Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Assistência - Finalidade e Modalidades Autor: THEODORO JÚNIOR, Humberto RESUMO: Não é raro, no foro, ver-se o assistente, depois de admitido ao processo alheio, pretender nele introduzir pretensões próprias, ampliando o objeto litigioso já estabilizado entre as partes principais. Sob a roupagem da assistência, portanto, o que de fato ocorre é, na verdade, o aforamento de nova demanda pelo interveniente, distinta daquela originariamente ajuizada pela parte à qual afirma querer assistir. É com o propósito de fixar bem o papel e os poderes do assistente, na sistemática do processo civil brasileiro, que foram preparadas as presentes notas. Intentou-se, também, apontar os traços diferenciadores entre a assistência e outros remédios interventivos que, às vezes, são com ela confundidos. PALAVRAS-CHAVE: Assistência. Assistência Simples. Assistência Litisconsorcial. Intervenção de Terceiro. 1 Introdução Não é raro, no foro, ver-se o assistente, depois de admitido ao processo alheio, pretender nele introduzir pretensões próprias, ampliando o objeto litigioso já estabilizado entre as partes principais. Sob a roupagem da assistência, portanto, o que de fato ocorre é, na verdade, o aforamento de nova demanda pelo interveniente, distinta daquela originariamente ajuizada pela parte à qual afirma querer assistir. É com o propósito de fixar bem o papel e os poderes do assistente, na sistemática do processo civil brasileiro, que foram preparadas as presentes notas. Intentou-se, também, apontar os traços diferenciadores entre a assistência e outros remédios interventivos que, às vezes, são com ela confundidos. 2 A Assistência como Modalidade de "Intervenção de Terceiro" O CPC regula a assistência no capítulo relativo ao litisconsórcio, mas não a confunde com este, pois o próprio título do capítulo é disjuntivo: "Do litisconsórcio e da assistência". Ademais, a regulamentação das duas figuras processuais não é comum, visto que consta de seções distintas do capítulo. Assim, para o Código, a assistência eventualmente pode se aproximar ou assemelhar ao litisconsórcio, mas com ele nem sempre se confunde. Por isso mesmo, a doutrina atual atribui, majoritariamente, à assistência a natureza processual de uma intervenção de terceiro(1). Com efeito, a própria lei a descreve em termos que não deixam dúvida sobre sua natureza interventiva: "pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la" (CPC, art. 50). Assim, a assistência, tal como está regulada nos arts. 50 a 55 do CPC, "é uma modalidade de intervenção de terceiros voluntária, através da qual o interveniente, invocando o seu próprio interesse jurídico, ingressa por sua própria iniciativa em causa em que não é parte, com a finalidade de auxiliar uma das partes como coadjuvante"(2). 3 Modalidades de Assistência: a Simples e a Litisconsorcial Na chamada assistência simples, o interesse que justifica a intervenção decorre de uma relação jurídica existente entre o terceiro e uma das partes do processo pendente. Não há relação material alguma entre o interveniente e o adversário da parte a que se deseja prestar assistência; mas, mesmo não sendo discutida no processo, a relação do terceiro com uma das partes pode ficar prejudicada em seus efeitos práticos e jurídicos, caso o assistido saia vencido na causa pendente(3). Os efeitos da decisão do processo, para autorizar a assistência simples, são apenas indiretos ou reflexos(4), visto que a relação material invocada pelo interveniente não será objeto de julgamento, já que não integra o objeto litigioso(5). Não se pode cogitar de coisa julgada em face do assistente simples, porque a relação material decidida ou acertada na sentença de mérito não lhe diz respeito, mas vincula apenas as partes da causa originária. Diferente é a situação do assistente litisconsorcial, já que entra num processo em que a relação material que o envolve já se acha disputada em juízo, embora a propositura da demanda tenha ocorrido sem sua participação. O assistente não figurou como litisconsorte na origem do processo, mas poderia ter figurado como tal(6). Dois são os requisitos a serem observados para que a assistência seja qualificada como litisconsorcial: "a) há de haver uma relação jurídica entre o interveniente e o adversário do assistido; b) essa relação há de ser normada pela sentença."(7) javascript:void(0); De alguma forma, portanto, a relação jurídica em que o assistente se apoia para ingressar em juízo no processo alheio deve estar em cogitação na res in iudicium deducta, porque se sabe que sobre ela deverá ocorrer pronunciamento na sentença. O pressuposto da assistência litisconsorcial, nessa ordem de ideias, é, em regra, a substituição processual: alguém está em juízo defendendo, em nome próprio, direito alheio (CPC, art. 6º). Embora o terceiro seja titular do direito litigioso, sua defesa em juízo, por alguma excepcional autorização da lei, está sendo promovida por outrem; mesmo não sendo parte processualmente, a coisa julgada o atingirá. Os efeitos da sentença, diversamente do que se passa na hipótese de assistência simples, não são apenas reflexos, pois incidem diretamente sobre a situação jurídica do substituído, tenha ele participado ou não do processo(8). Como titular do direito discutido, o assistente litisconsorcial ostenta interesse jurídico qualificado; por isso, a lei lhe atribui o papel de litisconsorte da parte principal a que presta assistência (CPC, art. 54). Estabelece- se entre assistente e assistido in casu um litisconsórcio facultativo unitário, porquanto a relação jurídica material em disputa é uma só, apresentando-se como una e incindível entre os vários titulares reunidos no polo do processo em que se inseriu incidentalmente o assistente(9). Mesmo quando, para alguns, não há uma típica substituição processual, mas uma cotitularidade de direitos ou obrigações, continua sendo possível a assistência litisconsorcial, como se passa no caso do condômino que reivindica a coisa comum, sem a presença de todos os comunheiros, e naquele em que cada acionista pode demandar a anulação de decisão assemblear que interessa a todos os demais sócios por ela afetados(10). Embora se fale em cotitularidade in casu, na verdade não deixa de existir substituição processual nos exemplos aventados, já que aquele que comparece em juízo, mesmo defendendo interesse próprio, defende também interesse dos cotitulares não figurantes no processo. 4 Extensão dos Poderes Processuais do Assistente Admitido o assistente no processo alheio, sua posição é a de um auxiliar da parte principal, e, processualmente, "exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido" (CPC, art. 52). Essa igualdade de faculdades, ônus, poderes e deveres se manifesta em face da relação processual e ocorre qualquer que seja a modalidade de assistência, como anota Cândido Dinamarco. Assim, o assistente "tem a liberdade de participar, praticando atos do processo. É legitimado a recorrer de decisões desfavoráveis ao assistido"(11). A assistência, simples ou litisconsorcial, tem lugar em qualquer tipo de procedimento e pode ocorrer em qualquer grau de jurisdição. O assistente, porém, "recebe o processo no estado em que se encontra" (CPC, art. 50, parágrafo único). Enquanto não transitada em julgado a sentença de extinção do processo, é viável a intervenção do assistente. Ainda que se possa atribuir ao assistente a qualidade de parte, no sentido puramente processual, o litígio pendente não é seu, não restando autorizado a alterar o objeto da demanda, ou as estratégias da defesa, fixados pelo assistido. Destaca Dinamarco: "a intervenção do terceiro na qualidade de assistente não altera o objeto do processo, uma vez que se limita a aderir à pretensão do assistido, sem formular demanda nova (...). O mérito a ser julgado, em casode assistência, tem os mesmos contornos do que seria sem ela. O juiz simplesmente julga a demanda inicial do autor (...)"(12). A situação não é diferente para o assistente litisconsorcial, embora se reconheça maior autonomia na prática dos atos processuais, mas não sobre a preclusão dos atos e fases já superados e, principalmente, sobre a definição do objeto do processo. A finalidade institucional da assistência (intervir no processo pendente inter alios, para buscar sentença favorável à parte assistida), prevista no art. 50 do CPC, vale tanto para a assistência simples como para a qualificada(13). O assistente, ainda quando qualificado (ou litisconsorcial), não perde a sua qualidade de assistente, como bem acentua Dinamarco. A locução "considera-se litisconsorte", contida no art. 54 do CPC, não pode ser entendida como se o assistente qualificado deixasse de ser assistente e passasse a ser um puro litisconsorte(14). Esclarece o grande processualista: "significa [a locução do art. 54] somente que as possibilidades de atuação desse assistente serão tantas quantas as de uma parte principal, ou seja, tantas quanto as de um litisconsorte. Esse dispositivo tem somente o efeito de definir o tratamento destinado ao interveniente nos casos em que a assistência é qualificada por uma proximidade maior entre sua própria situação jurídica e a pretensão que o autor trouxera para julgamento"(15). Repita-se: a assistência litisconsorcial não tem poder de alterar o objeto do processo. O interveniente recebe o processo nos termos objetivos em que a parte assistida o havia colocado(16). Vale a pena, ainda uma vez, escutar a lição de Dinamarco: "o assistente litisconsorcial, tanto quanto o simples, não traz ao processo demanda alguma a ser julgada, nem em face dele foi proposta qualquer demanda a ser julgada na sentença de mérito. A procedência da demanda inicial não lhe atribuirá bem algum, nem ele sofrerá uma condenação ou alteração em alguma situação jurídico-substancial. Em suma, prepondera o substantivo assistência sobre o adjetivo litisconsorcial, e o assistente é sempre assistente, ainda quando a lei o qualifica como litisconsorcial"(17). Também para Amaral Santos, o assistente litisconsorcial, que o Código considera como litisconsorte da parte assistida (CPC, art. 54), tem "capacidade de ser parte"; todavia, "não é parte, mas assistente de uma das partes". Segundo ele, "a sua qualificação de litisconsorte da parte assistida apenas se aplica pelos poderes processuais de que goza, iguais aos dos litisconsortes, salvo o de ter decisão quanto à relação jurídica entre ele e o adversário do assistido". A sentença, in casu, "se dá entre as partes, conquanto seus efeitos possam atingir o assistente". Donde a conclusão de Amaral Santos: "em suma, os poderes processuais do assistente litisconsorcial são os mesmos do assistido (...). Como sua função primeira é auxiliar a parte assistida, obtendo-lhe sentença favorável, todos os atos processuais lhe são permitidos, desde que em defesa do direito do assistido"(18). Mesmo aqueles que tratam o assistente qualificado como um verdadeiro litisconsorte superveniente, o fazem apenas para submetê-lo ao regime da coisa julgada material, que, nos termos do art. 55 do CPC, não seria aplicável ao assistente simples. Reconhecem, diante das peculiaridades do incidente por meio do qual o assistente litisconsorcial passa a figurar no processo principal, que ele não formula explicitamente pedido novo. Isso porque tal assistente "adere e assume os pedidos formulados pela parte a qual se coliga em virtude de sua posição na situação jurídica material afirmada em juízo"(19). Essa é, também, a posição doutrinária de Marinoni e Arenhart, para quem o assistente qualificado, ingressando no processo, para defender interesse próprio a ser julgado pela sentença, provoca, sem dúvida, um "litisconsórcio ulterior", que o torna suscetível de ser alcançado pela coisa julgada material(20). Sem embargo de assumir a posição de parte no processo preexistente, o assistente qualificado ou litisconsorcial "não faz, em regra, pedido próprio", não se podendo negar, entretanto, que "ele adere ao pedido formulado anteriormente". Se não é admitido a "expressar pedido autônomo, deve-se não à sua condição no processo, mas sim à estabilidade da demanda, que impede mesmo ao autor original de alterar o pedido ou a causa de pedir já deduzidos"(21). 5 Assistência e Oposição Enfim, se o assistente (mesmo litisconsorcial) não tem poderes para alterar o objeto do processo, muito menos terá para formular pretensão nova contra o assistido. Reafirme-se que a assistência, em qualquer de suas modalidades, não é ação nova movida contra qualquer das partes do processo principal, e muito menos contra o próprio assistido. A finalidade institucional do remédio interventivo é a prestação de apoio à parte assistida para buscar sentença que lhe seja favorável. Como, então, imaginar o uso da assistência contra o assistido? Ter-se-ia uma contradição entre os termos da hipótese aventada. O assistente, mesmo o litisconsorcial, é, com efeito, alguém que interfere em processo já formado entre outras pessoas, com objeto já definido e estabilizado. Como interveniente, recebe-o "no estado em que se encontra", como estatui o art. 50, parágrafo único, do CPC. Seu ingresso no processo se dá para aderir ao pedido já formulado pela parte a que irá prestar assistência. O litisconsórcio superveniente, derivado da assistência qualificada, é, nessas condições, um litisconsórcio unitário. Estando o assistido a defender relação que também pertence ao assistente, "não pode o juiz decidir diferentemente em relação a cada um"(22). Estando, outrossim, estabilizado o objeto do processo pendente em torno do pedido e da causa de pedir formulados pelo assistido, a intervenção do assistente não pode veicular pedido ou causa de pedir novos. A sentença de mérito será resposta apenas ao pedido apresentado em juízo pelo assistido, e haverá de ser uniforme para a parte primitiva e para aquele que se dispôs a assisti-la. Não se pode confundir assistência com oposição. Nesta, sim, ao terceiro é lícito formular pedido diverso do que se acha deduzido no processo principal, e cuja direção se volta tanto contra o autor como contra o réu. Esta, sim, é uma intervenção ad excludendum, caracterizada pela pretensão do interveniente de propor ação nova com objeto igualmente novo, qual seja o de excluir o direito que ambas as partes do processo principal postulam. A oposição (disciplinada pelos arts. 56 a 61 do CPC), "basicamente, atinge o objeto mediato do pedido formulado pelo autor em face do réu, denominadas opostos"(23). Ambos se tornam réus da ação interventiva. Essa enorme possibilidade de estabelecer, interventivamente, um novo objeto litigioso se justifica pelo procedimento em contraditório completo dentro do qual se apreciará o pedido inovador trazido pelo opoente. Duas ações diferentes se acumularão por conexidade, mas ambas se submeterão à apreciação exauriente, dentro das dimensões do procedimento ordinário (CPC, art. 59 e 60). Ora, isso não se passa com a assistência, que se reduz, na base, a um incidente processual em que se discute, sumariamente, apenas "o interesse jurídico" do assistente para "intervir a bem do assistido" (CPC, art. 51), mesmo quando se trata de assistência qualificada ou litisconsorcial (CPC, art. 54, parágrafo único). Não havendo procedimento adequado ao contraditório em torno de pedido estranho ao objeto do processo principal, ofenderia ao devido processo legal a admissão de pedido novo formulado pelo assistente, mormente quando essa postulação inovadora se manifeste, no todo ou em parte, contra o próprio assistido(24). Em suma, inexistindo um novo processo para discussão e solução da pretensão do interveniente, "o pedido de assistência rende ensejo, no máximo, à criação de um incidente procedimental"(25), no qual, evidentemente, não há, nem pode haver,inserção de qualquer pedido novo. Em nosso sistema processual, não há, definitivamente, lugar para tratar a assistência litisconsorcial como uma forma de oposição ou de uma intervenção litisconsorcial, tal como aquela existente no direito italiano, cujo objetivo é justamente o de permitir cumulação de demanda nova de terceiro a processo já em curso entre outras partes. 6 Conclusões Diante das observações já feitas, chega-se, facilmente, às seguintes conclusões: a) o direito processual civil brasileiro conhece a assistência como modalidade de intervenção de terceiro, que permite a um estranho (assistente) ingressar, voluntariamente, em processo pendente para atuar em prol de uma das partes (assistido), "objetivando obter decisão jurisdicional favorável a ela e beneficiar-se dos efeitos dessa decisão"(26) (CPC, art. 50); b) a estrutura intervencional, objetiva e finalisticamente, prevalece para as duas modalidades de assistência previstas no CPC, quais sejam a assistência simples (na qual o interveniente busca beneficiar-se de efeitos reflexos da sentença dada sobre direito alheio) e a assistência qualificada ou litisconsorcial (na qual, havendo relação jurídica material que envolve o interveniente já em debate no processo entre outras partes, o assistente busca se beneficiar de efeitos diretos da sentença)(27) (CPC, art. 50, caput); c) em nenhuma das modalidades de assistência do direito brasileiro é lícito ao interveniente pretender inovar ou ampliar o objeto do processo, seja formulando pedido contra o assistido, seja alterando o pedido ou a causa de pedir manifestados, originariamente, contra o adversário do assistido (CPC, arts. 50, parágrafo único, e 54, parágrafo único); d) os poderes processuais do assistente litisconsorcial são maiores do que os do assistente simples, porque litiga em defesa de direito próprio (CPC, art. 54). Recebe, porém - tal como se passa com o litisconsorte simples -, o processo no estado em que se encontra, sem possibilidade, portanto, de alterar o respectivo objeto (CPC, art. 50, parágrafo único); e) a diferença importante entre as duas formas de assistência situa-se no plano da coisa julgada do processo principal, que não alcança o assistente simples, porque seu direito material não é acertado na sentença (CPC, art. 55), mas se forma perante o assistente litisconsorcial, já que a sentença incidirá sobre direito próprio dele (CPC, arts. 467 e 468). Notas (1)"Assistência. O CPC a disciplinou fora do capítulo da intervenção de terceiros. Fê-lo no capítulo V, que denominou 'Do litisconsórcio e da assistência'. Isso gerou discussões, logo após a entrada em vigor do Código sobre a natureza jurídica do instituto; mas não pode haver dúvidas: a assistência é uma espécie de intervenção, tanto que os arts. 50, 51 e 54, parágrafo único, fazem uso das expressões 'intervir' e 'intervenção'." (GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 165. v. I) "(...) a doutrina em geral se refere à hipótese [assistência] como intervenção de terceiro por mera inserção, fazendo uso da nomenclatura sugerida por Athos Gusmão Carneiro (Intervenção de terceiros, p. 80)." (BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 476. v. 2. t. I) (2)GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 498. v. I. (3)GRECO, Leonardo. Op. cit., v. I, p. 499. (4)BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., v. 2, t. I, p. 477. (5)"A assistência simples constitui forma exata de intervenção de terceiro (...), uma vez que o assistente simples, mesmo depois de admitido a ingressar no processo, não perde a condição de terceiro em face das partes e do litígio (...). Justamente porque o direito em discussão não lhe pertence, ele não pode ser atingido pela coisa julgada (a qual atinge as partes), mas apenas pelos reflexos da sentença (que atinge o verdadeiro terceiro)." (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 4. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 176) (6)Dinamarco aponta alguns exemplos de assistência qualificada ou litisconsorcial bastante frequentes na jurisprudência: "a) o afiançado como assistente litisconsorcial do fiador, ou vice-versa, no processo da ação de cobrança movida pelo credor; b) a assistência do proprietário do automóvel ao motorista acionado em virtude de danos causados em acidente (ou vice-versa); c) o tabelião intervindo como assistente qualificado do comprador do imóvel, na ação em que é pedida declaração de nulidade da escritura de compra e venda; d) vizinhos como assistentes da municipalidade, em processo no qual outro proprietário quer a declaração de não estar vinculado a certas limitações ao direito de construir, etc." (DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001. n. 597. p. 390. v. II). O exemplo mais nítido de assistência litisconsorcial é o do adquirente da coisa litigiosa, quando interfere para coadjuvar o alienante, que conserva a legitimidade de parte, mas atua na defesa do direito de terceiro, ou seja, do atual proprietário (CPC, art. 42, § 2º). (7)AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas de direito processual civil. 2. ed. atual. por Maria Beatriz Amaral Santos Köhnen. São Paulo: Saraiva, 2008. n. 341. p. 52. v. II. (8)GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Op. cit., v. I, p. 171. (9)GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Op. cit., v. I, p. 172. (10)SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. n. 147. p. 157. v. I. (11)DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições... Cit. São Paulo: Malheiros, 2001. n. 597. p. 385. v. II. (12)DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., loc. cit. (13)"Variam em intensidade as possibilidades de participação e liberdade para realizar os atos do processo, conforme se trate de assistência simples ou de qualificada." O que realmente distingue essas subespécies da assistência é a projeção do "grau maior ou menor dos efeitos" que o julgamento terá sobre a condição jurídica do assistente. "Segundo o art. 54 do Código de Processo Civil, a assistência será qualificada, ou litisconsorcial, quando a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido" (DINAMARCO. Op. cit., v. II, n. 597, p. 387). A influência, no caso de assistência qualificada, é direta sobre a relação jurídica invocada pelo assistente para intervir no processo. Na assistência simples, a situação jurídica que justificou o ingresso do assistente não integra o objeto do julgamento e somente poderá ser afetada de forma reflexa ou indireta. (14)Também para Ernane Fidélis dos Santos, o assistente litisconsorcial "não é parte", já que "nada pediu, nem contra ele se pediu nada. É simples assistente, com poderes de parte, mas não litisconsorte. Apenas se equipara ao litisconsorte" (Manual... Cit., v. I, n. 153, p. 159). (15)DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., v. II, n. 597, p. 388. (16)"Não há dúvida que, sob certos aspectos, ambas as modalidades de assistência se harmonizam. Assim, em qualquer dos tipos, o assistente deverá atuar em benefício do assistido, de modo que a sentença seja favorável a este (...). Por outro lado, o assistente, qualquer que seja, 'recebe o processo no estado em que se encontra' (Código... Cit., art. 50, parágrafo único - É que se trata de intervenção de terceiro no processo das partes e ele terá que se submeter ao andamento que este tenha tido" (AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas... Cit., v. II, n. 344, p. 55). (17)DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., v. II, p. 389. Por mais amplos que sejam os poderes processuais do assistente qualificado, não podem ser maiores do que os da parte assistida. Por isso, v.g., "não tendo ele movido demanda alguma, só o assistido é legitimado a desistir da ação (art. 53)" (DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., loc. cit.). "A posição do assistente litisconsorcialvai além da simples coadjuvação. Pode praticar qualquer ato processual com ou sem oposição do assistido (...). A restrição ao assistente litisconsorcial só poderá ocorrer quando ele se opuser ostensivamente aos interesses defendidos pelo assistido, pois aí termina a razão da assistência" (SANTOS, Ernane Fidélis. Manual... Cit., v. I, n. 149, p. 158). (18)AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas... Cit., v. II, n. 344, p. 57. (19)ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo: Atlas, 2010. p. 203. v. I. (20)MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 4. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 174. (21)MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual... Cit., p. 175. Aduzem os autores: "o assistente litisconsorcial, assim, é parte interveniente no curso do processo já instaurado e, por isso mesmo, recebe pelo direito processual tratamento idêntico ao dispensado para a parte, em termos processuais, restringindo-se-lhe, todavia, os poderes diante do princípio da demanda, porque esta já fora instaurada e já se encontra estabilizada". (22)FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 253. (23)FUX, Luiz. Curso... Cit., p. 257. (24)"Nenhum ato do assistente litisconsorcial pode prejudicar os interesses do assistido e vice-versa" (BUENO, Cassio Scarpinella. Curso... Cit., 2-I, p. 482). Não há, no direito brasileiro, a figura processual conhecida no direito estrangeiro da intervenção litisconsorcial, que permite a ampliação da lide, "caso em que a sentença abrangeria, também, o objeto da nova ação proposta". O que nosso direito admite é a assistência litisconsorcial. "Na assistência, porém, o interveniente não propõe nova demanda nem há ampliação do objeto do litígio em virtude de seu ingresso" (GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 131. v. I). "Na Itália, existe a intervenção litisconsorcial, que permite, por exemplo, a um coerdeiro intervir na ação de petição de herança promovida por outro herdeiro, para reconhecer sua qualidade de titular de parte da herança disputada. Serve essa intervenção, também, para que uma vítima do mesmo acidente intervenha na ação de ressarcimento de dano promovida por outra vítima, pleiteando igual reparação. Em hipóteses como essas, o intervento litisconsortile se apresenta como 'adesivo autônomo', porque permite ao interveniente assumir, dentro do processo alheio, uma posizione autonoma, que será somada à da parte primitiva. Portanto, 'si tratta anche di un intervento innovativo, inquanto l'interveniente litisconsortile allarga il thema disputandum ac decidendum; e principale, perché la posizione processuale di lui è autonoma e non subordinata'" (FAZZALARI, Elio. Istituzione di diritto processuale. Padova: CEDAM, 1996. p. 327). Não há dúvida, no direito italiano, que, mediante a intervenção litisconsorcial, se vem a inserir no processo, já pendente, "una domanda nuova sorretta da una nuova azione, e quindi una nuova causa" (MONTELEONE, Girolamo. Manuale di diritto processuale civile. 4. ed. Padova: CEDAM, 2007. p. 219. v. I). Muito diferente é a intervenção de terceiro, que o direito brasileiro conhece como "assistência litisconsorcial", que, de forma alguma, se destina a ampliar o objeto do processo já em curso, mas apenas a inserir um sujeito novo na relação processual. (25)BUENO, Cassio Scarpinella. Curso... Cit., p. 476, v. 2, t. I. Segundo esclarece o autor, os requisitos a examinar para a admissão da assistência, tanto simples como litisconsorcial, são apenas dois: "uma causa pendente e a demonstração de interesse jurídico daquele que pretende intervir" (Op. cit., p. 479-480). Não há lugar, nesse incidente, nem posteriormente no meio de um processo de objeto já estabilizado, portanto, para a formulação pelo assistente de pedido novo, seja contra o adversário do assistido, seja, muito menos, contra o próprio assistido. Nunca é pouco reafirmar que "tanto o assistente simples como o qualificado recebem 'o processo no estado em que se encontra' (Código de Processo Civil, art. 50, parágrafo único)" (MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. 1. ed. atual. Campinas: Bookseller, 1997. n. 244. p. 370. v. I). (26)BUENO, Cassio Scarpinella. Curso... Cit., 2-I, p. 476. (27)"Importa ressaltar, porém, que elas [as duas modalidades de assistência] têm um traço comum: ambas constituem forma voluntária de intervenção de terceiro com finalidade de auxiliar a parte. Daí se conclui que tanto o assistente simples como o litisconsorcial não podem agir em prejuízo do assistido." (LOPES, João Batista. Curso de direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2005. p. 207. v. I) --- (*) O autor é membro do Conselho Editorial da Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil e da Revista Magister de Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor.
Compartilhar