal, Plataforma ou Estaleiro 4,00% 25 Subterrâneo 3,70% 27 Transformador de Força Transformador ou autotransformador de força 2,86% 35 Transformador de Medida Transformador de corrente, tensão igual ou superior a 69 kV 3,33% 30 Transformador de corrente, tensão inferior a 69 kV 4,35% 23 Transformador de potencial indutivo, tensão igual ou superior a 69 kV 3,33% 30 Transformador de potencial indutivo, tensão inferior a 69 kV 4,35% 23 Transformador de
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