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Unidade2-4-Filosofia-Etica-AVA

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2º Bimestre - Unidade 2.4 
Por que ser Ético?
Filosofia e Ética
 
Analuce Danda Coelho Medeiros e Nicolau Steibel
M488 Medeiros, Analuce Danda Coelho.
 Filosofia e ética [recurso eletrônico] / Analuce Danda Coelho Medeiros,
 Nicolau Steibel. - Curitiba: UTP, 2013.
 180 p.
 ISBN 978-85-7968-045-8
 ISBN 978-85-7968-044-1 - Disponível em: http://ead.utp.edu.br
 1. Filosofia. 2. Ética. 3. Teoria axiológica. I. Medeiros, Analuce Danda 
 Coelho. II. Steibel, Nicolau. III.Título.
CDD – 170.8
Material 
de uso 
didático.
Reitoria 
Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitoria de Planejamento e 
Avaliação 
Afonso Celso Rangel dos Santos
Pró-Reitoria Administrativa 
Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitoria Acadêmica 
Carmen Luiza da Silva
Divisão Acadêmica 
Marlei Gomes da Silva Malinoski
Divisão Pedagógica 
Analuce Barbosa Coelho Medeiros 
Margaret Maria Schroeder
Divisão Tecnológica 
Flávio Taniguchi 
Haydée Silva Guibor
Neilor Pereira Stockler Junior
Projeto Gráfico 
Neilor Pereira Stockler Junior
Editoração Eletrônica
Haydée Silva Guibor
Todos os direitos desta edição reservados à Universidade 
Tuiuti do Paraná.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida 
sem prévia autorização.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” 
Universidade Tuiuti do Paraná 
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NOTAS SOBRE OS AUTORES
Analuce Danda Coelho Medeiros
Possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pela 
Universidade Tuiuti do Paraná (1997), graduação em Direito 
pela Universidade Tuiuti do Paraná (1999) e mestrado em 
Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná 
(2006). Atualmente é professor adjunto da Universidade Tuiuti 
do Paraná. Tem experiência na área de Comunicação, com 
ênfase em Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes 
temas: elaboração de textos, ética, propaganda, legislação do 
radialismo, legislação publicitária e propaganda abusiva.
Nicolau Steibel
Possui graduação em Psicologia Clínica pela Universidade 
Tuiuti do Paraná (1991) e mestrado em Antropologia Social pela 
Universidade Federal de Santa Catarina (1999). Atualmente é 
adjunto da Universidade Tuiuti do Paraná. Tem experiência na área 
de Psicologia, com ênfase em Psicologia Evolucionista, atuando 
principalmente nos seguintes temas: ética, pesquisas científicas, 
antropologia da saúde e psicologia dos relacionamentos 
amorosos.
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Citação Referencial
Destaque
Dica do Professor
Explicação do Professor
Material On-Line
Para Reflexão
ORIENTAÇÃO PARA LEITURA
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APRESENTAÇÃO
Educação a Distância Instrumentalizando e 
Otimizando a Extensão
A educação à distância, EAD tem sido tema da agenda de 
inúmeras organizações (acadêmicas, sociais e políticas), em virtude 
do seu impacto em todas as dimensões do homem moderno. Bem 
mais do que meras discussões em relação à importância, aos 
desafios e a própria história do tema, iniciativas concretas e projetos 
com abrangência internacional, nacional, regional e local estão 
sendo executada. Desta forma a EAD deixa de ser apenas um 
tópico nas discussões para adquirir forma e consistência no cenário 
em foco nem crescimento exponencial.
O crescimento da EAD na extensão se faz mais forte graças 
ao e-learning, o qual conta com o apoio das redes de comunicação, 
em especial, a internet, que está a alavancar, a desenvolver e 
transformar o modelo educacional vigente a desafiar professores, 
técnicos e alunos a desempenharem novos papéis diante das 
necessidades de uma prática pedagógica, a qual se encontra em 
fase de descoberta e de estruturação.
A operacionalização da EAD na extensão tem sido observada 
em todo o mundo em especial no Brasil, principalmente nos cursos 
de Extensão Universitária os quais são voltados, preferencialmente, 
para os acadêmicos de qualquer curso de graduação que queiram 
aprofundar os conhecimentos já adquiridos em sala de aula ou, 
que desejam ampliar seu foco de estudos, possibilitando assim, 
uma aproximação maior com o cenário profissional futuro, além de 
contribuir para aquisição de novos conhecimentos, a EAD na extensão 
pode ser usada pela Instituição para atender percentual exigido pelo 
currículo no tocante a questão Atividade Complementar.
No referente a educação continuada ela visa capacitar 
quadros e atender as exigências do mercado de massa crítica 
qualificada.
Além destes aspectos positivos a EAD aplicada à extensão 
apresenta inúmeras vantagens, entre estas se nomina: o fomento da 
educação continuada, o novo conceito de sala de aula, de professor e 
de aluno, a perspectiva política e social desta modalidade educativa, 
vez que além de democratizar o acesso ao mundo do ensino, 
capacita o trabalhador, permitindo ao mesmo que se mantenha ou 
adentre no mercado de trabalho. 
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Destaca-se ainda, a flexibilidade da legislação no tocante 
à sua execução, vez que pode ser executada,sem o preconizado 
pelas Portarias e Decretos Regulatórios tais como o Decreto 5622, 
e a Portaria 2/2007, editada pelo Ministério da Educação, a qual 
segundo o próprio Secretário e muito restritiva no concemente à 
criação dos pólos e a exigê ncia de avaliações presenciais. 
Estas vantagens talvez sejam responsáveis pela proliferação 
de cursos de extensão na modalidade de educação a distância, 
capacitando recursos humanos, investindo em novas tecnologias 
e pesquisas que, certamente, proporcionarão à comunidade uma 
participação ativa no processo, ocupando oportunidades de trabalho 
e adquirindo condições para formação continuada e aprendizado 
por toda vida.
No entanto, é preciso destacar que, para que os cursos 
de extensão na modalidade EAD tenham o sucesso esperado é 
necessário que a Instituição alie a vontade política à pedagógica, 
ou que implica que a Instituição assegure uma infra-estrutura 
tecnológica, pedagógica e administrativa de qualidade; é necessário 
que haja um bom gestor deste sistema, com competência para 
assegurar que integração do ensino com a pesquisa e com a 
extensão, seja mediada pelas tecnologias de comunicação e de 
informação; é preciso que haja um Planejamento Estratégico que 
unifique os demais tipos de planejamento e garanta a participação 
de todos, bem como um fluxo comunicacional multidirecional de 
qualidade.
A EAD deve oportunizar a reescrita da história institucional e 
a manutenção de sua memória, além de possibilitar o fomento do 
e-learning na instituição, o qual possibilitará por sua vez a abertura 
de novas parcerias com empresas e serviços regionais, nacionais e 
internacionais.
Pelo exposto pode se constatar que a educação a distância 
representa indiscutivelmente um dos temas atuais da sociedade 
globalizada, sendo objeto de interesse da empresa, do Estado e 
alvo de incentivos materiais e financeiros para projetos inovadores, 
os quais por sua vez representam excelentes oportunidades de 
trabalho e aprendizado. 
Pró-Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão
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SUMÁRIO
Unidade 2.4
POR QUE SER ÉTICO?
INTRODUÇÃO AO ESTUDO ........................................................
OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................
PROBLEMATIZAÇÃO ...................................................................
CONCEITUAÇÃO DO TEMA ........................................................
Ética Prática ..................................................................................
Responsabilidade Ética .................................................................
Determinismo e Liberdade ............................................................
Igualdade na Ética ........................................................................
Qual a Necessidade de Estudarmos Ética? ..................................
Por Que Devemos Agir Eticamente?.............................................
SISTEMATIZANDO .......................................................................REFERÊNCIAS .............................................................................
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO 
Neste capítulo, será finalizada a disciplina de Filosofia e 
Ética, sem entretanto ter-se a pretensão de esgotar o assunto, 
será abordado o por quê é necessário ser uma pessoa ética. 
Ainda, por que estudar Ética na graduação? Pretende-se levar o 
acadêmico à reflexão de seus atos presentes e futuros, a fim de 
poderem trilhar seus caminhos de acordo com sua própria ética 
e, quem sabe, alcançarem a felicidade.
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OBJETIVOS DO ESTUDO
Conduzir o leitor à reflexão, a partir de conceitos como 
liberdade e determinismo, da importância do pensar e repensar 
suas atitudes a fim de perseguir uma Ética verdadeira.
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PROBLEMATIZAÇÃO
É possível encontrar a felicidade através da Ética?
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CONCEITUAÇÃO DO TEMA 
Ética Prática
Nessa última unidade do curso, é preciso ampliarmos 
o conceito de Ética estudado na primeira unidade, pois a 
ética não tem como tarefa apenas o esclarecimento e a 
fundamentação do fenômeno da moralidade, mas também 
a aplicação de suas descobertas aos diferentes âmbitos da 
vida social e pessoal. E, nos tempos atuais, o conhecimento 
que precisamos para decidir o que pode ser o melhor para 
o maior número de pessoas de todo o planeta, só pode ser 
conseguido através de um exaustivo estudo interdisciplinar. 
Precisamos aprender com os especialistas de cada área quais 
os princípios e valores que devem ser aplicados nos diferentes 
contextos.
Sempre que precisarmos tomar uma decisão ética, além 
de sermos livres e conscientes (pelo menos num certo grau), 
deveremos usar nossa razão para fazermos a melhor escolha 
de ação num determinado espaço/tempo (num determinado 
local e época), e com isso nos responsabilizarmos pela nossa 
tomada de decisão. Isso já explica porque a Ética Prática não 
pode ser feita por outros (além de nós mesmo) ou estar escrita 
(como normas a serem seguidas) para que as consultemos. 
Somos nós que devemos nos tornar livres para então 
assumirmos a responsabilidade sobre nossas escolhas, sobre 
a melhor forma de tomar uma decisão de como agir frente 
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a uma escolha que envolva outro ser. O que não significa 
que também não deva me responsabilizar pelas ações que 
envolvam apenas a mim.
O “fazer ética” também implica em tomarmos algumas 
decisões, como por exemplo, escolhermos que tipo de ética 
praticaremos! Já vimos que a ética religiosa, mesmo sendo 
eficaz para muitos, não é a mais apropriada para profissionais 
da ciência de uma forma geral. E a ética filosófica? Aquela que 
através do método filosófico deduz o melhor a ser praticado? 
Em 1750, David Hume provou que através do método 
filosófico não é possível fazermos ética, pois não podemos 
deduzir logicamente de algo que “É” (um juízo factual) algo 
que “DEVE SER” (um juízo normativo). Duzentos anos depois 
(1950), Moore reforçou o argumento de Hume com a sua 
famosa “falácia naturalista” que diz que não se pode definir 
uma propriedade não natural (Ética), como o Bom, por meio 
de propriedades naturais (o não ético). Logo, não podemos 
passar logicamente de um “É” para um “DEVE SER”, ou seja, 
é falsa a premissa que diz que, por exemplo: se Pedro é alto e 
Pedro é homem. Logo, todo homem deve ser alto.
Assim, ao aceitarmos que não podemos incorrer na “falácia 
naturalista”, ficamos livres para criar uma ética feita pelos homens 
e para os homens, tirando-a de um mundo factual e colocando-a 
num mundo normativo (como um DEVER), algo artificial, como 
JUIZO FACTUAL registra uma propriedade objetiva 
(algo que lhe pertence naturalmente, sem implicar 
valor) por exemplo: quando dizemos “Pedro é alto” 
ou que a “mesa é grande”, coisas que podem ser 
comprovadas objetivamente.
JUIZO DE VALOR é quando atribui-se ao objeto algo 
que tem valor (algo que não lhe pertence naturalmente) 
por exemplo: quando dizemos “Pedro é justo” ou “a 
mesa é dura”.
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uma forma de regular e melhorar as relações humanas em nosso 
planeta. Pode acontecer que esse comportamento não se verifique 
na realidade e que alguns indivíduos até atuem em contradição 
a eles, mas isso não anula a validade da norma! Por exemplo: os 
comportamentos morais de uma determinada comunidade não 
podem justificar as normas que prescrevem tal comportamento. 
No caso de povos segregacionistas que consideram moralmente 
aceitável que se humilhe e maltrate povos de outras etnias, não 
podem ser aceitos como normas que “devem ser” válidas para o 
ser humano. 
Logo, é bom que o que se deve fazer (no caso, a ética 
prática) não possa ser justificada mediante aquilo que os 
indivíduos realmente fazem. Mas mesmo que a ética não possa 
ser derivada logicamente das mais diversas morais, é necessário 
que a ética as estude, compreenda e analise cada uma dessas 
morais para que possa pensar no que seria bom para todos 
ou, como podemos dizer, pensar numa “moral universal”, que 
já vimos que não existe pois seria a própria ética. Assim, se 
quisermos fazer uma ética prática, é muito importante que nos 
aprofundemos na reflexão sobre a moral, ou na Filosofia Moral, 
vista no capítulo 1.1.
Além disso, é preciso pensar que a ética não é algo absoluto, 
sobre-humano ou atemporal, que existe em si ou por si, mas um 
produto humano que somente existe, vale e se justifica como nexo 
das relações. Podemos dizer que uma escolha ética se justifica se:
a) For inseparável de certa necessidade social, ou seja, se não 
for feita de forma egoísta para mim mesmo ou para certos 
grupos ou indivíduos;
b) Puder ser traduzida em atos concretos, ou seja, que trabalhe com 
“redução de danos” e não fique esperando que passe a existir 
determinadas condições reais para o seu cumprimento;
c) Demonstrar a sua coerência (ou não contrariedade) com respeito 
às demais normas dos Princípios Éticos vigentes, impedindo 
que tomemos decisões arbitrárias ou caprichosas que 
entrariam em contradição com os interesses e necessidades 
da comunidade;
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d) Apoiar-se nos conhecimentos proporcionados por várias 
ciências ou, pelo menos, que não entre em contradição com 
os conhecimentos científicos já aprovados;
e) For um produto humano e, portanto, fizer parte de um processo 
histórico que é ascensional (que tenha um caráter relativo e 
transitório), ou seja, com o passar do tempo, algumas normas 
e/ou princípios desaparecem para sempre e outros subsistem, 
corrigidos ou já com conteúdo mais rico que só tendem a fazer 
parte de uma ética cada vez mais universal. 
Responsabilidade Ética
Como já dissemos na primeira unidade: “não podemos 
dizer aos nossos clientes, enquanto profissionais, que não 
sabemos tudo sobre nossa função”. Claro que a ignorância pode 
nos desobrigar da responsabilidade, mas só se não tivermos a 
obrigação de conhecer. Por exemplo: quando tiro uma carteira 
de motorista tenho obrigação de saber tudo sobre como dirigir. 
Se numa curva fechada, numa serra com nevoeiro não vejo um 
caminhão parado, sem os farois acesos ou com a sinalização 
obrigatória para esses casos, e bato na sua traseira: sou 
responsável por isso. Não porque bati na traseira do caminhão 
apenas, como a maioria dos motoristas acreditam, mas porque 
numa condição dessas (serra e nevoeiro), eu deveria saber que 
Devemos fazer ética real, sem considerar aético 
certos comportamentos que, no presente momento, 
é o máximo que conseguimos fazer. Por exemplo: o 
ideal seria que não houvesse guerras, mas se um 
país precisar entrar em guerra com outro, o ideal é 
que os soldados inimigos fossem mantidos presos 
até o final do conflito, mas... se o país que prendeu 
estes soldados não tiver alimento suficiente nem para 
o seu povo, teremos de aceitar que estes soldados 
sejam mortos, mas nesse caso com uma morte rápida 
e digna, e assim por diante. Isso significa visarmos 
a solução mais ética, mas mesmo sem condições 
reais para o ideal, termos de aceitar, enquanto não 
há condições reais, o que chamamos de “reduçãode 
danos”.
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o correto é andar numa velocidade tão baixa (caso não queira 
ou não possa, esperar o nevoeiro passar) que deveria poder 
frear e evitar a colisão, pois em vez deste acidente que culminou 
apenas em danos materiais, eu poderia ter atropelado uma 
pessoa ou um animal. Da mesma forma que, ao possuir uma 
carteira de motorista assumo toda a responsabilidade que este 
documento me concede, ao receber meu diploma de formatura, 
também não poderei alegar que “eu não sabia que...”, pois 
depois de formados, somos responsáveis por não saber o 
que devíamos saber.
Determinismo e Liberdade
Para que uma pessoa legitime os valores que possui é 
preciso que, além de pautar sua conduta por eles, faça-o sem 
controle externo, ou seja, que seja livre para exprimir este valor. 
É preciso que não haja coação externa e nem interna.
Coação externa: é quando alguém ou algo nos obriga a agir 
sem que tenhamos escolha sobre nosso ato, como é o caso, 
por exemplo, quando alguém nos obriga a agir com uma arma 
apontada para a nossa cabeça (coação consciente do outro), 
ou quando dirigindo, desvia mos de uma pessoa para não 
atropelá-la e terminamos matando outra (coação por objeto).
Coação interna: é quando agimos por impulsos, motivações, 
desejos e paixões, ou seja, quando somos tomados por ideias 
que são mais forte que nossas vontades como, por exemplo, 
tomados pela raiva, ou mesmo sob o efeito de uma neurose 
grave (por exemplo, um cleptomaníaco que precisa furtar 
algo, mesmo que não tenha valor), terminamos prejudicando 
alguém sem qualquer motivo válido. 
Assim, a responsabilidade sobre a nossa conduta exige 
que nosso comportamento possua um caráter consciente 
(mesmo não sendo fruto de uma consciência total, não podemos 
ignorar as consequências nem circunstâncias de nossos atos) e 
que sejamos livres de coações (externas e internas) ou, então, a 
possibilidade de resistir-lhes em maior ou menor grau e, assim, 
tenhamos a possibilidade de decidir e agir, vencendo estas 
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coações. Dessa maneira, podemos pressupor a existência de 
uma liberdade, ainda que relativa.
Por que falamos de uma liberdade relativa? Porque, 
diferentemente da forma como gostamos de pensar, ou seja, que 
somos pessoas totalmente livres, nós vivemos num mundo de 
relações de causa e efeito. Queiramos ou não estamos presos 
a uma “cadeia causal”, onde a maioria dos comportamentos 
que temos são frutos de inúmeros fatores sobre os quais não 
tivemos escolhas. Por exemplo: somos frutos de nossos genes, 
da classe social onde nascemos/vivemos, do tipo de educação 
parental que recebemos, do grupo com o qual somos obrigados 
a conviver, etc... Em resumo, todo ato é efeito de uma causa, 
pois não escolho totalmente meus comportamentos, mas um 
conjunto de circunstâncias o escolhe por mim. Entretanto, se 
não enfrentarmos a problemática da liberdade de vontade 
sobre nossos atos, não poderemos falar de comportamentos 
éticos. Isto é: se não houver liberdade de escolha ou se formos 
totalmente livres (no sentido de que qualquer ato seja viável), 
não haverá responsabilidade e, logo, não podemos falar de um 
comportamento ético. 
Sendo assim, precisamos entender a liberdade como a 
dialética entre liberdade e necessidade. E, para isso, convém 
conhecermos as duas correntes opostas sobre a ideia de 
liberdade: os deterministas absolutos e os libertaristas.
Deterministas absolutos: apregoam que a escolha livre é 
ilusão, pois todos os nossos atos são causados, mesmo 
que muitas vezes estas causas não sejam conscientes. Se 
aceitarmos esta corrente de pensamento que apregoa que 
não há liberdade humana, não haverá responsabilidade e, 
logo, não haverá ética.
Libertaristas: embora admitam que o homem esteja sujeito a 
uma determinação causal (por ser parte da natureza e viver 
em sociedade), acreditam que exista nos comportamentos 
morais uma total liberdade, apesar da determinação dos 
fatores causais. Por exemplo: imaginemos que eu trabalho há 
bastante tempo numa fábrica e estou prestes a me aposentar 
e, num determinado momento, devo tomar a decisão de aderir, 
ou não, a uma greve que está por acontecer. Nesse momento, 
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além de meu caráter e minhas convicções sobre o ato de fazer 
greves, também devo avaliar se isso não comprometerá minha 
aposentadoria, se minha família terá recursos suficientes para 
suportar uma greve que não se sabe quando terminará, etc...
Analisando o exemplo da grave segundo a visão dos 
deterministas, por mais que eu pondere, pense e faça escolhas, 
serão as circunstâncias que decidirão por mim. Já para os 
libertaristas é possível que eu seja capaz, nesse específico 
momento de, através do uso de minha racionalidade, ser livre 
para fazer tal escolha. Não que eu termine com a “cadeia 
causal”, mas que com esta minha decisão, eu poderei me inserir 
na cadeia como um ato de vontade própria e, a partir daí, esta 
decisão se torne causa dos comportamentos posteriores. Ou 
seja, acreditam os libertaristas que eu possa ser causa de mim 
mesmo! A dialética, ou seja, se pensarmos que ambos estão 
certos, poderemos ter “um pouquinho” de cada uma dessas 
ideias e chegarmos a conclusão de que só podemos ser livres 
pelo fato de sermos determinados! (Vázquéz, 1999)
Dois pensadores (entre inúmeros) que contribuíram para 
superarmos a antítese entre liberdade e determinismo causal 
foram Spinoza e Hegel. Para Spinoza, o homem está sujeito às 
leis da necessidade universal (paixão, afeto, impulsos, etc...), 
mas quanto mais estiver consciente dessas necessidades, 
mais poderá ser livre. Ou seja, ser livre é sujeitarmo-nos às 
necessidades e então agir. Por exemplo: naquela bastante 
conhecida parábola em que um escorpião pede a um sapo que 
o atravesse de um lado para o outro de uma lagoa, afirmando 
que não o mataria no trajeto, pois se fizesse isso, morreria junto. 
Vocês devem estar lembrados que o sapo se convence da lógica 
do escorpião e aceita carregá-lo nas costas até a outra margem 
da lagoa. No meio do trajeto o escorpião enfia seu ferrão mortal 
nas costas do sapo e, antes que ambos morram, ele explica ao 
sapo: desculpa, mas não pude evitar, é de minha natureza! 
Spinoza, sobre esse caso, certamente diria que se o 
escorpião conhecesse suas necessidades (o fato de que não 
comanda a quem irá matar) poderia ter pedido carona, talvez, 
a uma tartaruga, pois sua casca dura impediria que a esta fosse 
atingida pelo veneno e, mesmo o escorpião agindo conforme sua 
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natureza, ambos continuariam vivos. Já Hegel, vai um pouco 
além de Spinoza ao afirmar que, mais livres seremos se, além de 
conhecermos nossas necessidades, pudermos compreendê-las. 
Liberdade, para ele, é a necessidade compreendida. No caso do 
exemplo do escorpião, ele poderia ser livre (e manter-se vivo) 
quanto mais compreendesse sua natureza assassina. Dessa 
forma, ambos dão um passo a frente de Aristóteles que dizia que 
liberdade é autodeterminação e assumem que se não somos 
livres para escolher ou deliberar sobre o que queremos, podemos 
ser livres para agir ou fazer alguma coisa em conformidade com 
a nossa natureza.
Nos dias de hoje, sabemos que nosso cérebro decide por 
nós sempre que tivermos que escolher entre as opções “A” e 
“B”, baseando-se em causas passadas. Mas também sabemos 
que em vez de escolher entre duas ou três opções, podemos 
criar inúmeras outras opções antes de tomarmos uma decisão 
para agir. Nesse caso, nosso cérebro abre mão de sua escolha 
automática e, através da razão, podemos fazer existir o que não 
existia, ou seja, estaremos livres para escolher como devemos 
agir sem sermos determinados, pois estaremos criando, como já 
dissemos, outras opções que não existiriam se não usássemos a 
nossa razão para criá-las. Por exemplo, se tivermos de escolher 
entre casar e comprar uma bicicleta podemos criar as opções de 
comprar uma moto, um carro ou então ficar namorando, morar 
junto, etc. E nada impede que, depois desse exercício, nosso 
cérebro nos liberte para escolhermos uma das duasopções 
iniciais, como casar, por exemplo.
Porém é preciso deixar claro que é um mito acharmos 
que se estamos agindo racionalmente, também estamos agindo 
eticamente, pois David Hume já nos alertava que na esfera da 
ação, a razão só se aplica aos meios e não aos fins que são dados 
por nossa vontade e desejo. A ética prática nos torna responsável 
pelo que fizermos e também sobre o que nos propusemos a fazer, 
mas o que realmente importa, sem dúvida, são os resultados de 
nossas ações e não os motivos que nos levaram a praticá-las.
Igualdade na Ética
Já deixamos bem claro, desde a primeira unidade 
que, enquanto a moral preocupa-se em indicar os melhores 
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comportamentos para uma comunidade (cultura) dada, a ética 
deverá preocupar-se com o melhor para todos os seres do 
planeta. Mas você já deve ter se perguntado: como é possível 
algo ser bom para todos? E como pensar que, se não for bom 
para todos pode ser qualquer coisa, menos ética? Faz-se mister, 
para isso, compreender o conceito de igualdade, bem como suas 
complicações para que possamos ter uma ética prática.
O princípio de que todos os seres humanos são iguais 
“hoje faz parte da ortodoxia ética-política predominante”. Mas 
convém lembrar que, é obvio que isso é apenas um princípio 
ético básico e não uma assertiva factual. Sabemos que os seres 
humanos são únicos e por isso mesmo diferem entre si em tantas 
características que somente podemos pensar em igualá-los se 
levarmos em conta suas considerações básicas de interesses, 
ou seja, se refletirmos sobre os interesses considerados 
apenas interesses e não como meus interesses ou dos meus 
vizinhos ou dos chineses. Um interesse é um interesse, seja 
lá de quem for esse interesse. Aceitarmos que a dor de uma 
pessoa de determinada idade, gênero ou idade, por exemplo, 
é mais relevante que a dor de qualquer um, seria o mesmo que 
determinar essa escolha no fato das pessoas terem nascido num 
ano bissexto ou pelo fato de seu sobrenome ter mais consoantes. 
Logo, o princípio de igual consideração de interesses – “como 
o interesse em evitar a dor, desenvolver as próprias aptidões, 
satisfazer as necessidades básicas de alimento e abrigo, manter 
relações amigáveis e amorosas com os outros e ser livre para 
realizar projetos sem a desnecessária interferência alheia” – é o 
que nos iguala em termos de ética prática. (SINGER, 1998). 
Assim, desde que não infrinjamos nenhum desses 
interesses básicos do ser humano, estaremos fazendo uma ética 
universal (para todos). 
Qual a Necessidade de Estudarmos Ética?
Pode-se dizer que a necessidade dos alunos que estão 
lendo esta unidade é a de serem preparados para o agir 
profissionalmente com ética. Mas isso não esgota a resposta, 
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pois querendo ou não, se adentrarmos no campo da ética 
profissional também estaremos entrando no campo da ética 
pessoal, pois nosso cérebro não permite que eu seja “meio-ético” 
ou “levemente-ético”. Não podemos dizer, com convicção, que 
“não sabíamos” sobre algo que “já sabemos”, sobre algo que 
aprendemos.
Assim, a ética não deveria ser ensinada apenas para 
futuros profissionais e sim para todos os jovens que busquem 
uma vida plena numa democracia moderna e pluralista, como a 
nossa. Nossa sociedade preocupa-se muito em capacitar nossos 
jovens com habilidades técnicas (todo tipo de conhecimentos 
instrumentais para “podermos vencer na vida”, como idiomas, 
cálculos, cursos, etc.) e habilidades sociais (a capacidade de 
criar relações lucrativas com pessoas mais bem situadas e que 
possam vir a nos ajudar a prosperar sem excessivas dificuldades). 
É impossível termos uma sociedade que se quer democrática 
contando apenas com indivíduos técnicos e socialmente 
capacitados, pois esta sociedade precisa também fundamentar-
se em valores como a autonomia e a solidariedade, se não 
quisermos construir um modelo de pessoa que busque apenas 
seu próprio bem-estar. (Cortina & Martínez, 2001)
Uma democracia moderna precisa construir bons 
cidadãos que além da autonomia devem possuir o desejo de 
auto-realização e, para isso, é necessário que estes jovens 
possuam uma educação que os faça responsabilizar-se por 
seus atos e, esta educação, seria a da ética. Enquanto os 
ensinamentos sobre a moral nos são impostos pela nossa 
cultura – e sem eles não seríamos seres sociais – e são externos 
a nós, os ensinamentos sobre a ética nos tornarão livres para 
escolher quais comportamentos elegeremos como virtudes e, 
justamente por sermos livres para escolhê-los, passamos a ter 
responsabilidade sobre eles. Estes ensinamentos fariam com 
que os jovens, sem abrir mão totalmente de seus conceitos e 
princípios morais, possam relativizá-los, visando estendê-los 
para além de sua própria cultura, transformando-os em conceitos 
e princípios universais, em outras palavras: comportamentos 
21
válidos também para a sua comunidade. Essa visão universal os 
capacitará a questionar até mesmo a sua moral, ao ser capaz de 
colocar-se no lugar de qualquer pessoa enquanto tal.
Qual o melhor local para que os jovens aprendam a ser 
autônomos e a exercitar sua racionalidade, além de tornarem-
se verdadeiros cidadãos, que não a escola? É função dos 
professores, além de transmitir a educação em geral, ensinar 
aos seus alunos a educação ética em particular e não só na 
teoria, mas também enquanto exemplo vivo dessa prática. Cabe 
aos professores ajudar seus alunos a praticarem um diálogo 
que mostre uma autêntica argumentação e não uma mera 
negociação. Estes ensinamentos éticos, em resumo, não só 
capacitariam os jovens para “enfrentar a vida”, como também a 
“buscar a felicidade”.
Quando se fala em educação ética na escola, entende-
se que os professores devam também trabalhar o princípio da 
dignidade humana, um dos fundamentos da Constituição brasileira, 
que costuma ser aviltado pelo preconceito e a discriminação. A 
falta de respeito à diversidade, numa sociedade como a nossa, 
além de não respeitar a dignidade humana, sempre resulta em 
conflitos e violência. Em resumo, é preciso que os educadores 
levem os jovens à prática de uma Ética Cívica, por assim dizer, 
ao trabalharem na teoria e na prática com conceitos complexos 
como respeito mútuo, justiça, diálogo, solidariedade, etc., ou seja, 
a fazer com que seus alunos pratiquem e entendam o conceito 
de cidadania. Uma vez praticada a Ética Cívica, é bem provável 
que isso leve os alunos a buscarem uma ética Pessoal, uma ética 
prática. 
Por Que Devemos Agir Eticamente?
É preciso deixar bem claro que a resposta a esta pergunta 
será sempre particular e que, tanto quanto os nossos princípios 
éticos, poderão mudar sempre que houver mudanças no meio 
ambiente e/ou na nossa forma de pensar e raciocinar. Porém 
acreditamos que só estará apto a responder esta pergunta quem 
escolheu livremente seguir o tortuoso caminho do “tornar-se ético”, 
22
pois como já vimos, o “fazer ética” é algo espontâneo e depende 
de nossa vontade. E esta escolha de tornarmo-nos éticos não 
significa que nos tornemos melhores que os outros em muitos 
sentidos, mas que nos tornaremos mais íntegros, no sentido de 
desenvolvermos a capacidade de pensar e agir eticamente nas 
situações importantes tanto para nós mesmos como para com os 
outros. Integridade significa inteireza, honra, justiça, honestidade 
e dignidade. Como conseguiríamos ser totalmente felizes sem 
essas qualidades, sem praticarmos a virtude da integridade ou a 
capacidade de fazermos ética?
Outro motivo que torna pessoal esta resposta é que 
ela não pode facilmente ser explicada, pois carecemos de 
consenso entre os especialistas sobre como um indivíduo chega 
a legitimar determinadas regras de conduta ética e conduzir-
se coerentemente com elas. Para alguns, trata-se de simples 
costume: através do hábito validamos nossas condutas. Outros 
já pensam o contrário ao aceitarem que, justamente por serem 
boas certas condutas, elas deveriam ser praticadas. Mas existem 
muitas outras teorias a respeito, como as que acreditamque os 
determinantes de uma conduta ética seriam frutos de processos 
inconscientes, portanto, ignorados do próprio sujeito e, em geral, 
constituídos durante a infância; ou que todos os seres humanos 
têm inclinações benevolentes ou solidárias que nos levam a uma 
preocupação com bem-estar dos outros; ou ainda, que existe 
uma consciência natural que dá origem a sentimentos de culpa 
sempre que fazemos o que sabemos ser errado.
Embora ainda não haja uma comprovação científica para 
nenhuma destas teorias, preferimos, neste curso, trabalhar 
com a teoria que aposta na ligação entre ética e felicidade, 
afirmando que a benevolência e a solidariedade estão ligadas 
à capacidade de participar de relações amigáveis ou amorosas 
com os outros, e não pode haver felicidade real sem tais relações. 
Assim, apostamos na hipótese de que é a nossa emoção e a 
nossa racionalidade (comum a todos os seres humanos, mesmo 
que em doses completamente distintas) que legitimam nossa 
conduta ética.
23
Para melhor entendermos a diferença entre emoção e 
razão, pelo menos da forma como estes conceitos estão sendo 
vistos neste texto, é preciso que aceitemos que somos seres 
passionais, mas que possuímos uma certa razão (evoluída há 
pouco tempo, se comparada com a emoção que também existe 
nos outros mamíferos). Talvez a metáfora usada pelos antigos 
gregos para explicar a diferença entre emoção e razão, possa 
nos ser útil neste momento: para eles, a emoção era comparada 
com os oceanos onde navegavam os barcos, que seria a razão. 
Não precisaríamos do barco se não existissem mares a serem 
enfrentados. Utilizar-se da razão, seria como pilotar este barco, 
aprendendo sempre como tirar o máximo proveito de nossas 
habilidades para enfrentarmos mares tão ferozes. Muitas vezes, 
o mais sábio dos marinheiros era aquele que sabia a hora de 
recolher seu barco e esperar que o mar voltasse a se acalmar, 
para então navegar com segurança. Por isso mesmo, dizemos 
que fazer uma ética prática é educar a nossa vontade, pela razão, 
visando uma vida feliz. Se quisermos prosseguir com a metáfora, 
teríamos de dizer que fazer ética prática é aprender a pilotar o 
nosso barco, para que navegue com segurança e possamos 
encontrar a felicidade. Da mesma forma que todas as regras 
morais são legitimadas sob a forma de uma obrigação, de um 
imperativo: deve-se fazer tal coisa, não se deve fazer tal coisa, 
também as normas éticas são assim legitimadas. Entretanto, 
enquanto nos obrigamos a seguir uma norma moral por estar 
introjetada em nós, nós mesmos nos obrigamos a seguir uma 
norma ética, já que fomos livres para elegê-la. Estas duas 
normas (tanto a moral quanto a ética) devem apontar para uma 
possibilidade de realização de uma “vida boa”, caso contrário, 
serão ignoradas, pois nossos cérebros nos obrigam a fugir da 
dor.
Embora as condições de bem-estar e os projetos de 
felicidade sejam variados, encontramos pessoas que acreditam 
que o bem-estar só será encontrado após a morte (e aceitam 
até mesmo viver distante dos prazeres materiais), assim como 
encontramos aqueles que acreditam que a felicidade deve 
24
acontecer durante a vida terrena. Mesmo que as formas de 
“desejabilidade”, derivadas do conteúdo interno das pessoas, 
sejam variadas, há um desejo que parece valer para todos e 
estar presente nos mais diversos projetos de felicidade: o auto-
respeito.
A imagem que cada um tem de si está intimamente 
associada a valores, sendo inevitável que cada um procure ter 
imagens boas de si mesmo, ou seja, que se veja como um valor 
positivo. É fato que cada um procura respeitar-se como pessoa 
que merece apreciação e é por isso que o auto-respeito, por 
ser um bem essencial, está intimamente presente nos projetos 
de bem-estar psicológico, sendo parte integrante nos projetos 
de felicidade. Ninguém se sente feliz se não merecer mínima 
admiração, mínimo respeito aos próprios olhos. Como poderíamos 
nos respeitar se desrespeitássemos os outros? Como não buscar 
princípios e normas para agir de forma íntegra? Em resumo, a 
dimensão afetiva da legitimação dos valores e regras éticas que 
podem nos levar à felicidade, passa pela escolha e absorção 
destes valores e regras como valor pessoal que se procura 
resguardar para permanecermos respeitando a nós mesmos.
Da mesma forma que não há legitimação das regras 
éticas sem um investimento afetivo, é também verdade que tal 
legitimação não existe sem a racionalidade, sem o juízo e a 
reflexão sobre valores e regras. Dificilmente os valores e as regras 
serão legítimos se parecerem contraditórios entre si ou ilógicos, 
se não sensibilizarem a inteligência à luz da racionalidade.
Assim como a felicidade não pode ser dada, nem 
emprestada, mas sim conquistada, também a ética feita 
individualmente deverá ser compartilhada, sempre renovada 
e aprimorada, pois uma simples boa vontade pessoal pode 
ter consequências ruins para a coletividade. Sem dúvida, ao 
fazermos uma ética aplicada é muito mais importante usarmos 
nossa inteligência do que nossa boa vontade. Como nos diz Adela 
Cortina e Emilio Martinez: “Trata-se de levar a sério os valores 
de liberdade, igualdade e solidariedade junto com as atitudes de 
tolerância ativa e predisposição ao diálogo” (Cortina & Martínez, 
25
2001). Trata-se de respeitar os seres enquanto únicos e jamais 
“coisificá-los” (transformá-los em coisas ou objetos), pois este ato 
seria a maior violência ética que poderia existir.
Chamamos de “paradoxo do hedonismo” o fato de que 
as pessoas que procuram a felicidade pela felicidade quase 
nunca conseguem encontrá-la, ao passo que outros a encontram 
na busca de objetivos totalmente diversos. Assim, tanto podemos 
encontrar a felicidade colecionando selos, por exemplo, 
quanto buscando viver uma vida íntegra ou buscando realizar 
concomitantemente vários hábitos que nos proporcionem prazer. 
Por que, então, não incluir nesses hábitos a escolha e a vontade 
de agirmos com ética?
26
SISTEMATIZANDO
Ao finalizar o tema, procurou-se levar o leitor à reflexão 
sobre a busca da felicidade através da Ética. 
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