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MATERIAL DIDÁTICO TEORIA GERAL DO DIREITO AMBIENTAL CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 – MEIO AMBIENTE ................................................................................ 9 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MEIO AMBIENTE NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS .......... 10 1.2 DEFINIÇÕES BÁSICAS .......................................................................................... 15 1.3 CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ..................................................................... 18 UNIDADE 2 – PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL .......................................... 27 2.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO AMBIENTAL .............................................. 33 UNIDADE 3 – O MINISTÉRIO PÚBLICO E OS DIREITOS COLETIVOS ................ 40 UNIDADE 4 – DIREITO REFLEXIVO E O ESTADO DE DIREITO AMBIENTAL ..... 44 4.1 DIREITO REFLEXIVO ............................................................................................ 44 4.2 ESTADO DE DIREITO AMBIENTAL .......................................................................... 48 UNIDADE 5 – ÉTICA E AS FUNÇÕES DO DIREITO AMBIENTAL ......................... 50 5.1. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE ....................................................................... 51 5.2. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE .................................................................................. 51 5.3. PRINCÍPIO DO CUIDADO ...................................................................................... 52 5.4 AS FUNÇÕES DO ESTADO DE DIREITO AMBIENTAL ................................................. 54 5.5 DEMOCRACIA AMBIENTAL E CIDADANIA PARTICIPATIVA............................................ 56 UNIDADE 6 – PROBLEMAS AMBIENTAIS ............................................................. 60 6.1 O FENÔMENO DA CHUVA ÁCIDA ............................................................................ 61 6.2 EFEITO ESTUFA .................................................................................................. 62 6.3 DEGRADAÇÃO DO SOLO ....................................................................................... 63 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 64 3 INTRODUÇÃO Primeiramente, desejamos as boas-vindas ao seu curso que, dentre outros objetivos, visa proporcionar conhecimentos diversos na área de meio ambiente voltados não somente para Bacharéis em Direito, mas para os mais diversos profissionais que ao longo do seu exercício deparam com questões relevantes ao meio ambiente, como por exemplo, gestores de projetos ou gestores públicos que, ao lançarem empreendimentos variados, quer seja na esfera pública ou privada, deparam-se com instrumentos que visam à proteção do meio ambiente, necessitando adequar os projetos ao uso racional do solo e da água. Até pouco tempo tínhamos a concepção de que os recursos naturais eram ilimitados, existiam em abundância, motivo pelo qual todos nós, seres humanos, em qualquer parte do Planeta Terra, não nos preocupávamos com a questão ambiental, ao contrário, a retirada de bens do meio ambiente já foi sinônimo na maioria das vezes de progresso. A bem da verdade, usamos os recursos de maneira irracional, sem pensarmos na coletividade e no futuros dos nossos. A natureza era tida pelo Homem como um depósito, onde se retirava tudo que lhe parecia interessante, deixando no lugar o lixo e os resíduos dos diversos processos de produção. O processo de evolução da humanidade era subordinado à degradação ambiental (MASCARENHAS, 2004). O grande número de catástrofes ambientais (que se fôssemos elencar neste momento seria infindável) serviu para demonstrar a importância do meio ambiente para a humanidade e de nada adianta atingir o máximo em desenvolvimento e progresso econômico se a vida em nosso planeta corre perigo. Felizmente, o homem começou a perceber que o planeta Terra possui recursos finitos e se não mudarmos a concepção que ainda vigora, nossa sobrevivência estará ameaçada. Neste sentido, desde a década de 1970, impulsionada principalmente pela Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, o homem começou a se preocupar efetivamente com o meio ambiente e com o destino da humanidade, caso a degradação ambiental continuasse de forma devastadora. A nossa legislação em matéria ambiental, considerada uma das mais avançadas do mundo, também tem sofrido os impactos dessa mudança de 4 concepção, visto que esta tinha uma visão apenas utilitarista e agora, influenciada principalmente pela visão da Constituição Federal de 1988, em especial com relação a seu cunho protetivo que ora abordaremos, começa a haver uma preocupação real com o meio ambiente. Figura 1: Direito Ambiental. Fonte: http://www.guairanews.com/2015/11/22/direito-ambiental/ Sem dúvida, o aspecto mais importante quando se refere ao meio ambiente é a proteção à vida, lembrando que a expressão meio ambiente inclui ainda a relação dos seres vivos, bem como “urbanismo, aspectos históricos paisagísticos e outros tantos essenciais, atualmente, à sobrevivência sadia do homem na Terra” (FREITAS, 2002, p. 17). A Constituição Federal trouxe a preocupação de caráter eminentemente social e humano. Ficou clara a inter-relação existente entre o direito fundamental à vida e o princípio da dignidade da pessoa humana e o meio ambiente. Todos eles são fundamentais e necessários à preservação da vida. Ainda sem entrarmos na seara do Direito Ambiental “puro”, é importante frisarmos a conscientização de que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do Homem, é que há de orientar todas a formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente. Cumpre compreender que ele é um fator preponderante, que há de estar acima de quaisquer outras considerações como as considerações de desenvolvimento, de respeito ao direito de propriedade ou as considerações da iniciativa privada. Embora todas essas considerações sejam garantidas no texto constitucional, é evidente que não podem primar sobre o direito fundamental à vida, que está em jogo quando se discute a tutela da qualidade do 5 meio ambiente. É que a tutela da qualidade do meio ambiente é instrumental no sentido de que, através dela, o que se protege é um valor maior: a qualidade de vida (MASCARENHAS, 2004). ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS (2000) analisa que o Brasil possui uma das políticas ambientais mais desenvolvidas e severas do mundo, mas não apresenta fidelidade quanto ao cumprimento destas leis. Pondera o autor supracitado ainda, que a população em geral desconhece essa legislação e, em muitos casos, as normas não são condizentes com as realidades locais. No inciso primeiro do artigo 3º da Lei nº 9.7951, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental, encontra-se que a referida lei incumbe o Poder Público2 de: definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental; promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino; e, engajar a sociedade na conservação, recuperação e melhoria do ambiente. É possível notar a importância dada à participação comunitária no processo de gestão do meio ambiente. O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 define que: Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.Novamente, percebe-se a interação permanente entre ambiente e população humana. O inciso primeiro do artigo 2º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 19813, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelece como um de seus princípios: “A ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, 1 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm 2 Nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal de 1988. 3 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm já com o Decreto de 15 de setembro de 2010 que institui o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Bioma Cerrado – PPCerrado –, altera o Decreto de 3 de julho de 2003, que institui Grupo Permanente de Trabalho Interministerial para os fins que especifica. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm 6 considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo”. A ação do Poder público sempre é apontada como mediadora entre o povo e seu estado de bem-estar e como nos diz ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS (2000, p. 5): Certamente a Educação Ambiental não resolverá os complexos problemas ambientais planetários, no entanto, poderá ser definitiva para isso, ao passo que forma cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Os problemas ambientais foram criados por homens e mulheres e deles virão suas soluções. Estas obras não virão de gênios, pensadores ou políticos, mas sim de pessoas ‘comuns’. Assim como se estimula a criatividade dos colaboradores dentro de uma Organização (em tempos de crise especialmente), deve fazer o mesmo em um contexto mais amplo, planetário. A Lei de Educação Ambiental, Lei 9.795/994 estabelece no artigo 5º, os objetivos fundamentais da mesma: I - o desenvolvimento de uma compreensão do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Percebemos claramente que o Poder Público, as empresas, os educadores, alunos e a sociedade como um todo devem estar conscientes da necessidade de 4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm 7 uma implantação efetiva da Educação Ambiental como matéria no processo educacional moderno público e privado e exigir dos órgãos competentes, a aplicação da nova legislação, bem como incentivar a Educação Ambiental não formal, pois só assim poder-se-á conseguir desenvolver uma sociedade sadia e coerente com os princípios básicos de preservação do meio ambiente. Evidentemente que não se pode esquecer que cada comunidade tem suas necessidades que refletem no ambiente, de maneira que é importantíssimo conhecer as suas necessidades básicas para que possamos aplicar adequadamente o programa elaborado, bem como tem-se que conhecer também os anseios da sociedade estudada, para que possa também saber o que se pretende em um futuro próximo e a longo prazo, para a preparação de programas mais consistentes. A legislação brasileira impõe ao Poder Público: implantação da disciplina da Educação Ambiental nos seus cursos públicos; obriga a incentivar e propiciar o desenvolvimento de projetos e programas educacionais ambientais tanto formais quanto informais, de maneira que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem cumprir sua obrigação legal colaborando assim com o importante processo de conscientização ambiental (SANTOS, 2000). Justifica-se essa introdução focando veementemente a Educação Ambiental por acreditarmos que o caminho para melhorar a qualidade de vida de todos e, consequentemente, cumprir o disposto no art. 225 de nossa Constituição Federal, na qual diz, em poucas palavras, que o meio ambiente sadio é um direito de todos, passa necessariamente pela Educação. O meio ambiente, os princípios do Direito Ambiental; a participação do Ministério Público e os direitos coletivos; o direito reflexivo e o Estado de Direito Ambiental, assim como a ética e as funções desse direito e os problemas ambientais são conteúdos que desenvolveremos ao longo do módulo. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 8 2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo original5, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento” (FERREIRA, 2005)6, ou conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 5) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 6) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 5 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. 6 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. EditoraPositivo, 2005. 9 UNIDADE 1 – MEIO AMBIENTE Acreditamos que o primeiro passo a ser dado quando se trata de conhecer, estudar ou aprofundar uma matéria, conteúdo ou disciplina, passa necessariamente pelo entendimentos de conceitos básicos e da evolução histórica dessa matéria, qualquer que seja ela, portanto, vamos à retrospectiva histórica dos acontecimentos, envolvendo o homem e o seu meio ambiente! Hodiernamente, a doutrina classifica os direitos fundamentais como de primeira, segunda e terceira gerações, conforme sua evolução histórica. Ressalte-se que os direitos de cada geração continuam válidos, juntamente com os direitos da nova geração, ou seja, são cumulativos e interagem entre si (MENDES; COELHO; BRANCO, 2009, p. 268). Os direitos de 1ª geração apresentam como característica serem individuais, civis, políticos e penais, envolvendo então o Direito Civil, Penal e Constitucional. Como exemplos podemos citar o habeas corpus, direito ao nome e direito ao voto. Os direitos de 2ª geração são coletivos, sociais e econômicos, constituídos nos direitos do Trabalho e Previdenciário. Como exemplos temos o direito ao Salário, Férias, Décimo Terceiro e demais direitos trabalhistas. Por fim, como direitos de 3ª geração estão aqueles direitos transindividuais e difusos que pertencem às matérias do Direito Ambiental e Direito do Consumidor. Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e direito a alimentos de qualidade são exemplos de direitos de 3ª geração. Foi a partir da criação das primeiras Constituições que surgiram os direitos de primeira geração, também denominados de direitos e garantias individuais clássicos, os quais tem como objetivo assegurar a liberdade dos cidadãos. Posteriormente, os direitos evoluíram para assegurar os direitos econômicos, sociais e culturais, denominados de direitos de segunda geração tendo como enfoque o princípio da igualdade (BELTRÃO, 2014). Por fim, na atualidade, temos os direitos de terceira geração que envolvem as relações de consumo e o meio ambiente que são coletivos e se fundamentam no princípio da solidariedade ou fraternidade. Entendido que os aspectos relativos ao meio ambiente pertencem ao direito de terceira geração, vamos às definições e conceitos básicos de elementos que compõem o meio ambiente, uma vez que, frise-se, diante da Constituição Federal de 10 1988, art. 255, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Antes, um breve questionamento para que reflitamos e tentemos responder ao final do curso: As normas ambientais produzem os efeitos que esperamos delas, principalmente se entendermos que o consumismo e o risco oriundo desse nosso comportamento são problemas cristalinos e transparentes no estado de direito democrático que vivemos? 1.1 Evolução histórica do meio ambiente nas constituições brasileiras A primeira Constituição brasileira, de 1824, não fez menção a qualquer matéria na esfera ambiental. Vale lembrar que nosso país naquela época era exportador de produtos agrícolas e minerais, no entanto, a visão existente com relação àqueles produtos era apenas econômica, não existindo nenhuma conotação de proteção ambiental. As Constituições brasileiras retrataram esse pensamento, tendo a Constituição do Império, de 1824, trazido dispositivo tão somente proibindo indústrias contrárias à saúde do cidadão. O Texto republicano de 1891, neste aspecto, abordou apenas a competência da União para legislar sobre minas e terras. Tal dispositivo, tinha por objetivo proteger os interesses da burguesia e institucionalizar a exploração do solo, não tendo nenhum cunho preservacionista. Apesar disso, foi a primeira Constituição a demonstrar uma preocupação com a normatização de alguns dos elementos da natureza (BELTRÃO, 2011). A Constituição, de 1934, trouxe dispositivo de proteção às belezas naturais, patrimônio histórico, artístico e cultural e competência da União em matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração. 11 A Carta Constitucional, de 1937, trouxe preocupação com relação aos monumentos históricos, artísticos e naturais. Atribuiu competência para a União legislar sobre minas, águas, florestas, caça, pesca, subsolo e proteção das plantas e rebanhos. Por sua vez, a Carta Magna de 1946, além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico, conservou a competência legislativa da União sobre saúde, subsolo, florestas, caça, pesca e águas. Dispositivos semelhantes estavam presentes tanto na Constituição de 1967, quanto na Emenda Constitucional nº 1/69. Neste último texto constitucional, nota-se pela primeira vez a utilização do vocábulo “ecológico”. Os dispositivos constantes nessas Constituições tinham por escopo a racionalização econômica das atividades de exploração dos recursos naturais, sem nenhuma conotação protetiva do meio ambiente. De qualquer sorte, apesar de não possuírem uma visão holística do ambiente e nem uma conscientização de preservacionismo, por intermédio de um desenvolvimento técnico-industrial sustentável, as constituições anteriores a 1988, tiveram o mérito de ampliar, de forma significativa, as regulamentações referentes ao subsolo, à mineração, à flora, à fauna, às águas, dentre outros itens de igual relevância (MEDEIROS, 2004, p. 62). Eis que a Constituição Federal de 1988 trouxe grandes inovações na esfera ambiental, sendo tratada por alguns como “Constituição Verde”. Diferentemente da forma trazida pelas demais constituições, já abordadas anteriormente, os constituintes de 1988 procuraram dar efetiva tutela ao meio ambiente, trazendo mecanismos para sua proteção e controle. Cumpre-nos observar que esta Constituição alçou a fruição do meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado como direito fundamental. Como bem coloca o mestre JOSÉ AFONSO DA SILVA (2013), ao confirmar que o ambientalismo passou a ser tema de elevada importância nas Constituições mais recentes. Entre elas, deliberadamente como direito fundamental da pessoa humana, não como simples aspecto da atribuição de órgãos ou de entidades públicas, como ocorria em Constituições mais antigas. O legislador constituinte foi além, de forma inovadora, instituiu a proteção do meio ambiente como princípio da ordem econômica, no art. 170. 12 O mesmo autor evidencia que a Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental. Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista. Destarte, o grande marco e impulso na mudança de concepção foi, sem dúvida, as disposições da Carta Magna de 1988, trazendo um arcabouço legislativo superior ao das legislações do primeiro mundo. Nossa Constituição traz a preocupação com as questões ambientais como fundamentais para continuidade da vida em nosso Planeta, eis que esta preocupação é de cunho global. Deve haver, além de um bom aparato jurídico sobre o assunto, um envolvimento de toda sociedade. Bem diz ÉDIS MILARÉ (2014) que não basta, entretanto, apenas legislar. É fundamental que todas as pessoas e autoridades responsáveis se lancem ao trabalho de tirar essas regras do limbo da teoria para a existência efetiva da vida real, pois, na verdade, o maior dos problemas ambientais brasileiros é o desrespeito generalizado, impunido ou impunível, à legislação vigente. É preciso, numa palavra, ultrapassar-se a ineficaz retórica ecológica – tão inócua, quanto aborrecida – por ações concretas em favor do ambiente e da vida. Do contrário, em breve, nova modalidade de poluição – a poluição regulamentar – ocupará o centro de nossas atenções.Nos diversos artigos que se referem ao meio ambiente na ordem constitucional, nota-se claro o caráter interdisciplinar desta questão, eis que se referem a aspectos econômicos, sociais, procedimentais, abrangendo ainda natureza penal, sanitária, administrativa, entre outras. Voltemos ao artigo 225 do texto constitucional: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e à manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão 13 permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas7. Observe-se que o disposto nos parágrafos do artigo 225 visam justamente dar efetividade ao disposto no caput, qual seja, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Destarte, tendo em vista a extensão da 7 § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem- estar dos animais envolvidos (Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc96.htm 14 matéria nele abordada, vamos nos ater à essência dessa mudança na visão sobre o meio ambiente, constante no caput do artigo. Primeiramente, podemos inferir que o meio ambiente sadio e equilibrado é direito e dever de todos, tido como “bem de uso comum”, definido por HELY LOPES MEIRELLES (1991, p. 426), como aquele “que se reconhece à coletividade em geral sobre os bens públicos, sem discriminação de usuários ou ordem especial para sua fruição”. Cumpre observar ainda, que por “bens de uso comum” não se pode entender somente os bens públicos, mas também os bens de domínio privado, eis que podem ser fixadas obrigações a serem cumpridas por seus proprietários. Estes têm o dever de envidar esforços visando a proteção do meio ambiente. Assim, nenhum de nós tem o direito de causar dano ao meio ambiente, pois estaríamos agredindo a um bem de todos, causando, portanto, dano não só a nós mesmos, mas aos nossos semelhantes. Portanto, o Poder Público tem um papel relevante nesse processo e dele devemos cobrar atitudes condizentes com esse dispositivo constitucional. O direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito indisponível e tem a natureza de direito público subjetivo, ou seja, pode ser exercitável em face do próprio poder público, eis que a ele também incumbe a tarefa de protegê-lo: cria-se para o Poder Público um dever constitucional, geral e positivo, representado por verdadeiras obrigações de fazer, vale dizer, de zelar pela defesa (defender) e preservação (preservar) do meio ambiente (MILARÉ, 2014). Não se pode olvidar ainda, que esse mesmo dever imposto ao Poder Público se estende também a todos os cidadãos. São titulares deste direito a geração atual e ainda as futuras gerações. Assim, o homem, na condição de cidadão, torna-se detentor do direito a um meio ambiente saudável e equilibrado e também sujeito ativo do Dever Fundamental de Proteção do Meio Ambiente, de tal sorte que propõe-se a possibilidade de se instituir, no espaço participativo e na ética, uma caminhada rumo a um ordenamento jurídico fraterno e solidário. Ancora-se a análise da preservação ambiental como um direito fundamental, constitucionalmente reconhecido. Porém, esta não é a única questão suscitada: a proteção ambiental constitui-se em responsabilidade tanto do indivíduo quanto da sociedade, admitindo suas posições no processo de preservação, reparação e 15 promoção, assim, reveladas como um dever fundamental. Como inerente do direito, pressupomos a exploração dos conceitos de eficácia e de efetividade da norma em relação à aplicação de princípios jurídicos à proteção do meio ambiente (MEDEIROS, 2004). É necessária e fundamental, a participação da comunidade, eis que muitas vezes ela é que constata a ocorrência de dano ambiental. Segundo CARLOS GOMES DE CARVALHO (2003, p. 152), o Direito Ambiental abriu amplamente as portas para a participação da comunidade e de outros aparelhos do poder estatal na proteção da nossa grande casa. O cidadão e o Poder Judiciário entram com força decisiva nesse magno combate do milênio: salvar o planeta. A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, em seu artigo 3º, define meio ambiente como “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. O mestre PAULO DE BESSA ANTUNES (2004) critica referido conceito, uma vez que apesar de possuir caráter eminentemente interdisciplinar, traz uma definição do ponto de vista puramente biológico, não tratando da questão mais importante, qual seja, o gênero humano e o aspecto social que é fundamental quando se trata de meio ambiente. E acrescenta: Um aspecto que julgamos da maior importância é o fato de que, após a entrada em vigência da Carta de 1988, não se pode mais pensar em tutela ambiental restrita a um único bem. Assim é porque o bem jurídico ambiente é complexo. O meio ambiente é uma totalidade e só assim pode ser compreendido e estudado (p.68). Feitas essas considerações acerca da evolução dos direitosrelativos ao meio ambiente em nossas cartas constitucionais e da importância da população e do poder público para sua efetivação, vamos partir para alguns conceitos intrínsecos à matéria. 1.2 Definições básicas Falamos no início da Unidade em direitos transindividuais ou difusos, pois bem, por definição, esses direitos são de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. 16 Os direitos fundamentais de terceira dimensão, também chamados direitos coletivos lato sensu, abrangem três espécies, que são: direitos difusos, coletivos stricto sensu e individuais homogêneos (EÇA; ROCHA, 2014). Esses direitos têm como propósito a proteção de pessoas indeterminadas, bem como de pessoas identificáveis que possuem uma causa em comum (GALIA, 2016). Direitos coletivos stricto sensu são direitos transindividuais de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. Direitos individuais homogêneos são direitos divisíveis, de titularidade determinada, tais quais os direitos subjetivos clássicos, contudo, por terem origem comum, podem ser tutelados coletivamente (BELTRÃO, 2011). Guarde... Os direitos difusos, no que tange ao aspecto subjetivo, são transindividuais, com indeterminação absoluta dos titulares, o que significa dizer que tais direitos não têm titular individual e a ligação entre os vários titulares difusos decorre de uma mera circunstância de fato, como por exemplo, morar na mesma região. Sob o aspecto objetivo são indivisíveis, o que equivale a afirmar que não podem ser satisfeitos nem lesados senão em forma que afete a todos os possíveis titulares. Como exemplo, pode-se citar o direito ao meio ambiente sadio (art. 225 da CF/88) (ZAVASKI, 2014). RODRIGO COIMBRA (2014) lembra que na classe difusa, os objetos do direito podem ser: o patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe; a moralidade administrativa; o meio ambiente; o patrimônio histórico e cultural; as relações de consumo; as relações de trabalho; bens e direitos de valor artístico, estético, turístico e paisagístico; a ordem econômica; a ordem urbanística, entre outros. Meio ambiente é uma expressão claramente redundante, uma vez que meio e ambiente são sinônimos. Significa ou designa o âmbito que nos cerca, o nosso entorno, onde estamos inseridos e vivemos (FARIAS, 2006, BELTRÃO, 2014). No dicionário Houaiss (2006) meio significa, entre outras acepções, conjunto de elementos naturais e circunstanciais que influenciam um organismo vivo, e ambiente, por sua vez, consiste no que rodeia ou envolve por todos os lados e 17 constitui o meio em que se vive, tudo que rodeia ou envolve os seres vivos e/ou as coisas, recinto, espaço, âmbito em que se está ou vive. ÉDIS MILARÉ (2014, p. 139) define o meio ambiente ecológico como a combinação de todas as coisas e fatores externos ao indivíduo ou população de indivíduos em questão. Mais exatamente, é constituído por seres bióticos e abióticos e suas relações e interações. Não é mero espaço, é realidade complexa. No nosso ordenamento jurídico, o art. 3º, inciso I, da Lei 6.938/81 define meio ambiente como conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, ou seja, o conjunto de fatores que influenciam o meio em que o homem vive. Direito do meio ambiente, direito ambiental e direito do ambiente são expressões sinônimas, tradicionalmente usadas pela doutrina. SÉRGIO FERRAZ e DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA NETO (1972, 1977), precursores no estudo da matéria e citados por PAULO DE BESSA ANTUNES (2004), empregam a locução direito ecológico, que, entretanto, apresentaria uma abrangência menor, restrita ao ambiente natural, não compreendendo o ambiente cultural nem o artificial. O Direito Ambiental constitui o conjunto de regras jurídicas de direito público que norteiam as atividades humanas, ora impondo limites, ora induzindo comportamentos por meio de instrumentos econômicos, com o objetivo de garantir que essas atividades não causem danos ao meio ambiente, impondo-se a responsabilização e as consequentes sanções aos transgressores dessas normas (GRAZIERA, 2014). Seu objetivo é o desenvolvimento sustentável definido universalmente pela Comissão Brundtland8, como a satisfação das necessidades do presente sem pôr em risco a capacidade das gerações futuras de terem suas próprias necessidades 8 Foram os debates na década de 1980 em torno do Eco Desenvolvimento que abriram espaço ao conceito de desenvolvimento sustentável ao questionarem como conciliar atividade econômica e conservação do meio ambiente. Na década de 1980, a ONU criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que tornou-se conhecida como Comissão Brundtland. Essa comissão apresentou um documento chamado Our Common Futere (Nosso Futuro Comum), mais conhecido por relatório Brundtland e a partir dele entrou em circulação a expressão Desenvolvimento Sustentável. Em 1992, a ONU voltou a convocar para nova conferência que ficou conhecida como Eco92 ou Cúpula da Terra, sendo um marco decisivo nas negociações internacionais sobre as questões do meio ambiente e desenvolvimento. A denominação Brundtland foi uma homenagem à ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland que presidiu a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987. 18 satisfeitas. Evidentemente que a sustentabilidade opera-se por meio da administração racional dos recursos naturais e dos sistemas ecológicos. O direito ao meio ambiente no Brasil tem por objeto o ser humano, sendo antropocêntrico. É direito de todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, é assegurado constitucionalmente, visto ser essencial à sadia qualidade de vida, nos termos do art. 225, caput. 1.3 Classificação do meio ambiente O meio ambiente enquanto bem jurídico tutelado pode ser enquadrado sobre cinco prismas diferenciados: a) Meio ambiente físico ou natural Constitui-se pelo ar, atmosfera, água, solo, subsolo, fauna, flora e biodiversidade. Associa os elementos naturais nele encontrados e embora possam sofrer consequências da sua ação, eles existem independentemente do homem. Está explicitado no Artigo 225 da Constituição Federal, sendo que sua tutela imediata se encontra no Parágrafo I, incisos I e VII do referido Artigo. b) Meio ambiente artificial Compreende o espaço urbano construído, abrangendo o conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e equipamentos públicos, tais como ruas, avenidas, praças e espaços livres em geral. Esse aspecto gera a necessidade de planejamento e ordenamento do território, avaliação do processo de urbanificação e redução de impactos para alcançar o equilíbrio ambiental nas cidades. Além do Artigo 225, considerado o mais importante orientador constitucional ambiental, existem também outros importantes dispositivos disciplinando o tema, como é o caso do Artigo 182, inserido no capítulo que trata da política urbana nacional. Já o Artigo 21, XX determina a competência material da União nas diretrizes para o desenvolvimento urbano, promovendo a habitação, o saneamento básico e o transporte urbano. Art. 21. Compete à União: (...) 19 XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos. No Artigo 5º, que trata dos direitos e garantias individuais e coletivos, expressa em seu inciso XXIII que toda a propriedade deverá atender à sua função social: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aosestrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXIII - a propriedade atenderá a sua função social. Neste contexto, também temos o Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257/019 que no art. 2º, inciso I, elenca a garantia do direito e cidades sustentáveis como uma de suas diretrizes, sendo norma fundamental para a proteção do meio ambiente artificial. [...] I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; (...). c) Meio ambiente cultural Resulta das intervenções humanas, materiais e imateriais, que possuem um especial valor cultural, referente à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da nacionalidade ou sociedade brasileiras. Abrange, segundo Beltrão (2014), o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, arqueológico, ecológico, entre outros. A Constituição Federal trata expressamente sobre o patrimônio cultural brasileiro nos arts. 215 e 216. Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. 9 Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm 20 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (...). Lembremos que cabe ao Poder Público, com a colaboração da sociedade, promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro, tendo como principais instrumentos os inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, conforme o art. 216, § 1º, da Carta Política. Quanto à fixação de competência legislativa, DÓRIS TENÓRIO (2008) exemplifica com a Jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais- TJMG: Município. Competência legislativa. Proteção ao patrimônio histórico-cultural. O Município tem competência, legislativa e administrativa, para dispor sobre a proteção do patrimônio histórico-cultural de interesse local (Constituição da República, arts. 23, III, e 30, II e IX). O interesse local, para o efeito do patrimônio histórico, diz respeito à proteção dos valores que não ultrapassem a estima pública do lugar ou em que esta seja muito predominante. (TJMG. AC 1.0000.00.198640-5/ 000 (1), Des. Relator: Almeida Melo, 20/02/2001) d) Meio ambiente do trabalho e patrimônio genético O meio ambiente de trabalho busca assegurar um ambiente sadio, hígido e sem periculosidade, para que as pessoas exerçam com dignidade sua atividade laboral (ARAÚJO; NUNES JR, 1998). Segundo TERENCE DORNELLES TRENNEPOHL (2006, p. 6), “o meio ambiente do trabalho compreende a qualidade do ambiente em que o trabalhador exerce a sua atividade profissional”. 21 Desse modo, para que este local seja considerado adequado para o trabalho, deverá apresentar além de condições salubres, ausência de agentes que coloquem em risco o corpo físico e a saúde mental dos trabalhadores. Segundo DÓRIS TENÓRIO (2008), a tutela mediata do meio ambiente do trabalho se encontra no Artigo 225, enquanto que no Artigo 200, VIII, a CF/88, tutela imediatamente o meio ambiente do trabalho, ao afirmar que compete ao Sistema único de Saúde- SUS, colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: (...) VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. No entanto, a proteção conferida pelo meio ambiente do trabalho é diversa da oferecida pelo direito do trabalho. Ao se falar em meio ambiente do trabalho, está se referindo à manutenção da saúde e da segurança do trabalhador no local onde trabalha. Já o direito do trabalho protege o trabalhador no sentido de ser um conjunto de normas disciplinadoras entre empregador e empregado. O patrimônio genético está relacionado com a engenharia genética que manipula as moléculas de ADN/ARN recombinante originando a produção de transgênicos (OGM), a fertilização in vitro, as células tronco, entre outros. Está tutelado imediatamente pelo Artigo 225, V: V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. A proteção da saúde do trabalhador encontra-se genericamente tratada na CF/88 no art. 7º, XXII, XXIII e XXXIII. Expressa o meio ambiente do trabalho no art. 200, II e VIII, ao disciplinar a competência do Sistema Único de Saúde, prevendo que o meio ambiente compreende o meio ambiente do trabalho. Segundo ANTÔNIO F. G. BELTRÃO (2014), alguns autores defendem que o meio ambiente do trabalho não estaria compreendido no âmbito do direito ambiental, mas, sim, no direito do trabalho, visto que a Carta Federal não trata do meio ambiente do trabalho no capítulo do meio ambiente (art. 255), tampouco nos demais artigos existentes ao longo de seu texto referentes ao meio ambiente em geral. 22 Revendo posicionamento anterior, contudo, Beltrão entende que, de fato, o meio ambiente do trabalho insere-se no meio ambiente não apenas em razão da expressa previsão contida no art. 200, VIII, da Carta Política, mas principalmente pela interpretação teleológica da ordem constitucional vigente. Ora, o caput do art. 225 dispõe ser dever do Poder Público assegurar a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida; outrossim, a dignidade da pessoa humana consiste em um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, conforme art. 1º , III, da Constituição Federal. Uma vez que a maioria das pessoas passa boa parte de suas vidas em seu local de trabalho, por conseguinte, zelar pela sadia qualidade de vida no ambiente em que os indivíduos exercem a sua atividade profissional nada mais é do que uma consequência lógica da aplicação das citadas normas constitucionais. Logo, apesar de a CF não tratar do meio ambiente do trabalho no Capítulo VI do Título VIII (art. 225), torna-se bastante claro, em uma interpretação sistemática, que o meio ambiente de trabalho insere-se no meio ambiente. Por analogia, pode-se citar o exemplo do patrimônio cultural, que também não está previsto no capítulo do meio ambiente, mas sim na Seção II (da Cultura) do Capítulo III (arts. 215 e 216), no entanto, não há dúvida alguma de que o patrimônio cultural insere-se no meio ambiente (meio ambiente cultural) (BELTRÃO, 2014). VALE LEMBRAR! O meio ambiente ecologicamente equilibrado é: a) direito fundamental das presentes e futuras gerações, embora não esteja contemplado no Título II da CF de 1988; b) direito de terceira geração, por envolver a solidariedade e a fraternidade entre os povos, reconhecido pela doutrina e pelo Supremo Tribunal Federal (STF)10; 10 Obs.: STF, MS22.164/SP, OJ 17.11.1995. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos 23 c) bem de interesse difuso (bem de uso comum do povo); d) macrobem ambiental tutelado pela Constituição Federal. A titularidade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é metaindividual ou transindividual. Os aspectos do meio ambiente ecologicamente equilibrado são as partes do todo. Essas parte são conhecidos pela doutrina como os microbens ambientais classificados anteriormente. Os microbens ambientais são tutelados diretamente pelas leis ordinárias, como, entre outras, pelas Leis nº 6.938/81 e nº 9.605/9811. Embora já exposto anteriormente, vale frisar que para assegurar a efetividade desse direito fundamental, incumbe ao Poder Público (CF/1988, art. 225, § 1º, I, II, V, VI e VII): a) preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; b) preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; c) controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; d) promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; e) proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. 11 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm 24 preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso de recursos naturais (CF/88, art. 225, § 4°). São bens da União (CF/88, art. 20, II, III, IV, V, VI, VII e X): a) as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; b) os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou que se estendam a territórios estrangeiros ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; c) as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no artigo 26, II, da CF/88; d) os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; e) o mar territorial; f) os terrenos de marinha e seus acrescidos; g) as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré- históricos. Compete à União (CF/88, art. 21, XIX) instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso. Incluem-se entre os bens dos Estados (CF/88, art. 26, I e III): a) as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; b) as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União. Compete ao Conselho de Defesa Nacional (CF/88, art. 91, § 1°, III) propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo. 25 A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. observados, dentre vários princípios, a (CF/88, art. 170, VI): a) Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado, conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (CF/88, art. 182, § 2°). O uso da propriedade urbana deve respeitar o equilíbrio ambiental (Lei 10.257/2001, art. 1º, parágrafo único). A função social da propriedade rural é cumprida quando atender, simultaneamente, dentre vários requisitos, a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente (CF/1988, art. 186, II). Constituem patrimônio cultural brasileiro, os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem (CF/88, art. 216, I a V): a) as formas de expressão; b) os modos de criar, fazer e viver; c) as criações científicas, artísticas e tecnológicas; d) as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e) os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação (CF/88, art. 216, § 1º). Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos (CF/88, art. 216, § 5°). São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar 26 e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições (CF/88, art. 231, § 1º). O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-Ihes assegurada a participação nos resultados da lavra, na forma da lei (CF/88, art. 231, § 3º). 27 UNIDADE2 – PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ÉDIS MILARÉ (2014) assevera que o Direito, como ciência humana e social, pauta-se também pelos postulados da Filosofia das Ciências, entre os quais está a necessidade de princípios constitutivos para que a ciência possa ser considerada autônoma, ou seja, suficientemente desenvolvida e adulta para existir por si e situando-se num contexto científico dado. Foi por essas vias que, do tronco de velhas e tradicionais ciências, surgiram outras afins, como rebentos que enriquecem a família; tais como os filhos, crescem e adquirem autonomia sem, contudo, perder os vínculos com a ciência-mãe. Por isso, no natural empenho de legitimar o Direito do Ambiente como ramo autônomo da árvore da ciência jurídica, os estudiosos têm se debruçado na identificação dos princípios ou mandamentos básicos que fundamentem o desenvolvimento da doutrina e deem consistência às suas concepções. A palavra princípio, em sua raiz latina última, significa “aquilo que se toma primeiro” (primum capere), designando início, começo, ponto de partida. Princípios de uma ciência, segundo JOSÉ CRETELLA JÚNIOR (1989, p. 129), “são as proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas subsequentes”. Correspondem, mutatis mutandis, aos axiomas, teoremas e leis em outras determinadas ciências. Igual concepção nos oferece TALDEN FARIAS (2006, p. 3) ao ressaltar que a palavra princípio significa o alicerce, a base ou o fundamento de alguma coisa. Trata-se de um vocábulo de origem latina e tem o sentido de aquilo que se torna primeiro. Na ideia de princípio está a acepção de início ou de ponto de partida. MAURÍCIO GODINHO DELGADO (2005, p. 184) afirma que a palavra princípio significa proposição elementar e fundamental que embasa um determinado ramo de conhecimento ou proposição lógica básica em que se funda um pensamento. No entendimento de ROQUE ANTÔNIO CARRAZA (1998, p. 31), o princípio jurídico é um enunciado lógico implícito ou explícito que, por conta de sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes da Ciência Jurídica e por isso mesmo vincula de modo 28 inexorável o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam. ÉDIS MILARÉ (2014) bem nos lembra que, entre ciências afins, um princípio pode não ser exclusivo, cabendo na fundamentação de mais de uma ciência; o que ocorre, sabidamente, quando os princípios são mais gerais e menos específicos. Com essa advertência, interessa destacar, aqui, não apenas os princípios fundamentais expressamente formulados nos textos do sistema normativo ambiental, como também os decorrentes do sistema de direito positivo em vigor, a que a doutrina apropriadamente chama de princípios jurídicos positivados. Os princípios exercem uma função especialmente importante frente às outras fontes do Direito porque, além de incidir como regra de aplicação do Direito no caso prático, eles também influenciam na produção das demais fontes do Direito. É com base nos princípios jurídicos que são feitas as leis, a jurisprudência, a doutrina e os tratados e convenções internacionais, já que eles traduzem os valores mais essenciais da Ciência Jurídica (FARIAS, 2006). O mesmo autor acima assevera que se na ausência de uma legislação específica há que se recorrer às demais fontes do Direito, é possível que no caso prático não haja nenhuma fonte do Direito a ser aplicada a não ser os princípios jurídicos. Com efeito, pode ser que não exista lei, costumes, jurisprudência, doutrina ou tratados e convenções internacionais, mas em qualquer situação, os princípios jurídicos poderão ser aplicados (FARIAS, 2006). Na opinião de JOAQUIM JOSÉ GOMES CANOTILHO (1999), os princípios desempenham um papel mediato, ao servirem como critério de interpretação e de integração do sistema jurídico, e um papel imediato ao serem aplicados diretamente a uma relação jurídica. Para o autor, as três funções principais dos princípios são: 1. impedir o surgimento de regras que lhes sejam contrárias; 2. compatibilizar a interpretação das regras; e, 3. dirimir diretamente o caso concreto frente à ausência de outras regras. LUÍS ROBERTO BARROSO (2009) defende que segundo a dogmática moderna, as normas jurídicas podem ser divididas em normas-disposição e em normas-princípio, de maneira que a distinção entre normas e princípios está superada. Enquanto as normas-disposição são regras aplicáveis somente às 29 situações a que se dirigem, as normas-princípio ou princípios possuem um grau maior de abstração e uma importância mais destacada dentro do sistema jurídico. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO (1980, p. 230) entende que os princípios jurídicos constituem o mandamento nuclear do sistema normativo, já que além de servirem de critério para a interpretação de todas as normas jurídicas eles têm a função de integrar e de harmonizar todo o ordenamento jurídico transformando-o efetivamente em um sistema. Ilustrando ainda mais esta questão, temos NORBERTO BOBBIO (1996, p. 159) que faz uma clara análise dos princípios gerais do Direito, inserindo-os no amplo conceito de normas, nos esclarecendo que: Os princípios gerais são apenas normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. A palavra princípios leva a engano, tanto que é velha questão entre juristas se os princípios gerais são normas. Para Bobbio não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras. E esta é também a tese sustentada por Crisafulli12 (1952) . Para sustentar que os princípios gerais são normas, os argumentos são dois, e ambos válidos: 1º. antes de mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles – se abstraio da espécie animal obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas; 2º. em segundo lugar, a função para qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em caso de lacuna? Para regular um comportamento não regulamentado: mas então servem ao mesmo escopo que servem as normas. E por que não deveriam ser normas? Sendo assim, os princípios têm valor normativo, e não apenas valorativo, interpretativo ou argumentativo, de maneira que se encontram hierarquicamente superiores a qualquer regra. Na verdade, já que os princípios são o esteio do 12 Advogado e um dos maiores constitucional italianos da segunda metade do século XX, falecido em 1986. 30 ordenamento jurídico, é a eles que as regras têm que se adequar e não o contrário, e quando isso não ocorrer deverá a mesma ser considerada nula. No âmbito do Direito Ambiental, os princípios também desempenham essas mesmas funções de interpretação das normas legais, de integração e harmonização do sistema jurídico e de aplicação ao caso concreto. É preciso destacar também que a afirmação dos princípios do Direito Ambiental desempenhou um papel fundamental no reconhecimento desse Direito enquanto ramo autônomo da Ciência Jurídica. Na mesma linha de pensamento segue ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS E BENJAMIN (1993) ao apontar as quatro principais funções dos princípios do Direito Ambiental no que diz respeito à sua compreensão e aplicação: a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito; b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental; c) são dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meioambiente é vista na sociedade; e finalmente, d) são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área (MIRRA, 1996). Um aspecto que ressalta a importância dos princípios no Direito Ambiental em relação aos demais ramos da Ciência Jurídica é o fato da enorme proliferação legislativa nessa área. PAULO DE BESSA ANTUNES (2015) expõe que há alguns anos, em se tratando de proteção à flora, era apenas o Código Florestal que se aplicava, enquanto que atualmente essa lei é apenas um dos inúmeros elementos de proteção à flora já que existe a Convenção de Diversidade Biológica, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e uma série de normas objetivando a proteção específica de um bioma ou de uma espécie de flora. Com efeito, como existe uma competência legislativa concorrente entre os diversos entes federativos, é possível encontrar, além das leis e decretos federais e 31 convenções e tratados internacionais, uma série de leis e decretos estaduais, distritais e municipais. É também imensa a proliferação de resoluções ou deliberações editadas pelos conselhos de meio ambiente, seja no âmbito Federal, Estadual ou Distrital e Municipal, e de portarias elaboradas pelos órgãos administrativos de meio ambiente. Muitas vezes, tais normas são elaboradas por técnicos ambientais ou até por representantes de associações de classe ou de movimentos sociais que adotam uma redação confusa ou obscura sob o ponto de vista da técnica legislativa. Por conta disso, os conflitos normativos são muito comuns nessa área e deverão ser resolvidos por meio da aplicação dos princípios do Direito Ambiental. Com relação ao papel relevante que os princípios jurídicos podem desempenhar naquelas situações que ainda não foram objeto de legislação específica, trata-se de mais um situação muito comum no que diz respeito ao meio ambiente. A evolução da sociedade e o aparecimento de novas tecnologias fazem com que a cada dia surjam novas situações capazes de interferir na qualidade do meio ambiente e que, por isso, não podem deixar de ser reguladas pelo Direito Ambiental. ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS E BENJAMIN (1993) pondera que os princípios do Direito Ambiental, da mesma forma que os demais princípios do Direito Constitucional, do Direito Administrativo e do Direito Público de uma maneira geral, são valores que fundamentam o Estado e incidem sobre a organização política da sociedade. Por causa disso, esses princípios devem ser levados em consideração em todas as decisões do Poder Público, especialmente em relação às políticas públicas ambientais e a todas as políticas públicas de uma maneira geral, já que todos os setores da atividade pública de alguma forma repercutem na questão ambiental. De acordo com PAULO DE BESSA ANTUNES (2015), são de dois tipos os princípios do Direito Ambiental: os explícitos e os implícitos. Os primeiros são aqueles que se encontram positivados nos textos legais e na Constituição Federal, e os segundos são aqueles depreendidos do ordenamento jurídico constitucional. É claro que tanto os princípios explícitos quanto os implícitos encontram aplicabilidade no sistema jurídico brasileiro, pois os princípios não precisam estar escritos para serem dotados de positividade. Devido ao fato de parte dos princípios do Direito Ambiental serem construções eminentemente doutrinárias inferidas dos textos legais e das 32 declarações internacionais de Direito, a quantidade e a denominação desses princípios variam de um autor para outro. No entendimento de CELSO ANTÔNIO PACHÊCO FIORILLO (2008), os princípios do Direito Ambiental são os seguintes: desenvolvimento sustentável, poluidor pagador, prevenção, participação (de acordo com o autor, a informação e a educação ambiental fazem parte deste princípio) e ubiquidade. LUÍS PAULO SIRVINSKAS (2015) enumera os seguintes princípios do Direito Ambiental: direito humano; desenvolvimento sustentável, democrático; prevenção (precaução ou cautela); equilíbrio; limite; poluidor-pagador e responsabilidade social. ÉDIS MILARÉ (2014) elenca como princípios do Direito Ambiental: meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana, natureza pública da proteção ambiental, controle de poluidor pelo Poder Público, consideração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvimento, participação comunitária, poluidor-pagador, prevenção, função social da propriedade, desenvolvimento sustentável e cooperação entre os povos. Para RUI PIVA (2000, p. 51), o Direito Ambiental possui os princípios a saber: “participação do Poder Público e da coletividade, obrigatoriedade da intervenção estatal, prevenção e precaução, informação e notificação ambiental, educação ambiental, responsabilidade das pessoas física e jurídica”. PAULO AFFONSO LEME MACHADO (2001, p. 43) classifica os seguintes princípios do Direito Ambiental: “acesso equitativo aos recursos naturais, usuário- pagador e poluidor-pagador, precaução, prevenção, reparação, informação e participação”. TOSHIO MUKAI (2016) trabalha com os seguintes princípios do Direito Ambiental: prevenção, poluidor-pagador ou responsabilização e cooperação. Segundo PAULO DE BESSA ANTUNES (2015), os princípios do Direito Ambiental são: direito humano fundamental, desenvolvimento, democrático, precaução, prevenção, equilíbrio, limite, responsabilidade, poluidor-pagador. Já para CRISTIANE DERANI (2001), os princípios do Direito Ambiental são os seguintes: cooperação, poluidor-pagador, ônus social e precaução. MARCOS DESTEFENNI (2004, p. 27) enumera os seguintes princípios do Direito Ambiental: “obrigatoriedade da intervenção estatal, prevenção, precaução, 33 usuário e poluidor pagador, ampla responsabilidade da pessoa física e jurídica e desenvolvimento sustentável. Entretanto, tem razão PAULO DE BESSA ANTUNES (2015) ao sustentar que além de não existir um consenso sobre os princípios do Direito Ambiental, são enormes as divergências doutrinárias sobre o conteúdo de cada um deles. É importante destacar o relevante papel que a Declaração Universal sobre o Meio Ambiente e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ambos documentos redigidos respectivamente na 1ª e na 2ª Convenção Internacional da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, tiveram na formação dos princípios do Direito Ambiental. A maior parte dos princípios de Direito Ambiental trazidos pela Declaração Universal sobre o Meio Ambiente foi consagrada explícita ou implicitamente pela Constituição Federal de 1988 e pela legislação ambiental de uma forma geral. De qualquer forma, passarão a ser analisados de forma objetiva apenas os princípios mais importantes do Direito Ambiental. 2.1 Princípios fundamentais do Direito Ambiental Segundo o princípio do acesso equitativo aos recursos naturais, os bens ambientais devem ser utilizados de forma a satisfazer as necessidades comuns de todos os habitantes da Terra, orientando-se sempre pela igualdade de oportunidades na sua fruição. Além disso, devem ser explorados de tal modo que não haja risco de serem exauridos, resguardando-os para as futuras gerações. O princípio da prevenção ou precaução prescreve que as normas de direito ambiental devem sempre se orientar para o fato de que é necessário que o meio ambiente seja preservado e protegido como patrimônio público. A prevenção aplica-se tanto a situações nas quais há certeza quanto aos riscos de danos ambientais, como às situações em que existem dúvidas e incertezas. Assim, se, por exemplo, na permissão ou autorização de uma obra ou de um novo agrotóxico há incerteza sobre a existência ou probabilidadede danos à saúde pública ou à natureza, tal atividade, em observância ao princípio da precaução, não deverá ser autorizada ou, pelo menos, deverão ser tomadas medidas preventivas que afastem os riscos. Enfim, prevenir é agir antecipadamente a fim de evitar danos graves e irreparáveis ao meio ambiente. 34 De outro lado, antes de ser colocada a questão “Há certeza quanto a possibilidade de dano?”, deve ser feita outra pergunta, mais importante que a primeira: “Precisamos realmente desta atividade?”. Ou seja, deve ser questionado, antes de tudo, se a atividade atende ao bem comum e, apenas em caso afirmativo, questionar-se quanto aos impactos no meio ambiente e às formas de prevenção. O principal instrumento na aplicação deste princípio é o Estudo de Impacto Ambiental, analisado mais adiante. Enquanto doutrinadores como JOSÉ AFONSO DA SILVA (2013) e TOSHIO MUKAI (2016) sequer citam a precaução como princípio do Direito Ambiental, outros como CELSO ANTÔNIO PACHÊCO FIORILLO (2008), EDIS MILARÉ (2014), LUÍS PAULO SIRVINSKAS (2015) preferem adotar o princípio da prevenção como sinônimo ou como gênero de que o princípio da precaução é espécie. Com efeito, existe uma grande semelhança entre o princípio da precaução e o princípio da prevenção que o primeiro é apontado como um aperfeiçoamento do segundo. Prova disso é que os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente que se prestam a efetivar a prevenção são apontados também como instrumentos que se prestam a efetivar a precaução (FARIAS, 2006). Nesse sentido, temos a opinião de ANA CAROLINA CASAGRANDE NOGUEIRA (2004) para quem o “princípio de precaução”, por sua vez, é apontado, pelos que defendem seu status de novo princípio jurídico-ambiental, como um desenvolvimento e, sobretudo, um reforço do princípio da prevenção. Seu fundamento seria, igualmente, a dificuldade ou impossibilidade de reparação da maioria dos danos ao meio ambiente, distinguindo-se do princípio da prevenção por aplicar-se especificamente às situações de incerteza científica. O princípio da reparação ou da responsabilidade, decorrente do princípio da prevenção, orienta que aquele que causar lesão a bens ambientais deve ser responsabilizado por seus atos, reparando ou indenizando, de forma adequada, os danos causados. Esse princípio está previsto no § 3º do art. 225 da Constituição Federal, que dispõe que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. A primeira parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio da responsabilidade ao determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visará 35 à imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados ao meio ambiente. O inciso IX do art. 9º dessa Lei também prevê o princípio da responsabilidade ao classificar como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. O princípio da responsabilidade também foi consagrado pelo inciso VII do art. 4º e no § 1º do art. 14 da referida Lei ao dispor, respectivamente, que a Política Nacional do Meio Ambiente visará à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos, e que sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade, prevendo ainda que o Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente (FARIAS, 2006). O princípio da qualidade prescreve que as normas de direito ambiental devem se orientar para o fato de que o meio ambiente deve ter qualidade propícia à vida saudável e ecologicamente equilibrada. O princípio da participação popular ou gestão democrática, decorre da necessidade de uma democracia participativa, bem como do fato de que cuidar do meio ambiente não é tarefa apenas do Estado, mas de toda a sociedade civil. Assim, é fundamental um espaço de diálogo e cooperação entre os diversos atores sociais, seja para a formulação e execução de uma política e de ações ambientais, seja para a solução de problemas. Como exemplo deste princípio temos as audiências públicas e os conselhos de recursos hídricos. O princípio do princípio do poluidor-pagador é considerado fundamental na política ambiental, sendo entendido como um “instrumento econômico que exige do poluidor, uma vez identificado, suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais” (GARCIA; THOMÉ, 2015, p. 41). Para sua aplicação, os custos sociais externos que acompanham o processo de produção devem ser internalizados. 36 Esse princípio foi introduzido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE –, mediante adoção, aos 26 de maio de 1972, da Recomendação C(72) 128, do Conselho Diretor, que trata de princípios dos aspectos econômicos das políticas ambientais (ANTUNES, 2015). A ‘Declaração do Rio’, de 1992, tratou da matéria em seu Princípio 1613 . No Brasil, foi inserida na Lei 6.938, no seu art. 4º, inciso VII14 , bem como na Constituição Federal no art. 225, parágrafo 3º (MILARÉ, 2014) O princípio do poluidor pagador tem sido confundido por grande parte da doutrina com o princípio da responsabilidade. Contudo, o seu objetivo não é recuperar um bem lesado nem criminalizar uma conduta lesiva ao meio ambiente, e sim afastar o ônus econômico da coletividade e voltá-lo para a atividade econômica utilizadora de recursos ambientais (ANTUNES, 2015). O princípio do poluidor-pagador parte da constatação de que os recursos ambientais são escassos e o seu uso na produção e no consumo acarretam a sua redução e degradação. Ora, se o custo da redução dos recursos naturais não for considerado no sistema de preços, o mercado não será capaz de refletir a escassez. Em assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes de eliminar a falha de mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos reflitam os custos ambientais (ANTUNES, 2015). ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS e BENJAMIN (1993, p. 227) afirmam que o princípio do poluidor-pagador visa a fazer com que o empreendedor inclua nos custos de sua atividade todos as despesas relativas à proteção ambiental. A poluição dos recursos ambientais de uma maneira geral, e especialmente em se tratando daqueles bens mais facilmente encontrados na natureza, como a água, o ar e o solo, por conta da natureza difusa, é normalmente custeada pelo Poder Público. Em termos econômicos, esse custo é um subsídio à atividade econômica poluidora, já que não está sendo levado em conta os prejuízos sofridos pela 13 As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais. 14 Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: [...] VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 37 sociedade que ocorrem tanto que a coletividade sente os efeitos
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