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Amor Paz e Alegria - Livor em PDF

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AMO R, 
PAZ 
E 
ALEGRIA 
Mez do Sagrado Coração de Jesus 
segundQ Santa Gertrudes. 
Pelo 
Revmo. P. Dr. ANDRE' PRÉVOT. 
da Congreg. dos Padres do Sagrado Coração 
Taubaté 
Publicações S . C . J . 
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IMPRL'IATUR 
Taubate, die 22 outubris 1937 
t André, Bispo Dioces. 
IMPRDII POTEST 
Taubat-é, die 16 novembris 1937 
P. P. Storms 
�raep. prov. brasil. 
APRESENTAÇÃO 
PELO EDITOR 
Na natureza não ha saltos, nem pheno­
menos isolados, infundados, sem nexo com 
outros factores. Tão pouco os ha normal­
mente no reino da graça. Neste como naquella 
tudo está organicamente ligado, desenvolve­
se aos poucos, de pequeninos germens para 
flôres maravilhosas e frutos deliciosos. 
Com todo direito podemos affirmar que 
o culto ao Sagrado Coração de Jesús é tão
arttigo quanto o christianismo. Tem as suas 
longínquas e tenues raizes no Antig� Testa­
mento, porém o verdadeiro raizame nos san· 
tos Evangelhos, onde se condensam as ma­
nifeStações do seu divino Coração durante a 
sua vida toda, privada e publica. Revelou-o 
e/le sobretudo no Cenaculo e na Cruz, ins­
tituindo a ss. Eucharistia e acceitando o golpe 
de lança que o abriu ao mundo inteiro. 
4 Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. 
Os Padres da Igreja não deixaram de ex­
plicar muitos textos da Sagrada Escriptura no 
sentido dessa devoção, como tambem não 
deixaram de praticai-a. Sobretudo para São 
Chrysostomo, Origenes e Santo Agostinho, o 
Sagrado Coração de Jesús era a fonte de amor, 
de graça e de meritos. Escólhem-no para nelle 
estabelecerem a sua morada, o seu refugio, 
na vida e na morte. 
Só na Idade Média começam a multipli­
car-se os testemunhos. Surgem sempre mais 
almas piedosas e santas que conhecem e ve­
neram o divino coração de Jesús. Entre e/las 
ha duas santas irmãs, Santa Mechtilde ( 1 24 1 -
1 298 ) e a grande Santa Gertrud�s ( 1 256-
1 302) , ambas monjas benedictinas, que, fa­
vorecidas de revelações extraordinarias, se sa­
lientam nesse terreno com dedicar-lhe um 
culto todo especial, com fazel-o objecto de 
uma d(JI.)oção importantíssima, 
Notavelmente promoveu o culto ao Sa­
grado Coração o cartusiano Landsberger
(t 1 539) , divulgando os escriptos das 'duas
grandes santas e facilitando-o por imagens 
symbólicas. E' para notar que fez elle isso 
15 O annos antes de Santa Mar gari da Maria. 
De modo semelhante veneram-no muitos 
Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. 5 
outros, como São Bôaventura, S. Pedro Ca­
nisio, Santo Aloysio, etc. S. Francisco de 
Salles fundou a Visitação em 1 6 1 O com o 
fim especial de tributarem as Filhas do Sa­
grado Coração um culto particular ao Co­
ração Divino. S. João Eudes ( 1 60 1-1680) 
juntou a devoção dos Sagrados Corações de 
Jesús e de Maria. 
Desde as duas grandes iniciadoras da ad­
m-iravel devoção 400 annos se passaram sem 
que a mesma se completasse. Veiu então 
Santa Margarida Maria ( 1 647-1690).., es­
colhida por Deus para completal-a e introdu­
zil-a publicamente, officialmente. O proprio 
Nosso Senhor preparou a bemaventurada para 
a sua grande missão, em apparições successi­
vas, e associou-lhe o veneravel Padre de la 
Colornbiere como instrumento de execução e 
propaganda. 
Na celebre appai:ição de Junho de 16 7 5 . 
Nosso Senhor queixou-se á sua serva da frieza, 
indifferença e ingratidão dos homens, sobre­
tudo dos que lhe são consagrados, e isso apesar 
de. tantos beneficios que lhes fazia e de tan· 
tos sacrifícios que por elles havia feito. Em 
càmpensação de tan.tos çrimes e injurias, exige 
6 Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. 
elle dos seus devotos não só amarem-no sin­
ceramente, como tambem repararem o mais 
possível as injurias que lhe são feitas, por 
actos de desaggravo privados e publicos, pela 
communhão reparadora, mórmente nas pri­
meiras sextas-feiras, e pela consagração ao seu 
divino Coração de famílias, cidades, provin-
ctas e nações. 
Foi por conseguinte o proprio Nosso Se­
nhor quem ensinou a devoção ao seu Sagrado 
Coração e apontou bem claramente os dois 
elementos indispensaveis, essenciaes que della 
deviam fazer parte, que se requerem e se com­
pletam mútuamente como causa e effeito, isto 
é, "Amor e Reparação" , mórntente pelo sa­
crifício, e até pelo sacrifício da propria vida. 
E' bem de admirar que o conhecimento 
integral, theorico, dessa eminente devoção te­
nha levado nada menos que 400 annos. A 
divina Providencia destinou-a para salvar o 
mundo nos ultimos tempos, quando a ingra­
tidão chegar ao auge, quando a apostasia fôr 
geral e a revolta contra Deus attingir o absur­
do. Já vae para 300 annos que Deus espera 
pela conversão geral do mundo mediante a de­
voção ao Sagrado Coração, valendo-se da sua 
bondade e misericordia tão patentemente ma-
Desenvolvim. da dev. ao S. Cor. 7 
nifestadas. A não conversão dos homens em 
grande maioria, subentende a maturidade do 
mundo para o seu fim. 
* * * 
Sem duvida Deus encontra em todas as 
gerações almas generosas que se lhe offerecem · 
em resgate de seus irmãos prevaricadores. Mas 
foi só de 1 876 em diante que algumas repre­
sentantes do sexo feminino começaram a fun­
dar sociedades de victimas do Sagrado Cora­
ção, congregações religiosas especialmente de­
dicac/.as á reparação dos crimes do mundo pelos 
meios mais diversos. Até o fim do seculo pas­
sado só cinco chegaram a estabelecer-se, sendo 
qw antes haviam fracassado varias tentativas 
de sacerdotes nesse s�ntido. 
Entre tantos que alimentavam a mesma 
idéa, havia dois distinctos sacerdotes france­
zes: o Co nego Dr. Leão Dehon (18 4 3-
1 92 5 ) e o Padre Dr. Leio Prévot ( 18 40-
1913) . Mui to favoreceu aquelle a primeira 
fundação de um instituto reparador, o das 
Servas· do Coração de Jesús de Saint-Quen­
tin, cidade donde elle proprio era natural; e 
este a segunda fundação. a das Irmãs Victimas 
8 Apresentaão do autor 
do Sagrado Coração de Jesús de Gnmobles, 
de cuja fundadora e primeira superiorá, IrmQ. 
\í eronica, escreveu posteriormente a santa vida 
em mais de 1 . 000 paginas. 
O Conego Dehon conseguiu em 1 8 77 
fundar em Saint-Quentin a Congregação dos 
Padres do Sagrado Coração, sob a divisa 
"Amor e Reparação': . O Padre Leão Prévot , 
porém, não pôde realizar o intento de fun� 
dar, em conjunto com outros sacerdotes, um 
instituto proprio, de sacerdotes reparadores. 
Logo que veiu a reconhecer, pelas disposições 
da divina Providencia, a sua vocação como 
membro da congregação do P. Dehon, pediu 
admissão a ella e nella ingressou em maio de 
1 8 8 5, vindo pela profissão a chamar-se Padre 
André, chamando-se Padre João do Coração 
de Jesús o fundador. 
Terminado o noviciado em 1 886 , ac­
ceitou o P. André desde logo o cargo, de tanta 
responsabilidade, de mestre de noviços, em 
Sittard (Holtanda), cargo que exerceu duran­
te 2 6 anos juntamente com o de superior da 
casa que allí fundou e que devia desenvolver, 
como desenvolveu, maravilhosamente, como 
pae e amigo de todos, fazendo jus ao epitheto 
não simplesmente de "bondoso padre", porém 
O servo de Deus 
P. JOÃO LEÃO DEHON 
Fundador da Congreg. doe Padres do S. Coração 
morto no Senh.or em 12 üe Aug. de 1926. 
Apresentação do autor 9 
de "santo". Falleceu em 1 9 1 8 , em odor de 
santidade. Talvez nos venha a ser possível 
publicar um dia a santa vida do nosso vene­
ravel pai espiritual e tão venerando amigo. 
Já foi ella editada em varias línguas, em edi­
ções completas e resumidas e em numero su­
perior a 1 milhão! 
Além de tudo, tornou-se tambem o P. 
André escríptor fecundo, aproveitando todos 
os momentos que pôde poupar aos seus muitos 
affazeres. Ao todo escreveu 14 opuscu1os, 
sendo 3 sobre o Sagrado Coração de Jesús, 5 
sabre Nossa Senhora, 1 sobre o Divino Espí­
rito-Santo, 1 sobre S. José, 2 de meditações 
e finalmente 2 biographias de Madre Vero­
nica. Todos elles são muito apreciados e que­
ridos pelas almas interiores, devido sobretudo 
á uncção do Espírito-Santo que parece pene­
trai-os e animal-os. Oxalá possamos fran­
queai-os a tantas almas bôas do nosso paiz,editando-os todos successivamente em língua 
vernacula! Seria de immenso proveito para o 
nosso patrimonio espiritual. 
+ + + 
\ , Abrimos a serie das relíquias ·[iterarias \UO P. André com o presente opusculo intitu-
10 Apresentação da obra 
lado "Amor, paz e alegria", o mesmo coro 
que elle proprio estreiou. Prova da sua excel­
lencia são as numerosas edições que já alcan­
çou este opúsculo tanto na França como na 
Allemanha. Mas a 'fama delle transpoz muito 
para além as fronteiras desses paizes. T or­
nou-se elle conhecido e apreciadissimo no 
mundo inteiro. 
Conforme o subtítulo : Mez do Sagrado 
Coração de Jesús segundo Santa Gertrudes, 
pretende o autor attingir o seu escopo, de 
encher os leitores de Amor, Paz e Alegria me­
diante um mez de devoção ao Sagrado Co­
ração. 
Por um motivo bem patente preferiu elle 
propôr-nos, nesse Mez do Sagrado Coração 
de Jesús, as encantadoras revelações de Santa 
Gertrudes: pela simples e grandiosa razão de 
visar despertar coragem para os sacrificios re­
clamados pela reparação justamente pelo amor 
que a devoção gertrudiana ao Sagrado Co-
ração inspira. _ 
Não póde haver motivo mais fúndado, 
mais racional e mais pratico. Tende ao aluo 
pelo caminho mais facil, mais certo e mais 
curto: pelo amor .para a reparação! 
"Amor, paz e alegria" é para o nosso 
Apresentação da obra 11 
tempo uma necessidade confortadora e agra­
davel, como reparadora. Falta ao mundo o 
uerdadeiro amor : por isto tem tanta falta de 
paz e de alegria, tanta carencia de genuína e 
real felicidade. Este opusculo abre a fonte do 
mais puro amor, derramando sobre quem o 
cultiua uerdadeira paz e alegria. Ainda mais. 
Não só elle 'mostra o caminho que leua ao 
amor, á paz e á alegria, mas tambem, inspi­
rando o verdadeiro amor, inspira igualmente 
verdadeira paz e alegria. Como 'é cheio de 
amor, é igualmente cheio de paz e alegria! 
Ao percorrer as paginas a seguir, o leitor 
deparará as marauilhas do amor diuino, hu­
manisando em N. Sr. e correspondido pelo 
amor integral e jubiloso de duas santas irmãs. 
Ninguem deve estranhar tamanhas intimida­
des e ternuras de N. Sr., como si as reser­
uasse para algumas almas priuilegiadas. Mui to 
p,elo contrario deseja Etle prodigalisal-as à 
todos sem excepção. Quem não as receber, 
só deue inculpar-se a si proprio, por não se 
dispôr para recebei-as, desapegando-se das 
creaturas e apegando-se aos ualores superiores. 
As manifestações de amor de N. Sr. para 
com Sta . Gertrudes são, em verdade,- outros 
tantos convites e outras tantas garantias para 
1:! Apresentação da obra 
todos, de. que serão da mesma forma corres­
pondidos por Elle quanto antes se Lhe entre­
garem sem reserva, ·como Sta. Gertrudes. Eis 
ahi o proprio escopo ideal das revelações dessa 
Santa, como deste opusculo, patentear ao 
mundo irmanado exemplo da vida intima de 
amor que N. Sr. quer ver estabelecida entre 
si e cada alma humana! (Cfr. p. 1 76 ) . 
Recommenda-se ainda este opusculo por 
mais um ultimo, mas soberano titulo. A me­
dulla do seu conteúdo foi extrahida do livro 
das revelações do Sagrado Coração a Santa 
Gertrudes. Sobre ellas versam as reflexões do 
autor, e dellas tira elle as conclusões. Ora, 
Nosso Senhor ligou graças especiaes não só 
ás orações de Santa Gertrudes, corno tarnbern 
a todos os escriptos della sobre o seu Sagrado 
Coração, fazendo-o� seus proprios. Pessas 
graças especiaes participa, pois, este opusculo, 
e ellas lhe realçam muito o valor. São graças 
de amor, paz e alegria, que garantem o -que 
o opusculo affirma, e ajudam a cumprir o
que elle promette. Oxalá encontrem nelle to­
dos os que o lêrern urna fonte inesgotavel de 
AMOR, PAZ E ALEGRIA EM NOSSO 
SENHOR! 
P. LACROIX. 
PR E F A CI O
DO AUTOR 
Que é que nos propomos nesta modesta 
obca dedicada a Sta. Gertrudes e ao Sagrado 
Coração de Jesús? 
Propomo-nos ajudar algumas almas -
e já certo numero se serviram do nosso ma­
nuscripto com resultados que podem ani­
mar-nos, - propomo-nos ajudar algumas 
almas a vêr melhor e melhor gostar o quan­
to o Coração. de Jesús é bom, afim de que 
essas almas de bôa vontade, sentindo-lhe a 
ternura infinita que as solicita, se decidam a 
corresponder plenamente ao desejo tão pre­
mente que elle tem de amai-as e de ser por 
el/as amado, e sem temor como sem reserva, 
se abandonem amorosamente ·a elle para sem­
pre. 
Propomo-nos imprimir nos corações 
daquelles que nos quizerem lêr bem, alguma 
daquellas palavras de Sta. Gertrudes a que 
Nosso-Senhor prometteu ligar uma graça 
toda particular, palavras que penetram a alma 
14 Prefacio do autor 
de uncção suavíssima e que podem vir a ser 
bôa riqueza espiritual para toda a vida. Pro­
pomo-nos proporcionar ao Coração do nosso 
bom Salvador alguns amigos a mais, que lhe 
honrem a amizade pela sua confiança e fideli­
dade, a exemplo da nossa cara Santa; alguns 
consoladores a mais, que, como ella, tomem 
a peito os seus divinos interesses, que pro­
curem agradar-lhe sinceramente e indemni­
zal-a das ingratidões do mundo; que, pela 
oração, e pelo sacrifício trabalhem em pôr 
balsamo nas feridas que lhe são feitas. Propo­
mo-nos finalmente proporcionar á Igreja de 
Jesús-Christo, segundo o nosso fraco poder, 
alguns defensores a mais, que pela dedicação 
á vida de intercessão, de amor, de reparação, 
ajudem essa Mãe Santa a alcançar misericordia 
para os pobres peccadores, a reparar as perdas 
incessantes de seus filhos, a cobrir pelos lou­
vores do amor o concerto horrendo das bla$­
phemias da impiedade. 
E a quem offerecemos esta humilde obra? 
A todos ·os amigos do Coração de Jesus 
que se regozijam sempre, num sentimento de 
caridade cordial com aqui/lo que póde con­
tribuir para fazer conhecer e amar esse ado­
ravel Coração. 
Escopos do autor 15 
Aos amigos de Sta. Gertrudes, cujo nu­
mero vae sempre crescendo na Igreja de Deus; 
aos que se rejubilam de vêr realizar-se a res­
peito del/a o voto do Santo e piedoso padre 
Faber: "Possa Gertrudes tornar-se entre nós, 
para ahi ser o que foi outr' ora, o Propheta e 
o Doutor da vida interior!" (Tudo por Jesús,
cap. VIII, § VIII) ; aos que cre_êm nas pro­
messas que Nosso-Senhor fez a essa prioilegia­
da do seu Coração,. e que já, mais de uma vez, 
por dôce experiencia, sentiram nos escriptos 
del/a uma luz e uncção que não encontravam 
alhures. 
Offerecemol-o emfim mui particular­
mente a essas almas, dia a dia mais ·numero­
sas, que, dóceis ao impulso que o Espírito 
Santo faz . sentir á Igreja no nosso seculo, se 
dedicam por amor, á Obra da Reparação. 
Quizemos offerecer-lhes, nas disposições e 
piedosas industrias que o Coração de Jesús 
inspirou á nossa meiga Santa, o meio facil de 
realizarem em sua vida essa obra que se tor­
nou a mais necessaria e mais urgente de to­
das (1) . 
( 1) Ousa,remos offerecel-o, entre oqtros, aos 
Associados do Coração de J esús q11e nos con'Viá'a. á 
pcm:trucia, em cujas fileiras nós proprios desejamos 
16 Prefacio do autor 
Dividimos esta modesta obra em trinta 
e tres leituras, podendo servir de mez do Sa­
grado Coração : esperamos que sob esta forma 
terá ella em toda parte mais facil accesso e 
poderá, com a graça de Deus, convir mais es­
pecialmente a todos os amigos do Sogrado 
Coração de Jesús, a todas as almas repara­
doras do mundo, do claustro ou do santuario. 
Agradeceremos a Deus si, por intercessão de 
Sta. Gertrudes e peta misericordia do Coração 
de Jesús,. conseguirmos proporcionar a essa 
cara Santa o complemento dos seus desejos, 
afim de contribuirmos para o consôlo do nos­
so bom Mestre, afim de trazermos o nosso 
quinhão de socorro a Igreja, nossa Mãe. 
O' bôa e meiga Santa, que tanto desejaes 
que a leitura dos vossos escriptos sirva cada 
vez para glorificar o Coração de Jesús, e para 
provocar incessantemente novas acções de gra-
fiélmente combater. Reconhecemos com elles a ne" 
cessidade prçdominante da .penitencia na obra da re­
paração. Mas esta necessidade em nada diminúe a 
da reparação pelos aclo.s de religião que deve acom­
panhar a penitenciapropriamente dita, e todos reco­
nhecem que a penitencia deve ser animada pelo amor, 
pela acção de graças e pela alegria. Ora, nesta obra, 
é antes nestes dois outros .pontos de vista que nos 
collocamos como completando o primeiro. 
Escopos do autor ' 17 
ças pelos favores que elle vos cqncedeu, dignae­
vos derramar 'benção copiosa sobre estas pa­
ginas que são vossas, afim de que a leitura 
deltas excite as. �tmas a louvarem a bondade 
do Coração de Jesús e a se darem a elle! 
Já que o Salvador prometteu conceder 
tudo aos que lhe agradecerem as graças que 
elle vos fez, obtende que em troca dos sen­
timentos, de gratidão e de admiração que lhe 
expressamos nesta lertura, nos conceda el/e 
amal-o como vós o amastes, dedicarmo-nos 
inteiramente a elle como vós mesma, com 
amor, com .paz. com alegria ( 1). 
(1) Nesta obra, a que pedimos a Nos!lO Se­
nhor que ligue uma graça de paz e de alegria para 
toda alma de bôa vontade, ficaríamos qesolaq,os de 
perturbar a paz de alguem; rogamos ao leitor que 
se alarmasse com alguma das expressões de Sta. 
Gertrudes ou das reflexões que lhes accrescentamos, 
dignar-se tornai-as no sentido que indicamos nas 
noss11s notas ; e deste modo temos a dôce confiança 
de que tudo redundará em maior bem para· todos os 
amigos do Coração de Jesús. 
Amor, Paz e Alegria 
PRIMEIRO DIA 
CONVITE DO CORAÇÃO DE JESúS 
I 
A deooção ao Sagrado Coração é o derradeiro 
esforço, nestes ultimos seculos, do amor de 
Nosso Senhor aos homens. 
Um dia, S. João, o Apostolo dilecto 
do Coração de Jesús, foi mostrando a Santa 
Gestrudes no fulgor duma gloria íncompara­
vel: "Meu amabilíssimo Senhor, diz a Santa 
a Jesús-Christo, donde vém que me apresen­
teis,· a mim, indigna creatura,, o vosso discí­
pulo mais caro? - Quero, respondeu Jesús, 
estabelecer entre elle e ti uma amizade inti­
ma; elle será teu Apostolo para te instruir e 
dirigir" . 
Dirigindo-se então a Gertrudes, João 
lhe dizia: "Esposa de meu Mestre, oinde: jun­
tos repousaremos a cabeça no dulcissimo peito 
do Senhor; nelle estão encet'rados todos os 
thesouros do céo". Ora, como a cabeça de 
Gertrudes estivesse inclinada á direita e a ca· 
beça de João á esquerda do peito di: Jesus. 
o discípulo dilecto prosseguiu: "E' aqui o 
20- 1." dia 
Santo dos-santos; todos os bens da terra e do 
céo são attrahidos para elle como pará o seu 
centron 
Entretanto, as pulsações do Coração de 
Jesús arrebatavam a alma de Gertrudes; 
"Bem-amado do Senhor, perguntou ella a 
S. João , estas pulsações harmoniosas, que me 
rejubilam a alma, rejubilaram a vossa quan­
do repousastes, durante a Ceia, no peito do 
Salvador? - Sim, ouvi-a$, e a suavidade 
dellas penetrou-me a alma até á medulla. -
Donde· vém pois que no vosso Evangelho, 
apenas tenhaes deixado entrever os segredos 
amorosos do Coração de Jesús-Christo? -
O meu ministerio, naquelles primeiros tem­
pos da Igreja, respondeu o Apostolo dilecto, 
devia cingir-se a dizer sobre o Verbo divino, 
Filho eterno do Pae, al_qumas palavras fe­
cundas que a intelligencia dos hom.ens pu­
desse sempre meditar, sem lhe esgotar jámais 
as riquezas; mas, aos ultimas tempos estava 
r·eservada a graça de ouvir a voz eloquente do 
Coração de Jesús. A essa voz, o mundo en­
velhecido rejuvenescerá; sairá do seu torpor, 
e o calor do amor divino inflammal-o-á 
ainda ( 1)" 
(1) Revelações de Santa Gertrudes (livro IV, 
Convite do S. Coração 21 
REFLEXÕES. - Santa Gertrudes foi de 
alguma sorte· a Evangelista do Sagrado Co­
raçãó, e seu livro revéla-nos o Coração hu­
mano de Jesús, como o Evangelho de S. João 
faz-nos conhecet nelle o Verbo divino. Essa 
revelação toda de amor era um segredo reser­
vado a estes ultimas seculos do · mundo, em 
que, após tant!s ruínas e desolações, as almas 
enfraquecidas e entristecidas ainda aguardam 
no ent�nto uni supremo triumpho da Igreja, 
uma éra de consolação em que se verá a fé 
renascer, a piedade reflorír, a caridade reaccen· 
der-se. E' o que o Apostolo S. João parece 
predizer no seu Apocalypse. quando diz num 
trecho notavel que se tem applicado á nossa 
epoca: "Porque tendes uma virtude fraca, 
eu vos abri uma porta que ningc-Íem poderá 
fechar ( 1) " (Apoc. III, 5) . Nós somos 
fracos, mas pelo Coração de Jesús nos tornare­
mos fortes; somos fracos, mas pela Caridade 
do Coração de Jesús triumpharemos da morte 
e do inferno; somos fracos, mas no Coração 
de Jesús, que nos é aberto, acharemos o amor 
que dá �odas as virtudes. 
r. 4). -· Valeroo-nos da traducção de dom Mege, da 
do P. Cros e da dos Benedictinos de Sol�smes. 
(1) Vêr, Hol<�hauser, Explicação r!o Apoçaly­
tse. 
22 1." dia 
Porquanto o Coração de Jesús é o fóco 
do amor. A devoção ao Sagrado Coração é 
a devoção que vem do amor como principio, 
que se dirige ao amor como fim, que em­
prega o amor como meio. p' o amor feito 
sensível pelo Coração sensível de Jesús-Chrís­
to, que nos communíca os seus propríos senti­
mentos fazendo-nos sentir, con\o a seus mem­
bros, a repercussão das suas pulsações ínti­
mas, segundo este grande princípio que regúla 
a-vida chrístã: Hoc senti te in vobis qw;>d et 
in Christo Jesu. - Senti em vós os senti­
mentos do Coração de Jesús. E' o amor que 
nos attrahe ao amor pelos seus encantos ir­
resistíveis, segundo a prophecia que delle fez 
o proprio Salvador : "Quando eu fôr elevado 
na cruz" e o meu Coração fôr aberto pelo 
amor, "attrahirei a mim todos" os corações. 
{João, XII, 3 2). E' o amor, emfím, que nos 
quer consumir nas suas chammas para santi­
ficar os nossos sacrifícios e reparar todas as 
culpas deste mundo culpado, afim de que o 
perdão se torne a medida do amor, como o 
amor foi a medida do perdão. Remittuntur ei 
peccata multa, quoniam dilexit multum 
(Lucas, VII, 47) . 
CONCLUSÃO PRATICA 1 •. o Confiança 
Convite do S. Coração 23 
em meio ás nossas miserias e ás infelicidades 
do tempo presente, ·porque o Salvador, apie­
dando-se da nossa fraqueza, abriu-nos o seu 
Coração, onde acharemos toda a força. 
2.0 Amor, Amor ! Demo-nos ao amor ! 
A devoção ao Sagrado Coração é a devoção 
do amor, unica que póde reaquecer o nosso 
seculo tão arrefecido ; a renovação que aguar­
damos é obra do amor, e só o amor fal-a-á. 
li 
A devoção ao Sagrado Coração de Jesús 
e o livro de Sta. Gertrudes. 
Sta Gertrudes, retida pela sua humilda­
de, hesitava em publicar as revelações do Sa­
grado Coração de Jesús. Decidiu-a porém o 
Salvador dizendo-lhe: "Quero que tew; es· 
criptas sejam para os ultimas tempos um 
testemunho da ternura do meu Coração, e 
por elles farei bem a muitos (L. 11, c. 1 O). 
- Emquanto escrec;eres, conser()arei teu co­
ração junto ao meu coração, e distillarei nelle 
gôta a gôta o que dec;erás dizer". 
Ella ouviu o proprio Jesús fazer este 
pedido: "O' Pae santo. quero, para vossa 
nforia eterna. que o comção de Gerrrucles der-
24 t.• dia 
rame sobre· os homens· os thesouros encerra­
dos no meu coração humano" 
Quando o livro foi concluído, Jesús 
mostrou-se a Sta. Gertrudes dizendo-lhe: 
"Este livro é meu; eu o imprimi no fundo do 
coração; ahi, Cf!.da uma das suas letras em­
bebeu-se da doçura do meu amor; de cada 
·uma das palavras deste livro exhala-se o per-
fume da minha misericordia ( 1 ) " 
REFLEXÔES. - Sta. Gertrudes é a 
Mensageira ( 1 ) , o Arauto do amor divino, 
encarregado de fazer conhecer o amor na sua 
manifestação mais tocante que é o Coração 
(1) Jesús tratou assim tambem o livro de Sta. 
Mechtilde (P. II, c. 43). "'Tudo o que está escripto 
neste livro safu do meu coração e a elle tornará. -
Todos quantos me buscam com coração fiél acharão 
nclle uma causa de alegria; os que me- amam abra­
. sar-se-ão mais no meu amor, e os qwe estive-rem na 
afflicção acharão nelle consôlo." 
O Salvador fizera mui pa.rtkularmente dom do 
seu Coração a Sta. Mechtilde (P. li, c. 19). Este 
dom produziu nelia extrema devoção para o Sagr." 
Coração, e foi para ella o principio de tod"Os os de­
mais dons. Ella repetia amiudadamente: "Si fôsse 
frreciso escrever todos ·os bens que me têm vindodo 
benignissimo · Coração. de Deus, um livro grosso co-
mo o das Matittas não chegaria." \ 
( 1) Legatus divinolE pietatis. E' o titulo que o 
proprio Nosso Senhor dá a9 livro de Sta. Gertrudes. 
Convite do S. Coração 25 
de Jesú's, incumbido de trazer a este divino 
Coração todos os corações dos homens. E' a 
missão que S. João lhe annunciava, a missão 
que o Coração de Jesús lhe deu, a missão 
para qual escreveu ella o seu livro (I ) . Ella 
já vê essa tarefa realizada em parte, de ma­
neira exterior e official, pela bemaventurada 
Margarida-Maria, filha de S. Francisco de 
Sales, que foi filho espiritual de Gertrudes e 
se nutriu das obras desta; e agora parece que 
a deva realizar de maneira· mais intima, mais 
completa (2), pelos seus novos filhos es­
pirituaes que lhe propagam por toda parte 
a doutrina. 
( 1) Os Benedictinos de Solesmes ( Pref. P. 
XVI) fazem vêr que a missão de Sta. Gertrudes tem 
realmente por obiecto a devoção ao Sagrado Cora­
ção no sentido que indicamos. Elles não separam del­
la Santa Mechtilde. Póde-se, de resto, dizer que o 
livro de Sta. Mechtilde pass·ou pelo cor.ação e pela 
penna de Sta. Gertrudes, tendo-o esta redigido, ao 
menos em grande .parte, fazendo-o depois approvar 
por N. Senhor, e diffundi_ndo-o em torno de si; per­
tence pois realmente á escola de Sta. Gertr1,1des. 
(2) Parece que a missão de Santa Margarida­
-Maria tem antes por objecto o culto exterior e of­
ficial do Sagr.• Coração, e que a de·
' 
Sta. Gertrudes 
tem por objecto o culto intimo e mystico. Santa Ger­
trudes faz-nos vêr em acção todos os mysterios do 
Sagr.• Coração de modo mais completo; dá tambem 
2G 1." dia 
E' sobretudo na escola de Sta. Gertru­
des que a devoção ao Sagrado Coração mos­
tra-se facil e ao alcance de todos nos ensina­
mentos, agradavel e cheia de doçura na for­
ma, tocante emfim e irresistivel nos attrac­
tivos, porque nos mostra em toda parte o 
amor com a alegria e com a paz, que lhe são 
os frutos. 
CONCLUSÃO PRATICA. - 1.0 Escutemos 
com confiança e docilidade a Mensageira do 
amor divino, e tirare,mos das suas palavras 
a graça que o Coração de Jesús se dignou 
ligar-lhes, a graça do amor. 
2. o Proponhamo-nos imitar Gertrudes 
com fidelidade no que fez pelo Coração de 
Jesús, pois ella repete muitíssimas vezes que 
alcançaremos delle por esse meio os mesmos 
favores que ella recebeu como recompensa. 
á devoção ao Sagr." Coração uma forma mais attra­
hente e mais animadora para o nosso seculo tão 
fraco. 
(Cf. Pref. dos Benedict., P. XVI.) 
Si nos permittem accrescenta·r klqui o nosso pro­
prio pensamento, diremos que, do ponto de vista da 
vida de amor e de sacrif1cio que deve ser a vida de 
todo amigo dedicado do Coração de Jesus, as duas 
santas concordam perfeitamente; mas, si a Sanb 
Margarida-Maria póde ensinar melhor o sacrificio, 
Sta. Gertrudes póde communicar melhor o amor que 
n faz acreit�r. 
SEGUNDO DIA 
AMOR DO CORAÇÃO DE JESúS 
I 
O amor, principio da devoção ao Sagrado 
Coração. 
Já ouvimos Jesús dizer a Sta. Gertni­
des: "Foi o amor do meu Coração que pro­
duziu os teus. escriptos; quero que elles sejam 
para os ultimas tempos o testemunho do meu 
amor, para attrahir as almas ao meu coração" 
Um dia de sexta-feira santa, como as 
Freiras fizessem a adoração da cruz, quando 
chegou para Sat. Mechtilde o momento de 
beijar o Crucifixo e ella beijou a chaga do 
Coração, o Senhor lhe disse: "Nesta chamma 
de amor, tão grande que abrange o cêo, a 
terra e tudo o que encerram, applica o. teu 
amor ao meu divino amor, para que elle ahi 
se torne perfeito, e, assim como um ferro em 
28 2.0 dia 
brasa se confunde com o fogo, se confunda 
com elle num só amor" . (S. M. , I. 18). 
Outro dia viu ella o Senhor abrir a 
chaga do seu dulcíssimo Cotação e dizer-lhe 
"Olha toda a extensão do meu amor; méde-o 
por estas palavras que eu dirigi a meus irmãos: 
Como meu Pae me amou, assim eu vos amei 
(S. João, XV, 9 ) . Jií ouvistes palavras que 
exprimissem amor mais Forte ou mais terno?" 
(I. M., L 21) 
REFLEXÕES. - O printipío da devoção 
ao Sagrado Coração é o amor, isto é, que o 
Coração de Jesús nos quer dar esta devoção 
como o derradeiro esforço do seu amor e o 
dom mais perfeito que elle nos possa conce­
der. E' o amor que se quer dar �té o extremo, 
até o fim dos tempos, àté as extremidades da 
terra, até os ultimas limites. do amor. E' o 
amor que quer reaquecer o mundo, agora que 
a caridade tanto se arrefeceu nelle: é o amor 
que veiu trazer o fogo á terra e que quer no 
fim dos tempos abrasai-a toda com as suas 
chammas. E' o amor que quer amar ainda 
mais do que ser amado, pois tal é a lei do 
amor. Quer dizer uma ultima vez a esses 
ingratos quanto os ama; quer estreitai-os ao 
seu Coração, recordar-lhes tudo' quanto fez_ 
Amor do S. Coração 29 
por elles, tentar ·ainda enternecel-os ( 1) , e 
salval-os, Sem duvida, elle pede que o ame­
mos em troca, e a que�xa do amor desconhe­
cido é bem amarga; mas ao menos terá elle 
feito tudo quanto está em si, e, si não fôr 
amado por todos, ao. menos nos. terá .amado 
a todos. Eis porque o meigo· Salvador quer 
fazer penetrar agora em toda parte a devoção 
ao seu Sagrado Coração. Vemol-a já por 
toda parte no exterior; em toda parte encon­
tramos as imagens do Sagrado Coração; em 
toda parte é elle celebrado por festas solemnes, 
em toda parte é honrado por praticas santas; 
mas isto não basta; é preciso que o amor 
penetre no interior, que o fogo ganhe o in­
timo dos nossos corações: /gnem veni mittere 
in terram (Lucas, XII. 49) ; é mistér que o 
amor de Jesús nos transforme em si mesmos 
como o fogo transforma o ferro na sua pro­
pria natureza, afim de que assim ell� possa 
offerecer em holocausto a seu Pae celeste essas 
almas que devem ser uma só victima com 
(1) Póde-se lêr este pensamento expresso do 
modo mais enternecedor nas revelações da bemaven­
turada Varani, no ponto em que ella vê Jesus es­
treitando Judas; ao seu Coração. 
30 2.o dia 
elle. Antigamente as victimas deviam ser con­
sumidas pelo fogo para que se elevassem 
para o céo em odor de suavidade; agora tam­
bem, a Igreja deve ser consumida pelo fogo 
do amor para que, victima santa consum­
mada com J esús, possa subir ao céo no fim 
do seu sacrifício. Sim, o Salvador quer fazer 
das nossas almas outras tantas victimas de 
amor consumidas com elle por essas cham­
mas de amor que escapam do seu divino Co­
ração; para que o amor alcance o perdão para 
o nosso seculo que já não ama, para que o 
amor dos nossos corações ganhe aos poucos 
as almas de nossos irmãos e os faça amarem 
comnosco, para que o amor consumme o nos­
so sacrifício e nos torne dignos no céo desse 
Bem supremo que é o· centro para o qual 
ascendem sempre necessariamente as chammas 
do amor. 
CONCLUSÃO PRATICA. - 1.0 Amor e 
sacrifício. Um não se separa do outro. O 
amor é uma chamma que pede uma victima 
a consumir. e o sacrifício só se consuma na 
chamma do amor. Oh! possamos ser essa vic­
tima e consumar-nos nesse sacrifício! Por­
quanto o amor é o proprio Deus; o sacrifício 
i a santificação, a deificação; a victima con-
Amor do S. Coração 31 
surnrnada é a alma unida a Deus, perdida em 
Deus, transformada em Deus. 
2.° Confiança sempre, pois que haveria­
mos de temer? E' o amor que nos chama, é 
o amor que dá tudo, o amor que provê a 
tudo, o amor que fará tudo. o amor só bem 
nos póde querer; impossível pois corresponder 
ao amor de outro modo que pela confiança; 
e já que é o amor sem limites· que nos con­
vida, correspondamos-lhe tarnbern por urna 
confiança sem limites. 
li 
O objecto da deuoção ao Sagrado Coração 
é o amor do Coração de Jesús, principalmente 
na sua Paixão e na Eucharistia. 
O amor do Coração de Jesús revelou-se 
a Sta; Gertrudes principalmente nos myste­
rios da Paixão e da sagrada Eucharistia. 
Um dia em que Gertrudes segurava af­
fectuosamente e beijava o seu Crucifixo, N. 
Senhor lhe disse: "Cada oez que o homem 
age assim, ou siquer olha com deuoção um 
Crucifixo, a misericordia de Deusdetém-lhe 
os olhos n'alma. U homem deuenà entao 
2,o dia 
pensar, no seu coração, que estas ternas pa­
lavras lhe são dirigidas : _Eis .como, por teu 
amor, eu quizer ser pregado, nú, desfigurado, 
coberto de chagas, com todos os membros 
violentamente esticados, numa cruz; e o meu 
coração é tão apaixonadamente enamorado de 
ti que, si preciso fôra, para· te salvar eu sup­
portaria ainda de bom grado, só por ti, tudo 
o que pude soffrer pela salvação do mundo 
inteito" (III, 41). 
Jesús revelava em seguida a Gertrudes 
o amor do seu divino Coração na :J3ucharis­
tia: "As minhas delicias são estar com os fi­
lhos dos homens. Foi para contentar o meu 
amor que institúí este Sacramento; obriguei­
me a . permanecer nelle até o fim do mundo, 
e quiz que o recebessem frequentemente. Si 
alguem desvia uma alma da communhão, esse 
impede as delícias do meu Coração. Tudo 
fiz para manifestar na Eucharistia a tllrnura 
do meu Coração. Quando, arrastado pela ue­
hemencia do meu amor, venho pela Commu­
nhão a u.ma alma, . cumúlo-a de bens e ella 
propria, e todos os habitantes do céo, todos 
os habitantes da terra, todas at almas do pur­
gatorio Sentem T.IO mesmo instante algum 
novo effeito da minha bondade". 
Amor do S. Coração 33 
REFLEXÕES. - O objecto proprio da 
devoção ao Sagrado Coração, é o amor do 
divino Salvador manifestado principalmente 
na sua Paixão e na sagrada Euch_aristia. Eis 
o objecto, espiritual e sensível ao mesmo tem­
po, que é proposto ao nosso amor: "lnspice, 
et fac secundum exemplar. (Ex. 25. 40) . 
Olhae, e fazei segundo o modelo que vos é 
propos�! " Olhae, pois é o objecto mais dig­
no da vossa attenção. Possa elle attrahir-vos 
de tal modo os olhares, que o vosso coração 
se fixe nelle para todo o sempre! Possa de 
tal forma absorver-vos o espírito, que não 
saibaes mais sinão a elle e a lição de amor 
que elle vos dá! Possa gravar-se-vos tão pro­
fundamente na memoria, que. o tenhaes sem­
pre presente á lembrança! Possa imprimir­
se-vos na imaginação para purificai-a e san­
tificai-a! Possa penetrar-vos todas as poten:. 
das da alma para dirigil-as tqdas segundo a 
lei do amor! Olhae-o, porque elle vos olha 
com tanta misericordia e ternura! Olhae-o, 
porque elle quiz ser elevado acima da terra 
para attrahir e fixar todos os olhares! Olhae­
o, pois olhando-o sarareis das vossas feridas, 
como outr• ora os Israelitas olhando para a 
serpente de bronze! Olhae-o, pois .elle é a 
34 2.o dia 
nossa luz, o nosso mestre e o nosso guia na 
senda da salvação ! 
"Et fac secundum. - E fazei como elle". 
Amae como elle, sentí como elle, vivei como 
elle, visto que elle é o modelo proposto aos 
eleitos por Deus Padre ; visto que é a propria 
Sabedoria de Deus manifestada ao mundo 
para instruil-o ; visto que é a propria força 
de Deus ostentada para salvar-nos ; visto que 
é o chefe divino a que deveis ficar unido, de 
quem deveis depender sempre. 
Ora, que fez elle? Que lição nos dá ? 
Que modelo offerece á nossa imitação ? Amou­
nos e entregou-se por nós. O amor do Co­
ração de J esús não é um amor esteril ; é um 
amor que se mostra pelo sacrifício da Paixão, 
que se continúa e se applica a cada um dl! 
nós no sacrifício da Eucharistia : Dilexit me 
et tradidit se. Amou-me e se deu, sacrificou-se 
por mim : amou-me e ama-me ainda, quer 
amar-me sempre, e continúa ainda, e conti­
nuará sempre a dar-:se, a sacrificar-se por 
mim. Eis o amor ! eis o Coração de J esús ! 
Por isto, em verdade, como o Apostolo 
que se sentia premido pela caridade do Co­
ração de Jesús, eu não quizera mais vêr si­
não um objecto, não mais quizera saber sinão 
Amor do S. Coração 35 
uma sciencia : Jesús crucificado. Quizera occul­
tar-me para todo o sempre nesse Coração de 
Jesús que foi aberto por mim na cruz ; quizera 
com elle dar-me e sacrificar-me por Deus e 
por meus irmãos, consumir-me nas suas cham­
mas, perder-me para todo o sempre numa 
radiação do seu amor. 
Oh! sim, Senhor, . fazei que assim seja ! 
Amor, •o que fazeis, fazei-o quanto antes ! 
Amor, abysmae-me comvosco no Coração de 
Jesús crucificado, para que a minha natureza 
grosseira lhe seja consumida pelas chammas, 
e eu não viva ffii3iS sinão da sua vida santís­
sima ; abysmae-me no Coração de Jesús eu­
charistico, para que o meu sacrifício se con­
tinúe sempre com o delle, e eu seja perpetua­
mente com elle uma victima de religião, de 
louvor e de amor! 
CONCLUSÃO PRATICA. - 1.0 Olhemos 
a miúde o Crucifixo, mas olhemol-o com 
amor; suba o nosso olhar ao Coração de 
Jesús para feril-o duma ferida de amor que 
curará a ferida que lhe fez o peccado. E, em 
troca, elle baixará sobre nós um olhar dos 
seus olhos tão misericordioso, que inflam­
matá cada vez mais o nosso amor. Olhemol-o. 
representando-nos como escriptas ein volta 
36 2.0 dia 
delle em caractéres de fogo estas palavras do 
amor : "Amou-me e entregou-se por mim" 
Sim, por mim, como si eu fôsse unico no 
mundo ; e, si preciso fôra, entregar-se-ia ain­
da por mim só, afim de ganhar o meu co­
ração. Só a elle pois, só a elle todo o meu 
amor ! 
2.0 Tornemos o nosso .sacrifício con­
tinuo como o do Salvador ; encerremo-nos no 
Coração eucharistico de Jesús; é esse o san­
tuario em que a victima deve immolar-se con­
tinuamente ; é nelle ·que se offerece a Deus 
p sacrifício de louvor que o honra ; é nelle 
que irradia sobre toda a Igreja o pedido de 
intercessão que salva as almas. E' assim que 
consolaremos o Coração divino que faz as 
suas delicias de estar com os filhos dos ho­
mens. 
RESUMO.- O objecto espiritual e prin­
cipal da devoção ao Sagrado Coração é o 
amor de Nosso Senhor dedicando-se á salva­
ção dos homens, mórmente pela Paixão e pela 
divina Eucharistia. 
O objecto sensiuel é o Sagrado Coração 
de J esús, esse verdadeiro Coração de carne 
unido hypostaticamente ao Verbo divino, 
Coração vivo nos nossos tabernaculos, sym-
Amor do S. Coração 37 
bolo da caridade sem limites que Jesús­
Cbristo tem para cada um de nós ; fóco ar­
dente do amor com que elle quer abrasar a 
tura ; asylo de todos os corações afflictos·: 
fonte de delicias para as nossas almas e prin­
cipio de todas as graças; e, não obstante, 
Coração saturjldo de amargura pela indiffe­
rença e ingratidão dos homens. 
O objectq do nosso culto relativo é a 
imagem do Sagrado Coração de Jesús repre­
sentado ou com o que nos lembra a sua 
Paixão, ou com o que nos lembra a sua vida 
eucharistica. 
· 
TERCEIRO DIA 
Finalidade intima da devoção ao Sagrado 
Coração: attrahir todos os corações ao amor 
de Nosso Senhor 
Já vimos que o intuito de N. Senhor 
nos escriptos de Santa Gerttudes foi fazer 
conhecer a ternura do seu Coração, attrahir 
desse modo a si muitos corações. 
Jesús tambem deu varias vezes sensivel­
mente os nossos corações a Gertrudes, e re­
cebeu o coração da Santa em troca, para nos 
assignalar o dom mútuo dos corações que o 
seu ·amor pede entre elle e nós. Conservou 
sempre o coração de Gertrudes fiélmente unido 
ao seu. para nos servir ainda de modelo : 
"Gertrudes, dizia Jesús a Sta. Mechtilde, 
adhere de tal forma ao meu Coração, e con­
servo-a de ral forma unida a elle, que ella 
se tornou um tmesmo espírito commigo. Por 
isto ella vive em absoluta dependencia das 
minhÇI$ vontades; os m�mbros estão m'enol$ 
Escopo intimo desta devoção 39 
sujeitos ao coração do que Gertrudes está su• 
jeita ás minhas vontades. Mal o homem diz 
á mão, só pelo pensamento: faze isto; ao 
olho : ólha; á lingua:fala; ao pé: anda; logo, 
sem a menor demóra, a mão, a língua, o olho, 
o pé obedecem. Gertrudes é para mim como 
uma mão, um olho, uma língua de que dis· 
ponho a meu talante, sem que elles resistam 
a nenhum dos meus desejos". 
Jesús manifesta em particular a Gertru• 
des o quanto o seu Coração divino deseja a 
conversão dos peccadores. A Santa rezava um 
dia por uns malvados que haviam causado um 
grande prejuízo ao seu mosteiro. Nosso Se· 
nhor mostrou-se então a Gertrudes : estava 
com um braço 'dolorosamente dobrado e tor· 
ciclo, os nervos pareciam-lhepartidos. E Jesús 
lhe disse : Aquelles que me pedem pela con· 
versão desses infelizes derramam um balsamo 
salutar no meu braço doente,. e com mão deli· 
cada reconduzem pouco a pouco os músculos 
á posição primitiva" Surpresa com este ex· 
cesso de benignidade, Gertrudes disse a Jesús : 
"Dulcíssimo Senhor, como podeis chamar 
vosso braço a taes pessôas tão indignas dessa 
honra? - Chamo"lhes assim com. t)erdade, 
porque ellas são do corpo da Igreja, de que 
40 3,o dia 
me honro de ser a Cabeça. Por isto o inte­
resse das suas almas desperta em mim soli­
citudes inexprimiveis: o meu coração deseja 
com indizível ardor que esses infelizes se con­
vertamH 
REFLEXÕES. - 1 . o A finalidade Ínti­
ma que Nosso Senhor se propoz revelando ao 
mundo a devoção ao seu Sagrado Coração, 
é ainda o amor dos homens, que elle quer 
attrahir todos a si. Jesús quer ter o coração 
do homem: "Meu filho, dá-me o teu cora­
ção" Mas o amor suppõe o conhecimento ; a 
causa do amor é o bem conhecido e sympá­
thico a nós. Si até aqui Jesús não foi amado, 
é que não foi conhecido : eis porque elle ten­
ta um derradeiro esforço para diffundir por 
toda parte o conhecimento do seu amor. Basta 
que o homem olhe para esse Coração aberto 
pelo amor, para que comprehenda o quanto 
é amado, para que veja que tem um Salvador, 
um amigo, e, si quizer pensar nisto um ins­
tante, é impossível que não se sinta attrahido, 
porquanto o amor attrahe necessariamente o 
amor, 
2.0 Jesús quer, pois, primeiramente fa­
zer-nos conhecer o seu amor a todos os ho­
mens. Por este meio, quer vir a. estender so-
Escopo intimo desta devoção 41 
bre todos o reino do amor. Este reino con­
siste principalmente no dom mútuo dos co­
rações, entre elle e nós, na união de vida e 
de sentimentos do nosso coração com o seu 
Coração. O nosso dulcíssimo Senhor precede­
nos, dá-nos em primeiro o seu divino Co­
ração. Não é de toda justiça que a sua pe­
quena creatura lhe dê o seu em troca ? E' esta 
a lei do amor. E por certo, nessa troca, não 
somos nós que tudo temos a ganhar como 
nobreza, como belleza, como paz, como ale­
gria, como felicidade ? Oh ! que admiravel 
condescendencia, que nosso Deus queira assim 
dar-nos o seu Coração para ter o nossó cor,a­
ção ! que permúte os seus thesouros com a 
nossa miseria, o seu poder com a nossa fra­
queza, a sua sabedoria contra a nossa igno­
rancia ! Oh ! saiamos de nós mesmos como o 
amor faz sair de si mesmo o nosso Deus ! ( 1 ) 
Nós, nós somos a miseria, o -erro, o mal, a 
perturbação, o tédio ; saia o nosso coração 
desse meio onde definha ; perca-se em J esús ; 
abysme-se nesse Oceano de rnisericordia, nes­
sa Fonte de todos os bens, nesse Centro de 
paz, nessa Torrente de felicidade! 
( 1 ) Amor divimts e.vtasim facit. ( S. Diony­
sio.) De D. N oin., ç. 4. · 
42 3,<> dia 
A unidade de vida e de sentimentos é 
ainda uma lei do amor gravada na nossà na­
tureza ; o amigo tem a mesma vida que o 
seu amigo : convivit; quer e pensa como elle : 
concordat (I ) ; sem este accordo das vonta­
des e dos sentimentos, a amizade não poderia 
ser verdadeira. Oh ! Jesús que sois nosso 
Amigo no supremo gráo (2) , vinde e vivei 
nos nossos corações, que quereis possuir in­
teiramente. Seja o vosso Coração o nosso co­
ração ; a vossa vontade seja a nossa vontade, 
as vossas virtudes tornem-se as nossas vir­
tudes : falae em nós, orae em nós, fazei vós 
mesmo todas as nossas obras. Só por esta 
união é que podemos satisfazer o vosso amor ; 
só por esta união é que as nossas obras se 
tornam verdadeiramente divinas e merecem 
a recompensa divina que nos haveis promet­
tido. 
3 .0 Pela ·devoção do Sagrado Coração, 
Jesús quiz especialmente propôr aos pecca­
dores o oh jecto e o meio mais proprios para 
convertel-os. Si o peccador se põe um instan­
te em contemplação desse Coração que tanto 
o amou e tanto o ama ainda, si se diz : Eis 
( 1) Santo Thomaz. 
(;n Christus est tiU:Mimc amicús. (S. Thomaz;) , 
Escopo intimo desta devoção 43 
esse Coração que para me salvar soffreu tão 
cruéis tormentos ! e por meus peccados eu o 
afflijo, encho-o de amargura ! não é posssivel 
que não se sinta tocado e não se proponha 
converter-se. E para incentivar-lhe, para fa­
cilitar-lhe o regresso, o terno Salvador offe­
receu-lhe ao mesmo tempo o meio m'ais dôce e 
mais seguro : é o amor que o seu Coração lhe 
quer communicar ; seja qual fôr o numero 
dos seus peccados, o amor apagai-os-á todo!!. 
Jesús dar-lhe-á o amor, e o amor assegurar­
lhe-á o perdão. 
Jesús quiz sobretudo preparar indirecta­
mente o meio mais efficaz para a conversão 
dos peccadores, inflammando o zelo dos 
irmãos delles mais fié.is que deverão auxiliar 
o Redemptor a salvar essas pobres almas. E' 
principalmente ao contacto sagrado desse Co­
ração que tanto amou os homens que o zelo 
da alma dedicada se atêa de viva chama. Ven­
do o que Jesús fez por seus irmãos, essa 
alma quer fazer como elle : orar, dedicar-se, 
soffrer. Nada lhe custará para completar o 
que falta á Paixão do seu dilecto Salvador 
em mira a assegurar a salvação das almas. 
CONCLUSÃO PRATICA. - l .-0 Appli­
querno-nos ao conhecimento do amor do 
44 3.o dia 
Coração de Jesús, e façamol-o conhecer a 
todos. 
2 . o Repitamos a miúdo esta prece dos 
filhos de Jesús : Meu Deus ,dou-vos o meu 
coração, dae-me o vosso. Tendamos, pela 
imitação do Coração de J esús, a transformar­
nos completamente nelle. 
3 .0 Trabalhemos com zelo, pela oração 
e pelo sacrifício, em reconduzir ao Coração 
de Jesús essas pobres almas cuja conversão 
elle tanto deseja. 
PENSAMENTOS DE STA. GERTRUDES . 
- 1.0 Jesús, pelos escriptos de Sta. Getru­
des, far-nos-á conhecer cada vez mais a ter­
nura do seu divino C<;>ração, attrahirá cada 
vez mais os nossos corações ao seu amor. 
2.0 A união com o Coração de Jesús 
requer que vivamos em absoluta dependencia 
das suas vontades. 
· 
3 .0 Aquelle que reza pela conversão dos 
peccadores derrama balsamos nas chagas de 
Jesús. 
RESUMO. -' A finalidade intima da de­
voção ao Sagrado Coração é : 
1 . o Propagar o conhecimento do amor de 
J esús-Christo a todos os homens, 
Escopo intimo desta devoção 45 
2.0 Estabelecer o reino do amor nas 
Z.: mas fiéis, pelo dom mútuo dos corações 
.:�rre Jesús e nós, e pela união de vida e de 
s.:ntimentos. 
3 .0 Propôr aos peccadores o objecto e o 
meio mais proprios para convertel-os, conci­
tando-os a amar Nosso Senhor. Ademais, 
favorecer-lhes a conversão pelo zelo e pelas 
orações das almas animadas da devoção ao 
Sagrado Coração. 
QUARTO DIA 
VIda intima do Coração de Jesús. 
Santa Gertrudes via um dia as suas com­
panheiras se apressarem em ir á igreja, para 
assistir ao sermão, emquanto a doença a re­
,tinha na cella : Ah! meu caríssimo Senhor, 
diz ella gemendo, como eu iria gostosamente 
ao sermão si não estivesse doente! - Quere:;, 
minha dilecta, respondeu Nosso Senhor, 
queres que eu, proprio prégue para ti? - Com 
muito gosto" , replicou Gertrudes. Então 
J esús inclinou a alma de Gertrudes para o 
seu Coração, e ella logo discerniu neste duas 
pulsações dulcíssimas de ouvir : "Uma destas 
pulsações, diz Jesús, opéra a salvação dos 
peccadores; a segunda, a santificação dos jus­
tos. 
"A primeira fala sem trégua a meu Pae, 
afim de lhe aplacar a justiça e attrahir a mi­
sericordia. Por essa mesma pulsação falo a 
todos os santos, desculpando junto a elles os 
Vida intima do S. Coração 47 
peccadores, com o zelo e a indulgencia de um 
bom irmão,. induzindo-os a intercederem por 
elles. Essa mesma pulsação é o incessante ap­
pello que dirijo misericordiosamente ao pro­
prio peccador, com indizível desejo de vêl-o 
regressar a mim, que não me canço de es­
perai-o. 
"Pela segunda pulsação digo continua­
mente a meu Pae quanto me felicito de ter. 
dado o meu sangue para resgatar tantos jus­
tos, no coração dos quaes frú9 tantas ale­
grias. Convido a côrte celeste a admirar com­
migo a vida dessas almas perfeitas e a dar 
graças a Deus por todos os bens que elle já 
lhes deu ou lhes prepara.Enfim, esta pul­
sação do meu Coração é a conversa habitual e 
familiar que tenho com os justos, já para lhes 
testemunhar deliciosamente o meu amor, já 
para reprehendel-os das suas faltas e fazel-os 
progredir de dia em dia, de hora em hora. 
"Nenhuma occupação exterior, nenhu­
ma distração da vista, do ouvido, interrompe 
as pulsações do coração do homem; assim o 
governo providencial do universo não será 
capaz, até o fim dns seculos, de deter, de in­
terromper de moderar,. siquer por um instante, 
istas duas pulsações do meu Coração : " 
48 4.0 dia 
Na quinta-feira santa, Jesús fez com­
partilhar ao coração de Gertrudes as angustias 
que o seu divino Coração experimentou ao 
aproximar-se a sua Paixão. Parecia á santa 
que Jesús passava todo aquelle dia na pros­
tração e nos soffrimentos da agonia, porque 
sabia d'antemão tudo o que devia aturar. 
Por isto, como elle era Filho duma terna 
Virgem e mais delicado ainda que sua Mãe, 
assustava-se e tremia a todo momento, apre­
sentando já f!S convulsões e a pallidez dum 
moribundo. A Gertrudes, partilhando-lhe as 
angustias, sentia tal compaixão delle que, si 
tivesse o poder de mil corações, tel-oia cen­
sumido todo naquelle dia em compadecer-se 
de amigo tão �.:aro e tão amavel. Sentia tam­
bem no seu coração violentas pulsações, pro­
vocadas pelo desejo e pelo amor, que corres­
pondiam ás pulsações do Coração de Jesús, 
de sorte que estava prestes a desmaiar sob a 
violencia dellas. Ora, o Senhor lhe disse : "O 
amor que me animava no tempo da minha 
Paixão,. quando eu supportava no meu Co­
ração todas essas angustias, sito-o hoje no 
teu coração, que tantas vezes se tem com­
movido e penetrado de compaixão pelas mi­
nhas dôres, pela salvafáO dos meus eleitos. 
Vida intima do S. Coração 49 
A.ssim, dou-te em troca dessa compaixão que 
me teStemunhaste durante aquelle dia� tedo o 
preço da minha sagrada Paixão pelo bem de 
tua alma, e quero que recebas tambem, para 
distribuil-o a toda a Igreja, esse mesmo fruto 
da minha Paixão em todos os lugares onde 
se adora hoje em dia o lenho da Cruz" . 
REFLEXÕES. - A vida intima do Co­
ração de Jesús póde resumir-se nesta só pa­
lavra : Amor - Charitas est. As duas pul­
sações do divino Coração que Gertrudes ou­
viu, são pulsações de amor ; amor a Deus e 
ás nossas almas; amor aos justos e aos pec­
cadores ; amor que une com o Sagrado Co­
ração, e tambem entre si, os diversos mem­
bros do seu corpo, e faz que se amem mú­
tuamente e sirvam ao bem uns dos outros : 
como o coração humano, que envia o sangue 
a todos os mebros do n_osso corpo, lhes serve 
assim de centro a todos, e faz circular de um 
a .outro esse liquido nutritivo que cada um 
delles contribuiu para preparar. 
Nós, portanto, membros do corpo mys­
tico de Jesús, animados pelo seu divino Co­
ração, devemos receber em nós essa corrente 
de amor que elle envia a todos os seus mem­
bros, sentir a repercussão das suas divinas 
50 4.• dia 
pulsações, compartilhar-lhe assim os sentimen­
tos, e viver em tudo da sua vida santa. Esta 
vida, dissemol-o, é o amor, e este amor tem 
como que um duplo movimento produzido 
pelas duas pulsações do Coração de J esús ; o 
da acção de graças pela vida recebida, o da re­
paração pela vida perdida ; mais ou menos 
como no corpo humano ha, sob o impulso do 
coração, o duplo movimento da circulação que 
envia o sangue arterial aos diversos membros, 
e da reabsorpção que lhes repara as forças 
perdidas. 
Oh ! sim, sintamos bem em nós os senti­
mentos do Coração de Jesús ! Pulse sempre o 
nosso cQração com essa dupla pulsação de 
acção de graças e de reparação, que é incessan­
te no divino Coração ! Entreguemo-nos em 
primeiro lugar a essa acção de graças que esse 
Coração tão agradecido deseja tanto continuar 
em nós. Felicitemos primeiro a elle proprio 
pela gloria que adquiriu para si soffrendo 
pelos homens, "pelas alegrias multiplas que 
desfruta no coração de tantos justos ganhos 
por seu amor" Por elle, em seguida, convi­
df:mos a Côrte celeste a celebrar comnosco a 
caridade infinita do nosso Deus, a render-lhe 
graças comnosco por todos os bens que já 
Vida intima do S. Coração 51 
nos concedeu ou nos prepara. Unamo-nos 
umbem, por elle, a esse concerto de louvores 
que se eleva sem cessar de todos os pontos da 
terra, inspirados pelo louvor perpetuo que 
�nta o Coração de Jesús em todos os nossos 
ubernaculos. 
Fale em seguida o nosso coração sem 
trégua a Deus Padre em favor dos pobres pec­
�dores, que são seus filhos como nós. Offe­
r.:ç.unos-lhe incessantemente as homenagens 
ea reparação para aplacar-lhe a justiça offen­
:iida, e preces de propiciação para attrahir 
iObre todos a sua misericordia. Chamemos em 
:::tosso auxilio todos os habitantes do céo, un:a­
:::to-nos a todas as almas santas da terra para 
interceder em favor de nossos irmãos e obter­
ibes o perdão. Unamo-nos sobretudo aos dese­
jos ardentes do Coração de Jesús pela con­
n-rsão delles, offereçamos incessantemente por 
�lles o sangue do Redemptor, cuja voz sem­
pre ouvida chama misericordia para todos. 
O trabalho da reparação deve ser acom­
panhado dum sentimento que vem auxiliai-o : 
é a compaixão,. e esta nos traz necessariamente 
a uma pratica que lhe é a consequencia rigo­
rosa : a immolação. Jésús queixa-se nas suas 
dôres de não encontrar corações compassivos, 
52 4.• dia 
Ah ! nós ao men-os, respondamos á sua queixa 
como amigos dedicados ; compadeçamo-nos 
vivamente do seu Coração saciado de oppro­
brios e de amargura. Compadeçamo-nos del­
te na sua Igreja, que com elle é crucificada 
hoje em dia num novo Calvario ; compadeça­
mo nos delle nesses pobres peccadores que lhe 
são os membros tão doloridos, que renovam 
em si mesmos as dôres da sua paixão. Com­
padeçamo-nos delle pelo desejo, pelo amor. 
pelo soffrimento. Entristeçamo-nos com elle 
para consolai-o ; compartilhemos-lhe as dôres 
para suavizal-as ; offereçamo-nos sem reserva 
com elle como victimas de propiciação e de 
immolação, afim de supprirmos em nós mes­
mos o que falta á sua Paixão para a conver­
são dos peccadores ; entreguemo-nos com elle 
a um zelo sem limites, sem reserva, pela ora­
ção, pela acção, pelo sacrifício. 
Oh ! como o Coração de Jesús se enter­
necerá em favor dos corações que assim o 
quizerem consolar ! Como abençoará os que o 
auxiliarem assim a assegurar a utilidade do 
seu Sangue, a consummar a salvação dessas 
almas que lhe são tão caras! Ah ! não duvi­
demos, elle nos dará a nós tarnbem, como a 
Sta. Gertrudes, de modo especial , por urna 
Vida intima do S. Coração 53 
especie de apropriação, todo o fruto da sua 
Paixão, para que o appliquemos a nós mes­
mos, para que o derramemos em todas as 
3lmas de nossos irmãos. 
CONCLUSÃO PRATICA. - 1 .0 Acção de 
�raças habitua"es dadas ao Sagrado Coração 
:!;: Jesús por todos os seus beneficios . 
• o Reparações ardentes, desaggravos, para 
: .:-mpensar, · tanto quanto estiver em nós, a 
:=�gratidão dos homens para com esse amavel 
5.ã.Indor. 
3 .0 Vivos sentimentos de compa1xao 
;.-.l.ra com o divino Coração saturado de op­
?rObrios e de amargura. 
4.0 Offerecimento sem reserva de nos 
mesmos como victimas de immolação e de 
propiciação, afim de consolarmos esse divino 
Coração e completarmos em nós o que falta 
á sua Paixão para a conversão dos peccadores, 
isto é, zelo sem limites, sem reserva, pela ac­
ção e pelo sacrifício. 
QUINTO DIA 
Os desejos do Coração de Jesús. 
"Um dia de quinta-feira santa, Sta. Ger­
trudes viu o Senhor Jesús antes que as Irmãs 
se aproximassem da sagrada mesa, reduzido a 
um estado de extremo desfallecimento pela 
vehemencia do desejo que tinha no seu divi­
no Coração de se unir áquellas almas dilectas. 
Estava como jacente por terra e não tendo 
mais forças. A Santa ficou tão commovida, 
que ella propria se sentiu a pique de desmaiar ; 
mas o Salvador fortificou-a e lhe fez com­
prehender que aquelle desfallecimento era o 
triumpho do seu amor, e que elle ia ficar no 
cumulo das suas delicias dando-se pela sagra­
da communhãoáquellas almas que tanto de­
sejara" . ( IV, 25 ) . 
Um dia Sta. Mechtilde, estupefacta com 
as provas de ternura do Coração de Jesús, 
queria, por um sentimento de respeito, afas­
tar-se um pouco delle ; mas elle, ao contrario, 
Desejos do S. Coração 55 
mais a attrahia, dizendo-lhe : "Não, fica com­
migo para que eu saborêe a minha ventura" . 
(I . 1 9 ) . 
D'outra vez, disse-lhe o Senhor : "Nada 
me proporciona tantas delicias quanto o co­
ração do homem, sem o qual todavia devo 
muitas vezes passar. Tenho todos os bens em 
abundancia; só o coração do homem é que me 
foge ainda" (IV, 54) . 
REFLEXÕES. - 0 Coração de Jesús é 
todo desejo, tatus desiderium ( 1 ) . Deseja a 
gloria de seu Pae, pela qual trabalha unica­
mente ; deseja o coração do homem, para 
haurir nelle as suas delicias ; antes da sua Pai­
xão, desejava ardentemente soffrer para nos 
purificar no baptismo do seu sangue ; hoje. 
deseja com grande desejo vir a nós pela com­
munhão para nos santificar ; deseja-nos por­
que nos libertou por seus soffrimentos, com­
prou por seus trabalhos, conquistou por suas 
victorias ; deseja-nos porque lhe somos o bem. 
a gloria, a felicidade, Ah ! demos-lhe pois o 
que elle tanto deseja. Quem somos nós para 
recusar ao amor aquillo que elle deseja ? Meu 
I 
(1) Cant. (v. 16) , s_egundo o hebraico. Vêr 
Cornelio a Lavide, 
56 5.o dia 
Deus, vós que vos bastaes eternamente na 
plenitude dos vossos be�s. quizestes, por uma 
extrema delicadeza de amizade, precisar de 
nós, e, , agora que solicitaes o nosso coração 
com ternura infinita, teríamos a triste cora­
gem de vol-o recusar ? Pedis-nos o coração 
para santificai-o e abençoai-o, e seríamos bas­
tante insensatos para não vol-o dar ! Quereis 
enchei-o dos vossos bens, do vosso amor, da 
vossa divina beatitude, e seríamos bastante 
máos para val-o fechar ! Oh ! não, amor ! O' 
Deus desejoso de tudo e todo desejavel, vosso, 
só vosso seja todo o nosso coração ! Abando­
namo-vot-o para sempre, sem temor e sem 
reserva ; abandonamo-val-o por puro amor ; 
entregamol-o inteiramente aos vossos desejos. 
Mas nós tambem, por nossa vez, dese­
jemos a Jesús que tanto nos deseja. Elle é 
para nós todo desejavel, sejamos para elle to­
dos desejo. O desejo, · dizem, é o amor do bem 
ausente : ai! Jesús está ausente para nós
.
: pere­
gre profectus est. Oh ! desejemos ir procurai-o, 
achai-o, chegar até elle : Oh! ire, oh! sibi 
perit'e, oh ! ad te pervenire! (S. Aug. Serm. 
CLIX. ) Desejemol-o com esse desejo que 
consumia o coração do Apostolo, quando ex­
damava : "Estou angustiado, desejo ser dis-
Desejos do S. Coração 57 
solvido para me ir juntar a Jesús" . Oh ! si 
soubéssemos o quanto lá de cima elle nos de­
seja ! si soubessemos que todos os Santos, par­
tilhando-lhe os desejos, esperam com impa­
ciencia, como elle dizia a Sta. Gertrudes, o 
momento em que iremos com elles augmen­
tar-lhe os amores, oh ! como desprezaríamos 
esta terra, comio os nossos olhares se volveriam 
para o céo, como o nosso desejo e o nosso 
coração se fixariam lá em cima, onde está todo 
o nosso thesouro ! 
Mas emquanto nos não é dado possuir 
a Jesús no céo, desejemos neste mundo fazer­
lhe a vontade, possuir-lhe o Coração, ��ir­
nos á sua Cruz. Como Gertrudes, procure· 
mos sempre conhecer-lhe a vontade para cum­
pril -a fielmente ; estejamos sempre ·"com pres­
sa" para lhe executar as ordens ; apprehenda­
mos com solicitude os menores signaes que 
nos manifestam o bemplacido do seu Cora­
ção, e empenhemo-nos com todas as nossas 
forças em satisfazel-o. Peçamos-lhe sem ces­
sar o seu Coração sagrado que é o penhor da 
sua ternura, o nosso verdadeiro thesouro. o 
orgão do nosso amor. Que elle nos una com­
sigo numa mesma caridade! Oh ! amor, o que 
fazes faze-o quanto antes. Oh ! Si os dons 
511 5,o dia 
do amor são tão desejaveis, que não deve ser 
o proprio amor, fonte de todos, esses dons? 
Senhor é a vós que eu amo, é para vós que 
sou feito : nada poderá satisfazer-me sinão 
vós mesmo, nada poderá contentar o meu 
coração sinão o dom do vosso Coração ; quero 
cada - vez mais dar-vos o meu sem reserva, 
para que me deis o võsso todo. 
A Cruz não se separa do dom do Co­
ração de Jesús, nunca o esqueçamos. A alma 
unida a esse divino Coração, não mais sen­
tindo sinão pelos sentimentos delle, deseja 
como elle esse baptismo de sangue em que 
acabará de purificar-se em que se transfor­
mará com elle numa victima santa pela sal­
vação do mundo. O amor da Cruz é o signal 
dos amigos dedicados do Coração de Jesús, 
o desejo da Cruz é levado nelles não raro até 
á paixão, até á loucura. "Penso, dizia uma 
dessas almas generosas, ( 1 ) , que o desejo de 
soffrer me fará morrer" . Quanto a nós, en­
treguemo-nos ao menos· a esse desejó em 
união com o Coração de Jesús ; digamos com 
a Victima santa : "Aqui estou, meu Deus, para 
fazer a vossa vontade" , e faça-se em seguida 
seu bel prazer. 
( 1 ) A B, M. da Incarnação (Sra. Acarie) . 
Desejos do S. Coração 59 
Entreguemo-nos a desejos sem limites, 
primeiro nas nossas orações. Corno Daniel a 
orar pelo seu povo, sejamos homens de de­
sejos, e as nossas orações, corno as delle, mere­
cerão ser ouvidas pela salvação da Igreja. 
Santa Gertrudes, concentrando no coração de­
sejos universaes e infinitos, soava com os de­
sejos de todo o universo, ex affectu totius 
universitatis, e para o maior bem de todo o 
universo, no céo na terra e no purgatorio. 
Eis um coração verdadeiramente segundo o 
Coração de Jesús, grande corno elle, amando 
corno elle, desejando corno elle. Transporte­
mos esses desejos sem limites a todas as noss_as 
obras, para que essas obras possam corres­
ponder ás necessidades da Igreja, que são sem 
limites. Pequenas em si, ellas serão engran­
decidas pelos nossos desejos, e Jesús, que torna 
o desejo pela realidade, dar-lhes-á valor sem 
·:mites para a salvação do mundo. "O' meu 
Deus ! dizia Sta. Catharina de Senna, corno 
fareis nestes desventurados tempos para pro­
vêrdes ás necessidades da vossa lgre ia ? Sei o 
aue fareis : o vosso amor suscitará hornenr 
de desejos ; as suas obras finitas, juntas a de­
sejos infinitos, far-vos-ão attender-lhes os 
anhelos pela salvação do mundo" . 
60 5.0 dia 
Parece, porém, que é sobretudo no to­
cante ás cruzes que, nestes tempos em que 
as almas são tão fracas, o Coração de Jesús 
espera de nós grandes desejos para supprir 
aquillo que não podemos soffrer : "Senhor, 
dizia Sta. Gertrudes, inspirada pelo Coração 
de Jesús, offereço-vos todos os soffrimentos 
de minhas Irmãs, com o desejo de atural·o.r 
até o fim do mundo, si fôr o vosso benepla­
cíto. - Faze-me amiudadamente este offere­
cimento que me inebria o Coração e o torna 
incapaz de vos recusar o que quer que seja. ­
Já que esse offerecimento vos é tão grato, ensi­
nae-me como vol-o poderei fazer sempre. -
Offerece-me sempre, com coração contrito e 
humilhado, o desejo de soffrer para minha 
gloria, si preciso, todos os soffrimentos do 
mundo até o fim dos tempos, e alcançarás do 
meu coração tudo quanto lhe quizeres pedir" 
CONCLUSÃO PRATICA. - 1 .0 Dizer ás 
vezes a invocação : O' J esús, uni a minha von­
tade á vossa vontade, o meu coração ao vosso 
Coração, a minha cruz á vossa cruz. 
2. o - Offerecer as nossas orações, ac­
ções, penas com a piedosa formula de Sta. 
Gertrudes : com o amor de todo o universo 
e do proprio P�1,1s, e para que sirvam il um 
Desejos do S. Coração 61 
augmento de graça ou de gloria para todos 
os habitantes do céo, da terra e do purgato­
rio cum delectamento divinitatis ex affectu 
totius universitatis, ut cedat in augmentum 
salutis omnibus crelestibus, terrestribus et pur­
gendis. 
SEXTO DIA 
Os desejos do Coração de Jesús (continuação) 
Gertrudes foi, por excellencia, a Santa 
dos desejos, e mereceu que muitas vezes nos­
so Senhor a certificasse de que esses desejos 
seriam contados corno si se tivessem realizado, 
e de que acceitava a sua bôa vontade corno 
urna realidade. Ha, de resto, certo numero de 
Santos que só se tornaramsantos pelos desejos 
( 1 ) : Deus ouviu-lhes a preparação do cora­
ção. A perfeição das suas disposições valeu­
lhes as graças maiores, e a santidade das in­
tenções deu rnerito incornparavel ás suas me­
nores acções. Ora, é um caracter particular 
da devoção ao Sagrado Coração, tal corno 
nol-a faz conhecer Sta. Gertrudes, o santifi­
carmo-nos pelos desejos. U:tilizernos pois este 
( 1 ) S. JoãQ Berchmans, por exemplo. O Ve­
neravel Padre de la Colombiere dizia tambem a res­
peito do desejQ tão perfeito que o santificou : Deus 
não poderia deixar de tomar o desejo pela realidade. 
Desejos do S. Coração 63 
meio tão facil, tão dôce, tão animador. Vol­
vamos todas as nossas intenções para Deus. 
Unamo-nos ao Coração de Jesús nas meno­
res acções por um desejo bem. puro, bem sin­
cero e sem limites, de glorificar seu Pae, e 
noss'alma enriquecer-se-á de meritos incom­
paraveis, e o Coração do bom Mestre ficará 
consolado de ouvir e de satisfazer em nós 
os seus proprios desejos. 
Ha um mysterio de amor em que Nosso 
�enhor não quer que o frustrem nos seus de, 
sejos, que a impeçam as delicias do seu Co­
ração : é o mysterio da sagrada Eucharistia. 
Comprehendamos bem porque foi que elle a 
instituiu : foi para estar comnosco até á con­
summação dos seculos. Não foi certamente 
para ficar sózinho, abandonado num Taber­
naculo, verdadeira prisão de amor, onde o 
deixamos tantas vezes definhar no isolamento. 
:\h! sim, é ahi sobretudo que elle nos deseja 
�om grande desejo, é ahi que insta comnosco 
.1 nos virmos unir a elle, chamando-nos sem 
�o::ssar, convidando-nos com ínsístencia, for­
.;ando-nos de alguma sorte a entrar. Respon· 
dú-lhe pois ao appello ; ide vísital-o com so­
_ :citude igual ao seu amor ; ide colhe� as gra· 
�s que elle quer derramar sobre vós p�lo 
64 6.o dia 
seu sacrifício ; ide unir-vos a elle pela sagrada 
Communhão. Elle vos abre o coração ; não 
temaes. Não digaes tão facilmente que ainda 
não estaes bastante preparado ; já que elle vos 
convida, elle que sabe de tudo, é porque não 
quer esperar por mais longa preparação. Elle 
bem sabe o de que somos capazes : não ·nos 
pede disposições perfeitas ; contenta-se com a 
nossa bôa vontade. Ide pois a elle sem. tardan­
ça, com confiança e abandono. Preferí aban­
donar-vos agora ao seu amor misericordioso, 
a terdes de prestar contas mais tarde á sua 
justiça das communhões a que tiverdes falta­
do por culpa vossa, dos convites da sua ter­
nura a que não houverdes correspondido, das 
graças privilegiadas do seu Coração que não 
tiverdes querido receber. 
Em vez de regatearmos a J esús o nosso 
coração, esforcemo-nos antes, como Gertrudes, 
por lhe trazer comnosco as almas de nossos 
irmãos transviado& que elle tanto deseja �nir 
a si pela Communhão. "Manda entrar" , dizia 
Jesús a sua esposa, as almas pelas quaes re­
zastes esta semana; porque as quero ter á mi­
nha mesa" . - Senhor, e como as posso fa­
zer entrar ? Certamente, por mais indigna que 
eu seja, si pudésse trazer-vos todos esses ho-
Desejos do S. Coração 65 
mens com quem vos dignaes fruir as vossas 
delicias, eu iria de pés descalços bem gostosa­
mente, desde este dia até o do juizo, buscai-os 
por todo o mundo ; tornai-os-ia nos braços e 
vol-os viria apresentar, afim de poder assim 
satisfazer um pouco que seja o desejo infinito 
do vosso divino Coração. Mas como poderei 
fazel-o? - Os teus desejos, respondeu o Se­
nhor, e a tua bôa vontade bastam para tudo" 
E nós tambem, si quizermos contentar 
o Salvador, tratemos de lhe trazer as suas 
ovelhas desgarradas, que elle tanto deseja es­
treitar ao seu Coração. Rezemos, ajamos, com­
batamos, sofframos e, si preciso, morramos 
para lhe conquistar almas. Hoje, mais q·ue 
nunca, é o dia do combate. Vêde quantos 
1ntm1gos se assanham contra a Igreja ! que 
conjura infernal se urde para derrubai-a ! dir­
se-ia que Satanaz tenta um supremo esforço 
para prevalecer contra ella. Deixem pois os 
soldados de Christo qualquer outro pensa­
mento, e lancem-se á batalha. Não é o mo­
mento de nos occuparmos de nós mesmos e 
dos nossos próprios interesses ( 1 ) , por mais 
( 1) Bem se comprehende que isto não é dito 
para todos ; quantas almas não ha porél)l que se 
adiantariam mais depressa e mais seguramente na 
I 66 6.0 dia 
importantes que pareçam. E' preciso comba­
ter ; é preciso soccorrer a santa Igreja; é pre­
ciso salvar nosos irmãos ! Eis o desejo do 
Coração de Jesús ! Eis o nosso desejo ! 
CONCLUSÃO PRATICA. - 1 .0 Desejemos 
a cada instante, como Sta. Gertrudes, conhe­
cer os desejos do Coração de Jesús para com­
partilhai-os com elle e nos esforçarmos por 
satisfazel-os. 
2.° Consideremos como a melhor pre­
paração para a Communhão o desejo de cor­
respondermos ao desejo de Jesús. A sagrada 
Communhão é antes um soccorro para as nos.­
sas necessidades, do que uma recompensa para 
as nosas bôas disposições ; é, antes de tudo, 
uma comida para a qual o desejo é excellen­
te preparação, como o appetite para a comida 
do nosso corpo. 
3 .0 Sejamos homens de desejos pela sal-
.perfeição, si se esquecessem 31 si mesmas uma vez 
.por todas, para não mais pensar sinão nos interesses 
de Jesús-Christo e da sua Igreja ! "·Pmsa em mim 
e e" pensarei em ti", dizia Jesús a Sta. Catharina de 
Senna. Eis, para muitas almas,. o melhor meio a em­
pregar para se desvencilharem das suas miserias e 
avançarem rapidamente nas vias do amor, 
Desejos do S. Coração 67 
vação de nossos irmãos e 'pelo triumpho da 
Igreja. 
Assim como os desejos de Maria apres­
saram a vinda do Salvador, os desejos dos 
justos, abreviando-lhe os dias de desdita, po­
derão apressar o dia da salvação para a Igreja. 
SETIMO DIA 
Primeiro fruto da detJoção ao Sagrado Co­
ração : o Coração de Jesús tJitJifica todas as 
nossas obras. 
"Trazendo um dia o seu Coração nas 
mãos, Jesús apresentava-o a Gertrudes e lhe 
dizia : "Vê o meu dulcíssimo Coração, har­
monioso instrumento cujos acórdes arroubam 
a Trindade Santa : dou-t'o, e como um servo 
fiél e solicito ficará elle ás tuas ordens, para 
supprír as tuas impotencias ( 1 ) . Usa do meu 
Coração, e as tuas obras encantarão o olhar 
e o ouvido de Deus" 
"Gertrudes hesitava em fazel-o ; Jesús 
triumphou das suas apprehensões, esclarecendo 
ainda mais a sua humildade : 
"Perante uma assembléa respeitavel, diz­
lhe elle, um homem deve cantar ; mas a voz 
( 1 ) O texto traz : Para reparar a toda hora ãs 
tuas negligencias. 
Vida d. nossas obras 69 
delle é aspera e falsa ; mal póde elle tirar 
do peito alguns sons que não firam o ouvido. 
Ora, tú estás perto deU e ; tens, assim o quero, 
uma voz flexível, límpida, sonora ; podes dar­
lhe a tua voz ou cantar em lugar delle ; dese­
jas fazel-o ; elle conhece o teu desejo ; não te 
indignarias contra elle si elle recusasse cor­
responder aos teus offerecimentos ? Assim, co­
nheço a tua miseria, e o meu Coração póde 
suppril-a ; deseja ardentemente fazel-o, é para 
elle uma viva alegria : tudo o que elle pede 
é que lhe confies o cuidado disso, sinão por 
uma palavr.a ao menos por um sígnal qualquer 
da tua vontade" 
REFLEXÕES. - Já lembrámos que o 
duplo papel do coração no corpo humano 
consiste em vivificar-nos os diversos orgãos 
e em lhes reparar as forças perdidas, E' tam­
bem o duplo papel que desempenha o Cora­
ção de Jesús no seu corpo mystico que é a 
Igreja. Só elle deve vivificar tudo nas nossas 
almas ; só elle póde reparar efficazmente todas 
as perdas que tivermos. Consideremos pri­
meiramente a primeira dessas funcções : o Co­
ração de Jesús vivifica todas as nossas obras 
e transforma-as em obras santas e divinas. 
As pa
.
lavras e os olhares do corpo humano são 
70 7.• dia 
palavras e olhares intelligentes, não que haja 
intelligencia nos nossos orgãos, mas porque 
procedem dum principio intelligente ; · assim 
tarnbem, as diversas obras do homem tornam­
se obras divinas si procedem desse principio 
divino que é o Coração de Jesús. O grande 
ponto na vida christã é pois a união em tudo 
com o Coraçãode J esús. Esta união, quando 
habitual. faz-nos chegar rapidamente á mais 
alta perfeição, corno Nosso Senhor o ensinava 
a Sta. Machtilde. "Um dia em que ella aca­
bava de receber a sagrada Cornrnunhão, pare­
ceu-lhe que o seu coração era absorvido pelo 
Coração de Jesús e fazia agora urna só 
causa com elle. Ora, o Senhor disse-lhe : E' 
assim que eu quero que o coração do homem 
me seja unido nos seus desejos, de tal sorte 
que nada deseje por si mesmo, mas regúle 
todos os seus desejos segundo os desejos do 
meu Coração, corno dois ventos que sopram 
junto.s já não formam sinão uma só corren­
te. O homem deve tarnbern unir-se ao meu 
Coração em todos os seus actos, de sorte que, 
si por exemplo quizer comer ou dormir, diga 
em si mesmo : Senhor, em união desse amor 
que vos fez crear para mim este ·allivio, vou 
tornai-o para vossa gloria e para a necessidade 
Vida d. nossas obras 71 
do meu corpo. Semelhantemente, quando 
houver um trabalho por fazer, diga ellé : Se­
nhor, em união desse amor que vos fez tra­
balhar com as vossas mãos e vos faz ainda 
operar incessantemente em minh' alma ; em 
união do amor com que me confiaes agora 
esta tarefa, quero desobrigar-me della para 
vossa gloria e para a salvação de todos. Já que 
haveis dito : Sem mim nada podeis fazer, 
dignae-vos tornar perfeita esta obra pela 
união com as vossas obras, como uma gôta 
d'agua que cáe num rio se lhe assimila ás 
aguas. Una-se emfim o homem ao meu Co­
ração em todas as suas vontades, de sorte que 
queira tudo quanto eu quizera, na adversidade 
e na prosperidade. Assim como o cobre, fun­
dindo-se no fogo com o ouro forma com o 
ouro um só metal precioso, assim tambem o 
coração do homem passará a fazer uma só 
cousa com o meu Coração, o que é a maior 
perfeição desta vida" ( III, 27) . 
Appliquemos por meúdo esta doutrina 
aos diversos actos da nossa vida. Devemos 
primeiro unir as nossas orações ás orações 
do Coração de Jesús : "Um domingo de Ra­
mos, Sta. Gertrudes, inflammada toda do de­
sejo de dar hospitalidade a Jesús. como o fi-
7-2 7.0 dia 
zera naquelle dia á família de Bethania, lan­
çou-se aos pés do seu Crucifixo e, beijando 
,com ardor a chaga do sagrado lado de Jesús. 
�spirou em si todo o desejo que tivera o seu 
·'amabilíssimo Coração, supplicando-lhe, pelo 
ardor de todas as orações saídas desse Cora­
ção adoravel, que se dignasse vir a ella. E 
Jesús logo lhe deferiu a supplica e cumulou-a 
de seus favores" Como poderia elle resistir ao 
seu proprio desejo, recusar ouvir a propria 
prece do seu Coração? 
O proprio Jesús recommendara-Ihe esse 
modo de rezar. "Todas as vezes que quizeres 
rezar por algumas almas, apersenta-me o meu 
dulcíssimo Coração, em união do amor que 
me fez tomar este coração de homem para a 
·salvação do homem, em união do amor parti­
cular com que tantas vezes t' o tenho dado, e 
deste modo conceder-te-ei tudo quanto me pe­
dires para os homens : será como qu� o cofre 
dum homem rico que trazem a este para que 
tire delle presentes para os seus amigos" 
Não sentimos porventura que deve ter 
um poder irresistivel sobre o Coração de 
Jesús a oração feita assim : o· Amigo, peço­
vos aquillo que quereis mais do que eu : a 
salvação das almas ? 
Vida d. nossas ·obras 73 
Peço-vol-o em nome do amor que ten­
-des a essas almas ; peçovol-o para consôlo do 
vosso Coração ; peço-vot-o em nome da ami­
zade que tantas vezes me tendes testemunha­
do ; peço-vol-o em nome do vosso Coração 
que tantas vezes me tendes dado ! 
Oh ! sim, si quizermos rezar assim, bem 
podemos dizer, e a Igreja a isto nos convida 
na sua liturgia : achei o meio de rezar com 
uma oração soberanamente efficaz, achei o 
Coração de Jesús que é tambem o meu co­
ração ( 1 ) , visto que sou membro do seu cor­
po ; com esse Coração, rezarei a Deus, meu 
Pae, e a minha oracsão será sempre ouvida. 
CONCLUSÃO PRATICA. - Rezemos por 
intermedio do Coração de Jesús, aspirando 
em nós os seus desejos, amando com o seu 
amor, querendo com a sua vontade. e deste 
modo a nossa oração será sempre ouvida, por­
que será sempre segundo o Coração de Deus. 
( 1 ) Hoc igilur invcnio C arde tuõ et mcoJ. 
( Off. S. Cordis ]., Lect. li, Noct. ) . 
OITAVO DIA 
O Coração de Jesús vivifica as nossas boas 
obras (continuação) . 
Sta. Gertrudes ensina-nos tambem como 
as nossas a:cções são ennobrecidas e santifica­
das pela união ao Coração de Jesús. Recom­
menda á alma depositar todas as suas obras 
no Coração de Jesús como num ninho ce­
leste, para que ahi se deifiquem pelas suas 
divinas intenções. 
Parece porém que, o que o Coração de 
Jesús deseja acima de tudo é que unamos as 
nossas penas ás suas para que elle lhes commu­
nique os seus meritos infinitos. Não ha nada 
que elle recommende tão a miúde. Um dia em 
que Sta. Mechtilde achava que as suas enfermi­
dades a tornavam como inutil para o serviço 
de Deus, Jesús lhe disse : "Deposita todas as 
tuas penas no meu Coração, e dar-lhes-ei 
a maior _perfeição para utilidade de toda a 
Igreja. Do mesmo modo que a minha divin-
Vida d. nossas obras 75 
dade uniu a si os soffrimentos da minha hu­
manidade para divinizai-os, assim tambem 
quero unir a mim os teus soffrimentos para 
tornai-os p.-:rfeitos. Offerece-os ao meu amor 
dizendo : O' Amor, confio-te as minhas penas 
na mesma intenção com que m'as haveis tra­
zido do Coração de meu Deus, e rogo-te que 
as leves a elle pela mais perfeita gratidão, 
quando lhes tiverdes dado a ultima perfeição. 
E' assim que o teu coração se unirá a esse amor 
que me fez abraçar a Cruz de todo o meu 
coração, e a essa gratidão com ,que agradeci a 
meu Pae o haver-lhe _permittido soffrer por 
aquelles que amo ; e do mesmo modo que a 
minha paixão deu frutos infinitos no céo e 
na terra, assim as tuas penas, mesmo as mais 
pequenas, unidas com a minha paixão, darão 
frutos taes, que os habitantes do céo rece­
berão com elles- um accrescimo de gloria ; os 
justos, maior merito ; os peccadores, o perdão ; 
e as almas do purgatorio, um allivio. Que ha, 
com effeito, que o meu divino Coração não 
possa mudar em melhor, já que todo bem 
que contêm o céo e a terra saiu da bondade 
do meu Coração?" 
Oh ! porque não haV'eriamos tambem 
nós de assegurar ás nossas penas, mesmo ás 
76 8." dia 
menores, esses frutos incomparaveis que a 
união com o Çoração de Jesús assegurava ás 
da nossa Santa ? Porque não as haveríamos 
tambem nós de receber, com aquelles senti­
mentos de amor e de gratidão que ella hauria 
no Coração do Salvador ? E' no entanto tão 
facil e tão dôce ! Não se trata de soffrer mais, 
porém melhor, porém com mais consôlo e 
mais fruto. E isto se reduz a soffrer tudo em 
união com o Coração de Jesús. Oh ! seja 
doravante a nossa pratica habitual. 
Não é evidente que si levarmos assim as 
nossas penas ao Coração de Jesús, ellas serão 
logo grandemente consoladas ? Uma vez, Sta. 
Mechtilde rezava por uma pessôa afflicta ; 
disse-lhe o Senhor : "Venha ella trazer-me as 
suas penas com simplicidade de criança ; bus­
que a sua consolação no meu Coração com­
passivo, e nunca a abandonarei" Jesús fez 
dom do seu divino Coração ás nossas almas. 
accrescenta a Santa, para que na tristeza nos 
refugiemos nelle com confiança. 
Sta. Gertrudes tinha o habito de offere­
recer a Deus o cantico de lou{)or e da acção 
de graças "com o instrumento melodioso do 
Coração de Jesús e segundo as intenções do 
Coração de Jesús, em nome de todas as crea-
Vida d. nossas obras 77 
turas" : - Sta. M echtilde tambem usa muitas 
vezes desse Coração dulcíssimo como duma 
{yra, para fazer resoar um canto de louvor e 
de gratidão em intenção de todos ( 1 ) . 
O Coração de Jesús era ainda especial­
mente para as duas Santas o orgão do seu 
amor, e succedeu-lhes muitas vezes, quando 
se achavam tíbias e sem devoção , sentirem o 
Coração divino pousar-se-lhes sobre o cora­
ção, como ouro em brasa, e inflammal-o de 
seu amor. 
Jesús déra seu Coração a Sta. Mechtildl.', 
e offerece-o igualmente a cada um de nós para 
uma tríplice união e como

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