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O Homem ao Zero - Leon Eliachar

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MODO DE USAR
O HOMEM AO ZERO
(DESCONGESTIONANTE CEREBRAL)
Uso por via ocular
INDICAÇÕES
O homem ao zero é recomendado às pessoas que sofrem de fadiga, de mau humor, de 
irritação, de cansaço crônico, de falta de ar, de gripe — e especialmente às pessoas que não 
sofrem de nada. Foi bolado durante anos e anos de pesquisas, para ministrar, em doses 
exatamente científicas, tudo aquilo que o espírito humano necessita para melhor aproveitar a 
vida. A combinação de diversos ingredientes, comprovadamente testados, através de cobaias 
sujeitas às mais desencontradas reações, permitiu-nos chegar à fórmula definitiva do bem-
estar social, levando-se em conta que, para isso, é necessário que exista o bem-estar 
individual.
APRESENTAÇÃO
O homem ao zero é apresentado em formato único, porque achamos que essa disparidade de 
tamanhos é feita apenas para embromar a boa fé dos pacientes: são duzentas páginas da 
mesma qualidade, embaladas por uma capa resistente, que permite resguardar o seu conteúdo 
por tempo indeterminado, quer seja em lugares quentes, úmidos ou mesmo gelados. Suas 
páginas não se dissolvem com facilidade, mas, ainda assim, recomenda-se que não sejam 
expostas à ação da chuva, por mais de uma semana.
GENERALIDADES
O homem ao zero, quando usado com regularidade, produz uma agradável sensação de bem-
estar, torna claro o raciocínio do leitor e lhe permite um melhor conhecimento de si mesmo. Em 
certos casos, o efeito é tão eficiente que essa sensação de bem-estar pode se estender a 
outras pessoas que estejam próximas. Não produz efeitos colaterais, como angústia, febre, 
tremedeiras, tonteiras nem sono — ao contrário, mantém a pessoa desperta por muitos e 
muitos dias. Em caso de alguma anormalidade, repetir a dose quantas vezes forem 
necessárias, até que o paciente se sinta completamente saudável e equilibrado — como era 
antes. Mas é preciso tomar muito cuidado: quem ingerir, uma vez, todo o conteúdo do livro, 
corre o risco de se tornar um viciado e contra isso só dois produtos similares: O homem ao 
quadrado e O homem ao cubo, do mesmo fabricante.
FORMULA
Humor .................... 0,100 g
Irreverência ............... 0,100 g
Ironia ..................... 0,100 g
Sátira..................... 0,100 g
Non-sense ................. 0,100 g
Ficção .................... 0,100 g
Bossas .................... 0,100 g
Etc, etc, etc.............. 0,300 g
Não se agite antes de usar
VANTAGENS
O homem ao zero não produz alergia. Não debilita a visão. Não altera o sistema nervoso. Não 
acelera o coração. Não diminui os glóbulos vermelhos. Não prejudica a circulação do sangue. 
Não perturba a digestão. Pode ser ingerido de pé, sentado ou de bruços — dependendo da 
posição que mais agrade ao paciente.
POSOLOGIA
Crianças: dez a vinte páginas por dia, depois das refeições, podendo ser acrescida a dose, à 
medida que as crianças forem comendo melhor.
Adolescentes: vinte a quarenta páginas por dia, que podem ser tomadas isoladamente ou em 
conjunto, isto é, com a respectiva namorada.
Adultos: quarenta a oitenta páginas por hora, antes ou depois das refeições, ou mesmo ao 
invés de.
Velhos: cem a trezentas páginas de uma vez, de acordo com a capacidade de cada um.
Venda sem prescrição médica. Cada um pode comprar quantos exemplares quiser: não tem 
contra-indicação.
Lab. Círculo do Livro S.A.
São Paulo: Av. Brigadeiro L. Antônio, 2151
Farm. responsável — Leon Eliachar, RJ
Produzimos "Homens" desde 1960 e honramo-nos ser uma indústria genuinamente bem-
sucedida.
4
3
2
1
LEON ELIACHAR
O HOMEM AO
ZERO
CÍRCULO 00 LIVRO
Edição integral Copyright Leon Eliachar
Desenhos: do autor, com exceção dos bem desenhados
(os bonecos dos capítulos são de Yves e as vinhetas do horóscopo são de Mário Pacheco)
Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia da Livraria Francisco Alves Editora 
S.A.
A todos os homens, bons e maus,
sem exceção,
que ninguém tem culpa de ser bom.
À minha máquina de escrever, 
amiga e inimiga de todas as horas.
Ao leitor comum, 
um amigo fora do comum.
Ao inventor da dedicatória,
 um puxa-saco declarado.
SUMÁRIO
1 — EU SOU O PREFÁCIO ............................ 11
2 — AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS TEÓRICOS... 15
A guerra ...................................... 16
A imprensa.................................... 17
O carnaval .................................... 18
As férias ...................................... 19
O cinema ..................................... 20
A democracia.................................. 21
Recreio ...................................... 22
O trânsito ..................................... 27
O crime ...................................... 28
O casamento .................................. 29
A censura ..................................... 30
A estatística ............................... 31
A valentia..................................... 32
3 — MINHA AMIGA, A TV ........................... 33
O espectador................................... 35
A propaganda ................................. 36
O locutor ..................................... 39
O intervalo .................................... 41
O aparelho .................................... 42
Os comerciais.................................. 44
4 — VERDADES INADIÁVEIS.......................... 54
5 — O HOMEM EM ESTADO DE COMO ................ 59
Como se monta um escritório ................... 60
Como se recebe um seguro ...................... 61
Como se prepara uma decoração ................. 62
Como se conserta um aspirador .................. 63
Como se faz a previsão do tempo ................ 64
Como se conserva um fumante .................. 65
6 — ANÚNCIOS MODERNOS .......................... 67
7 — CARTAS NA MESA ............................... 72
g — TÚMULOS ....................................... 81
9 — A VERDADEIRA SEMANA DA ASA................ 86
10 — FRASES COM ALGUM NEXO ..................... 88
11 — DO MEU DIÁRIO ................................ 91
12 — DO DIÁRIO DE UM BEBÊ......................... 101
13 — À MARGEM DO HUMOR ......................... 105
!4 — O FASCINANTE MUNDO FEMININO .............. 108
Anatomia da mulher............................ 109
Anúncios femininos ............................. 111
Forma prática de decorar a sua casa.............. 113
Como curar um resfriado........................ 113
A moda....................................... 114
Boas maneiras ................................. 115
Como se tornar bela ........................... 116
Truques novos para o seu velho lar............... 116
Frases femininas ............................... 117
Receitas inéditas ............................... 119
15 e 16 — DOIS CAPÍTULOS NUM SÓ .................. 121
Xifópagos ..................................... 121
Piadas supersônicas ............................. 121
17 — VIVA O PROGRESSO............................. 143
Manchetes inéditas ............................. 144
Ah, os inventores .............................. 146
O elevador .................................... 147
Tabuletas ...................................... 148
Registro policial ................................ 150
18 — A LÓGICA DO ABSURDO ......................... 152
O homem feliz................................. 153
Feliz Natal e próspero Ano Novo ................ 154
Acerte o seu relógio ............................ 155
Em cima do diva ............................... 156
Crônica de um dedo só ......................... 158
Conto a duas cores ............................. 159
O homem de Marte ............................ 160
19 — CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL................. 162
20 — NOVELA ......................................... 165
Isabela, a mulher que sofria em grifo............. 166
21 — PIADAS CURTAS PARA INTELIGÊNCIAS LONGAS . . 175
22 — PRA LER DE LONGE............................ ...... 178
23 — JORNAL .......................................... 180
24 — HUMOR EM BALÕES............................. 18725 — HORÓSCOPO ..................................... 191
26 — HISTÓRIAS REAIS QUASE FICTÍCIAS.............. 200
Área interna................................... 200
Cabeça raspada ................................ 201
As flores...................................... 203
Edifício suspeito..............,.................. 206
Lolita .......................'.................. 207
Subúrbio ...................................... 207
AUTÓGRAFO
O autor se recusa, terminantemente, a dar autógrafos em noites de 
autógrafos. Por isso, bolou o sistema tranqüilo do "autógrafo pelo 
reembolso": o leitor destaca o cupão, manda pra livraria mais próxima, a 
livraria manda pro editor, o editor manda pro autor, o autor assina, devolve 
pro editor,, o editor devolve pra livraria, a livraria devolve pro leitor, que 
torna a colar o cupão no livro — e tudo isso por menos de 115 000 cruzeiros 
e 82 centavos.
AUTÓGRAFO PELO REEMBOLSO
Nome do leitor ......................................................
Endereço ...............................................................
Cidade....................................................................
Estado....................................................................
(assinatura do autor)
EU SOU O PREFÁCIO
AUTOBIOGRAFIA DE UM FÔLEGO SÓ
Meu nome é esse mesmo, Leon Eliachar, tenho 44 anos, mas me orgulho 
de já ter tido 43, 42, 41, 40, 39, idades que muitas mulheres de 50 jamais 
atingiram, sou humorista profissional peso-leve, pois detesto as piadas 
pesadas, consegui atingir o chamado "preço-teto" da imprensa brasileira, 
quer dizer, cheguei a ganhar um salário com o qual nunca pude adquirir um 
teto, sou a favor do casamento, sou a favor do divórcio, sou a favor do 
desquite e sou a favor dos que são contra tudo isso que eles devem ter lá os 
seus motivos, fui fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco não 
pelo atestado de bons antecedentes, mas pela dificuldade com que se tira um 
atestado, já fiz de tudo na vida, varri escritório, fiz entrega de embrulho, 
crítica de cinema, crônica de rádio, comentário de televisão, secretário de 
redação, colunismo social, reportagem policial, assistente de direção, peça de 
teatro, show de buate, relações públicas, corretagem de anúncios, script de 
cinema, entrevista política, suplemento feminino, até chegar ao humorismo, 
ainda não sei se o humorismo foi o princípio ou o fim da minha carreira, 
acho que ninguém faz nada por necessidade mas por vocação, isto é, por 
vocação da necessidade, tenho experiência bastante pra saber que não sou 
experiente, minha capacidade de compreensão chega exatamente no ponto 
em que ninguém mais me pode compreender, as mulheres tiveram forte 
influência na minha vida desde a minha mãe até à minha mulher, com 
escalas naturalmente, tive duas grandes emoções na vida, a primeira quando 
minha mulher disse "sim" e a segunda quando seus pais disseram "não", sou 
a favor das camas separadas, principalmente pra quem se casou com 
separação de bens, não guardo rancor por absoluta falta de espaço, uma das 
coisas que mais aprecio é Nova York coberta de neve — quando estou em 
Copacabana tomando sol, o melhor programa do mundo é ir ao dentista — 
pelo menos para o dentista, não vou a casamento de inimigo, muito menos 
de amigo, desde criança faço força pra ser original e o máximo que consigo é 
ser uma cópia de mim mesmo, meu grande complexo é não saber tocar 
piano, mas muito maior deve ser o complexo de outros homens que também 
não sabem tocar e são pianistas, meus autores favoritos são os que me caem 
nas mãos, escrevo à máquina com vinte dedos porque minha secretária passa 
a limpo, gosto de televisão às vezes quando ligo, às vezes quando desligo, 
num enterro fico triste por não saber fingir que estou triste, aprecio as quatro 
estações, mas prefiro o verão no inverno e o inverno no verão, passei fome 
várias vezes e agora estou de dieta, acho a rosa uma mensagem definitiva 
porque custa menos que um telegrama e diz muito mais, sou a favor da pílula 
anticoncepcional porque ela resolve o problema da metade da população do 
mundo, acho que deviam inventar a pílula concepcional pra resolver o 
problema da outra metade, cobrador na minha casa não bate na porta 
perguntando se pode entrar, eu é que bato perguntando se posso sair, sou um 
homem pobre porque toda vez que batem à minha porta mando dizer que 
estou, meu cartão de visitas não tem nome nem telefone, assim ninguém 
sabe quem sou nem onde posso ser encontrado, prefiro o regime da ditadura 
porque não tenho trabalho de ensinar meu filho a falar, posso dizer com 
orgulho que sou um humilde, sou o único sujeito do mundo que dá o salto 
mortal autêntico, mas nunca dei, leio quatro jornais por dia e a única 
esperança que encontro são os horóscopos cercados de desgraças por todos 
os lados, acredito mais nos inimigos do que nos amigos porque os inimigos 
estão sempre de olho, minha maior alegria foi quando venci um concurso 
internacional de humorismo, em Bordighera, Itália, obtendo o primeiro e o 
segundo prêmios entre os participantes de dezesseis nações concorrentes, 
fiquei sabendo que havia humoristas piores do que eu, procuro manter 
sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o 
leitor está mais fraco.
LEON ELIACHAR
AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS 
TEÓRICOS
A GUERRA
A humanidade divide o seu tempo em duas partes: guerra e paz. Durante 
a paz, vive discutindo a guerra e durante a guerra vive implorando a paz. A 
guerra foi inventada por um sujeito que morreu na guerra. A paz ainda não 
foi inventada. Há vários tipos de guerra: a guerra fria, a guerra quente, a 
guerra morna, a guerra requentada e a guerra propriamente dita: dessa 
ninguém escapa, porque todo mundo é convocado antes mesmo de começar 
a guerra. Antigamente, a guerra era feita a pé: quando os soldados chegavam 
no país inimigo a guerra já tinha acabado. Hoje, a guerra é mais ligeira: basta 
apertar um botão que ela começa e acaba ao mesmo tempo — e quando 
acaba não se encontra nem o botão. Durante a paz, os homens se preparam 
para a guerra, construindo tanques, aviões, submarinos, foguetes, táxis e 
ônibus elétricos. Quem foge da guerra se chama desertor, quem fica se 
chama herói. O desertor foge da guerra pra não morrer nas mãos do inimigo, 
mas acaba morrendo nas mãos do amigo: é fuzilado. O fuzilamento é um 
processo de matar o sujeito que escapa da guerra — ao invés de morrer 
distraído, morre prevenido. Antes de ir pra guerra, os médicos submetem os 
soldados a um exame físico completo: quem tiver boa saúde, pode ir e 
morrer tranqüilo. Quando o homem se matricula na guerra, recebe um 
uniforme: quando entra na guerra, pinta o uniforme todinho pra ninguém ver 
que ele está de uniforme. Existem guerras famosas: a de 14, porque 
sobraram catorze; a dos Cem Anos, que quando acabou só tinha velhinho, e a 
de 39 — que todo mundo pensa que acabou. Antigamente, se fazia a guerra 
com baioneta calada, mas isso foi no tempo do cinema mudo. Hoje, a 
baioneta não só fala mas também canta — como se pode ver nos musicais de 
Hollywood. Muitos combatentes são considerados malucos porque voltam 
pra casa com psicose de guerra, mas os psiquiatras não se preocupam a 
mínima com a psicose de paz — que é muito pior. E por incrível que pareça, 
o soldado mais conhecido da guerra é o soldado desconhecido.
A IMPRENSA
A imprensa foi feita para orientar a opinião pública, mas, em verdade, é a 
opinião pública que orienta a imprensa. Suas duas grandes forças são o crime 
e a política; a política é feita criminosamente e o crime não passa de política 
pra vender jornal. Na imprensa moderna há seções para todo tipo de público, 
inclusive a de humorismo — mas não é qualquer leitor que percebe 
facilmentequal é verdadeiramente a seção de humorismo. Muito jornalista 
tem outras profissões e faz da imprensa um bico: é que ganha o suficiente 
por fora, pra não abrir o bico. Para um linotipista, o jornal se divide em 
cíceros, para um redator em colunas, para um publicista em centímetros 
quadrados e para o proprietário em metros cúbicos — de encalhe. O que não 
se pode negar é que a imprensa é uma profissão de futuro: os diretores 
sempre prometem um salário melhor para o futuro. Os jornalistas se dividem 
em três categorias: os formados, os informados e os conformados. "Furo" é 
essa notícia sensacional que todos os jornais dão juntos, em primeira mão. 
"Barriga" é a notícia que apenas um jornal dá, com absoluta exclusividade 
— bem-feito, quem mandou não confirmar? "Foca" é o novato que pede ao 
diretor pra adiar a reportagem das enchentes porque é muito difícil trabalhar 
com as ruas inundadas. Mas uma coisa é inegável, através dos tempos: por 
mais que um jornal tire o corpo fora, acaba sempre no embrulho.
O CARNAVAL
O carnaval é a maior data do ano, porque um dia dura três. Maior do que 
essa data só "véspera de carnaval" — que dura 362. Os psiquiatras acreditam 
que o carnaval é um pretexto para homem se desrecalcar, por isso os bons 
psiquiatras só se fantasiam de pacientes. Os velhos insistem que o carnaval 
mudou muito, não é mais como o de antigamente, eles devem estar certos: 
pular com reumatismo é muito mais difícil. Dizem que o carnaval de rua está 
acabando, mas é mentira: o que está acabando são as ruas. O homem que 
inventou a máscara tinha cara de urso, pra disfarçar começou a usar cara de 
cavalo. As fantasias mais usadas no carnaval são: homem vestido de mulher 
e mulher vestida de nada. A fantasia mais discutida é o travesti (homem 
vestido de homem) e a de maior sucesso é o biquíni (mulher vestida de 
mulher). O concurso de fantasias foi inventado pra ver quanto tempo resiste 
o mesmo júri, julgando os mesmos candidatos e premiando as mesmas 
fantasias. Durante o carnaval, a polícia costuma reforçar a falta de 
policiamento. O Departamento de Turismo gasta milhões pra decorar a 
cidade, depois vem o Departamento de Limpeza Urbana e gasta outros 
milhões pra tirar a decoração. Nos bailes cabem, em média, 2 000 pessoas 
sentadas e 5 000 em pé, quando o baile acaba tem mais de 15 000 deitadas. 
O verdadeiro milagre do carnaval é a televisão, que consegue trazer a rua pra 
dentro de casa: por isso não existe mais o carnaval de rua — fica todo 
mundo em casa vendo na televisão o carnaval de rua.
AS FÉRIAS
As férias foram inventadas por um homem que trabalhava 24 horas por 
dia, pra descobrir um meio de tirar férias, e, como não conseguia descobrir, 
desistiu — e quando desistiu percebeu que estava em férias. Todo homem 
deve tirar férias: é a única maneira de reorganizar as preocupações. Pra gozar 
bem as férias é preciso que o homem vá pra fora, se não puder ir, deve 
mandar a família, que dá no mesmo. O lugar mais barato pra passar as férias 
é longe da mulher: enquanto descansa um, descansam dois. Muitos homens 
passam as férias tão longe que quando voltam estão completamente 
exaustos. O melhor lugar pra se passar férias é no hotel, principalmente 
quando se é dono do hotel. Tem secretária que quando tira férias deixa o 
patrão na mão, tem patrão que quando tira férias leva a secretária pela mão. 
Durante as férias, o homem prefere variar de clima: se mora na praia vai pra 
montanha, se mora na montanha vai pro mato, se mora no mato vai pro 
hotel, se mora no hotel deve ir pra casa — que a família está esperando. As 
férias originaram o "cigarra", que é o sujeito que manda a mulher pra fora e 
pensa que é solteiro de novo. Às vezes fica mesmo — quando a mulher 
volta, de repente.
O CINEMA
O cinema, como todos sabem, é conhecido como a sétima arte, mas na 
maioria das vezes tem muito mais de sétima do que de arte. Há dois tipos de 
cinema, o preto e branco e o tecnicolor: o preto e branco quando filma um 
preto sai preto mesmo e quando filma um branco sai cinza. O tecnicolor, 
quando filma um preto sai vermelho e quando filma um branco sai amarelo. 
Atualmente, tem tanta gente trabalhando no cinema que foi preciso inventar 
o cinemascope: a tela é muito maior e assim cabe todo mundo. O artista que 
mais ganha dinheiro no cinema é o índio: cada vez que morre recebe 50 
dólares — e tem índio que morre mais de vinte vezes, na mesma fita. 
Japonês também ganha muito dinheiro, faz dezenas de papéis e ninguém 
percebe, porque em filme japonês a gente só sabe quem é o bandido e quem 
é o mocinho no fim da fita: o bandido é o que morre na luta de espada e o 
mocinho na cena do harakiri. O cinema moderno evoluiu tanto que os ci-
neastas descobriram várias fórmulas: no filme de caubói, por exemplo, o 
mocinho passa a metade da fita montado no cavalo fugindo dos bandidos e a 
outra metade montado no cavalo perseguindo os bandidos, o que não deixa 
de ser um processo econômico: é só inverter o rolo e passar de novo. No 
gênero policial, o crime toma feições inteiramente diferentes da vida real, 
tanto que fazem questão de frisar que "qualquer semelhança é mera 
coincidência" — mas a única coincidência é que nunca há semelhança. No 
cinema, o detetive sempre descobre quem é ô assassino no fim da fita, na 
vida real quem descobre é o acaso. Detetive de cinema tem particularidades 
especiais: no cinema inglês, o detetive bate na porta antes de entrar, no 
cinema americano o detetive entra e depois bate na porta, no cinema francês 
o detetive não bate na porta — bate na mulher. Há muitos tipos de filmes: o 
filme pra ganhar prêmio em festival, o filme pra ser proibido pela censura, o 
filme pra fazer rir (e que faz chorar), o filme pra fazer chorar (e que faz rir), 
o filme pra ser discutido pelos intelectuais e o filme pra agradar: o mais fácil 
de fazer é o filme pra agradar —basta não saber fazer o filme que ele agrada.
A DEMOCRACIA
Democracia é essa forma de governo onde todos concordam em 
discordar um do outro, mas não convém discordar muito, senão acaba a 
democracia. Há duas espécies de democracia: a primeira e a segunda. A 
primeira ninguém pode explicar porque a segunda não deixa e a segunda 
também ninguém pode explicar porque a primeira não deixa. Enfim, 
chegamos à conclusão que numa democracia o mais forte diz o que quer, 
mas deixa o mais fraco reclamar — desde que não reclame no rádio, nem na 
televisão, nem nos jornais, nem nas paredes, nem nos comícios: quem quiser 
reclamar que reclame em casa, com a mulher — desde que ela não seja uma 
democr. ta da oposição. E quando não se consegue falar na democracia, 
melhor passar os dias falando sobre o tempo, se vai chover ou fazer sol. Não 
sei se perceberam a sutileza, mas essa questão de democracia é apenas uma 
questão de tempo. Donde se conclui que num regime democrático o que 
atrapalha o povo é o governo que ele escolhe.
RECREIO
Sempre acerto na mosca
CO-PRODUÇÃO
Jacaré americano contracenando com jacaré brasileiro
QUE É ISSO?
Dois desenhistas com o mesmo traço
QUE É ISSO?
Ovo de calombo
TESTE
Responda rápido: onde está o lampião? No poste, na árvore ou no livro?
Se você respondeu "nos três", demonstrou ser inteligente e pouco 
observador — porque a resposta certa é "em cima dos 3".
Seta de Setembro 37
O TRÂNSITO
Vamos deixar de modéstia, o trânsito é igual em qualquer parte do 
mundo, pra cada pedestre existem seis automóveis: a confusão é que os seis 
automóveis tentam pegar o mesmo pedestre, ao mesmo tempo. O trânsito se 
divide em duas partes: o que vai-pra-lá-e-vem-pra-cá e o que vem-pra-cá-e-
vai-pra-lá. Pra não haver tumulto nem congestionamento, bolaram as ruas de 
mão única e foi aí que deram azar: tem muita gente que mora no sentido 
inverso da mão.Pra solucionar isso, inventaram o guarda e o apito: o guarda 
ninguém vê e o apito ninguém ouve — daí serem obrigados a inventar a 
multa. Pra evitar a multa, inventaram o sinal luminoso: verde, vermelho e 
amarelo. O verde é pra avançar tranqüilo, o vermelho é pra avançar 
intranqüilo e o amarelo é pra ficar na dúvida se avança ou não avança. 
Resultado: quando o motorista freia pra respeitar a luzinha da frente vem 
outro carro e desrespeita a luzinha de trás. Diante disso, decidiu-se que a 
desorganização do trânsito devia ser organizada, daí inventarem o chamado 
diretor de trânsito, que planeja qual a melhor maneira de congestionar as 
ruas, quais os melhores pontos de engarrafamento e qual a melhor televisão 
pra ele explicar por que o seu planejamento não tem dado certo. O que não 
se pode negar é que, apesar do diretor de trânsito, muita gente consegue 
chegar em casa. Pra evitar chateação com o diretor de trânsito, inventaram a 
carteira de motorista, que dá direito a cada portador dizer que a culpa é do 
outro e como todo mundo tem carteira, ninguém tem culpa. Para a carteira de 
motorista funcionar, inventaram o esquecimento: se o motorista não 
esquecesse a carteira em casa, iam descobrir que ele não faz exame de vista 
há mais de vinte anos. Pra evitar o exame de vista, inventaram 0 p0Ste — e 
quem pára uma vez no poste, nunca mais faz exame de vista. E foi assim que 
acabaram inventando a perícia: contra essa, ainda não se inventou nada, 
porque todos que a chamaram estão esperando até hoje.
O CRIME
O crime foi inventado por um indivíduo chamado Caim, que matou seu 
irmão Abel, mas como naquela época não havia polícia técnica, não se sabe 
até hoje como foi executado o crime: não havia imprensa pra romancear a 
verdade, nem júri pra ser influenciado pela imprensa. Com o correr dos anos, 
o crime foi se desenvolvendo: o homem passou a matar a mulher, a mulher o 
marido, o marido o genro, o genro a sogra, a sogra o vizinho — até que 
inventaram a polícia, que passou a matar o tempo. Foi então que se 
lembraram de inventar a justiça, pra julgar os criminosos e condená-los, mas 
lhe colocaram uma venda nos olhos — e daí pro erro judiciário foi um passo. 
Existem várias maneiras de se punir um criminoso, mas todas elas estão 
desaparecendo: o homem que inventou a guilhotina foi condenado à forca, o 
que inventou a forca foi condenado à cadeira elétrica, o que inventou a 
cadeira elétrica foi condenado à câmara de gás, o que inventou a câmara de 
gás foi condenado à prisão perpétua — e já que ele tinha de ficar na prisão o 
resto da vida acabou inventando a "comutação da pena", e caiu fora: foi 
assim que nasceu o primeiro anistiado, hoje conhecido como desajustado 
social. O maior de todos os inventos criminológicos foi a "liberdade 
condicional": soltam o criminoso com a condição de ele continuar preso em 
sua própria casa. Há vários tipos de crime: o crime passional, o crime 
premeditado, o crime ocasional e o crime perfeito. O crime perfeito é sempre 
aquele que a polícia não consegue descobrir e até hoje não se conseguiu 
provar se o crime é mesmo perfeito ou se a polícia é que é imperfeita. Num 
julgamento, o réu fica horas assistindo à discussão de dois advogados, sendo 
que um deles lhe faz uma série de acusações que ele nunca praticou 
enquanto o outro lhe atribui uma série de qualidades que ele nunca mereceu. 
O juiz está ali pra decidir qual dos dois advogados é o mais habilidoso. 
Geralmente, o crime é orientado pela imprensa, que forma a opinião pública: 
quando os jurados vão dar o seu veredicto já trazem de casa a opinião 
pública, publicada. E essa história de se dizer que o criminoso sempre volta 
ao local do crime é pura conversa: quem volta ao local do crime uma porção 
de vezes é a polícia, pra colher impressões digitais. A polícia vive insistindo 
que o crime não compensa, mas nenhum policial quer sair da polícia.
O CASAMENTO
O casamento foi inventado há milhares de anos, pra evitar que o homem 
tivesse mais de uma mulher, o que felizmente ainda não se conseguiu até 
hoje. Há dois tipos de casamento: o civil e o religioso. O civil é o que 
ninguém vê, o religioso é onde todo mundo se viu. O casamento é uma 
verdadeira peça de teatro, o enredo é sempre o mesmo, só mudam os 
personagens: mas os intérpretes são tão ruins que raros são os que 
conseguem chegar ao terceiro ato. Algumas peças ficam em cartaz durante 
meses, outras durante anos: a "boda de prata" é a data que escolheram pra 
comemorar o "sucesso de bilheteria". No casamento, uma coisa é infalível: 
onde come um, comem dois — só que a metade. O casamento só dá certo 
quando não dá certo: é a única maneira de o homem ficar livre de novo. A 
aliança é um símbolo da união e na sociedade moderna a união faz a farsa. O 
casamento é um compromisso cercado de leis por todos os lados, as leis 
foram inventadas pra quando o homem burla a mulher. Alguns homens são 
tão espertos que conseguem burlar a mulher e burlar a lei — e acabam se 
burlando a si próprios, pois casam de novo. Por isso, é recomendável que 
tanto o noivo como a noiva leiam a burla antes de usar.
A CENSURA
A censura é xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Por isso, em todas as partes 
do mundo, ela é exercida com o maior critério, pois todos os xxxxxxxxx 
fazem questão de xxxxxxxxxxxxxx. Existem duas espécies de censura: a 
censura xxxxxxx e a censura xxxxxxxx xxxxxxxxx. Num regime 
democrático, a censura é completamente xxxxxxxxx. A liberdade de 
pensamento não pode e não deve ser xxxxxxxx xxxxxxxx em razão direta da 
formação das xxxxxxx xxxxxx xxxxxx. No entanto, parece que os 
xxxxxxxxx xxxxx, razão pela qual xxxxxxxxx xxxxxxx, mesmo porque 
xxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxx, a não ser em casos muito especiais, como por 
exemplo: xxxxxxxxx, xxxxxxxx e xxxxxxxxx. Para exercer a censura é 
preciso, antes de tudo, ser muito xxxxxxxxx, porque do contrário 
xxxxxxxxxxxxxx. Nos países civilizados, onde a censura é exercida por 
xxxxxx xxxx, não se pode duvidar que xxxxxxxx xxxx, sendo os resultados 
muito xxxxxxxxxxxxx. Sem dúvida alguma a censura é responsável pelos 
xxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx de um país. Ainda assim, existe uma 
forma bastante hábil para xxxx xxxxxxxxx, pois para bom entend xxxx meia 
palavra basta.
A ESTATÍSTICA
Estatística é justamente essa habilidade que os homens têm de 
transformar fatos em números, de tal maneira que nunca podem provar que 
esses números são um fato. Na última estatística feita pelos americanos, que, 
segundo a estatística, é o povo que faz mais estatística, o maior índice de 
mortes é causado pela velhice. À primeira vista, parece que nos Estados 
Unidos só tem velho, mas não: quando o sujeito chega a certa idade, vira 
número e entra pra estatística. Mas nem sempre a estatística facilita as 
coisas: quantas crianças engolem bola de gude por dia? É evidente que o 
número de crianças é bem maior que o número de bolas de gude, no entanto 
a estatística não soluciona o problema: continua-se fabricando muito mais 
crianças do que bolas de gude. Quantos buracos existem nas calçadas? É 
muito duvidoso um resultado positivo, porque 87,3 por cento dos 
pesquisadores que saem pra fazer a estatística caem dentro dos buracos. 
Ainda assim, a estatística consegue milagres: de cada dez mulheres que 
passam na rua, nove ouvem piadinhas e uma é surda. De cada dez veículos 
que vão pra cidade, nove atropelam na ida e um atropela na volta. De cada 
dez mulheres casadas, uma é solteira. De cada dez homens solteiros, nove 
são casados. De cada dez telefonemas que o marido recebe, nove são pra sua 
mulher e um é engano .— justamente quando é ela quem atende. De cada 
dez estrelas do cinema, nove usam o sabonete das estrelas ea outra não é 
estrela, é protegida. De cada 10 quilos de carne de boi, 1 quilo é de carne de 
cavalo. De cada 10 litros de leite de vaca, 9 são de água e 1 é de leite em pó. 
De cada dez motoristas, nove saem pra se distrair e um se distrai. Mas nem 
sempre a estatística é eficaz: quantas pessoas no mundo inteiro vivem da 
profissão de fazer estatística? Não se sabe. Toda vez que vão fazer um 
levantamento, nunca tem ninguém em casa — porque saíram todos pra fazer 
estatística.
A VALENTIA
O homem valente nunca anda armado, mas em compensação vive muito 
menos. A verdadeira coragem é ter coragem de dizer que não tem coragem. 
O homem só deve ser valente dentro de casa, até a mulher chegar. Num 
duelo a faca, leva mais vantagem o que está de revólver. No avião, a 
coragem é passageira. Todo covarde tem seu dia de valentia, geralmente é o 
último. De cada dez valentes nove estão enterrados: o décimo se acovardou. 
Valente é o índio: já entra no filme sabendo que vai morrer. O noivo também 
é valente: casa com uma mulher, sabendo que vai enfrentar duas. Já o 
trapezista não é tão valente quanto parece: valente, no duro, é o espectador 
que senta embaixo do trapézio.
MINHA AMIGA, A TV
O pior espectador é aquele que quer ver
Minha televisão vai fazer nove anos. Tenho vontade de comprar uma 
nova pra ver se ela passa programas mais novos. No princípio só pegava um 
canal, agora pega um monte, cada um querendo imitar o outro. Antigamente, 
eu sabia qual era o canal pela cara do artista, mas agora é difícil, porque os 
artistas mudam tanto de canal que a gente nunca sabe qual está vendo. 
Dizem que a televisão se orienta por um Departamento de Pesquisas que 
divide o público em classes a, b, c e d —não sei de que classe sou, porque 
nunca fui pesquisado.
Só sei que me sinto um nobre, de sangue azul, porque assisto televisão 
no "horário nobre", que eles convencionaram ser das 8 às 10. Acho até que 
sou supernobre, às vezes vejo televisão até à meia-noite. À tarde nunca 
assisto, só dá criança-prodígio fazendo caretas e dando adeusinho pra 
mamãe; acho irritante criança com rótulo de talento. Mas o pior são as 
crianças-prodígio que entram na faixa das 6 horas da tarde: todas elas com 
mais de trinta anos. Sei que a televisão está evoluindo, porque inventaram 
um aparelho que liga e desliga de longe, só não inventaram um pra desligar a 
do vizinho. A coisa mais fascinante na televisão são as mensagens do 
patrocinador: eles apresentam um frasco de desodorante e convencem que se 
a gente usar aquele produto acaba arranjando uma namorada — só não 
ensinam como é que a gente vai explicar isso à nossa mulher. Dizem que a 
televisão dá economia, a gente fica em casa e não precisa gastar dinheiro em 
cinema, em teatro, em buate — mas isso é pra quem não tem filho que 
obriga o pai a comprar tudo o que aparece na televisão. Outra coisa curiosa 
são os programas que eles dizem populares, pra vender coisas baratinhas, 
mas ninguém sabe o que eles querem vender, porque dão prêmio de 
automóvel e a gente só se lembra do automóvel. Inventaram também esses 
programas de auditório, ao invés de esticarem o palco, esticam o auditório, 
pra caber mais gente; se a intenção deles é levar todo mundo pro auditório 
por que anunciam tanta televisão na televisão? A estatística diz que a 
televisão une a família, acho que une até os vizinhos. Mas ai de quem abrir a 
boca pra interromper a novela, logo depois da novela vem a fita de mocinho, 
logo depois da fita de mocinho vem o jornal com notícias fresquinhas, logo 
depois vem a entrevista, logo depois vem o filme onde o astro é um 
cachorro, ou um cavalo, ou um gato, isso depende do animal que estiver na 
moda, logo depois vem o show com muita mesma mulher, com muita mesma 
música e com muita mesma piada, isso quando não entra em cadeia um 
especialista político pra dar sua mesma mensagem sob o alto patrocínio do 
governo federal, provando com dezenas de gráficos que o custo de vida está 
baixando — só que a impressão que dá é que eles usam os gráficos de 
cabeça para baixo, depois vem um programa esportivo, depois vem a mulher 
da gente dar a "bronca" porque a gente está dormindo no sofá há mais de 
duas horas e deixou a televisão ligada. Ter uma televisão é um inferno — já 
vi que preciso ter duas.
O segredo da propaganda é a propaganda do 
segredo
Depois de tantos anos vendo televisão diariamente, chego a uma 
conclusão definitiva: é muito mais divertido e mais prático ver os anúncios. 
Enquanto as outras pessoas ficam aflitas tentando decorar os horários das 
novelas, das paradas de sucesso e dos chamados programas humorísticos, eu 
não tenho problema: ligo a televisão em qualquer canal e vejo os anúncios 
sem preocupação de horário. Vocês talvez achem que é loucura ver os 
mesmos anúncios diversas vezes, mas posso garantir que os anúncios variam 
muito mais que as piadas e as músicas que são servidas todos os dias. Pelo 
menos os anúncios são bem bolados, alguns até inteligentes. A técnica é 
chatear tanto até ficarem em nosso subconsciente — se é que alguém 
consegue ter subconsciente assistindo televisão.
Os refrigerantes, por exemplo: quase todos fazem as garrafas dançar na 
nossa frente e tocam uma musiquinha que chega a dar sede. Aí a gente não 
resiste: vai à geladeira e bebe um copo de água.
Mas bom mesmo é anúncio de sabonete: aparece cada moça bonita que 
vou te contar. E com uma grande vantagem, as moças não falam, só 
aparecem, ligam o chuveiro e ficam nuinhas dentro da espuma. Por mais que 
a gente saiba que aquilo é anúncio de sabonete, fica sempre aquela dúvida se 
um dia eles não vão resolver dar o nome daquele chuveiro ou, quem sabe, o 
telefone da moça.
Geniais mesmo são as geladeiras que duram toda a vida. Mas muito mais 
geniais são os textos garantindo que cabe tudinho dentro delas, mas acho que 
não têm tanta certeza, pois fazem questão de botar uma moça bem bonita pra 
mostrar a geladeira — e a gente tem é vontade de comprar a moça, mesmo 
sem o "certificado de garantia".
E as televisões, baratíssimas, cada vez mais vendidas, dentro dos novos 
planos de venda. Ao invés de bolarem uma televisão mais perfeita, ficam é 
bolando planos de venda. No dia em que inventarem uma televisão que 
focalize a cara de um sujeito com menos de três orelhas, não precisam nem 
fazer anúncio: é só exibir, que esgota no mesmo dia.
Existe anúncio de todo tipo: tecidos que não amarrotam, tecidos que dão 
prêmios, tecidos que dão desconto, tecidos coloridos que são apresentados 
em preto e branco, tecidos brancos que ficam cada vez mais brancos à 
medida que vai surgindo um novo sabão em pó. Mas é o que eles pensam: o 
branco deles, lá em casa, todo mundo tá vendo que é cinza.
O mais engraçado são os anúncios de inseticidas que matam todos os 
insetos, menos as moscas do estúdio.
Anuncia-se também muita banha, muito pneu, muito perfume, muito 
sapato, muito automóvel, muita calça, muita bebida e muita pílula pra dor de 
cabeça. Parece até que um anúncio depende do outro — é como se fosse uma 
novela, com a vantagem de a gente sempre saber qual o final de cada 
anúncio. E não pensem que sou o único a achar os anúncios mais 
interessantes que os programas: os donos das emissoras também acham — 
senão não ocupavam a maior parte do tempo com anúncios. Nos intervalos é 
que colocam alguns programinhas — por absoluta falta de mais anúncios.
Reparem só: os programas de humor mostram o lado negativo das 
pessoas, os personagens são quase todos fossilizados, gagos, surdos, cegos, 
velhos borocochôs ou sem sexo definido. As novelas exploram seres 
anormais dentro de um mundo de misérias e lágrimas. Já os anúncios 
apresentam um mundo de otimismo, onde tudo é bome saudável, não 
quebra, dura toda a vida e qualquer um pode adquirir quase de graça, 
pagando como puder, no endereço mais próximo da sua casa. O único 
detalhe que nos deixa um pouco frustrados é que a moça que dá os endereços 
fala tão preocupada em não errar que a gente não consegue decorar nenhum 
endereço. Em compensação, sabe de cor a moça todinha.
-
O bom locutor é o que não usa a cabeça
Alguns locutores, quando lêem as notícias, mexem tanto com a cabeça 
que não consigo dar tanta atenção às notícias quanto às suas cabeças. Fazem 
questão de fingir que não estão lendo, por isso nunca mostram o papel que 
está em cima da mesa, mas falam sempre de cabeça baixa, dando a 
impressão de que não estão acreditando muito naquilo que estão dizendo. Só 
de vez em quando olham rapidamente para a câmara, pra dar a entender que 
estão se dirigindo a um público; o certo seria fazer o contrário, olhar para o 
público o tempo todo e só de vez em quando olhar para o papel. Mas já que 
não conseguem decorar o texto, acho que a única solução seria fazer uma 
mesa com tampo de vidro e colocar a câmara debaixo da mesa.
Já os locutores esportivos não mexem com a cabeça, mexem com as 
mãos. E têm um vocabulário todo especial, dizem que o "couro" foi para o 
"fundo do barbante" — e a gente fica sabendo que couro é a bola e que 
barbante tem fundo. Dizem que o jogador "amaciou a bola no peito" — e a 
gente tenta em casa amaciar a bola no peito e ela fica ainda mais dura. 
Dizem que o craque caiu no "tapete verde do gramado" — e a empregada da 
gente fica com água na boca, só de pensar que debaixo daquele tapetão cabe 
tanto lixo. Dizem que o jogador "naufragou na etapa complementar" — e 
nisso são descarados, pois os jogadores naufragam mesmo em dia de sol. 
Dizem uma infinidade de coisas, tais como "dois tentos a um", "defender as 
nossas cores", "passou pelo arco", "esfregou a pelota", "calçou o adversário", 
"caiu contundido", etc. A televisão já tem boa técnica, o futebol já tem bons 
jogadores e o Brasil demonstra ser bastante esportivo, pra aceitar esse tipo de 
locutor.
A maior invenção da TV: o intervalo
Certos programas são tão desinteressantes que entram por um olho e 
saem pelo outro.
Alguns artistas cobram uma fortuna pra se apresentar num programa, 
enquanto alguns patrocinadores pagam uma fortuna pra aparecer.
A vantagem dos programas humorísticos é que eles contratam uma 
claque e as piadas já chegam ridas em casa.
Pior é pianista dando concerto: ao invés de olhar pra partitura ou para as 
teclas, toca de lado, olhando pra câmara que focaliza um orelhão que não 
tem mais tamanho, por isso a gente percebe claramente que na televisão todo 
pianista toca de ouvido.
Acho contraproducentes os comerciais de companhias de aviação: os 
aviões passam de um lado para o outro, mas nunca voltam.
O melhor
aparelho portátil
é o tamanho gigante
Eu tinha uma televisão portátil. Tão portátil que não resistia à tentação 
de mudá-la de um lugar para outro, mesmo quando estava desligada. 
Gostava muito dessa televisão, não sei se porque era decorativa ou se porque 
as caras que apareciam nela eram tão pequenas que me davam uma sensação 
de ser um homem muito maior do que todos os que ela focalizava. Pode 
parecer bobagem, mas é uma sensação agradável a gente pensar que é maior 
do que os outros — e deve ser por isso que as televisões portáteis vendem 
tanto. Mas de uma coisa ninguém escapa: a televisão portátil passa o dia 
inteirinho anunciando a televisão tamanho gigante e, não é nada, não é nada, 
isso vai dando um complexo de inferioridade na gente que tem televisão 
pequena. A cara dos outros pode ser menor, mas a gente sabe que a nossa 
televisão é menor que a dos outros — e isso é chato. Tanto falam, tanto 
apregoam, tanto anunciam, que um dia a gente vai na onda e acaba com-
prando uma televisão bem grande, com imagem filtrada, tridimensional, e 
todos os requisitos da propaganda moderna. Eu fui nessa. Quando a televisão 
chegou, veio cercada de quatro carregadores, não sei se por precaução de ela 
cair e quebrar ou se pra dar a impressão de que o aparelho era maior do que 
realmente é. Sei que quando entrou na sala, a sala começou a ficar pequena: 
foi preciso afastar um sofá, retirar duas poltronas e mudar a posição de 
alguns quadros — isso pra não seguir a sugestão de um dos carregadores que 
achava conveniente derrubar uma parede. Só que ele não sabia que atrás 
dessa parede morava o meu vizinho e, ainda que o vizinho concordasse, tá na 
cara que ele ia querer ver televisão de graça o dia inteiro. Optei pela retirada 
das poltronas, se bem que essa medida dificultasse um pouco o meu conforto 
pra assistir televisão, sentado no chão, mas afinal valia a pena: eu poderia 
ver perfeitamente da outra sala. Era uma vantagem que a TV portátil não me 
dava, nem era preciso transportá-la de um cômodo para outro, era só me 
afastar e ver de qualquer lugar. Está aí um novo ângulo que os vendedores de 
televisão grande ainda não bolaram: anunciar na base inversa da TV portátil: 
"Fixa, imóvel, não precisa ser transportada, você escolhe o lugar e ela fica ali 
para o resto da vida. Mais confortável, mais prática, não dá trabalho, não 
cansa: completamente irremovível". Mas com todo o seu tamanho, com toda 
a sua imponência, a TV grande precisa de uma antena externa. Vem o 
especialista, sobe no telhado, jorra metros e metros de fio, rasteja pelas 
paredes, coloca chaves de separação de canais, regula daqui, mexe dali, e a 
TV começa a tomar conta da casa. Na hora dos doses, vou te contar: é cada 
cabeção que não tem mais tamanho. A gente tem de se curvar, ficar 
cabisbaixo, prestar atenção, mesmo que não queira. São pessoas nítidas, com 
cores firmes, sem risquinhos atravessando os olhos: é o casamento perfeito 
da imagem com o som, mas em tamanho sobrenatural. É aí que a gente vê o 
ridículo das coisas: cada cabeça enorme dizendo tanta besteira. Agora, que 
tem as suas vantagens, tem. As mulheres dos shows, mesmo as que aparecem 
em conjunto, lá atrás, a gente vê todas, uma por uma. A cantora, quando abre 
a boca, a gente pode até contar os dentes. Se vê tudo: as rugas, os cílios 
postiços, a costura das operações plásticas e até os decotes. Só é chato uma 
coisa: nunca vi anunciar tanta televisão portátil como nessa minha televisão 
grande. Parece até que adivinham o tamanho da televisão que a gente tem — 
senão não anunciavam tanta televisão na televisão. Vão desnortear assim no 
raio que os parta: só anunciam a televisão que a gente não tem.
enquanto
isso
COMERC
IAIS
MULHER
MULHER
Um produto que vem sendo fabricado há milhares e milhares de anos.
Modelo único: não enguiça 
não enferruja
não encolhe
MULHER
Pode ser usada em casa, na rua ou no escritório. É de fácil transporte, 
podendo lhe proporcionar um excelente fim de semana.
MULHER
É de manejo simples: funciona com apenas um toque.
Não tenha inveja do seu vizinho, você também pode ter uma igual.
Troque hoje mesmo sua mulher velha por uma nova.
MULHER
É apresentada no formato que você quiser, mas prefira sempre o de 
molejo permanente.
MULHER
É a mercadoria que lhe convém: resistente
saudável
de-co-ra-ti-va
E vem com o tradicional certificado de "garantia permanente": funciona 
pra toda vida.
MULHER
Adapta-se com facilidade a qualquer temperatura:
■ no verão, funciona de biquíni;
■ no inverno, basta adaptar uma pele de marta e você terá o modelo 
"vista-vison".
MULHER
É de fácil acomodação, pode ser guardada na sala, na cozinha, no 
banheiro ou no lugar que você achar mais razoável.
Faça uma surpresa à sua esposa, levando hoje mesmo pra sua casa.
MULHER
O encanto permanente do seu lar!
DESPERTADOR
Tempo é dinheiro, mas o nosso despertador só lhe poupa tempo.
SWISVO
O único despertador do mundo que estica o seu tempo: tem treze 
númerosno mostrador. Isso lhe garante uma bonificação de duas horas por 
dia, ou seja, sessenta horas por mês, ou seja trinta dias no ano.
Você terá suas férias anuais sem perceber.
SWISVO
Tem outras vantagens: campainha silenciosa, o que lhe garante um sono 
tranqüilo, até à hora de você acordar.
SWISVO
Não interrompe o seu sono. Nem com a campainha nem com o tique-
taque incômodo dos outros relógios. Porque Swisvo não tem maquinismo.
SWISVO
É apresentado em três tamanhos:
■ tamanho pequeno, para os apressados,
■ tamanho médio, para as pessoas normais,
■ tamanho gigante, para os preguiçosos — porque o ponteiro demora 
muito mais pra dar a volta.
SWISVO
Não lhe custa dinheiro, somente tempo: porque o tempo que você leva 
pra se convencer é mais caro do que o dinheiro que você gasta pra comprar.
Consulte hoje mesmo o "plano Swisvo": 128 horas de entrada e 45 
minutos mensais.
SWISVO
O único relógio do mundo que tem "corda permanente", porque vem 
amarrado numa corda. E a corda de Swisvo tem duas vantagens: poupa o 
tempo de dar corda no relógio e poupa dinheiro: quando você estiver duro, 
aproveita a corda e pendura o despertador.
SWISVO
O único relógio do mundo que vai equipado pra ficar no prego.
CAIXÃO
RATAPLAN
A última palavra em caixão para defunto. Note bem:
a última palavra é a sua, não a do caixão.
RATAPLAN
Resolve o problema do seu futuro, porque o seu futuro é um só.
RATAPLAN
Não deixe para os seus parentes um problema que é exclusivamente seu:
morra de uma vez e pague um pouquinho por mês.
RATAPLAN
Escolha hoje mesmo o seu caixão: um corpo de entrada e suaves 
prestações mensais durante o resto da vida.
Sim, porque você só pára de pagar quando dá a entrada. . . no caixão.
RATAPLAN
 apresentado em dois modelos:
modelo simples, para as mortes súbitas,
modelo de luxo, um belíssimo presente para as pessoas doentes.
RATAPLAN
É o único caixão que lhe oferece uma vantagem que nenhum outro 
caixão oferece: vem equipado com o "olho mágico", que lhe permite ver 
quais as pessoas que irão ao seu enterro. Dê ao seu corpo o conforto que ele 
não teve em vida. Adquira hoje mesmo o seu.
RATAPLAN
Um caixão otimista. Tão otimista que é todo pintado de cores vivas.
RATAPLAN
É a sua oportunidade: nunca houve um caso de devolução. 
Diga comigo:
Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . . 
Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . .
MÁQUINA DE ESCREVER
SWEET-CAR
A máquina de escrever construída para os seus dedos. 
SWEET-CAR
Escreve em espaço duplo,
quádruplo,
oitábulo,
dezessêisbulo 
— o que lhe permite fazer o rascunho entre uma linha e outra.
SWEET-CAR
É apresentada em vários modelos:
SWEET-CAR ECONOMIC — feita especialmente para financistas. Não 
tem mais o cifrão superado: já bate tudo convertido em dólar.
SWEET-CAR TELEVISION — ideal para humoristas de televisão. Cria 
as mesmas piadas de sete em sete dias.
SWEET-CAR SOCIETY — própria para colunistas sociais. Tem quatro 
ss, sendo que três deles com cedilha.
SWEET-CAR CINEMATIC — ótima pra fazer legendas de filmes 
americanos. Você pensa em inglês e ela escreve em português.
SWEET-CAR
Apresenta outras vantagens:
Ph numa tecla só, para as pessoas antiquadas. 
383 batidas por minuto.
Jogue fora o seu relógio, você pode saber as horas pelo número de 
batidas.
SWEET-CAR
Tira as suas dúvidas quando você não sabe se as palavras se escrevem 
com z ou com s — porque Sweet-Car não tem z. Venha hoje mesmo ao nosso 
escritório e bata as suas promissórias na própria máquina.
SWEET-CAR
A máquina do presente que fará o seu futuro. Soletre comigo: a — s — d 
— f — g: Sweet-Car!
VERDADES INADIÁVEIS
O cigarro não provoca o câncer. O câncer, sim, é que vive provocando o 
cigarro.
O chato da bebida não é o mal que ela nos pode trazer, são ^_ os bêbados 
que ela nos traz.
Segurança de vôo é essa garantia que nos dão os que ficam aqui 
embaixo, enquanto estamos lá em cima.
O jogo não é propriamente um vício: é o hábito que a gente adquire de 
perder.
Não são os cavalheiros que estão acabando, é o h que já não se usa mais.
O pior cego não é aquele que não quer ver: é aquele que não quer ser 
visto.
A coisa mais chata num jantar de cerimônia é a falta de cerimônia com 
que as pessoas se portam.
Depois que o homem sai da prisão, perde completamente a liberdade.
O maior vexame que um limpador de vidraça pode passar é cair da janela 
pra dentro.
Pior do que a criança do vizinho só a nossa — segundo o nosso vizinho.
Um homem prevenido vale por dois, dois homens prevenidos não sobra 
nenhum.
Síndico é o único sujeito que consegue ser proprietário daquilo que não é 
seu e manda mais que os próprios donos.
Saca-rolha é esse instrumento que foi inventado pra empurrar a rolha pra 
dentro da garrafa.
A alegria do geômetra é ver o círculo pegar fogo.
Tem sujeitos que só usam a vírgula pra dar um nó na frase anterior.
Sinal dos tempos no trânsito é isso: os tempos mudam e os sinais 
continuam.
Existem maridos que são meio surdos: sempre que suas mulheres lhes 
pedem 50 eles só ouvem 25.
O que mais pesa em cima de um travesseiro é a consciência.
O automóvel é uma extensão do homem: quando um enguiça o outro 
também enguiça.
Garantia é um certificado que as firmas dão pra gente se chatear até 
acabar a garantia.
Quando o cosmonauta chega ao céu, aí começa o inferno.
A estatística comprova que 99 por cento das donas-de-casa não têm casa.
 Só uma coisa o homem faz questão de acompanhar durante toda a sua 
vida com verdadeiro carinho: a queda dos cabelos.
O aspirador é a prova de que o pó que respiramos está cada vez mais 
caro.
Liberdade de imprensa é fácil. Difícil é ser jornalista livre.
O chato da inflação é que a gente recorre a todos os meios pra empregar 
o dinheiro que não tem.
A vantagem da inflação é que em pouco tempo a gente pode trocar um 
litro de gasolina por um carro novo.
As pessoas passam anos tentando arranjar um telefone e quando 
arranjam deixam fora do gancho pra não serem incomodadas.
O que aumenta a dor de cabeça é a dúvida que a gente tem em escolher o 
comprimido que vai tomar.
Sogra é esse parente afastado que se torna cada vez mais próximo.
Como evoluiu a odontologia: cada dia se inventa um aparelho diferente 
pra provocar uma dor diferente.
Os postes também deviam fazer exame de vista.
Só existe uma fórmula pra se dar bem no casamento: é se dar bem com o 
marido da sua mulher.
Isto, sim, é um triângulo diferente: ele, ela e o pior amigo.
Louco é todo sujeito que cisma que é Napoleão, desde os tempos de 
Napoleão.
Pai moderno é uma ilha de afeto cercada de contas por todos os lados.
O que o bêbado precisa pra parar de beber não é que lhe cortem a bebida, 
é que lhe cortem o crédito.
Nada melhor pra se conhecer menos uma pessoa do que pedir 
informações a seu respeito.
A maior ambição do milionário é ter uma amante, mas quando arranja 
uma, deixa de ser milionário.
Grande negócio é o cinema: exibe um filme de trinta anos atrás, num 
cinema de cinqüenta anos atrás — com os preços de hoje.
O crime perfeito leva tanto tempo pra ser planejado que às vezes o 
criminoso morre antes da vítima.
Nos apartamentos de hoje a gente tem de ligar a televisão bem alto pra 
não ouvir a do vizinho.
Grã-finos que se separam continuam se encontrando nas colunas sociais: 
ele na linha de cima e ela na de baixo.
São inúteis as belíssimas vitrinas das casas de óptica: quem precisa de 
óculos não enxerga nada.
Da discussão não nasce a luz, nasce a conta da luz.
A grande luta dos anunciantes de sabão em pó é querer tornar o seu 
branco mais branco que o do outro.
O homem não dorme por dois motivos: pelo que tem de fazer amanhã e 
pelo que fez ontem.
Faquir é esse sujeito que fica deitado sobre pregos pra ganhar o seu pão 
de cada cem dias.
Pediatra é um sujeito de profissão difícil: tem de agradar as mães sem 
prejudicar a saúde das crianças.
O simmais caro do mundo o homem deposita na igreja e a , mulher fica 
sacando o resto da vida.
Agora que já existe o parto sem dor só falta inventarem a yg conta com 
anestesia.
Olheiro é esse sujeito que ganha pra vigiar os carros, mas só fica de olho 
nos motoristas.
Uma mulher é uma mulher, uma mulher, uma mulher. Às vezes, uma 
rosa.
Marido é um homem que passa a metade da vida procurando uma mulher 
e a outra metade tentando livrar-se dela.
É mais cômodo ter três mulheres fora de casa do que uma dentro.
Certos vestidos são um estouro: a mulher aperta o botão nas costas e eles 
estouram na frente. "
O HOMEM EM ESTADO DE COMO
COMO SE MONTA UM ESCRITÓRIO
Todo homem deve ter um escritório, pelo menos pra quando sair de casa 
dizer à mulher que foi ao escritório. E quando chegar no escritório, dizer pra 
telefonista que não está pra ninguém.
Um bom escritório tem de ser funcional, isto é, tem de ter tudo para o 
homem não funcionar enquanto o escritório está funcionando.
Por exemplo, a primeira coisa importante é ter uma janela bem ampla 
por onde deve passar a luz e botar uma cortina bem grossa, pra não deixar 
passar a luz. Como se vê, a janela é importante, a cortina, funcional. Quer 
dizer, desde que a cortina funcione.
A segunda coisa é ter uma boa iluminação artificial, isso pode ser feito 
com um pouco de bom gosto e um pouco mais de dinheiro. Se você não tiver 
bom gosto, tenha pelo menos o dinheiro — que o mau gosto também custa 
uma nota.
É imprescindível que tenha uma mesa bem grande, o suficiente pra se 
deixar em cima dela um monte de papéis que deviam estar nas gavetas. E já 
que você sabe que não vai guardar os papéis nas gavetas, a mesa deve ter no 
mínimo quatro, pra guardar tudo aquilo que não lhe interessa que os outros 
vejam, como presentes de festas, talões de cheque, conta de luz atrasada, 
tesoura de unhas e um par de meias — que dão bem o toque de relaxamento 
dos grandes homens de negócio.
O escritório funcional deve ter um fichário, mas o fichário, pra ser 
funcional, deve ser sempre revisto — pode acontecer de entrar uma barata na 
letra G quando o certo seria letra B.
O ar condicionado é outra peça indispensável para o calor do escritório, 
digo, para o escritório no calor. Mas isso não quer dizer que no inverno você 
tenha de removê-lo e aturar durante vários meses aquele buraco imenso na 
parede: é só deixá-lo desligado. Mas para isso, é preciso que o aparelho seja 
funcional — e nada mais funcional num escritório do que um aparelho de ar 
condicionado que não funcione, desde que não seja coberto pela cortina.
Uma eletrola bem escondida, com alto-falantes mais escondidos ainda, 
dão um certo ar de mistério — mas nunca esquecer de ligar a eletrola antes 
de mandar alguém entrar. Detalhe: um isqueiro de mesa, metido a besta, sem 
fluido, pode entreter durante algumas horas as pessoas que estão esperando.
Uma porta bem disfarçada pode servir de curiosidade a muitas pessoas 
que não conseguem disfarçar a sua curiosidade em certas ocasiões, então 
você diz: é aí mesmo.
Livros também são muito importantes num escritório, pelo menos fazem 
o dono do escritório ficar importante, mesmo que ele não os tenha lido — 
porque livro de escritório só quem lê são as visitas, quando examinam a 
estante.
Por falar em estante, as prateleiras devem ter profundidade suficiente 
para que caibam os livros na frente e as garrafas de uísque atrás. A não ser 
que você seja desses homens muito exigentes que primeiro constróem o bar 
e depois é que fazem o escritório em volta. Nesse caso, a maneira mais fun-
cional é fazer um barzinho embutido, com a porta imitando um cofre: em 
caso de roubo, os ladrões tomam um pileque de arromba.
Uma televisãozinha portátil não faz mal a ninguém, é até decorativa. 
Porque não há nada mais decorativo num escritório do que um homem 
esparramado numa poltrona vendo televisão. Dá um ar de prosperidade, de 
bem-estar, que só as pessoas muito íntimas podem constatar — mas não há 
esse risco, porque pessoas muito íntimas não freqüentam escritório, a não ser 
as secretárias.
Ah, ia me esquecendo: um escritório funcional deve ter também uma 
secretária funcional. Mas, cá entre nós, se você arranjar uma secretária 
funcional, me diga: pra que escritório?
COMO SE RECEBE UM SEGURO
Coisa engraçada é o seguro, já não digo o de vida, porque desse a gente 
não tira a menor vantagem, pois se chama de vida mas só pagam quando a 
gente morre. Me refiro ao seguro de automóvel, desses que a gente faz 
quando compra um carro, com receio de dar uma batida, e no fim do ano fica 
chateado porque pagou um dinheirão e não teve nenhum acidente.
Mas o engraçado não é isso: é quando há o tal acidente. A falta de 
confiança no segurado, por parte dos seguradores, é tão grande que eles 
lutam por todos os meios pra saber "por que" pagam, "quanto" têm de pagar 
e "de que maneira" vão pagar um compromisso que assumiram com a gente 
quando a gente pensava que ia poupar trabalho fazendo um seguro.
Outro dia, por exemplo, quando entrei no carro, verifiquei que faltava 
um farol: havia um buraco num dos pára-lamas. Não sei se roubaram, se 
algum caminhão deu marcha à ré e quebrou o vidro e depois tiraram tudo 
para não deixar vestígios, ou se caiu de maduro. Só sei que o farol faz parte 
do carro e se sumiu o seguro deve pagar. Me informaram que o seguro não 
paga roubo de peças: eu teria de dizer que roubaram o carro e que quando o 
carro foi encontrado estava com menos um farol.
Como se vê, há macetes pra não pagar e há macetes pra fazer pagar — 
mas acho que há uma verdade acima de tudo isso: a gente paga pra não se 
chatear e não pra mentir. Mas o pior é que a chateação começa justamente na 
hora de receber: eles exigem uma vistoria com hora marcada, mas quem 
marca a hora e o local são eles. Perguntam um monte de coisas, conferem 
daqui, conferem dali, procuram uma certa lógica nas declarações, como se 
um acidente tivesse alguma lógica. Resultado: a gente faz seguro pra não se 
aborrecer mas acaba pagando qualquer conserto pra não se aborrecer com o 
seguro. Acho que deviam inventar um seguro contra o seguro.
COMO SE PREPARA UMA DECORAÇÃO
Os dois grandes problemas de uma decoração no apartamento são a 
mulher da gente e o decorador da mulher da gente. O decorador gosta de 
azul, a mulher gosta de vermelho e a gente gosta de verde.
É difícil conciliar os três gostos na mesma decoração: ou a gente muda 
de decorador, ou troca de mulher ou substitui as três cores por uma neutra. 
Mas a nenhum de nós ocorre esse pequeno detalhe, durante os três meses em 
que se passa as noites em claro discutindo a cor.
E o pior não é isso: quando se chega a uma conclusão intermediária 
sobre a cor, um cedendo um pouquinho no azul, outro cedendo um 
pouquinho no vermelho e a gente cedendo um pouquinho no verde, vem o 
problema do pintor.
A vizinha da gente diz que conhece um pintor ótimo que pintou a casa de 
uma amiga, mas que ele mora no subúrbio e não tem telefone, assim que ela 
encontrar a vizinha vai falar com ela pra ver se ela encontra o pintor e dá o 
recado pra ele. A gente sai andando pela rua e encontra um pintor pendurado 
numa janela, ele larga tudo e vem combinar com a gente. Faz o preço, diz 
que precisa de dinheiro pra comprar a tinta e quando a gente percebe ele já 
levou a metade do orçamento com o que se convencionou chamar de sinal. 
Só à noitinha é que vem a surpresa: a mulher da gente já encomendou papel 
pintado, porque detesta cheiro de tinta.
COMO SE CONSERTA UM ASPIRADOR
Meu aspirador enguiçou: fez um ruído estranho, começou a cheirar a 
queimado, depois cismou de não puxar mais o pó. Toquei pra companhia:
— Nós mandaremos um técnico, amanhã ou depois.
Perguntei se não podiam dar certeza se "amanhã" ou "depois", disseram 
que não, que as camionetas saem dia-sim-dia-não. Perguntei qual o dia-sim, 
a mocinha titubeou, disse que fariao possível para o técnico vir amanhã. 
Esperei o amanhã inteirinho e ele só veio depois: fiquei sabendo que o dia-
sim era o depois. O técnico chegou, examinou, mexeu, olhou, desmontou, 
montou, disse que precisava levar o aparelho para um exame mais detalhado, 
mas logo de cara foi avisando que precisava mudar o "induzido", o 
"rolamento", o "carvão", enfim, só não precisava mudar a carcaça, porque 
senão seria melhor comprar outro novo. Levou o aparelho, deixou uma nota 
comigo, pediu que ligasse dentro de dois dias, que era o tempo que se 
gastava pra se fazer o orçamento. Liguei dois dias depois, uma mocinha 
disse que o pessoal encarregado do orçamento estava meio adoentado e que 
o orçamento ficaria pronto amanhã, mas como amanhã era sábado, melhor 
seria ligar na segunda-feira. Fiquei sabendo que o pessoal adoentado da 
companhia só fica bom na segunda-feira.
— Já está pronto o orçamento?
— Quem está falando?
Dei o número da nota, mas não adiantou, ela pediu todos os dados outra 
vez: nome, endereço, telefone, data da nota, nome do técnico e perguntou 
qual o defeito do aparelho e ela se sentiu muito feliz quando eu disse que o 
aparelho não funcionava. Pediu um minutinho e sua voz voltou em forma de 
cifras:
— 257,98.
— O queeeeeeeeeeeê?
— Isso mesmo: 257,98.
— Mas isso é quase o preço de um novo.
— O senhor é que pensa: o novo agora está custando 980 e vai ter outro 
aumento mês que vem.
A mocinha disse mais, que se eu não quisesse fazer o conserto, tinha de 
pagar 4000 cruzeiros pra ela devolver o aspirador. Acabei topando, afinal o 
que são 257,98 nos dias de hoje? Quase o preço de um filé, ou de um pneu 
antiderrapante ou mesmo de um par de sapatos — e nada disso tira o pó do 
tapete.
— Quando é que fica pronto?
— O senhor vai ligando pra cá, quando estiver pronto nós avisamos.
Não fiz outra coisa, liguei a semana inteirinha e caí no mesmo problema: 
amanhã não temos camioneta, só depois. Fiquei em casa esperando o 
aspirador como quem espera uma noiva, com a diferença de que a noiva a 
gente leva pro cinema e o aspirador não fica bem, mesmo porque nunca se 
sabe se o filme é impróprio pra dezoito anos e o meu aspirador ainda vai 
fazer dez. Quando o homem chegou, ligou o aparelho na tomada e disse que 
agora sim, estava novinho, puxava o ar com uma força que vou te contar: se 
não tiro o meu cigarro de perto ele acaba dando uma tragada. Paguei a nota e 
pedi o recibo, o homem me deu um recibo provisório, disse que o verdadeiro 
vinha depois, pelo correio. Parece que eles gostam de complicar as coisas, 
além disso, o homem disse que o aparelho agora tinha garantia de seis 
meses, pelo conserto, mas não me deu nenhum documento que provasse isso 
— e fiquei sem garantia de que teria mesmo garantia. Foi só o homem sair, 
pra eu começar a rodar a casa puxando o pó: não durou cinco minutos e 
pifou. Daí pra frente, a história é a mesma: liguei pra tal mocinha, ela pediu 
o número da nota, o nome, o endereço, o telefone, o nome do técnico, depois 
disse que o aspirador já tinha sido entregue, respondi que se não tivesse sido 
entregue eu não poderia fazer nova reclamação, pois o aspirador tinha 
enguiçado outra vez. Ela parecia um disco:
— Amanhã ou depois, mandaremos um técnico.
— Não pode ser hoje? Acabei de pagar uma fortuna pra consertarem e 
deu o mesmo defeito.
— Hoje não temos camioneta, só amanhã.
É muita coincidência, mas deduzi que eles só não têm camioneta nos 
dias que a gente liga. Acabei me conformando com o velho provérbio que 
cada vez mais se torna atual: "do pó viemos, ao pó retornaremos".
COMO SE FAZ A PREVISÃO DO TEMPO
1 — O serviço meteorológico tem muito mais de meteoro do que de 
lógico. Quando a previsão diz tempo bom, isso é mau. Quando diz mau, é 
muito pior — porque pode acertar.
2 — Vou explicar pra vocês como é que se faz a previsão do tempo: os 
funcionários se reúnem, jogando um níquel pra cima: se der cara, faz sol, se 
der coroa, chove; se o níquel cair de pé, tempo nublado. Só não acertam 
porque há muito tempo que o serviço meteorológico está sem níquel.
3 — Não existe previsão, o que existe é revisão do tempo: os jornais 
publicam os boletins e o próprio tempo faz a revisão.
4 — Mas não há dúvida que as coisas vão melhorar, quando começar a 
funcionar o cérebro eletrônico. Ele fará, diariamente, a previsão certa e 
infalível: "tempo instável, sujeito a chuvas, ou vice-versa".
5 — O serviço meteorológico americano é o mais adiantado do mundo: 
de três em três meses um furacão arrasta o prédio inteirinho de uma cidade 
para outra.
COMO SE CONSERVA UM FUMANTE
Deixar de fumar é fácil, quero ver é não deixar. Sou um fumante normal, 
tragando em média de trinta a quarenta cigarros por dia — se é que isso 
possa ser considerado normal. Em 25 anos, já consumi cerca de 365 000 
cigarros e já tirei umas dez radiografias do pulmão, todas elas boas, mas isso 
não impede que um dia eu possa ter câncer no pulmão, ou no cotovelo, onde 
o fumo não penetra — só pra chatear os especialistas. Confesso que cada vez 
me impressiono mais com esses relatórios sobre câncer no pulmão, causado 
pelo fumo; acho realmente fantástico esse pessoal da estatística esvaziando 
pulmões de cadáveres à procura de nicotina.
Toda a vez que leio um relatório médico nesse sentido, tenho vontade de 
parar de fumar, mas reajo rapidamente e começo a ler os anúncios de 
cigarros, todos otimistas, vendendo saúde em tecnicolor, com moças bonitas 
tirando fumaça até pelos olhos, me convencendo com muito mais facilidade 
que p mundo sem cigarro não tem o menor sentido.
É aí que começo a meditar sobre esse intricado mundo da propaganda de 
cigarro, cada qual querendo convencer que o seu cigarro é o melhor. 
Ninguém troca de marca de cigarro porque uma moça de pernas lindamente 
bronzeadas diz que fuma o cigarro X ou Y, a gente fica na dúvida se eles 
querem vender mesmo o cigarro ou se querem insinuar a mulher. A 
"mensagem" é dirigida diretamente ao nosso subconsciente, porque, 
conscientemente, nossa vontade não é trocar de cigarro e sim trocar de 
mulher.
De qualquer forma, a luta que se estabelece no nosso íntimo é violenta, 
principalmente quando o contrato de propaganda dos jornais está no fim e 
eles começam a publicar artigos contra o fumo, ensinando "como deixar de 
fumar". Já umas dez vezes tentei deixar, cheguei a fazer planos e arquitetar 
idéias mirabolantes, esquecendo propositadamente os maços nos locais mais 
distantes. Li inúmeros artigos antifumo escritos por cirurgiões, médicos-
legistas, cancerologistas e todos eles ficam na área da suposição estatística, 
pois se eles garantem que um fumante vive menos dez anos que o não-
fumante é porque tiram a média, mas, entre esses, garanto que tem muito 
velhinho de 120 anos que só não fuma na frente do pai porque o pai detesta 
cigarro: prefere o charuto.
Os psiquiatras afirmam que não é o fumo que traz o vício, mas os gestos 
que se tornam mecânicos no hábito de fumar, como puxar o cigarro da 
carteira, bater uma das suas pontas, acender o isqueiro, levar o cigarro à 
boca, pousá-lo no cinzeiro etc.
Isso quer dizer que é muito simples deixar o cigarro: o difícil é se 
desfazer dos gestos, e toda vez que penso nisso, abandono a idéia de deixar 
de fumar — pois se já é ridículo todo esse ritual com um cigarro na mão, 
muito pior seria sem ele. Baseado nisso, decidi criar sistemas que não 
permitam largar o cigarro, como por exemplo: decidir parar sempre no 
próximo aumento. É uma espécie de vingança que a gente vai arquitetando 
mentalmente — se a gente parar agora o prejuízo do fabricante será pequeno, 
se a gente parar quando o cigarro estiver muito mais caro é capaz até de 
levá-lo à falência. E, adiando de um aumento para outro, não se pára nunca, 
porque os aumentos também não param.
Outro bom sistema pranão parar de fumar é trocar o hábito do cigarro 
por balas; a gente começa a chupar bala o dia inteiro e acaba ficando viciado 
em bala e pra deixar o vício das balas nada melhor do que trocá-las por 
cigarros. Eu bolando aqui, eles bolando lá, a guerra continua cada vez mais 
violenta: segundo pesquisa recente, 125 000 norte-americanos morrem 
anualmente do hábito de fumar, sendo "a maior ameaça à vida do homem em 
tempos de paz". Cento e quarenta e quatro milhões de dólares foram gastos 
em propaganda na América para apresentar o cigarro, principalmente aos 
jovens, como útil e indispensável.
Os números dominam o mundo de tal forma que é fácil deduzir que o 
que mata o homem moderno não é o câncer, é a estatística. Não é por nada, 
mas, com todos esses dados e com todos esses argumentos, é preciso ter 
muita força de vontade pra não deixar de fumar.
ANÚNCIOS MODERNOS
PRECISA-SE de um espião da melhor qualidade, quanto menos 
referências, melhor.
VESGO troca olho direito pelo olho esquerdo de outro vesgo.
PORTEIRO precisa de emprego com urgência, tratar com o porteiro.
VENDE-SE um saxofone com urgência, tratar no andar de baixo e pegar 
o saxofone no andar de cima.
TROCA-SE um rádio de pilha por uma pilha de livros sobre como 
consertar um rádio de pilha.
TÉCNICO de som procura médico de ouvido, um dos dois está com a 
razão.
MOTORISTA amador deseja trabalhar para motorista profissional.
VIGIA procura emprego num edifício de respeito. Não deixa ninguém 
entrar sem perguntar pra onde vai, nem sair sem perguntar a que horas volta. 
Trabalhou vinte anos na portaria da penitenciária.
OCASIÃO — vende-se 1 metro pelo preço de 80 centímetros.
BABÁ com oitenta anos de prática de crianças procura uma patroa com 
prática de velhinhas.
VENDEM-SE 800 gramas de vergonha, saldo do ano passado e o único 
que resta no mercado. Também resolvemos ficar sem.
VENDE-SE um foguete baratinho, semana que vem vai subir.
VENDE-SE um segredo de cofre a quem conseguir abrir o cofre, porque 
o dono não consegue.
VENDE-SE um pulmão de aço com pequeno defeito, negócio 
urgentíssimo senão não dá mais tempo.
VENDE-SE um táxi com apenas cinco postes de uso.
AGÊNCIA oferece as piores e as' melhores empregadas da praça 
mediante razoável comissão mensal. As piores não ficam no emprego porque 
as patroas não querem, as melhores porque nós não queremos.
MÉDICO especialista em médicos especialistas deseja consultar médico 
não especialista.
VELHO de 120 anos gratifica a quem encontrar o seu filho de treze, mas 
não se lembra mais do seu nome.
VENDE-SE uma tranca de direção tão boa que os ladrões levaram o 
carro mas não conseguiram levar a tranca.
PROFESSOR aposentado deseja tomar aulas de aposentadoria.
VENDE-SE uma cadeira de balanço que já não consigo mais balançar.
PERDEU-SE uma jovem de dezoito anos, alta, esbelta, bonita, cabelos 
castanhos e olhos verdes. A quem devolver a jovem de dezoito, gratifica-se 
com duas de 35.
CEGO procura psiquiatra pia tratar sua mulher que deu pra falar sozinha 
há mais de duas semanas.
VENDE-SE um boato com a máxima urgência, antes que deixe de ser 
boato.
VENDE-SE um fígado quase novo, favor não discutir na hora de acertar 
o preço.
CONSERTAM-SE aparelhos de televisão, mesmo os que estejam 
funcionando bem.
PRECISA-SE de um ator que saiba levar soco na cara, se reagir vai pro 
olho da rua.
NEGOCIANTE com pequeno capital e grande capacidade de trabalho 
deseja dobrar o capital e reduzir a capacidade de trabalho.
DETETIVE particular oferece seus serviços a mulheres enganadas. É tão 
particular que resolve seus problemas sem sair da sua casa.
VENDE-SE um par de halteres de 120 quilos, pagamento à vista, que 
ninguém é otário.
VENDE-SE violino de menino-prodígio, faz-se um bom conto a quem 
ficar também com o menino.
DÁ-SE chance a uma secretária que dê chance.
PROCURO piano desafinado para alugar, até meu vizinho aprender a 
tocar.
ESPIÃO internacional troca dezoito uniformes militares por um terno.
VENDE-SE um par de pernas mecânicas, uma delas zero quilômetro.
VENDE-SE uma roleta viciada em jogador.
LOUCO com mania de Napoleão fugiu do hospício, quem o encontrar 
pode ficar com ele que o hospício tem mais quinze.
TIPÓGRAFO aflito compra um v com urgência, tratar com o Bicente.
CHOFER sem experiência, mas com muito boa vontade, deseja se 
empregar em residência que tenha carro do ano porque está doido pra 
aprender a dirigir.
VENDE-SE um colchão de casal gasto de um lado só.
NOVELA DE TV precisa de ator responsável para fazer o papel de 
irresponsável.
VENDE-SE um guarda-chuva por preço de ocasião, favor aparecer num 
dia de sol.
VENDE-SE um véu de noiva que nunca foi usado, nem o véu nem a 
noiva.
TROCA-SE um carro que pertenceu a uma só mulher e troca-se também 
uma mulher que pertenceu a vários carros.
ÍNDIO DE CINEMA procura emprego a 50 dólares a morte.
VENDO a minha consciência mas o preço quem faz é a sua.
AGÊNCIA FUNERÁRIA participa o aumento do seu capital após o 
falecimento de três dos seus sócios.
GA-GA-GAGO pro-pro-procura re-re-remédio pa-pa-para ve-ve-velho 
ga-gá, é isso mesmo.
PROCURA-SE um psicanalista que queira trocar um consciente velho 
por um subconsciente novo.
CARTAS NA MESA
CARTA: Eu e meu marido somos gêmeos, quer dizer, eu sou gêmea de 
minha irmã e meu marido é gêmeo do irmão dele. O senhor pode calcular 
como vivemos num ambiente de tortura e desconfiança. Outro dia meu 
marido saiu de casa e disse, distraído, que ia pra casa. Como tirar essa eterna 
dúvida? (Aríete — Rio)
RESPOSTA: Há vários processos, um deles é um casal se vestir sempre 
de azul e o outro sempre de vermelho. Aí vocês podem se conhecer pela cor, 
embora dê um pouquinho de confusão na hora do banho. A solução ideal 
seria um casal morar na Bahia e o outro no Rio Grande do Sul: na hora de 
decidir quem vai pra um lado e quem vai pro outro é que pode dar margem a 
erro — mas dentro de algum tempo tudo se soluciona e os casais se 
identificarão pelo sotaque.
CARTA: Meu marido não pára em casa. Que devo fazer? (Inezita — 
Ituiutaba)
RESPOSTA: Durma fora. A melhor maneira de prender o marido em 
casa é a mulher dormir fora.
CARTA: Briguei com meu namorado pela primeira vez, só que ele jurou 
que foi a última. Estou com vontade de me suicidar, mas estou sem dinheiro. 
O senhor conhece algum método de suicídio bem baratinho? (Alonsa — Juiz 
de Fora)
RESPOSTA: Vamos com calma, Alonsa. Nesses casos de briga de 
namorados o mais aconselhável é a "tentativa": dá o mesmo resultado que o 
suicídio, com a vantagem da pessoa ficar viva. Segundo o livro Como se 
matar sem morrer, de autor desconhecido, pois se suicidou antes de editar o 
livro, existem muitos meios de "tentativas", mas as mais baratinhas e mais 
práticas são: Abrir o gás. Mas, antes de abrir o gás, abrir também a porta. 
Assim, enquanto o gás sai pela porta, os vizinhos sentem o cheiro e entram 
pra salvar. Tomar uma pílula de tranqüilizante e deixar o vidro vazio caído 
no chão. Nada como um vidro de tranqüilizante para intranqüilizar as 
pessoas. Se quiser dar mais autenticidade à "tentativa", tome o vidro todo de 
tranqüilizante. Dá um sono gostoso e quando você acordar está tudo cor-de-
rosa: se estiver de outra cor, ligue depressa para o pronto-socorro — porque 
não dura muito e você vê tudo em preto e branco. Estes exemplos dão pra 
quebrar o galho, escreva de novo e me conte. Se não escrever é porque 
exagerou na dose.
CARTA: Meu marido é piloto de avião a jato, não me dá uma folga. Mal 
sai de casa já está voltando. Que é que o senhor me aconselha? (Eldemira — 
Barra Mansa)
RESPOSTA: Coloque na entrada da sua casa uma porta giratória, assim a 
senhora inverte o problema: mal o seu marido entra, já está saindo.
CARTA: Estou namorando um índio, mas meus pais são contra, porque 
ele é antropófago e já comeu a metade do

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