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Goddman Andrade Santos Laura Spyer Prates Maria Flávia de Freitas Ferreira Priscila Prux Direito empresarial e tributário © Universidade Positivo 2018 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Thinkstock / © Shutterstock. Presidente da Divisão de Ensino Reitor Pró-Reitor Coordenação Geral de EAD Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Parecer Técnico Supervisão Editorial Projeto Gráfico e Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Prof. Everton Renaud Profa. Roberta Galon Silva Prof. Goddman Andrade Santos Profa. Laura Spyer Prates Profa. Maria Flávia de Freitas Ferreira Profa. Priscila Prux Prof. Julio Cesar de Lima Ribeiro Aline Scaliante Coelho Baggetti Regiane Rosa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR DTCOM – DIRECT TO COMPANY S/A Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. 3Direito Empresarial e Tributário Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunização bidirecional entre os atores educacionais. O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendi- zagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da con- textualização teórica-prática e das atividades individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos: COMPREENDA SEU LIVRO valorizar suas experiências; incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; estimular a pesquisa; oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados. Metodologia Direito Empresarial e Tributário4 COMPREENDA SEU LIVRO Com base nessa metodologia, o livro apresenta a seguinte estrutura: Percurso Pergunta norteadora Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. Tópicos que serão estudados Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. Boxes São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. Recapitulando É o fechamento do capítulo. Visa sinte- tizar o que foi abordado, reto mando os objetivos do capítulo, a pergunta nortea- dora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo. Pausa para refletir São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo. Contextualizando o cenário Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. Objetivos do capítulo Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessida- des de aprendizagem do seu curso. Proposta de atividade Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e siste- matize o que aprendeu no capítulo. Referências bibliográficas São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencio- nadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. 5Direito Empresarial e Tributário BOXES Assista Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. Biografia Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. Contexto Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e cultural do assunto. Curiosidade Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. Dica Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. Exemplo Informação que retrata de forma obje tiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática. Afirmação Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. Esclarecimento Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. 7Direito Empresarial e Tributário SUMÁRIO Apresentação 15 A Autoria 16 CAPÍTULO 1 Introdução ao Direito e à Teoria Geral do Estado 21 Contextualizando o Cenário 22 1.1. Direito para quê e para quem? 23 1.1.1. O que é Direito? 23 1.1.2. Desde quando? 26 1.1.3. Será que precisamos mesmo disso? 28 1.2. O homem como ser social 29 1.2.1. A origem da sociedade e o “Contrato Social” 30 1.2.2. O homem em Estado de Natureza 31 1.2.3. Thomas Hobbes e o Leviatã 32 1.2.4. Locke, Rousseau e o Estado de Natureza 33 1.3. A Instituição do Estado: paz e segurança para os cidadãos 35 1.3.1. Conceito de Estado: origem e formação 35 1.3.2. Evolução histórica do Estado 37 1.4. O Estado e seu Poder 37 1.4.1. Finalidade e funções do Estado 38 1.4.2. O Poder do Estado 38 1.4.3. Soberania, território e povo 38 Proposta de Atividade 39 Recapitulando 39 Referências 41 CAPÍTULO 2 Estado, Direito e os poderes de um governo 43 Contextualizando o cenário 44 2.1. Estado e Direito 45 2.1.1. A personalidade jurídica do Estado 45 2.1.2. Estado, Direito e Política 47 Pausa para refletir 49 2.1.3. Estado e Nação 49 2.1.4. Mudanças do Estado por reforma e revolução 50 Pausa para Refletir 51 2.2. Estado e Governo 51 2.2.1. Estado Moderno e Democracia 51 2.2.2. Democracia Direta e Representativa 52 2.2.3. Representação Política e o Sufrágio 53 2.2.4. Sistemas Partidários e Democracia 54 2.3. O Estado Constitucional 54 2.3.1. Constitucionalismo: origens e características 55 2.3.2. As Declarações de Direitos e as normas de Direitos Humanos 57 2.3.3. Separação de Poderes 58 2.3.4. Objetivo da separação de Poderes 59 2.4. Estado, Direito e Governo: uma relação intrínseca 59 2.4.1. Formas de governo e regime político 60 2.4.2. Monarquia e República 60 2.4.3. Parlamentarismo e Presidencialismo 61 2.4.4. Federalismo 61 Proposta de Atividade 62 Recapitulando 63 Referências 64 CAPÍTULO 3 Direito Constitucional: a espinha dorsal do sistema jurídico 67 Contextualizando o cenário 68 3.1. Direito Constitucional e a organização do Estado brasileiro 69 3.1.1. Conceito, estrutura e função do Direito Constitucional 69 3.1.2. A supremacia da Constituição 70 9Direito Empresarial e Tributário 3.1.3. História das Constituições brasileiras 72 3.1.4. A Constituição de 1988 74 3.2. O Poder Constituinte 75 3.2.1. Conceito de Poder Constituinte 75 3.2.2. Poder Constituinte Originário e Derivado 76 3.2.3. Reforma e Emenda da Constituição 77 3.2.4. Cláusulas Pétreas 78 3.3. Princípios Constitucionais e a Constituição de 1988 79 3.3.1. Princípios Constitucionais 79 3.3.2. Constituição e os Direitos Fundamentais 80 3.3.3. A livre iniciativa como Direito Fundamental 81 3.3.4. A defesa da ordem econômica, da concorrência e da gestão 82 3.4. Direitos e Garantias Fundamentais 82 3.4.1. A supremacia do artigo 5º 83 3.4.2. Nossos Direitos Fundamentais 84 Proposta de Atividade 85 Recapitulando 85 Referências 87 CAPÍTULO 4 Direito Civil: disciplinando as relações entre os particulares 89 Contextualizando o cenário 90 4.1. Introdução ao Direito Civil 91 4.1.1. O queé o Direito Civil 91 4.1.2. A lei de Introdução ao Código Civil 91 4.1.3. O Código Civil de 2002 93 4.2. A pessoa natural no Direito Civil 94 4.2.1. Personalidade Civil: início e fim 94 4.2.2. A incapacidade e suas restrições 95 4.2.3. Direitos da Personalidade 97 4.2.4. Domicílio e residência 98 4.3. Os bens para o Direito Civil 99 4.3.1. Conceito de bens e de patrimônio 99 4.3.2. Classificação dos bens 100 4.3.3. Bens públicos e bens privados 101 4.3.4. Responsabilidade civil 102 4.4. O negócio jurídico e o Direito Civil 103 4.4.1. Negócio Jurídico 104 4.4.2. Contratos como instrumento do negócio 104 4.4.3. Obrigações e seus tipos 105 Proposta de Atividade 107 Recapitulando 107 Referências 108 CAPÍTULO 5 O Direito Empresarial como um guia de atuação no mundo dos negócios 109 Contextualizando o cenário 110 5.1. Direito Empresarial e a atividade econômica 111 5.1.1. Empresa e estabelecimento 111 5.1.2. O empresário, a empresa e o estabelecimento: uma distinção necessária 113 5.1.3. As sociedades empresárias 114 5.1.4. A personificação das empresas e o contrato social 115 5.2. Tipos de sociedade/tipos societários no Direito Empresarial 116 5.2.1. Sociedade Limitada 117 5.2.2. Sociedade Anônima 117 5.2.3. Micro Empreendedor Individual 119 5.2.4. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) 120 5.3. O fim e a ruptura societária 121 5.3.1. Rompimento do vínculo societário 121 5.3.2. Exclusão de sócios 122 5.3.3. Falecimento de sócios 123 5.3.4. Dissolução e liquidação da sociedade 124 5.4. Tópicos avançados de Direito Empresarial 126 5.4.1. Títulos de crédito 126 5.4.2. Nome empresarial e razão social 127 5.4.3. Recuperação judicial e falência 128 5.4.4. Propriedade Industrial 129 Proposta de Atividade 130 Recapitulando 130 Referências 132 11Direito Empresarial e Tributário CAPÍTULO 6 Direito do Trabalho: as empresas são feitas de pessoas 133 Contextualizando o cenário 134 6.1. Introdução ao Direito do Trabalho 135 6.1.1. Conceito e evolução histórica do Direito do Trabalho 135 6.1.2. Direito Individual do Trabalho 136 6.1.3. Direito Coletivo do Trabalho 137 6.1.4. Negociações coletivas e as fontes do Direito do Trabalho 137 6.2. Trabalho e emprego: contratos e relações 139 6.2.1. Relação de emprego e Relação de trabalho 140 6.2.2. Empregado: Trabalhador Autônomo, Eventual e Temporário 141 6.2.3. Princípios da Relação Trabalhista 142 6.2.4. Estágio e Jovem Aprendiz 143 6.3. Duração do trabalho e Remuneração 146 6.3.1. Jornada de Trabalho 146 6.3.2. Elementos da remuneração 148 6.3.3. Adicionais, Gratificações e Comissões 149 6.3.4. Férias, décimo terceiro e pagamentos 151 6.4. Extinção do Contrato de Trabalho 152 6.4.1. Extinção sem justa causa 153 6.4.2. Extinção com justa causa 153 6.4.3. Aviso prévio e rescisão indireta 154 6.4.4. Verbas Rescisórias, quitação e homologação 154 Proposta de Atividade 155 Recapitulando 155 Referências 156 CAPÍTULO 7 O Direito Tributário e o custeio das atividades estatais 159 Contextualizando o cenário 160 7.1. Direito Tributário e o custeio das atividades estatais 161 7.1.1. Direito Tributário e a definição de tributo 161 7.1.2. Impostos, taxas e contribuições de melhoria 163 7.1.3. Princípios Constitucionais Tributários 164 Direito Empresarial e Tributário12 7.2. Competência e obrigação tributária 165 7.2.1. Competência Tributária Federal 166 7.2.2. Competência Tributária Estadual e Municipal 167 7.2.3. A obrigação Tributária e seus sujeitos 168 7.2.4. Hipóteses de incidência e fato gerador 170 7.3. O Crédito Tributário e sua constituição 171 7.3.1. Definição de crédito tributário 171 7.3.2. Lançamento tributário 172 7.3.3. Tipos e modalidades de lançamento 172 7.3.4. Efeitos do lançamento e revisão 174 7.4. Suspensão e Extinção do crédito tributário 175 7.4.1. Suspensão do crédito tributário 176 7.4.2. Extinção do crédito tributário 177 7.4.3. Dívida ativa 178 7.4.4. Execução fiscal 179 Proposta de Atividade 179 Recapitulando 180 Referências 181 CAPÍTULO 8 Direito do consumidor e as relações de consumo 183 Contextualizando o cenário 184 8.1. A proteção do consumidor 185 8.1.1. Conceito e histórico do Direito do Consumidor 185 8.1.2. Princípios do Direito do Consumidor 186 8.1.3. Relação de consumo: quem é ou pode ser consumidor? 187 8.1.4. Responsabilidade civil do fornecedor, fabricante e comerciante 188 8.2. As atividades empresariais e o Direito do Consumidor 191 8.2.1. Serviços públicos 191 8.2.2. Atividade bancária 192 8.2.3. Atividade securitária 192 8.2.4. Setor aéreo e imobiliário 193 8.3. Política nacional das relações de consumo 194 8.3.1. Qualidade dos produtos e serviços 194 8.3.2. Práticas comerciais abusivas 196 8.3.3. Oferta e publicidade 198 8.3.4. Cobrança de dívidas 199 13Direito Empresarial e Tributário 8.4. Proteção contratual do consumidor 200 8.4.1. Contratos de adesão 201 8.4.2. Cláusulas abusivas 201 8.4.3. Bancos de dados e cadastros dos consumidores 203 Proposta de Atividade 203 Recapitulando 204 Referências 205 15Direito Empresarial e Tributário Esta é uma disciplina de grande relevância para a formação do aluno, uma vez que o estudante encontrará noções a respeito da introdução à ciência do Direito e suas reper- cussões no âmbito das empresas. Serão abordadas também as legislações básicas das mais notáveis áreas do Direito tais como Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Empresarial, Direito Tributário e Direito do Trabalho, bem como suas consequências mais significativas para a realização e desenvolvimento das atividades empresariais. Serão apresentadas ao aluno todas as espécies de sociedades empresariais previs- tas no Código Civil Brasileiro, assim como os conceitos, as características, os requisitos, as principais diferenças e o processo de início e término de uma sociedade empresarial. O estudo dessa disciplina é de suma importância para a formação integral de um Administrador. Por meio desse aprendizado, o aluno poderá compreender a importância e a necessidade de uma empresa atuar em conformidade com o ordenamento jurídico vigente. APRESENTAÇÃO Direito Empresarial e Tributário16 A AUTORIA O Professor Goddman Andrade Santos Mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Especialista em Direito Internacional Público e Privado pela UFRG; Gra- duado em Direito pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Foi bolsista CAPES (2016-2017). Advogado atuante nas áreas trabalhistas e cível, Professor convidado dos pro- gramas de Pós-graduação em Faculdades do Estado do Rio Grande do Sul. Pesquisador do grupo de pesquisa Direito e Fraternidade (Grupo cadastrado no CNPq). Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/1048345677886210> O presente trabalho é dedicado aos meus pais, que sempre foram e são a base da minha vida. Aos meus irmãos que me ensinaram e me ensinam o significado do amor verdadeiro. 17Direito Empresarial e Tributário A professora Laura Spyer Prates é mestre em Direito Administrativo pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (2014). É especialista em Administração Pública, Planeja- mento e Gestão Governamental pela Fundação João Pinheiro (2018), em Direito Administra- tivo pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (2012) e em Direito Previdenciário pelo CEAJUFE/IEJA (2010). É graduada em Direito pela FUMEC (2008). Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/0827630860330291> Dedico este trabalho a minha família e ao Guilherme, meus reais escudeiros! Dedico, ainda, aos meus amigos, sempre compreensíveis com as minhas ausências! Dedico, com especial apreço, ao Dr. José Nilo, minha inspiração acadêmica! A AUTORIA Direito Empresarial e Tributário18 A AUTORIA A Professora Maria Flávia de Freitas Ferreira é bacharel pela Faculdade de Direito Mil- ton Campos (2013); fez pós-graduação em Família e Sucessões pela Faculdade de Direito Padre Arnaldo Janssen, em 2015; é mestre em Direito Empresarial na Ordem EconômicaBra- sileira e Internacional pela Faculdade de Direito Milton Campos, em 2017. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/7475809062408873> Dedico este trabalho a Jesus de Nazaré que é o caminho, a verdade e a vida; ao meu marido, meu companheiro de vida; aos meus amados pais, pelo amor incondicional; e à minha querida irmã, minha melhor amiga. 19Direito Empresarial e Tributário A Professora Priscila Prux é Mestre em Direito pela Faculdade Meridional - IMED (2016). É especialista em Direito Pública pela Universidade de Caxias do Sul (2014). Graduada em Direito pela Universidade de Passo Fundo (2012). É advogada atuante nas áreas de Direito Civil, Direito Processual Civil, entre outras. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/9346001083269157> À minha família pelo apoio e incentivo diário. E aos meus queridos alunos, que são a razão da minha constante busca pelo conhecimento e capacitação. A AUTORIA 21Direito Empresarial e Tributário OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Compreender a razão de ser do Direito, o que o torna necessário. • Demonstrar desde quando o Direito existe, relembrando importantes autores con- tratualistas que comentam sobre o Estado de Natureza. • Explicar a organização da sociedade e dos Estados. CAPÍTULO 1 Introdução ao Direito e à Teoria Geral do Estado Maria Flávia de Freitas Ferreira TÓPICOS DE ESTUDO 1 Direito para quê e para quem? 3 A Instituição do Estado: paz e segurança para os cidadãos • O que é Direito? • Desde quando? • Será que precisamos mesmo disso? • Conceito de Estado: origem e formação. • Evolução histórica do Estado. • Elementos essenciais do Estado. 2 O Homem como ser social 4 O Estado e seu Poder • A origem da sociedade e o “Contrato Social”. • O homem em Estado de Natureza. • Thomas Hobbes e o Leviatã. • Locke, Rousseau e o Estado da Natureza. • Finalidade e funções do Estado. • O Poder do Estado. • Soberania, território e povo. Direito Empresarial e Tributário22 Contextualizando o Cenário Desde os primórdios da evolução do homem, os indivíduos viviam em grupo e, ao longo dos séculos, os sujeitos perceberam a necessidade de organizar a vida em sociedade. Com o desenvolvimento dos indivíduos e da vida em sociedade e com o crescimento de sua complexidade, as noções de Estado começaram a surgir e, com isso, foi imprescindível a cria- ção de normas que regulassem as condutas dos sujeitos. Diante desse cenário, surge uma questão importante: o que levou os indivíduos a cria- rem normas para regular suas atividades? 23Direito Empresarial e Tributário 1.1. Direito para quê e para quem? Neste tópico será apresentada a ideia de Direito, ou seja, sua origem, seus significa- dos e suas funções, bem como quem é o destinatário do Direito, ou seja, para quais indiví- duos o Direito é proposto. A partir desses conhecimentos iniciais, o aluno poderá compreender as noções bási- cas de Direito e Estado que contribuirão para a formação do seu entendimento acerca do ordenamento jurídico brasileiro. Com isso, destaca-se o conceito de Direito, o histórico dessa ciência, a necessidade do Direito em nossas vidas, dentre outras questões que estão inseridas na introdução ao estudo do Direito. 1.1.1. O que é Direito? Primeiramente, é importante destacar que a palavra “Direito” é polissêmica, ou seja, é uma palavra que reúne vários significados. Assim, é necessário apresentar os possíveis signi- ficados desta palavra, para que, posteriormente, a definição de “Direito” seja apresentada. Norma ou conj. de normas: direito posto (pelo governo); Leis. Faculdade: direito Subjetivo. Justiça: estar em conformidade com o direito. Ciência: conjunto ordenado do saber (norma, faculdade, justiça...). Direito Inicialmente, pode-se dizer que o Direito é um conjunto de normas, regras e prin- cípios que orientam preventivamente e punitivamente os indivíduos que vivem em socie- dade. Dessa forma o Direito indica os direitos e os deveres dos sujeitos. Dica Para entender melhor a distinção entre regras e princípios leia o artigo “A distin- ção entre regras e princípios segundo Robert Alexy” (AMORIM, 2012). © D TC O M Direito Empresarial e Tributário24 Assim, é importante destacar a afirmação do renomado autor Celso Antônio Ban- deira de Mello: O Direito é um conjunto de normas – princípios e regras -, dotadas de coercibilidade, que dis- ciplina a vida social. Conquanto uno, o direito se bifurca em dois grandes ramos, submetidos a técnicas jurídicas distintas: o Direito Público e o Direito Privado. Este último se ocupa dos inte- resses privados, regulando relações entre particulares. É então, governado pela autonomia da vontade, de tal sorte que nele vige o princípio fundamental de que as partes elegem as finali- dades que desejam alcançar, prepõem-se (ou não) a isto conforme desejem e servem-se para tanto dos meios que elejam ao seu alvedrio, contanto que tais finalidades ou meios não sejam proibidos pelo Direito. Inversamente, o Direito Público se ocupa de interesses da Sociedade como um todo, interesses públicos cujo atendimento não é problema pessoal de quem os esteja a curar, mas um dever jurídico inescusável. Assim não há espaço para a autonomia da vontade, que é substituída pela ideia de função, de dever de atendimento do interesse público (MELLO, 2011, p. 27, grifos do autor). A figura a seguir é meramente ilustrativa e não contém todos os ramos autônomos do direito. Podemos observar nela que há uma divisão principal, ou melhor, uma ramifica- ção entre o Direito Público e o Privado. Também temos ramos intermediários, quais sejam, direitos difusos, direitos coletivos e direitos individuais homogêneos. Direito (Classificação Dicotômica) Direito público Direito constitucional Direito penal Direito administrativo Direito processual Direitos difusos ou mistos Direito do consumidor Direito do trabalho Direito privado Direito civil Direito empresarial © D TC O M 25Direito Empresarial e Tributário Os Direito Difusos são classificados como aqueles onde a definição da coletividade não é possível, ou seja, não há vínculo jurídico entre a coletividade e o autor da lesão. Entende-se por Direito Coletivo aquele interesse caracterizado pela definição dos membros da coletivi- dade, isto é, existe vínculo jurídico entre o autor da lesão e os indivíduos pertencentes à cole- tividade. Já os Direitos Individuais Homogêneos são divisíveis e podem ser individualizados, sendo caracterizados como aqueles interesses em que não há múltiplos titulares. Visando esclarecer os conceitos apresentados, destaca-se o disposto no art. 81 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os tran- sindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum (BRASIL, 1990). Ressalta-se que o Direito é um dos agentes que contribuem significativamente para a estabilidade social, pois regula e orienta as atividades do cotidiano dos indiví- duos. Segundo Miguel Reale, o Direito pode ser considerado como a ordenação ética coercível, heterônoma e bilateral que advêm das relações sociais humanas, visando o bem comum. No entanto, sua definição, apre- senta o conjunto das características gerais e distintivas das normas éticas (REALE, 2002). Acimadas condutas dos indivíduos está o Direito e, consequentemente, o Estado que intervém, direta e/ou indiretamente, na vida dos sujeitos, seja nas questões que envolvem o Direito Público ou o Direito Privado. © c re at e jo bs 5 1 / / S hu tt er st oc k. (A da pt ad o) .. Direito Empresarial e Tributário26 Pausa para Refletir O que significa sociedade? 1.1.2. Desde quando? O objetivo deste tópico é proporcionar aos alunos um conhecimento básico sobre a História do Direito. A Idade Medieval pode ser considerada como uma fase na qual surgem grandes ques- tionamentos com relação ao Direito. Por isso mesmo, este período é de grande valia para a construção do Direito moderno. Nesse sentido, o autor Paolo Grossi acredita que o Direito medieval alimenta uma infinidade de ordena- ções nas quais a lei, antes mesmo de ser norma, é ordem social espontânea, que vem de uma sociedade que tutela os litígios cotidianos e constrói sua própria autonomia (GROSSI,1996). É possível perceber que o Direito medieval é fundamentado na descentralização polí- tica, na disputa de poder entre grupos distintos e no relativismo. Toda essa descentrali- zação ocorre em função da expansão do território do Império Romano que, diante de sua vasta extensão territorial, precisou flexibilizar sua governança centralizada. Esse fator, conjugado com a crise econômica romana e a desestruturação militar, cor- roboraram para a queda do Império Romano que, por conseguinte, contribuiu para a ascen- são da configuração política que daria origem à sociedade medieval. Os Bárbaros, também chamados de Germânicos, não tinham uma organização territo- rial ou política, tampouco tinham desenvolvido a escrita. Eles se organizavam socialmente por meio das famílias e, em especial, pela autoridade paterna. É possível observar que havia regras jurídicas respaldadas na moral e no costume, ou seja, cada “tribo” tinha sua própria tradição. Também observou-se que os Bárbaros ou Germânicos, povos dominantes num pri- meiro momento do período medieval, não impunham seus costumes sobre outras tribos, essa característica contribuiu para que o Direito Romano sobrevivesse. Para o autor Franz Wieacker, em virtude de uma abertura espiritual característica dos povos Germânicos, estes absorveram valores, conceitos e instituições do Direito Romano, isto é, absorveram a escrita latina, a língua romana, a crença católica, dentre outros costu- mes. Ainda segundo o autor, os Bárbaros adotaram as concepções dos romanos de direito público (WIACKER, 1967). © w av eb re ak m ed ia / / S hu tt er st oc k 27Direito Empresarial e Tributário Neste período medieval a agricultura se estrutura de forma presente, ganhando força e aumentando a produtividade, o que leva a um aumento demográfico contínuo. A estru- tura social formatada em feudos é regida pelo Poder Eclesiástico, legitimando assim as monarquias que se instauram pela Europa. O cenário que se instaura, em especial na perspectiva jurídica, é de uma sociedade com um alto nível de desigualdade, com liberdades restritas (aqueles que não fizessem parte do clero ou da nobreza serviam a estes), em sua maioria regida por uma ética aristo- télica e tomista, com bases jurídicas em um Direito eclesiástico, o que acarretava em uma alta insegurança jurídica. Importante lembrar que o Direito eclesiástico era baseado na doutrina cristã cató- lica, sendo a igreja a responsável pela edição de doutrinas e cânones que por diversas vezes avançavam no campo jurídico. Já a ética aristotélica afirma que o homem possuía um fim a ser alcançado, a felicidade, que de forma racional serve de base para a ética tomista, que conciliava a razão com a teologia, como se essa fosse a ciência suprema, devendo ser legiti- mada pelo próprio direito eclesiástico ou mesmo pela filosofia. Todas essas características conjugadas levaram à eclosão da primeira grande revolu- ção do século XVII, a Revolução Inglesa, percussora das revoluções Francesas e Americana, ambas ocorrida no século XVIII. A Revolução Francesa propõe a tripartição do Poder, dividindo o Estado em Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário, essa proposta é importante, pois configura toda a nova fase histórica que decorre, a Idade Moderna. A partir de então não se permite mais a confusão entre esses mesmos poderes em uma única figura. A Revolução Francesa também defende os valores da Liberdade e Igualdade, que são incorporados no sistema jurídico como princípios e normas. A Revolução Americana, por sua vez, inicia o regime de governo republicano, além de apresentar a primeira declaração reivindicatória dos direitos individuais, com a Declaração de Independência Americana, que defende a legitimidade de sua revolução contra os pode- res britânicos. Esses fatores históricos culminaram na Idade Moderna, consolidando o positivismo jurídico por meio do codicismo da Civil Law, e da prática consuetudinária da Common Law. Sistemas jurídicos conhecidos e aplicados até os dias atuais no ocidente. Importante desta- car que o sistema jurídico do Civil Law é um sistema baseado na codificação da norma, ou seja, as lei são escritas em códigos, tais como o código civil, o código penal e demais códi- gos da legislação pátria. Em contraponto, o sistema da Common Law é um sistema que tem origem nos costumes locais, ou seja, na prática consuetudinária, suas decisões criam nor- mas para próximos caso, é o que se chama de precedentes. Direito Empresarial e Tributário28 Por essas razões, um estudo histórico do Direito precisa estar interligado com outras áreas do saber como a sociologia, política, filosofia, etc. para compreender o contexto relacionado. Curiosidade A Mesopotâmia é considerada um dos berços da civilização, onde surgiram as primeiras cidades por volta do VI milênio a.C. Esse processo foi resultado do estilo de vida sedentário da população e da Revolução Agrícola. Como descrito anteriormente, o Direito surge das relações sociais e para elas se dire- ciona, sendo resultado da história do homem, que por sua vez é o criado do Direito. 1.1.3. Será que precisamos mesmo disso? Ao analisar o contexto histórico do Direito, é possível perceber que a vida em socie- dade contribuiu para a criação de normas que orientem a conduta dos sujeitos, sob pena de contribuir para a desordem social e causar insegurança jurídica nos indivíduos. A lógica é que, embora as pessoas tenham sua liberdade individual, elas devem observar regras míni- mas de convivência para não ferir os direitos dos outros. Nesse sentido, pode-se afirmar que em qualquer nível da vida em sociedade as regras são necessárias para colaborar com a segurança jurídica, protegendo os direitos individuais e coletivos dos sujeitos. Destaca-se que as normas que orientam a conduta das pessoas em qualquer agrupamento humano podem ser impostas pelo Direito, pela moral, pelos costu- mes, etc. No entanto, apenas o Direito age punitivamente, isto é, o Direito é capaz de apli- car sanções aos indivíduos que cometem irregularidades em razão do Poder Coercitivo do Estado, também chamado de Poder de Polícia. Esclarecimento Poder de Polícia é “a atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade ajustando-as aos interesses coletivos. Refere-se, pois, ao complexo de medidas do Estado que delineia a esfera juridicamente tutelada da liberdade e da propriedade dos cidadãos” (MELLO, 2011, p. 838). 29Direito Empresarial e Tributário Rousseau, em seu livro Contrato Social, afirma que a família pode ser considerada como o primeiro modelo de sociedade política, hipótese em que o pai é o chefe e os filhos representam o povo. O autor afirma, ainda, que o indivíduo abre mão de parte de sua liber- dade para que o Estado (pai) tutele em prol da coletividade (demais filhos). Com isso, é possível observar que, sem a intervenção mínima do Estado para regular algumas açõesdos indivíduos em prol da coletividade, é possível imaginarmos que viveríamos em um estado de desordem, ou seja, estaríamos vivendo na Lei de Talião. Também chamada de lex talionis ou lei do idêntico, a Lei de Talião é baseada na reciprocidade, ou sejam a conduta cri- minosa era respondida com uma pena de igual proporção física. Exemplo: se um indivíduo fur- tasse algo, sua mão seria amputada, para que não o fizesse mais, essa prática ganhou a máxima de “olho por olho, dente por dente”. Tal norma legitimava os indivíduos a fazerem justiça com as próprias mãos, não levando em conta os interesses coletivos. Importante destacar que nos valemos do Direito constantemente, pois a sociedade está em evolução e, muitas vezes, as normas não acompanham as mudanças sociais. Com isso, podemos concluir, após essas breves análises, que o Direito é uma ciência importantíssima e essencial para o crescimento da sociedade, uma vez que regula os direitos e deveres dos cidadãos, promovendo a convivên- cia em uma sociedade mais harmônica. 1.2. O homem como ser social Partindo da dialética hegeliana, apontada por Maria Inês Chaves de Andrade, pode-se concluir que o homem é um ser social (ANDRADE, 2010, p. 22) que está inserido em diver- sas redes sociais, como por exemplo, a família, os amigos, a comunidade, o trabalho, den- tre outras redes. A inserção nesses diversos grupos proporciona ao indivíduo a construção da sua identidade enquanto ser humano, ou seja, o homem se completa no outro. Destaca-se que a interação social é um fator fundamental para o desenvolvimento do homem. Segundo Battista Mondin, o homem é um ser social (homo socialis) pois tem a pro- pensão “para viver junto com os outros e comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas emoções e os mesmos bens” (MONDIN, 2008, p. 159). © C LS D ig it al A rt s / / S hu tt er st oc k. (A da pt ad o) .. Direito Empresarial e Tributário30 Pausa para Refletir O que vem primeiro, o indivíduo ou a sociedade? Os indivíduos moldam a sociedade ou a sociedade molda os indivíduos? 1.2.1. A origem da sociedade e o “Contrato Social” Diversos autores e doutrinadores apresentam maneiras de justificar e explicar a ori- gem da sociedade, com isso, é possível encontrar inúmeras teorias sobre esse tema. No entanto, verifica-se a existência de duas principais correntes: a naturalista e a contratualista. A corrente Naturalista afirma que há uma necessidade natural do homem de viver em sociedade e isso se explica, basicamente, na condição de ser sociável e na dependência natural de uns para com os outros. Segundo Aristóteles, “O Homem é naturalmente um animal político”. Segundo o filó- sofo somente um ser superior ao homem poderia viver isoladamente. Ainda de acordo com Aristóteles, os animais irracionais vivem em meros agrupamentos, no entanto, o homem, por saber o que é justo e injusto, organiza seu agrupamento. Dessa forma, é possível per- ceber que o viver em sociedade do homem se justifica por meio de uma disposição natural para a vida em grupo. Segundo a corrente naturalista, o fato do homem conhecer o bem e o mal é uma das jus- tificativas para o convívio em uma sociedade organizada, no entanto, existe a corrente con- tratualista que fundamenta-se na vontade humana. Para a corrente contratualista, a vontade humana prevalece, ou seja, acredita-se na construção de um contrato de convivência social. Apesar de não analisarem especificamente a origem da sociedade, Thomas More e Tommaso Campanella foram autores que contribuíram significativamente para a constru- ção da consciência do que seria bom e viável para o desenvolvimento de uma sociedade, tendo em vista suas ideias de que a vida social está subordinada à vontade e à razão. É nesta direção que a conjugação das correntes apresentadas avança. Se por um lado a vida social está condicionada à vontade, é decorrência lógica que seja naturalmente celebrado um contrato entre os indivíduos que pactuam o bem estar social por meio da convivência harmônica, ou seja, da sociedade. Por outro lado, a consciência racional da existência de uma conduta boa e uma conduta má acarreta a decisão racional de convívio para proteção mútua e perpetuação da espécie. Portanto, pode-se afirmar que o homem em seu estado natural é um ser que tende a viver em sociedade. 31Direito Empresarial e Tributário 1.2.2. O homem em Estado de Natureza Os principais nomes da corrente contratualista, como Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau, acreditavam que antes da criação do Estado os indivíduos viviam em Estado de Natureza. Segundo Thomas Hobbes, o Estado de Natureza era um estado de isonomia orgânica entre os seres humanos. No entanto, os indivíduos, seja para se impor ou se defender, entrariam em uma circunstância generalizada de guerra, pois não havia regras de convívio social e, consequentemente, um Estado. Afirma Hobbes que, nessas condições, “só pertence a cada homem aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo” (HOBBES, 1999, p. 110). Ainda para o referido autor, o conflito é algo inerente à natureza humana e o mesmo seria controlado somente pelo contrato de convívio social entre os indivíduos e, con- sequentemente, com o surgimento do Estado. Já John Locke acreditava que o Estado de Natureza não se confunde com o “estado de guerra” de Hobbes. Para Locke, o Estado de Natureza ou estágio pré-social era uma situação pacífica reconhecida pela liberdade e igualdade entre os homens que já usufruíam da propriedade privada, um dos direitos naturais dos indivíduos. As dificuldades do Estado de Natureza, ou seja, a desordem, a ausência de um interesse coletivo, o indivi- dualismo exacerbado e a imputação da vontade do mais forte sobre o mais fraco são fatores que contribuíram para a pactuação do contrato social, que buscava garantir os direitos fundamentais dos sujeitos, como por exemplo, o direito acerca da propriedade e a proteção da sociedade tanto interna quanto externamente. Já para Rousseau, o homem nasce livre, mas encontra diversos contratempos ao exercício de sua liberdade natural. O referido autor afirmava que a propriedade privada é um © G eo rg io s K ol lid as / / S hu tt er st oc k. (A da pt ad o) .. © E ve re tt H is to ri ca l / / Sh ut te rs to ck © G eo rg io s K ol lid as / / S hu tt er st oc k. (A da pt ad o) .. Direito Empresarial e Tributário32 dos pontos primordiais para a deterioração do Estado de Natureza, o que levou os sujeitos à construção de um pacto social que visava estabelecer a liberdade civil. A partir dos conceitos apresentados, é possível perceber que em Estado de Natureza os indivíduos podem agir como bem entenderem, tendo em vista que, nesse estágio não há Estado ou outro tipo de poder que possa impor normas ou regras de convívio. 1.2.3. Thomas Hobbes e o Leviatã Considera-se que a corrente contratualista nasceu em 1651 com a publicação de O Leviatã, de Thomas Hobbes. Segundo Hobbes, inicialmente, o homem vive em Estado Natural. Isso se dava, por exemplo, nos primórdios da civilização humana e também quando o homem vive em desordem. Ou seja, as ações dos indivíduos não são reprimidas por instituições ou pela própria razão do homem. Pausa para Refletir O que é a razão do Homem? Como a razão pode limitar ou restringir as ações do homem? Segundo o autor, os indivíduos podem ser perigosos quando estão em Estado Natu- reza, pois são egoístas e tendem a agredir quem estiver a sua volta. Para que os indivíduos possam conviver em harmonia Hobbes propõe o “contrato social”. Com o objetivo de superar o Estado Natural e lembrando que, apesar de sua natureza egoísta, o homem tem a consciência dos caminhos para uma vida harmoniosa, Hobbes cria duasleis para a teoria do contrato social, quais sejam: cada indivíduo deve se esforçar para alcançar a paz, no entanto, quando não puder tê-la, pode valer-se da guerra para obtê-la; cada homem deve renunciar seu direito natural à liberdade absoluta em favor da segurança de todos os demais, assim o Estado assume o papel de detentor dessas liberdades aliena- das para garantir segurança e regular comportamentos ao final. A partir dessas leis, os indivíduos celebram um contrato de transferência de direitos recíprocos. Ressalta-se que a transferência de direitos é realizada entre o sujeito e o Estado. Observa-se que, nessa transferência de direitos, o homem em Estado Natural renuncia sua liberdade e direitos absolutos, isto é, seu estado primitivo, e, em razão do contrato, assume compromissos, deveres e direitos individuais e coletivos. Para Hobbes, estar sujeito a um mau governo é melhor do que permanecer em Estado de Natureza, pois somente com a cria- ção do Estado os indivíduos estariam livres das condições precárias em que viviam. 33Direito Empresarial e Tributário Ainda na obra O Leviatã, o autor defende a soberania dos governantes, pois consi- derava que a vontade do soberano ou governante representava a vontade do povo e, por- tanto, o cumprimento das leis. Com o estudo da obra, é possível perceber que Hobbes defendia um Estado absoluto. O autor define que o Estado, ou melhor, deve ser capaz de defender a todos, garantindo- -lhes a paz e a segurança, como um deus mortal. Assim, o autor considera que o objetivo do Estado é o bem comum, no qual o poder de seu representante é absoluto, ou seja, o poder é uno e indivisível. Hobbes aponta a divisão do poder soberano como sendo a maior doença que um Estado pode enfrentar. O autor considera, ainda, que a soberania é a alma do Leviatã: o soberano é a alma pública, que dá vida e movimento ao Estado, a qual expirando, os mem- bros deixam de ser governados por ela tal como a carcaça do homem quando se separa de sua alma (ainda que imortal) (HOBBES, 1651, p. 112). Para o filósofo, a garantia da paz e da proteção aos indivíduos não é possível caso o Estado seja dissolvido. Nesse caso, os homens voltariam a ter liberdade plena, mas pre- cisariam se proteger individualmente. Salienta-se que as ideias de Hobbes permaneceram ilibadas até meados do século XVII, quando começam a surgir novos ideais conduzidos, principalmente, por John Locke. 1.2.4. Locke, Rousseau e o Estado de Natureza No decorrer da história da humanidade, a liberdade tem sido tema de muitas discus- sões doutrinárias. John Locke, por exemplo, defendia que o homem em Estado de Natu- reza é livre, e que a lei da natureza era seu regime de conduta. Entretanto, visando um bem coletivo, os indivíduos renunciaram a essa liberdade. Para o autor, a renúncia à liberdade plena ocorre em virtude da constante ameaça que o homem natural sofre pois, embora seja livre e dono de suas posses, outros homens também são livres e podem se tornar ameaças. Locke descreve o Estado de Natureza como o lugar em que não há governo que exerça qualquer poder sobre os indivíduos, isto é, não há lei reconhecida por todos que sirva de parâmetro. Segundo o filósofo: Direito Empresarial e Tributário34 para que todos os homens sejam impedidos de invadir direitos alheios e de preju- dicar uns aos outros, e para que seja observada a lei da natureza, que quer a paz e a conservação de toda a humanidade, a responsabilidade pela execução da lei da natu- reza é, nesse estado, depositada nas mãos de cada homem, pelo que cada um tem o direito de punir os transgressores da dita lei em grau que impeça sua violação. Pois a lei da natureza seria vã, como todas as demais leis que dizem respeito ao homem neste mundo, se não houvesse alguém que tivesse, no estado de natureza, um poder para executar essa lei e, com isso, preservar os inocentes e conter os transgressores. E se qualquer um no estado de natureza pode punir a outrem, por qualquer mal que tenha cometido, todos o podem fazer, pois, nesse estado de perfeita igualdade, no qual naturalmente não existe superioridade ou jurisdição de um sobre outro, aquilo que qualquer um pode fazer em prossecução dessa lei todos devem necessariamente ter o direito de fazer (LOCKE, 1651, p. 385-386). Considera-se que o Estado de Liberdade ou Estado de Natureza pode ter algumas regras para regulamentar as condutas dos indivíduos. Locke considerava leis da natureza aquelas que definem que ninguém pode lesar a outros em suas vidas, saúde, liberdade e bens. Entretanto, apesar dos sujeitos compreenderem naturalmente essas normas, eles possuem valores subjetivos que interferem em suas ações, o que apresenta uma dificul- dade considerável para a manutenção da harmonia social. Ressalta-se que, sendo o sujeito julgador e executor das leis, ele poderá utilizá-las de forma imparcial e injusta. Com o objetivo de sanar a instabilidade presente no Estado de Natureza, os sujeitos criam uma sociedade organizada politicamente por meio do pacto social, que apresenta as respostas e soluções para as lacunas presentes no Estado Natural. Destaca-se que John Locke denomina essa sociedade politicamente organizada de governo civil. Já o filosofo Jean Jacques Rousseau parte da noção que o indivíduo nasce livre e, dessa forma, deve preservar, ao máximo, essa faculdade natural. Segundo Rousseau, a instituição da sociedade prejudica a liberdade natural dos homens. Dessa forma, a sociedade deve pre- servar a liberdade dos indivíduos, ou seja, proteger o sujeito na coletividade, sem cercear totalmente sua liberdade. Importante destacar, nesse sentido que, apesar de acreditar que a sociedade existe a partir de um contrato social, Rousseau não acreditava no absolutismo. Para Rousseau, não se trata de abandonar a liberdade da natureza em nome da civi- lização, mas sim de construir uma adequação à liberdade do Estado Natural. Rousseau acreditava que o contrato social veio para estabelecer as regras e contribuir para o for- talecimento do homem natural. Nesse sentido, o governo (Estado) zela pelos indivíduos. Da mesma forma, a soberania não é do governante ou do governo, mas sim do povo, que passa seus direitos para que o governo preserve os princípios de liberdade e igualdade. 35Direito Empresarial e Tributário Com a capacidade que o Homem possui de aper- feiçoar-se, por meio do poder do raciocínio e da inteli- gência, e com o desenvolvimento das sociedades mais complexas, surge a necessidade de instituições mais elaboradas. A seguir, veremos um pouco da história do con- ceito de Estado, começando pelas estruturas sociais mais simples, das tribos mais primitivas, por exem- plo, passando pelas cidades-estado, feudos, reinos, até a estrutura social moderna. Todas essas fases foram marcadas por convulsões sociais e mudanças culturais. Analisá-las é essencial para que possamos compreender melhor o estágio atual social e político. 1.3. A Instituição do Estado: paz e segurança para os cidadãos A organização dos indivíduos em sociedade e a criação do Estado foi fundamen- tal para que os homens pudessem concentrar seus esforços em promover a paz e a segu- rança, ameaçadas no Estado Natural. A partir desses conhecimentos importantes acerca do Estado, o aluno poderá compreender as noções precípuas de Estado, o que cooperará para a formação do seu entendimento acerca do ordenamento jurídico brasileiro. Com isso, destaca-se o conceito, a origem, a formação, o histórico, bem como os ele- mentos do Estado, dentre outras questões, que estão inseridas na instituição do Estado. Estado, advém do latim status que, gramaticalmente, significa modo de estar, situação e condição. Compreender o significado da palavra Estado facilita o entendimento apresen- tado pelos doutrinadores. 1.3.1. Conceito de Estado: origem e formação Inicialmente, cabe apresentar o conceito da palavra “Estado”. Na AntiguidadeRomana, a palavra estado, ou melhor, status, expressava uma condição ou situação de uma pessoa ou coisa. Já na Idade Média, estado era considerado o corpo social hierárquico, isto é, o clero, a nobreza e o povo. Foi Maquiavel, em 1513, que utilizou o termo “Estado” com o significado de unidade política. Três elementos importantes contribuíram para a construção do conceito de Estado: o povo, o território e o poder político. Estes elementos serão apresentados no decorrer deste tópico. © R aw pi xe l.c om / / S hu tt er st oc k. (A da pt ad o) .. Direito Empresarial e Tributário36 Darcy Azambuja entende por Estado “a organização político-jurídica de uma socie- dade para realizar o bem público, com governo e território determinado” (AZAMBUJA, 1996, p. 27). Já Dalmo de Abreu Dallari o conceitua como “a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território.” (DALLARI, 2001, p. 49). Para Pablo Lucas Verdú, Estado é “a sociedade territorial juridicamente orga- nizada, com poder soberano que busca o bem estar geral.” (VERDÚ, 1986, p. 48). Observa-se que conceituar Estado é algo muito complexo e, por isso, existem diver- sos conceitos de Estado. Existem diversas teorias sobre o surgimento do Estado, no entanto, é possível apresentar as três teorias principais (BOBBIO, 1998). 1. O Estado e a sociedade existem desde que o Homem surgiu na Terra; 2. O Estado é produto da evolução natural da humanidade e foi precedido por outros tipos de sociedade: tribos, clãs, dentre outros; 3. O Estado surgiu após a definição de algumas ideias bem definidas, como por exemplo, a soberania. Buscando explicar e fundamentar a formação original dos Estados, foram desenvolvi- das duas teorias: Afirmação “O elevado número, até hoje, de teorias explicativas da origem do Estado reco- menda que se estabeleça uma síntese delas. Bidart Campos divide-as em: a) teorias reli- giosas; b) teorias da força; c) teorias jurídicas; d) teorias éticas; e) teorias psicológicas (CARVALHO, 2008, p. 356). 1. A formação natural, ou seja, o Estado se forma naturalmente, pela evolução das formas de sociedade, Aristóteles desenvolveu a ideia de que o desenvolvimento natural do homem acarretaria no Estado; 2. A formação contratual, ou seja, a formação do Estado se deu por um ato de von- tade dos indivíduos. Conforme apontado anteriormente Hobbes fora o precursor dessa teoria, mas a figura proeminente é Jean Jacques Rousseau. Na modernidade, aponta-se Edmundo Burke com sua afirmação de que o Estado é um fato social, ou seja uma realidade histórica. Essa posição foi defendida e amplamente estu- dada por teóricos como Savigny e Ihering. A ideia defendida é que o aglomerado de indivíduos acarreta necessariamente no surgimento do Estado, em uma explicação simplista da teoria. 37Direito Empresarial e Tributário O que se pode afirmar com segurança é que, assim como o próprio Estado, o seu con- ceito também se adapta às realidades históricas, fáticas e aos interesses dos que buscam conceituá-lo. Sendo necessário atenção em sua utilização. 1.3.2. Evolução histórica do Estado Pode-se apresentar a evolução do Estado da seguinte forma: a) Estado Moderno (1453 ou 1492 até 1789): a concentração do poder está nas mãos dos governantes. Os teóricos que defendiam o absolutismo eram Nicolau Maquia- vel, Thomas Hobbes e Jacques Bossuet. b) Estado Liberal: com a queda do Estado Absolutista (resultado de eventos his- tóricos como a Revolução Gloriosa, Iluminismo e a Revolução Francesa), surge o Estado Liberal. A igualdade e a liberdade são as bases para o pensamento libe- ral. Dessa forma, o Estado deveria intervir minimamente nas relações sociais. Sua interferência é necessária, no entanto, em apenas alguns setores da vida social. Para Adam Smith, é função do Estado apenas promover a segurança interna e externa e realizar as obras que os particulares não realizaram. c) Estado Socialista: a coletividade, e não o indivíduo, é o interesse do Estado Socialista. d) Estado Democrático de Direito: Estado constituído pelo conjunto de normas jurídi- cas, democraticamente selecionadas. Este estado tem como objetivo incluir todos os indivíduos, sem exclusão de sexo, escolaridade, orientação religiosa, dentre outros. Importante destacar que o Estado Democrático de Direito é uma conquista do homem, pois não coaduna com a ordem arbitrária e tendenciosa, objetivando uma socie- dade melhor, onde haja inclusão e desenvolvimento humano e social. 1.4. O Estado e seu Poder É notório que o Estado é um ente que detém poder. Pode-se considerar que este poder é legitimado pelo Direito (salienta-se que poder e Direito não se fundem). O Direito aponta as normas que regem e regulamentam as relações, isto é, o Direito contribui para uma sociedade organizada. Nesse sentido, observa-se que o governante (quem assume o Estado), necessita da sustentação legal para a prevenção e aplicação das sanções. No entanto, é preciso compreender que a pessoa que assumir a administração do Estado deve ser detentora do poder legítimo, e que este poder precisa ser construído por indivíduos legítimos. Direito Empresarial e Tributário38 1.4.1. Finalidade e funções do Estado Segundo Marcelo Rebelo de Souza a função do Estado é “como a atividade desenvol- vida, no todo ou em parte, por um ou vários órgãos do poder político, de modo duradouro, independente de outras atividades, em particular na sua forma, e que visa à prossecução dos fins do Estado” (CARVALHO, 2008, p. 159). Com relação à finalidade, o Estado é o meio para que a sociedade e os sujeitos, per- tencentes a um território delimitado, alcancem a ordem, a defesa, o bem-estar e o desen- volvimento comum. No entanto, é possível apresentar como clássicas três funções do Estado: executiva, legislativa e jurisdicional. A grosso modo, pode-se dizer que o Poder Legislativo cria as leis; o Poder Executivo administra o Estado; e o Poder Judicial interpreta e aplica as leis. 1.4.2. O Poder do Estado Inicialmente, cabe analisar o conceito da palavra poder: ela deriva do latim possum, que significa ser capaz de, agir, mandar, deliberar e, dentro da matéria em questão, tem o sentido de exercer autoridade, soberania. Observa-se que, em qualquer forma de sociedade, existe a presença de uma ordem jurídica ou de um poder político que é a forma com que o Estado exerce a dominação esta- tal. Observa-se que a Constituição Brasileira divide o Poder do Estado em três funções: Executiva, Legislativa e Judiciária. Importante destacar que o poder é uno e indivisível, entretanto, é possível dividi-lo quanto ao seu exercício e quanto às formas de atividade estatal. Destaca-se que o poder político do Estado é o que harmoniza, integra e preside os grupos sociais, por meio de nor- mas que compõem um direito comum para todos. 1.4.3. Soberania, território e povo Os elementos essenciais do Estado são: o Povo, o Território e a Soberania. O Povo é o elemento humano que constitui o Estado, ou seja, compreende um conjunto de pessoas. A coletividade de pessoas obtém uma unidade com a formação do Estado, em razão de vín- culos éticos, religiosos, geográficos, linguísticos ou políticos. O Povo é o destinatário do poder político. 39Direito Empresarial e Tributário O Território por sua vez, é considerado um elemento material do Estado, isto é, é o espaço geográfico essencial para sediar o poder político. “Território é o limite espacial den- tro do qual o Estado exerce de modo efetivo e exclusivo o poder de império sobre pessoas e bens” (SILVA, 2016, p. 100). A Soberania é uma qualidade do poder estatal. Internamente, soberania significa a supremacia do Estado sobre outras organizações, já externamente, considera-se Soberania como a independência de um Estado em relação aos demais. Destaca-se que a Soberania é una, indivisível, inalienável e imprescindível. Propostade Atividade Reforce seu aprendizado com o exercício sugerido a seguir. A atividade não é avaliativa, mas é uma boa oportunidade para testar seus conhecimentos e fixar o conteúdo estudado no capítulo. Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu, construa um quadro comparativo entre as ideias de Hobbes, Locke e Rousseau. Coloque no quadro os fundamentos do Estado, as funções do Estado e a descrição dos elementos fundamentais do Estado. Ao produzir seu quadro, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Recapitulando A conceituação do Estado e sua origem ainda não é precisa. O mais provável é que, em qualquer teoria que se baseie, o Estado é a forma que a sociedade se organiza. Quando buscamos entender o que é a sociedade, as leituras feitas nos remetem ao fato de que a sociedade é uma organização de indivíduos que, de forma voluntária ou racional, decidem conviver em um determinado espaço físico, com objetivos comuns e harmoniosos. É pouco provável que o homem seja capaz de viver em Estado de Natureza ou sozi- nho. Assim, a ciclicidade dessas influências, homem e sociedade, apresenta-se quase como um surgimento concomitante, ou seja, no momento em que o indivíduo se identifica como ser humano individual, surge também a sociedade. A individualidade se torna efeito reflexo e causadora da composição social. A dinâmica instaurada é constante, o indivíduo influi sobre a sociedade, lhe trans- formando, e a sociedade, por sua vez, responde com novas influências, transformando o indivíduo. Desta forma, se instaura o progresso e o desenvolvimento humano, social, tec- nológico, jurídico, e de todas as outras áreas que demandam a atuação humana. Direito Empresarial e Tributário40 Todo o dinamismo ocorre em sentido progressivo graças a uma coordenação de inte- resses, interesses esses que são a base das discussões da Teoria Geral do Estado, como foi apresentado. Na atualidade, a racionalidade ainda tem um peso grande na justifica- tiva do Estado e da sociedade, o que Hobbes apresentou como racionalidade fundadora do Estado, aprimorada por Rousseau no Contrato Social, pode ser também vista sob a pers- pectiva atual de Burke, que sugere o Estado com um fato social, como uma decorrência lógica da aglomeração natural à qual o ser humano está predisposto. Em suma, o Direito regula, normatiza, pressupõe condutas, penaliza outras, coordena muitas delas, por meio de um consenso de submissão coletiva ao Estado, com a clareza de que este ente possui o dever de garantir e promover o bem estar e a convivência harmo- niosa entre os indivíduos, não permitindo que as características egoístas destes se sobres- saiam ao interesse social, que é o coletivo. 41Direito Empresarial e Tributário Referências AMORIM, L. B. A distinção entre regras e princípios segundo Robert Alexy: esboço e críticas.(2012). 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CAPÍTULO 2 Estado, Direito e os poderes de um governo Maria Flávia de Freitas Ferreira TÓPICOS DE ESTUDO 1 Estado e Direito 3 O Estado Constitucional • A personalidade jurídica do Estado. • Estado, Direito e Política. • Estado e Nação. • Mudanças do Estado por reforma e revolução. • Constitucionalismo: origens e características. • As Declarações de Direitos e as normas de Direitos Humanos. • Separação de Poderes. • Objetivo da Separação de Poderes. 2 Estado e Governo 4 Estado, Direito e Governo: uma relação intrínseca • Estado Moderno e Democracia. • Democracia Direta e Representativa. • Representação Política e o Sufrágio. • Sistemas Partidários e Democracia. • Formas de governo e regime político. • Monarquia e república. • Parlamentarismo e presidencialismo. • Federalismo. Direito Empresarial e Tributário44 Contextualizando o cenário É ponto pacífico que o Estado surge como forma de estruturação da sociedade. Essa dinâ- mica se estabeleceu desde que o homem começou a se organizar em grandes aglomerados populacionais e necessita constantemente de legitimação, como uma forma de se manter regente da sociedade. Enquanto numa estrutura de clãs os indivíduos escolhiam um entre eles para assumir o papel de chefe e responsável por aquela organização social, o Estado em sua forma medieval uti- lizou-se de prerrogativas divinas para se legitimar diante da sociedade, aquele indivíduo que ocupava o papel de governante, possuidor da coroa, era elegido por uma divindade, her- dando seu direito natural ao governo. Com a instauração do Estado Moderno, o governo passa a se legitimar por meio de normas criadas por indivíduos escolhidos pela população, ou mesmo indivíduosque herdaram sua posição de notoriedade nessas sociedades. O que se percebe é que o Estado se mantém pelo Direito que o legitima. As normas, que constituem uma esfera do Direito, são formuladas por um dos braços do Estado. Diante desse cenário, surge uma questão importante: como o Direito atua enquanto meca- nismo para o funcionamento do Estado? 45Direito Empresarial e Tributário 2.1. Estado e Direito Inicialmente, cabe ressaltar que há uma relação entre o Estado e Direito e ambos objetivam o bem-estar social a partir do controle das ações dos indivíduos no seio social. Ressalta-se que, ao mesmo tempo que o Direito emana do Estado, é um instituto jurí- dico autônomo. Dessa forma, Estado e Direito devem ser vislumbrados conjuntamente, pois ambos atuam em questões sociais e a ação do Direito está ligada à administração do Estado como um todo. O estudo a seguir sobre a personalidade jurídica do Estado é muito relevante para o Direito. É importante destacar que a personalidade jurídica é tratada dentro do direito civil como um atributo essencial, ou seja, um atributo necessário para que o indivíduo ou ente possam ser titulares de direitos. Dessa forma, o Estado é um ente dotado de personalidade jurídica de direito público, podendo, inclusive, ser subdividido em entes da administração direta (União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios); ou entes da administra- ção indireta (autarquias e entidades de caráter público criadas por lei). Esclarecimento O autor Humberto Piragibe Magalhães afirma que “personalidade jurídica é a qualidade das pessoas reconhecidas pelo Direito e que não são pessoas físicas (MAGALHÃES, 2013, p. 677).” Apenas os entes dotados de personalidade jurídica podem adquirir direitos e contrair obrigações. 2.1.1. A personalidade jurídica do Estado Muitas correntes já buscaram explicar a presença ou não da personalidade jurídica do Estado. Entre elas, destacam-se: Teoria Contratualista (Hobbes e Locke); Teoria Ficcionista (Saviny e Kelsen); Teoria Realista (Gerber, Gierke, Laband e Jellinek); e a Teoria do Rea- lismo Jurídico (Seydel, Donati, Duguit). a) Teoria Contratualista: esta teoria concebe o Estado como um conjunto pactuado (contratado) de direitos individuais, o que somente seria possível nos casos de aceitação da personalidade jurídica, caracterizando uma pessoa própria. Essa ideia se aproxima e mistura-se com a teoria da formação do Estado. Direito Empresarial e Tributário46 b) Teoria Ficcionista: o Estado deve ser reconhecido como Pessoa Jurídica com per- sonalidade própria; no entanto, não existe personalidade jurídica antes da exis- tência da própria pessoa à qual está vinculada, desta forma o reconhecimento e a formação do Estado ocorrem simultaneamente. Essa teoria se divide em: • Escola Histórica, Saviny acredita na personalidade jurídica do Estado como uma ficção, admitindo que os indivíduos de direito são apenas sujeitos dota- dos de consciência. A teoria atribui ao Estado direitos que não podem ser titu- larizados por pessoas físicas, ou seja, o Estado possui direito e deveres que são típicos desta entidade, direito e deveres que não podem ser executados por pes- soas naturais. O exemplo máximo para ilustrar este caso é o poder de coerção: somente o Estado, por intermédio de seus órgãos, pode processar, julgar e exe- cutar uma pena restritiva de direito. • Escola Normativa, Kelsen constrói sua teoria a partir da concepção normativa do Direito e de Estado. O Estado é a personificação da ordem jurídica, isto é, toda pessoa jurídica é a expressão unitária de um conjunto de normas. c) Teoria Realista: Acredita que existe personalidade jurídica anteriormente à forma- ção do Estado, uma vez que a personalidade não é produto do Direito, mas da rea- lidade social. Essa teoria se divide em: • Teoria do Organismo Ético: Geber analisa o Estado como um organismo moral, isto é, existe por si próprio. • Teoria do Órgão: Gierk baseia-se no entendimento de que o Estado é um orga- nismo que faz atuar suas vontades por meio de pessoas físicas (órgãos próprios). • Teoria da Unidade Organizada: Laband afirma que o Estado é um sujeito de direito, tendo em vista que se trata de uma unidade organizada, com vontade própria. • Teoria da Unidade Coletiva: Jelinek entende que o Estado é uma unidade cole- tiva que deve ter personalidade jurídica. d) Teoria do Realismo Jurídico: os precursores dessa teoria negam a personalidade jurídica do Estado. Seydel afirma que não existe vontade do Estado e sim vontade sobre o Estado. Donati por sua vez, afirma que a personalidade jurídica do Estado se confunde com a personalidade jurídica de seus governantes. Duguit entende que o Estado é percebido como uma relação de subordinação entre os governantes e governados. Nos dias atuais, é notável a personalidade jurídica dos Estados. No Brasil, por exem- plo, a personalidade jurídica é conferida pela própria Constituição da República. 47Direito Empresarial e Tributário 2.1.2. Estado, Direito e Política Existem três teorias principais que explicam a relação entre o Estado e o Direito: monista, dualista e paralelismo. a) Teoria Monista (Estatismo Jurídico): desenvolvida por Rudolf von Ihering e John Austin, ela entende que Estado e Direito são o mesmo ente. Para os adeptos dessa teoria, o direito estatal é o único existente. Para Hans Kelsen somente o direito positivo, ou seja, aquele advindo do Estado é válido. b) Teoria Dualista (Pluralística): mesmo não sendo seu percussor, essa teoria ganha forças com Léon Duguit defendendo que o Estado e o Direito são independentes pois o Estado não é a única fonte de Direito, uma vez que o Direito é um fato social e não estatal. A função do Estado seria positivar o Direito enquanto fato social. c) Teoria do Paralelismo: defendida por Giorgio Del Vecchio, busca aproximar as outras duas teorias, para ela o Direito e Estado são ciências distintas, mas inter- dependentes. Existe uma racionalidade na graduação da positividade jurídica que não exclui o fato social e nem a norma positivada. Destaca-se que o Direito e o Estado se complementam. “O Direito emana do Estado e este é uma instituição jurídica.” (NADER, 200, p. 125). Observa-se, que o Estado é “a um só tempo, a fonte irradiadora de Direito e ente garantidor de sua efetiva observância, mediante meios coercitivos” (FILOMENO, 2003, p. 63). Cabe salientar que a intervenção estatal no Direito não se restringe somente à cons- trução das leis, mas também à aplicação das normas jurídicas a casos concretos, o que seria incumbência do Poder Legislativo e Poder Judiciário. O Direito positivo é estatal, pois demonstra a clara relação entre Estado e Direito. Salienta-se que o Estado não pode ferir os direitos fundamentais e os princípios do Direito, tendo em vista que o Estado visa garantir o bem-estar comum. Portanto, é possível obser- var que de um lado está presente o Direito, garantidor da segurança e da justiça e de outro lado, o Estado, que visa assegurar a paz e o equilíbrio social. Esclarecimento A República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; o pluralismo político. §U – Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de represen- tantes eleitos ou diretamente (BRASIL, 1988). Direito Empresarial e Tributário48 Como é possível observar no art. 1º da Constituição, o Brasil é um Estado de Direito pois possui no seu ordenamento jurídico a limitação do exercício do poder político. Já a definição de Estado Democrático se dá em razão do poder político subordinado à sobera- nia popular. Na designação de Estado Democrático de Direito está subentendido o equilíbrio entre o caráter determinante da vontade popular e a garantia dos direitos ou fatos jurídicos fundamentais aos indivíduos pertencentes àquele Estado. Oart. 1º da Constituição da República de 1988 dispõe que “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Fede- ral, constitui-se em Estado Democrático de Direito.” A respeito desse artigo, Miguel Reale explica: Os que leram a Constituição de 1988, ou tiveram notícia certa dela, sabem que a Assembleia Nacional Constituinte abandonou a tradicional expressão Estado de Direito, optando pela designação Estado Democrático de Direito. Cabe, por conse- guinte, indagar, preliminarmente, da razão pela qual se julgou necessário acrescentar o adjetivo “Democrático” ao termo “Estado de Direito”, consagrado pelas demais cons- tituições. Pela leitura dos Anais da Constituinte infere-se que não foi julgado bastante dizer-se que somente é legítimo o Estado constituído de conformidade com o Direito e atuante na forma do Direito, porquanto se quis deixar bem claro que o Estado deve ter origem e finalidade de acordo com o Direito manifestado livre e originariamente pelo próprio povo, excluída, por exemplo, a hipótese de adesão a uma Constituição outorgada por uma autoridade qualquer, civil ou militar, por mais que ela consagre os princípios democráticos. Poder-se-á acrescentar que, o adjetivo “Democrático” pode também indicar o propósito de passar-se de um Estado de Direito, meramente formal, a um Estado de Direito e de Justiça Social, isto é, instaurado concretamente com base nos valores fundantes da comunidade. “Estado Democrático de Direito”, nessa linha de pensamento, equivaleria, em última análise, a “Estado de Direito e de Justiça Social”. A meu ver, esse é o espírito da Constituição de 1988 (REALE, 1999, p. 115). Importante destacar que para os autores Lênio Streck e José Morais, dentro dos prin- cípios do Estado Democrático de Direito, estão inseridos os Direitos Fundamentais. C – Sistema de direitos fundamentais individuais e coletivos, seja como Estado de distância, porque os direitos fundamentais asseguram ao homem uma autonomia perante os poderes públicos, seja como um Estado antropologicamente amigo, pois respeita a dignidade da pessoa humana e empenha-se na defesa e garantia da liber- dade, da justiça e da solidariedade (STRECK, 2004, p. 93). 49Direito Empresarial e Tributário O rol elencado de direitos fundamentais no artigo 5º, da Constituição Federal, em seus 78 incisos, demandam muito tempo para aprofundamento, mas se destaca aqui que prevê que o acesso à justiça está inserido e evolui de acordo com o progresso do Estado Democrático de Direito. O acesso à justiça é um conceito que acompanha as transformações sociais, sendo um ótimo exemplo de como o Direito influi sobre a sociedade e de como a Socie- dade influi sobre o Direito. A norma que emana do Estado pos- sui o condão de regular e garantir aos indi- víduos uma prestação estatal, nesse caso o acesso à justiça, como algo fundamental e integrante da condição digna do ser humano. Por outro lado, as transformações sociais acabam por proporcionar novas interpretações e aplicações à norma, com o intuito de ade- quá-la à realidade, gerando um fluxo cíclico de ação e reação. Pausa para refletir Podemos dizer que o Estado é uma fonte de Direito? 2.1.3. Estado e Nação É importante esclarecer a distinção entre Estado e Nação. Considera-se que Nação é a união de pessoas que possuem vínculos em comum, sem que seja necessário delimi- tar um território para sua existência. Observa-se que o vínculo que une os indivíduos de uma Nação ultrapassa fronteiras, uma vez que o que o estabelece é o sentimento de seme- lhança, costumes, idioma, origem, dentre outras questões comuns. Parte da doutrina entende que a Nação é composta por três aspectos. O primeiro seria composto por elementos naturais, que englobam a raça, a língua e o território em que os indivíduos vivem. No entanto, salienta-se que a raça não é elemento constitutivo de uma Nação. Um exemplo disso é que o próprio Brasil foi constituído por diversos imigran- tes e raças diferentes. © A le xL M X / / S hu tt er st oc k. Direito Empresarial e Tributário50 O segundo aspecto diz respeito aos elementos históricos e compreende os costumes, a religião e as leis. Esses elementos referem-se a fatores que podem mudar com o passar do tempo, acompanhando as mudanças sociais e intelectuais dos indivíduos. O terceiro aspecto abarca a consciência nacional, isto é, é um elemento psicológico, subjetivo. Este é o elemento principal, pois auxilia na formação do sentimento nacionalista, o chamado patriotismo. Povo Cultura Território Nação Nação Governo Estado Nação O entendimento da doutrina moderna é de que o Estado é uma sociedade e a Nação é uma comunidade. Nesse sentido, observa-se que a sociedade se forma por atos de von- tade das pessoas, com o objetivo de resguardar o bem coletivo. Já a comunidade, por sua vez, surge antes mesmo dos seus integrantes tomarem conhecimento de sua existência. Outra diferença muito relevante para a doutrina moderna, é o fato do Estado vincular seus membros por meio de um ordenamento jurídico. Já a Nação se conecta com seus membros por questões culturais e psicossociais. 2.1.4. Mudanças do Estado por reforma e revolução Inicialmente, destaca-se que as relações sociais, ao longo dos séculos, passam por constantes mudanças em virtude do dinamismo das sociedades. Dessa forma, o Estado, fenômeno singular das sociedades, não é imutável. Considera-se que as mudanças ocorrem, especialmente, no momento em que os objetivos do Estado são reduzidos e não se destinam ao bem-estar da sociedade. Além disso, outro propulsor de mudanças é quando a ordem se torna inadequada, isto é, quando não encaixa com o que a sociedade necessita. Assim, para minimizar os efeitos das mudan- ças, é necessário que as normas sejam adaptadas às mudanças do Estado. Neste sentido, existem, a grosso modo, dois tipos de mudança: a reforma e a revolução. © D TC O M 51Direito Empresarial e Tributário A mudança por reforma (evolução), não representa uma ruptura, e sim, um processo gradativo de alteração de valores, princípios, normas, conceitos, dentre outras alterações que são, aos poucos, inseridas na sociedade. Já a revolução, é uma mudança interruptiva e agressiva, em que há uma quebra total com a ordem existente. Importante destacar que, as revoluções, em sua maioria, ocorrem quando fatores sociais encontram-se fragilizados levando a uma tensão social que pode culminar em uma ação organizada por parte desta coletividade (revolução) ou a uma verda- deira desordem (guerra civil). Pausa para Refletir Na atualidade podemos identificar revoluções sociais que propõe mudanças em seus respec- tivos Estados? 2.2. Estado e Governo Inicialmente cabe destacar a diferença breve entre Estado e Governo antes de prosse- guir com o conteúdo. Entende-se por Estado, a grosso modo, a unidade administrativa de um território que regula e gerencia os anseios da população que habita seu território. Den- tro do Estado existem diversas instituições públicas e o Governo é uma delas. Considera-se Governo a instituição que possui a função de administrar o Estado. No entanto, as formas de governo são diferentes e transitórias. O mesmo Estado pode se desenvolver em razão de uma sequência de regimes políticos que podem se originar a par- tir de governos diferentes ou até de um mesmo governo. 2.2.1. Estado Moderno e Democracia O pensamento moderno do Estado Democrático iniciou-se no século XVIII. É possível apontar como características do Estado Democrático as seguintes questões: a supremacia da vontade do povo; a preservação da liberdade e a igualdade de direitos. A forma com que o povo participa do poder político demonstra o tipo de democracia adotada pelo Estado: Direito Empresarial e Tributário52 a) Democracia Direta: o exercício do poder político advém do povo, que se reúne em assembleia plenária para determinar
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