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MODO DE USAR O HOMEM AO ZERO (DESCONGESTIONANTE CEREBRAL) Uso por via ocular INDICAÇÕES O homem ao zero é recomendado às pessoas que sofrem de fadiga, de mau humor, de irritação, de cansaço crônico, de falta de ar, de gripe — e especialmente às pessoas que não sofrem de nada. Foi bolado durante anos e anos de pesquisas, para ministrar, em doses exatamente científicas, tudo aquilo que o espírito humano necessita para melhor aproveitar a vida. A combinação de diversos ingredientes, comprovadamente testados, através de cobaias sujeitas às mais desencontradas reações, permitiu-nos chegar à fórmula definitiva do bem- estar social, levando-se em conta que, para isso, é necessário que exista o bem-estar individual. APRESENTAÇÃO O homem ao zero é apresentado em formato único, porque achamos que essa disparidade de tamanhos é feita apenas para embromar a boa fé dos pacientes: são duzentas páginas da mesma qualidade, embaladas por uma capa resistente, que permite resguardar o seu conteúdo por tempo indeterminado, quer seja em lugares quentes, úmidos ou mesmo gelados. Suas páginas não se dissolvem com facilidade, mas, ainda assim, recomenda-se que não sejam expostas à ação da chuva, por mais de uma semana. GENERALIDADES O homem ao zero, quando usado com regularidade, produz uma agradável sensação de bem- estar, torna claro o raciocínio do leitor e lhe permite um melhor conhecimento de si mesmo. Em certos casos, o efeito é tão eficiente que essa sensação de bem-estar pode se estender a outras pessoas que estejam próximas. Não produz efeitos colaterais, como angústia, febre, tremedeiras, tonteiras nem sono — ao contrário, mantém a pessoa desperta por muitos e muitos dias. Em caso de alguma anormalidade, repetir a dose quantas vezes forem necessárias, até que o paciente se sinta completamente saudável e equilibrado — como era antes. Mas é preciso tomar muito cuidado: quem ingerir, uma vez, todo o conteúdo do livro, corre o risco de se tornar um viciado e contra isso só dois produtos similares: O homem ao quadrado e O homem ao cubo, do mesmo fabricante. FORMULA Humor .................... 0,100 g Irreverência ............... 0,100 g Ironia ..................... 0,100 g Sátira..................... 0,100 g Non-sense ................. 0,100 g Ficção .................... 0,100 g Bossas .................... 0,100 g Etc, etc, etc.............. 0,300 g Não se agite antes de usar VANTAGENS O homem ao zero não produz alergia. Não debilita a visão. Não altera o sistema nervoso. Não acelera o coração. Não diminui os glóbulos vermelhos. Não prejudica a circulação do sangue. Não perturba a digestão. Pode ser ingerido de pé, sentado ou de bruços — dependendo da posição que mais agrade ao paciente. POSOLOGIA Crianças: dez a vinte páginas por dia, depois das refeições, podendo ser acrescida a dose, à medida que as crianças forem comendo melhor. Adolescentes: vinte a quarenta páginas por dia, que podem ser tomadas isoladamente ou em conjunto, isto é, com a respectiva namorada. Adultos: quarenta a oitenta páginas por hora, antes ou depois das refeições, ou mesmo ao invés de. Velhos: cem a trezentas páginas de uma vez, de acordo com a capacidade de cada um. Venda sem prescrição médica. Cada um pode comprar quantos exemplares quiser: não tem contra-indicação. Lab. Círculo do Livro S.A. São Paulo: Av. Brigadeiro L. Antônio, 2151 Farm. responsável — Leon Eliachar, RJ Produzimos "Homens" desde 1960 e honramo-nos ser uma indústria genuinamente bem- sucedida. 4 3 2 1 LEON ELIACHAR O HOMEM AO ZERO CÍRCULO 00 LIVRO Edição integral Copyright Leon Eliachar Desenhos: do autor, com exceção dos bem desenhados (os bonecos dos capítulos são de Yves e as vinhetas do horóscopo são de Mário Pacheco) Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia da Livraria Francisco Alves Editora S.A. A todos os homens, bons e maus, sem exceção, que ninguém tem culpa de ser bom. À minha máquina de escrever, amiga e inimiga de todas as horas. Ao leitor comum, um amigo fora do comum. Ao inventor da dedicatória, um puxa-saco declarado. SUMÁRIO 1 — EU SOU O PREFÁCIO ............................ 11 2 — AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS TEÓRICOS... 15 A guerra ...................................... 16 A imprensa.................................... 17 O carnaval .................................... 18 As férias ...................................... 19 O cinema ..................................... 20 A democracia.................................. 21 Recreio ...................................... 22 O trânsito ..................................... 27 O crime ...................................... 28 O casamento .................................. 29 A censura ..................................... 30 A estatística ............................... 31 A valentia..................................... 32 3 — MINHA AMIGA, A TV ........................... 33 O espectador................................... 35 A propaganda ................................. 36 O locutor ..................................... 39 O intervalo .................................... 41 O aparelho .................................... 42 Os comerciais.................................. 44 4 — VERDADES INADIÁVEIS.......................... 54 5 — O HOMEM EM ESTADO DE COMO ................ 59 Como se monta um escritório ................... 60 Como se recebe um seguro ...................... 61 Como se prepara uma decoração ................. 62 Como se conserta um aspirador .................. 63 Como se faz a previsão do tempo ................ 64 Como se conserva um fumante .................. 65 6 — ANÚNCIOS MODERNOS .......................... 67 7 — CARTAS NA MESA ............................... 72 g — TÚMULOS ....................................... 81 9 — A VERDADEIRA SEMANA DA ASA................ 86 10 — FRASES COM ALGUM NEXO ..................... 88 11 — DO MEU DIÁRIO ................................ 91 12 — DO DIÁRIO DE UM BEBÊ......................... 101 13 — À MARGEM DO HUMOR ......................... 105 !4 — O FASCINANTE MUNDO FEMININO .............. 108 Anatomia da mulher............................ 109 Anúncios femininos ............................. 111 Forma prática de decorar a sua casa.............. 113 Como curar um resfriado........................ 113 A moda....................................... 114 Boas maneiras ................................. 115 Como se tornar bela ........................... 116 Truques novos para o seu velho lar............... 116 Frases femininas ............................... 117 Receitas inéditas ............................... 119 15 e 16 — DOIS CAPÍTULOS NUM SÓ .................. 121 Xifópagos ..................................... 121 Piadas supersônicas ............................. 121 17 — VIVA O PROGRESSO............................. 143 Manchetes inéditas ............................. 144 Ah, os inventores .............................. 146 O elevador .................................... 147 Tabuletas ...................................... 148 Registro policial ................................ 150 18 — A LÓGICA DO ABSURDO ......................... 152 O homem feliz................................. 153 Feliz Natal e próspero Ano Novo ................ 154 Acerte o seu relógio ............................ 155 Em cima do diva ............................... 156 Crônica de um dedo só ......................... 158 Conto a duas cores ............................. 159 O homem de Marte ............................ 160 19 — CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL................. 162 20 — NOVELA ......................................... 165 Isabela, a mulher que sofria em grifo............. 166 21 — PIADAS CURTAS PARA INTELIGÊNCIAS LONGAS . . 175 22 — PRA LER DE LONGE............................ ...... 178 23 — JORNAL .......................................... 180 24 — HUMOR EM BALÕES............................. 18725 — HORÓSCOPO ..................................... 191 26 — HISTÓRIAS REAIS QUASE FICTÍCIAS.............. 200 Área interna................................... 200 Cabeça raspada ................................ 201 As flores...................................... 203 Edifício suspeito..............,.................. 206 Lolita .......................'.................. 207 Subúrbio ...................................... 207 AUTÓGRAFO O autor se recusa, terminantemente, a dar autógrafos em noites de autógrafos. Por isso, bolou o sistema tranqüilo do "autógrafo pelo reembolso": o leitor destaca o cupão, manda pra livraria mais próxima, a livraria manda pro editor, o editor manda pro autor, o autor assina, devolve pro editor,, o editor devolve pra livraria, a livraria devolve pro leitor, que torna a colar o cupão no livro — e tudo isso por menos de 115 000 cruzeiros e 82 centavos. AUTÓGRAFO PELO REEMBOLSO Nome do leitor ...................................................... Endereço ............................................................... Cidade.................................................................... Estado.................................................................... (assinatura do autor) EU SOU O PREFÁCIO AUTOBIOGRAFIA DE UM FÔLEGO SÓ Meu nome é esse mesmo, Leon Eliachar, tenho 44 anos, mas me orgulho de já ter tido 43, 42, 41, 40, 39, idades que muitas mulheres de 50 jamais atingiram, sou humorista profissional peso-leve, pois detesto as piadas pesadas, consegui atingir o chamado "preço-teto" da imprensa brasileira, quer dizer, cheguei a ganhar um salário com o qual nunca pude adquirir um teto, sou a favor do casamento, sou a favor do divórcio, sou a favor do desquite e sou a favor dos que são contra tudo isso que eles devem ter lá os seus motivos, fui fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco não pelo atestado de bons antecedentes, mas pela dificuldade com que se tira um atestado, já fiz de tudo na vida, varri escritório, fiz entrega de embrulho, crítica de cinema, crônica de rádio, comentário de televisão, secretário de redação, colunismo social, reportagem policial, assistente de direção, peça de teatro, show de buate, relações públicas, corretagem de anúncios, script de cinema, entrevista política, suplemento feminino, até chegar ao humorismo, ainda não sei se o humorismo foi o princípio ou o fim da minha carreira, acho que ninguém faz nada por necessidade mas por vocação, isto é, por vocação da necessidade, tenho experiência bastante pra saber que não sou experiente, minha capacidade de compreensão chega exatamente no ponto em que ninguém mais me pode compreender, as mulheres tiveram forte influência na minha vida desde a minha mãe até à minha mulher, com escalas naturalmente, tive duas grandes emoções na vida, a primeira quando minha mulher disse "sim" e a segunda quando seus pais disseram "não", sou a favor das camas separadas, principalmente pra quem se casou com separação de bens, não guardo rancor por absoluta falta de espaço, uma das coisas que mais aprecio é Nova York coberta de neve — quando estou em Copacabana tomando sol, o melhor programa do mundo é ir ao dentista — pelo menos para o dentista, não vou a casamento de inimigo, muito menos de amigo, desde criança faço força pra ser original e o máximo que consigo é ser uma cópia de mim mesmo, meu grande complexo é não saber tocar piano, mas muito maior deve ser o complexo de outros homens que também não sabem tocar e são pianistas, meus autores favoritos são os que me caem nas mãos, escrevo à máquina com vinte dedos porque minha secretária passa a limpo, gosto de televisão às vezes quando ligo, às vezes quando desligo, num enterro fico triste por não saber fingir que estou triste, aprecio as quatro estações, mas prefiro o verão no inverno e o inverno no verão, passei fome várias vezes e agora estou de dieta, acho a rosa uma mensagem definitiva porque custa menos que um telegrama e diz muito mais, sou a favor da pílula anticoncepcional porque ela resolve o problema da metade da população do mundo, acho que deviam inventar a pílula concepcional pra resolver o problema da outra metade, cobrador na minha casa não bate na porta perguntando se pode entrar, eu é que bato perguntando se posso sair, sou um homem pobre porque toda vez que batem à minha porta mando dizer que estou, meu cartão de visitas não tem nome nem telefone, assim ninguém sabe quem sou nem onde posso ser encontrado, prefiro o regime da ditadura porque não tenho trabalho de ensinar meu filho a falar, posso dizer com orgulho que sou um humilde, sou o único sujeito do mundo que dá o salto mortal autêntico, mas nunca dei, leio quatro jornais por dia e a única esperança que encontro são os horóscopos cercados de desgraças por todos os lados, acredito mais nos inimigos do que nos amigos porque os inimigos estão sempre de olho, minha maior alegria foi quando venci um concurso internacional de humorismo, em Bordighera, Itália, obtendo o primeiro e o segundo prêmios entre os participantes de dezesseis nações concorrentes, fiquei sabendo que havia humoristas piores do que eu, procuro manter sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o leitor está mais fraco. LEON ELIACHAR AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS TEÓRICOS A GUERRA A humanidade divide o seu tempo em duas partes: guerra e paz. Durante a paz, vive discutindo a guerra e durante a guerra vive implorando a paz. A guerra foi inventada por um sujeito que morreu na guerra. A paz ainda não foi inventada. Há vários tipos de guerra: a guerra fria, a guerra quente, a guerra morna, a guerra requentada e a guerra propriamente dita: dessa ninguém escapa, porque todo mundo é convocado antes mesmo de começar a guerra. Antigamente, a guerra era feita a pé: quando os soldados chegavam no país inimigo a guerra já tinha acabado. Hoje, a guerra é mais ligeira: basta apertar um botão que ela começa e acaba ao mesmo tempo — e quando acaba não se encontra nem o botão. Durante a paz, os homens se preparam para a guerra, construindo tanques, aviões, submarinos, foguetes, táxis e ônibus elétricos. Quem foge da guerra se chama desertor, quem fica se chama herói. O desertor foge da guerra pra não morrer nas mãos do inimigo, mas acaba morrendo nas mãos do amigo: é fuzilado. O fuzilamento é um processo de matar o sujeito que escapa da guerra — ao invés de morrer distraído, morre prevenido. Antes de ir pra guerra, os médicos submetem os soldados a um exame físico completo: quem tiver boa saúde, pode ir e morrer tranqüilo. Quando o homem se matricula na guerra, recebe um uniforme: quando entra na guerra, pinta o uniforme todinho pra ninguém ver que ele está de uniforme. Existem guerras famosas: a de 14, porque sobraram catorze; a dos Cem Anos, que quando acabou só tinha velhinho, e a de 39 — que todo mundo pensa que acabou. Antigamente, se fazia a guerra com baioneta calada, mas isso foi no tempo do cinema mudo. Hoje, a baioneta não só fala mas também canta — como se pode ver nos musicais de Hollywood. Muitos combatentes são considerados malucos porque voltam pra casa com psicose de guerra, mas os psiquiatras não se preocupam a mínima com a psicose de paz — que é muito pior. E por incrível que pareça, o soldado mais conhecido da guerra é o soldado desconhecido. A IMPRENSA A imprensa foi feita para orientar a opinião pública, mas, em verdade, é a opinião pública que orienta a imprensa. Suas duas grandes forças são o crime e a política; a política é feita criminosamente e o crime não passa de política pra vender jornal. Na imprensa moderna há seções para todo tipo de público, inclusive a de humorismo — mas não é qualquer leitor que percebe facilmentequal é verdadeiramente a seção de humorismo. Muito jornalista tem outras profissões e faz da imprensa um bico: é que ganha o suficiente por fora, pra não abrir o bico. Para um linotipista, o jornal se divide em cíceros, para um redator em colunas, para um publicista em centímetros quadrados e para o proprietário em metros cúbicos — de encalhe. O que não se pode negar é que a imprensa é uma profissão de futuro: os diretores sempre prometem um salário melhor para o futuro. Os jornalistas se dividem em três categorias: os formados, os informados e os conformados. "Furo" é essa notícia sensacional que todos os jornais dão juntos, em primeira mão. "Barriga" é a notícia que apenas um jornal dá, com absoluta exclusividade — bem-feito, quem mandou não confirmar? "Foca" é o novato que pede ao diretor pra adiar a reportagem das enchentes porque é muito difícil trabalhar com as ruas inundadas. Mas uma coisa é inegável, através dos tempos: por mais que um jornal tire o corpo fora, acaba sempre no embrulho. O CARNAVAL O carnaval é a maior data do ano, porque um dia dura três. Maior do que essa data só "véspera de carnaval" — que dura 362. Os psiquiatras acreditam que o carnaval é um pretexto para homem se desrecalcar, por isso os bons psiquiatras só se fantasiam de pacientes. Os velhos insistem que o carnaval mudou muito, não é mais como o de antigamente, eles devem estar certos: pular com reumatismo é muito mais difícil. Dizem que o carnaval de rua está acabando, mas é mentira: o que está acabando são as ruas. O homem que inventou a máscara tinha cara de urso, pra disfarçar começou a usar cara de cavalo. As fantasias mais usadas no carnaval são: homem vestido de mulher e mulher vestida de nada. A fantasia mais discutida é o travesti (homem vestido de homem) e a de maior sucesso é o biquíni (mulher vestida de mulher). O concurso de fantasias foi inventado pra ver quanto tempo resiste o mesmo júri, julgando os mesmos candidatos e premiando as mesmas fantasias. Durante o carnaval, a polícia costuma reforçar a falta de policiamento. O Departamento de Turismo gasta milhões pra decorar a cidade, depois vem o Departamento de Limpeza Urbana e gasta outros milhões pra tirar a decoração. Nos bailes cabem, em média, 2 000 pessoas sentadas e 5 000 em pé, quando o baile acaba tem mais de 15 000 deitadas. O verdadeiro milagre do carnaval é a televisão, que consegue trazer a rua pra dentro de casa: por isso não existe mais o carnaval de rua — fica todo mundo em casa vendo na televisão o carnaval de rua. AS FÉRIAS As férias foram inventadas por um homem que trabalhava 24 horas por dia, pra descobrir um meio de tirar férias, e, como não conseguia descobrir, desistiu — e quando desistiu percebeu que estava em férias. Todo homem deve tirar férias: é a única maneira de reorganizar as preocupações. Pra gozar bem as férias é preciso que o homem vá pra fora, se não puder ir, deve mandar a família, que dá no mesmo. O lugar mais barato pra passar as férias é longe da mulher: enquanto descansa um, descansam dois. Muitos homens passam as férias tão longe que quando voltam estão completamente exaustos. O melhor lugar pra se passar férias é no hotel, principalmente quando se é dono do hotel. Tem secretária que quando tira férias deixa o patrão na mão, tem patrão que quando tira férias leva a secretária pela mão. Durante as férias, o homem prefere variar de clima: se mora na praia vai pra montanha, se mora na montanha vai pro mato, se mora no mato vai pro hotel, se mora no hotel deve ir pra casa — que a família está esperando. As férias originaram o "cigarra", que é o sujeito que manda a mulher pra fora e pensa que é solteiro de novo. Às vezes fica mesmo — quando a mulher volta, de repente. O CINEMA O cinema, como todos sabem, é conhecido como a sétima arte, mas na maioria das vezes tem muito mais de sétima do que de arte. Há dois tipos de cinema, o preto e branco e o tecnicolor: o preto e branco quando filma um preto sai preto mesmo e quando filma um branco sai cinza. O tecnicolor, quando filma um preto sai vermelho e quando filma um branco sai amarelo. Atualmente, tem tanta gente trabalhando no cinema que foi preciso inventar o cinemascope: a tela é muito maior e assim cabe todo mundo. O artista que mais ganha dinheiro no cinema é o índio: cada vez que morre recebe 50 dólares — e tem índio que morre mais de vinte vezes, na mesma fita. Japonês também ganha muito dinheiro, faz dezenas de papéis e ninguém percebe, porque em filme japonês a gente só sabe quem é o bandido e quem é o mocinho no fim da fita: o bandido é o que morre na luta de espada e o mocinho na cena do harakiri. O cinema moderno evoluiu tanto que os ci- neastas descobriram várias fórmulas: no filme de caubói, por exemplo, o mocinho passa a metade da fita montado no cavalo fugindo dos bandidos e a outra metade montado no cavalo perseguindo os bandidos, o que não deixa de ser um processo econômico: é só inverter o rolo e passar de novo. No gênero policial, o crime toma feições inteiramente diferentes da vida real, tanto que fazem questão de frisar que "qualquer semelhança é mera coincidência" — mas a única coincidência é que nunca há semelhança. No cinema, o detetive sempre descobre quem é ô assassino no fim da fita, na vida real quem descobre é o acaso. Detetive de cinema tem particularidades especiais: no cinema inglês, o detetive bate na porta antes de entrar, no cinema americano o detetive entra e depois bate na porta, no cinema francês o detetive não bate na porta — bate na mulher. Há muitos tipos de filmes: o filme pra ganhar prêmio em festival, o filme pra ser proibido pela censura, o filme pra fazer rir (e que faz chorar), o filme pra fazer chorar (e que faz rir), o filme pra ser discutido pelos intelectuais e o filme pra agradar: o mais fácil de fazer é o filme pra agradar —basta não saber fazer o filme que ele agrada. A DEMOCRACIA Democracia é essa forma de governo onde todos concordam em discordar um do outro, mas não convém discordar muito, senão acaba a democracia. Há duas espécies de democracia: a primeira e a segunda. A primeira ninguém pode explicar porque a segunda não deixa e a segunda também ninguém pode explicar porque a primeira não deixa. Enfim, chegamos à conclusão que numa democracia o mais forte diz o que quer, mas deixa o mais fraco reclamar — desde que não reclame no rádio, nem na televisão, nem nos jornais, nem nas paredes, nem nos comícios: quem quiser reclamar que reclame em casa, com a mulher — desde que ela não seja uma democr. ta da oposição. E quando não se consegue falar na democracia, melhor passar os dias falando sobre o tempo, se vai chover ou fazer sol. Não sei se perceberam a sutileza, mas essa questão de democracia é apenas uma questão de tempo. Donde se conclui que num regime democrático o que atrapalha o povo é o governo que ele escolhe. RECREIO Sempre acerto na mosca CO-PRODUÇÃO Jacaré americano contracenando com jacaré brasileiro QUE É ISSO? Dois desenhistas com o mesmo traço QUE É ISSO? Ovo de calombo TESTE Responda rápido: onde está o lampião? No poste, na árvore ou no livro? Se você respondeu "nos três", demonstrou ser inteligente e pouco observador — porque a resposta certa é "em cima dos 3". Seta de Setembro 37 O TRÂNSITO Vamos deixar de modéstia, o trânsito é igual em qualquer parte do mundo, pra cada pedestre existem seis automóveis: a confusão é que os seis automóveis tentam pegar o mesmo pedestre, ao mesmo tempo. O trânsito se divide em duas partes: o que vai-pra-lá-e-vem-pra-cá e o que vem-pra-cá-e- vai-pra-lá. Pra não haver tumulto nem congestionamento, bolaram as ruas de mão única e foi aí que deram azar: tem muita gente que mora no sentido inverso da mão.Pra solucionar isso, inventaram o guarda e o apito: o guarda ninguém vê e o apito ninguém ouve — daí serem obrigados a inventar a multa. Pra evitar a multa, inventaram o sinal luminoso: verde, vermelho e amarelo. O verde é pra avançar tranqüilo, o vermelho é pra avançar intranqüilo e o amarelo é pra ficar na dúvida se avança ou não avança. Resultado: quando o motorista freia pra respeitar a luzinha da frente vem outro carro e desrespeita a luzinha de trás. Diante disso, decidiu-se que a desorganização do trânsito devia ser organizada, daí inventarem o chamado diretor de trânsito, que planeja qual a melhor maneira de congestionar as ruas, quais os melhores pontos de engarrafamento e qual a melhor televisão pra ele explicar por que o seu planejamento não tem dado certo. O que não se pode negar é que, apesar do diretor de trânsito, muita gente consegue chegar em casa. Pra evitar chateação com o diretor de trânsito, inventaram a carteira de motorista, que dá direito a cada portador dizer que a culpa é do outro e como todo mundo tem carteira, ninguém tem culpa. Para a carteira de motorista funcionar, inventaram o esquecimento: se o motorista não esquecesse a carteira em casa, iam descobrir que ele não faz exame de vista há mais de vinte anos. Pra evitar o exame de vista, inventaram 0 p0Ste — e quem pára uma vez no poste, nunca mais faz exame de vista. E foi assim que acabaram inventando a perícia: contra essa, ainda não se inventou nada, porque todos que a chamaram estão esperando até hoje. O CRIME O crime foi inventado por um indivíduo chamado Caim, que matou seu irmão Abel, mas como naquela época não havia polícia técnica, não se sabe até hoje como foi executado o crime: não havia imprensa pra romancear a verdade, nem júri pra ser influenciado pela imprensa. Com o correr dos anos, o crime foi se desenvolvendo: o homem passou a matar a mulher, a mulher o marido, o marido o genro, o genro a sogra, a sogra o vizinho — até que inventaram a polícia, que passou a matar o tempo. Foi então que se lembraram de inventar a justiça, pra julgar os criminosos e condená-los, mas lhe colocaram uma venda nos olhos — e daí pro erro judiciário foi um passo. Existem várias maneiras de se punir um criminoso, mas todas elas estão desaparecendo: o homem que inventou a guilhotina foi condenado à forca, o que inventou a forca foi condenado à cadeira elétrica, o que inventou a cadeira elétrica foi condenado à câmara de gás, o que inventou a câmara de gás foi condenado à prisão perpétua — e já que ele tinha de ficar na prisão o resto da vida acabou inventando a "comutação da pena", e caiu fora: foi assim que nasceu o primeiro anistiado, hoje conhecido como desajustado social. O maior de todos os inventos criminológicos foi a "liberdade condicional": soltam o criminoso com a condição de ele continuar preso em sua própria casa. Há vários tipos de crime: o crime passional, o crime premeditado, o crime ocasional e o crime perfeito. O crime perfeito é sempre aquele que a polícia não consegue descobrir e até hoje não se conseguiu provar se o crime é mesmo perfeito ou se a polícia é que é imperfeita. Num julgamento, o réu fica horas assistindo à discussão de dois advogados, sendo que um deles lhe faz uma série de acusações que ele nunca praticou enquanto o outro lhe atribui uma série de qualidades que ele nunca mereceu. O juiz está ali pra decidir qual dos dois advogados é o mais habilidoso. Geralmente, o crime é orientado pela imprensa, que forma a opinião pública: quando os jurados vão dar o seu veredicto já trazem de casa a opinião pública, publicada. E essa história de se dizer que o criminoso sempre volta ao local do crime é pura conversa: quem volta ao local do crime uma porção de vezes é a polícia, pra colher impressões digitais. A polícia vive insistindo que o crime não compensa, mas nenhum policial quer sair da polícia. O CASAMENTO O casamento foi inventado há milhares de anos, pra evitar que o homem tivesse mais de uma mulher, o que felizmente ainda não se conseguiu até hoje. Há dois tipos de casamento: o civil e o religioso. O civil é o que ninguém vê, o religioso é onde todo mundo se viu. O casamento é uma verdadeira peça de teatro, o enredo é sempre o mesmo, só mudam os personagens: mas os intérpretes são tão ruins que raros são os que conseguem chegar ao terceiro ato. Algumas peças ficam em cartaz durante meses, outras durante anos: a "boda de prata" é a data que escolheram pra comemorar o "sucesso de bilheteria". No casamento, uma coisa é infalível: onde come um, comem dois — só que a metade. O casamento só dá certo quando não dá certo: é a única maneira de o homem ficar livre de novo. A aliança é um símbolo da união e na sociedade moderna a união faz a farsa. O casamento é um compromisso cercado de leis por todos os lados, as leis foram inventadas pra quando o homem burla a mulher. Alguns homens são tão espertos que conseguem burlar a mulher e burlar a lei — e acabam se burlando a si próprios, pois casam de novo. Por isso, é recomendável que tanto o noivo como a noiva leiam a burla antes de usar. A CENSURA A censura é xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Por isso, em todas as partes do mundo, ela é exercida com o maior critério, pois todos os xxxxxxxxx fazem questão de xxxxxxxxxxxxxx. Existem duas espécies de censura: a censura xxxxxxx e a censura xxxxxxxx xxxxxxxxx. Num regime democrático, a censura é completamente xxxxxxxxx. A liberdade de pensamento não pode e não deve ser xxxxxxxx xxxxxxxx em razão direta da formação das xxxxxxx xxxxxx xxxxxx. No entanto, parece que os xxxxxxxxx xxxxx, razão pela qual xxxxxxxxx xxxxxxx, mesmo porque xxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxx, a não ser em casos muito especiais, como por exemplo: xxxxxxxxx, xxxxxxxx e xxxxxxxxx. Para exercer a censura é preciso, antes de tudo, ser muito xxxxxxxxx, porque do contrário xxxxxxxxxxxxxx. Nos países civilizados, onde a censura é exercida por xxxxxx xxxx, não se pode duvidar que xxxxxxxx xxxx, sendo os resultados muito xxxxxxxxxxxxx. Sem dúvida alguma a censura é responsável pelos xxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx de um país. Ainda assim, existe uma forma bastante hábil para xxxx xxxxxxxxx, pois para bom entend xxxx meia palavra basta. A ESTATÍSTICA Estatística é justamente essa habilidade que os homens têm de transformar fatos em números, de tal maneira que nunca podem provar que esses números são um fato. Na última estatística feita pelos americanos, que, segundo a estatística, é o povo que faz mais estatística, o maior índice de mortes é causado pela velhice. À primeira vista, parece que nos Estados Unidos só tem velho, mas não: quando o sujeito chega a certa idade, vira número e entra pra estatística. Mas nem sempre a estatística facilita as coisas: quantas crianças engolem bola de gude por dia? É evidente que o número de crianças é bem maior que o número de bolas de gude, no entanto a estatística não soluciona o problema: continua-se fabricando muito mais crianças do que bolas de gude. Quantos buracos existem nas calçadas? É muito duvidoso um resultado positivo, porque 87,3 por cento dos pesquisadores que saem pra fazer a estatística caem dentro dos buracos. Ainda assim, a estatística consegue milagres: de cada dez mulheres que passam na rua, nove ouvem piadinhas e uma é surda. De cada dez veículos que vão pra cidade, nove atropelam na ida e um atropela na volta. De cada dez mulheres casadas, uma é solteira. De cada dez homens solteiros, nove são casados. De cada dez telefonemas que o marido recebe, nove são pra sua mulher e um é engano .— justamente quando é ela quem atende. De cada dez estrelas do cinema, nove usam o sabonete das estrelas ea outra não é estrela, é protegida. De cada 10 quilos de carne de boi, 1 quilo é de carne de cavalo. De cada 10 litros de leite de vaca, 9 são de água e 1 é de leite em pó. De cada dez motoristas, nove saem pra se distrair e um se distrai. Mas nem sempre a estatística é eficaz: quantas pessoas no mundo inteiro vivem da profissão de fazer estatística? Não se sabe. Toda vez que vão fazer um levantamento, nunca tem ninguém em casa — porque saíram todos pra fazer estatística. A VALENTIA O homem valente nunca anda armado, mas em compensação vive muito menos. A verdadeira coragem é ter coragem de dizer que não tem coragem. O homem só deve ser valente dentro de casa, até a mulher chegar. Num duelo a faca, leva mais vantagem o que está de revólver. No avião, a coragem é passageira. Todo covarde tem seu dia de valentia, geralmente é o último. De cada dez valentes nove estão enterrados: o décimo se acovardou. Valente é o índio: já entra no filme sabendo que vai morrer. O noivo também é valente: casa com uma mulher, sabendo que vai enfrentar duas. Já o trapezista não é tão valente quanto parece: valente, no duro, é o espectador que senta embaixo do trapézio. MINHA AMIGA, A TV O pior espectador é aquele que quer ver Minha televisão vai fazer nove anos. Tenho vontade de comprar uma nova pra ver se ela passa programas mais novos. No princípio só pegava um canal, agora pega um monte, cada um querendo imitar o outro. Antigamente, eu sabia qual era o canal pela cara do artista, mas agora é difícil, porque os artistas mudam tanto de canal que a gente nunca sabe qual está vendo. Dizem que a televisão se orienta por um Departamento de Pesquisas que divide o público em classes a, b, c e d —não sei de que classe sou, porque nunca fui pesquisado. Só sei que me sinto um nobre, de sangue azul, porque assisto televisão no "horário nobre", que eles convencionaram ser das 8 às 10. Acho até que sou supernobre, às vezes vejo televisão até à meia-noite. À tarde nunca assisto, só dá criança-prodígio fazendo caretas e dando adeusinho pra mamãe; acho irritante criança com rótulo de talento. Mas o pior são as crianças-prodígio que entram na faixa das 6 horas da tarde: todas elas com mais de trinta anos. Sei que a televisão está evoluindo, porque inventaram um aparelho que liga e desliga de longe, só não inventaram um pra desligar a do vizinho. A coisa mais fascinante na televisão são as mensagens do patrocinador: eles apresentam um frasco de desodorante e convencem que se a gente usar aquele produto acaba arranjando uma namorada — só não ensinam como é que a gente vai explicar isso à nossa mulher. Dizem que a televisão dá economia, a gente fica em casa e não precisa gastar dinheiro em cinema, em teatro, em buate — mas isso é pra quem não tem filho que obriga o pai a comprar tudo o que aparece na televisão. Outra coisa curiosa são os programas que eles dizem populares, pra vender coisas baratinhas, mas ninguém sabe o que eles querem vender, porque dão prêmio de automóvel e a gente só se lembra do automóvel. Inventaram também esses programas de auditório, ao invés de esticarem o palco, esticam o auditório, pra caber mais gente; se a intenção deles é levar todo mundo pro auditório por que anunciam tanta televisão na televisão? A estatística diz que a televisão une a família, acho que une até os vizinhos. Mas ai de quem abrir a boca pra interromper a novela, logo depois da novela vem a fita de mocinho, logo depois da fita de mocinho vem o jornal com notícias fresquinhas, logo depois vem a entrevista, logo depois vem o filme onde o astro é um cachorro, ou um cavalo, ou um gato, isso depende do animal que estiver na moda, logo depois vem o show com muita mesma mulher, com muita mesma música e com muita mesma piada, isso quando não entra em cadeia um especialista político pra dar sua mesma mensagem sob o alto patrocínio do governo federal, provando com dezenas de gráficos que o custo de vida está baixando — só que a impressão que dá é que eles usam os gráficos de cabeça para baixo, depois vem um programa esportivo, depois vem a mulher da gente dar a "bronca" porque a gente está dormindo no sofá há mais de duas horas e deixou a televisão ligada. Ter uma televisão é um inferno — já vi que preciso ter duas. O segredo da propaganda é a propaganda do segredo Depois de tantos anos vendo televisão diariamente, chego a uma conclusão definitiva: é muito mais divertido e mais prático ver os anúncios. Enquanto as outras pessoas ficam aflitas tentando decorar os horários das novelas, das paradas de sucesso e dos chamados programas humorísticos, eu não tenho problema: ligo a televisão em qualquer canal e vejo os anúncios sem preocupação de horário. Vocês talvez achem que é loucura ver os mesmos anúncios diversas vezes, mas posso garantir que os anúncios variam muito mais que as piadas e as músicas que são servidas todos os dias. Pelo menos os anúncios são bem bolados, alguns até inteligentes. A técnica é chatear tanto até ficarem em nosso subconsciente — se é que alguém consegue ter subconsciente assistindo televisão. Os refrigerantes, por exemplo: quase todos fazem as garrafas dançar na nossa frente e tocam uma musiquinha que chega a dar sede. Aí a gente não resiste: vai à geladeira e bebe um copo de água. Mas bom mesmo é anúncio de sabonete: aparece cada moça bonita que vou te contar. E com uma grande vantagem, as moças não falam, só aparecem, ligam o chuveiro e ficam nuinhas dentro da espuma. Por mais que a gente saiba que aquilo é anúncio de sabonete, fica sempre aquela dúvida se um dia eles não vão resolver dar o nome daquele chuveiro ou, quem sabe, o telefone da moça. Geniais mesmo são as geladeiras que duram toda a vida. Mas muito mais geniais são os textos garantindo que cabe tudinho dentro delas, mas acho que não têm tanta certeza, pois fazem questão de botar uma moça bem bonita pra mostrar a geladeira — e a gente tem é vontade de comprar a moça, mesmo sem o "certificado de garantia". E as televisões, baratíssimas, cada vez mais vendidas, dentro dos novos planos de venda. Ao invés de bolarem uma televisão mais perfeita, ficam é bolando planos de venda. No dia em que inventarem uma televisão que focalize a cara de um sujeito com menos de três orelhas, não precisam nem fazer anúncio: é só exibir, que esgota no mesmo dia. Existe anúncio de todo tipo: tecidos que não amarrotam, tecidos que dão prêmios, tecidos que dão desconto, tecidos coloridos que são apresentados em preto e branco, tecidos brancos que ficam cada vez mais brancos à medida que vai surgindo um novo sabão em pó. Mas é o que eles pensam: o branco deles, lá em casa, todo mundo tá vendo que é cinza. O mais engraçado são os anúncios de inseticidas que matam todos os insetos, menos as moscas do estúdio. Anuncia-se também muita banha, muito pneu, muito perfume, muito sapato, muito automóvel, muita calça, muita bebida e muita pílula pra dor de cabeça. Parece até que um anúncio depende do outro — é como se fosse uma novela, com a vantagem de a gente sempre saber qual o final de cada anúncio. E não pensem que sou o único a achar os anúncios mais interessantes que os programas: os donos das emissoras também acham — senão não ocupavam a maior parte do tempo com anúncios. Nos intervalos é que colocam alguns programinhas — por absoluta falta de mais anúncios. Reparem só: os programas de humor mostram o lado negativo das pessoas, os personagens são quase todos fossilizados, gagos, surdos, cegos, velhos borocochôs ou sem sexo definido. As novelas exploram seres anormais dentro de um mundo de misérias e lágrimas. Já os anúncios apresentam um mundo de otimismo, onde tudo é bome saudável, não quebra, dura toda a vida e qualquer um pode adquirir quase de graça, pagando como puder, no endereço mais próximo da sua casa. O único detalhe que nos deixa um pouco frustrados é que a moça que dá os endereços fala tão preocupada em não errar que a gente não consegue decorar nenhum endereço. Em compensação, sabe de cor a moça todinha. - O bom locutor é o que não usa a cabeça Alguns locutores, quando lêem as notícias, mexem tanto com a cabeça que não consigo dar tanta atenção às notícias quanto às suas cabeças. Fazem questão de fingir que não estão lendo, por isso nunca mostram o papel que está em cima da mesa, mas falam sempre de cabeça baixa, dando a impressão de que não estão acreditando muito naquilo que estão dizendo. Só de vez em quando olham rapidamente para a câmara, pra dar a entender que estão se dirigindo a um público; o certo seria fazer o contrário, olhar para o público o tempo todo e só de vez em quando olhar para o papel. Mas já que não conseguem decorar o texto, acho que a única solução seria fazer uma mesa com tampo de vidro e colocar a câmara debaixo da mesa. Já os locutores esportivos não mexem com a cabeça, mexem com as mãos. E têm um vocabulário todo especial, dizem que o "couro" foi para o "fundo do barbante" — e a gente fica sabendo que couro é a bola e que barbante tem fundo. Dizem que o jogador "amaciou a bola no peito" — e a gente tenta em casa amaciar a bola no peito e ela fica ainda mais dura. Dizem que o craque caiu no "tapete verde do gramado" — e a empregada da gente fica com água na boca, só de pensar que debaixo daquele tapetão cabe tanto lixo. Dizem que o jogador "naufragou na etapa complementar" — e nisso são descarados, pois os jogadores naufragam mesmo em dia de sol. Dizem uma infinidade de coisas, tais como "dois tentos a um", "defender as nossas cores", "passou pelo arco", "esfregou a pelota", "calçou o adversário", "caiu contundido", etc. A televisão já tem boa técnica, o futebol já tem bons jogadores e o Brasil demonstra ser bastante esportivo, pra aceitar esse tipo de locutor. A maior invenção da TV: o intervalo Certos programas são tão desinteressantes que entram por um olho e saem pelo outro. Alguns artistas cobram uma fortuna pra se apresentar num programa, enquanto alguns patrocinadores pagam uma fortuna pra aparecer. A vantagem dos programas humorísticos é que eles contratam uma claque e as piadas já chegam ridas em casa. Pior é pianista dando concerto: ao invés de olhar pra partitura ou para as teclas, toca de lado, olhando pra câmara que focaliza um orelhão que não tem mais tamanho, por isso a gente percebe claramente que na televisão todo pianista toca de ouvido. Acho contraproducentes os comerciais de companhias de aviação: os aviões passam de um lado para o outro, mas nunca voltam. O melhor aparelho portátil é o tamanho gigante Eu tinha uma televisão portátil. Tão portátil que não resistia à tentação de mudá-la de um lugar para outro, mesmo quando estava desligada. Gostava muito dessa televisão, não sei se porque era decorativa ou se porque as caras que apareciam nela eram tão pequenas que me davam uma sensação de ser um homem muito maior do que todos os que ela focalizava. Pode parecer bobagem, mas é uma sensação agradável a gente pensar que é maior do que os outros — e deve ser por isso que as televisões portáteis vendem tanto. Mas de uma coisa ninguém escapa: a televisão portátil passa o dia inteirinho anunciando a televisão tamanho gigante e, não é nada, não é nada, isso vai dando um complexo de inferioridade na gente que tem televisão pequena. A cara dos outros pode ser menor, mas a gente sabe que a nossa televisão é menor que a dos outros — e isso é chato. Tanto falam, tanto apregoam, tanto anunciam, que um dia a gente vai na onda e acaba com- prando uma televisão bem grande, com imagem filtrada, tridimensional, e todos os requisitos da propaganda moderna. Eu fui nessa. Quando a televisão chegou, veio cercada de quatro carregadores, não sei se por precaução de ela cair e quebrar ou se pra dar a impressão de que o aparelho era maior do que realmente é. Sei que quando entrou na sala, a sala começou a ficar pequena: foi preciso afastar um sofá, retirar duas poltronas e mudar a posição de alguns quadros — isso pra não seguir a sugestão de um dos carregadores que achava conveniente derrubar uma parede. Só que ele não sabia que atrás dessa parede morava o meu vizinho e, ainda que o vizinho concordasse, tá na cara que ele ia querer ver televisão de graça o dia inteiro. Optei pela retirada das poltronas, se bem que essa medida dificultasse um pouco o meu conforto pra assistir televisão, sentado no chão, mas afinal valia a pena: eu poderia ver perfeitamente da outra sala. Era uma vantagem que a TV portátil não me dava, nem era preciso transportá-la de um cômodo para outro, era só me afastar e ver de qualquer lugar. Está aí um novo ângulo que os vendedores de televisão grande ainda não bolaram: anunciar na base inversa da TV portátil: "Fixa, imóvel, não precisa ser transportada, você escolhe o lugar e ela fica ali para o resto da vida. Mais confortável, mais prática, não dá trabalho, não cansa: completamente irremovível". Mas com todo o seu tamanho, com toda a sua imponência, a TV grande precisa de uma antena externa. Vem o especialista, sobe no telhado, jorra metros e metros de fio, rasteja pelas paredes, coloca chaves de separação de canais, regula daqui, mexe dali, e a TV começa a tomar conta da casa. Na hora dos doses, vou te contar: é cada cabeção que não tem mais tamanho. A gente tem de se curvar, ficar cabisbaixo, prestar atenção, mesmo que não queira. São pessoas nítidas, com cores firmes, sem risquinhos atravessando os olhos: é o casamento perfeito da imagem com o som, mas em tamanho sobrenatural. É aí que a gente vê o ridículo das coisas: cada cabeça enorme dizendo tanta besteira. Agora, que tem as suas vantagens, tem. As mulheres dos shows, mesmo as que aparecem em conjunto, lá atrás, a gente vê todas, uma por uma. A cantora, quando abre a boca, a gente pode até contar os dentes. Se vê tudo: as rugas, os cílios postiços, a costura das operações plásticas e até os decotes. Só é chato uma coisa: nunca vi anunciar tanta televisão portátil como nessa minha televisão grande. Parece até que adivinham o tamanho da televisão que a gente tem — senão não anunciavam tanta televisão na televisão. Vão desnortear assim no raio que os parta: só anunciam a televisão que a gente não tem. enquanto isso COMERC IAIS MULHER MULHER Um produto que vem sendo fabricado há milhares e milhares de anos. Modelo único: não enguiça não enferruja não encolhe MULHER Pode ser usada em casa, na rua ou no escritório. É de fácil transporte, podendo lhe proporcionar um excelente fim de semana. MULHER É de manejo simples: funciona com apenas um toque. 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Isso lhe garante uma bonificação de duas horas por dia, ou seja, sessenta horas por mês, ou seja trinta dias no ano. Você terá suas férias anuais sem perceber. SWISVO Tem outras vantagens: campainha silenciosa, o que lhe garante um sono tranqüilo, até à hora de você acordar. SWISVO Não interrompe o seu sono. Nem com a campainha nem com o tique- taque incômodo dos outros relógios. Porque Swisvo não tem maquinismo. SWISVO É apresentado em três tamanhos: ■ tamanho pequeno, para os apressados, ■ tamanho médio, para as pessoas normais, ■ tamanho gigante, para os preguiçosos — porque o ponteiro demora muito mais pra dar a volta. SWISVO Não lhe custa dinheiro, somente tempo: porque o tempo que você leva pra se convencer é mais caro do que o dinheiro que você gasta pra comprar. Consulte hoje mesmo o "plano Swisvo": 128 horas de entrada e 45 minutos mensais. SWISVO O único relógio do mundo que tem "corda permanente", porque vem amarrado numa corda. E a corda de Swisvo tem duas vantagens: poupa o tempo de dar corda no relógio e poupa dinheiro: quando você estiver duro, aproveita a corda e pendura o despertador. SWISVO O único relógio do mundo que vai equipado pra ficar no prego. CAIXÃO RATAPLAN A última palavra em caixão para defunto. Note bem: a última palavra é a sua, não a do caixão. RATAPLAN Resolve o problema do seu futuro, porque o seu futuro é um só. RATAPLAN Não deixe para os seus parentes um problema que é exclusivamente seu: morra de uma vez e pague um pouquinho por mês. RATAPLAN Escolha hoje mesmo o seu caixão: um corpo de entrada e suaves prestações mensais durante o resto da vida. Sim, porque você só pára de pagar quando dá a entrada. . . no caixão. RATAPLAN apresentado em dois modelos: modelo simples, para as mortes súbitas, modelo de luxo, um belíssimo presente para as pessoas doentes. RATAPLAN É o único caixão que lhe oferece uma vantagem que nenhum outro caixão oferece: vem equipado com o "olho mágico", que lhe permite ver quais as pessoas que irão ao seu enterro. Dê ao seu corpo o conforto que ele não teve em vida. Adquira hoje mesmo o seu. RATAPLAN Um caixão otimista. Tão otimista que é todo pintado de cores vivas. RATAPLAN É a sua oportunidade: nunca houve um caso de devolução. Diga comigo: Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . . MÁQUINA DE ESCREVER SWEET-CAR A máquina de escrever construída para os seus dedos. SWEET-CAR Escreve em espaço duplo, quádruplo, oitábulo, dezessêisbulo — o que lhe permite fazer o rascunho entre uma linha e outra. SWEET-CAR É apresentada em vários modelos: SWEET-CAR ECONOMIC — feita especialmente para financistas. Não tem mais o cifrão superado: já bate tudo convertido em dólar. SWEET-CAR TELEVISION — ideal para humoristas de televisão. Cria as mesmas piadas de sete em sete dias. SWEET-CAR SOCIETY — própria para colunistas sociais. Tem quatro ss, sendo que três deles com cedilha. SWEET-CAR CINEMATIC — ótima pra fazer legendas de filmes americanos. Você pensa em inglês e ela escreve em português. SWEET-CAR Apresenta outras vantagens: Ph numa tecla só, para as pessoas antiquadas. 383 batidas por minuto. Jogue fora o seu relógio, você pode saber as horas pelo número de batidas. SWEET-CAR Tira as suas dúvidas quando você não sabe se as palavras se escrevem com z ou com s — porque Sweet-Car não tem z. Venha hoje mesmo ao nosso escritório e bata as suas promissórias na própria máquina. SWEET-CAR A máquina do presente que fará o seu futuro. Soletre comigo: a — s — d — f — g: Sweet-Car! VERDADES INADIÁVEIS O cigarro não provoca o câncer. O câncer, sim, é que vive provocando o cigarro. O chato da bebida não é o mal que ela nos pode trazer, são ^_ os bêbados que ela nos traz. Segurança de vôo é essa garantia que nos dão os que ficam aqui embaixo, enquanto estamos lá em cima. O jogo não é propriamente um vício: é o hábito que a gente adquire de perder. Não são os cavalheiros que estão acabando, é o h que já não se usa mais. O pior cego não é aquele que não quer ver: é aquele que não quer ser visto. A coisa mais chata num jantar de cerimônia é a falta de cerimônia com que as pessoas se portam. Depois que o homem sai da prisão, perde completamente a liberdade. O maior vexame que um limpador de vidraça pode passar é cair da janela pra dentro. Pior do que a criança do vizinho só a nossa — segundo o nosso vizinho. Um homem prevenido vale por dois, dois homens prevenidos não sobra nenhum. Síndico é o único sujeito que consegue ser proprietário daquilo que não é seu e manda mais que os próprios donos. Saca-rolha é esse instrumento que foi inventado pra empurrar a rolha pra dentro da garrafa. A alegria do geômetra é ver o círculo pegar fogo. Tem sujeitos que só usam a vírgula pra dar um nó na frase anterior. Sinal dos tempos no trânsito é isso: os tempos mudam e os sinais continuam. Existem maridos que são meio surdos: sempre que suas mulheres lhes pedem 50 eles só ouvem 25. O que mais pesa em cima de um travesseiro é a consciência. O automóvel é uma extensão do homem: quando um enguiça o outro também enguiça. Garantia é um certificado que as firmas dão pra gente se chatear até acabar a garantia. Quando o cosmonauta chega ao céu, aí começa o inferno. A estatística comprova que 99 por cento das donas-de-casa não têm casa. Só uma coisa o homem faz questão de acompanhar durante toda a sua vida com verdadeiro carinho: a queda dos cabelos. O aspirador é a prova de que o pó que respiramos está cada vez mais caro. Liberdade de imprensa é fácil. Difícil é ser jornalista livre. O chato da inflação é que a gente recorre a todos os meios pra empregar o dinheiro que não tem. A vantagem da inflação é que em pouco tempo a gente pode trocar um litro de gasolina por um carro novo. As pessoas passam anos tentando arranjar um telefone e quando arranjam deixam fora do gancho pra não serem incomodadas. O que aumenta a dor de cabeça é a dúvida que a gente tem em escolher o comprimido que vai tomar. Sogra é esse parente afastado que se torna cada vez mais próximo. Como evoluiu a odontologia: cada dia se inventa um aparelho diferente pra provocar uma dor diferente. Os postes também deviam fazer exame de vista. Só existe uma fórmula pra se dar bem no casamento: é se dar bem com o marido da sua mulher. Isto, sim, é um triângulo diferente: ele, ela e o pior amigo. Louco é todo sujeito que cisma que é Napoleão, desde os tempos de Napoleão. Pai moderno é uma ilha de afeto cercada de contas por todos os lados. O que o bêbado precisa pra parar de beber não é que lhe cortem a bebida, é que lhe cortem o crédito. Nada melhor pra se conhecer menos uma pessoa do que pedir informações a seu respeito. A maior ambição do milionário é ter uma amante, mas quando arranja uma, deixa de ser milionário. Grande negócio é o cinema: exibe um filme de trinta anos atrás, num cinema de cinqüenta anos atrás — com os preços de hoje. O crime perfeito leva tanto tempo pra ser planejado que às vezes o criminoso morre antes da vítima. Nos apartamentos de hoje a gente tem de ligar a televisão bem alto pra não ouvir a do vizinho. Grã-finos que se separam continuam se encontrando nas colunas sociais: ele na linha de cima e ela na de baixo. São inúteis as belíssimas vitrinas das casas de óptica: quem precisa de óculos não enxerga nada. Da discussão não nasce a luz, nasce a conta da luz. A grande luta dos anunciantes de sabão em pó é querer tornar o seu branco mais branco que o do outro. O homem não dorme por dois motivos: pelo que tem de fazer amanhã e pelo que fez ontem. Faquir é esse sujeito que fica deitado sobre pregos pra ganhar o seu pão de cada cem dias. Pediatra é um sujeito de profissão difícil: tem de agradar as mães sem prejudicar a saúde das crianças. O simmais caro do mundo o homem deposita na igreja e a , mulher fica sacando o resto da vida. Agora que já existe o parto sem dor só falta inventarem a yg conta com anestesia. Olheiro é esse sujeito que ganha pra vigiar os carros, mas só fica de olho nos motoristas. Uma mulher é uma mulher, uma mulher, uma mulher. Às vezes, uma rosa. Marido é um homem que passa a metade da vida procurando uma mulher e a outra metade tentando livrar-se dela. É mais cômodo ter três mulheres fora de casa do que uma dentro. Certos vestidos são um estouro: a mulher aperta o botão nas costas e eles estouram na frente. " O HOMEM EM ESTADO DE COMO COMO SE MONTA UM ESCRITÓRIO Todo homem deve ter um escritório, pelo menos pra quando sair de casa dizer à mulher que foi ao escritório. E quando chegar no escritório, dizer pra telefonista que não está pra ninguém. Um bom escritório tem de ser funcional, isto é, tem de ter tudo para o homem não funcionar enquanto o escritório está funcionando. Por exemplo, a primeira coisa importante é ter uma janela bem ampla por onde deve passar a luz e botar uma cortina bem grossa, pra não deixar passar a luz. Como se vê, a janela é importante, a cortina, funcional. Quer dizer, desde que a cortina funcione. A segunda coisa é ter uma boa iluminação artificial, isso pode ser feito com um pouco de bom gosto e um pouco mais de dinheiro. Se você não tiver bom gosto, tenha pelo menos o dinheiro — que o mau gosto também custa uma nota. É imprescindível que tenha uma mesa bem grande, o suficiente pra se deixar em cima dela um monte de papéis que deviam estar nas gavetas. E já que você sabe que não vai guardar os papéis nas gavetas, a mesa deve ter no mínimo quatro, pra guardar tudo aquilo que não lhe interessa que os outros vejam, como presentes de festas, talões de cheque, conta de luz atrasada, tesoura de unhas e um par de meias — que dão bem o toque de relaxamento dos grandes homens de negócio. O escritório funcional deve ter um fichário, mas o fichário, pra ser funcional, deve ser sempre revisto — pode acontecer de entrar uma barata na letra G quando o certo seria letra B. O ar condicionado é outra peça indispensável para o calor do escritório, digo, para o escritório no calor. Mas isso não quer dizer que no inverno você tenha de removê-lo e aturar durante vários meses aquele buraco imenso na parede: é só deixá-lo desligado. Mas para isso, é preciso que o aparelho seja funcional — e nada mais funcional num escritório do que um aparelho de ar condicionado que não funcione, desde que não seja coberto pela cortina. Uma eletrola bem escondida, com alto-falantes mais escondidos ainda, dão um certo ar de mistério — mas nunca esquecer de ligar a eletrola antes de mandar alguém entrar. Detalhe: um isqueiro de mesa, metido a besta, sem fluido, pode entreter durante algumas horas as pessoas que estão esperando. Uma porta bem disfarçada pode servir de curiosidade a muitas pessoas que não conseguem disfarçar a sua curiosidade em certas ocasiões, então você diz: é aí mesmo. Livros também são muito importantes num escritório, pelo menos fazem o dono do escritório ficar importante, mesmo que ele não os tenha lido — porque livro de escritório só quem lê são as visitas, quando examinam a estante. Por falar em estante, as prateleiras devem ter profundidade suficiente para que caibam os livros na frente e as garrafas de uísque atrás. A não ser que você seja desses homens muito exigentes que primeiro constróem o bar e depois é que fazem o escritório em volta. Nesse caso, a maneira mais fun- cional é fazer um barzinho embutido, com a porta imitando um cofre: em caso de roubo, os ladrões tomam um pileque de arromba. Uma televisãozinha portátil não faz mal a ninguém, é até decorativa. Porque não há nada mais decorativo num escritório do que um homem esparramado numa poltrona vendo televisão. Dá um ar de prosperidade, de bem-estar, que só as pessoas muito íntimas podem constatar — mas não há esse risco, porque pessoas muito íntimas não freqüentam escritório, a não ser as secretárias. Ah, ia me esquecendo: um escritório funcional deve ter também uma secretária funcional. Mas, cá entre nós, se você arranjar uma secretária funcional, me diga: pra que escritório? COMO SE RECEBE UM SEGURO Coisa engraçada é o seguro, já não digo o de vida, porque desse a gente não tira a menor vantagem, pois se chama de vida mas só pagam quando a gente morre. Me refiro ao seguro de automóvel, desses que a gente faz quando compra um carro, com receio de dar uma batida, e no fim do ano fica chateado porque pagou um dinheirão e não teve nenhum acidente. Mas o engraçado não é isso: é quando há o tal acidente. A falta de confiança no segurado, por parte dos seguradores, é tão grande que eles lutam por todos os meios pra saber "por que" pagam, "quanto" têm de pagar e "de que maneira" vão pagar um compromisso que assumiram com a gente quando a gente pensava que ia poupar trabalho fazendo um seguro. Outro dia, por exemplo, quando entrei no carro, verifiquei que faltava um farol: havia um buraco num dos pára-lamas. Não sei se roubaram, se algum caminhão deu marcha à ré e quebrou o vidro e depois tiraram tudo para não deixar vestígios, ou se caiu de maduro. Só sei que o farol faz parte do carro e se sumiu o seguro deve pagar. Me informaram que o seguro não paga roubo de peças: eu teria de dizer que roubaram o carro e que quando o carro foi encontrado estava com menos um farol. Como se vê, há macetes pra não pagar e há macetes pra fazer pagar — mas acho que há uma verdade acima de tudo isso: a gente paga pra não se chatear e não pra mentir. Mas o pior é que a chateação começa justamente na hora de receber: eles exigem uma vistoria com hora marcada, mas quem marca a hora e o local são eles. Perguntam um monte de coisas, conferem daqui, conferem dali, procuram uma certa lógica nas declarações, como se um acidente tivesse alguma lógica. Resultado: a gente faz seguro pra não se aborrecer mas acaba pagando qualquer conserto pra não se aborrecer com o seguro. Acho que deviam inventar um seguro contra o seguro. COMO SE PREPARA UMA DECORAÇÃO Os dois grandes problemas de uma decoração no apartamento são a mulher da gente e o decorador da mulher da gente. O decorador gosta de azul, a mulher gosta de vermelho e a gente gosta de verde. É difícil conciliar os três gostos na mesma decoração: ou a gente muda de decorador, ou troca de mulher ou substitui as três cores por uma neutra. Mas a nenhum de nós ocorre esse pequeno detalhe, durante os três meses em que se passa as noites em claro discutindo a cor. E o pior não é isso: quando se chega a uma conclusão intermediária sobre a cor, um cedendo um pouquinho no azul, outro cedendo um pouquinho no vermelho e a gente cedendo um pouquinho no verde, vem o problema do pintor. A vizinha da gente diz que conhece um pintor ótimo que pintou a casa de uma amiga, mas que ele mora no subúrbio e não tem telefone, assim que ela encontrar a vizinha vai falar com ela pra ver se ela encontra o pintor e dá o recado pra ele. A gente sai andando pela rua e encontra um pintor pendurado numa janela, ele larga tudo e vem combinar com a gente. Faz o preço, diz que precisa de dinheiro pra comprar a tinta e quando a gente percebe ele já levou a metade do orçamento com o que se convencionou chamar de sinal. Só à noitinha é que vem a surpresa: a mulher da gente já encomendou papel pintado, porque detesta cheiro de tinta. COMO SE CONSERTA UM ASPIRADOR Meu aspirador enguiçou: fez um ruído estranho, começou a cheirar a queimado, depois cismou de não puxar mais o pó. Toquei pra companhia: — Nós mandaremos um técnico, amanhã ou depois. Perguntei se não podiam dar certeza se "amanhã" ou "depois", disseram que não, que as camionetas saem dia-sim-dia-não. Perguntei qual o dia-sim, a mocinha titubeou, disse que fariao possível para o técnico vir amanhã. Esperei o amanhã inteirinho e ele só veio depois: fiquei sabendo que o dia- sim era o depois. O técnico chegou, examinou, mexeu, olhou, desmontou, montou, disse que precisava levar o aparelho para um exame mais detalhado, mas logo de cara foi avisando que precisava mudar o "induzido", o "rolamento", o "carvão", enfim, só não precisava mudar a carcaça, porque senão seria melhor comprar outro novo. Levou o aparelho, deixou uma nota comigo, pediu que ligasse dentro de dois dias, que era o tempo que se gastava pra se fazer o orçamento. Liguei dois dias depois, uma mocinha disse que o pessoal encarregado do orçamento estava meio adoentado e que o orçamento ficaria pronto amanhã, mas como amanhã era sábado, melhor seria ligar na segunda-feira. Fiquei sabendo que o pessoal adoentado da companhia só fica bom na segunda-feira. — Já está pronto o orçamento? — Quem está falando? Dei o número da nota, mas não adiantou, ela pediu todos os dados outra vez: nome, endereço, telefone, data da nota, nome do técnico e perguntou qual o defeito do aparelho e ela se sentiu muito feliz quando eu disse que o aparelho não funcionava. Pediu um minutinho e sua voz voltou em forma de cifras: — 257,98. — O queeeeeeeeeeeê? — Isso mesmo: 257,98. — Mas isso é quase o preço de um novo. — O senhor é que pensa: o novo agora está custando 980 e vai ter outro aumento mês que vem. A mocinha disse mais, que se eu não quisesse fazer o conserto, tinha de pagar 4000 cruzeiros pra ela devolver o aspirador. Acabei topando, afinal o que são 257,98 nos dias de hoje? Quase o preço de um filé, ou de um pneu antiderrapante ou mesmo de um par de sapatos — e nada disso tira o pó do tapete. — Quando é que fica pronto? — O senhor vai ligando pra cá, quando estiver pronto nós avisamos. Não fiz outra coisa, liguei a semana inteirinha e caí no mesmo problema: amanhã não temos camioneta, só depois. Fiquei em casa esperando o aspirador como quem espera uma noiva, com a diferença de que a noiva a gente leva pro cinema e o aspirador não fica bem, mesmo porque nunca se sabe se o filme é impróprio pra dezoito anos e o meu aspirador ainda vai fazer dez. Quando o homem chegou, ligou o aparelho na tomada e disse que agora sim, estava novinho, puxava o ar com uma força que vou te contar: se não tiro o meu cigarro de perto ele acaba dando uma tragada. Paguei a nota e pedi o recibo, o homem me deu um recibo provisório, disse que o verdadeiro vinha depois, pelo correio. Parece que eles gostam de complicar as coisas, além disso, o homem disse que o aparelho agora tinha garantia de seis meses, pelo conserto, mas não me deu nenhum documento que provasse isso — e fiquei sem garantia de que teria mesmo garantia. Foi só o homem sair, pra eu começar a rodar a casa puxando o pó: não durou cinco minutos e pifou. Daí pra frente, a história é a mesma: liguei pra tal mocinha, ela pediu o número da nota, o nome, o endereço, o telefone, o nome do técnico, depois disse que o aspirador já tinha sido entregue, respondi que se não tivesse sido entregue eu não poderia fazer nova reclamação, pois o aspirador tinha enguiçado outra vez. Ela parecia um disco: — Amanhã ou depois, mandaremos um técnico. — Não pode ser hoje? Acabei de pagar uma fortuna pra consertarem e deu o mesmo defeito. — Hoje não temos camioneta, só amanhã. É muita coincidência, mas deduzi que eles só não têm camioneta nos dias que a gente liga. Acabei me conformando com o velho provérbio que cada vez mais se torna atual: "do pó viemos, ao pó retornaremos". COMO SE FAZ A PREVISÃO DO TEMPO 1 — O serviço meteorológico tem muito mais de meteoro do que de lógico. Quando a previsão diz tempo bom, isso é mau. Quando diz mau, é muito pior — porque pode acertar. 2 — Vou explicar pra vocês como é que se faz a previsão do tempo: os funcionários se reúnem, jogando um níquel pra cima: se der cara, faz sol, se der coroa, chove; se o níquel cair de pé, tempo nublado. Só não acertam porque há muito tempo que o serviço meteorológico está sem níquel. 3 — Não existe previsão, o que existe é revisão do tempo: os jornais publicam os boletins e o próprio tempo faz a revisão. 4 — Mas não há dúvida que as coisas vão melhorar, quando começar a funcionar o cérebro eletrônico. Ele fará, diariamente, a previsão certa e infalível: "tempo instável, sujeito a chuvas, ou vice-versa". 5 — O serviço meteorológico americano é o mais adiantado do mundo: de três em três meses um furacão arrasta o prédio inteirinho de uma cidade para outra. COMO SE CONSERVA UM FUMANTE Deixar de fumar é fácil, quero ver é não deixar. Sou um fumante normal, tragando em média de trinta a quarenta cigarros por dia — se é que isso possa ser considerado normal. Em 25 anos, já consumi cerca de 365 000 cigarros e já tirei umas dez radiografias do pulmão, todas elas boas, mas isso não impede que um dia eu possa ter câncer no pulmão, ou no cotovelo, onde o fumo não penetra — só pra chatear os especialistas. Confesso que cada vez me impressiono mais com esses relatórios sobre câncer no pulmão, causado pelo fumo; acho realmente fantástico esse pessoal da estatística esvaziando pulmões de cadáveres à procura de nicotina. Toda a vez que leio um relatório médico nesse sentido, tenho vontade de parar de fumar, mas reajo rapidamente e começo a ler os anúncios de cigarros, todos otimistas, vendendo saúde em tecnicolor, com moças bonitas tirando fumaça até pelos olhos, me convencendo com muito mais facilidade que p mundo sem cigarro não tem o menor sentido. É aí que começo a meditar sobre esse intricado mundo da propaganda de cigarro, cada qual querendo convencer que o seu cigarro é o melhor. Ninguém troca de marca de cigarro porque uma moça de pernas lindamente bronzeadas diz que fuma o cigarro X ou Y, a gente fica na dúvida se eles querem vender mesmo o cigarro ou se querem insinuar a mulher. A "mensagem" é dirigida diretamente ao nosso subconsciente, porque, conscientemente, nossa vontade não é trocar de cigarro e sim trocar de mulher. De qualquer forma, a luta que se estabelece no nosso íntimo é violenta, principalmente quando o contrato de propaganda dos jornais está no fim e eles começam a publicar artigos contra o fumo, ensinando "como deixar de fumar". Já umas dez vezes tentei deixar, cheguei a fazer planos e arquitetar idéias mirabolantes, esquecendo propositadamente os maços nos locais mais distantes. Li inúmeros artigos antifumo escritos por cirurgiões, médicos- legistas, cancerologistas e todos eles ficam na área da suposição estatística, pois se eles garantem que um fumante vive menos dez anos que o não- fumante é porque tiram a média, mas, entre esses, garanto que tem muito velhinho de 120 anos que só não fuma na frente do pai porque o pai detesta cigarro: prefere o charuto. Os psiquiatras afirmam que não é o fumo que traz o vício, mas os gestos que se tornam mecânicos no hábito de fumar, como puxar o cigarro da carteira, bater uma das suas pontas, acender o isqueiro, levar o cigarro à boca, pousá-lo no cinzeiro etc. Isso quer dizer que é muito simples deixar o cigarro: o difícil é se desfazer dos gestos, e toda vez que penso nisso, abandono a idéia de deixar de fumar — pois se já é ridículo todo esse ritual com um cigarro na mão, muito pior seria sem ele. Baseado nisso, decidi criar sistemas que não permitam largar o cigarro, como por exemplo: decidir parar sempre no próximo aumento. É uma espécie de vingança que a gente vai arquitetando mentalmente — se a gente parar agora o prejuízo do fabricante será pequeno, se a gente parar quando o cigarro estiver muito mais caro é capaz até de levá-lo à falência. E, adiando de um aumento para outro, não se pára nunca, porque os aumentos também não param. Outro bom sistema pranão parar de fumar é trocar o hábito do cigarro por balas; a gente começa a chupar bala o dia inteiro e acaba ficando viciado em bala e pra deixar o vício das balas nada melhor do que trocá-las por cigarros. Eu bolando aqui, eles bolando lá, a guerra continua cada vez mais violenta: segundo pesquisa recente, 125 000 norte-americanos morrem anualmente do hábito de fumar, sendo "a maior ameaça à vida do homem em tempos de paz". Cento e quarenta e quatro milhões de dólares foram gastos em propaganda na América para apresentar o cigarro, principalmente aos jovens, como útil e indispensável. Os números dominam o mundo de tal forma que é fácil deduzir que o que mata o homem moderno não é o câncer, é a estatística. Não é por nada, mas, com todos esses dados e com todos esses argumentos, é preciso ter muita força de vontade pra não deixar de fumar. ANÚNCIOS MODERNOS PRECISA-SE de um espião da melhor qualidade, quanto menos referências, melhor. VESGO troca olho direito pelo olho esquerdo de outro vesgo. PORTEIRO precisa de emprego com urgência, tratar com o porteiro. VENDE-SE um saxofone com urgência, tratar no andar de baixo e pegar o saxofone no andar de cima. TROCA-SE um rádio de pilha por uma pilha de livros sobre como consertar um rádio de pilha. TÉCNICO de som procura médico de ouvido, um dos dois está com a razão. MOTORISTA amador deseja trabalhar para motorista profissional. VIGIA procura emprego num edifício de respeito. Não deixa ninguém entrar sem perguntar pra onde vai, nem sair sem perguntar a que horas volta. Trabalhou vinte anos na portaria da penitenciária. OCASIÃO — vende-se 1 metro pelo preço de 80 centímetros. BABÁ com oitenta anos de prática de crianças procura uma patroa com prática de velhinhas. VENDEM-SE 800 gramas de vergonha, saldo do ano passado e o único que resta no mercado. Também resolvemos ficar sem. VENDE-SE um foguete baratinho, semana que vem vai subir. VENDE-SE um segredo de cofre a quem conseguir abrir o cofre, porque o dono não consegue. VENDE-SE um pulmão de aço com pequeno defeito, negócio urgentíssimo senão não dá mais tempo. VENDE-SE um táxi com apenas cinco postes de uso. AGÊNCIA oferece as piores e as' melhores empregadas da praça mediante razoável comissão mensal. As piores não ficam no emprego porque as patroas não querem, as melhores porque nós não queremos. MÉDICO especialista em médicos especialistas deseja consultar médico não especialista. VELHO de 120 anos gratifica a quem encontrar o seu filho de treze, mas não se lembra mais do seu nome. VENDE-SE uma tranca de direção tão boa que os ladrões levaram o carro mas não conseguiram levar a tranca. PROFESSOR aposentado deseja tomar aulas de aposentadoria. VENDE-SE uma cadeira de balanço que já não consigo mais balançar. PERDEU-SE uma jovem de dezoito anos, alta, esbelta, bonita, cabelos castanhos e olhos verdes. A quem devolver a jovem de dezoito, gratifica-se com duas de 35. CEGO procura psiquiatra pia tratar sua mulher que deu pra falar sozinha há mais de duas semanas. VENDE-SE um boato com a máxima urgência, antes que deixe de ser boato. VENDE-SE um fígado quase novo, favor não discutir na hora de acertar o preço. CONSERTAM-SE aparelhos de televisão, mesmo os que estejam funcionando bem. PRECISA-SE de um ator que saiba levar soco na cara, se reagir vai pro olho da rua. NEGOCIANTE com pequeno capital e grande capacidade de trabalho deseja dobrar o capital e reduzir a capacidade de trabalho. DETETIVE particular oferece seus serviços a mulheres enganadas. É tão particular que resolve seus problemas sem sair da sua casa. VENDE-SE um par de halteres de 120 quilos, pagamento à vista, que ninguém é otário. VENDE-SE violino de menino-prodígio, faz-se um bom conto a quem ficar também com o menino. DÁ-SE chance a uma secretária que dê chance. PROCURO piano desafinado para alugar, até meu vizinho aprender a tocar. ESPIÃO internacional troca dezoito uniformes militares por um terno. VENDE-SE um par de pernas mecânicas, uma delas zero quilômetro. VENDE-SE uma roleta viciada em jogador. LOUCO com mania de Napoleão fugiu do hospício, quem o encontrar pode ficar com ele que o hospício tem mais quinze. TIPÓGRAFO aflito compra um v com urgência, tratar com o Bicente. CHOFER sem experiência, mas com muito boa vontade, deseja se empregar em residência que tenha carro do ano porque está doido pra aprender a dirigir. VENDE-SE um colchão de casal gasto de um lado só. NOVELA DE TV precisa de ator responsável para fazer o papel de irresponsável. VENDE-SE um guarda-chuva por preço de ocasião, favor aparecer num dia de sol. VENDE-SE um véu de noiva que nunca foi usado, nem o véu nem a noiva. TROCA-SE um carro que pertenceu a uma só mulher e troca-se também uma mulher que pertenceu a vários carros. ÍNDIO DE CINEMA procura emprego a 50 dólares a morte. VENDO a minha consciência mas o preço quem faz é a sua. AGÊNCIA FUNERÁRIA participa o aumento do seu capital após o falecimento de três dos seus sócios. GA-GA-GAGO pro-pro-procura re-re-remédio pa-pa-para ve-ve-velho ga-gá, é isso mesmo. PROCURA-SE um psicanalista que queira trocar um consciente velho por um subconsciente novo. CARTAS NA MESA CARTA: Eu e meu marido somos gêmeos, quer dizer, eu sou gêmea de minha irmã e meu marido é gêmeo do irmão dele. O senhor pode calcular como vivemos num ambiente de tortura e desconfiança. Outro dia meu marido saiu de casa e disse, distraído, que ia pra casa. Como tirar essa eterna dúvida? (Aríete — Rio) RESPOSTA: Há vários processos, um deles é um casal se vestir sempre de azul e o outro sempre de vermelho. Aí vocês podem se conhecer pela cor, embora dê um pouquinho de confusão na hora do banho. A solução ideal seria um casal morar na Bahia e o outro no Rio Grande do Sul: na hora de decidir quem vai pra um lado e quem vai pro outro é que pode dar margem a erro — mas dentro de algum tempo tudo se soluciona e os casais se identificarão pelo sotaque. CARTA: Meu marido não pára em casa. Que devo fazer? (Inezita — Ituiutaba) RESPOSTA: Durma fora. A melhor maneira de prender o marido em casa é a mulher dormir fora. CARTA: Briguei com meu namorado pela primeira vez, só que ele jurou que foi a última. Estou com vontade de me suicidar, mas estou sem dinheiro. O senhor conhece algum método de suicídio bem baratinho? (Alonsa — Juiz de Fora) RESPOSTA: Vamos com calma, Alonsa. Nesses casos de briga de namorados o mais aconselhável é a "tentativa": dá o mesmo resultado que o suicídio, com a vantagem da pessoa ficar viva. Segundo o livro Como se matar sem morrer, de autor desconhecido, pois se suicidou antes de editar o livro, existem muitos meios de "tentativas", mas as mais baratinhas e mais práticas são: Abrir o gás. Mas, antes de abrir o gás, abrir também a porta. Assim, enquanto o gás sai pela porta, os vizinhos sentem o cheiro e entram pra salvar. Tomar uma pílula de tranqüilizante e deixar o vidro vazio caído no chão. Nada como um vidro de tranqüilizante para intranqüilizar as pessoas. Se quiser dar mais autenticidade à "tentativa", tome o vidro todo de tranqüilizante. Dá um sono gostoso e quando você acordar está tudo cor-de- rosa: se estiver de outra cor, ligue depressa para o pronto-socorro — porque não dura muito e você vê tudo em preto e branco. Estes exemplos dão pra quebrar o galho, escreva de novo e me conte. Se não escrever é porque exagerou na dose. CARTA: Meu marido é piloto de avião a jato, não me dá uma folga. Mal sai de casa já está voltando. Que é que o senhor me aconselha? (Eldemira — Barra Mansa) RESPOSTA: Coloque na entrada da sua casa uma porta giratória, assim a senhora inverte o problema: mal o seu marido entra, já está saindo. CARTA: Estou namorando um índio, mas meus pais são contra, porque ele é antropófago e já comeu a metade do
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