Bioética e biodireito - Conceitos e Princípios

Prévia do material em texto

Bioética e biodireito – Conceitos e Princípios
PROFª JAQUELINE HEIMANN
ÉTICA
A sociedade está em constante processo de construção, mutação e evolução. 
Falar de ética é buscar equilíbrio desses avanços com o processo de socialização do homem. 
Essa socialização depende dos discursos sociais, dentre os quais se destacam o discurso médico e o discurso jurídico. 
Dificilmente uma pessoa que passa por esta vida, não será “medicalizada” e/ou “juridicizada”. 
ÉTICA
Antigamente, questionar um médico era quase uma blasfêmia - atividade divina. 
Atualmente é comum pesquisarmos no Google antes mesmo de ir ao médico. 
A tecnologia também é uma forma de poder, pois confere ao seu detentor o domínio de determinada situação.
ÉTICA
A Segunda Guerra Mundial - pesquisas científicas e médicas realizadas em seres humanos vivos nos campos de concentração nazista.
Josef Mengele – “O anjo da morte”. 
ÉTICA
A revelação dos experimentos científicos com seres humanos foi um marco no estabelecimento de regras éticas. 
Em resposta é instituído o Código de Nuremberg (1947), posteriormente atualizado e integrado à Declaração de Helsinque (Finlândia, 1964). 
O Código de Nuremberg (1947) - conceito de dignidade da pessoa humana como bem jurídico. 
Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 - princípio da dignidade da pessoa humana. 
BIOÉTICA E SEUS PRINCÍPIOS 
Bioética - do grego: bios quer dizer vida e ethos quer dizer ética.
Surge do esforço em se buscar um equilíbrio ético, em relação ao uso das novas tecnologias em experimentos e tratamentos médicos com seres humanos. 
“É o estudo sistemático das dimensões morais das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar (DINIZ, Maria Helena. O atual estado do biodireito, p.21).
“O conceito de Bioética é muito amplo, buscando a proteção não só da pessoa humana, mas do planeta e de toda sua biodiversidade. (Antonio J. de Azevedo)
O termo é relacionado com discussões acerca de problemas impostos pelo desenvolvimento tecnológico (intervenção genética) e controvérsias morais (aborto e eutanásia).
BIOÉTICA E SEUS PRINCÍPIOS 
a) princípio da beneficência (do latim de bonus facere - fazer o bem ao paciente) – não causar dano e minimizar os riscos; revela uma intenção de fazer o bem. Mais antigo princípio da ética médica - juramento de Hipócrates (430 a. C.), o qual trata de aplicar os regimes para o melhor estado dos doentes.
b) princípio da autonomia ou do respeito à pessoas por suas opiniões e escolhas – a pessoa humana pode ser e agir como sujeito, segundo valores e crenças pessoais; A relevância do princípio da autonomia foi mais observada nos Estados Unidos nas últimas décadas, haja vista as crescentes demandas judiciais à época. A autonomia é respeitada no instante em que é dado valor às opiniões e escolhas de cada pessoa, deixando que haja interferência em suas ações, desde que sem prejuízo a terceiros.  
BIOÉTICA E SEUS PRINCÍPIOS 
c) princípio da justiça ou imparcialidade na distribuição dos riscos e dos benefícios – não pode uma pessoa ser tratada de maneira distinta de outra, salvo haja entre ambas alguma diferença relevante. Uma adequada distribuição dos recursos de saúde apresenta o fato de que o reconhecimento de que os iguais precisam ser observados e tratados igualmente é algo complexo.
d) princípio da não-maleficência, primum non nocere (antes de tudo não prejudicar), que para muitos estaria implícito no princípio da beneficência. Não se deve causar mal a outro.
O BIODIREITO E SEUS PRINCÍPIOS 
O Biodireito é uma ciência complexa, pois atua em multidisciplinaridade com a Bioética, a ética, a filosofia, a biotecnologia, a biologia, a medicina e de outras ciências que tenham aderência ao estudo de cada caso concreto.
É o ramo do Direito Público que estuda as relações jurídicas entre o direito e os avanços tecnológicos conectados à medicina e à biotecnologia, com peculiaridades relacionadas ao corpo e à dignidade da pessoa humana.
Trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da Biologia, da Biotecnologia e da Medicina. 
O julgamento de um médico perante o Conselho Federal de Medicina é um julgamento ético ou jurídico? 
O BIODIREITO E SEUS PRINCÍPIOS 
Princípio da precaução – forma de proteção contra riscos desconhecidos. A ameaça pela incerteza pode ser irreversível, portanto, deve ser afastada a prática do ato antes que ocorra (risco potencial). Ex: transgênicos, defensivos agrícolas. 
Princípio da autonomia privada – Já mencionado nos princípios da Bioética, refere-se ao autogoverno da pessoa humana. Autonomia absoluta: sem qualquer restrição que possa limitar a ação de quem a tem, como o paciente durante uma cirurgia ou terapia. Autonomia relativa: subordinada às limitações decorrentes da vontade ou das determinações emanadas de uma entidade.
O BIODIREITO E SEUS PRINCÍPIOS 
Princípio da responsabilidade – Atua posteriormente ao ato, visando minimizar ou reparar os malefícios causados.
Princípio da dignidade – Direito indisponível em proteção à espécie humana, cada pessoa é detentora desta dignidade. O princípio do respeito à dignidade humana, fundamento da República, é basilar para toda e qualquer norma jurídica.
CONTEXTO BRASIL 
A CF/88 ao prever no § 4°, do artigo 199, a possibilidade de realização de intervenções científicas e cirúrgicas nos organismos vivos, o fez em nome do princípio da tolerância. 
Art. 199. A assistência à saúde e livre à iniciativa privada.
[...]
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. (BRASIL, 1988).
CONTEXTO BRASIL 
1991 o Congresso Nacional ratificou o Acordo Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966), com isso aceitando todos os princípios da Bioética e Biodireito. 
No plano da normatividade constitucional, também restou assentado o direito fundamental à saúde, seu acesso universal e o papel preponderante do Estado, para sua efetivação e fiscalização, previstos nos artigos 196 e 197 da CF/1988.