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Concepções filosóficas sobre o homem - FAE - 1o SEM 2019

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CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS SOBRE O HOMEM 
 
Marcelo José Caetano 
 
 
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Caetano, Marcelo José. 
 Concepções filosóficas sobre o homem/ Marcelo José Caetano - 2019 
 12 p. 
 
 Apostila – roteiro de aula / Curso de Ciências Contábeis Ead (graduação) – 
 PUC Minas Ead 
 
1. Concepções filosófico-antropológicas 2. Homem. I. Título 
 
 
 
 
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As discussões propostas nessa unidade de ensino se referem, primeiramente, às ideias sobre o 
gênero “homo”, considerando as diversas assinaturas que o definem, ou seja, as diversas 
dimensões que o perfazem, principalmente, mas não exclusivamente, o conhecimento, a vontade, 
a sociabilidade, a política e a religião. Em segundo lugar, abordam-se nessa segunda unidade de 
ensino as diversas concepções sobre o homem ao longo da história da filosofia – desde a Grécia 
Antiga até a Era Moderna. Seu intuito é oferecer informações que permitam a reflexão e o debate 
sobre o homem. Além disso, os temas e objetos sugeridos pretendem estimular sobre o que é o 
homem e os lugares em que se insere na sociedade pretérita e no mundo atual. 
 
HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS (OBJETIVOS DA UNIDADE) 
1. Analisar as ideias e imagens apresentadas no roteiro de aula a fim de responder, de forma consistente 
e clara, a questão antropológica fundamental, “O que é o homem?”. 
2. Identificar as concepções filosóficas sobre o homem desde a Grécia Arcaica, caracterizar e diferenciá-
las entre si. 
3. Reconhecer os reflexos das concepções antigas, medieval e moderna sobre o homem nas 
considerações sobre o que é o homem na atualidade. 
 
TEMÁTICAS DA UNIDADE E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Temáticas 
Os temas apresentados na unidade de ensino se referem às diversas concepções filosóficas 
sobre o homem, principalmente como ele foi e é compreendido basicamente como herdeiro de 
uma tradição racional que traduz a dimensão apolínea de sua existência e de um legado 
dionisíaco que o define como ser de desejos. 
REFERÊNCIAS: 
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem, filosofia da cultura. São Paulo: 
Contexto, 2008. p. 50 -53. 
CARLI, Ranieri. Antropologia filosófica. Curitiba: IBPEX, 2009. (capítulos 1, 2 e 3). 
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003. 424 p. 
ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS – UNIDADE DE ENSINO 2 
 
 
 
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METODOLOGIA DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 
1. Leia do roteiro de aula “Concepções Filosóficas sobre o Homem”, disponível no ambiente 
EAD de ensino/aprendizagem; 
2. Leituras complementares dos livros indicados, disponíveis em nossa biblioteca virtual. 
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem, filosofia da cultura. São Paulo: 
Contexto, 2008. p. 50 -53. 
CARLI, Ranieri. Antropologia filosófica. Curitiba: IBPEX, 2009. (capítulos 1, 2 e 3). 
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003. 424 p. 
3. Assista as videoaulas referentes a unidade de ensino: 
• O Animal simbólico 
• Concepções filosóficas sobre o homem. 
• O homem segundo sua excelência. 
4. Estude o material didático suplementar – boletins, filmes e documentários indicados durante 
o semestre letivo. Dentre eles, destacam-se os seguintes: 
▪ “Dancem macacos, dancem” – http://www.youtube.com/watch?v=pH4Rpjljhms – Vídeo criado 
por Ernest Cline (www.ernestcline.com) – Uma abordagem divertida sobre a realidade e o 
pensamento humanos – Versão narrada em português (Brasil) 
▪ “Que és el hombre?” – http://www.youtube.com/watch?v=tbeKQ1UaVxI – parte 1/ 
http://www.youtube.com/watch?v=Zx9DxX9mhbw – parte 2 – nesse vídeo são apresentadas 
algumas ideias sobre o homem através de imagens que ilustram as características que o 
definem e o distinguem dos outros seres vivos. 
4. Assista na palestra de Luiz Felipe PONDÉ (04 de julho de 2008) – O animal em ruínas – “Todas 
as ciências falam do medo: o homem ao tornar-se consciente, ascende à condição de animal que 
conhece, como nenhum outro, sua inviabilidade biológica. Seja no ambiente externo onde se 
move sob a ameaça da lógica implacável do mundo, seja no espaço interno onde habita sua ruína 
(a consciência dessa lógica implacável), não há como não perceber a condenação ao fracasso 
fisiológico final. O medo é sinal de que somos continuamente ameaçados pela falta de sentido da 
vida, pela percepção da deformação final do corpo, pela violência da ciência, pela indiferença do 
http://www.youtube.com/watch?v=pH4Rpjljhms
http://www.youtube.com/watch?v=tbeKQ1UaVxI
http://www.youtube.com/watch?v=Zx9DxX9mhbw
 
 
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universo. Como nossos ancestrais na savana africana, marchamos em direção a um horizonte 
que não parece ter em seus planos nossa felicidade. Como enfrentar o terror cósmico?” – 
disponível em http://www.youtube.com/watch?v=2wxBG1kZIZw. 
 
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 
Os critérios de avaliação adotados à análise e apuração de notas nas atividades dissertativas 
serão os seguintes: 
1. Completude (foi possível compreender a resposta como texto autônomo, sem necessidade 
do enunciado?); 
2. Precisão na resposta (o solicitado no enunciado foi atendido com objetividade na resposta?), 
3. Resposta completa (todas as indagações trazidas pelo comando foram aludidas e 
respondidas?), 
4. Estrutura dissertativa (o texto demonstra introdução, desenvolvimento e conclusão com 
clareza?), 
5. Aspectos gramaticais (ortografia, acentuação, regência, concordâncias e sintaxe). 
 
 
1. O HOMEM COMO ANIMAL SIMBÓLICO 
1.1. O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas ilusões e fantasias a 
respeito delas. (Epicteto) 
 
2. REFLEXÃO SOBRE O HOMEM 
2.1. Na antiguidade da CULTURA OCIDENTAL, a reflexão sobre o homem, provocada pelas 
questões fundamentais sobre a origem, sentido e fim de sua existência, ocupam um lugar 
central nas narrativas míticas, na argumentação filosóficas e na ciência. As respostas as 
indagações levaram a diversas respostas e das respostas emergiram ideias e imagens que 
evidenciaram a singularidade do ser humano e do seu lugar no mundo. 
 
3. O APOLÍNEO E O DIONISÍACO NA CULTURA GREGA ARCAICA 
3.1. A oposição entre o APOLÍNEO e o DIONISÍACO é uma das mais conhecidas expressões da 
condição humana. 
CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS SOBRE O HOMEM 
 
http://www.youtube.com/watch?v=2wxBG1kZIZw
 
 
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3.1.1. APOLO reflete o LADO LUMINOSO da visão grega do homem. É a PRESENÇA 
ORDENADORA do LOGOS (razão) na vida humana, isto é, a claridade do pensar e agir 
razoáveis. 
3.1.2. DIONÍSIO traduz o LADO OBSCURO e TERRENO onde reinam as forças do DESEJO e da 
PAIXÃO. 
3.2. O APOLÍNEO E O DIONISÍACO NO DISCURSO SOCRÁTICO-PLATÔNICO: 
3.2.1. Discurso de Sócrates - em seu discurso, Sócrates apresenta o nascimento de Eros. De 
acordo com o mito, Eros é filho de Póros (riqueza) e de Pênia (pobreza). Por sua filiação, 
o amor ocupa uma posição intermediária: não é feio, nem belo, não participa da bem-
aventurança, característica essencial das divindades. Ele é um ser duplo, herdado da 
diferença entre seus pais, colocando-se numa posição intermediária. É o próprio filósofo, 
colocado entre a ignorância e o saber, como aquele que aspira algo. Por extensão, é a 
aspiração do ser humano ao bem, àquilo que o completa. 
 
4. EXCELÊNCIA (ARETÉ), DESTINO (MOIRA) E A CONCEPÇÃO DE HOMEM 
4.1. Do ponto de vista da vida social e política, a visão grega arcaica do homem é marcada pela 
ideia de EXCELÊNCIA (areté). Inicialmente, concentra-se na excelência guerreira. 
Posteriormente, ela é transferida para o herói fundador da cidade e, finalmente, é transposta 
à figura do filósofo (sophos). 
4.2. A areté se vincula ao conceito de justiça (dikê) e o herói fundador é celebrado como 
legislador. O ethos (lugar) da areté guerreira e política se junta ao ethos laborioso do trabalho 
dos campos, celebrado como escola da virtude o guerreiro, o político e o trabalhador. 
4.3. As linhas que constituem a imagemgrega arcaica do homem se interseccionam e 
convergem no temeroso tema de moira, onde o homem se vê submetido à inexorabilidade 
do destino. 
O HOMEM SEGUNDO SUA EXCELENCIA 
A visão grego-arcaica é marcada pela ideia ou conceito de areté, ou seja, excelência. A areté se concentrou, 
inicialmente, na excelência guerreira, na figura do sábio e, finalmente, na figura do legislador. Nos seus diversos 
desdobramentos ou evoluções a excelência pode ser definida como virtuose, ou seja, como qualidade que implica 
em elevadíssimo nível de competência no desempenho ou realização de uma atividade. 
O conceito de excelência aplicado ao conceito de homem significa, então, pensar o humano segundo suas 
habilidades e competências elevadas à um nível superior. Quem é o herói guerreiro? É aquele que alcançou um 
nível de habilidade superior aos demais guerreiros. O sábio e o legislador, igualmente, são reconhecidos por suas 
qualidades superiores aos demais homens. 
 
 
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Considerando-se o que se afirmou acima, pode-se dizer que o homem, ou melhor, que ser homem significa 
buscar (um) a excelência naquilo que se escolheu. Para alcançá-la deve-se ter como norte diretivo as aptidões 
daqueles que alcançaram um patamar superior no desempenho de suas atividades. Desse modo, o homem, no 
sentido excelente dessa acepção, é aquele cuja vontade se orientou e permitiu um desempenho na direção da 
virtuosidade. 
Nas várias concepções sobre o homem assinalou-se, mas não se deixou claro, a excelência. Dizer, por exemplo, 
que o homem é resultado de uma tensão entre o apolíneo e o dionisíaco não significa afirmar o que é a excelência. 
Fica subentendido, no entanto, que os seres humanos somente alcançarão a excelência quando conseguirem 
equilibrar estes dois polos antitéticos. 
O homem bom é o homem excelente? Podemos dizer que sim, mas é preciso defender esse posicionamento com 
argumentos que demonstrem a bondade como sinônimo de virtuosidade. A compreensão do homem como 
estrutura biopsíquica, conforme Aristóteles, implica em defender que o homem virtuoso, ser de paixões e desejos 
e animal racional e político encontrou o equilíbrio entre os extremos falta e carência, alcançando uma moralidade 
que o define e traduz sua excelência. 
O animal-máquina pensante, segundo a acepção cartesiana, não é excelente senão segundo a sua racionalidade. 
Entretanto, nem mesmo Descartes considera a razão como suficiente para afirmar a excelência dos seres humanos. 
Será o bom uso da razão que tornará isso possível. 
Para Nietzsche, a vontade de potência força capaz de superar uma moral subserviente torna o homem excelente. 
Sendo assim, o equilíbrio razão e emoção deve permitir ao homem ser além do bem e do mal. Enfim, o homem 
bom, o ser humano em sua excelência, é aquele que procura ser o melhor no desempenho de suas ações, nas 
relações que mantém com os seus contemporâneos no âmbito social, político e econômico. 
 
5. CONCEPÇÃO DO HOMEM NO PERÍODO ANTROPOLÓGICO – DIÓGENES E SÓCRATES: 
5.1. Diógenes de Apolônia (Séc. V a.C), nascido entre 440-430 a.C, marca a transição da primeira 
filosofia pré-socrática concentrada no problema da physis e da busca do princípio (arché) 
para o período antropológico. 
5.2. DIÓGENES pensa o homem a partir da PHYSIS (natureza) e na ordem do COSMOS (mundo), 
isto é, conforme a ordem do mundo (macrocosmo) e da cidade (microcosmo). 
5.3. Na visão socrática, só é possível pensar o homem segundo um princípio interior presente em 
cada ser humano (PSYCHÉ – ALMA), ou melhor, conforme uma EXCELÊNCIA (ARETÉ) que 
se encontra em sua alma, fonte de sua grandeza. É na ALMA, afirma SÓCRATES, que reside 
a opção profunda que orienta a vida humana para o justo ou para o injusto e é ela, portanto, 
a essência do ser humano. 
 
6. CONCEPÇÃO SOFISTA: 
 
 
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6.1. Os filósofos sofistas definem o homem como animal racional e, em sua inflexão 
antropológica, o definem segundo a oposição entre convenção (nómos) e natureza (physis), 
conforme uma natureza humana onde se identifica os predicados e as exigências essenciais 
do que se designa humano. 
6.2. O homem é um ser dotado de logos, isto é, de palavra e de discurso e, por isso, é capaz de 
demonstrar e persuadir. s sofistas concebem, ainda, um individualismo relativista 
(formulações céticas sobre a verdade) e um desenvolvimento progressivo da cultura que 
alimentará o pensamento antropológico ao longo de toda a sua história: o homem é um ser 
de necessidade e carência e, em razão disso, procura suprir com a cultura aquilo que lhe é 
negado pela natureza. 
 
7. CONCEPÇÃO PLATÔNICA DE HOMEM 
7.1. A antropologia platônica sintetiza a tradição pré-socrática da relação do homem com o 
kosmos, a tradição sofística do homem como ser de cultura (paidéia) destinando à política e 
a herança socrática do “homem interior” e “alma” (psyché). 
7.2. O homem é, para PLATÃO, a unidade ALMA-CORPO e se ordena pelo movimento profundo 
e essencial da realidade das ideias. 
 
8. ANTROPOLOGIA ARISTOTÉLICA 
8.1. ARISTÓTELES é considerado, e com razão, um dos fundadores da ANTROPOLOGIA como 
ciência, pois foi o primeiro a realizar uma síntese filosófica na sua concepção de homem. 
8.2. Traços da concepção antropológica aristotélica: 
8.2.1. O homem é uma estrutura biopsíquica, ou seja, é um ser composto de ALMA (psyché) e 
CORPO (soma). A alma é a perfeição ou o ato do corpo e sua definição. 
8.2.2. O homem é um animal racional (zoon logikón), pois pertence, por sua essência, ao âmbito 
da physis. Contudo, se distingue dos outros seres da natureza em virtude de sua 
racionalidade. 
8.2.3. O homem é um ser ético-político e, em sua expressão acabada, é essencialmente 
destinado à vida na pólis e, somente nela, pode se realizar como ser racional. Ele é 
anthropos phýsei politikon zoon. 
 
 
 
 
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O HOMEM, UM ANIMAL POLÍTICO1 
Quando Aristóteles proclama que o homem é por natureza um animal político (anthropos physei 
politikon zoon), diz que a exigência da perfeição, a procura do bem melhor, a tendência para a 
realização daquilo que é o seu bem o impelem para a polis. Não diz que o homem se une na polis 
por um bem menor, como aquele que o leva à constituição da família, em nome da satisfação das 
necessidades vitais. Não diz apenas que o homem é um animal social, um animal que tende para a 
constituição de comunidades em geral, porque nem todas as comunidades são políticas. Diz que um 
determinado bem, o impele para uma certa espécie de comunidade, a polis. E que esse determinado 
bem é, precisamente, o bem melhor. O bem que, por natureza, lhe exige, não apenas que viva, mas 
que viva bem. O homem é um animal político, um animal da polis, um animal que tem tendência 
para constituir uma polis, que é a mais perfeita das comunidades e não uma qualquer sociedade. Ele 
podia ser um animal meramente social ou meramente familiar, sem ser um animal político. E por ser 
animal político, não deixa de ser um animal social e familiar, onde, além da base social, há a inevitável 
raiz animal. É que para Aristóteles o homem é um ser complexo: pertence ao mundo terrestre 
(sublunar), mas faz parte do mundo celeste (supralunar). Ele não é um deus nem um bruto, mas tem 
algo de deus e de animal. E a polis está cosmicamente situada na parte superior do mundo sublunar: 
aquele que não tem polis, naturalmente e não por força das circunstâncias, é ou um ser degradado ou 
está acima da humanidade. A razão da distinção do homem face os outros animais está no facto de 
que, ontologicamente, o homem é único animal que possui a palavra. O único animal que razoa, que 
é um animal racional, como dirão os romanos. O único animal comunicacional, como hoje diríamos. 
Assim, em Aristóteles, temos que a voz do homem não se reduz a um conjunto de sons. Não é apenas 
simples voz (phone), não lhe serve apenas para indicar a alegria e a dor, como acontece, aliás, nos 
outros animais, dado que étambém uma forma de poder comunicar um discurso (logos). Graças a 
ela o homem exprime não só o útil e o prejudicial, como também o justo e o injusto. É com base 
nestes pressupostos que Aristóteles proclama: o homem é o único dos animais que possui a palavra. 
Ora, enquanto a voz não serve senão para indicar a alegria e a dor , e pertence, por este motivo, 
também aos outros animais (dado que a respectiva natureza vai até à manifestação das sensações de 
prazer e de dor, e a significá-las uns aos outros), o discurso serve para exprimir o útil e o prejudicial, 
e, por conseguinte, também o justo e o injusto: porque é especificidade do homem, relativamente 
aos outros animais, ser o único que tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e 
doutras noções morais e é a comunidade destes sentimentos que gera a família e polis. Qualquer outra 
leitura deste entendimento aristotélico do conceito de animal político, não nos faria entender o que 
o mesmo autor escreve logo a seguir: a polis é, por natureza anterior à família e a cada um de nós 
considerado individualmente. O todo, com efeito, é necessariamente anterior à parte, dado que o 
 
1 Texto disponível em www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/conceitos_politicos/animal_politico.htm. 
Acesso em 02 de março de 2018. 
http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/conceitos_politicos/animal_politico.htm
 
 
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corpo inteiro, uma vez destruído, faz com que não haja nem pé, nem mão, senão por mera 
homonomia ou no sentido em que se fala de uma mão de pedra: uma mão, deste género, será uma 
mão morta. 
MALTEZ, José Adelino (dir.). Animal político. Disponível em 
http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/conceitos_
politicos/animal_politico.htm. Acesso em 03 de março de 2018. 
 
8.2.4. O homem é um ser de PAIXÃO e DESEJO. A paixão e o desejo intervém decisivamente 
tanto na práxis ética e política como na poíesis (poética, fundamentando o que é o homem. 
 
9. CONCEPÇÃO BÍBLICA DO HOMEM 
9.1. O homem é CARNE (basar) na medida em que se revela a fragilidade de sua existência; 
9.2. O homem é ALMA (nefesh) na medida em que esta compensa a fragilidade de seu corpo; 
9.3. O ser humano é ESPÍRITO (ruah), ou seja, é manifestação superior de vida e de 
conhecimento. O espírito permite ao homem entrar em relação com Deus. 
9.4. O homem é CORAÇÃO (leb), isto é, sede de afetos e paixões e onde se enraizam inteligência 
e vontade, lugar da conversão à Deus, mas também do pecado. 
 
Assim está escrito: "O primeiro homem, Adão, tornou-se um ser vivente"; o último Adão, espírito 
vivificante. Não foi o espiritual que veio antes, mas o natural; depois dele, o espiritual. O primeiro 
homem era do pó da terra; o segundo homem, dos céus. Os que são da terra são semelhantes ao homem 
terreno; os que são dos céus, ao homem celestial. Assim como tivemos a imagem do homem terreno, 
teremos também a imagem do homem celestial. 1 Coríntios 15:45-49 
 
10. CONCEPÇÃO AGOSTINIANA DO HOMEM 
10.1. A VISÃO AGOSTINIANA do homem define o homem como ser uno, isto é, como EPISÓDIO 
CULMINANTE DA CRIAÇÃO de todo universo. Ele é a ENCARNAÇÃO DO VERBO, resultado 
da palavra criadora de Deus. Além disso, é UM SER ITINERANTE, ou seja, transita ao longo 
de duas linhas distintas, mas dialeticamente relacionadas, o itinerário da MENTE e o itinerário 
da VONTADE. Em razão disso, o homem se encaminha conforme a direção do amor que o 
move, isto é, Deus SER-PARA-DEUS /CIDADE DOS HOMENS CIDADE DE DEUS. 
 
A CIDADE DE DEUS 
Para SANTO AGOSTINHO, os homens são entendidos como: 
http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/conceitos_politicos/animal_politico.htm
http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/conceitos_politicos/animal_politico.htm
 
 
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“dois gêneros de sociedade humana, que, [...] podemos chamar de duas cidades. Uma delas é a dos 
homens que querem viver segundo a carne, a outra, a dos que querem viver segundo o espírito, 
cada qual em sua própria paz. E a paz de cada uma delas consiste em ver realizados todos os seus 
desejos2”. 
A “existência dessas duas cidades é uma figuração da escolha livre que os homens fazem na 
aplicação do seu amor. A cidade de Deus e a cidade dos homens são, na verdade, atitudes 
individuais e sociais que eles apresentam na procuras por sua felicidade. 
Dois amores fundaram, pois, duas cidades, as saber: o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a 
terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial. Gloria-se a primeira em si mesma 
e a segundo em Deus, por que àquela busca a glória dos homens e tem esta por máxima a glória a 
Deus, testemunha de sua consciência. Aquela ensoberbece-se em glória e diz a seu Deus: Sois minha 
glória e quem me exalta a cabeça. Naquela, seus príncipes e as nações avassaladas veem-se sob o jugo 
da concupiscência de domínio; nesta, servem em mútua caridade, os governantes, aconselhando, e os 
súditos, obedecendo3. 
[...] 
Santo Agostinho acredita que os homens foram criados para viver em harmonia com o seu Criador 
e que estes buscam incansavelmente a verdade e a felicidade. Tais realizações só serão alcançadas na 
medida em que os homens entrarem em comunhão com Deus, ou seja, individual ou socialmente 
devem render a devida honra ao que realimente merece ser honrado e amado. É fazendo entender a 
origem das escolhas feitas pelos homens que vivem em sociedade, que Agostinho mostra que, “a 
filosofia moral vai se desenvolver como filosofia da história: discernir, sob a multiplicidade dos povos 
e dos acontecimentos, a persistência das duas cidades desde o início do mundo e destacar a lei que 
permite pressagiar um destino para elas”4 
OLIVEIRA, J. Soares. A moral como meio para a felicidade humana em Santo Agostinho. Rio de 
Janeiro: Clube dos autores, 2016. p. 71 – 73. 
 
11. CONCEPÇÃO DO HOMEM NO HUMANISMO 
11.1. A época que ficou conhecida com o nome de RENASCENÇA (século XIV ao XVI) foi 
assinalada por transformações de toda ordem na Europa ocidental, dando origem a uma 
civilização brilhante, com traços que definem nitidamente sua originalidade com relação ao 
período medieval que a precedeu. 
 
2 AGOSTINHO, A cidade de Deus, XIV, 1. 
3 AGOSTINHO, A cidade de Deus, XIV, 28. 
4 GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2010. P. 328. 
 
 
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11.2. O homem na antropologia renascentista: 
11.2.1. Homo universalis emerge das profundas transformações do mundo ocidental que provoca 
uma dilatação dos horizontes estreitos da cristandade geograficamente (ciclo das 
descobertas) e humanamente (encontro com novas culturas e civilizações). 
11.2.2. Prolongamento e ampliação da tradição do anthropos phýsei politikon zoon aristotélico, 
dando-lhe um novo conteúdo, pois nela o esquema mecanicista se estenderá à explicação 
da vida e do homem. 
11.2.3. O corpo humano, segundo a tradição cartesiana, é integrado ao conjunto dos artefatos e 
das máquinas e somente a presença do ESPÍRITO, manifestando-se sobretudo na 
linguagem, separa o homem do animal-máquina. 
 
EX MACHINA 
Os animais e o corpo humano nada mais são do que máquinas, “autômatos”, como os define 
Descartes, ou “máquinas semoventes”, mais ou menos complicadas, semelhantes a “relógios, 
compostos de rodas e molas, que podem contar as horas e medir o tempo”. 
[...] aquilo que chamamos de “vida” é redútivel a uma espécie de entidade material, isto é, a elementos 
sutilíssimos e puríssimos, que, levados do coração ao cérebro por meio do sangue, se difudnem por 
todo corpo e presidem às princiapis funções do organismo. Daí a exaltação da teoria da circulação do 
sangue proposta por Harvey, seu contemporâneo,que publicou seu famoso ensaio sobre o 
movimento do coração em 1627. 
Descartes [...] nega aos organismos qualquer princípio vital autônomo, tanto vegetativo como 
sensório, convencido de que, se eles possuíssem alma, a teriam revelado pela palavra, que “é o único 
sinal e a única prova segura do pensamento oculto e encerrado no corpo. 
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do humanismo a Descartes. São Paulo: 
Paulus, 2004. p. 201. 
 
REFERÊNCIAS: 
CABRAL, Roque (Dir.). Logos - Enciclopédia luso-brasileira de filosofia. Lisboa/São Paulo: Verbo, 
1990. 
CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica. São Paulo: Mestre Jou, 1977. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Moderna, 1999. 
CORETH, E. Que es el hombre? Esquema de uma antropologia filosófica. Barcelona: Herder, 
1976. 
 
 
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LARAIA, Roque de Barros. Cultura Um conceito antropológico. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 1996. p. 54-59. 
MONDIM, Batista. O homem, quem é ele? São Paulo: Paulus, 1980. 
RABUSKE, Edivino. Antropologia filosófica. Petrópolis: Vozes, 1987. p. 136-143 
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do humanismo a Descartes. São Paulo: 
Paulus, 2004. p. 201. 
VAZ, Henrique Cláudio Lima. Antropologia filosófica I. São Paulo: Loyola, 1991. p. 25-57. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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