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Unidade I - O Pentateuco

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03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
https://online.ftsa.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=1899 1/22
Unidade I - O Pentateuco
Site: FTSA Online
Curso: Bíblia II - Introdução ao AT (GO0820)
Livro: Unidade I - O Pentateuco
Impresso por: Daniel Frank Feliciano CGO 2020/6
Data: segunda, 3 Ago 2020, 15:47
https://online.ftsa.edu.br/
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
https://online.ftsa.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=1899 2/22
Sumário
INTRODUÇÃO GERAL À DISCIPLINA
1. A história do texto do A. T.
2. O Cânon do Antigo Testamento
3. A Torá: A história das origens
4. A Torá: Formas literárias
5: A Torá: Interpretando textos normativos
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
https://online.ftsa.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=1899 3/22
INTRODUÇÃO GERAL À DISCIPLINA
Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) a mais uma disciplina da Área de Bíblia. Desta vez será a disciplina Bíblia II: Introdução ao Antigo Testamento,
cuja ênfase recairá sobre o estudo literário de cada livro, ou seja, o reconhecimento das grandes coleções de tipologias textuais (Pentateuco, Históricos,
Profetas e Poesia) e os principais elementos da composição deles (autoria, data e lugar). Em síntese, esta disciplina cobrirá o Estudo do contexto histórico
e geográfico do antigo oriente, análise literária dos livros do Antigo Testamento. Doravante, para facilitar a escrita, em todo o decorrer da leitura deste
material, será utilizada a sigla AT para Antigo Testamento.
O objetivo desta disciplina é proporcionar ao(à) estudante de Teologia uma visão panorâmica sobre o conteúdo literário do Antigo Testamento, bem como
auxiliar sobre a variedade de leituras (hermenêuticas) das principais coleções, além de oferecer subsídios de ensino e aprendizagem para o anúncio da
Palavra de Deus. Este tipo de abordagem irá paulatinamente contribuir para o crescimento do(da) estudante, tornando a leitura do AT dinâmica, contextual
e relevante para a prática da espiritualidade e estudo da Palavra.
Para esta disciplina, espera-se que o aluno adquira as seguintes competências: a) assimilar a estrutura literária de cada uma das principais coleções; b)
discorrer panoramicamente o conteúdo de cada livro, ou seja, os grandes temas; c) sintetizar as principais divisões (blocos ou perícopes maiores) dos livros
do AT; e d) descrever as grandes coleções do AT enquanto obra literária sagrada. E as principais habilidades são: a) listar e apresentar as divisões do AT;
b) apresentar o conteúdo formal de cada livro; c) praticar a leitura bíblica de textos do AT como estudo devocional e hermenêutico; e d) ensinar o conteúdo
introdutório aos livros do AT para grupos pequenos em comunidades religiosas.
Aqui, na Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), o ensino do Antigo Testamento sempre é enfatizado como uma das ferramentas que possibilita o
entendimento acerca da importância da Palavra (leitura, estudo e interpretação) no processo de formação da identidade cristã, tanto através da prática da
espiritualidade como do aperfeiçoamento do conhecimento (sabedoria) e da qualidade ministerial (culto, liturgia, educação cristã e educação teológica,
aconselhamento, etc). De fato, o ensino do conteúdo bíblico é um dos pontos fortes da instituição, porque acredita na educação como processo de
redenção de vidas.
Outra ênfase que a FTSA quanto ao ensino do AT é que muitos alunos acabam simpatizando-se pelo estudo de textos que acabam se tornando a pesquisa
do Trabalho de Conclusão de Curso. E, dentre os textos mais escolhidos, os Profetas e os Salmos são os mais apreciados pelos estudantes. Tal escolha
comprova o porquê termos alunos voltados à prática da justiça – uma qualidade essencial do ministério profético – e do sentido da vida enquanto indivíduo
integralmente alcançado pela fé em Cristo – uma transformação ocasionada em pessoas que foram impactadas por um ministério voltado ao cuidado da
vida.
Portanto, a estrutura do conteúdo desta disciplina será cumprida em quatro unidades. A primeira delas corresponde ao agrupamento dos cinco primeiros
livros do AT, denominado de Torá ou simplesmente Pentateuco. Em seguida, virá o conteúdo dos livros Históricos – assim denominados porque se
referem à transição do período tribal para o período monárquico e suas composições, ou seja, rolos que trazem dados da historiografia do povo de Deus. A
terceira unidade tratará sobre os efeitos estilísticos e poéticos da Sabedoria ou simplesmente Poesia – conjunto de livros que tratam de ensinamentos
sobre o estilo de vida, comportamentos, orientações, práticas litúrgicas, celebrativas e ritos. A quarta e última unidade discorrerá sobre um agrupamento de
dezessete livros, denominados Profetas – grupo de escola sapiencial que inauguram o movimento dos arautos de Deus.Como já dito, esta disciplina
fornecerá uma visão panorâmica de cada uma das grandes coleções do AT.
Para que você, aluno(a) de Teologia, obtenha excelente êxito nesta disciplina, é oferecida uma estrutura que irá te proporcionar um entendimento
panorâmico (geral) de como será ensinado o conteúdo. Esta estrutura é baseada na metodologia dos livros de Introdução ao Antigo Testamento. Ou seja,
há um roteiro fixo (físico e mental) que percorrerá todo o estudo do AT, mas que se torna dinâmico quando o conteúdo de cada um dos livros é inserido.
Esta metodologia é oferecida por todas as instituições sérias de ensino teológico, mas é preciso já fazer aqui uma breve distinção, qual seja: não se deve
entender esta disciplina como aquela que irá interpretar a passagens bíblica de um livro do AT, mas aquela que irá oferecer uma visão panorâmica de todo
o livro. E por que assim, deste jeito? É porque a disciplina é de Introdução ao AT, logo, a metodologia é de oferecer uma visão panorâmica. Mas, quando
chegar a disciplina de Metodologia Exegética, então serão oferecidos os instrumentos (roteiros) e ferramentas (procedimentos de interpretação) para uma
passagem (tecnicamente chamada de perícope). Neste caso, não se adotará livros de Introdução, mas os de Comentários exegéticos.
Então, o roteiro sugerido para esta atual disciplina é o seguinte: autoria, lugar, data, conteúdo, forma literária. No primeiro quadro a seguir, você entenderá
como deve ser feita a identificação da autoria, também chamada de redator, escritor, ou ainda, remetente. Trata-se de obter uma visão geral sobre o tipo de
pessoa que escreveu o referido texto (conhecimento sobre o assunto, observação indireta ou participação direta, nível de formação e meios de acesso à
informação, etc). A descoberta da autoria é mediante vários métodos de identificação escriturística, auto-revelação (o próprio autor se declara na escrita),
pseudonomia (quando atribui-se a obra a uma pessoa renomada, célebre, notável, geralmente como homenagem), ou ainda quando convencionou-se
tradicionalmente dar um nome à composição do texto. Enfim, saber sobre a autoria de um texto ajuda, na maioria das vezes, no processo de interpretação
do texto todo.
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
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No segundo slide, a estrutura é utilizada para descobrir sobre o lugar em que o livro bíblico foi escrito. Esta técnica ajuda a identificar (e a entender) dois
tipos de contextos: o do autor e o do leitor. A relevância desta identificação consiste em assumir os papeis de intérprete sobre o texto bíblico. Por exemplo,
a leitura do Salmo 1 permite situar um homem abençoado (feliz) porque, em sua trajetória de vida, não se ajuntou a homens injustos (incrédulos), antes
preferiu meditar na Palavra de Deus e buscar estilos de vida abundante e saudável, tal como a do homem do campo, junto ao riacho e alimento da terra. No
entanto, a composição deste salmo, dando abertura ao Saltério (150 salmos) foi escrito durante o período do Exílio Babilônico, cujo movimento sacerdotal
procurou recuperar a cultura e a tradição nacional de Israel através de cânticos e celebrações litúrgicas, ao mesmo tempo que adoravam e cultuavam a
Deus.Neste sentido, qual é o real contexto: o do leitor, que insiste em ser um homem abençoado? ou o do escritor, que quer estimular a viva esperança de
culto em meio a terras estranhas? Seja qual for o contexto escolhido, a interpretação será: se for o do leitor, então o comentário será sobre a vida simples,
de um lavrador ou morador do campo, sistema familiar e tribal, vinculado às raízes da terra como bênção de Deus; e se for o do escritor, então o comentário
será sobre a tradição sacerdotal que resgatou valores centrais do estudo da Lei (Torá) de Deus como roteiro de uma vida bem sucedida.
O terceiro roteiro apresenta a dica de como pode-se determinar a data da escrita. Na verdade, é mais um indicativo de como pensou-se a cronologia do
livro do que propriamente a convenção do calendário (dia, mês e ano). São raros os textos que dão estas dicas. Miquéias 1:1, por exemplo, é rico em
informar quase com exatidão o período de sua escrita: “Palavra de Javé dirigida a Miquéias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e Ezequias eram
reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito de Samaria e Jerusalém”. A relevância desta identificação colabora muito para o levantamento
do contexto histórico – um procedimento requisitado pela Hermenêutica e par excellence pela Exegese Bíblica. A datação é uma etapa importante, pois
auxilia o leitor (intérprete) a observar o tempo de como uma determinada situação estava sendo peculiar para uma comunidade e, em seguida, como no
desenvolvimento da narrativa (ou da história) essa mesma situação foi alterada (transformada), seja para uma destruição ou para uma restauração.
O quarto slide aponta para a análise do conteúdo de cada livro do AT. Trata-se de uma metodologia que facilita o rápido entendimento sobre o todo do livro.
É muito comum, inclusive, ater-se às divisões principais (também conhecida como composição e/ou estrutura). Classicamente, esta análise é feita a partir
de vários blocos (ou agrupamentos), indicadas em cada livro de Introdução ao Antigo Testamento ou nas Bíblias de Estudo. A relevância desta técnica
contribui para a rápida assimilação do conteúdo, a fim de direcionar o(a) estudante para a unidade de pensamento entre outros livros. A divisão do conteúdo
possibilita o estudo sistemático de leituras históricas e teológicas, difundidas pelo próprio escritor do livro bíblico. Por exemplo, o livro de Salmos é dividido
em cinco grandes agrupamentos (assemelhando-se à divisão do Pentateuco), mas que dentro de cada divisão sempre há um salmo introdutório e um salmo
conclusivo, cooperando com o leitor sobre o entendimento dos 150 salmos produzidos. E, da mesma forma, como entender a divisão do livro de Isaías, a
partir da classificação de autoria: Primeiro Isaías (capítulos 1-39), Segundo Isaías (capítulos 40-55) e Terceiro Isaías? (capítulos 56-66). Em outras palavras,
a divisão é um sistema de leitura e de interpretação.
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O quinto, e último, roteiro considera a identificação da tipologia textual (também chamada de análise literária, ou ainda crítica das formas), através da qual
os escritores bíblicos fizeram uso para comunicar a mensagem de Deus. Quando o assunto foi escrito, o autor teve que colocá-lo em uma forma textual, e,
para isto, ele precisou adotar linguisticamente um tipo de texto que fosse conhecido pelos leitores e de fácil compreensão. Vale dizer aqui que as tipologias
textuais são adotadas naturalmente pelos compositores (escritores), e, tratando-se de contextos culturais de leitores, ocorrem muita dificuldade de
interpretação quando o contexto literário do leitor difere do contexto do autor. Por exemplo, a forma de oráculo profético, pronunciado por Amós, não se
encontra em nenhuma produção literária de falantes brasileiros, pois as formas são diferentes. Neste sentido, o(a) aluno(a) de Teologia estuda as formas ou
tipologias textuais contidas nos textos bíblicos, também chamados de perícope, para compreender as partes do texto (estrutura), e, ao mesmo tempo,
identificando os recursos literários utilizados para produzir o sentido e significado, isto é, as rimas, as figuras de linguagem, os efeitos sonoros, etc.
(chamada de análise estilística).
No , é feita a apresentação e, ao mesmo tempo, a indicação de três livros sobre a Introdução ao Antigo Testamento. Não se
trata de leitura obrigatória, nem tampouco de aquisição (compra) deles. A presente indicação é uma recomendação sobre obras que discorrem sobre cada
livro do AT, cujo propósito é situar o(a) estudante sobre o conteúdo escriturístico revelado por Deus ao seu povo.
vídeo introdutório da disciplina
https://www.vimeo.com/ftsalondrina/review/351015821/164cbc42ef
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
https://online.ftsa.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=1899 6/22
1. A história do texto do A. T.
Introdução
Nesta primeira unidade, você irá obter uma visão geral (ou panorâmica) sobre o conteúdo dos cinco (penta, cinco) primeiros livros
(teucos, rolos) do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Para isto, a proposta de estudo abordará os
seguintes tópicos: (1) A história do texto do Antigo Testamento, (2) O cânon do Antigo Testamento, (3) A Torá: A história das origens,  (4) A
torá: Formas Literárias, e (5) a TORÁ: Interpretando textos normativos. Em cada um deles, haverá vídeos, leituras complementares e a
seção SAIBA MAIS, além dos 2 exercícios de fixação, dos 2 exercícios de aplicação e de 1 exercício de reflexão.
O objetivo desta unidade é conhecer as diferentes formas textuais dos cinco primeiros livros e dominar os principais conteúdos de cada
um deles. Recomenda-se que, para o estudo de cada livro, o texto bíblico seja consultado panoramicamente, a fim de familiarizar-se
com a leitura das aulas e a imediata conferência com a Bíblia.
A Avaliação 1 será feita no fim da Unidade II, sendo composta de dez questões objetivas.
É de comum senso que literalmente os livros não caem do céu. Os textos escritos (em vez de textos orais) têm autores, usam letras, uma certa língua (ou
mais de uma) e utilizam algum meio material para serem preservados no tempo. Uma longa história de produção, tradição e tradução aconteceu para que
hoje os leitores pudessem acessar os textos do AT através de um belo volume impresso de papel, com capa de couro e em uma língua inteligível. Assim
como hoje, os mecanismos e recursos digitais, têm possibilitado um alcance maior de leitores do AT.
As palavras do AT (tanto como as do NT) foram escritas por homens (Jo 1:14), mas sob a orientação do Espírito Santo, isto é, foram “inspirados” a escrever
a Palavra de Deus). Isso significa que o AT tem uma origem humana, a partir da qual deve-se conhecê-la para melhor perceber a sua mensagem. Define-se
o processo de formação da Bíblia através da seguinte sequência:
Os homens de Deus:
• contaram e transmitiram as palavras de Deus oralmente (Dt 6,6-7; 1Co 15,3);
• escreveram textos em tabuletas de argila e em folhas de papiro (Ex 17,14; Jr 36,2; Lc 1,1-3);
• copiaram as tabuletas e as folhas e juntaram-nas em rolos e em códices (compilações de folhas de papiro ou pergaminho).
Depois dos rolos e códices, vieram os livros escritos e mais tarde os livros impressos. Os textos originais do AT (isto é, os textos escritos pelo próprio autor)
não existem mais. A única coisa que preservada até os dias atuais são as cópias e as cópias das cópias. Arqueólogos conseguiram achar pedaços e partes
de cópias bastante velhas dos textos do AT, mas nunca acharam um texto original escrito por um autor bíblico. Vale ressaltar aqui, que o AT atual,
disponibilizado nas inúmeras versões de Bíblia em Língua Portuguesa, sempre considerou o critério do cânon para afirmar que a Bíblia (AT) está completa.
Ou seja, Deus deu sua Palavra completa, não podendo haver acréscimos! E, no desenvolvimento da transmissão e ensino acerca das Escrituras, o leitor
cristão interpretou literalmente que a Bíbliafoi encontrada integralmente em um só volume. Vale a pena estudar sobre os detalhes de cada descoberta e de
cada procedimento utilizado pela Comissão no processo de formação do cânon.
Há quatro fatos que precisam ser destacados para conhecer sobre a história do texto do AT. O primeiro deles é sobre Os Rolos de Qumran ou
simplesmente Os Papiros do Mar Morto. Afinal, as histórias mais notáveis sobre a formação do AT, para exemplificarem sobre a chegada da Palavra de
Deus até nós, são melhores aceitas quando contadas pelos achados dos rolos do Mar Morto, em Qumran. No ano de 1947, um jovem pastor de ovelhas
achou em uma cova nas montanhas perto do mar morto uns rolos de escritura depositadas em cântaros de barro. Levou alguns deles e os vendeu na feira
da sua aldeia. Por acaso um arqueólogo passou por aquela feira e achou os rolos. Logo reconheceu o grande valor deles e comprou-os. Depois pediu ao
jovem que lhe mostrasse o lugar onde é que tinha achado os rolos. Assim foram descobertas as cavernas de Qumran, que contêm uma antiga biblioteca de
um monastério judaico (os monges de Qumran), situado perto do Mar Morto, onde foram guardados inúmeros textos sagrados do AT originários do ano 200
a.C., isto é, quase mil anos mais velhos de que os códices de Aleppo e Leningrado. A investigação dos rolos de Qumran mostrou que não existe uma
diferença significativa entre os textos do ano 200 a.C. e as cópias do ano 930 d.C. Uma prova maravilhosa da fidelidade e exatidão do processo da tradição
dos textos sagrados do AT.
O segundo fato pelo qual pode-se adotar como entendimento acerca da formação do Antigo Testamento diz respeito à existência da Septuaginta,
comumente chamada de Tradução dos Setenta, ou ainda, representada pela numeração romana LXX. Ela foi a primeira coleção completa dos livros do
AT. A palavra septuaginta é latina e vem de uma tradição antiga que afirma ter sido exatamente setenta e dois homens que fizeram tal tradução. Mas na
verdade este trabalho levou muito mais tempo, mais ou menos de 300 até 100 a.C. A razão porque esta tradução foi feita é que houve muitos judeus, na
época do Império Romano (a partir de 63 a.C.) que viveram fora dos territórios da Palestina e que não aprenderam a língua hebraica dos seus
antepassados. Eles precisaram de uma tradução de suas Sagradas Escrituras na língua oficial do Império Romano, que na época era o grego. A qualidade
e o estilo da tradução são bem variados de livro para livro. Há casos que saem do literal à paráfrase. Em sua origem, a ordem dos livros da LXX eram: a
Torá, os Livros Históricos, os Livros Poéticos, os Apócrifos e os Livros Proféticos. Na época da Igreja Primitiva (século I), a Bíblia que tanto os apóstolos e
os cristãos liam e citavam era diretamente uma referência à LXX. Neste sentido, algumas citações no NT que fazem referência às passagens do AT
parecem livres e diferentes do atual AT, que foi traduzido do diretamente do hebraico.
O terceiro fato que precisa ser considerado é a contribuição dos Massoretas. As cópias mais importantes dos textos do AT são as cópias feitas na língua
hebraica, realizada por uma escola de escribas israelitas chamados massoretas. Os massoretas foram homens com uma grande tradição na arte de
escrever e copiar; produziram cópias dos livros do AT e, ao mesmo tempo, tiveram o objetivo de manter o texto original inalterado e ileso. Durante muitos
séculos, os massoretas mantiveram uma tradição irrepreensível e imaculada dos textos do AT. Porém, as cópias mais antigas, escritas pelos massoretas,
ainda preservadas atualmente, são originárias do ano 930 d.C. São os códices chamados Codex Aleppo e Codex Leningradensis (têm estes nomes porque
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
https://online.ftsa.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=1899 7/22
se encontram hoje em dia nos arquivos das cidades de Alepo e Leningrado (St. Petersburgo, na Russia). Isto significa que entre o tempo em que o último
livro do AT foi escrito (400 a.C.) e o tempo em que a cópia mais antiga do AT inteiro foi escrita, existe um espaço de mais de que 1000 anos! Logo, as
cópias massoréticas conseguiram manter o sentido da originalidade da Palavra de Deus, ditada, narrada e copiada do AT.
Por último, o quarto fator no estudo da formação do texto do AT a ser considerado refere-se à Bíblia Hebraica. Ao observar o uso frequente da LXX na
igreja cristã (primitiva), i.e., como os fiéis conseguiram provar, através dos próprios textos da LXX, que Jesus Cristo é o Messias, os judeus decidiram
abandonar esta tradução grega e voltaram para a sua Bíblia Hebraica, isto é, a coleção dos livros do AT na língua hebraica. Esta coleção já tinha existido
antes de Cristo, o próprio Senhor Jesus a usou (Lc 24:27 e Mt 23:34). Entretanto, o Cânon Hebraico tornou-se fixo e foi estabelecido somente no ano 90
d.C., no Sínodo de Jabne ou Jâmnia, em rejeição à LXX que os cristãos utilizaram. E, para tornar tal diferenciação mais nítida da LXX, uma nova ordem de
livros foi colocada para a Bíblia Hebraica: Lei, Profetas Anteriores (Livros Históricos), Profetas Posteriores, Escrituras. Por este tempo, alguns cristãos
continuaram seguindo a LXX e, por isto, decidiram manter a ordem antiga, na qual os Profetas Posteriores vêm no fim, pois apontavam para Cristo. Já os
judeus decidiram acrescentar os 5 rolos das festas (Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações e Ester) e os livros do tempo do cativeiro (Daniel, Esdras,
Neemias e Crônicas) para o fim do cânon.
O vídeo a seguir não é propriamente um vídeo, mas um áudio, narrado por Maurício Filho. Trata-se de um resumo muito significativo sobre a Lei (Torá,
Pentateuco). Vale a pena observar como a exposição faz relações sobre as dualidades: material e espiritual, entre outros.
Assista ao vídeo: O que é Torá / Pentateuco? Duração: 10m40s
 
Exercício de Fixação - 01
Basicamente, o judaísmo e o cristianismo têm fonte primária na literatura do Antigo Testamento, cuja história de transmissão,
preservação e desenvolvimento foram reconstruídos através de achados importantes, compromisso pessoal de grupos religiosos,
cuidado quanto à tradução dos textos e respectiva produção escrita como referência de leitura. Especificamente sobre a história
do texto do AT, é correto afirmar que:
a. ( ) O AT abrange os rolos de papiros encontrados no Cairo (Egito), quando os hebreus estavam no Egito e, depois os escritos exílicos que foram
encontrados em Nínive. 
b. ( ) O AT compreende historicamente os rolos de Qumran, a Septuaginta, os textos massoréticos e a BHS (Bíblia Hebraica). 
c. ( ) O AT é o primeiro testamento, escrito por Moisés, e refere-se aos livros de Gênesis, Levíticos, Números, Josué e Juízes, porque resumem a história
do povo de Deus. 
d. ( ) O AT é a coletânea escrita durante a peregrinação no deserto, desde o Sinai até à entrada em Canaã, e os escritos foram preservados pelos levitas. 
e. ( ) O AT registra os feitos de Deus com o seu povo e, resumidamente, refere-se apenas ao Código de Lei, isto é, aos Dez Mandamentos.
 
10:39
https://online.ftsa.edu.br/mod/quiz/view.php?id=1903
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
https://online.ftsa.edu.br/mod/book/tool/print/index.php?id=1899 8/22
2. O Cânon do Antigo Testamento
Para iniciar este tópico, vale a pena gastar algumas linhas sobre a definição de cânon. Basicamente, o significado é “régua”, isto é, a medida utilizada para
determinar a exatidão dos critérios previamente escolhidos. Trata-se de confirmação do conteúdo do texto (mensagem, ensinamento e função) em relação
aos demais textos já canônicos. É mais uma procura por erros teológicos (ou dogmáticos) do que de produção literária. Uma vez que o texto passasse
pelos critérios de análise canônica (literalmente pelas medidas), ele era inserido aos demais já existentes e começava a ser chamado de Escritura.
O que vale também afirmar aqui é que os textos do AT influenciaram demais a teologia cristã, bem como de outras literaturas sacras no mundo. Como já
dito, o AT era considerado a Bíblia dos primeiros cristãose também a Bíblia de Jesus. Tanto Jesus como os primeiros cristãos costumavam ler o AT em uma
tradução grega (a Septuaginta [LXX]). A imagem seguinte mostra uma página deste texto. Trata-se de um manuscrito da metade do século IV.
Acima, você pode ver duas páginas do Codex Sinaiticus, ou seja, o texto do AT em grego. Observe que este texto é sem divisões entre as palavras
e utiliza só as letras maiúsculas. Os primeiros cristãos e os judeus que, possivelmente, não falavam hebraico utilizavam este texto para conhecer o
conteúdo do AT. Se você é capaz de ler em inglês, visite este o site a seguir. Você poderá visualizá-lo, sem precisar ir até a biblioteca. Disponível
em: .
Para o mundo cristão, o AT é inseparável do NT, pois juntos constituem-se no que comumente chama-se de Bíblia Cristã. E, neste caso, o AT é a primeira e
a maior parte desta Bíblia. E, como o AT é especificamente sobre o povo de Israel, os textos dele desempenham um papel muito relevante para as
comunidades cristãs, pois há sempre a necessidade de interpretar o contexto hebraico, associado à respectiva mensagem de Deus para o seu povo, e,
posteriormente, deve-se reler tal contexto à luz da mensagem do Novo Testamento. Em certo sentido, isto explica porque há sempre leituras do AT na
liturgia que as comunidades cristãs fazem semanalmente.
A Bíblia tem um papel decisivo para a fé cristã, pois ela testemunha acerca dos feitos de Deus no mundo. A pergunta com que muitas religiões se ocupam
é: “Como conhecer a Deus?” Algumas filosofias e religiões acham que o seu deus pode ser reconhecido pelo pensamento humano, pela nossa
interpretação do mundo, ou experiências paranormais. Outra máxima vale para a religião cristã: o Deus cristão quer ser reconhecido como aquele que já se
revelou para os homens.
Jesus era judeu, conhecia as Escrituras Sagradas do Judaísmo e testemunhou de que não havia nenhum outro deus além do Deus dos patriarcas de Israel:
o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A Bíblia não só testemunha da experiência de Jesus, mas da totalidade dos procedimentos de Deus “Pai”, como Jesus
disse no primeiro pedido da Oração do Pai Nosso. Isto também nos amarra, como cristãos, ao AT. Sem dúvida, Deus está continuamente agindo na história
e está presente também nos dias de hoje, mas na Bíblia o testemunho foi interpretado mais claramente. Consequentemente, na fé cristã pode-se refletir
sobre Deus somente na interação com a Bíblia. Sem a Bíblia não há nenhum conhecimento de Deus que seja confiável. Portanto, o AT era a Bíblia de
Jesus.
A Bíblia nos traz experiências das primeiras testemunhas de nossa fé. Pois a Bíblia preserva o testemunho da fé desde gerações distantes, sendo assim,
nossa obrigação em torno dos textos bíblicos é dupla: (1) precisamos de uma compreensão histórica – o que o texto significava; (2) precisamos buscar o
significado atual dos textos bíblicos – o que o texto significa.
Na história cristã houve e ainda há a tentativa de desvalorizar o AT como um documento obsoleto ou eliminá-lo do cânon cristão. Já em meados do séc. II o
teólogo cristão Marcião de Sinope elaborou a tese de que o Deus proclamado por Jesus e Paulo estava em contradição ao deus vingativo e feroz do AT. Em
discussões calorosas, a Igreja Antiga insistiu na primeira parte do cânon e considerou Marcião como herege da igreja junto com seus numerosos
seguidores. Mas as perguntas que Marcião propusera foram levantadas muitas vezes durante a história da igreja.
No século XIX o famoso historiador da igreja, Adolf von Harnack, exigiu que finalmente estava na hora da igreja cristã lançar o AT (como símbolo da grande
paralisação eclesiástica) no monte de escória da história (HARNACK, 1924, p. 217).
A desvalorização do AT frequentemente andava e anda junto com a desvalorização do povo judaico. O antijudaísmo cristão contribuiu com o antissemitismo
moderno. A igreja entendeu como um novo Israel herdando o status do antigo povo de Deus que consequentemente deserdou. O AT, por consequência, era
a escritura sagrada de uma religião estranha e sem graça.
Por isso, não deve-se esquecer o seguinte: Jesus era judeu, Paulo também. O que é chamado no cristianismo de “Antigo Testamento” era a Bíblia que
ambos possuíam. As escrituras judaicas determinavam seus pensamentos e conversas. Além disso, os textos do Novo Testamento não podem ser
entendidos sem o AT. Eles frequentemente reiteram os conceitos, imagens, metáforas, fundamentos, histórias e teologia do AT. Só pense sobre esse nome
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“Jesus Cristo” ou “Messias”!
Neste sentido, pode-se chamar a Bíblia cristã de uma “edição ampliada” do AT. Significa dizer que nessa “nova edição” há novas escrituras (biografias,
livros históricos, cartas...) que foram tomando o título de sagradas escrituras. Isso tem algumas implicações para a nossa concepção e para o nome do AT.
O AT não conta com nenhuma designação própria para sua coleção de livros. Como já visto, a escritura sagrada dos judeus foi a Bíblia de Jesus e de seus
discípulos. Por isso, o NT refere-se ao AT como “a escritura” ou “as escrituras”. Em o NT percebe-se uma diferenciação entre esse corpus das escrituras:
A lei (de Moisés)
e os profetas
Moisés e
os profetas
Moisés, os profetas
e as escrituras
A lei de Moisés, os
profetas e os Salmos
Mt 5:17; 7:12;
11:13; 22,40;
Lc 16:16; Jo 1:45;
At 24:14; 28:23;
Rm 3:21
Lc 16:29.31 Lc 24:27 Lc 24:44
No vídeo abaixo, há um trecho retirado do filme “Os Dez Mandamentos”, gravado em 1956 (mas a imagem está excelente). Entenda como a ênfase é feita
sobre o entendimento do termo “Lei” como liberdade, viver e morrer sem lei, a lei de Deus, etc.
Vídeo: Os Dez Mandamentos - Duração: 4m20s
No prólogo à tradução grega do livro apócrifo Eclesiástico ("Sirácida”, 132 a.C.) diz: “Muitas e grandes coisas são nos dados através da lei, dos profetas e
das outras escrituras, que lhe seguem...”, dando a interpretar que “outras escrituras” poderiam significar os “testamentos”. A terminologia “testamento”
sugere a ideia de “aliança”, como pode-se observar no NT:
Lc 22,20; 1Co 11,25: “Este cálice é o novo testamento/aliança no meu sangue...”;
2Co 3,6:“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento/aliança ...”;
Hb 9,15; 12,24: Jesus como Mediador do novo testamento/aliança.
Pode-se, então, com isto deduzir que as ações de Deus anteriormente são da “velha aliança/antigo testamento”? Claro que não! Especialmente 2Coríntios
3:6 (evidentemente) põe uma relação desigual entre a velha e nova aliança. Mas isso não é correto no que tange a relação entre AT e NT. E com o anúncio
do Novo Testamento já no AT, em Jeremias 31, é preciso distinguir bem esses conceitos de aliança. Entretanto, em 2Coríntios 3:14 encontram-se os dizeres
paulinos: “Mas os seus sentidos se endureceram; porque até hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo
revelado que, em Cristo, é removido”. Aqui, onde se lê “antiga aliança,” refere-se, obviamente, a um livro. O que leva a concluir, por um lado, em um
comentário sobre o AT no NT que o AT é antiquado. Por outro lado, isso obviamente não é verdade para todo o AT. Contudo, aqui encontra-se essa tensão
entre a continuidade e descontinuidade ao descrever a relação entre os dois testamentos (livros).
Por causa disso, Erich Zenger sugere descrever o AT como “Primeiro Testamento” (ZENGER, 2003). Alguns teólogos também usam o termo “Bíblia
Hebraica” ou “Tanach”, uma palavra artificial que vem das letras iniciais das palavras hebraicas, que descrevem o conteúdo tripartido do AT: Torá, Neviim e
Ketuvim (Instrução-Lei, Profetas e Escrituras). Essas possibilidades evitam termos que sugerem uma depreciação do AT. Todavia, chamar essa primeira
parte da Bíblia cristã “Antigo Testamento” é uma designação tradicional que está sempre lembrando os cristãos de que o Novo Testamento é uma
continuação doAT. Contudo, deve-se estar alerta aos perigos de uma desvalorização dos livros incluídos e também da probabilidade de barreiras na
conversação com os judeus.
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Pelo menos hoje, precisa-se de uma forte valorização do AT. Especialmente na sociedade atual, na qual a fé cristã está cada vez menos conhecida, e deve-
se enfatizar mais a leitura do AT. Sem o AT, toda a salvação de Jesus fica “no ar”. Além disso, o AT esclarece as perguntas fundamentais do ser humano em
relação a Deus.
Um lembrete: O AT testemunha acerca do amor de Deus pelo pecador, bem como as variadas tentativas de resgate e redenção deste pecador.
Um dos grandes obstáculos porque muitos rejeitam a Cristo é porque também rejeitaram a revelação do Antigo Testamento.
Diferente do NT, o cânon do AT possui diferenças de tamanho para várias igrejas cristãs. As dúvidas giram, acima de tudo, em torno dos livros apócrifos
(literalmente “livros escondidos”). A Igreja Antiga os incluiu em torno de 400 d.C. Eram livros que o judaísmo e os primeiros cristãos não incluíam nas
escrituras sagradas. Foram os reformadores no séc. XV que decidiram que todos os livros sem fundamento hebraico não deviam ser utilizados nos cultos
públicos, sendo que, dessa forma, eles também não pertenciam ao cânon.
A Igreja Católica ficou com os apócrifos (Judite, Tobias, Baruque, Eclesiástico, Sabedoria de Salomão, I e II Macabeus, além de adições aos livros de Ester
e Daniel). Ela aceitou esses livros como “livros deuterocanônicos” (= livros de um segundo cânon). Entretanto, as 11 Igrejas Ocidentais (Igreja Ortodoxa)
decidiram, apenas em 1672, incluir os livros Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria de Salomão. A tradição judaica desde o início se limitou para as
escrituras hebraicas (ou aramaicas; partes de Esdras e Daniel). Esta delimitação do conteúdo do cânon (judaico) pode ser datada no tempo de Jesus.
O cânon judaico reflete os tempos de origem e canonização dos vários livros da coleção. Também percebe-se uma hierarquia entre os livros – nenhum dos
livros tem a mesma autoridade que a Torá. Por isso a tradição rabínica colocou um alto valor na “Torá Oral” que traz a maior parte da Torá do Sinai. Essa
tradição oral foi escrita na Mishná e outros livros. Esses textos nunca foram continuados pela igreja cristã. A hierarquia é também visível nas leituras na
sinagoga. A Torá é lida inteiramente todos os anos. Vários textos dos profetas são lidos como comentários da Torá. Entre as Escrituras, os Salmos e os
Megilloth (“cinco rolos”: Cântico; Rute; Lamentações; Eclesiastes; Ester) fazem parte da liturgia - mas com uma função menos importante que a Torá. Os
últimos são lidos nas grandes festas do judaísmo:
Os 5 Megilloth
Schavuot Pessach Sucot Tishá BeAv Purim
Festa das
semanas
Festa da
páscoa
Festa dos
Tabernáculos
Festa de
comemoração da
destruição do
templo
Festa de Purim
Rute Cântico; Eclesiastes Lamentações Ester
Como a palavra grega “cânon” significa “regra” ou “instrumento de medir”, é possível já pensar em produção teológica. Com o termo “cânon do AT”
determina-se a coleção encerrada de escritos inspirados pelo Espírito Santo. Abrange aqueles escritos que têm autoridade normativa para a igreja, isto é,
que servem como regra para a o desenvolvimento da fé e da vida dos cristãos. Pode-se resumir uma interpretação teológica do cânon a partir da
contribuição de Erich Zenger (2003):
Bloco Seção Assunto Interpretação
I Gn – Dt Revelação originária no Sinai Torá como promessa e interpelação
II Js 2 Mc História de Israel na terra Passado
III Jó – Sr Sabedoria para a vida Presente
IV Is – Ml Profetismo Futuro
Os livros Gn-Dt preservam que a Torá revelada no Sinai, contendo os dois focos “mandamento do amor a Deus” - “mandamento do amor ao próximo” (cf.
Mc 12:28-34 par.), constitui a revelação originária de Deus, fundamentada na Criação e quem vem a todos os povos por meio de Israel. O fato de os Dez
Mandamentos terem sido outorgados como proclamação de direito divino e de direito humano conforme a “história” no deserto do Sinai e anterior à tomada
da terra, descrita em Gn-Dt, é interpretado pela própria tradição judaica como mandamentos que não devem ser lei de vida apenas para Israel, mas para
todos os povos. Isso vale justamente para os cristãos, que devem “cumprir” a Torá no discipulado de Jesus (cf. Mt 22:34-39 com base em Mt 5:17-20). Os
blocos subsequentes II-IV visam conduzir para essa vida com a Torá do Sinai.
O bloco II (Js-2Mc) demonstra a partir do exemplo de Israel o que acontece numa comunidade que vive com essa Torá, mostra sua concretização e como
isso ocorre, mas também que pode fracassar. Os leitores cristãos da Bíblia devem sentir e experimentá-lo com esse povo, envolvendo-se intimamente –
como história de suas irmãs e seus irmãos judeus (não como história deles próprios) e como história do seu Deus comum.
O bloco III (Jó-Sr) convida cada pessoa a buscar, com ajuda desses escritos sapienciais, a verdadeira sabedoria salvadora da vida. A maneira de fazê-lo é
ouvir a Torá, orando-a e meditando nela, pois ela se comunica, a todos os que se abrem a ela, por meio da Criação e das instruções a Israel.
O bloco IV (Is-Ml) projeta a visão de que o mundo e a história chegam à plenitude quando os povos peregrinam até Sião, para lá aprender a grande Torá da
paz de Javé (Is 2,1-5: texto programático canônico no início do bloco IV) e para participar desse modo da renovação ou restauração fundamental de tudo,
prometida pelos livros dos profetas a toda a terra – e que acontecerá, naturalmente não deixando Israel de fora, mas por meio desse povo e com ele. A
partir de profetismo, que por diversas correntes foi lido no tempo de Jesus como promessa escatológica, isto é, como projeto de um drama consistente do
fim dos tempos, até mesmo a Torá (bloco I) adquire um dinamismo profético-escatológico na perspectiva da expectativa imediata do fim. Por outro lado, o
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agir de Javé em e por meio de Jesus (singularmente no evento da Páscoa), testemunhado no Novo Testamento, pode ser entendido como ato decisivo no
contexto desse drama escatológico anunciado pelos profetas. Dessa maneira, na Bíblia cristã, o profetismo abre-se em direção do Novo Testamento que o
segue” (ZENGER, 2003, p. 40s).
Neste sentido podemos também ler o NT: 
Fundamentação Torá Evangelhos
Passado Livros históricos Atos dos Apóstolos
Presente Livros sapienciais Epístolas Apostólicas
Futuro Livros proféticos Apocalipse de João
Exercício de Aplicação - 02
Observe as três figuras abaixo e as respectivas descrições de cada uma.
Duas pessoas estão
conversando sobre assuntos
variados. Quando cada uma
delas chega em sua casa,
repassam o conteúdo da
conversa para os demais
membros da família. Algumas
chegam, inclusive, a gravar o
áudio para os membros da
família que, ocasionalmente,
estão distantes.
Um vendedor viajante sai às ruas
anunciando os produtos de sua
própria produção agrícola. São
verduras e legumes frescos, colhidos
diariamente de sua horta.
Geralmente, ele estaciona o seu carro
com os produtos e faz o anúncio, que
consegue ecoar até aos moradores
distantes de sua barraca
Um designer gráfico é
responsável por produzir um
cartaz, cujos enunciados
foram esteticamente
elaborados para a produção
do sentido e significado. Mas
nem todos os leitores
entendem a mensagem, pois
estão acostumados com letras
redondas e formatos
convencionais.
ISTO PORQUE:
Os homens de Deus:
• contaram e transmitiram as palavras de Deus oralmente;
• escreveram textos em tabuletas de argila e em folhas de papiro;
• copiaram as tabuletas e as folhas e juntaram-nas em rolos e em códices (compilações de folhas de papiro ou pergaminho).
PORTANTO, é correto afirmar:
a. ( ) A forma de transmissão do Antigo Testamento foi a epifânica, ou seja, “a voz de Deussendo falada audivelmente”.
b. ( ) A inspiração das escrituras pelo Espírito Santo é o único critério de fidelidade porque os escritores resumiram a Palavra de Deus em linguagem
escrita.
c. ( ) A palavra ditada é o livro de Deuteronômio, pois significa repetição da Lei.
d. ( ) O uso do conteúdo dos textos veterotestamentários, através da recitação e da leitura, se tornaram meios de registro, preservação e transmissão para
os copistas e escribas.
e. ( ) Os povos semitas, em especial o povo de Deus, gostam de repetir e decorar textos, sejam eles sagrados ou não.
Saiba mais: O PENTATEUCO – RESUMO!!! Para ler e visualizar rapidamente o conteúdo de cada um dos livros do Pentateuco, clique no
endereço abaixo. 
GÊNESIS = 
ÊXODO = 
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Genesis.html
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Exodo.html
https://online.ftsa.edu.br/mod/quiz/view.php?id=1904
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Genesis.html
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Exodo.html
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LEVÍTICOS = 
NÚMEROS = 
DEUTERONÔMIO = 
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Levitico.html
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Numeros.html
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Deuteronomio.html 
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Levitico.html
https://www.gotquestions.org/Portugues/Livro-de-Numeros.html
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3. A Torá: A história das origens
A interação entre o AT com seu contexto ocorre quando comparamos o conteúdo de Gênesis 1-11 com as histórias contadas por outros povos daquela
época e região. Em 1872, George Smith descobriu no Museu Britânico o primeiro texto paralelo bem próximo ao Gênesis 1-11. Traduzindo uma tábua
cuneiforme da biblioteca assíria de Assurbanipal (séc. VII a.C.) em Nínive, ele percebeu que tinha encontrado um relato de um dilúvio global que em muitos
aspectos se assemelhava à história contada em Gênesis. Mais tarde foi descoberto que o texto de Smith fazia parte da Epopeia de Gilgamesh.
Essa obra conta a respeito de um grande rei que saiu do seu papel real para viajar pelo mundo em busca da imortalidade. A Epopeia de Gilgamesh foi
composta provavelmente por volta de 1700 a.C. e, bem depois, revisada em 1200 a.C. para reproduzir a mais conhecida versão dessa epopeia. Os
estudiosos acharam que a história do dilúvio provavelmente foi emprestada pelo autor da epopeia de Gilgamesh de uma outra fonte, a qual utilizou para
realçar seu próprio texto.
Uma possível fonte para a história do dilúvio é um épico Atrahasis, um poema épico da antiga Babilônia (1600 a.C.), que abrange a história do mundo
desde a criação do homem até a nova ordem depois do dilúvio. Tudo começa quando os deuses menores viviam na terra escavando os rios e canais, e
cultivavam os alimentos para os grandes deuses. Mas, depois de 3600 anos os deuses menores se cansaram do seu trabalho e entraram em greve.
Eles cercaram o grande deus Enlil em seu palácio, que finalmente cedeu. Um outro deus maior, Ea, e a deusa-mãe Nintu, então, criaram sete casais, sete
homens e sete mulheres, para fazer o trabalho no lugar dos deuses menores. Mas a criação da humanidade gerou problemas para os grandes deuses.
Depois de 600 anos a população tinha crescido tanto que o barulho humano perturbou o descanso dos grandes deuses! Enlil, por conseguinte, determinou
que uma praga devesse apagá-los. Mas um sacrifício oportuno ao deus da praga por Atrahasis (significa “extrasábio”) parou a praga. Então, a população
cresceu de novo, e Enlil tentou controlar o crescimento da humanidade mais duas vezes – pela seca e pela fome. E novamente sacrifícios aos deuses
certos resolveram a situação.
Eventualmente, Enlil persuadiu todos os seus colegas divinos a apoiar o seu plano para destruir a humanidade, enviando um dilúvio universal. No entanto, o
deus Ea não concordou com esta proposta e, secretamente, abriu o jogo e recomendou que Atrahasis construísse um navio para a sua família, amigos e
animais para escapar. A inundação foi realmente catastrófica, acabando com todas as criaturas e assustando até os deuses por sua ferocidade. Mas
Atrahasis e sua equipe sobreviveram.
O barco finalmente desembarcou em uma montanha e os de dentro desembarcaram. Piedoso, Atrahasis ofereceu um sacrifício tão logo que desembarcou.
Imediatamente os deuses rodearam o sacrifício ansiosos por experimentarem a oferenda. Eles estavam com muita fome! Destruir a humanidade em uma
enchente significou que os sacrifícios pararam, logo os deuses também não tinham nada para comer.
Chegando ao sacrifício um pouco tarde, Enlil, o deus mais poderoso, ficou chocado e com raiva ao encontrar alguns seres humanos. Ele se acalmou
quando os outros deuses explicavam que a culpa foi de Ea. Enlil concedeu vida eterna a Atrahasis, o único homem a alcançar este objetivo. No entanto,
para impedir que a explosão demográfica ficasse novamente fora de controle, Enlil e Nintu redesenharam a humanidade um pouco. A partir de agora,
algumas mulheres sofreriam de infertilidade, os bebês muitas vezes seriam natimortos ou morreriam muito jovens, e ainda outras mulheres entrariam em
ordens religiosas e nunca mais teriam filhos. Finalmente, parece que a partir de então, a morte passou a vir a todos em idade avançada: Até agora as
pessoas morriam apenas de doenças ou se fossem mortas por alguém.
Existe mais um texto do mesmo período da epopeia de Atrahasis, é a história suméria da inundação. Este texto também relata sobre a criação do homem e
culmina com a história do grande dilúvio. Infelizmente, muitas partes da história suméria estão perdidas, mas a versão reconstruída mostra paralelos com
Gênesis 1-9 bastantes surpreendentes.
Paralelos entre a história da inundação suméria e a de Gênesis 1-9:
História
da
inundação
suméria
Conteúdo Gênesis 
Linhas
01-36 
Criação do homem e dos animais; triste condição
do homem, não há canais de irrigação, sem
roupas, sem medo de animais, incluindo cobras.
Gn 1
Gn 2-3
Linhas
37-50
Deusa Nintur planeja acabar com o nomadismo
humano. Gênesis 
 4,1-16Linhas
51-85
Falta de plano de Nintur.
Linhas
86-100
Estabelecimento da realeza (reis, corte,
palácios...);
A construção das primeiras cidades, incluindo
Eridu;
Estabelecimento de culto
Gênesis
4,17-18
Gn 4,26
Lista de reis antediluvianos Gn 5
Linhas
101-134
Ruído humano Gn 6,1-8
Linhas
135-260
O dilúvio
Gênesis
6,9-9,29
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
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Há semelhanças suficientes para conjecturar que ambos, Gênesis e a história da inundação suméria, são dependentes de um entendimento comum do que
ocorreu no início da história humana. É interessante observar que as interpretações desses acontecimentos são muito diferentes, embora o gênero dos
vários textos seja muito semelhante. Esses textos do Antigo Oriente Próximo abrem uma porta para entender o mundo em que o AT se formou. É
importante conhecer este mundo para fazer uma contextualização desses textos antigos para aqueles que estudam o AT.
A modernidade também tem os seus mitos da origem do homem – a evolução biológica, a evolução sociológica, econômica, etc. Estes “textos” falam
bastante sobre valores e visões da humanidade em geral e bem específico quando pensa-se sobre assuntos da ética ou da moralidade. É necessário haver
um alinhamento entre a interpretação da sociedade e a do texto bíblico. Como Gênesis 1-11 foi um texto muito contra cultural em seu contexto, precisa-se
ter uma visão da humanidade contrária a que está propagada hoje em nossa cultura pós-cristã. Deve-se entender esta porção de textos (1-11) como um
registro sobre a história das origens, descrita pela cultura israelita, ou culturado povo de Deus. 
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
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4. A Torá: Formas literárias
Neste tópico, os estudos de Zenger et. al. (2003) são mais uma vez utilizados. Observe a tabela a seguir:
Tabela da página 46. ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
Os nomes dos cinco livros nas diversas línguas (hebraico, grego e latim) são propositais, isto é, foram planejados a facilitar o reconhecimento do conteúdo
de cada um deles.
Como primeira parte do AT, esses livros (também chamados de “pentateuco” – que significa “cinco livros”) são fundamentais para entender o restante do AT
e até mesmo a Bíblia inteira. Todos os outros livros bíblicos têm o Pentateuco como base e desdobram os temas lá mencionados. Como tal, grande parte da
Bíblia pressupõe a Torá e toma como certo que a conhecemos. Sem saber bem a literatura da Torá, perdemos muitas das alusões sutis para os seus temas,
o que nos ajudará a entender muitas passagens do AT, bem como do NT.
Uma vista geral da Torá
Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio
Criação e
promessa
da terra
Do Egito
pelo
deserto ao
Sinai
NO
SINAI
Do Sinai pelo
deserto a Moab (à
divisa da terra
prometida)
Instruções
para a vida na
terra da
promessa
-----------------------Israel a caminho------------------------
ZENGER, 2003, p. 48.
Em um nível narrativo, pode-se interpretar a Torá como biografia dramática do povo Israel. É um caminho que começa com o chamado de Abraão dentre as
nações e termina com um final aberto na fronteira da terra prometida. É um caminho cheio de sofrimento e conflito.
Os cinco livros estão agrupados, em forma de quiasmo espelhado (paralelos), em torno do livro do Levítico como centro teológico.
O Gênesis e o Deuteronômio formam a moldura externa:
Tabela da página 49 - ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
Êxodo e Números perfazem a moldura interna. Eles se estruturam paralelamente por meio de numerosas histórias iguais. O Sinai constitui quase que um
tipo de divisor de águas (antes do Sinai era “legítimo” clamar por pão e água, depois do Sinai isso ao pecado):
Tabela da página 49 - ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
No centro da composição situa-se a constituição de Israel como povo santo, em cujo meio o santo Javé quer tornar-se presente e agir. É por isso que se
encontra no meio do livro do Levítico – por sua vez também construído concentricamente – a mensagem de Javé como o Deus disposto à reconciliação.
Tabela da página 50 - ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
03/08/2020 Unidade I - O Pentateuco
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A Torá fornece a narrativa fundamental que forma a cosmovisão bíblica. Ou seja, todas as culturas e sociedades têm suas narrativas fundamentais que
explicam o que o mundo é, como funciona, o que deu errado com o mundo, onde a humanidade pode achar a esperança para colocá-la de novo no
caminho certo. Para dar um exemplo de uma cultura estrangeira para todos nós: o “sonho americano” (American Dream). Este “sonho” afirma que “você só
precisa tomar seu destino em suas próprias mãos e você terá sucesso. Ajude a si mesmo e Deus vai te ajudar.” Esta é uma espécie moderna (no sentido
filosófico da palavra) da visão da vida – cheia de positivismo (e calvinismo!). Ainda muitos norte-americanos são levados por ela a uma atitude imperialista
referente outros povos e culturas que contam outras histórias sobre o mundo.
Cada seção da Bíblia desenvolve mais profundamente o tema do Pentateuco. Ao interpretar Gênesis 12:1-3 (“chamado de Abraão”) como sendo a
exposição original do chamado do povo de Deus, certamente ele será reafirmado com variações em outras partes de Gênesis e desenvolvido nos demais
livros do Pentateuco. O AT inteiro gira em torno da relação entre os descendentes de Abraão e a terra, o seu crescimento como uma nação, e sua relação
singular com Deus. Os progressos realizados no cumprimento das promessas feitas a Abraão não andam em uma só direção. Recuos são frequentes, tanto
no Pentateuco como posteriormente. O livro de Números narra o adiamento de 40 anos da chegada à terra santa como um resultado da falta da fé dos
espiões. O livro dos Reis narra a queda de Jerusalém e o exílio do povo para a Babilônia por causa de sua infidelidade a Deus. No entanto, ambos os
episódios foram seguidos por perdão e um novo começo que acabou levando a um maior cumprimento das promessas.
Mas nem dentro do período bíblico nem nos dois milênios seguintes, o cumprimento integral tem sido alcançado. Se os judeus modernos interpretam o seu
regresso à terra de Israel como cumprimento da promessa a Abraão e como resposta às suas orações, eles não desfrutam da paz e da segurança prevista
pelo Pentateuco. Os cristãos afirmam que a vinda de Jesus trouxe mais próximo o dia em que em Abraão “todas as famílias serão abençoadas”. Mas eles
também oram para que o Reino de Deus seja vindo e sua vontade seja feita na terra como no céu. Desta forma, o Pentateuco ainda fala tanto para o
presente como falou ao passado.
Quando se lê a Bíblia, é recomendável estar conscientes de que ela é “literatura”. A Bíblia não é um livro mágico, descolado e isolado, mas – como já visto
– é parte de um contexto histórico, cultural e literário. Este é um dos desafios para os leitores da Bíblia e, especialmente, para os que estão ensinando os
outros a ler a Bíblia – uma vez que o tempo, a cultura e a literatura são muito diferentes da maneira antiga de fazer textos, de escrever. Logo, fica-se
propenso a erros de interpretação, se não atentar para o fato de utilizar os conceitos formados pela literatura contemporânea ao ler a Bíblia. É uma tarefa
difícil deixar as próprias convenções literárias para trás e ler a Bíblia sobre o pano-de-fundo de suas próprias convenções literárias. Muitos especialistas
estão tentando isto e, nos últimos 30 anos, ficaram muito mais perto de fazer justiça à própria Bíblia como literatura antiga: ela é a Palavra de Deus, e só
por isso vale a pena todo esse esforço!
Aqui, a tentativa não é resolver questões da área de pesquisa bíblica, mas oferecer um bom começo para ler a Bíblia enquanto literatura. O truque é estar
alerta para o gênero de um determinado texto bíblico. Um gênero é uma forma literária e refere-se ao tipo de texto utilizado para transmitir um determinado
conteúdo.
Qualquer pessoa crescendo no segundo milênio a.C. e lesse Gênesis 1-11, imediatamente compararia esse texto em sua mente com textos semelhantes
sobre a origem do mundo e da criação da humanidade. Qualquer leitor de Êxodo 20-24 irá instantaneamente reconhecer a semelhança na forma (e
conteúdo) desta passagem com outras coleções de lei do Antigo Oriente Próximo.
Sabendo disso, é preciso pensar sobre o lugar vivencial do texto que estamos lendo. No Antigo Oriente Próximo, histórias sobre a origem do mundo e da
humanidade não foram em nenhuma forma concebidas para serem lidas como tratados científicos sobre aspectos físicos, geológicos ou biológicos deste
evento. Temos outros tratados como esses escritos na mesma época – sobre a matemática, a engenharia civil, a magia e a economia –, mas estes também
não têm uma forma semelhante as das revistas científicas de hoje. Portanto, histórias sobre a origem da humanidade são literárias, textos poéticos que
tentam moldar a visão dos leitores, para estabelecer uma ordem e para interpretar as dificuldades da vida.
Outro exemplo são as coleções de lei na Bíblia. Seria fatal lê-los como um advogado lê, por exemplo, um decreto legislativo. Arqueólogos encontraram
muitas coleções de lei do Antigo Oriente Próximo e as semelhanças na forma e no conteúdo com as leis bíblicas são impressionantes, da mesma forma que
tais arqueólogos foram capazes de situar quando essas leis foram publicadas pelos seus respectivosreis. Normalmente, isso acontecia no final do seu
reinado, quando o velho rei tentava estabelecer um monumento (literário) da sua sabedoria e capacidade jurídica. Sugerindo essa função para essas
coleções faz sentido, já que quase não foram encontrados qualquer processo judicial (… e foram encontrados muitos destes documentos) que citem essas
grandes coleções de lei de alguma maneira. A lei realmente praticada nos tribunais das cidades era bem diferente das encontradas nas coleções de lei.
Sobre as coleções de leis na Bíblia, a sugestão é para que as leituras fossem feitas como tentativas de definir Deus como rei no contexto do antigo oriente.
As pessoas daquela época pensaram sobre o rei como o pastor do povo, um líder com a responsabilidade de cuidar de seu povo, para estabelecer a paz
interna e externa e as condições adequadas para o povo prosperar. Neste pano de fundo, as leis bíblicas nos dizem muito sobre o caráter de Deus, seus
valores e suas atitudes sobre a sociedade e a humanidade em geral. E tudo de uma forma muito prática e contextualizada, relevante para a vida cotidiana
de Israel.
Assim, pode-se esboçar a estrutura macro da Torá (também chamada de gênero maior) como resultado da tensão entre a história (Deus agindo para o seu
povo) e a lei (mostrando a forma como Israel pode realmente viver como é chamado, como povo de Deus). Veja a tabela:
Tabela da página 51 - ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
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A “Torá”, nesse sentido, é mais bem entendida como instrução por qual o autor pretende ensinar seus leitores a viver realmente o que eles já são – parte do
povo escolhido de Deus. Lendo os evangelhos do Novo Testamento, chega-se ao propósito muito semelhante, isto é, comunicativamente os evangelhos
são projetados para serem “cursos de discipulado” – para ensinar os seguidores de Jesus como ser parte desta nova família de Jesus, a igreja.
Exercício de fixação - 03
A Torá, em sua definição mais simples, compreende o conjunto dos cinco primeiros livros (rolos) do Antigo Testamento,
denominado Pentateuco. Tais rolos foram temática e estruturalmente harmônicos entre si porque constituíram-se em um guia
literário para o povo de Deus. Sendo assim, observe a seguinte estrutura:
I II III IV V VI
Gênesis
1-11
Gênesis
12-50
Êxodo Levítico Números Deuteronômio
E, em relação aos conteúdos e ênfases de ensino histórico e teológico, leia os extratos abaixo:
A
Expansão da Lei a aliança com o propósito de santidade entre o povo de
Javé, já que ele viveria em seu meio
B
Renovação da aliança e segunda entrega da Lei como preparativo da a
entrada na terra da promessa pela segunda geração do povo de Javé.
C Criação, queda e julgamento.
D
Provação e purificação do povo da aliança de Javé na peregrinação pelo
deserto do Sinai.
E Aliança, eleição de Abraão e conservação providencial de sua família
F
Livramento milagroso do povo de Javé da escravidão do Egito,
relacionamento da aliança da Lei como constituição teocrática para Israel.
Uma vez definida a relação da primeira tabela com a segunda, assinale a alternativa que corresponde corretamente a esta
relação.
a. ( ) I-C, II-B, III-D, IV-A, V-E, VI-F
b. ( ) I-A, II-D, III-F, IV-B, V-C, VI-E
c. ( ) I-C, II-E, III-F, IV-A, V-D, VI-B
d. ( ) I-D, II-A, III-E, IV-F, V-B, VI-C
e. ( ) I-F, II-C, III-A, IV-B, V-D, VI-E
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5: A Torá: Interpretando textos normativos
Na linguagem da igreja ou mesmo da academia teológica, costuma-se falar das leis do Pentateuco, ou dos seus textos legais, ou até mesmo se usa o título
Código para descrever certos trechos do Pentateuco: Código da Aliança (Êx19-24), Código da Santidade (Lv 17-26), Código Deuteronômico (Dt 12-26).
Esse costume, porém, dificulta a nossa compreensão desses textos. Por quê?
Quando estes textos são chamados de leis ou de códigos, pensa-se neles como sendo equivalentes às leis e códigos de leis de nosso tempo. Para nós, as
leis estabelecem os deveres e direitos dos cidadãos e regem a vida social. Se alguém quebra a lei deve ser punido por isso, e o Poder Judiciário é o
responsável por aplicar a punição. Enquanto leis, pensa-se nesses textos como se fossem produto ou de uma determinação direta de Deus que deve ser
aplicada em todo e qualquer lugar em todo e qualquer tempo – ou, ao contrário, pode-se pensar neles como sendo fruto da vontade humana, de modo que
poderíamos selecionar as leis válidas e as leis revogadas.
O maior problema, contudo, reside na confusão teológica que surge da conflitividade entre Lei e Graça na teologia cristã. “Lei” passa a ser entendida como
as leis do Antigo Testamento, superadas pela Graça de Deus, de modo que já não têm mais nenhuma validade para os cristãos. Esses hábitos de
compreensão dos textos normativos do Pentateuco são prejudiciais à sua interpretação dos mesmos. É preciso, então, desenvolver novos conceitos e
hábitos hermenêuticos, a fim de compreender esses textos.
5.1. Interpretando textos normativos da Torá
Os antigos judeus chamavam os seus textos normativos de torá. Esta palavra hebraica significa, em primeiro lugar, instrução, ensinamento. Quando a torá
vem de Deus, ela é um ensinamento com autoridade, cumpre uma função normativa. Uma norma não é a mesma coisa que uma lei, embora ambas sejam
muito parecidas. Todas as leis são normas, mas nem todas as normas são leis. Lei é um tipo de norma que, estabelecida pelo Estado, deve ser obedecida
por todos os cidadãos desse Estado, sob pena de punição. Lei é, em sentido mais amplo, o conjunto de leis que definem a identidade político-jurídica de um
país, e que encontra na Constituição a sua expressão máxima. As normas são guias para a conduta e os relacionamentos humanos, e a maioria delas não
está escrita, nem faz parte de um conjunto de leis de uma nação ou Estado. Normas, nesse sentido mais genérico, são um componente da cultura de um
povo, enquanto leis são um componente da estrutura política de um país.
A torá (no plural hebraico: torôth) no Pentateuco é da natureza das normas e não das leis! Ou seja, as torôth que encontramos no Pentateuco não foram
estabelecidas pelo Estado para servir de base para o julgamento das pessoas e instituições sociais. Quando ocorriam crimes, por exemplo, não havia um
sistema de tribunais, semelhante ao nosso, nos quais os criminosos eram julgados. Os crimes eram julgados por “leigos”, por pessoas importantes de uma
vila ou cidade, que se reuniam apenas quando necessário e tomavam suas decisões com base nos hábitos culturais – ou, nas normas daquela vila ou
cidade. Casos que não conseguiam ser resolvidos no ambiente local eram enviados para o Templo ou para o Palácio, a fim de que os sacerdotes ou o rei
tomassem a decisão de acordo com a instrução (torá) de Deus. O relato de I Rs 3:16-28 (quando Salomão ameaça dividir uma criança ao meio) é um
exemplo da sabedoria superior do rei para lidar com situações difíceis – note que o rei não usa nenhum “código legal” para basear a sua decisão.
As coleções de normas no Pentateuco, embora muito parecidas com códigos legais cumpriam, de fato, outras funções:
(a) serviam como coleções de ensinamento para os líderes políticos e religiosos do povo de Israel;
(b) serviam como textos didáticos para escribas e outros funcionários do Templo e do Palácio;
(c) serviam para demonstrar a grandeza do Deus de Israel que não era como os outros deuses dos povos antigos;
(d) sua função mais importante, porém, era a de – juntamente com os textos narrativos do Pentateuco – definir a identidade do povo de Israel a partir da sua
compreensão da ação e da vontade de Deus expressas na aliança entre Ele e Seu povo.
Precisa-se, então, compreender os textos normativos como instrução, ensino ou teologia, e não mais como leis. São normasculturais e teológicas que
visam instruir o povo de Deus à prática da fidelidade à aliança entre YHWH e Seu povo. Como os textos normativos fazem parte da narrativa do Pentateuco
sobre a identidade de Israel, eles não são lei no sentido do debate teológico-eclesiástico, mas expressão da graça de Deus. Em outras palavras, Israel não
se tornaria povo de Deus se cumprisse as leis; Israel se tornou povo de Deus pela graça libertadora de Deus no êxodo e na promessa da Terra. As normas
divinas vieram depois da libertação divina. Repare bem no seguinte texto bíblico: “Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: Eu sou YHWH teu Deus
que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim. (...)” (Êx 20:1-3).
Antes da lista de normas (v. 3-17) para a vida do povo de Deus, vem a declaração da graça – “que te fez sair”. Note, ainda, como, no verso 1, o texto define
o que nós, erradamente, chamamos de “Dez Mandamentos” – “todas estas palavras” – deveríamos, então, chamar este famoso texto de Decálogo (Dez
Palavras) e não de dez mandamentos, posto que, embora tenham força normativa, não são leis, mas a instrução de Deus para nós que cremos nEle.
Note bem, agora, outro texto: “Eis que vos ensinei estatutos e normas, conforme YHWH meu Deus me ordenara, para que os ponhais em prática na terra
em que estais entrando, a fim de tomardes posse dela. Portanto, cuidai de pô-los em prática, pois isto vos tornará sábios e inteligentes aos olhos dos povos.
Ao ouvir todos esses estatutos, eles dirão: ‘Só existe um povo sábio e inteligente: é esta grande nação!’. De fato! Qual a grande nação cujos deuses lhe
estejam tão próximos como YHWH nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E qual a grande nação que tenha estatutos e normas tão justas como
toda esta Torá que eu vos proponho hoje?” (Dt 4:5-8).
Repare no primeiro verbo do texto: ensinei! Os estatutos e normas da Torá são o ensinamento de Moisés ao povo de Israel. A finalidade do ensino é que o
povo de Deus, após entrar na terra prometida – (a) mantenha a posse dela, (b) seja reconhecido como um povo sábio e inteligente, (c) cujo Deus é um
Deus próximo, amigo do povo, o Deus da aliança. Mais uma vez temos a sequência: graça libertadora de Deus – promessa – ensino – prática do que foi
ensinado.
Para resumir e encerrar esta seção: os textos normativos do Pentateuco devem ser estudados e compreendidos como ensino de Deus para nós, não
podem ser separados de seu contexto narrativo, não devem ser lidos como Lei em contraste com a Graça. As normas vétero-testamentárias são normas da
graça, são expressão da fidelidade de Deus em relação ao seu povo e da fidelidade que Deus deseja que seu povo tenha para com Ele.
Exercício de Aplicação - 04
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Observe um trecho sobre o Pentateuco:
As coleções de normas no Pentateuco, embora muito parecidas com códigos legais cumpriam, de fato, outras funções, a saber:
(a) serviam como coleções de ensinamento para os líderes políticos e religiosos do povo de Israel;
(b) serviam como textos didáticos para escribas e outros funcionários do Templo e do Palácio;
(c) serviam para demonstrar a grandeza do Deus de Israel que não era como os outros deuses dos povos antigos;
(d) sua função mais importante, porém, era a de – juntamente com os textos narrativos do Pentateuco – definir a identidade do
povo de Israel a partir da sua compreensão da ação e da vontade de Deus expressas na aliança entre Ele e Seu povo.
Considerando os termos grifados é correto afirmar que:
a. ( ) O Pentateuco contém narrativas que ajudam o leitor quanto à interpretação dos processos civis, litúrgicos, confessionais e
educacionais do povo de Deus.
b. ( ) O Pentateuco é uma elaboração com ênfase literária dos filhos de Jacó. 
c. ( ) O Pentateuco é o desvendamento das quatro linhas teológicas: o Reino do Sul, o Reino do Norte, o Deuteronômio e os
Sacerdotes. 
d. ( ) O Pentateuco é o agrupamento da linha de pensamento da tribo dos levitas. 
e. ( ) O Pentateuco é o registro da chamada e comissionamento da nação de Israel, desde o Egito até Canaã.
5.2. Um exemplo de interpretação (Dt 14,22-29)
Na prática, então, como deve-se compreender um texto normativo, a partir dessa nova hermenêutica. Observe uma das normas mais interessantes do
Deuteronômio, a que trata do dízimo (Dt 14,22-29). Por uma questão de economia de espaço, a discussão dos versos 24-26a ficarão de fora, o que
permitirá prestar mais atenção aos demais versículos.
A norma tem duas partes: a primeira se refere ao dízimo anual (22-27), a segunda ao dízimo trienal (28-29). O dízimo requerido pela norma ao israelita é
dos frutos da colheita, incluindo o vinho e o azeite, que seria ofertado juntamente com os primogênitos do gado (bovino) e do rebanho (ovino e caprino). O
dízimo anual deveria ser levado ao lugar escolhido por Deus para ser adorado e, nesse lugar, deveria ser comido pelo ofertante, sua família e empregados
ou escravos e pelos levitas da cidade do ofertante. Em relação ao levita, ele deveria ser incluído na festa das famílias porque ele não poderia dar o dízimo
ao Senhor, pois não possuía terra (herança é o termo teológico do Antigo Testamento para a propriedade de uma família – presente de Deus que não
poderia ser dado nem vendido a outras pessoas). Repare que interessante: o dízimo é para ser comido festivamente, no culto de gratidão a Deus pela
colheita, e não para ser entregue aos sacerdotes para o sustento deles (conforme pedia a norma em Levítico!).
E mais, a norma pede o dízimo anual com uma intenção didática: “a fim de que aprendas a temer Javé, teu Deus, todos os teus dias”. Que é temer a Deus?
É reconhecer que Ele é o Senhor de nossa vida, de nossos bens, de nossa família, de nosso presente e de nosso futuro. É reconhecer que em Deus
encontramos a fonte da sabedoria, da inteligência, da capacidade para o trabalho, etc. Assim, entregar o dízimo é uma forma de aprendizado. Ofertamos o
dízimo, a fim de não nos esquecermos de que tudo o que temos vem das mãos do Senhor.
E o dízimo trienal? O dízimo trienal era para ser estocado nas cidades, com o propósito de servir de alimento para os “sem-terra”: levitas, órfãos, viúvas,
imigrantes (provavelmente fugitivos do reino do norte e que foram morar no reino do Sul após a destruição de Samaria). O dízimo anual é gratidão, o trienal
é solidariedade. Quem ama a Deus, ama ao próximo! Note o detalhe final do texto: “a fim de que te abençoe Javé, teu Deus, em toda obra de tuas mãos,
que fizeres”. Somos gratos a Deus pelas bênçãos que recebemos, de modo que damos o dízimo dessas bênçãos para aprendermos a temer ao Senhor.
Como tementes a Deus, somos solidários com os necessitados, e repartimos com ele nossas bênçãos. Quando assim fazemos, Deus renova a bênção
sobre nosso trabalho! Quando acumulamos de forma egoísta a bênção divina, não repartindo com o próximo, transformamos a bênção em pecado!
A escolha do texto deuteronômico sobre o dízimo foi proposital. É um texto pouco conhecido sobre um tema muito discutido nas igrejas. Certamente você
terá ficado interessado nas diferenças entre a norma deuteronômica do dízimo e a norma em Levítico e Malaquias. A presença de diferenças desse tipo é
comum nas coleções de normas no Pentateuco e revela as diferentes interpretações que o povo de Deus fez de seu ensino de Deus sobre a fidelidade à
Aliança. Caso você deseje estudar mais a fundo as coleções de normas do Pentateuco, você encontrará bastante material para sua edificação e para seu
crescimento em sabedoria e discernimento.
5.3. Torá: identidade do povo de Deus
Há, no Pentateuco, duas grandes teologias complementares que servem para descrever a identidade do povo de Deus. Essas formas não abrangem todos
os textos do Pentateuco, mas oferecem uma síntese da teologia dos primeiros livros da Bíblia.
A primeira delas diz respeito à teologia sacerdotal na Torá. Por teologia sacerdotal entende-se, na tradiçãoacadêmica de estudos bíblicos, o conjunto de
temas e textos do Pentateuco que giram ao redor dos conceitos de santidade, sacrifício e sacerdócio como mediação entre o povo e Deus. O livro de
Levítico é a parte do Pentateuco que expressa com mais profundidade a teologia sacerdotal, embora essa teologia seja encontrada também em trechos de
Gênesis, Êxodo e Números. Dentre os vários temas importantes da teologia sacerdotal, nosso foco de estudo neste texto recairá sobre o conceito de
santidade. Preste bastante atenção ao seguinte texto, fundamental para a compreensão da santidade na teologia sacerdotal:
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Pois sou eu, YHWH, o vosso Deus. Fostes santificados e vos tornastes santos, pois que eu sou santo; não vos tornei, portanto, impuros com todos
esses répteis que rastejam sobre a terra. Sou eu YHWH que vos fiz subir da terra do Egito para ser o vosso Deus: sereis santos, porque eu sou
santo” Lv 11:44-45 (cp. Lv 19:2; 22,31-33).
A santidade do povo de Deus depende da santidade de Deus. YHWH é um Deus santo e seu povo, necessariamente, precisa ser santo. Em que consiste a
santidade de YHWH? Em primeiro lugar, santidade significa a peculiaridade de YHWH – Ele é um deus diferente de todos os demais deuses – por isso,
Israel é convocado a não ter nenhum outro deus diante de YHWH. Como consequência de Sua peculiaridade, YHWH é um deus exaltado acima dos
demais deuses, Ele está acima de todos os poderes, humanos ou sobre-humanos que tenham existido ou que possam existir. Em terceiro lugar, por ser
santo, YHWH é um Deus exigente – não aceita ser profanado por nada nem por ninguém – a sua santidade é inviolável. Em quarto lugar, YHWH, o santo,
santifica o seu povo – oferece a seu povo uma participação na Sua santidade. Enfim, sendo peculiar e exaltado acima de todos os poderes, YHWH é um
deus transcendente – Ele não sofre as limitações das coisas criadas -, mas, na Sua transcendência, Ele se aproxima do Seu povo e vive em seu meio.
O Deus Santo de Israel se aproxima do seu povo mediante o ato de libertação. Como visto no texto anterior, na Torá a graça de Deus é anterior à exigência
divina. Note a sequência do pensamento em Levítico 11:44-45: no verso 44, primeiro vem a afirmação de que YHWH é o Deus de Israel; a seguir, a
afirmação de que Ele santificou Israel e, enfim, a exigência de que Israel não se torne impuro. A sequência é repetida no verso 45: YHWH libertou Israel do
Egito, por isso, exige de seu povo que seja santo como Ele mesmo é santo. Mediante a ação libertadora, YHWH realiza uma aliança com o povo liberto,
fazendo-se Seu Deus e tornando aquele povo o Seu povo. O agir de Deus torna mais concreta a nossa compreensão da peculiaridade de YHWH: Ele é
diferente de todos os demais deuses, porque somente Ele é um deus libertador, um deus que socorre o necessitado e oprimido.
Por fim, pode-se descrever a exigência de santidade a partir do caráter e do agir de YHWH. O povo de YHWH deve manifestar, em sua vida cotidiana, a
santidade de Deus. Sendo o Santo um deus libertador, o seu povo precisa ser um povo que vive em liberdade. Povo livre é aquele que não se deixa
escravizar pelas seduções do egoísmo, do dinheiro e do poder. Povo livre é povo que pratica a solidariedade, socorrendo o necessitado e o oprimido. Povo
santo e livre é povo que, recusando-se a ser igual aos demais povos e pessoas, não se afasta deles, mas se aproxima para oferecer a palavra da santidade
libertadora do seu Deus. Quando o povo de Deus se comporta de maneira egoísta, indiferente ao próximo e idólatra (seguindo deuses feitos por mãos
humanas), o nome de Deus é profanado, a santidade de Deus é turvada e pessoas e povos que não O conhecem perdem a chance de conhecê-Lo. A
exigência de santidade é, assim, exigência de testemunho ao mundo. No livro do Êxodo a presença da teologia sacerdotal da santidade é intensa na
seguinte descrição da identidade do povo de YHWH:
Vós mesmos vistes o que fiz aos egípcios, e como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe a mim. Agora, se ouvirdes a minha voz e
guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque toda a terra é minha. Vós sereis para mim um
reino de sacerdotes e uma nação santa (Êx 19,4-6).
A segunda forma textual refere-se à teologia deuteronômica na Torá, que apresenta seu conceito central o de fidelidade a YHWH. Como o próprio nome
indica, a teologia deuteronômica é a que se encontra no livro do Deuteronômio – mas está presente também em Gênesis e Êxodo. Duas são as principais
diferenças em relação à teologia sacerdotal: (a) a teologia deuteronômica dá pouca atenção aos rituais sacrificiais e ao papel do sacerdócio (não há nada
em Deuteronômio parecido com Levítico 1-10, que descreve detalhadamente rituais e normas para o sacerdócio); e (b) também dá pouca atenção à
regulamentação da pureza e impureza, enfatizando mais a prática da Torá do que a manutenção da pureza pessoal e comunitária. Não há diferença, porém,
na compreensão da santidade de Deus e da sequência graça-exigência. O povo de YHWH deve ser fiel, porque YHWH é fiel e manifestou sua fidelidade ao
libertar os filhos de Israel do Egito. A exigência divina visa o bem-estar do seu povo. Entretanto, a teologia deuteronômica dá grande ênfase à exclusividade
de YHWH e descreve a relação da aliança entre YHWH e Israel como uma relação de amor fiel. Vamos dedicar atenção a um texto que é fundamental até
hoje para a identidade israelita, conhecido como Shemá (Ouve), Dt 6,4-9.
No primeiro verso do texto, encontramos a afirmação fundamental da fé judaica: YHWH, nosso Deus, YHWH um. Propositadamente mantive a forma
gramatical do texto hebraico “YHWH um” (sem verbo entre o sujeito e o predicativo do sujeito), que tem recebido diversas interpretações e traduções. A
afirmação YHWH um destaca diferentes dimensões da fé deuteronômica: (a) YHWH é o único Deus de Israel, no sentido da exclusividade, ou seja,
independentemente de quantos deuses tenham existido ou possam existir, para Israel há somente um Deus – YHWH – somente a Ele Israel adora,
somente a Ele Israel é fiel, somente YHWH é a fonte de vida para Israel; (b) YHWH é um Deus pluralmente singular, no sentido de que Ele não precisa de
outros deuses para repartir as tarefas (no pensamento vétero-oriental, os deuses tinham funções especializadas, por isso era necessário crer em vários
deuses que cumpriam essas diferentes tarefas, tais como guerrear, fazer chover, curar doenças, etc.). Como Deus pluralmente singular, YHWH é suficiente,
Israel não necessita de nenhum outro Deus para atender as suas necessidades – ou seja, YHWH não é um deus especialista, parcial; e (c) YHWH é o único
Deus não feito por mãos humanas, os demais deuses são ídolos, fabricação de mãos humanas e não são capazes de agir. O aniconismo da fé israelita não
se restringia apenas à ausência do uso de imagens da divindade, mas era expressão da sua crença na exclusividade e singularidade de YHWH. Por outro
lado, a expressão “YHWH nosso Deus” destaca a aliança entre o Senhor e o povo israelita – aliança de amor, amizade, companheirismo, fidelidade e
soberania de YHWH sobre Israel e a favor de Israel. 
Aniconismo: termo técnico que nomeia o fato de os judeus não fazerem imagens de seu Deus, seguindo a exortação do Decálogo. Vem da língua
grega: ícone=imagem; a=sem.
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Consequentemente, o povo que faz aliança com o fiel e único Deus, é convocado a construir sua identidade a partir do amor a Deus. A escolha do verbo
amar, no livro do Deuteronômio, tem significado muito especial. O livro do Deuteronômio adota e adapta o estilo dos tratados internacionais assírios. Nesses
tratados, o rei de um país mais fraco que se associava ao rei de um país mais forte assumia o compromisso de amar o rei mais poderoso.

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