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Profa. Dra. Ana Carolina Gallo UNIDADE I Português Instrumental Jurídico Contribuir para o aprimoramento de habilidades de comunicação – oral e escrita – propiciando a compreensão e a valorização da linguagem, especificamente do discurso jurídico. Colaborar com a formação do profissional, de forma a atender as exigências sociais da esfera jurídica. GOLD, Miriam. Português instrumental para cursos de Direito: como elaborar textos jurídicos. São Paulo: Pearson, 2008. PETRI, Maria José Constantino. Manual de linguagem jurídica. São Paulo: Saraiva, 2017. Objetivos da disciplina Por que estudar português jurídico? São áreas interdisciplinares? “O Direito é a alternativa que o mundo concebeu contra a força bruta. Em lugar de guerras, duelos ou brigas – debates públicos; em vez de armas, socos ou chutes – ideias e argumentos. A vida dos operadores jurídicos consiste em transformar emoções em palavras, interesse em razão, na busca do que é certo, do que é justo, do que é legítimo.” (Luís Roberto Barroso) Português Jurídico: uma visão panorâmica São recursos de ênfase que possibilitam compreender a intenção do produtor da mensagem. Ocorrem concomitantemente, mas um tipo é predominante. Roman Jakobson, linguista russo, foi o pioneiro na análise estrutural da linguagem, segmentando as funções de acordo com os componentes da comunicação: Emissor; Receptor; Código; Canal; Referente; Mensagem. Funções da linguagem Oferece destaque ao emissor. A mensagem enfatiza as opiniões, os sentimentos e as emoções do emissor. Portanto, é um texto pessoal. Ocorre o emprego da 1ª pessoa do singular, tanto das formas verbais quanto dos pronomes. Exemplo: “Embora acabe eu, a minha fé não acabará; porque é a fé na verdade, que se livra acima dos interesses caducos, a fé invencível.” (Rui Barbosa) Função emotiva Oferece destaque ao receptor. Busca, por meio da mensagem, mobilizar o receptor. Emite-se um apelo ou uma ordem, podendo ser volitiva ou imperativa. Exemplo: Suspenda-se, temporariamente, os direitos do acusado. Função conativa Oferece destaque ao código. Função própria das definições. O estudo da linguagem jurídica é metalinguístico. Exemplo: O ordenamento jurídico brasileiro se expressa por meio da língua portuguesa. Assim, o mau uso da língua pode prejudicar o bom andamento da própria Justiça. Função metalinguística Oferece destaque ao canal. Testa-se a eficiência comunicacional, prolongando, interrompendo ou reafirmando. Exemplo: “Declaro aberta a sessão solene destinada à homenagem ao 30º aniversário da promulgação da Constituição da República.” (Ministro Dias Toffoli) Função fática Oferece destaque ao referente. O propósito do autor é destacar a informação. Textos jornalísticos, científicos e técnicos. Exemplo: O jovem de 19 anos estava caminhando no parque quando foi atingido por uma bala perdida. Morreu na hora. Campanha de vacinação contra sarampo. Função referencial A mensagem é enfatizada. Com finalidade estética, é predominantemente encontrada na linguagem literária, sobretudo na poesia. Exemplos: Letras de música; Cartas de amor; “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!” (Rui Barbosa) Função poética Leia o texto que segue e indique a função da linguagem predominante no trecho sublinhado. Declaração Universal dos Direitos Humanos Artigo 3º Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. a) Função fática. b) Função poética. c) Função conativa. d) Função referencial. e) Função emotiva. Interatividade Leia o texto que segue e indique a função da linguagem predominante no trecho sublinhado. Declaração Universal dos Direitos Humanos Artigo 3º Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. a) Função fática. b) Função poética. c) Função conativa. d) Função referencial. e) Função emotiva. Resposta Não se restringe aos termos exclusivos do âmbito jurídico, mas a todos aqueles aos quais o Direito oferece uma significação própria. A soma de tais termos compõe um subgrupo da língua que compreende um domínio específico, denominado vocabulário jurídico, propriamente. Petri (2017) distingue cinco tipos de termos jurídicos, como veremos a seguir. Vocabulário jurídico 1. Termos que mantêm um único significado na língua corrente e na linguagem jurídica: Tese; Argumento. Termos com único significado 2. Termos de polissemia externa, ou seja, apresentam significados distintos na língua corrente e na linguagem jurídica: Competência: CPC – Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. Sentença; Despacho; Remédio; Ação. Termos polissêmicos externos 3. Termos de polissemia interna possuem mais de um significado no campo jurídico: Prescrição (determinar, orientar ou findar). A lei prescreve que, diante de determinado fato, aplica-se o referido artigo. Perda do direito do Estado de punir o autor de um crime pelo seu ato, pois não houve o exercício da ação judicial dentro do prazo legal estipulado por lei. Termos polissêmicos internos 4. Termos com significação exclusiva no âmbito jurídico: Usucapião; Acórdão; Termos exclusivamente jurídicos 5. Termos latinos próprios ao campo jurídico: Causa mortis: a causa da morte. Imposto pago sobre a importância líquida da herança ou do legado. Data vênia: dada a vênia. Expressão delicada e respeitosa com que se pede ao interlocutor permissão para discordar de seu ponto de vista. Usada em linguagem forense e em citações indiretas. In dubio pro reo: em dúvida, a favor do réu. Nullum crimen sine lege: não há crime sem lei. Termos latinos aplicados ao Direito 1. Linguagem legislativa CF – Art 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 2. Linguagem judiciária, forense ou processual Recebida a denúncia (fls.33), foi a ré citada e interrogada, seguindo-se defesa prévia (fls. 212) e regular instrução, com ouvida de uma testemunha (fls. 129). Níveis da linguagem jurídica 3. Linguagem convencional ou contratual Por este instrumento particular de compra e venda, de um lado X, inscrito no CPF... 4. Linguagem doutrinária Consoante a definição de Clóvis (Comentários ao Código Civil), prescrição é a perda da ação atribuída a um direito. E de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não uso dela, durante determinado espaço de tempo. PETRI, Maria José Constantino. Manual de linguagem jurídica. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 37. Níveis da linguagem jurídica 5. Linguagem cartorária ou notarial Nos termos expostos, distribuída e autuada esta, requer a suplicante a citação de seu marido, para contestar, no prazo legal, o presente pedido de divórcio. Níveis da linguagem jurídica A escolha da palavra depende de um juízo de conveniência e oportunidade. O auditório particular. O auditório universal. Seleção vocabular e clareza: considerando o leitor Identifique em qual nível de linguagem jurídica reside o texto a seguir. CF – Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. a) Linguagem legislativa. b) Linguagem processual. c) Linguagem contratual. d) Linguagem doutrinária. e) Linguagem cartorária. Interatividade Identifique em qual nível de linguagem jurídica reside o texto a seguir. CF – Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidadedo direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. a) Linguagem legislativa. b) Linguagem processual. c) Linguagem contratual. d) Linguagem doutrinária. e) Linguagem cartorária. Resposta Gramáticos x linguistas. Exemplo: “João é brasileiro, natural do Rio Grande do Sul, advogado. José é também brasileiro, natural do Rio Grande do Norte, médico. Ambos partilham o mesmo léxico português (língua), mas cada qual possui seu vocabulário próprio, um repertório fechado, sujeito a uma série de indicadores socioculturais.” Fonte: DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas, 2013. Léxico e vocabulário Linguagem técnica x jargão. Preciosismo. Neologismo (formidável; insolente; contumaz). Seleção vocabular e vocabulário jurídico Contém um único sentido. Furto (art. 155, CP – subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel); Roubo (art. 157, CP – subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel alheia mediante grave ameaça ou violência, depois de reduzir a resistência da pessoa). Fonte: DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas, 2013, p. 29. O sentido das palavras: termos unívocos São plurissignificativos. Lavrar Direito Processual (apreender judicialmente bem em litígio). Sequestrar Direito Penal (privar alguém de sua liberdade de locomoção). Exemplo: “Indenização: furto de veículo em shopping. Cláusula décima – A seguradora somente se obriga ao ressarcimento dos prejuízos com o sinistro, caso o furto haja sido cometido mediante destruição ou rompimento de obstáculo”. Fonte: RODRÍGUEZ, Victor Gabriel. Manual de redação forense. Campinas: LZN Editora, 2002, p. 22. Equivocidade pode ser intencional. O sentido das palavras: termos equívocos Não possuem étimo comum, mas pertencem a uma mesma família ideológica. Resolução (dissolução de um contrato, acordo, ato jurídico) Resilição Rescisão (vontade dos contraentes) (lesão do contrato) O sentido das palavras: termos análogos Qual o sentido atribuído à palavra? Literal, objetivo Figurado, subjetivo Denotação x conotação Leia o enunciado e responda ao que se pede: Comodato – Art. 1.248, do CPC – empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. O termo apresentado tem sentido: a) Polissêmico. b) Extensivo. c) Unívoco. d) Equívoco. e) Análogo. Interatividade Leia o enunciado e responda ao que se pede: Comodato – Art. 1.248, do CPC – empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. O termo apresentado tem sentido: a) Polissêmico. b) Extensivo. c) Unívoco. d) Equívoco. e) Análogo. Resposta Existe delimitação fixa? Natureza e complexidade do assunto. Plano redacional. Prolixidade. O parágrafo e a redação jurídica Parágrafo descritivo: impressões sensoriais, pormenorizadas ou não. Parágrafo narrativo: conta-se um fato. Parágrafo dissertativo: emite-se um juízo. Espécies redacionais Unidade: as frases gravitam em torno de uma ideia principal. Coerência: deve haver encadeamento de parágrafos a fim de coordenar as ideias do texto, de maneira que o leitor compreenda a relação existente entre elas. Ênfase: faz-se preponderante dar destaque à ideia central. “Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão-de nascerem todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. [...] Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas [...] Assim há-de ser o sermão: [...] há-de ter um tronco, porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão-de nascerem diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela [...].” (Pe. Antônio Vieira) Qualidades essenciais ao parágrafo Tópico frasal: destinado à delimitação do tema e à definição dos objetivos da redação. A ideia principal é apresentada de forma genérica. Desenvolvimento: é o corpo do texto, em que se explana a ideia-chave. São agregadas teses secundárias. Estrutura do parágrafo Explanação da declaração inicial: desenvolvimento do tópico frasal de forma afirmativa ou negativa. Tem o propósito de subsidiar a ideia central. Contraste: implícito ou explícito, tem a finalidade de apresentar oposições, reiterando a tese do emissor. Estrutura do parágrafo Exemplificação: recurso comumente utilizado para reforçar as ideias defendidas pelo emissor. Causa-consequência: encadeamento lógico do raciocínio. Resposta à interrogação: pode-se iniciar o texto com uma pergunta, mas a resposta não será simplista. Deve-se construí-la a partir de argumentos. Estrutura do parágrafo Tempo e espaço: as ideias expressas no texto devem ser ancoradas em um tempo e um espaço, ainda que não se trate do gênero narrativo. Conclusão: nela esgota-se o plano redacional. Não é necessário demarcá-la explicitamente, ainda que no discurso jurídico tal característica seja comum, pois prepara o leitor para a conclusão do emissor. Estrutura do parágrafo Considere a estrutura do parágrafo jurídico, responda ao que se pede e assinale a alternativa correta. O tópico frasal deve ser constituído por: I. Pormenorização das ideias. II. Delimitação do tema e definição dos objetivos da redação. III. Teses secundárias. a) Somente I está correta. b) Somente I e II estão corretas. c) Somente II está correta. d) Somente II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas. Interatividade Considere a estrutura do parágrafo jurídico, responda ao que se pede e assinale a alternativa correta. O tópico frasal deve ser constituído por: I. Pormenorização das ideias. II. Delimitação do tema e definição dos objetivos da redação. III. Teses secundárias. a) Somente I está correta. b) Somente I e II estão corretas. c) Somente II está correta. d) Somente II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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