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26 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius ASPECTOS LABORATORIAIS DA IDENTIFICAÇÃO DE Streptococcus agalactiae EM GESTANTES: UMA MINI-REVISÃO LABORATORIAL ASPECTS FOR THE IDENTIFICATION OF Streptococcus agalactiae IN PREGNANT WOMEN: A MINI-REVIEW FASSINA, Jaqueline Romani 1 ; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius 2 Resumo Infecções geniturinárias são muito freqüentes em gestantes, podendo causar sérios riscos para o feto, sendo o Streptococcus agalactiae, ou Streptococcus do grupo B (EGB) um dos microrganismos responsáveis cada vez mais identificados nesses casos. Essa bactéria é considerada saprófita vaginal, sendo o trato gastrointestinal é considerado o seu mais provável reservatório. Durante a gravidez existem as condições ideais para a multiplicação de EGB na vagina, o que pode ter conseqüências muito graves para a mãe e o recém-nascido caso não seja realizado o tratamento profilático. Esse trabalho teve como principal objetivo o realizar uma revisão bibliográfica dos aspectos laboratoriais da identificação do Streptococcus agalactiae em gestantes. Palavras-chave: Streptococcus agalactiae, Gestante, Infecção Abstract Genitourinary infections are very common in pregnant women can cause serious risks to the fetus, and Streptococcus agalactiae, or Group B Streptococcus (GBS) of the microorganisms responsible for increasingly identified in these cases. This bacterium is considered saprophytic vaginal and the gastrointestinal tract is considered his most likely reservoir. During pregnancy there are ideal conditions for multiplication of GBS in the vagina, which can have very serious consequences for mother and baby if not performed prophylactic treatment. This work had as main objective to conduct a literature review of aspects of the laboratorial identification of Streptococcus agalactiae in pregnant women. Key-words: Streptococcus agalactiae, Pregnant, Infection 1 1 Farmacêutica, Discente do curso de especialização em Análises Clínicas e Toxicológicas da Unidade de Ensino Superior UNINGÁ, Chapecó / SC. 2 Docente da Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE. E-mail para contato: mv_rodrigues@hotmail.com 27 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius Introdução O S. agalactiae pode colonizar os tratos gastrointestinal, vaginal e urinário sem causar sintomas, sua maior relevância médica é principalmente os casos de gestantes colonizadas, que podem vir a contaminar os filhos no momento do parto provocando graves quadros de septicemia e meningite no neonato (BORGER, 2005). Há relatos de que mulheres com colonização por EGB apresentam um risco aumentado de colonização EGB em uma gravidez subseqüente. A colonização prévia do EGB deveria ser considerada no algoritmo para tratar EGB desconhecida durante o parto (DECHEN, SUMIT, RANABIR, 2010). A transmissão vertical pode resultar da infecção intra-uterina, devido a crescente disseminação de EGB da vagina, com secundária aspiração de líquido amniótico contaminado pelo feto, o qual é facilitada pela ruptura prematura de membrana, após o início de trabalho de parto e durante a passagem do feto pelo canal do parto, resultou em mais de 50% das taxas de mortalidade neonatal durante a década de 1970 quando comparada com o quadro atual com taxa de 20%. Esta redução pode ser devido a uma melhor compreensão dos fatores de risco associados a infecção neonatal e a considerável evolução do cuidado em centros de terapia neonatal. A manifestação clínica da infecção de início precoce mais freqüente é a pneumonia ou septcemia, porém nos Estados Unidos, cerca de 2.000 recém-nascidos desenvolvem EGB induzida por meningite a cada ano com déficit neurológicos permanente em 30 a 50% dos casos (BEITUNE, DUARTE, MAFFEI, 2005). Fatores de virulência do EGB, incluindo a cápsula de polissacarídeo e vários mecanismos de regulação gênica, foram identificados, podendo contribuir para a complexa patogênese do EGB (ELZAKKER, 2009). O arsenal de virulência de S. agalactiae é completo, extremamente evoluído e competente para causar infecções graves, especialmente em indivíduos que não disponham de um sistema imune maduro e adequado. Porém, ainda há necessidade de muito estudo para melhor elucidar os mecanismos e funções desse arsenal (PALMEIRO, 2009). Vários fatores de risco materno podem aumentar a probabilidade do desenvolvimento da doença por EGB em recém-nascidos. A presença de um fator de risco isolado aumenta em 6,5 vezes a probabilidade de a mulher grávida ter um filho com infecção de início precoce. Torna- se um desafio a identificação de uma população de alto risco para a colonização por EGB, pois esta colonização também pode ser observada em mães que não possuem o clássico fator de risco, representando 25-30% dos recém nascidos que apresentam infecção pelo EGB neonatal precoce (BEITUNE, DUARTE, MAFFEI, 2005). Os principais riscos maternos observados são a bacteriúria por EGB durante a gestação, dores de parto antes da 37º semana de gestação, ruptura prematura de membrana com duração de mais de 18 horas e febre intraparto. Outros fatores que podem ser associados a colonização por EGB são a colonização materna maciça, baixos níveis de anticorpos contra o EGB circulantes, gestantes com idade inferior a 20 anos, diabetes mellitus materno, mulheres negras, histórico de filho com doença invasiva por EGB, aborto espontâneo, múltiplas gerações, monitoramento intra-uterino prolongado e coriomnionite (BEITUNE, DUARTE, MAFFEI, 2005; PALMEIRO, 2009). Um estudo revelou que a incidência foi maior entre os recém-nascidos negros, confirmando a continuidade desse fator de risco e a maioria que adquiriu a infecção nasceu prematura e apresentou septicemia. Mulheres negras apresentam uma colonização por EGB mais densa, o que poderia explicar o aumento do risco e da incidência de infecção nesse grupo (PHARES et al., 2008; PALMEIRO,2009). 28 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius As complicações devido a colonização pelo EGB durante a gravidez, não são limitados ao período neonatal. A colonização durante a gravidez pode aumentar o risco de aborto espontâneo, ruptura prematura das membranas fetais, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Não há consenso sobre a colonização do EGB sobre o prognóstico gestacional (BEITUNE, DUARTE, MAFFEI, 2005). Um estudo em 1982, detectou uma taxa de colonização materna por EGB de 26%, semelhante a descrita em outros países. Já em 1995, um estudo realizado em Londrina a taxa de colonização foi de 15%. Entretanto os sítios pesquisados no estudo foram o vaginal e periuretral e o meio seletivo não foi utilizado (SIMOES et al., 2007). De acordo com alguns estudos a taxa de colonização no Brasil varia de 15 a 25%. Estas variações ocorrem devido aos diferentes métodos utilizados e a menor porcentagem foi observada em pesquisas onde os sítios pesquisados foram o vaginal e periuretral e não foi utilizado meio seletivo para a realização da cultura (POGERE et al., 2005). Esses valores fazem com que o Brasil fique em um patamar preocupante, pois é possível que taxas elevadas de infecção neonatal precoce estejam ocorrendo, porém não estão sendo identificadas (COSTA et al., 2008). Em comparação com estudos realizados em outros países, as taxas se assemelham as encontradas em estudos Brasileiros, com exceção da Turquia que apresentou taxa de colonização de 8%, enquanto que nos Estados Unidos a taxa encontrada foi entre 18,6 e 21,1%e no Chile 19,9% (BORGER et al., 2005). No ano de 2008, Costa et al. realizou uma pesquisa na qual não foram encontradas associações entre variáveis sócio- demográficas ou obstétricas e a ocorrência de colonização pelo EGB. Foi observada uma maior prevalência de colonização em mulheres de cor branca. Já em um estudo realizado nos Estados Unidos houve uma maior prevalência entre hispânicas da região do Caribe e negras, maiores taxas em mulheres idosas, de baixa paridade, sem parceiro fixo e com baixa escolaridade. No Brasil devido ao alto grau de miscigenação racial, é difícil de estabelecer uma classificação precisa em termos de raça ou grupo étnico. Em um estudo realizado em São Paulo com 101 mulheres grávidas contaminadas pelo HIV, não houve um maior risco de contaminação associado quando comparado mulheres brancas e não brancas e entre mulheres com diabetes mellitus (BEITUNE, DUARTE, MAFFEI, 2005). Outros estudos demonstraram que a colonização por EGB pode variar bastante de acordo com a localização geográfica e com outras variáveis como, a idade, paridade, métodos de cultura e nível socioeconômico e por isso seria importante detectar os fatores que provavelmente levarão ao desfecho, bem como a prevalência nas diferentes regiões para permitir que sejam implantadas medidas adequadas de controle e prevenção (POGERE et al., 2005). Muitos estudos demonstraram maior exatidão do método baseado em cultura, com identificação das mulheres colonizadas no momento do parto, para a prevenção da sepse neonatal pelo EGB. Porém, para esse método poder alcançar eficácia máxima, devem ser observados alguns cuidados como os sítios anatômicos para a coleta da amostra, cuidados no transporte, preservação do material e métodos microbiológicos precisos para cultura e detecção do EGB (SIMOES et al., 2007). A redução de 65% no grupo com doença de início precoce da doença estreptocócica B foi realizado a partir de 1993 a 1998. Posteriormente um estudo informou que a triagem microbiológica de dados obtidos superou as estratégias de risco baseada na identificação das mães em situação de risco. Como resultado, as orientações revistas da CDC publicada em 2002, defendem a triagem pré-natal tardia universal de 35 a 37 semanas de gestação 29 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius para a colonização de S. agalactiae (MUNSON et al., 2010). Quando um meio seletivo é utilizado para a pesquisa das taxas de prevalência nas pesquisas, esse meio é o que leva a um diagnóstico de certeza da infecção pelo EGB, independente da origem (POGERE et al., 2005). A classificação atual do EGB é baseada no fenótipo capsular. O principal método sorológico utilizado para a determinação do sorotipo é a precipitação capilar. A maioria dos isolados podem ser classificados em sorotipos, porém destes de 4 a 7 % não são tipáveis. O numero de isolados não tipáveis tem sido um problema crescente, e estudos tem sido realizados para tentar reduzi-los (SLOTVED et al., 2007). A sorotipagem tem sido uma ferramenta epidemiológica tradicional para a investigação de infecções por S. agalactiae em seres humanos. Os sorotipos Ia, Ib, II, III e V foram predominantes nos Estados Unidos entre crianças e mulheres grávidas, já os sorotipos VI e VIII tem sido associados a colonização de seres humanos no Japão. As cepas do sorotipo V foram inicialmente encontradas em 1895 e atualmente estão mais associadas com infecção entre mulheres não grávidas nos Estados Unidos. A maioria das subtipagens estudadas de S. agalactiae tem demonstrado que isolados de hospedeiros humanos e bovinos representam populações em grande parte separada, embora subtipos idênticos tenham sido ocasionalmente isolados de humanos e animais (DOGAN et al., 2005). Nos últimos anos a sorotipagem molecular de EGB com base na detecção do gene sorotipo-específico da região capsular tem vindo a desenvolver-se rapidamente. Métodos como PCR e eletroforese mostraram que alguns isolados não tipáveis podem ser mostrados para ser semelhante aos sorotipos conhecidos. A identificação de proteínas de superfície, através da PCR, também permite a classificação dos isolados não tipáveis. Porém, alguns isolados permanecem impossíveis de caracterizar usando anti-soros disponíveis atualmente. Cepas não tipáveis atualmente devem ser classificados por tipagem molecular, ou através do uso de anti-soros adicionais (SLOTVED et al., 2007). Foram encontrados dados que indicam que mães adolescentes e que teve apenas um parto correspondem ao grupo de risco para a colonização por EBG, porém uma pesquisa realizada em 2003 mostrou taxas maiores em mulheres que tiveram mais do que um filho, já outro estudo realizado em 1991 as mulheres mais velhas e com baixa paridade apresentaram maior risco de serem colonizadas (POGERE et al., 2005). Outros fatores que podem ter influência na colonização por EBG são: o estado civil, a freqüência sexual e o número de parceiros, o que foi comprovado em alguns estudos, não sendo observado aumento de incidência na colonização de mulheres com parceiros fixos, mas quando associada com a incidência de múltiplos parceiros, pode-se observar aumento na prevalência de colonização (POGERE et al., 2005). Foi observada uma discordância com relação ao habito de fumar. De acordo com alguns autores esse é um dos fatores de risco para a colonização, porém em um estudo com 543 mulheres somente 10,3% possuíam o hábito de fumar e não foi encontrada nenhuma prevalência quando comparada com as não fumantes, enquanto que em outro estudo contradizendo a literatura, mulheres que nunca fumaram possuíam um discreto aumento no risco de contaminação (POGERE et al., 2005). As gestantes diabéticas parecem ter uma maior freqüência de colonização por S. agalactiae quando comparado com gestantes não diabéticos, porém alguns estudos não têm demonstrado relação significativa entre gestantes grávidas e a colonização pela bactéria (BORGER, 2005). Um fator importante para a positividade do exame é o momento da coleta no pré-natal. O valor preditivo da cultura no pré-natal é elevado se realizado com 35 semanas de gestação, podendo chegar a quase 100% (COSTA et al., 2010). 30 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius A transmissão vertical ocorre em 30 a 70% dos recém-nascidos, cujas mães tenham uma cultura positiva para EGB durante a gravidez e quando há ausência de um programa de prevenção, 1 a 2% dos recém-nascidos desenvolvem infecção sintomática pelo EBG e cerca de 90% dos casos ocorrem durante as primeiras 24 horas de vida (BEITUNE, DUARTE, MAFFEI, 2005). Um estudo revelou que a incidência foi maior entre os recém-nascidos negros, confirmando a continuidade desse fator de risco e a maioria que adquiriu a infecção nasceu prematura e apresentou septicemia. Mulheres negras apresentam uma colonização por EGB mais densa, o que poderia explicar o aumento do risco e da incidência de infecção nesse grupo (PHARES et al., 2008; PALMEIRO, 2009). É importante a rápida identificação do microrganismo, bem como a sua sensibilidade aos antibióticos para que seja realizada uma quimioprofilaxia correta, diminuindo assim a incidência de sepse neonatal pelo EBG. Um dado importante é o fato de que alguns RN uma avaliação correta. A bacteremia pelo EGB pode ocorrer com sinais sistêmicos mínimos ou sem sinais sistêmicos ou focais. Diversos estudos têm demonstrado que 4 a 20% dos recém- nascidos a termo com infecção precoce pelo EGB apresentam bacteremia assintomática. Assim o momento ideal da terapia pode ser perdido caso não seja avaliadocorretamente. A realização de hemoculturas de recém- nascidos de mães com fatores de risco que não receberam profilaxia intraparto corretamente pode auxiliar na identificação dos recém-nascidos com bacteremia assintomática e risco de desenvolver sepse de início tardio (COSTA et al., 2010). O CDC recomenda como prevenção para a doença precoce do neonato a profilaxia com penicilina no momento do parto, e nos casos de pacientes alérgicos a penicilina, o uso de eritromicina ou clindamicina. Porém devido os relatos de resistência a estes últimos antimicrobianos, torna-se necessária a realização de testes de susceptibilidade (BORGER, 2005). O uso de eritromicina e clindamicina tem aumentado e ao mesmo tempo foi observado aumento nas taxas de resistência do EGB a esses antimicrobianos. Em relação à eritromicina, os maiores índices de resistência foram encontrados nos Estados Unidos (30%), na França (21,4%), na Turquia (20%) e em Portugal (10,7%). As taxas de resistência a clindamicina se apresentam menores com índices de 11,4% nos Estados Unidos, 17,5% na França e 9,9% em Portugal. No Brasil as amostras vêm apresentando uma tendência de aumento a resistência a esses antimicrobianos (BORGER et al., 2005). A freqüência relevante de infecções e a ocorrência de resistência a antimicrobianos utilizados fazem com que seja necessário o contínuo monitoramento do perfil de resistência destes microrganismos em diferentes regiões geográficas (PINHEIRO, 2009). Em 1996, foi proposto um protocolo de prevenção das doenças em neonatos pelo CDC, devido aos estudos realizados e que apontavam a colonização materna por EBG como causa principal da doença precoce do neonato. Os países desenvolvidos, rapidamente adotaram as medidas profiláticas recomendadas, começando a implementação da quimioprofilaxia, as vezes antes mesmo de ter o resultado da cultura positiva para S. agalactiae, esse fato poderia justificar os maiores índices de resistência aos antimicrobianos recomendados pelo CDC no caso de pacientes alérgicas a penicilina nos países desenvolvidos, quando comparados aos índices observados nos países da America Latina. Por outro lado, o uso excessivo de antimicrobianos utilizados na prevenção da doença no neonato, sem o isolamento do microrganismo, pode estar selecionando patógenos cada vez mais resistentes, como por exemplo, o S. pneumoniae (BORGER, 2005). Um fator de risco conhecido para a sepse neonatal é a presença da ruptura de 31 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius membranas pré-termo, chamando atenção a precocidade das manifestações graves da sepse por EGB nos recém nascidos e mortalidade elevada, podendo decorrer menos de seis horas entre a ruptura de membrana e o parto e cerca de 48 horas até o óbito neonatal. Portanto é possível que ocorra invasão da cavidade amniótica íntegra pelo EGB, o que levaria a intensa resposta inflamatória fetal, que seria mais evidente após o nascimento (MONURA et al., 2009). A alta incidência de bacteriúria nas mulheres ressalta a importância da realização da cultura de urina, que possibilita a identificação do agente e o monitoramento da resistência bacteriana. Além disso, a bacteriúria é um reconhecido fator de risco para a prematuridade e infecção neonatal (MONURA et al., 2009). O aumento das taxas de doenças por EGB m adultos não grávidos pode ser atribuído, em parte, ao crescimento da população de adultos com maior expectativa de vida em decorrência do avanço da medicina (BORGER, 2005). A ocorrência de infecções estreptocócicas invasivas depende muito das características bacterianas, como por exemplo, a capacidade de produzir fatores de virulência e das condições do hospedeiro, a deficiência do sistema imune ou a falta de anticorpos contra a bactéria como resposta da imunidade adaptativa. Assim como outras espécies de Streptococcus, o S. agalactiae é extremamente hábil em colonizar e causar infecção em seus hospedeiros. Isso ocorre devido a sua eficiência em realizar os mecanismos essenciais da patogênese: adesão a superfícies teciduais e mucosas; competição com a microbiota, invasão principalmente no epitélio alveolar e endotelial e multiplicação do sítio de infecção (PALMEIRO, 2009). A identificação dos sorotipos de EGB tem sido relevantes à investigação epidemiológica e a produção de vacinas, pois a distribuição dos sorotipos varia de acordo com a região geográfica, origem étnica, patologia desenvolvida e perfil de resistência aos antimicrobianos (PALMEIRO, 2009). Baseados no exposto acima, o presente trabalho de revisão bibliográfica tem como maior objetivo estudar os principais aspectos laboratoriais da identificação do Streptococcus β – hemolítico do grupo B (Streptococcus agalactiae), a sua infecção em gestantes e suas conseqüências para o recém-nascido. Streptococcus agalactiae O gênero Streptococcus pertence ao filo Firmicute, classe Bacilli, ordem Lactobacillales, e família Streptococaceae. Nessa família também se incluem os gêneros Lactococcus e Lactovun. Atualmente, o gênero Streptococcus contém 90 espécies e 17 subespécies, sendo essas distribuídas em linhagem de origem animal e humana (MATTHIES et al., 2004; PALMEIRO, 2009). O gênero Streptococcus é formado por diversos cocos gram positivos, ovóides ou esféricas de 0,5 a 2µm de diâmetro que se dispõe em pares ou cadeias. A maioria delas é identificada como anaeróbio facultativo e algumas crescem somente em CO2. São imóveis, não formam esporos e são catalase negativa, ou seja, não reagem com peróxido de hidrogênio a 3%. Algumas espécies se apresentam encapsuladas, por exemplo, Streptococcus pneumoniae. São quimiotrópicos, não são capazes de realizar o metabolismo respiratório, pois não possuem as condições para efetuar a fosforilação oxidativa por meio da cadeia transportadora de elétrons. A temperatura ideal para seu crescimento é 37ºC, com restrição à temperatura de 24 a 25ºC (PALMEIRO, 2009). Apresentam exigências nutricionais complexas, para realizar o seu isolamento é necessário utilizar meio enriquecido com sangue ou soro e são capazes de fermentar hidratos de carbono (MURRAY, 2006). Espécie de Streptococcus comumente lisam ou não hemácias, produzindo no meio de cultivo contendo 32 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius sangue de carneiro uma hemólise parcial (coloração verde ao redor da colônia, α- hemólise) ou hemólise total (formação de uma zona clara ao redor da colônia, β- hemólise) (PALMEIRO, 2009). A diferenciação das espécies que compõem esse gênero é complicada, pois, se utilizam três sistemas diferentes para a classificação que se baseiam nas propriedades sorologias (Grupo de Lancefield), nos padrões hemolíticos (β- hemólise; α-hemólise e ausência de hemólise – γ-hemólise) (Tabela 1) e nas propriedades bioquímicas (Tabela 2) (MURRAY, 2006). Em 1933 foi utilizado por Lancefield o sistema de classificação sorológica para diferenciar as cepas β-hemolíticas. A maioria dessas cepas e algumas das α- hemolíticas e não hemolíticas possuem antígenos específicos. Esses antígenos podem ser facilmente identificados por ensaios imunológicos (MURRAY, 2006). Os Streptococcus β-hemolíticos podem ainda ser denominados em colônia pequena (<0,5mm), a qual compreende o grupo S. anginosus e de colônia grande (>0,5mm), englobando as demais espécies (SPELLERBERG; BRANDT, 2007). Atualmente a fenotipagem do grupo de Lancefield é utilizada somente para algumas espécies de Streptococcus (Grupos A, B, C, F e G) (MURRAY, 2006). Devido à maioria dos Streptococcus α-hemolíticos e γ-hemolíticosnão possuírem antígeno específico na parede celular, eles são identificados através de testes bioquímicos (MURRAY, 2006). Kavamura e colaboradores, publicaram um trabalho em 1995 no qual avaliaram sequências de rRNA16S de amostras de Streptococcus e demonstraram interessantes relações filogenéticas entre as espécies, sugerindo assim mudanças na classificação desse gênero. A classificação subdividiu o gênero em seis grupos principais: grupo “bovis”, grupo “salivarius”, grupo “mutans”, grupo “anginosus” ou “milleri” e o grupo “piogênico”, o qual inclui entre outras, as espécies de Streptococcus agalactiae e S. pyogenes (BORGER, 2005). As principais espécies patogênicas para os humanos são: Streptococcus pyogenes é o principal agente etiológio da faringite, febre reumática e infecções cutâneas; Streptococcus agalactiae é o principal responsável pela meningite e sepse gestacional e em neonatos; Streptococcus pneumoniae causador da pneumonia (MURRAY, 2006). Tabela 1. Classificação dos patógenos mais freqüentes. Microrganismo Classificação Sorológica Padrão de hemólise S. pyogenes A β S. agalactiae B β, ocasionalmente não hemolítico S. dysgalactiae C,G β Grupo S. anginosus A,C,F,G Não agrupável β, ocasionalmente α e não hemolítico S. bovis D α, não hemolítico e ocasionalmente β Grupo Viridans Não agrupável α e não hemolítico S. pneumoniae Não agrupável α Fonte: Murray ( 2006.p. 238). Os Streptococcus agalactiae são cocos Gram-positivos, formando cadeias curtas em amostras clínicas e cadeias mais longas em cultivos (MURRAY, 2006). São catalase-negativo, são imóveis e não- esporulados, anaeróbios facultativos, obtendo energia para a síntese de material celular através da fermentação de carboidratos, sendo o ácido lático o maior produto da fermentação da glicose. Algumas cepas produzem pigmento amarelado, laranja ou avermelhado e podem ter a 33 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius produção aumentada com a adição de amido ao meio de cultura (BORGER, 2005). Distinguem-se dos outros estreptococos patogênicos através da presença da parece associada à célula do grupo de carboidratos B (Lancefield grupo B) (DOGAN et al., 2005). Esse Streptococcus contém o antígeno do grupo de Lancefield, um polissacarídeo de superfície celular tipo-específico e proteínas antigênicas. Os estreptococcus do grupo B são sempre encapsulados e pertencem a um de nove sorotipos capsulares. Há nove sorotipos conhecidos, os quais são: Ia, Ib, II,III,IV,V,VI,VII e VIII (WINN, 2006). Os vários sorotipos capsulares variam com o decorrer do tempo e da localização. Antes da década de 1990, a maioria das doenças causadas por Streptococcus do grupo B eram causadas pelos sorotipos Ia, Ib, II, III e V, os sorotipos IV, VI e VIII eram relativamente incomuns. Os sorotipos VI e VIII tem sido freqüentemente encontrados no Japão (PALMEIRO et al., 2010). O sorotipo III possui maior virulência, pois representam 60% dos isolados de casos de sepse neonatal e mais de 80% dos isolados com meningite (WINN, 2006). A pesar de todos os sorotipos terem distribuição mundial, alguns trabalhos apresentam o sorotipo I como sendo o mais freqüentemente isolado nas gestantes da América Latina (BORGER, 2005). Tabela 2. Identificação bioquímica dos Streptococcus mais freqüentes. Microrganismo Sensibilidade a bacitracina Sensibilidade a optoquina Hidrólise do Hipurato Teste de CAMP Solubilidade a bile S. pyogenes S R - - - S. agalactiae R R + + - S. dysgalactiae R R - - - Grupo S. anginosus R R - - - Grupo Viridans R R - - - S. pneumoniae R S - - + Fonte: Murray ( 2006.p. 247) Nota : Símbolos- (+), positivo; (-), negativo; (R), resistente; (S) sensível. Estudos epidemiológicos realizados anteriormente identificaram tipos clonais virulentos do sorotipo III. Em estudos in vitro foi demonstrado que estes clones possuem um nível diferente de atividade da enzima conhecida por desempenhar papel na virulência. A virulência poderia ser associada com subtipos específicos de EGB, mas com base no conhecimento atual microbiológico, marcadores inequívocos de invasão não foram identificados. Genes de virulência mais conhecidos e supostos EGB estão agrupadas em 14 ilhas genéticas e são considerados potenciais EGB-específico potencial de ilhas de patogenicidade (PPIs) (ELZAKKER et al., 2009). A principal função da cápsula é promover à aderência as superfícies epiteliais para posterior invasão tecidual; seus polissacarídeos têm a capacidade de inibir a fagocitose por parte dos macrófagos e neutrófilos do hospedeiro e a ativação do complemento na ausência do anticorpo específico, o ácido sialício é um fator essencial para a patogenicidade já que impede a decomposição do componente C3b do sistema complemento, impedindo a fagocitose; as amostras do tipo III que contêm níveis elevados deste constituinte são mais virulentas (BORGER, 2005). Além da cápsula, algumas proteínas superficiais são consideradas relevantes fatores de virulência. A proteína ligadora de laminina (Lmb), codificada pelo gene lmb, é uma proteína similar as adesinas (estruturas ligantes a matriz extracelular). Alguns estudos relataram a importância direta ou indireta dessa proteína na dinâmica da 34 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius colonização e invasão de EGB, porém, nem todos os isolados expressam essa proteína (PALMEIRO, 2009). Alguns sorotipos expressam antígenos protéicos de superfície, os mais conhecidos são c, R e X. Os antígenos protéicos juntamente com os polissacarídeos capsulares tipo-específicos, conferem imunidade protetora. Observa-se que a presença de anticorpos sintetizados contra um desses antígenos é suficiente para proteger contra infecções letais (BORGER, 2005). O antígeno c, antes designado lc, atualmente é reconhecido como uma fração protéica presente em alguns sorotipos. É subdivido em alfa e beta e pode atuar mediando a internalização dos microrganismos em células epiteliais cervicais após fixação e também protegendo os microrganismos de sua destruição intracelular após fagocitose (WINN, 2006; PALMEIRO, 2009). O papel da proteína alfa na patogênese ainda é pouco conhecido, porém há relatos que a inibição do gene que codifica o antígeno alfa-C atenua a virulência de EGB e que há participação dessa proteína na indução da resposta imune do hospedeiro e o componente alfa é codificado pelo gene bca e pode variar quanto a quantidade de cadeias polipeptídicas constituintes. A proteína beta interage com diferentes componentes do sistema imune, IgA-FC sérica e fator H (proteína reguladora da via alternativa do sistema complemento) contribuindo com sistema de escape do patógeno frente ao sistema imune do hospedeiro e é codificado pelo gene bac, expresso como uma proteína ancorada a peptidioglicana através de um motif denominado LPXTG (PALMEIRO, 2009). O antígeno R é classificado em quatro tipos que vai de R1 a R4, de acordo com a sua reação de imunoprecipitação em gel de agarose, o R4 é o mais predominante em amostras humanas e encontrado nos sorotipos II e III. As amostras que possuem a proteína c não possuem a proteína R e vice e versa (BORGER, 2006). Já o antígeno X, tem sido pouco estudado em relação à composição antigênica entre amostras clinicas de EGB (BORGER, 2006). Outra proteína de superfície celular que tem sido encontrada na maioria das cepas do sorotipo III é a Rib, que possui resistência a tripsina e estrutura molecular variável. Estudos realizados com essa proteína sugerem que ela possa afetar a susceptibilidade do neonato a doença por EGB(BORGER, 2006). As proteínas ligadoras de fibronectina (FBP) possuem função principal na virulência com relação à invasão do microrganismo. Existem diversas FBPs no genoma de EGB, por exemplo, a proteína ligadora de fibronectina FbsA, a qual se afirma contribuir na resistência a fagocitose, pois protege o EGB da opsonização (PALMEIRO, 2009). Os Streptococcus do grupo B também produzem uma variedade de outros determinantes de virulência: C5a peptidase, que é um produto de clivagem de componente do complemento e atua como elemento de atração das células inflamatórias e está envolvido no processo de inflamação pulmonar. A β-hemolisina/Citolisina podem atuar particularmente nas infecções pulmonares. A β-hemolisina também pode aumentar a capacidade dos microrganismos de invadir células endoteliais do sistema nervoso central, contribui também para a bacteremia e no fígado e tem a capacidade de ativar vias de apoptose nos hepatócitos, causando necrose hepática. O Ácido Lipoteicóico pode facilitar o processo de aderência como primeira etapa na infecção. Também são encontradas diversas proteínas de superfície celular. Ácido Hialurônico Liase, que atua ao disseminar a infecção em conseqüência da degradação do ácido hialurônico na matriz extracelular, podendo também atuar sobre o ácido hialurônico presente em altas concentrações nos tecidos placentários, fetais e no líquido amniótico (WINN, 2006). 35 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius Fator CAMP também tem sido citado como um fator de virulência da bactéria. Em alguns estudos foram induzidas septicemia e morte quando o fator CAMP foi co-administrado com uma dose subletal de EGB, por outro lado, anticorpos anti- fator CAMP são encontrados em soros humanos e animais infectados, indicando que é antígeno produzido no decorrer das infecções. O fator CAMP é mais conhecido pela sua utilização da detecção laboratorial do EBG, onde se avalia a produção de um fator extracelular de hemólise, e que intensifica a hemólise de cepas de estafilococos produtores de beta-lisina em ágar sangue de carneiro (BORGER, 2005). Oligopeptidase enzima capaz e degradar pequenos peptídeos, inclusive fatores protéicos de defesa do hospedeiro (BORGER, 2005). Carboidrato tóxico CM101 pode ser detectado pela técnica de ELISA em líquor e urina de neonatos com sepse por EGB, seu mecanismo de ação ainda é desconhecido (BORGER, 2005). Um aspecto importante e que confere grande virulência é a evasão imunológica, ou seja, presença de mecanismos que dificultam o reconhecimento do EGB pelo hospedeiro. A capacidade que ele possui de sobreviver por longos períodos dentro de lisossomas de macrófagos, a produção de enzima superóxido dismutase e de um pigmento carotenóide, que protegem contra o estresse oxidativo e a inibição da atividade do sistema complemento, reduzem ainda mais a capacidade de reconhecimento e ativação dos mecanismos de defesa do hospedeiro, principalmente de recém- nascidos prematuros (PALMEIRO, 2009). Primeiramente o EGB foi conhecido como a causa de mastite em bovinos, mas desde a década de 1970 é um importante patógeno humano. Atualmente é considerada a principal causa de infecções invasivas entre recém-nascidos (SAVOIA et al., 2008). Os microrganismos da espécie Streptococcus agalactiae são encontrados nas membranas mucosas de humanos e animais e colonizam principalmente o trato intestinal e genitourinário dos seres humanos. Pode se apresentar de forma assintomática ou com sintomas leves (BORGER, 2005). Essa infecção pode ocorrer durante a gravidez e tem sido encontrada em todo o mundo em diversos grupos raciais e áreas demográficas (LARSEN; SERVER, 2008). Nos Estados Unidos foi realizado um estudo que compreendeu 52.406 nascimentos e o agente de sepse neonatal precoce mais freqüente foi o EGB e em segundo lugar estava a Escherichia coli. No Brasil ele também é um dos agentes mais freqüentes isolados nas infecções neonatais precoces (NOMURA et al., 2009). Essa bactéria é encontrada na mulher como saprófita vaginal. A colonização pode ser transitória, crônica ou intermintente e o trato gastrointestinal é considerado o mais provável reservatório de EGB (POGERE et al., 2005), é significativamente associada com infecções em neonatos e deve ser cuidadosamente monitorada (GHERARDI et al., 2007). Aproximadamente 60% dos neonatos que nascem de mães colonizadas, também são colonizados. A probabilidade de infecção do recém-nascido tem mais chances de ocorrer quando a mãe apresenta infecção intensa. Outros fatores de riscos da colonização neonatal são o parto prematuro, ruptura prematura da membrana e febre intraparto (MURRAY, 2006). Cerca de 25% dos casos diagnosticados de sepse precoce ocorrem em recém-nascidos prematuros. A prematuridade pode ser considerada um fator de risco independente para a sepse precoce por EGB, a razão de risco dobra para cada três semanas de redução na idade gestacional, podendo chegar a 20 para recém-nascidos com menos de 28 semanas (NOMURA et al., 2009). O EGB juntamente com outras bactérias pode estar relacionado à fisiopatologia da ruptura das membranas através da ativação de processos inflamatórios, produção de proteases, 36 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius colagenases, radicais livres e prostaglandinas. Mesmo que não seja relacionado diretamente à gênese da ruptura de membranas, o EGB pode ser prevalente nessas gestantes, pois a suscetibilidade para a ascensão do microrganismo até a cavidade amniótica é maior (NOMURA et al., 2009). Diagnóstico e Detecção do Microrganismo Vários testes foram desenvolvidos para a detecção direta do microrganismo em amostras clínicas, utilizando diversos métodos para detectar o antígeno grupo- específico, como co-aglutinação estafilocócica, a aglutinação com látex e Elisa. Porém, a sensibilidade do teste é baixa para ser usado na triagem da mãe, com a finalidade de prever quais recém nascidos tem probabilidade maior de adquirir a enfermidade neonatal (MURRAY, 2006). Os testes de detecção direta utilizam anticorpos antiestreptococos do grupo B para detectar microrganismos diretamente por aglutinação do látex ou procedimentos rápidos de imunoensaios visuais ou colorimétricos. Os testes rápidos são utilizados principalmente no período pré- parto para determinar o estado de colonização da mãe (WINN, 2006). Desde 2002, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), juntamente com a American Academy of Pediatrics (AAP) e o American College of Obstetrics and Gynecology (ACOG), recomendam a triagem em mulheres grávidas através de métodos de cultura, pois assim ocorre uma prevenção mais efetiva que a quimioprofilaxia. O principal método para o diagnóstico da colonização de EGB consiste no cultivo combinado de swab anal e vaginal, em um meio de caldo seletivo, pois este inibe o crescimento de microrganismos não-EGB, porém o método requer no mínimo 48 horas para a completa identificação de EGB. Mas mesmo através desse método podem aparecer resultados negativos em culturas de algumas mulheres cujos bebês desenvolvem a infecção posteriormente (PARIS et al., 2011). A primeira triagem pode ser feita através do tipo de hemólise em ágar sangue, onde apesar de existirem cepas alfa hemolíticas e até não-hemolíticas, a maioria das amostras observadas é beta hemolítica, porém com uma zona de hemólise discreta. Isso se deve a produção de uma hemolisina, que além de lisar as hemácias, também causa danos a outras células eucarióticas e por isso é chamada β-hemolisina/citosina (BORGER, 2005).O uso de meio de cultura seletivo contendo antibióticos também é preconizado e vem sendo recomendada há vários anos, como por exemplo, o meio de Todd-Hewitt com gentamicina e ácido nalidíxico, pois assim haverá um aumento significativo na detecção do EGB quando comparada à cultura de rotina. O custo do meio seletivo é maior, mas a maior seletividade faz com que a prevenção da doença seja mais eficaz (NOMURA et al., 2009). A principal justificativa para a utilização do meio de cultura seletivo se baseia no fato de que os principais locais de isolamento do EGB são as mucosas vaginal e ano-retal, onde a flora bacteriana é abundante e heterogênea. Assim, a possibilidade de isolamento de uma espécie bacteriana é menor se apenas meios de cultura não seletivos forem utilizados. Este tipo de rastreamento traz resultados, ainda que imperfeito, identificando as gestantes com maior risco de transmissão vertical (NOMURA et al., 2009). Os testes que permitem identificar presuntivamente o S. agalactiae são a β- hemólise discreta, a qual muitas vezes só é detectada após a retirada da colônia do meio ágar-sangue, as características da colônia após coloração com o Gram e o teste da hidrólise do hipurato e de CAMP positivos; porém a sua confirmação só é feita através de testes sorológicos para detecção do antígeno do grupo B, utilizando anti-soros específicos (BORGER, 2005). O protocolo de cultura recomendado pelos CDC, ACOG e FDA envolve a coleta 37 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius de amostras de swabs vaginais e retais obtidas do terço inferior da vagina e do canal anal entre a 35º e 37º semana de gestação. Os swabs são colocados em caldo Trans-Vag ou Lim (caldo de Todd-Hewitt com 10µg/mL de colistina e 10mg de extrato de levedura) e são incubados por um período de 18 a 24 horas. Depois do período de incubação, o caldo é repicado em ágar sangue de carneiro e incubado novamente por 18-24 horas. Caso não seja detectado nenhum Streptococcus do grupo B, as placas são reincubadas por mais um dia. Os Streptococcus do grupo B são identificados por métodos bioquímicos, sorológicos ou hibridização quimioluminescente (WINN, 2006). Para identificar com precisão as mulheres grávidas portadoras da bactéria (mesmo as com baixa contagem de bactérias) seria ideal a realização de um teste de triagem para a colonização de EGB evitando assim resultados falsos negativos que podem ocorrer com as culturas e que também apresentem um tempo de resposta curto. Hoje em dia, os testes de biologia molecular, como por exemplo, PCR (Reação em cadeia de polimerase), se tornaram foco da investigação de detecção da colonização por EGB em mulheres grávidas (PARIS et al., 2011). É possível efetuar uma identificação preliminar de uma cepa analisada mediante a obtenção de resultados positivos em testes de CAMP, mediante a hidrólise de hipurato. Os Streptococcus do grupo B se identificam de forma definitiva ao revelar a presença de hidrato de carbono específico ou ainda através da utilização de sondas moleculares (MURRAY, 2006). Os Streptococcus do grupo B produzem uma proteína difusível e termoestável que aumenta a P-hemólise de Staphylococcus aureus, a qual produz esfingomielinase C, que pode ser unir as membranas das hemácias. Quando são expostas ao fator CAMP do grupo B, as células sofrem hemólise (MURRAY, 2006). A sorotipagem também tem sido uma ferramenta epidemilógica tradicional para a investigação de infecções por S. agalactiae em seres humanos. Além da sorotipagem, métodos de genotipagem como amplicação polimórfica de DNA e ribotipagem têm sido utilizada para caracterizar isolados de S. agalactiae de recursos humanos e origem bovina (DOGAN et al., 2005). Resistência aos Antimicrobianos A penicilina é o fármaco de escolha para o tratamento de infecções causadas pelo Streptococcus agalactiae, pois possui uma contínua susceptibilidade destes microrganismos ao antimicrobiano (NAKAMURA, 2010). Tem-se observado em vários estudos resistência a eritromicina e a lincosamídeos, como por exemplo, a clindamicina, portanto esses fármacos não são recomendados em pacientes alérgicos com risco de anafilaxia, sem a prévia realização do teste de susceptibilidade (NAKAMURA, 2010). A resistência à clindamicina está associada a dois mecanismos: a modificação do sítio alvo ribossomal por metilação (mecanismo mais freqüente) e o efluxo ativo da dorga. A metilação do sítio alvo 23S rRNA é mediada por metilases codificadas pelos genes erm (erythromycin ribosome methylation). Foram detectados em Streptococcus até o momento, somente os genes ermA, ermB, ermC, ermF e ermQ, os quais compõem a família erm. Os genes ermA e ermB, são os mais predominantes. Esse mecanismo concede resistência a macrolídeos, licosamidas e estreptograminas B e um fenótipo de resistência MLSB. O mecanismo de efluxo está mediado pela proteína MEF (E), codificada pelo gene mef(E) (macrolide efflux), conferindo resistência a macrolídeos, mas não as lincosamidas, pelo que se denomina fenótipo M (PINHEIRO, 2009). A resistência à clindamicina com sensibilidade à eritromicina está associada ao gene linB (lincosamide inactivation nucleotidylation), o qual codifica uma nucleotidiltransferase que inativa o 38 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius antiobiótico por adenilação (PINHEIRO, 2009). O principal fenótipo de resistência em Streptococcus agalactiae é o MLSB induzido, seguido pelo MLSB constitutivo, concedidos pela presença dos genes ermA ou ermB de acordo com estudos europeus. Porém em um estudo realizado na Espanha em Portugal o fenótipo MLSB constitutivo foi o mais encontrado (PINHEIRO, 2009). Até o momento não foram relatados casos de resistência à cefalosporinas entre os EGBs. Este fármaco possui um grande espectro antibacteriano, são resistentes a muitas β-lactamases e possuem ótimas propriedades farmacológicas (NAKAMURA, 2010). A vancomicina, outro fármaco utilizado para a profilaxia é um glicopeptídeo que interrompe a síntese do peptidioglicano da parede. Entre os enterococos é observada uma resistência intrínseca ou adquirida a vancomicina e também em outros gêneros da família Streptococacceae, nunca foi relatada resistência em EGBs, mantendo-se efetiva para o tratamento de infecções causadas por estes microrganismos. A resistência aos macrolídeos e lincosamídeos entre EGB tem sido relatada por diversos autores, tendo como conseqüência, a não utilização destas drogas, as quais são consideradas as principais alternativas para o tratamento de pacientes sensíveis a penicilina (NAKAMURA, 2010). O EGB também tem desenvolveu resistência a outras classes de antimicrobianos, como as tetraciclinas e fluoroquinolonas. A resistência a tetraciclina é bastante disseminada em diversas espécies bacterianas e seus determinantes genéticos são frequentemente encontrados em elementos moveis como plasmídeos ou transposon, muitas vezes associados aos determinantes de resistência aos macrolídeos (NAKAMURA, 2010). Alguns dados mundiais sobre o perfil de susceptibilidade a antimicrobianos indicam que o EGB é sensível a drogas, como os lactâmicos e vancomicina, enquanto que a resistência a macrolídeos, lincosamídeos, tetraciclinas e fluoroquinolonas vem ocorrendo em diferentes regiões geográficas (NAKAMURA, 2010). No ano de 2004, Motlová et al. realizaram um estudo na República Tcheca, onde foi observada uma taxa de resistência a eritromicina e à clindamicina de aproximadamente 3,0%. Gonzalez et al. (2005), observaram 12,4% de resistência a eritromicina e 11,8% à clindamicina.Nos EUA, Chohan et al. (2006), observaram resistência de 10,0% a ambos antimicrobianos. Já na Grécia foram analisadas amostras de EGB isoladas de diferentes infecções em adultos não grávidos, e foi possível observar susceptibilidade a penicilina, cefotaxima e vancomicina e 44,0% apresentaram-se susceptíveis a eritromicina e 14,2% a clincamicina (FALAGAS et al., 2006). Estudos realizados no Brasil apresentam dados condizentes com os da literatura internacional, demonstrando a sensibilidade a penicilina, a alta resistência a tetraciclina e a resistência variável a eritromicina e clindamicina. A resistência a tetraciclina é extremamente disseminada, com relatos de estudos realizados em diferentes regiões, nos quais a incidência excede 80,0% (NAKAMURA, 2010). Conclusão No Brasil os dados epidemiológicos de infecções por S. agalactiae não são bem conhecidos. Não existe um programa de vigilância específico para averiguar casos e mortes por essa infecção na população. Em geral estudos mostraram que a prevalência de colonização e a incidência de infecções em parturientes e neonatos têm-se apresentado semelhante aos países desenvolvidos. Atualmente o EGB é considerado um dos principais responsáveis por causar infecções invasivas em recém-nascidos. E quanto mais intensa a infecção materna, mais chances há do recém-nascido ter a 39 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FASSINA, Jaqueline Romani; PIMENTA- RODRIGUES, Marcus Vinicius infecção. A prematuridade também pode ser considerada um fator de risco para a sepse precoce por EGB. A colonização pode variar dependendo com vários fatores como grupo étnico, localização geográfica e idade. Apresentando-se maior em mulheres hispânicas, seguidas pelas negras e brancas, mulheres mais velhas e com menos números de partos. Diabetes melittus, estado civil, freqüência sexual bem como o número de parceiros, hábito de fumar também são fatores que podem ter influência com a colonização por EGB. O método mais utilizado para a pesquisa de EGB consiste no cultivo combinado de swab anal e vaginal, em um meio de caldo seletivo. Pois os principais locais de isolamento do EGB são as mucosas vaginal e ano-retal, locais onde a flora bacteriana é abundante e heterogênea. A alta incidência de bacteriúria nas mulheres ressalta a importância da realização de exames de cultura de urina, possibilitando assim a identificação e monitorando a resistência bacteriana. Referências Bibliográficas BEITUNE, P. E.; DUARTE, G.; MAFFEI, C. M. L. Colonization by Streptococcus agalactiae During Pregnancy: Maternal and Perinatal Prognosis. The Brazilian Journal of Infectious Diseases. Vol. 9, n.3, p. 276-282, july. 2005. BORGER, I. L. Estudo da colonização por Estreptococcus agalactiae em gestantes atendidas na maternidade escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2005. 67 f. Dissertação (Pós graduação em Patologia) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005. BORGER, I. L. et al . 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