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2014_Artigo Anais - URBFAVELAS

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Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas
13 a 15 de novembro de 2014
São Bernardo do Campo SP
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Seminário Nacional sobre 
Urbanização de Favelas objetiva 
debater as características, 
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avanços e desafios do Programa 
de Aceleração do Crescimento – 
Urbanização de Assentamentos 
Precários (PAC-UAP) nas 
cidades brasileiras. 
O
apoio
promoção
1
Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas
13 a 15 de novembro de 2014
São Bernardo do Campo SP
FAVELAS
2
promoção
Universidade Federal do ABC – Programa de Pós Graduação Planejamento 
e Gestão do Território (PPGPGT-UFABC)
apoio
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Ministério das Cidades
Cities Alliance
Anpur
Consórcio Intermunicipal do ABC
Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LABHAB) 
Mackenzie
comissão organizadora
Profa. Dra. Rosana Denaldi (UFABC)
Ana Gabriela Akaishi (UFABC)
Profa. Dra. Cláudia Paiva (UFABC)
Paulo Emilio Buarque Ferreira (FAU Universidade Mackenzie SP)
Nilza Aparecida de Oliveira (PMSBC)
comissão científica
gt1 
programa, projeto e obra para favela
Coordenação: Ricardo Moretti (UFABC)
Maria Lúcia Refinetti Martins (FAU-USP)
Maria de Lurdes Zuquim (FAU-USP)
Rosana Denaldi (UFABC)
Simone Aparecida Polli (UFPR)
Luciana Travassos (UFABC)
Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas
FAVELAS
3
GT2 
tratamento e gestão de risco nos 
projetos de urbanização de favela
Coordenação: Fernando Rocha Nogueira (UFABC)
Cláudia Francisca Escobar de Paiva (UFABC)
Eduardo Soares de Macedo (IPT)
Noris Costa Diniz (UnB)
Roberto Quental Coutinho (UFPE)
gt3 
reassentamento e a dimensão social 
dos projetos de urbanização
Coordenação: Karina Leitão (FAU-USP)
Luciana Lago (IPPUR/UFRJ)
Luiz Renato Bezerra Pequeno (UFCE)
Maria do Carmo Brant (PUC-SP)
Regina Dulce Barbosa Lins (UFAL)
Silvia Helena Passarelli (UFABC)
equipe ufabc 
Profa. Dra. Claudia Francisca Escobar de Paiva
Prof. Dr. Fernando Nogueira
Profa. Dra. Kátia Canil
Prof. Dr. Ricardo Moretti
Profa. Dra.Rosana Denaldi
Ana Gabriela Akaishi
Aloá Dandara
Amanda Mamede
Amanda Clemente
Aramis H. Gomes
Camila Brity
Camila Pereira
Claudia C. Mascarenhas
David Batista de Paula
Débora Prado Zamboni
Ellen Carulli
Eric A. C. da Costa
Felipe Bravin Benitez Ferreira
Francisco S. V. Coelho
Gabriel Alvarez
Gabriella Castro
Gilmara da Silva Gonçalves
Ingrid Sakamoto
Isabela Thobias
Juliana Petrarolli
João C. S. Barbosa
João Vitor Macarini
Juliane Galindo
Kaio Nogueira
Karina Ayumi Saito
Marilia Leite
Patricia C. do Carmo
Pedro Yukas
Pollyanna Silva
Renan Telles Cardoso
Rogério Rodrigues
Roberta Pegorer Lara de Moraes
Rodileir Silva Morais
Sabrina Nascimento
Tamires Santos
Victor Mendes Del Prete
4
apoio
promoção
Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas
FAVELAS
23
ROCiNhA: dESCARTE iNCORRETO dO LixO E AS iMPLiCAçõES PARA 
A qUALidAdE dE VidA dA POPULAçãO LOCAL – UMA qUESTãO 
SOCiOAMBiENTAL URBANA
Maria Izabel de Carvalho
ENTULhO NAS COMUNidAdES AFETAdAS PELO PROGRAMA ViLA ViVA EM 
BELO hORizONTE: GESTãO OU AMPLiAçãO dE RiSCOS SOCiOAMBiENTAiS
Cecília Reis Alves dos Santos; Paula Oliveira Mascarenhas Cançado; Lívia 
Bastos Lages; Tays Natalia Gomes; Paula Miller Starling; Márcia Helena Batista 
Corrêa da Costa
qUESTõES SOCiOAMBiENTAiS dE LARANJAL dO JARi/AP: 
iNTERVENçõES POR OBRAS dO ACASO
Eliana do Socorro de Brito Paixão; Ana Maria de Oliveira Cunha 
GT3: REASSENTAMENTO E A diMENSãO SOCiAL 
dOS PROJETOS dE URBANizAçãO 
SESSãO 3.3: REASSENTAMENTO NO âMBiTO dO PROGRAMA MCMV 
	 14	nov	•	8h30	–	10h30	•	Sala	a5	/	Bloco	Beta	
Coordenador: Luciana Lago (UFRJ)
FAVELA PARTidA: POLíTiCAS dE REASSENTAMENTO E LUTA PELA 
PERMANêNCiA NA FAVELA dE iNdiANA
Juliana Canedo
dA FAVELizAçãO à REiNTEGRAçãO: O PROGRAMA MiNhA CASA MiNhA 
VidA COMO ALTERNATiVA à EFETiVAçãO dO diREiTO à MORAdiA NA 
CidAdE dE NATAL, RN
Jéssica Morais de Moura; Marcio Pereira Barreto; Ada Laís Soares de Morais
URBANizAçãO dE ASSENTAMENTOS PRECÁRiOS E 
iNTEGRAçãO dE iNVESTiMENTOS MUNiCiPAiS COM O PAC E O PMCMV – 
O CASO dE SãO BERNARdO
Nilza Aparecida de Oliveira; Tássia de Menezes Regino
93
GT3
| 68 | dA FAVELizAçãO à REiNTEGRAçãO: O PROGRAMA MiNhA CASA 
MiNhA VidA COMO ALTERNATiVA à EFETiVAçãO dO diREiTO à MORAdiA 
NA CidAdE dE NATAL, RN
Jéssica Morais de Moura (UFRN) - jessica_morais_moura@hotmail.com
BACHAREL EM GESTãO DE POLíTICAS PúBLICAS - UFRN, MESTRANDA EM ARQUITETURA E URBANISMO - PPGAU/UFRN, 
SUBCOORDENADORA DE ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DA SECRETARIA DE ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE DO 
PLANEJAMENTO E DAS FINANçAS
Marcio Pereira Barreto (UFRN) - marciobarretojc@gmail.com
LICENCIADO EM GEOGRAFIA - IFRN, BACHAREL EM GESTãO DE POLíTICAS PúBLICAS - UFRN, MESTRANDO EM ARQUITETURA 
E URBANISMO - PPGAU/UFRN
Ada Laís Soares de Morais (SEMURB) - ada.lais@hotmail.com
TéCNICA EM TURISMO - IFRN, BACHAREL EM GESTãO DE POLíTICAS PúBLICAS - UFRN, GESTORA DE POLíTICAS PúBLICAS DA 
SECRETARIA MUNICIPAL DE NATAL DE MEIO AMBIENTE E URBANISMO
As cidades brasileiras são marcadas por graves problemas no tocante à precariedade 
habitacional de inúmeras famílias que sobrevivem em péssimas condições de habitat. 
Assentamentos precários, favelas, loteamentos irregulares, aglomerações informais, 
seja qual for a denominação, o fato é que existem centenas de indivíduos que possuem 
os seus direitos constitucionais violados, vivendo em situações extremamente precá-
rias. O presente trabalho apresenta como objeto de estudo a transformação habitacional 
causada na vida de aproximadamente 403 famílias que antes residiam em três assen-
tamentos precários da cidade de Natal –RN (Assentamento Anatália, Assentamento 8 de 
Outubro e Assentamento Monte Celeste) e que foram recentemente beneficiadas com 
unidades habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida. O Residencial Vivendas 
do Planalto, conjunto do PMCMV construído em bairro vizinho ao dos assentamentos, 
apresenta-se como alternativa para solucionar a problemática que, só no território na-
talense, é composta por cerca de 70 assentamentos precários. O trabalho desenvolvido 
discute sobre relevantes questões referentes à provisão habitacional, considerando um 
estudo de caso da cidade de Natal para refletir sobre o processo de urbanização brasi-
leiro e o cenário atual no que concerne a efetivação do Direito à Moradia.
PALAVRAS-CHAVE: PRECARIEDADE HABITACIONAL; DIREITO à MORADIA; PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA.
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Seminário URBFAVELAS 2014
São Bernardo do Campo - SP - Brasil
DA FAVELIZAÇÃO À REINTEGRAÇÃO: O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA COMO
ALTERNATIVA À EFETIVAÇÃO DO DIREITO À MORADIA NA CIDADE DE NATAL-RN.
Jéssica Morais de Moura (UFRN) - jessica_morais_moura@hotmail.comBacharel em Gestão de Políticas Públicas - UFRN, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFRN,
Subcoordenadora de Acompanhamento e Controle da Secretaria de Estado do Rio Grande do Norte do Planejamento e
das Finanças
Marcio Pereira Barreto (UFRN) - marciobarretojc@gmail.com
Licenciado em Geografia - IFRN, Bacharel em Gestão de Políticas Públicas - UFRN, Mestrando em Arquitetura e
Urbanismo - PPGAU/UFRN
Ada Laís Soares de Morais (SEMURB) - ada.lais@hotmail.com
Técnica em Turismo - IFRN, Bacharel em Gestão de Políticas Públicas - UFRN, Gestora de Políticas Públicas da
Secretaria Municipal de Natal de Meio Ambiente e Urbanismo
 
1 
Da Favelização à Reintegração: o Programa Minha Cas a 
Minha Vida como alternativa à efetivação do Direito à 
Moradia na cidade de Natal-RN. 
 
RESUMO 
 
As cidades brasileiras são marcadas por graves problemas no tocante à 
precariedade habitacional de inúmeras famílias que sobrevivem em péssimas 
condições de habitat. Assentamentos precários, favelas, loteamentos irregulares, 
aglomerações informais, seja qual for a denominação, o fato é que existem centenas 
de indivíduos que possuem os seus direitos constitucionais violados, vivendo em 
situações extremamente precárias. O presente trabalho apresenta como objeto de 
estudo a transformação habitacional causada na vida de aproximadamente 403 
famílias que antes residiam em três assentamentos precários da cidade de Natal –
RN (Assentamento Anatália, Assentamento 8 de Outubro e Assentamento Monte 
Celeste) e que foram recentemente beneficiadas com unidades habitacionais do 
Programa Minha Casa Minha Vida. O Residencial Vivendas do Planalto, conjunto do 
PMCMV construído em bairro vizinho ao dos assentamentos, apresenta-se como 
alternativa para solucionar a problemática que, só no território natalense, é 
composta por cerca de 70 assentamentos precários. O trabalho desenvolvido 
discute sobre relevantes questões referentes à provisão habitacional, considerando 
um estudo de caso da cidade de Natal para refletir sobre o processo de urbanização 
brasileiro e o cenário atual no que concerne a efetivação do Direito à Moradia. 
 
PALAVRAS-CHAVE: 
Precariedade habitacional; Direito à Moradia; Programa Minha Casa Minha Vida. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A precariedade habitacional marca inúmeras paisagens das cidades brasileiras. 
Morando debaixo de lonas, tábuas, papelões e qualquer outro material que possa se 
transformar numa espécie de abrigo, vive um grande número de famílias no Brasil e, 
nesses locais, se observam condições mínimas de higiene e salubridade, quando 
elas existem. Esse é o cenário presente nas favelas, assentamentos informais e 
loteamentos clandestinos, onde moradores com direitos extremamente violados 
constituem suas famílias e desenvolvem suas atividades cotidianas. 
 
O presente trabalho busca refletir exatamente o contrário desse cotidiano: a 
transformação na habitação de aproximadamente 403 famílias beneficiadas pelo 
Programa Minha Casa Minha Vida na cidade de Natal-RN, e que agora deixam de 
ser moradoras de áreas impróprias e passam a residir no conjunto habitacional 
Vivendas do Planalto. Compreender o processo de reintegração promovido pelo 
programa, bem como discutir sobre o conceito de efetivação do Direito à Moradia, se 
faz indispensável no atual contexto de desenvolvimento das cidades e das políticas 
públicas de garantia dos Direitos Humanos. 
 
Nessa perspectiva, o trabalho é composto por quatro sessões, desencadeando um 
processo reflexivo que parte de uma discussão sobre a urbanização desenfreada e 
os reflexos para o setor habitacional, fazendo um registro histórico da composição 
 
2 
do déficit habitacional brasileiro e se apoiando em diversos estudos realizados 
principalmente por Erminia Maricato e Raquel Rolnik, especialistas no assunto. 
Posteriormente, inicia-se a discussão sobre a violação do Direito à Moradia na 
cidade de Natal-RN, apresentando informações e dados estatísticos que dizem 
respeito ao número de famílias que vivem em situações de risco, residindo em 
favelas, loteamentos ou assentamentos informais. Nesta sessão, há uma descrição 
das favelas que foram removidas para o conjunto do PMCMV, contemplando 
informações levantadas pelos órgãos municipais sobre a sua formação e o registro 
fotográfico com ilustrações e mapas temáticos do atual caso de Natal, no que diz 
respeito à habitação popular precária. 
 
Após esses capítulos iniciais que situam o leitor desde o processo de urbanização e 
formação dos aglomerados urbanos informais até a situação vivenciada na cidade 
de Natal, parte-se para a discussão mais relevante, onde apresenta-se o Programa 
Minha Casa Minha Vida como alternativa a efetivação do Direito à Moradia. 
Informações mais gerais sobre o programa são introduzidas a fim de se discutir 
sobre o estudo de caso de Natal-RN, através da construção do conjunto habitacional 
Vivendas do Planalto que promoveu o reassentamento de famílias que antes 
habitavam em três favelas do município (Assentamento Anátalia, Assentamento 8 de 
Outubro e Assentamento Monte Celeste). 
 
Nesse sentido, se faz fundamental compreender que a remoção dessas famílias 
para um local mais seguro e que oferece condições dignas de um habitar faz parte 
de uma iniciativa governamental que, atendendo às pressões sociais de uma 
população historicamente marginalizada, passou a promover alternativas para a 
provisão da casa própria, reintegrando famílias que antes viviam em condições 
muitas vezes sub-humanas. Tais reflexões são sintetizadas nas considerações finais 
deste trabalho, reunindo elementos que sinalizam para uma avaliação bastante 
positiva desse espectro do programa MCMV, apesar dos inúmeros desafios que ele 
ainda tem há enfrentar. 
 
Como procedimentos metodológicos que nortearam a elaboração deste trabalho, 
esclarece-se que essa pesquisa advém do desdobramento de estudo anterior 
realizado por Moura (2013) que mapeou e identificou aspectos referentes a 
segregação de desterritorialização dos conjuntos habitacionais do Programa Minha 
Casa Minha Vida na Região Metropolitana de Natal. Além disso, o trabalho está 
relacionado com a aplicação de questionários em conjuntos do MCMV em outros 
municípios do Estado do Rio Grande do Norte, cumprindo as etapas de edital 
aprovado pelo Ministério das Cidades, o qual tem como título “Análise Estratégica e 
Qualitativa do Programa Minha Casa, Minha Vida: Mapeando Resultados 
Socioeconômicos e Definindo Procedimentos de Monitoramento, Avaliação e 
Retroalimentação”, e que ainda se encontra em fase de execução. Como a entrega 
do conjunto Residencial Vivendas do Planalto e a ocupação das casas ainda é 
bastante recente, o presente estudo contempla em sua essência questões teóricas, 
subsidiadas pela análise dos normativos técnicos do PMCMV e por informações 
municipais levantadas principalmente na Secretaria Municipal de Habitação, 
Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes – SEHARPE e na Secretaria 
Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB. 
 
 
3 
A abordagem participativa contempla os registros levantados pelos órgãos 
municipais, os quais divulgaram notas de entrevistas nas quais os moradores 
reassentados afirmam que essa transformação habitacional é uma luta que acabou 
com sentimentos de vitória. Tais abordagens contribuíram para que a pesquisa 
tivesse um viés mínimo participativo, uma vez que não se foi possível aplicar 
técnicas de aplicação de questionários e/ou realização de grupos focais, dada a 
ocupação recente do conjunto habitacional. 
 
Em suma, este trabalho visa fomentar a discussão sobre as recentes iniciativas de 
combate a habitação irregular precária, apresentando uma proposta implementada 
na cidade de Natal-RN e articulando autores que descrevem sobre o processo de 
urbanização e formação das cidades brasileiras, buscando, sobretudo, avançar na 
luta sobre a construção de cidades mais justas no tocante ao habitar e ao viver. 
 
1 A URBANIZAÇÃO DESENFREADA E OS REFLEXOS NO SETOR 
HABITACIONALCom o crescimento das cidades, acompanhado do intenso êxodo rural, a 
urbanização inevitavelmente não se deu de maneira gradual. Por isso, entre outros 
fatores, o planejamento urbano deixou lacunas no que concerne à produção de 
moradia e de infraestruturas de serviços urbanos indispensáveis a vivência da 
população. O contingente populacional menos favorecido economicamente, em 
particular o que saiu do campo para a cidade, não encontrou estruturas que 
possibilitassem o seu desenvolvimento humano pleno. Os indivíduos, não tendo 
condições de se manter nas estruturas formais das áreas mais centrais da cidade, a 
não ser, em certos casos, as áreas mais degradadas do centro antigo, passaram a 
ocupar terrenos na periferia e em favelas, muitas vezes impróprios para a moradia 
(VALENÇA, 2010). 
 
As cidades brasileiras enfrentam ainda nos dias atuais graves consequências dessa 
ocupação desenfreada do território. São inúmeras habitações consideradas 
irregulares e o número estimado pelo IBGE chega a um total de 11.425.644 de 
pessoas, o equivalente a 6% da população do país, que vive no Brasil em 
aglomerados subnormais (CENSO 2010). Além do mínimo de condições 
habitacionais, considera-se como aglomerados subnormais, as ocupações de locais 
públicos ou particulares quem sofrem com a ausência ou a inadequação de serviços 
públicos de qualidade, além de estarem distribuídas de maneira desordenada no 
território. Os dados revelados pela pesquisa do Déficit Habitacional Municipal no 
Brasil 2010, da Fundação João Pinheiro, em parceria com o Ministério das Cidades, 
apontou um déficit de 6,940 milhões de unidades habitacionais, classificando como 
“déficit” não somente a falta de casas, mas sim as inadequadas condições de 
habitabilidade e salubridade. 
 
Mike Davis (2006) na sua obra denominada “Planeta Favelas”, discorre sobre esse 
caótico cenário de intensa urbanização e, consequentemente, violação do direito à 
moradia. Num contexto de favelização e de empobrecimento das cidades, o autor 
informa que a população das favelas cresce na base de 25 milhões de pessoas a 
cada ano – conforme dados da UN-Habitat. No Brasil, o crescimento explosivo das 
cidades a partir dos anos 1980, originou as periferias abandonadas, mais tarde 
denominadas de favelas, e que surgiram quando as grandes levas de trabalhadores 
 
4 
ficaram sem alternativa de moradia. Maricato (2007) descreve o cenário causado 
pelo aumento do desemprego e da pobreza urbana, relatando que as imagens das 
cidades brasileiras deixaram o imaginário de modernos centros industriais que iriam 
superar o atraso e a violência e passaram a representar crianças abandonadas, 
epidemias, enchentes, desmoronamentos, tráfego, poluição do ar, poluição dos rios, 
favelas e violência. Trata-se da “Cidade (I)legal”, descrita por Valença (2008) e que é 
composta por ilegalidades, informalidades e irregularidades, termos que 
caracterizam as cidades contemporâneas, sobretudo no que se refere ao acesso à 
terra e violação do direito à moradia. 
 
Lefebvre em 1999 abordou esse processo, conceituando de Revolução Urbana as 
transformações ocorridas no território e assentando o seu pensamento na hipótese 
da urbanização completa da sociedade. O autor, partindo da concepção de 
reconfiguração das relações espaciais, esclarece que as cidades passam por um 
processo de implosão, marcado por uma intensa concentração de pessoas, de 
atividades e de serviços. Além disso, paralelamente a este processo, a cidade 
também passa a conviver com uma dinâmica de explosão, processo caracterizado 
pela fragmentação espacial e relacionado com a expansão do espaço urbano para 
territórios vizinhos, espraiando o tecido urbano. Desses conceitos, é possível extrair 
variadas implicações para as relações sociais, econômicas, políticas e ambientais, 
considerando que as intensas transformações no território urbano provocam a 
existência de diversos fenômenos, os quais, quando combinados, sintetizam a 
estruturação do espaço. Características, como a informalidade, a periferização, a 
segregação e a desterritorialização, são oriundas desse complexo processo de 
ocupação das cidades. Daí as cidades híbridas, que, conforme apontamentos de 
Abramo (2009, p.43), são compactadas e difusas, pois “produz uma estrutura urbana 
informal [e também formal] mais compacta nas áreas consolidadas e mais difusa nas 
franjas urbanas”. 
 
Essa perspectiva vem incorporando novas realidades, na medida em que se 
instaurou um intenso processo social de construção de uma cultura de direitos. A 
luta pelo direito à cidade e pelo direito à moradia surge em contraposição a esse 
modelo de urbanização excludente, que ao longo de décadas de urbanização 
acelerada absorveu elevados contingentes de pessoas pobres, sem, entretanto, 
integrá-las efetivamente às cidades. De acordo com levantamento realizado por 
Rolnik (2009), a partir do final dos anos 1970, moradores de assentamentos 
informais, periferias e favelas das cidades, aliados a setores das classes médias 
urbanas, consolidaram as bases de um movimento pela Reforma Urbana, o qual 
estava comprometido com a luta pela ampliação da cidadania, incluindo a melhoria 
de serviços públicos e investimentos em favelas e periferias, garantindo direitos 
básicos da população. 
 
Uma série de intervenções passaram a permear o cenário da construção de uma 
agenda pública, iniciando novas práticas e políticas de regularização e urbanização 
de favelas e a promulgação de legislações específicas, capazes de tratar dos 
direitos dessas demandas historicamente violados, tal como o caso da promulgação 
do Estatuto da Cidade (lei n. 10.257, em 2000), da Lei do Fundo Nacional de 
Moradia Social (lei n. 11.124, em 2005), além da criação do Ministério das Cidades 
em 2003, órgão responsável pela integração das políticas de habitação, 
 
5 
saneamento, desenvolvimento urbano e mobilidade urbana e do Sistema Nacional 
de Habitação de Interesse Social – SNHIS, em 2005. 
 
Nesse sentido, observa-se a construção de um modelo de enfrentamento do déficit 
habitacional brasileiro, articulado com os três níveis de governo e que teve como 
trunfo mais recente o Programa Minha Casa, Minha Vida, implantado a partir de 
2009. Porém, conforme ressalta Maricato (2011), “essas conquistas são 
relativamente recentes e as mudanças são lentas, já que envolvem uma cultura 
histórica – ou de raízes escravistas – de exclusão social”. 
 
Em síntese, apesar dos significativos avanços constitucionais, na prática, as cidades 
brasileiras ainda travam lutas cotidianas na busca da efetivação do direito à moradia, 
reflexas do processo de produção e apropriação do espaço urbano, o qual há 
décadas reproduz as desigualdades e as contradições sociais, conforme 
demonstram-se nas próximas sessões. 
 
2 VIOLAÇÃO DO DIREITO À MORADIA: O PROCESSO DE FAVE LIZAÇÃO EM 
NATAL-RN 
 
A dinâmica urbana no município de Natal mostra-se bastante acelerada e reflete 
paisagisticamente e socialmente uma segregação territorial e desigualdade social 
que geram problemas diversos, que vão desde a omissão do Direito à Moradia 
digna, passando pela limitação ao acesso à bens e serviços públicos, segurança 
estrutural e tantos outros fatores que auxiliam fortemente na estagnação social de 
pessoas que historicamente já são marginalizadas. 
 
A cidade do Natal, capital do Estado do Rio Grande Norte, contava em 2013 com 
uma população de aproximadamente 854 mil habitantes, conforme dados levantados 
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. No que se refere a o 
número de habitantes que residem em assentamentos precários, os estudos mais 
recentes realizados para a elaboração do Plano Local de Habitação Social de Natal, 
revelam que em 2008 haviam 92.942 habitantes morando em 70 assentamentos 
precários, distribuídos nas quatro regiões administrativas do município e vivendo em 
diversas situações de risco e vulnerabilidade. 
 
Tais informações permitem considerar que numa cidade que se encontra numnúcleo metropolitano, sendo responsável por mais da metade do desenvolvimento 
econômico do Estado, existe uma significativa parcela da população que enfrenta 
diariamente as consequências da violação do direito à moradia. As ocupações 
irregulares do município se distribuem em todo o território, estando principalmente 
localizadas à margem do Rio Potengi, nas faixas de mangue - que são ambientes 
insalubre, sob risco de alagamento -, em assentamentos sob áreas de influência de 
torres de alta tensão elétrica, em áreas de domínio da via férrea e em Áreas de 
Proteção Permanente com fragilidades ambientais diversas. Em suma, os fatores de 
riscos que caracterizam a informalidade dessas ocupações são inúmeros, gerando 
graves consequências para uma população que não vê alternativas que permitam a 
transformação na sua realidade habitacional. 
 
O mapa abaixo especializa os 70 assentamentos precários da cidade do Natal, 
identificados pelo Diagnóstico do Setor Habitacional e que subsidia a elaboração do 
 
6 
Plano Local de Habitação Social de Natal. Os assentamentos precários delimitados 
no mapa foram identificados de acordo com levantamento de campo realizado nos 
anos de 2011 e 2012, por equipe de consultores do Idesplan, que utilizou como 
critério para a classificação de assentamento precário todas as metodologias 
existentes - Ministério das Cidades, Plano Municipal de Redução de Riscos - 
PMRR(2008) e Plano Diretor de Natal - PDN 082 (2007). 
 
 
Mapa 1 - Espacialização dos Assentamentos Precários de Natal – RN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
 
7 
Em virtude de um crescimento urbano consideravelmente acelerado, Natal 
apresenta intensos problemas socioambientais de exclusão e vulnerabilidade 
habitacional, existindo áreas com baixos níveis de habitabilidade e sérios problemas 
estruturais, à exemplo dos assentamentos Anatália, 8 de outubro e Monte Celeste, 
todos localizados no bairro Guarapes - Zona Administrativa Oeste do município - e 
que estão sendo objetos de análise desse trabalho, umas vez que passaram por um 
processo de transformação habitacional e social, através do reassentamento de 
famílias para um conjunto habitacional do Programa Minha Casa Minha Vida. Abaixo 
apresenta-se a caracterização desses assentamentos, identificando os principais 
fatores de risco que impulsionaram a recente realocação dessas comunidades, bem 
como a delimitação espacial e o registro fotográfico da precária situação 
habitacional. 
 
ASSENTAMENTO ANATÁLIA DE SOUZA ALVES 
 
As ocupações do assentamento urbano Anatália de Souza Alves, iniciaram em julho 
de 2010. Influenciadas pela busca por moradia, cerca de 270 famílias se instalaram 
de forma irregular no bairro do Guarapes, numa situação de extrema vulnerabilidade 
social que ilustra fortemente a violação ao direito a moradia, visto que além da 
ausência de uma condição habitacional digna, os moradores do assentamento 
sofriam com a dificuldade de acesso à saúde, educação, mobilidade urbana, 
saneamento adequado e tantos outros direitos básicos. 
 
As famílias que ali se instalaram e que tinham seus principais direitos violados 
moravam debaixo de lonas, tabuas e papelões, não tinham acesso à água potável, 
sendo a única fonte de acesso a este bem essencial à vida humana um tanque 
comunitário que não possuía nem mesmo tampa - o que presume a má qualidade 
dessa água e ambiente propício a reprodução do mosquito da dengue. Além disso, a 
rede de energia elétrica era improvisada, o que elevava intensamente o risco de 
incêndio na comunidade. 
 
Figura 1 – Energia Improvisada no Assentamento Anatália de Souza Alves. 
 
 
Fonte: Revista Natal, 2013. 
 
Tendo em vista que o direito habitacional não se limita a um lugar físico para morar e 
que a moradia adequada está inserida numa ampla estrutura, que contempla a 
acessibilidade a escolas, postos de saúde, saneamento adequado, segurança, 
mobilidade urbana, áreas de lazer, entre outros requisitos, percebe-se claramente 
 
8 
que os moradores do Assentamento Anatália tinhas esses direitos cotidianamente 
negados, se configurando em uma favela desumana e perigosa. 
 
ASSENTAMENTO 8 DE OUTUBRO 
 
Localizado em um amplo terreno do bairro Guarapes, ao lado do Conjunto Dinarte 
Mariz, o Assentamento 8 de Outubro foi erguido em uma área onde não existem 
riscos ambientais, apesar do elevado nível de precariedade das moradias 
construídas com materiais improvisados e extremamente inadequadas a dignidade 
humana, o que caracterizava o assentamento como “não passível de adequação”. 
Além disso, as ocupações também, não seguiam um traçado urbanístico e desta 
forma não era possível definir um sistema viário, o que contribuía ainda mais para a 
não consolidação do assentamento. 
 
Mapa 2 – Localização do Assentamento 8 de Outubro 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
Aos 780 habitantes do Assentamento 8 de outubro, não era omitido apenas o direito 
a habitação digna. A comunidade ora apresentada, também sofria com a falta de 
acesso a serviços básicos de saúde, educação, lazer, saneamento, transporte 
público, comércios, entre tantos outros direitos que quando cumpridos resguardam a 
vida digna do cidadão. 
 
9 
Figura 2 - Assentamento 8 de Outubro 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
Devido aos vários problemas estruturais apresentados, essa foi uma das 
comunidades que famílias foram contempladas pelo programa MCMV, tendo uma 
completa transformação habitacional e que agora passarão a conviver num espaço 
que assegura as condições mínimas de vivência. 
 
ASSENTAMENTO MONTE CELESTE 
 
Também localizado no bairro do Guarapes, o assentamento Monte Celeste ocupa 
parte da Zona de Proteção Ambienta 4 – ZPA 4, a qual é formada por dunas que 
contribuem para a drenagem natural da área e para a manutenção da vazão e 
perenidade do rio Jundiaí/Potengi e a do rio Pitimbu. Além de ocupar uma ZPA, a 
comunidade em questão também está inserida numa faixa de domínio de Alta 
Tensão e está sob risco de deslizamento – visto sua ocupação ser em solo dunar. 
 
Devido a sua localização, a comunidade sofria com a dificuldade do acesso de 
veículos, que era limitado e afetava diretamente nos serviços de coleta de lixo, o que 
causava acúmulo de resíduos sólidos e consequentemente tornava o ambiente 
insalubre, o que contribuía fortemente com o aumento de riscos a saúde dos 
moradores. Além disso, e assim como nos assentamentos precários apresentados 
anteriormente, está ocupação irregular foi situada distante da área urbanizada mais 
próxima e não tinha acesso aos principais serviços públicos. 
 
Figura 3 – Assentamento Monte Celeste. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional 
 
10 
Mapa 3 – Localização do Assentamento Monte Celeste. 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
Entre tantos problemas cotidianos, os moradores do Assentamento Monte Celeste, 
ainda tinham que conviver com a ausência de abastecimento de água, esgotamento 
sanitário e iluminação pública, o que se faz perceber a total falta de condições de 
habitabilidade, salubridade e principalmente dignidade humana que os moradores 
enfrentavam nesse assentamento irregular. 
Diante das informações expostas, fica clara a fragilidade habitacional existente na 
capital do Rio Grande Norte. São inúmeras família carentes de habitação digna, 
saúde, educação, segurança, vivendo em condições insalubres e desumanas. São 
70 assentamentos precários com moradores que buscam o direito à moradia e que, 
ao serem marginalizados e esquecidos, “sobem o morro”, “ocupam lagoas”, 
“adentram o mangue” e vivem em áreas de risco com o simples intuito de terem um 
lugar para se abrigar. Nesse contexto, cabe, no entanto, refletir sobre alternativas de 
transformação dessa realidade, tal como a recente reintegração de famílias oriundas 
dessesassentamentos e que foram beneficiadas com um programa habitacional de 
construção da casa própria que tem colaborado com a alteração desse cenário, 
proporcionando para essas famílias um novo horizonte, com direitos mais 
respeitados e uma sociedade mais justa, conforme se aborda adiante. 
 
11 
3 O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA COMO ALTERNATIVA PARA 
EFETIVAÇÃO DO DIREITO À MORADIA: ESTUDO DE CASO DO CONJUNTO 
VIVENDAS DO PLANALTO – NATAL/RN 
“É uma conquista. Uma vitória de muito tempo de luta. Aqui tudo é 
difícil. A gente carregou muita água. A energia vivia num ‘corta, 
corta’. E o pior era a falta de segurança”. (Ex-moradora do 
Assentamento Anatália e beneficiária do PMCMV em entrevista à 
Prefeitura Municipal de Natal, em maio de 2014). 
As precárias condições habitacionais de famílias que vivem em assentamentos 
informais marcam um profundo cenário de violação do Direito à Moradia. Até aqui, 
foram apresentadas reflexões sobre as situações atuais das cidades brasileiras, 
ilustrando principalmente o caso do município de Natal. O fato é que essa 
característica não é peculiar de apenas um município brasileiro, mas sim da maioria 
das cidades que sofreram com um processo de urbanização desenfreada, aliado à 
um longo período de omissão de intervenções estatais no território. 
A moradia adequada foi reconhecida como direito humano em 1948, com a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, tornando-se um princípio universal, 
aceito e aplicável em todas as partes do mundo como fundamental para a vida das 
pessoas. Vários tratados internacionais após essa data reafirmaram que os Estados 
têm a obrigação de promover e proteger este direito, tal como a Constituição 
Brasileira de 1988 que em seu artigo 6º estabelece: 
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o 
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição.” 
Mais que um teto e quatro paredes o direito à moradia integra o direito a um padrão 
de vida adequado. Não se resume a apenas um teto e quatro paredes, mas ao 
direito de toda pessoa ter acesso a um lar e a uma comunidade, seguros para viver 
em paz, dignidade e saúde física e mental. 
Em contraposição a esses significativos avanços na esfera legislativa, a situação 
atual ainda é permeada por uma extrema violação dessa conquista. No Brasil, 
durante décadas, as políticas habitacionais não foram capazes de promover 
transformação habitacional para as classes de renda mais baixas, ficando a cargo 
da própria população a tentativa de mudança dessa realidade. 
Sinalizando para uma nova trajetória da política habitacional brasileira, o Programa 
Minha Casa, Minha Vida surge no ano de 2009, sendo aprovado pela Medida 
Provisória nº 459, publicada em 25 de março de 2009, posteriormente convertida na 
Lei nº 11.977 de 7 de julho de 2009 e pelo Decreto no 6.962, de 17 de setembro de 
2009. As conquistas consolidadas até então no Plano Nacional de Habitação – 
PLANHAB (2008) serviram como um dos arcabouços para a implementação do 
referido programa que, em seu início, tinha como meta a construção de um milhão 
de moradias, tendo para isso alocado aproximadamente R$ 34 bilhões de recursos. 
O PMCMV estrutura-se em três faixas de renda (com diferentes modalidades entre 
elas), sendo a primeira destinada a famílias com renda mensal inferior a R$ 
 
12 
1.600,00, que podem receber subsídios de até 96% do valor do imóvel. Para a 
segunda faixa, no segmento de renda familiar acima de R$ 1.600 até R$ 3.275, os 
juros cobrados são menores que os de mercado e os subsídios podem chegar a R$ 
25 mil por família, sendo que, quanto menor a renda familiar, maior o valor 
subsidiado. Na terceira faixa, a partir da renda familiar de R$ 3.275 até R$ 5.000, 
não existe subsídio no valor do imóvel, mas as taxas de juros também são menores 
que as de mercado. 
Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (2012, 
p.4), “O advento do MCMV institui um novo momento no quadro institucional 
municipal, o qual está associado à produção pública de habitação de interesse 
social”. Levando em consideração esses fatores, aponta-se que o programa 
habitacional Minha Casa, Minha Vida tem como objetivo desde o seu início, 
promover o acesso à moradia nas áreas urbanas e rurais, através da construção, 
reforma e aquisição de imóveis para as famílias em área de déficit habitacional. 
Sem considerar os inúmeros desafios do programa, tais como o fator de localização 
das moradias construídas, o que se pretende discutir é a iniciativa de implementação 
de um programa capaz de oferecer condições adequadas de moradia para famílias 
que viviam em situações extremas, tais como os moradores dos assentamentos 
informais tratados neste trabalho. 
Para a seleção dos beneficiários das unidades habitacionais do MCMV – faixa 1, são 
levados em consideração uma série de critérios, os quais permitem selecionar 
indivíduos que tem os seus direitos violados, tais como ser maior de 18 anos ou 
emancipado, não ser proprietário de imóvel, ser residente e domiciliado na 
localidade e possuir renda familiar entre zero e três salários mínimos. 
No caso do Residencial Vivendas do Planalto, conjunto do PMCMV construído no 
município de Natal-RN e que contemplou unidades habitacionais para famílias 
residentes em três assentamentos, as informações coletadas na Secretaria 
Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes – 
SEHARPE e na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB 
(2014) esclarecem que o conjunto foi viabilizado numa parceria entre a Caixa 
Econômica Federal, construtoras e Prefeitura, promovendo 896 apartamentos que 
se configurarão no novo lar de famílias dos assentamentos 8 de outubro, Monte 
Celeste, Anatália e para famílias beneficiárias que conquistaram a moradia por meio 
de sorteio1. 
As famílias oriundas dos assentamentos precários2 e beneficiadas pelo Programa 
Minha Casa, Minha Vida no conjunto Vivendas do Planalto, conseguiram ter o seu 
 
1 De acordo com informações da Prefeitura do Natal (2014) O executivo municipal em parceria com o Governo 
Federal prepara mais dois empreendimentos do programa Minha casa, Minha Vida. Um é o “Morar Bem” a ser 
entregue em agosto e o outro é o “Village da Prata”, que tem previsão de ser iniciado ainda em 2014, com prazo 
de um ano para terminar. O “Morar Bem” fica em Pajuçara, na Zona Norte, e terá 176 apartamentos, em um 
investimento total de R$ 10,6 milhões. Já o “Village de Prata” ficará localizado no Guarapes, Zona Oeste, e terá 
1.792 apartamentos e tem investimento de R$ 109,312 milhões. 
2Assentamentos precários são aqueles produzidos na informalidade, com precariedade da unidade habitacional, 
deficiência de infraestrutura (muitas vezes em áreas de risco de escorregamento ou alagamento) e carente de 
serviços urbanos, caracterizados pela ilegalidade urbanística e/ou fundiária. Compreendem tanto as favelas 
como os loteamentos irregulares (BRASIL, 2010). 
 
 
13 
Direito à Moradia digna efetivado e respeitado, após anos de lutas e reivindicações 
em suas localidades, seus territórios. 
Destarte, o território é o centro de diversas atividades econômicas, políticas e 
sociais, pois nele ocorre a produção de novos lugares urbanos e territorialidades. 
Nesse sentido, entende-se o território na concepção de Santos (1999, p.8) como 
“(...) o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e 
espirituais e do exercício da vida”. Com isso, o território é visto como um campo de 
relações de poder onde o Estado atua de várias formas, seja provendo a cidade ou 
bairro de serviços públicos ou fazendo grandes investimentos em áreas específicas. 
No caso do presente estudo, os benefícios maiores foram direcionados para a 
realocação das famílias aos seus novos locais de morada, abarcandorebatimentos 
também na urbanização e no aspecto social do bairro do Planalto, além da 
reintegração ao território, através do estabelecimento de conexões simples de 
prestação de serviços públicos tão comuns a bairros regulamentados. 
Figura 4 – Conjunto Residencial Vivendas do Planalto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Tribuna do Norte, 2014. 
Diante dessas questões, nota-se que o MCMV proporciona a infraestrutura urbana e 
de moradia básica, fazendo com que as famílias antes marginalizadas em 
assentamentos precários, possam agora ter sua casa própria, modificando as 
condições totalmente adversas, insalubres, sem a mínima infraestrutura e acesso 
aos serviços essenciais em que se viviam antes do processo de realocação. 
 
 
 
14 
Figura 5 – Assentamentos Anatália e Monte Celeste em Natal/RN. 
Fonte: José Aldenir, 2014. 
O Programa Minha Casa, Minha Vida enquanto política de provisão de moradia 
social alcança o público alvo ao qual se propõe e, logo, consegue efetivar o Direito à 
Moradia aos seus beneficiários através da possibilidade de aquisição de uma casa 
própria que resguarda condições estruturais plena de vivência, tais como a 
existência de banheiro, rede elétrica e abastecimento de água. Além disso, a 
construção das casas e conjuntos do programa é acompanhada de uma série de 
serviços voltados para a infraestrutura pública e urbana (saneamento básico, 
energia, água encanada, iluminação pública), fazendo com que aquilo que os 
moradores irão encontrar em seus apartamentos seja incomparável ao que existia 
em suas antigas localidades. 
Levando em consideração tal fato, é perceptível a conquista alcançada pelos 
moradores, à exemplo das falas de um deles que já se encontra em sua nova 
residência e que há quase quatro anos conviveu com fossa aberta, insetos, falta de 
água e de energia: “Isto aqui está representando tudo. Graças a Deus, consegui 
minha moradia digna onde pretendo viver por muitos anos. Voltar pra lá, jamais”! 
Diante de contexto, observa-se claramente que ocorre aí o processo de 
reterritorialização, que segundo Little (1994, p.11) se “caracteriza por uma 
relocalização/reorganização espacial”, ou seja, as famílias saíram de um espaço 
onde já tinham certos laços identitários (assentamentos) para algo novo onde 
diariamente irão constituir novas relações. 
 
 
15 
O empreendimento representa um novo lar, contemplando uma estrutura de 112 
blocos de dois pavimentos com quatro unidades em cada pavimento. O local é do 
tipo aberto e a área de equipamentos comunitários dispõe de praça, playground, 
centro de convivência e quadra poliesportiva. Cada apartamento possui sala, dois 
quartos, WC social, hall e cozinha conjugada com a área de serviço e uma área de 
43,18m². A unidade habitacional foi orçada em R$ 52.000 mil reais e a prestação a 
ser paga pelo beneficiário variam de R$ 25,00 até R$ 80,00. 
Durante o processo de reterritorialização dos moradores com a área, o programa 
contempla a execução de um Plano de Trabalho Técnico Social - PTTS com as 
famílias que inclui cursos, oficinas, palestras, conversão do condomínio, eleição de 
síndicos e administração do Centro Comunitário. Essa iniciativa possibilita que o 
processo de reintegração considere facetas sociais indispensáveis para a vida 
comunitária, promovendo encontros que socializem os moradores e estabeleçam 
práticas comuns de zelo e cuidado com o que representa anos de lutas. Em linhas 
gerais, as análises feitas sinalizam o PMCMV como instrumento da política 
habitacional no país, que embora apresente inúmero desafios, consegue de fato 
efetivar o Direito à Moradia através da transformação de um processo excludente de 
favelização para um processo de total reintegração social. 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Com o referido estudo, buscou-se fazer reflexões e análises sobre o reassentamento 
e a reintegração de famílias em áreas de precariedade urbana, habitacional e social 
no município de Natal/RN. 
 
O cenário atual do Brasil e da cidade de Natal alerta para a necessária mudança no 
tocante à produção de políticas públicas que busquem consolidar direitos 
fundamentais ao cidadão, garantindo um desenvolvimento humano justo e pleno. 
Nessa perspectiva, a inércia estatal que marcou anos da agenda pública conta 
agora com alternativas que são capazes de transformar a realidade habitacional de 
inúmeros brasileiros. 
 
Embora ainda existam desafios iniciais que fazem com que as famílias reassentadas 
enfrentem uma série de dificuldades na nova habitação, a melhora é gradativa e o 
direito a uma moradia digna é, de fato efetivado. Essa postura é assumida pelo 
Programa Minha Casa, Minha Vida, o qual tem papel de suma importância, pois 
serve como instrumento dessa efetivação de moradia para a população dos 
assentamentos precários. Além disso, é importante sinalizar um fator referente à 
localização espacial do Conjunto Vivendas do Planalto, o qual foi erguido em uma 
área de plena expansão imobiliária na cidade do Natal/RN (o bairro do Planalto), 
região essa que também recebe uma série de investimentos em infraestrutura 
urbana e serviços, fazendo assim com que o conjunto e seus novos moradores 
possam ser integrados ao território local de forma mais intensa. 
 
Em suma, o presente trabalho não esgota as discussões sobre o tema, mas sim 
abrange o leque de análises sobre essa área de estudo, que com o passar dos 
anos, poderá ser lembrando e replicado como “case de sucesso” na busca da 
efetivação do Direito à Moradia. 
 
 
 
16 
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Novos padrões de Acumulação Urbana na Produção do Habitat: Olhares Cruzados 
Brasil – França. P. 53-69, 2010. 
 
Seminário URBFAVELAS 2014
São Bernardo do Campo - SP - Brasil
DA FAVELIZAÇÃO À REINTEGRAÇÃO: O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA COMO
ALTERNATIVA À EFETIVAÇÃO DO DIREITO À MORADIA NA CIDADE DE NATAL-RN.
Jéssica Morais de Moura (UFRN) - jessica_morais_moura@hotmail.com
Bacharel em Gestão de Políticas Públicas - UFRN, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFRN,
Subcoordenadora de Acompanhamento e Controle da Secretaria de Estado do Rio Grande do Norte do Planejamento e
das Finanças
Marcio Pereira Barreto (UFRN) - marciobarretojc@gmail.com
Licenciado em Geografia - IFRN, Bacharel em Gestão de Políticas Públicas - UFRN, Mestrando em Arquitetura e
Urbanismo - PPGAU/UFRN
Ada Laís Soares de Morais (SEMURB) - ada.lais@hotmail.com
Técnica em Turismo - IFRN, Bacharel em Gestão de Políticas Públicas - UFRN, Gestora de Políticas Públicas da
Secretaria Municipal de Natal de Meio Ambiente e Urbanismo
 
1 
Da Favelização à Reintegração: o Programa Minha Cas a 
Minha Vida como alternativa à efetivação do Direito à 
Moradia na cidade de Natal-RN. 
 
RESUMO 
 
As cidades brasileiras são marcadas por graves problemas no tocante à 
precariedade habitacional de inúmeras famílias que sobrevivem em péssimas 
condições de habitat. Assentamentos precários, favelas, loteamentos irregulares, 
aglomerações informais, seja qual for a denominação, o fato é que existem centenas 
de indivíduos que possuem os seus direitos constitucionais violados, vivendo em 
situações extremamente precárias. O presente trabalho apresenta como objeto de 
estudo a transformação habitacional causada na vida de aproximadamente 403 
famílias que antes residiam em três assentamentos precários da cidade de Natal –
RN (Assentamento Anatália, Assentamento 8 de Outubro e Assentamento Monte 
Celeste) e que foram recentemente beneficiadas com unidades habitacionais do 
Programa Minha Casa Minha Vida. O Residencial Vivendas do Planalto, conjunto do 
PMCMV construído em bairro vizinho ao dos assentamentos, apresenta-se como 
alternativa para solucionar a problemática que, só no território natalense, é 
composta por cerca de 70 assentamentos precários. O trabalho desenvolvido 
discute sobre relevantes questões referentes à provisão habitacional, considerando 
um estudo de caso da cidade de Natal para refletir sobre o processo de urbanização 
brasileiro e o cenário atual no que concerne a efetivação do Direito à Moradia. 
 
PALAVRAS-CHAVE: 
Precariedade habitacional; Direito à Moradia; Programa Minha Casa Minha Vida. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A precariedade habitacional marca inúmeras paisagens das cidades brasileiras. 
Morando debaixo de lonas, tábuas, papelões e qualquer outro material que possa se 
transformar numa espécie de abrigo, vive um grande número de famílias no Brasil e, 
nesses locais, se observam condições mínimas de higiene e salubridade, quando 
elas existem. Esse é o cenário presente nas favelas, assentamentos informais e 
loteamentos clandestinos, onde moradores com direitos extremamente violados 
constituem suas famílias e desenvolvem suas atividades cotidianas. 
 
O presente trabalho busca refletir exatamente o contrário desse cotidiano: a 
transformação na habitação de aproximadamente 403 famílias beneficiadas pelo 
Programa Minha Casa Minha Vida na cidade de Natal-RN, e que agora deixam de 
ser moradoras de áreas impróprias e passam a residir no conjunto habitacional 
Vivendas do Planalto. Compreender o processo de reintegração promovido pelo 
programa, bem como discutir sobre o conceito de efetivação do Direito à Moradia, se 
faz indispensável no atual contexto de desenvolvimento das cidades e das políticas 
públicas de garantia dos Direitos Humanos. 
 
Nessa perspectiva, o trabalho é composto por quatro sessões, desencadeando um 
processo reflexivo que parte de uma discussão sobre a urbanização desenfreada e 
os reflexos para o setor habitacional, fazendo um registro histórico da composição 
 
2 
do déficit habitacional brasileiro e se apoiando em diversos estudos realizados 
principalmente por Erminia Maricato e Raquel Rolnik, especialistas no assunto. 
Posteriormente, inicia-se a discussão sobre a violação do Direito à Moradia na 
cidade de Natal-RN, apresentando informações e dados estatísticos que dizem 
respeito ao número de famílias que vivem em situações de risco, residindo em 
favelas, loteamentos ou assentamentos informais. Nesta sessão, há uma descrição 
das favelas que foram removidas para o conjunto do PMCMV, contemplando 
informações levantadas pelos órgãos municipais sobre a sua formação e o registro 
fotográfico com ilustrações e mapas temáticos do atual caso de Natal, no que diz 
respeito à habitação popular precária. 
 
Após esses capítulos iniciais que situam o leitor desde o processo de urbanização e 
formação dos aglomerados urbanos informais até a situação vivenciada na cidade 
de Natal, parte-se para a discussão mais relevante, onde apresenta-se o Programa 
Minha Casa Minha Vida como alternativa a efetivação do Direito à Moradia. 
Informações mais gerais sobre o programa são introduzidas a fim de se discutir 
sobre o estudo de caso de Natal-RN, através da construção do conjunto habitacional 
Vivendas do Planalto que promoveu o reassentamento de famílias que antes 
habitavam em três favelas do município (Assentamento Anátalia, Assentamento 8 de 
Outubro e Assentamento Monte Celeste). 
 
Nesse sentido, se faz fundamental compreender que a remoção dessas famílias 
para um local mais seguro e que oferece condições dignas de um habitar faz parte 
de uma iniciativa governamental que, atendendo às pressões sociais de uma 
população historicamente marginalizada, passou a promover alternativas para a 
provisão da casa própria, reintegrando famílias que antes viviam em condições 
muitas vezes sub-humanas. Tais reflexõessão sintetizadas nas considerações finais 
deste trabalho, reunindo elementos que sinalizam para uma avaliação bastante 
positiva desse espectro do programa MCMV, apesar dos inúmeros desafios que ele 
ainda tem há enfrentar. 
 
Como procedimentos metodológicos que nortearam a elaboração deste trabalho, 
esclarece-se que essa pesquisa advém do desdobramento de estudo anterior 
realizado por Moura (2013) que mapeou e identificou aspectos referentes a 
segregação de desterritorialização dos conjuntos habitacionais do Programa Minha 
Casa Minha Vida na Região Metropolitana de Natal. Além disso, o trabalho está 
relacionado com a aplicação de questionários em conjuntos do MCMV em outros 
municípios do Estado do Rio Grande do Norte, cumprindo as etapas de edital 
aprovado pelo Ministério das Cidades, o qual tem como título “Análise Estratégica e 
Qualitativa do Programa Minha Casa, Minha Vida: Mapeando Resultados 
Socioeconômicos e Definindo Procedimentos de Monitoramento, Avaliação e 
Retroalimentação”, e que ainda se encontra em fase de execução. Como a entrega 
do conjunto Residencial Vivendas do Planalto e a ocupação das casas ainda é 
bastante recente, o presente estudo contempla em sua essência questões teóricas, 
subsidiadas pela análise dos normativos técnicos do PMCMV e por informações 
municipais levantadas principalmente na Secretaria Municipal de Habitação, 
Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes – SEHARPE e na Secretaria 
Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB. 
 
 
3 
A abordagem participativa contempla os registros levantados pelos órgãos 
municipais, os quais divulgaram notas de entrevistas nas quais os moradores 
reassentados afirmam que essa transformação habitacional é uma luta que acabou 
com sentimentos de vitória. Tais abordagens contribuíram para que a pesquisa 
tivesse um viés mínimo participativo, uma vez que não se foi possível aplicar 
técnicas de aplicação de questionários e/ou realização de grupos focais, dada a 
ocupação recente do conjunto habitacional. 
 
Em suma, este trabalho visa fomentar a discussão sobre as recentes iniciativas de 
combate a habitação irregular precária, apresentando uma proposta implementada 
na cidade de Natal-RN e articulando autores que descrevem sobre o processo de 
urbanização e formação das cidades brasileiras, buscando, sobretudo, avançar na 
luta sobre a construção de cidades mais justas no tocante ao habitar e ao viver. 
 
1 A URBANIZAÇÃO DESENFREADA E OS REFLEXOS NO SETOR 
HABITACIONAL 
 
Com o crescimento das cidades, acompanhado do intenso êxodo rural, a 
urbanização inevitavelmente não se deu de maneira gradual. Por isso, entre outros 
fatores, o planejamento urbano deixou lacunas no que concerne à produção de 
moradia e de infraestruturas de serviços urbanos indispensáveis a vivência da 
população. O contingente populacional menos favorecido economicamente, em 
particular o que saiu do campo para a cidade, não encontrou estruturas que 
possibilitassem o seu desenvolvimento humano pleno. Os indivíduos, não tendo 
condições de se manter nas estruturas formais das áreas mais centrais da cidade, a 
não ser, em certos casos, as áreas mais degradadas do centro antigo, passaram a 
ocupar terrenos na periferia e em favelas, muitas vezes impróprios para a moradia 
(VALENÇA, 2010). 
 
As cidades brasileiras enfrentam ainda nos dias atuais graves consequências dessa 
ocupação desenfreada do território. São inúmeras habitações consideradas 
irregulares e o número estimado pelo IBGE chega a um total de 11.425.644 de 
pessoas, o equivalente a 6% da população do país, que vive no Brasil em 
aglomerados subnormais (CENSO 2010). Além do mínimo de condições 
habitacionais, considera-se como aglomerados subnormais, as ocupações de locais 
públicos ou particulares quem sofrem com a ausência ou a inadequação de serviços 
públicos de qualidade, além de estarem distribuídas de maneira desordenada no 
território. Os dados revelados pela pesquisa do Déficit Habitacional Municipal no 
Brasil 2010, da Fundação João Pinheiro, em parceria com o Ministério das Cidades, 
apontou um déficit de 6,940 milhões de unidades habitacionais, classificando como 
“déficit” não somente a falta de casas, mas sim as inadequadas condições de 
habitabilidade e salubridade. 
 
Mike Davis (2006) na sua obra denominada “Planeta Favelas”, discorre sobre esse 
caótico cenário de intensa urbanização e, consequentemente, violação do direito à 
moradia. Num contexto de favelização e de empobrecimento das cidades, o autor 
informa que a população das favelas cresce na base de 25 milhões de pessoas a 
cada ano – conforme dados da UN-Habitat. No Brasil, o crescimento explosivo das 
cidades a partir dos anos 1980, originou as periferias abandonadas, mais tarde 
denominadas de favelas, e que surgiram quando as grandes levas de trabalhadores 
 
4 
ficaram sem alternativa de moradia. Maricato (2007) descreve o cenário causado 
pelo aumento do desemprego e da pobreza urbana, relatando que as imagens das 
cidades brasileiras deixaram o imaginário de modernos centros industriais que iriam 
superar o atraso e a violência e passaram a representar crianças abandonadas, 
epidemias, enchentes, desmoronamentos, tráfego, poluição do ar, poluição dos rios, 
favelas e violência. Trata-se da “Cidade (I)legal”, descrita por Valença (2008) e que é 
composta por ilegalidades, informalidades e irregularidades, termos que 
caracterizam as cidades contemporâneas, sobretudo no que se refere ao acesso à 
terra e violação do direito à moradia. 
 
Lefebvre em 1999 abordou esse processo, conceituando de Revolução Urbana as 
transformações ocorridas no território e assentando o seu pensamento na hipótese 
da urbanização completa da sociedade. O autor, partindo da concepção de 
reconfiguração das relações espaciais, esclarece que as cidades passam por um 
processo de implosão, marcado por uma intensa concentração de pessoas, de 
atividades e de serviços. Além disso, paralelamente a este processo, a cidade 
também passa a conviver com uma dinâmica de explosão, processo caracterizado 
pela fragmentação espacial e relacionado com a expansão do espaço urbano para 
territórios vizinhos, espraiando o tecido urbano. Desses conceitos, é possível extrair 
variadas implicações para as relações sociais, econômicas, políticas e ambientais, 
considerando que as intensas transformações no território urbano provocam a 
existência de diversos fenômenos, os quais, quando combinados, sintetizam a 
estruturação do espaço. Características, como a informalidade, a periferização, a 
segregação e a desterritorialização, são oriundas desse complexo processo de 
ocupação das cidades. Daí as cidades híbridas, que, conforme apontamentos de 
Abramo (2009, p.43), são compactadas e difusas, pois “produz uma estrutura urbana 
informal [e também formal] mais compacta nas áreas consolidadas e mais difusa nas 
franjas urbanas”. 
 
Essa perspectiva vem incorporando novas realidades, na medida em que se 
instaurou um intenso processo social de construção de uma cultura de direitos. A 
luta pelo direito à cidade e pelo direito à moradia surge em contraposição a esse 
modelo de urbanização excludente, que ao longo de décadas de urbanização 
acelerada absorveu elevados contingentes de pessoas pobres, sem, entretanto, 
integrá-las efetivamente às cidades. De acordo com levantamento realizado por 
Rolnik (2009), a partir do final dos anos 1970, moradores de assentamentos 
informais, periferias e favelas das cidades, aliados a setores das classes médias 
urbanas, consolidaram as bases de um movimento pela Reforma Urbana, o qual 
estava comprometido com a luta pela ampliação da cidadania, incluindo a melhoria 
de serviços públicos e investimentos em favelas e periferias, garantindo direitos 
básicos da população. 
 
Uma série de intervenções passaram a permear o cenário da construção de uma 
agenda pública, iniciando novas práticas e políticas de regularização e urbanização 
de favelas e a promulgação de legislações específicas, capazesde tratar dos 
direitos dessas demandas historicamente violados, tal como o caso da promulgação 
do Estatuto da Cidade (lei n. 10.257, em 2000), da Lei do Fundo Nacional de 
Moradia Social (lei n. 11.124, em 2005), além da criação do Ministério das Cidades 
em 2003, órgão responsável pela integração das políticas de habitação, 
 
5 
saneamento, desenvolvimento urbano e mobilidade urbana e do Sistema Nacional 
de Habitação de Interesse Social – SNHIS, em 2005. 
 
Nesse sentido, observa-se a construção de um modelo de enfrentamento do déficit 
habitacional brasileiro, articulado com os três níveis de governo e que teve como 
trunfo mais recente o Programa Minha Casa, Minha Vida, implantado a partir de 
2009. Porém, conforme ressalta Maricato (2011), “essas conquistas são 
relativamente recentes e as mudanças são lentas, já que envolvem uma cultura 
histórica – ou de raízes escravistas – de exclusão social”. 
 
Em síntese, apesar dos significativos avanços constitucionais, na prática, as cidades 
brasileiras ainda travam lutas cotidianas na busca da efetivação do direito à moradia, 
reflexas do processo de produção e apropriação do espaço urbano, o qual há 
décadas reproduz as desigualdades e as contradições sociais, conforme 
demonstram-se nas próximas sessões. 
 
2 VIOLAÇÃO DO DIREITO À MORADIA: O PROCESSO DE FAVE LIZAÇÃO EM 
NATAL-RN 
 
A dinâmica urbana no município de Natal mostra-se bastante acelerada e reflete 
paisagisticamente e socialmente uma segregação territorial e desigualdade social 
que geram problemas diversos, que vão desde a omissão do Direito à Moradia 
digna, passando pela limitação ao acesso à bens e serviços públicos, segurança 
estrutural e tantos outros fatores que auxiliam fortemente na estagnação social de 
pessoas que historicamente já são marginalizadas. 
 
A cidade do Natal, capital do Estado do Rio Grande Norte, contava em 2013 com 
uma população de aproximadamente 854 mil habitantes, conforme dados levantados 
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. No que se refere a o 
número de habitantes que residem em assentamentos precários, os estudos mais 
recentes realizados para a elaboração do Plano Local de Habitação Social de Natal, 
revelam que em 2008 haviam 92.942 habitantes morando em 70 assentamentos 
precários, distribuídos nas quatro regiões administrativas do município e vivendo em 
diversas situações de risco e vulnerabilidade. 
 
Tais informações permitem considerar que numa cidade que se encontra num 
núcleo metropolitano, sendo responsável por mais da metade do desenvolvimento 
econômico do Estado, existe uma significativa parcela da população que enfrenta 
diariamente as consequências da violação do direito à moradia. As ocupações 
irregulares do município se distribuem em todo o território, estando principalmente 
localizadas à margem do Rio Potengi, nas faixas de mangue - que são ambientes 
insalubre, sob risco de alagamento -, em assentamentos sob áreas de influência de 
torres de alta tensão elétrica, em áreas de domínio da via férrea e em Áreas de 
Proteção Permanente com fragilidades ambientais diversas. Em suma, os fatores de 
riscos que caracterizam a informalidade dessas ocupações são inúmeros, gerando 
graves consequências para uma população que não vê alternativas que permitam a 
transformação na sua realidade habitacional. 
 
O mapa abaixo especializa os 70 assentamentos precários da cidade do Natal, 
identificados pelo Diagnóstico do Setor Habitacional e que subsidia a elaboração do 
 
6 
Plano Local de Habitação Social de Natal. Os assentamentos precários delimitados 
no mapa foram identificados de acordo com levantamento de campo realizado nos 
anos de 2011 e 2012, por equipe de consultores do Idesplan, que utilizou como 
critério para a classificação de assentamento precário todas as metodologias 
existentes - Ministério das Cidades, Plano Municipal de Redução de Riscos - 
PMRR(2008) e Plano Diretor de Natal - PDN 082 (2007). 
 
 
Mapa 1 - Espacialização dos Assentamentos Precários de Natal – RN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
 
7 
Em virtude de um crescimento urbano consideravelmente acelerado, Natal 
apresenta intensos problemas socioambientais de exclusão e vulnerabilidade 
habitacional, existindo áreas com baixos níveis de habitabilidade e sérios problemas 
estruturais, à exemplo dos assentamentos Anatália, 8 de outubro e Monte Celeste, 
todos localizados no bairro Guarapes - Zona Administrativa Oeste do município - e 
que estão sendo objetos de análise desse trabalho, umas vez que passaram por um 
processo de transformação habitacional e social, através do reassentamento de 
famílias para um conjunto habitacional do Programa Minha Casa Minha Vida. Abaixo 
apresenta-se a caracterização desses assentamentos, identificando os principais 
fatores de risco que impulsionaram a recente realocação dessas comunidades, bem 
como a delimitação espacial e o registro fotográfico da precária situação 
habitacional. 
 
ASSENTAMENTO ANATÁLIA DE SOUZA ALVES 
 
As ocupações do assentamento urbano Anatália de Souza Alves, iniciaram em julho 
de 2010. Influenciadas pela busca por moradia, cerca de 270 famílias se instalaram 
de forma irregular no bairro do Guarapes, numa situação de extrema vulnerabilidade 
social que ilustra fortemente a violação ao direito a moradia, visto que além da 
ausência de uma condição habitacional digna, os moradores do assentamento 
sofriam com a dificuldade de acesso à saúde, educação, mobilidade urbana, 
saneamento adequado e tantos outros direitos básicos. 
 
As famílias que ali se instalaram e que tinham seus principais direitos violados 
moravam debaixo de lonas, tabuas e papelões, não tinham acesso à água potável, 
sendo a única fonte de acesso a este bem essencial à vida humana um tanque 
comunitário que não possuía nem mesmo tampa - o que presume a má qualidade 
dessa água e ambiente propício a reprodução do mosquito da dengue. Além disso, a 
rede de energia elétrica era improvisada, o que elevava intensamente o risco de 
incêndio na comunidade. 
 
Figura 1 – Energia Improvisada no Assentamento Anatália de Souza Alves. 
 
 
Fonte: Revista Natal, 2013. 
 
Tendo em vista que o direito habitacional não se limita a um lugar físico para morar e 
que a moradia adequada está inserida numa ampla estrutura, que contempla a 
acessibilidade a escolas, postos de saúde, saneamento adequado, segurança, 
mobilidade urbana, áreas de lazer, entre outros requisitos, percebe-se claramente 
 
8 
que os moradores do Assentamento Anatália tinhas esses direitos cotidianamente 
negados, se configurando em uma favela desumana e perigosa. 
 
ASSENTAMENTO 8 DE OUTUBRO 
 
Localizado em um amplo terreno do bairro Guarapes, ao lado do Conjunto Dinarte 
Mariz, o Assentamento 8 de Outubro foi erguido em uma área onde não existem 
riscos ambientais, apesar do elevado nível de precariedade das moradias 
construídas com materiais improvisados e extremamente inadequadas a dignidade 
humana, o que caracterizava o assentamento como “não passível de adequação”. 
Além disso, as ocupações também, não seguiam um traçado urbanístico e desta 
forma não era possível definir um sistema viário, o que contribuía ainda mais para a 
não consolidação do assentamento. 
 
Mapa 2 – Localização do Assentamento 8 de Outubro 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
Aos 780 habitantes do Assentamento 8 de outubro, não era omitido apenas o direito 
a habitação digna. A comunidade ora apresentada, também sofria com a falta de 
acesso a serviços básicos de saúde, educação, lazer, saneamento, transporte 
público, comércios, entre tantos outros direitos que quando cumpridos resguardam a 
vida digna do cidadão. 
 
9 
Figura 2 - Assentamento 8 de Outubro 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
Devido aos vários problemas estruturais apresentados, essa foi uma das 
comunidadesque famílias foram contempladas pelo programa MCMV, tendo uma 
completa transformação habitacional e que agora passarão a conviver num espaço 
que assegura as condições mínimas de vivência. 
 
ASSENTAMENTO MONTE CELESTE 
 
Também localizado no bairro do Guarapes, o assentamento Monte Celeste ocupa 
parte da Zona de Proteção Ambienta 4 – ZPA 4, a qual é formada por dunas que 
contribuem para a drenagem natural da área e para a manutenção da vazão e 
perenidade do rio Jundiaí/Potengi e a do rio Pitimbu. Além de ocupar uma ZPA, a 
comunidade em questão também está inserida numa faixa de domínio de Alta 
Tensão e está sob risco de deslizamento – visto sua ocupação ser em solo dunar. 
 
Devido a sua localização, a comunidade sofria com a dificuldade do acesso de 
veículos, que era limitado e afetava diretamente nos serviços de coleta de lixo, o que 
causava acúmulo de resíduos sólidos e consequentemente tornava o ambiente 
insalubre, o que contribuía fortemente com o aumento de riscos a saúde dos 
moradores. Além disso, e assim como nos assentamentos precários apresentados 
anteriormente, está ocupação irregular foi situada distante da área urbanizada mais 
próxima e não tinha acesso aos principais serviços públicos. 
 
Figura 3 – Assentamento Monte Celeste. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional 
 
10 
Mapa 3 – Localização do Assentamento Monte Celeste. 
 
Fonte: IDESPLAN 2013, Diagnóstico do Setor Habitacional. 
 
Entre tantos problemas cotidianos, os moradores do Assentamento Monte Celeste, 
ainda tinham que conviver com a ausência de abastecimento de água, esgotamento 
sanitário e iluminação pública, o que se faz perceber a total falta de condições de 
habitabilidade, salubridade e principalmente dignidade humana que os moradores 
enfrentavam nesse assentamento irregular. 
Diante das informações expostas, fica clara a fragilidade habitacional existente na 
capital do Rio Grande Norte. São inúmeras família carentes de habitação digna, 
saúde, educação, segurança, vivendo em condições insalubres e desumanas. São 
70 assentamentos precários com moradores que buscam o direito à moradia e que, 
ao serem marginalizados e esquecidos, “sobem o morro”, “ocupam lagoas”, 
“adentram o mangue” e vivem em áreas de risco com o simples intuito de terem um 
lugar para se abrigar. Nesse contexto, cabe, no entanto, refletir sobre alternativas de 
transformação dessa realidade, tal como a recente reintegração de famílias oriundas 
desses assentamentos e que foram beneficiadas com um programa habitacional de 
construção da casa própria que tem colaborado com a alteração desse cenário, 
proporcionando para essas famílias um novo horizonte, com direitos mais 
respeitados e uma sociedade mais justa, conforme se aborda adiante. 
 
11 
3 O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA COMO ALTERNATIVA PARA 
EFETIVAÇÃO DO DIREITO À MORADIA: ESTUDO DE CASO DO CONJUNTO 
VIVENDAS DO PLANALTO – NATAL/RN 
“É uma conquista. Uma vitória de muito tempo de luta. Aqui tudo é 
difícil. A gente carregou muita água. A energia vivia num ‘corta, 
corta’. E o pior era a falta de segurança”. (Ex-moradora do 
Assentamento Anatália e beneficiária do PMCMV em entrevista à 
Prefeitura Municipal de Natal, em maio de 2014). 
As precárias condições habitacionais de famílias que vivem em assentamentos 
informais marcam um profundo cenário de violação do Direito à Moradia. Até aqui, 
foram apresentadas reflexões sobre as situações atuais das cidades brasileiras, 
ilustrando principalmente o caso do município de Natal. O fato é que essa 
característica não é peculiar de apenas um município brasileiro, mas sim da maioria 
das cidades que sofreram com um processo de urbanização desenfreada, aliado à 
um longo período de omissão de intervenções estatais no território. 
A moradia adequada foi reconhecida como direito humano em 1948, com a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, tornando-se um princípio universal, 
aceito e aplicável em todas as partes do mundo como fundamental para a vida das 
pessoas. Vários tratados internacionais após essa data reafirmaram que os Estados 
têm a obrigação de promover e proteger este direito, tal como a Constituição 
Brasileira de 1988 que em seu artigo 6º estabelece: 
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o 
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição.” 
Mais que um teto e quatro paredes o direito à moradia integra o direito a um padrão 
de vida adequado. Não se resume a apenas um teto e quatro paredes, mas ao 
direito de toda pessoa ter acesso a um lar e a uma comunidade, seguros para viver 
em paz, dignidade e saúde física e mental. 
Em contraposição a esses significativos avanços na esfera legislativa, a situação 
atual ainda é permeada por uma extrema violação dessa conquista. No Brasil, 
durante décadas, as políticas habitacionais não foram capazes de promover 
transformação habitacional para as classes de renda mais baixas, ficando a cargo 
da própria população a tentativa de mudança dessa realidade. 
Sinalizando para uma nova trajetória da política habitacional brasileira, o Programa 
Minha Casa, Minha Vida surge no ano de 2009, sendo aprovado pela Medida 
Provisória nº 459, publicada em 25 de março de 2009, posteriormente convertida na 
Lei nº 11.977 de 7 de julho de 2009 e pelo Decreto no 6.962, de 17 de setembro de 
2009. As conquistas consolidadas até então no Plano Nacional de Habitação – 
PLANHAB (2008) serviram como um dos arcabouços para a implementação do 
referido programa que, em seu início, tinha como meta a construção de um milhão 
de moradias, tendo para isso alocado aproximadamente R$ 34 bilhões de recursos. 
O PMCMV estrutura-se em três faixas de renda (com diferentes modalidades entre 
elas), sendo a primeira destinada a famílias com renda mensal inferior a R$ 
 
12 
1.600,00, que podem receber subsídios de até 96% do valor do imóvel. Para a 
segunda faixa, no segmento de renda familiar acima de R$ 1.600 até R$ 3.275, os 
juros cobrados são menores que os de mercado e os subsídios podem chegar a R$ 
25 mil por família, sendo que, quanto menor a renda familiar, maior o valor 
subsidiado. Na terceira faixa, a partir da renda familiar de R$ 3.275 até R$ 5.000, 
não existe subsídio no valor do imóvel, mas as taxas de juros também são menores 
que as de mercado. 
Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (2012, 
p.4), “O advento do MCMV institui um novo momento no quadro institucional 
municipal, o qual está associado à produção pública de habitação de interesse 
social”. Levando em consideração esses fatores, aponta-se que o programa 
habitacional Minha Casa, Minha Vida tem como objetivo desde o seu início, 
promover o acesso à moradia nas áreas urbanas e rurais, através da construção, 
reforma e aquisição de imóveis para as famílias em área de déficit habitacional. 
Sem considerar os inúmeros desafios do programa, tais como o fator de localização 
das moradias construídas, o que se pretende discutir é a iniciativa de implementação 
de um programa capaz de oferecer condições adequadas de moradia para famílias 
que viviam em situações extremas, tais como os moradores dos assentamentos 
informais tratados neste trabalho. 
Para a seleção dos beneficiários das unidades habitacionais do MCMV – faixa 1, são 
levados em consideração uma série de critérios, os quais permitem selecionar 
indivíduos que tem os seus direitos violados, tais como ser maior de 18 anos ou 
emancipado, não ser proprietário de imóvel, ser residente e domiciliado na 
localidade e possuir renda familiar entre zero e três salários mínimos. 
No caso do Residencial Vivendas do Planalto, conjunto do PMCMV construído no 
município de Natal-RN e que contemplou unidades habitacionais para famílias 
residentes em três assentamentos, as informações coletadas na Secretaria 
Municipal de Habitação, Regularização

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