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PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ELIANE MARIA CHERULLI CARVALHO 1ª Edição Brasília/DF - 2020 Autores Eliane Maria Cherulli Carvalho Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4 Introdução ..............................................................................................................................................................................6 Capítulo 1 Planejamento: percepção de futuro ........................................................................................................................9 Capítulo 2 Epistemologia e história do planejamento: o que entender sobre isso: o antes, o depois e o agora? ............................................................................................................................................................................. 34 Capítulo 3 O planejamento como instrumento de política pública da Educação ..................................................... 51 Capítulo 4 Organização da Educação brasileira: caminhos e possibilidades ............................................................. 65 Capítulo 5 Planejamento Educacional Escolar: recursos metodológicos para a práxis pedagógica .................. 84 Capítulo 6 Planejar na educação, transformar o social.....................................................................................................119 Referências ........................................................................................................................................................................132 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgANIzAçãO DO LIvRO DIDáTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução O ato de planejar significa desempenhar uma atividade engajada e intencional, num processo contínuo de reflexão. As peculiaridades de prever ações e racionalizar os meios materiais e os recursos humanos visam ao alcance de determinados objetivos de modo mais eficiente A construção de um plano educacional requer o compartilhamento de ideias e de interações entre os vários atores envolvidos, pressupondo uma ação comunicativa, devendo, por isso, priorizar a participação eticamente correta entre todos. Nesse processo, devido às suas particularidades, julgou-se cabível, por meio das reflexões aqui propostas, a fundamentação teórica sobre planejamento, de forma objetiva, porém abrangente e apropriada para uma compreensão crítica. Dessa maneira, no compartilhamento de ideias estão alguns conceitos teóricos e reflexivos sobre Planejamento, indicando contribuições para que você, sujeito do estudo e objeto do conhecimento, seja priorizado numa maior interatividade, desenvolvendo, contínua e qualitativamente, o seu protagonismo, estudando os seis capítulos assim organizados. No capítulo 1 estão destacados alguns conceitos de Planejamento, também as concepções, dimensões e níveis básicos para o processo educacional. No capítulo 2 foram abordados o histórico e os pressupostos epistemológicos do Planejamento, cuja perspectiva é a de enfatizar a compreensão de que o planejamento é um ponto de partida, e, por se tratar especificamente do educacional, dá o significado de aplicabilidade por meio de abordagem racional e cientificamente correta. Posteriormente, nos capítulos 3, 4, 5 e 6, intencionou-se a apresentação de informações sobre a relação do planejamento enquanto política pública da educação essencial na práxis didático-pedagógica, como os Planos e Projetos Educacionais, visando, numa perspectiva humana, à construção da identidade e valorização docente. Válido destacar que este estudo não esgota as diversas possibilidades de complementação de aprendizagens, compreendendo outras abordagens fornecidas na área de Educação em Planejamento Educacional, por meio de diferentes leituras e recursos apontados durante, ou ao final dos textos ou estações, bem como nas referências bibliográficas, vídeos, artigos. 7 Objetivos » Compreender o planejamento como processo, percebendo que sua finalidade junto à intersubjetividade do conhecimento humano colabora para situá-lo como objeto de estudos científicos e reflexões filosóficas, das mais simples às mais complexas. » Reconhecer que o Planejamento da Educação prossegue para as redes e sistemas de ensino, e que suas ramificações vão do Direito à Economia, da Filosofia à Administração, da Didática à Política. » Identificar os elementos necessários para a construção de um Planejamento Educacional, desde as esferas macropolíticas de gestão (Governo Federal, estadual e municipal) que orientam as políticas públicas, até o nível micro (local), que afetam a vida dos sujeitos na comunidade educativa. » Instrumentalizar gestores e docentes para a consecução de planejamentos educacionais escolares. 8 9 Introdução Nos últimos anos e em consequência da pluralidade de informações no mundo político, social, econômico, cultural e outros espaços, a necessidade de planejar tem assumido real importância para a lida com as situações surgidas nesse contexto, mais ainda com a complexidade dessas situações. Daí a percepção de que nesse cenário não se pode antecipar um planejamento como previsão de futuro a partir de ‘‘achismos’’, mas, sim, de um planejamento para ações futuras bem elaborado e tendo como referência estudos e informações teóricas consistentes e validadas por especialistas. Desse modo, o importante é considerar dados e informações do histórico, análise de uma situação atual e, assim, prever, determinar objetivos, analisar recursos, definir metas e consequências com maiores chances de acerto. E isso só será possível por meio do planejamento. O planejamento precisa de um ponto departida e, principalmente sendo o educacional, significa aplicar à educação uma abordagem racional, reflexiva e científica dos problemas, num processo de avaliação eficaz e contínuo. No o capítulo 1, propomos que você leia atentamente a situação apresentada, , reflita e explique por que o sucesso é possível quando se planeja algo, atentando, antes, para os objetivos do capítulo. Objetivos » Refletir cientificamente sobre os contextos de educação, considerando, numa abordagem racional e sistemática, as questões da educação, priorizando conceitos por meio de critérios sobre a eficácia e a efetividade do sistema educacional brasileiro, sob diferentes olhares. 1 CAPÍTULO PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO 10 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO » Priorizar o processo de planejamento integral da educação, reconhecendo seus fins essenciais que contribuem para a dignidade humana e seu desenvolvimento social, econômico e cultural. » Destacar a importância de ações eticamente corretas para subsidiar as questões fundamentais do Planejamento Educacional, priorizando as necessidades a serem alcançadas a curto, médio e longo prazo. » Delinear como pressuposto básico a filosofia da educação brasileira, destacando valores essenciais da pessoa, da escola e da sociedade. Importância de compreender a ação de Planejar a Educação Para refletir O sucesso na ação de planejar de acordo com Madalena Freire Sonhar não é proibido Eu sou um menino muito sonhador. Me chamo Luiz Fernando. Sonho dormindo ou acordado, pois sonhar não é errado. Tem vezes que eu quero ser um pássaro, para voar e sentir o vento. Outras vezes quero ser um super-herói que pudesse fazer o bem e matar meus inimigos, ou um gênio maluco, para criar vários monstros. Também posso ser um aventureiro, igualzinho ao Indiana Jones, para procurar tesouros. Ser um pirata para comandar meu navio. Até um Peter Pan, para ficar na Terra do nunca. Mas não penso só em fantasia. Penso também na vida real. O que eu quero mesmo é ser um médico ou engenheiro eletrônico. Com dezessete anos quero começar afazer cursos para ser alguma coisa na vida. Você não deve pensar: Eu não consigo, pois sonhar é fácil. Figura 1. Madalena Freire. Fonte: http://joseliamaria.com/wp-content/uploads/2018/07/madalena-freire-ressalta-a-garra-das-alunas-do-pro- saber-30-8-2017-14-31-25-3519.png. Acesso 29 julho de 2019. 11 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 Conceitos: concepções, dimensões e suas especificidades no ato de planejar Pelas definições preliminares do tema em pauta importa tratar de planejamento educacional e de suas terminologias, definindo, inicialmente, o que seja educação no mundo moderno. De acordo com Santos (2016, p. 157), apresenta a seguinte definição: diz respeito ao processo a partir do qual o ser humano se desenvolve, consegue comunicar-se com outros, participa dos grupos sociais e culturais que o cercam, mesmo que opte por isolar-se, e aprende a manusear os signos e símbolos da cultura, dando-lhes significado e sentido no processo de apreensão do mundo. Desse modo e tratando-se de educação é válido retomar a questão, do: » Para que planejamos algo? Analisando-se o Planejamento Educacional como uma área do conhecimento alicerçada na educação, no ensino, na escola, especialmente na sala de aula, espera-se entender que o planejamento ajusta dados científicos e filosóficos, uma vez que, cada abordagem de conhecimento que lhe é feita, possui artifícios de controle e averiguação experimental e, ao mesmo tempo, subsídios reflexivos que, considerados na prática específica de cada segmento e de suas condições reais, são abastecidos de criatividade e diversidade relativos às suas especificidades. Importante destacar que numa raridade de ações desenvolvidas em nossos meios sociais e, essencialmente em nossas vidas, poucas são aquelas que independem de planejamento, desde itens mais simples, às providências básicas a serem tomadas no que concerne às decisões dentro das administrações nacionais com vistas futuras de operacionalizações de decisões e ações políticas, econômicas sociais, que isoladas, e/ou conjuntamente, atuem para o bem comum. Planejar é uma etapa extremamente importante para todas as atividades desenvolvidas pelo homem e isso tem assumido, devido à complexidade das informações com as Provocação Agora é com você! Repense e transfira esse sonho para a realidade: » O que é possível fazer por meio de querer fazer, organizar, sistematizar, para o alcance de um objetivo real de vida. 12 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO quais se tem que trabalhar, relevância significativa na atualidade. Como planejamento consideram-se hoje, diversas definições, que convergem para um ponto comum, ou seja, a organização dos passos que serão dados para se chegar a determinado objetivo. Mas, o que é Planejamento? Há que se definir o planejamento como um método para o qual seja indicada uma circunstância de futuro esperado. Para tanto, há necessidade de avaliar assiduamente o contexto cuja pretensão seja de: o que quero fazer, como, quando, quanto, para quem, por que, por quem, onde será feito e por quanto tempo? Em Carnoy (2002, p. 17) depreende-se que: o planejamento da educação assumiu uma nova envergadura: além das formas institucionais da educação, ele incide presentemente sobre todas as outras atividades educacionais importantes, desenvolvidas fora da escola. O interesse dedicado à expansão e ao desenvolvimento dos sistemas educacionais é completado e inclusive, substituído pela crescente preocupação em aprimorar a qualidade de todo o processo educativo e avaliar os resultados obtidos. Nos dicionários Koogan/Houaiss (1999), planejamento é o ato ou efeito de planejar; plano de trabalho pormenorizado; função ou serviço de preparação do trabalho. Já em Aurélio (2014), o planejamento é o ato ou efeito de planejar. É o processo que leva ao estabelecimento de um conjunto coordenado de ações, visando à consecução de determinados objetivos. Planejar é elaborar um roteiro de ações para se atingir determinado fim. Realmente, ninguém planeja alguma coisa para o nada, ou a partir do nada. Ninguém planeja alguma coisa se não tiver objetivos simples e claros para serem atingidos. Freire et al. (1997, p. 55) afirmam que “Planejamento é um processo ininterrupto, processual, organizador da conquista prazerosa dos nossos desejos onde o esforço, a perseverança, a disciplina, são armas de luta cotidiana para a mudança pedagógica”. Haydt (2006, p. 94) afirma que planejar é analisar dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de ação para superar dificuldades ou alcançar os objetivos desejados. Portanto, o planejamento é um processo mental que envolve análise, reflexão e previsão. Nesse sentido, planejar é uma atividade tipicamente humana. Para Gandin (2001, p. 83): [...] é impossível enumerar todos os tipos e níveis de planejamento necessários à atividade humana. Sendo a pessoa humana condenada, por sua racionalidade, a realizar algum tipo de planejamento, está sempre 13 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 ensaiando processos de transformar suas ideias em realidade. Embora não o faça de maneira consciente e eficaz, a pessoa possui uma estrutura básica que a leva a divisar o futuro, a analisar a realidade e a propor ações e atitudes para transformá-la. Para Libâneo (1994, p. 22), o planejamento tem grande importância por tratar-se de: “um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”. Luckesi (2011, p. 19) afirma que: podemos definir o planejamento como a aplicação sistemática do conhecimento humano para prever e avaliar cursos de ação alternativos, com vista à tomada de decisões adequadas e racionais, que sirvam de base para a ação futura. Planejar é decidir antecipadamenteo que deve ser feito, ou seja, um plano é uma linha de ação pré-estabelecida. Segundo Oliveira (2007, p. 21), [...] o ato de planejar exige aspectos básicos a serem considerados. Um primeiro aspecto é o conhecimento da realidade daquilo que se deseja planejar, quais as principais necessidades que precisam ser trabalhadas; para que o planejador as evidencie faz-se necessário fazer primeiro um trabalho de sondagem da realidade daquilo que ele pretende planejar, para assim, traçar finalidades, metas ou objetivos daquilo que está mais urgente de se trabalhar. Nessas reflexões, o termo planejamento, também, aponta para o ato ou efeito de planejar, criar algo para se alcançar um objetivo, portanto, é uma ação com caráter multidisciplinar individual ou coletiva que pode envolver diferentes áreas como o econômico, financeiro, familiar, educacional, dentre outros e essencial na tomada de decisões. Comprovadamente, o sujeito que decide pelo planejamento como instrumento de trabalho, demonstrando interesse em prever e organizar suas ações e processos que acontecerão no futuro cresce em competência porque age com eficácia e racionalidade. Por meio do estudo sobre Sistemas como proposto por Bertalanffy (2008), há indicação de três níveis de planejamento, como o estratégico, o tático e operacional, abalizando para reais melhorias no campo tecnológico do planejamento, revolucionando, assim, a educação, a organização militar e a forma de abordagem para as dificuldades ecológicas. Sobre esses planejamentos entendeu-se que o planejamento econômico surgiu no ocidente depois da Segunda Guerra Mundial, buscando determinar objetivos e meios dentro de uma empresa, indicando estratégias que beneficiem essa mesma instituição. 14 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO O conceito de planejamento financeiro, indicado por meio de um orçamento mensal ou poupança com o objetivo de compra são tarefas desse tipo de planejamento. Na atualidade, o planejamento estratégico é elemento crucial para o sucesso de uma instituição, pois facilita, sobremaneira, a gestão dela. Pensar estrategicamente é primordial para o empreendedorismo porque ajuda na determinação de objetivos e suas estratégias para o alcance desses mesmos objetivos; significa prever a utilização dos recursos disponíveis de forma eficaz, com vistas à melhoria da qualidade e da produtividade do indivíduo e, consequentemente, da empresa. Já existem indicativos positivos quanto à eficácia, inclusive do planejamento estratégico pessoal, que é o ato de pensar a vida pessoal de forma estratégica, identificando a sua missão e valores, conjuntamente às metas e objetivos pessoais para o que se pretende alcançar. Figura 2. Constituição Federal brasileira. Fonte: http://www.ebc.com.br/infantil/verde-amarelo/2013/10/5-de-outubro-aniversario-da-constituicao-federal. Acesso em: 29 junho de 2019. Nesse contexto de estudos, é importante destacar que o planejamento familiar está garantido pela Constituição Federal do Brasil (CF/1988), e é representado pelo conjunto de medidas que auxiliam as pessoas a planejarem a gestão do tamanho de sua família, ou seja, se querem mais filhos ou não. Observe a lei A título de conhecimento O princípio do planejamento familiar foi consagrado tanto em sede legal (art. 1.565, § 2o, do CC de 2002), quanto constitucional (art. 226, § 7o, da CF/1988), senão vejamos: O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas (CC, art. 1.565, § 2o). 15 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 O planejamento deve ser percebido como um método de equilíbrio entre os elementos de funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações grupais e outras atividades humanas. A ação de planejar é consecutivamente um processo de reflexão para tomada de decisão sobre a ação. É um método de antevisão do uso de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à realização de escopos, em tempos determinados e fases definidas, considerando os efeitos das avaliações (PADILHA, 2001, p. 30). Quanto ao Planejamento Educacional, esse é um processo sistêmico com abrangência maior, pois trata das questões políticas e filosóficas do ato de ensinar em determinada sociedade e deve acontecer em nível nacional, estadual ou local. Para exemplificar pensemos no Brasil que, previsto em lei, oferece a Educação Básica em suas etapas de Ensino Fundamental (segmentos I e II) e o Ensino Médio. No quadro a seguir organizado por Padilha (2001), pode-se perceber melhor, a definição do que caracteriza o Planejamento Educacional. Quadro 1. Características do planejamento educacional. Categorias Tipos Características Níveis 1. global / de conjunto Para todo o sistema 2. Por setores graus do sistema escolar 3. Regional Por divisões geográficas 4. Local Por escola Categorias 1. Técnico Por utilizar metodologia de análise/previsão/programação 2. Político Por permitir tomada de decisão 3. Administrativo Por coordenar atividades administrativas 4. Sistêm. estratégico visão total do sistema educacional. (recursos e oportunidades) 5. Tático Abrange todos projetos/subordinados ao Planejamento Estratégico Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas (CF, art. 226, § 7o). O referido princípio encontra-se regulamentado na Lei no 9.263/1996, que assegura a todo cidadão, não só ao casal, o planejamento familiar de maneira livre, não podendo nem o Estado, nem a sociedade ou quem quer que seja, estabelecer limites ou condições para o seu exercício dentro do âmbito da autonomia privada do indivíduo. A Lei no 9.263/1996, em seu art. 2o, considera como planejamento familiar o conjunto de ações de regulação de fecundidade que garante direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem e pelo casal. Trata-se de uma legislação mais voltada à implementação de políticas públicas de controle de natalidade e da promoção de ações governamentais dotadas de natureza promocional, que garantam a todos o acesso igualitário às informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade. 16 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO Categorias Tipos Características Quanto ao prazo 1. Curto prazo Um a dois anos 2. Médio prazo Dois a cinco anos 3. Longo prazo Cinco a quinze anos Enquanto método 1. Demanda Base nas demandas individuais de educação 2. Mão de obra Base nas necessidades de mercado 3. Custo e benefício Base nos recursos disponíveis Criado pela autora com base em: “Quadro-síntese” (Fonte: PADILHA, 2003, p. 57). [...] planejar é um processo que visa responder a uma questão, estabelecendo fins e meios que apontem para sua solução e superação, ou seja, atingir objetivos propostos anteriormente que levem em conta a historicidade e a prospecção futura. Deste modo, organizar e planejar as atividades no âmbito escolar e educacional significa compreender as relações institucionais, interpessoais e profissionais que ocorrem na escola, ampliando e avaliando a participação dos diferentes segmentos. (PADILHA, 2003, p. 58). No que tange ao Planejamento Escolar (o que será detalhado em outro capítulo), fica entendido ser a ferramenta utilizada pelo professor para auxiliar melhor o seu desempenho didático-pedagógico, visando à melhoria contínua da aprendizagem dos alunos. Por meio desse planejamento, o docente prevê atividades, ou seja, os procedimentos a serem propostos, determinando objetivos pretendidos para cada atividade. Nesta área são consideradas três modalidadesde planejamento, quais sejam: plano da escola, plano de ensino, plano de aula. A importância da participação como elemento-chave no planejamento da educação Nessas premissas importa a relevância que deve ser atribuída à participação ativa da sociedade no âmbito do planejamento educacional, como processo sistêmico que é, seja em nível nacional, estadual ou municipal. Melhor seria se todos compreendessem essa necessidade, certamente os resultados seriam bem mais promissores. Nessa linha de reflexão pode-se destacar o pensamento de Lück (2009) quando afirma que são termos intrínsecos a democracia e a participação, pois um remete ao outro. Infelizmente, apesar de a democracia ser impossível sem participação social, pode haver participação alheia ao comportamento democrático. 17 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 Demo (1999) também manifesta seu pensamento ao relacionar aspectos democráticos e participativos, mas antecipa que a participação se não deveria ser treinamento democrático. Com relação a isso, esse autor aponta que: [...] através dela aprendemos a eleger, a deseleger, a estabelecer rodízio de poder, a exigir prestação de contas, a desburocratizar, a forçar os mandantes a servirem à comunidade, e assim por diante. Sobretudo, aprendemos que é tarefa de extrema criatividade formar autênticos representantes da comunidade e mantê-los como tais (BOBBIO apud DEMO, 1999, p. 71). Tal importância ocorre pelo fato de se considerar a participação como um processo ativo e cooperativo entre os pares, caracterizado pela partilha e presença nas ações do dia a dia nos processos de gestão da educação, objetivando a superação dos desafios e demais impedimentos, assim como da realização de seu papel e do desenvolvimento de sua identidade. Ainda de acordo com Demo (1999, p. 18), a participação não deve ser entendida como presente ou uma concessão de alguma coisa preexistente, mas, entendida como uma conquista de superação de atitudes e modismos individuais que tem como meta impulsionar as tarefas em grupo. Dizemos que participação é conquista para significar que é um processo, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo. Assim, participação é em sua essência autopromoção e existe enquanto conquista processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação que se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir. Nesse entendimento há que se concordar com vários autores consultados, o fato de recaírem nos aspectos social e cultural as principais ênfases do planejamento participativo. Os conceitos que o sustentam foram criados por cientistas sociais, contestadores do pensamento científico tradicional, racionalista e positivista, cujo principal foco da participação é a procura e o encontro de significados. O significado não representa o que o planejador tem em mente, mas o sentido que os sujeitos conferem às próprias percepções, vivências e conhecimentos relacionados aos fatos e dados que o rodeiam. Saiba mais A sistematização como linha de ação para a elaboração de um plano de educação Sabe-se que para a elaboração de uma política pública educacional necessita-se da participação da comunidade escolar para que esta política seja eficaz e denote a qualidade da educação que se visa. Assim, a elaboração de um plano de educação requer atenção especial no seu processo de construção para que a participação popular não seja uma participação camuflada, em que os atores sociais participam apenas de corpo presente, sem emitir suas opiniões. 18 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO Como investigação no processo de elaboração de um plano de educação, propomos alguns elementos da metodologia da sistematização. Esta metodologia se caracteriza por permitir as falas dos sujeitos envolvidos no processo de planejamento. Trata-se de uma linha de ação que oportuniza a expressão de experiências de vida que levam a práticas reflexivas que se transformam em ensejo de vida, de novas aprendizagens e de crescimento pessoal e coletivo. São práticas apoiadas na liberdade como um valor que instiga a criação e o planejamento por meio do pensar sobre o passado, o presente e, principalmente, sobre o futuro. As falas são instigadas na perspectiva que interessa aos intelectuais orgânicos, conceito criado pelo italiano Antonio Gramsci e entendido como o indivíduo intelectual que se mantém ligado a sua classe social originária, atuando como seu porta-voz; assim também os demais participantes e à medida que proporcionam algumas respostas e novas perguntas a questões e aspectos envolvidos no processo de planejamento. Figura 3. Intelectuais orgânicos. Fonte: https://passapalavra.info/2012/02/53056/. Assim, a metodologia produz um conhecimento que resulta do entrelace das perspectivas dos intelectuais orgânicos e da população. A sistematização é uma proposta metodológica aberta e flexível que rompe com a rigidez formal, produzindo novo conhecimento pela união do conhecimento do intelectual orgânico e do cidadão comum pertencente ao local, levando em conta a diversidade dos atores sociais envolvidos com a prática transformada em objeto de investigação. Nesse contexto, a sistematização é utilizada para desenvolver as práticas democráticas e participativas construídas juntamente com o povo, tendo como desafio principal orientar e propor caminhos e ações. Enfim, trata-se de uma metodologia que busca resgatar a participação ativa da população. Mesmo que a sistematização se constitua como um processo global, em que o todo deve ser analisado conjuntamente com as partes, ainda pressupõe um processo no qual fazem parte diferentes momentos reflexivos acerca dos desafios postos, tais como a elaboração de projetos, a aproximação dos sujeitos envolvidos, a discussão da viabilidade da sistematização, o acesso aos dados (registros e informações), a construção de narrativas, a reflexão e a teorização, a reconstrução e a elaboração de produtos para a comunicação (FALKEMBACH, 1997). Nesse entendimento, fazem parte da sistematização momentos de práticas distintas, entretanto, isto não significa que a sistematização necessita ser trabalhada a partir de cada momento diferente, uma vez que eles não são estanques, mas se entrecruzam. Não significa que cada momento tenha que ser trabalhado em um espaço e tempo diferente; não se trata de separar a reflexão da ação, até mesmo porque a sistematização é um ir e vir em cada momento integrante do processo. A metodologia da sistematização, como possível, subsidiará a elaboração de um plano de educação e pressupõe a construção do conhecimento a partir de práticas sociais já vividas, concretas, fazendo dos sujeitos sociais os próprios protagonistas da construção da política pública. 19 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 Prosseguindo com esse assunto, outro fator significativo que diz respeito à participação no planejamento é a obrigação de compreender a necessidade desse planejamento. Segundo Falkembach (1997), a partir dos espaços ocupados e dos tempos vivenciados, a sistematização possibilita a transformação das práticas sociais em objeto de reflexão e de produção de conhecimentos e aprendizagens, sendo esta ótimo processo educativo capaz de possibilitar uma participação de alta intensidade, já que o ser humano tende a assumir compromisso apenas com o que ajudou a criar. De acordo com as metodologias participativas, a elaboração de um plano educacional deverá estar baseada no pressuposto de que todos os cidadãos, independente de nível intelectual, classe econômica, cor, credo ou etnia, têm o direito de participar, sendo que as organizações comunitárias não detêm, pelo menos no que diz respeito aos planos educacionais, status ou prerrogativas especiais. Além disso, a participação deverá ser orientada por uma prerrogativa de regras de democracia direta e representativa. Postas as metodologias participativas como linha de ação fundamentalpara a elaboração de um plano de educação, apresentaremos, a seguir, alguns tópicos que acreditamos serem fundamentais dentro dessa metodologia, visando garantir a efetiva participação popular na elaboração da política pública. (Fonte: http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/319/Eveline%20Pasqualin%20 Souza.pdf?sequence=1, p. 63). Para refletir O conceito de Planejamento que estamos construindo traz consigo a exigência da Participação. Concebemos o planejar como uma oportunidade de repensar todo o fazer da escola, como um instrumento de formação dos educadores e educandos, bem como de humanização, de desalienação e de libertação. Colocamos como pano de fundo de todo o processo de planejamento, o desafio da transformação, ou seja, de conseguirmos de fato criar algo, ousar, avançar, dar um salto qualitativo. O fato de se buscar o planejamento participativo tem a ver com opções de ordem e de pragmática. A participação é um valor, uma necessidade humana (o homem se torna homem pela sua inserção ativa no mundo da cultura, das relações etc.). É uma questão de respeito pelo outro, de reconhecimento de sua condição de cidadão, de sujeito do sentir, pensar, fazer, poder. Além disso, a participação no planejamento tem a ver com uma questão muito prática: o desejo de que as coisas planejadas realmente aconteçam. O que muito desgastou o planejamento, como sabemos, foi o fato de se planejar e depois não acontecer. A atividade educacional é complexa e envolve um rol de determinantes articulados. A participação, portanto, é um elemento estratégico, é uma forma de diminuir, pela negociação, pela busca de consenso ou de hegemonia, as resistências dos próprios agentes internos à instituição. Para os educadores de diferentes realidades, de modo geral, os maiores problemas da escola apontados são da ordem de política interna e não tanto de proposta pedagógica: pessoas que não querem, não aceitam, não abrem mão, não deixam, controlam, não mudam. Por isso, quanto maior o nível de participação, maiores as chances de vermos o planejamento realizado. (VASCONCELLOS, 2009, p. 51). Quanto a isso, a melhoria da qualidade da educação, como ressalta Lück (2009), indica a priorização para descentralizar, democratizando as gestões, inclusive, a educacional e, para tanto, a participação tornou-se conceito central, de desempenho consciente de um grupo que reconhece seu poder influenciador nas dinâmicas culturais, partindo de competência e vontade para compreender, decidir e agir conjuntamente. 20 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO Figura 4. Planejamento Participativo. Fonte: https://blogdaqualidade.com.br/app/uploads/2013/06/Planejamento-necessidades-blog-da-qualidade.jpg. Acesso em: 3/3/2020. Portanto, sob essa ótica entende-se que o planejamento participativo oportunize que: Fonte: vasconcellos (2009). Além disso, é recomendado que a participação ocorra em todas as etapas, quais sejam: discussão, decisão, colocação em prática, avaliação e resultados do trabalho organizado. Dessa forma, se o planejamento é processo de tomada de decisões e de comunicação sobre metas a serem alcançadas no futuro, abalizando para a transformação controlada da realidade, o planejamento, quando participativo, busca, numa perspectiva múltipla, agregar os diversos atores envolvidos, para agirem de acordo com as decisões tomadas e, para tal, a presença 21 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 de um coordenador torna-se necessária para que exerça liderança, articulando diferentes interesses e competências dos sujeitos, facilitando o processo na formação dos diferentes níveis de participação. A partir dessas considerações é necessário perceber que o planejamento participativo deve ser opção e instrumento utilizado para que a sociedade atue, sistematicamente, na realidade por meio de processos avaliativos, uma vez que eles miram o futuro contextualizado e da realidade social e educacional. Para tanto, deve ser global, coeso, contínuo, flexível e interdisciplinar. Nesse espaço, cuja proposta é refletir sobre Planejamento, vale ressaltar a influência dos estudiosos Taylor e Fayol que tanto se destacaram no estudo da Administração. Dentre seus constructos teóricos, Taylor e seus seguidores descrevem os Princípios da Administração Científica, maximizando que a gerência adquire outras contribuições e responsabilidades quando descrita por esses princípios e métodos, sendo o do Planejamento o primeiro deles, afirmando que essa ação deveria substituir no trabalho, o critério individual do funcionário, bem como a improvisação e atuação empírico/prática, por artifícios baseados em fórmulas científicas, essencialmente substituindo a improvisação pela ciência, por meio do planejamento das ações e o controle do processo de trabalho. Com o ideal um tanto revolucionário da administração bem delineada por objetivos, é que nasce o planejamento estratégico compreendido como processo de especificação, definida de objetivos das instituições e das decisões, ações e programas que fazem a empresa. Ao final da década de 1960, essa linha de pensamento foi percebida na prática administrativa como de Fayol, alertando os administradores para atuações voltadas à estratégia organizacional relacionada à tomada de decisão, aprovando, então, o planejamento organizacional ou empresarial que reforça a elaboração do planejamento estratégico. Segundo Kwasnicka (2003, p. 158), O planejamento estratégico é um processo contínuo que compreende quatro preocupações: horizonte tempo maior (longo prazo); amplitude ou abrangência (administração de cúpula); especificação de metas e objetivos e meios para alcançá-los; e relacionamento da organização como ambiente externo. Importante lembrar que foi no mundo do trabalho, ou seja, no contexto das proposições administrativas das companhias, que as teorias foram sendo organizadas, constituindo as chamadas escolas de administração e que, atualmente, adorna o espaço da administração escolar. Neste sentido, diversos teóricos do assunto entenderam que esses princípios deveriam ser justapostos em qualquer campo social ou produtivo, incluindo a gestão escolar da educação e da escola. 22 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO Diante disso, o planejamento não deve ser tomado apenas como mais um procedimento administrativo e burocrático advindo de cobrança superior ou de outra instituição externa, mas ser entendido como a edificação de procedimentos e união dos vários atores, segmentos e setores da empresa ou instituição. “Às vezes, há uma tentação enorme de ficar gastando tempo com problemas menores, quase sempre da esfera administrativa ou burocrática. Justamente por isso é tão importante planejar o planejamento.” (VASCONCELLOS, 2002, 86). Alguns elementos como a não participação, o idealismo e as correntes do pensamento como a metafísica e a dialética são determinantes ao se elaborar um Planejamento. Segundo Vasconcellos (2002), ao destacar que o planejamento pode ser utilizado como instrumento de dominação quando só um pequeno grupo planeja e decide para um grupo de pessoas que deverá somente executar. Salienta, ainda, que, dessa forma, pode ser iniciado um processo de alienação e introspecção, quando, na verdade, o indivíduo prefere a unidade entre o pensar e o fazer, o analisar e o decidir, o construir e o usufruir. Saiba mais Planejamento da Gestão Escolar Dessa forma, o Plano de Gestão escolar abarca todos os fazeres da escola, bem como as ações que serão atingidas, que devem incluir, entre outros itens, a ficha de cadastro da escola, conjunto de alunos, resumo do rendimento escolar do ano antecedente, discernimentos usados para a aglomeração dos alunos, determinações a serem aceitas pela escola, período de férias do setor administrativo, calendário escolar, horário de aulas, plano de aplicação das soluções financeiras, entre outros. Bem mais do que uma inovação da versão do Plano de Escola,o Plano de Gestão é um documento que individualiza a dinâmica na medida em que se deve desempenhar o acompanhamento de todos os fatos escolares ao longo de quatro anos, apontando a operacionalização do Projeto Pedagógico e do Plano de Ensino conjugado. São planejados os desígnios e os conteúdos, visando à intenção dos alunos do ciclo propriamente dito. Sendo, assim, um dispositivo de ciclos que embarga a ideia de que todos os alunos aprenderão sem a aceleração do conteúdo, poupando o ritmo de cada aluno presente. O mais admirável componente do Plano de Gestão é a operacionalização e acompanhamento das metas e objetivos do Projeto Pedagógico e do Plano de Ensino, dirigindo a qualidade do ensino que será dada aos alunos. O Plano de Gestão deve, então, ponderar os objetivos e metas pedagógicos de, no mínimo, um semestre. Se o Plano se acomoda à escola, este poderá ser efetivado, sendo, assim, a sua real efetivação ao final dos quatro anos. É importante a reunião de todos os envolvidos, periodicamente, para o julgamento do Plano de Gestão, para que seja demarcado se houve o empenho de gerenciar. Desse jeito, é possível tornar o plano um documento autêntico e de utilidade na metodologia pedagógica. Todo o Plano de Gestão Escolar submerge os aspectos administrativos e pedagógicos, de maneira operacional, gerenciando os Planos Pedagógicos. Sendo assim, o Plano de Gestão começa a ser um documento que avaliará de tempos em tempos as metas e os objetivos e admitirá o controle do Plano de Ensino, ao longo de quatro anos. A maior importância e garantia do Plano de Gestão Escolar é de desempenhar um bom funcionamento do Projeto Pedagógico e do Plano de Ensino. 23 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 De modo geral e, culturalmente, nossa sociedade age pelo idealismo, com a tendência em valorizar as ideias em detrimento da prática e supervalorizando o poder das ideias, como se bastasse uma única ideia clara para provocação da transformação da realidade. Alerta- se, para isso, a necessidade de que o planejamento não seja engessado e nem visto como “senhor do futuro”, que por meio dele o sujeito é capaz de prever e controlar, modificando esquemas preestabelecidos. Essas contradições mencionadas em breve reflexão remete-nos à uma questão inicial que é o próprio modo de ver e entender o mundo, em especial, as relações entre os homens e seus papéis na sociedade, assim como às questões filosóficas básicas, como o existir; é a própria visão de mundo ou a cosmovisão. Atualmente podemos perguntar: » Mas, por onde começar um planejamento educacional com excelência? A excelência, também, indica para a humanização, soltura das amarras do que já não tem mais significado eficaz. São muitos os desafios do século XXI que, como sabido, advêm das mudanças paradigmáticas que nos convidam a repensar o nosso jeito de estar no mundo. Se antes prevaleciam a linearidade e a certeza das respostas aos questionamentos humanos, em certos e errados, bons e maus, hoje, nos impacta a complexidade da vida e, mais do que respostas, estamos a todo o momento nos indagando. Segundo Morin (2002, p. 35) Trata-se de uma necessidade histórica-chave: uma vez que a complexidade dos problemas de nosso tempo nos desarma, torna-se necessário que nos rearmemos intelectualmente, instruindo-nos para pensar a complexidade, para enfrentar os desafios da agonia/nascimento desse interstício entre os dois milênios e para pensar os problemas da humanidade na era planetária. De acordo com Vasconcellos (2009), dependendo da eficácia dos grupos que o elaboram é preciso considerar três dimensões básicas a serem respeitadas no planejamento, quais sejam: a realidade, a finalidade e o plano de ação. Este último pode ser consequência da articulação entre a realidade e a finalidade ou a vontade do grupo para fazer. A primeira dimensão – a realidade – orienta que planejar é tentar ‘‘prever’’, enlaçar os acontecimentos no tempo e ao nosso anseio. Tanto o para quê, como o quê referem-se à realidade, sendo o ponto de partida e o de chegada, só que já transformada. A atividade reflexiva que caracteriza esta dimensão é a cognoscitiva que diz respeito ao ato de refletir uma realidade presente e que se tem a pretensão de conhecer. Detalhando melhor essas dimensões: quanto à realidade do planejamento importa a previsão, o ajustamento do tempo futuro ao nosso desejo. Esta deve ser aberta, dinâmica em um projeto, também, dinâmico. A finalidade aponta para o estado futuro 24 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO de coisas, à direção para transformar o que é naquilo que deve ser. Já a mediação é a previsão das ações, do movimento, da sequência de operações a serem realizadas para a transformação da realidade. Nessa linha de pensamento observa-se que não tem importância, se especificadas primeiro a realidade e a finalidade ou o desejo. Explicando isso: o profissional pode iniciar seu planejamento ‘‘sonhando’’, desde que depois esses dados sejam colocados dentro das possibilidades reais de cada instituição. Não raro acontecer de um grupo demonstrar incredulidade e descrença quando, ao final de um trabalho, os resultados avaliativos não sejam os melhores. De acordo com Vasconcellos (2009), a cada uma dessas dimensões do planejamento corresponde um tipo de atividade reflexiva: Cognoscitiva, Teleológica e Projetivo-Mediadora. Dessa forma e para melhor entendimento: Quadro 2. Dimensões e atividades reflexivas correlatas na elaboração do planejamento. Dimensão do planejamento Atividade reflexiva Realidade Cognoscitiva Finalidade Teleológica Mediação Projetivo-Mediadora Fonte: vasconcellos (2009). Vásquez (apud Vasconcellos, 2009, p. 45) reafirma a práxis como junção ou articulação da reflexão com a ação, ou seja, da teoria com a prática. Desse modo, a atividade reflexiva no conjunto pode ser compreendida como mediadora da ação humana consciente e, por isso, podemos fazer corresponder à atividade reflexiva, três níveis, a saber: Figura 5. Três níveis da atividade reflexiva. Fonte: Desenvolvido a partir dos conseitos de vasconcellos (2009). 25 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 Por exemplo, um professor imagina um Projeto X, mas, esta imaginação fundamenta-se em suas experiências anteriores, portanto, na própria realidade. Já a Mediação, também, considera a realidade tanto de experiências anteriores, quanto dos recursos disponíveis e, assim, sucessivamente. De acordo com Vasconcellos (2009, p. 48), o verdadeiro processo de planejamento, além de sua construção, acarreta, explicitamente, uma experiência de realização. O originalmente humano é, se a partir da realidade houver projeção da finalidade e agir sob influência determinante tendo como referência essa finalidade. Quanto a isso, se acontecer a prática comum de projetar a finalidade e, em seguida, o indivíduo ou grupo esquecer-se dela, não se comprometendo com a sua realização, ou seja, quando alguns pensam e decidem e outros executam torna-se característica de uma ação humana dita alienada. Não é suficiente ter finalidade inicial, explica Vasconcellos (2009, p. 49), “é preciso que ela acompanhe a atividade de concretização, ainda que o resultado, em função de fatores intervenientes, saia diferente do ideal inicial”. De acordo com Abreu (apud FRIEDMANN, 2004, p. 34), os predicados utópico, estético e ético são os fundamentos básicos do planejamento. Por meio deles, quando realizamos o planejamento podemos sonhar com uma sociedade ética e, qualitativamente, correta para os indivíduos. Por meio do Fundamento Utópico acenamos para o sonho, para vontade de no futuro ver realizadas as aspirações da sociedade. Por ele se tem o desejo de mudar o presente, melhorar a qualidade de vida das pessoas, conjeturando um futuro melhor. A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe, só porque existe, em nome de algo radicalmentemelhor que a humanidade tem direito de desejar e porque vale a pena lutar (SANTOS,1996 apud VASCONCELLOS, 2000, p. 91). Quando o sujeito tem como meta alcançar e preocupa-se, constantemente, com o belo, ele está envolvido pelo Fundamento Estético. Esse é compreendido como uma predefinição entendida como repetitiva inquietação de quem planeja e deve manter na tomada de decisão, entendendo que suas ações oportunizam modificações físicas, socioeconômicas e culturais na sociedade. Conforme reflete Abreu (apud FRIEDMANN, 2004, p. 35), o Planejamento Estético deve assegurar a manutenção da harmonia, conforme os padrões culturais da sociedade, colaborando para o aumento desses padrões culturais, visando, também, à melhoria da qualidade de vida das pessoas. Atenta-se que a função principal da estética não é 26 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO somente a criação de subsídios paisagísticos, arquitetônicos, cromáticos e outros, mas oportunizar condições de harmonia que deem ao homem a dignidade para viver.. Agora, bem ampliado é o Fundamento Ético que envolve, além dele mesmo – o ético, o ideológico e o filosófico. Tal relação ética com o planejamento são essencialmente os valores que aguçam a verdade, indicando excelência nos fatos e dados que se articulam em volta da ética. Desde a Grécia antiga, berço das contendas filosóficas, compreende- se a ética como um pensamento em ação. Como relata Abreu (apud FRIEDMANN, 2004, p. 36): Ser ético, na política e no planejamento, é promover a inversão de alguns valores que estão invertidos na sociedade, a exemplo: a primazia de ganhos econômicos em detrimento do meio ambiente ou do bem comum. Ser ético é ser probo na gestão e aplicação de recursos públicos A ética procura estabelecer princípios e valores que levem as pessoas a viverem em harmonia na sociedade. Isto porque relacionam regras de convivência, seguindo princípios e valores que garantam boa vida aos grupos sociais. Em Santos (2016), pode-se constatar, numa visão filosófica, o modelo de tridimensionalidade, com a seguinte leitura a respeito das dimensões do planejamento educacional, às quais o autor define como pedagógica, administrativa e estratégica, que se agregam intrinsecamente. Assim, cabe indicar na dimensão pedagógica o destaque para as concepções políticas e filosóficas relacionadas a quem planeja, ou seja, é a partir dessa dimensão que são elaborados os objetivos de ensino e na qual estão relacionadas as noções de ensino-aprendizagem, estratégias pedagógicas, metas, indicadores e demais componentes que são pertinentes a essa dimensão e para as quais há de se considerar o cunho político, de quem organiza o planejamento. Por meio da distinção entre matéria e forma citadas por Aristóteles, podemos compreender que, no planejamento educacional, o ensino-aprendizagem constitui o conteúdo e os jeitos como a dimensão pedagógica venha a se concretizar agregam a forma. De acordo com Santos (2016), na dimensão administrativa há projeção do controle dos processos, mas tal fato não sugere que esse controle não se prende às técnicas de Atenção Aristóteles, em sua Metafísica (2004) dividia a investigação filosófica e os processos atinentes à investigação em duas instâncias: matéria e forma. Enquanto a matéria refere-se ao conteúdo do que se pretende compreender ou abordar, a forma diz respeito aos aspectos técnicos, teóricos e metodológicos que conduzem a investigação e a colocam sob um escopo discursivo, passível de ser apreendido pelos outros sujeitos. Para exemplificar, tomemos a seguinte situação: uma peça de teatro é produzida. A matéria diria respeito ao tema, ao título da peça: a forma referir-se-ia às encenações, ao figurino e ao cenário dos atores (SANTOS, 2016, p. 11). 27 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 gerência, pois, sabendo-se que o planejamento educacional tem as suas especificidades, assim também acontece com a administração educacional, cujas características induzem ao entendimento da imprescindibilidade de controle dos processos pedagógicos e suas atividades-meio. [...] a administração educacional seria o campo de conhecimento destinado a investigar e sistematizar o conjunto de processos relativos ao gerenciamento e ao controle de processos implicados na consecução de objetivos educacionais (principalmente pedagógicos) nos níveis macro, meso e micro, abrangendo, dessa forma, processos que vão desde a organização de objetivos de ensino em um plano de aula até a formulação de programas mundiais para a educação (SANTOS, 2016, p. 12). Abalizado nessa definição depreende-se que o planejamento educacional não desaparece na dimensão administrativa, uma vez que não existindo começos e regras pré-concebidas a serem seguidas, metas, indicadores e processos perdem o significado. Para melhor entendimento pode-se detalhar que (conforme a distinção aristotélica), na dimensão pedagógica sobressai a ‘‘matéria’’ e é na dimensão administrativa que se desenha a ‘‘forma’’ do planejamento educacional. Dessa forma, e considerando as dimensões mencionadas por Santos (2016) para avaliar o resultado de um planejamento, torna-se imperativo abordar a visão estratégica, tendo em vista que as necessidades reais indicam que se tome decisões e/ou emprego de outros projetos para eliminar os acontecimentos que interferem na administração, infraestrutura e nos aspectos pedagógicos. Assim, essa dimensão também pode ser condicionante, ou seja, as estratégias interferem na prática dos assuntos pedagógicos, de infraestrutura e dos administrativos, no modus operandi do planejamento educacional. Com isso, o caráter relacional das três dimensões traz outra particularidade, segundo Santos (2016), que é a noção de que não acontece uma influência irrestrita e decisiva do planejamento sobre a lógica administrativa (enfoque dialético), ao mesmo tempo em que não é impossível a logicidade na atividade do planejamento como idealizada sob o ponto de vista do senso comum (empírico). Provocação Então, sabendo que não há planejamento sem pesquisa precedente, o planejamento educacional é uma disciplina ou um campo do conhecimento? 28 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO Desafios contemporâneos na educação: novos olhares no planejamento Figura 6. Futuro exponencial. Fonte: https://futuroexponencial.com/wp-content/uploads/2018/05/invent-business.jpg. Acesso em: 3/3/2020. O que se depreende dessas reflexões é que o planejamento constitui um processo de trabalho que facilita ao sujeito da execução, seja o gestor, professor, chefe de estado, dono de empresas, que tanto podem conduzir aos acertos como ‘‘naufragar’’ nas intenções de atrações, vitórias, proveitos, ou aprovações. Com base em qualquer dimensão que se ocupa é necessário revisitar periodicamente o jeito de planejar, aplicando-o ao futuro da sociedade, do mundo, do governo, da escola para o próximo ano, semestre, bimestre e demais tempos. Nesse contexto é válido pontuar que planejar classicamente é passado, já foi conhecido, já aconteceu e, dessa forma, não há cooperação para o alcance de objetivos e nenhuma frente aos desafios dos novos tempos, apontados por mudanças tão rápidas e difíceis, senão incógnitas e, às vezes, impossíveis de acompanhar. Agora, planejar prospectivamente amplia a visão do real, ponderando que os indivíduos e as organizações olhem para a frente, vislumbrando a magnitude de um futuro, para caminhos novos e mais criativos, mesmo sendo produto de imaginação e do desconhecido, percebendo o que ainda não aconteceu. Dessa forma e para atender às chamadas organizações exponenciais, é a prospecção estratégica exemplo de inovação que atualmente sugere vasto repertório de ideias novas e devidas possibilidades entendidas como cerne ou essência do planejamento que responde aos desafios atuais, habilitando o sujeito a se aparelhar qualitativamente frente 29 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 às mudançase/ou antecipar-se a elas, com novo olhar sobre a gestão, desenvolvimento pessoal, ou ‘‘pensar como fazer diferente’’ os planos, processos e procedimentos. A ênfase do momento é sobrepor o classicismo do planejamento para o planejar com prospecção, isto é, adotar o futuro como abertura de inovação no presente, trazendo força fundamental para experimentar, ‘‘dançar’’ diferentes probabilidades, impondo Saiba mais O que são organizações exponenciais? O termo foi introduzido em 2014 por Ismail, Michael S. Malone e Yuri van Geest no livro com o mesmo título e refere- se ao impacto desproporcionalmente maior que causa quando comparado a empresas de modelo tradicional. No geral, a capacidade de crescimento de uma organização disruptiva chega a ser dez vezes mais rápida do que a de suas concorrentes por conta do uso da inovação a favor do negócio. Por que as organizações exponenciais têm crescimento acelerado? Número de funcionários maior e estrutura hierárquica mais fixa. Esses são os dois principais motivos pelos quais empresas tradicionais não conseguem mudar suas formas de atuação e seus métodos de gestão de maneira rápida. E foi a partir desses pontos que as organizações exponenciais perceberam uma oportunidade para crescerem e se diferenciarem. O ponto de partida foi a constatação de que a lógica do mercado mudou. No passado, quanto maior a força de trabalho de uma empresa, mais ela produzia. Por isso era tão difícil competir com as grandes organizações. Hoje, a tecnologia não apenas alterou o comportamento do consumidor, mas, também, permitiu agilizar, eliminar processos manuais e automatizar tarefas repetitivas dentro das empresas. Nesse cenário, a força de trabalho excessivo passa a ser uma barreira que reduz a velocidade das operações. Sendo assim, quando o negócio gira em torno da informação, o desenvolvimento da organização entra em crescimento exponencial, o que significa que a relação preço performance dobra (em média) a cada um ou dois anos. Resumindo o que são organizações exponenciais: aquelas que se livraram da barreira de uma força de trabalho excessiva e, por isso, têm uma velocidade de operação e de crescimento muito mais rápida, podendo contribuir eficazmente com a organização escolar e, consequentemente, facilitando a lida com a elaboração do planejamento educacional. Considerando, então, os significativos desafios contemporâneos na educação, é válido conhecer características de uma organização exponencial para correlacioná-las às questões, por vezes inquietantes sobre o planejamento dentro das escolas. Enquanto as organizações tradicionais operam de maneira linear, com uma quantidade-limite de recursos, as organizações exponenciais podem trabalhar com modelos de propostas didáticas inovadoras e ativas possíveis, com ganho de desempenho e qualidade desejáveis. Outro ponto importante: as organizações mais antigas têm clima e estrutura organizacional ainda baseados fortemente em hierarquia, centralização com baixa tolerância para risco. Já uma organização escolar com perfil exponencial carrega consigo, desde o seu nascimento, uma cultura de descentralização que valoriza a experimentação e a autonomia, na adaptação à mudança e ao diálogo com a comunidade educativa, ou seja, com os principais atores do processo: professores e alunos. 30 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO limites para as improvisações, maximizando os crivos de avaliação posteriormente à operacionalização dos projetos. De acordo com Peter Drucker (1992, p. s/n), grande expoente da Administração moderna, É total contrassenso querer ser disruptivo sem olhar para o imaginário do futuro e sem entrar no território do desconhecido. Peter Drucker explicava como acertava quase sempre em suas apostas que o consagraram como o grande gênio da administração moderna: ele olhava pela janela, via o que era visível, mas que ainda ninguém tinha visto. Esse é o desafio para quem deseja inovar: ver o que é visível, mas que ainda ninguém viu. Para isso existe o futurismo aplicado: ensinar como captar os sinais da mudança. Nessas reflexões de mundo novo não são suficientes os planejamentos do passado com seus modelos, objetivos, estratégias, procedimentos, como instrumentos superados e metodologias antiquadas, esses não suprem as necessidades do panorama educacional do Brasil, considerando a rapidez das informações e a facilidade de seu acesso à comunidade educativa (professores, alunos, pais, demais servidores e vizinhanças) que, cada vez mais independentes, necessitam revolucionar os jeitos de ensinar para que os alunos possam construir os seus saberes. O planejamento não é uma tentativa de predizer o que vai acontecer. O planejamento é um instrumento para raciocinar agora, sobre que trabalhos e ações serão necessários hoje, para merecermos um futuro. O produto final do planejamento não é a informação: é sempre o trabalho (PETER DRUCKER, 1992, p. s/n.). Sendo assim, vale considerar a necessidade de divulgação e comentários críticos reflexivos junto às comunidades sociais sobre aspectos da legislação da educação brasileira em vigor, citados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – no 9.394/1996, que versa sobre itens como a Inclusão, Bullying, Educação de Jovens e Adultos, Educação a Distância, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação Indígena e Educação Quilombola. Ora, considerando tais aspectos, como deixar de aludir a necessária atenção para com os devidos planejamentos, quer em nível nacional, estadual e municipal, incluindo o Distrito Federal? A pesquisa em âmbito nacional é vasta e, como alerta Santos (2016, p. 30), “não há planejamento sem pesquisa” e é única quanto às diversas formas e abordagens, métodos, objetos, tempos, modos e espaços em que ela deve ocorrer, quaisquer que sejam as abordagens: qualitativa, quantitativa, experimental sob vários enfoques (como fenomenológico, crítico dialético, neopositivista e histórico) oriundos da coleta de dados fornecidos pela comunidade. 31 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 Posicionamento do autor Devido a constatações como a acima mencionada é que neste livro optou-se, também, por breves lembretes e comentários sobre as práticas e alguns aspectos merecedores de atenção para as implantações nos ambientes educacionais e, por conseguinte, as citações legais que serão detalhadas no terceiro capítulo. Para refletir Ambientes de aprendizagem e metodologias ativas: novas trilhas no enfrentamento do bullying É fato que os fatores de proteção assumidos pelo professor fazem com que ele exceda seu papel de gestor de procedimentos e projetos pedagógicos em sala de aula e passe a incluir a providência de segurança em classe, com vistas a melhorar as respostas individuais a determinados riscos de desadaptação aos quais os alunos estão diariamente expostos, pelas circunstâncias trabalhosas que enfrentam, dentre elas, o bullying. Na atualidade, o que se tem percebido é que a escola e a sala de aula foram transformadas num sistema intricado de aprendizagem. Sistema, porque se forma como um detalhe da vida social e cultural de alunos, professores, pais e demais elementos da comunidade educativa. Além disso, deve se organizar e ser ambiente propício a lidar com os saberes, regras, linguagens, códigos e (por que não?) a reorganização das competências sociais dos alunos. O esperado é que nascesse diariamente, na sala de aula, um compromisso entre o professor e o aluno, relativo ao respeito entre eles e assentado aos ritmos, necessidades, pensamentos, exigências quanto ao cumprimento de um programa de ensino moldado numa relação pedagógica dialógica e de reaprendizagens de solidariedade, partilha, cooperação e busca de solução de problemas do dia a dia. Além disso, o aceitável é que a prática pedagógica ocorra por meio de ação planejada e organizada e revisitada pelo professor para o seu cotidiano de sala de aula, de modo que o processo de ensinoe aprendizagem seja gratificante e reforçador do desejo de aprender cada vez mais e com mais autonomia, tanto dele próprio como de seu aluno. Muito se fala acerca de novos modelos de ensino e aprendizagem. As mudanças requerem urgência, de fato, nos métodos de ensino e no aprimoramento das práticas pedagógicas. A escola clama por profissionais com habilidades de trabalhar e coordenar as atividades em grupos cooperativamente organizados, com o objetivo de desenvolver e/ ou reforçar nos alunos a capacidade de tomar decisões, serem críticos, reflexivos, empreendedores e protagonistas das próprias atitudes. Nessas avaliações são propostas outras metodologias hoje chamadas ativas, pois se firmam numa visão mais humanista e menos tecnicista da educação, como a sala de aula invertida, os mapas conceituais, a aprendizagem baseada em problemas com prospecção de cenários, estudos de caso, com o intuito de reorganizar os espaços físicos e emocionais de aprendizagem, desde a mais simples sala de aula às modernas salas de multimídia. A opção pelas metodologias ativas, como entendidas, poderá ser o caminho apontado para o desenvolvimento das competências relevantes no século XXI, na expectativa de atendimento aos aspectos pedagógicos, andragógicos e heutagógicos. A título de complementação, vale lembrar que a pedagogia está ligada aos processos educativos de crianças e adolescentes, em ambientes nos quais é do professor a maior responsabilidade de coordenar, orientando as experiências de aprendizagem; a andragogia direciona-se, por sua vez, para a educação dos adultos, já inseridos no trabalho, considerando principalmente suas motivações e experiências pessoais; a heutagogia surge em resposta às demandas da era digital, em que há acúmulo de informações disponíveis, dando aos sujeitos autonomia para decidirem o como, quando e o que aprenderem. Dessa forma, sobre os ambientes de aprendizagem e metodologias ativas, três abordagens são fundamentais de serem lembradas aos professores que se predispõem a provocar mudanças ao assumirem outros papéis de liderança em sala de aula; são as abordagens teóricas que fundamentam as metodologias ativas em contextos de educação, por considerarem a ligação do binômio ação-reflexão: cognitivismo, socioconstrutivismo e o conectivismo. 32 CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO Até aqui, ao final desse capítulo foi possível assinalar alguns itens de relevância. Vamos relembrar? O que esses conceitos significam na educação? O cognitivismo lembra o conhecimento de como o homem reconhece o mundo por meio dos processos mentais, ou seja, como o conhecemos... No processo de aprendizagem avalia-se a estrutura cognitiva como a organização e integração de conteúdos de suas ideias em uma área reservada de conhecimento, resultando na aprendizagem. O socioconstrutivismo é mais amplo que o construcionismo, incorporando o papel de outros fatores, inclusive da cultura, no desenvolvimento. Neste sentido, ele também pode ser comparado à teoria do aprendizado social, enfatizando a interação por meio da observação. Neste entendimento sobre o conhecimento e a aprendizagem que derivam, principalmente, das teorias da epistemologia genética de Jean Piaget e da pesquisa sócio-histórica de Lev Vygotsky, parte do princípio de que o homem responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada. O conectivismo apresenta um modelo de aprendizagem que reconhece as profundas mudanças sociais, reconhecendo que a aprendizagem não é mais uma atividade interna e individual. A maneira como as pessoas elaboram e trabalham são ações alteradas quando elas utilizam novas ferramentas. Na educação há lentidão em reconhecer, tanto o impacto das novas ferramentas de aprendizagem como as mudanças ambientais com o devido significado aprender. O conectivismo possibilita perceber as habilidades e as tarefas de aprendizagem necessárias para os aprendizes florescerem na era digital. Depois de maximizar as questões voltadas para as metodologias, entendeu-se a necessidade de priorizar o como fazer para o seu sucesso. Ora, sabe-se da importância a ser dada à elaboração do planejamento educacional e dos objetivos de ensino, antes de qualquer passo que se siga a ele, ou seja, amarrar o conteúdo pretendido e de forma que esse seja significativo. Importa lembrar aqui que objetivos e conteúdos determinam os métodos a serem buscados. Esses, por sua vez, devem assentar-se nos princípios de caráter científico e sistemático serem compreensíveis, com possibilidades de assimilação; assegurar a relação conhecimento e prática, assentar-se na unidade de ensino/aprendizagem, garantir a solidez dos conhecimentos e levar à vinculação trabalho coletivo-particularidades individuais. Para completar essas ponderações julgadas importantes nessas reflexões de rever as ações didático-pedagógicas, com o fim de planejar estratégias de enfrentamento do bullying na escola, imperioso se faz abordar os ambientes surgidos especificamente na última década, com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, integrados às possibilidades educacionais, que são os ambientes virtuais de aprendizagem – o chamado ciberespaço: ambiente virtual no qual as pessoas interagem e se relacionam, possibilitando novas aprendizagens, dentre elas, novos relacionamentos, quem sabe mais sadios? Sintetizando » A construção de um plano educacional requer a existência de compartilhamento de ideias e de interações de fala entre os vários atores envolvidos, pressupondo uma ação comunicativa, devendo, por isso, priorizar a participação eticamente correta entre todos. » Correlacionar o ato de planejar desde a criação do mundo pertinente ao campo teórico da administração, ao planejamento como área de conhecimento interdisciplinar assentada na educação, no ensino, na escola e na sala de aula. 33 PLANEJAMENTO: PERCEPçãO DE FUTURO • CAPÍTULO 1 » Analisando o Planejamento Educacional como uma área do conhecimento alicerçada na educação, no ensino, na escola, especialmente na sala de aula, perspectiva-se entender que o planejamento ajusta dados científicos e filosóficos, uma vez que, cada abordagem de conhecimento que lhe é feita possui artifícios de controle e averiguação experimental e, ao mesmo tempo, subsídios reflexivos que, considerados na prática específica de cada segmento e de suas condições reais, são abastecidos de criatividade e diversidade relativos às suas especificidades. » Há que se definir o planejamento como um método para o qual seja indicada uma circunstância de futuro esperado. Para tanto, há necessidade de avaliar assiduamente o contexto cuja pretensão seja de: o que quero fazer, como, quando, quanto, para quem, por que, por quem, onde será feito e por quanto tempo? » A importância da participação como elemento-chave no planejamento da educação. Nessas premissas importa a relevância que deve ser atribuída à participação ativa da sociedade no âmbito do planejamento educacional, como processo sistêmico que é, tanto em nível nacional, estadual e municipal. Ora, se todos compreendessem essa necessidade, certamente os resultados seriam bem mais promissores. » O conceito de Planejamento que estamos construindo traz consigo a exigência da Participação. Concebemos o planejar como uma oportunidade de repensar todo o fazer da escola, como um instrumento de formação dos educadores e educandos, bem como de humanização, de desalienação e de libertação. Colocamos como pano de fundo de todo o processo de planejamento, o desafio da transformação, ou seja, de conseguirmos de fato criar algo, ousar, avançar, dar um salto qualitativo. » A ênfase do momento é sobrepor o classicismo do planejamento para o planejar com prospecção, é adotar o futuro como abertura de inovação no presente, trazendo força fundamental para experimentar, ‘‘dançar’’ diferentes probabilidades, impondo limites para as improvisações,maximizando os crivos de avaliação posteriormente à operacionalização dos projetos. 34 Introdução Neste capítulo definiremos e explicaremos a importância de pensar antes sobre o que se propõe fazer, bem como definir as percepções sobre planejamento e suas especificidades que tanto podem se ligar a ideias de manutenção de realidades ou circunstâncias existentes, com vistas ao poder político ou econômico, como ater-se às ideias de inovação e mudança. Percorreremos etapas desde o início das civilizações para melhor entendimento e compreensão de que o homem tem sido desafiado a atuar e alterar as coisas, desde aspectos da natureza à própria humanidade. Nas reflexões propostas poderemos compreender todo um percurso feito em função de alcançar metas de qualidade e sucesso das questões educacionais, visando sempre à aprendizagem e à capacitação humana para modificar-se e/ou ao seu ambiente por meio de suas pretensões e elaborações. Objetivos » Relacionar a história do planejamento educacional desde o aparecimento do homem no universo, porquanto ele pensa e reelabora o seu pensar para agir ou realizar uma atividade que prepara, iniciando do planejamento idealizado. » Inventariar o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, contextualizando-o com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do País e de cada região que o compõe, inserindo nesse processo a existência do planejamento. » Situar o contexto e o processo de elaboração do planejamento educacional do Brasil pertinentes ao processo de desenvolvimento e compreensões de sua história, explanando seus fundamentos básicos, assim como seus elementos e suas características. 2 CAPÍTULO EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA? 35 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 » Perceber que o planejamento nasce na necessidade do homem organizar algo e essencialmente as relações existentes na sociedade com vista à convivência social com o outro e no grupo, fortalecendo relacionamentos. Aspectos históricos e padrões conceituais Numa perspectiva de entendimento traçaremos, imaginariamente, uma linha no tempo, no intuito de melhor compreensão sobre a história do planejamento, procurando explicitar, ainda que sucintamente, como ocorreram as fases de construção dele, porque dificilmente será possível saber quando e onde surgiu o planejamento. No entanto, podemos analisar que essa história poderá ser relatada desde o aparecimento do homem, tendo em vista que ele pensa e reflete sobre o seu pensar a fim de realizar algo, tarefa essa que é iniciada de um projeto previamente imaginado. Nessa reflexão e sem medo de erro pode ser assegurado que planejar é uma ação intrínseca a um ser pensante que, desde o início da história, quando vivia em cavernas, fazia e utilizava ferramental como pedras e madeiras, caçava alimentos e se protegia do tempo e de outras intempéries com peles dos animais, atentando ainda que o surgimento do fogo deu-lhe mais capacidade para agir e criar, delineando mudanças, além de migrar para outras regiões, na busca da melhoria de qualidade de vida. Segundo Turra et al. (1996, p. 272), do ponto de vista histórico, as informações são de que, desde o início, o homem é provocado a modificar o ambiente natural, os fatos e, até mesmo, o seu próprio humano. Primeiramente, essa ascendência foi exercida no princípio da praticidade, que tanto condicionava a conduta do indivíduo com a natureza, como conduzia o procedimento entre os homens. Nesse ponto do princípio prático, o planejamento foi originado, sendo ressaltada a ênfase norteadora da chamada primeira fase, fazendo ocorrer as primeiras preocupações com questões técnicas ou o como fazer as coisas, assim como a procura por respostas que satisfizessem e que fossem passíveis de conferência ou verificação. Pode ser salientado que nessa primeira fase houve vinculação entre a chamada tecnologia primitiva e a fase inicial do planejamento chamado instrumental, uma vez que facilitava Para refletir “A história do homem é um reflexo do seu pensar sobre o presente, passado e futuro. O homem pensa sobre o que fazer; o que deixou de fazer; sobre o que está fazendo e o que pretende fazer. O ato de pensar não deixa de ser um verdadeiro ato de planejar.” (MENEGOLLA; SANT’ANA, 2003, p. 15). 36 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA os desempenhos do homem e essa conceituação de planejamento persistiu até a época da chamada tecnologia industrial, a eles acrescentada a teoria técnica de planejamento. Numa fase posterior, o foco é transferido do caráter técnico, prático ou instrumental como afirma Turra et al. (1996, p. 273), para a elaboração de quadros teóricos de referência, objetivando a interpretação de precisões e pretensões do homem para conduzir ao desenvolvimento social e econômico, com mais possibilidades, por meio das teorias sócio-políticas e econômica do planejamento. Nessa linha de informações foi sabido que num terceiro momento ou fase, houve crescimento do pensamento convicto sobre a ideia de planejar sendo aberto às necessidades humanas, requerendo acordo das interdependências mundiais e da própria disposição de quem planeja. Nessa exposição, como ressalta Turra et al. (1996), devido ao seu caráter ético, a consciência e a intencionalidade, participação e responsabilidade tornam-se elementos-chave para a nova percepção de planejamento (grifo do autor). É possível destacar em Vasconcellos (2000, p. 65), sem medo de equívoco, que a base de sustentação do planejamento é a ação, ou a atuação. Possivelmente, desde a História Antiga tenha existido planejamentos elaborados com algum comando e métodos avaliativos, o que se pode comentar devido à existência das pirâmides, monumentos e palácios, as ditas construções épicas, as grandes batalhas e, ainda, planejamento implica a previsão de mudanças. Segundo Evangelista (2010, p. 55): Os egípcios reconheciam o valor do planejamento das atividades e o orientador ou supervisor que organizasse os grupos de trabalho. Desenvolveram extensos projetos arquitetônicos e de engenharia, indo além das pirâmides, como canais de irrigação, palácios e muitas outras edificações. A gênese da atividade de planejar perpassa o processo de hominização, visto que o homem, na sua evolução, foi constituindo personagem principal na transformação do mundo por sua ação, sempre movido pelo desejo, pela curiosidade e pela necessidade de interagir com a realidade, através de atividades configuradas como o trabalho. Saiba mais História Antiga ou Antiguidade foi o período da História que se estendeu desde a invenção da escrita (4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e início da Idade Média (século V). Fonte: https://www.sohistoria.com.br/ef2/idadeantiga/. 37 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 Veja que desde os primórdios da civilização, a noção de participação e partilha vem com a necessidade de organização, essencialmente das relações sociais, pois o homem precisa conviver com os outros. Como já abordado na citação acima, os povos egípcios valorizavam não só o planejar, assim também o sujeito que, sendo o coordenador, organizasse as equipes de trabalho. Como relata Evangelista, (2010, p. 56), os egípcios “desenvolveram extensos projetos arquitetônicos e de engenharia, indo além das pirâmides, como canais de irrigação, palácios e muitas outras edificações”. Nessa linha de tempo, importante mencionar a atuação dos filósofos Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Karl Marx, Comênio e outros que, por meio dos seus ideais de organização, direito, sociedade, conhecimento e liberdade tanto contribuíram para a continuidade do aprimoramento das fundamentaçõesteóricas do planejamento. Ainda reportando às leituras de Evangelista (2010), pode-se observar a importância dada ao planejamento após as duas grandes guerras mundiais na segunda metade do século XX, contribuindo decisivamente para a manifestação dos métodos de planejamento, como, por exemplo, o aproveitamento na área marcial-bélica, migrando para outro eixo da sociedade como a industrial, agrícola, comercial, de comunicação. Como já referido no capítulo 1, mas tão importante mencionar, os ideais de crescimento tecnológico revestidos do conhecimento científico, conforme publicado em 1903, em Os princípios da Administração Científica, imaginado por Frederick Winslon Taylor, no qual valoriza as três etapas nos atos administrativas, como eliminar os desperdícios e melhorar a qualidade dos produtos; o processo produtivo com caráter mais científico; e o princípio da linha de staff de uma organização, formada de especialistas com o dever de planejar a organização com princípios de eficiência. Segundo Evangelista (2010, p. 56), para muitos estudiosos, Taylor foi o precursor da administração por objetivos, depois reorganizada por Peter Drucker nos idos de 1960, cooperando, assim, para o surgimento do Planejamento Estratégico, cujo foco principal “é o processo de especificação bem definido dos objetivos da organização e das decisões, ações e programas que abrangem o composto da empresa”. Para Evangelista (2010) em Kwasnicka (apud ACKFF, 2003, p. 58): [ . . . ] o p l a n e j a m e n t o e s t ra t é g i c o é u m p r o c e s s o c o n t í n u o q u e compreende quatro preocupações: horizonte tempo maior (longo p ra zo ) ; a m p l i t u d e o u a b ra n g ê n c i a ( a d m i n i s t ra ç ã o d e c ú p u l a ) ; especi f icação de metas e objet ivos e meios para a lcançá-los ; e relacionamento da organização como ambiente externo. 38 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA Assim, importante ressaltar algumas aproximações de datas relacionadas ao assunto até aqui descrito, na Evolução histórica do planejamento, de acordo com Evangelista (2010). Quadro 3. Evolução histórica do planejamento. Períodos Planejamento 1884 Elaborado o plano decenal japonês considerado como o primeiro plano de desenvolvimento feito no mundo, denominado Kogyo Tken. 1916 Henry Fayol apresenta os cinco elementos do processo administrativo: planejamento, organização, direção, coordenação e controle, que são utilizados até hoje. Surge o planejamento empresarial. 1920 Criada a Comissão Estadual de Planejamento da URSS-gOSPLAN. 1933/1945 Lançado pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), é considerado um marco do planejamento econômico do mundo capitalista ocidental, denominado New Deal. 1946 O comissariado de planejamento elaborou, na França, um plano de recuperação econômica e de modernização. 1947 Elaborado pelos EUA, o plano de recuperação econômica da Europa e do Japão, sendo conhecido como Plano Marshall. 1960 Desenvolvido o Modelo de Harvard de análise estratégica, como modelo SWOT (tradução do inglês: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). 2000 Início do interesse das organizações empresariais para o Planejamento Estratégico. Fonte: Evangelista (2010). Nessa rota de informações julgou-se pertinente mais um pouco de história sobre planejamento para complementar esse gráfico da linha de tempo: Saiba mais A cidade de Brasília – um Exemplo de Processo de Planejamento Figura 7. Registro fotográfico da construção da nova capital do País, Brasília. Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/conheca-a-historia-da-construcao-de-brasilia-durante-o-governo-de-jk/. Acesso em: julho de 2019. Brasília é mais que uma nova cidade. Representa o resultado de um longo processo, cujas raízes datam de dois séculos atrás, bem como a realização de um projeto que, durante muito tempo, atraiu a imaginação do povo brasileiro e que mais recentemente começou a ser interpretado como uma necessidade absoluta para o País. Não apenas deveria ser descoberta uma válvula de segurança para as crescentes pressões populacionais aglomeradas ao longo das regiões costeiras do País, mas, também, havia necessidade de tentar criar oportunidades de emprego que, por sua vez, poderiam reforçar o mercado, dentro do processo de substituição das importações, então em pleno vigor no Brasil. 39 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 Baseada nestas considerações, Brasília deve ser analisada mais firmemente como a corporificação de fortes crenças na estratégia dos polos de crescimento do que, simplesmente, como uma nova cidade supermoderna. Suas funções não eram as tradicionais funções da nova cidade: atração de excessos populacionais das áreas metropolitanas superpovoadas. Era, então, bem conhecido o fato de que problemas urbanos nos países subdesenvolvidos não podem ser atacados nas cidades, mas em suas origens – especificamente no binômio expulsão rural/atração urbana, e que qualquer nova cidade, por sua própria definição, será ainda mais atrativa que os centros urbanos existentes, gerando, em consequência, outra fonte de problemas urbanos. De um ponto de vista urbanístico, Brasília deve ser vista apenas como um monumento e um símbolo ao esforço feito pelos brasileiros em seu processo de desenvolvimento e não como um modelo ou exemplo de novas tendências urbanísticas. Brasília foi o resultado de um processo que requeria a expansão das fronteiras do País em direção ao interior. Foi somente um instrumento para a abertura de um novo processo de interiorização do País, com a cidade de Brasília atuando tanto como um polo de atração, no sentido das novas cidades, quanto como um polo de crescimento para o interior brasileiro, irradiando energia para as áreas vizinhas. Todo o processo poderia ser descrito de forma bastante acurada, pelo modelo de integração urbano-agrícola de Von Thunem, por meio do qual o surgimento exógeno de um centro urbano leva à geração de anéis concêntricos mediados por custos de transporte. A construção de estradas associada à nova capital destinava-se a aumentar a interação da cidade com o resto do País, através do nivelamento do ângulo dos preços de transporte. Poderíamos caracterizar o processo de planejamento envolvido na construção de Brasília como estrutural em sua natureza. Ele tentou criar um novo padrão de expansão territorial e econômica. O instrumento utilizado para alcançar tal objetivo foi a construção de um polo de crescimento no interior do País. A indústria motora escolhida, cuja função é prover o polo de dinamismo, foi a indústria de maior crescimento no Brasil: a Administração Federal. O governo é, por várias razões, uma atividade particularmente adequada para agir como propulsor do crescimento – gera fortes ligações para trás na forma de mercados em crescimento para toda sorte de bens de consumo e serviços, por meio do crescimento contínuo de seu pessoal, como, também, na forma de consumo direto de serviços, como transações bancárias, assessoria, comunicações, transporte, e assim por diante; igualmente gera fortes ligações para frente, especialmente na infraestrutura de serviços de comunicação e transporte, gerando condições à tomada de impulso para um processo de crescimento. Deu-se grande ênfase à construção de estradas, que, ligando a nova capital ao resto do País, conseguiram aumentar o grau de acessibilidade ao interior brasileiro. Como podemos ver, o tipo de planejamento foi claramente de natureza estrutural. Foi uma tentativa de criar outras ligações que poderiam levar a um crescimento econômico e, também, uma tentativa de introduzir novas variáveis a fim de atingir o desenvolvimento. Brasília é um bom exemplo de um processo de planejamento de alcance limitado, apesar de seus efeitos em longo prazo terem sido bastante abrangentes. Igualmente, o plano de Brasíliaestava longe de ser amplo, apesar de algumas importantes diretrizes terem sido estabelecidas. A maior parte do esforço de planejamento concentrou-se na área central, chamada de plano-piloto, enquanto as cidades-satélites e o Distrito Federal, como região, foram bastante negligenciados e abandonados a processos de crescimento espontâneo. Da mesma forma, com exceção de algum planejamento na área de construção das estradas, a maioria dos outros setores não foi planejada. Como mencionado anteriormente, esta abordagem não é sempre ineficiente, se os planejadores se defrontam com situações de escassez de recursos e incertezas, tais como as encontradas na construção de Brasília. Em adição, a estratégia de crescimento desequilibrado, escolhida neste caso, exige tipos de planejamento estrutural bastante localizados. Os processos de planejamento podem, muitas vezes, encontrar forte oposição de vários grupos, reduzindo de forma sensível sua representatividade. No caso de Brasília, este problema foi evitado com sucesso, preservando-se um alto grau de representatividade. No princípio, a ideia de uma nova capital não foi contra os interesses de ninguém. Muito pelo contrário, encontrou um largo consenso entre toda a população. O sul industrializado adquiria novos mercados, a subdesenvolvida região nordestina encontraria novas terras onde parte de sua população crescente poderia se instalar. A nação como um todo teria uma nova fonte de emprego e orgulho. 40 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA Algumas pessoas planejam de forma sofisticada e altamente científica, obedecendo aos mais rígidos princípios teóricos, e em nada se afastando dos esquemas sistêmicos que orientam o processo de planejar, executar e avaliar. Outros, que nem sabem da existência das teorias sobre planejamento, fazem seus planejamentos, sem muitos esquemas ou dominações técnicas; contudo são planejamentos que podem ser agilizados de forma simples, mas com bons e ótimos resultados. (MENEGOLLA, SANT’ANA, 2003, p. 15 apud EVANGELISTA, 2010, .57). A oposição ao plano foi habilmente evitada nos últimos estágios do processo de planejamento, por meio de um conjunto de mecanismos importantes e uma grande habilidade política. O plano era flexível e propositadamente vago, o que evitou possibilidades de confrontos com qualquer grupo específico. A falta de projeções financeiras exatas e estimações de custo foram importantes para evitar o medo de grandes pressões inflacionárias, que seriam inevitáveis se os custos reais tivessem sido prognosticados. Igualmente, a população de funcionários públicos foi atraída para fora do Rio – a cidade maravilhosa – muito mais pela oferta de pagamentos dobrados e aposentadoria em tempo mais curto do que através de cruéis decretos executivos. O plano da cidade foi escolhido de modo a permitir uma grande flexibilidade no desenvolvimento real da cidade, enquanto, ao mesmo tempo, sugeria um forte simbolismo sobre o qual a imaginação poderia estender-se longamente. Como resultado de tudo isso, o processo de planejamento caracterizou-se por uma alta representatividade e uma oposição relativamente fraca e, infelizmente, muito pouco tem sido feito para avaliar os resultados da construção de Brasília. A capital e suas cidades-satélites contam, atualmente, com mais de 800 mil habitantes, com alta taxa de crescimento prevista para o futuro. Seu impacto indireto na migração e colonização não é conhecido. Há, entretanto, evidências que mostram que ela foi bem-sucedida em atrair a população para o interior do Brasil. Isto se demonstra pelos maiores índices de crescimento de cidades como Brasília, Goiânia e Cuiabá do que das cidades mais antigas do litoral, como São Paulo e Rio de Janeiro. A estrada Belém-Brasília, que corta áreas quase inabitadas nos últimos anos da década de 1960, atraiu uma população superior a 2 milhões, ao longo de seu percurso. Mais uma vez, os movimentos migratórios foram completamente espontâneos e a contribuição do Governo limitou-se à construção da rodovia. O mesmo fenômeno deve ser observado ao longo das outras rodovias que ligam Brasília com as outras capitais estaduais no Brasil o que, sem dúvida, prova o sucesso de Brasília na colonização do planalto central brasileiro. Em adição à atração de migrantes para a área, Brasília serviu ao objetivo fundamental de criar um mercado para produção local. Apesar de seu impacto na industrialização dos estados centrais não ter sido significativo, ela criou uma oportunidade para um aumento na produção primária e terciária. Além disso, o sucesso da experiência de Brasília foi, indubitavelmente, um fator primordial na motivação aos mais recentes e, também, mais ambiciosos projetos de colonização da região amazônica. (Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901977000400001). Importante Atualizando nossa rota na história do planejamento, ressalta-se que o procedimento, desde o surgimento no ideário humano, galgou fases definidas no curso histórico desde os períodos racionalista, antiguidade e idades média, moderna e contemporânea e nesse espaço importa situar ainda o surgimento de fatos como a bomba atômica, a modernização das guerras, a revolução industrial, a ida do homem à lua, os avanços na tecnologia e das comunicações. 41 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 Para ampliar seus conhecimentos sugerimos: » E agora... o que considerar nesse trajeto histórico que retrata o caminho da história do Planejamento Educacional no Brasil? Nesta exposição, objetivando melhor entendimento sobre a trajetória histórica do planejamento educacional no Brasil optou-se por relatar períodos que podemos chamar ‘‘místicos’’ ou emblemáticos relativos à educação brasileira como no final dos séculos XX e início do XXI, relacionados ao Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, da Ditadura Militar, compreendidos dos anos de 1990 aos anos 2000. É fundamental observar que um século começa no início de um ano 01 e termina no fim de um ano 00 – por exemplo, o século XX começou em 1o de janeiro de 1901 e terminou em 31 de dezembro de 2000 e o século XXI (atual) começou em 1o de janeiro de 2001 e terminará em 31 de dezembro de 2100. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Século.) No século XX destacou-se a ideia de agregar o planejamento à institucionalização central. Nesse entendimento, estado e planejamento ficam na equivalência sob a centralização do poder absoluto e, por isso mesmo, sendo interpretado por formas bem diferentes. Na literatura existente pode-se saber que o planejamento era considerado aparelho arranjado pelo Estado e ligado socialmente aos mais diferentes grupos, tendo por base os movimentos de centralização e descentralização. Melhor explicando, trata-se da elaboração burocrática e racional do planejamento, por novas práticas descentralizadas e mais democráticas, compreendida pela substituição do modelo de acumulação taylorista/fordista para o modelo chamado flexível, como o trabalho em grupo, a cooperação, a participação direta nos processos de decisão, a flexibilização e a descentralização. O panorama brasileiro, quando foram iniciadas as primeiras elaborações de planejamento, pode ser explicado pelo período dos anos 1930, assinalado pela transição da mudança da estrutura econômica brasileira que, baseada na agricultura, especialmente nos estados de Minas Gerais e São Paulo passou pelo desgosto da falência dos agricultores, basicamente os cafeicultores devido à caída brusca da bolsa nos Estados Unidos ou no chamado crash da bolsa de Nova Iorque, culminando na revolução de 1930 e, em consequência, mudando a economia para o modelo conhecido como nacional-desenvolvimentista. Devido a esse episódio, o país despenca economicamente, sendo obrigado a participar direta e indiretamente, desde a formulação de regrasde desenvolvimento, até a criação e manutenção de empresas estatais, buscando a substituição de importações como alternativa ao desenvolvimento industrial. Assim, como entendido, ocorre a promulgação da Constituição de 1934, e, nesse período, preparado pelos movimentos sociais dos anos anteriores, é criado o Partido Comunista do Brasil (1922), ocorrendo, também, as Revoltas Tenentistas (1922 e 1924), que manifestam descontentamentos contra as oligarquias e o sistema republicano vigente. Nesse período, o fervor político faz solidificar a Revolução Constitucionalista de 1932. 42 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA Como percebido nas leituras, é intensa a influência do escolanovismo, demonstrado no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), marco referencial importante do pensamento liberal com repercussões sobre ideias e reformas propostas em períodos seguintes. Na Educação surgem reformas em vários estados brasileiros como Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais; surge o Ministério da Educação e Saúde, orientando para a reforma do ensino secundário e superior, com a criação do Conselho Nacional de Educação. Posteriormente, de acordo com Saviani (2007), é anunciada a Constituição de 1934, primeira que em 17 artigos aborda questões educacionais, cabendo à União, “traçar as diretrizes da educação nacional” (art. 5o, XIX), “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados, organizar e manter” os sistemas educativos dos territórios e manter o ensino secundário e superior no Distrito Federal (art. 150), assim como exercer “ação supletiva na obra educativa em todo o País” (art. 150, d e e); ainda entre as normas estabelecidas para o primeiro Plano Nacional de Educação estão o “ensino primário integral e gratuito e de frequência obrigatória extensivo aos adultos e tendências à gratuidade do ensino posterior ao primário, a fim de torna-lo mais acessível” (art. 150, parágrafo único, a e b); liberdade de ensino em todos os graus e ramos observadas as prescrições da legislação federal e da estadual e reconhecimento dos estabelecimentos particulares de ensino somente quando assegura a seus professores a estabilidade, enquanto bem servirem, e uma remuneração condigna (art. 150, parágrafo único, c e f); a oferta do ensino em língua pátria (art. 150, d); a proibição do voto aos analfabetos (art. 108). Finalmente, vale citar dispositivos relativos ao magistério: a isenção de impostos para a profissão de professor (art. 113, inciso 36) e a exigência de concurso público como forma de ingresso ao magistério oficial (art. 158). Desse modo, nossa rota de estudo histórico fica ciente de que, com a Carta de 1937, inicia-se no Brasil um período caracterizado por uma centralização exacerbada de poder na esfera federal, com o chamado Estado Novo e que abrange também no campo educacional, surgindo, nos anos 1940, as reformas educacionais provocadas pelo poder central, nomeadamente as chamadas Leis Orgânicas de Ensino, em referência ao título de cada uma e advindo da área específica a que se destinam, coerentes em seis decretos-leis idealizados durante a administração de Gustavo Capanema no Ministério da Educação, e assim denominadas: Lei Orgânica do Ensino Industrial – (Decreto-Lei no 4.073/1942), ao secundário (Lei Orgânica do Ensino Secundário – Decreto-Lei no 4.244/1942) e ao comercial, (Lei Orgânica do Ensino Comercial – Decreto-Lei no 6.141/1943). Também durante esse período é criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai – Decreto-Lei no 4.048/1942). 43 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 De acordo com Ianni (1996, p. 25): o que estava em jogo nesse período era uma estratégia polít ica com base na formulação de novas concepções de desenvolvimento, industrialização, planejamento, intervencionismo estatal, emancipação econômica, entre outras, o que dá à educação um direcionamento para a garantia do desenvolvimento econômico do país. Assim compreendido foram sendo criadas as condições para o desenvolvimento de uma tecnoestrutura estatal (grupo organizado de especialistas como engenheiros, administradores, contabilistas, economistas, matemáticos, estatísticos, analistas etc.) com abordagem na técnica e na prática do planejamento, especialmente, após o término da Segunda Guerra Mundial. Sob esse enfoque de caminhar na história constata-se que o texto da Carta de 1946 retroage à de 1934, com novidades sobre a competência da União que é “legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional” (art. 5o, XV ), quando as Constituições anteriores haviam atribuído pertinências no sentido de “traçar as diretrizes” (Constituição de 1934) ou “fixar as bases [...] traçando as diretrizes” (Constituição de 1937). Conforme explicita Horta (1982), mesmo não sendo presente a ideia de plano, como idealizado pelos liberais nos anos 1930, persistiu a definição de plano como um conjunto de metas para a estruturação do sistema educacional brasileiro. Com isso, foram retomados alguns itens ‘‘esquecidos’’ na Carta de 1937 consequentes do golpe como a educação como direito de todos; a descentralização da educação por meio da criação de sistemas educacionais; a exigência de concurso público para o provimento das vagas destinadas ao cargo de professor; o financiamento da educação vinculado à arrecadação da União, dos estados e municípios, aparecendo pela primeira vez em texto oficial, a terminologia de ‘‘ensino oficial’’ . Ainda segundo Horta (1982), nos anos 1956/1961, nasce o Programa das Metas (do Plano de Desenvolvimento Econômico) onde está inclusa a educação como setor necessário, ou seja, surge como meta setorial específica, num planejamento brasileiro, para o desenvolvimento do País frente à carência de técnicos devidamente habilitados para o serviço, depreendendo-se disso a percepção da necessidade de um planejamento integral da educação associado ao planejamento econômico e social, sendo o exercício do planejamento por prioridades (dito estatal), aceito no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial juntamente com o Plano de Metas como a primeira experiência de planejamento governamental, efetivamente praticado no País. Com relação à Constituição de 1967 e seguindo em frente com nossas informações e reflexões, só depois de divulgada essa Carta é que são apontadas as principais propostas 44 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA de reforma do período, importantes porque marcaram de modo significativo o panorama educativo dos anos seguintes, mesmo o País voltando para uma fase de autoritarismo. Dessa forma e para dar uma direção às questões do planejamento educacional, importa alertar que após os muitos anos de contendas e debates entre vários grupos de poder representados no Congresso Nacional e entre os intelectuais da educação, especialmente os acompanhantes ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) foi aprovada, em 20 de dezembro de 1961, a Lei no 4.024, que entrou em vigor em 1962, como a primeira LDBEN e, posteriormente, em 1996, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no 9.394/1996 sobre a qual abordaremos nos próximos capítulos. Entendemos ser pertinente refazermos esse caminho histórico, lendo o esquema, de acordo com Oliveira. Disponível em: http://www.anpae.org.br/IBERO_AMERICANO_IV/ GT5/GT5_Comunicacao/ElisangeladosSantosdeOliveira_GT5_integral.pdf. Acesso em: julho 2019. Saiba mais Se o planejamento educacional do País sempre buscou acompanhar seu projeto econômico e político, cabe-nos questionar se os programas apresentados nos últimos anos configuram, em conjunto, um planejamento educacional, que se desenvolve de forma orgânica em prol de um projeto de sociedade,ou se esses planos representam programas isolados e superpostos que não evidenciam um planejamento educacional concreto. De certa forma, observa-se que no século XXI, o Estado reassume o papel do planejamento econômico e social, o qual estava em refluxo durante toda a década de 1990, quando se promoveram certas reformas de cunho neoliberal no intuito de acatar aos anseios internacionais, não atendendo às expectativas educacionais do País. Dentro dessa lógica, a descentralização entendida como transferência de atribuições e de poder para a tomada de decisão por diferentes níveis de governo, nem sempre significa maior autonomia para estes níveis. A Constituição de 1988 buscou atender às reivindicações por maior democratização da gestão pública no País; mas, por outro lado, a descentralização adotada a partir dos anos 1990 também representou maior participação da iniciativa privada nos direitos sociais, dando a estes uma característica de serviços sob a lógica de produtividade e eficiência. Neste estudo podemos concluir que, se no período ditatorial vivenciamos um Estado centralizador de modo a garantir menor interferência do poder local nas políticas públicas em prol da continuidade do regime, em contrapartida, a redemocratização representou a entrada da iniciativa privada e de agências supranacionais no espaço escolar sob o discurso da descentralização das políticas educacionais. Assim, durante o século XX, ocorreram movimentos de centralização e descentralização das ações do Estado de modo a acompanhar as mudanças econômicas e sociais em nível mundial, adequando a educação às necessidades do mercado. Tais ações, por vezes, representaram a descontinuidade de políticas educacionais configurando-as apenas como políticas de governo e não como políticas de Estado. Nesse contexto, o planejamento educacional torna-se um campo de debates políticos e ideológicos entre diferentes atores sociais que trazem distintas concepções de educação, bem como de qual o objetivo-fim do processo educativo, de modo que nessa relação de forças, o planejamento educacional assume diferentes finalidades; e a educação, embora apresente conquistas, destina-se à manutenção da hegemonia dominante. 45 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 Ao iniciarmos o capítulo 2, sugerimos por meio do indicativo de estudos o seguinte tema: História do Planejamento: o que entender sobre isso – o antes, o depois e o agora? Pois bem. Já abordamos, resumidamente, informações fundamentais sobre o Planejamento desde os anos 1930, período considerado como o início de suas aplicações e, sucessivamente, foi feito, numa linha histórica, o passo a passo planejamento, até a citação da promulgação da Constituição de 1988, tendo em vista, como já comentado, que o planejamento educacional no Brasil sempre esteve alinhado às concepções políticas e econômicas de cada período de nossa história. Conforme observa Carvalho (2014, p. 50): É pertinente ressaltar que, com os avanços que se dão no Brasil a partir da Constituição de 1988, os quais ensejaram espaços de participação e caráter mais democrático às políticas públicas, discutem-se novas concepções e experiências de planejamento. O protagonismo de sujeitos, grupos e comunidades na construção de políticas públicas menos verticalizadas coloca-se então como desafio para os gestores e técnicos que planejam e organizam projetos, planos e programas sociais. E agora, como perceber o planejamento educacional quando as inovações educacionais borbulham sob vários aspectos técnicos, políticos e econômicos? Inicialmente, importa lembrar, conforme Filatro (2009), que inovação é processo que orienta o planejamento, bem como as iniciativas educacionais pioneiras associando atividades de ensino presenciais, semipresenciais e a distância, previstas na legislação de educação em vigor e ancoradas por recursos tecnológicos para direcionar especificamente, em qual desenho de educação se quer chegar. Em continuidade ao comentário acima ressaltam-se as citações já mencionadas em Desafios contemporâneos na educação: novos olhares no planejamento, feitas em momentos anteriores a este Livro de Estudos e complementando tais reflexões julgou-se importante alertar para o momento educacional advindo na era da globalização, quando o mundo em modificação, cheio de novidades e transformações rápidas, de diversas naturezas, têm exigido dos indivíduos, readequações e adaptações contínuas. Ora, se tudo muda, precisamos mudar a forma como nos posicionamos, pois como bem o sabemos, o dia continua com as mesmas horas, mas parece às vezes sufocar-nos na revisão para reajustar o jeito de viver e administrar as mudanças das atividades no nosso dia a dia, requerendo melhor gestão de tempo e de decisões, ou seja, precisamos fazer de jeito diferente, as mesmas coisas, já que a cada dia temos algo diferente para aprender e enfrentar. 46 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA De acordo com Freitas (2015, p. 62): Um dos maiores sugadores de nosso tempo é a falta de um planejamento adequado ao cenário no qual estamos inseridos e, consequentemente, a falta de delegação. Saber planejar e delegar é uma das competências essenciais para o profissional do século XXI. Diante de tanta informação, inovação e novidades, precisamos desenvolver a capacidade analítica, expandir o nosso campo de percepção dos fatos e seus impactos em nossa vida e nos inúmeros acontecimentos do dia a dia. Já que tudo muda numa velocidade cada vez mais desconhecida, um dos caminhos para diminuir esse impacto é planejar o que precisamos fazer, definir como será feito, quando deverá acontecer e por quanto tempo precisa acontecer. Ou seja, qual a prioridade que deve acontecer, o que torna imprescindível sabermos diferenciar o que é importante do que é urgente. Figura 8. Disrupção. Fonte: https://www.heflo.com/pt-br/wp-content/uploads/sites/2/2016/12/inova%C3%A7%C3%A3o-disruptiva-exemplo. jpg. Acesso em: 3/3/2020. Então, nessa linha de pensamento, é válido alertar que o processo educacional, em seus diferentes níveis e modalidades, (temas que serão detalhados nos próximos capítulos), reveja o como as inovações técnicas, culturais, políticas, comerciais, disruptivas e tantas outras têm exigido dos planejadores e executores do campo educacional alterações velozes quebrando resistências de ‘‘fazer diferente’’, com vistas à melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem e, consequentemente, na qualidade de vida do ser humano. Disruptiva significa a transformação de uma tecnologia, produto ou serviço em algo novo, mais simples, conveniente e acessível. 47 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 Figura 9. Planejar e pensar diferente. Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/295/planejamento-escolar Refletindo sobre esses aspectos, podemos insistir na questão do pensar numa visão comparativa entre paradigmas do planejamento na história e no cenário contemporâneo indicando, sem hesitar, a revisão das atuações, propondo aprofundamento nos vários cenários educativos, em suas diversas nuances, quais sejam, os novos ambientes de aprendizagem por meio das metodologias ativas, os métodos de trabalho independente, projetos, aulas Invertidas, tecnologias ativas e outros. Saiba mais Sem fugir da história torna-se válido mencionar dois educadores que trouxeram elementos de experiências concretas e inovadoras referentes ao planejamento educacional. Um deles, Anísio Teixeira ( décadas de 1950-1960), cujas contribuições não se limitaram a livros e artigos, na idealização de projetos, planos e ações no campo administrativo, dentre eles, planejar a educação brasileira sob as abas de uma Constituição de política nacional de formação de professores e a organização de uma rede de centros de pesquisaeducacional justaposta para subsidiar escolas e redes de ensino no que competia ao planejamento educacional. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiz18j16drjAhUyHLkGHaEbBfMQjRx6 BAgBEAU&url=http%3A%2F%2Fwww.educacao.ba.gov.br%2Fmidias%2Ffotos%2Fanisio-teixeira%3Ftipo%3Dprevious%26page%3D92%26tipo %3Dprevious&psig =AOvVaw31bvdam1sWtqjbdDD72wVC&ust=1564513715795268. Acesso em: julho de 2019. Figura 10. Anísio Teixeira. Fonte: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2014/02/An%C3%ADsio-Teixeira.jpg. Acesso em: 3/3/2020. 48 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA Santos (2016, p. 19) afirma que: Os educadores – sejam professores, especialistas de currículo, de métodos ou de disciplina, ou sejam administradores – não são, repitamos, cientistas, mas, artistas, profissionais, práticos (no sentido de practitioner , do inglês), exercendo, em métodos e técnicas tão científicas quanto possível, a sua grande arte, o seu grande ministério. São cientistas como são cientistas os clínicos; mas sabemos que só em linguagem lata podemos efetivamente chamar o clínico de cientista.. Outro educador brasileiro e reconhecido mundialmente pelos ensinamentos e proposições, é Paulo Freire. Figura 11. Paulo Freire. Fonte: Secretaria de Educação do Estado da Bahia, 2012. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/ historia-quem-foi-paulo-freire.phtml. Acesso em: 3/3/2020. Paulo Reglus Neves Freire (décadas 1950-1990). Paulo Freire foi um educador de importância e destaque no cenário nacional e internacional, pareceu não estar disposto a fazer de sua história uma história marcada pela acomodação diante de um mundo caracterizado pela injustiça social, pelo analfabetismo, pela exclusão cultural e econômica. Seu pensamento e sua ação fizeram-se transformar num homem que se compreendeu como um ser que podia, de alguma forma, contribuir para que a história dos homens e das mulheres tivesse outra página. Escolheu o caminho da Educação. Ensinou e aprendeu. Continua a ensinar. Na vastidão de seu pensamento, disseminado pelos livros publicados, palestras conferidas, aulas etc., é possível delimitar, para o propósito desta discussão, dois aspectos – diálogo e conscientização – que permitem contribuir para as discussões sobre a questão do diálogo. Isto porque, para Paulo Freire, essa temática torna-se central em sua compreensão do fenômeno educativo e, a partir dele, tanto homem como mulher, pelo diálogo, chegam à consciência de ser-no-mundo. Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-quem-foi-paulo- freire.phtml 49 EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA • CAPÍTULO 2 Figura 13. Cartaz do filme Adágio ao Sol. Fonte: https://media.fstatic.com/7bdUC1q2eOjh4RYIGVseZH61ujw=/fit-in/210x312/smart/media/movies/covers/2017/07/ Ad%C3%A1gio.jpg. Acesso em: 29 de julho de 2019. Para refletir Para visualizar dados e fatos sobre questões da Educação e da Pedagogia, propomos alguns bons filmes: são produções que pontuam reflexões sobre o valor da educação, do nosso sistema educacional, do aluno e do professor. Figura 12. Registro de uma das cenas do filme Escritores da Liberdade. Fonte: http://cinemabh.com/wp-content/uploads/2010/10/escritores-da-liberdade-03.jpg Acesso em: 29 de julho de 2019. Escritores da Liberdade: “Baseado em uma história real onde uma dedicada professora acaba de chegar em uma escola marcada e dividida por preconceitos raciais, ela se vê obstinada a mudar a realidade da escola, ensinando uma turma de alunos adolescentes que apresentam sérios problemas de aprendizagem. Ela tenta inspirá-los e acreditarem em si mesmos.” 50 CAPÍTULO 2 • EPISTEMOLOgIA E HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO: O QUE ENTENDER SOBRE ISSO: O ANTES, O DEPOIS E O AgORA Adágio ao Sol: No início dos anos 1930, numa fazenda de café no interior de São Paulo, Júlio (Cláudio Marzo), Angélica (Rossana Ghessa) e Álvaro (Marcelo Moraes) vivem um intenso triângulo amoroso, tendo como pano de fundo a crise do café, a tomada do poder por Getúlio Vargas e a revolução constitucionalista de 1932 na qual Álvaro se alista. Uma curiosidade: para as cenas de multidão, nos momentos pré-revolucionários, o diretor teve o apoio da população da cidade de Casa Branca, SP, que foi devidamente caracterizada conforme a moda da época. Disponível em: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/22-filmes-sobre-o-brasil-dos-anos-1930-a-1954/. Sintetizando Revendo informações e provocações: » No capítulo 2 tivemos oportunidade de pontuar itens significativos sobre questões do surgimento e desenvolvimento do planejamento educacional, desde os primórdios do homem na natureza até a promulgação da legislação atual de educação ocorrida na década de 1980. » A partir da segunda metade do século XX, após as guerras mundiais, houve uma necessidade de organização, por isso o planejamento teve uma importância para a sociedade. Com isso, surgiram novos pensadores, que contribuíram para métodos de planejamento. » Por meio de exposições teóricas deixou-se claro que atualmente deve haver seriedade na ação de planejar maximizando a consciência e a intencionalidade, participação e responsabilidade como elementos-chave para a nova percepção de planejamento no mundo moderno. » Também tivemos oportunidade de alertar para novo jeito de ‘‘olhar’’ o ato de planejar como permanente resultado do processo avaliativo, quer em nível macro, meso ou micro, alertando para o momento educacional advindo na era da globalização, quando o mundo em modificação, cheio de novidades e transformações rápidas, de diversas naturezas, têm exigido dos indivíduos, readequações e adaptações contínuas, de modocriativo e significativo. » Na linha de pensamento proposta para refletir o planejamento educacional e suas especificidades, crenças, conhecimentos, e limitações, propusemos as questões da participação por meio da conscientização e do diálogo, cuidando para o melhor desenvolvimento do homem que busca sua qualidade de vida. » Dependentes das necessidade de mundo moderno como a inclusão, plasmamos o conceito de planejamento educacional, requerendo sempre a participação como desafio para todos os atores envolvidos nos processos de elaboração, uma vez que planejar participativamente tem a ver com opções de ordem ética e pragmática. 51 Introdução Só para recaptular que a ação de planejar está em nossas vidas, implicitamente, planejamos hora de tudo, ou seja, do acordar, a hora de almoçar, de uma compra, de formar, de filhos, de uma festa, de uma viagem, do momento de terminar determinado trabalho, e tantos outros, assim como, políticos, empresários, gestores educacionais, todos temos necessidades de chegar aos objetivos almejados. Assim, como o planejamento surge a partir do momento em que desejamos organizar algo, não diferente, no âmbito educacional, as ações são da mesma forma. Na perspectiva das políticas públicas de educação, o sistema investiga a qualidade do que exige um processo constante de planejar/replanejamento, pois é impraticável haver um modelo de planejamento único, sempre antenado de que o processo do planejamento acontece em níveis e fases diferentes nos cenários educacionais. Objetivos » Caracterizar o público porque é do povo e a ele se destina, sendo esse povo que designa representantes para a defesa dos seus interesses, e que decisões e políticas resultantes dos debates, acordos e decisões são chamadas política públicas cujo objetivo é refletir o equilíbrio desta balança de interesses. 3 CAPÍTULO O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO Provocação “No campo da educação há uma perigosa falta de acumulação das experiências e das inovações, uma descontinuidade no esforço criador, que não só provoca um grande desperdício, mas, sobretudo, tira a coragemde qualquer um.” (FURTER, 1968, p. 200). 52 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO » Refletir criticamente o planejamento educacional numa perspectiva de gestão pública explicando sucintamente os tipos de planejamento, reconhecido como estratégico, tático e operacional. » Analisar a relação entre os conteúdos de um programa, projeto ou plano deverão assentar-se em quê?, por quê?, para quê?, quem?, como?, onde?, quando?, quanto? E consubstanciados em um documento, compor o planejamento educacional como um todo. Aparências conceituais: planejamento, política e pública Figura 14. O que são políticas públicas? Fonte: https://grajaudefato.com.br/wp-content/uploads/2018/02/maxresdefault.jpg. Acesso em: 29 de julho de 2019. Com a intenção de facilitar o entendimento do assunto tratado neste capítulo pretende-se que alguns conceitos como planejamento, política e pública situar a política educacional no contexto geral, uma vez que ela não ocorre isoladamente na sociedade, mas de modo articulado com seus demais componentes. Devido às profundas mudanças que ocorrem em todos os setores sociais há urgência em repensar a educação considerando que as referidas mudanças refletem diretamente na dinâmica organizacional. Em razão disso, as políticas de educação como existentes não mais atendem à integralidade das precisões de um sistema educacional como um todo. Para acompanhar tais transformações sociais é imperativo que para acompanhar as transformações da sociedade são solicitadas modificações não só na estrutura organizacional, mas, acima de tudo, nos paradigmas que embasam a edificação de nova proposta educacional. 53 O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO • CAPÍTULO 3 Continuamente constata-se os desafios enfrentados para operacionalizar as políticas de educação que sabidamente deverão nortear os planos, implementando propostas por meio de ações coerentes para o alcance dos objetivos estabelecidos, num processo de avaliação contínua e permanente, com eficiência e eficácia à vinculação de recursos à manutenção e desenvolvimento do ensino, tendo em vista que financiamento e gestão são processos indissociáveis. Nessa premissa há que ser entendido que política é um termo explicado de várias formas, mas o que é mais aplicável é o entendimento de que seja a habilidade no trato de assuntos ligados às relações humanas para obter resultados desejados em qualquer área do convívio social, ou seja, politizar é disponibilizar para as pessoas oportunidades de tratar com diversos objetivos, mas de assuntos comuns que sejam do interesse comum. Na Educação há oportunidades de debates em todos os segmentos da sociedade que tenham interesse em participar e cooperar dos setores públicos e particulares, assim como professores, estudantes pais, funcionários, vizinhos das instituições escolares, enfim todos os atores ligados direta ou indiretamente às questões de educação, com a pretensão, consensual de se chegar a uma política, associadas em certificados legais de planos, projetos e programas. Como você se imagina fazendo parte de um desses grupos? Figura 15. Trabalhando em grupo. Fonte: https://www.politize.com.br/como-discutir-politica-de-forma-saudavel/. Acesso em: 4/3/2020. Conceitualmente, público significa: do referente, pertencente ou destinado ao povo ou à coletividade, cujo interesse sempre tem prevalência sobre o particular e se o regime é democrático, compete à sociedade a responsabilidade de designar alguns 54 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO representantes para compor o setor público, formado pelos organismos que representam a comunidade, ou seja, o interesse público como um todo. . Por analogia, existem razões óbvias para que o setor público tenha função de liderança no processo político-educacional, tendo em vista ser o único com características como ter poder para representar a população, a princípio ser imparcial, e liberdade para aceitar numa visão de longo prazo para a prática de suas políticas. Nessa linha de entendimento de definições, com relação ao Planejamento, ele é processo, inicialmente intelectual que do ponto de vista de conceito que conjectura análise, reflexão e previsão, visando ao futuro e estabelecendo normas coordenadas de ações para se chegar à consecução de alguns objetivos nele constituídos. Para explicar detalhadamente, importante salientar que do planejamento resulta um plano, programa ou projeto, e nesse aspecto é válido explicitar que planejamento é diferente de plano que é um dos possíveis resultados do planejamento, assim como os programas e projetos. Ora, se o planejamento é um processo, o plano, o programa e o projeto são resultantes deste processo e que há diversos tipos de planejamentos, assim classificados e detalhados a seguir: » do econômico (macroeconômico ou microeconômico); » do administrativo (público, privado ou misto); » do tempo (longo, médio e curto prazo); » do espaço (local, municipal, regional, estadual, nacional, continental ou mundial); » do setorial (setorial, intersetorial, global); » de abrangência (estratégico, tático ou operacional), assim detalhado, como no quadro a seguir: Quadro 4. Tipo de planejamento por abrangência. Variável Estratégico Tático Operacional Tempo Longo prazo Médio prazo Curto prazo Espaço Todo o território Parte do território Ação para determinado espaço de tempo Objetivos Define os gerais Define os específicos - Diretrizes O plano todo aponta a direção a seguir Transforma-as em ações, embasando as decisões que indicam a direção a seguir Operacionalizar Fonte: Quadro-síntese criado pela autora a partir de Ignarra (2003, p. 81). 55 O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO • CAPÍTULO 3 Por que o planejamento educacional pode ser considerado instrumento de política pública na Educação? Reflita sobre essa questão lendo o texto a seguir: Saiba mais De modo geral, quando o indivíduo decide que quer planejar, ele ambiciona respostas para as seguintes perguntas: » O quê? (define-se o objeto do planejamento); » Por quê? (definem-se as justificativas do planejamento); » Para quê? (definem-se os objetivos do planejamento); » Quem? (definem-se os agentes e os destinatários do planejamento); » Como? (definem-se os meios para se alcançar os objetivos propostos); » Onde? (define-se, espacialmente, a localização daquilo que se quer implantar ou transformar); » Quando? (estabelece-se um cronograma de ações visando atingir os objetivos propostos); » Quanto? (definem-se e dimensionam-se os recursos humanos, materiais e financeiros necessários para implementar o objeto de planejamento); Fonte: Adaptado de Ignarra (2003, pp. 82-83). Para refletir Se, inicialmente, o planejamento restringia-se à racionalização dos processos de produção industrial nos países capitalistas, nos moldes da administração taylorista, com a Segunda Guerra Mundial, tornou-se atividade humana consciente e instrumento racional de intervenção na realidade social, mediante o desenvolvimento de técnicas cuja finalidade era controlar racionalmente a organização dos grupos sociais. Entre seus objetivos, o planejamento buscava assegurar a continuidade do sistema, o enriquecimento dos valores culturais pela revitalização das técnicas sociais tradicionais (como a educação) e o aprimoramento de novas formas de manipulação de opiniões e atitudes (como a propaganda). Na América Latina, o planejamento educacional teve importância histórica, nas décadas de 1960 e 1970, constituindo-se em instrumento de intervenção governamental que possibilitaria a coordenação dos esforços nacionais para empreender o desenvolvimento econômico e a modernização das estruturas econômicas e sociais, nos moldes dos países capitalistas desenvolvidos. Em termos metodológicos, o planejamento utilizado foi o normativo, ou racional-desenvolvimentista, concebidoa partir de uma racionalidade instrumental, em que se obtinha uma sequência rigorosa de etapas, na maior parte das vezes, descolada das questões políticas e sociais enfrentadas pelos países. O planejamento educacional, nesse período, veio a ser uma consequência da abordagem econômica e instrumental do planejamento, e sua finalidade estava calcada na necessidade de preparação de mão de obra, indispensável para o desenvolvimento capitalista. Com a crise econômica nos decênios de 1970 e 1980, o papel do Estado no desenvolvimento econômico foi colocado em discussão, assim como suas formas de atuação na implementação de políticas públicas, mediante o planejamento econômico e social. 56 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO De posse dessas informações importa lembrar que juntamente às precisões e realidades das cidades e não menos importante estão as necessidades rurais, tendo em vista que aproximadamente 20% da população do Brasil que vive neste espaço. Ora, se nisso é claro que o ruralismo concebe a formação das civilizações e não diferente no Brasil é notadamente conhecido que nos últimos anos essas regiões penam pela diminuição da população que migra para as cidades em busca de melhoria de vida, uma vez que também no campo surgem, a passos muito rápidos, a utilização das tecnologias agrícolas, o que diminui o emprego provocando a dispensa do serviço do homem. Repercutindo diretamente nas políticas públicas, em particular nas políticas educacionais, a crise dos estados capitalistas foi abordada numa série de encontros e ações internacionais ao longo dos anos de 1980 e 1990, condensados em eventos realizados por organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco –, Banco Mundial e Comissão Econômica para a América Latina – Cepal – como a Conferência de Jontiem, o Projeto Principal de Educação e o Congresso Internacional “Planeamiento y Gestión del Desarrollo de la Educación” – e em documentos referenciais, como a “Declaração Mundial de Educação para Todos”, de 1990, e a “Educação e Conhecimento: eixo da transformação produtiva com equidade”, publicado em 1992, pela Cepal. Do ponto de vista metodológico, o planejamento normativo foi questionado pelo seu reducionismo econômico e pela excessiva formalidade do plano, que, na maioria das vezes, não contemplava a dinâmica dos processos sociais. Considerado, por vários autores, como uma atividade essencialmente política, o planejamento tradicional (normativo), ao reduzir-se ao aspecto econômico, dispensava os demais processos fundamentais de governo como o processo político, as relações internacionais de poder e de segurança nacional, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e as demandas sociais. Em relação ao planejamento educacional, novas concepções que fortaleciam a ideia de um planejamento articulado com as especificidades da educação – e não exclusivamente com o desenvolvimento econômico – foram elaboradas, em paralelo com as abordagens de planejamento estratégico e o planejamento estratégico situacional. No Brasil, fundamentalmente nesse período, dois entendimentos sobre alternativas para a crise foram delineados, resultantes de duas posturas antagônicas: a primeira, reforçada por organismos internacionais de financiamento, condicionava todas as decisões e reformas necessárias para a resolução da crise fiscal do Estado a um contexto de austeridade; e outra, presente nas reivindicações de movimentos sociais, sindicatos e associações, defendia o fortalecimento da democracia como a principal alternativa para eleger as prioridades e definir as políticas necessárias para contornar o problema. O resultado do amplo debate entre os setores da sociedade brasileira que representavam essas posições consubstanciou-se na Constituição Federal de 1988, cujos avanços em direitos sociais foram, de certa forma, atenuados pela falta de regulamentação de princípios básicos e pelo engendramento de uma série de mais de 70 emendas constitucionais, explicitando a fragilidade da estrutura política, econômica e social, os conflitos de interesses e a fragmentação das ações do Estado em torno das políticas públicas. Como consequência, na educação, por exemplo, as bandeiras de luta de educadores em torno da participação dos processos de decisão, da gestão democrática e participativa foram incorporadas no texto da lei, mas instrumentalizadas com base em mecanismos e modelos da administração gerencial. Nesse processo, a descentralização tornou-se um dos principais aspectos da reforma que acometeu o Estado, sendo uma referência para a revisão do papel dos organismos de planificação e para a adequação de concepções e práticas de planejamento ao novo cenário político-institucional. (Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742014000300002). 57 O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO • CAPÍTULO 3 Como afirmam Mainard e Marcondes (2009, p. 305): É quase como uma peça teatral. Temos as palavras do texto da peça, mas a realidade da peça apenas toma vida quando alguém as representa. E este é um processo de interpretação e criatividade e as políticas são assim. A prática é composta de muito mais do que a soma de uma gama de políticas e é tipicamente investida de valores locais e pessoais e, como tal, envolve a resolução de, ou luta com, expectativas a requisitos contraditórios – acordos e ajustes secundários fazem-se necessários. Por meio da questão acima, Santos (2016, p. 46) pondera alguns itens fundamentais sobre as relações entre políticas públicas x políticas educacionais com o planejamento educacional, afirmando que o “planejamento educacional guarda estreita e indissociável relação com as políticas públicas, mesmo quando aplicado a instituições educativas privadas”, esclarecendo que não é possível uma política pública educacional necessitada do seu conteúdo educacional, a forma política, da mesma forma, não poderá ser ausente ou dissociada. Segundo Santos (2016), uma política pública educacional jamais poderá ser legislada afastando seu caráter dialógico e dialético; e, além disso, o planejamento de uma política pública educacional possui como finalidade a educação, devendo ser o alcance dessas finalidades dentro dos processos e procedimentos previamente estabelecidos na legislação, no caso a Constituição Federal (1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/1996). Nesse contexto, entendeu-se que a política constitui o teor da legislação, a legislação delimita a forma da política e, portanto, o planejamento de políticas públicas precisará considerar três momentos principais, quais sejam: (da formulação/planejamento; modelagem/projeto; materialização/plano), as extensões que predominam em cada etapa do ciclo de planejamento das políticas públicas educacionais. Diante das explicações acima, podemos, agora, mencionar o planejamento educacional e sua correlação com o Plano Nacional de Educação. Plano Nacional de Educação Nessa linha de reflexão, válido lembrar que conforme a Constituição Federal e, em seu contexto, a LDB, em seu art. 9o, inciso I, diz que é incumbência da União elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e em seus bojos definem o alcance e o encargo de cada um dos sistemas de ensino quanto à autorização, credenciamento e supervisão de todas as instituições de ensino sob sua jurisdição, assim como a organização, manutenção e desenvolvimento dos órgãos e 58 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO instituições dos seus sistemas de ensino, implicando o envolvimento de todas as instituições públicas e privadas de ensino no contexto do Sistema Nacional de Educação. Libâneo et al. (2008) pontua que, desde 1932, foram várias as tentativas de elaboração e implementação de um plano de educação no Brasil, quandopelo Movimento dos Pioneiros da Educação Nova (os escolanovistas), conscientes, entenderam, por meio das reivindicações de múltiplos movimentos sociais, que a Educação deveria ser um problema nacional clamando pelo aumento do atendimento escolar, por uma escola pública obrigatória, laica e gratuita, aberta a todas as classes sociais. A seguir, faremos pequenos lembretes sobre o teor do Plano Nacional de Educação (PNE) (2001-2010). Por um período de dez anos o primeiro Plano Nacional de Educação, por constar na Constituição Federal de 1988, em seu art. 214, foi analisado e aprovado pelo Congresso Nacional vigorando de 2001-2010, referindo-se todos às modalidades e níveis de ensino e determinando que, conforme as características e especificidades locais, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fossem incumbidos de elaborar as devidas adequações e, também, elaborar para um período de dez anos, os seus respectivos planos de ensino. Importante Relembrando e/ou complementando informações... A Constituição Federal de 1934, por sua vez, citou como principal função do Conselho Nacional de Educação, a elaboração do Plano Nacional de Educação, que não foi implementado em virtude do golpe de 1937, que manteve Vargas no poder até 1945. A Lei no 4.024/1961 (primeira LDB) estabeleceu as coordenadas para a elaboração do primeiro Plano Nacional de Educação. Em 1962, por iniciativa do Ministério da Educação, foi elaborado um plano, aprovado pelo Conselho Federal de Educação (CFE), constituído de metas a serem alcançadas em oito anos, além de estabelecer os critérios para a aplicação dos recursos destinados à Educação. Este plano, porém, não constituiu uma lei que determinasse os objetivos e metas da Educação no País. Além desse, outros planos foram elaborados após 1962, mas devido à descontinuidade administrativa e à falta de integração entre os ministérios, não foram realmente efetivados. Com a promulgação da Constituição de 1988, foi instituído por lei o Plano Nacional de Educação, caracterizado como autônomo em relação ao que estabelece a nova LDB. No governo Collor, em 1993, outro plano foi editado – o Plano Decenal de Educação para Todos – mas foi abandonado com a posse de Fernando Henrique Cardoso, em 1995. Como este governo tinha como projeto reformular toda a educação brasileira, apresentou o seu Plano Nacional de Educação como continuidade do Plano Decenal de 1993 (art. 87, § 1o, da Lei no 9.394/1996). O projeto de lei do governo e mais o construído pela sociedade civil – por meio de entidades científicas, acadêmicas, sindicais e estudantis – deram entrada na Câmara dos Deputados em fevereiro de 1998, contribuindo para o avanço na participação democrática na construção de leis no País. Devido à realização das eleições de 1998, houve um atraso na discussão das propostas, e somente depois de alguns anos foi aprovado pelo Congresso Nacional o Plano Nacional de Educação, por meio da Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001. 59 O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO • CAPÍTULO 3 Para o referido Plano Nacional de Educação (PNE 2001-2010) como passou a ser denominado, foram elaborados os seguintes objetivos: Figura 16. Objetivos do Plano Nacional de Educação 2001-2021. 1) Elevação do nível de escolaridade da população. 2) Melhoria da qualidade de ensino em todos os níveis. 3) Redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso à escola pública e à permanência, com sucesso, nela. 4) Democratização da gestão do ensino público nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da Educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares e equivalentes. Consequentemente, aos objetivos, no PNE 2001-2010 foram elencadas metas para este Plano e dentre elas podemos destacar as mais importantes que alertavam para a Educação Básica: » Alcançar a taxa de 80% de crianças de quatro a seis anos matriculadas nas escolas. » Universalizar o Ensino Fundamental. » Colocar 50% das crianças de até três anos em creches. » Erradicar o analfabetismo. » Diminuir a evasão no Ensino Médio em 5% ao ano. Essas metas foram cumpridas? Segundo estudo elaborado por pesquisadores (PINHO; GUIMARÃES, 2010a): em 2008, apenas 18% das crianças de até três anos recebiam atendimento em creches; entre 2000 e 2008, o analfabetismo caiu de 13,6% para10%; entre 2006 e 2008, a evasão no Ensino Médio subiu de 10% para 13,2%. Logo... ressaltando-se que as duas primeiras metas foram parcialmente alcançadas; as demais não atingiram o nível desejado, e pese sobre isso que a esmagadora maioria dos estados e municípios não aprovou uma legislação que garantisse recursos para atingir 60 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO as metas pretendidas e nem recursos corretivos/punitivos para quem descumprisse as ações previstas por ele. Além disso, a União também não cumpriu com sua parte, pois foi vetado pelo presidente da República, o artigo que recomendava o investimento de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Educação. E sobre o atual Plano Nacional de Educação (2014-2024), quais as expectativas? Inicialmente, é válido ressaltar que desde 1932 foram muitas as tentativas de elaboração e implementação de um plano de educação para o país e por meio do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, quando ocorreu a tomada de consciência da educação como problema nacional e a reivindicação dos diversos movimentos sociais pela ampliação do atendimento escolar. O manifesto sugeria a escola pública obrigatória, laica (significa o que ou quem não pertence ou não está sujeito a uma religião ou não é influenciado por ela) e gratuita, possível a todas as classes sociais. Com vigência prevista para 2014-2024, o atual PNE constitui um documento que define compromissos e colaborações entre os entes federativos e diversas instituições pelo avanço da educação brasileira. Saiba mais Aproveite e leia, na íntegra, o documento oficial publicado pelo Ipea. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/ documents/186968/485745/Plano+Nacional+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+PNE+2014-2024++Linha+de+Base/ c2dd0faa-7227-40ee-a520-12c6fc77700f?version=1.1. A agenda contemporânea de políticas públicas educacionais encontra no Plano Nacional de Educação referência para a construção e acompanhamento dos planos de educação estaduais e municipais, o que o caracteriza como uma política orientadora para ações governamentais em todos os níveis federativos e impõe ao seu acompanhamento um alto grau de complexidade. As questões públicas que motivam o PNE podem ser vislumbradas nas desigualdades educacionais, na necessidade de ampliar o acesso à educação e à escolaridade média da população, na baixa qualidade do aprendizado e nos desafios relacionados à valorização dos profissionais da Educação, à gestão democrática e ao financiamento da Educação. Figura 17. Fonte: Inep (2014). Disponível em: http://portal.inep.gov.br/documents/186968/485745/Plano+Nacional+de+Educa% C3%A7%C3%A3o+PNE+2014-2024++Linha+de+Base/c2dd0faa-7227-40ee-a520-12c6fc77700f?version=1.1. 61 O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO • CAPÍTULO 3 Diante de tais condições, objetivo central do Plano, que pode ser apreendido de suas diretrizes, consiste em induzir e articular os entes federados na elaboração de políticas públicas capazes de melhorar, de forma equitativa e democrática, o acesso e a qualidade da educação brasileira. Como sintetiza o documento do Ministério da Educação (MEC), “Planejando a Próxima Década – Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação” (MEC, 2014, p. 7), um plano “representa, normalmente, reação a situações de insatisfação e, portanto, volta-se na direção da promoção de mudanças a partir de determinadas interpretações da realidade, o PNE dos problemas e das suas causas, refletindo valores, ideias,atitudes políticas e determinado projeto de sociedade”. A partir do nível de problematização mais amplo expresso pelas diretrizes, que podem ser tomadas como representativas do “consenso histórico de forças políticas e sociais no País, que devem balizar todos os planos, desde sua elaboração até sua avaliação final” ( MEC, 2014), o PNE se estrutura em metas e estratégias aferíveis, o que possibilita um acompanhamento objetivo de sua execução. As metas podem ser definidas como as demarcações concretas do que se espera alcançar em cada dimensão da educação brasileira. As estratégias, por sua vez, descrevem os caminhos que precisam ser construídos e percorridos por meio das políticas públicas. As dez diretrizes do PNE são transversais e referenciam todas as metas, buscando sintetizar consensos sobre os grandes desafios educacionais do País e podendo ser categorizadas em cinco grandes grupos. Também é vislumbrada uma relação mais ou menos intensa de cada conjunto de metas com alguma diretriz em particular, o que possibilita uma classificação das metas à luz da diretriz com a qual possui maior imbricação, como se vê no Quadro 1. A agenda contemporânea de políticas públicas educacionais encontra no Plano Nacional de Educação referência para a construção e acompanhamento dos planos de educação estaduais e municipais, o que o caracteriza como uma política orientadora para ações governamentais em todos os níveis federativos e impõe ao seu acompanhamento muita complexidade. As questões públicas que motivam o PNE podem ser vislumbradas nas desigualdades educacionais, na necessidade de ampliar o acesso à educação e a escolaridade média da população, na baixa qualidade do aprendizado e nos desafios relacionados à valorização dos profissionais da educação, à gestão democrática e ao financiamento da educação. Diante de tais condições, objetivo central do Plano, que pode ser apreendido de suas diretrizes, consiste em induzir e articular os entes federados na elaboração de políticas públicas capazes de melhorar, de forma equitativa e democrática, o acesso e a qualidade da educação brasileira. Como sintetiza o documento do Ministério da Educação (MEC), “Planejando a Próxima Década – Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação” (MEC, 2014, p. 7), um plano representa, normalmente, reação a situações de insatisfação e, portanto, volta-se na direção da promoção de mudanças a partir de determinadas interpretações da realidadeo PNE dos problemas e das suas causas, refletindo valores, ideias, atitudes políticas e determinado projeto de sociedade. A partir do nível de problematização mais amplo expresso pelas diretrizes, que podem ser tomadas como representativas do “consenso histórico de forças políticas e sociais no País, que devem balizar todos os planos, desde sua elaboração até sua avaliação final” (MEC, 2014), o PNE se estrutura em metas e estratégias aferíveis, o que possibilita um acompanhamento objetivo de sua execução. Essas podem ser definidas como as demarcações concretas do que se espera alcançar em cada dimensão da educação brasileira. As estratégias, por sua vez, descrevem os caminhos que precisam ser construídos e percorridos por meio das políticas públicas. 62 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO Quadro 5. Diretrizes e metas do PNE. Diretrizes e Metas do PNE Diretrizes para a superação das desigualdades educacionais I – Erradicação do analfabetismo. II – Universalização do atendimento escolar. III – Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação. ..... . . . . . . . . . . Metas: de 1 a 5; 9; 11 e 12; 14. Diretrizes para a promoção da qualidade educacional Iv – Melhoria da qualidade da educação. v – Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Metas: 6 e 7; 10; 13 Diretrizes para a valorização dos(as) profissionais da educação IX – Valorização dos(as) profissionais da educação...... . . . . . . . . . . . . . . . Metas: 15 a 18. Diretrizes para a promoção da democracia e dos direitos humanos vI – Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública. VII – Promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País. X – Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Metas: 8 e 19. Diretrizes para o financiamento da educação vIII – Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Meta: 20. Fonte: Elaborado pela Dired/Inep com base na Lei no 13.005, de 25 de junho de 2014. Percebe-se no quadro acima a associação das metas do PNE (2014-2024), às cinco categorias de diretrizes previstas. Esse esforço de sistematização poderá unir-se aos demais recursos, tal como classificar as metas pelos níveis de ensino, ou mesmo em função dos públicos prioritários, de acordo com as responsabilidades de cada ente federativo. No documento “Planejando a Próxima Década – Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação”, o MEC reuniu as metas em quatro grupos principais, conforme seu foco de atuação: » Metas estruturantes para a garantia do direito à Educação Básica com qualidade: Meta 1, Meta 2, Meta 3, Meta 5, Meta 6, Meta 7, Meta 9, Meta 10, Meta 11. Saiba mais As dez diretrizes do PNE são transversais e referenciam todas as metas, buscando sintetizar consensos sobre os grandes desafios educacionais do País e podendo ser categorizadas em cinco grandes grupos. Também é vislumbrada uma relação mais ou menos intensa de cada conjunto de metas com alguma diretriz em particular, o que possibilita uma classificação das metas à luz da diretriz com a qual possui maior imbricação, como se vê no Quadro 5. 63 O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO • CAPÍTULO 3 » Metas voltadas à redução das desigualdades e à valorização da diversidade: Meta 4 e Meta 8. » Metas para a valorização dos profissionais da educação: Meta 15, Meta 16, Meta 17 e Meta 18. » Metas referentes ao Ensino Superior: Meta 12, Meta 13 e Meta 14. Figura 18. Criança desenhando. Fonte: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3234&catid=30&Itemid=41. Acesso em: 4/3/2020. Planos: Estadual de Educação (PEE) e Municipal de Educação (PME) Como sabido, o Plano Nacional de Educação (PNE), determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional no período de 2014-2024. Para que os estados, o Distrito Federal e os municípios elaborassem e aprovassem seus planos, com metas articuladas às metas nacionais, o Ministério da Educação (MEC) atuou em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), criando uma Rede de Assistência Técnica, que orientou as Comissões Coordenadoras locais nesse trabalho realizado em todo o país. Atenção A proposta é para você, futuro professor! Diferentemente de várias áreas dos serviços públicos, a educação brasileira tem um projeto expansionista e democrático de futuro. Não se trata de um plano elaborado na academia ou por tecnocratas de instituições estatais ou privadas, mas de um conjunto de objetivos e passos a serem dados que foram amplamente debatidos na sociedade. (IPEA, 2015, p. 1). 64 CAPÍTULO 3 • O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAçãO O mapa disponível no link apresentainformações sobre a etapa de elaboração dos planos no país e os planos de educação sancionados. Para acessar as leis dos planos de educação clique no estado, ao abrir a janela, clique em PEE para o estado, ou identifique o município de interesse, para baixar. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao. Acesso em: fevereiro de 2020. Atenção O que é um Plano de Educação? Um plano resulta do processo mental de planejamento; pode ser traduzido como roteiro das decisões tomadas; como documentos, com força de lei, que determinam metas para que a garantia do direito à educação de qualidade prossiga em um município, estado ou país, no período de dez anos. Esses documentos têm uma abrangência maior, pois tratam das questões políticas e filosóficas do ato de ensinar em dada sociedade. Então! Veja a seguir, interessante descrição da importância dos Planos de Ensino, tanto o Nacional, como o Estadual, como o Municipal, representados por meio da figura, procurando perceber a necessidade da magnitude da educação brasileira, de acordo com nossas diferenças de cor, raça, credo e especificidades nas metrópoles, dos interiores, no campo etc. Figura 19. Noção de inclusão. Fonte: http://www.deolhonosplanos.org.br/wp-content/themes/mapadosplanos-theme-master/img/bg-titulos-ilustra. png. “O Brasil tem um grande desafio nos próximos anos: fazer com que todos os municípios e estados brasileiros cumpram seus Planos de Educação e possibilitem a melhoria da qualidade da educação em nosso país”. Os Planos de Educação são documentos, com força de lei, que estabelecem metas para que a garantia do direito à educação de qualidade avance em um município, estado ou país, no período de dez anos. Abordam o conjunto do atendimento educacional existente em um território, envolvendo redes municipais, estaduais, federais e as instituições privadas que atuam em diferentes níveis e modalidades da educação: das creches às universidades. Trata-se, pois, do principal instrumento da política pública educacional. Sendo assim, os Planos de Educação são, também, um importante instrumento contra a descontinuidade das políticas, pois orientam a gestão educacional e referenciam o controle social e a participação cidadã. (Disponível em: http://www.deolhonosplanos.org.br/planos-de-educacao/Acesso: fevereiro 2020). 65 Introdução Iniciando nossa conversa, importa recapitular nossa caminhada relembrando que a legislação de educação brasileira teve sua primeira Carta promulgada em 1961, tendo sido atualizada e reformulada em 1971 e 1996 (Lei no 9.394/1996), sendo que essa, mesmo em vigor, já passou por muitas alterações ao longo desses anos, sendo as últimas em 2018, como pode ser conferido a seguir. 4 CAPÍTULO ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES Saiba mais Figura 20. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/1996). Fonte: https://pt.slideshare.net/vaschaino/ldb-939496-15576600. Alterações ocorridas em 2018. Art. 3o [...] XIII – garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (Incluído pela Lei no 13.632, de 2018). [...] Art. 12. [...] 66 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES Tendo atualizado o tema, pode-se dizer que do mesmo modo como a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 determina os princípios, fins, direitos e deveres referentes à educação nacional. No entanto, ela também estabelece e aprofunda outros pontos pertinentes ao sistema educacional, como: » Organização da Educação Nacional: determina quais são as responsabilidades e obrigações de cada esfera administrativa (União, Estado, Distrito Federal e Município), das instituições de ensino e dos professores e a composição dos diferentes sistemas de ensino (Federal, Estadual, Distrito Federal, e Municipal); » Níveis e modalidades de educação e ensino: delibera sobre as finalidades e o modo de organização, dos Níveis e Modalidades da educação. Saiba mais IX – promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei no 13.663, de 2018). X – estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. (Incluído pela Lei no 13.663, de 2018). Art. 26. [...] § 9o-A. A educação alimentar e nutricional será incluída entre os temas transversais de que trata o caput. (Incluído pela Lei no 13.666, de 2018). Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada pela Lei no 13.632, de 2018). [...] Art. 58. [...] § 3o A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4o e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei no 13.632, de 2018). Alterações ocorridas em 2019. Lei no 13.803, de 10 de janeiro de 2019. Altera dispositivo da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para obrigar a notificação de faltas escolares ao Conselho Tutelar quando superiores a 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei. Art. 1o O inciso VIII do art. 12 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; …” (NR) 67 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 Os Níveis são divididos em Educação Básica (organizada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, que pode ser profissionalizante ou não) e Ensino Superior. Já as modalidades incluem Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Especial, Educação Profissional Técnica de Nível Médio, Educação Profissional Tecnológica, Educação Indígena, Educação Quilombola, Educação do Campo, Educação a Distância (EaD). » Profissionais da educação: recomenda os títulos e experiências indispensáveis aos profissionais da educação, estabelecendo as obrigações dos órgãos administrativos em vista da valorização deles. Objetivos » Conhecer a Organização da Educação Nacional, distinguindo os níveis e modalidades de educação e ensino, caracterizando cada um deles em seus diferentes aspectos de aplicabilidade. » Refletir criticamente sobre os caminhos indicados e as reais possibilidades de operacionalização dos documentos que caracterizam a organização da educação no Brasil, seus encargos e obrigações, numa visão macro, meso e micro de realização. Concepções da Educação no Brasil: níveis e modalidades O objetivo maior da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no 9.394/1996, como conhecida é a normatização do sistema educacional brasileiro com a universalização dos saberes básicos e a ascensão igualitária à educação para todos. Essa legislação oportuniza um conjunto de definições políticas que norteiam o sistema educacional e introduz mudanças significativas na educação básica brasileira. Dessa forma, a meta para a educação no Brasil é a democratização e universalização do conhecimento por meio de formação e cuidados com a escolarização, admitindo, assim, atitude intencional e sistematicamente organizada com devida atenção ao desenvolvimento intelectual não descuidando do físico, emocional social e ético. Apenas como complementação de informações pode-se registrar que de acordo com Saviani (2007) são identificadas quatro expressivas concepções na organização escolar, 68 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES denominadas humanista tradicional, moderna, analítica e dialética, temáticas a serem detalhadas mais à frente em seus estudos. Para melhor esclarecimentosobre os níveis e as modalidades da educação no Brasil, atente-se ao quadro explicativo. Quadro 6. Organização da educação brasileira. EDUCAÇÃO ESCOLAR NÍVEIS ETAPAS DA ED. BÁSICA Ed. Básica que tem por finalidade desenvolver o educando, assegurando-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Ed. Infantil ou primeira etapa da EB e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os 5 anos de idade. Ensino Fundamental: com duração de 9 anos. Compreende os anos iniciais e finais. Gratuito na escola pública. Deve ser iniciado aos 6 anos e tem como objetivo a formação básica do cidadão. Ensino Médio: etapa final da Ed. Básica com duração mínima de 3 anos Ed. Superior: tem por finalidade estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, envolvendo a pesquisa, o ensino e a extensão. CURSOS E PROGRAMAS DA ED. SUPERIOR 1. Sequenciais 2. graduação 3. Pós-graduação 4. Extensão FASES ED. INFANTIL » Creche (até 3 anos) » Pré-escola (4/5 anos) » Anos finais (5 anos) MODALIDADES DE ENSINO » Ed. Jovens e Adultos » Ed. Especial » Ed. Profissional e Tecnológica » Ed. do Campo » Ed. Escolar Indígena » Ed. Escolar Quilombola » Ed. a Distância Fonte: Quadro-síntese criado pela autora a partir de MEC (2013). Elaborado pela autora e de acordo com documentos do MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file. Acesso em: julho 2019. Nessa linha de informações e reflexões entendeu-se a necessidade de conhecermos um pouco mais da estrutura, antes de detalharmos os níveis e modalidades da educação brasileira. Como é sabido, a Constituição Federal de 1988 e a LDBEN (9.394/1996) – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional são as leis que gerem o sistema educacional brasileiro em vigor e que ele depende da participação dos Sistemas de Ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sendo que a cada um deles compete organizar seu sistema de ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação da política nacional de 69 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e desempenhando função normativa, redistributiva e supletiva (arts. 8o, 9o, 10 e 11). Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as suas etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Para melhor esclarecimento no art. 20 do SNE: O respeito aos educandos e aos seus tempos mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um princípio orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilidade dos sistemas a criação de condições para que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham a oportunidade de receber a formação que corresponda à idade própria de percurso escolar. Iniciando a exposição, Já em seu art. 21, a LDB (Lei no 9.394/1996) dispõe que a educação escolar está dividida em dois níveis: A educação escolar compõe-se de: I. Educação Básica (formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio); II. Educação Superior. A educação básica “tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (art. 22). Ela pode ser oferecida no ensino regular e nas modalidades de educação de jovens e adultos, educação especial e educação profissional, sendo que esta última pode ser também uma modalidade da educação superior. Saiba mais Etapas da Educação Básica Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes momentos constitutivos do desenvolvimento educacional: I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração de 2 (dois) anos; 70 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES Só pra lembrar, o Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, tem duração mínima de três anos, prevendo formação geral do estudante por mio de programas de preparação geral para o trabalho, ciências e tecnologia, facultativamente, a habilitação profissional por meio dos cursos técnicos, lembrando que o ensino de nível técnico é ministrado de modo livre do Ensino Médio regular, mas este, entretanto, é requisito para a obtenção do diploma de técnico. Com a Lei no 9.394/1996 (LDB), o grande objetivo tornou-se normatizar o sistema educacional e garantir acesso igualitário para todos com relação à educação. Essa lei, de forma geral, oferece um conjunto de definições políticas que orientam o sistema educacional e introduz mudanças importantes na educação básica do Brasil. II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais; III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos. Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças, definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e intensificando, gradativamente, o processo educativo. Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo da Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades que preveem: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II – a preparação básica para a cidadania e o trabalho, tomado este como princípio educativo, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores; III – o desenvolvimento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV – a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, relacionando a teoria com a prática. § 1o O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas como preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da formação cultural. (Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file. Acesso em: julho 2019). 71 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 Nessas leituras, ressalta-se, no momento atual da educação no Brasil, as mudanças no ensino médio, seja para o aluno para o professor, para a escola e, resumidamente, podemos salientar que para o principal ator do processo, no caso – aluno – a primeiras e mais discutida questão é a obrigatoriedade das disciplinas de Português, Inglês e Matemática durante os três anos do ensino médio, sendo as demais, disciplinas optativas à escolha do aluno, desde que sua grade escolar seja completa; além disso, ocorreráalteração na carga horária diária de aulas, que ao invés de um, serão dois turnos diários, dando ao estudante oportunidade de escolher o que mais condiz com suas aptidões e capacidades para o seu futuro como cidadão e profissional. Complementando essas preliminares sobre o assunto, sugerimos que você, futuro professor, consulte o Guia de Implementação do novo ensino médio para ter informações atualizadas sobre as mudanças do Ensino Médio, como indicado na nova Base Comum Curricular assinada e publicada em novembro de 2018. E aproveitando, dê uma olhada também nas mudanças no Ensino Médio, como previsto na nova Base Nacional Comum Curricular. Figura 21. guia de Implementação do novo ensino médio. Fonte: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/downloads/pdf/guia.pdf. Acesso em: 4/3/2020. Nesse entendimento, a nova proposta para a educação brasileira tem como meta a democratização e universalização do conhecimento básico, oferecendo educação e cuidado com a escolarização, assumindo um caráter intencional e sistemático, que oferece atenção especial ao desenvolvimento intelectual, sem descuidar de outros aspectos como o físico, o emocional, o moral e o social (Lei no 9.394/1996). De s s a f o r m a e t e n d o o c o r r i d o a s i n f o r m a ç õ e s p re l i m i n a re s j u l g a d a s c o m o necessárias para melhor compreensão da organização educacional no Brasil , 72 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES procuraremos tratar mais especificamente as questões relacionadas às modalidades da educação, tendo em vista que em outros espaços serão considerados aspectos também relevantes quanto à responsabilidade das esferas administrativas e dos profissionais da educação. Em seu art. 27, o SNE diz que a cada etapa da Educação Básica pode corresponder uma ou mais das modalidades de ensino, a saber: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional Técnica de Nível Médio, Educação Profissional Tecnológica, Educação Escolar Indígena, Educação Quilombola, Educação do Campo, Educação a Distância (EaD). Assim, faremos breves comentários com o intuito de formalizar, ou apontar, ou lembrar informações básicas e necessárias ao professor, destacando que, cada uma dessas modalidades requer, especificamente, planejamentos voltados para as suas especificidades. Figura 22. Base Nacional Comum. Fonte: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ Mas...O que é a BNCC? Para atualização de informações, lendo França (2019, p. 1), pode-se conhecer a experiência e contribuições da ex-Secretária Executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Observe a lei BNCC – documento que define as aprendizagens. É a sigla para Base Nacional Comum Curricular. Ela nada mais é que um documento que define as aprendizagens que todos os alunos do Brasil devem desenvolver em cada etapa da Educação Básica. Embora o termo tenha começado a ser discutido recentemente, a ideia de se ter uma base para orientar o currículo de todo o País começou ainda na década de 1990 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No art. 26 da LDB, encontramos a seguinte redação: Os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada Sistema de Ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. 73 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 Guimarães Castro, em entrevista concedida em abril de 2018, p. 1, quando ocorreu a divulgação da Base Nacional Comum Curricular, afirmou que, A Base é um documento normativo que define o conjunto orgânico progressivo das aprendizagens essenciais e indica os conhecimentos e competências que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. Ela se baseia nas diretrizes curriculares nacionais da Educação Básica e soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação integral e para a construção de uma sociedade melhor. Educação de Jovens e Adultos (EJA) A Educação de Jovens e Adultos, conhecida inicialmente como Supletivo, a EJA atual traz o entendimento de inclusão, oferecendo oportunidades para aqueles que, por uma Saiba mais Educação é a base Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei no 9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das unidades Federativas, como, também, as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Posicionamento do autor Para você, prezado aluno, que se prepara para assumir a docência ou áreas afins, propomos que sempre fique ‘‘ligado’’ às questões legais que norteiam nossa educação. São documentos e programas valiosos nos quais podemos nos orientar com assertividade e fundamentação para as nossas práticas serem, sempre, eticamente respeitadas com índice de qualidade positiva. Observe a lei De acordo com documentos legais consultados pode-se perceber o detalhamento das modalidades de ensino e devidas orientações de planejamentos que deverão ser elaborados, buscando eficácia e eficiência. Dessa forma, podemos saber um pouquinho sobre eles. 74 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES razão ou outra, não tiveram oportunidades de estudar na idade adequada. É uma das modalidades mais conhecidas originada de necessidade de escolarização das pessoas excluídas do processo regular de ensino. Figura 23. Turma de jovens e adultos no CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo (SP). Foto: Ewerton de Souza. Disponível em: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1875/blog-coordenadoras-em-acao-e-preciso-acolher-com-mais- cuidado-a-juventude-na-eja. Acesso em: 4/3/2020. Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se aos que se situam na faixa etária superior à considerada própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. § 1o Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-lhes oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos, exames, ações integradas e complementares entre si, estruturados em um projeto pedagógico próprio. § 2o Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Educação Profissional articulada com a Educação Básica, devem pautar-se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de tempo e espaço. A necessidade de mão de obra minimamente qualificada para atuar na indústria e a diminuição dos números vergonhosos de analfabetismo foram os iniciadores do processo para que o Estado oferecesse tal modalidade. Anteriormente conhecida como supletivo, a atual EJA traz consigo a concepção de inclusão social e oferta para aqueles que não tiveram oportunidades na idade própria. A EJA está disciplinada na LDB, em especial nos arts. 37 e 38, e possui DCN própria para sua oferta. Educação especial Preferencialmente essa é a modalidade de educação oferecida na rede regular de ensino para os alunos com transtornos globais do desenvolvimento, superdotação ou altas 75 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 habilidades e com diferentes deficiências. Está caracterizada nas diversas legislações necessárias para quepudesse realmente acontecer e que primordialmente regulamente a matrícula dos estudantes com deficiências a serem incluídos nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), complementar ou suplementar à escolarização, oferecido em classes multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições filantrópicas sem fins lucrativos, comunitárias e/ou confessionais. A Educação Especial pode ser apresentada em três categorias denominadas dependente (que está indicada para os alunos internados em hospitais devido ao grau da deficiência que os impedem de se cuidar sozinhos); a categoria de treináveis (para os estudantes que apresentam um tipo de deficiência, sendo capazes de se socializar sem ajuda); e a categoria dos educáveis (que atende alunos que têm vocabulário que os deixam socializáveis e com habilidades de adaptação. São aqueles que adoecem já na fase adulta). Figura 24. Educação especial. Fonte: https://aese.edu.pt/joomla/index.php/o-agrupamento/educacao-especial-separador/educacao-especial. Acesso em: 4/3/2020. Seu conceito está disposto no art. 58 da LDB – a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Sua caracterização é encontrada nos arts. 59 e 60, bem como nas inúmeras legislações que foram necessárias para que o processo de inclusão pudesse acontecer. Essa modalidade foi alvo de um artigo especial já publicado. Art. 29. A Educação Especial, como modalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagógico da unidade escolar. 76 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES § 1o Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. § 2o Os sistemas e as escolas devem criar condições para que o professor da classe comum possa explorar as potencialidades de todos os estudantes, adotando uma pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e, na interface, o professor do AEE deve identificar habilidades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a participação e aprendizagem dos estudantes. Educação profissional e tecnológica A Educação Profissional e Tecnológica é a modalidade ligada à qualificação da mão de obra que possibilita que o estudante desenvolva conhecimentos sobre alguma profissão. Em regra oferecida em escolas técnicas cuja orientação recai além dos conteúdos técnicos, também na formação de habilidades e competências especiais para o mercado de trabalho apoiadas na aprendizagem do saber ser, saber conviver, saber fazer e saber conhecer, como previsto nos quatro pilares para a educação do século XXI. Esse sistema de educação é o que encontramos nas Escolas dos Sistemas ‘‘S’’ (Senai, Senac, Sesc, Sebrae, Sescoop), ou seja, Serviço Nacional de Aprendizagem na Indústria, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Serviço Social do Comércio e Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Para ilustrar, veja a figura a seguir: Figura 25. Educação Profissional e Tecnológica. Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20833:institutos-federais-terao-apoio- para-projetos-de-pesquisa-e-extensao-tecnologica&catid=209&Itemid=86. Acesso em: 4/3/2020. 77 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se com o ensino regular e com outras modalidades educacionais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a Distância. Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educação Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio. A E d u c a ç ã o Pr o f i s s i o n a l e Te c n o l ó g i c a , n o c u m p r i m e n t o d o s o b j e t i v o s d a educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e ar t icula-se com o ensino regular e com outras modalidades educacionais : Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a Distância. Como modalidade da Educação Básica, a Educação Profissional e Tecnológica ocorre na ofer ta de cursos de for mação inicial e continuada ou qual i f icação profissional e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio. Educação indígena A educação indígena é a educação voltada para os povos indígenas e requer dos professores um olhar especial, por meio de uma aula diferenciada. É uma modalidade de ensino que necessita de respeito às suas culturas, condições e língua de cada comunidade que é atendida. Sabidamente essa modalidade apresenta enorme desafio para à Fundação Nacional do Índio (Funai), devido, além da distribuição étnica da população indígena distinguida com 305 etnias falantes de 274 línguas diferentes, como, também, a infraestrutura que não disponibiliza espaço adequado, obrigando à improvisação de lugares, inclusive nas casas comunitárias. A figura a seguir ilustra um desses desafios. 78 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES Figura 26. Educação Indígena. Fonte: http://redeglobo.globo.com/globoeducacao/noticia/2012/06/estudantes-indigenas-tem-direito-educacao- multicultural-e-bilingue.htm. Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser considerada a participação da comunidade, na definição do modelo de organização e gestão, bem como: I – suas estruturas sociais; II – suas práticas socioculturais e religiosas; III – suas formas de produção de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; IV – suas atividades econômicas; V – edificação de escolas que atendam aos interesses das comunidades indígenas; VI – uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena. Essa modalidade ocorre em unidades educacionais inscritas em terras indígenas e suas culturas, as quais têm uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em respeito 79 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípiosque orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Educação quilombola Contemplar a história das comunidades remanescentes dos quilombos ainda existentes em todos os estados da Federação brasileira é importante para todos os brasileiros, pois se trata da modalidade de educação que requer valorização à diversidade cultural e pedagogia própria devido à característica étnico-cultural de cada comunidade. A formação específica de seu quadro docente aponta para os princípios constitucionais à base nacional comum curricular e os princípios que norteiam a Educação Básica no Brasil. É a modalidade que deve ser oferecida em unidades educacionais inscritas em suas terras e culturas. Segundo informações no portal do MEC, esse Ministério oferece apoio financeiro aos sistemas de ensino, cujos recursos devem ser destinados à formação continuada dos docentes para as áreas restantes de quilombos, ampliação e melhoria da rede física escolar e produção e aquisição de material didático. De acordo com informações da Fundação Cultural Palmares, órgão do MEC, existem certificadas 1.209 comunidades de quilombos e 143 áreas de terras tituladas, sendo a maioria nos estados da Bahia (229), Maranhão (112), Minas Gerais (89) e Pará (81) e não encontrados nos estados do Acre, Roraima, e no Distrito Federal. Figura 27. Educação Quilombola. Fonte: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/18246-governo-institui-diretrizes-curriculares-para- quilombolas. 80 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, bem como nas demais, deve ser reconhecida e valorizada a diversidade cultural. Educação do campo A modalidade de educação rural está prevista, mas com adaptações próprias às especificidades da vida rural e em determinada região, com as devidas orientações essenciais à organização da ação didático-pedagógica; além disso, as formas de organização e das metodologias devem ser pertinentes à realidade do campo baseado no princípio da sustentabilidade e à pedagogia da alternância. A figura a seguir retrata uma das dificuldades que é a moradia dos alunos muito distante das escolas. Figura 28. Educação no Campo. Fonte: http://s2.glbimg.com/-OVykeHP-jxixlzHPcZFSWI-utUjfe-D4iOlzUPbzOxIoz-HdGixxa_8qOZvMp3w/s.glbimg.com/og/ rg/f/original/2012/06/22/fotos_na_comunidade_indigenas_com_subsecretario_606x455.jpg. Acesso em: julho de 2019. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a educação para a população rural está prevista com adequações necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: I. Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; 81 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 II. organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III. adequação à natureza do trabalho na zona rural. Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em todos os aspectos, tais como sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Parágrafo único. Formas de organização e metodologias pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, como a pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilidade, para assegurar a preservação da vida das futuras gerações, e a pedagogia da alternância, na qual o estudante participa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo aprendizado e pela formação do estudante. Educação a Distância (EaD) Acertadamente é a modalidade que mais vem crescendo no País, tendo a internet como grande recurso intermediador com várias mídias e plataformas capazes de garantir uma qualificação técnica e até mesmo de pós-graduações para o sujeito predisposto a fazê-la. Vide o rápido detalhamento abaixo; Figura 29. Educação a Distância. Fonte https://www.estudiosite.com.br/site/educacao-a-distancia/5-dicas-para-contornar-conflitos-entre-alunos-em-ead. Acesso em: 4/3/2020. Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza-se pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, 82 CAPÍTULO 4 • ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de Educação Profissional Técnica de nível médio e Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as normas complementares desses sistemas. É a modalidade educacional na qual alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, é necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação. Essa modalidade é regulada por uma legislação específica e pode ser implantada na Educação Básica (Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional Técnica de Nível Médio) e na Educação Superior. A modalidade Educação a Distância caracteriza-se pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. O conteúdo e a qualidade das aulas em EaD continuam sendo os mesmos. A diferença é que, com a EAD, é possível escolher vários formatos interativos para produzir seu material, ou seja, o professor não precisa mais focar apenas em aulas expositivas e longas. Ele consegue variar os temas de acordo com o formato que achar mais adequado, como: Vídeos longos e curtos; » E-books; » Games; » Podcasts; » Infográfico; » Quiz; » Lives e muito mais. Sintetizando Vimos até agora: » Que é preciso compreender a organização da educação brasileira, em seus níveis e modalidades como meio de facilitação para praticar as ações de planejamentos nas várias esferas das regiões brasileiras tão diversificadas em seus desenvolvimentos, desde o início da colonização. 83 ORgANIzAçãO DA EDUCAçãO BRASILEIRA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES • CAPÍTULO 4 » Como previsto na LDBEN/1988, o detalhamento cronológico para a criação das diretrizes, programas e planos para inserção e operacionalização legal nos diversos setores da educação brasileira, especialmente quanto aos planejamentos. » Que a educação no Brasil está organizada em dois níveis Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental anos iniciais e finais e Ensino Médio) e a Educação Superior, tendo como pano de fundo a BNCC, publicada em 2018, com as devidas alterações no ensino médio. » Que as atuais modalidades de educação, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, EducaçãoProfissional Técnica de Nível Médio, Educação Profissional Tecnológica, Educação Escolar Indígena, Educação Quilombola, Educação do Campo, Educação a Distância, sugerem novas formas de planejar e executar. 84 Introdução Neste Livro de Estudos sobre Planejamento Educacional, intencionalmente procuramos percorrer um caminho vertical com as devidas especificações em nível macro de como, quando, por que e onde as secretarias estaduais e municipais de educação (nos níveis meso e micro) procuram suas fundamentações legais subsidiando as orientações para as escolas e justificadamente, às salas de aulas, que devem ser o foco de todo planejador. Neste capítulo, indicaremos caminhos para melhor compreensão sobre quais e como lidar com os instrumentos aqui denominados metodológicos, para a prática docente com qualidade. Tais instrumentos denominados observação, reflexão didática/teoria, avaliação e o planejamento oportunizam a reflexão metódica para a elaboração e assimilação de uma disciplina. O educador, em qualquer função que exerça, como gestor, docente ou coordenador tem o compromisso de promover a inserção dos estudantes em seu próprio processo de aprendizagem. Ora, para tal deverá disciplinar-se intelectualmente, lançar mão e agir por meio dos seus instrumentos metodológicos básicos, como citados. Não se cogita, no mundo atual, o profissional da educação que desconsidera etapas necessárias de preparação antes de executar, com ética e, acima de tudo, sabedoria de quem está devidamente organizado e intelectualmente preparado para lidar com crianças, jovens, adultos, em escolas regulares presenciais ou não, que atendem tal clientela. De acordo com a educadora Madalena Freire et al. (1997), podemos nos conduzir também para a compreensão de tais necessidades. 5 CAPÍTULO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA 85 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Objetivos » Caracterizar o Planejamento Educacional Escolar, por meio dos seus principais instrumentos metodológicos para a práxis pedagógica, reconhecendo a importância dos planos, projetos e programas que o compõem. » Identificar a importância de cada um desses instrumentos e suas especificidades, manifestando interesse, criatividade e cooperação para elaboração deles. » Perceber que as redes escolares constroem seus planos como uma tradução do planejamento educacional para as realidades locais. Para melhor compreender a abordagem feita, nada melhor que ler a concepção de Madalena Freire et al. (1997) sobre o assunto e por que tratado, como instrumentos metodológicos necessários para a eficácia da prática pedagógica. Instrumentos metodológicos na concepção democrática de educação Nesse contexto, intenciona-se apresentar breves apontamentos sobre os três primeiros instrumentos metodológicos para a práxis pedagógica, pois objetiva-se detalhar o planejamento educacional escolar. Provocação Toda concepção de educação coloca em prática uma teoria do conhecimento. Toda concepção de educação tem um fazer, que está no domínio da pedagogia. Toda pedagogia, no seu fazer, pratica um método, uma metodologia com seus instrumentos para conhecer. O processo de conhecimento requer que os sujeitos interajam, socializem o que pensam, o que sabem, para, juntos, conhecerem o que antes não sabiam. Nesta concepção de educação, o processo de conhecer não tem nada a ver com transferência de conhecimentos. No seu ensinar, o educador transmite informações e, ao mesmo tempo, transmite- se na sua paixão, na sua criação. Seu desafio está na escuta, na observação, nas intervenções provocativas para que o grupo assuma o seu pensar nas suas divergências e concordâncias, entre iguais. Pois, para conhecer, temos que adentrar o terreno do conflito e do confronto, ou seja, há sempre um desafio, um problema a ser superado, iluminado pelo conhecimento. Os instrumentos metodológicos (a observação, a reflexão da prática/teoria, a avaliação e o planejamento) possibilitam o exercício sistemático da reflexão para a construção e apropriação da disciplina intelectual. O educador, estando em qualquer função na escola (professor, coordenador, diretor) é um profissional do conhecimento, um estudioso, um intelectual – seu compromisso está em promover que seus alunos entrem em contato com seu próprio processo de conhecimento. Para isso, a disciplina intelectual é a ferramenta básica. Assim como um pedreiro necessita de ferramenta para levantar uma casa, o educador necessita de instrumentos metodológicos para a construção permanente da disciplina intelectual, para o estudo permanente que alicerça sua autoria e autonomia. 86 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Observação Ora, o ato de estudar sempre é iniciado pela observação que sugere atenção, escuta, presença e reflexão. “A atenção é um ato de generosidade e abertura para acolher o mundo”, afirma Paulo Freire (2011). O ato de observar é o planejamento da avaliação e quando focalizada, um ato de metacognição: processo mental, interno, pelo qual o sujeito toma consciência dos diferentes aspectos e movimentos de sua atividade cognitiva, que envolve o olhar, o ver e o enxergar. Para Freire (2013), Ao vermos, na visão primeira, de “primeiridade”, nas aparências, na superficialidade, na primeira impressão, colados às situações, sem distanciamento reflexivo. O desafio é conquistar um olhar de “secundidade” em que superamos as aparências, apuramos uma reflexão, um distanciamento e, por isso mesmo, tecemos uma interpretação, leitura dos sentidos, significados, do que conseguimos enxergar, interpretar. Neste sentido, a ação de observar é sempre diagnóstico-avaliativa. Saiba mais Peirce (2009), queria decifrar como os fenômenos a que estamos sujeitos aparecem à consciência. Fenômeno é aqui entendido como tudo aquilo que aparece à mente, correspondente a algo real ou não. Pode ser interno (dor, desejo, lembranças...) ou externo (cheiro, raio de sol, gotas de chuva...). Ele separou em três, portanto, os modos de operação do pensamento-signo: Primeiridade: é a sensação que se experimenta ao olhar pela primeira vez para algo novo. É a sensação pura, sem percepção objetiva, vontade ou pensamento. Exemplos: » os momentos privilegiados em que a consciência é tomada pelo sentimento; » qualidade de sentir: sabor do vinho, gosto de cereja, cheiro de jasmim...; » experiências místicas, experiências estéticas na arte; » nuvens passando formando imagens que logo mudam; » o tempo presente. Secundidade: está baseada no conflito. Temos nela a ação e reação dos fatos concretos. Tem relação com os conhecimentos já adquiridos. Obriga a pensar. A secundidade é sempre a reação entre duas forças. Exemplos: » memória é secundidade; » o jornalista é voltado para a secundidade; » “o homem comeu banana”. Nesse momento. quem leu a frase visualiza um homem comendo uma banana. A compreensão é de secundidade. 87 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Registro reflexivo Nessas reflexões em busca de conceber uma relação democrática da e na educação, pensar constitui ato de refletir; é a apuração do arrazoar, do ajuizar, e nessa concepção poderão surgir hipóteses que poderão ou não ser testadas e ou não contestadas. Refletir a práxis docente conduz para a conscientização pedagógica, política e amorosa e é esse o momento oportuno para que sejam feitas as anotações ou registros num processo de averiguar o próprio pensamento. Como ressaltam MadalenaFreire et al. (1997), os registros pedagógicos podem ser realizados no ato, após notas e aulas, sobre o conteúdo de uma aula ou nos relatórios mensais, bimensais, semestrais ou anuais sobre o trabalho desenvolvido e ainda os registros reflexivos poderão ser regulados sobre o planejamento, os conteúdos, os procedimentos,as aprendizagens e sobre o resultado do processo de avaliação, numa ação constante de análises comparativas a interpretar e fundamentar o próprio pensar. O mais importante nesse procedimento é a conscientização e a ação de comunicar sobre o resultado desses registros aos outros, aos atores companheiros, em reuniões entre iguais sempre na presença de um coordenador. Avaliação O ato de avaliar é processo constante. Deve acontecer permanentemente no método de rever, refletir para pensar o futuro, sempre atento aos objetivos inicialmente traçados, formando o chamado indês * do planejamento para modificá-lo ou não e, a reflexão que sistematiza os movimentos da observação para a avaliação e desta para o planejamento. Para HOUAISS, indês trata-se do primeiro ovo que se coloca no ninho para chocar. Terceiridade: é representação. É interpretação de mundo. Diante de um fenômeno, a consciência produz um signo. O signo é a concepção mais fácil de compreensão da terceiridade. A pessoa conecta o signo à sua experiência de vida. Exemplos: » um relâmpago violento; » rastros, pegadas; » uma batida na porta. (Disponível em: http://semiobibando.blogspot.com/2009/11/primeiridade-secundidade-e-terceiridade.html.) 88 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Planejamento Planejar é o nosso ponto fundamental desses estudos: planejar como ação de futuro, imaginação, antevisão. Aqui, o ideal chega com duas hipóteses, apontando um olhar largueado para os singulares e agilidade para a pré-visão e/ou a recriação do planejamento. Nesse ‘‘sonhar’’ vamos detalhando o Planejamento Educacional Escolar em seus níveis e possibilidades, verificando o quadro a seguir: Quadro 7. Níveis de planejamento educacional. NÍVEIS DE PLANEJAMENTO EDUCACIONAL TIPOS CARACTERÍSTICAS Planejamento Educacional Fruto do processo de análise e reflexão das várias etapas de um sistema educacional; elaborado em nível sistêmico, ou seja, nacional, estadual e municipal; ele reflete a política de educação adotada. Planejamento Curricular É a previsão dos diferentes componentes curriculares que devem ser desenvolvidos ao longo dos cursos por meio da definição dos objetivos e previsão dos conteúdos. Planejamento Escolar Planejamento geral das atividades da escola; surge da tomada de decisão quanto aos objetivos a serem atingidos e a previsão de ações, tanto pedagógicas como administrativas, que devem ser executadas por toda a equipe da escola; deve ser participativo. Planejamento de Ensino Ou didático; é a previsão das ações e procedimentos que o professor deve realizar junto aos alunos e a organização das atividades discentes e experiências de aprendizagem. Formado pelos planejamentos: de curso; de unidade; de aula. Plano Culminância do processo mental de planejamento; como resultado pode ou não ser escrito. Projeto Aborda o registro das decisões mais concretas de propostas que se deseja realizar; produto do planejamento. Programa Formado pelo conjunto de um ou mais projetos de órgãos ou áreas com período definido. Fonte: Quadro elaborado pela autora fundamentado em Haydt (2006). Saiba mais E detalhando um pouco mais a respeito, a nossa sugestão para suas leituras e pesquisas: Figura 30. Livro: Planejamento Educacional e Formação de Professores. Fonte: Maria Luiza Santos gama. Appris Editora, 2016. 89 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Segundo Malheiros, (2017, p. 74) , é necessár io transformar o planejamento educacional em nível local. Todas as instituições escolares devem ter o seu plano, tendo em vista tratar das realidades destas. De acordo com a educadora Haydt (2006, p. 20), planejamento é um processo mental que envolve análise, reflexão e previsão; é atividade humana, constante nos diversos momentos e circunstâncias; planejar remete a prever e decidir sobre o que pretendemos fazer, o que vamos fazer, como vamos fazer, o que e como devemos analisar a situação a fim de verificar se o pretendido foi alcançado. E o plano resulta da conclusão de um processo mental de planejamento, podendo assumir sua forma escrita ou não. Ainda segundo Haydt (2006, p. 21) , podem ser considerados os seguintes planejamentos, que se alteram em alcance e complexidade, a saber: planejamento de um sistema educacional, planejamento escolar (das atividades gerais de uma escola), planejamento de um currículo, planejamento de ensino, planejamento de curso (ou projeto pedagógico do curso) e planejamento de aula. Planejamento de um sistema educacional Neste caso, o planejamento de um sistema é elaborado em nível sistêmico ou nacional, estadual e municipal, consistindo no processo analítico e reflexivo dos diferentes enfoques do sistema educacional para demarcar e prever escolhas de solução. A partir disso é possível priorizar metas para o aperfeiçoamento do sistema educacional, estabelecendo formas de atuação, calculando custos indispensáveis à realização delas. Normalmente o reflexo da política de educação adotada advém de planejamento de um sistema. Planejamento escolar A professora Haydt (2006) apresenta o planejamento escolar em um ciclo das atividades como procedimento de tomada de decisão quanto aos objetivos pretendidos e a antevisão das atuações tanto pedagógicas como administrativas que devem ser executadas por toda a equipe escolar para o adequado funcionamento da escola. Este livro contempla informações, conhecimentos e práticas que indicam caminhos para que sonhos se tornem realidade, e para que o planejamento coletivo se torne instrumento de transformação da educação. O valor da leitura deste exemplar está justamente em identificar possibilidades de romper com as estruturas dominantes e de produzir novas condições para que o ato de planejar possa se transformar em um ato de amor pela educação. O texto produzido alcança a extensão das proposições inicialmente postas no seu título, quando anuncia o desafio de relacionar a formação de professores com o planejamento, por meio de processos reflexivos, críticos e colaborativos. 90 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA O planejamento da escola deve ser participativo, ou seja, todos os segmentos que fazem parte da escola (professores, colaboradores, pais e alunos) devem participar do processo de decisão. O resultado desse tipo de planejamento é o plano escolar, que deve ser elaborado e executado por toda a equipe da escola e para a consecução geral das atividades pretendidas, cada escola segue um plano de ação, mas em geral são as seguintes as fases: » Pesquisa e diagnóstico da realidade da escola: › características da comunidade; › características dos estudantes; › levantamento dos recursos humanos e materiais disponíveis; › avaliação do ano anterior sobre toda a escola (índice de evasão, repetência, porcentagem de aprovação, qualidade do ensino ministrado, dificuldades e problemas superados e não superados). Para Haydt (2006, p. 96): É interessante lembrar que a sondagem é o levantamento de dados e fatos importantes de uma realidade, enquanto o diagnóstico é a análise e interpretação objetiva dos dados coletados, permitindo que se chegue a uma conclusão sobre as condições da realidade. » Definição dos objetivos e prioridades da escola. » Proposição da organização geral da escola no que refere: › ao quadro curricular e carga horária dos diversos componentes do currículo; › calendário escolar; › critérios de agrupamento dos alunos; › definição do sistema de avaliação, contendo normas para a adaptação, recuperação, reposição de aulas, compensação de ausência e promoção dos alunos. » Construção de Plano de Curso contendo as programações das atividades curriculares. » Elaboração do Plano de Disciplina da escola, com a participação de todos os membros da escola, inclusive dos estudantes. »Atribuição de funções a todos os participantes da equipe escolar: direção, professores, estudantes, equipe pedagógica, equipe administrativa, colaboradores e outros. 91 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Planejamento curricular Alicerçado nas linhas-mestras da instituição, o planejamento do currículo (alma da escola), é a antevisão dos vários componentes curriculares a serem operacionalizados ao longo de um curso, tendo acentuados os objetivos gerais, antevendo os conteúdos programáticos de cada componente. Inicialmente, como ressalta Haydt (2011, p. 71), o planejador deverá clarear e precisar o entendimento filosófico que servirá de norte para os fins e objetivos da ação educativa, tendo em vista que a partir da definição dos objetivos pretendidos é que deverão ser elencados os critérios para a seleção dos conteúdos. Aqui, o que importa ser destacado é a distinção entre os conteúdos significativos dos desprovidos de significado, dos conteúdos carentes de significado e de funcionalidade, de simples informação sem outra meta que o de ser memorizado por um tempo específico enquanto possível. Nessa linha, há que ser destacado outro aspecto significativo ao planejar o currículo, que são os diferentes componentes curriculares que devem ser agrupados para a reconstrução no aluno, da concisa unidade do conhecimento humano e, além disso, que os saberes consistam em um todo orgânico e coeso, garantindo a associação desses Saiba mais Leia o que Coll (2001, p. 96) diz sobre a significatividade nos conteúdos: Ao realizar aprendizagens significativas, o aluno constrói a realidade atribuindo-lhe significados. A repercussão da aprendizagem escolar sobre o crescimento pessoal do aluno é maior quanto mais significativa ela for, quanto mais significados permitir-lhe construir. Assim, o realmente importante é que a aprendizagem escolar – de conceitos, processos, valores seja significativa. Devemos salientar o destacado papel desempenhado pelo conhecimento prévio do aluno na aprendizagem significativa. Efetivamente, o fator mais importante que influi sobre a aprendizagem é a quantidade, clareza e organização dos conhecimentos que o aluno já possui. Estes conhecimentos já presentes (no momento de iniciar a aprendizagem), constituídos por fatos, conceitos, relações, teorias e outros dados de origem não perceptiva, dos quais o aluno pode dispor a qualquer momento, constituem sua estrutura cognoscitiva. Para a aprendizagem ser significativa, duas condições devem ser cumpridas. Em primeiro lugar, o conteúdo deve ser potencialmente significativo, tanto do ponto de vista da sua estrutura interna (significatividade lógica: não deve ser arbítrio nem confuso), como do ponto de vista da sua possível assimilação (significatividade psicológica: na estrutura cognoscitiva do aluno deve haver elementos pertinentes e relativos). Em segundo lugar, deve-se ter uma atitude favorável para aprender significativamente, ou seja, o aluno deve estar motivado para relacionar o que aprende com o que já sabe. Este segundo requisito é um chamado de atenção sobre o papel decisivo dos aspectos motivacionais. Embora o material de aprendizagem seja potencialmente significativo, lógica e psicologicamente, se o aluno estiver predisposto a memorizá-lo pela repetição (com frequência isto requer menos esforço e ser mais simples!), os resultados carecerão de significado e teor valor educativo. 92 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA componentes ao longo das diversas séries/anos (numa linha horizontal), durante todo o curso (ordenado verticalmente), seguindo as diretrizes curriculares do Conselho Federal de Educação (CFE) para organização do currículo em nível nacional, no que concerne ao núcleo comum; e ao Conselho Estadual de Educação (CEE) que inventaria os componentes escolhidos pela escola, compondo a chamada parte diversificada do currículo. Pode-se salientar que cada escola deve elaborar o seu plano de currículo, de acordo com as diretrizes básicas do sistema ao qual pertence e, principalmente, considerando as características dos seus estudantes e as fidedignas condições de trabalho que apresenta. Assim, o planejamento tem níveis diferentes de alcance, bem acentuado e demarcado o seu espaço com vistas a precisar as decisões a serem tomadas em relação a certos acontecimentos da ação educativa. Como afirma Coll ( 2001, p. 21): Um projeto curricular não surge do nada – e muito menos no caso do ensino obrigatório –, mas parte de uma prática pedagógica que aspira a transformar e melhorar. Para isso, oferece novos pontos de vista e alternativas, mas também integra as experiências bem-sucedidas. Por outro lado, como projeto educativo que é, o Projeto Curricular contrasta com a prática pedagógica e tem de estar permanentemente aberto às modificações e correções derivadas desse contraste. O desenvolvimento do currículo, retomando a distinção anterior, é uma das fontes – talvez a principal – do processo de elaboração, revisão e contínuo enriquecimento do Projeto Curricular. Planejamento de ensino Por meio do planejamento de ensino pode-se antever ações e procedimentos, organizar as atividades e experiências de aprendizagem, que o professor realizará com os estudantes, visando atingir os objetivos educacionais estabelecidos. Nesse sentido, ao particularizar e operacionalizar o planejamento de ensino, o educador estará cuidando do planejamento curricular. Vale ressaltar que ao planejar o ensino, o professor antecipa, com organização, as etapas do trabalho escolar. Cuidadosamente, identifica os objetivos pretendidos e, consequentemente, poderá apontar os conteúdos que deverão ser estudados, fazendo uma seleção dos procedimentos pretendidos, podendo, assim, prever os instrumentos avaliativos que serão utilizados. No que se refere ao aspecto ensino-aprendizagem, planejar é: 93 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 » Caracterizar a comunidade escolar (aspirações, necessidades e possibilidades). » Verificar os recursos possíveis e disponíveis. » Elaborar os objetivos geral e específicos que melhor se adequem à clientela em questão. » Nomear e organizar os conteúdos a serem estudados, prevendo suas distribuições ao longo do tempo das horas-aula previstas. » Escolher os procedimentos mais adequados, bem como as atividades e experiências de conhecimento mais apropriadas para o alcance dos objetivos estabelecidos. » Definir, adequando os recursos de ensino que motivem a participação dos alunos nas atividades de aprendizagem pretendidas. » Elencar os procedimentos avaliativos que sejam harmônicos com os objetivos propostos. Como podemos ver, o planejamento de ensino também é processo, que envolve operações mentais como: analisar, refletir, definir, selecionar, estruturar, distribuir ao longo do tempo, prever formas de agir e organizar. A culminância, ou melhor, o resultado do processo de planejamento da ação docente é o plano didático. Em geral, o plano didático assume a forma de um documento escrito, pois é o registro das conclusões do processo de previsão das atividades docentes e discentes. O mais comum, nos dias de hoje, é o professor não escrever o seu Plano de Curso e não anotar as próprias conclusões do período letivo anterior, evitando, com isso, perder-se ao executar seu trabalho, principalmente com relação às questões dos conteúdos que os alunos, na modernidade, questionam e, por vezes, intimidam o professor de forma agressiva. Esse fato, hoje, comum somente será validado ao final das sindicâncias com conclusões negativas sobre o desempenho docente. Frente a essas reflexões, o aconselhável, como pondera Madalena Freire et al. (1997), é registrar de modo pessoal, simples, claro e preciso, as conclusões sobre o planejamento de ensino e, com clareza, apontarcaracterísticas da classe, dos alunos no seu individual, das possibilidades de execução e, também, atitudes e ações do professor. Cuidado É preciso ater-se quanto aos Planos organizados por equipes de educadores, ou outros quaisquer; eles poderão ser consultados como ideias geradoras, mas nunca serem copiados. O trabalho didático, qualquer que seja ele, deve ser criativo, não repetitivo. 94 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Nessa linha de reflexão, importa apontar que o procedimento mental de planejar está associado ao processo também mental para criar. Como afirma Haydt (2006, p. 100): planejar é criar com base nas condições da realidade e tendo em vista objetivos definidos. Outro aspecto a ser lembrado é que “o plano é apenas um roteiro, um instrumento de referência e, como tal, é abreviado, esquemático, sem colorido e aparentemente sem vida. Compete ao professor que o confeccionou, dar-lhe vida, relevo e colorido no ato de sua execução, impregnando-o de sua personalidade dinâmica, sua vibração e seu entusiasmo, enriquecendo-o com sua habilidade e expressividade”. Conforme o nível das especificidades em ordem crescente, são três os tipos de Planejamento de Ensino: » Planejamento de Curso. » Planejamento de Ensino. » Planejamento de Aula. Plano de ensino: os quatro componentes fundamentais que o embasam – objetivos, conteúdos, procedimentos de ensino e recursos Na educação, deliberar e definir os objetivos de aprendizagem significa estruturar, intencionalmente, o processo educacional de modo a oportunizar mudanças de pensamentos, ações e comportamentos. Essa organização resulta de um processo de planejamento que está diretamente relacionado à escolha do conteúdo, dos procedimentos, das atividades, de recursos disponíveis, de estratégias, de instrumentos de avaliação e da metodologia a ser adotada por determinado período de tempo. Como destaca Libâneo (1994), os objetivos representam as exigências sociais com relação à escola, ao ensino, aos alunos e, consequentemente, ref letem posicionamentos políticos pedagógicos dos docentes face às incoerências sociais na sociedade, como um todo; além disso, os objetivos de ensino versam sobre uma Importante É frequente que professores retirem os objetivos da aula dos conteúdos. O correto é que os conteúdos derivem dos objetivos. 95 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 descrição clara de resultados que os estudantes devem atingir por meio da prática pedagógica devidamente planejada pelo professor. Segundo Turra et al. (1996), saber formular objetivos é fundamental em qualquer processo de ensino-aprendizagem, pois compete ao professor selecionar os procedimentos de ensino mais apropriados e avaliar a prática pedagógica executada. Importa salientar que em torno da formulação dos objetivos assenta-se todo o trabalho docente, já que selecionar conteúdos, procedimentos, recursos e critérios de avaliação derivará da determinação desses objetivos. É sabido que a elaboração de objetivos demanda posicionamento ativo do professor, ao demarcar os objetivos que deverão ser alcançados pelos alunos, ajudando-os na realização de avaliação crítica e ativa do referencial utilizado, fundamentado em suas opções decorrentes dos aspectos sociopolíticos de sua práxis educativa. Classificação dos objetivos de ensino Impossível tratar de objetivos de ensino desconhecendo a necessidade de ater-se às suas particularidades. Eles são classificados quanto às especificações e domínios do comportamento humano e, devido a isso, e de acordo com as especificações propostas por Turra et al. (1996), os objetivos são chamados de gerais ou educacionais e específicos ou instrucionais. Se re lacionado aos domínios do compor tamento humano, a s is temática de classificação prende-se a três tipos que são os cognitivos, afetivos e psicomotores. Os objetivos ditos gerais ou educacionais concebem suposições amplas e complexas, prevendo mudanças de comportamento frente às exigências ditadas pela realidade social e perante o desenvolvimento da personalidade dos estudantes. Eles derivam de uma filosofia da educação originados da leitura da sociedade moderna e da inclusão dos educandos nesta sociedade. De acordo com Turra et al. (1996), os objetivos gerais e específicos podem ser considerados como psicomotores, cognitivos e afetivos. Os relacionados ao domínio psicomotor associam-se às habilidades e competências motoras; os atinentes ao domínio cognitivo estão associados aos conhecimentos, conceitos, ideias, princípios e habilidades mentais; e aqueles referentes ao domínio afetivo envolvem comportamentos associados com atitudes, valores e apreciações. Nesse contexto de estudos e informações sobre o planejamento educacional escolar, consideramos oportuno apresentar, futuro professor, informações complementares, porém indispensáveis para quem quer realizar com sucesso a sua práxis educativa. 96 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Saiba mais A classificação dos objetivos, mais conhecida por Taxonomia de Bloom (1913-1999); psicólogo, estudioso e pesquisador na área educacional. Bloom declarou basilar determinar de modo claro, preciso e verificável, os objetivos ao final de um aprendizado. Para ele, o campo mais utilizado é o cognitivo, e com ele existem seis níveis de complexidade, organizados de forma crescente do simples ao mais complexo. Para crescer de um nível para outro é preciso dominar o atual, como se subisse uma escada. (Disponível em: https://blog.raleduc.com.br/2018/01/15/ benjamin-bloom-sua-taxonomia/). Figura 31. Taxonomia de Bloom. Fonte: https://blog.raleduc.com.br/2018/01/15/benjamin-bloom-sua-taxonomia/. Acesso em: 4/3/2020. Alguns educadores, desde a década de 1940/1950 decidiram qualificar metas e objetivos educacionais. A proposta deles foi desenvolverem um sistema de classificação de objetivos em três domínios que chamaram de cognitivo, afetivo e o psicomotor. A ideia central da taxonomia é a de que aquilo que os educadores querem que os alunos saibam (definido em declarações escritas como objetivos educacionais) pode ser arranjado numa hierarquia do menos para o mais complexo. Dessa forma, está apresentada abaixo com amostras de verbos e de declarações de desempenho para cada nível. O princípio integrador da Taxonomia é da complexidade e os objetivos estão hierarquizados em ordem crescente de complexidade e abstração. 97 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Quadro 8. Estruturação da Taxonomia de Bloom quanto ao desempenho para cada nível. NÍVEL DEFINIÇÃO AMOSTRA DE VERBOS AMOSTRA DE DESEMPENHOS Conhecimento O aluno irá recordar ou reconhecer informações, ideias e princípios na forma (aproximada) em que foram aprendidos. Escrever Listar Rotular Nomear Dizer Definir O aluno irá definir os seis níveis da Taxonomia de Bloom no domínio cognitivo. Compreensão O aluno traduz, compreende ou interpreta informação com base em conhecimento prévio. Explicar Resumir Parafrasear Descrever Ilustrar O aluno irá explicar a proposta da Taxonomia de Bloom para o domínio cognitivo. Aplicação O aluno seleciona, transfere, usa dados e princípios para completar um problema ou tarefa com um mínimo de supervisão. Usar Computar Resolver Demonstrar Aplicar Construir O aluno irá escrever um objetivo educacional para cada um dos níveis da Taxonomia de Bloom. Análise O aluno distingue, classifica e relaciona pressupostos, hipóteses, evidências ou estruturas de uma declaração ou questão Analisar Categorizar Comparar Contrastar Separar O aluno irá comparar e contrastar os domínios afetivo e cognitivo. Síntese O aluno cria, integra e combina ideias num produto, plano ou proposta, novospara ele. Criar Planejar Elaborar Hipótese(s) Inventar Desenvolver O aluno irá elaborar um esquema de classificação para escrever objetivos educacionais que integre os domínios cognitivo, afetivo e psicomotor. Avaliação O aluno aprecia, avalia ou critica com base em padrões e critérios específicos. Julgar Recomendar Criticar Justificar O aluno irá julgar a efetividade de se escrever objetivos educacionais, usando a taxonomia de Bloom. Fonte: Níveis de complexidade da Taxonomia de Bloom (BLOOM et al., 1975). 98 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Quadro 9. Estruturação da Taxonomia de Bloom no domínio cognitivo. OBJETIvOS COgNITIvOS CLASSE VERBOS DE AÇÃO ASSOCIADOS Conhecimento Definir Declarar Listar Nomear Escrever Relembrar Reconhecer Rotular Sublinhar Selecionar Reproduzir Medir Compreensão Identificar Justificar Selecionar Indicar Ilustrar Representar Nomear Formular Explicar Julgar Contrastar Classificar Aplicação Predizer Selecionar Avaliar Escolher Encontrar Mostrar Demonstrar Construir Computar Usar Fonte: Ferraz (2010). Quadro 10. Estruturação da Taxonomia de Bloom no domínio afetivo. OBJETIvOS AFETIvOS CLASSE VERBOS DE AÇÃO ASSOCIADOS Receber Ouvir Atender Preferir Aceitar Receber Perceber Estar Consciente Favorecer Selecionar Responder Especificar Responder Completar Selecionar Listar Escrever gravar Desenvolver Derivar valorizar Aceitar Reconhecer Participar Incrementar Realizar Desenvolver Indicar Decidir Influenciar Organizar Organizar Julgar Relacionar Encontrar Determinar Correlacionar Associar Formar Selecionar Caracterizar Revisar Modificar Enfrentar Aceitar Julgar Desenvolver Demonstrar Decidir Identificar Fonte: Ferraz (2010). 99 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Conteúdos, procedimentos e recursos Os conteúdos são conhecimentos (saberes) que deverão ser trabalhados. O Ministério da Educação apresenta os conteúdos mínimos por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os chamados PCNs, que são complementados pelas Secretarias Estaduais de Educação que propõem conteúdos específicos a serem estudados pelas escolas que estão em seus espaços de alcance. Quadro 11. Estruturação da Taxonomia de Bloom no domínio cognitivo. OBJETIvOS COgNITIvOS CLASSE VERBOS DE AÇÃO ASSOCIADOS Conhecimento Definir Declarar Listar Nomear Escrever Relembrar Reconhecer Rotular Sublinhar Selecionar Reproduzir Medir Compreensão Identificar Justificar Selecionar Indicar Ilustrar Representar Nomear Formular Explicar Julgar Contrastar Classificar Aplicação Predizer Selecionar Avaliar Escolher Encontrar Mostrar Demonstrar Construir Computar Usar Fonte: Ferraz (2010). Neste ponto de informações, vale destacar que existem verbos que denotam duplicidade de interpretação na operacionalização dos planejamentos. Logo, fique atento para a relação a seguir, conforme Turra et al. (1996). Quadro 12. Exemplos de verbos de acordo com Bloom. Palavras passíveis de várias interpretações Palavras passíveis de poucas interpretações saber escrever compreender expressar realmente compreender identificar avaliar diferenciar avaliar completamente resolver perceber o significado construir desfrutar relacionar acreditar comparar ter fé em contrastar Fonte: Ferraz (2010). 100 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA De acordo com Turra et al. (1996, p. 33) no planejamento de ensino as decisões do professor são blindadas de características especiais e uma delas diz respeito a ‘o que devo ensinar?’’ Os conteúdos significam conjunto variado de conhecimentos e saberes que dão condições ao aluno para desenvolver suas potencialidades, ao mesmo tempo elucidando suas relações com os outros e com o meio onde está. A seleção de conteúdos deve ser adequada aos objetivos propostos e que se quer alcançar e isso deve ser realizado com cuidado por parte do professor. Ao selecioná-los, o educador deve ter em mente critérios como: » Validade: o professor deverá estar atento à clareza e nitidez da relação entre objetivos a serem alcançados e os conteúdos a serem trabalhados com os estudantes e só serão válidos se houver atualização deles do ponto de vista científico. Como o conhecimento humano é permanentemente ampliado, a ciência revisa invariavelmente as teorias e generalizações, impondo, portanto, que o educador busque os conhecimentos mais atualizados para incorporá-los à sua prática. » Utilidade: esse crivo está atualizado quando é possível aplicar o conhecimento adquirido em novas situações. Os conteúdos do currículo só terão utilidade se estiverem adequados às exigências e condições de onde vivem os estudantes, agradando suas reais precisões e esperanças e quando forem práticas, cooperando com eles em seu cotidiano na solução de problemas e no enfrentamento de novas situações. » Significação: o conteúdo precisa ter sentido e ser atraente para o aluno se estiver correspondendo às experiências por ele vivenciadas. Para tanto, o professor deve relacionar, sempre que possível, conhecimentos novos a serem estudados e esmiuçados pelos alunos, de acordo com suas experiências e conhecimentos anteriores, buscando uma ligação entre ligar o já é conhecido ao novo e ao desconhecido. Logo, por meio desse ajuntamento do conhecido e vivenciado ao desconhecido e novo, que dará a significidade ao conteúdo. » Adequação ao nível de desenvolvimento do aluno: importante salientar que os conteúdos pretendidos devem ter o mesmo grau de maturidade intelectual do aluno e estarem apropriados ao nível de suas estruturas cognitivas. Eles precisam ser assimilados e, por isso, devem satisfazer as aprendizagens essenciais e desejáveis, colaborando para o desenvolvimento das capacidades do aluno, de acordo com sua fase evolutiva e com os interesses que o conduzem à ação. » Flexibilidade: esse critério será aprovado quando houver possibilidade de fazer alterações nos conteúdos selecionados, eliminando itens ou adicionando novos 101 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 assuntos, a fim de ajustá-los ou adaptá-los às reais condições, necessidades e interesses dos estudantes. Ressalte-se, ainda que, além dessas normas citadas, a seleção de conteúdos para escolher o conteúdo programático precisará contar com o tempo disponível; outro aspecto é dar ao aluno a possibilidade de elaborar o próprio conteúdo trabalhado. Isso, como afirma Paulo Freire, é apreender o aprendido, associando e comparando, relacionando e integrando os novos dados aos já assimilados, por meio de pesquisa, organização de novas ideias, elegendo opções e ajuizando ideias. A isso chamamos de construção e reconstrução do conhecimento. Quanto à organização dos conteúdos, eles deverão ser sequencialmente organizados num reforçamento mútuo, e isso só será possível em dois planos que são o plano temporal, montando os conteúdos ao longo dos anos, chamada de verticalização de conteúdos, e o plano de um mesmo ano ou série, correlacionando uma área a outra, e isso é a organização horizontal do conteúdo. Assim, quanto aos procedimentos de ensino, convém lembrar que eles implicam ações, processos, ‘‘jeitos de fazer’’ do professor para que o aluno entre em contato direto com os fatos, coisas ou fenômenos que possibilitem a ele alterar seu comportamento, em função dos objetivos previstos. Os procedimentos falam das intervenções em sala de aula e só acontecem se o aluno realizar alguma atividade que permita a ocorrência da aprendizagem como um processo dinâmico. Aprendizagem é um processo que só ocorre por meio do desempenho ativo do estudante: este aprende o que ele mesmo faz, não o que faz o professor. Ora, se o aluno é o elemento ativoda aprendizagem, os procedimentos de ensino devem colaborar para que ele movimente seus esquemas operatórios de pensamento, participando ativamente das experiências de aprendizagem, por meio de observações, leituras, textos, experimentos, solucionando problemas, comparando, classificando, ordenando, analisando e sintetizando, dentre muitos comportamentos operacionais. É válido destacar que atualmente são muito diversificados os métodos ou procedimentos de ensino e dentre os mais usuais podemos destacar os verbais tradicionais, que tiveram sua fundamentação aprovada pela epistemologia associacionista; ou procedimentos ativos, que foram desenvolvidos a partir de pesquisas e conclusões da Psicologia do Desenvolvimento, mais especificamente, do construtivismo operacional e cognitivo. Além desses dois citados, são válidos os intuitivos ou audiovisuais, embasados na Psicologia da forma ou Gestalt. Considerando ainda como procedimento de ensino, o ensino programado que tem como fundamentação a Psicologia comportamental ou behaviorista. 102 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Planejamento de curso Ao planejar um curso, é necessário prever os conhecimentos ou saberes, como, também, as atividades a serem desenvolvidas com os alunos (as classes) em certo período de tempo; ele é a previsão de todas as características que um curso ou uma disciplina terá para que os estudantes atinjam os objetivos previstos, normalmente no semestre ou ano letivo, lembrando que esse é o desenvolvimento do plano curricular e que deverá seguir, sistematicamente, o seguinte passo a passo: 1. Buscar informações básicas sobre os alunos. 2. Elaborar os objetivos gerais, definindo também os específicos para o período pretendido. 3. Distribuir os conteúdos pretendidos para o desenvolvimento dos trabalhos didáticos e pedagógicos. 4. Determinar atividades e procedimentos de ensino e aprendizagem apropriados aos objetivos e conteúdos propostos. 5. Verificar e indicar os recursos disponíveis para execução do plano. 6. Decidir pelo processo avaliativo coerente e de acordo com os objetivos e conteúdos previamente selecionados. De acordo Malheiros (2017, p. 76), um Plano de Curso define exatamente o que será estudado em cada uma das disciplinas, podendo ser adaptado pelo professor no intuito de atender às suas prioridades específicas, bem como as da turma. No geral, nele devem constar informações. Citando um exemplo nesse caso: uma disciplina na graduação do curso de Pedagogia, como o Planejamento Educacional. Essa disciplina necessita que um Planejamento seja elaborado, construído, certo? O curso, nesse caso, é a disciplina Planejamento Educacional e o trabalho de planejar irá gerar um plano. Esse plano de curso poderá ser adaptado pelo professor, como já dito, mas, geralmente deve conter, no mínimo, as seguintes informações. » Objetivos do curso. » Conteúdo a ser trabalhado. » Procedimentos de ensino esperados. » Recursos necessários para sua realização. 103 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 » Tempo disponível para o curso. » Formas da avaliação. Para a elaboração de um plano de curso, veja um exemplo proposto em Malheiros, 2016, p. 82). Quadro 13. Exemplo 1 para formulário de Plano de Curso. Disciplina:__________________________ Professor: ___________________________________ Ano:____________ Semestre:_________ Carga horária: _________ Horário:_____________ 1. Objetivo geral 2. Objetivos específicos 3. Conteúdos 4. Procedimento de ensino 5. Recursos 6. Formas de avaliação Fonte: Malheiros (2017). Como propõe Malheiros (2016), alguns professores preferem elaborar o planejamento de curso, detalhando os objetivos e conteúdos pelo tempo disponível. Por exemplo, num curso de 80 horas distribuído em 20 aulas, a organização poderá ser da seguinte forma: Quadro 14. Exemplo 2 para formulário de plano de curso. Disciplina: __________________________ Horário: ___________________________________ Ano: ____________ Semestre: _________ Carga horária: _________ Objetivo geral____________________________________________________________________ Objetivo Conteúdo Procedimento Recursos Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4 ...... . Fonte: Malheiros (2017). Planejamento de unidade Segundo Haydt (2006, p. 101), planejar a unidade implica reunir várias aulas sobre assuntos correlatos, que formam uma mostra significativa dos conteúdos, que devem ser contidos em suas inter-relações e concordando com demais autores afirma que o professor, ao planejar a unidade de ensino, deve ater-se em pelo menos três etapas: 104 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA » Apresentação: inicialmente o professor procurará identificar e estimular os interesses dos alunos, para que, melhor aproveitem seus pré saberes e possam relacioná-los ao tema da unidade, por meio de questões iniciais para sondagem das experiências e conhecimentos anteriores dos alunos; aula expositivo dialogadas, na introdução dos assuntos, comunicando os objetivos pretendidos com o estudo; utilização de recursos áudio visuais, das mídias como ação motivadora ao iniciar o tema proposto. » Desenvolvimento: nessa segunda fase, a sugestão é que o docente apresente situações de ensino aprendizagem por meio de situações problemas que estimulem a participação ativa dos estudantes, tendo em vista atingir os objetivos específicos propostos (conhecimentos, competências, habilidades e atitudes). Dentre as atividades propostas demos citar solução de problemas, projetos, estudo de textos, estudo dirigido, pesquisa, experimentação, trabalho em grupo e outros até mesmo sugeridos pelos alunos. » Integração: na terceira etapa, os alunos poderão elaborar síntese dos conteúdos trabalhados durante o estudo da unidade. São sugestivas tarefas do tipo elaboração de relatórios orais ou escritos que sintetizem os aspectos mais importantes da unidade; organização de resumos e de quadros sinóticos. Aqui, nessa etapa, a indicação atual é que para fixação desses temas, o aluno seja orientado na confecção dos mapas conceituais de forma abrangente completa e abrangente, podendo ser realizada, inclusive, para convalidar em classe, os conhecimentos aprendidos e apreendidos. Quadro 15. Exemplo para modelo de plano de unidade. Disciplina: __________________________ Horário: ___________________________________ Ano: ____________ Semestre_________ Carga horária: _________ Unidade: geral____________________________________________________________________ Objetivo geral: geral______________________________________________________________ geral_____________________________________________________________________________ Objetivo Conteúdo Procedimento Recursos Apresentação Aula 1 Desenvolvimento Aula 2 Integração Aula 3 ...... . . . . . Fonte: Malheiros (2017). 105 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Planejamento de aula Pelo que se percebe atualmente, esse tem sido ‘‘nó’’ para os docentes, que dispensam essa etapa do planejamento; seguramente, esse é o momento mais significativo da ação docente, pois, nessa etapa, o professor não poderá vacilar, inclusive em relação à qualidade dos conteúdos a serem trabalhados. Vale lembrar que nesse planejamento o professor deverá explicitar e operacionalizar os procedimentos diários na consolidação dos demais planos. Nesse tipo de planejamento é importante destacar: » A previsão dos objetivos imediatos a serem alcançados (conhecimentos, competências, habilidades, atitudes); » Especificar itens e subitens do conteúdo que serão trabalhados durante a aula; » Detalhar os procedimentos de ensino, organizando previamente as atividades de aprendizagem dos seus alunos (individuais e em grupo); » Recomendar os recursos visuaispossíveis como vídeos, cartazes, mapas, jornais atualizados, livros, e outros objetos variados; » Estabelecer como será o processo avaliativo das atividades. Saiba mais Haydt (2006, p. 103) posiciona-se a respeito do planejamento de aula: [...] é a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo. É a sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino-aprendizagem. Além disso, o plano de aula deve estar adaptado às reais condições dos alunos: suas possibilidades, necessidades e interesses. Ao elaborar o seu plano de aula, o professor deve levar em conta as características dos alunos, partir dos conhecimentos que eles já possuem. Por isso, é importante que o professor faça uma sondagem do que os alunos já sabem sobre os conhecimentos a serem desenvolvidos. Em geral, o plano de aula do professor assume a forma de um diário ou de um semanário. A função maior do planejamento das atividades didáticas é evitar a improvisação, prevenindo dificuldades que poderão surgir, evitando a repetição rotineira e mecânica de cursos e aulas, enfim, adequar o trabalho didático aos recursos disponíveis e às reais condições dos alunos. Com relação aos conteúdos, as atividades e os procedimentos de avaliação aos objetivos propostos. Além disso, garantir a distribuição adequada do trabalho em relação ao tempo disponível. HAYDT. 106 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Quadro 16. Modelo de plano de aula. Disciplina: __________________________ Professor: ___________________________________ Data: ____________ Horário: ____________ Turma (s): ____________ Conteúdo Objetivo Procedimento Tempo Recursos Fonte: Malheiros (2017). Projeto Político-Pedagógico (PPP) Observe a figura a seguir, que demonstra com clareza as características do PPP. Figura 32. Características do PPP. Fonte: https://i.ytimg.com/vi/cYL80sMsd3w/maxresdefault.jpg. Acesso em: 19/7/2019. Para finalizar este capítulo, apresentamos informações atualizadas sobre Projeto Político-Pedagógico, como trabalhado na modernidade. Portanto, leia a introdução, por meio do pensamento de Neusete Machado Rigo (Corte, 2016, p. 54): De acordo com Barbier (1993, p. 49): O projeto é uma antecipação. A utilização do prefixo pro-, que significa antes, na terminologia da planificação e nomeadamente nas noções de 107 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 pro-jecto e de pro-grama, é neste ponto de vista significativo: o conteúdo de um projeto não tem a ver com acontecimentos ou objetos ainda não verificados. Não se debruça sobre fatos, mas sobre possíveis. Relaciona-se com um tempo a vir, com um futuro de que constitui uma antecipação, uma visão prévia. E por quê? Projeto + Político + Pedagógico? Vejamos o que diz a literatura de referência. A instituição escolar objetiva atingir todos os seus sonhos projetados por meio de metas, projetos e programas. A vida para essas pretensões, assim como os meios para consegui-las, é o que dá formato ao chamado projeto político-pedagógico, o famoso PPP. Interessante, pois as palavras que o formam dizem muito sobre ele. Veja: » É projeto, pois idealiza futuro; reúne propostas que objetivam conseguir uma ação concretada, em tempo determinado. » É político, por considerar a escola como um espaço de emancipação na formação de sujeitos críticos, cônscios e responsáveis, podendo modificar os rumos a serem seguidos para atuarem, quer individual, quer coletivamente na sociedade. E segundo Paulo Freire (2001, p. 44) Todo projeto pedagógico é político e se acha molhado de ideologia. A questão a saber é a favor de quem, contra quê e contra quem se faz a política de que a educação jamais prescinde. Saiba mais O Projeto Político-Pedagógico na contemporaneidade: processo de construção coletiva As discussões acerca da necessidade de um Projeto Político-Pedagógico (PPP) como instrumento orientador da ação educativa escolar têm sido frequentes nos processos de formação de professores. Isto porque desde que as instituições escolares conquistaram a autonomia de planejamento reivindicada com a abertura democrática do País, nos anos 1980, ocorreu um progressivo abandono da racionalidade técnica, que subordinava a pedagogia e a ação docente ao controle burocrático e à decisão de especialistas. A referida autonomia, garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/1996) e estimulada pelas políticas nacionais de formação de professores, coloca as escolas diante da possibilidade de mudanças curriculares para buscar uma identidade singular, articulada às aspirações da comunidade em que se insere. Nessa perspectiva, os desafios que a legislação, as políticas públicas e a sociedade contemporânea impõem à escola, na definição de sua proposta pedagógica, vão além da mera reconstrução curricular para situar-se no âmbito das decisões coletivas, que necessitam ser assumidas acerca do papel institucional, num projeto político, que hoje se coloca frente a mudanças emergentes na condição pós-moderna. 108 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA » É pedagógico porque delibera e organiza os métodos, as atividades e projetos educativos necessários o processo de ensino-aprendizagem e também para o desenvolvimento integral dos estudantes. Essa terminologia empregada refere-se a todos os projetos e atividades educacionais empregados no ensino-aprendizagem com eficácia. Importante salientar que o Projeto Político-Pedagógico é acatado como o referencial a ser produzido por todas as escolas; surgiu após a Constituição de 1988 e está regido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN no 9.394/1996), dando autonomia às instituições de ensino para elaboração da própria identidade. O seu exemplo de qualidade é a legislação de educação que incentiva a construção e autonomia dos demais projetos diferenciados, conforme as precisões de cada escola. O Projeto Político-Pedagógico é o plano para que a escola, por meio da comunidade educativa, possa transformar a própria realidade, determinando os objetivos da instituição e o que ela em todas as suas extensões fará para alcançá-los. Nesse documento, devem ser considerados como extensões que formam o ambiente educacional, a proposta pedagógica, que deverá conter os caminhos escolhidos para a metodologia a ser adotada pela escola; as diretrizes para avaliar o processo de aprendizagem, assim como os modelos e métodos de ensino; as diretrizes para a gestão administrativa, cuja elaboração tem real importância, pois, para que a proposta curricular e as diretrizes sobre o corpo docente sejam desempenhadas, é indispensável a montagem bem organizada do suporte administrativo, para que a gestão escolar, assim abalizada, viabilize os outros itens do projeto; e grande realce às diretrizes sobre a formação dos professores, cujo documento deve ser claro sobre a forma como os docentes serão continuamente capacitados e organizados para cumprir a proposta curricular. Uma vez que o objetivo da instituição escolar é determinar os seus objetivos: Quais são os atores e cuidados na elaboração e revisão do PPP? Diante do exposto, pode-se perceber que a elaboração do PPP deve ser cooperativa e, mesmo assim, é primordial a figura que seja mobilizadora e que se responsabilize por conduzir o processo, papel esse, normalmente atribuído ao diretor pedagógico da instituição e considerados os professores, alunos, coordenadores, pais, elementos da comunidade para apresentar tópicos e temas relevantes à escola, quer sugerindo, comentando, opinando, sempre em busca de resultados positivos. Considerando que cada espaço educacional possui diferentes realidades, a construção do PPP pode acontecer de diversas formas, pois há instituições que o constroem pormeio do Conselho Escolar, uma vez que esse é formado por diversos representantes da 109 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 comunidade. Outras preferem a participação individual ou pela formação de plenárias e para que a finalização ocorra com padrão significativo de qualidade e viabilidade, sendo o procedimento também mais rápido, há escolas que convidam equipes de especialistas pedagógicos para dar redação final ao documento. Fundamental que o PPP considere, em seu plano de ação, a identificação e missão da escola, a atuação da comunidade, o plano de ação – suas diretrizes pedagógicas como os projetos de aprendizagem, relacionamento escola/família e os recursos administrativos e financeiros para sustentação da práxis pedagógica, ressaltando que finalizar o projeto não significa o fim do procedimento. Importante nesse momento alertar que ele deverá ser revisto anualmente, possibilitando que os participantes das equipes de gestão e pedagógica revisem e adequem os objetivos e prazos conforme os resultados apresentados quanto ao ensino-aprendizagem, tudo isso contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dos alunos. Numa parte inicial do PPP é real que haja a identificação da escola de uma forma legal, local no qual devem constar informações gerais como entidade mantenedora, endereço, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), identificação do Diretor e dos Coordenadores, membros da equipe de elaboração do PPP, além da caracterização, se a escola atende o Ensino Fundamental, Médio e/ou Técnico, em que horários, turnos etc. A importância disso é que o Projeto é o documento oficial que deve ter seu registro na Secretaria de Educação do DF e Estadual. Nesse detalhamento do Projeto Pólítico-Pedagógico alerta-se para menção à Missão da instituição, ou seja, valores e princípios, que normalmente não dependem de reajustes anuais, sobre os quais a escola está baseada. No início dessa etapa é comum a citação de fatos e dados de relevância como o histórico institucional, desde a sua fundação, por quais mudanças já passou e estar atentos para não ocorrer o engessamento da escola com base em seu histórico, mas permitir espaço para inovações e melhorias contínuas. Vale ressaltar que nesses tempos de modernidade estamos na era na hiperconectividade e que a informação traz intensas transformações sociais em todos os seus aspectos. No contexto da educação não é diferente e, por isso mesmo, a proposta pedagógica da instituição, documento de real importância, quando o contexto da escola como instituição bem-sucedida e correlata às novas necessidades sociais. Nessas reflexões, importa mencionar que atualmente além das disciplinas e saberes pertencentes ao núcleo comum dos currículos, são necessárias as abordagens sobre os conceitos de tecnologia e o acesso à informação, sobre os direitos humanos, aspectos ambientais, ética e cidadania, inclusão social, dentre outros, que de diversas formas devem ser propostos nos currículos das escolas. 110 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Nessa linha de pensamento, a pretensão, sem dúvida, deve ser a formação de sujeitos adultos cônscios de suas responsabilidades para atuarem socialmente na realidade na qual estão integrados e de modo proativo, crescendo como adultos felizes e interessados pelos mais variados conhecimentos. E nesse contexto, para melhoria contínua e adaptação às novas demandas é que a Proposta Pedagógica da instituição de ensino deve ser exitosa e efetivamente operacionalizada, lembrando que ela, como prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – no 9.394/1996, além de indicar a trilha orientadora de todas as ações da escola – da sua estrutura curricular às práticas de gestão, objetiva afiançar a autonomia delas no que se refere aos assuntos de gestão e pedagógicos. Pode-se destacar que a Proposta Pedagógica, uma das pilastras do PPP, normalmente fica assentada numa linha educacional sugerida e delineada em determinada Teoria ( Tendência) Pedagógica, normalmente decidida pela coordenação geral do projeto, conforme a Visão e Missão da Escola, lembrando que, a despeito disso, a instituição tem seus olhares próprios, dificuldades, vantagens e desvantagens a serem ajustados às diversas realidades escolares. Saiba mais Apenas como complementação de estudos e informações, é válido apresentar as possíveis aplicabilidades das Teorias ou Tendências Pedagógicas. Importante destacar o pensamento de Libâneo (2004) que apresenta as mesmas em dois grupos: Quadro 17. Tendências pedagógicas. Pedagogia Liberal Pedagogia Progressivista Tradicional Renovada Não Diretiva Tradicional Progressivista Crítico social dos conteúdos Libertária Libertadora Tecnicista Fonte: Criado pela autora fundamentado em Libâneo et al. (2008). 111 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Quanto a isso, há que se lembrar da característica pedagógica da LDBEN, no 9.394/1996, que, mesmo apresentando preceitos ou suas normas, apregoa a flexibilidade para que cada instituição fique liberta ao elaborar sua Proposta Pedagógica, conforme seus interesses, dos seus alunos e da comunidade na qual está inserida, desde que não se descuide das orientações contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (PCNs), e na Base Nacional Comum Curricular que determina as aprendizagens a serem orientadas, assim como as competências gerais que deverão ser desenvolvidas durante toda a Educação Básica. Nos aspectos levantados quanto à Proposta Pedagógica, há que ser considerada, ainda, a promoção de espaços, normalmente criados e comunicados oficialmente pelos diretores administrativo e/ou pedagógico, nos quais possam ocorrer as colaborações coletivas, lembrando a harmonização e a ética para as diferenças entre os grupos, cujas decisões prevaleçam de modo sempre cooperativo e decidido em consenso, com vistas às necessidades dos alunos, cuja meta esteja voltada para o desenvolvimento integral com priorização e aperfeiçoamento sociointelectual e educacional dos alunos. Dessa forma, há que se considerar o alinhamento da teoria e prática para analisar a qualidade da elaboração da Proposta Pedagógica, porque, se bem organizada, poderá indicar em suas entrelinhas os ‘‘jeito’’ significativos na captação e retenção dos alunos, assegurando a qualidade do ensino ofertado, bem como os níveis de satisfação e contentamento do corpo docente, dos alunos e das suas famílias; enfim, de toda a comunidade educativa. Anteriormente abordamos o necessário momento para rever, avaliando o PPP e ligados às propostas da Base Nacional Comum Curricular, que é preciso incitar o entrosamento e participação de todos os envolvidos da equipe de forma colaborativa e democraticamente correta, tendo em vista que, nos dias de hoje, salienta-se a necessidade de alterações quanto à transparência e à ação de comunicação ativa com professores, alunos, com a comunidade educativa como um todo. Na Proposta Pedagógica também devem ser considerados, de acordo com a BNCC, a atualização e reparos ou substituições dos recursos e materiais didáticos, assim como reestruturar o currículo, rever as atualizações das práticas pedagógicas, maximizando a qualidade constante no ensino-aprendizagem, na Educação Básica. São nessas diretrizes pedagógicas, normalmente embasadas por meio do diagnóstico que o Coordenador Pedagógico e os professores se apoiam. Finalizando este capítulo, fica a mensagem de que os indicadores devem ter a finalidade de identificar problemas e propor soluções, ou, a escola deve saber lidar com os dados coletados, prevendo melhores resultados e é pensando nisso a indicação para o PPP, como caminho flexível e adaptável às próprias realidades e necessidades nas decisões estratégicas de ação. 112 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONALESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Leituras e pesquisas que indicamos a você, futuro professor Figura 33. Livro Projeto Político-Pedagógico. Fonte: Marilene Dalla Corte. Categoria: e-Books. O livro foi escrito com reflexões e definições acerca de concepções, importância e inter-relações do Projeto Político-Pedagógico com as políticas públicas e respectivos processos de gestão educacional e escolar. Assim sendo, conta com parte do arcabouço de produções do Pró-Conselho/UFSM e de um projeto do Observatório de Educação/ Capes, possuindo íntima interlocução com diversos grupos de estudos e pesquisas, entre eles o Gestar/CNPq e o Elos/CNPq, ambos da Universidade Federal de Santa Maria, os quais apresentam um recorte de suas produções na perspectiva da problematização, da contextualização, da comparação de dados e realidades educacionais, da reflexão e da interlocução de estudos e pesquisas voltadas à temática do Projeto Político- Pedagógico. Figura 34. Livro Metodologias ativas para uma educação inovadora. Lilian Bacich e José Moran (2018). 113 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Por meio da leitura em Metodologias Ativas, você, aluno, poderá perceber a necessidade de mudar valorizando a participação efetiva dos alunos na construção do conhecimento e no desenvolvimento de competências, possibilitando que aprendam em seu próprio ritmo, tempo e estilo, por meio de diferentes formas de experimentação e compartilhamento, dentro e fora da sala de aula, com mediação de docentes inspiradores e incorporação de todas as possibilidades do mundo digital. Este livro apresenta práticas pedagógicas, na Educação Básica e Superior, que valorizam o protagonismo dos estudantes e que estão relacionadas com as teorias que lhes servem como suporte. Para ilustrar essas reflexões sugerimos que você assista a alguns filmes. Figura 35. Cartaz do filme Entre os muros da Escola. Fonte: Laurent Cantet, François Bégaudeau, Robin Campillo, 2008. Lançado em 2008 com 2h10 de duração, este filme, apesar de ser uma obra fictícia, trata de assuntos reais, presentes no cotidiano escolar. O filme aborda diversos assuntos como diversidade cultural, relacionamento entre professor e aluno, indisciplina, entre outros fatores sociais, econômicos que podem acarretar também em um desiquilíbrio no aprendizado de alguns alunos. Logo no início do filme, é bastante clara a forma despreparada com que os antigos professores recebem os novos professores, rotulando os alunos como “bons e maus”, criando-se, assim, para os novos professores, um julgamento prévio e tendencioso a respeito dos estudantes daquela escola. 114 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Figura 36. Cartaz do filme Nenhum a menos. Fonte: https://www.mercidisco.com.br/dvd-nenhum-a-menos. Acesso em: 4/3/2020. Lançado em 1999. Wei Minzhi, que tem 13 anos de idade e mal sabe ler ou escrever, é escolhida para tomar conta da escola de apenas uma sala de seu pobre vilarejo, quando o único professor precisa se ausentar por um mês para cuidar da mãe doente. Se Minzhi conseguir manter todos os estudantes até o retorno do mestre, ela vai ganhar um dinheiro extra. Mas um dos alunos desaparece, e a menina faz de tudo para tentar encontrá-lo e trazê-lo de volta. Direção: Zhang Yimou. China, 1999, 106 minutos. Elenco: Wei Minzhi, Zhang Huike, Tian Zhenda, Gao Enman, Sun Zhimei. Figura 37. Procedimentos didáticos. Fonte: https://wetoker.com/wp-content/uploads/2019/09/gender-1459661_960_720-800x450.png. Acesso em: 4/3/2020. 115 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 Quadro 18. Plano de aula, a sequência didática e projetos. PLANO DE AULA Nele ocorre a particularização e operacionalização dos procedimentos para efetivação do plano de curso; necessita de especificações dos objetivos de aprendizagem, detalhamento dos itens e subitens do conteúdo, dos recursos que serão necessários para desenvolver a aula e a forma que irá avaliar o aproveitamento dos alunos. Precisa estar sempre adaptável às condições dos alunos quanto às possibilidades, necessidades e interesses. SEQUÊNCIA DIDÁTICA É entendida como uma modalidade com duração limitada a determinadas semanas de aulas. Nela, o professor especifica com detalhes o conteúdo de modo que as atividades tenham continuidade e diversidade, sendo sempre desafiadoras. O conteúdo é mais específico que o de um projeto e é explorado em atividades seguidas, que se tornam cada vez mais complexas. PROJETOS Ideia iniciada no Movimento da Escola Nova, tendo sido já ressignificada incluindo o contexto sócio-histórico, as características dos alunos envolvidos e atenção às temáticas contemporâneas pertinentes à vida dos estudantes; nessa proposta, a escola deve representar o agora, a vida prática dos alunos, a sociedade que eles enfrentam hoje; a relação ensino/ aprendizagem deve ser prazerosa e voltada para a construção do conhecimento de maneira dinâmica, contextualizada, compartilhada, que envolva efetivamente a participação dos educandos e educadores num processo mútuo de troca de experiências. Envolve a elaboração de um produto final, seja ele um livro, uma exposição, um filme etc. É sempre voltado para um público-alvo e a participação dos alunos acontece em todas as etapas do planejamento e do desenvolvimento do projeto. Fonte: Quadro criado pela autora com fundamentações em Haydt (2006). Para refletir O planejamento educacional e a prática dos educadores O contato direto com o trabalho dos educadores que atuam nas escolas tem mostrado algumas evidências interessantes em relação à questão do planejamento das suas atividades. De maneira geral, com algumas exceções, os professores manifestam uma opinião negativa em relação à tarefa de elaborar, executar e avaliar planos de ensino; verbalizam que este trabalho é inútil, burocrático e que pouco tem contribuído para facilitar a sua prática em sala de aula. Já os técnicos e especialistas que trabalham nas escolas, especialmente os supervisores escolares, apresentam opinião diferente: verbalizam que o planejamento (como sinônimo de plano) é muito importante, valioso e imprescindível para o bom desempenho do professor em sala de aula. Por que será que, para os professores, a sistemática de planejamento é percebida de forma negativa, enquanto os técnicos a percebem positivamente? Por que essa diferença de atitude? (p. 33). A questão do planejamento não pode ser compreendida de maneira desvinculada da especificidade da escola, da competência técnica e do compromisso político do educador e ainda das relações entre escola, educação e sociedade. O planejamento não é neutro. O processo de planejamento não pode ser encarado como uma técnica desvinculada da competência e do compromisso político do educador. O bom plano é aquele que conta com o respaldo da competência do sujeito que o desenvolve. O bom plano é aquele que se amolda dialeticamente ao real, transformando-o. E como recuperar isto nos professores tão desgastados pelo fazer burocrático? Outra questão pode dar a pista: o que o professor sabe fazer melhor apesar de toda a precariedade da sua formação? De maneira geral, podemos constatar que o professor entende do conteúdo daquilo que ensina. Mesmo que este conteúdo fique diluído em técnicas e métodos, pode-se afirmar que ele conhece os itens do programa e sabe como transmiti-los a seus alunos. Em suma, a prática do professor está “colada” ao conteúdo que ele sabe, que ele domina mesmo que precariamente. 116 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Figura 38. Cartaz do filme Madadayo. Sinopse: Após 30 anos trabalhando como professor em uma escola, Hyakken Uchida. ( Tatsuo Matsumura) anuncia que vai parar de lecionar. Inconformados, os alunos promovem reuniões quinzenais nacasa do mestre, ocasião para colocar em dia as conversas, rir, beber e aprender lições de vida com o ancião. Ficha técnica – Ano: 1993 Como consequência, o professor acaba ensinando aquilo que ele sabe e nem sempre aquilo que o aluno precisa aprender. Por que, então, não partir desta evidência? Por que não recuperar uma forma de planejamento a partir da relação entre a prática do professor (sua experiência) e uma fundamentação teórica crítica acerca da educação? O “saber o conteúdo” não poderia ser um ponto de partida? Como? Um ponto que necessita ser recuperado e reforçado no trabalho do professor é o do planejamento das aulas que ele dá. A elaboração de planos de ensino, como tem sido feita, tradicionalmente, pode dar a falsa impressão de que as aulas estão preparadas. No entanto, nem sempre isto é verdadeiro. A elaboração de planos (objetivos educacionais gerais, instrucionais, conteúdos, estratégias e avaliação) não elimina o preparo da aula, em si. O preparo da aula, comprometido com a efetiva aprendizagem do aluno, envolve um conjunto de procedimentos ligados diretamente à competência técnica e ao compromisso do professor. Estes procedimentos, portanto, envolvem o saber do professor, o saber fazer e sua atitude frente ao seu trabalho como educador. Alguns pontos podem ser considerados básicos para o preparo de uma boa aula: a) conhecimento do aluno concreto; b) conhecimento profundo do conteúdo que ensina; c) conhecimento de procedimentos básicos e coerentes com a natureza dos conteúdos; d) conhecimento de procedimentos de avaliação que avaliem a consecução dos objetivos; e) conhecimento do valor da interação professor-aluno como elemento facilitador da aprendizagem; f) conhecimento da dimensão social do trabalho do professor na sala de aula. Como pode ser percebido, os conteúdos a serem ensinados e aprendidos pelo aluno centralizam, de certa forma, os elementos curriculares como objetivos, procedimentos, avaliação e interação professor-aluno. O importante é que o professor perceba a unidade dinâmica entre os elementos curriculares envolvidos numa aula, num curso, numa habilitação. A aula tem que ser percebida no todo do currículo da escola e o currículo da escola percebido na síntese complexa que cada uma das aulas é. A formação competente dos alunos depende diretamente da qualidade de cada uma das aulas que estão sendo dadas; a qualidade de cada uma destas aulas depende diretamente do empenho do professor no seu preparo, na sua execução e na sua avaliação. E é neste processo que os professores podem contar com o apoio do trabalho dos especialistas e coordenadores. (FUSARI. O planejamento educacional e a prática dos educadores. ANDE, Revista da Associação Nacional de Educação, n. 8 em Haydt (2011, p. 35). 117 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA • CAPÍTULO 5 – Duração:134 min. País: Japão –Gênero: Drama. Direção: Akira Kurosawa – Roteiro: Akira Kurosawa, Hyakken Uchida e Ishiro Honda; Fotografia: Masaharu Ueda, Takao Saito - Trilha Sonora: Shinichirô Ikebe. A fuga das galinhas Figura 39. Cartaz do filme A fuga das galinhas. Chicken Run: f i lme de animação britânico-americano, do gênero stop motion , dirigido por Peter Lord e Nick Park e produzido pela Aardman Animations. O filme extraído duma fábula publicada nos anos 50, teve suas estreias em 23 de junho de 2000 nos Estados Unidos, 30 de junho de 2000 no Reino Unido, 11 de agosto de 2000 em Portugal e em 22 de dezembro de 2000 no Brasil. O filme infantil “A fuga das galinhas” é um grande exemplo do sucesso no trabalho em equipe, planejamento e estratégia, quando duas galinhas decidem sair do galinheiro onde levam vidas curtas e monótonas e criam um plano de fuga que envolve o espectador. Provocação “Ver e interpretar filmes implica, acima de tudo, perceber o significado que eles têm no contexto social do qual participam”. Rosália Duarte, em Cinema & educação: refletindo sobre cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 118 CAPÍTULO 5 • PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ESCOLAR: RECURSOS METODOLÓgICOS PARA A PRáXIS PEDAgÓgICA Sintetizando » Planejar nasce do sonhar; é processo que resulta do ato de avaliar seriamente; pressupõe análise, reflexão e previsão; evita a improvisação. » Plano é o resultado do planejamento, podendo ser escrito ou não e quando o trabalho do professor, coordenador e gestor é planejado evita a improvisação, antevê para dominar as dificuldades que possam surgir, contribuindo para atingir os objetivos com eficiência e eficácia. » Um plano bem estruturado deverá apresentar coerência e unidade, continuidade e sequência, flexibilidade; objetividade e funcionalidade; clareza e precisão. » Na educação consideram-se determinados tipos de planejamentos escolares que se modificam conforme o grau de abrangência, quais sejam: a. Planejamento de Sistema Educacional. b. Planejamento da Escola. c. Planejamento de Currículo. d. Planejamento de Ensino. e. Planejamento de Curso. f. Planejamento de Unidade. g. Planejamento de Aula. h. Projeto Político Pedagógico. » No aspecto ensino-aprendizagem planejar é antecipar os saberes a serem trabalhados e organizados conforme atividades e experiências de ensino-aprendizagem tidas como mais aceitáveis para que se atinjam os objetivos previamente estabelecidos, considerando a realidade dos alunos, seus interesses e necessidades. 119 Introdução Cientes de que é preciso mudar o jeito de ser e de fazer na modernidade, período atual no qual o desenvolvimento das comunicações e da tecnologia impõe à sociedade transformações radicais, impossível desconsiderar a importância que os profissionais da educação deverão dar às suas atuações de docência, antenados à qualidade do ensino- aprendizagem e das relações interpessoais com estudantes e demais integrantes da comunidade educativa, no qual desempenha suas funções. A forma de atuação profissional, nas diversas atividades sociais mudou e muitos ainda, independentemente de idade ou tempo de serviço (como alegam muitas vezes), infelizmente resistem em acompanhar o ritmo frenético do desenvolvimento do mundo, gerando desconforto e sensação de obsolescência e, por vezes, a desvalorização frente ao mundo novo que precisa enfrentar. Além disso, a escola pode incentivar a capacitação profissional permanente. Em seu pacote de benefícios, é possível incluir auxílios para a realização de cursos de extensão ou pós-graduação, além de facilitar a participação em palestras e eventos. Demo (2019) amplia o conceito de pobreza para além da dimensão da renda, monetária pobreza política, alia à carência material o estigma da exclusão (DEMO, 2018). Se a perspectiva da carência econômica é aparentemente situacional, a exclusão tem a ver com um fenômeno sócio-histórico. Pobreza política implica mendigar direitos, postulando que são concedidos ou doados. Implica aceitar a posição de objeto manipulado, como se fosse natural ou normal que outros disponham do nosso destino. Implica estar privado do acesso ao conhecimento e educação, como se saber pensar fosse quinhão seletivo. Implica conviver com a exclusão 6 CAPÍTULO PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL Provocação Planejar na educação e transformar o social? Como? Para quê? 120 CAPÍTULO 6 • PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL como condição cotidiana de vida. A destituição material é, de si, condição grave, mas é mais grave ainda não perceber que esta destituição é historicamente causada e pode ser historicamente mudada (DEMO, 2018). A discussão aqui exposta avança para além da pessoa do pobre e se dedica à questão do que mantém os pobres, pobres. O que mantém as situações sociais estabelecidas como tais, como se fossem dados naturais, impedindo movimentos de emancipação de determinados grupos? Demo (2006) explora o conceito da politicidade afirmando-o como a habilidade humana de, sob determinadas circunstâncias, assumir o próprio destino e estabelecera autonomia (relativa) possível como sujeito. A politicidade tem a ver com a capacidade autopoiética dos seres humanos, de desenvolverem-se autônoma e dialeticamente numa sociedade de conviventes. A pobreza política, então, tem a ver com a carência de cidadania. Carência de (acesso a) atributos compartilhados socialmente e que permitem a instrumentalização dos sujeitos para assumirem sua própria trajetória de vida de modo responsável e autêntico. Segundo Demo (2018): Politicidade é a pretensão autoral humana, fundamentada em sua condição natural de um ser evolucionário capaz de “se desenvolver” (adaptação criativa, não apenas passiva) no contexto da “seleção natural”, e em sua condição social de formar sociedades capazes de aprender, autorrenovar-se, expandir-se, na posição de sujeito, reagindo ao risco de ser apenas objeto. Tal mudança de postura deverá mudar na própria instituição escolar, quando elaborar o seu PPP, iniciando pelas alterações nas chamadas reuniões pedagógicas, transformando esses espaços em locais de reflexões das próprias práxis na elaboração de planos e programas relevantes para o desempenho dos docentes. Veja as figuras a seguir. » O que elas dizem a você, futuro professor? Figura 40. Finalidade do Planejamento. Fonte: https://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2017/08/Finalidade-do-planejamento.png. Acesso em: 4/3/2020. 121 PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL • CAPÍTULO 6 Figura 41. Projeto Político Pedagógico. Fonte: http://images.slideplayer.com.br/4/1480989/slides/slide_9.jpg. Acesso em: 4/3/2020. Objetivos » Refletir criticamente o seu papel social sobre as necessidades de atualização e complementação de estudos, para o próprio crescimento pessoal, ético e profissional, acreditando na sua atuação, como um dos atores capazes de mudar a sociedade na qual está inserido. » Perceber que o trabalho docente é tarefa conscientemente sistemática, em cujo núcleo está a aprendizagem dos alunos, devendo ocorrer por meio da organização, coordenação e articulação da atividade escolar como problemática do contexto social. » Contextualizar, por meio de reflexões críticas, as dimensões do planejamento educacional e suas implicações na construção da identidade docente. » Reconhecer que a ação de planejar é um ato político-pedagógico, tendo o aluno como centro da práxis didática, implica perceber situações como a problemática social, econômica, política e cultural que envolve a comunidade escolar, como possíveis de lida e tratamento cooperativo. Frente a essas ponderações, continua a pergunta inicial: » Transformar o social pela educação? Como? Para quê? 122 CAPÍTULO 6 • PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL O papel do planejamento educacional na construção da identidade e valorização docente Sabidamente, a sociedade requer profissionais competentes, em titulações acadêmicas e essencialmente capazes de desenvolver suas práticas de forma proativa, cooperativa e reflexiva e nos espaços educacionais não poderia ser diferente, quer teórica, prática e eticamente, assinalando para um profissional instrumentado em operacionalizar a sua prática conforme as exigências sociais mais amplas e apto para ativar um ensino que corresponda à formação geral do estudante, no mundo moderno. Para tanto, o professor deve ater-se e participar das oportunidades que deem a ele chances de ascender em vários aspectos, desde o pessoal, cognitivo, profissional e essencialmente humano. Saiba mais Como bem retrata Castro (s/d), a cada dia que passa, a cada olhar sobre e para a educação, percebe-se que os profissionais do ensino são mais cobrados. São cobranças que derivam desde a eficácia do seu trabalho, bem como exigências quanto a uma formação mais sólida e representada por títulos acadêmicos. Desse cenário, nascem propostas que reclamam do professor, mais que estar presente em sala de aula, entretanto, convidado a ver a sua profissão como algo a ser zelado e adubado com muito preparo teórico. Para Rubem Alves, há distinção entre professor e educador: “professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda uma vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança” (apud FERACINE 1998, p. 50). Vendo o professor por essa ótica, fica claro que ele tem um papel social a cumprir; papel este que se delimita a “provocar “conflitos intelectuais”, para que, na busca do equilíbrio, o aluno se desenvolva (FREITAS, 2005, p. 95). Outra visão teórica sustenta que, no foco das averiguações mais atuais sobre formação de professores, encontra-se como questão-chave a necessidade de o professor desempenhar uma atividade profissional ao mesmo tempo teórica quanto prática, visto que: a profissão de professor combina sistematicamente elementos teóricos com situações práticas reais. É difícil pensar na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de uma realidade definida. Por essa razão, a ênfase na prática como atividade formativa é um dos aspectos centrais a ser considerado, com consequências decisivas para a formação profissional (LIBÂNEO, s/d, p. 230). Diante destas discussões, a profissão docente abrange singularidades que a diferencia dos demais profissionais, ou seja, não é suficiente apenas carregar um título acadêmico, é preciso dedicação, degrau que não se alcança apenas pelo simples querer-ser, mas que só estará disponível quando há compromisso deste profissional consigo mesmo, sob uma ação pautada pela ética e pelo compromisso de crescer, tanto no plano profissional quanto pessoal. Compreender a identidade profissional do professor está diretamente ligado à interpretação social de sua profissão. Assim, se considera que os movimentos sociais têm intrínseca relação com os projetos educacionais. É preciso entender que a escola não é um espaço aleatório, portanto, um cenário onde a objetividade se faça presente. Isso implica dizer que esta instituição tem uma função específica dentro da sociedade em que se encontra inserida. 123 PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL • CAPÍTULO 6 Nesse contexto, há que se concordar com Nóvoa (2001) quando diz que, se o professor quiser aperfeiçoar a sua prática, o melhor caminho é o debate com os colegas, porque o que é válido na atualidade, para o professor, é o saber equilibrar-se entre as inovações e as tradições, atitude que não é muito fácil frente à rapidez do desenvolvimento e das alterações, inclusive das previstas em lei, como a que lida com a inclusão, educação a distância, educação especial, educação indígena e tantas outras formas e modalidades, como já mencionadas e detalhadas nos capítulos anteriores. Resgatar experiências e combater a mera repetição de práticas de ensino, sem criticidade ou coragem de mudanças é impedir a abertura para as diferentes metodologias que devem ser inicializadas por análise individual e grupal das práticas pedagógicas. Um programa com excelência na educação continuada, como ressalta Nóvoa (2001) pode ser definido por meio de um aprender essencial, contínuo, sustentado sobre duas colunas, que é o próprio docente, como agente do processo e a escola, como local de crescimento permanente dos profissionais que nela atuam. Vale destacar que a formação continuada envolve os saberes experimentados pelo docente como aluno que foi em sua educação básica, aluno, professor e estagiário, como graduando, aluno, estagiário, iniciante nos primeiros anos de trabalho e como titular em sua formação continuada. Esses momentos só serão formadores, se forem objeto de um esforço de reflexão permanente; mais importante do que formar é formar-se; que todo o conhecimento é autoconhecimento e que toda a formação é auto formação. Por isso, a prática pedagógica inclui o indivíduo, com suas singularidades e afetos. Nóvoa (2001). A identidade docente tem suas exigências sociais fundadas no crescimento pessoal, intelectual e profissional do professor,envolvendo aspectos pessoais e coletivos quando Para Freitas (2005, p. 73), “a função social da escola se cumpre na medida da garantia do acesso aos bens culturais, fundamentais para o exercício da cidadania plena no mundo contemporâneo”. E para estar preparado para garantir uma formação satisfatória ao educando, diante da sociedade da qual participa, o professor necessita atualizar-se em seus estudos, ou seja, revisitar as teorias da sua formação, como alicerce a balizar a sua prática pedagógica. É aí que entra em cena a questão da formação contínua do professor, porque a profissão docente é uma profissão em construção, nascendo, então, a autoridade da sua reflexão sócio-histórica, como ponto a favorecer a compreensão da situação atual dos desenvolvimentos pedagógicos. Para este mesmo autor, a profissionalização dos professores depende, hoje, em grande medida, portanto, da sua capacidade de construírem um corpo de saber que garanta a sua autonomia perante o Estado, não no sentido da conquista da soberania na sala de aula, mas, antes, no sentido da criação de novas culturas profissionais de colaboração. Neste sentido, a formação continuada do professor apodera-se de uma definição ímpar, no que diz respeito à condição para a aprendizagem permanente e para o desenvolvimento pessoal, cultural e profissional de professores e especialistas. É na escola, no contexto de trabalho, que os professores enfrentam e resolvem problemas, elaboram e modificam procedimentos, criam e recriam estratégias de trabalho e, com isso, vão promovendo mudanças pessoais e profissionais (LIBÂNEO, s/d, p. 227). 124 CAPÍTULO 6 • PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL as primeiras são relevadas pelo posicionamento do próprio sujeito, indicando ao bem coletivo, e as outras se justificam pelos identificadores de cooperação e interatividade entre os profissionais da classe e sua flexibilidade em compartilhar conhecimentos, sentimentos, fraquezas, habilidades e competências favorecedoras da comunidade educativa como um todo. Provocação Há alguns anos surgiu o conceito de profissional reflexivo como uma forma de valorizar os saberes experimentais. Ele teve mais influência na pesquisa educacional do que nas atividades concretas de formação, mas foi importante na reorganização das práticas de ensino e dos modelos de supervisão dos estágios. No entanto, sempre me recordo das palavras do educador americano John Dewey: “Quando se diz que um professor tem dez anos de experiência, será que tem mesmo? Ou tem um ano de experiência repetido dez vezes?” Só uma reflexão sistemática e continuada é capaz de promover a dimensão formadora da prática. Saiba mais A Educação Continuada envolve vários programas que integram essas preocupações de forma útil e criativa: seminários de observação mútua, espaços de prática reflexiva, laboratórios de análise coletiva das práticas e os dispositivos de supervisão dialógica, em que os supervisores são parceiros e interlocutores. Para além dos aspectos teóricos ou metodológicos, essas estratégias sublinham o conceito de deliberação, que, por sua vez, exige um espaço público de discussão. Nele, as práticas e as opiniões singulares adquirem visibilidade e são submetidas à opinião dos outros. Ao fazer isso, chama-se a atenção para o conjunto de decisões que os professores tomam a cada instante, no plano técnico e moral. Em outras palavras, a articulação entre teoria e prática só funciona se não houver divisão de tarefas e todos se sentirem responsáveis por facilitar a relação entre as aprendizagens teóricas e as vivências e observações práticas. Enfim, é reinventar um sentido para a escola, tanto do ponto de vista ético quanto cultural. (Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/179/entrevista-formacao-antonio-novoa). Saiba mais Figura 42. Livro Ensinar: tarefa para profissional. Fonte: https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/41a4lYziqpL.jpg. Acesso em: 4/3/2020. 125 PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL • CAPÍTULO 6 Ensinar: tarefa para profissional. De Beatriz Cardoso, Delia Lerner, Neide Nogueira e Tereza Perez (orgs.). Um livro excelente que demonstra o quanto a formação contínua é essencial e que estamos anos-luz do ideal. Apresenta estratégias de trabalho na alfabetização que unem a teoria à prática. Figura 43. Livro Didática geral. Didática Geral, novo livro da Série Educação, apresenta os mais modernos métodos didáticos, além de abranger conteúdos relacionados, para estudantes de cursos de Licenciaturas. Constitui, ainda, um texto auxiliar de referência para pedagogos, docentes e demais profissionais de ensino, assim como para os interessados nesta disciplina em constante evolução. A obra traz uma breve história das formas de ensinar, distinguindo ensino de aprendizagem. Em seguida, aborda conceitos básicos e a diferença entre Educação, Pedagogia e Didática. Os leitores irão compreender como selecionar e organizar conteúdos, além de relacionar a didática às técnicas de ensino. São identificados ambientes de aprendizagem e recursos instrucionais, e as novas tecnologias na educação ganharam um capítulo específico por sua importância na área. Este livro trata ainda da avaliação como prática educacional e didática, destacando a relação distinta entre ensinar e aprender. Recomendado! Figura 44. Livro A pedra arde. Fonte: https://pt.scribd.com/document/4406346/A-Pedra-Arde-Eduardo-galeano. Acesso em: 4/3/2020. 126 CAPÍTULO 6 • PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL A pedra arde, escrita por Eduardo Galeano (1983). O escritor, em linguagem poética, conta a história de um homem velho, que vivia só, no povoado de Nevoeiro. Esse homem trabalhava com cestas de vime e não cobrava nada pelo que fazia; O enredo escrito por Galeano ilustra poeticamente a concepção bancária da educação já descrita por Freire, revelada em um planejamento linear que não leva em consideração o conhecimento da realidade educacional; reconhecido a partir de suas experiências, pois traz consigo conhecimentos que precisam ser considerados e respeitados. Nesse mesmo diapasão, do entendimento do “velho” retratado por Galeano, não desejam e não precisam de uma restauração de suas condições, pois são sujeitos, atores de suas histórias; por conseguinte, não carecem de doação e assistencialismo. A história aponta que a ação de planejar não pode, nem deve ser linear, pautada em uma avaliação superficial. Realmente, aprender passa a ser um desafio conjunto para mestres e aprendizes! O ato educativo, nesse contexto, fica “carregado de razão e emoção; é o espaço para a vida, para a vivência das relações entre professores e alunos, para a ampliação da convivência socioafetiva e cultural dos alunos”. (VEIGA, 2006, p. 32). Figura 45. Filme Quando sinto que já sei. Fonte: https://porvir.org/mudar-escola-quando-sinto-ja-sei-conta-como-e/. Acesso em: 4/3/2020. Quando sinto que já sei mostra escolas que se abriram para as comunidades e mexeram com a organização industrial que domina o ensino brasileiro: o professor lê, o aluno copia, vem a prova e... O filme traz exemplos bem- sucedidos de escolas que fugiram do modelo tradicional e apostaram em nova relação entre alunos e professores. Quando sinto que já sei foi custeado por meio de financiamento coletivo. O filme registra práticas inovadoras na educação brasileira. Os diretores investigaram iniciativas em oito cidades brasileiras e colheram depoimentos de pais, alunos, educadores e profissionais. Duração: 78 minutos. Ano de lançamento: 2014 (Brasil); Direção: Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima. Saiba mais Em Nóvoa (2001) pode-se ler: Paulo Freire escreveu que a formação é um fazer permanente que se refaz constantemente na ação. “Para se ser, tem que se estar sendo”, disse ele. O que o senhor acha dessa afirmação? A formação é algo que pertence ao próprio sujeito e se inscreve num processo de ser (nossas vidas e experiências, nosso passado etc.) e num processo de ir sendo (nossosprojetos, nossa ideia de futuro). Paulo Freire explica-nos que ela nunca se dá por mera acumulação. É uma conquista feita com muitas ajudas: dos mestres, dos livros, das aulas, dos computadores. Mas depende sempre de um trabalho pessoal. Ninguém forma ninguém. Cada forma a si próprio. 127 PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL • CAPÍTULO 6 Acentuando essas reflexões, a questão do planejamento versus prática dos educadores não poderá ser compreendida de modo desvinculado da especificidade da escola, das competências técnicas e do compromisso político do professor e ainda das relações entre a escola, a educação e a sociedade. Planejamento não é processo neutro, sugere Haydt (2006, p. 108); como processo deve ser visto com o respaldo e a competência do sujeito que o desenvolve, amoldando-se dialeticamente como o real, transformando-o. O planejamento educacional numa perspectiva humana Dessa forma, há que ser compreendido o específico tratamento à docência, quanto à formação continuada formar o polo de um eficaz processo de formação, no qual recorre para que os conhecimentos sejam cooperativamente compartilhados, colaborando, assim, para a melhoria contínua da qualidade da prática educativa, sendo, em dado momento, envolvida como uma atividade não facultativa ao professor, mas de grande importância, tendo em vista a quantidade de mudanças e transformações pelas quais passa o mundo na atualidade. Nisso podemos recorrer à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no 9.394/1996, que dita as exigências legais quanto à formação docente, ela não ocorre no acaso, mas propõe que o professor seja atualizado a fim de administrar o ensino-aprendizagem correspondente à formação do sujeito que a evolução social tem a exigir. Provocação Afinal, o maior compromisso do processo educativo está na crença de que é possível a mudança social. Essa mudança deve refletir-se em uma escola que promova uma aprendizagem pautada na construção de um planejamento sério e comprometido com a realidade dos estudantes; que reconhece esses sujeitos em suas singularidades, em suas identidades e com eles estabelece o diálogo esclarecedor, ensinando-os a pensar; procura, também, suprimir práticas voltadas à inculcação; o planejamento é um alicerce fundamental para a construção de uma “educação corajosa, [...] de uma educação que leve o homem a uma nova postura de seu tempo e espaço” (FREIRE, 2011, p. 122). Observe a lei Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I – a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; 128 CAPÍTULO 6 • PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL Diante dessas informações legais, fica claro que os professores, além dos cursos de formação específica, terão oportunidade de aperfeiçoamento e quando envolvidos e agrupados, deverão certamente buscar o aperfeiçoamento teoria-prática no contexto escolar e fortalecido com a visão de mundo moderno e sobre o aluno buscar resultados satisfatórios para si e a sociedade onde atua. Segundo Libâneo (2004), devido à junção dos fatos e processos que vêm caracterizando as realidades sociais, políticas, culturais, econômicas e geográficas, sob forte pressão social, as instituições escolares repensam seus papéis frente à necessidade de integração e reestruturação capitalista mundial. Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. [...] § 2o A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância. Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo habilitações tecnológicas. Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: [...] III – programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis. Saiba mais Conforme acentua Libâneo (2004, p. 227), Dentre os aspectos mais visíveis desse fenômeno destacam-se: avanços tecnológicos, a globalização da sociedade, a difusão da informação, o agravamento da exclusão social, entre outros fatores. Diante de tamanha complexidade, pergunta-se: » Quem deterá tal conhecimento a ponto de instrumentar o cidadão que irá exercer tais habilidades/competências? Como encontrar um profissional que corresponda aos perfis socialmente estabelecidos pelas exigências sociais? Concebendo a escola enquanto espaço apropriado para prover o cidadão das bases de conhecimento para uma vida em equilíbrio sobre a sociedade, urge repensar a atuação de um professor preparado teórica e praticamente, de modo a ministrar um ensino para a transformação. No entanto, salienta-se que a transformação social não é encargo apenas da escola, ela é um dos caminhos mais abordados para isso. A educação e a escola só podem ser realmente transformadoras se estiverem maturando as alternativas, de modo a superar as soluções da radicalidade extremista, cujo negativismo findará por recriar os problemas que pretendiam alijar. 129 PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL • CAPÍTULO 6 Menegolla e Sant’ana (2003, pp. 22-37), ao revisitar aspectos primordiais do planejamento educacional, propõe a seguinte leitura a respeito: o Planejamento educacional numa perspectiva humana. “Não basta que exista educação para que um povo tenha seu destino garantido. É preciso determinar o teor educacional para que se saiba em que direção está caminhando ou deixando de caminhar uma nação.” A educação e a escola só podem ser realmente transformadoras se estiverem maturando as alternativas, de modo a superar as soluções da radicalidade extremista, cujo negativismo findará por recriar os problemas que pretendiam alijar. E nesse contexto, a formação continuada encontra o seu espaço nas necessidades pedagógicas. Para refletir O que não é e o que é planejamento educacional Segundo a Unesco (1968), seria melhor começar por dizer o que não é planejamento educacional. Não é uma panaceia miraculosa para a educação e para o ensino, que sofrem muitos males; não é uma fórmula mágica para todos os problemas; não é, também, uma conspiração para suprimir as liberdades dos professores, administradores e estudantes, nem um meio para grupos decidirem sobre objetivos e prioridades da educação e do ensino. O planejamento não é um oráculo inspirador de todas as soluções para os problemas que se referem à educação e ao ensino. Não é um ditador de normas e de esquemas rígidos e inflexíveis, que podem e devem ser aplicados universalmente em todas as situações e lugares. Não é um delimitador de ideias, desejos e aspirações das mais diversas tendências sociais, políticas, econômicas e religiosas. O planejamento não é um ditador, mas é algo altamente democrático e desencadeador de invocações: por isso, é um processo que evolui, que avança e não permanece estático. A educação, como processo de transformação e de aperfeiçoamento da cultura e do viver humano, por exigência da sua própria essência, é uma visão que se projeta além do momento presente. Sendo que a educação não se limita e não tem por objetivo apenas conhecer e analisar o presente, ou querer conservar o status quo da cultura e do saber, ela tende a pensar o futuro, a buscar novos horizontese novas perspectivas para o homem. A educação não pode se limitar a enfatizar o passado ou o presente, como ele se manifesta, mas deve ser um processo que se antecipe, que se projete para além do passado e do presente, para que o homem saiba enfrentar as mutações radicais que se processam. O homem deve aprender a viver e a planejar o seu futuro, porque o passado já passou e o presente é tão radicalmente rápido que não mais parece existir. O futuro parece não ser tão incerto como se pensa. Ele pode ser visto, sentido e pensado no presente; mas exige que as pessoas aprendam a vê-lo como futuro, a senti-lo e a percebê-lo como futuro que, inevitavelmente, se torna presente. O futuro é um prolongamento do presente e deste faz parte. Todo o ser humano pensa no futuro, quer saber do seu futuro e, a partir desta ansiedade pelo futuro, faz seus planos. Ele pensa no que vai fazer e no que pretende fazer. Planeja o seu agir, a sua vida, o seu trabalho, as suas economias; enfim, tudo aquilo que possa interferir na sua vida. A educação, como uma atividade eminentemente humana, e pela qual o homem se preocupa de maneira especial, deve ser planejada cientificamente para dar-lhe uma direção que atenda às urgências humanas. Sendo a pessoa o fim último da educação, necessário se faz refletir, profundamente, sobre a essência da educação e sobre o próprio processo da educação, que tem como meta final a formação integral do homem. 130 CAPÍTULO 6 • PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL A educação não pode ser desenvolvida sem uma meta, sem um caminho que a direcione para o seu fim essencial, ou seja, o homem como uma realidade em busca de realização. E, como poderá ajudar o homem, na busca da sua realização, se este processo não for estruturado profundamente, em bases sólidas? Ao se afirmar que a educação é essencial ao homem, não se pode pensar num processo educacional como uma série de ações que pretendam atingir um fim; ou uma quantidade de normas institucionais que não partam da realidade existente; ou, mesmo, num processo que surja do simples bom senso ou de ideais simplistas. Dada a complexidade atual dos problemas educacionais, não se pode conceber o processo educacional como uma série de atividades e normas desconexas, mas como resultado de um verdadeiro planejamento, continuamente renovado, composto dos seguintes elementos: » reconhecimento das urgências na educação; » elaboração das metas educacionais, fixando as prioridades; » senso e ordenação dos recursos humanos disponíveis; » senso dos instrumentos e meios institucionais, financeiros e outros; » elaboração das etapas do planejamento (Conclusões de Medellín, 1968, p. 78). A educação, como processo, jamais pode ser desenvolvida isoladamente, quer dizer, fora do contexto nacional, regional e comunitário da escola, na qual o homem está inserido, como agente e paciente das suas circunstâncias existenciais. Por isso, todo o processo educacional requer planejamento em termos nacionais, estaduais, regionais, comunitários, e também planejamento em nível de escola e outro específico de ensino, relativo às diferentes disciplinas e conteúdos. O planejamento, em relação aos diversos níveis, deve ser o instrumento direcional de todo o processo educacional, pois ele tem condições de estabelecer e determinar as grandes urgências, de indicar as prioridades básicas e de ordenar e determinar todos os recursos e meios necessários para a consecução das metas da educação. É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se tornam educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade. (FREIRE, 2002, p. 34). Sintetizando » O Capítulo 6, intencionalmente nomeia o ponto nevrálgico das questões sociais que ‘‘gritam’’ pelas mudanças e transformações na educação brasileira que ainda têm muito a conseguir. » Inicialmente, pode ser levantada a questão real de que algo deve ser feito no sentido da melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem no Brasil, considerando a importância de ser inserido no Planejamento Escolar, basicamente no PPP, a formação contínua do professor, elemento-base na formação do cidadão de amanhã. » As abordagens foram voltadas para questões da formação continuada dos professores, tendo em vista a responsabilidade deles em relação à preparação do aluno para um futuro, que aponta emergência na ação- reflexão-ação, por meio de atos associados à teoria e à prática. » No contexto das reflexões também pode ser levantada a importância do planejamento educacional maximizando o lado humano do professor, que, com as suas especificidades, é tão carente; no entanto, merecedor de tantas oportunidades. 131 PLANEJAR NA EDUCAçãO, TRANSFORMAR O SOCIAL • CAPÍTULO 6 » A Educação Continuada envolve vários programas que integram essas preocupações de forma útil e criativa: seminários de observação mútua, espaços de prática reflexiva, laboratórios de análise coletiva das práticas e os dispositivos de supervisão dialógica, em que os supervisores são parceiros e interlocutores. » A educação, como processo, jamais pode ser desenvolvida isoladamente, quer dizer, fora do contexto nacional, regional e comunitário da escola, na qual o homem está inserido, como agente e paciente das suas circunstâncias existenciais. 132 Referências AREZ, Teresa Leite e Abel. 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