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AMO R, PAZ E ALEGRIA Mez do Sagrado Coração de Jesus segundQ Santa Gertrudes. Pelo Revmo. P. Dr. ANDRE' PRÉVOT. da Congreg. dos Padres do Sagrado Coração Taubaté Publicações S . C . J . http://alexandriacatolica.blogspot.com.br IMPRL'IATUR Taubate, die 22 outubris 1937 t André, Bispo Dioces. IMPRDII POTEST Taubat-é, die 16 novembris 1937 P. P. Storms �raep. prov. brasil. APRESENTAÇÃO PELO EDITOR Na natureza não ha saltos, nem pheno menos isolados, infundados, sem nexo com outros factores. Tão pouco os ha normal mente no reino da graça. Neste como naquella tudo está organicamente ligado, desenvolve se aos poucos, de pequeninos germens para flôres maravilhosas e frutos deliciosos. Com todo direito podemos affirmar que o culto ao Sagrado Coração de Jesús é tão arttigo quanto o christianismo. Tem as suas longínquas e tenues raizes no Antig� Testa mento, porém o verdadeiro raizame nos san· tos Evangelhos, onde se condensam as ma nifeStações do seu divino Coração durante a sua vida toda, privada e publica. Revelou-o e/le sobretudo no Cenaculo e na Cruz, ins tituindo a ss. Eucharistia e acceitando o golpe de lança que o abriu ao mundo inteiro. 4 Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. Os Padres da Igreja não deixaram de ex plicar muitos textos da Sagrada Escriptura no sentido dessa devoção, como tambem não deixaram de praticai-a. Sobretudo para São Chrysostomo, Origenes e Santo Agostinho, o Sagrado Coração de Jesús era a fonte de amor, de graça e de meritos. Escólhem-no para nelle estabelecerem a sua morada, o seu refugio, na vida e na morte. Só na Idade Média começam a multipli car-se os testemunhos. Surgem sempre mais almas piedosas e santas que conhecem e ve neram o divino coração de Jesús. Entre e/las ha duas santas irmãs, Santa Mechtilde ( 1 24 1 - 1 298 ) e a grande Santa Gertrud�s ( 1 256- 1 302) , ambas monjas benedictinas, que, fa vorecidas de revelações extraordinarias, se sa lientam nesse terreno com dedicar-lhe um culto todo especial, com fazel-o objecto de uma d(JI.)oção importantíssima, Notavelmente promoveu o culto ao Sa grado Coração o cartusiano Landsberger (t 1 539) , divulgando os escriptos das 'duas grandes santas e facilitando-o por imagens symbólicas. E' para notar que fez elle isso 15 O annos antes de Santa Mar gari da Maria. De modo semelhante veneram-no muitos Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. 5 outros, como São Bôaventura, S. Pedro Ca nisio, Santo Aloysio, etc. S. Francisco de Salles fundou a Visitação em 1 6 1 O com o fim especial de tributarem as Filhas do Sa grado Coração um culto particular ao Co ração Divino. S. João Eudes ( 1 60 1-1680) juntou a devoção dos Sagrados Corações de Jesús e de Maria. Desde as duas grandes iniciadoras da ad m-iravel devoção 400 annos se passaram sem que a mesma se completasse. Veiu então Santa Margarida Maria ( 1 647-1690).., es colhida por Deus para completal-a e introdu zil-a publicamente, officialmente. O proprio Nosso Senhor preparou a bemaventurada para a sua grande missão, em apparições successi vas, e associou-lhe o veneravel Padre de la Colornbiere como instrumento de execução e propaganda. Na celebre appai:ição de Junho de 16 7 5 . Nosso Senhor queixou-se á sua serva da frieza, indifferença e ingratidão dos homens, sobre tudo dos que lhe são consagrados, e isso apesar de. tantos beneficios que lhes fazia e de tan· tos sacrifícios que por elles havia feito. Em càmpensação de tan.tos çrimes e injurias, exige 6 Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. elle dos seus devotos não só amarem-no sin ceramente, como tambem repararem o mais possível as injurias que lhe são feitas, por actos de desaggravo privados e publicos, pela communhão reparadora, mórmente nas pri meiras sextas-feiras, e pela consagração ao seu divino Coração de famílias, cidades, provin- ctas e nações. Foi por conseguinte o proprio Nosso Se nhor quem ensinou a devoção ao seu Sagrado Coração e apontou bem claramente os dois elementos indispensaveis, essenciaes que della deviam fazer parte, que se requerem e se com pletam mútuamente como causa e effeito, isto é, "Amor e Reparação" , mórntente pelo sa crifício, e até pelo sacrifício da propria vida. E' bem de admirar que o conhecimento integral, theorico, dessa eminente devoção te nha levado nada menos que 400 annos. A divina Providencia destinou-a para salvar o mundo nos ultimos tempos, quando a ingra tidão chegar ao auge, quando a apostasia fôr geral e a revolta contra Deus attingir o absur do. Já vae para 300 annos que Deus espera pela conversão geral do mundo mediante a de voção ao Sagrado Coração, valendo-se da sua bondade e misericordia tão patentemente ma- Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. 7 nifestadas. A não conversão dos homens em grande maioria, subentende a maturidade do mundo para o seu fim. * * * Sem duvida Deus encontra em todas as gerações almas generosas que se lhe offerecem · em resgate de seus irmãos prevaricadores. Mas foi só de 1 876 em diante que algumas repre sentantes do sexo feminino começaram a fun dar sociedades de victimas do Sagrado Cora ção, congregações religiosas especialmente de dicac/.as á reparação dos crimes do mundo pelos meios mais diversos. Até o fim do seculo pas sado só cinco chegaram a estabelecer-se, sendo qw antes haviam fracassado varias tentativas de sacerdotes nesse s�ntido. Entre tantos que alimentavam a mesma idéa, havia dois distinctos sacerdotes france zes: o Co nego Dr. Leão Dehon (18 4 3- 1 92 5 ) e o Padre Dr. Leio Prévot ( 18 40- 1913) . Mui to favoreceu aquelle a primeira fundação de um instituto reparador, o das Servas· do Coração de Jesús de Saint-Quen tin, cidade donde elle proprio era natural; e este a segunda fundação. a das Irmãs Victimas 8 Apresentaão do autor do Sagrado Coração de Jesús de Gnmobles, de cuja fundadora e primeira superiorá, IrmQ. \í eronica, escreveu posteriormente a santa vida em mais de 1 . 000 paginas. O Conego Dehon conseguiu em 1 8 77 fundar em Saint-Quentin a Congregação dos Padres do Sagrado Coração, sob a divisa "Amor e Reparação': . O Padre Leão Prévot , porém, não pôde realizar o intento de fun� dar, em conjunto com outros sacerdotes, um instituto proprio, de sacerdotes reparadores. Logo que veiu a reconhecer, pelas disposições da divina Providencia, a sua vocação como membro da congregação do P. Dehon, pediu admissão a ella e nella ingressou em maio de 1 8 8 5, vindo pela profissão a chamar-se Padre André, chamando-se Padre João do Coração de Jesús o fundador. Terminado o noviciado em 1 886 , ac ceitou o P. André desde logo o cargo, de tanta responsabilidade, de mestre de noviços, em Sittard (Holtanda), cargo que exerceu duran te 2 6 anos juntamente com o de superior da casa que allí fundou e que devia desenvolver, como desenvolveu, maravilhosamente, como pae e amigo de todos, fazendo jus ao epitheto não simplesmente de "bondoso padre", porém O servo de Deus P. JOÃO LEÃO DEHON Fundador da Congreg. doe Padres do S. Coração morto no Senh.or em 12 üe Aug. de 1926. Apresentação do autor 9 de "santo". Falleceu em 1 9 1 8 , em odor de santidade. Talvez nos venha a ser possível publicar um dia a santa vida do nosso vene ravel pai espiritual e tão venerando amigo. Já foi ella editada em varias línguas, em edi ções completas e resumidas e em numero su perior a 1 milhão! Além de tudo, tornou-se tambem o P. André escríptor fecundo, aproveitando todos os momentos que pôde poupar aos seus muitos affazeres. Ao todo escreveu 14 opuscu1os, sendo 3 sobre o Sagrado Coração de Jesús, 5 sabre Nossa Senhora, 1 sobre o Divino Espí rito-Santo, 1 sobre S. José, 2 de meditações e finalmente 2 biographias de Madre Vero nica. Todos elles são muito apreciados e que ridos pelas almas interiores, devido sobretudo á uncção do Espírito-Santo que parece pene trai-os e animal-os. Oxalá possamos fran queai-os a tantas almas bôas do nosso paiz,editando-os todos successivamente em língua vernacula! Seria de immenso proveito para o nosso patrimonio espiritual. + + + \ , Abrimos a serie das relíquias ·[iterarias \UO P. André com o presente opusculo intitu- 10 Apresentação da obra lado "Amor, paz e alegria", o mesmo coro que elle proprio estreiou. Prova da sua excel lencia são as numerosas edições que já alcan çou este opúsculo tanto na França como na Allemanha. Mas a 'fama delle transpoz muito para além as fronteiras desses paizes. T or nou-se elle conhecido e apreciadissimo no mundo inteiro. Conforme o subtítulo : Mez do Sagrado Coração de Jesús segundo Santa Gertrudes, pretende o autor attingir o seu escopo, de encher os leitores de Amor, Paz e Alegria me diante um mez de devoção ao Sagrado Co ração. Por um motivo bem patente preferiu elle propôr-nos, nesse Mez do Sagrado Coração de Jesús, as encantadoras revelações de Santa Gertrudes: pela simples e grandiosa razão de visar despertar coragem para os sacrificios re clamados pela reparação justamente pelo amor que a devoção gertrudiana ao Sagrado Co- ração inspira. _ Não póde haver motivo mais fúndado, mais racional e mais pratico. Tende ao aluo pelo caminho mais facil, mais certo e mais curto: pelo amor .para a reparação! "Amor, paz e alegria" é para o nosso Apresentação da obra 11 tempo uma necessidade confortadora e agra davel, como reparadora. Falta ao mundo o uerdadeiro amor : por isto tem tanta falta de paz e de alegria, tanta carencia de genuína e real felicidade. Este opusculo abre a fonte do mais puro amor, derramando sobre quem o cultiua uerdadeira paz e alegria. Ainda mais. Não só elle 'mostra o caminho que leua ao amor, á paz e á alegria, mas tambem, inspi rando o verdadeiro amor, inspira igualmente verdadeira paz e alegria. Como 'é cheio de amor, é igualmente cheio de paz e alegria! Ao percorrer as paginas a seguir, o leitor deparará as marauilhas do amor diuino, hu manisando em N. Sr. e correspondido pelo amor integral e jubiloso de duas santas irmãs. Ninguem deve estranhar tamanhas intimida des e ternuras de N. Sr., como si as reser uasse para algumas almas priuilegiadas. Mui to p,elo contrario deseja Etle prodigalisal-as à todos sem excepção. Quem não as receber, só deue inculpar-se a si proprio, por não se dispôr para recebei-as, desapegando-se das creaturas e apegando-se aos ualores superiores. As manifestações de amor de N. Sr. para com Sta . Gertrudes são, em verdade,- outros tantos convites e outras tantas garantias para 1:! Apresentação da obra todos, de. que serão da mesma forma corres pondidos por Elle quanto antes se Lhe entre garem sem reserva, ·como Sta. Gertrudes. Eis ahi o proprio escopo ideal das revelações dessa Santa, como deste opusculo, patentear ao mundo irmanado exemplo da vida intima de amor que N. Sr. quer ver estabelecida entre si e cada alma humana! (Cfr. p. 1 76 ) . Recommenda-se ainda este opusculo por mais um ultimo, mas soberano titulo. A me dulla do seu conteúdo foi extrahida do livro das revelações do Sagrado Coração a Santa Gertrudes. Sobre ellas versam as reflexões do autor, e dellas tira elle as conclusões. Ora, Nosso Senhor ligou graças especiaes não só ás orações de Santa Gertrudes, corno tarnbern a todos os escriptos della sobre o seu Sagrado Coração, fazendo-o� seus proprios. Pessas graças especiaes participa, pois, este opusculo, e ellas lhe realçam muito o valor. São graças de amor, paz e alegria, que garantem o -que o opusculo affirma, e ajudam a cumprir o que elle promette. Oxalá encontrem nelle to dos os que o lêrern urna fonte inesgotavel de AMOR, PAZ E ALEGRIA EM NOSSO SENHOR! P. LACROIX. PR E F A CI O DO AUTOR Que é que nos propomos nesta modesta obca dedicada a Sta. Gertrudes e ao Sagrado Coração de Jesús? Propomo-nos ajudar algumas almas - e já certo numero se serviram do nosso ma nuscripto com resultados que podem ani mar-nos, - propomo-nos ajudar algumas almas a vêr melhor e melhor gostar o quan to o Coração. de Jesús é bom, afim de que essas almas de bôa vontade, sentindo-lhe a ternura infinita que as solicita, se decidam a corresponder plenamente ao desejo tão pre mente que elle tem de amai-as e de ser por el/as amado, e sem temor como sem reserva, se abandonem amorosamente ·a elle para sem pre. Propomo-nos imprimir nos corações daquelles que nos quizerem lêr bem, alguma daquellas palavras de Sta. Gertrudes a que Nosso-Senhor prometteu ligar uma graça toda particular, palavras que penetram a alma 14 Prefacio do autor de uncção suavíssima e que podem vir a ser bôa riqueza espiritual para toda a vida. Pro pomo-nos proporcionar ao Coração do nosso bom Salvador alguns amigos a mais, que lhe honrem a amizade pela sua confiança e fideli dade, a exemplo da nossa cara Santa; alguns consoladores a mais, que, como ella, tomem a peito os seus divinos interesses, que pro curem agradar-lhe sinceramente e indemni zal-a das ingratidões do mundo; que, pela oração, e pelo sacrifício trabalhem em pôr balsamo nas feridas que lhe são feitas. Propo mo-nos finalmente proporcionar á Igreja de Jesús-Christo, segundo o nosso fraco poder, alguns defensores a mais, que pela dedicação á vida de intercessão, de amor, de reparação, ajudem essa Mãe Santa a alcançar misericordia para os pobres peccadores, a reparar as perdas incessantes de seus filhos, a cobrir pelos lou vores do amor o concerto horrendo das bla$ phemias da impiedade. E a quem offerecemos esta humilde obra? A todos ·os amigos do Coração de Jesus que se regozijam sempre, num sentimento de caridade cordial com aqui/lo que póde con tribuir para fazer conhecer e amar esse ado ravel Coração. Escopos do autor 15 Aos amigos de Sta. Gertrudes, cujo nu mero vae sempre crescendo na Igreja de Deus; aos que se rejubilam de vêr realizar-se a res peito del/a o voto do Santo e piedoso padre Faber: "Possa Gertrudes tornar-se entre nós, para ahi ser o que foi outr' ora, o Propheta e o Doutor da vida interior!" (Tudo por Jesús, cap. VIII, § VIII) ; aos que cre_êm nas pro messas que Nosso-Senhor fez a essa prioilegia da do seu Coração,. e que já, mais de uma vez, por dôce experiencia, sentiram nos escriptos del/a uma luz e uncção que não encontravam alhures. Offerecemol-o emfim mui particular mente a essas almas, dia a dia mais ·numero sas, que, dóceis ao impulso que o Espírito Santo faz . sentir á Igreja no nosso seculo, se dedicam por amor, á Obra da Reparação. Quizemos offerecer-lhes, nas disposições e piedosas industrias que o Coração de Jesús inspirou á nossa meiga Santa, o meio facil de realizarem em sua vida essa obra que se tor nou a mais necessaria e mais urgente de to das (1) . ( 1) Ousa,remos offerecel-o, entre oqtros, aos Associados do Coração de J esús q11e nos con'Viá'a. á pcm:trucia, em cujas fileiras nós proprios desejamos 16 Prefacio do autor Dividimos esta modesta obra em trinta e tres leituras, podendo servir de mez do Sa grado Coração : esperamos que sob esta forma terá ella em toda parte mais facil accesso e poderá, com a graça de Deus, convir mais es pecialmente a todos os amigos do Sogrado Coração de Jesús, a todas as almas repara doras do mundo, do claustro ou do santuario. Agradeceremos a Deus si, por intercessão de Sta. Gertrudes e peta misericordia do Coração de Jesús,. conseguirmos proporcionar a essa cara Santa o complemento dos seus desejos, afim de contribuirmos para o consôlo do nos so bom Mestre, afim de trazermos o nosso quinhão de socorro a Igreja, nossa Mãe. O' bôa e meiga Santa, que tanto desejaes que a leitura dos vossos escriptos sirva cada vez para glorificar o Coração de Jesús, e para provocar incessantemente novas acções de gra- fiélmente combater. Reconhecemos com elles a ne" cessidade prçdominante da .penitencia na obra da re paração. Mas esta necessidade em nada diminúe a da reparação pelos aclo.s de religião que deve acom panhar a penitenciapropriamente dita, e todos reco nhecem que a penitencia deve ser animada pelo amor, pela acção de graças e pela alegria. Ora, nesta obra, é antes nestes dois outros .pontos de vista que nos collocamos como completando o primeiro. Escopos do autor ' 17 ças pelos favores que elle vos cqncedeu, dignae vos derramar 'benção copiosa sobre estas pa ginas que são vossas, afim de que a leitura deltas excite as. �tmas a louvarem a bondade do Coração de Jesús e a se darem a elle! Já que o Salvador prometteu conceder tudo aos que lhe agradecerem as graças que elle vos fez, obtende que em troca dos sen timentos, de gratidão e de admiração que lhe expressamos nesta lertura, nos conceda el/e amal-o como vós o amastes, dedicarmo-nos inteiramente a elle como vós mesma, com amor, com .paz. com alegria ( 1). (1) Nesta obra, a que pedimos a Nos!lO Se nhor que ligue uma graça de paz e de alegria para toda alma de bôa vontade, ficaríamos qesolaq,os de perturbar a paz de alguem; rogamos ao leitor que se alarmasse com alguma das expressões de Sta. Gertrudes ou das reflexões que lhes accrescentamos, dignar-se tornai-as no sentido que indicamos nas noss11s notas ; e deste modo temos a dôce confiança de que tudo redundará em maior bem para· todos os amigos do Coração de Jesús. Amor, Paz e Alegria PRIMEIRO DIA CONVITE DO CORAÇÃO DE JESúS I A deooção ao Sagrado Coração é o derradeiro esforço, nestes ultimos seculos, do amor de Nosso Senhor aos homens. Um dia, S. João, o Apostolo dilecto do Coração de Jesús, foi mostrando a Santa Gestrudes no fulgor duma gloria íncompara vel: "Meu amabilíssimo Senhor, diz a Santa a Jesús-Christo, donde vém que me apresen teis,· a mim, indigna creatura,, o vosso discí pulo mais caro? - Quero, respondeu Jesús, estabelecer entre elle e ti uma amizade inti ma; elle será teu Apostolo para te instruir e dirigir" . Dirigindo-se então a Gertrudes, João lhe dizia: "Esposa de meu Mestre, oinde: jun tos repousaremos a cabeça no dulcissimo peito do Senhor; nelle estão encet'rados todos os thesouros do céo". Ora, como a cabeça de Gertrudes estivesse inclinada á direita e a ca· beça de João á esquerda do peito di: Jesus. o discípulo dilecto prosseguiu: "E' aqui o 20- 1." dia Santo dos-santos; todos os bens da terra e do céo são attrahidos para elle como pará o seu centron Entretanto, as pulsações do Coração de Jesús arrebatavam a alma de Gertrudes; "Bem-amado do Senhor, perguntou ella a S. João , estas pulsações harmoniosas, que me rejubilam a alma, rejubilaram a vossa quan do repousastes, durante a Ceia, no peito do Salvador? - Sim, ouvi-a$, e a suavidade dellas penetrou-me a alma até á medulla. - Donde· vém pois que no vosso Evangelho, apenas tenhaes deixado entrever os segredos amorosos do Coração de Jesús-Christo? - O meu ministerio, naquelles primeiros tem pos da Igreja, respondeu o Apostolo dilecto, devia cingir-se a dizer sobre o Verbo divino, Filho eterno do Pae, al_qumas palavras fe cundas que a intelligencia dos hom.ens pu desse sempre meditar, sem lhe esgotar jámais as riquezas; mas, aos ultimas tempos estava r·eservada a graça de ouvir a voz eloquente do Coração de Jesús. A essa voz, o mundo en velhecido rejuvenescerá; sairá do seu torpor, e o calor do amor divino inflammal-o-á ainda ( 1)" (1) Revelações de Santa Gertrudes (livro IV, Convite do S. Coração 21 REFLEXÕES. - Santa Gertrudes foi de alguma sorte· a Evangelista do Sagrado Co raçãó, e seu livro revéla-nos o Coração hu mano de Jesús, como o Evangelho de S. João faz-nos conhecet nelle o Verbo divino. Essa revelação toda de amor era um segredo reser vado a estes ultimas seculos do · mundo, em que, após tant!s ruínas e desolações, as almas enfraquecidas e entristecidas ainda aguardam no ent�nto uni supremo triumpho da Igreja, uma éra de consolação em que se verá a fé renascer, a piedade reflorír, a caridade reaccen· der-se. E' o que o Apostolo S. João parece predizer no seu Apocalypse. quando diz num trecho notavel que se tem applicado á nossa epoca: "Porque tendes uma virtude fraca, eu vos abri uma porta que ningc-Íem poderá fechar ( 1) " (Apoc. III, 5) . Nós somos fracos, mas pelo Coração de Jesús nos tornare mos fortes; somos fracos, mas pela Caridade do Coração de Jesús triumpharemos da morte e do inferno; somos fracos, mas no Coração de Jesús, que nos é aberto, acharemos o amor que dá �odas as virtudes. r. 4). -· Valeroo-nos da traducção de dom Mege, da do P. Cros e da dos Benedictinos de Sol�smes. (1) Vêr, Hol<�hauser, Explicação r!o Apoçaly tse. 22 1." dia Porquanto o Coração de Jesús é o fóco do amor. A devoção ao Sagrado Coração é a devoção que vem do amor como principio, que se dirige ao amor como fim, que em prega o amor como meio. p' o amor feito sensível pelo Coração sensível de Jesús-Chrís to, que nos communíca os seus propríos senti mentos fazendo-nos sentir, con\o a seus mem bros, a repercussão das suas pulsações ínti mas, segundo este grande princípio que regúla a-vida chrístã: Hoc senti te in vobis qw;>d et in Christo Jesu. - Senti em vós os senti mentos do Coração de Jesús. E' o amor que nos attrahe ao amor pelos seus encantos ir resistíveis, segundo a prophecia que delle fez o proprio Salvador : "Quando eu fôr elevado na cruz" e o meu Coração fôr aberto pelo amor, "attrahirei a mim todos" os corações. {João, XII, 3 2). E' o amor, emfím, que nos quer consumir nas suas chammas para santi ficar os nossos sacrifícios e reparar todas as culpas deste mundo culpado, afim de que o perdão se torne a medida do amor, como o amor foi a medida do perdão. Remittuntur ei peccata multa, quoniam dilexit multum (Lucas, VII, 47) . CONCLUSÃO PRATICA 1 •. o Confiança Convite do S. Coração 23 em meio ás nossas miserias e ás infelicidades do tempo presente, ·porque o Salvador, apie dando-se da nossa fraqueza, abriu-nos o seu Coração, onde acharemos toda a força. 2.0 Amor, Amor ! Demo-nos ao amor ! A devoção ao Sagrado Coração é a devoção do amor, unica que póde reaquecer o nosso seculo tão arrefecido ; a renovação que aguar damos é obra do amor, e só o amor fal-a-á. li A devoção ao Sagrado Coração de Jesús e o livro de Sta. Gertrudes. Sta Gertrudes, retida pela sua humilda de, hesitava em publicar as revelações do Sa grado Coração de Jesús. Decidiu-a porém o Salvador dizendo-lhe: "Quero que tew; es· criptas sejam para os ultimas tempos um testemunho da ternura do meu Coração, e por elles farei bem a muitos (L. 11, c. 1 O). - Emquanto escrec;eres, conser()arei teu co ração junto ao meu coração, e distillarei nelle gôta a gôta o que dec;erás dizer". Ella ouviu o proprio Jesús fazer este pedido: "O' Pae santo. quero, para vossa nforia eterna. que o comção de Gerrrucles der- 24 t.• dia rame sobre· os homens· os thesouros encerra dos no meu coração humano" Quando o livro foi concluído, Jesús mostrou-se a Sta. Gertrudes dizendo-lhe: "Este livro é meu; eu o imprimi no fundo do coração; ahi, Cf!.da uma das suas letras em bebeu-se da doçura do meu amor; de cada ·uma das palavras deste livro exhala-se o per- fume da minha misericordia ( 1 ) " REFLEXÔES. - Sta. Gertrudes é a Mensageira ( 1 ) , o Arauto do amor divino, encarregado de fazer conhecer o amor na sua manifestação mais tocante que é o Coração (1) Jesús tratou assim tambem o livro de Sta. Mechtilde (P. II, c. 43). "'Tudo o que está escripto neste livro safu do meu coração e a elle tornará. - Todos quantos me buscam com coração fiél acharão nclle uma causa de alegria; os que me- amam abra . sar-se-ão mais no meu amor, e os qwe estive-rem na afflicção acharão nelle consôlo." O Salvador fizera mui pa.rtkularmente dom do seu Coração a Sta. Mechtilde (P. li, c. 19). Este dom produziu nelia extrema devoção para o Sagr." Coração, e foi para ella o principio de tod"Os os de mais dons. Ella repetia amiudadamente: "Si fôsse frreciso escrever todos ·os bens que me têm vindodo benignissimo · Coração. de Deus, um livro grosso co- mo o das Matittas não chegaria." \ ( 1) Legatus divinolE pietatis. E' o titulo que o proprio Nosso Senhor dá a9 livro de Sta. Gertrudes. Convite do S. Coração 25 de Jesú's, incumbido de trazer a este divino Coração todos os corações dos homens. E' a missão que S. João lhe annunciava, a missão que o Coração de Jesús lhe deu, a missão para qual escreveu ella o seu livro (I ) . Ella já vê essa tarefa realizada em parte, de ma neira exterior e official, pela bemaventurada Margarida-Maria, filha de S. Francisco de Sales, que foi filho espiritual de Gertrudes e se nutriu das obras desta; e agora parece que a deva realizar de maneira· mais intima, mais completa (2), pelos seus novos filhos es pirituaes que lhe propagam por toda parte a doutrina. ( 1) Os Benedictinos de Solesmes ( Pref. P. XVI) fazem vêr que a missão de Sta. Gertrudes tem realmente por obiecto a devoção ao Sagrado Cora ção no sentido que indicamos. Elles não separam del la Santa Mechtilde. Póde-se, de resto, dizer que o livro de Sta. Mechtilde pass·ou pelo cor.ação e pela penna de Sta. Gertrudes, tendo-o esta redigido, ao menos em grande .parte, fazendo-o depois approvar por N. Senhor, e diffundi_ndo-o em torno de si; per tence pois realmente á escola de Sta. Gertr1,1des. (2) Parece que a missão de Santa Margarida -Maria tem antes por objecto o culto exterior e of ficial do Sagr.• Coração, e que a de· ' Sta. Gertrudes tem por objecto o culto intimo e mystico. Santa Ger trudes faz-nos vêr em acção todos os mysterios do Sagr.• Coração de modo mais completo; dá tambem 2G 1." dia E' sobretudo na escola de Sta. Gertru des que a devoção ao Sagrado Coração mos tra-se facil e ao alcance de todos nos ensina mentos, agradavel e cheia de doçura na for ma, tocante emfim e irresistivel nos attrac tivos, porque nos mostra em toda parte o amor com a alegria e com a paz, que lhe são os frutos. CONCLUSÃO PRATICA. - 1.0 Escutemos com confiança e docilidade a Mensageira do amor divino, e tirare,mos das suas palavras a graça que o Coração de Jesús se dignou ligar-lhes, a graça do amor. 2. o Proponhamo-nos imitar Gertrudes com fidelidade no que fez pelo Coração de Jesús, pois ella repete muitíssimas vezes que alcançaremos delle por esse meio os mesmos favores que ella recebeu como recompensa. á devoção ao Sagr." Coração uma forma mais attra hente e mais animadora para o nosso seculo tão fraco. (Cf. Pref. dos Benedict., P. XVI.) Si nos permittem accrescenta·r klqui o nosso pro prio pensamento, diremos que, do ponto de vista da vida de amor e de sacrif1cio que deve ser a vida de todo amigo dedicado do Coração de Jesus, as duas santas concordam perfeitamente; mas, si a Sanb Margarida-Maria póde ensinar melhor o sacrificio, Sta. Gertrudes póde communicar melhor o amor que n faz acreit�r. SEGUNDO DIA AMOR DO CORAÇÃO DE JESúS I O amor, principio da devoção ao Sagrado Coração. Já ouvimos Jesús dizer a Sta. Gertni des: "Foi o amor do meu Coração que pro duziu os teus. escriptos; quero que elles sejam para os ultimas tempos o testemunho do meu amor, para attrahir as almas ao meu coração" Um dia de sexta-feira santa, como as Freiras fizessem a adoração da cruz, quando chegou para Sat. Mechtilde o momento de beijar o Crucifixo e ella beijou a chaga do Coração, o Senhor lhe disse: "Nesta chamma de amor, tão grande que abrange o cêo, a terra e tudo o que encerram, applica o. teu amor ao meu divino amor, para que elle ahi se torne perfeito, e, assim como um ferro em 28 2.0 dia brasa se confunde com o fogo, se confunda com elle num só amor" . (S. M. , I. 18). Outro dia viu ella o Senhor abrir a chaga do seu dulcíssimo Cotação e dizer-lhe "Olha toda a extensão do meu amor; méde-o por estas palavras que eu dirigi a meus irmãos: Como meu Pae me amou, assim eu vos amei (S. João, XV, 9 ) . Jií ouvistes palavras que exprimissem amor mais Forte ou mais terno?" (I. M., L 21) REFLEXÕES. - O printipío da devoção ao Sagrado Coração é o amor, isto é, que o Coração de Jesús nos quer dar esta devoção como o derradeiro esforço do seu amor e o dom mais perfeito que elle nos possa conce der. E' o amor que se quer dar �té o extremo, até o fim dos tempos, àté as extremidades da terra, até os ultimas limites. do amor. E' o amor que quer reaquecer o mundo, agora que a caridade tanto se arrefeceu nelle: é o amor que veiu trazer o fogo á terra e que quer no fim dos tempos abrasai-a toda com as suas chammas. E' o amor que quer amar ainda mais do que ser amado, pois tal é a lei do amor. Quer dizer uma ultima vez a esses ingratos quanto os ama; quer estreitai-os ao seu Coração, recordar-lhes tudo' quanto fez_ Amor do S. Coração 29 por elles, tentar ·ainda enternecel-os ( 1) , e salval-os, Sem duvida, elle pede que o ame mos em troca, e a que�xa do amor desconhe cido é bem amarga; mas ao menos terá elle feito tudo quanto está em si, e, si não fôr amado por todos, ao. menos nos. terá .amado a todos. Eis porque o meigo· Salvador quer fazer penetrar agora em toda parte a devoção ao seu Sagrado Coração. Vemol-a já por toda parte no exterior; em toda parte encon tramos as imagens do Sagrado Coração; em toda parte é elle celebrado por festas solemnes, em toda parte é honrado por praticas santas; mas isto não basta; é preciso que o amor penetre no interior, que o fogo ganhe o in timo dos nossos corações: /gnem veni mittere in terram (Lucas, XII. 49) ; é mistér que o amor de Jesús nos transforme em si mesmos como o fogo transforma o ferro na sua pro pria natureza, afim de que assim ell� possa offerecer em holocausto a seu Pae celeste essas almas que devem ser uma só victima com (1) Póde-se lêr este pensamento expresso do modo mais enternecedor nas revelações da bemaven turada Varani, no ponto em que ella vê Jesus es treitando Judas; ao seu Coração. 30 2.o dia elle. Antigamente as victimas deviam ser con sumidas pelo fogo para que se elevassem para o céo em odor de suavidade; agora tam bem, a Igreja deve ser consumida pelo fogo do amor para que, victima santa consum mada com J esús, possa subir ao céo no fim do seu sacrifício. Sim, o Salvador quer fazer das nossas almas outras tantas victimas de amor consumidas com elle por essas cham mas de amor que escapam do seu divino Co ração; para que o amor alcance o perdão para o nosso seculo que já não ama, para que o amor dos nossos corações ganhe aos poucos as almas de nossos irmãos e os faça amarem comnosco, para que o amor consumme o nos so sacrifício e nos torne dignos no céo desse Bem supremo que é o· centro para o qual ascendem sempre necessariamente as chammas do amor. CONCLUSÃO PRATICA. - 1.0 Amor e sacrifício. Um não se separa do outro. O amor é uma chamma que pede uma victima a consumir. e o sacrifício só se consuma na chamma do amor. Oh! possamos ser essa vic tima e consumar-nos nesse sacrifício! Por quanto o amor é o proprio Deus; o sacrifício i a santificação, a deificação; a victima con- Amor do S. Coração 31 surnrnada é a alma unida a Deus, perdida em Deus, transformada em Deus. 2.° Confiança sempre, pois que haveria mos de temer? E' o amor que nos chama, é o amor que dá tudo, o amor que provê a tudo, o amor que fará tudo. o amor só bem nos póde querer; impossível pois corresponder ao amor de outro modo que pela confiança; e já que é o amor sem limites· que nos con vida, correspondamos-lhe tarnbern por urna confiança sem limites. li O objecto da deuoção ao Sagrado Coração é o amor do Coração de Jesús, principalmente na sua Paixão e na Eucharistia. O amor do Coração de Jesús revelou-se a Sta; Gertrudes principalmente nos myste rios da Paixão e da sagrada Eucharistia. Um dia em que Gertrudes segurava af fectuosamente e beijava o seu Crucifixo, N. Senhor lhe disse: "Cada oez que o homem age assim, ou siquer olha com deuoção um Crucifixo, a misericordia de Deusdetém-lhe os olhos n'alma. U homem deuenà entao 2,o dia pensar, no seu coração, que estas ternas pa lavras lhe são dirigidas : _Eis .como, por teu amor, eu quizer ser pregado, nú, desfigurado, coberto de chagas, com todos os membros violentamente esticados, numa cruz; e o meu coração é tão apaixonadamente enamorado de ti que, si preciso fôra, para· te salvar eu sup portaria ainda de bom grado, só por ti, tudo o que pude soffrer pela salvação do mundo inteito" (III, 41). Jesús revelava em seguida a Gertrudes o amor do seu divino Coração na :J3ucharis tia: "As minhas delicias são estar com os fi lhos dos homens. Foi para contentar o meu amor que institúí este Sacramento; obriguei me a . permanecer nelle até o fim do mundo, e quiz que o recebessem frequentemente. Si alguem desvia uma alma da communhão, esse impede as delícias do meu Coração. Tudo fiz para manifestar na Eucharistia a tllrnura do meu Coração. Quando, arrastado pela ue hemencia do meu amor, venho pela Commu nhão a u.ma alma, . cumúlo-a de bens e ella propria, e todos os habitantes do céo, todos os habitantes da terra, todas at almas do pur gatorio Sentem T.IO mesmo instante algum novo effeito da minha bondade". Amor do S. Coração 33 REFLEXÕES. - O objecto proprio da devoção ao Sagrado Coração, é o amor do divino Salvador manifestado principalmente na sua Paixão e na sagrada Euch_aristia. Eis o objecto, espiritual e sensível ao mesmo tem po, que é proposto ao nosso amor: "lnspice, et fac secundum exemplar. (Ex. 25. 40) . Olhae, e fazei segundo o modelo que vos é propos�! " Olhae, pois é o objecto mais dig no da vossa attenção. Possa elle attrahir-vos de tal modo os olhares, que o vosso coração se fixe nelle para todo o sempre! Possa de tal forma absorver-vos o espírito, que não saibaes mais sinão a elle e a lição de amor que elle vos dá! Possa gravar-se-vos tão pro fundamente na memoria, que. o tenhaes sem pre presente á lembrança! Possa imprimir se-vos na imaginação para purificai-a e san tificai-a! Possa penetrar-vos todas as poten:. das da alma para dirigil-as tqdas segundo a lei do amor! Olhae-o, porque elle vos olha com tanta misericordia e ternura! Olhae-o, porque elle quiz ser elevado acima da terra para attrahir e fixar todos os olhares! Olhae o, pois olhando-o sarareis das vossas feridas, como outr• ora os Israelitas olhando para a serpente de bronze! Olhae-o, pois .elle é a 34 2.o dia nossa luz, o nosso mestre e o nosso guia na senda da salvação ! "Et fac secundum. - E fazei como elle". Amae como elle, sentí como elle, vivei como elle, visto que elle é o modelo proposto aos eleitos por Deus Padre ; visto que é a propria Sabedoria de Deus manifestada ao mundo para instruil-o ; visto que é a propria força de Deus ostentada para salvar-nos ; visto que é o chefe divino a que deveis ficar unido, de quem deveis depender sempre. Ora, que fez elle? Que lição nos dá ? Que modelo offerece á nossa imitação ? Amou nos e entregou-se por nós. O amor do Co ração de J esús não é um amor esteril ; é um amor que se mostra pelo sacrifício da Paixão, que se continúa e se applica a cada um dl! nós no sacrifício da Eucharistia : Dilexit me et tradidit se. Amou-me e se deu, sacrificou-se por mim : amou-me e ama-me ainda, quer amar-me sempre, e continúa ainda, e conti nuará sempre a dar-:se, a sacrificar-se por mim. Eis o amor ! eis o Coração de J esús ! Por isto, em verdade, como o Apostolo que se sentia premido pela caridade do Co ração de Jesús, eu não quizera mais vêr si não um objecto, não mais quizera saber sinão Amor do S. Coração 35 uma sciencia : Jesús crucificado. Quizera occul tar-me para todo o sempre nesse Coração de Jesús que foi aberto por mim na cruz ; quizera com elle dar-me e sacrificar-me por Deus e por meus irmãos, consumir-me nas suas cham mas, perder-me para todo o sempre numa radiação do seu amor. Oh! sim, Senhor, . fazei que assim seja ! Amor, •o que fazeis, fazei-o quanto antes ! Amor, abysmae-me comvosco no Coração de Jesús crucificado, para que a minha natureza grosseira lhe seja consumida pelas chammas, e eu não viva ffii3iS sinão da sua vida santís sima ; abysmae-me no Coração de Jesús eu charistico, para que o meu sacrifício se con tinúe sempre com o delle, e eu seja perpetua mente com elle uma victima de religião, de louvor e de amor! CONCLUSÃO PRATICA. - 1.0 Olhemos a miúde o Crucifixo, mas olhemol-o com amor; suba o nosso olhar ao Coração de Jesús para feril-o duma ferida de amor que curará a ferida que lhe fez o peccado. E, em troca, elle baixará sobre nós um olhar dos seus olhos tão misericordioso, que inflam matá cada vez mais o nosso amor. Olhemol-o. representando-nos como escriptas ein volta 36 2.0 dia delle em caractéres de fogo estas palavras do amor : "Amou-me e entregou-se por mim" Sim, por mim, como si eu fôsse unico no mundo ; e, si preciso fôra, entregar-se-ia ain da por mim só, afim de ganhar o meu co ração. Só a elle pois, só a elle todo o meu amor ! 2.0 Tornemos o nosso .sacrifício con tinuo como o do Salvador ; encerremo-nos no Coração eucharistico de Jesús; é esse o san tuario em que a victima deve immolar-se con tinuamente ; é nelle ·que se offerece a Deus p sacrifício de louvor que o honra ; é nelle que irradia sobre toda a Igreja o pedido de intercessão que salva as almas. E' assim que consolaremos o Coração divino que faz as suas delicias de estar com os filhos dos ho mens. RESUMO.- O objecto espiritual e prin cipal da devoção ao Sagrado Coração é o amor de Nosso Senhor dedicando-se á salva ção dos homens, mórmente pela Paixão e pela divina Eucharistia. O objecto sensiuel é o Sagrado Coração de J esús, esse verdadeiro Coração de carne unido hypostaticamente ao Verbo divino, Coração vivo nos nossos tabernaculos, sym- Amor do S. Coração 37 bolo da caridade sem limites que Jesús Cbristo tem para cada um de nós ; fóco ar dente do amor com que elle quer abrasar a tura ; asylo de todos os corações afflictos·: fonte de delicias para as nossas almas e prin cipio de todas as graças; e, não obstante, Coração saturjldo de amargura pela indiffe rença e ingratidão dos homens. O objectq do nosso culto relativo é a imagem do Sagrado Coração de Jesús repre sentado ou com o que nos lembra a sua Paixão, ou com o que nos lembra a sua vida eucharistica. · TERCEIRO DIA Finalidade intima da devoção ao Sagrado Coração: attrahir todos os corações ao amor de Nosso Senhor Já vimos que o intuito de N. Senhor nos escriptos de Santa Gerttudes foi fazer conhecer a ternura do seu Coração, attrahir desse modo a si muitos corações. Jesús tambem deu varias vezes sensivel mente os nossos corações a Gertrudes, e re cebeu o coração da Santa em troca, para nos assignalar o dom mútuo dos corações que o seu ·amor pede entre elle e nós. Conservou sempre o coração de Gertrudes fiélmente unido ao seu. para nos servir ainda de modelo : "Gertrudes, dizia Jesús a Sta. Mechtilde, adhere de tal forma ao meu Coração, e con servo-a de ral forma unida a elle, que ella se tornou um tmesmo espírito commigo. Por isto ella vive em absoluta dependencia das minhÇI$ vontades; os m�mbros estão m'enol$ Escopo intimo desta devoção 39 sujeitos ao coração do que Gertrudes está su• jeita ás minhas vontades. Mal o homem diz á mão, só pelo pensamento: faze isto; ao olho : ólha; á lingua:fala; ao pé: anda; logo, sem a menor demóra, a mão, a língua, o olho, o pé obedecem. Gertrudes é para mim como uma mão, um olho, uma língua de que dis· ponho a meu talante, sem que elles resistam a nenhum dos meus desejos". Jesús manifesta em particular a Gertru• des o quanto o seu Coração divino deseja a conversão dos peccadores. A Santa rezava um dia por uns malvados que haviam causado um grande prejuízo ao seu mosteiro. Nosso Se· nhor mostrou-se então a Gertrudes : estava com um braço 'dolorosamente dobrado e tor· ciclo, os nervos pareciam-lhepartidos. E Jesús lhe disse : Aquelles que me pedem pela con· versão desses infelizes derramam um balsamo salutar no meu braço doente,. e com mão deli· cada reconduzem pouco a pouco os músculos á posição primitiva" Surpresa com este ex· cesso de benignidade, Gertrudes disse a Jesús : "Dulcíssimo Senhor, como podeis chamar vosso braço a taes pessôas tão indignas dessa honra? - Chamo"lhes assim com. t)erdade, porque ellas são do corpo da Igreja, de que 40 3,o dia me honro de ser a Cabeça. Por isto o inte resse das suas almas desperta em mim soli citudes inexprimiveis: o meu coração deseja com indizível ardor que esses infelizes se con vertamH REFLEXÕES. - 1 . o A finalidade Ínti ma que Nosso Senhor se propoz revelando ao mundo a devoção ao seu Sagrado Coração, é ainda o amor dos homens, que elle quer attrahir todos a si. Jesús quer ter o coração do homem: "Meu filho, dá-me o teu cora ção" Mas o amor suppõe o conhecimento ; a causa do amor é o bem conhecido e sympá thico a nós. Si até aqui Jesús não foi amado, é que não foi conhecido : eis porque elle ten ta um derradeiro esforço para diffundir por toda parte o conhecimento do seu amor. Basta que o homem olhe para esse Coração aberto pelo amor, para que comprehenda o quanto é amado, para que veja que tem um Salvador, um amigo, e, si quizer pensar nisto um ins tante, é impossível que não se sinta attrahido, porquanto o amor attrahe necessariamente o amor, 2.0 Jesús quer, pois, primeiramente fa zer-nos conhecer o seu amor a todos os ho mens. Por este meio, quer vir a. estender so- Escopo intimo desta devoção 41 bre todos o reino do amor. Este reino con siste principalmente no dom mútuo dos co rações, entre elle e nós, na união de vida e de sentimentos do nosso coração com o seu Coração. O nosso dulcíssimo Senhor precede nos, dá-nos em primeiro o seu divino Co ração. Não é de toda justiça que a sua pe quena creatura lhe dê o seu em troca ? E' esta a lei do amor. E por certo, nessa troca, não somos nós que tudo temos a ganhar como nobreza, como belleza, como paz, como ale gria, como felicidade ? Oh ! que admiravel condescendencia, que nosso Deus queira assim dar-nos o seu Coração para ter o nossó cor,a ção ! que permúte os seus thesouros com a nossa miseria, o seu poder com a nossa fra queza, a sua sabedoria contra a nossa igno rancia ! Oh ! saiamos de nós mesmos como o amor faz sair de si mesmo o nosso Deus ! ( 1 ) Nós, nós somos a miseria, o -erro, o mal, a perturbação, o tédio ; saia o nosso coração desse meio onde definha ; perca-se em J esús ; abysme-se nesse Oceano de rnisericordia, nes sa Fonte de todos os bens, nesse Centro de paz, nessa Torrente de felicidade! ( 1 ) Amor divimts e.vtasim facit. ( S. Diony sio.) De D. N oin., ç. 4. · 42 3,<> dia A unidade de vida e de sentimentos é ainda uma lei do amor gravada na nossà na tureza ; o amigo tem a mesma vida que o seu amigo : convivit; quer e pensa como elle : concordat (I ) ; sem este accordo das vonta des e dos sentimentos, a amizade não poderia ser verdadeira. Oh ! Jesús que sois nosso Amigo no supremo gráo (2) , vinde e vivei nos nossos corações, que quereis possuir in teiramente. Seja o vosso Coração o nosso co ração ; a vossa vontade seja a nossa vontade, as vossas virtudes tornem-se as nossas vir tudes : falae em nós, orae em nós, fazei vós mesmo todas as nossas obras. Só por esta união é que podemos satisfazer o vosso amor ; só por esta união é que as nossas obras se tornam verdadeiramente divinas e merecem a recompensa divina que nos haveis promet tido. 3 .0 Pela ·devoção do Sagrado Coração, Jesús quiz especialmente propôr aos pecca dores o oh jecto e o meio mais proprios para convertel-os. Si o peccador se põe um instan te em contemplação desse Coração que tanto o amou e tanto o ama ainda, si se diz : Eis ( 1) Santo Thomaz. (;n Christus est tiU:Mimc amicús. (S. Thomaz;) , Escopo intimo desta devoção 43 esse Coração que para me salvar soffreu tão cruéis tormentos ! e por meus peccados eu o afflijo, encho-o de amargura ! não é posssivel que não se sinta tocado e não se proponha converter-se. E para incentivar-lhe, para fa cilitar-lhe o regresso, o terno Salvador offe receu-lhe ao mesmo tempo o meio m'ais dôce e mais seguro : é o amor que o seu Coração lhe quer communicar ; seja qual fôr o numero dos seus peccados, o amor apagai-os-á todo!!. Jesús dar-lhe-á o amor, e o amor assegurar lhe-á o perdão. Jesús quiz sobretudo preparar indirecta mente o meio mais efficaz para a conversão dos peccadores, inflammando o zelo dos irmãos delles mais fié.is que deverão auxiliar o Redemptor a salvar essas pobres almas. E' principalmente ao contacto sagrado desse Co ração que tanto amou os homens que o zelo da alma dedicada se atêa de viva chama. Ven do o que Jesús fez por seus irmãos, essa alma quer fazer como elle : orar, dedicar-se, soffrer. Nada lhe custará para completar o que falta á Paixão do seu dilecto Salvador em mira a assegurar a salvação das almas. CONCLUSÃO PRATICA. - l .-0 Appli querno-nos ao conhecimento do amor do 44 3.o dia Coração de Jesús, e façamol-o conhecer a todos. 2 . o Repitamos a miúdo esta prece dos filhos de Jesús : Meu Deus ,dou-vos o meu coração, dae-me o vosso. Tendamos, pela imitação do Coração de J esús, a transformar nos completamente nelle. 3 .0 Trabalhemos com zelo, pela oração e pelo sacrifício, em reconduzir ao Coração de Jesús essas pobres almas cuja conversão elle tanto deseja. PENSAMENTOS DE STA. GERTRUDES . - 1.0 Jesús, pelos escriptos de Sta. Getru des, far-nos-á conhecer cada vez mais a ter nura do seu divino C<;>ração, attrahirá cada vez mais os nossos corações ao seu amor. 2.0 A união com o Coração de Jesús requer que vivamos em absoluta dependencia das suas vontades. · 3 .0 Aquelle que reza pela conversão dos peccadores derrama balsamos nas chagas de Jesús. RESUMO. -' A finalidade intima da de voção ao Sagrado Coração é : 1 . o Propagar o conhecimento do amor de J esús-Christo a todos os homens, Escopo intimo desta devoção 45 2.0 Estabelecer o reino do amor nas Z.: mas fiéis, pelo dom mútuo dos corações .:�rre Jesús e nós, e pela união de vida e de s.:ntimentos. 3 .0 Propôr aos peccadores o objecto e o meio mais proprios para convertel-os, conci tando-os a amar Nosso Senhor. Ademais, favorecer-lhes a conversão pelo zelo e pelas orações das almas animadas da devoção ao Sagrado Coração. QUARTO DIA VIda intima do Coração de Jesús. Santa Gertrudes via um dia as suas com panheiras se apressarem em ir á igreja, para assistir ao sermão, emquanto a doença a re ,tinha na cella : Ah! meu caríssimo Senhor, diz ella gemendo, como eu iria gostosamente ao sermão si não estivesse doente! - Quere:;, minha dilecta, respondeu Nosso Senhor, queres que eu, proprio prégue para ti? - Com muito gosto" , replicou Gertrudes. Então J esús inclinou a alma de Gertrudes para o seu Coração, e ella logo discerniu neste duas pulsações dulcíssimas de ouvir : "Uma destas pulsações, diz Jesús, opéra a salvação dos peccadores; a segunda, a santificação dos jus tos. "A primeira fala sem trégua a meu Pae, afim de lhe aplacar a justiça e attrahir a mi sericordia. Por essa mesma pulsação falo a todos os santos, desculpando junto a elles os Vida intima do S. Coração 47 peccadores, com o zelo e a indulgencia de um bom irmão,. induzindo-os a intercederem por elles. Essa mesma pulsação é o incessante ap pello que dirijo misericordiosamente ao pro prio peccador, com indizível desejo de vêl-o regressar a mim, que não me canço de es perai-o. "Pela segunda pulsação digo continua mente a meu Pae quanto me felicito de ter. dado o meu sangue para resgatar tantos jus tos, no coração dos quaes frú9 tantas ale grias. Convido a côrte celeste a admirar com migo a vida dessas almas perfeitas e a dar graças a Deus por todos os bens que elle já lhes deu ou lhes prepara.Enfim, esta pul sação do meu Coração é a conversa habitual e familiar que tenho com os justos, já para lhes testemunhar deliciosamente o meu amor, já para reprehendel-os das suas faltas e fazel-os progredir de dia em dia, de hora em hora. "Nenhuma occupação exterior, nenhu ma distração da vista, do ouvido, interrompe as pulsações do coração do homem; assim o governo providencial do universo não será capaz, até o fim dns seculos, de deter, de in terromper de moderar,. siquer por um instante, istas duas pulsações do meu Coração : " 48 4.0 dia Na quinta-feira santa, Jesús fez com partilhar ao coração de Gertrudes as angustias que o seu divino Coração experimentou ao aproximar-se a sua Paixão. Parecia á santa que Jesús passava todo aquelle dia na pros tração e nos soffrimentos da agonia, porque sabia d'antemão tudo o que devia aturar. Por isto, como elle era Filho duma terna Virgem e mais delicado ainda que sua Mãe, assustava-se e tremia a todo momento, apre sentando já f!S convulsões e a pallidez dum moribundo. A Gertrudes, partilhando-lhe as angustias, sentia tal compaixão delle que, si tivesse o poder de mil corações, tel-oia cen sumido todo naquelle dia em compadecer-se de amigo tão �.:aro e tão amavel. Sentia tam bem no seu coração violentas pulsações, pro vocadas pelo desejo e pelo amor, que corres pondiam ás pulsações do Coração de Jesús, de sorte que estava prestes a desmaiar sob a violencia dellas. Ora, o Senhor lhe disse : "O amor que me animava no tempo da minha Paixão,. quando eu supportava no meu Co ração todas essas angustias, sito-o hoje no teu coração, que tantas vezes se tem com movido e penetrado de compaixão pelas mi nhas dôres, pela salvafáO dos meus eleitos. Vida intima do S. Coração 49 A.ssim, dou-te em troca dessa compaixão que me teStemunhaste durante aquelle dia� tedo o preço da minha sagrada Paixão pelo bem de tua alma, e quero que recebas tambem, para distribuil-o a toda a Igreja, esse mesmo fruto da minha Paixão em todos os lugares onde se adora hoje em dia o lenho da Cruz" . REFLEXÕES. - A vida intima do Co ração de Jesús póde resumir-se nesta só pa lavra : Amor - Charitas est. As duas pul sações do divino Coração que Gertrudes ou viu, são pulsações de amor ; amor a Deus e ás nossas almas; amor aos justos e aos pec cadores ; amor que une com o Sagrado Co ração, e tambem entre si, os diversos mem bros do seu corpo, e faz que se amem mú tuamente e sirvam ao bem uns dos outros : como o coração humano, que envia o sangue a todos os mebros do n_osso corpo, lhes serve assim de centro a todos, e faz circular de um a .outro esse liquido nutritivo que cada um delles contribuiu para preparar. Nós, portanto, membros do corpo mys tico de Jesús, animados pelo seu divino Co ração, devemos receber em nós essa corrente de amor que elle envia a todos os seus mem bros, sentir a repercussão das suas divinas 50 4.• dia pulsações, compartilhar-lhe assim os sentimen tos, e viver em tudo da sua vida santa. Esta vida, dissemol-o, é o amor, e este amor tem como que um duplo movimento produzido pelas duas pulsações do Coração de J esús ; o da acção de graças pela vida recebida, o da re paração pela vida perdida ; mais ou menos como no corpo humano ha, sob o impulso do coração, o duplo movimento da circulação que envia o sangue arterial aos diversos membros, e da reabsorpção que lhes repara as forças perdidas. Oh ! sim, sintamos bem em nós os senti mentos do Coração de Jesús ! Pulse sempre o nosso cQração com essa dupla pulsação de acção de graças e de reparação, que é incessan te no divino Coração ! Entreguemo-nos em primeiro lugar a essa acção de graças que esse Coração tão agradecido deseja tanto continuar em nós. Felicitemos primeiro a elle proprio pela gloria que adquiriu para si soffrendo pelos homens, "pelas alegrias multiplas que desfruta no coração de tantos justos ganhos por seu amor" Por elle, em seguida, convi df:mos a Côrte celeste a celebrar comnosco a caridade infinita do nosso Deus, a render-lhe graças comnosco por todos os bens que já Vida intima do S. Coração 51 nos concedeu ou nos prepara. Unamo-nos umbem, por elle, a esse concerto de louvores que se eleva sem cessar de todos os pontos da terra, inspirados pelo louvor perpetuo que �nta o Coração de Jesús em todos os nossos ubernaculos. Fale em seguida o nosso coração sem trégua a Deus Padre em favor dos pobres pec �dores, que são seus filhos como nós. Offe r.:ç.unos-lhe incessantemente as homenagens ea reparação para aplacar-lhe a justiça offen :iida, e preces de propiciação para attrahir iObre todos a sua misericordia. Chamemos em :::tosso auxilio todos os habitantes do céo, un:a :::to-nos a todas as almas santas da terra para interceder em favor de nossos irmãos e obter ibes o perdão. Unamo-nos sobretudo aos dese jos ardentes do Coração de Jesús pela con n-rsão delles, offereçamos incessantemente por �lles o sangue do Redemptor, cuja voz sem pre ouvida chama misericordia para todos. O trabalho da reparação deve ser acom panhado dum sentimento que vem auxiliai-o : é a compaixão,. e esta nos traz necessariamente a uma pratica que lhe é a consequencia rigo rosa : a immolação. Jésús queixa-se nas suas dôres de não encontrar corações compassivos, 52 4.• dia Ah ! nós ao men-os, respondamos á sua queixa como amigos dedicados ; compadeçamo-nos vivamente do seu Coração saciado de oppro brios e de amargura. Compadeçamo-nos del te na sua Igreja, que com elle é crucificada hoje em dia num novo Calvario ; compadeça mo nos delle nesses pobres peccadores que lhe são os membros tão doloridos, que renovam em si mesmos as dôres da sua paixão. Com padeçamo-nos delle pelo desejo, pelo amor. pelo soffrimento. Entristeçamo-nos com elle para consolai-o ; compartilhemos-lhe as dôres para suavizal-as ; offereçamo-nos sem reserva com elle como victimas de propiciação e de immolação, afim de supprirmos em nós mes mos o que falta á sua Paixão para a conver são dos peccadores ; entreguemo-nos com elle a um zelo sem limites, sem reserva, pela ora ção, pela acção, pelo sacrifício. Oh ! como o Coração de Jesús se enter necerá em favor dos corações que assim o quizerem consolar ! Como abençoará os que o auxiliarem assim a assegurar a utilidade do seu Sangue, a consummar a salvação dessas almas que lhe são tão caras! Ah ! não duvi demos, elle nos dará a nós tarnbem, como a Sta. Gertrudes, de modo especial , por urna Vida intima do S. Coração 53 especie de apropriação, todo o fruto da sua Paixão, para que o appliquemos a nós mes mos, para que o derramemos em todas as 3lmas de nossos irmãos. CONCLUSÃO PRATICA. - 1 .0 Acção de �raças habitua"es dadas ao Sagrado Coração :!;: Jesús por todos os seus beneficios . • o Reparações ardentes, desaggravos, para : .:-mpensar, · tanto quanto estiver em nós, a :=�gratidão dos homens para com esse amavel 5.ã.Indor. 3 .0 Vivos sentimentos de compa1xao ;.-.l.ra com o divino Coração saturado de op ?rObrios e de amargura. 4.0 Offerecimento sem reserva de nos mesmos como victimas de immolação e de propiciação, afim de consolarmos esse divino Coração e completarmos em nós o que falta á sua Paixão para a conversão dos peccadores, isto é, zelo sem limites, sem reserva, pela ac ção e pelo sacrifício. QUINTO DIA Os desejos do Coração de Jesús. "Um dia de quinta-feira santa, Sta. Ger trudes viu o Senhor Jesús antes que as Irmãs se aproximassem da sagrada mesa, reduzido a um estado de extremo desfallecimento pela vehemencia do desejo que tinha no seu divi no Coração de se unir áquellas almas dilectas. Estava como jacente por terra e não tendo mais forças. A Santa ficou tão commovida, que ella propria se sentiu a pique de desmaiar ; mas o Salvador fortificou-a e lhe fez com prehender que aquelle desfallecimento era o triumpho do seu amor, e que elle ia ficar no cumulo das suas delicias dando-se pela sagra da communhãoáquellas almas que tanto de sejara" . ( IV, 25 ) . Um dia Sta. Mechtilde, estupefacta com as provas de ternura do Coração de Jesús, queria, por um sentimento de respeito, afas tar-se um pouco delle ; mas elle, ao contrario, Desejos do S. Coração 55 mais a attrahia, dizendo-lhe : "Não, fica com migo para que eu saborêe a minha ventura" . (I . 1 9 ) . D'outra vez, disse-lhe o Senhor : "Nada me proporciona tantas delicias quanto o co ração do homem, sem o qual todavia devo muitas vezes passar. Tenho todos os bens em abundancia; só o coração do homem é que me foge ainda" (IV, 54) . REFLEXÕES. - 0 Coração de Jesús é todo desejo, tatus desiderium ( 1 ) . Deseja a gloria de seu Pae, pela qual trabalha unica mente ; deseja o coração do homem, para haurir nelle as suas delicias ; antes da sua Pai xão, desejava ardentemente soffrer para nos purificar no baptismo do seu sangue ; hoje. deseja com grande desejo vir a nós pela com munhão para nos santificar ; deseja-nos por que nos libertou por seus soffrimentos, com prou por seus trabalhos, conquistou por suas victorias ; deseja-nos porque lhe somos o bem. a gloria, a felicidade, Ah ! demos-lhe pois o que elle tanto deseja. Quem somos nós para recusar ao amor aquillo que elle deseja ? Meu I (1) Cant. (v. 16) , s_egundo o hebraico. Vêr Cornelio a Lavide, 56 5.o dia Deus, vós que vos bastaes eternamente na plenitude dos vossos be�s. quizestes, por uma extrema delicadeza de amizade, precisar de nós, e, , agora que solicitaes o nosso coração com ternura infinita, teríamos a triste cora gem de vol-o recusar ? Pedis-nos o coração para santificai-o e abençoai-o, e seríamos bas tante insensatos para não vol-o dar ! Quereis enchei-o dos vossos bens, do vosso amor, da vossa divina beatitude, e seríamos bastante máos para val-o fechar ! Oh ! não, amor ! O' Deus desejoso de tudo e todo desejavel, vosso, só vosso seja todo o nosso coração ! Abando namo-vot-o para sempre, sem temor e sem reserva ; abandonamo-val-o por puro amor ; entregamol-o inteiramente aos vossos desejos. Mas nós tambem, por nossa vez, dese jemos a Jesús que tanto nos deseja. Elle é para nós todo desejavel, sejamos para elle to dos desejo. O desejo, · dizem, é o amor do bem ausente : ai! Jesús está ausente para nós . : pere gre profectus est. Oh ! desejemos ir procurai-o, achai-o, chegar até elle : Oh! ire, oh! sibi perit'e, oh ! ad te pervenire! (S. Aug. Serm. CLIX. ) Desejemol-o com esse desejo que consumia o coração do Apostolo, quando ex damava : "Estou angustiado, desejo ser dis- Desejos do S. Coração 57 solvido para me ir juntar a Jesús" . Oh ! si soubéssemos o quanto lá de cima elle nos de seja ! si soubessemos que todos os Santos, par tilhando-lhe os desejos, esperam com impa ciencia, como elle dizia a Sta. Gertrudes, o momento em que iremos com elles augmen tar-lhe os amores, oh ! como desprezaríamos esta terra, comio os nossos olhares se volveriam para o céo, como o nosso desejo e o nosso coração se fixariam lá em cima, onde está todo o nosso thesouro ! Mas emquanto nos não é dado possuir a Jesús no céo, desejemos neste mundo fazer lhe a vontade, possuir-lhe o Coração, ��ir nos á sua Cruz. Como Gertrudes, procure· mos sempre conhecer-lhe a vontade para cum pril -a fielmente ; estejamos sempre ·"com pres sa" para lhe executar as ordens ; apprehenda mos com solicitude os menores signaes que nos manifestam o bemplacido do seu Cora ção, e empenhemo-nos com todas as nossas forças em satisfazel-o. Peçamos-lhe sem ces sar o seu Coração sagrado que é o penhor da sua ternura, o nosso verdadeiro thesouro. o orgão do nosso amor. Que elle nos una com sigo numa mesma caridade! Oh ! amor, o que fazes faze-o quanto antes. Oh ! Si os dons 511 5,o dia do amor são tão desejaveis, que não deve ser o proprio amor, fonte de todos, esses dons? Senhor é a vós que eu amo, é para vós que sou feito : nada poderá satisfazer-me sinão vós mesmo, nada poderá contentar o meu coração sinão o dom do vosso Coração ; quero cada - vez mais dar-vos o meu sem reserva, para que me deis o võsso todo. A Cruz não se separa do dom do Co ração de Jesús, nunca o esqueçamos. A alma unida a esse divino Coração, não mais sen tindo sinão pelos sentimentos delle, deseja como elle esse baptismo de sangue em que acabará de purificar-se em que se transfor mará com elle numa victima santa pela sal vação do mundo. O amor da Cruz é o signal dos amigos dedicados do Coração de Jesús, o desejo da Cruz é levado nelles não raro até á paixão, até á loucura. "Penso, dizia uma dessas almas generosas, ( 1 ) , que o desejo de soffrer me fará morrer" . Quanto a nós, en treguemo-nos ao menos· a esse desejó em união com o Coração de Jesús ; digamos com a Victima santa : "Aqui estou, meu Deus, para fazer a vossa vontade" , e faça-se em seguida seu bel prazer. ( 1 ) A B, M. da Incarnação (Sra. Acarie) . Desejos do S. Coração 59 Entreguemo-nos a desejos sem limites, primeiro nas nossas orações. Corno Daniel a orar pelo seu povo, sejamos homens de de sejos, e as nossas orações, corno as delle, mere cerão ser ouvidas pela salvação da Igreja. Santa Gertrudes, concentrando no coração de sejos universaes e infinitos, soava com os de sejos de todo o universo, ex affectu totius universitatis, e para o maior bem de todo o universo, no céo na terra e no purgatorio. Eis um coração verdadeiramente segundo o Coração de Jesús, grande corno elle, amando corno elle, desejando corno elle. Transporte mos esses desejos sem limites a todas as noss_as obras, para que essas obras possam corres ponder ás necessidades da Igreja, que são sem limites. Pequenas em si, ellas serão engran decidas pelos nossos desejos, e Jesús, que torna o desejo pela realidade, dar-lhes-á valor sem ·:mites para a salvação do mundo. "O' meu Deus ! dizia Sta. Catharina de Senna, corno fareis nestes desventurados tempos para pro vêrdes ás necessidades da vossa lgre ia ? Sei o aue fareis : o vosso amor suscitará hornenr de desejos ; as suas obras finitas, juntas a de sejos infinitos, far-vos-ão attender-lhes os anhelos pela salvação do mundo" . 60 5.0 dia Parece, porém, que é sobretudo no to cante ás cruzes que, nestes tempos em que as almas são tão fracas, o Coração de Jesús espera de nós grandes desejos para supprir aquillo que não podemos soffrer : "Senhor, dizia Sta. Gertrudes, inspirada pelo Coração de Jesús, offereço-vos todos os soffrimentos de minhas Irmãs, com o desejo de atural·o.r até o fim do mundo, si fôr o vosso benepla cíto. - Faze-me amiudadamente este offere cimento que me inebria o Coração e o torna incapaz de vos recusar o que quer que seja. Já que esse offerecimento vos é tão grato, ensi nae-me como vol-o poderei fazer sempre. - Offerece-me sempre, com coração contrito e humilhado, o desejo de soffrer para minha gloria, si preciso, todos os soffrimentos do mundo até o fim dos tempos, e alcançarás do meu coração tudo quanto lhe quizeres pedir" CONCLUSÃO PRATICA. - 1 .0 Dizer ás vezes a invocação : O' J esús, uni a minha von tade á vossa vontade, o meu coração ao vosso Coração, a minha cruz á vossa cruz. 2. o - Offerecer as nossas orações, ac ções, penas com a piedosa formula de Sta. Gertrudes : com o amor de todo o universo e do proprio P�1,1s, e para que sirvam il um Desejos do S. Coração 61 augmento de graça ou de gloria para todos os habitantes do céo, da terra e do purgato rio cum delectamento divinitatis ex affectu totius universitatis, ut cedat in augmentum salutis omnibus crelestibus, terrestribus et pur gendis. SEXTO DIA Os desejos do Coração de Jesús (continuação) Gertrudes foi, por excellencia, a Santa dos desejos, e mereceu que muitas vezes nos so Senhor a certificasse de que esses desejos seriam contados corno si se tivessem realizado, e de que acceitava a sua bôa vontade corno urna realidade. Ha, de resto, certo numero de Santos que só se tornaramsantos pelos desejos ( 1 ) : Deus ouviu-lhes a preparação do cora ção. A perfeição das suas disposições valeu lhes as graças maiores, e a santidade das in tenções deu rnerito incornparavel ás suas me nores acções. Ora, é um caracter particular da devoção ao Sagrado Coração, tal corno nol-a faz conhecer Sta. Gertrudes, o santifi carmo-nos pelos desejos. U:tilizernos pois este ( 1 ) S. JoãQ Berchmans, por exemplo. O Ve neravel Padre de la Colombiere dizia tambem a res peito do desejQ tão perfeito que o santificou : Deus não poderia deixar de tomar o desejo pela realidade. Desejos do S. Coração 63 meio tão facil, tão dôce, tão animador. Vol vamos todas as nossas intenções para Deus. Unamo-nos ao Coração de Jesús nas meno res acções por um desejo bem. puro, bem sin cero e sem limites, de glorificar seu Pae, e noss'alma enriquecer-se-á de meritos incom paraveis, e o Coração do bom Mestre ficará consolado de ouvir e de satisfazer em nós os seus proprios desejos. Ha um mysterio de amor em que Nosso �enhor não quer que o frustrem nos seus de, sejos, que a impeçam as delicias do seu Co ração : é o mysterio da sagrada Eucharistia. Comprehendamos bem porque foi que elle a instituiu : foi para estar comnosco até á con summação dos seculos. Não foi certamente para ficar sózinho, abandonado num Taber naculo, verdadeira prisão de amor, onde o deixamos tantas vezes definhar no isolamento. :\h! sim, é ahi sobretudo que elle nos deseja �om grande desejo, é ahi que insta comnosco .1 nos virmos unir a elle, chamando-nos sem �o::ssar, convidando-nos com ínsístencia, for .;ando-nos de alguma sorte a entrar. Respon· dú-lhe pois ao appello ; ide vísital-o com so _ :citude igual ao seu amor ; ide colhe� as gra· �s que elle quer derramar sobre vós p�lo 64 6.o dia seu sacrifício ; ide unir-vos a elle pela sagrada Communhão. Elle vos abre o coração ; não temaes. Não digaes tão facilmente que ainda não estaes bastante preparado ; já que elle vos convida, elle que sabe de tudo, é porque não quer esperar por mais longa preparação. Elle bem sabe o de que somos capazes : não ·nos pede disposições perfeitas ; contenta-se com a nossa bôa vontade. Ide pois a elle sem. tardan ça, com confiança e abandono. Preferí aban donar-vos agora ao seu amor misericordioso, a terdes de prestar contas mais tarde á sua justiça das communhões a que tiverdes falta do por culpa vossa, dos convites da sua ter nura a que não houverdes correspondido, das graças privilegiadas do seu Coração que não tiverdes querido receber. Em vez de regatearmos a J esús o nosso coração, esforcemo-nos antes, como Gertrudes, por lhe trazer comnosco as almas de nossos irmãos transviado& que elle tanto deseja �nir a si pela Communhão. "Manda entrar" , dizia Jesús a sua esposa, as almas pelas quaes re zastes esta semana; porque as quero ter á mi nha mesa" . - Senhor, e como as posso fa zer entrar ? Certamente, por mais indigna que eu seja, si pudésse trazer-vos todos esses ho- Desejos do S. Coração 65 mens com quem vos dignaes fruir as vossas delicias, eu iria de pés descalços bem gostosa mente, desde este dia até o do juizo, buscai-os por todo o mundo ; tornai-os-ia nos braços e vol-os viria apresentar, afim de poder assim satisfazer um pouco que seja o desejo infinito do vosso divino Coração. Mas como poderei fazel-o? - Os teus desejos, respondeu o Se nhor, e a tua bôa vontade bastam para tudo" E nós tambem, si quizermos contentar o Salvador, tratemos de lhe trazer as suas ovelhas desgarradas, que elle tanto deseja es treitar ao seu Coração. Rezemos, ajamos, com batamos, sofframos e, si preciso, morramos para lhe conquistar almas. Hoje, mais q·ue nunca, é o dia do combate. Vêde quantos 1ntm1gos se assanham contra a Igreja ! que conjura infernal se urde para derrubai-a ! dir se-ia que Satanaz tenta um supremo esforço para prevalecer contra ella. Deixem pois os soldados de Christo qualquer outro pensa mento, e lancem-se á batalha. Não é o mo mento de nos occuparmos de nós mesmos e dos nossos próprios interesses ( 1 ) , por mais ( 1) Bem se comprehende que isto não é dito para todos ; quantas almas não ha porél)l que se adiantariam mais depressa e mais seguramente na I 66 6.0 dia importantes que pareçam. E' preciso comba ter ; é preciso soccorrer a santa Igreja; é pre ciso salvar nosos irmãos ! Eis o desejo do Coração de Jesús ! Eis o nosso desejo ! CONCLUSÃO PRATICA. - 1 .0 Desejemos a cada instante, como Sta. Gertrudes, conhe cer os desejos do Coração de Jesús para com partilhai-os com elle e nos esforçarmos por satisfazel-os. 2.° Consideremos como a melhor pre paração para a Communhão o desejo de cor respondermos ao desejo de Jesús. A sagrada Communhão é antes um soccorro para as nos. sas necessidades, do que uma recompensa para as nosas bôas disposições ; é, antes de tudo, uma comida para a qual o desejo é excellen te preparação, como o appetite para a comida do nosso corpo. 3 .0 Sejamos homens de desejos pela sal- .perfeição, si se esquecessem 31 si mesmas uma vez .por todas, para não mais pensar sinão nos interesses de Jesús-Christo e da sua Igreja ! "·Pmsa em mim e e" pensarei em ti", dizia Jesús a Sta. Catharina de Senna. Eis, para muitas almas,. o melhor meio a em pregar para se desvencilharem das suas miserias e avançarem rapidamente nas vias do amor, Desejos do S. Coração 67 vação de nossos irmãos e 'pelo triumpho da Igreja. Assim como os desejos de Maria apres saram a vinda do Salvador, os desejos dos justos, abreviando-lhe os dias de desdita, po derão apressar o dia da salvação para a Igreja. SETIMO DIA Primeiro fruto da detJoção ao Sagrado Co ração : o Coração de Jesús tJitJifica todas as nossas obras. "Trazendo um dia o seu Coração nas mãos, Jesús apresentava-o a Gertrudes e lhe dizia : "Vê o meu dulcíssimo Coração, har monioso instrumento cujos acórdes arroubam a Trindade Santa : dou-t'o, e como um servo fiél e solicito ficará elle ás tuas ordens, para supprír as tuas impotencias ( 1 ) . Usa do meu Coração, e as tuas obras encantarão o olhar e o ouvido de Deus" "Gertrudes hesitava em fazel-o ; Jesús triumphou das suas apprehensões, esclarecendo ainda mais a sua humildade : "Perante uma assembléa respeitavel, diz lhe elle, um homem deve cantar ; mas a voz ( 1 ) O texto traz : Para reparar a toda hora ãs tuas negligencias. Vida d. nossas obras 69 delle é aspera e falsa ; mal póde elle tirar do peito alguns sons que não firam o ouvido. Ora, tú estás perto deU e ; tens, assim o quero, uma voz flexível, límpida, sonora ; podes dar lhe a tua voz ou cantar em lugar delle ; dese jas fazel-o ; elle conhece o teu desejo ; não te indignarias contra elle si elle recusasse cor responder aos teus offerecimentos ? Assim, co nheço a tua miseria, e o meu Coração póde suppril-a ; deseja ardentemente fazel-o, é para elle uma viva alegria : tudo o que elle pede é que lhe confies o cuidado disso, sinão por uma palavr.a ao menos por um sígnal qualquer da tua vontade" REFLEXÕES. - Já lembrámos que o duplo papel do coração no corpo humano consiste em vivificar-nos os diversos orgãos e em lhes reparar as forças perdidas, E' tam bem o duplo papel que desempenha o Cora ção de Jesús no seu corpo mystico que é a Igreja. Só elle deve vivificar tudo nas nossas almas ; só elle póde reparar efficazmente todas as perdas que tivermos. Consideremos pri meiramente a primeira dessas funcções : o Co ração de Jesús vivifica todas as nossas obras e transforma-as em obras santas e divinas. As pa . lavras e os olhares do corpo humano são 70 7.• dia palavras e olhares intelligentes, não que haja intelligencia nos nossos orgãos, mas porque procedem dum principio intelligente ; · assim tarnbem, as diversas obras do homem tornam se obras divinas si procedem desse principio divino que é o Coração de Jesús. O grande ponto na vida christã é pois a união em tudo com o Coraçãode J esús. Esta união, quando habitual. faz-nos chegar rapidamente á mais alta perfeição, corno Nosso Senhor o ensinava a Sta. Machtilde. "Um dia em que ella aca bava de receber a sagrada Cornrnunhão, pare ceu-lhe que o seu coração era absorvido pelo Coração de Jesús e fazia agora urna só causa com elle. Ora, o Senhor disse-lhe : E' assim que eu quero que o coração do homem me seja unido nos seus desejos, de tal sorte que nada deseje por si mesmo, mas regúle todos os seus desejos segundo os desejos do meu Coração, corno dois ventos que sopram junto.s já não formam sinão uma só corren te. O homem deve tarnbern unir-se ao meu Coração em todos os seus actos, de sorte que, si por exemplo quizer comer ou dormir, diga em si mesmo : Senhor, em união desse amor que vos fez crear para mim este ·allivio, vou tornai-o para vossa gloria e para a necessidade Vida d. nossas obras 71 do meu corpo. Semelhantemente, quando houver um trabalho por fazer, diga ellé : Se nhor, em união desse amor que vos fez tra balhar com as vossas mãos e vos faz ainda operar incessantemente em minh' alma ; em união do amor com que me confiaes agora esta tarefa, quero desobrigar-me della para vossa gloria e para a salvação de todos. Já que haveis dito : Sem mim nada podeis fazer, dignae-vos tornar perfeita esta obra pela união com as vossas obras, como uma gôta d'agua que cáe num rio se lhe assimila ás aguas. Una-se emfim o homem ao meu Co ração em todas as suas vontades, de sorte que queira tudo quanto eu quizera, na adversidade e na prosperidade. Assim como o cobre, fun dindo-se no fogo com o ouro forma com o ouro um só metal precioso, assim tambem o coração do homem passará a fazer uma só cousa com o meu Coração, o que é a maior perfeição desta vida" ( III, 27) . Appliquemos por meúdo esta doutrina aos diversos actos da nossa vida. Devemos primeiro unir as nossas orações ás orações do Coração de Jesús : "Um domingo de Ra mos, Sta. Gertrudes, inflammada toda do de sejo de dar hospitalidade a Jesús. como o fi- 7-2 7.0 dia zera naquelle dia á família de Bethania, lan çou-se aos pés do seu Crucifixo e, beijando ,com ardor a chaga do sagrado lado de Jesús. �spirou em si todo o desejo que tivera o seu ·'amabilíssimo Coração, supplicando-lhe, pelo ardor de todas as orações saídas desse Cora ção adoravel, que se dignasse vir a ella. E Jesús logo lhe deferiu a supplica e cumulou-a de seus favores" Como poderia elle resistir ao seu proprio desejo, recusar ouvir a propria prece do seu Coração? O proprio Jesús recommendara-Ihe esse modo de rezar. "Todas as vezes que quizeres rezar por algumas almas, apersenta-me o meu dulcíssimo Coração, em união do amor que me fez tomar este coração de homem para a ·salvação do homem, em união do amor parti cular com que tantas vezes t' o tenho dado, e deste modo conceder-te-ei tudo quanto me pe dires para os homens : será como qu� o cofre dum homem rico que trazem a este para que tire delle presentes para os seus amigos" Não sentimos porventura que deve ter um poder irresistivel sobre o Coração de Jesús a oração feita assim : o· Amigo, peço vos aquillo que quereis mais do que eu : a salvação das almas ? Vida d. nossas ·obras 73 Peço-vol-o em nome do amor que ten -des a essas almas ; peçovol-o para consôlo do vosso Coração ; peço-vot-o em nome da ami zade que tantas vezes me tendes testemunha do ; peço-vol-o em nome do vosso Coração que tantas vezes me tendes dado ! Oh ! sim, si quizermos rezar assim, bem podemos dizer, e a Igreja a isto nos convida na sua liturgia : achei o meio de rezar com uma oração soberanamente efficaz, achei o Coração de Jesús que é tambem o meu co ração ( 1 ) , visto que sou membro do seu cor po ; com esse Coração, rezarei a Deus, meu Pae, e a minha oracsão será sempre ouvida. CONCLUSÃO PRATICA. - Rezemos por intermedio do Coração de Jesús, aspirando em nós os seus desejos, amando com o seu amor, querendo com a sua vontade. e deste modo a nossa oração será sempre ouvida, por que será sempre segundo o Coração de Deus. ( 1 ) Hoc igilur invcnio C arde tuõ et mcoJ. ( Off. S. Cordis ]., Lect. li, Noct. ) . OITAVO DIA O Coração de Jesús vivifica as nossas boas obras (continuação) . Sta. Gertrudes ensina-nos tambem como as nossas a:cções são ennobrecidas e santifica das pela união ao Coração de Jesús. Recom menda á alma depositar todas as suas obras no Coração de Jesús como num ninho ce leste, para que ahi se deifiquem pelas suas divinas intenções. Parece porém que, o que o Coração de Jesús deseja acima de tudo é que unamos as nossas penas ás suas para que elle lhes commu nique os seus meritos infinitos. Não ha nada que elle recommende tão a miúde. Um dia em que Sta. Mechtilde achava que as suas enfermi dades a tornavam como inutil para o serviço de Deus, Jesús lhe disse : "Deposita todas as tuas penas no meu Coração, e dar-lhes-ei a maior _perfeição para utilidade de toda a Igreja. Do mesmo modo que a minha divin- Vida d. nossas obras 75 dade uniu a si os soffrimentos da minha hu manidade para divinizai-os, assim tambem quero unir a mim os teus soffrimentos para tornai-os p.-:rfeitos. Offerece-os ao meu amor dizendo : O' Amor, confio-te as minhas penas na mesma intenção com que m'as haveis tra zido do Coração de meu Deus, e rogo-te que as leves a elle pela mais perfeita gratidão, quando lhes tiverdes dado a ultima perfeição. E' assim que o teu coração se unirá a esse amor que me fez abraçar a Cruz de todo o meu coração, e a essa gratidão com ,que agradeci a meu Pae o haver-lhe _permittido soffrer por aquelles que amo ; e do mesmo modo que a minha paixão deu frutos infinitos no céo e na terra, assim as tuas penas, mesmo as mais pequenas, unidas com a minha paixão, darão frutos taes, que os habitantes do céo rece berão com elles- um accrescimo de gloria ; os justos, maior merito ; os peccadores, o perdão ; e as almas do purgatorio, um allivio. Que ha, com effeito, que o meu divino Coração não possa mudar em melhor, já que todo bem que contêm o céo e a terra saiu da bondade do meu Coração?" Oh ! porque não haV'eriamos tambem nós de assegurar ás nossas penas, mesmo ás 76 8." dia menores, esses frutos incomparaveis que a união com o Çoração de Jesús assegurava ás da nossa Santa ? Porque não as haveríamos tambem nós de receber, com aquelles senti mentos de amor e de gratidão que ella hauria no Coração do Salvador ? E' no entanto tão facil e tão dôce ! Não se trata de soffrer mais, porém melhor, porém com mais consôlo e mais fruto. E isto se reduz a soffrer tudo em união com o Coração de Jesús. Oh ! seja doravante a nossa pratica habitual. Não é evidente que si levarmos assim as nossas penas ao Coração de Jesús, ellas serão logo grandemente consoladas ? Uma vez, Sta. Mechtilde rezava por uma pessôa afflicta ; disse-lhe o Senhor : "Venha ella trazer-me as suas penas com simplicidade de criança ; bus que a sua consolação no meu Coração com passivo, e nunca a abandonarei" Jesús fez dom do seu divino Coração ás nossas almas. accrescenta a Santa, para que na tristeza nos refugiemos nelle com confiança. Sta. Gertrudes tinha o habito de offere recer a Deus o cantico de lou{)or e da acção de graças "com o instrumento melodioso do Coração de Jesús e segundo as intenções do Coração de Jesús, em nome de todas as crea- Vida d. nossas obras 77 turas" : - Sta. M echtilde tambem usa muitas vezes desse Coração dulcíssimo como duma {yra, para fazer resoar um canto de louvor e de gratidão em intenção de todos ( 1 ) . O Coração de Jesús era ainda especial mente para as duas Santas o orgão do seu amor, e succedeu-lhes muitas vezes, quando se achavam tíbias e sem devoção , sentirem o Coração divino pousar-se-lhes sobre o cora ção, como ouro em brasa, e inflammal-o de seu amor. Jesús déra seu Coração a Sta. Mechtildl.', e offerece-o igualmente a cada um de nós para uma tríplice união e como
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