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Artigo Ativismo Judicial em Matéria Tributária

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DIREITO 
NOME DA DISCIPLINA 
 
 
ATIVISMO JUDICIAL EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA 
Kayque Pedro Rodrigues1 
 
Resumo: A presente pesquisa acadêmica discorrerá sobre o Ativismo Judicial em matéria 
tributária. Primeiramente, perpassará a evolução do poder judiciário face o princípio da 
separação de poderes, evidenciando o papel protagonista deste, alcançado no estado 
democrático de direito. O constitucionalismo atual, com a amplitude dos princípios e normas 
programáticas concedeu ao Judiciário a atribuição de preencher as lacunas presentes no 
sistema jurídico, além da resolução dos conflitos normativos/principiológicos. Após, será 
debatido os pontos positivos e negativos do ativismo, de forma a analisar os benefícios e os 
riscos que a discricionariedade traz para o ordenamento jurídico. Por fim, se demonstrará as 
características do Sistema Tributário Constitucional, passando pelos princípios e regras, 
assim como as limitações ao Poder de tributar, pontuando aspectos comportamentais do juiz 
no que se refere as posturas ativistas no âmbito tributário. 
 
Palavras-chave: Ativismo Judicial. Poder Judiciário. Limites ao Poder de Tributar. 
Separação dos Poderes. 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho foi escolhido, principalmente, pela atual postura do 
Poder Judiciário brasileiro, o qual torna-se protagonista face aos outros poderes. 
Essa grande notoriedade do Poder Judiciário pode ser justificada pelo 
enfraquecimento dos entes políticos, os quais estão ligados a uma falta de 
representatividade popular, mas também pelas lacunas normativas presentes em 
nosso ordenamento jurídico. 
As lacunas normativas e a quantidade expressiva de princípios no sistema 
jurídico dão margem a mais de uma interpretação, exigindo dos juízes uma postura 
mais atuante, de forma a integrar o direito ao caso concreto. Surge então a figura do 
Ativismo Judicial, a qual corresponde à atuação do Poder Judiciário frente à 
 
1 Mestrando em Direito pela Centro Universitário Unifg. Graduado em Direito Faculdade Vale do 
Gorutuba. Pós-Graduado pela Damasio Educacional. Advogado. Servidor Público. E-mail: 
kayquepedroadvogado@gmail.com 
 
2 
judicialização de matérias de cunho constitucional e que não tenham sido 
contempladas pelo poder constituinte ou pelo legislador ordinário. Tal atividade 
judiciária é digna de total atenção e estudo, uma vez que se trata de uma importante 
ferramenta usada na busca da efetivação dos direitos fundamentais. Ressalta-se, no 
entanto, que o juiz ao se utilizar do ativismo de modo incompatível com o que almeja 
a constituição, expõe a risco todo o ordenamento jurídico e o próprio Estado 
Democrático de Direito. 
Não obstante, o ativismo judicial traz vantagens importantes, sendo na 
maioria das vezes utilizado para reafirmar direitos fundamentais previstos na 
Constituição Federal. De tal maneira, vivendo em um país que é maciça a presença 
de desigualdades sociais com inúmeros desvios das verbas públicas em razão de 
um sistema corrupto, a atuação proativa do Poder Judiciário pode se apresentar 
como salvação. 
Conquanto, é importante destacar que o tema é extremamente complexo, 
gerando amplos debates tanto no meio acadêmico quanto na doutrina em geral. De 
fato a jurisprudência, advinda das instâncias superiores do Poder Judiciário, se 
orienta a estimular o ativismo judicial, de modo que lhe é conferido maiores poderes 
no arranjo institucional. Contudo, o estudo crítico da postura ativista dos entes que 
detenham função jurisdicional tende a demonstrar pontos negativos deste fenômeno. 
No que tange o direito tributário, o debate sobre o movimento do ativismo 
judicial no cenário jurídico brasileiro é discussão atual e traz consigo riscos quanto à 
segurança jurídica e as limitações estabelecidas pela Constituição Federal no que 
diz respeito a essa atuação. Nota-se que normas tributárias se apresentam como 
fonte e limite para a interpretação e aplicação das leis. 
Nesses moldes, o debate teórico da discussão sobre a temática se reflete na 
necessidade de amparo doutrinário e jurídico para que a atuação do Poder Judiciário 
em matéria tributária seja limitada e submetida a uma atuação que vise à aplicação 
de normas ou princípios que busque favorecer o cidadão contribuinte respeitando 
seus direitos fundamentais. Em hipóteses de lacunas ou conflitos principiológicos se 
faz necessário justificar essa atuação diferenciada ou eventual postura discricionária, 
se valendo da regra da ponderação se for o caso, mas sempre se apoiando nas leis 
e no espírito constitucional. 
Para desenvolvimento e conclusão deste trabalho, foi necessária uma 
pesquisa metodológica adequada obtendo o máximo de informações para a devida 
 
3 
compreensão do tema, induzindo a respostas e soluções, ressaltando-se que não 
tem a pretensão de esgotar todo o tema. O tipo de pesquisa a ser abordada é a 
bibliográfica, dado o caráter teórico-argumentativo, fazendo o uso também da 
internet, jurisprudência, legislação e uma seleção de renomadas referências 
bibliográficas. 
 
2 A EVOLUÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO COMO PODER GARANTIDOR DO 
EXERCÍCIO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Para melhor compreender acerca do Poder Judiciário, é de suma importância 
reportar-se ao atual modelo jurídico, de forma a analisá-lo na perspectiva do Estado 
Democrático de Direito, dado seu momento histórico em detrimento dos 
acontecimentos sociais que modificaram a sua organização e funcionamento. 
Acerca da perspectiva histórica, menciona-se a lição de Bobbio: 
[...] os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos 
históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por 
lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de 
modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas [...] o que 
parece fundamental numa época histórica e numa determinada civilização 
não é fundamental em outras épocas e em outras culturas.2 
Já no decorrer do século XIX, o Estado Moderno, até então vinculado à idéia 
clássica da separação dos poderes, tinha a imparcialidade do juiz consagrada como 
pilar do sistema jurídico, principalmente após a Revolução Francesa, e como 
oposição ao autoritarismo anteriormente vigente. O juiz era visto como mero 
aplicador da lei, sendo seu papel julgar com total isenção, despido de qualquer 
vontade. Esse modelo faz uso das teses liberais as quais, concebem um Estado 
mínimo na concepção de políticas públicas de cunho social, estabelecendo limites 
em sua atuação, concedendo privilégios a iniciativa privada. Nesse modelo, cabe ao 
juiz apenas solucionar litígios com base na aplicação da norma.3 
 Entretanto, esse modelo liberal foi superado, especialmente a partir da Crise 
de 1929 e das duas guerras mundiais, o que culminou no que chamamos de Estado 
Democrático de Direito. Dessa forma, processos sociais, econômicos e políticos 
 
2 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 1 ed. 12. tir. Rio de Janeiro: Campus, 1992.pág. 5. 
3 KOERNER, Andrei. Ativismo Judicial? Jurisprudência constitucional e política no STF pós-88. Novos 
estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 96, jul. 2013. 
 
4 
foram incorporados na estrutura do Estado, resultando em modelo intervencionista, o 
qual modificou de vez a tradicional tese da imparcialidade do juiz.4 
Desde já, percebe-se um protagonismo alcançado pelo Poder Judiciário, o 
qual veio se evoluindo desde o surgimento da Teoria da Separação dos Poderes de 
Montesquieu. Viu-se uma transgressão do poder decisório do Legislativo junto ao 
Judiciário, por diversas razões, especialmente com o advento das Constituições 
principiológicas pós-Segunda Guerra Mundial.5 
É pressuposto de um Estado Democrático de Direito a institucionalização do 
poder, de forma que seja exercido por órgãos indicados na Constituição,com limites 
a serem impostos. Portanto, é evidente que a base da democracia se encontra na 
separação dos poderes, onde prevê a divisão das atribuições do Estado, com a 
possibilidade de um sistema de freios e contrapesos.6 
Segundo Eduardo Carlos Bittar: 
 
O Poder Judiciário cumpre um determinante papel na construção, proteção 
e garantia da efetividade dos direitos humanos, dentro da tradicional 
estrutura tripartite de poderes herdada da modernidade. Se uma sociedade 
na qual a cidadania se realiza é aquela que tem amplo acesso aos direitos, 
significa afirmar que estes direitos são realizados ou respeitados, e também 
que, quando são violados, aos mesmos é atribuída a devida proteção e 
garantia jurisdicional, o que torna a questão do papel do Judiciário um ponto 
central das discussões sobre o tema dos direitos humanos e, ainda mais, da 
eficácia dos direitos humanos.7 
 
Diante o exposto, cabe ressaltar que é com o advento da Constituição 
Federal de 1988 que se pode falar em uma autêntica autonomia do Poder 
Judiciário e no cumprimento do princípio da Separação dos Poderes. É a partir 
desse marco que, efetivamente pode-se afirmar que o Poder Judiciário passou a se 
autogerir, de modo que seus órgãos foram reorganizados em busca de uma maior 
efetividade no que tange sua função primordial que é resguardar a Constituição. 
Dirley da Cunha Júnior expõe que: 
 
 
4 TEIXEIRA, Anderson Vichinkeski. Ativismo judicial: nos limites entre racionalidade jurídica e 
decisão política. Rev. direito GV, São Paulo, v. 8, n. 1, jun. 2012 . 
5 CANOTILHO, JJ Gomes, in Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador – Contributo para a 
Compreensão das Normas Constitucionais Programáticas, Coimbra: Coimbra Editora, 1994. 
6 Para assegurar a harmonia e a interdependência entre os Poderes, foi concebida a técnica dos 
freios e contrapesos ou “checks and balances”, que surge para garantir que nenhum poder se 
sobreponha ao outro, ou seja, é a limitação do poder pelo poder. De acordo com: MONTESQUIEU, 
Charles de Secondat, Baron de. O Espírito das leis. Tradução Cristina Murachco. São Paulo: Martins 
Fontes, 2005. 
7 BITTAR, Eduardo C. B. O direito na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. 
 
5 
A constituição de 1988 inovou profundamente a função do Judiciário no 
âmbito do Estado Social, onde o Legislativo e o Executivo não cumprem 
adequadamente a incumbência constitucional ou nada fazem para criar as 
condições materiais necessárias para assegurar a efetividade dos direitos 
sociais.8 
 
Entende-se, contudo, que a atividade jurisdicional se fortaleceu de modo 
natural, não precisando intervir nas funções dos demais Poderes. A construção 
dessa independência não deve ser levada ao corporativismo ou a privilégios, sob o 
risco de perder a essência do próprio Poder Judiciário e de suas atribuições. 
Nota-se que, frente à própria crise de legitimidade e atuação do Estado 
Social de Direito, o Brasil sofre, recentemente, com um expressivo aumento nas 
demandas do Poder Judiciário, que passou a ser taxado como9 “esperança” 
nacional, devido suas próprias incumbências previstas na Constituição de 1988. 
Logo, o Poder Judiciário tem assumido um protagonismo, principalmente na 
figura do STF, que vem sendo denominado como “distribuidor da justiça” e se 
denotando, na expressão de alguns, como o verdadeiro representante da vontade 
popular, se submetendo a escutar “as vozes do povo”, cuja formulação não era 
inicialmente concebida no texto constitucional.10 
Contudo, mesmo com a alavancada do Judiciário, este, ainda necessita de 
evolução no quesito, político. Desde a desfragmentação ante ao formalismo, o 
Judiciário vem almejando sua expressão política. A utopia de que os juízes se 
classificavam como genuínos “bocas da lei”11 já não existe mais, uma vez que num 
ordenamento jurídico eficiente, é preciso unidade, completude e coerência como 
pilares associado a um ambiente de mudança comportamental da sociedade, pois, 
suas escolhas políticas influenciarão diretamente em quem irão representá-las, de 
modo que o judiciário atuará interpretando e julgando, leis que foram criadas pelos 
representantes dessa sociedade. 
Diante do novo modelo interpretativo do Poder Judiciário, Thiago Magalhães 
Pires assevera que: 
 
8 CUNHA JUNIOR, Dirley da. A Judicialização da Política, a Politização da Justiça e o papel do Juiz 
no Estado Constitucional Social e Democrático de direito. In: Fórum de Teses da Faculdade Baiana 
de Direito, 2, 2008, Salvador. Teses da Faculdade Baiana de Direito, Salvador: Faculdade Baiana de 
Direito. 2008. p. 19. 
9 Expressão do Ministro do STF: Luiz Fux 
10 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 5.ed. 
São Paulo: Saraiva, 2014. 
11 ROBALDO, José Carlos de Oliveira. O Viés Negativo do Legalismo. Disponível em 
http:// www.lfg.com.br – Acesso em:15 de julho de 2020. 
 
6 
 
A interpretação já não é mais considerada uma operação fria ou 
matemática, própria de um robô. As influências que se operam sobre o 
magistrado, vindas do meio, dos fatos e até de sua formação pessoal, não 
podem ser simplesmente ignoradas como se não existissem. Ademais, 
cláusulas abertas como princípios e tipos jurídicos também tiveram 
reconhecido o seu caráter normativo e passaram a ser concretizadas pelo 
Poder Judiciário. Esse último, por sua vez, se expandiu sobre o processo 
político: além de ter a palavra final sobre a interpretação da lei, ainda dá o 
tom do debate em torno da própria Constituição e com isso limita o espaço 
de atuação das maiorias ocasionais. 12 
 
As Constituições mais recentes trouxeram uma complexidade maior, 
principalmente no que se refere a aplicação objetiva de normas ao caso concreto. 
Isso se justifica devido a presença dos princípios gerais, que tem o fito de criar um 
modelo adequado de comportamento dentro de uma sociedade. De tal modo, as 
normas programáticas também aparecem como ferramentas a serem utilizadas em 
busca de atingirem os fins almejados pelo Estado e Poder Público. 
As normas programáticas de acordo JORGE MIRANDA: 
 
“são de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; 
prescrevem obrigações de resultados, não obrigações de meios; mais do 
que comandos-regras explicitam comandos-valores; conferem ‘elasticidade’ 
ao ordenamento constitucional; têm como destinatário primacial – embora 
não único – o legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo e dos 
meios em que vêm a ser revestidas de plena eficácia (e nisso consiste a 
discricionariedade); não consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos 
as invoquem já (ou imediatamente após a entrada em vigor da 
Constituição), pedindo aos tribunais o seu cumprimento só por si, pelo que 
pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, máxime os 
direitos sociais, têm mais natureza de expectativas que de verdadeiros 
direitos subjetivos aparecem, muitas vezes, acompanhadas de conceitos 
indeterminados ou parcialmente indeterminados”.13 
 
As normas programáticas cumprem importante função no ordenamento 
jurídico de forma que, seus efeitos jurídicos não se dirigem apenas aos legisladores, 
mas também requerem atuação do judiciário. O poder legislativo pode se apoiar 
nessas normas como norte na criação das leis, com o fito de atingir os deveres 
elencados pela Constituição, por outro lado, o Poder Judiciário deve, através de 
suas decisões solucionar os anseios demandados pela população, interpretando e 
aplicando as leis de forma coesa aos princípios constitucionais ou até mesmo 
declarando sua inconstitucionalidade. De tal modo, as normas programáticas 
também poderão ser objetos de ponderação, quando dois ou mais direitos 
 
12 PIRES, Thiago Magalhães. Pós-positivismo sem trauma: o possível e o indesejável no 
reencontrodo Direito com a Moral. In: FELLET, André Luiz Fernandes; DE PAULA, Daniel Giotti; 
NOVELINO, Marcelo. As novas faces do Ativismo Judicial. Salvador: Jus Podivm, 2011, p. 29. 
13 MIRANDA, Jorge in Teoria do Estado e da Constituição, Rio, Forense, 2005, p. 441. 
 
7 
fundamentais entram em colisão passando a depender de um grau de sopesamento 
realizado pelo juiz.14 
 
3 O ATIVISMO JUDICIAL 
 
Sabe-se, que os Estados Unidos é pioneiro na temática “ativismo judicial”. No 
ano de 1803, a Suprema Corte no emblemático caso Marbury vs Madison julgou 
inconstitucional uma lei federal e declarou sua nulidade, ficando marcado na história 
do seu sistema político também no constitucionalismo mundial. Para o feito, a 
Suprema Corte se utilizou do poder da judicial review no que tange às leis federais 
sem decorrer diretamente do texto constitucional de 1787. Desde então, o debate 
acerca do (excesso de) poder das cortes em julgar a inconstitucionalidade das leis 
tem se mostrado, historicamente, como a principal crítica à teoria constitucional 
norte-americana.15 
O primeiro uso público do termo “ativismo judicial”, segundo a doutrina norte-
americana foi feito pelo historiador americano, Arthur Schlesinger Jr., em artigo 
denominado The Supreme Court, no ano de 1947. Neste estudo, além de tratar do 
termo, Schlesinger apresentou outra importante lição: quanto mais uma corte se 
intitula como instituição vital ao país e à sociedade, mais ela e seus juízes se 
submeterão ao julgamento crítico sobre suas decisões.16 
Conquanto, o ativismo judicial vem enfrentando, desde suas primeiras 
referências, um embaraço no seu conceito, resultando no uso indiscriminado e/ou 
pejorativo do termo. Nesse extenso debate, a raiz normativa do ativismo judicial não 
é homogênea. Mesmo sendo visto com bons olhos na sua idéia inicial, o ativismo 
judicial também é alvo de críticas. A justificativa dos que discorrem de forma 
negativa sobre a temática, se baseiam numa possível ameaça aos valores 
democráticos e à separação de poderes, de maneira a fortalecer o que se denomina 
“decisionismo judicial”.17 Para os que vêem com bons olhos, todavia, os juízes e as 
 
14 SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, São Paulo, Malheiros, 7ª. Edição, 
2007, p. 62-87. 
15 FRIEDMAN, Barry. The Birth of an American Obsession: The History of the Countermajoritarian 
Difficulty. Part V. Yale Law Journal Vol. 112 (2), 2002, p. 155.) 
16 SCHLESINGER Jr., Arthur M. The Supreme Court: 1947. Fortune Vol. 35 (1), 1947, p. 73. 
17 SARMENTO, D. Ubiquidade Constitucional: Os Dois Lados da Moeda. In NETO, C. P. de S.; 
SARMENTO, D. (Org.) A Constitucionalização do Direito: Fundamentos Teóricos e Aplicações 
Específicas. Coordenadores. Rio de Janeiro. Lúmen Júris. 2007.p. 144. 
 
8 
cortes devem se utilizar dessa ferramenta em busca da máxima eficiência em nome 
dos direitos da liberdade e igualdade e frente à inércia ou abuso de poder.18 
Nas palavras de TAVARES: 
 
Em uma definição mais direta, ativismo judicial é a atividade decisória 
judicial (ou de Tribunal Constitucional ad hoc do Judiciário) adotada com 
usurpação de funções ou excesso. A expressão, contudo, passou a ter seu 
uso alargado para atacar toda e qualquer decisão judicial que não pode ser 
captada pela teoria clássica formada nos albores do liberalismo (...). 
Outra parte do ativismo, em sentido ainda pejorativo, diz respeito às 
decisões judiciais de cunho estritamente político e, portanto, nitidamente 
contrárias aos pressupostos constitucionais de atuação do Judiciário ou da 
Justiça Constitucional.19 
 
É cediço que ativismo judicial também é resultado do elo entre Direito e 
Política, porém, os juízes e tribunais devem gerenciar suas respectivas 
competências separando as que não lhe pertencem e dando maior respeito às leis e 
as decisões discricionárias dos demais poderes, mesmo que não compactue com 
tais decisões. Esse possível abalo face ao princípio da separação dos poderes expõe 
a democracia e o desenvolvimento nacional a um risco imensurável. 
 
3.1 Do ativismo judicial contemporâneo 
 
As Constituições Sociais do México (1917) e de Weimar (1919), marcaram a 
concretização do Ativismo Judicial nos textos constitucionais contemporâneos. Tal 
movimento trouxe aos juízes um novo modelo de atuação, de forma indispensável, 
estes passaram a adotar uma postura politicamente pró-ativa, buscando sempre a 
concretização dos direitos sociais e constitucionais dentro da sociedade. 
Desde o “nascimento” do Poder Judiciário, a figura do juiz também evoluiu, a 
incumbência dada ao Judiciário não se resume mais no âmbito de mero aplicador 
das leis, o Judiciário necessitou de mais criatividade, no que tange suas sentenças, 
para que estas estejam aptas a resguardar a vontade constitucional. 
 
18 WHEELER, Fiona; WILLIAMS, John. ‘Restrained Activism’ in the High Court of Australia. In: 
DICKSON, Brice (ed.). Judicial Activism in Common Law Supreme Courts. New York: Oxford 
University Press, 2007, p. 19. 
19 TAVARES, Alexandre Macedo. A Responsabilidade Estatal pelo Desempenho Irregular da Função 
de legislar como Engrenagem do Sistema de Freios e Contrapesos à Possibilidade de o STF atribuir 
Eficácia Prospectiva às Decisões de Inconstitucionalidade em Matéria Tributária. Revista Dialética de 
Direito Tributário, v. 159, p. 7-18, dez. 2008. 
 
9 
Num primeiro momento, merece destaque o pensamento de Barroso acerca 
do conceito de ativismo judicial: 
 
 
(...) modo específico e proativo de interpretar a Constituição, expandindo o 
seu sentido e alcance. Normalmente ele se instala em situações de retração 
do Poder Legislativo, de um certo deslocamento entre a classe política e a 
sociedade civil, impedindo que as demandas sociais sejam atendidas de 
maneira efetiva. A ideia de ativismo judicial está associada a uma 
participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos 
valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação 
dos outros dois Poderes.20 
 
Isto posto, vale destacar que o papel criativo do juiz não pode ser alvo de 
crítica quando atua de forma provocada e por um caminho que é estabelecido pelo 
sistema jurídico. Essas represálias são incabíveis no tocante as decisões em casos 
concretos em que o juiz interpreta em consonância com o ordenamento jurídico. 
Segundo Lenio Luiz Streck: 
 
Quando o judiciário age – desde que devidamente provocado – no sentido 
de fazer cumprir a Constituição, não há que se falar em ativismo. O 
problema do ativismo surge exatamente no momento em que a Corte 
extrapola os limites impostos pela Constituição e passa a fazer política 
judiciária, seja para o ‘bem’ seja para o ‘mal’.21 
 
O ativismo judicial se relaciona a uma questão hermenêutica no seu momento 
da interpretação e aplicação do Direito. Em outros termos, está ligada à vontade do 
julgador, o qual deve corresponder de forma adequada, conforme diretrizes 
constitucionais. Contudo, ao realizar um juízo de modo subjetivo e solipsista, pode 
resultar em decisionismos culminando em arbitrariedades. Portanto, não se pode o 
esquecer que o ativismo representa um ato de vontade, e atos de vontade não tem 
controle, assim, não há garantia que tal ferramenta será utilizada de modo benéfico 
ou maléfico.22 
 
3.2 Dos pontos positivos do ativismo 
 
 
20 BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Revista 
Seleções Jurídicas. COAD: Rio de Janeiro, 2009. 
21 STRECK, Lenio Luiz. O Que É Isto – decido conforme minha consciência?. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2010. p. 23. 
22 STRECK, Lenio Luiz. Entrevista. Jornal Carta Forense. São Paulo, 3 out. 2013. Disponível em: 
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/entrevistas/decisao-juridica/12151. Acesso em: 12 de julho. 
2020.10 
Em um sistema jurídico de modelo positivista, o juiz extremamente limitado no 
quesito discricionário, ficando submisso somente a analisar o caso concreto, de 
forma a identificar e aplicar o direito em questão. Todavia, o momento jurídico atual 
ampliou o papel desse personagem julgador. O método de ponderar foi benéfico ao 
que se refere valores morais e sociais, pois ampliou as possibilidades de solução 
para os casos apresentados ao Poder Judiciário propiciando aplicar o direito de 
forma mais justa a partir dos princípios. 
A evolução do judiciário concedeu a população, amplo acesso à justiça, 
proporcionando julgados mais adequados com os direitos de cada um. O juiz é o 
personagem dotado do poder de ponderar os princípios e criar uma norma 
adequada para determinado caso concreto. Existem situações as quais o texto legal 
é suficiente, não necessitando de atividade criativa do juiz na sua aplicação, 
entretanto, em uma grande parte das demandas recebidas, o juiz se utilizará das 
normas-princípios, fazendo o uso da ponderação para normatizar o caso em 
questão. Nessa ótica, Dirley da Cunha reconhece que: 
 
É necessária, portanto, sob as vestes do paradigma do novo Estado do 
Bem-Estar Social, uma nova leitura sobre o vetusto dogma da separação de 
Poderes, a fim de que ele possibilite o atendimento das reivindicações da 
sociedade contemporânea, incomparavelmente mais completa do que 
aquela na qual foi originalmente concebido, para poder continuar servindo 
ao seu escopo original de garantir Direitos Fundamentais contra o arbítrio e, 
hoje também, a omissão estatal.23 
 
A natureza das decisões judiciais é o direito fundamental do jurisdicionado, 
logo, é ônus do juiz discorrer os motivos que o levou a proferir determinada 
sentença. A legitimidade da decisão é adquirida através dos argumentos trazidos 
pelo juiz. Sua fundamentação deve ser eficaz para convencer as partes de que se 
almejou no processo a verdade absoluta. Portanto, existe a obrigação de uma 
prestação de contas pelo Poder Judiciário em favor da população. 
 
3.3 Dos pontos negativos do ativismo. 
 
O ativismo judicial quando praticado de forma correta e coerente, é 
proeminentemente positivo. Tal disposição é propósito para que o Poder Judiciário 
 
23 CUNHA JUNIOR, Dirley da. A Judicialização da Política, a Politização da Justiça e o papel do Juiz 
no Estado Constitucional Social e Democrático de direito. In: Fórum de Teses da Faculdade Baiana 
de Direito, 2, 2008, Salvador. p. 20. 
 
11 
se torne parte na construção da sociedade almejada pela Constituição. Contudo, 
não será sempre que os juízes ou tribunais conseguirão, ou vão de fato querer 
praticar tal ato(ativista) de forma adequada. Quando o judiciário comete abusos e 
excessos em sua atividade, ele deve e será alvo de críticas.24 
Mesmo com a transformação do panorama da Separação de Poderes atual, o 
Judiciário deve se atentar ao que lhe compete, e respeitar a competência dos 
demais Poderes. Os representantes de um sistema jurisdicional não devem invadir 
as decisões alheias sem motivação ou que cause um prejuízo em um patamar maior 
do que apenas uma demanda processual. 
Quanto ao Supremo Tribunal Federal (STF), Fábio Martins Andrade aduz que: 
 
Houve na história recente do STF um momento muito bem delineado no 
qual o discurso político invadiu o discurso jurídico. Significa que, por vezes, 
as considerações sobre a conveniência, a oportunidade e as consequências 
de eventual decisão passaram a assumir relevante papel na tomada de 
decisão pelos Ministros. A preocupação com a governabilidade passou a 
integrar o espectro decisório da Suprema Corte.25 
 
É válido dizer que o ativismo é um fenômeno importante e necessário, 
todavia, não deve ser levado ao extremo. É dever do Poder Judiciário se limitar a 
cumprir seu papel, sem ultrapassar suas competências. Em primeiro plano devem 
estar os fundamentos jurídicos e somente num segundo plano vem a política. O 
Consequencialismo não pode ser motivação para o afrontamento à Constituição. 
Registra-se aqui, um trecho de Renato Lopes Becho: 
 
A construção de soluções jurídicas, por parte de membros do Poder 
Judiciário, que preencham lacunas identificadas no direito positivo, 
buscando no ordenamento jurídico elementos que auxiliem na solução de 
litígios.26 
 
 
24 MADRIGAL, Alexis. Harmonia e Independência entre os Poderes. A Teoria da Separação dos 
Poderes, Disponível em: https://alexismadrigal.jusbrasil.com.br/artigos/704859633/harmonia-e-
independencia-entre-os-poderes 2019. Acesso em: 12 de junho, 2020. 
25 ANDRADE, Fábio Martins de. A (In)Aplicação dos Efeitos Prospectivos na Jurisprudência do STF 
em Matéria Tributária. Revista Dialética de Direito Tributário. São Paulo: Oliveira Rocha, v. 175, abr. 
2010, p. 45-55. 
26 BECHO, Renato Lopes. Prazo para os Exequentes em Execução Fiscal: um exemplo de 
ativismo judicial?. IX Congresso Nacional de Direito Tributário – IBET. São Paulo: Noeses, 2012. p. 
890. 
https://alexismadrigal.jusbrasil.com.br/artigos/704859633/harmonia-e-independencia-entre-os-poderes
https://alexismadrigal.jusbrasil.com.br/artigos/704859633/harmonia-e-independencia-entre-os-poderes
 
12 
O Supremo Tribunal Federal tem sido cada vez mais “protagonista”27 nos 
casos de criação do direito ante a alegação da existência de lacunas no sistema 
jurídico, em muitas vezes, excedendo, inclusive, os próprios limites impostos pelo 
texto constitucional. Dessa forma, sob o argumento de aplicar a Constituição, os 
Ministros da Suprema Corte de Justiça passam a operar de maneira criativa 
apresentando princípios e regras inexistentes no direito positivo o que resulta na 
vulnerabilidade do texto constitucional. 
As discussões presentes na doutrina28, bem como a Jurisprudência em 
contraste com ativismo judicial, são: Em que momento o juiz pode substituir o 
legislador, alterando a ordem jurídica de forma a assumir o que seria atribuição do 
legislador positivo? Essa conduta do Poder Judiciário é legítima? Tem amparo na 
constituição? As indagações e os debates são extensos e sem fim. Há quem 
sustente legitimidade decorrente do texto constitucional visto que, o juiz estaria 
criando o direito no momento em que aplica a lei em determinado caso concreto. Por 
outro lado, existem argumentos os quais não admitem tamanho grau de interferência 
do Poder Judiciário no que diz respeito à atividade inerente ao Poder Legislativo. 
Deste modo, a discricionariedade passa a se revelar de diversas maneiras, 
podendo até, resultar em certa arbitrariedade. Nesse sentido Lênio Streck traduz: 
A doutrina indica o caminho para a interpretação colocando a consciência 
ou a convicção pessoal como norteadores do juiz, perfectibilizando essa 
“metodologia” de vários modos. E isso “aparecerá” de várias maneiras, 
como na direta aposta na: a) Interpretação como ato de vontade do juiz ou 
no adágio “sentença como sentire”; b) Interpretação como fruto da 
subjetividade judicial; c) Interpretação como produto da consciência do 
julgador; d) Crença de que o juiz deve fazer a “ponderação de valores” a 
partir de seus valores”; e) Razoabilidade e/ou proporcionalidade como ato 
voluntarista do julgador; f) Crença de que os “casos difíceis se resolvem 
discricionariamente”; g) Cisão estrutural entre regras e princípios, em que 
estes proporciona(ria)m uma “abertura de sentido” que deverá ser 
preenchida e/ou produzida pelo intérprete.29 
Tais formas de manifestações discricionárias, portanto, expõem um risco o 
qual envolve todo o sistema jurídico e a integridade do direito. Dessa forma o 
 
27 GARAU, Marilha Gabriela Reverendo; MULATINHO, Juliana Pessoa; REIS, Ana Beatriz Oliveira. 
Ativismo judicial e democracia: a atuação do STF e o exercício da cidadania no Brasil. Revista 
Brasileira de Políticas Públicas,Brasília, v. 5, Número Especial, 2015 p. 190-206. 
28 CANOTILHO, JJ Gomes, in Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador – Contributo para a 
Compreensão das Normas Constitucionais Programáticas, Coimbra: Coimbra Editora, 1994. 
29 STRECK, L. L. O que é isto – decido conforme minha consciência? – 4. ed. rev. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2013. p. 13. 
 
13 
judiciário estaria em um patamar de superioridade resultando numa submissão dos 
demais poderes, inclusive a própria democracia. 
 
4 INTERPRETAÇÃO DA NORMA TRIBUTÁRIA E SEUS LIMITES 
 
Diante um sistema jurídico, toda matéria é digna de respeito e atenção quanto 
à sua interpretação, para que isso aconteça, é importante que se tenha como norte 
os princípios e regras. Na ótica do Direito Tributário, especificamente, a importância 
de proteger a segurança jurídica do contribuinte, face a sua posição de fragilidade 
frente ao Estado no que tange o ônus tributário, faz com que essa interpretação seja 
mais complexa, a fim de garantir que as relações sejam estáveis e justas.30 
O Direito Tributário requer um grande tratamento constitucional, visto que, a 
relação jurídica entre cidadão contribuinte e Estado ocasiona a arrecadação de 
tributos a qual representa maior fonte de renda de um país. Uma norma 
constitucional estável, consoante sua rigidez, é de suma importância para todo o 
sistema tributário no Estado Democrático de Direito, no que diz respeito às 
competências e limitações do poder de tributar. 
As demais matérias do direito são caracterizadas por interpretações 
extensivas, princípios de natureza programático, com exigibilidade menor, o sistema 
tributário constitucional é constituído por regras obrigatórias e princípios que 
demandam maior efetividade possível, promovendo a justiça social e tutelando os 
direitos fundamentais do cidadão.31 
O sistema tributário nacional ao ser instituído pela Constituição trouxe consigo 
competências determinadas para os entes da Federação, obedecendo ao princípio 
federativo e das autonomias municipais e distritais.32 
Luciano Amaro explana: 
 
Numa federação, especialmente na brasileira, em que mesmo os Municípios 
têm esfera própria de atribuições exercidas com autonomia, a Constituição 
preocupa-se com prover de recursos os vários entes políticos – União, 
Estados, Distrito Federal e Municípios – a fim de que cada qual possa 
atender aos seus respectivos dispêndios.33 
 
30 MARINS, James. Defesa e vulnerabilidade do contribuinte. São Paulo: Dialética, 2009. 
31 MORAES, Germana de Oliveira. A ReformaTributária desejável. In Revista CEJ, Brasília, n. 24, 
jan./mar. 2004. p. 90. 
32 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 24.ed. São Paulo: 
Malheiros, 2008, p. 487. 
33 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 93. 
 
14 
 
Numa democracia não poderia ser diferente. Ao invadir o patrimônio do 
contribuinte, mesmo motivado pela supremacia do interesse público, deve haver 
limitações. A competência tributária é o atributo que a Constituição concede aos 
entes federativos para que estes estabeleçam os tributos, e tal atividade é feita 
exclusivamente pelo poder legislativo.34 
Também nos dizeres de Luciano Amaro: 
 
As chamadas “limitações ao poder de tributar” integram o conjunto de traços 
que demarcam o campo, o modo, a forma e a intensidade de atuação do 
poder de tributar [...]. O que fazem, pois, essas limitações é demarcar, 
delimitar, fixar fronteiras ou limites ao exercício do poder de tributar.35 
 
As limitações ao poder de tributar se encontram no texto constitucional, 
sobretudo, através de princípios e imunidades. Embora seja possível, os princípios e 
as diretrizes decorrentes das imunidades não se misturam. De um lado, as 
imunidades se classificam como normas supressivas de poder tributário, já os 
princípios se apresentam como critérios de validade formal ou material à criação de 
normas jurídicas.36 
 
4.1 O ativismo judicial em matéria tributária 
 
É atribuição do Poder Judiciário, quando provocado, controlar o poder de 
tributar indevido, podendo ser cobrado pelo contribuinte ou pela própria 
Administração. O Supremo Tribunal é quem detém a responsabilidade de aplicação 
do controle de constitucionalidade na sua forma concentrada ou difusa das normas 
tributárias.37 Uma decisão politizada deve ficar em segundo plano, uma vez que, o 
aspecto jurídico deve estar em primeiro lugar na busca pela norma mais adequada 
ao caso concreto; de acordo interpretação sistemática. O contribuinte deve estar 
protegido, visto que se trata de um encargo que a Constituição destinou ao 
Judiciário. 
 
34 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 24.ed. São Paulo: 
Malheiros, 2008, p. 492. 
35 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.107. 
36 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Atualização de: Misabel 
Abreu Machado Derzi. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 31. 
37 COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário: Constituição e Código Tributário Nacional. 
São Paulo: Saraiva, 2009. p. 27. 
 
15 
Outro ponto importante que merece destaque é a atuação do poder 
constituinte derivado, na seara do direito tributário. Não obstante sua rigidez, a qual 
impõe uma dificuldade maior numa possível alteração do texto Constitucional, a 
tributação é alvo de interesse político, por ser a maior fonte de recursos de um 
Estado. 
O aspecto politizado do ativismo judicial deve ser limitado, devendo sua 
aplicação privilegiar a técnica. Portanto a interpretação sistêmica, o preenchimento 
das lacunas e a determinação das normas a serem aplicadas, devem se apoiar 
essencialmente de conteúdo jurídico e não político, de forma que as preocupações 
de natureza política fiquem em segundo plano, evitando antinomias no sistema 
jurídico. 
Dado que as competências constitucionais são previstas na Constituição 
Federal e que os entes políticos, União, estados-membros, Municípios e Distrito 
Federal, são dotados da prerrogativa de instituir tributos; à estes, é atribuído, a 
responsabilidade de editar as respectivas leis, sendo inexistente um possível papel 
criador pelo juiz, nessa matéria. Não se pode admitir a atividade judicial ao ponto de 
inovar dentro do ordenamento jurídico, no que tange a prerrogativa de instituir 
tributos. 
Não obstante, percebe-se que após avento do constitucionalismo 
contemporâneo, verificou-se um papel mais relevante e atuante do Poder Judiciário 
de modo que, em busca de uma maior eficácia dos direitos e garantias 
fundamentais, foi concedido a este possibilidade real em atuar positivamente na 
ordem jurídica. 
No tocante da concretização dos direitos fundamentais, o papel do magistrado 
não se apresenta especificamente como uma criação do direito, logo, não denota ao 
conceito de ativismo judicial em sentido estrito. Entretanto, vislumbra-se um 
comportamento proativo destinado a promover a eficácia dos princípios de forma a 
garantir e tornar efetivo os direitos subjetivos constitucionalmente estabelecidos. 
Segundo Roque Antonio Carraza, 
 
Dado o seu grau de abstração, as normas contidas na Lei Suprema – 
máxime as que veiculam princípios que protegem direitos fundamentais – 
passem por um processo de ‘construção’, justamente para que alcancem 
situações que, embora fora do texto escrito, apresentam-se atreladas a seu 
espírito.33 
 
 
16 
Os princípios tributários, quando na forma de garantia de direitos e garantias 
fundamentais, principalmente aqueles que expressam valores, podem sofrer, desde 
que não regulamentados, restrições quanto a sua ponderação frente a outros 
princípios com os quais se encontram em conflito, sendo plenamente possível 
devido seu grau de indeterminação. 
No entendimentode Virgílio Afonso da Silva38, as normas que preceituam 
direitos fundamentais se apoiam em um vasto suporte fático. De tal modo, permitem 
que sua interpretação sofra determinado tipo de “restrição externa” de natureza legal 
ou judicial. Portanto, de forma contrária ao que preconiza parte da doutrina, os 
direitos fundamentais não possuem limites internos, ou autolimites, mas sim, correm 
o risco de sofrer restrições decorrentes da lei ou por atividade hermenêutica. 
Seguindo um contexto atual, apesar de ser possível que os princípios que 
expressam valores em sua essência detenham o poder de criar direitos subjetivos; 
podendo ser utilizados como critério de interpretação, o juiz deve se atentar a estrita 
legalidade como ponto de partida, somente em casos que os direitos fundamentais 
estão ameaçados ou casos de lacunas normativas, poderá haver uma atuação 
criativa em busca de uma decisão justa. Dessa maneira, admite-se a existência de 
um ativismo judicial no que se referem os princípios constitucionais tributários, 
interpretando-os conforme situação fática e se utilizando do sopesamento quanto a 
outros valores e princípios constitucionais, se assim for preciso. Entretanto, é 
importante ressaltar que tal atividade, só será válida em favor do contribuinte e não 
para defender interesses fazendários. 
Importante o registro das palavras de, Ingo Wolfgand Sarlet: 
 
Da mesma forma, em face do dever de respeito e aplicação imediata dos 
direitos fundamentais em cada caso concreto, o Poder Judiciário encontra-
se investido do poder-dever de aplicar imediatamente as normas definidoras 
de direitos e garantias fundamentais, assegurando-lhes sua plena eficácia. 
A falta de concretização não poderá, de tal sorte, constituir obstáculo à 
aplicação imediata pelos juízes e tribunais, na medida em que o Judiciário – 
por força do disposto no art. 5º, §1º, da CF – não apenas se encontra na 
obrigação de assegurar a plena eficácia dos direitos fundamentais, mas 
também autorizado a remover eventual lacuna oriunda da falta de 
concretização.39 
 
 
38 SILVA, Virgílio Afonso. Direitos Fundamentais. Conteúdo essencial, restrições e eficácia. 2. ed. São 
Paulo: Malheiros, 2010. p. 231. 
39 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Uma teoria geral dos direitos 
fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 269. 
 
17 
Fica evidente, a possibilidade de se falar em ativismo judicial no que concerne 
a concretização dos princípios constitucionais tributários, de forma que o judiciário 
atue diante uma postura garantista de análise prima facie dos direitos já 
consagrados, e, em nenhuma circunstância, de forma discricionária, afastar 
garantias constitucionalmente asseguradas. 
Todavia, atividades criativas ou discricionárias emanam riscos e dessa forma, 
André Karam Trindade, expõe: 
 
Ativismo judicial brasileiro, em cujas bases se encontram os ideais 
neoconstitucionalistas, reflete uma postura que, aproveitando o aumento 
dos espaços da jurisdição, investe no reforço da discricionariedade judicial, 
cujo maior e pior efeito é o enfraquecimento da normatividade da 
Constituição e, consequentemente, das bases do próprio regime 
democrático.40 
 
Como visto, é possível o ativismo judicial em matéria tributária, entretanto 
será inadequado quando o juiz passa a inovar de forma normativa, seja ao produzir 
ou mesmo possibilitando a subsistência de normas que não se harmonizam com o 
sistema tributário nacional. Do mesmo modo, quando se politiza a justiça, a 
tributação favorece os princípios que beneficiam ao Estado, desfavorecendo os que 
visam proteção ao cidadão contribuinte. O argumento se baseia na maioria das 
vezes na razoabilidade ou na supremacia do interesse público. E essas 
determinadas atuações devem ser afastadas, pois além de não encontrar 
sustentação jurídica, caminha na contramão da defesa dos direitos fundamentais, 
principalmente no âmbito tributário. 
Destarte, ficou claro a importância do Poder Judiciário no Direito Tributário, 
pois suas decisões se equiparam às fontes do direito e, além disso, tem prerrogativa 
de atuar nas lacunas e antinomias jurídicas. Contudo, essa atuação deve ser dotada 
de previsibilidade e amparo Constitucional; Não podendo haver excesso 
deinterpretação que destoe das demais normas do sistema. 
Portanto, de nenhum modo o ativismo judicial deve extrapolar, deixando de 
cumprir o desejo constitucional, em favor de necessidades políticas ou qualquer que 
fuja à natureza dos direitos fundamentais, em especial, os direitos dos contribuintes. 
 
 
40 TRINDADE, André Karam. Garantismo versus Neoconstitucionalismo: os desafios do 
protagonismo judicial em Terrae Brasilis. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012. p. 122. 
 
18 
5 CONCLUSÃO 
 
Ao longo deste trabalho, ficou evidenciado que existem vários fatores que 
justificam o protagonismo do Poder Judiciário no Estado Democrático de Direito. 
Tais fatores decorreram de uma evolução natural deste num contexto de ascensão 
do atual modelo constitucional contemporâneo frente ao antigo modelo liberal. 
O juiz, que antes se limitava tão a somente aplicar a lei, atualmente exerce 
papel fundamental na concretização dos direitos fundamentais. O papel de 
neutralidade não existe mais e, com a crescente expansão dos princípios e normas, 
a atuação interpretativa também se expandiu, de forma que, é através da atividade 
jurisdicional que se alcançará uma efetiva consolidação dos direitos constitucionais. 
Nesse cenário, o Ativismo Judicial surge como importante ferramenta no 
auxílio ao juiz no âmbito interpretativo e decisionário. No entanto pôde-se observar a 
necessidade de se impor limitações à atuação criativa do juiz, na resolução do caso 
concreto. Os princípios, assim como as normas, lacunas e antinomias no Direito 
propiciam maior margem de discricionariedade ao julgador, se tornando possível, 
decisões arbitrárias ou incompatíveis com a constituição. 
No que tange Direito Tributário, ramo jurídico que encontra respaldo na 
Constituição. Verifica-se a preocupação que o constituinte originário teve em 
resguardar as normas que fundamentam a sustentação do Estado. O seu caráter 
rígido dificulta e restringe uma possível atuação discricionária do poder judiciário, 
entretanto ficou evidenciada a possibilidade do ativismo em âmbito tributário. De tal 
modo, nota-se que existem pontos positivos, mas também negativos, de forma que a 
atuação incompatível com o que preconiza a constituição expõe riscos imensuráveis 
a todo o sistema jurídico e ao Estado Democrático de Direito. 
 
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	1 INTRODUÇÃO
	2 A EVOLUÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO COMO PODER GARANTIDOR DO EXERCÍCIO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
	3 O ATIVISMO JUDICIAL
	3.1 Do ativismo judicial contemporâneo
	3.2 Dos pontos positivos do ativismo
	3.3 Dos pontos negativos do ativismo.
	4 INTERPRETAÇÃO DA NORMA TRIBUTÁRIA E SEUS LIMITES
	4.1 O ativismo judicial em matéria tributária
	5 CONCLUSÃO
	REFERÊNCIAS

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