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Seminário História Do Brasil - Crianças escravas

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Seminário
No século XVIII em todo o Brasil as crianças negras foram praticamente ignoradas, não há interesse em comentar como viviam os escravos e os pobres, as mulheres e, menos ainda, as crianças. A preocupação trata quase somente de assuntos políticos e econômicos. Só se preocupavam com a situação do povo quando havia perigo de revoltas e outros problemas.
Existia uma alta taxa de mortalidade infantil, essa taxa se acentuava ainda mais se tratando de crianças negras. Mas a morte não era encarada como uma tragédia, outras crianças poderiam nascer substituindo as que se foram às crianças não eram vistas como seres que fazem falta, a mortalidade era tão alta que não se podia contar com o nascimento de escravos para suprir o mercado de trabalho. Aquele era o mundo de adultos.
CRIANÇA ESQUECIDA NAS MINAS GERAIS
Nas Minas Gerais as crianças, como acontecia com as mulheres livres, andavam mesmo por lugares sozinhas ou acompanhando as mães que iam vender seus produtos. Essas caminhadas, quase sempre penosas, mas trazendo sensação de liberdade, tais crianças auxiliavam suas mães em seus trabalhos, sem ter uma atividade específica.
Nas vilas e cidades, era comum encontrar crianças indo e vindo pelas ruas, a rua fazia parte da vida como um espaço coletivo e as crianças perambulavam com ou sem finalidade. A rua fazia parte de seu mundo.
Nas senzalas, viviam os escravos de um mesmo proprietário e as crianças andavam por todos os lugares, freqüentando inclusive, as habitações de seus donos, principalmente quando suas mães ali trabalhavam. As donas acarinhavam e aceitavam as crianças negras que não tivessem ainda atingido os sete anos, elas serviam de distração para essas mulheres que viviam uma vida monótona.
Os homens foram frequentemente obrigados a mudar de local, por conta de novas minas e isso os impedia de dar maior atenção aos filhos, assim grande parte das crianças tinham contato apenas com as mães e com outras mulheres.
Inúmeros nascimentos de filhos de brancos com pessoas de outra etnia, tornaram os mulatos e mestiços, no fim do século XVIII, o grupo mais numeroso. Essas crianças foram chamadas de cabra, mestiço, mulato, pardo, etc., mas “gente de cor” é o nome com que se viam na documentação do período.
Para os donos, a maior serventia das crianças nascidas no lugar era o fato de tornar possível a existência de uma ama-de-leite para alimentar seus filhos. Mas para isso não havia necessidade de sobrevivência do filho da escrava. As amas chegavam a ser alugadas por bom preço.
Os nascimentos nem sempre eram computados, pois os “anjinhos” morriam sem que tivessem sido batizados – o batismo dava a vida oficial a criança. As mães se viam na obrigação de registrar seus filhos, pois caso contrário passariam a ser malvistas por aquela população. As autoridades insistiam nesse ponto e uma vez que toda a vida da capitania se pautava pelos preceitos católicos.
A questão do batismo de filhos de escravos, tanto os vindos da África, quanto os nascidos no Brasil, parecia tão indispensável que se julgava necessário que fosse realizado mesmo contra a vontade dos pais.
Mais sujeitos a mortalidade precoce, os filhos dos negros dado o tipo de vida que levaram seus pais, muitas vezes na miséria ou dependendo do piedade de seu senhor, fossem enterrados sem que nenhuma autoridade civil ou religiosa tomasse disso conhecimento.
Era vantajoso os escravos casarem entre si, com a presença da criança em um determinado lugar afastaria nos cativos a idéia de fugir ou de praticar “barbaridades” Vemos como os donos da situação buscavam de todos os modos controlar e oprimir seus escravos, inclusive usando a arma da afetividade.
As crianças de “cor” tinham significativo papel nas festividades, aliás, bastante numerosas, a maioria das quais era patrocinada pelo catolicismo. Desde pequenos, os que tinham boa voz se viam treinados pelos músicos para cantar, jovens e crianças participavam das bandas e dos grupos musicais que tocavam nas festas e nas cerimônias religiosas.
Donos de cativos recebiam pagamento pelos escravos “muleques” que participavam de bandas ou de grupos profissionais ou semiprofissionais. Aqueles que eram livres podiam fazer da música um meio de vida desde a infância. Conforme vemos nas listas de pagamentos da irmandades, uma das despesas mais altas se dava com a música tocada e cantada nas festas da Igreja.
Desde o tempo dos jesuítas se valorizava a participação de crianças nas cerimônias e nas festas religiosas como um meio de atraí-las para o catolicismo.
Não existe fontes direta a respeito da moradia das crianças forras, mas certamente não sendo escravizadas, deviam morar com suas mães. Sabemos que as mulheres negras livres habitavam os lugares de mais difícil acesso, como os morros e isso fazia com que tivessem mais facilidade de contrabandear.
Outro gênero de moradia comumente mencionada no período são os ranchos, que abrigavam sobretudo os escravos que trabalhavam na mineração. Precários, eram erguidos e abandonados conforme a necessidade. 
CRIANÇAS ESCRAVAS, CRIANÇAS DOS ESCRAVOS
Se o destino fosse outro, Ullunga teria crescido entre os seus, numa aldeia angolana, e lá mesmo deixado de ser criança. Por conta de primeira menstruação, os mais velhos da linhagem lembrariam os ancestrais, bichos seriam sacrificados. Talvez fosse obrigada a ingerir algum alimento e pronunciar certas palavras. Ullunga talvez fosse até obrigada a trocar de nome. Eram ritos que marcavam a entrada na puberdade.
Porem Ullunga caiu na rede do tráfico de escravos que se dirigia para o Atlântico em meio a setenta outras pessoas também capturadas. Se sobreviveu a travessia oceânica, foi das poucas crianças a aportar deste lado do Atlântico, pois o trafico privilegiava adultos do sexo masculino. Apenas 4% dos africanos desembarcados no Valongo, naquela época, possuíam menos de dez anos de idade. Se Ullunga foi um deles, logo aprendeu que, no Brasil, o ingresso no mundo dos adultos se dava por outras passagens: em vez de rituais, o paulatino adestramento no mundo do trabalho e da obediência ao senhor. Uma vez na América Ullunga seria uma criança escrava.
Em 1789, havia 65 mil escravos, metade da população global, nas áreas rurais do Rio de Janeiro. Por volta de 1830, três quartos dos escravos estavam concentrados em grandes fazendas, ligadas à agroexportação do café e do açúcar. A maior parte da população escrava com mais de 15 anos era, em sua maioria, formada por africanos falantes de línguas bantos.
Analisando os inventários das áreas rurais fluminenses mostram que, no intervalo entre o falecimento dos proprietários e a conclusão da partilha entre os herdeiros, os escravos com menos de dez anos de idade correspondiam a um terço dos cativos falecidos, dentre estes, dois terços morriam antes de completar um ano de idade, 80% até os cinco anos.
Aqueles que escapavam da morte prematura, iam, aparentemente, perdendo os pais. Antes mesmo de completarem um ano de idade, uma entre cada dez crianças já não possuía nem pai nem mãe anotados nos inventários. Aos cinco, metade parecia ser completamente órfã; aos 11 anos, oito em cada dez.
É preciso cautela na análise destes inventários, pois havia outros fatores determinando o pronunciado crescimento do número de crianças sem pais. A alforria entre os cativos fazia desaparecer dos registros os pais. Nestes casos igualmente, não havia quebra irremediável dos vínculos familiares. É o que revela o processo-crime que registrou em 1847 o liberto Marcelino. Marcelino fora alforriado quando da morte do dono, junto com a mulher e a mãe, mas seus filhos continuaram escravos. Uma simples declaração por escrito promoveu a separação entre pai, mão, avó, filhos e netos. Entretanto isso só aconteceu no documento, pois de fato, Marcelino passou a viver numa pequena senzala, com a mulher e a mãe, a meia légua da fazenda na qual permaneceram escravos seus filhos. Ele os visitava e abençoava regularmente, até o dia em que resolveu matá-los.
Os pais também sumiam dos inventários porque eram vendidose legados: uma entre cada quatro famílias eram partidas quando chegava à hora de dividir os bens do falecido. E também fugiam por certo. Além disso, os avaliadores de escravos só registravam o pai se este fosse casado, como recomendavam as prescrições da Igreja Católica. Mas a mortalidade, por certo, também se mostra presente no desaparecimento dos vínculos familiares entre filhos e pais.
O menino crioulo sobrevivente não ficava só. A consolá-lo, existia uma rede de relações sociais escravas, em especial as de tipo parental. Muito possivelmente ele teria irmãos, um ou outro tio, primos, além de, por vezes, avós, que poderiam viver dentro e fora de seu plantel. A extensão da rede familiar dependia, em muito, da flutuação do trafico atlântico. De qualquer modo, em propriedades distantes do mercado de escravos a pelo menos vinte anos, onde não raro mais de 90% da escravaria possuía parentes, o menino com certeza seria irmão, primo, sobrinho ou neto de alguém. Em circunstância, porém, teria a criança já uma “tia”, ou um “tio”, mesmo que não consangüíneos. Um padrinho (e, muito frequentemente, uma madrinha), que com certeza, os pais já lhe haviam providenciado logo no nascimento.
Em 1842, haviam sido registrados aproximadamente 1,6 mil batizados, sobretudo de crianças. Os escravos foram padrinhos e madrinhas em 67% das cerimônias, os libertos em 24% e as pessoas livres em menos de 10%. As madrinhas seguiam o mesmo patrão. Nos planteis, 75% dos padrinhos eram escravos, demonstrando o empenho em constituir laços familiares.
Os escravos puseram assim o catolicismo a seu serviço para fazer parentes e famílias.
Por volta dos 12 anos, o adestramento que as tornava adultos estava se concluindo. Nesta idade, os meninos e as meninas começavam a trazer a profissão por sobrenome: Chico Roça, João Pastor, Ana Mucama. Alguns começavam muito cedo.
O pequeno Gastão, por exemplo, aos quatro anos já desempenhava tarefas domésticas leves na fazenda de José de Araújo Rangel. Gastão nem bem se pusera de pé e já tinha um senhor. Manoel, aos oito anos, já pastoreava o gado da fazenda de Guaxindiba, pertencente à baronesa de Macaé. Rosa, escrava de Josefa Maria Viana, aos 11 anos de idade dizia-se ser costureira. Aos 14 anos, trabalhava-se como um adulto.
O aprendizado da criança escrava se refletia no preço que alcançava. Por volta dos quatro anos, o mercado ainda pagava uma aposta contra a altíssima mortalidade infantil. Mas ao iniciar-se no servir, lavar, passar, engomar, remendar roupas, reparar sapatos, trabalhar em madeira, pastorear, o preço crescia. O mercado valorizava as habilidades que aos poucos se afirmavam. Entre os quatro e os 11 anos, a criança ia tendo o tempo ocupado com o trabalho que levava o melhor e o mais do tempo. Assim é que, comparativamente ao que valia aos quatro anos de idade, por volta dos sete um escravo era cerca de 60% mais caro e, por volta dos 11, chegava a valer até duas vezes mais. Aos 14 a freqüência de garotos desempenhando atividades, cumprindo tarefas e especializando-se em ocupações era a mesma dos escravos adultos. Os preços obedeciam a igual movimento.

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