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TEXTO 00 - Apostila do Curso

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Prévia do material em texto

Violência, Criminalidade e 
Prevenção 
 
 
Apresentação 
 
A Violência é um fenômeno mundial. Assume contornos específicos em cada país, porém 
carrega características que permite compará-la em locais diversos. 
 
Estudaremos no curso “Violência, Criminalidade e Prevenção” seu caráter multifacetário, 
sua multicausalidade e a dinamicidade que o compõe. Serão destacadas ações e métodos 
desenvolvidos no seu combate e prevenção. 
 
Em 2019 o Brasil registrou a terceira redução consecutiva no número de homicídios, 
segundo dados do Ministério da Justiiça. A redução, no entanto, foi mais acentuada no último 
ano, cujo número de mortes teve uma queda de 20% em relação ao ano anterior. 
 
Estudiosos, contudo, pedem cautela na interpretação desses dados, visto que, 
historicamente, o país segue uma curva crescente no registro de homicídios. 
 
Uma análise mais apurada, com o propósito de confirmar a tendência de queda desses 
indicadores, exige um período maior de comparação. 
Em contraponto, alguns aspectos observados em anos anteriores podem ser admitidos: 
 
• A tendência de interiorização da violência no Brasil; 
• O perfil das vítimas do crime de homicídios; 
• O forte papel das organizações criminosas (facções / crime organizado) nos índices 
criminais; 
• A vulnerabilidade de mulheres, negros, jovens e da população LGBTTI; e 
• O papel dos presídios no controle criminal. 
Citamos acima os índice de homicídio por ser considerado a expressão máxima da violência 
contra uma pessoa. Além disso, esse delito possui níveis muito baixos de subnotificação em 
relação a outros tipos de crimes. Sendo assim, a contabilização das estatísticas oficiais permite 
aproximação dos números reais. 
 
No contexto geral, é possível afirmar que o Brasil apresenta, tradicionalmente, índices que o 
colocam em uma desconfortável posição no ranking de países violentos. 
 
Em números absolutos, dados de 2012 da Organização Municipal de Saúde, informam que o 
Brasil foi o país com maior número de homicídios no mundo. 
 
 
 
 
 
Naquele ano, o governo brasileiro informou 47 mil homicídios, mas a OMS em decorrência 
das mortes não esclarecidas e aplicando margens de erro relativas aos registros informados, 
estimou que o número real tenha sido superior: 64 mil. 
 
Depois do Brasil aparecem na sequência: México (33 mil), Índia (30 mil), África do Sul (30 mil), 
Nigéria (20 mil) e Estados Unidos (17 mil). 
 
Os dados apresentados no curso foram extraídos de bases que reúnem informações e 
pesquisas sobre a violência no país: 
 
• Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de 
Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp/Ministério da 
Justiça e Segurança Pública); 
 
• Organização das Nações Unidas, por meio de seus escritórios: Organização Mundial de 
Saúde, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e UNICEF. 
 
• Entidades da sociedade civil e Organizações não-governamentais especialistas no tema. 
 
 Dessa forma, pretendemos ampliar nossos estudos, conhecendo abordagens diferentes para 
um segmento que exige esforços conjuntos do governo e da sociedade como um todo. 
 
 
 
O curso é formado pelos seguintes módulos: 
 
Módulo 1 - Violência e criminalidade: definições, classificações e implicações 
Módulo 2 - Prevenção e controle da violência e do crime 
Módulo 3 - O papel da polícia na prevenção e controle da violência, do crime e da 
desordem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo I – Violência e criminalidade: conceitos, classificações e reflexões 
 
 
Neste módulo você terá contato com diferentes conceitos de violência e 
criminalidade e com as classificações atualmente utilizadas para possibilitar uma 
compreensão mais ampla dos dois fenômenos, de forma a orientar o desenvolvimento de 
políticas públicas que visem a redução de seus coeficientes e possibilitem o 
desenvolvimento do país em todos os âmbitos de sua sociedade. 
Foram tomadas como referenciais teóricos a definição de violência e a taxonomia 
utilizada pela Organização Mundial da Saúde, por se entender que elas oferecem o 
arcabouço teórico-prático e a amplitude necessários para a compreensão do problema da 
violência no mundo e no Brasil, bem como indica possibilidades de minimização dos efeitos 
da violência a partir da implementação de medidas já consagradas como boas práticas em 
diferentes realidades. 
Foram utilizados como documentos de referência: 
• Estudo Global sobre o Homicídio - 2019, publicado pelo Escritório das Nações 
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). 
• Atlas da Violência – 2019, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e 
Aplicada. 
• O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, edição de 2002, publicado pela 
Organização Mundial da Saúde, que continua sendo o referencial para 
políticas públicas e ações de governo que tenham como foco a prevenção 
de epidemias que afetam a saúde pública, incluindo-se aí, a violência e o 
crime. 
 
 
 
 
 
Objetivos do Módulo 
 
1. Apreender as principais características do cenário recente e atual da violência e 
do crime no Brasil; 
2. Explicar as potenciais causas da violência e do crime no Brasil; 
3. Conhecer diferentes conceitos de violência; 
4. Conhecer o conceito de violência adotado pela Organização Mundial da Saúde 
e suas implicações para as políticas e ações no âmbito da segurança pública; 
5. Explicar os diferentes tipos de violência segundo a Organização Mundial da Saúde; 
6. Entender os custos da violência e do crime no Brasil e seus impactos na economia 
e no desenvolvimento nacional; 
7. Analisar o papel da mídia no processo de prevenção e controle da violência e 
do crime. 
 
Estrutura do Módulo 
 
 
Este módulo está estruturado em 7 aulas: 
 
Aula 1 – Evolução da violência e criminalidade no Brasil 
 
Aula 2 – Manifestações e causas potenciais da violência e do crime 
Aula 3 – Violência: por uma definição e suas implicações 
Aula 4 – Violência na visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) 
Aula 5 – Os tipos de violência 
Aula 6 – Os custos da violência 
Aula 7 – Mídia e segurança pública 
 
 
 
Aula 1 – Evolução da violência e criminalidade no Brasil 
 
Antes de iniciarmos nossos estudos veja a imagem seguir com o perfil da 
criminalidade no país: 
 
https://drive.google.com/file/d/1ZqbtOiWCSD1eXiGgIy8O8I0TOCPfDU4t/view?usp=sharing 
(Fonte: IPEA/FBSP – Atlas da Violência, 2019) 
 
Na apresentação deste curso, afirmamos que os dados sobre violência e 
criminalidade no Brasil são alarmantes, particularmente pelo histórico elevado dos 
coeficientes de crimes violentos que vêm sendo ostentados nas últimas décadas, 
colocando-nos, como já vimos, em posições avançadas no ranking dos países mais 
violentos do mundo. 
A questão toma uma forma mais complexa ao verificar-se que, diferente do que o 
https://drive.google.com/file/d/1ZqbtOiWCSD1eXiGgIy8O8I0TOCPfDU4t/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1ZqbtOiWCSD1eXiGgIy8O8I0TOCPfDU4t/view?usp=sharing
 
 
senso comum nos leva a crer, a violência tem se deslocado de forma significativa para o 
interior do país, concentrando-se de maneira especial em certas regiões. Isso tem sido 
nítido em relação às regiões Norte e Nordeste, as quais experimentaram taxas de aumento 
próximas ou até superiores a 100% ao longo da década considerada. 
 
Tabela 1 - Taxas de homicídios por 100.000 habitantes por UF, Brasil - 2007/2017. 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Atlas da Violência, 2019 
 
Alguns pontos chamam a atenção nessa tabela. Em primeiro lugar, em geral, a lista das 
 
 
capitais mais violentas, naturalmente, possui uma alta correlação com a lista das UFs mais 
violentas que, como apontado no Atlas da Violência 2019, situam-se nas regiões 
Norte e Nordeste. 
 
Outro aspecto a salientar diz respeito ao crescimento dos índices de homicídio, entre 2016 e 
2017, em Florianópolis (+70,9%) e emFortaleza (+69,5%). Na outra ponta, das capitais que mais 
reduziram as taxas de homicídio no último ano, estão duas no Centro-Oeste, Campo Grande (-
28,9%) e Cuiabá (-26,3%). 
 
Quando analisamos a evolução dos homicídios na última década, enquanto as dez capitais 
brasileiras que tiveram maior crescimento da violência letal estavam todas localizadas no Norte 
e no Nordeste, as dez em que se observou maior redução dos índices incluíam todas as capitais 
do Sudeste, além de capitais no Sul, no Centro-Oeste e curiosamente no Norte (Porto Velho) e 
no Nordeste (Maceió). 
 
Segundo os dados oficiais do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da 
Saúde (SIM/MS), em 2017 houve 65.602 homicídios no Brasil, o que equivale a uma taxa de 
aproximadamente 31,6 mortes para cada cem mil habitantes. Trata-se do maior nível histórico de 
letalidade violenta intencional no país, conforme destacado no gráfico 1.1. 
 
“Apesar de tal situação não mudar de maneira significativa a percepção que se tem 
 
 
do Brasil no cenário internacional, em função da constante manifestação da mídia sobre os 
diferentes problemas de crime e violência que com frequência vêm ocupando os noticiários 
aqui e fora, ela agrega algumas questões que urgem ser compreendidas e que se referem 
ao que vem sendo chamado de “interiorização do crime e da violência”, fenômeno que 
desafia de forma acentuada os governos em todos os níveis, particularmente por que tal 
deslocamento tem se evidenciado em municípios que, sabidamente, detêm recursos 
insuficientes para fazer frente a tal mudança de cenário. Por outro lado, o fenômeno da 
“interiorização” vem sendo ladeado por outro que também merece explicação: a queda 
contínua dos coeficientes de homicídios nas grandes capitais brasileiras, o que, mais uma 
vez, parece desafiar a percepção do senso comum.” (Atlas da Violência, 2019) 
Tabela 2 - Evolução das taxas de homicídios na população total segundo porte dos municípios 
entre 2004 e 2015. 
 
Fonte: Silva, Phillip César Albuquerque. A interiorização da violência: a dinâmica dos homicídios no Brasil 
 
Legenda: 
Δ% - Variação em porcentagem dos homicídios nos períodos analisados. 
 
Observe que a violência aflige todas as cidades, com maior grau entre as pequenas e 
 
 
médias, anteriormente consideradas seguras e tranquilas. 
 
A que deve esse fenômeno? Você consegue enumerar fatores que contribuem para o 
avanço da criminalidade para o interior do país ? 
Saiba Mais... 
Nos últimos dez anos, observamos crescimento (em uma dinâmica em degraus) da média 
da taxa de homicídios entre os estados brasileiros, quando saímos de uma média de 30 
para 41 homicídios por 100 mil habitantes, entre 2007 e 2017. Em contrapartida, enquanto 
entre 2007 e 2015 observamos uma diminuição na dispersão da taxa de homicídio entre os 
estados, nos últimos dois anos verificamos um aumento acentuado da dispersão entre essas 
taxas – o que pode ser visualizado pelo aumento de seus desvios-padrão. 
Possivelmente, a dinâmica dos homicídios nos municípios até 2015 está refletindo um 
movimento de espraiamento e interiorização do crime, conforme descrito em Cerqueira et 
al. (2016), que fez com que municípios outrora mais pacíficos convergissem suas taxas para 
as médias dos territórios mais violentos. Já o aumento abrupto da dispersão das taxas entre 
os municípios, após 2015, deve se relacionar ao fato de que houve uma diminuição nas 
taxas de homicídios em quinze UFs no último ano – conforme descrito no Atlas da Violência 
2019 –, ao mesmo tempo que ocorreu crescimento abrupto das mortes em vários 
municípios ao longo da rota do Solimões, pelo controle do tráfico de drogas, incluindo 
vários territórios no Norte e no Nordeste do país. 
 
Fonte: Atlas da Violência dos Municípios 2019 
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/downloads/7047-190802atlasdaviolencia2019municipios.pdf 
 
 
 
Segundo a intepretação do Atlas da Violência de 2019, uma possível explicação é o 
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/downloads/7047-190802atlasdaviolencia2019municipios.pdf
 
 
aumento considerável de investimentos, consequência do alcance das metas de desenvolvimento 
econômico do país em municípios do interior dos estados, fato que os vem tornando polos 
atrativos tanto para migrações em busca de emprego e renda como para a criminalidade, sendo 
esta função dos limitados recursos de proteção disponíveis em tais municípios. Em relação às 
capitais, uma explicação possível foi o volume de investimentos em segurança pública que 
cresceram consideravelmente nos últimos anos. 
A evolução das taxas de homicídios entre 2007 e 2017 foi bastante diferenciada entre as 
regiões brasileiras. Nos últimos anos, enquanto houve uma residual diminuição nas regiões 
Sudeste e Centro-Oeste, observou-se certa estabilidade do índice na região Sul e crescimento 
acentuado no Norte e no Nordeste. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Possivelmente, o forte crescimento da letalidade nas regiões Norte e Nordeste, nos últimos 
dois anos, tenha sido influenciado pela guerra de facções criminosas deflagrada entre junho 
 
 
e julho de 2016 (Manso e Dias, 2018) entre os dois maiores grupos de narcotraficantes do 
país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV); e seus aliados 
regionais – principalmente as facções denominadas como Família do Norte, Guardiões do 
Estado, Okaida, Estados Unidos e Sindicato do Crime. 
Tal conflito ocorreu no rastro de dois fatores. Em primeiro lugar, em decorrência dos 
incentivos gerados pela paulatina diminuição da produção de cocaína na Colômbia desde 
2000, e o aumento da participação da produção peruana e boliviana, que fez com que o 
Brasil assumisse gradualmente uma posição estratégica como entreposto para a exportação 
da droga para a África e a Europa, conforme apontado pelo UNODC (2015, p. 54). 
Em segundo lugar, conforme apontado por Manso e Dias (2018), houve um processo de 
expansão geoeconômica das maiores facções penais do Sudeste pelo domínio de novos 
mercados varejistas locais de drogas, assim como novas rotas para o transporte de drogas 
ilícitas, que se iniciou em meados dos anos 2000. 
Este processo foi engendrado, sobretudo, pelo PCC, que viu a possibilidade de aumento dos 
lucros no negócio de cocaína pela integração vertical do mercado, tendo em vista as grandes 
diferenças de preço do cloridrato de cocaína pura nos territórios produtores e consumidores 
. De acordo com Abreu (2017), inúmeras pistas de pouso clandestinas foram usadas na rota 
caipira de tráfico – no interior de São Paulo e no Triângulo Mineiro – para receber 
carregamentos provenientes da Bolívia, transportados por pequenos aviões monomotores. 
Outras novas rotas foram exploradas ao Norte do país, cujas mercadorias provenientes da 
Bolívia e do Peru chegavam, principalmente, ao Acre, sendo transportadas, posteriormente, 
para outras Unidades Federativas (UFs), na rota do Rio Solimões, chegando depois ao 
Nordeste e, em particular, ao Ceará e ao Rio Grande do Norte , para serem levadas à Europa.” 
 
(Atlas da Violência nos Municípios, IPEA – 2019). 
 
http://www.forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf 
 
http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf
http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_especial_estados_faccoes_2018.pdf
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bem, até aqui estivemos falando de homicídios, e por uma razão bastante lógica: 
 
 
dentre os crimes tipificados nas diferentes sociedades, é o que mais denuncia o grau 
de violência a que está submetido um país. Por isso que, infelizmente, ainda não se tem 
outra alternativa a não ser considerar o Brasil como um país violento e, por tal,carente de 
contínuas medidas de prevenção e controle. 
Mas, se formos em busca de maior representatividade da violência na sociedade 
brasileira, veremos que, ao tomar as agregações utilizadas pela Secretaria Nacional de 
Segurança Pública no que tange aos crimes violentos não letais contra a pessoa2 e crimes 
violentos contra o patrimônio3 no período de 2004 e 2009, os números continuam 
apontando para altas taxas de violência e criminalidade. 
 
Tabela 3 - Crimes violentos não letais contra a pessoa e crimes violentos contra o patrimônio 
por 100.000 habitantes. Brasil, 2004-2005 e 2008-2009. 
 
 2004 2005 2008 2009 
crimes violentos não letais contra 
a pessoa 
34,5 35,2 32,94 34,31 
crimes violentos contra o 
patrimônio 
516,9 519,6 492,87 525,40 
Fonte: Composição dos dados do Mapa do Crime 2004 (SENASP/MJ), Anuário Estatístico do FBSP/2010 e 
Projeção da população brasileira até o ano 2050, IBGE, 27/11/2008. 
 
Como se pode ver, a violência expressa-se de diferentes formas, que vão além dos 
crimes letais, como no caso do homicídio, e isso nos deixa clara a necessidade de intervir e 
criar as condições adequadas para tais números. Para isso, entretanto, é necessário que se 
conheça mais profundamente o problema da violência e do crime. 
 
2 Indicador composto pela soma do número de ocorrências dos seguintes delitos: atentado 
 
 
violento ao pudor, estupro, tentativa de homicídio (cf. Mapa do Crime 2004, SENASP/MJ) 
3 Indicador composto pela soma do número de ocorrências dos seguintes delitos: extorsão 
mediante sequestro, roubo de veículo, roubo de carga, roubo a ou de veículo de transporte 
de valores (carro-forte), roubo a instituição financeira, roubo a transeunte, roubo em 
transporte coletivo, roubo em estabelecimento comercial ou de serviços, roubo em 
residência, roubo com restrição de liberdade da vítima e outros roubos (cf. Mapa do Crime 
2004, SENASP/MJ).
 
 
Aula 2 – Manifestações e causas potenciais da violência e do crime 
 
A violência é um fenômeno complexo, à qual diversos fatores estão associados e que 
se manifesta de diferentes maneiras e intensidades. Desse modo, identificar ou apontar 
quais desses fatores são mais ou menos importantes para explicá-la não é tarefa fácil, 
porque, quase sempre, tais fatores estão agindo conjuntamente para produzir o fenômeno. 
Apesar disso, a compreensão do fenômeno em suas diferentes vertentes e possíveis 
interpretações é essencial para que se possa desenhar respostas e intervenções adequadas 
aos diferentes problemas de violência com os que nos defrontamos na atualidade. 
É sob essa ótica multifacetada que as propostas interpretativas do Relatório Mundial 
sobre a Violência e a Saúde da Organização Mundial da Saúde parecem ser um instrumento 
importante tanto na identificação como na compreensão dos fatores que estão associados 
à violência. É do relatório a afirmação de que nenhum fator pode, sozinho, explicar porque 
alguns indivíduos têm comportamentos violentos para com outros indivíduos e, tampouco, 
porque a violência é mais presente em algumas comunidades do que em outras. A 
violência, conforme enfatizado no relatório da OMS, é o resultado da ação recíproca e 
complexa de fatores individuais, relacionais, sociais, culturais e ambientais. 
O caso brasileiro de escalada da violência a partir dos anos 80 pode ser explicado a 
partir da conjunção desses inúmeros fatores. Nesse sentido, parece oportuno concluir essa 
seção com a entrevista concedida por Daniel Cerqueira a Túlio Khan, em 02 de junho de 
2011, na qual, ao fazer uma síntese de sua tese de doutorado, apresenta uma retrospectiva 
histórico-causal dos problemas de violência e crime no Brasil. 
 
Saiba mais... Leia a entrevista contida na tese. 
(https://tuliokahn.blogspot.com/2011/06/causas-e-consequencias-do-crime-no.html) 
 
 
https://tuliokahn.blogspot.com/2011/06/causas-e-consequencias-do-crime-no.html
 
 
Aula 3 – Violência: por uma definição e suas implicações 
 
A violência como fenômeno multifacético e sensível a diferentes variáveis (sociais, 
econômicas, políticas, jurídicas, culturais) pode assumir diferentes conceitos, segundo seja 
o universo no qual está sendo tratado. Michaud (1989), por exemplo, explora a questão da 
definição de violência de diferentes pontos. Uma compreensão inicial do fenômeno, 
segundo ele, pode se dar a partir do que se denomina “definição de dicionário”. Sob esse 
tipo de definição, violência pode ser definida como: “a) o fato de agir sobre alguém ou de 
fazê-lo agir contra sua vontade empregando a força ou a intimidação; b) o ato através do 
qual se exerce a violência; c) uma disposição natural para a expressão brutal dos 
sentimentos; d) a força irresistível de uma coisa; e) o caráter brutal de uma ação”. 
Como destaca Michaud (1989) a definição de dicionário traz consigo duas 
orientações: designa fatos e ações, ou seja, apresenta uma dinâmica própria e específica e, 
introduz elementos de sentimento e natureza que a caracterizam como algo que ultrapassa 
as regras e se assenta na força brutal. 
Outra abordagem proposta por Michaud (1989) caminha no sentido da 
compreensão etimológica. Como explica o autor, violência tem origem no latim violentia, 
vis e no verbo violare. Em todos os casos a palavra está referida ao uso da força física, 
transgredir, agir com vigor, potência, incluindo o sentido de quantidade e abundância. A 
translação para o grego manteve o sentido agregando-lhe a ideia de força vital, do corpo, 
coação pela força. 
Michaud (1989) nos adverte, portanto, que o termo violência traz consigo, em sua 
origem, a ideia do uso da força, de forma violenta, contra alguma coisa ou alguém. Lembra, 
entretanto, que o caráter violento próprio do uso da força no sentido da origem, não é 
necessariamente suscetível a julgamentos de valor, já que é natural e próprio do ser. 
 
 
 
 A configuração em violência, no modo que o senso comum e o uso corrente a 
traduzem, se dá a partir do momento em que a ação violenta ultrapassa medidas aceitáveis 
ou perturba uma ordem6. É nesse sentido que Michaud (1989) esclarece que a violência, 
antes de tudo, refere- se a “agressões e maus-tratos”. Entretanto, o uso da força só assumirá 
a condição de violência na medida em que normas assim a definam. Por isso, afirma, 
existem diferentes tipos de violência segundo as normas que as descrevem e regulam. 
 
6 Do ponto de vista jurídico, a violência traduzida no uso consentido da força é objetivado 
em códigos penais e tendem a regular as ações violentas dos representantes do Estado 
quando, de forma fundada, ela se fizer necessária para fazer cumprir a lei. 
 
 
 
Consciente dessa diversidade de possibilidades interpretativas do fenômeno, 
Michaud (1989) busca desenvolver uma definição que seja abrangente o suficiente para 
abarcar tanto as expressões físicas da violência quanto suas manifestações não objetivas, 
ou seja, daquilo que ele chama de atos e estados de violência. Para Michaud (1989), então, 
define-se que: 
Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários 
atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, 
causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em 
sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, 
ou em suas participações simbólicas e culturais. 
Para Michaud (1989), a definição parece dar conta do que ele entende que sejam os 
componentes essenciais da violência: 
a) a complexidade das interações, que podem incluir vários e diferentes atores e 
máquinas administrativas; 
b) os diversos modos de produção da violência, orientados pelos diferentes 
instrumentos disponíveis; 
c) a distribuição temporal da violência, a qual pode ser, segundo ele, maciça ou 
distribuída ao longo do tempo (e, neste caso, com uma possibilidade do uso simbólico da 
violência); 
d) os diferentes danos que podem ser impostos com o uso da violência, podendoser físicos, psíquicos, morais, aos bens, aos próximos ou aos laços culturais. 
Ainda que tenha oferecido uma definição de violência, Michaud (1989) alerta para 
quatro questões que não podem deixar de estar presentes quando da análise do fenômeno. 
A primeira diz respeito a que, apesar da utilidade das definições objetivas de violência, elas 
 
 
não estão isentas de pressupostos (e, nesse caso, são influenciados pelas diferentes variáveis 
presentes no contexto de que utiliza a definição) e, tampouco, são capazes de apreender 
todos os fenômenos da violência. 
Segundo, sempre haverá componentes subjetivos na formulação conceitual e na 
compreensão do fenômeno violência, orientados por diferentes critérios: jurídicos, institucionais, 
culturais, valóricos de grupos ou subgrupos, entre outros. 
Terceiro, os diferentes pontos de vista orientados pelos critérios de compreensão não 
estão em equilíbrio. A passagem de um pelo outro se dá, então, pela mudança de perspectiva, 
ou seja, pelo câmbio do critério. 
Por fim, será preciso reconhecer, afirma Michaud (1989), que não existe “discurso nem 
saber universal sobre a violência”. Ela é própria de cada sociedade, segundo seus critérios e trata 
seus problemas de violência a seu modo, obtendo maior ou menor sucesso. 
 
 
Aula 4 – Violência na visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) 
 
 
Na percepção da OMS, é possível que a convivência com a violência seja, 
historicamente, parte da convivência humana. Encontrada sob diversas formas em 
praticamente todos os lugares, consubstanciada nos milhares de vidas que são perdidas e 
por outro tanto de lesões sofridas, resultantes dos tipos de interações que se estabelecem 
entre as pessoas, podendo tais perdas, a exceção no caso de mortes, serem de natureza 
objetiva, subjetiva ou ambas. Essa violência tem sido observada com uma incidência no 
mundo todo, sendo a causa de morte da maioria das pessoas entre 15 e 44 anos, com uma 
incidência crescente entre a faixa etária de 15 a 24 anos, como mostra o caso brasileiro em 
relação ao homicídio de jovens nessa faixa de idade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Atlas da Violência 2019 
Produzido com base no empilhamento dos microdados entre 2007 e 2017, do Sistema de 
Informações sobre Mortalidade - SIM. Nota: Com dados preliminares para o ano de 2017 e não 
foram considerados os indivíduos com idade ignorada. Elaboração Diest/Ipea e FBSP.. 
 
 
Gráfico 2 – Índice de vitimização juvenil (15 a 24 anos). Brasil, 1998/2008. 
 
Fonte: Mapa da Violência 2011. 
 
 
 
A organização reconhece que os impactos econômicos da violência no mundo 
são imensuráveis, particularmente se agregarmos a eles os resultados físicos, tangíveis 
da violência, aqueles que, traduzindo em dor e sofrimento, produzem perdas de alto 
custo nos níveis psicológico e social, por exemplo. É essa invisibilidade, à qual se refere 
a OMS e que, em muito, não pode ser mensurada por ocorrer intramuros e à distância 
dos olhos, que poderiam ajudar a torná-la transparente e, como consequência, 
proteger sua vítimas. 
Tal como já propunha Michaud (1989), apresentado na seção anterior, a 
violência, tal como seus impactos, tem causas que podem ser percebidas e outras não. 
Segundo a OMS, ainda que fatores biológicos e individuais possam ser explicativos da 
violência, o mais comum é que a explicação se dê por sua associação com outros, tais 
como: familiares, comunitários, culturais que, em conjunto criam condições adequadas 
a manifestações violentas, físicas ou simbólicas. 
A abordagem da OMS, amplamente adotada pelas Nações Unidas como um 
todo, tem se tornado um marco referencial em diferentes áreas para a criação e 
implementação de políticas públicas que visem prevenir e controlar os níveis de 
violência e crime presentes nas sociedades. Importante destacar que a abordagem de 
saúde pública é de natureza conceitual, sistêmica e de processos. Não se trata do 
atendimento individual, de natureza médico- hospitalar, visando tratar de 
enfermidades na acepção da palavra. Ao contrário, como o enfoque é de saúde 
pública, o objetivo é lidar com tudo que pode ser classificado como doença, condições 
e problemas que possam afetar a saúde. A violência e o crime estão nesse campo. 
 
 
 
É com base nessa percepção que a OMS afirma que: “Os fatores que contribuem 
para respostas violentas – sejam eles de atitude e comportamento ou relacionados a 
condições mais abrangentes sociais, econômicas, políticas e culturais – podem ser 
mudados.” A violência, afirma a OMS no Relatório Mundial sobre Violência e Saúde de 2002, 
pode ser evitada, e não é uma questão de fé, mas de evidências. 
Para a OMS, a abordagem da saúde pública pode contribuir para a prevenção e o 
controle do crime por características que lhe são peculiares: é interdisciplinar e com bases 
científicas. Além disso, coloca ênfase na ação coletiva, entendendo que a cooperação entre 
vários setores é essencial para o tratamento de problemas epidêmicos7. Quando tratando 
do fenômeno da violência, essa abordagem apresenta 4 etapas básicas: 
1. Explicitação de todo o conhecimento disponível a respeito do problema em 
questão – no caso, a violência – incluindo dados sobre magnitude, alcance, 
características e implicações em todos os setores da atividade humana. 
 
2. Pesquisa das razões da ocorrência do fenômeno, suas causas, fatores 
relacionados, fatores interferentes nos níveis de risco e fatores que podem ser 
modificados por intervenções. 
3. Identificação de formas de prevenção e controle da violência. 
 
4. Implementar intervenções que indiquem possibilidades de sucesso em diferentes 
cenários, divulgando resultados, estabelecendo avaliações de efetividade/custo. 
 
 
7 O conceito de epidemia é aqui utilizado como fenômeno que ataca simultaneamente 
grande número de indivíduos em uma determinada localidade; aumento do número de 
casos de um fenômeno anormal; generalização rápida de um fenômeno (Houaiss, 2009) 
 
 
 
 
 
4.1. O conceito de violência para a OMS: amplitude e implicações 
 
Reiterando a percepção de Michaud (1989), a escolha de uma definição para um 
determinado fenômeno será acorde com as perspectivas de utilização. No caso da 
violência, a definição deve buscar em sua amplitude, buscar alcançar o máximo de casos 
possíveis que tragam consigo as diferentes formas de manifestação da violência, objetiva e 
subjetiva. Para a Organização Mundial da Saúde, violência é: 
O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, 
contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma 
comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em 
lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou 
privação. 
Algumas explicações para o emprego do conceito são dadas pela própria OMS em 
seu relatório de 2002. A primeira refere-se à associação da intencionalidade ao ato de 
violência. Para a OMS, a intencionalidade é essencial na definição de um ato violento. É 
possível depreender, a partir do relatório, que a OMS faz uma distinção entre violência (atos 
deliberados com intenção de causar dano) e eventos não intencionais que resultam em 
lesões. Tal diferença se estabelece a partir do argumento de que a intenção de usar a força 
não implica, necessariamente, a intenção de causar dano, ou seja, pode haver uma grande 
diferença entre o comportamento pretendido e a consequência pretendida. Assim, 
segundo informa o relatório, os incidentes não intencionais estariam excluídos da definição. 
 
 
 
Aqui, em boa medida, o conceito parece estar aquém do que a sociedade brasileira 
parece entender por violência ou ato violento. Isso fica demonstrado, por exemplo, no âmbito 
do direito, em que a utilização de determinados níveis de força e poder trazem implícita a 
possibilidade do resultado. É assim quando um condutor embriagado insiste em conduzir seu 
veículoe acaba por produzir acidente com resultado lesão ou morte. Embora não quisesse 
tal resultado, o simples ato de ingerir álcool e conduzir o veículo impunha-lhe assumir o risco 
de produzir o resultado obtido. 
Também no âmbito da Segurança Pública, o exemplo é o atual Sistema Nacional de 
Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de 
Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp/Ministério da Justiça e Segurança Pública); 
o qual, com fins de produção de conhecimento para a gestão, agrega aos fenômenos 
violentos intencionais (crimes violentos letais intencionais), todos aqueles eventos que 
resultem em lesão ou morte, como é o caso dos crimes agregados sob a rubrica de “crimes 
violentos não letais contra a pessoa” e de “crimes violentos contra o patrimônio”. 
Em relação ao “uso da força física ou poder”, a OMS alerta que estão incluídos aí todos 
os tipos de abusos físicos, sexuais ou psicológicos, imputado a outros ou autoimputado, como 
no caso dos suicídios, bem como a negligência, na medida em que é a disponibilidade do 
poder ou da força que determinará a possibilidade deliberada do abuso. 
A definição tem por objetivo cobrir a máxima amplitude possível do que venha a ser 
violência, incluindo mesmo, como foi visto, aquela que não resulta em lesão ou morte, mas 
que produz danos psicológicos, oprime pessoas, grupos ou comunidades. Ao definir a 
“violência em relação à saúde das pessoas” inclui comportamentos que, mesmo aceitáveis sob 
determinadas culturas, são considerados violentos e, por isso, dignos de atenção. Finalmente, 
a OMS considera que a definição adotada inclui ainda todos os demais atos de violência, 
sejam públicos ou privados”, sejam reativos ou proativos, sejam atos criminosos ou não. 
 
 
Como foi visto, é possível identificar elementos comuns nas duas definições 
apresentadas. Em ambos os casos, o que parece ser mais importante é a amplitude de 
alcance da definição. Estão incluídos todos os tipos de violência, objetivas e subjetivas, que, 
de algum modo produzam danos físicos, psicológicos ou psíquicos e morais de toda ordem, 
temporários ou permanentes, naqueles que venham a ser vítimas do exercício da força ou 
poder. 
 
Essa visão tem sido consubstanciada a partir do final dos anos 90 e, mais enfaticamente, 
nos últimos 5 anos, com a intensificação de programas integrados de prevenção da violência e 
do crime. A exemplo disso, o desenvolvimento conceitual e a implementação gradativa do 
Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) - https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-
content-1544705396.44, à semelhança do Sistema Único de Saúde (SUS), do Fundo Nacional de 
Segurança Pública e da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) - 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13675.htm com focos essenciais 
na integração, cooperação e prevenção (sem olvidar, evidentemente, dos mecanismos de 
repressão qualificada e de fortalecimento das instituições), têm sido vetores relevantes de 
mudança do cenário nacional, através da implementação de programas e projetos que visam 
alterar a qualidade das relações interpessoais e intergrupais nas comunidades brasileiras, pelos 
inúmeros processos de inclusão e valorização das pessoas e dos lugares onde vivem, ofertando 
novas possibilidades melhoria da qualidade de vida da população.
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1544705396.44
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1544705396.44
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13675.htm
 
 
Aula 5 – Os tipos de violência 
 
 
A tipologia da violência em uso na OMS é resultante de demanda apresentada em 
1996 durante a Assembleia Mundial da Saúde, diante do fato da pouca disponibilidade de 
tipologias e, entre essas, das que atendessem de forma abrangente os diferentes tipos de 
violência manifestados na realidade e a conexão entre eles. 
A classificação resultante divide a violência em três categorias que se pretendem 
abrangentes da maioria das manifestações do fenômeno, e está referenciada, segundo a 
OMS, às “características de quem comete o ato de violência”. Assim, as categorias são: 
1. Violência autoinflingida (dirigida a si mesmo). 
 
2. Violência interpessoal. 
 
3. Violência coletiva. 
 
 
 Violência autoinflingida 
 
É aquela em que a pessoa que comete a violência, comete contra si mesma. Está 
dividida em dois subtipos: (i) o suicídio, no qual se incluem desde os pensamentos suicidas 
até as tentativas e os suicídios consumados; e, (ii) o autoabuso, que inclui atos de 
automutilação. 
 Violência interpessoal 
 
Nesta categoria estão incluídos todos os tipos de violência cometidos por uma 
pessoa ou por um grupo de pessoas a outras pessoas ou grupos. Segundo a OMS, a 
violência interpessoal pode ser dividida em dois subgrupos: (i) violência intrafamiliar (ou da 
família) e parceiros íntimos. Incluem-se aqui, as violências ocorridas tanto no interior das 
residências quanto fora delas. Neste grupo estão incluídos os abusos infantis, violência 
 
 
contra o parceiro íntimo ou contra idosos; (ii) violência comunitária, que incluem as 
interações violentas entre pessoas que não tenham laços de parentesco, podendo ou não 
se conhecerem. Esse tipo de violência geralmente se dá fora das residências. Neste grupo 
incluem-se a violência contra jovens, estupros e ataques sexuais, violência contra escolas, 
empresas, prisões e outras instituições. 
 Violência coletiva 
 
A violência coletiva constitui-se de três subcategorias de acordo com o relatório da 
OMS: social, política e econômica. O relatório informa que nessa categoria, as divisões que 
a compõem parecem sugerir a existência de razões específicas para a violência cometida 
por grandes grupos de indivíduos ou pelo Estado, como se fizessem parte de uma agenda 
social prévia e legítima, pelo menos na percepção de tais grupos, como são, por exemplo, 
os casos de crimes de ódio cometido por certos grupos e os atos terroristas. 
No âmbito da violência política estão incluídas as guerras e as violências cometidas 
pelos Estados ou por grandes grupos. A violência econômica é resultante da ação de 
grandes grupos motivados pelo possível ganho econômico. Neste âmbito encontram-se 
ataques que buscam interromper a atividade econômica, negar ou impedir acesso a 
serviços considerados essenciais ou, ainda, estabelecer segmentações ou fragmentações 
econômicas. 
5.2. Atos violentos e sua natureza 
 
Segundo a classificação adotada pela OMS, os atos violentos podem ser de diferente 
naturezas, as quais interagem com as categorias e subcategorias tipológicas da violência. Assim, 
os atos violentos podem ser de natureza física, sexual, psicológica e/ou de privação ou 
negligência. 
 
 
 
 
A violência interpessoal, por exemplo, poderá estar se caracterizar por atos que tenham 
natureza física, sexual e psicológica, como nos casos de abusos contra crianças integrantes da 
família. Também pode estar presente aí a negligência, tanto com crianças quanto com idosos. A 
violência comunitária pode estar traduzida, por exemplo, em agressões entre jovens de diferentes 
grupos na comunidade, ou assédio sexual no trabalho. A violência política, enfim, pode se 
configurar em abusos físicos e sexuais contra pessoas durante conflitos entre países. 
A OMS alerta que a tipologia por ela adotada não pretende ser universal posto que, 
tal como outras, não consegue incluir a totalidade dos casos e atos de violência, cujos padrões 
variam segundo diferentes variáveis. Mais que isso, a tipologia é muito mais um esquema teórico 
para a complexidade do fenômeno e a compreensão de suas possíveis manifestações, o que 
permite daí, desenhar cenários e propor medidas de prevenção e controle. Na realidade, 
entretanto, nem sempre as divisões tipológicas são tão claras e/ou perceptíveis,obrigando ao 
pesquisador, ao decisor político e ao gestor público, aprofundar-se de modo contínuo no estudo 
do problema. 
O quadro abaixo apresenta um diagrama tipológico das categorias e naturezas dos atos 
violentos e suas respectivas interações. 
Figura - Tipologia da violência 
Fonte: Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. OMS, 2002. 
 
 
 
 
5.3. Fatores geradores de violência 
 
Como já vimos anteriormente, a violência é um fenômeno complexo que, por sua 
vez, tem origem em diferentes fatores também complexos, os quais, uma vez conhecidos, 
possibilitam aos gestores públicos e aos operadores da segurança pública elaborar 
alternativas para enfrentar de forma adequada as diversas formas de manifestação da 
violência. Uma classificação dos fatores que contribuem para a ocorrência da violência pode 
ser encontrada em Chesnais (1996), para quem o fenômeno tem origem em: 
a. Fatores socioeconômicos como a pobreza, as desigualdades e as heranças dos 
períodos de recessão econômica. 
b. Fatores institucionais relacionados à insuficiência do Estado em atender às 
demandas sociais; crise no modelo familiar e a perda do poder de influência do 
setor religioso. 
c. Fatores culturais como os relacionados à integração (ou falta dela) racial e a 
desordem moral (declínio dos valores morais na sociedade). 
d. Demografia urbana incapaz de suportar em termos de infraestrutura, o 
crescimento da taxa de natalidade, a migração e ocupação desordenada do solo 
urbano e o surgimento, como consequência, de aglomerados urbanos 
desprovidos de condições minimamente adequadas às demandas das pessoas. 
e. A mídia e sua influência na produção do “medo do crime” e da “sensação de 
insegurança” na sociedade, função da ênfase em crimes violentos. 
f. A globalização mundial e a transnacionalização das relações ente países e 
regiões, incluindo o crime organizado. 
 
 
Segundo Chesnais, tais fatores, em sua maioria, têm suas origens na própria 
sociedade e na qualidade das interações em todos os níveis que nela se estabelecem, o que 
cobra do Estado e dessa mesma sociedade participação ativa na busca de soluções que 
alterem de forma satisfatória o quadro de violência e insegurança a que a população se vê 
submetida. 
 
 
Aula 6 – Os custos da violência 
 
 
Você já se perguntou quanto o Brasil perde ou deixa de ganhar por conta da violência? 
 
Esta seção está fundamenta em recentes estudos realizados por Cerqueira et al. 
(2007) e Cerqueira (2010), nos quais são apresentadas discussões bastante atuais sobre os 
custos da violência e criminalidade no Brasil. 
Cerqueira (2007) argumenta que a violência e criminalidade, para além das perdas 
tangíveis e intangíveis impostas às vítimas e suas famílias, também impõe gastos adicionais 
ao Estado pela necessidade de, a cada evento de violência ou crime, acionar os sistemas 
envolvidos na administração do fenômeno: saúde, justiça e previdência social. 
Soma-se ao anterior, um volume considerável de capital não acumulado, resultante 
das expectativas de violência e crime, as quais, além de demandarem investimentos em 
setores não produtivos (segurança pública e privada), ainda provocam alterações 
significativas na dinâmica social, alterando rotinas, hábitos, inibindo o turismo e reduzindo, 
assim, o consumo por bens e serviços. Porém, mais grave ainda, alerta Cerqueira (2007), é 
a perda do capital humano resultante da violência ou de sua expectativa. 
 
 
 
 
Em consequência desse quadro, o autor considera plenamente justificada a 
necessidade de se calcular os custos da violência e da criminalidade, os quais, segundo 
Bourguignon e Morrison (apud Cerqueira, 2007), atendem a três propósitos específicos: (i) 
caracterizar a violência como uma questão de política social; (ii) orientar a alocação de 
recursos para problemas sociais em estreita conexão com a questão da segurança pública; 
e, 
(iii) orientar, de forma eficiente, as políticas públicas, para a alocação de recursos públicos 
para programas especificamente voltados para a questão da segurança pública. Além disso, 
ainda interessa aos elaboradores de políticas públicas e operadores da segurança e justiça, 
conhecer de forma mais específica os danos causados pelos diferentes tipos de crime, já 
que, para cada tipo criminal, os danos podem ser diferentes e requerer tratamento 
diferenciado em relação aos danos causados. 
Para além de tais demandas, informa Cerqueira (2007), a escolha por políticas públicas 
estará pautada pela análise de benefício e custo de programas de prevenção e controle da 
violência e do crime, a qual responderá pela permanência ou não do investimento nos programas 
examinados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6.1. Tipos de custos 
 
 
Cerqueira (1997, 2010) informa que existem duas abordagens em relação aos tipos 
de custos. A primeira trata da classificação utilizada em análises de benefícios e custos de 
programas sociais. Nesta classificação surgem os conceitos de custos sociais e custos 
externos. O primeiro, segundo Cohen (apud Cerqueira, 2007), são os custos que reduzem 
o bem-estar da sociedade. O segundo, são os “custos impostos a uma pessoa por outras, 
de forma não voluntária e que acarrete consequências negativas para aquela primeira”. 
Outra classificação pretende possibilitar a análise dos custos da violência em certos 
países. Nesse caso, entretanto, três abordagens diferentes têm sido evidenciadas nos 
estudos que pretendem fazer tal medição. Na perspectiva de Bourguignon e Morrison, os 
custos da violência e do crime estão divididos em três grandes grupos: 
1. “os custos dos fatores pertencentes à função de produção do crime (onde 
constam os custos para os criminosos dos recursos utilizados e decorrentes das ações 
criminais, além dos recursos públicos e privados para a prevenção ao crime, incluindo custos 
judiciais e do sistema penitenciário”; 
2. “os custos das vítimas”; e 
 
3. “os custos das externalidades sociais, associados à diminuição das taxas de 
investimento, poupança e acumulação de capital e ao aumento das taxas de desemprego.” 
 
 
 
 
 
 
Noutra vertente, Glaeser, Levitt e Scheinkman (apud Cerqueira, 2007) consideram a 
seguinte taxonomia: 
(i) custos de autoproteção; 
(ii) custos da polícia e do sistema prisional; 
(iii) perdas de vidas, de propriedade e associadas a sofrimento e morbidade; 
(iv) perdas de receitas de turismo; 
(v) desestímulo aos investimentos; e 
(vi) custo de oportunidade dos tempos dos criminosos. 
 
Cerqueira (2007), por outro lado, entende que os custos da violência e do crime 
devam ser classificados segundo os atores que arcam com esses custos. No quadro a seguir 
estão identificadas as despesas por ator segundo a classificação adotada por ele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela - Custos da violência e criminalidade 
 
I - Custos arcados pelo Estado 
1. Saúde 
1.1 Internação 
1.2 Procedimentos hospitalares 
1.3 Tratamentos terapêuticos 
2. Seguridade social 
2.1 Pensões 
2.2 Dias de trabalho perdidos 
3. Segurança pública 
3.1 Guarda municipal 
3.2 Defesa Civil municipal 
3.3 Polícia Militar 
3.4 Polícia Civil 
3.5 Corpo de Bombeiros 
3.6 Polícia Rodoviária Federal 
3.7 Polícia Federal 
4. Ministério Público Criminal 
5. Justiça Criminal 
6. Sistema de Execução Penal 
6.1 Sistemas prisionais 
6.2 Sistemas de penas alternativas 
7. Sistema socioeducativo para menores 
8. Programas de prevenção ao crime 
9. Despesas com autoproteção e segurança privada dos ativos do 
Estado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Cerqueira (2007). 
 
 
 
 
 
10. Despesas com seguros 
II - Custos arcados pelo setor privado 
1. Das vítimas 
1.1. Perdas materiais 
1.2. Custas com processos judiciais 
1.3. Serviços médicos e terapêuticos 
1.4. Perda de rendimentos com diasnão trabalhados 
1.5. Perda de capital humano; 
1.5.1. Mortalidade 
1.5.2. Morbidade 
1.5.3. Traumas psicológicos 
1.6. Dor, sofrimento e perda de qualidade de vida 
2. Dos criminosos 
2.1. Custo de oportunidade dos detentos 
2.2. Recursos utilizados pelos criminosos 
2.3. (-) transferência de valores roubados 
3. Da sociedade 
3.1. Perda patrimonial no setor imobiliário 
3.2. Despesas com autoproteção (grades, alarmes, blindados, etc.) 
3.3. Despesas com segurança privada especializada 
3.4. Despesas com seguros 
3.5. Perda de bem-estar no mercado de bens e serviços 
3.6. Medo do crime 
 
 
6.2. Algumas estimativas de custos da violência e do crime 
 
Em um levantamento dos estudos que objetivaram estimar os custos da violência e 
do crime em diferentes países, Cerqueira (2007) encontrou os seguintes dados: Em 1999, o 
custo bruto do crime e da violência alcançava 11,8% do PIB americano, ou seja, cerca de 
US$ 1,1 trilhão. Na Inglaterra e Wales, em 1999, tal custo alcançou a cifra de US$ 60 bilhões 
de libras. Na Austrália, em 2001, os custos chegaram a cerca de US$ 21,7 bilhões. Em seis 
países da América Latina, no ano 2000, um estudo conduzido por Lodoño, Gaviria e 
Guerrero (apud Cerqueira, 2007), concluiu que os custos da violência e do crime alcançavam 
as seguintes proporções relativas ao PIB de cada país: El Salvador 24,9%; Colômbia 24,7%; 
Venezuela 11,8%, Brasil 10,5%; Peru 5,1%; e México 12,3%. 
Outro estudo realizado por Soares (2003, apud Cerqueira, 2007), concluiu que os 
custos da violência e do crime (ou a perda de bem-estar) em 73 países em 1995 era 
correspondente a 15%, em média, do PIB nacional. Tais perdas, inclusive, eram mais 
acentuadas nos países da América Latina e Caribe (27%), seguidos por países do leste 
europeu – ex-comunistas – (15%), países do oeste do Pacífico (9%), países norte-americanos 
(8%) e países do oeste europeu (5%). 
No Brasil, os estudos sobre os custos do crime, como informa Cerqueira, são 
recentes e pouco se sabe ainda, sobre suas reais dimensões. Entretanto, três estudos 
referenciais podem ser tomados como forma de se ter uma dimensão de tais custos em 
relação ao PIB de três importantes municípios brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo 
Horizonte. Em estudo realizado por Coutollene et al. (2000), o custo do crime e da violência 
no Rio de Janeiro representava 4,88% do PIB do município. Em São Paulo, no ano de 1998, 
tal custo alcançou a proporção de 3% do PIB municipal (KHAN, 1999) e, no ano 2000, os 
custos totais da violência e do crime em Belo Horizonte equivaleram a 3,86% do PIB daquele 
município. 
 
 
Seguindo a classificação que adota, Cerqueira demonstra, a partir de seus estudos 
sobre informações da Secretaria do Tesouro Nacional, que os gastos do Brasil com o custo 
da violência no ano de 2004 alcançou a proporção de 5,09% do PIB nacional, com uma 
cifra correspondente a R$ 92,2 bilhões de reais, valor que ainda não incluía vários fatores 
de custo da violência como os custos do sistema de justiça, perdas com desvio do turismo, 
perdas por retração de mercados de bens e serviços e, particularmente, os custos 
intangíveis decorrentes da dor, do sofrimento e do medo gerados pela violência ou por sua 
expectativa, bem como as perdas de produtividade resultantes dos traumas e da 
morbidade. 
Finalmente, Cerqueira (2007) alerta que tais números e proporções devem servir como 
um alerta para a sociedade brasileira sobre a magnitude do problema da violência no Brasil, 
bem como serem vistos como um primeiro passo para trazer a questão dos custos da 
violência para o debate racional de forma a possibilitar uma melhor organização da 
segurança pública no país, conferindo-lhe eficácia e eficiência. 
 
 
SAIBA MAIS... 
 
OS CUSTOS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL 
 
(https://drive.google.com/open?id=1NbG8D3IxH0OaUwHzO3Q1Gz3uWgV9fwD4) : 
 
https://drive.google.com/open?id=1NbG8D3IxH0OaUwHzO3Q1Gz3uWgV9fwD4
 
 
Aula 7 – Mídia e segurança pública 
 
 
Você já se perguntou qual a função social da mídia na cobertura de fatos 
relacionados à Segurança Pública? 
 
Sabe-se que o direito à informação é princípio básico de qualquer democracia. Seu 
exercício deve ser defendido e a imprensa-livre deve ser respeitada. 
Contudo, quais limites devem ser estabelecidos na busca pela informação? Sabe-se 
que uma notícia é capaz de construir lendas ou destruir reputações. 
Em algumas ocasiões, o papel da imprensa foi questionado por setores da sociedade 
a respeito da sua atuação, vejamos o caso abaixo: 
Em 2008, muito se discutiu o papel da imprensa na ocorrência policial de cárcere 
privado que ficou conhecida como “Caso Eloá”. 
Em determinados momentos, veículos de comunicação transmitiam as ações 
policiais, enquanto outros meios da mídia entrevistavam o criminoso ao vivo pela TV. 
Especialistas alegaram à época que o processo de negociação pode ter sido prejudicado 
dado à intervenção enfrentada. 
Nesse caso, como garantir o direito à informação sem que isso coloque em risco o 
trabalho da polícia? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Saiba mais sobre o Caso Eloá... 
 
“A imprensa esteve no banco dos réus durante o julgamento do motoboy 
Lindemberg Alves, que matou com dois tiros a ex-namorada, a estudante Eloá Pimentel, de 
15 anos, em outubro de 2008, após um sequestro de mais de 100 horas. Para a equipe de 
defesa de Lindemberg, parte da culpa do assassinato deveria ser dividida com a imprensa, 
que teria espetacularizado e prolongado o sequestro, e com a polícia, que teria tomado 
decisões equivocadas durante a ação. 
(...) 
A imprensa, na opinião da colunista da Folha de S.Paulo Keyla Gimenez, teve uma 
grande influência no desfecho do caso a partir do momento em que saiu do papel de 
transmissora das informações e se transformou em negociadora. Keyla avalia que, quando 
a equipe de defesa de Lindemberg, comandada pela advogada Ana Lúcia Assad, anunciou 
que levaria ao tribunal a tese de que a imprensa também tinha uma parcela de culpa no 
assassinato, a mídia passou a desqualificar a atuação da advogada. “Essa moça 
automaticamente virou uma inimiga da imprensa porque a imprensa não gosta de ser 
questionada. Ela acha que está o tempo todo certa, que ela está ali acima de tudo, do bem 
e do mal. Então, a partir do momento que ela colocou a imprensa como um fator, um 
agente que poderia ter contribuído para este desfecho trágico, ela perdeu não um aliado, 
mas ganhou um inimigo.” 
 
Muniz Sodré, professor de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(UFRJ), sublinhou que um caso de violência transmitido ao vivo ganha grandes proporções. 
“Quando você fala para a televisão, você fala para que todo o mundo lhe veja. É 
completamente diferente. Você fala com um controle e você fala também para agradar, 
 
 
para satisfazer. Porque a iluminação, a reprodução, de uma forma lhe controla. A pessoa é 
outra. É como um objeto, uma coisa a ser fotografada. Ele está agindo para a câmera, para 
a televisão, para um público. Quando essa arma disparou, não é a sanidade – ele não é só 
um psicótico, neurótico, maluco. Ele é alguém fotografado, televisionado, filmado”. 
Na avaliação do crítico de TV e jornalista José Armando Vanucci, não é possível 
culpar a imprensa pela atitude do motoboy, mas o caso pode levar a uma reflexão sobre a 
ação da mídia e evitar novos erros. “Nesses momentos, o executivo de televisão tem que 
ser muito mais jornalista do que executivo de televisão”, disse.” 
 
Fonte: Obserevatório da Imprensa: 
 http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-
no-banco-dos-reus/ 
 
Informar fatos e formar opiniões são processos distintos cuja intencionalidade deve 
estar clara para o expectador ou leitor. A falta de transparência no objetivo pretendido 
pelo meio de comunicação pode trazer consequências negativas. 
Ao noticiar a ocorrência de determinado crime, é possível alardear umasituação que 
não confere com a realidade. Chamadas sensacionalistas, ou títulos que amedrontam, pode 
cumprir um papel além do imaginado. 
A leitura de estatísticas e analise de desses dados deve ser realizada de forma 
responsável e técnica. A existência de uma única ocorrência de determinado tipo criminal 
pode ser noticiada de diferentes maneiras. 
 
 
 
 
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-no-banco-dos-reus/
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-imprensa-no-banco-dos-reus/
 
 
Observe três manchetes para uma mesma notícia: 
 
MANCHETE Jornal A - “Aumentam os Crimes de Tráfico e Porte de Drogas na cidade”. 
MANCHETE Jornal B – “Crimes de Tráfico e Porte de Drogas crescem 300% na cidade”. 
MANCHETE – Jornal C – “Pânico: Tráfico de Drogas domina a cidade”. 
 
Qual o impacto de cada um dos títulos nos moradores daquela cidade? 
Politicamente, você imagina que há consequências diferentes para cada enunciado? 
E em relação aos órgãos de segurança? Como isso poderia ser interpretado? 
 
Resguardadas as proporções, a interpretação crítica do expectador e o exercício 
responsável da mídia, deve ser uma constante. É preciso perceber se há outras intenções 
por trás de determinada notícia. 
 
 
Leia o artigo a seguir e veja como essa questão pode impactar na sensação da segurança e 
na percepção do papel da polícia: “A IMAGEM DO CRIME E DA VIOLÊNCIA ATRAVÉS DA 
IMPRENSA NA CIDADE DE MARÍLIA – SP” 
 https://drive.google.com/open?id=1lUWF8Y4I_USyNI9ffuX4c1U5uFwDf2jU 
 
 
 
 
 
 
 
https://drive.google.com/open?id=1lUWF8Y4I_USyNI9ffuX4c1U5uFwDf2jU
 
 
 
Importante, dessa forma, refletir sobre os efeitos produzidos pela mídia no campo da 
segurança pública. O Guia para Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios (GUIAMJ), 
editado em 2005 pelo Ministério da Justiça, reconhece que, cotidianamente os órgãos de 
imprensa, ao divulgarem notícias sobre crime e violência, geralmente selecionando os mais 
graves, passam a provocar diferentes reações nas pessoas e, não raramente, fazendo- as 
acreditar que aqueles crimes mais graves, retratados nos meios de comunicação, são os que mais 
ocorrem. Os dados contrariam tal percepção. 
Khan, 2001 (apud GUIAMJ, 2005), em estudo realizado em dois veículos de informação 
do estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil, nos anos de 1997 e 1998, apurou 
que o maior número de casos noticiados pela mídia não correspondia aos casos de maior 
quantidade registrados pela polícia, conforme demonstra a tabela a seguir. 
 
Tabela - Crimes divulgados pela Folha de São Paulo e Jornal do Brasil e crimes 
registrados pela polícia. São Paulo, 1997/1998. 
 
Fonte: Guia para Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios, 2005. 
 
 
Observe, a partir da tabela, que a maior quantidade de crimes registrados em São 
Paulo foi de furto seguido por lesão corporal e roubos. A atenção da mídia, nesse caso, 
esteve, nos dois anos examinados, voltadas de forma consistente para os homicídios, que 
representaram, em termos de registros, 1,7% do total de crimes registrados, seguido pelos 
roubos e pelo tráfico de drogas. Somente nos casos de roubos se pôde identificar alguma 
convergência entre os valores apresentados na tabela. 
Tal situação também é afirmada por Calderinha e Albernaz (2009) em artigo 
publicado no caderno temático “Mídia e Segurança Pública” da 1ª Conferência Nacional de 
Segurança Pública (CONSEG), na qual ressaltam que se pode perceber uma diferença entre 
o que as estatísticas demonstram e o que é selecionado como notícia nos veículos de 
informação. 
A informação anterior demonstra, como ressalta o GUIAMJ (2005), uma preferência 
da mídia pelo que se convencionou chamar de “fato jornalístico” e que retrata tão somente 
algo que, por suas caraterísticas, chama a atenção e que provoca sensações e emoções 
desejados pela mídia por diferentes razões, particularmente as comerciais. 
Ao selecionar deliberadamente os crimes mais violentos como pauta e desenvolver 
na população uma percepção de que são os mais frequentes, as pessoas começam a 
imaginar que estão muito mais expostas a um processo de vitimização por tais crimes, do 
que na realidade estão. Tal fenômeno é denominado “medo do crime”, ou seja, as pessoas 
passam a viver com medo porque imaginam que podem ser vítimas de um crime violento. 
Isso gera uma série de consequências, inclusive já analisadas na seção anterior. 
 
 
 
 
 
 
 
As pessoas se prendem em suas residências, deixam de realizar as coisas que gostam 
de fazer, aumentam seus níveis de estresse, somatizam através de diferentes manifestações 
biopsíquicas, gastam menos tempo e dinheiro com lazer, investem em mecanismos de 
proteção e segurança pessoal e residencial, enfim, reduzem sua qualidade de vida a níveis 
drásticos e passam a viver sob o domínio da sensação de insegurança. 
Apesar disso, há uma concordância bastante acentuada de que a mídia ainda 
constitui o principal meio de denúncia dos problemas sociais que afetam a sociedade 
brasileira. No dizer de Ramos e Paiva (apud CONSEG, 2009), a mídia brasileira tem mudado 
e desempenha um papel fundamental no debate público sobre temas relevantes para a 
sociedade, com a violência e o crime, inclusive, influenciando a opinião das pessoas, 
motivando-as e induzindo- as na fiscalização da implantação das políticas de Estado. 
Segundo as autoras, ainda que persistam deficiências no modo como a mídia trata as 
questões relacionadas à violência e ao crime, o papel dela tem sido decisivo para influenciar 
o modo como os governos e a própria sociedade responde aos problemas da segurança 
pública. 
 
Finalizando... 
 
Neste módulo, você estudou que... 
 
 O conceito de violência proposto a partir de Ives Michaud, numa vertente 
sociológica, busca alcançar a abrangência necessária para uma interpretação 
inclusiva da violência, compreendendo-a como um fenômeno que se manifesta 
tanto de forma objetiva como de forma subjetiva e, nesse segundo caso, explorando 
os espaços invisíveis das relações de dominação entres os indivíduos; 
 O conceito proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) traz o tratamento 
 
 
 
do fenômeno da violência para o campo da saúde pública, entendendo-o como 
um aspecto de alto impacto na qualidade de vida das populações e por isso, 
afetando o bem-estar e provocando diferentes manifestações que irão desaguar em 
uma série de demandas que oneram o Estado e, por sua vez, a própria sociedade; 
 De acordo com enfoque proposto pela OMS, os fatores que dão origem à violência 
e os impactos econômicos da violência e do crime demonstram perdas possíveis em 
um ambiente de alta violência e os custos socioeconômicos que acabam por ser 
impostos à sociedade; 
 Um dos mais importantes vetores de criação de uma percepção indesejável em 
relação à violência e o crime é representado pela mídia, que, com sua seletividade 
na escolha dos eventos a noticiar, tem privilegiado, historicamente, os crimes 
violentos por sua capacidade de gerar emoção. Isso, contudo, tem se transformado 
em um importante gerador de medo do crime e de sensação de insegurança, dada 
a ideia de que todos os indivíduos passam a estar igualmente vulneráveis e que 
certas medidas de proteção e isolamento passam a ser necessárias, do que resulta 
o enfraquecimento do tecido social e, por consequência, da capacidade de 
autoproteção das comunidades. 
 
 
 
 
Módulo II – Prevenção e controle da violência e do crime 
 
 
Apresentação do Módulo 
 
A violência é multidisciplinar – seja em suas causas, seja em suas consequências – 
isto é, ela deve receber o olhar de diferentes disciplinas e áreas da ação humana para sua 
compreensão e tratamento. Por isso, ela requer, como tal, um conjunto de soluções que 
envolvem ações de diferentes setores do governo e da sociedade organizada. Não há,entretanto, soluções previamente estabelecidas para a prevenção da violência. Há sim, uma 
boa quantidade de propostas de ação com diferentes abordagens teóricas que podem ser 
divididas em dois grandes grupos: os que propugnam pela prevenção da violência e os que 
defendem a abordagem do controle da violência. Ao primeiro caso, o da prevenção, a 
epidemiologia e o enfoque de saúde pública têm proporcionado metodologias antes vistas 
como aplicáveis apenas ao campo da saúde propriamente dito. Ao segundo, o do controle, 
a criminologia e os estudos jurídicos têm oferecido considerável aporte de conhecimento. 
 
A busca de soluções para a questão dos crimes violentos tem colocado a 
prevenção e o controle em posições opostas. A prevenção, por exemplo, busca a solução 
na correção de distorções sociais, tais como a diminuição da pobreza, a melhoria da 
educação e da melhor distribuição de renda. Essas são conhecidas como “soluções 
brandas”. Por outro lado, as “soluções duras” para os crimes violentos, propostas pelos 
defensores das medidas de controle, apontam o estabelecimento de maior quantidade e 
disponibilidade de recursos policiais, bem como o aumento das prisões e disponibilidade 
de vagas no sistema prisional, como o caminho a ser seguido. 
 
 
 
 
 
É preciso ter em conta, entretanto, que ambos, prevenção e controle, fazem parte 
de um contínuo em que o castigo efetivo, classificado como uma “solução dura” por 
natureza pode ser um eficaz dissuasor do crime e, portanto, um mecanismo de prevenção 
contra alguns tipos de conduta violenta. Assim, de acordo com especialistas na matéria, as 
ações de prevenção não devem ser definidas de acordo com as soluções que produzem, e 
sim pelos seus efeitos observáveis nas condutas futuras. 
 
Objetivos do Módulo 
 
Ao final deste módulo, você será capaz de: 
 
 Diferenciar prevenção e criminalidade; 
 
 Compreender os fundamentos das estratégias de prevenção; 
 
 Identificar os ambientes institucionais e os lugares potencialmente 
indicados para programas e projetos de prevenção; 
 Refletir, de forma crítica, sobre as ações policiais no controle da violência e 
da criminalidade. 
 
Estrutura do Módulo 
Este módulo está estruturado em: 
 
Aula 1 – Prevenção da violência e da criminalidade 
Aula 2 – Prevenção: custo e efetividade 
Aula 3 – Estratégias de prevenção 
Aula 4 – Ambientes institucionais e ações de prevenção recomendadas 
Aula 5 – Controle da violência e da criminalidade 
Aula 6 – Ações promissoras no controle da violência e da criminalidade 
Aula 7 – Controle de fatores de risco importantes: drogas e gangues juvenis 
 
 
 
 
Aula 1 – Prevenção da violência e da criminalidade 
 
Chamamos de monitoração ou vigilância epidemiológica a coleta, análise e 
interpretação sistemática de dados para sua utilização no planejamento, execução e 
avaliação de programas contra a violência e a criminalidade. Segundo a visão do Banco 
Interamericano de Desenvolvimento, ela se compõe de quatro etapas: 
 
1. Definição do problema e coletada de dados confiáveis. 
 
2. Identificação das causas e fatores de risco. 
 
3. Desenvolvimento e testagem das intervenções. 
 
4. Análise e avaliação da efetividade das ações preventivas contra a violência. 
 
Nesse sentido, a epidemiologia se configura em uma ferramenta bastante útil na 
construção de sistemas de informação acessíveis, em todos os níveis da ação 
governamental, que podem reduzir o sub-registro das mortes e lesões violentas e ajudam 
a identificar os fatores de risco associados a esses eventos (Lozano, 1997). 
 
 
Aula 2 – Prevenção: custo e efetividade 
 
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dados de estudos 
realizados em países industrializados indicam que ações de prevenção tendem a ser mais 
eficientes que ações de controle. Conforme o BID, nos Estados Unidos da América (EUA), 
estima-se que para cada dólar investido em prevenção poderiam ser economizados cerca 
de 6 a 7 dólares investidos em programas de controle. Apesar disso, o que se observa é 
que a maioria dos investimentos dos governos se destinam a combater o crime uma vez já 
ocorrido e ao tratamento das vítimas desses crimes. 
 
 
 
 
Aula 3 – Estratégias de prevenção 
 
Uma das regras mais importantes da prevenção é que quanto mais cedo se atuar 
na vida de um indivíduo, evitando o desenvolvimento de condutas violentas, mais efetiva 
será a ação preventiva. Em decorrência, as estratégias de prevenção devem estar orientadas 
previamente à redução dos fatores de risco de violência e/ou criminalidade ou ao aumento 
dos fatores de proteção contra a violência e/ou a criminalidade. O BID utiliza-se de sistema 
de classificação de estratégias de prevenção da violência e da criminalidade, agrupando-as 
em ações que objetivam: 
 
a. Modificar fatores estruturais ou proximais. 
 
b. Modificar fatores sociais ou situacionais. 
 
c. Modificar fatores específicos de risco e/ou proteção (programas pontuais) ou 
modificar um conjunto de fatores (programas integrais). 
d. Alcançar toda a população (prevenção primária), grupos de alto risco 
(prevenção secundária), agentes violentos e/ou suas vítimas (prevenção 
terciária). 
 
3.1. Prevenção estrutural 
 
Redução da pobreza e da desigualdade, por exemplo, são duas medidas 
estruturais de longo prazo que, ao alterar as relações e incentivos do mercado de trabalho, 
bem como o acesso a este, tendem a reduzir a privação e a frustração e, por consequência, 
a probabilidade de condutas violentas e/ou criminosas futuras. 
 
 
 
 
É fundamental o aumento das oportunidades econômicas para os jovens em 
situação de pobreza que se constituem, na maioria, nas vítimas e nos agentes da violência 
social e da criminalidade, assim como também é importante a atenção e desenvolvimento 
de medidas destinadas à prevenção da violência doméstica, a qual tem sido fator 
responsável por significativa redução das oportunidades de trabalho e diminuição da 
produtividade das mulheres. 
 
3.2. Prevenção proximal ou imediata 
 
 
São ações de prevenção imediatas, aquelas dirigidas a alterar o curso de eventos 
contingentes que produzem ou instigam a violência e/ou a criminalidade. Entre eles estão, 
por exemplo, o fácil acesso a armas de fogo, álcool e drogas. 
3.3. Prevenção social 
 
Esse tipo de prevenção tem por base o desenvolvimento social. Atua sobre grupos 
de alto risco, aumentando a probabilidade de que deixem de ser vítimas ou agentes da 
violência e/ou criminalidade. As atividades de prevenção nesse campo englobam uma 
ampla gama de ações dos mais diferentes matizes. Aqui podem ser incluídas, por exemplo, 
atenção pré e pós- natal a mães em situação de pobreza ou alto risco; programas 
educacionais infantis; programas de incentivo ao término dos estudos secundários para 
jovens pobres e/ou em situação de risco; programas de treinamentos em resolução pacífica 
de conflitos para grupos e comunidades em situação de risco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.4. Prevenção situacional 
 
A prevenção situacional reduz as probabilidades de alguém ser vítima potencial da 
violência e/ou do crime, através da redução das oportunidades, tornando a possibilidade 
de ocorrência do crime mais difícil, mais arriscada e menos vantajosa ou lucrativa para o 
criminoso. Dentre as ações de prevenção situacional encontram-se a implantação de 
obstáculos físicos, controles de acesso a instalações ou locais e sistemas de vigilância e 
monitoramento que inibam a execução de atos criminosos e de vandalismo. 
 
3.5. Prevenção localizada e integral 
 
Conforme apontam especialistas do BID e da OMS, ainda que não seja uma 
distinção normal, é útil falar de prevenção localizada sobre ou em um grupo reduzido de 
fatores de risco de violência e/ou criminalidade – como o controle de armas de fogo ou os 
programas de desenvolvimento infantil dirigidos a grupos de alto risco– ou em prevenção 
integral, que atua sobre um conjunto amplo de fatores de risco. Segundo aquelas 
organizações, existe consenso na literatura especializada de que a violência e a 
criminalidade, por terem multicausalidades, devem ser atacadas através de conjuntos de 
medidas tanto no âmbito da prevenção quanto do controle. Todavia, sabe-se que, em 
decorrência dessa complexidade, programas que requerem alto grau de coordenação 
interinstitucional são mais difíceis de serem implantados. 
 
 
 
 
 
 
 
3.6. Prevenção primária, secundária e terciária 
 
As intervenções para prevenção da violência podem, ainda, ser classificadas pela 
OMS e BID em três diferentes níveis: primário, secundário e terciário. 
 
a. Prevenção primária 
 
São as intervenções que buscam prevenir a violência e/ou a criminalidade antes 
que ocorram. Está voltada para a redução dos fatores de risco e o aumento dos fatores de 
proteção para toda a população ou para grupos específicos dela. 
 
b. Prevenção secundária 
 
Configura-se em ações que objetivam dar respostas mais imediatas à violência e à 
criminalidade. Esse tipo de prevenção está focado em grupos de alto risco de 
desenvolvimento de condutas violentas e/ou criminais, como os jovens em situação de 
desigualdade econômica e social. 
 
c. Prevenção terciária 
 
São as intervenções centradas em programas e projetos de longo prazo realizados 
posteriormente às condutas violentas e/ou criminosas, como a reabilitação e reinserção 
social e as ações destinadas à redução dos traumas decorrentes da violência e da 
criminalidade. Nesse nível, as ações estão dirigidas aos indivíduos que tenham manifestado 
ou tenham sido vítimas de condutas violentas e/ou criminosas, na tentativa de evitar que 
voltem a reincidir no comportamento ou a ser vítimas da violência e/ou criminalidade, 
respectivamente. 
 
 
 
 
Aula 4 – Ambientes institucionais e ações de prevenção recomendadas 
 
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), diversos ambientes 
(instituições ou lugares) podem ser objeto de programas, projetos e ações de prevenção 
contra a violência e criminalidade. Cada um deles deve receber atenção e ações específicas 
e adequadas às suas peculiaridades. Cabem aos governos em todos os seus níveis de ação 
(federal, estadual e municipal) a identificação de ações e a criação de foros e planos de 
ação que sejam capazes de produzir resultados efetivos na prevenção da violência e do 
crime. São identificados, conforme recomendações do BID, os ambientes institucionais e as 
ações adequadas (não exaustivas) a cada um deles. 
4.1. Educação 
 
a. Programas educacionais que desenvolvam habilidades para a resolução 
pacífica de conflitos. 
 
b. Programas de estudo e textos escolares que exaltem a convivência pacífica. 
 
c. Intervenções em nível cognitivo (controle da raiva, raciocínio moral e 
desenvolvimento de empatia social). 
 
d. Melhoria do ambiente escolar (manejo de alunos nas aulas, políticas e regras 
escolares, segurança escolar, redução da intimidação). 
 
e. Programas educacionais técnicos que reduzam a taxa de deserção escolar e 
aumentem a probabilidade de entrada no mercado de trabalho. 
 
f. Maior cooperação com instituições de saúde, serviço social e polícia. 
 
g. Programas/treinamento de mediação entre companheiros. 
 
 
 
4.2. Saúde 
 
a. Melhoria do acesso aos serviços de saúde preventiva e de reprodução humana. 
b. Melhoria na identificação das vítimas em locais de assistência médica (postos 
de saúde e hospitais). 
c. Melhoria da qualidade dos registros de vítimas da violência. 
 
d. Visitas a casas de mães grávidas em situação de pobreza. 
 
e. Informações sobre prevenção da violência para as mulheres que utilizam os 
serviços médicos (especialmente os serviços de saúde da reprodução humana). 
f. Programas para a redução do abuso de drogas e álcool. 
 
g. Programas de incentivo para a melhoria da saúde de crianças e mães. 
 
h. Programas educacionais sobre os perigos da adoção de estilos de vida violentos. 
 
 
4.3. Justiça 
 
a. Centros alternativos, descentralizados para a solução de conflitos. 
 
b. Incorporação de atividades de prevenção contra a violência e criminalidade 
nos projetos de reforma judiciária. 
 
c. Leis e normas que limitem a venda de álcool durante determinados períodos 
do dia. 
d. Acordos nacionais e internacionais para controlar a disponibilidade de armas. 
 
e. Reformas no sistema judiciário para reduzir os níveis de impunidade na sociedade. 
f. Treinamento dos diversos atores do sistema judiciário sobre temas relacionados à 
criminalidade e à violência. 
 
 
 
4.4. Polícia 
 
a. Polícia comunitária orientada para a solução de problemas. 
 
b. Capacitação policial, incluindo capacitação sobre assuntos de violência 
doméstica e direitos humanos. 
 
c. Maior cooperação com outras agências policiais e de governo. 
 
d. Programas voluntários para a coleta de armas que se encontram nas mãos da 
sociedade civil. 
 
e. Maior índice de casos solucionados, processados e apenados para reduzir os 
níveis de impunidade. 
 
f. Ações afirmativas no recrutamento de policiais. 
 
g. Melhor coleta de dados, manutenção de registros produção de informação e 
relatórios. 
4.5. Serviços sociais 
 
a. Programas de educação e treinamento para casais sobre resolução não 
violenta de conflitos. 
 
b. Capacitação de pessoas em habilidades sociais. 
 
c. Serviços de creches de boa qualidade e confiáveis. 
 
d. Programas de tutoria para adolescentes de alto risco. 
 
 
 
 
 
e. Programas de educação e treinamentos para pais (incluindo o estabelecimento 
de limites, mediação e solução não violenta de conflitos). 
f. Serviços comunitários integrados (por exemplo, centros de recreação). 
 
4.6. Meios de comunicação 
 
a. Campanhas para mudar a percepção social sobre a violência. 
 
b. Redução da programação violenta, especialmente daquela voltada para crianças. 
 
c. Treinamento de jornalistas no que se refere a reportagens sensacionalistas sobre 
crimes e violência. 
 
d. Programas de capacitação dos meios de comunicação. 
 
4.7. Desenvolvimento urbano 
 
a. Incorporação de temas sobre segurança em programas habitacionais, de 
melhoramento de bairros (iluminação pública das ruas, configuração de 
espaços, parques, etc.). 
 
b. Infraestruturas para esportes e recreação. 
 
c. Infraestrutura para organizações comunitárias, tais como clubes de vizinhança, 
conselhos comunitários diversos, etc. 
4.8. Sociedade civil 
 
a. Capacitação de organizações não governamentais (ONGs) para cooperar e 
monitorar os esforços de reforma da polícia. 
b. Apoiar o setor privado nas iniciativas de prevenção contra a violência e a 
criminalidade. 
 
 
 
c. Subsidiar as ONGs no desenvolvimento de programas de assistência nas etapas 
iniciais do desenvolvimento infantil. 
 
d. Subsidiar e apoiar programas e projetos para jovens em alto risco. 
 
e. Maior envolvimento da Igreja e de outros grupos da comunidade na mudança 
da percepção a respeito da violência e da criminalidade. 
 
Como última recomendação sobre questões de prevenção da violência e da 
criminalidade, o BID e a OMS, além de outras organizações mundiais, afirmam que as 
sociedades pacíficas investem primariamente em: 
 
a. Cobertura universal de cuidados pré e pós-natal. 
 
b. Programas de cuidado e desenvolvimento infantil. 
 
c. Capacitação para a resolução não violenta de conflitos nas escolas. 
 
d. Acesso a trabalho produtivo e a esportes para a população jovem em condições 
de pobreza. 
e. Incremento na produtividade e ingresso das mulheres, em especial das que 
estejam em condições de pobreza. 
 
f. Campanhas contra a violência doméstica e social nos meios de comunicação. 
 
g. Ações que reduzam os mercados de armas e drogas, incluindo iniciativas 
voluntárias de desarmamento da sociedade. 
 
h.

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