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TUTELA PENAL AOS DELITOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO À LUZ DA LEI MARIA DA PENHA

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FACULDADE PROJEÇÃO
ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE DIREITO
DA TUTELA PENAL AOS DELITOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO À LUZ DA LEI MARIA DA PENHA
BRASÍLIA/DF
2018
 TUTELA PENAL AOS DELITOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO À LUZ DA LEI MARIA DA PENHA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Direito da Escola de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade Projeção como pré-requisito para aprovação do curso de direito.
Área de concentração: DIREITO PENAL/DIREITO PROCESSUAL PENAL.
BRASÍLIA/DF
2018
RESUMO: O trabalho aqui apresentado trata da tutela penal aos delitos de menor potencial ofensivo à luz da Lei Maria da Penha. O objetivo desta pesquisa é analisar o modo como delitos de menor potencial ofensivo são tratados penalmente quando preenchido os requisitos da Lei 11.340/06. A pesquisa se justifica, pois não é rara a dúvida de operadores do direito ao se depararem com delitos dessa natureza, se cabe a Lei Maria da Penha ou se a Lei de Juizado Especial Criminal. Quais aspectos processuais penais da Lei Maria da Penha inovaram na apuração dos delitos de menor potencial ofensivo, praticados no âmbito doméstico e familiar? A metodologia que deu aporte a pesquisa tem como método o indutivo e como técnica a pesquisa bibliográfica e documental. Ao final da pesquisa ficou claro que os institutos despenalizadores da Lei 9.095/99 não podem ser aplicados aos casos de violência doméstica e familiar. Para esses casos, deve ser aplicado o rito da Lei 11.340/06, ainda que para os delitos de menor potencial ofensivo.
Palavras-chave: lei, violência, delito, potencial, ofensivo.
ABSTRACT: The work presented here deals with the criminal protection of offenses of lesser offensive potential under the Maria da Penha Law. The objective of this research is to analyze how offenses of lesser offensive potential are treated criminally when they fulfill the requirements of Law 11.340 / 06. The research is justified, because it is not rare to doubt the operators of the law when faced with crimes of this nature, whether it is the Maria da Penha Law or the Special Criminal Law. Which criminal procedural aspects of the Maria da Penha Law innovated in the investigation of offenses of lesser offensive potential, practiced in the domestic and the family? The methodology that contributed to the research has as a method the inductive and as technique the bibliographical and documentary research. At the end of the research it was clear that the institutes decriminalizing the 9095/99 Law can not be applied to cases of domestic and family violence. For these cases, the rite of Law 11.340 / 06 should be applied, even for offenses of lesser offensive potential.
Keywords: law, violence, crime, potential, offensive.
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO	5
2. DO PANORAMA HISTÓRICO DA LEI MARIA DA PENHA	6
2.1. Do caso concreto Maria da Penha	6
2.2. Da violência contra a mulher por questão de gênero	6
2.3 Dos dados de violência contra a mulher nos últimos anos	7
3. DA LEI MARIA DA PENHA E SEUS ASPECTOS GERAIS	8
3.1 Da violência doméstica e familiar	8
3.2 Dos outros requisitos da Lei	9
4. DA TUTELA PENAL AOS DELITOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO À LUZ DA LEI MARIA DA PENHA	10
4.1 Dos aspectos processuais penais da Lei Maria da Penha	10
4.2 Do inquérito policial	11
4.3 Da ação penal pública incondicionada	12
4.4 Da retratação	13
4.5 Do sursis e da transação penal	14
4.6 Da medida cautelar de prisão	14
5. DA CONCLUSÃO	15
6. REFERÊNCIAS	17
1. INTRODUÇÃO
Desde muito tempo, há repercussão na sociedade sobre a questão da violência doméstica. Em diversos meios midiáticos é falado sobre violência. Em rodas de conversas, também se fala de violência. Porém a violência em âmbito doméstico, a que acontece no lar, é pouco investigada e na comunidade, é pouco divulgada. Foi preciso buscar amparo em um tratado de direitos humanos para serem normatizadas medidas combativas a essa prática histórica. Já foi tema de muitas pesquisas acadêmicas e ainda será.
A criação da Lei 11.340/06 é uma ação para atender uma recomendação internacional e é elogiada por sua proteção a mulher. Traz em seus mecanismos a missão de fortalecer as medidas protetivas para a vítima e reforçar as medidas de repressão contra os agressores. É válido destacar que o agressor em âmbito doméstico, antes da referida lei recebia medidas baseadas na Lei 9.099/95. Ademais tudo aqui tematizado, a vítima também não tinha o atendimento de urgência que a situação pede. 
Malgrado a Lei Maria da Penha tenha alcançado a repercussão social de uma década de vigência, algumas vezes ainda é ouvido que os homens agridem fisicamente as companheiras, lhe causando violência física e psicológica. Devido essas práticas, a companheira passa a ser vítima e necessita de amparo do Estado. 
Ao ser vítima das violências exemplificadas na Lei 11.340/06, a mulher busca auxílio em uma delegacia, ou em outro órgão que forma uma rede de acolhimento e proteção de pessoas nesta condição. Assim, ao buscar proteção em uma delegacia, esta lei estabelece um rito, sem prejuízo daquele estabelecido no Direito Processual Penal. Por isso, a presente pesquisa está ligada diretamente ao Direito Penal e Processual Penal. 
A Lei é considerada multidisciplinar porque apresenta aspectos penais, civis dentre outros. Apesar dessa classificação, traz em seu bojo somente uma tipificação penal recente. As medidas previstas dizem respeito aos atos e procedimentos para o acolhimento da vítima e coibição do agressor. Cabe dizer que a Lei de Juizado Especial também é multidisciplinar e traz referência em casos envolvendo delitos de menor potencial ofensivo. Por esse fato, a Lei Maria da Penha, trouxe em suas bases legais outros parâmetros para atender casos de violência doméstica, inclusive na apuração dos fatos.
A pesquisa acadêmica aqui apresentada trata da Lei número 11.340 de 07 de agosto de 2006, que se popularizou com o nome Lei Maria da Penha. Suas ações estão relacionadas à proteção para a mulher, em situação de vulnerabilidade como parte dos direitos humanos. Até a criação desta Lei, muitas mulheres sofriam violências diversas em casa praticadas por seus próprios familiares, sem muitas perspectivas de mudança. Não tinham sua dignidade de pessoa respeitada. Muitas violências são delitos praticados tidos como de menor potencial ofensivo.
O objetivo desta pesquisa é analisar os aspectos da tutela de delitos de menor potencial ofensivo pela ótica da Lei 11.340/06. Diante da leitura da Lei surge a formulação do seguinte problema: Quais aspectos processuais penais da Lei Maria da Penha inovaram na apuração dos delitos de menor potencial ofensivo, praticados no âmbito doméstico e familiar? Parte-se da premissa de que a Lei Maria da Penha alterou a tutela penal relativa aos delitos considerados de menor potencial ofensivo nesses casos.
A metodologia que deu aporte a esta pesquisa se baseia no método o indutivo e na técnica de pesquisa bibliográfica e documental. Ao final da pesquisa ficou claro que os institutos despenalizadores da Lei 9.095/99 não podem ser aplicados aos casos de violência no âmbito doméstico e familiar. Para esses casos, deve ser aplicado o rito da Lei 11.340/06, ainda que para os delitos de menor potencial ofensivo.
2. DO PANORAMA HISTÓRICO DA LEI MARIA DA PENHA
2.1. Do caso concreto Maria da Penha 
Muitas pessoas já ouviram falar em Maria da Penha. Ela é uma farmacêutica que retrata a vida de muitas mulheres brasileiras que sofrem com situações de recorrentes momentos de agressão em seu lar. Embora muitas mulheres se encontrem na mesma situação que ela, esta mulher se destacou por sua luta e teve seu nome impresso na popularização da Lei em análise neste trabalho. A luta e o sofrimento dessa mulher não se tornaram em vão.
No caso concreto, que aconteceu com ela, por muitos anos seu companheiro a agrediu fisicamente. Chama muito a atenção do leitor o objeto usado, uma arma de fogo, ea trágica consequência. Na ocasião, ela foi alvejada por seu marido, pelas costas. Como consequência de tamanha agressão, a vítima ficou paraplégica, necessitando de uma cadeira de rodas para se locomover. Na segunda vez ele tentou matá-la eletrocutada no chuveiro.
Pela leitura de Campos (2007, p.51) entende-se que após a busca por medidas aqui no Brasil contra o agressor, sem sucesso, a defesa dela foi buscar organismos internacionais que pudessem forçar seu país a ter uma postura para a coibição desse tipo de caso, envolvendo violência no âmbito familiar por razão sexista. A partir de então, o Estado já não poderia mais permitir que ela sofresse agressões pelo simples fato de ser mulher e ser considerada uma pessoa inferior pelo seu marido, sem que o agressor também sofresse alguma punição. 
O caso de Maria da Penha retrata o fenômeno social e a causa relacionada à violência contra a companheira no âmbito do lar. Prodanov (2013, p.27) leciona que “nesse método, partimos da observação de fatos ou fenômenos cujas causas desejamos conhecer. A seguir, procuramos compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles”. Por isso, o tratamento de delitos de pequeno potencial ofensivo da Lei Maria da Penha será comparada a outras medidas trazidas pela Lei de Juizados Criminais Especiais.
2.2. Da violência contra a mulher por questão de gênero 
Na visão de Silveira (2014, p.19) “na temática do gênero, é fundamental assegurarmos a perspectiva de violação de Direitos Humanos, um problema público, portanto, e não “só” privado. Trata-se de produção de subjetividade, ou seja, algo de ordem coletiva, e não individual”. Então seguindo esse raciocínio, a questão de gênero, ou seja, a relação individual entre homem e mulher sai da esfera privada e do lar indo para a comunidade, para a sociedade, para o estado. O artigo 6º da Lei 11.340/06 confirma o que vem sendo dito.
Segundo Branco (2012, p.406) parece provável que formas de violência sempre existiram nas organizações sociais. Note por esse entendimento que a violência acompanha o ser humano em sua trajetória social. A violência por sua vez impede o acesso do violado aos direitos básicos e a sua participação na comunidade. Para a sociedade caminhar rumo ao seu próprio progresso, a mesma, através de suas relações sociais enfrentam a sua violência. De modos mais variados, nessa visão, a sociedade cria mecanismos para seu combate. 
Pela leitura de Cavalcanti (2012, p. 101) se compreende que os mecanismos surgem da participação na sociedade com igualdade e inclusão, sem falar em gênero, que permeia as relações dos sujeitos aqui envolvidos. A violência é um tema que chama muito a atenção das pessoas. Na maioria das situações com o uso de violência, alguém fica machucado e sempre há um que se considera mais forte agride o que naquele momento está em situação de desvantagem. Na relação entre homens e mulheres, essa relação se repete. 
Ao tratar de violência em âmbito familiar, não se faz referência especificamente às mulheres que apanham. Seguindo o raciocínio dos autores supra, em situações nas quais uma companheira ou esposa é agredida, toda a família sai machucada. Pela leitura de Guimarães (2015, p. 257) fica entendido que o tratamento desigual sofrido por mulheres está relacionado ao tipo de sociedade baseada na forma machista e patriarcal. Esse é o liame entre a agressão individual sofrida e a social percebida.
Por esse entendimento, é uma questão de justiça social refletir a Lei e medidas que protejam a mulher e equilibrem as relações no seio do lar. Sem essa reflexão, o agressor não poderá mudar suas práticas, uma vez que mesmo havendo uma estreita relação entre a vítima e o agressor, ele por si, não consegue realizar a mudança de comportamento sem a intervenção do Estado ou da comunidade, visto o processo cultural inserido. 
Ao longo do tempo os homens, que se sentem seres superiores, agem com as mais variadas formas de violências contra suas companheiras e parentes, pelo simples fato de serem mulheres. Fonseca (2012, p. 307) alude essa temática ao dizer que se faz necessário conceber as mulheres vítimas de violência como sujeitos sociais que carregam em si as características culturais do gênero. A violência nesse caso acontece por questão de cultura sexista.
Entende-se pela leitura de Meneghel (2013, p. 692) a existência de relações sem compasso entre si produzem efeitos ao longo das eras dentre as quais, a violência sexista, por incutir nas pessoas uma lógica vertical de convivência. Apesar desse conhecimento, aceitar que as violências praticadas estão relacionadas a essa verticalidade não são aceitas pelas pessoas em suas na práxis cotidiana pelos que formam a seara compositora das normas em seu uso. Por isso, há muito que se estudar ainda sobre essa temática.
2.3 Dos dados de violência contra a mulher nos últimos anos
O DataSenado, instituto de pesquisa do Senado Federal, realiza uma pesquisa sobre violência doméstica desde 2005, de dois em dois anos. A pesquisa é feita por telefone de forma aleatória e por amostragem. As entrevistadas são mulheres com idade acima dos 16 anos, que residam no Brasil. Segundo o próprio instituto, a margem de erro é de 3 pontos percentuais, com margem de confiança de noventa e cinco por cento. A pesquisa de 2017 foi feita com 1.116 mulheres das cinco regiões do Brasil e publicada no site www12.senado.leg.br/institucional/datasenado, do Senado Federal.
Em 2017, último ano da pesquisa, o número de mulheres que afirmaram ter sido vítima de algum tipo de violência subiu de 18% para 29%. Desdobrando a pesquisa, na observação do tipo de violência sofrida, a física teve 67% de incidência. Já a violência psicológica teve 47% de ocorrência. As violências moral e sexual, também apareceram na indicação das pesquisadas. A violência moral aconteceu com 36% das entrevistadas. Já a violência sexual com 15% das entrevistadas.
É importante destacar que todas as formas de violência aumentaram entre a pesquisa de 2015 e a de 2017. Sobre a questão de ter sofrido violência física, houve um aumento de 66% para 67%. A violência psicológica em 2013 era de 38% e subiu para 47% em 2017. Um aumento de 9%. Em 2015, a ocorrência dessa violência foi de 48%.
Quanto à violência moral, houve uma grande oscilação ao longo dos quatro anos passados recentes. Em 2011 era 32% o número de mulheres vítimas. Em 2013, foi de 38%. Em 2015, 32%. Por fim em 2017, o índice das mulheres que declararam ter sido vítimas de violência moral foi de 36%. Observando os dados, nota-se que mesmo com a variação nos índices, a violência moral cresceu ao final do ciclo de 4 anos.
Malgrado a existência da Lei e com o conhecimento sobre a referida, ainda há muito que ser feito pelo poder público, pela sociedade civil e pela comunidade para fazer valer o objetivo de coibir a violência contra a mulher. Nota-se que as pessoas ainda não estão respeitando a dignidade da mulher enquanto pessoa humana. Por sua vez o Estado ainda precisa aprimorar muito as ações relacionadas a esse tipo de violência contra a mulher. 
3. DA LEI MARIA DA PENHA E SEUS ASPECTOS GERAIS
3.1 Da violência doméstica e familiar
A violência contra a mulher não afeta apenas sua saúde física da ofendida, indo muito além. Nesse sentido Fonseca (2012, p. 308,) afirma que “a violência doméstica contra a mulher atinge repercussões em vários aspectos da sua vida, no trabalho, nas relações sociais e na saúde (física e psicológica)”. Por isso, a presente Lei traz como formas de violência em âmbito doméstico e familiar contra a mulher, a física, a psicológica, a sexual, a patrimonial, a moral entre outras.
Entende-se pela leitura do disposto nos cinco incisos do artigo 7° da Lei 11.340/06 que há diversas formas de violência e que o rol ali apresentado é exemplificativo. Note que para a conclusão de que o rol é exemplificativo, foi levada em consideração a parte do artigo onde é mencionada a expressão “entre outras”. O legislador quis deixar claro que embora perceba e elenque cinco formasde violência, há outras além destas, as quais repercutem os aspectos gerais da vida da mulher.
No inciso primeiro, a Lei trata sobre a violência física. O legislador a conceituou como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal. Então em casos onde a conduta do agressor atinge o corpo ou a saúde na dimensão física da agredida, há uma situação flagrante de violência física. 
Por seu turno, o inciso segundo trata de violência psicológica. De acordo com a Lei e sua interpretação, uma conduta praticada pelo agressor que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher é considerada violência psicológica. Não são somente estas condutas que podem prejudicar ou perturbar a mulher em seu desenvolvimento emocional.
Para além dessas, outras condutas praticadas por parte do agressor com ações de ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, também são tipos de violência psicológica. Essas ações têm como objetivo degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação à vítima.
Para os casados que pensam a que a relação matrimonial obriga a mulher a lhe servir em seus prazeres sexuais, o legislador também mencionou a violência sexual, no inciso terceiro. Essa é uma conduta do agressor que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada. Para tanto, o agressor usará de recursos como intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
As condutas que induzam a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, bem como a prostituição enquadram nas mesmas formas de violência. O legislador também trouxe a proteção à reprodução da mulher, descrevendo conduta que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto por meio de coação, chantagem, suborno ou manipulação ou que limite ou o anule seus poderes de escolha a esse respeito.
Dando sequência, o inciso IV do mesmo artigo faz menção à violência patrimonial. Para ficar mais claro, o legislador relacionou qualquer conduta que esteja relacionada com retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos da mulher. Também falou sobre instrumentos de trabalho ou mesmo os destinados a satisfazer suas necessidades, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos.
Por fim, em sua exemplificação o legislador se preocupou em citar a violência moral. Esta está relacionada no inciso quinto do artigo 7º da Lei em estudo. Ficou entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Em outras palavras, essas condutas são agressões que atingem a imagem da ofendida. Tanto em sua imagem para si, quanto perante os demais da sua convivência ou não. 
3.2 Dos outros requisitos da Lei
O preâmbulo da Lei Maria da Penha afirma que a Lei cumpre o preconizado nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal. O referido artigo está no capítulo que trata da família. Assim, a Lei destacada cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Além da Constituição Federal, os objetivos a serem perseguidos seguem a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.
Como vários outros diplomas legais, a Lei em estudo tem requisitos para que uma ação ou omissão seja enquadrada nela e que tenha sua proteção ou seu alcance. Nesse sentido, o legislador trouxe como vítima a mulher, o primeiro requisito, e a descrição de outros requisitos em seu artigo 5º. Em suma, há descrição de âmbitos a serem considerados. Destarte, o primeiro âmbito é o local, o segundo diz respeito ao parentesco e o terceiro, cita os casos de pessoas em relacionamentos de afeto.
Os homens agridem as mulheres por uma questão sexista. Essa questão é construída socialmente, não por forma natural. Nesse sentido, corrobora Santos (2016, p. 215) “a violência de gênero deve ser analisada como algo que reproduz a submissão da mulher em relação ao homem, o que remodela a violência entre os sexos, não sendo fruto da natureza, mas sim de uma demanda existente entre a sociedade, em que o homem obteve domínio sobre as mulheres”. Por causa da vulnerabilidade da mulher, a sociedade deve coibir a violência.
Para coibir, a Lei deve ter em mente qual violência é praticada. Com esse pensamento o artigo 5° traz em seu bojo os requisitos para a configuração de violência doméstica e familiar. Assim, o artigo mencionado inclui tanto a ação quanto a omissão motivadas por questão de gênero. Como resultado da conduta se espera como mudança no mundo físico, morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial contra a vítima. 
Além disso, a violência deve acontecer no âmbito da unidade doméstica. O lar, por assim dizer, é conceituado pela Lei “como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas”. O âmbito unidade doméstica é o requisito espacial, físico. É o local de residência, com os seus frequentadores, contudo nem todos os frequentadores como será visto.
O vizinho que frequenta o espaço familiar não pode ser amparado por essa lei, devido ao tipo de laço. A exceção é aquele que considera e é considerado parente da família ali residente. O artigo 5º desta Lei aduz que a família é a “comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação”.
Outro requisito não menos importante para a configuração da Lei em destaque é a relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida. Não precisa para caracterizar a relação à coabitação. Esse é o artigo que se refere aos namorados ou noivos e similares. São relacionamentos em que aconteça uma intimidade baseada em afeto, típico de algo além de amizade. Este requisito está descrito no artigo 5º, inciso III da Lei. 
Necessariamente, não precisa ser uma relação homossexual para ser enquadrada na lei. Para, além disso, se uma mulher agredir outra mulher, nos moldes dessa Lei, a agressora será enquadrada. Em outras palavras, necessariamente, não precisa ser um homem no polo ativo e uma mulher no polo passivo da ação para que se configure tudo o que se preconiza no artigo 5º da Lei Maria da Penha.
4. DA TUTELA PENAL AOS DELITOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO À LUZ DA LEI MARIA DA PENHA 
4.1 Dos aspectos processuais penais da Lei Maria da Penha
Antes da Constituição de 1988 muitos direitos da mulher não eram garantidos. De acordo com Pasinato (2015, p. 408) “um marco nesse processo foi a Constituição de 1988 com o reconhecimento formal de vários direitos da cidadania para as mulheres”. Para esse autor, apesar de ocorrem avanços, ainda há muito que ser conquistado com relação a participação cidadã da mulher na sociedade com direitos garantidos. Dentre os direitos, está o acesso a justiça. Daí a Lei influenciar procedimentos processuais penais em certos crimes.
Os crimes falados são os considerados de menor potencial ofensivo, como a lesão corporal e os contra a honra, dentre outros tratado anteriormente pela Lei 9.099/95. A leitura de Macdowell (2010, p. 164) leva a entender que a Lei 11.340/06 dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para substituir os Juizados Especiais Criminais. Há outras providências em seu artigo primeiro estabelecem medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. 
A medida ao agressor, de forma puramente penal, não se faz totalmente interventiva, contudo semela a situação de violência também não cessa. Pela leitura de Campos (2015, p. 523) ao referir a esta Lei, fica entendido que a natureza da mesma é híbrida, com referencias penal e civil. Isto porque o legislador pensou em evitar que a vítima precisasse deslocar-se nas instâncias diferentes para o cumprimento da lei, fazendo assim valer o cumprimento das medidas protetivas por ela trazidas.
Cumpre ressaltar que Lei 13.641/2018 acrescentou o artigo 24-A nova tipificação de conduta, convertendo-a em crime. Nos termos da modificação, o descumprimento de medida protetiva de urgência, prevê detenção de 3 meses a 2 anos. Como emblema, por uma rápida leitura do referido diploma legal, se percebe que houve uma majorante na conduta tipificada como lesão corporal, no artigo 129, parágrafo 9° do Código Penal.
A leitura de Pasinato (2015, p. 420) leva a compreender que o operador do direito deve ser capaz de notar que as violências aplicadas vão além do tipo penal atribuído pelo código penal. Sim, é importante notar que as violências com os sujeitos homem e mulher pertencem a um grupo, em que o poder de ser violento é fundamentado por gênero. A implicância desse conhecimento interfere no olhar do problema e na aplicação da lei. Entende-se, por exemplo, que a violência quando física ou sexual não está isolada em si mesma.
A Lei de Violência Doméstica trouxe procedimentos processuais que representam inovações na Lei 9.099/95, com relação aos delitos de menor potencial ofensivo em casos e violência doméstica e familiar. Destacam-se, dentre outras, o tratamento da mulher na delegacia, com o inicio imediato do inquérito policial. 
Outra inovação é a questão da ação para crimes de lesão corporal, entendida nesta Lei como ação pública incondicionada a representação. Também como novidade no ordenamento jurídico, há de ser citada a impossibilidade de benefício como o sursis e a prisão preventiva nela fundamentada para o agressor. 
4.2 Do inquérito policial
Para facilitar o atendimento da mulher, toda a rede com seus operadores precisam saber seu papel de representantes do estado na tutela do bem. Segundo Mendes (2004, p.703) “em outros termos, a aplicação da pena e a determinação de sua medida hão de se louvar pela ideia de necessidade. Daí aceitar-se que tanto as teorias de prevenção geral como as de prevenção especial acabam por ter um papel na definição dos bens tutelados e na medida da pena”. A medida a ser pedida pelo operador da rede dependerá da necessidade da vítima.
Os operadores da rede de atendimento precisam entender que o agressor deve ser punido de acordo com a violência praticada. A pena não pode ser desproporcional ao necessário para a correção da conduta do sujeito e a coibição da conduta. Embora se fale muito em pena, não basta o juiz ter o entendimento da matéria. Os demais operadores de direito precisam estar inteirados da aplicação de medida como forma instrumental de prevenção e coibição de violência.
Cooperando sobre a importância do tema em discussão, fica percebido a partir da leitura proposta por Branco (2012, p.405) que o profissional ao atuar em área de atendimento sobre violência doméstica precisa constantemente passar por treinamento, para entender que a situação de violência domestica é diferente. Essa constância possibilitará a habilidade no profissional de reconhecer elementos possíveis de uma conduta de violência, de medidas de proteção e de qual pena será aplicada ao agressor.
O operador do direito deve ter a noção de que a mulher que sofre a violência longe do olhar da sociedade, nem sempre tem a coragem para denunciar o agressor, necessitando muito mais de proteção. A Lei 9.099/95 em seu artigo 69 traz a possibilidade de a vítima ser ouvida e ter seu relato reduzido a termo circunstanciado, sem abertura de inquérito policial. A Lei 11.340/06, ao contrário orienta a abertura de inquérito e possibilita novas medidas urgentes, conforme seus artigos 10 a 12.
Nesse sentido Dias (2007, p.8) corrobora “agora, de acordo com a nova lei, a vitima será ouvida, sempre estará acompanhada de defensor e receberá proteção não só da autoridade policial, mas da própria justiça que, de forma imediata, deverá adotar medidas protetivas de urgência”. Depreende-se, que a vítima além de ter sua situação apurada poderá receber medidas a seu favor ou contra o agressor. Por esse entendimento, nota que a Lei 11.340/06 age com celeridade, para preservar o bem jurídico tutelado.
4.3 Da ação penal pública incondicionada
Sobre essa matéria, corrobora Meneghel (2013, p. 693) ao afirmar que “a Lei Maria da Penha trouxe a possibilidade de instaurar medidas mais rigorosas em relação aos agressores, não havendo mais a possibilidade de julgamento das violências de gênero como crimes de menor potencial ofensivo e as punições corresponderem a cestas básicas ou serviços comunitários como previa a Lei 9.099/95”. A Lei Maria da Penha modificou a Lei de Juizado Especial sobre o tipo de ação. Mas há operadores do direito em dúvida sobre essa temática.
Recentemente, no ano de 2017, a imprensa comprovou esta afirmativa, ao noticiar que houve uma decisão do ministro do STF Alexandre de Morais a respeito do tema. Na época ele julgou procedente a Reclamação 27342 para anular decisão do VII Juizado de Violência Doméstica e Familiar da Barra da Tijuca/RJ que não recebeu denúncia do Ministério Público contra um homem acusado de agredir sua mulher, enquadrado na suposta prática de vias de fato (artigo 21 da Lei de Contravenções Penais).
Com relação a esse aspecto Rifiotis (2015, p. 265) corrobora ao afirmar que “no sistema de justiça penal, a judicialização implica numa leitura criminalizante e estigmatizada contida na polaridade “vítima-agressor”, introduzindo uma série de obstáculos para a compreensão e intervenção (não penal)”. Torna cristalino o entendimento que o olhar pela justiça do agressor e vítima sem a devida atenção à compreensão do problema, não o combate o delito. Não, a mera criminalização, sem a ação penal certa, apenas obsta o enfrentamento.
Acontece que a justiça estadual pugnou pelo arquivamento de uma ação, ao entender que deveria ser aplicado o rito para a lesão corporal. O ponto crucial da discussão é que pelo artigo 88 da Lei 9.099/95, a agressão não era representada pelo Estado, havia exigência de a vítima ser a autora da ação. Pela Lei 11.340/06, é oportuno dizer que a ação penal ao delito da lesão corporal leve tornou-se pública incondicionada a representação da vítima e impede que autora arrependa-se e retire a queixa-crime contra o agressor, evitando a impunidade para o ato. 
Antes da Lei Maria da Penha o crime de lesão corporal praticado em âmbito doméstico ou envolvendo âmbito familiar dependia de representação da ofendida, conforme a Lei 9095/99. Távora (2017, 265) afirma que “adquiriu relevo jurisprudencial a análise do instituto da representação no crime de lesão corporal de natureza leve à luz da Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006)”. A Lei em voga alterou, portanto, o entendimento de tipo de ação penal, quando envolvendo crime de lesão corporal em âmbito familiar e contra mulher.
Sabidamente, a lesão corporal leve em outros casos é alcançada por ação pública condicionada à representação, conforme a Lei 9.099/95. Sobre essa matéria em 2012 a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4424 e a Ação Direta de Constitucionalidade 19 foram ao julgamento do plenário do Supremo Tribunal Federal, tendo como relator o Ministro Marco Aurélio de Melo.
Após o acompanhamento do plenário prevaleceu a constitucionalidade da Lei Maria da Penha que passou a vedar, nos casos de crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, a aplicação da Lei 9.099/95. A partir de então ficou o entendimento de que o Juizado Especial Criminal não é o competente para julgar esses crimes e que o Ministério Público tem legitimidade para iniciar a ação penal.
4.4 Da retratação
No tocante ao pertence individual ou social Mendes (2004, p. 411) traz valioso ensinamento. Afirma o autor que a vida em comunidadeproporciona a interação entre as pessoas e assim, não permite que o indivíduo dê mais valor ao que é privado. A Lei Maria da Penha, baseada nessa premissa, em sua normativa fortalece interesses públicos em função de interesses da vida privada. Em seu artigo 16, a referida Lei trata de retratação da ofendida com uma proporção mais comunitária, menos individual. 
Essa ação relacionada ao instituto da retratação, o qual era aceito na Lei 9.099/95, em seu artigo 72 representa uma mudança de olhar entre o individual e o coletivo. Segundo Campos (2015, p. 523) “no tocante ao assunto violência doméstica e familiar, a Lei Maria da Penha colaborou muito para o avanço do acesso a justiça por parte da vítima”. Antes o entendimento era de que a violência doméstica não ia além da vida privada ou individual. Esse é um mecanismo que combate as formas de violências relacionadas a questões de gênero. 
Verifica-se nas palavras de Lima (2017, p.158) que a Lei Maria Penha traz o termo renúncia em lugar da palavra retratação. O autor adverte que houve uma troca entre as duas palavras. Segundo o autor “a renúncia acontece quando alguém abre mão de um direito que ainda não fora exercido”. Já a retratação é conceituada como o arrependimento. No mesmo sentido, de esclarecer sobre o emprego desses conceitos, que a representação tem o efeito no momento do registro da ocorrência policial. 
A importância desse instituto pode ser compreendida com o exemplo que segue. Imagine que Tício casado com Astolfa resolva lhe atingir a moral com injúrias. Desse modo a mulher dirige-se a delegacia e faz uma notícia crime contra seu marido. Seu marido e seus filhos a convencem de que ele não irá mais fazer isso. Então ela resolve retirar a queixa contra seu agressor. Para resolver seu problema, ela volta à delegacia e para sua surpresa é informada que não poderá cumprir seu intento.
No caso em tela, a mulher estará usando o instituto da retratação. Como o crime aceitava ação privada, com representação da ofendida para ser processado, ela podia voltar atrás na delegacia para a queixa-crime contra seu marido. A diferença é que o artigo 16 da Lei 11.340/06 afirma que esse instituto somente terá validade em juízo. Para acontecer a retratação, nesse caso, a requerida haverá de ser marcada uma audiência com esse fim. Note que a agredida podia retirar a notícia crime, impedindo o prosseguimento da ação penal.
4.5 Do sursis e da transação penal 
Sobre as penas alternativas a leitura de Capez (2014, p.506) dá o entendimento de que a 11.340/06 por seu artigo 17 proibiu a aplicação de penas alternativas. O artigo proíbe a prestação de cesta básica para a reparação de ato de violência domestica e familiar, bem como a substituição de pena por multa. Na mesma linha de pensamento, a referida Lei não permite as medidas cautelares trazidas pela Lei dos Juizados Especiais. Sabidamente, a Lei 9.099/95 traz a esse instituto em seu artigo 89.
Para Campos (2015, p. 520) “sem dúvida, a criação da Lei Maria da Penha (LMP) representou um avanço enorme na legislação de enfrentamento à violência doméstica e familiar no Brasil”. Essa Lei representou avanço, pois em si, para além da mera criminalização traz formas de contenção e assistência de violência. Notoriamente, a punição com medidas de prisão seriam pouco para enfrentar o problema da violência contra a mulher. 
Outra influência no Processo Penal diz respeito ao sursis em caso de lesão corporal. Segundo Dias (2007, p.108) “Como a pena do crime de lesão corporal qualificado pela violência doméstica e de três meses a três anos o agressor tem direito a suspensão condicional da pena, ao chamado sursis CP, artigo. 77, que voltará a se revestir de importância ímpar nos delitos contra a mulher tutelados pela Lei Maria da Penha”. O sursis colabora para o cometimento de novos delitos, nesses casos.
4.6 Da medida cautelar de prisão
A respeito das medidas protetivas dentre trazidas pela Lei 11.340/06, dentre elas a prisão, Dias (20017, p. 19) afirma que “o juiz não precisa conceder os pedidos do MP ou do ofendido. Deve valer-se de seu entendimento sobre a proteção das vítimas para a concessão das medidas. O juiz pode conceder novas medidas protetivas ou substituí-las por outras”. Fica entendido que o magistrado pode então trazer a prisão para a proteção da vítima. Não se pode negar que outras situações podem levar a prisão, por exemplo, pela desobediência ao juiz.
Ação envolvendo essa temática chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). O STF manifestou-se a respeito da medida da prisão trazida pela Lei 11.340/06, com o julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo, o Are 1000281/DF. O colegiado debruçou sobre a desobediência ao descumprimento das medidas protetivas de urgência, o que ensejou um Recurso Extraordinário (RE). O relator, o ministro Ricardo Lewandowski negou provimento para o reexame do RE em questão, que baseava nos artigos art. 330 do Código Penal (CP) e Lei 11.340/2006. 
Um dos motivos para o improvimento do RE é o fato que a própria Lei traz a prisão como medida, restando a prisão do artigo 330 do CP como subsidiária. A Lei 9.095/99 não traz essa previsão de prisão em flagrante ou preventiva para a proteção da vítima. Com a Lei mais recente, a prisão preventiva nos casos de delitos de pequeno potencial ofensivo é uma das medidas que o juiz pode decretar.
As medidas cautelares trazidas pela Lei Maria da Penha não são aplicadas automaticamente. Capez (2014 p. 505) ensina que “para a concessão das medidas protetivas de urgência, a serem determinadas pelo juiz, devem estar presentes os pressupostos para a concessão das medidas cautelares (perigo da demora e aparência de bom direito)”. Dessa forma, para que o juízo aplique as medidas cautelares torna-se necessário explicitar a real necessidade, com o auxílio de outro operador do direito. 
5. DA CONCLUSÃO
O estudo deste assunto trouxe ao acadêmico a possibilidade de adquirir conceitos jurídicos relacionados aos crimes de menor potencial ofensivo no âmbito da violência doméstica. Antes da Lei 11.340/06, esses crimes eram tratados pela Lei 9.099/95. Contudo a Lei de Juizados Especiais não conseguia coibir a violência contra a mulher no âmbito familiar e doméstico. A vítima chegava à delegacia e sua queixa era ouvida sem abertura de inquérito, a ação não ia à frente, pois a mulher não queria e assim ficava na vida privada.
A violência que até tempos atrás era considerada briga de marido e mulher passou ao longo dos dias a ser temática de interesse público. Segundo Silveira (2014, p.19) “na temática do gênero, é fundamental assegurarmos a perspectiva de violação de Direitos Humanos, um problema público, portanto, e não “só” privado. Trata-se de produção de subjetividade, ou seja, algo de ordem coletiva, e não individual”. Esse entendimento modificou a ação penal de privada para pública, com a ajuda de Maria da Penha.
Pela leitura trazida por Meneghel (2013, p. 692) nota-se que “esse caso, envolvendo a Maria da Penha, não é único e que a cultura sexista, motivadora das agressões é parte da dimensão social”. O caso foi notório, pois a partir de sua situação, o Congresso Nacional se viu obrigado a refletir e criar uma Lei que atendesse aos anseios populares de muitas pessoas que sofriam. Como nos demais casos onde parecia ocorrer delito de pequeno potencial ofensivo, a Lei aplicada era 9.099/95, que não coibia o agressor.
Confirmando essa ideia, a leitura do texto exposto no site CNJ sobre a Lei em questão leva a refletir que o Brasil somente propôs a se mover contra esse tema após a ação de Maria da Penha em foro internacional. Parece até que não se notava a situação de sub-humano a que a companheira era tratada em seu lar. Passaram-se mais de dez anos de sua homologação, porém ainda fala-se muito de violência contra a companheira no ambiente familiar. A ocorrência de crime de lesão corporal ainda é muito divulgada na imprensa.
Em relação a esses crimes na modalidade leve, nos termos da Lei Maria da Penha, houve boas inovações. Vale ressaltar o novomodo de conduzir a ação penal por lesão corporal, no âmbito doméstico. Nesse sentido “por conta desta proibição, passou-se a questionar se o crime doloso de lesão corporal leve qualificado pela violência doméstica (CP, art. 129, § 9 º) continuaria a ser de ação penal condicionada à representação da ofendida, tal como determina o art. 88 da Lei dos Juizados Especiais Criminais” (Capez, 2014, p.156).
Para Fonseca (2012, p. 208) a maioria das vítimas permanece coagida a um relacionamento baseado, muitas vezes, na dependência financeira e emocional, levando a eventos cíclicos de violência. É preciso prevenir, compelindo o agressor a perceber que a mulher não lhe é inferior o homem não é superior e que os delitos pequenos também serão punidos. Para muitos, a violência contra a mulher não passa de caso da vida privada, porém é social e cultural.
Ao falar de violência doméstica Pasinato (2015, p. 413) afirma que “tornam-se ainda mais complexos pelos fatores históricos e culturais que consideram a violência assunto privado, naturalizam suas práticas e responsabilizam as mulheres tanto pelas causas da violência quanto pelas consequências de sua denúncia”. O que fica nítido também é que na condição de processo histórico e cultural, a violência de gênero precisa ser entendida e desconstruída, com diversos instrumentos, dentre os quais, as leis.
Neste sentido, a Lei 11.340/06 está presente no cotidiano das pessoas com a missão de coibir as formas de violência contra a mulher. O âmbito de abordagem determinado pela Lei é o lar. Contudo não precisa estar somente relacionada ao lar, pode também acontecer com pessoas que não vivam em um mesmo lar, mas que possuem algum tipo de parentesco ou vínculo afetivo. Assim, a Lei em questão, busca a proteção de pessoas com vinculo familiar e do gênero feminino através de seus mecanismos. 
Apesar de terem sido criados mecanismos para o enfrentamento da violência, nem todos os operadores de direitos os aceitam. Pasinato (2015, p. 421) esclarece que muitos policiais acreditam que a violência doméstica não está relacionada com a justiça, mas com fatores sociais. Acreditam que casos de violência doméstica não precisam de intervenção policial ou da justiça. Por essa interpretação não há criminalização, nem políticas públicas para esses delitos. 
Antes da Lei 13.340/06, a interpretação dos delitos de menor potencial ofensivos era tutelada pela Lei 9.095/99. Cortizo (2010, p. 105) afirma que “um dos entraves para a efetivação da Lei é a questão da interpretação e aplicação realizada pelo Judiciário.” Ainda nos dias atuais, há dúvida por operadores de direito no enquadramento destes delitos em uma das leis. Tem muitos operadores que enquadram lesão corporal leve em âmbito doméstico na Lei de Contravenções Penais. 
Percebe-se ao final da pesquisa que os institutos da redução a termo da narrativa da vítima, a ação pública condicionada, a retratação, o sursis e a transação penal, medidas despenalizantes da Lei 9.099/95 continuam sendo aplicados em crimes considerados de menor potencial ofensivo. Contudo não são aplicáveis aos casos envolvendo violência doméstica e familiar. Para tanto, com o objetivo de coibir e prevenir a violência contra mulher, a Lei 11.340/06 traz seus procedimentos penais. 
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