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8ºAula Política fi scal, monetária, cambial e comercial Em nossa última aula estudaremos o papel das políticas fiscal, monetária e cambial na correção das flutuações do produto em relação ao equilíbrio e na solução dos dois grandes problemas econômicos: a inflação e o desemprego. Boa aula! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, o aluno será capaz de: • Compreender o papel das políticas fiscal, monetária, cambial e comercial no nível de atividade econômica; • Conhecer os instrumentos de política fiscal e monetária e como cada um deles é utilizado para atingir os objetivos macroeconômicos básicos; • Compreender os fatores que determinam a eficácia das políticas fiscal e monetária; • Entender o conceito de taxa de câmbio, valorização e uma desvalorização cambial. Analisar o impacto da valorização e da desvalorização cambial nas importações e exportações do país; • Entender a estrutura do balanço de pagamentos de um país. Economia Aplicada 68 1 – Políticas Fiscal e Monetária 2 – Introdução ao Estudo da Economia Internacional 3 – Políticas Externas do Governo Seções de estudo 1 Políticas Fiscal e Monetária Já foi estudado que os principais objetivos da Política Macroeconômica são: crescimento econômico, alto nível de emprego, estabilidade dos preços e equilíbrio das transações externas. Vimos também que, para atingir tais objetivos, a Política Macroeconômica dispõe de alguns instrumentos ou políticas: política fiscal, política monetária, política cambial e política de rendas. Nesta seção focaremos nossa atenção à atuação das políticas fiscal e monetária na luta da economia em direção ao seu objetivo e, mais ainda, na correção das flutuações da atividade econômica. O Papel das Políticas Fiscal e Monetária no Nível de Atividades 1.1 Política Fiscal Segundo Keynes, a economia tende a ser instável, alterando períodos de recessão e desemprego com períodos de inflação. Porém, ele mesmo acreditava que o mundo não está fadado a arcar com os custos sociais do desemprego e da inflação. A mensagem que ele deixou é que o governo tem a capacidade e a responsabilidade de combater as causas desses problemas. Como vimos, o desemprego é resultado de uma demanda agregada insuficiente, enquanto a inflação é resultante de uma demanda agregada exagerada que se confronta com a oferta de bens e serviços insuficiente, levando ao aumento dos preços. Em caso de recessão ou depressão, o governo poderia tomar certas medidas que proporcionem o aumento da demanda agregada, fazendo com que a quantidade de produto nacional aumente e que as pessoas retornem ao trabalho. Por outro lado, nos períodos de inflação, o governo pode adotar medidas que restrinjam a demanda agregada e assim reduzir a taxa de crescimento dos preços. Para obter os resultados esperados, segundo Keynes, o governo deve fazer uso de políticas fiscais de controle da demanda agregada para assegurar que o país atinja a prosperidade sem inflação. A política fiscal utiliza instrumentos como variação nos gastos do governo e/ou variação nas taxas e impostos para atingir os objetivos macroeconômicos (PINHO; VASCONCELLOS, 2004, p. 334). Este tipo de política pode ser expansionista ou restritiva, dependendo do objetivo da Política Macroeconômica. Agora é a hora de estudarmos em detalhes os efeitos da política fiscal sobre o nível de atividade da economia. 1.1.1 Política fiscal expansionista Se o objetivo da política macroeconômica for um alto crescimento do produto e do emprego, a política fiscal deve ser expansionista. Vejamos, então os efeitos da política fiscal expansionista por duas óticas: aumento dos gastos do governo e redução dos impostos. Ótica do aumento dos gastos públicos A variação nos gastos do governo é um instrumento fiscal muito importante para o aumento da demanda agregada, já que os gastos do governo são um importante componente da demanda agregada, mostrado novamente na equação abaixo. DA = C + I + G + (X – M) O governo pode aumentar seus gastos com investimento no país e desencadear um ciclo de prosperidade. Ele pode contratar trabalhadores para a construção de estradas, para o ensino nas escolas e universidades, para manutenção de ruas e praças etc. Quando os trabalhadores recebem seus pagamentos mais gastos acontecem na economia, já que destinam a maior parte do seu salário em consumo estimulando a produção nas empresas, consequentemente, mais trabalhadores são contratados por elas e estes gastam seus salários em consumo. E o ciclo continua! Ótica da redução nos tributos A variação nos tributos afeta indiretamente, via consumo, a demanda agregada. O consumo é também um componente da demanda agregada, veja novamente a equação. DA = C + I + G + (X – M) Quando ocorre uma queda nos tributos cobrados ao consumidor, a renda disponível aumenta. Renda disponível é o montante da renda total que sobra para os consumidores depois que eles pagam seus impostos. Se este montante é maior, devido à queda nos impostos, então sobrará mais renda que poderá ser destinada ao consumo das famílias. O aumento do consumo e consequente aumento na demanda agregada estimula o crescimento do produto e do emprego. Um corte nos impostos também é uma política fiscal expansionista. A desvantagem de um aumento os gastos do governo e/ ou da redução da arrecadação de tributos do governo é que estas medidas podem levar o orçamento governamental em direção ao déficit, ou seja, a arrecadação do governo pode ser menor que seus gastos e o governo ficará devendo. 1.1.2 Política fiscal restritiva Podem acontecer períodos em que a demanda agregada é muito elevada e o produto agregado não é suficiente para atender toda a demanda. Se isso ocorre, haverá um aumento dos preços e pressões inflacionárias. Nesse caso, o governo poderia entrar com uma política fiscal restritiva, controlando seus próprios gastos ou aumento tributos e trazendo a demanda agregada de volta ao nível de produto o que contribui para eliminar as pressões inflacionárias. Da mesma forma que fizemos acima, analisaremos os efeitos da política fiscal restritiva por duas óticas: redução dos gastos do governo e aumento dos impostos. Ótica da redução dos gastos públicos 69 A redução dos gastos públicos causará uma redução na demanda agregada, pois, como vimos, os gastos públicos são um componente da demanda agregada. Porém, quando o objetivo é controlar a inflação por meio dos gastos públicos, o ideal seria que houvesse redução nos gastos públicos improdutivos, como redução de gastos com folha de pagamento do setor público, por exemplo, em vez de redução dos gastos com investimento, os quais são potenciais geradores de emprego. Ótica do aumento dos tributos Quando ocorre um aumento nos impostos, a renda disponível do consumidor diminui e o consumo também diminui. Consequentemente, a demanda agregada será menor. O desestímulo à demanda agregada irá, portanto, reduzir as pressões inflacionárias. 1.1.3 Variação nos gastos ou variação nos impostos? Como o governo escolhe qual dos instrumentos de política fiscal que irá utilizar para atingir os objetivos da Política Macroeconômica, é uma decisão que envolve uma série de fatores. As necessidades primordiais da sociedade, a aceitação do governo frente aos seus eleitores e, até mesmo, o ano eleitoral são fatores cruciais na tomada de decisões. Sem dúvida, uma variação nos gastos governamentais tem efeito mais poderoso sobre a demanda agregada do que variações nos impostos. Os economistas recomendam, na maioria das vezes, como melhor política fiscal a ser adotada, mexer nos gastos do governo. Porém, desde a década de 60, variação nos tributos tem sido o recurso adotado pelos governantes para controlar a demanda agregada. Existem três razões para que seja adotada uma variação dos impostos como instrumento de política fiscal, são elas: • Um corte nos impostos, para estimular a demanda agregada e a expansão da economia émais bem aceito do que um aumento nos gastos do governo. Isto porque existe certa incerteza em relação à habilidade e honestidade do governo em gastar inteligentemente o dinheiro e também porque existe certo temor em se aumentar cada vez mais a participação do governo na economia, já que vivemos a era do neoliberalismo. • Um corte ou aumento nos impostos pode ser implementado mais rapidamente do que uma mudança nos gastos do governo. Por exemplo, a construção de uma rodovia requer tempo e planejamento para poder ser colocada em prática. • O corte de impostos faz com que a renda do consumidor seja maior, aumentando seu consumo e a utilidade e fazendo com que a aceitação do governo seja melhor. • O corte de impostos permite que as empresas vendam produtos com valores mais baratos, isentos de impostos, atraindo compradores. Compradores e empresas ficarão satisfeitos com o governo, com certeza. Políticas expansionistas são necessárias em períodos de demanda insuficiente e recessão e políticas restritivas são necessárias em períodos de demanda excessiva e inflação. Assim, a política fiscal precisa ser ajustada de tempos em tempos e o lado dos impostos é o mais conveniente. 1.2 Política Monetária Política Monetária e oferta de moeda estão intimamente ligadas. A oferta de moeda é realizada pelas autoridades monetárias (Banco Central) através da emissão de notas e moedas metálicas e é também realizada pelos bancos comerciais que não emitem moeda, mas podem criar ou destruí-la (PINHO & VASCONCELLOS, 2004, p. 350) (como estudamos na Aula 05) retirar. A Política Monetária pode ser expansionista ou restritiva e se refere à necessidade de se aumentar ou reduzir a oferta de moeda e é executada pela Autoridade Monetária do país, ou seja, o Banco Central. O objetivo é que a oferta de moeda seja suficiente para garantir o desenvolvimento da economia, sem excessos nem falta, ou seja, o objetivo é que haja crescimento econômico e alto nível de emprego, mas sem inflação. Para atingir seu objetivo, a política monetária trabalha com alguns instrumentos como, controle da taxa de juros e do crédito, operações de mercado aberto (compra e venda de títulos públicos), política de redesconto, depósitos compulsórios. Cada um deles será estudado a seguir quando analisaremos os efeitos de uma política monetária sobre o nível de atividade econômica. 1.2.1 Política monetária expansionista Em caso de recessão, baixo nível de demanda agregada e de produto e alto nível de desemprego, o Banco Central pode utilizar uma política monetária expansionista para estimular a economia. Cabe ao Banco Central expandir a quantidade de moeda para elevar a demanda agregada e, assim, atingir os objetivos da Política Macroeconômica. Os instrumentos que utiliza para atingir tais objetivos podem ser: • Reservas compulsórias. O Banco Central pode reduzir o percentual dos depósitos compulsórios (ou seja, o percentual dos depósitos à vista que os bancos comerciais são obrigados a deixar guardados no Banco Central), assim, haverá mais dinheiro disponível para os bancos poderem fazer empréstimos ao público. Assim, com mais empréstimos, o público em geral terá mais acesso a moeda, pois a quantidade de moeda em circulação aumenta. Finalmente, o consumo e a demanda agregada serão estimulados, estimulando também a produção, geração de emprego e renda na economia. • Compra de títulos públicos. Se o Banco Central comprar títulos públicos que estão em poder dos cidadãos, estará injetando dinheiro na economia e a quantidade de moeda em circulação aumenta. Assim, o público em geral terá mais acesso a moeda, o consumo e a demanda agregada serão estimulados e o mesmo ocorre com a produção, geração de emprego e renda na economia. • Política de Redesconto. À medida que o Banco Central adota uma política liberal de fornecimento de empréstimos e cobra uma taxa de redesconto baixa, os bancos comerciais também adotam uma política liberal de empréstimos ao público (já que se ficarem com dificuldades de caixa e tiverem que recorrer ao Banco Central, não pagarão Economia Aplicada 70 uma taxa de redesconto elevada). Isso faz com que a oferta de moeda na economia seja maior, o que estimula a economia como um todo. • Redução na taxa de juros. Uma baixa taxa de juros oferecida ao público em geral estimula a demanda por empréstimos ao mesmo tempo em que estimula a demanda agregada e toda a economia. • Facilidades na obtenção de crédito. Desde o início do Plano Real, o público em geral obteve um maior acesso ao crédito, ou seja, maiores facilidades de parcelar suas compras, automóveis, viagens etc. Assim, a maioria das pessoas tem acesso à grande maioria dos bens e serviços oferecidos no mercado. Isso estimulou a demanda e também estimulou muito a produção em todos os setores, gerando mais emprego, renda e demanda. Já foi estudado que os principais objetivos da Política Macroeconômica são: crescimento econômico, alto nível de emprego, estabilidade dos preços e equilíbrio das transações externas. Vimos também que, para atingir tais objetivos, a Política Macroeconômica dispõe de alguns instrumentos ou políticas: política fiscal, política monetária, política cambial e política de rendas. Nesta seção focaremos nossa atenção à atuação das políticas fiscal e monetária na luta da economia em direção ao seu objetivo e, mais ainda, na correção das flutuações da atividade econômica. 1.2.2 Política monetária restritiva Apesar de toda a expansão maravilhosa que uma política monetária ou fiscal expansionista pode causar em uma economia, se o setor produtivo não acompanhar o aumento da demanda agregada, a economia irá se deparar com um excesso de demanda em relação à oferta agregada. Consequentemente, haverá pressões para alta da inflação na economia. Em períodos de inflação, o Banco Central precisa adotar uma política monetária restritiva. Ele utilizará seus instrumentos para reduzir a quantidade de moeda em circulação e desestimular a demanda agregada, pelo menos até que o setor produtivo possa de desenvolver e se ajustar às exigências de um elevado nível de demanda. Os instrumentos de política monetária restritiva podem ser: • Reservas compulsórias. Aumentando o percentual dos depósitos compulsórios, os bancos comerciais terão menos dinheiro disponível para empréstimos. Desestimulando a oferta de empréstimos ao público, os quais respondem reduzindo consumo e a demanda agregada será desestimulada. • Venda de títulos públicos. Se o Banco Central vende títulos públicos aos cidadãos, estará enxugando ou retirando dinheiro da economia e a quantidade de moeda em circulação diminui, diminuindo também o consumo e a demanda agregada. • Política de Redesconto. Uma alta taxa de redesconto faz com que os bancos comerciais adotem uma política restritiva de empréstimos ao público (já que se ficarem com dificuldades de caixa e tiverem que recorrer ao Banco Central, pagarão uma taxa de redesconto elevada). Isso faz com que a oferta de moeda na economia seja menor desestimula a demanda agregada. • Elevação na taxa de juros. Uma alta taxa de juros oferecida ao público em geral desestimula a demanda por empréstimos ao mesmo tempo em que desestimula a demanda agregada. • Restrições à obtenção de crédito. Um menor prazo dos empréstimos e financiamentos, fixação de um limite para rolagem de dívidas de cartão de crédito, adoção de encargos maiores para operações de leasing, são medidas de contenção do crédito com o objetivo de conter o consumo. 1.3 Eficácia das Políticas Fiscal e Monetária A eficácia das políticas fiscal e monetária é um tema bastante discutido entre os defensores de cada uma delas. É correto afirmar que ambas as políticas são de extrema importância e muito eficazes, mas vale a pena estudar os fatores que determinam a escolha da melhor política a ser utilizada. Os economistas avaliam qual política é mais eficaz e qual será a escolhidadependendo da situação em que a economia se encontra. Antes da tomada de decisão eles avaliam a velocidade de implementação de cada uma delas, o grau de intervencionismo na economia, o efeito das variações taxas de juros no nível de investimento e do efeito do multiplicador dos gastos (VASCONCELLOS, 2008, p. 188). Com relação ao primeiro fator, a política monetária é implementada mais rapidamente do que a política fiscal. O Banco Central pode aplicar seus instrumentos de política monetária de imediato, enquanto a decisão do governo de iniciar um novo investimento ou aumentar determinado imposto envolve muito burocracia e tempo. A política fiscal é mais intervencionista que a política monetária. Além disso, a política monetária discrimina menos os setores, as regiões e o público do que a política fiscal. Isso pode ser explicado se comparar os efeitos de um aumento na taxa de juros (política monetária) com um aumento nos gastos do governo (política fiscal). Quanto ao papel das taxas de juros na economia, sabemos que se o Banco Central precisa fazer uma política monetária expansionista, ele pode reduzir a taxa de juros da economia. Se os investidores, ao perceberem a redução dos juros, aumentarem seus investimentos, então, a política monetária terá sido eficaz. Por outro lado, se a maior parte da moeda for parar nas mãos de especuladores, não haverá investimentos, pois os especuladores irão esperar os juros subirem para aplicar seu dinheiro em ativos. Neste caso, a política monetária terá sido ineficaz. Finalmente, quanto maior o efeito do multiplicador keynesiano, maior impacto um aumento dos gastos ou queda nos impostos irá causar na economia. Consequentemente, quanto maior o efeito do multiplicador keynesiano, maior a eficácia da política fiscal. 2 Introdução ao Estudo da Economia Internacional A globalização mundial proporcionou a interligação, tanto 71 termos de troca, nos diz qual o preço de determinado bem em um país em relação ao preço desse mesmo bem em outro país. A taxa de câmbio real também pode ser chamada de termos de troca (MANKIW, 2000, p. 148). Peguemos como exemplo o caso dos automóveis. Suponhamos que um carro produzido nos Estados Unidos custe U$ 10.000,00 (dez mil dólares) e o mesmo carro produzido no Brasil custe R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais). Para comparar o preço dos dois carros devemos converter os dois preços em uma mesma moeda. Se U$ 1,00 (um dólar) vale R$ 2,20 (dois reais e vinte centavos), o carro americano custa em termos de moeda brasileira R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais). Enquanto o carro brasileiro é mais caro, custa R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais). Assim, aos preços vistos, é melhor comprarmos o carro americano em vez do carro brasileiro, pois economizaremos R$ 2.000,00 (dois mil reais). Observe essa relação na forma matemática abaixo. Taxa de Câmbio Real = Taxa Câmbio Nominal × Preço do Carro Americano Preço do Carro Brasileiro 2.3 Valorização e Desvalorização Cambial Vimos que no Brasil, a taxa de câmbio é expressa pela quantidade de moeda nacional que é preciso para se obter uma unidade de moeda estrangeira. Assim, se a taxa de câmbio Real/Dólar diminuir, dizemos que a nossa moeda, o real, se valorizou em relação ao dólar. Analise o seguinte exemplo: a taxa de câmbio Real/Dólar em 29/10/2010 é R$ 1,70 (um real e setenta centavos) e, em 29/05/2010 era R$ 1,82 (um real e oitenta e dois centavos). Perceba que houve uma queda na taxa de câmbio Real/ Dólar no mês de outubro de 2010, se comparada ao seu valor no mês de maio do mesmo ano. Essa queda significa que a nossa moeda valorizou em relação ao dólar comparando os dois períodos, pois em outubro, precisamos de menos reais para comprar um dólar do que precisávamos em maio. Por outro lado, se a taxa de câmbio Real/Dólar aumentar, dizemos que o real desvalorizou em relação ao dólar. Lembremos o caso do Brasil no final do segundo governo FHC em que a taxa de câmbio real/dólar era extremamente elevada. Era necessário aproximadamente R$ 4,00 (quatro reais) para se comprar U$ 1,00 (um dólar). 2.4 Ofertantes e Demandantes de Moeda Estrangeira Os ofertantes de moeda estrangeira, ou divisas, são aqueles que exportam produtos e recebem o pagamento em moeda estrangeira (PINHO & VASCONCELLOS, 2004, p. 461). Como não pode utilizar moeda estrangeira em seu país, terá que trocá-la (ou ofertá-la) por moeda nacional. Do mesmo modo, empresas que pegaram empréstimos em moeda estrangeira, ao receber deverão também trocar o valor emprestado pelo mesmo valor em moeda nacional, para poder realizar suas compras, investimentos ou saldar suas dívidas. Em ambos os casos estamos tratando de ofertantes comercial como financeira, entre os diferentes países e trouxe à tona a importância do estudo da Economia Internacional. Sabemos que um país realiza inúmeras transações econômicas com o resto do mundo. Estas podem ser transações comerciais (envolvendo bens e serviços), como as importações e exportações e as viagens de turismo e também podem ser transações financeiras, como compra de ações de empresas estrangeiras e recebimento de investimentos estrangeiros. Cada país possui sua própria moeda, portanto, para um país poder realizar qualquer transação com o resto do mundo, é preciso que exista uma forma de expressar o valor de sua própria moeda em relação ao valor da moeda do país com quem pretender transacionar. Isto é, deve haver uma forma de converter a moeda de um país na moeda de outro: a taxa de câmbio. Taxa de Câmbio 2.1 Conceito A taxa de câmbio é uma das variáveis mais importantes na Macroeconomia, principalmente, quando se refere ao comércio internacional, quando um país pretende negociar com outro. Por exemplo: se o Brasil pretende comprar trigo dos Estados Unidos é preciso que exista uma medida de conversão do preço do trigo americano (vendido em dólares) para a nossa moeda – o real. Essa medida é a taxa de câmbio. A taxa de câmbio é o preço da moeda estrangeira em termos da moeda nacional (VASCONCELLOS, 2008, p. 202). Suponhamos que com U$ 1,00 (um dólar) seja possível obter R$ 1,70 (um real e setenta centavos) – segundo cotação obtida no site do Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br) em 29/10/2010. Assim, a taxa de câmbio Real/Dólar será R$ 1,70/U$ 1,00 = R$1,70. A taxa de cambio Real/Dólar expressa quantos reais são necessários para comprar U$ 1,00 (um dólar). Sabe-se que o preço do trigo é de U$ 263,00 (duzentos e sessenta e três dólares) a tonelada – conforme cotação obtida no site da Bolsa de Chicago (www.cmegroup.com) em 29/10/2010. Multiplicando o preço do trigo em dólares pela taxa de câmbio – U$ 263,00 multiplicados por R$ 1,70 – o resultado será R$ 447,10 (quatrocentos e quarenta e sete reais e dez centavos). Teremos, então, que o Brasil paga R$ 447,10 por tonelada de trigo que importa dos Estados Unidos. Portanto, a taxa de câmbio é a medida pela qual a moeda de determinado país pode ser convertida ou transformada em moeda de qualquer outro país. Ao conhecermos a taxa de câmbio, podemos relacionar os preços de qualquer produto em diferentes países, o que facilita e possibilita o comércio internacional. 2.2 Taxa de Câmbio Real e Nominal A taxa de câmbio nominal é o preço da moeda de determinado país em relação ao preço da moeda em outro país. No caso brasileiro a taxa de câmbio real/dólar mede quantos reais podemos comprar com apenas um dólar. Quando as pessoas falam em taxa de câmbio, geralmente estão se referindo à taxa de câmbio nominal. A taxa de câmbio real, que também pode ser denominada Economia Aplicada 72 de divisas. Os demandantes de divisas, por outro lado, são os importadores, ou seja, aqueles que compram no exterior as mercadorias e os serviços que necessitam (PINHO & VASCONCELLOS, 2004, p. 461). Os pagamentos deverão ser feitos na moeda do país vendedor. Dessa forma, os importadores irão trocar sua moeda nacional pela moedaestrangeira. 2.5 Equilíbrio no Mercado Cambial Se a taxa de câmbio for muito alta, muitos produtores desejarão exportar seus produtos e a oferta de dólares será muito grande. Lembremos, novamente, o caso do Brasil no final do segundo governo FHC em que a taxa de câmbio real/dólar era extremamente elevada. Era necessário aproximadamente R$ 4,00 (quatro reais) para se comprar U$ 1,00 (um dólar). Dentro desse contexto, pode-se dizer que se tratava de um período em que os produtores desejavam exportar seus produtos, pois receberiam o pagamento em dólar e, ao trocá-los por nossa moeda, obteriam um montante em real consideravelmente alto. Outro exemplo poderá facilitar o entendimento. Se um quilo de café vale U$ 4,00 (quatro dólares), quando a taxa de câmbio é R$ 4,00 (quatro reais), o exportador receberá R$ 16,00 (dezesseis reais) por quilo de café vendido ao exterior. Portanto, desejará exportar mais quando a taxa de câmbio for de R$ 4,00 (quatro reais) do que quando estiver em R$ 2,00 (dois reais). Neste patamar, o exportador receberá apenas R$ 8,00 (oito reais) por quilo de café exportado. Para o caso das importações ocorre o contrário: quando a taxa de câmbio é alta os indivíduos e as empresas desejam importar menos e menor é a demanda por moeda estrangeira. O entendimento desse fenômeno é fácil e rápido se lembrarmos (principalmente os estudantes que residem próximo à fronteira com o Paraguai) que os produtos importados são mais baratos quando o câmbio está baixo. Portanto, as importações são estimuladas e ficam mais caras com o câmbio elevado, o que desestimula as importações. Conclui-se então, que quanto maior a taxa de câmbio, menores são as importações e a demanda por moeda estrangeira. Além disso, maiores serão as exportações e a oferta de moeda estrangeira. Se a taxa de câmbio for muito baixa, ou seja, se o real estiver valorizado em ralação ao dólar, o produto estrangeiro fica mais barato, assim, as importações ficarão estimuladas. Por outro lado, as exportações são desestimuladas. Perceba que a taxa de câmbio funciona como os preços, na teoria da oferta e demanda já vistas nas aulas anteriores. Figura 01: Equilíbrio no Mercado Cambial Finalmente, veja pela figura acima, que o mercado de câmbio estará em equilíbrio quando a taxa de câmbio for igual a P*. Mediante essa taxa de câmbio a quantidade demandada e ofertada de moeda estrangeira é igual. Novamente, voltamos a lembrar do equilíbrio do mercado. 2.6 Balanço de Pagamentos O Balanço de Pagamentos de um país representa o resumo de todas as transações econômicas que os residentes desse país realizam com residentes de outros países do mundo durante determinado período. É por meio do balanço de pagamentos que se analisa a situação econômica internacional do país. O quadro abaixo mostra a estrutura do Balanço de Pagamentos. No Balanço todas as transações que geram um direito ao país constituem um crédito para o mesmo e todo crédito entra com sinal positivo; as exportações, o recebimento de doações e indenizações do exterior e recebimento de empréstimos estrangeiros, por exemplo, representam um crédito. Já as transações que criam um dever ao país entram como débito no BP e os débitos têm sinal negativo, como as importações, o pagamento de doações e indenizações ao exterior, pagamentos de juros ao exterior e de frete. Para iniciar a análise do BP, devemos ter em mente que as transações com o exterior são divididas em duas espécies: transações ou movimentos autônomos e transações ou movimentos compensatórios. As transações autônomas são realizadas normalmente, devido aos interesses dos agentes, elas são os itens A e B do quadro. Os movimentos compensatórios, representados pelo item D acontecem quando não há igualdade entre créditos e débitos das transações autônomas e o governo, portanto, precisa realizar uma série de transações (compensatórias) para equilibrar o BP. O Balanço de Transações Correntes mostra a diferença entre as exportações e as importações de bens e serviços realizadas pelo país. Inclui também o saldo das transferências unilaterais (os donativos) recebidos pelo país ou enviados ao exterior. 73 Se esta conta for negativa ou deficitária, o país precisará contrair empréstimos no exterior (o que aumentará seu endividamento), conseguir que investimentos estrangeiros entrem no país (aumentando sua dependência em relação aos países estrangeiros), ou ainda reduzir as reservas que possui. Quando existe um déficit no Balanço de Transações Correntes existe também Poupança Externa Positiva, significa em termos de produtos e serviços que o país está absorvendo recursos do resto do mundo os quais são destinados ao consumo e investimento. A Conta Movimento de Capitais agrupa as contas que representam os direitos e obrigações dos residentes no país para com os não residentes. Nesta conta estão os investimentos, por exemplo, referentes ao capital de não residentes aplicados dentro do país e os empréstimos recebidos do exterior e concedidos a outros países. A Conta Erros e Omissões entra no BP para corrigir os equívocos que ocorrem no registro das operações do país com o exterior (já que muitas contas são registradas com valores estimados e geralmente não iguala perfeitamente os débitos e os créditos) e também as transações não registradas. Finalmente, a conta Transações Compensatórias surgirá sempre com um valor igual, porém de sinal contrário ao valor obtido pela soma das três contas vistas acima. Dessa forma, se a soma das contas A, B e C for positiva (indicando entrada de recursos) a conta Transações Compensatórias será deficitária. Nessa conta existem três itens, a variação de reservas, as operações de regularização (refere-se aos empréstimos tomados com o FMI, por exemplo) e os atrasados comerciais (refere-se ao não pagamento de algum compromisso). 3 Políticas Externas do Governo O governo pode atuar, intervir e orientar o setor externo do seu país através das chamadas políticas externas. Existem dois tipos de políticas externas: a política cambial e a política comercial. Nesta seção estudarmos os impactos de cada uma delas no comércio internacional, mas também na economia como um todo. Políticas Externas 3.1 Política Cambial A política cambial se refere à atuação do Banco Central no setor externo com o objetivo de alcançar os objetivos da Política Macroeconômica. Para isso, o Banco Central utiliza como instrumento de política cambial, a taxa de câmbio. Os efeitos da política cambial na economia dependem do regime de câmbio adotado pela economia. Os tipos de regime cambiais que analisaremos nesta seção são: o regime de câmbio fixo e o regime de câmbio flutuante (ou flexível). Veremos os efeitos de cada um deles na economia. No regime de câmbio fixo o Banco Central define a taxa de câmbio de sua moeda, ou seja, ele estabelece um valor fixo para a paridade de sua moeda em relação à moeda estrangeira e, a partir daí, fica comprometido a disponibilizar suas reservas estrangeiras aos demandantes de moeda estrangeira sempre que preciso. A desvantagem que existe nesse tipo de regime é que, como o Banco Central é obrigado a disponibilizar suas reservas internacionais sempre que requisitado, se houver um aumento na demanda de moeda estrangeira, as reservas internacionais do país irão diminuir. Consequentemente, para não perder grande parte de suas reservas, o Banco Central é obrigado a elevar muito sua taxa de juros. Os juros altos ajudam a manter as reservas internacionais no próprio país. Perceba que, um aumento dos juros é uma política monetária. Observe também que o Banco Central se vê obrigado a executar a política monetária de acordo com o problema cambial, para evitar o problema da redução das reservas. Isso significa que a política monetária, em um regime de câmbio fixo, acaba tendo que correr atrás da correção do problema cambial em vez de correr atrás dos objetivos da PolíticaMacroeconômica. O Banco Central fixa a taxa de câmbio e disponibiliza suas reservas. Desvantagem: as reservas ficam vulneráveis e a taxa de juros fica dependente do volume de reservas, não determinada pelo Banco Central. No regime de câmbio flutuante, não é o Banco Central quem define a taxa de câmbio, mas sim a oferta e demanda de moeda estrangeira. Assim, o Banco Central não é obrigado a disponibilizar suas reservas estrangeiras e a política monetária poder seguir seus próprios objetivos. O problema neste tipo de regime é que se houver um excesso de demanda por moeda estrangeira em relação a oferta, a moeda estrangeira ficará valorizada em relação a moeda nacional. Consequentemente, o nível de preços dos produtos importados ficará maior, reduzindo a demanda destes e aumentando a demanda de produtos nacionais. Este fato causará pressões de alta nos preços. A taxa de juros é definida no mercado de divisas, pela demanda e oferta de moeda estrangeira. Desvantagem: neste tipo de regime é mais difícil conter as pressões inflacionárias. 3.2 Política comercial A política de comércio com o exterior utiliza alguns instrumentos para atingir os objetivos da Política Macroeconômica. Estes instrumentos são: variações nas tarifas de importações e regulamentação do comércio exterior. Se o objetivo da economia é reduzir a inflação, como ocorreu na implantação do Plano Real em 1994, a política comercial deve estimular a competição entre produtos importados e nacionais. Neste caso, ela pode reduzir tarifas de importações e facilitar as importações. Por outro lado, se o objetivo do governo é proteger a economia, o mercado produtor interno, como ocorreu durante o processo de substituição de importações de 1970. O governo, então, aumentaria as tarifas de importações e adotaria medidas para dificultar a entrada de produtos importados e desestimular a competição. Economia Aplicada 74 Retomando a aula Vamos relembrar o que foi estudado nesta aula? 1 – Políticas Fiscal e Monetária Estudamos as políticas fiscal e monetária, seus objetivos e os instrumentos que utilizam para alcançá-los. Falamos um pouco sobre a eficácia das políticas fiscal e monetária. 2 – Introdução ao estudo da Economia Internacial Estudamos o conceito de taxa de câmbio. Estudamos também quando ocorre uma valorização ou uma desvalorização cambial, bem como os efeitos de cada uma delas sobre as importações e exportações de um país. Vimos também quando ocorre o equilíbrio no mercado cambial. Finalmente, analisamos a estrutura do Balanço de Pagamentos. 3 – Políticas externas do governo Estudamos o papel das políticas cambial e comercial no nível de atividade econômica. VASCONCELLOS, M. A. S. de & LOPES, L. M. Manual de Macroeconomia: básico e intermediário. 2ª edição. São Paulo: editora Atlas, 2000. PINHO, Diva Benevides & VASCONCELLOS, Marco A. Sandoval de. Manual de Economia. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2004. ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 19ª edição. 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