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Guerra Fria no Terceiro Mundo

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
 
 
 
 
 
 
GUERRA FRIA NO TERCEIRO MUNDO – ASPECTOS GERAIS E AMÉRICA LATINA 
 
 
 
 
 
 SÃO PAULO
2019
 
 
MIKAELA RODRIGUES BONETTO  RA00204777
Este trabalho tem como objetivo primeiramente descorrer sobre a ascensão dos países do Terceiro Mundo no contexto da Guerra Fria, identificando seu aspectos gerais e aspectos regionais, sendo este último a América Latina, mais especificamente no caso do golpe militar da Guatemala, tendo como base os textos de Maurce Vaisse e Odd Arne Westad
Guerra Fria no Terceiro Mundo – Aspectos gerais 
É de conhecimento comum que os países do Terceiro Mundo, logo após o acarretamento de diversas crises como a crise de Cuba, têm seu papel cada vez mais reafirmado no sistema internacional. Em um contexto onde países conquistaram e lutaram pelas suas independências, adquirindo o status de países “recém independentes”, o número de membros da Organização das Nações Unidas dá um salto exponencial. Tal acontecimento se demonstra significativo na medida em que a ONU é tida como uma organização que representa os interesses globais. Portanto, a participação, em grande peso, dos países do Terceiro Mundo nesta forma de governança global, coloca em cheque os interesses das grande potências. 
Outra forma de posicionamento se deu com os primeiros encontros dos não engajados, compostos majoritariamente por países do Terceiro Mundo que rejeitavam a necessidade de se alinhar tanto aos Estados Unidos da América, quanto à União Soviética. Apesar do grupo dos “não-engajados” não representar de fato uma coesão real, suas similaridades como países ex-colonizados era inevitável. Portanto, esta aliança tinha o papel fundamental de equilibrar forças perante as duas principais potências e reafirmar seu posicionamento anti-imperialista.
Ainda que estes países tenham se organizado e formado alianças, era inegável o atraso econômico e social dos países que compunham o Terceiro Mundo perante aos chamados países desenvolvidos. Os tantos anos de colonização e exploração por parte das potências haviam deixado marcas profundas, tornando difícil e limitada a ascensão do Terceiro Mundo. 
Apesar dos aspectos financeiros e sociais, os países do Terceiro Mundo acabam adquirindo um papel fundamental na disputa entre o ocidente e o oriente, tendo em vista que as duas grandes potências foram fortemente impactadas por essa modificação nas relações interacionais que foi a ascendência do Terceiro Mundo. 
Uma região que teve bastante destaque nesta disputa entre ocidente e oriente foi a América Latina. Após a ascensão de Fidel Castro em Cuba, os Estados Unidos da América passaram a voltar suas atenções para região, com certo receios relacionado a sua esfera de influência sobre a região além de algumas questões também econômicas. O exemplo cubano para os países da região representava grande riscos para os Estados Unidos, porque, afinal, a miséria na América Latina era grande e diante desse cenário, muitos grupos foram à luta. 
Desta forma, os Estados Unidos passam a agir de forma direta, a fim de conter a onda ideológica comunista presente a região. Esta ação se deu por meio de financiamentos de grupos conservadores e ditatoriais por toda a América Latina, por meio do discurso de reestabelecer a ordem política e social da região. Com isso, a América Latina se torna palco de diversas ditaduras violentas e sangrentas financiadas pelos Estados Unidos da América. 
Guerra Fria no Terceiro Mundo – América Latina
A ação dos Estados Unidos na América Latina foi claramente mais efetiva e presente do que a da União Soviética. Muito disso se deu pela sua proximidade para com a região mas também pela sua força econômica. Desta forma, os arranjos e alianças dos Americanos com as elites locais dos países da região não demonstrou dificuldades. 
A primeira intervenção direta dos Estados Unidos pós-guerra se deu na Guatemala, em 1954. Neste caso, apesar da preocupação dos Americanos da região como um todo, eles acharam que o regime do presidente Jacobo Arbenz, na Guatemala, era muito mais ameaçador por representar um excesso de nacionalismo juntamente com um isolacionismo. 
O presidente Jacobo, eleito democraticamente, almejava por justiça social para a população, além de ser muito próximo à sindicatos de trabalhadores. Jacobo adotou também uma política de controle ao capital estrangeiro e uma política externa independente, diferente do regime que o antecedeu, do ditador Ubico em 1944, apoiador dos Estados Unidos, no qual Jacobo teve uma participação ativa para queda do regime ditatorial. 
O motivo pelo qual Jacobo era considerado uma ameaça, dotado de um discurso “subversivo” pelos Estados Unidos era claro. O presidente Guatemalteco defendia fortemente reformas de base, como, por exemplo, a reforma agrária. Era realidade que a Guatemala, assim como muitos outros países da América Latina, tinham uma porcentagem grande da população que eram campesinos, mas apesar disto, grande parte das terras pertenciam a grandes multinacionais e latifundiários. Portanto, se fazia necessário para Jacobo que estas terras fossem redistribuídas tornando-as mais produtivas e dando moradia e trabalho a quem precisasse.
Grande parte da complicação para com a Guatemala se deu por conta de uma transnacional americana chamada US United Fruit Company. Esta empresa dominava, de certa forma, a economia da Guatemala, recebendo forte investimento vindo dos Estados Unidos. A empresa era responsável pela plantação de bananas, exportações e importações. Com as novas políticas implementadas pelo presidente Jacobo, a United Fruit Company viu seus interesses econômicos ameaçados pelo governo. Isso porque, enquanto a maior parte da população guatemalteca detinham menos de 10% das terras do país, a empresa americana era proprietária de mais de 50% das terras, sendo que uma parte pequena desta porcentagem era de fato produtiva. Logo, o temor de que o amplo domínio da empresa sobre as terras guatemaltecas fosse mudar era grande. Houve também acusações por parte de proprietários da empresa americana dizendo que o presidente era comunista e servia aos interesses da União Soviética.
A medida em que o partido de Jacobo ia ganhando força e sua relação com o Partido Comunista Guatemalteco (chamado de Partido Guatemalteco del Trabajo, PGT) crescia cada vez mais, a preocupação dos Estados Unidos também aumentou. Com receio que as ideias de Jacobo se espalhassem pela América Latina, o presidente Eisenhower deu ordem para que a CIA treinasse e financiasse os grupos opositores em Honduras, país vizinho da Guatemala. 
Esta foi uma decisão estratégica por parte dos americanos pelo fato de que Honduras vivia sob um regime ditatorial fortemente influenciado pelos Estados Unidos, facilitando assim o fortalecimento dos opositores. O discurso americano para tal feito, era sempre aquele de apontar a ameaça comunista, o comportamento dito subversivo, e alguns outros termos pejorativos, por parte do presidente Guatemalteco e o desejo de restaurar a ordem no país.
Era certo de que a vulnerabilidade da Guatemala frente a qualquer ação dos Estados Unidos também era grande. O presidente Jacobo não expunha vontade alguma de alinhar-se a União Soviética ou qualquer outra potência que pudesse proteger seu país. 
Após algumas tentativas frustradas por parte do exército Hondurenho em enfrentar o exército da Guatemala, um ataque aéreo por parte dos americanos a bases militares e a cidade guatemalteca foi bem sucedida. O presidente guatemalteco foi deposto em 1954, e com o apoio dos Estados Unidos, Castillo Armas se tornou o novo presidente. 
Essa experiência bem sucedida por parte dos Estados Unidos em recuperar o controle e a influência sobre um país da América Latina foi extremamente importante. Os americanos entenderam que os países da região poderiam ser controlados com sucesso através de líderes ditatoriais alinhados à eles próprios com a desculpa de que era uma medida extremamente necessária para evitar que ocomunismo se apossasse da região e, acima de tudo, proteger a democracia e o capitalismo, ameaçados por essas ideologias de esquerda. Assim, a Guatemala se tornou o exemplo do que estava por vir sobre toda a América Latina. Essa operação experimental secreta foi chamada PBSUCCESS, uma espécie de laboratório para futuras intervenções.
Bibliografia
Odd Arne Westad. The Global Cold War: Third World Interventions and the Making of Our Times.
Vaisse, Maurice. As Relações Internacionais depois de 1945. Martins Fontes, 2013. O Terceiro Mundo na Era da Distensão

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