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sÉRIE PETRÓLEO E GÁs Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás sÉRIE PETRÓLEO E GÁs Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI Robson Braga de Andrade Presidente DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA – DIRET Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor de Educação e Tecnologia SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Conselho Nacional Robson Braga de Andrade Presidente SENAI – Departamento Nacional Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor Geral Gustavo Leal Sales Filho Diretor de Operações sÉRIE PETRÓLEO E GÁs Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás © 2014. SENAI – Departamento Nacional © 2014. SENAI – Departamento Regional do Rio de Janeiro Reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico, mecânico, fotocópia, de gravação ou outros, somente será permitida com prévia autorização, por escrito, do SENAI. Esta publicação foi elaborada pela equipe do Núcleo de Educação a Distância do SENAI do Rio de Janeiro, com a coordenação do SENAI – Departamento Nacional, para ser utilizada por todos os Departamentos Regionais do SENAI nos cursos presenciais e a distância. SENAI – Departamento Nacional Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP SENAI – Departamento Regional do Rio de Janeiro Núcleo de Educação a Distância – NUCED Ficha catalográFica Catalogação-na-Publicação (CIP) – Brasil Biblioteca Artes Gráficas – SENAI-RJ SENAI/DN. Fundamentos da indústria de petróleo e gás / SENAI/DN [e] SENAI/RJ. – Brasília : SENAI/DN, 2014. 96 p. : il. ; 29,7 cm. – (Série Petróleo e Gás). ISBN 978-85-7519-604-5 1. Indústria petroquímica. 2. Petróleo. I. SENAI/RJ. II. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. III. Título. IV. Série. CDD: 665.5 S491f Sede Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto Simonsen • 70040-903 • Brasília – DF • Tel.: (0xx61) 3317-9001 Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Lista de ilustrações Figura 1 – Os técnicos e a indústria do petróleo e gás 11 Figura 2 – Produção de petróleo 15 Figura 3 – Pirâmide de Queóps, Cairo, Egito 16 Figura 4 – Campanha “O Petróleo é Nosso!” 25 Figura 5 – Getúlio Vargas assina a Lei nº 2004, que cria a Petrobras 25 Figura 6 – Bacias sedimentares brasileiras 27 Figura 7 – Plataforma elevatória P-1, primeira plataforma móvel de perfuração da Petrobras, construída em 1967 e 1968 29 Figura 8 – Plataforma no Campo de Garoupa 30 Figura 9 – Cana-de-açúcar 31 Figura 10 – Abastecimento com álcool 31 Figura 11 – A plataforma Sedco 135-D foi a primeira a produzir no Campo de Enchova, na Bacia de Campos 32 Figura 12 – Refinaria Duque de Caxias-RJ 33 Figura 13 – Homens trabalhando no Amazonas – 1950 34 Figura 14 – P-18, a primeira plataforma semissubmersível com tecnologia brasileira 34 Figura 15 – Agência Nacional do Petróleo (ANP) 35 Figura 16 – Sala de visualização sísmica 3D – Unidade da Bacia de Campos (RJ) 36 Figura 17 – Localização do pré-sal 37 Figura 18 – PFSO - P-50 38 Figura 19 – Obras do Comperj em 2010 39 Figura 20 – Mapa da Petrobras mostrando a região do pré-sal 40 Figura 21 – Maiores reservas de petróleo em 2009 – Em bilhões de barris 40 Figura 22 – FPSO – Navio-plataforma 41 Figura 23 – Construção do petroleiro Zumbi dos Palmares 42 Figura 24 – Representação em corte da estrutura terrestre 42 Figura 25 – Escala do tempo geológico 45 Figura 26 – Amostra da estrutura interna de uma rocha 46 Figura 27 – Rocha ígnea extrusiva 46 Figura 28 – Rocha ígnea intrusiva 46 Figura 29 – Rocha sedimentar 47 Figura 30 – Exemplos de arranjo geológico 48 Figura 31 – Exemplo de trapa 49 Figura 32 – Exemplos de trapas estruturais 49 Figura 33 – Exemplo de trapa estratigráfica 50 Figura 34 – Transformação termoquímica da matéria orgânica e a geração do petróleo 52 Figura 35 – Distribuição de fluidos em um reservatório molhado pela água 54 Figura 36 – Plataforma de perfuração de poços marítimos 59 Figura 37 – Aplicação de método sísmico de reflexão onshore 62 Figura 38 – Aplicação de método sísmico de reflexão offshore 63 Figura 39 – Sonda de perfuração 64 Figura 40 – Broca de perfuração 65 Figura 41 – Classificação dos poços quanto ao percurso 67 Figura 42 – Coluna de revestimento e cimentação 68 Figura 43 – Coluna de revestimento e cimentação em três momentos 69 Figura 44 – Árvore de Natal onshore 70 Figura 45 – Gasoduto terrestre 72 Figura 46 – Tanques de armazenamento 73 Figura 47 – Exemplo de uma torre de destilação 74 Figura 48 – Exemplo de uma refinaria e seus derivados 75 Figura 49 – Plataforma de produção marítima 79 Figura 50 – Exemplo de um separador trifásico 80 Figura 51 – Exemplo de um separador eletrostático 82 Figura 52 – Destilação de derivados de petróleo 84 Figura 53 – Torre de destilação em uma refinaria 86 Figura 54 – Exemplo de manutenção de rotina 89 sumário 1. Introdução 11 2. Mercado do petróleo e gás no mundo e no Brasil 15 2.1 Histórico no mundo 15 2.2 Histórico no Brasil 22 2.3 Noções da geologia de petróleo e gás (formação geológica) 42 2.3.1 Tempos geológicos 44 2.3.2 Geologia estrutural 44 2.3.3 O petróleo e sua origem 51 2.4 Reservatórios 52 2.5 O petróleo e o meio ambiente 56 2.6 Noções de legislação e normas 56 3. Cadeia de petróleo e gás 59 3.1 Prospecção 59 3.2 Perfuração 63 3.3 Explotação/produção 69 3.4 Transporte e armazenamento 71 3.5 Refino 74 3.5.1 Principais processos de refino 76 4. Fundamentos de processos da indústria de petróleo e gás 79 4.1 Processamento primário de fluidos 79 4.2 Destilação 84 4.3 Craqueamento 86 4.4 Manutenção 88 Referências 93 Introdução Cl eb er M ag no d o Sa cr am en to Figura 1 – Os técnicos e a indústria do petróleo e gás O impacto dos avanços tecnológicos tem sido intenso nas indústrias petrolíferas no Brasil, principalmente no setor de pesquisas, perfuração e produção. E, com isso, aumenta cada vez mais a necessidade de mão de obra especializada neste setor e nos setores paralelos relaciona- dos ao segmento. Com a industrialização do petróleo e a necessidade de novos produtos e derivados, o mundo sofreu mudanças econômicas e tecnológicas, o que trouxe indícios de pesquisas mais contundentes, aumentando a possibilidade de encontrar petróleo e, consequentemente, dimi- nuindo gastos desnecessários com investidas economicamente inviáveis. Mesmo com todo esse avanço tecnológico, se faz necessária a presença do homem (ge- ofísicos, geólogos e técnicos) nas regiões onde os satélites apontam as possibilidades de exis- tência de petróleo (quase sempre regiões de difícil acesso), com a finalidade de realizar testes geológicos, sísmicos e, se necessário, perfurar poços em busca da confirmação da existência do petróleo e de colher dados para uma possível produção. 1 Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás12 Fundamentos da Indústria de Petróleo e Gás COMPONENTES CURRICULARES CARGA HORáRIA Módulo Básico Módulo Específico Profissional (1ª Etapa) Módulo Específico Profissional (2ª Etapa) CARGA HORáRIA TOTAL: TéCNICO EM PETRóLEO E GáS: 1.200H Fundamentos Técnicos e Científicos de Petróleo e Gás Comunicação e Informática – 32h Fundamentos da Indústria de Petróleo e Gás – 60h QSMS – Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança Aplicados a Petróleo e Gás – 24h Metrologia e Instrumentação Aplicadas a Petróleo e Gás – 80h Química Aplicada a Petróleo e Gás – 80h Física e Matemática Aplicadas a Petróleo e Gás – 80h Operação de Sistema Produtivo na Cadeia de Petróleo e Gás Exploração Onshore e Offshore – 160h Tecnologias do Sistema Produtivo Onshore e Offshore – 160h Processamento do Petróleo e Gás – 100hLogística e Manutenção da Cadeia de Petróleo e Gás – 64h Planejamento e Atividade na Cadeia de Petróleo e Gás Gestão de Pessoas – 40h Gestão da Produção – 80h Controle da Qualidade de Insumos, Produtos e Processos na Cadeia de Petróleo e Gás Ensaios Analíticos na Cadeia de Petróleo e Gás – 80h Avaliação de Desempenho de Insumos, Produtos e Processos – 60h Manutenção em Sistemas Produtivos na Cadeia de Petróleo e Gás Manutenção Industrial – 100h 356h 484h 360h Este é o livro didático de Fundamentos da Indústria de Petróleo e Gás, que faz parte do Módulo Básico, formado por unidades curriculares que permitem desen- volver as competências básicas e de gestão necessárias à sua formação de técni- co em Petróleo e Gás. Segue a matriz curricular do curso para facilitar seu enten- dimento sobre o percurso que terá que realizar. 13 Anotações: 1 Introdução 2.1 HIsTÓRIcO nO mundO As indústrias petrolíferas são as que mais se destacam em pesquisas de novas tecnologias, buscando reduzir custos e possibilitando explorar em águas cada vez mais profundas. Para en- tender toda esta evolução, devemos buscar informações sobre a história do petróleo (Figura 2). Uma das primeiras utilizações dessa substância de que se têm relatos está registrada em tem- pos bíblicos. O Antigo Testamento faz referência ao petróleo na arca de Noé. Também há relatos da utilização do petróleo na constru- ção da Torre de Babel. Estudos de arqueólogos demonstram que há quase 6 mil anos o petróleo foi utilizado por antigos povos: Do Egito Da Mesopotâmia Da Pérsia Esses povos utilizavam o betume para aquecer e ilumi- nar suas casas, calafetar as grandes construções da época e pavimentar estradas. Os egípcios utilizavam o betume no mercado do petróleo e gás no mundo e no Brasil 2 Figura 2 – Produção de petróleo CN I In -F ól io /P au la M ou ra Então, Deus disse a Noé: Constrói uma arca de madeiras. Dividi-la-ás em compartimentos e calafetá-la-ás com betume por fora e por dentro. Gênesis 4, 14 Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás16 processo de mumificação, embalsamando os mortos ilustres e para unir as pedras das pirâmides; o mesmo realizado pelos povos astecas e incas para pavimentação de estradas na descoberta do Novo Mundo (Figura 3). Segundo alguns historiado- res, o betume foi utilizado na construção dos jardins suspensos da Babilônia por Nabucodonosor. Figura 3 – Pirâmide de Queóps, Cairo, Egito In -F ól io /A ce rv o No século II d. C., os chineses usavam o petróleo e o gás natural para aqueci- mento e iluminação, utilizando tubulações feitas de bambu. Em uma de suas expedições de conquista pelo Oriente Médio, Alexandre, o Gran- de, localizou chamas que saíam do solo e uma fonte de combustível que tinha for- mato de lago. Assim, os povos medievais encontraram o petróleo e fizeram as pri- meiras utilizações com materiais bélicos incendiários, como flechas, lanças etc. Só a partir de 1847 é que o petróleo começou a ser utilizado comercialmente; um comerciante dos Estados Unidos, na Pensilvânia, vendia petróleo engarrafado, extraído de vazamentos naturais, para ser utilizado como lubrificante. Cinco anos mais tarde, um químico canadense descobriu que do aquecimento e da destila- ção do petróleo se produzia o querosene, que substituía com grande margem de lucro o carvão, o óleo de baleia e o óleo de rícino, que eram muito utilizados para iluminação e aquecimento. Vazamento natural ou exsudação é o fenômeno em que o petróleo tende a aflorar na superfície da Terra quando não é aprisionado por uma rocha impermeável. Fique alerta 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 17 O primeiro poço de petróleo foi perfurado em 1859, em Pittsbourg, na Pensil- vânia (EUA), por um ex-maquinista de trem, chamado Edwin Drake, mais conheci- do como “Coronel Drake”. Drake achava que da exploração do petróleo proveniente das exsudações na- turais obtinha-se uma produção muito lenta em relação à demanda e resolveu escavar o solo em busca do petróleo, ao invés de esperá-lo surgir naturalmente. A tentativa não deu certo. As escavações eram inundadas por água e havia muitos desmoronamentos, mas Drake não desistiu e resolveu adotar as técnicas utiliza- das pelas indústrias mineradoras de sal. Utilizando uma sonda velha e um motor a vapor, retornou ao local onde havia iniciado os trabalhos petrolíferos levando consigo um operador de sonda com experiência nas indústrias de sal chamado William A. Smith, conhecido como Uncle Billy. A técnica consistia em penetrar um tubo metálico no solo batendo com uma ferramenta fixada na ponta de um cabo. Drake e Billy aplicaram seu sistema de perfuração, que era uma coluna de tubos de diâmetro pequeno, evitando a invasão da água. A população de Titusville logo começou a chamá-lo de “a loucura de Drake” (Drake’s Folly). Ninguém acreditava naquela forma de extração de petróleo; Drake insistiu e financiou seu poço com a ajuda de outras pessoas da cidade e empréstimos bancários. Em 27 de agosto de 1859, a perfuratriz atingiu um reservatório com 21m de profundidade e começou a produzir petróleo com capacidade para apenas 10 bar- ris de petróleo por dia, quantidade para a qual não estavam preparados. Isso re- sultou no armazenamento improvisado do petróleo em barris de uísque, em vasi- lhames e até na banheira da residência. E assim começou a indústria do petróleo e o interesse por sua exploração. Drake conheceu James Towsend, o empresário que explorava petróleo proveniente das exsudações nas terras de Titusville com sua empresa Seneca Oil Company, em 1857, Pensilvânia. Devido a Drake ser um condutor de trem aposentado, poden- do viajar sem pagar, foi contratado para inspecionar as terras da empresa, gerando relatórios e contratando trabalhadores, mesmo sem nunca ter sido militar, James Towsend escrevia para Drake chamando-o de “Coronel Drake”. saiba mais E a partir desse período, o petróleo foi rapidamente descoberto em outros lo- cais dos Estados Unidos: West Virginia, em 1860 Colorado, em 1862 Texas, em 1866 Califórnia, em 1875 Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás18 Em 1870, John Rockefeller, um contador, fundou a primeira grande empresa de petróleo, a Standard Oil. A virada do século marcou o início das operações das multinacionais. Até 1887, as indústrias petrolíferas exploravam o petróleo com a finalidade de comercializar o querosene e o óleo lubrificante. A gasolina era considerada explosiva e perigosa; por isso era descartada. A invenção dos mo- tores a explosão, em 1887, foi um dos fatores determinantes para as futuras in- dústrias petrolíferas. Em 1908, foi lançado o Ford modelo T, um automóvel movido a gasolina. Foi o marco da modernidade das indústrias automotivas. Com o surgimento dos mo- tores a explosão, as vendas de gasolina e de diesel superaram as de querosene; com isso, houve necessidade de implantação de postos de vendas nas cidades, surgindo assim os primeiros postos de combustíveis. Em 1900, o norte-americano Antony Lucas inovou o processo de perfuração utilizando uma técnica rotativa e encontrou óleo numa profundidade de 345 me- tros. Nesse período, a produção mundial superava 400 mil barris por dia. Em 1901, as descobertas de grandes jazidas de petróleo no Texas formaram novas indústrias petrolíferas, que rapidamente se tornaram também grandes grupos. O grupo das empresas unidas era tão forte que, em 1911, a justiça norte-americana obrigou o maior dos grupos, que controlava 115 empresas em diversos países, a se desmem- brar em 35 empresas. As pequenas companhias que surgiram na febre da corrida ao ouro negro já não resistiam ao capital. Durante a Segunda Guerra Mundial, a demanda por petróleo e derivados atin- giu proporções gigantescas, afinal, as forças armadas necessitavam de combustí- vel para movimentar suas máquinas de guerra. Em consequência, os pesquisadores que decidiam onde perfurar apenas pela intuição foram deixados de lado,pois as técnicas de pesquisa melhoravam: come- çaram a ser aplicados conhecimentos da geofísica e da geologia, fornecendo teo- rias mais completas e contundentes para as atividades de prospecção. Os novos projetos e o surgimento de aços com melhor qualidade propiciaram a fabricação de brocas com mais resistência e capazes de perfurar rochas que di- ficultavam os processos anteriores, possibilitando perfurações bem mais profun- das. Os equipamentos de perfuração e produção também se aperfeiçoaram. A empresa British Petroleum iniciou em 1909 suas atividades de exploração, sob concessão obtida no sul do Irã. O regime de concessão caracterizou os contratos es- tabelecidos entre os governos dos países produtores e as empresas petrolíferas. Os contratos foram muito favoráveis para as empresas até a Segunda Guerra Mun- dial. Até então, as empresas pagavam uma pequena remuneração para os governos, 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 19 que concediam o direito de explorar petróleo em centenas de milhares de quilôme- tros e, em alguns casos, em todo o país, por prazos que variavam de 50 a 100 anos. Com esses contratos, as empresas tinham exclusividade nas seguintes operações: Pesquisas Produção Transporte do petróleo extraído Controle do preço Volume da produção Standard Oil Chevron Mobil Texaco Gulf British Petroleum Shell As sete irmãs Em 1920, o petróleo representava 15% da energia mundial, e desse período em diante, o mundo passou a consumir cada vez mais o novo combustível. No período de 1920 a 1930, Rockefeller viu sua Standard Oil liderar o grupo que ficou conheci- do no mundo como “as sete irmãs”, que eram constituídas pelas seguintes empresas: Essas empresas formaram um monopólio e passaram a exercer o domínio da exploração do petróleo não só nos Estados Unidos como também no México, no Caribe e no Golfo Pérsico. Em meados dos anos 1930, os maiores campos do Oriente Médio foram dividi- dos entre as irmãs, que tiveram excelentes lucros na comercialização na Europa e em outros países. Em 1938, o petróleo representava 30% da energia mundial. A gasolina se firmou como o principal derivado, devido aos automóveis, surgindo então a necessidade de novas estradas, o que, por sua vez, aumentava o consumo de asfalto; as indús- trias, para fazer funcionar suas máquinas, utilizavam óleo lubrificante e diesel. Em 1939, com a Segunda Guerra Mundial, os derivados do petróleo foram mui- to consumidos pelas máquinas e explosivos, fazendo com que as indústrias petro- químicas se desenvolvessem muito. Com o desenvolvimento destas indústrias, su- giram novas técnicas de refino e apareceram novos derivados do petróleo, como: plásticos; fios sintéticos; fertilizantes e detergentes, entre outros. Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás20 A partir de 1945, no fim do conflito, a maioria dos países teve seu crescimento eco- nômico apoiado na utilização do petróleo e do gás natural como fonte de energia. Em 1950, a produção mundial de petróleo era quase 700 vezes maior que a de 1939. Ao longo dos anos de 1950 e 1960, novas e gigantescas descobertas foram registradas nas seguintes regiões: Os americanos continuavam com 50% da produção mundial, condição ameaçada pelos novos polos. Em paralelo, começou também o maior desdobramento das ativi- dades petrolíferas e a implantação de novas tecnologias, permitindo tentativas no mar. Nesse período de ampliação das atividades, houve, por parte dos países, maior preocupação com o controle das explorações; a fim de defender seus interesses e assegurar a divisão dos lucros alcançados pelas multinacionais. Alguns seguiram um sistema de concessão de áreas limitadas, como Venezuela e Canadá, enquan- to outros toleravam a exploração desordenada de seus recursos em troca de em- prego de mão de obra local, valores predeterminados de tributos e outros. A Venezuela foi vista como exemplo pela maioria dos países em desenvolvi- mento por sua política adotada. Aos poucos, as indústrias petrolíferas foram no- tando que suas vantagens estavam amortecendo, e sentindo-se obrigadas a acei- tar o acordo dos cinquenta mais, que fazia com que os Estados Nacionais fossem sócios iguais a elas. O período dos anos 1950 foi marcado por dois fatos fundamentais, que tiveram reflexos bastante significativos: O primeiro acontecimento está relacionado ao enorme consumo do petróleo, em virtude do excesso na produção mundial e redução dos preços de mercado. O segundo acontecimento foi a criação da OPEP (Organização dos Países Exploradores de Petróleo), por ação dos seguintes países: Norte da África México Venezuela Canadá Oriente Médio Venezuela Arábia Saudita Kuwait Iraque Irã 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 21 Esses países produziam 80% da exportação mundial. Em 1970, a OPEP passou a fazer o controle dos preços do petróleo. Esses fatos contribuíram muito na primeira crise do setor petrolífero. Em 1972, quando o Clube de Cientistas de Roma fez um comunicado sobre o déficit na re- lação da produção e demanda com o consumo desordenado, tal déficit poderia ocorrer num período máximo de 10 anos, levando a acreditar que o petróleo mun- dial não duraria mais do que 50 anos, se não houvesse controle dessa situação. Foi o bastante para que a OPEP diminuísse sua produção, interditasse as exportações e aumentasse de forma absurda os preços dos barris de petróleo, de US$ 2,9 para US$ 11,65, representando um aumento em torno de 400%. A justificativa do abu- so foi o apoio que os americanos deram aos israelenses na guerra do Yom Kippur, contra os árabes; isso gerou a formação do cartel, como forma de represália. Essa crise marcou uma mudança substancial nas discórdias. Não se tratava mais de um enfrentamento entre Estados Nacionais e empresas multinacionais, e sim entre nações produtoras e consumidoras de petróleo. O segundo grande choque do petróleo aconteceu em 1979, com a Revolução Islâmica no Irã, considerado um dos maiores exportadores de petróleo. As divergências com o Irã começaram muito antes, quando o primeiro-ministro do Irã, Mohammad Mossadegh, nacionalizou as indústrias de petróleo multinacio- nais, a maioria britânicas, e rompeu relações com o Reino Unido. O Irã teve o apoio da União Soviética; em 1953, Mossadegh sofreu um golpe militar protagonizado pe- los serviços secretos norte-americanos e ingleses e foi deposto. Pahlevi passou a ser o novo governador do Irã e iniciou um programa de desen- volvimento chamado de revolução branca, tendo como principal objetivo estabele- cer a reforma agrária e o direito de voto às mulheres. Devido à dependência cada vez maior do petróleo na década de 1970, os Estados Unidos apoiaram o Irã a se tor- nar uma grande força militar no Oriente Médio. Acusado de promover a ocidentali- zação do Irã, Pahlevi se deparou com uma intensa oposição dos islâmicos conserva- dores (xiitas) liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini; o governo não conseguiu con- trolar a revolução e Khomeini assumiu o governo, controlando o petróleo do Irã. Depois de ter-se envolvido numa desgastante guerra de fronteiras com o Irã, o governo do Iraque, sob o comando de Saddam Hussein, resolveu atacar o Kuwait em 1990, um dos maiores produtores de petróleo do mundo e considerado forne- cedor estratégico dos Estados Unidos. Tinha início mais uma crise do petróleo do pós-guerra. Saddam transformou o Kuwait na 19ª província da República Iraquia- na, fazendo com que os americanos temessem que pudesse ficar com metade do fornecimento do petróleo da região sob seu controle e também temiam que ele pudesse migrar para a Arábia Saudita. Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás22 Em 1991, com o apoio da ONU, as frentes de forças multinacionais, compostas por ingleses, franceses, italianos e norte-americanos, junto com países árabes, re- conquistaram o emirado e expulsaram as tropas iraquianas de volta para suas fron- teiras. Em sua retirada, os iraquianos incendiaram todos os poçosde extração, provo- cando uma das maiores catástrofes ecológicas do mundo, fazendo com que gran- de parte da vida animal do Golfo Pérsico fosse muito prejudicada. As maiores reservas de xisto betuminoso estão localizadas nos Estados Unidos, seguido do Brasil, Estônia, China e Rússia. No Brasil, o município de Criciúma em Santa Catarina é o maior produtor. Para conhecer mais, faça uma pesquisa no site da Petrobras sobre xisto betuminoso em http://www.petrobras.com.br/minisite/ambiental/ noticias/11-milhoes-de-pneus-reaproveitados/ saiba mais Em 1971, o barril de petróleo custava US$ 1,80, passando para US$ 2,18. Em 1973 deu um salto para US$ 11,65. Essa elevação no preço do barril do petróleo ficou conhe- cida, mundialmente, como o Choque do Petróleo. VOCÊ sabia? 2.2 HIsTÓRIcO nO BRasIL O interesse pela exploração de minerais oleíferos (que contêm óleo) no Brasil teve início quando José Barros Pimentel obteve a concessão do Marquês de Olin- da para explorar carvão mineral e xisto betuminoso para fabricação de gás e que- rosene de iluminação em terrenos localizados às margens do Rio Maraú, na Pro- víncia da Bahia, em 1858. A primeira referência efetiva de petróleo no Brasil ocorreu em 1864, quando o inglês Thomas Denny Sargent obteve uma concessão do Governo Imperial para extrair turfa (material de origem vegetal utilizado para fazer carvão), petróleo e outros minerais em Camamu e Ilhéus, na Bahia. Em 1872, apareceram os primeiros importadores de querosene e de outros de- rivados de petróleo que traziam suas mercadorias dos Estados Unidos; após três anos havia mais de 60 comerciantes importadores. Segundo alguns historiadores, o inglês Samuel Allport, durante a construção da Estrada de Ferro Leste Brasileira, observou o gotejamento de óleo em Lobato, no subúrbio de Salvador. 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 23 Em 1882, graças ao processo de beneficiamento do xisto betuminoso desen- volvido por uma empresa inglesa, a cidade de Taubaté, em São Paulo, chegou a ser iluminada por gás extraído desse mineral. Muitas outras concessões foram conce- didas, mais não obtiveram sucesso. A primeira notícia sobre pesquisas diretamente ligadas ao petróleo no Brasil ocorreu em Alagoas, em 1891, em função da existência de sedimentos argilosos be- tuminosos. A partir do ano seguinte, em São Paulo, na região de Bofete, o fazendei- ro Eugenio Ferreira Camargo iniciou suas pesquisas em busca do ouro negro por meio dos conhecimentos do belga Auguste Collon, especialista em ciências natu- rais, e um norte-americano operador de sonda, que, utilizando razoáveis equipa- mentos, fizeram várias tentativas sem sucesso. Em 1896, numa de suas tentativas, Eugenio finalmente encontrou petróleo a 488m de profundidade e conseguiu extrair apenas dois barris de petróleo. A des- coberta foi considerada não comercial. A incapacidade técnica e financeira nas atividades de prospecção e exploração de petróleo levou o governo a atribuir a responsabilidade de novas pesquisas ao Serviço Geológico Mineralógico do Brasil, vinculado ao Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria. A primeira sondagem oficial de perfuração em busca de pe- tróleo aconteceu em 1919, no Paraná, na região de Marechal Mallet, numa profun- didade de apenas 48m, e foi abandonada no ano seguinte. Os órgãos oficiais, jun- to com estrangeiros e brasileiros, iniciaram uma série de pesquisas com resultados desanimadores pelos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia e Amazonas. Na década de 1920 foram realizadas várias explorações sem sucesso em São Paulo, na região de Bofete. Devido à falta de recursos, equipamentos e profissio- nais com conhecimento no setor petrolífero, surgiram os debates públicos: de um lado, o governo desmotivado pela falta de recursos financeiros; de outro, a inicia- tiva particular, que culpava o governo por colocar obstáculos. Em 1930, o engenheiro agrônomo Manoel Inácio Bastos tomou conhecimento de que os moradores de Lobato, na Bahia, estavam utilizando uma “lama preta” e oleosa para iluminação de suas casas. Fizeram várias coletas e pesquisas, mas não conseguiram despertar o interesse do governo. Devido a tanta insistência, Bastos foi chamado de “maníaco”. Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás24 O ex-presidente da Bolsa de Mercadorias baiana, Oscar Cordeiro não só foi cha- mado de “maníaco”, mas também insistiu muito na existência do petróleo na re- gião de Lobato. Por várias vezes Oscar teve respostas negativas em busca de apoio técnico e operacional por parte do governo. Mesmo depois da tese dos geólogos estrangeiros contratados pelo CNPM (De- partamento Nacional de Produção Mineral), de que o óleo de Lobato era “estranho ao local”, levantando suspeitas de que alguém o teria colocado artificialmente no poço, Oscar não desistiu e, após várias tentativas, conseguiu despertar o interesse do químico Silvio Fróes Abreu, que confirmou suas suspeitas. Como consequên- cia, a exploração tomou novo rumo e a região de Lobato passou a ser prioridade pelo próprio governo. A partir de 1930, a questão da nacionalização dos recursos do subsolo entrou na pauta das discussões. O artigo 118 da Constituição Brasileira de 1934 desvincu- la a propriedade do subsolo, e a União passa a legislar sobre essas riquezas e as ex- plorações minerais. Mas somente em 1938 é que foi aprovada a Lei nº 366, que de- termina que todas as atividades relacionadas ao petróleo no Brasil passam a ser obrigatoriamente realizadas por brasileiros. Então, é criado o CNP (Conselho Na- cional do Petróleo), que passa a avaliar os pedidos de pesquisa e lavra de jazidas de petróleo em todo o território nacional. Em 1938, Getúlio Vargas, pelo Decreto-Lei nº 395, tornou de utilidade pública as seguintes atividades: Abastecimento nacional de petróleo Exploração Transporte Distribuição Comercialização do petróleo bruto e seus derivados Funcionamento das indústrias de refino Dessa forma, todas as jazidas de petróleo passam a ser patrimônio nacional. E assim foi iniciada, sob a jurisdição do recém-criado CNP, a perfuração do po- ço em Lobato, na Bahia. Em 21 de janeiro de 1939, Lobato foi cenário da descober- ta da primeira jazida de petróleo no país. A perfuração atingiu o reservatório e o petróleo ocupou parte da coluna de perfuração. O poço em Lobato, apesar de não ter sido considerado economicamente viá- vel, foi de fundamental importância para o desenvolvimento das atividades petro- líferas no Brasil. A partir desse resultado houve grande concentração de esforços na bacia do Recôncavo Baiano. Em 1941, foi descoberta a primeira acumulação co- mercial de petróleo do país, no município de Candeias, na Bahia. 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 25 O País ganhou uma nova Constituição em 1946, e teve início a campanha na- cionalista em defesa da soberania brasileira sobre o recurso natural no município de Candeias na Bahia. Em 1948 foi criado o CEDPEN (Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Eco- nomia Nacional). O ex-presidente da República Artur Bernardes, Horta Barbosa, Jo- sé Pessoa e Estevão Leitão de Carvalho são presidentes de honra. O CEDPEN pas- sou a dirigir a campanha do petróleo no Brasil, articulando militares, estudantes, homens públicos e intelectuais (Figura 4). O presidente da República, Getúlio Var- gas, assinou a Lei nº 2004 (Figura 5) durante cerimônia no Palácio do Catete, em 3 de outubro de 1953, criando a Petrobras. A lei dispõe sobre a política nacional de petróleo e define as atribuições do Conselho Nacional de Petróleo. Institui a socie- dade por ações Petróleo Brasileiro, como sociedade anônima. Manifestação em prol do monopólio do petróleo no Brasil, promovida pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN. Ao fundo, painel com retrato de Artur Bernardes). A frase dos manifestos sobre o petróleo, muito utilizada ainda nos dias de hoje, foi criada por Monteiro Lobato. Figura 4 – Campanha “O Petróleo é Nosso!”In -F ól io /P au la M ou ra Fo nt e: P et ro br as Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s A Petrobras assegurará não só o desenvolvimento da indústria petrolífera nacional como contribuirá decisivamente para eliminar a evasão de nossas divisas. Constituída com capital, técnica e trabalho exclusivamente brasileiros, a Petrobras resulta de uma firme política nacionalista no terreno econômico, já consagrada por outros arrojados empreendimentos em cuja viabilidade sempre confiei. Figura 5 – Getúlio Vargas assina a Lei nº 2004, que cria a Petrobras Trecho do discurso pronunciado pelo presidente Getúlio Vargas na ocasião da criação da Petrobras Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás26 Imediatamente, a nova empresa intensificou as atividades exploratórias até, en- tão, conduzidas pelo CNP e assumiu como prioridade a estruturação do seu De- partamento de Exploração e Produção. Para isso, contratou técnicos estrangeiros, entre os quais o geólogo norte-americano Walter Link, conhecido internacional- mente, que passou a ser o responsável pela área de pesquisa e pelo treinamento dos profissionais brasileiros. Após vários anos de trabalho, promoveu a reavaliação das bacias sedimenta- res do Brasil, com a colaboração de geólogos estrangeiros e brasileiros (Figura 6). Essa avaliação, que causou muita polêmica, concluiu que as possibilidades de des- cobertas substanciais de petróleo no Brasil eram limitadas nas bacias cretáceas e remotas nas bacias paleozoicas. Naquele tempo, a tecnologia disponível para exploração no mar estava ainda em fase inicial e sem experiência. A partir de 1960, técnicos brasileiros passaram a substituir os estrangeiros na gerência das atividades de exploração. A Petrobras iniciou suas atividades em 10 de maio de 1954, com um patrimônio que recebeu do Conselho Nacional do Petróleo, que continha: In -F ól io /C ris M ar ce la O acervo da Comissão de Industrialização do Xisto Betuminoso Uma refinaria pronta e em operação em Mataripe (BA) Uma refinaria em fase de construção em Cubatão (SP) Uma fábrica de fertilizantes em fase de construção também em Cubatão 22 petroleiros com capacidade de carga de 224 mil toneladas Uma produção de petróleo de aproximadamente 2.700 barris/dia, proveniente dos campos de Candeias, Dom João, Água Grande e Itaparica, que se encontrava em fase inicial de desenvolvimento 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 27 Dentro desse quadro, a Petrobras adotou como diretrizes principais a formação e especialização de seu corpo técnico, de modo a atender às exigências de uma indústria de petróleo iniciante. Paralelamente, procurou desenvolver as sondagens nas áreas comprovadamen- te produtoras na Bahia e avaliar as demais bacias sedimentares do Brasil, pratica- mente desconhecidas na época. Em consequência, novas descobertas se sucederam no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, especialmente no Recôncavo Baiano e na bacia sedimentar de Sergipe/Alagoas. O esforço aplicado dentro dos conhecimentos da época gerou o aumento gra- dativo das reservas: de 172 milhões de barris em 1953, alcançando 563 milhões em 1960. Nesse ano, a produção de petróleo chegou aos 81 mil barris por dia. Di- versas áreas foram selecionadas para perfuração pioneira, estendendo-se as ativi- dades até a Bacia do Acre. As quantidades de petróleo obtidas foram considera- das não comerciais. In -F ól io /C ris M ar ce la Figura 6 – Bacias sedimentares brasileiras Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás28 Após seis anos de intensas pesquisas, as avaliações dos resultados aconselha- vam a redução das atividades exploratórias. A diminuição gradativa dos trabalhos culminou com a suspensão completa das perfurações na Bacia Amazônica, por volta de 1967. Foram feitas pesquisas também na Bacia do Paraná, que abrange uma área de um milhão de quilômetros quadrados, incluindo os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em 1963, a Petrobras criou o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopol- do A. Miguel de Mello (Cenpes) e iniciou suas atividades em 1966; a partir de 1973, desenvolveu suas atividades no campus da Universidade Federal do Rio de Janei- ro, na Ilha do Fundão. Com técnicos e especialistas de diferentes áreas, o Cenpes cria e desenvolve tecnologia para as operações de prospecção, exploração, produ- ção e refino de petróleo. Suas atividades também abrangem pesquisas voltadas para as fontes de energia alternativa, como álcool, xisto e outros. O Cenpes está ap- to a apoiar o sistema Petrobras em: Análise química Engenharia metalúrgica Engenharia de matérias Engenharia de equipamentos Engenharia de plataformas marítimas Nos últimos anos, destacam-se, entre os muitos resultados do Cenpes, as con- tribuições para alteração do perfil de produção de derivados de petróleo, visan- do à maximização da obtenção de óleo diesel e consequente redução na produ- ção de gasolina e óleo combustível e o desenvolvimento de métodos especiais de recuperação. Ao final da década de 1960, os resultados pouco promissores obtidos nas imen- sas bacias sedimentares paleozoicas (Paraná, Amazonas e Maranhão) determina- ram o decréscimo temporário das atividades exploratórias nessas áreas. Nessas bacias, fatores geológicos impediam respostas satisfatórias devido à incapacida- de dos métodos sísmicos de fornecer resultados confiáveis. Tratava-se de um en- trave tecnológico. A produção de petróleo no Brasil provinha das áreas terrestres, em especial das bacias do Recôncavo e de Sergipe/Alagoas, ambas de pequenas dimensões (21.500km2). Para agravar esse quadro, a maior parte dos campos já ingressava em avançado estágio exploratório, não comportando a expectativa de grandes descobertas. 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 29 A exemplo do que ocorria em outros países do mundo, a Petrobras decidiu es- tender as explorações rumo ao mar, sem descuidar da produção terrestre. A tecnologia disponível para operações submarinas era pouco aprimorada, mes- mo em nível mundial. Era preciso realizar um amplo trabalho de levantamento sís- mico ao longo da extensa costa brasileira antes de selecionar as áreas mais favo- ráveis à exploração. A primeira descoberta comercial de petróleo no mar ocorreu em 1968, no lito- ral de Sergipe, onde se descobriu o campo de Guaricema. A plataforma Petrobras 1 P-1 (Figura 7) foi construída pela Companhia de Co- mércio e Navegação no Estaleiro Mauá, em Niterói (RJ), com o projeto da The Offsho- re Co. e Petroleum Consultants, de Houston (EUA). A P-1 deu início às atividades de perfuração no Estado de Sergipe e foi a primeira plataforma de perfuração flu- tuante construída no Brasil, equipada com uma sonda capaz de perfurar poços de até 4 mil metros. Figura 7 – Plataforma elevatória P-1, primeira plataforma móvel de perfuração da Petrobras, construída em 1967 e 1968 As atividades marítimas foram sendo aceleradas em decorrência dos avanços tecnológicos e dos resultados alcançados. O grande aumento do preço do petró- leo importado, a partir de 1973, estimulou ainda mais as investidas exploratórias no mar, fazendo com que o campo de Guaricema entrasse em produção nesse mesmo ano. Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás30 Novas áreas produtoras foram acionadas nas seguintes regiões: Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte Sergipe Recôncavo Espírito Santo Em 1974, foi descoberto petróleo na Bacia de Campos (RJ), no Campo de Ga- roupa (Figura 8). Em 1975, o Brasil teve uma atuação muito importante no forne- cimento do etanol. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi criado para subs- tituição dos combustíveis veiculares derivados de petróleo, devido à crise do pe- tróleo (Figuras 9 e 10). A gasolina começou a ser substituída por álcool etílico – produzido da cana-de- -açúcar e da mandioca, entre outros vegetais, o que fez com que10 milhões de au- tomóveis no Brasil utilizassem esse combustível, diminuindo a dependência do petróleo importado. Figura 8 – Plataforma no Campo de Garoupa Br un o Ve ig a/ Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 31 Nesse mesmo ano, o ele- vado nível de recursos neces- sários para as atividades de pesquisas, exploração e pro- dução de petróleo fez com que o Brasil autorizasse as em- presas de outros países, prin- cipalmente norte-americanas, a realizar essas atividades em territórios nacionais, sob um contrato de serviço com cláu- sula de risco. No ano seguinte, a Petrobras elaborou um modelo próprio de contrato, basean- do-se na experiência de outros países e adequando-o às condições do Brasil, com as seguintes determinações: Que cabem às empresas interessadas na pesquisa e exploração de petró- leo nas áreas selecionadas pela Petrobras todos os investimentos necessá- rios a essa fase, incluindo os poços pioneiros. Que, para esses trabalhos, as empresas devem investir, pelo menos, a quantia estipulada em cada contrato, num prazo determinado. Que, em caso de descoberta julgada não comercial pela empresa, esta devolverá a área à Petrobras. Que, em caso de descoberta comercial, a empresa é obrigada a desenvol- ver o campo com recursos próprios até a sua entrada em funcionamento. As atividades de produção serão então assumidas pela Petrobras e os investimentos realizados pela empresa, bem como, sua remuneração, serão reembolsados pela Petrobras em prestações a prazo fixo, com recur- sos gerados pelo próprio campo. Todas as atividades serão fiscalizadas pela Petrobras. Figura 9 – Cana-de-açúcar Figura 10 – Abastecimento com álcool In -F ól io /J os é Ca rlo s M ar tin s In -F ól io /J os é Ca rlo s M ar tin s Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás32 Em 1977 entrou em produção o Campo de Enchova (Figura 11), com produ- ção de 10 mil barris/dia de petróleo em uma plataforma flutuante; foi o primeiro a produzir na Bacia de Campos, com o uso do Sistema de Produção Antecipada. Nessa época, no Brasil, 120 metros de lâmina d’água era considerada uma grande profundidade. Nos anos seguintes, sucessivas descobertas desviaram as atenções e os investi- mentos para a Bacia de Campos. Em seguida, além do Campo de Garoupa, foram descobertos os Campos de Pargo, Namorado, Badejo, Bonito e Cherne. Figura 11 – A plataforma Sedco 135-D foi a primeira a produzir no Campo de Enchova, na Bacia de Campos Em 1981 foram instalados na Bacia de Campos, os sistemas de produção ante- cipada, possuindo tecnologia desenvolvida por técnicos da Petrobras, consistin- do na utilização de uma plataforma de perfuração adaptada para produção, com o objetivo de antecipar a produção enquanto se constrói a plataforma definitiva, que demanda muito tempo; com isso, faz-se caixa para investimentos e possibili- ta a obtenção de informações do comportamento do reservatório para maior se- gurança no projeto definitivo de produção. Em 1983 foram assinados 31 contratos, elevando para 144 o total de contratos firmados pela Petrobras com contratantes de risco. Os investimentos realizados por ela, de 1976 até 1983, atingiram US$ 1,472 bilhão e permitiram o levantamen- to de 11.705km de linhas sísmicas, a perfuração de 13 poços pioneiros marítimos e terrestres. Das áreas sob contrato de risco, destaca-se aquela explorada pelo con- sórcio Pecten/Chevron/Unionoil no litoral da Bahia, onde foi descoberto petróleo. Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 33 De 1973 em diante, a Petrobras vem expandindo sua atuação na plataforma continental (no mar) e produzindo petróleo nas regiões do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Em 1984 foi descoberto o Campo de Albacora, primeiro campo gigante do País, na Bacia de Campos (RJ) e foi alcançada a meta-desafio de produção de 500 mil barris diários de petróleo. Nesse ano foram perfurados 131 poços e 72 sondas (44 terrestres e 28 marítimas); chegaram a ser perfurados poços com 5.200 metros em águas com profundidade de 853m. O volume total de perfuração em águas brasi- leiras colocou o Brasil em 3º lugar no mundo nesse tipo de atividade. As atividades de exploração, desenvolvimento e produção passaram a receber consideráveis somas de recursos, viabilizando o aumento das reservas e da produ- ção de petróleo. De toda a plataforma continental, a província petrolífera de maior produção é a Bacia de Campos. Os investimentos globais que a Petrobras realizou superaram os US$ 4 bilhões, com a criação de cerca de 2 mil empregos diretos e a alocação de mais de 30 mil homens na execução do projeto. O sistema permanente de pro- dução da Bacia de Campos, na época, envolveu sete plataformas gigantes em águas profundas, uma rede de dutos submarinos e gasodutos e oleodutos terrestres, que transferem o petróleo e o gás produzidos no Norte Fluminense para a Refinaria Duque de Caxias (Figura 12), no Rio de Janeiro. Figura 12 – Refinaria Duque de Caxias-RJ G er al do F al cã o/ Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás34 Em 1985 foi descoberto Campo de Marlim, o segundo Campo gigante do Brasil, também na Bacia de Campos (RJ). No ano seguinte entrou em operação o Campo de Urucu, situado na Bacia do Rio Solimões, um marco histórico das atividades da Petrobras na Região Amazônica. A descoberta respondeu a uma antiga indagação, mostrando, afinal, que havia petróleo comercial, de excelente qualidade e associa- do a gás, na Amazônia. O campo entrou em produção dois anos depois (Figura 13). Em 1992, o Brasil ganhou o prêmio máximo em tecnologia, conferido na Offshore Technology Conference, em Houston, nos Estados Unidos, como a em- presa que mais contribuiu para o desenvolvimento tecnológico da indústria offshore (exploração de petróleo no mar). Em 1994, começou a operar a primei- ra plataforma semissubmersível (P-18) totalmente desenvolvida pelos técnicos da Petrobras (Figura 14), no Campo de Marlim, na Bacia de Campos (RJ). Figura 14 – P-18, a primeira plataforma semissubmersível com tecnologia brasileira Figura 13 – Homens trabalhando no Amazonas – 1950 Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s G er al do F al cã o/ Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 35 Em 1996 foi descoberto Roncador, o terceiro campo gigante na Bacia de Campos (RJ). Em 6 de agosto de 1997, terminou o monopólio estatal do petróleo e fo- ram criados o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e a Agên- cia Nacional do Petróleo (ANP), colo- cando sob a responsabilidade da ANP (Figura 15) as concessões de explora- ção de petróleo, agora em regime de livre iniciativa. Nesse mesmo ano, a Petrobras se tornou uma das maiores empresas de petróleo do mundo. Cabe à ANP promover a fiscaliza- ção das atividades econômicas inte- grantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, bem como, aplicar as sanções admi- nistrativas e pecuniárias previstas em lei, regulamento ou contrato. A fisca- lização pode ser exercida diretamen- te pela ANP ou mediante convênios com órgãos dos estados, municípios e do Distrito Federal. A fiscalização abrange o abastecimento nacional de combustíveis e a segurança operacio- nal das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural. Figura 15 – Agência Nacional do Petróleo (ANP) Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) criada em 1997 pela Lei n º 9.478 é o órgão regulador das atividades que integram as indústrias de petróleo e gás natural e de biocombustíveis no Brasil. Suas atividades foram iniciadas em 14 de janeiro de 1998. A ANP fiscaliza e toma medidas para coibir infrações ou irregularidades na comercialização de combustíveis. Para isso, atua em cooperação com a PolíciaFederal, com o Ministério Público dos estados e do Distrito Federal, Corpo de Bombeiros, secretarias estaduais de Fazenda e algumas prefeituras de capitais. As ações fiscalizadoras são planejadas com base nas informações dos programas de monitoramento da qualidade e de pesquisa de preços e também a partir das denúncias recebidas de órgãos públicos, consumidores e agentes do setor. Para verificar se os combustíveis à venda no Brasil estão dentro das especificações, a ANP monitora a qualidade dos derivados de petróleo e dos biocombustíveis em pontos de venda. Com mais de uma década de existência, o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC) da ANP promove a coleta mensal de 16 mil amostras de gasolina, etanol e diesel. As amostras são analisadas por mais de 20 universidades e institutos de pesquisa de todo o país, que atuam sob a coordenação da ANP, para detectar focos de não conformi- dade (irregularidade quanto à composição físico-química fixada pela ANP). Os dados dão base às ações de fiscaliza- ção da ANP e são publicados mensalmente no site: www.anp.gov.br/boletinsqualidade. saiba mais In -F ól io /P au la M ou ra Petróleo Gás natural Biocombustível Uma agência reguladora Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás36 Em 1997, o país ingressou no seleto grupo dos 16 países que produzem mais de 1 milhão de barris de óleo por dia e foi iniciada a construção do gasoduto Bolívia-Brasil. Em 2000, o Brasil produziu petróleo a 1.877 metros de profundidade, no Cam- po de Roncador, um recorde mundial. Em 2003 foi descoberta a maior jazida de gás natural na plataforma continen- tal brasileira: o Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos (SP). A produção no Brasil e no exterior supera a marca de dois milhões de barris de óleo equivalente por dia. Em 2005 a Petrobras bateu o recorde brasileiro de profundidade de perfura- ção, com um poço inclinado que chegou a 6.915m além do fundo do mar. O po- ço foi perfurado na Bacia de Santos, localizado a 200km da costa sul da cidade do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano foram encontrados os primeiros indícios de petróleo no pré-sal na Bacia de Santos (SP). A conclusão das análises no segun- do poço (Tupi) indicou volumes recuperáveis entre 5 e 8 bilhões de barris de pe- tróleo e gás natural. Com reservas estimadas em 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o Brasil ocupa o sexto lugar, depois da Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Emirados Árabes. A descoberta do petróleo nas camadas de rochas localizadas abaixo das cama- das de sal só foi possível devido ao desenvolvimento de novas tecnologias, como a sísmica 3D e a sísmica 4D, de exploração oceanográfica e de técnicas avançadas de perfuração do leito marinho sob até 2 mil metros de lâmina d'água (Figura 16). Figura 16 – Sala de visualização sísmica 3D – Unidade da Bacia de Campos (RJ) Jo sé C al da s/ Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 37 O pré-sal está localizado além da área considerada como mar territorial brasi- leiro, no Atlântico Sul, mas dentro da região considerada Zona Econômica Exclusi- va (ZEE) do Brasil. É possível que novas reservas do pré-sal sejam encontradas ain- da mais distantes do litoral brasileiro, fora da ZEE, mas ainda na área da platafor- ma continental, o que permitiria ao Brasil reivindicar exclusividade sobre futuras novas áreas próximas (Figura 17). Figura 17 – Localização do pré-sal Oceano Camada pós-sal Camada pré-sal Petróleo 5.500 metros Camada de sal In -F ól io /C ris M ar ce la Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás38 Figura 18 – PFSO - P-50 Em 2006, o Brasil atingiu a autossuficiência sustentável na produção de petró- leo, com a entrada em operação do navio-plataforma P-50 (Figura 18) nas novas descobertas, ocorridas em águas cada vez mais profundas. Com o início das opera- ções da P-50 no campo gigante de Albacora Leste, no norte da Bacia de Campos (RJ), o Brasil alcançou a marca de dois milhões de barris por dia. Durante evento de início da produção da plataforma P-50 na Bacia de Campos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu o gesto do ex-presidente Getúlio Var- gas, feito na década de 1950, molhando as mãos de óleo e imprimindo as marcas no macacão de um funcionário da Petrobras. O início da produção da P-50, com produção prevista acima de 2 milhões de barris por dia, marcou a entrada do Brasil no grupo de países autossuficientes em petróleo (aqueles que produzem mais do que consomem e, por isso, exportam o excesso de produção). Além da P-50, entraram em operação três plataformas: P-34 Com 60 mil barris por dia, no Campo de Jubarte, no Espírito Santo SSP-300 Com 20 mil barris/dia, no Campo de Piranema, em Sergipe FPSO Capixaba, com 100 mil barris/dia, no Campo de Golfinho, no Espírito Santo Br un o Ve ig a/ Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 39 Essas plataformas foram construídas com o objetivo de fazer com que o Brasil alcançasse uma produção média de 1,9 milhão de barris diários, afirmou a Petro- bras em nota: A grande vantagem para o país é chegar a essa situação de equilíbrio entre produção e consumo em um momento de escassez mundial de petróleo, com pou- ca diferença entre a produção e a demanda global, o que tem provocado a alta vo- latilidade do mercado Em 2007 foi desenvolvido um estudo para a implantação do Complexo Petro- químico do município de Itaboraí, no Rio de Janeiro, o Comperj (Figura 19). O prin- cipal objetivo desse empreendimento é aumentar a produção nacional de produ- tos petroquímicos, com o processamento de cerca de 150 mil barris/dia de óleo pesado nacional. Ainda em 2007, a Petrobras anunciou a descoberta dos Campos de Tupi, Iara e Parques das Baleias, na Bacia de Santos (SP), com grande concentração de petró- leo e gás em seções de pré-sal. A quantidade de petróleo encontrado é tão signi- ficativa que colocará o Brasil num novo cenário mundial do setor (Figura 20). As descobertas situadas entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo ficaram conhecidas como "cluster pré-sal", pois o termo genérico "pré-sal" passou a ser uti- lizado para qualquer descoberta em reservatórios sob as camadas de sal em ba- cias sedimentares brasileiras (Figura 21). Apenas com a descoberta comprovada dos três primeiros campos do pré-sal, as reservas, que eram de 14 bilhões de bar- ris, aumentaram para 33 bilhões de barris. Além destas, existem reservas possíveis de 50 a 100 bilhões de barris. Figura 19 – Obras do Comperj em 2010 Ro gé rio R ei s/ Ba nc o de Im ag en s Pe tr ob ra s Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás40 Figura 20 – Mapa da Petrobras mostrando a região do pré-sal Figura 21 – Maiores reservas de petróleo em 2009 – Em bilhões de barris 6º 80,0 arábia saudita nigéria méxico Kuwait catar cazaquistão noruega azerbaijão Iraque canadá Rússia Brasil Irã Eua Venezuela Emirados Árabes argélia china Líbia angola 20º 7,0 19º 8,5 18º 9,0 17º 12,2 16º 12,3 Sem considerar as reservas de Tupi 15º 12,9 14º 15,2 13º 16,3 12º 17,1 11º 29,9 10º 36,2 9º 39,8 8º 41,5 7º 79,5 5º 97,8 4º 101,5 3º 115,0 2º 137,5 1º 264,3 In -F ól io /C ris M ar ce la In -F ól io /C ris M ar ce la Fo nt e: P et ro br as 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 41 Em 2 de setembro de 2008, o navio-plataforma P-34 extraiu o primeiro óleo da camada pré-sal, no Campo de Jubarte, na Bacia de Campos (RJ). Em 1º de maio de 2009, deu-se o início da produção de petróleo na área descoberta de Tupi, por meio do Teste de Longa Duração (TLD). As jazidas do pré-sal também podem mudar o perfil das reservas do país (que em sua maior parte são hoje de petróleo pesado), reduzindo a importação de óleo leve e gás natural. A produção no Campo de Tupi foi estimada em 100 mil barris diários. Diante do grande crescimento previsto para as atividades do país nos próximos anos,tanto no pré-sal quanto nas demais áreas em operação, o Brasil aumentou substancialmente os recursos programados em seu Plano de Negócios. São gran- des investimentos, que garantirão a execução de uma das mais consistentes car- teiras de projetos da indústria do petróleo no mundo. Serão novas plataformas de produção, mais de uma centena de embarcações de apoio, além da maior frota de sondas de perfuração a entrar em atividade nos próximos anos. A construção das plataformas P-55 e P-57, entre outros projetos já encomen- dados à indústria naval, garantirá a ocupação dos estaleiros nacionais e de boa parte da cadeia de bens e serviços offshore do país (Figuras 22 e 23). Só o Plano de Renovação de Barcos de Apoio, lançado em maio de 2008, prevê a construção de 146 novas embarcações, com exigência de 70% a 80% de conteú- do nacional, a um custo total orçado em US$ 5 bilhões. A construção de cada em- barcação vai gerar cerca de 500 novos empregos diretos e um total de 3.800 va- gas de tripulantes para operar a nova frota. Figura 22 – FPSO – Navio-plataforma Jo sé M ar ia no S oa re s Pi nt o Co el ho Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás42 Figura 23 – Construção do petroleiro Zumbi dos Palmares 2.3 nOçõEs da GEOLOGIa dE PETRÓLEO E GÁs (fORmaçãO GEOLÓGIca) A Geologia tem como objetivo estudar as sucessivas transformações do globo terrestre e a evolução de seu mundo orgânico e inorgânico, tendo como foco prin- cipal um bom entendimento da crosta e de suas camadas rochosas. Estrutura da Terra segundo as propriedades físicas (Figura 24): Núcleo interno (sólido) – 5.000°C Núcleo externo (líquido) – 4.000°C Mesosfera (manto inferior) Astenosfera (manto superior) Litosfera (crosta oceânica e continental) Figura 24 – Representação em corte da estrutura terrestre Atmosfera Crosta Manto superior Manto inferior Núcleo externo Núcleo interno 4.000ºC 5.000ºC In -F ól io /C ris M ar ce la A nd ré V al en tim /B an co d e Im ag en s Pe tr ob ra s 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 43 A crosta continental apresenta espessura variável (de 30 a 40km nos crátons até 60 a 80km nas cadeias montanhosas). A descontinuidade distingue a interfa- ce entre a crosta superior e a crosta inferior. Ao descer através da crosta e do topo do manto superior, passamos de uma parte rígida para uma parte plástica. A parte rígida, que inclui a crosta e uma par- te do manto, é denominada litosfera, enquanto a parte plástica é denominada astenosfera. A mesosfera, em função de sua alta temperatura, o que poderia torná-la mais plástica, está submetida a uma pressão mais elevada que a torna sólida. A partir das propriedades físicas e com o apoio de experimentos que simulam as condições de temperatura e pressão da Terra, é possível deduzir as composições mineralógicas das camadas presentes. Entre as camadas existem descontinuidades; algumas delas bastante marcan- tes. A primeira descontinuidade detectada na Terra foi o limite crosta-manto, que se encontra a profundidades variáveis (5 a 10km nas áreas oceânicas e a 30 a 80km nos continentes). A segunda descontinuidade em importância delimita o contato manto-nú- cleo, chamada de descontinuidade de Guttenberg; está situada a 2.900km de profundidade. Os aumentos de densidade e velocidade ao atravessar a descontinuidade de Guttenberg são muitos grandes e deixam poucas dúvidas a respeito da composi- ção de uma liga metálica de ferro-níquel. O manto forma 83% do volume da Terra. Com o desenvolvimento da rede sis- mográfica mundial e dos métodos de observação e análise, foram encontradas no- vas interfaces e zonas de transição. A maior parte do interior da Terra é inacessível às observa- ções diretas, de modo que é necessário recorrer a métodos indiretos. A sismologia revela que a estrutura interna da Terra consiste de uma série de camadas que compõem a crosta, o manto e o núcleo. VOCÊ sabia? In -F ól io /C ris M ar ce la Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás44 A soma do número de prótons e nêutrons determina o número de massa (A) de um átomo. Elementos com o mes- mo número de massa são denominados isótopos. A grande maioria dos isótopos é estável, mas outros são instáveis. Os isótopos instáveis (radioativos) são importan- tes na Geologia, uma vez que podem ser usados para deter- minar idades absolutas de formação de minerais e rochas. 2.3.1 TEmPOs GEOLÓGIcOs A escala de tempo geológico representa a linha do tempo desde o presente até a formação da Terra; é dividida em eras, períodos, épocas e idades, que se baseiam nos grandes eventos geológicos da história do planeta. É possível estabelecer uma correlação fossilífica ou bioestratigráfica entre fau- nas e floras iguais, mesmo que contidas em litologias diferentes, devido aos me- canismos da evolução biológica e pelo grau da preservação dos organismos que já habitaram nosso planeta, formando subdivisões de registros sedimentares e do tempo geológico de formação das rochas (Figura 25). 2.3.2 GEOLOGIa EsTRuTuRaL A Geologia estrutural estuda os processos de deformação da litosfera e das es- truturas decorrentes dessas deformações causadas pela ação contínua da pressão gerada no interior da Terra. Por definição, rochas são produtos consolidados resultantes da união natural de minerais. Diferentemente dos sedimentos, as rochas têm seus grãos ou cristais bem uni- dos e consolidados. O dinamismo no interior da Terra pode se manifestar não apenas na forma de vul- cões, mas por deformações nas rochas originadas por tensão que afetam suas formas. Muitas estruturas são responsáveis pelo armazenamento de hidrocarbonetos (petróleo e gás). Dependendo do processo de formação, a união dos grãos representados varia, resultando em rochas brandas e rochas duras. Denomina-se estrutura da rocha, o aspecto geral externo do agrupamento de minerais que a constitui. VOCÊ sabia? 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 45 Figura 25 – Escala do tempo geológico ESTRUTURA DA TERRA ESCALA DO TEMPO GEOLóGICO PrOterOzOiCO PérMiCO idade dos anfíbios CretáCiCO idade dos dinossauros NeOgêNiCO PeríOdOera PaleOgêNiCO JurássiCO idade dos dinossauros e das amonites triássiCO Primeiros dinossauros CarbóNiCO Primeiros répteis devóNiCO idade dos peixes silíriCO Primeiros crinóides CâMbriCO idade das trilobites OrdOvíCiCO Primeiros corais Peixes primitivos arCaiCO HadeaNO C r iP tO z O iC O éON Fa N er O z O iC O Pa le O z O iC a M es O z O iC a C eN O z O iC a FOrMaçãO da terra 66 144 208 245 286 360 408 438 505 570 2.500 4.000 4.600 M.a. éPOCa 66 M.a. 58 37 24 5 1,6 10.000 anos Presente HOlOCéNiCO Civilização humana PilOCéNiCO Primeiros hominídeos MilOCéNiCO Cães, cavalos, ursos OligOCéNiCO gatos, cervos eOCéNiCO baleia primitivas PaleOCéNiCO Primeiros mamíferos PleistOCéNiCO Homo sapíens sapíens In -F ól io /C ris M ar ce la Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás46 A estrutura pode ser maciça, com cavidades, orientada ou não; a textura se re- vela por meio da observação mais detalhada de tamanho, forma e relacionamen- to entre os cristais ou grãos constituintes da rocha (Figura 26). Figura 26 – Amostra da estrutura interna de uma rocha Classificar as rochas significa usar critérios que permitam agrupá-las segundo características semelhantes. Uma das principais classificações é a genética, em que as rochas são agrupadas de acordo com seu modo de formação na natureza. Sob esse aspecto, as rochas se dividem em três grandes grupos: Rochas ígneas ou magmáticas Resultantes do resfriamento e consolidação de material rochoso fundido do magma; podem ser intrusivas ou extrusivas: Rochas ígneas extrusivas Formam-se a partir das erupções vulcânicas que, ao atingir a superfície, resfriam muito rápido, não permitindo que os minerais se desenvolvam (Figura 27). Rochas ígneas intrusivas São o resultado de um lento resfriamento do magma,no subsolo, dando ori- gem a cristais bem desenvolvidos (Figura 28). Figura 28 – Rocha ígnea intrusivaFigura 27 – Rocha ígnea extrusiva Porosidade Grão In -F ól io /C ris M ar ce la Jo sé M ar ia no S oa re s Pi nt o Co el ho Jo sé M ar ia no S oa re s Pi nt o Co el ho 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 47 Rochas sedimentares São formadas a partir da compactação e/ou cimentação de fragmentos produ- zidos pela ação do intemperismo (Figura 29). Figura 29 – Rocha sedimentar Rochas metamórficas Resultam da transformação de uma rocha preexistente (protólito) no estado só- lido. O processo de transformação se dá por aumento de pressão e temperatura sobre a rocha preexistente, sem que o ponto de fusão de seus minerais constituin- tes seja atingido. Essas rochas, devido a suas características e propriedades, podem exercer as se- guintes funções: Jo sé M ar ia no S oa re s Pi nt o Co el ho Geradoras Reservatório Capeadora (ou selante) As rochas geradoras são assim chamadas por tratar-se de uma rocha sedimen- tar de granulação fina, formada principalmente pelo acúmulo de fragmentos de outros minerais e de detritos orgânicos; quando submetidas a pressão, tempera- tura e baixa permeabilidade, criam condições necessárias para a formação do hi- drocarboneto. Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás48 Rochas capeadoras ou selantes têm essa denominação devido à sua capacida- de de impedir a passagem do petróleo e do gás após o processo de migração. Além de impermeável, a rocha capeadora deve ser dotada de plasticidade, característi- ca que possibilita deformações sem fraturas, mantendo sua condição selante. Os folhelhos e os evaporitos (sal) são excelentes seladores. Cl eb er M ag no d o Sa cr am en to Rocha reservatório é qualquer rocha porosa e permeável capaz de armazenar o petróleo expulso das rochas geradoras após o processo de migração. Figura 30 – Exemplos de arranjo geológico As acumulações de petróleo dependem não só das características como também do arranjo (falhas, dobramentos ou discordância) de certos tipos de rochas sedimenta- res no subsolo (Figura 30). Basicamente, é preciso que existam rochas geradoras, o pro- cesso de migração, rochas reservatório que possuam boa porosidade, capazes de ar- mazenar petróleo, e rochas selantes envolvendo-o em formato de armadilhas geológi- cas (trapa – Figura 31). 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 49 Armadilhas ou trapas são situações estruturais ou estratigráficas. De modo ge- ral, as trapas podem ser classificadas em três tipos principais: Estruturais Estratigráficas Combinadas Trapas estruturais são formadas por alguma deformação local, como resultado de falhamentos e de dobramentos, sendo as mais evidentes nos mapeamentos geológicos de superfície (Figura 32). Figura 31 – Exemplo de trapa In -F ól io /C ris M ar ce la blocos falhados In -F ól io /C ris M ar ce la Figura 32 – Exemplos de trapas estruturais óleo rocha capeadora rocha reservatória águagás Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás50 aprisionamento de petróleo In -F ól io /C ris M ar ce la Figura 33 – Exemplo de trapa estratigráfica As trapas estratigráficas são produtos diretos do ambiente de sedimentação. São também denominadas trapas deposicionais (Figura 33). As trapas secundárias são aquelas que se desenvolvem após a deposição e dia- gênese da rocha reservatório. Este tipo de trapa está frequentemente associado à discordância das formações geológicas. As trapas combinadas são formadas pela combinação de fatores estruturais e estratigráficos em proporção aproximadamente igual. Trapas combinadas típicas são formadas quando uma falha corta um arenito próximo à sua mudança de fa- ses para folhelho ou quando esse mesmo arenito é dobrado. Não havendo a presença de uma rocha selante e de uma armadilha, o petróleo não se acumularia e continuaria seu fluxo rumo a áreas de menor pressão, poden- do aflorar na superfície da Terra, formando lagos de óleo (exsudação). 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 51 2.3.3 O PETRÓLEO E sua ORIGEm Do latim petra (pedra) e oleum (óleo), o petróleo no estado líquido é uma subs- tância oleosa, inflamável, menos densa que a água, com cheiro característico e cor variando entre o negro e o castanho-claro. O termo petróleo é utilizado tanto pa- ra o óleo quanto para o gás natural. O petróleo é um combustível fóssil originado da decomposição não oxidante de matéria orgânica armazenada em sedimentos, que migra através de aquíferos e fica aprisionado em reservatórios. A interação dos três fatores – matéria orgâni- ca, sedimentos e condições termoquímicas apropriadas – é fundamental para o início da cadeia de processos que leva à formação do petróleo. A matéria orgâni- ca proveniente de vegetais superiores também pode dar origem ao petróleo; to- davia, sua preservação torna-se mais difícil em função do meio oxidante. O tipo de hidrocarboneto gerado (óleo ou gás) é determinado pela constitui- ção da matéria orgânica original e pela intensidade do processo térmico atuante sobre ela. A matéria orgânica proveniente do fitoplâncton, quando submetida a condições térmicas adequadas, pode gerar hidrocarboneto líquido. O processo atuante sobre a matéria orgânica vegetal lenhosa pode ter como consequência a geração de hidrocarbonetos gasosos. Admitindo um ambiente apropriado após a incorporação da matéria orgânica ao sedimento, dá-se o aumento de carga sedimentar e temperatura, começando, então, a se delinear o processo que passa pelos seguintes estágios evolutivos: Na faixa de temperatura até 65°C, tem-se a atividade bacteriana, que gera a re- organização molecular e transforma a matéria orgânica em querogênio. O pro- duto final é o metano bioquímico ou biogênico (diagênese). A faixa de temperatura acima de 65°C até 165°C ocorre a quebra das moléculas de querogênio, resultando na geração de hidrocarbonetos líquidos e gás (catagênese). Após a geração de hidrocarbonetos, o aumento da temperatura até 210°C ocorre a quebra das moléculas líquidas, transformando-as em gás leve (metagênese). Após essas fases, o aumento da temperatura leva à transformação dos hidrocarbo- netos em grafite, gás carbônico e resíduos de gás metano (metamorfismo). Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás52 2.4 REsERVaTÓRIOs A definição de reservatório considera o meio poroso, os fluidos contidos nele e as condições de pressão e temperatura que atuam no momento da descoberta. Características de porosidade, permeabilidade e fator de formação ou resistivida- de das rochas, juntamente com as interações produzidas entre as rochas e os flui- dos encontrados dentro delas, são de vital importância para determinar a forma de extração dos hidrocarbonetos. Com base nessas características é possível calcular o volume de rocha da jazi- da que contém os hidrocarbonetos, o volume ocupado por esses fluidos, como eles estão distribuídos no reservatório, qual a força principal que de forma natural pode impulsionar a saída dos fluidos e ajudar a definir os métodos de extração. Figura 34 – Transformação termoquímica da matéria orgânica e a geração do petróleo In -F ól io /P au la M ou ra Campos de exigência Temperatura ºC 60 150 210 Estágios de transformação DIAGêNSE CATAGêNESE METAGêNESE METAMORFISMOTR CH4 – CO2 Soterramento Gás bioquímico Gás termoquímico Condensado Ou seja, o processo de geração de petróleo como um todo é resultado da trans- formação da matéria orgânica com a contribuição do calor proveniente do inte- rior da Terra (Figura 34). Óleo 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 53 Fluidos de reservatórios A interação entre os fluidos de um reservatório (óleo, água e gás) é analisada em laboratório, onde se pode misturar ou separar os fluidos em diferentes condi- ções de pressão, volume e temperatura. O meio porosoconsiste de um sistema sólido e um espaço poroso formado pe- los vazios, que podem estar todos interconectados, encerrados ou ser impenetrá- veis desde a superfície externa do meio. O volume de fluidos em uma rocha reservatório é definido pelo volume de po- ros da rocha. Define-se, então, porosidade como a relação entre o volume poroso (ou volume de vazios) e o volume de rocha. Onde: Ø = Porosidade (%) Vp = Volume de poros Vt = Volume total da rocha Ø = Vp Vt Podemos distinguir dois tipos de porosidade: Porosidade absoluta É a relação entre o volume total dos poros e o volume total da rocha. Porosidade efetiva É a relação entre o volume dos poros interconectados e o volume total da rocha. No estudo de reservatórios, a porosidade efetiva é a que interessa realmen- te, uma vez que os fluidos contidos nos poros que estão isolados não podem ser deslocados. Pode-se ainda classificar a porosidade segundo sua origem ou, mais precisa- mente ainda, de acordo com a época em que se originou: Porosidade primária Originada durante a deposição do material sedimentar. Porosidade secundária Resultante de repetidos esforços da Terra ou ação da água subterrânea sobre as rochas já consolidadas. Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás54 A porosidade pode ser determinada de forma direta ou indireta. A forma direta é feita em laboratório a partir da medição da porosidade que é analisada a partir dos tes- temunhos dos poços. Portanto, quando se deseja a determinação da porosidade no laboratório deve-se prever na perfuração dos poços a retirada de testemunhos. Para esta determinação devem ser medidos o volume total da rocha e o volume dos poros. A forma indireta é feita por meio dos perfis que são feitos nos poços, logo após a sua perfuração. Esses perfis estão baseados nas propriedades elétricas da rocha e dos fluidos contidos nela. A diferença de pressão através de uma interface curvada entre dois fluidos imis- cíveis indica a maior facilidade de um dos dois fluidos para elevar-se pelas pare- des de um tubo é denominada capilaridade. A molhabilidade indica o grau de afinidade do fluido pelo material do qual é com- posta a rocha. Fluido imiscível é aquele que tende a se espalhar mais na superfície da parede dos poros. Trata-se de propriedade de extrema importância nos reserva- tórios, pois determina o comportamento do escoamento dos fluidos no meio poro- so, já que ele vai influenciar a distribuição dos fluidos (Figura 35). As pressões desempenham papel fundamental na vida dos reservatórios e mo- nitorar pressões é importante em todas as etapas operacionais dos poços. Carga hidrostática É a pressão exercida por uma coluna de fluido (peso do fluido) em função da altura da coluna de fluido acima de um ponto, onde se mede a pressão. Carga litostática É pressão exercida pelos materiais rochosos a uma determinada profundidade. grão água óleo In -F ól io /P au la M ou ra Figura 35 – Distribuição de fluidos em um reservatório molhado pela água 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 55 A pressão total de sobrecarga é igual à soma da carga hidrostática à carga litos- tática. Sua unidade de medida é o kgf/cm2. Para compreender a compressibilidade, é preciso tomar em consideração que um corpo de volume V submetido a uma compressão P sofrerá uma redução de volume ∆V. Variação fracional ∆V V (∆V/V) ∆P Então: Compressibilidade Os poros de uma rocha reservatório estão preenchidos com fluidos (óleo/água/ gás) que exercem pressão sobre as paredes. Ao se retirar uma determinada quan- tidade de fluido do interior da rocha, os poros têm os seus volumes reduzidos pe- la queda de pressão. Saturação é o espaço vazio poroso de uma rocha reservatório e está sempre ocupado por um ou mais fluidos. O valor de um reservatório, em termos econômi- cos, é definido pelo tipo e quantidade dos fluidos no meio poroso. Define-se, então, saturação de um fluido como sendo a relação entre o volume ocupado por esse fluido e o volume poroso. Onde: Sf = Saturação do fluido (%) Vf = Volume do fluido Vp = Volume de poros Sf = Vf Vp Saturação: percentual de volume poroso ocupado por cada fluido Saturação de óleo (So = Vo/Vp) Saturação de gás (Sg = Vg/Vp) Saturação de água (Sw = Vw/Vp) So + Sg + Sw = 1 (100%) Se o meio poroso contém mais de um fluido, a soma das saturações deve ser igual a 100%. É óbvio que, se só houver um fluido, sua saturação será igual a 100%. O conhecimento do volume poroso de uma rocha reservatório não é suficien- te para estabelecer as quantidades de óleo e/ou gás contido nas formações, pois também podem conter água. Fundamentos da indústria de Petróleo e Gás56 2.5 O PETRÓLEO E O mEIO amBIEnTE O descarte da água produzida dos reservatórios só pode ser feito dentro de crité- rios especificados e regulamentados por órgão de controle do meio ambiente que li- mita a quantidade de poluentes (teor de óleo, graxa, H2S etc.) nos efluentes aquosos. A água separada do óleo é um efluente cujo descarte tem que ser feito com os devidos cuidados para que não agrida o meio ambiente nas seguintes funções: DO SEU VOLUME Em média, para cada m3/dia de água. Há campos produtivos que elevam esse número a 7 ou mais. Nas atividades de perfuração e produção, a água produzida representa 98% de todos os efluentes gerados. DE SUA COMPOSIÇÃO Presença de óleo, sais e outros constituintes nocivos ao meio ambiente, ausên- cia de altas temperaturas e oxigênio. O descarte deve ser feito o mais próximo possível do campo produtor, para mini- mizar problemas no transporte e armazenamento, além de desperdício de energia. Em vista disso a solução comumente adotada é: EM CAMPO MARíTIMO (offshore) É lançado ao mar após a redução do teor de óleo aos níveis exigidos pela le- gislação. No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente determina que os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, se o teor de óleo mineral for inferior a 20mg/L. Nos Estados Uni- dos, o teor de óleo médio mensal não deve ser superior a 29mg/L, e no Mar do Norte e na Índia a concentração média mensal de óleo na água deve ser inferior a 40mg/L. EM CAMPOS TERRESTRES (onshore) Reinjetá-la em poços para fins de recuperação secundária ou descarte, após o devido tratamento, de modo que não venha a causar problemas no reservatório e nos equipamentos pela corrosão e/ou pelo entupimento dos poços. 2.6 nOçõEs dE LEGIsLaçãO E nORmas As indústrias no ramo do petróleo e gás interferem diretamente na estrutu- ra econômica do país, mas suas atividades oferecem altos riscos ambientais. Por esses motivos, elas seguem normas e são fiscalizadas de forma ostensiva por ór- gãos federais. 2 Mercado do petróleo e gás no Mundo e no Brasil 57 A Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997 (publicada no DOU de 7 de agosto de 1997), dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao mo- nopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agên- cia Nacional do Petróleo e dá outras providências. Faça uma busca no site da ANP e do Ibama e pesquise sobre normas e legislação para indústrias de petróleo e gás. ANP www.anp.gov.br Ibama www.ibama.gov.br saiba mais O petróleo foi utilizado pelas civilizações antigas bem antes de Cristo e ain- da é utilizado nos dias de hoje. Os astecas utilizavam o petróleo para calçar as ruas e para colar as pedras usadas nas construções; os egípcios utilizavam no processo de mumificação; e outros povos também utilizavam com ou- tros fins. O petróleo era extraído de lagos formados pela própria natureza. A partir de 1859, um ex-consultor ferroviário conhecido como “Coronel Drake” desenvolveu uma técnica para se obter petróleo através da perfuração, au- mentando a produção e o interesse por parte dos empresários. Os países passaram a ser dependentes dessa fonte de energia que acabou virando motivo de muitas guerras. reCapitulandO Em 10 de janeiro de 1901, a indústria de petróleo
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