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João Lima Sant' Anna Neto - Escalas geográficas do clima

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ESCALAS GEOGRÁFICAS DO CLIMA 
 
Das escalas globais às locais, tanto os processos físico-naturais quanto os de 
origem socioeconômicos interferem e/ou determinam as características por meio das 
quais o clima se articula ao espaço geográfico. 
As escalas do clima não devem ser entendidas apenas como as dimensões 
espaciais ou temporais nas quais os elementos climáticos se manifestam, mas, sim, 
como processos dinâmicos dotados de atributos altamente sensíveis aos ritmos, 
variações e alterações de todas as forças terrestres, atmosféricas e cósmicas que de 
alguma forma exercem, ou provocam qualquer tipo de interferência no sistema 
climático. Incluindo-se também, as interferências de origem antrópica e socioespacial. 
A duração, a velocidade e a extensão com que os processos climáticos se 
manifestam estão associadas tanto ao tempo longo quanto ao tempo curto. O tempo 
longo é definido pela escala geológica de processos que duram milhares ou milhões de 
anos, modificando os climas do planeta (global), ora mais quentes, outras vezes mais 
frios, alternadamente mais secos ou mais úmidos, explicado por movimentos 
astronômicos da órbita da Terra, pelas manchas solares, por intensa atividade vulcânica 
de determinados períodos geológicos ou mesmo pela tectônica de placas. 
O tempo curto relaciona-se diretamente ao tempo histórico, ou seja, as 
variações do clima estão associadas à presença do homem e da sociedade como agentes 
de transformação das paisagens e modificadores dos ambientes (regional e local), ou 
como grupo social que percebe e sofre as suas variações. Isto não quer dizer, que no 
tempo histórico, as forças terrestres e astronômicas deixam de influenciar os climas 
terrestres, significa que as interações entre ambos tornam-se muito mais complexas e de 
difícil determinação (fig. 1). 
É importante observar que os processos climáticos são essencialmente 
temporais manifestando-se em todas as escalas espaciais. Entretanto, alterações 
espaciais em escalas inferiores (locais e regionais), podem resultar em modificações na 
circulação da atmosfera, que são capazes de afetar todo o planeta. Assim, a forma mais 
adequada de tratá-los, é em sua totalidade espaço-temporal. 
 
Marcela
Realce
Marcela
Realce
Marcela
Realce
Marcela
Realce
 
Fig. 1. Escalas geográficas do clima (tempo longo e tempo curto) 
 
Colocando de outro modo, todos os fenômenos geográficos (entre estes, o 
clima) manifestam-se no tempo e no espaço. As forçantes, os movimentos e suas 
dinâmicas temporais constituem-se em processos que atuam no decorrer do tempo 
(geológico e/ou histórico), ora dotando-os de estabilidade e constância, ora de 
perturbações que modificam os padrões, ao provocar alterações de todos os tipos e 
magnitudes. 
Assim, processos climáticos de larga escala, podem afetar os climas 
regionais e locais de formas variadas e contraditórias, modificando os padrões 
preexistentes. Ou seja, o desenvolvimento de dado processo desencadeado nas escalas 
superiores pode manifestar-se de forma oposta em diferentes regiões do planeta 
(resfriamento e aquecimento; umedecimento e ressecamento). 
Neste contexto os três conceitos chaves para a compreensão dos processos 
climáticos e suas determinações espaciais são a mudança, a variabilidade e o ritmo. 
Estas são essencialmente escalas de processos, ou seja, referem-se à velocidade, duração 
e intensidade dos mecanismos que dotam o tempo e o clima de mobilidade e de 
alternância de padrões. 
Desta forma, as escalas do clima assumem uma dimensão espaço-temporal, 
em que os processos atuantes podem ser globais, ou seja, atuando na escala das 
mudanças das características dos climas de todo ou da maior parte do Planeta no tempo 
geológico, e na escala da variabilidade (variações cíclicas) no tempo histórico. 
Marcela
Realce
Marcela
Realce
Marcela
Realce
Assumem, também, uma dimensão regional quando apenas partes da 
superfície da Terra sofrem variações climáticas determinadas por periodicidades, 
padrões cíclicos ou transformações antrópicas de grande extensão. E, podem ser locais, 
em função de modificações nas estruturas das paisagens e das influências urbanas nos 
microclimas, que tendem a particularizar estas áreas, dentro das células regionais do 
clima. 
Transpondo as escalas do clima para uma abordagem geográfica, Monteiro 
(1999) propôs uma articulação em que as escalas superiores (milhões de Km²), como a 
global, revelam os aspectos mais gerais das grandes correlações entre a dinâmica 
atmosférica e os grandes conjuntos das paisagens planetárias, como as massas oceânicas 
e continentais, cadeias montanhosas e extensas planícies. Nesta dimensão só é possível 
estabelecer relações generalizantes e aproximativas. 
As escalas intermediárias, como as regionais (centenas ou milhares de Km²), 
permitem a observação e a compreensão de uma trama em que a organização da 
paisagem, tanto natural quanto socioeconômica, articula-se revelando os diversos níveis 
de organização espacial. Permite o entendimento da circulação secundária dos grandes 
sistemas atmosféricos e suas relações com os fatores geográficos, como a rugosidade do 
relevo, aspectos da influência da continentalidade nas variações diárias e sazonais, da 
altitude e das influências dos grandes conjuntos vegetacionais ou antrópicos (como as 
grandes áreas de monocultura ou pecuária). 
Nesta hierarquia escalar, que apresenta elementos e atributos geográficos 
por excelência, há a possibilidade tanto de se estabelecer nexos com as escalas 
superiores, compreendendo como se desdobram os sistemas atmosféricos e como as 
transformações das paisagens impactam as variáveis climáticas, quanto com as escalas 
inferiores, identificando e particularizando os climas locais. 
As escalas inferiores, na dimensão dos climas locais e dos microclimas 
(inferiores a dezenas de Km²), os atributos das paisagens socioambientais permitem a 
identificação dos tipos de tempo e o ritmo climático associados ao cotidiano da 
sociedade e, portanto, apresenta um nível de especialização dos atributos e processos, 
muito associados à produção do espaço e as formas urbanas e rurais. 
Portanto, enquanto as escalas globais permitem apenas a generalização dos 
elementos e processos, as regionais possibilitam a compreensão das suas formas de 
organização, que podem ser verificadas de maneira especializada, e mais complexa, nas 
escalas locais. 
Na figura 2 observa-se a articulação das escalas espaciais e temporais do 
clima relacionado-as à sua gênese e processos explicativos. 
 
Nível de 
resolução 
geográfica 
Escala 
Espacial 
Escala 
Temporal 
Gênese dos 
Processos (não 
excludente) 
 
Processos Explicativos 
 
Generalização 
 
Global 
Mudança 
Climática 
 
Natural 
Movimentos astronômicos, 
glaciações, vulcanismo, 
tectônica de placas 
 
 
Organização 
 
 
Regional 
 
Variabilidade 
Climática 
 
Natural e 
Antrópica 
Sazonalidade, padrões e 
ciclos naturais, 
transformações das paisagens 
(desmatamento, poluição, 
urbanização) 
 
Especialização 
 
Local 
 
Ritmo 
Climático 
 
Antrópica 
 
Padrões de uso do solo, 
expansão territorial urbana, 
ritmos socioeconômicos 
Figura 2. Articulação das escalas geográficas do clima 
Org. Sant’Anna Neto, adaptado de Monteiro, 1999. 
 
ORDEM DE GRANDEZA E ESTRATÉGIAS DE ABORDAGEM 
Para cada escala do clima, exige-se uma estratégia de abordagem específica, 
associada a unidades territoriais determinadas. Além disto, há que se diferenciarem as 
aplicações e técnicas de análise entre os meios urbanos e rurais. 
Do ponto de vista prático, ao tratar-se de aspectos espaciais das 
manifestações do clima numa perspectiva geográfica, pode-se hierarquizar as escalas do 
clima em seis ordens de grandeza. Desde aquelas mais generalizantes, como as globais, 
que se referem a milhões de quilômetros quadrados, até as mais especializantes, como 
as dos microclimas,que abrangem apenas alguns metros quadrados. 
A figura 3, a seguir, resume a articulação das escalas do clima, com as 
escalas cartográficas, com os espaços rurais e urbanos e com as estratégias de 
abordagem. 
Marcela
Realce
Ordem 
 de 
grandeza 
Unidades 
de 
superfície 
 
Escalas 
cartográficas 
 
Espaços 
climáticos 
 
Espaços 
 rurais 
 
Espaços 
urbanos 
Estratégias de abordagens 
Meios de 
observação 
Fatores de 
organização 
Técnicas de 
análise 
I Milhões 
de km
2 
 
1:50.000.000 
1:10.000.000 
Global 
Zonal 
Grandes 
biomas 
 
 
Megalópole 
Metrópole 
Grandes 
áreas 
urbanas 
 
Satélites 
 
Latitudes, 
centros de 
pressão 
 
Caracterização, 
comparação, 
classificação II Milhares 
de km
2
 
1:10.000.000 
1:1.000.000 
Macro 
Regional 
Meso 
regional 
Micro 
regional 
Conjuntos 
vegetacionais 
Grandes 
unidades 
naturais 
 
Satélites, 
modelagem, 
cartas 
sinóticas, 
Nefanálise, 
rede de 
superfície, 
postos de 
observação 
Circulação 
atmosférica 
 
III 
 
Centenas 
de km
2
 
 
1:1.000.000 
1:250.000 
Fatores 
geográficos do 
clima 
 
Redes e 
transectos 
espaciais e 
temporais. 
Mapeamento 
sistemático, 
estatística 
aplicada 
 
IV 
 
Dezenas 
de km
2
 
 
1:250.000 
1:100.000 
 
Local 
mesoclima 
Unidades de 
paisagem 
grande 
propriedade 
rural 
Cidades 
de porte 
grande e 
médio 
Geoecologia 
Ação antrópica 
(uso do solo) 
 
 
V 
 
Milhares e 
Centenas 
de m
2
 
 
 
1:100.000 
1:10.000 
 
 
Topoclima 
 
Feições da 
paisagem, 
pequena e 
média 
propriedade 
rural 
Cidades de 
porte médio 
e pequeno. 
Zonas, 
bairros e 
aglomeração 
 
Postos de 
observação, 
Registros 
móveis 
 
Urbanismo, 
economia, 
agronomia 
 
Análise 
espacial, 
análise 
sistêmica 
 
VI 
Dezenas 
de m
2
 
 
1:10.000 
1:1.000 
 
Microclima 
 
Planta, 
espécie 
 
Quarteirões 
Edificações 
Detalhe, 
forma, 
instrumentos 
especiais 
Arquitetura 
Meteorologia 
agrícola 
 
Análises 
especiais 
Figura 3. Escalas geográficas do clima e estratégias de abordagens 
Org. Sant’Anna Neto. 
 
1. A escala climática global 
A escala climática global ou zonal é a de 1ª ordem de grandeza. A dimensão 
espacial desta escala refere-se aos processos atmosféricos de grande escala, 
determinados pelas duas principais forças motoras da movimentação do ar. Ou seja, são 
processos que afetam e produzem padrões climáticos que abrangem todo o planeta, 
observando as diferentes latitudes, os grandes traçados do relevo e a distribuição dos 
oceanos e continentes. 
Como a unidade de superfície associada a esta escala é a global, em escalas 
cartográficas de milhões de quilômetros quadrados, pode-se apenas observar e analisar 
as grandes correlações generalizantes. Nesta escala identificam-se os grandes sistemas 
de circulação atmosférica planetária (e controle dos centros de pressão) e, por 
conseguinte, as generalizações térmicas e pluviométricas dos grandes biomas terrestres 
e regiões oceânicas, marcadamente influenciadas pelas zonas de baixas latitudes (climas 
equatoriais e tropicais), pelas zonas de médias latitudes (climas temperados) e pelas 
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zonas de altas latitudes (climas frios e polares). Desta forma, distinguem-se as áreas de 
domínio dos sistemas atmosféricos que caracterizam os regimes climáticos globais, 
como se observa na Figura 4. 
 
Figura 4. Circulação geral da atmosfera, áreas de pressão e zonas de controle. 
 
As teleconexões também se inserem nesta escala, ainda que afetem 
parcialmente regiões específicas, como a Oscilação do Atlântico Norte (NAO), que se 
refere ao gradiente de pressão entre as áreas do anticiclone dos Açores e a baixa da 
Islândia, que quando se encontra numa fase positiva, provoca aumento de chuvas e de 
ondas de frio na América do Norte e na Europa durante o inverno. Ou ainda, o El niño-
oscilação sul (ENOS), fenômeno associado às variações de temperatura no Oceano 
Pacífico equatorial, que quando está na fase positiva, modifica os padrões das correntes 
de jato e provoca aumento de precipitação no sudeste da América do Sul e secas no 
nordeste do Brasil, por exemplo (Figura 5). 
 
Marcela
Realce
 
 
 
El niño – oscilação sul (ENOS) Oscilação do Atlântico Norte (NAO) 
Figura 5. Teleconexões globais: El niño/oscilação sul e Oscilação do Atlântico Norte. 
 
A dimensão temporal das escalas globais permite duas formas distintas de 
abordagem. Numa perspectiva paleoclimática, refere-se as grandes mudanças do clima 
através do tempo geológico, como os períodos de aquecimento e as glaciações. Neste 
sentido, a teoria de Milankovitch à respeito dos movimentos orbitais da Terra em sua 
relação com o Sol, explica as grandes glaciações e fases interglaciais do Quaternário 
(último milhão de anos). Portanto, trata-se de variações do clima no tempo longo 
associadas exclusivamente a fatores e processos naturais. 
Além desta perspectiva paleoclimática, a dimensão temporal permite 
também uma abordagem de suas variações em períodos de tempo mais curtos, ou seja, a 
variabilidade climática explicada por ciclos que se repetem mais ou menos de forma 
periódica, em segmentos de tempo que pode se estender por séculos ou décadas. Neste 
caso, inserem-se as influências das manchas solares na incidência da radiação solar que 
chega à Terra, ou ainda, os movimentos das correntes oceânicas. 
Todos estes processos e dinâmicas que envolvem as escalas globais do 
clima, por sua natureza física, geofísica e astrofísica, escapam à uma interpretação 
puramente geográfica e, em geral, são melhor explicados pelas ciências da atmosfera 
Fase 
positiva 
Fase 
negativa 
(meteorologia) e pelas geociências (geologia). Cabe, porém, à Geografia, compreender 
seus mecanismos dinâmicos, pois estão na gênese de processos que auxiliam no 
entendimento da natureza, dinâmica e distribuição dos climas no planeta. 
 
2. As escalas climáticas regionais 
A dimensão da escala regional, de 2ª e 3ª grandeza hierárquica, é mais 
complexa do que a global. Por um lado, resulta de uma combinação de dinâmicas e 
processos atmosféricos, tanto da ação da circulação geral, quanto da circulação 
secundária (ou seja, as áreas de pressão e o domínio dos sistemas atmosféricos). 
Estes processos recebem a influência de fatores geográficos que podem 
potencializar ou minimizar os atributos climáticos. Dentro de uma mesma zona de 
circulação atmosférica (as áreas intertropicais, por exemplo), uma região pode ser mais 
ou menos chuvosa do que outra, em função de sua posição com relação aos sistemas 
produtores de chuva, da orientação do relevo (orografia), da proximidade do mar, ou, 
ainda, pode ser mais ou menos quente do que outra, por causa da altitude (zonas 
planálticas ou montanhosas), e da continentalidade. 
Não há uma extensão de área definida para a escala regional. Tanto pode 
referir-se a grandes macrorregiões (como a Amazônia, o Saara, a Sibéria), com unidades 
escalares de milhões de km
2
, como as microrregiões caracterizadas por paisagens 
complexas (como a zona costeira do Brasil de sudeste, ou o Vale do Paraíba), que se 
estendem por algumas centenas de km
2
. 
O que define uma região climática não é propriamente a sua extensão 
territorial, mas, sim, a combinação de processos e fatores particulares, como as células 
regionais do clima articulado aos fatores geográficos intervenientes. Um bom exemplo 
desta abordagem pode ser observado na proposta de Monteiro (1973), sobre as feições 
climáticas individualizadas nos climas regionais para o Estado de São Paulo, por meio 
da articulação com as unidades da paisagem (Figura 6) 
As escalas regionais permitem a observação da morfologia do relevo, dos 
usos extensivos do solo rural (áreas das grandes monoculturas e da pecuária) e das áreas 
urbanas das grandes metrópoles. Sob este aspecto, trata-se da escala que melhor permiteMarcela
Realce
Marcela
Realce
identificar os elementos espaciais que nos aproxima de uma visão da organização do 
espaço geográfico. 
 
Figura 6. Articulação das feições climáticas regionais com as unidades da paisagem 
Fonte: Monteiro (1973) 
 
As estratégias e abordagens inerentes a esta escala pressupõem, além da 
utilização de imagens de satélite e cartas sinóticas (também utilizadas para as escalas 
globais) para a identificação dos tipos de tempo, incluem-se os fatores geográficos de 
organização da paisagem, como a topografia, a direção e orientação das vertentes, a 
distância do mar, a distribuição da vegetação natural, o uso da terra por meio das 
grandes unidades espaciais rurais e urbanas. 
Os fatores geográficos funcionam como uma estrutura física da paisagem 
que, sem alterar o caráter genético dos climas, produzem modificações nos elementos 
meteorológicos por meio de forçantes (como o relevo), e catalisadores das interações 
atmosfera/superfície (incluindo aqui, as transformações da paisagem originadas pelas 
intervenções humanas). 
Assim, os climas regionais tanto podem abranger paisagens mais 
homogêneas de grande extensão territorial quanto as unidades de paisagem mais 
complexas e de menor extensão, pois o que determina a escala regional não é a sua 
dimensão espacial, mas a magnitude das interferências dos fatores geográficos atuantes. 
As estratégias de análise permitem a identificação dos tipos de clima por 
meio da caracterização, da comparação e da classificação climática, tanto através das 
redes e transectos espaciais e temporais, quanto pelo mapeamento sistemático. O uso da 
Marcela
Realce
estatística aplicada é fundamental para a compreensão da variabilidade dos elementos 
do clima e identificação da periodicidade e ciclicidade de episódios normais e extremos. 
A dimensão temporal da escala regional comporta o uso de séries temporais 
de pelo menos 30 anos de dados dos elementos do clima, conforme determinação da 
Organização Meteorológica Mundial – OMM. Nesta escala é importante o estudo da 
variabilidade do clima, ou seja, a identificação dos padrões normais e dos períodos de 
anomalias que são determinados tanto por processos de macroescala (como a influência 
do El niño/oscilação sul - ENOS, da Oscilação décadal do Pacífico – ODP), quanto por 
dinâmicas mais setoriais e restritas no tempo e no espaço, como a ação da Zona de 
Convergência do Atlântico Sul – ZCAS ou dos Complexos Convectivos de Mesoescala 
– CCM, que são determinados pela sazonalidade. 
Desta forma, se somente é possível a compreensão das mudanças climáticas 
na perspectiva da escala global, o entendimento das variações sazonais e anomalias 
interanuais, enquadram-se de forma mais adequada, às escalas regionais. 
É importante lembrar que dada à profunda e progressiva transformação das 
paisagens pela sociedade, as alterações na utilização da terra verificadas por meio do 
desmatamento, da poluição atmosférica, da agricultura monocultora em grandes espaços 
rurais e a expansão territorial das grandes cidades e áreas metropolitanas já se 
constituem em fatores de influência nos regimes climáticos regionais. Portanto, nesta 
dimensão escalar, não só os mecanismos físicos naturais do clima determinam sua 
dinâmica, como a forma com que a sociedade tem organizado os seus territórios implica 
em interferências nas interações atmosfera/superfície terrestre, capaz de gerar 
modificações nas características dos padrões climáticos. 
 
3. As escalas locais do clima 
 
No conjunto das escalas inferiores, ou seja, as de 4ª, 5ª e 6ª ordem de 
grandeza, encontram-se os climas locais, nomeadamente os mesoclimas, os topoclimas 
e os microclimas. 
Os processos e as interações envolvidos nestas dimensões escalares resultam 
cada vez mais complexos, na medida em que a especialização dos espaços naturais, 
Marcela
Realce
transformados e/ou produzidos, submete-se a dinâmicas e ciclos temporais em 
velocidades variadas. Isto significa que quanto menor a ordem de grandeza escalar (e, 
portanto, uma dimensão espacial mais reduzida), maior é o conjunto de elementos, 
fatores, dinâmicas e processos envolvidos. 
A escala dos mesoclimas envolve unidades de superfície da ordem de 
dezenas de km
2
 e muitas das estratégias de abordagem são semelhantes as dos climas 
regionais. O uso de imagem de satélites e cartas sinóticas para a identificação dos tipos 
de tempo é igualmente relevante, além da rede meteorológica de superfície de postos de 
observação. 
Os fatores geográficos do clima assumem nesta escala uma importância 
crescente, uma vez que a rugosidade do relevo, a existência (ou não) de corpos de água 
e de vegetação é suficientemente latente para exercer influência nas características das 
células locais dos climas regionais. 
Os espaços rurais são identificados ao nível das grandes propriedades e da 
estrutura do parcelamento rural, em que os diversos padrões de uso do solo e os tipos de 
paisagens naturais (campos, florestas, áreas alagadas, etc...) trocam energia e matéria 
com a atmosfera, capazes de aumentar ou diminuir a umidade, a temperatura, a 
velocidade do vento, o material particulado, entre outros, na transformação dos climas 
naturais. 
Para os espaços urbanos, que nesta escala adéquam-se à análise dos climas 
das cidades de porte grande e médio, a estrutura e a forma urbana exercem influência 
significativa, em função das trocas de calor, das emissões de material particulado e 
gases para a atmosfera, que pode gerar, entre outros, o fenômeno da ilha de calor 
(Figura 7). 
Ao nível dos topoclimas, as feições que revelam os detalhes mais 
particulares das paisagens exigem a utilização de técnicas mais diretas, como os 
registros móveis dos elementos meteorológicos, ou a instalação de estações automáticas 
em locais apropriados. Em áreas urbanas, a densidade de construção e as características 
das áreas verdes interferem na ventilação, na umidade que geram inércia térmica. A 
estreita relação entre a estrutura e a forma urbana com os climas locais e as interações 
somente podem ser reveladas nesta ordem escalar. 
Marcela
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Marcela
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Figura 7. Perfil da ilha de calor urbana (temp. em °C) 
 
É imprescindível para a compreensão dos topoclimas recorrer-se às análises 
espaciais e sistêmicas, emprestando da Arquitetura e Urbanismo as técnicas 
relacionadas ao conforto bioclimático. O mesmo ocorre para as análises dos climas 
rurais desta ordem escalar, envolvendo os aspectos agrometeorológicos das culturas 
agrícolas ou, ainda dos geossistemas naturais. 
Desta forma, os fatores de organização dos climas locais (mesoclimas e 
topoclimas) relacionam-se geneticamente tanto aos aspectos geoecológicos, quanto os 
antropogênicos. Assim deve-se atentar tanto ao estudo dos ritmos climáticos naturais, 
determinados pela sucessão dos tipos de tempo, quanto pela construção dos climas 
antrópicos, produzidos pelas interferências dos agentes sociais e econômicos. 
A escala dos microclimas está associada aos elementos da paisagem na 
dimensão espacial de metros quadrados. Os aspectos mais gerais da dinâmica 
atmosférica são minimizados enquanto os detalhes e as formas das paisagens urbanas e 
rurais apresentam maior destaque. 
A radiação solar assume um papel central na configuração das 
características climáticas. Em áreas urbanas, as propriedades físicas e as cores dos 
materiais construtivos apresentam respostas térmicas em função do albedo dos alvos 
urbanos. Assim, o conforto e a eficiência térmica respondem a estas interações (Figura 
8). 
 
Figura 8. Albedo nos diferentes elementos e alvos urbanos. 
Em áreas rurais ou, ainda, em áreas verdes urbanas, nas escalas 
microclimáticas, a relação se dá entre as plantas (espécies vegetais) e os elementos 
meteorológicos, principalmente, no balanço hídrico, no balanço de radiação e na 
resposta à ventilação do ar. 
Nestaescala, também denominadas de “escalas finas” em função da 
profunda especialização do espaço, as interações entre o clima e as paisagens urbanas e 
rurais são extremamente sensíveis e, respondem às transformações impostas pelas ações 
da sociedade, de forma imediata. A dimensão temporal dos microclimas deve ser 
observada considerando períodos horários e diários. 
Assim, somente a análise rítmica (Monteiro, 1971) é adequada para 
decompor as unidades de tempo cronológico, como estratégia para identificas os 
sistemas atmosféricos. Somando-se a esta técnica, é imprescindível a utilização de 
instrumentos e aparelhos especiais, capazes de medir e monitorar as respostas termo-
higrométricas dos alvos (naturais e construídos). 
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Desta forma, os estudos microclimáticos necessitam de um conjunto de 
técnicas e métodos provenientes da interação da geografia com a arquitetura, a 
meteorologia e a agronomia, para obter uma análise consistente das interações 
envolvidas. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A escala do clima, como foi discutida ao longo do capítulo, configura-se 
como um instrumento de análise fundamental para a compreensão das relações 
temporais e espaciais entre o clima e a superfície terrestre. 
Estas interações pressupõem a concepção das escalas enquanto processos. 
As dimensões espaciais (escala cartográfica) e temporais (escala histórica e geológica) 
que são fatores importantes e indissociáveis da análise climática, não devem ser 
tomadas como fundamentos que antecedem a ação das dinâmicas e processos 
envolvidos na interação entre a atmosfera e o espaço geográfico. 
Assim, os conceitos básicos inerentes às escalas são definidos pela 
mudança, pela variabilidade e pelo ritmo climático. 
As mudanças climáticas referem-se ao tempo longo, definidas pelas grandes 
alterações dos padrões climáticos ao longo da história geológica da Terra. Mais 
recentemente, tem-se utilizado este mesmo termo para designar o aquecimento global, o 
efeito estufa e as alterações dos padrões pluviométricos de origem antrópica. 
Porém há que se distinguir os dois processos. O primeiro refere-se a uma 
combinação de forças terrestres e astronômicas (precessão dos equinócios, mudança de 
posição do eixo terrestre e órbita circumsolar da Terra) que produzem a grandes 
glaciações quaternárias. O segundo trata das transformações antropogênicas, 
particularmente ocorridas após a Revolução Industrial, a partir do final do século XVIII, 
que possivelmente tem alterado o albedo planetário e a composição química da 
atmosfera, gerando uma série de efeitos como o aumento da temperatura média do 
planeta, entre outros. 
As escalas intermediárias, que são geográficas por excelência, referem-se 
àquelas em que a dimensão das estruturas e processos permite a compreensão de como o 
espaço se organiza. Trata-se, pois, da perspectiva do planejamento territorial. 
De um lado, a compreensão da dinâmica atmosférica e dos padrões do clima 
associada aos fatores geográficos permitem conhecer os arranjos espaciais e temporais 
por meio da análise dos processos genéticos da circulação dos sistemas atmosféricos e 
dos tipos de tempo. Por outro, a estatística aplicada contribui para o desvendamento da 
periodicidade, da ciclicidade e dos episódios extremos, que afetam os padrões normais 
habituais. 
Como a sociedade tem demonstrado ser capaz de transformar as paisagens 
naturais numa velocidade crescente, o impacto do desmatamento, da expansão territorial 
das áreas urbanas, a poluição do ar e as queimadas agrícolas, as interações entre a baixa 
troposfera e a superfície terrestre já indicam alterações que implicam na produção de 
climas antrópicos. 
Assim, a escala regional do clima assume importante papel para a 
compreensão dos climas naturais e suas transformações em climas produzidos pelos 
agentes e atores sociais, revelando o perfeito caráter geográfico desta perspectiva de 
análise, cujos métodos de abordagem são eminentemente desta área do conhecimento. 
Por fim, as escalas finas, ou seja, os climas locais (mesoclimas e 
topoclimas) e os microclimas relacionam-se com o próprio cotidiano da sociedade e os 
ciclos do mundo natural. 
A complexidade das paisagens urbanas e rurais, explicada pelos vários tipos 
de usos, formas e elementos naturais e antrópicos, configuram espaços e territórios 
bastante especializados. Que interagem modificando os elementos do clima por meio da 
relação entre o balanço de energia e a composição dos sistemas naturais, urbanos e 
agrícolas. 
A velocidade das transformações se dá na escala de horas e dias, ou seja, as 
variações diuturnas dos ritmos da sociedade e da natureza complementam-se e 
conflitam entre si, na medida no nível e extensão do estágio das derivações naturais e da 
produção social do espaço. 
Nesta ordem escalar, as interações ocorrem em interações físicas, químicas 
e biológicas, portanto, em abordagens identificadas com os métodos e técnicas das 
ciências naturais, além daquelas mais vinculadas a estudos das estruturas e processos 
em microescala, como a agrometeorologia agrícola e a arquitetura. 
De qualquer forma, em função da escala de análise dos processos interativos 
entre a atmosfera e a superfície terrestre (incluindo-se aqui os espaços produzidos pela 
sociedade) é que são determinadas as estratégias de abordagem, os métodos a serem 
empregados e as técnicas e de análise apropriadas, E, nesta perspectiva, a geografia 
demonstra ser capaz de contribuir efetivamente, pela natureza de seu objeto e de seus 
métodos, na análise dos processos e dinâmicas em escalas regionais e locais. 
 
BIBLIOGRAFIA

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