Buscar

Resenha livro PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz & Terra, 1968.
Pedagogia do oprimido: 
“as mudanças nunca se produzem de maneira espontânea”
David Severo
O subtítulo que colocamos no título desta resenha está incluído em um diálogo das personagens no filme “O poço”, atração espanhola da Netflix, 2020. O enredo do filme basicamente mostra uma prisão vertical, com mais de 300 celas de no máximo duas pessoas em cada cômodo. Nesta prisão, a comida é distribuída de cima para baixo uma vez ao dia. Quem está nos andares de cima como à vontade. Quem está embaixo fica com fome. Um prato cheio para uma rebelião. 
Tal como o filme, a obra de Paulo Freire "Pedagogia do oprimido", publicada quando o autor esteve em exílio no Chile em 1968, traz reflexões importantes sobre a formação da sociedade brasileira e o ímpeto de libertação dos oprimidos, ao questionarem o sistema vigente de opressão. Só que para Freire, a libertação só é possível por meio da educação com o desenvolvimento da consciência crítica dos atores sociais.
Esse livro de Paulo Freire é provavelmente a sua obra mais importante, tendo sido traduzida para mais de 20 vinte línguas desde a sua publicação. Ele amadurece, nesse texto, as principais ideias apresentadas em sua obra anterior (Pedagogia como prática da liberdade, 1967), acrescentando outras reflexões que permearão o seu pensamento pedagógico sobre educação. Dividido em quatro capítulos, Pedagogia do oprimido conta ainda com um prefácio escrito Ernani Maria Fiori, filósofo brasileiro, que coordenou com Paulo Freire vários projetos de educação popular quando ambos estevirem em exílio no Chile.
O primeiro capítulo do referido livro intitulado “Justificativa da pedagogia do oprimido”, chama a atenção para o medo da liberdade que assola os indivíduos que se encontram em estado de opressão, principalmente porque ela conduz ao perigo da conscientização. O opressor que se “hospeda” na mente do oprimido, impõe a ideia de que a liberdade provoca a desordem social das massas. E isso é expremamente perigoso numa sociedade de classes sociais. O papel da educação seria, então, o de desmistificar essa alienação que condiciona o educando a um estado de reificação. É por isso que a primeira justificativa para a pedagogia do oprimido reside na luta pela superação da contradição opressores-oprimidos.
Contudo, salienta Freire, a libertação é pressuposto do oprimido e não da “generosidade” do opressor. Nesse sentido, diz o autor: “Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão?” (FREIRE, 1968, p. 42) e continua na página seguinte: “Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela.” (idem, p. 43).
Ainda no primeiro capítulo, Paulo Freire chama a atenção para o cuidado que envolve a situação concreta dos oprimidos e dos opressoes, qual seja, a contradição que pode envolver a contradição do processo de libertação, na qual o oprimido de hoje, torne-se o opressor de amanhã. Voltando ao filme “O poço”, vemos que essa possibilidade é possível, infelizmente. No enredo, a cada 30 dias, o detentos são redirecionados para celas diferentes aleatoriamente, de modo que alguém que esteja numa cela inferior possa subir para outros andares da prisão vertical. Contudo, o que não muda é a cadeia de opressão, pois a alimentação dificilmente desce a partir da cela 50 (na trama do filme, há cerca de 330 celas!). Até que alguém, nesse caso o protagonista Goreng, questiona a mecânica do sistema pela justa distribuição da comida na prisão. 
O segundo capítulo de Pedagogia do oprimido cujo título “A concepção ‘bancária’ da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica” apresenta, pela primeira vez, um dos conceitos mais caros da história da educação brasileira: educação bancária. Desse modo, o ensino “se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem” (FREIRE, 1968, p. 82). 
Em contraposição a esse método tradicional de educação, Paulo Freire apresenta outro, pois parte do pressuposto de que o conhecimento não é estático; nem o educador é um gênio que tudo-sabe e, muito menos, o educando é uma tábua vazia. Pelo contrário, Freire entende o homem como um ser inconcluso, consciente de sua inconclusão, e seu permanente movimento de busca do ser mais (1968, p. 101). É, nesta perspectiva, que o pensador brasileiro entende a educação libertadora por meio de uma concepção problematizadora capaz de superar a contradição educador e educando.
Nesse capítulo, Paulo Freire apresenta outro conceito importante que acompanhará toda a sua filosofia de educação: a noção de “diálogo” que se efetiva na interação entre os homens. Ainda, nesse tópico, é mencionada umas das frases mais famosas do livro quando o autor afirma que “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo (1968, p. 95).
Em "A dialogicidade – essência da educação como prática pedagógica", terceira parte do livro, Paulo Freire aprofunda a sua crítica à educação bancária, na medida em que ela prioriza o ensino por meio da memorização de conteúdos, muita das vezes, desconectados da realidade do educando. Nesse sentido, o diálogo começa na busca do conteúdo programático, com as palavras e temas geradores. “Será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da situação ou da ação política, acrescentemos” (FREIRE, 1968, p. 119). 
Evidentemente, Freire se refere ao povo, de modo geral, pois a alfabetização em que se empenhou estava nos espaços informais de educação. Contudo, essa metodologia pode ser também aplicada às escolas, como a conhecemos hoje, sobretudo, quando o educador procura levar em conta o conhecimento que os educandos trazem de seu cotidiano ou mesmo quando o educador se insere na realidade objetiva de seus educandos. Desse modo, sendo partícipe do processo de ensino e aprendizagem, os sujeitos envolvidos na ação e reflexão do conhecimento tendem a ter um angajamento maior nas atividades. Uma educação problematizadora, capaz de desenvolver a consciência crítica dos estudantes, dará condições de eles se posicionarem melhor diante das situações de manipulação/opressão da sociedade.
O quarto e último capítulo traz como título “A teoria da ação antidialógica” e descreve as principais características da teoria da ação antidialógica, quais sejam: a) a conquista; b) dividir para manter a opressão; c) manipulação e; d) a invasão cultural. Esse conjunto serve à elite dominadora, já que ela não quer ver emergir a luta dos oprimidos pelo direito de libertação, pelo contrário, aqueles pretendem manter o status quo de opressão e alienação desses. É por isso que Paulo Freire desenvolve algumas ações importantes para os sujeitos operarem a transformação do mundo por meio da colaboração, da união, da organização e manutenção da síntese culturam.
Por fim, após a descrição sucinta dos capítulos do livro Pedagogia do oprimido, cumpre destacar algumas considerações importantes sobre as páginas desta obra: primeiramente, o educador brasileiro nos oferece uma análise penetrante do funcionamento de nossas classes sociais e indica os caminhos para uma pedagogia eficiente, capaz de despertar, nos educandos, o diálogo e saber de si. Segundo, Paulo Freire nos mostra que o processo de transformação de uma sociedade desigual precisa ser desenvolvida desde o início no “chão” da escola por meio de uma educação problematizadora. Por fim, isso só é possível quando os homens, unidos, questionam o sistema opressor vigente e procuram mudá-lo por meioda ação, como ocorre no filme “O poço”.

Continue navegando