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As Políticas Comerciais do Brasil e seus reflexos no Comércio com a Argentina - Adayr da Silva Ilha, Luciane da Silva Rubin, Olinda Barcellos

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AS POLÍTICAS COMERCIAIS DO BRASIL E SEUS 
REFLEXOS NO COMÉRCIO COM A ARGENTINA
Adayr da Silva Ilha1
adayr@ccsh.ufsm.br
Luciane da Silva Rubin2
lucianer@ccsh.ufsm.br 
Olinda Barcellos3
olinda_barcellos@bol.com.br 
Resumo: Ao longo das últimas décadas, muitas economias vêm 
implementando reformas estruturais, a liberalização de comércio em 
geral e de acesso a mercados preferenciais, em particular. O presente 
artigo visa discutir instrumentos de política comercial utilizados pelo 
Brasil, visando uma maior inserção ao comércio internacional e o 
processo de abertura econômica na década de 90. Faz-se, ainda, 
algumas considerações a respeito do Mercosul como um bom 
instrumento de ampliação nas relações comerciais entre Argentina-
Brasil. Com isso, defende-se o aprofundamento dos acordos, não só 
econômicos, mas, principalmente, institucionais capazes de fortalecer 
as relações entre os países membros e superar as ameaças internas e 
externas face às turbulências hoje vividas.
Palavras-chave: abertura econômica brasileira; acordos comerciais; 
comércio Argentina-Brasil .
Abstract: Through the last decades lots of economies have been 
implementing structural changes: the trade liberation on the whole and 
the access to preferential markets in particular. This article has the aim 
of discussing the instruments of commercial politics used by Brazil to 
be inserted in the international trade and the process of economic 
opening in the 90th. It is also done some considerations about 
“Mercosul” as a good instrument to increase the commercial relation 
between Argentina and Brazil. It is getting deeper into politics 
agreement, not just economic but institutional to fortify the relations 
among countries members and overcome the internal and external 
threats faced the problems of the present time.
Key-words: Brazilian economic opening, commercial agreement, 
Argentina-Brazil trade.
1 Prof. Adj. do Departamento de Ciências Econômicas e Coordenador do Curso de Mestrado em 
Integração Latino-Americana da Universidade Federal de Santa Maria.
2 Economista, Coordenadora do CEDOS da UFSM, aluna do Mestrado Integração Latino-
Americana da UFSM. 
3 Economista pela UFSM, aluna do Mestrado Integração Latino-Americana da UFSM.
mailto:olinda_barcellos@bol.com.br
mailto:lucianer@ccsh.ufsm.br
mailto:adayr@ccsh.ufsm.br
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INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas décadas, o mundo vem experimentando 
uma nova ordem econômica internacional: a liberalização dos 
mercados e a formação de blocos econômicos. Tal caráter pode ser 
observado pela competição econômica e tecnológica entre os países e 
pela assinatura de diversos tratados comerciais internacionais.
Diferentes países têm buscado parceiros comerciais 
privilegiados ou acordos regionais. Diante deste panorama, o Brasil 
vem implementando reformas estruturais, liberalização do comércio 
em geral e liberalização de acesso de mercados preferenciais, com 
ênfase no Mercosul.
Desde abertura da economia, a política comercial brasileira foi 
de estímulo ao comércio exterior; primeiro com um grande volume de 
importações no início da década e, após a desvalorização do real, o 
interesse voltou-se para o setor exportador. O governo buscou 
alavancar esse setor através de diversas medidas de incentivo às 
exportações.
Num contexto caracterizado por grandes avanços nas relações 
comerciais, principalmente entre a Argentina e o Brasil, a partir das 
negociações do Mercosul, questiona-se o desinteresse por parte das 
autoridades em aprofundar essas relações mediante estratégias comuns 
de desenvolvimento que permitam uma maior inserção no mercado 
mundial.
Apesar das barreiras tarifárias zeradas, outras barreiras, menos 
visíveis, começaram a serem utilizadas pelos países do Mercosul, 
contribuindo para um retrocesso ao processo de integração. Ainda, 
pela falta de uma coordenação nas políticas macroeconômicas, é 
deflagrada uma crise no Mercosul mediante a desvalorização do real, 
afetando de forma significativa às relações comerciais entre os 
principais parceiros.
Para maior compreensão do assunto, o presente trabalho divide-
se em três seções, sendo esta introdução, a primeira delas. Na segunda 
seção, procura-se abordar as políticas internas e externas de 
liberalização adotadas pelo Brasil, em especial as de integração 
regional. Na terceira seção faz-se um breve comentário a respeito do 
comércio Argentino a partir da formação do Mercosul. 
Por fim, na última seção faz-se as considerações finais.
Política Comercial Brasileira
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A década de 80 foi caracterizada por dois aspectos econômicos: 
primeiro, pelo desenvolvimento de acordos e mecanismos de 
integração econômica entre países e regiões, tanto nas economias mais 
desenvolvidas como em desenvolvimento; segundo, pelas limitações 
de acesso ao comércio exterior através da utilização de barreiras não-
tarifárias4 (um modo de proteger a indústria doméstica).
No Brasil, a abertura comercial iniciada a partir de 1990 tenta 
inserir o país no cenário do comércio internacional. Os instrumentos 
utilizados passam pela formação de acordos regionais, redução 
tarifária e pela desregulamentação das operações de comércio 
internacional. O resultado imediato dessas medidas é o crescimento no 
volume das importações e, conseqüentemente, o aumento da 
concorrência para as indústrias nacionais que se vêem obrigadas a 
adaptar-se ao mercado. O aumento na qualidade e na produtividade 
reflete ganhos de bem-estar da população.
Segundo Krugman & Obstfeld (2001), existem dois motivos 
principais pelo qual os países participam do comércio internacional. 
Primeiro, porque os países são diferentes, e podem usar esta diferença 
para beneficiarem-se, uma vez que cada Estado pode se especializar 
naquilo que realmente faz bem; segundo, para obter rendimentos 
crescentes ou economias de escala na produção, é preferível para cada 
país especializar-se na produção de apenas uma variedade limitada de 
bens e serviços.
Para Salvatore (1998, p.131), “o livre comércio maximiza a 
produção mundial e beneficia todas as nações”. Porém, a maioria dos 
países impõe algum tipo de restrição ao livre comércio: as chamadas 
políticas comerciais.
Por outro lado, o comércio internacional pode também implicar 
custos para a economia, como por exemplo, a redução da produção 
doméstica com quedas no emprego e na renda.
É importante que as nações considerem os custos e os 
benefícios do comércio exterior para a sua inserção no mercado 
internacional.
Com a Rodada do Uruguai, iniciada em 1986, acreditava-se que 
o mundo caminharia para a eliminação das barreiras em nível 
multilateral, no entanto, para Gonçalves (1994, p. 96), “a conclusão da 
Rodada Uruguai não envolve nenhuma ruptura no sistema econômico 
internacional”. O grande determinante das relações comerciais será a 
4Barreiras não-tarifárias são normas técnicas, administrativas e outras, bem como àquelas advindas 
dos cartéis internacionais, dumping e subsídios às exportações (Salvatore, 1998, P. 423).
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revitalização dos blocos regionais.
Liberalização e Acordos de Integração
De um modo geral, nos anos 90, a América Latina liberalizou 
seu mercado em busca de novas oportunidades de comercialização 
para seus produtos. 
A profundidade dessa reforma pode ser percebida a partir dos 
índices de tarifas médias praticadas na América Latina. Conforme 
tabela abaixo, em 1985, a média tarifária praticada pelos países era de 
40% e, em 2000, cai para 11%. Neste mesmo período, o Brasil 
apresenta percentual de 55,1%, em 1985, e recua para 15,8%, em2000. A Argentina, em 1985, já apresentava um grau de abertura 
maior que o Brasil, com taxas médias tarifárias de 39,3%, em 1985, e 
apresenta uma acentuada redução ficando com 14,2%, em 1991, 
permanecendo quase estável para os demais períodos.
Tabela 1. Tarifa média (não ponderadas).
1985 1988 1991 1994 1997 2000
Argentina 39,3 30,8 14,2 15,4 14,1 15,5
Brasil 55,1 41,5 20,4 9,7 14,9 15,8
América Latina 38,8 33,0 15,1 11,7 11,7 13,5
Fonte: Estevadeordal, 2002.
O que mais chama a atenção neste processo é que o Brasil, em 
menos de dez anos (período 85-94), reduziu suas tarifas em 70%, 
recuando um pouco em 1997 e 2000. Essa redução tarifária é 
característica da América Latina como um todo após quase uma 
década de negociações e de acordos da Rodada do Uruguai (1986-
1994).
A principal política adotada foi a de acordos preferenciais de 
comércio, também chamado de regionalismo, num contexto de 
iniciativas antigas que, embora tiveram algum sucesso, apresentaram 
vida curta. Entre elas estão a Associação Latinoamericana de Livre 
Comércio (ALALC) que, após uma década de negociações, é lançada 
oficialmente em 1960; no mesmo ano, o Mercado Comum 
Centroamericano (MCCA) e, em 1969, o Pacto Andino. No entanto, 
esses esforços de políticas adotadas pelos países latino-Americanos 
vão contribuir para a consolidação dos acordos regionais de comércio, 
definido pela CEPAL como Regionalismo Aberto. 
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O Brasil, como um dos mais importantes atores desse processo, 
adota uma série de iniciativas de integração, formando uma complexa 
rede de Acordos Regionais de Comércio que vão além do próprio 
nome, são exemplos os chamados acordos inter-regionais (acordos 
com Mercosul-África do Sul e Mercosul-UE).
No âmbito de acordos com a América Latina, o Brasil formou 
uma rede de acordos5, descritos a seguir: 
- Mercosul
O Mercosul, Mercado Comum do Sul, foi instituído pelo tratado 
de Assunção, assinado em 26.03.91, pela Argentina, Brasil, Paraguai e 
Uruguai, com o objetivo de promover o desenvolvimento dos quatro 
países, mediante a conformação de um espaço econômico ampliado e, 
conseqüentemente, por uma inserção mais competitiva na economia 
internacional (MDIC, 2001). Inicialmente, surge como uma zona de 
livre-comércio através do estímulo a eliminação de barreiras tarifárias 
e não-tarifárias no comércio entre os países membros. No entanto, 
para que os produtos circulem entre os quatro países livres de tarifas 
de importação, devem preencher requisitos de regras de origem, isto é, 
um percentual de índice de nacionalização de 60%. 
Hoje, o Mercosul caracteriza-se por um ARC do tipo União 
Aduaneira, com metas de Tarifa Externa Comum (TEC) e a 
coordenação das políticas macroeconômicas e setoriais. 
A TEC é um dos pilares da União Aduaneira e foi 
implementada em 1995, na qual todos os produtos importados de 
países não-parceiros estão sujeitos a mesma tarifa de importações, 
exceto a chamada lista de exceções, em que os quatro países excluem 
uma lista de até 100 produtos que não estão em condições de fazer 
parte da TEC. 
O Mercosul, com uma dimensão de 12 milhões Km2 e com um 
mercado potencial de 200 milhões de habitantes, constitui um 
importante pólo de atração de investimentos do mundo. Também, 
possui a principal reserva de recursos naturais em energia do planeta, 
em especial reservas de minério e hidroelétricas. Em apenas uma 
década de existência, o Mercosul produziu benefícios significativos na 
ampliação de comércio entre os países participantes e extra-bloco.
Neste contexto, o Mercosul tem sido cada vez mais percebido 
como um bom instrumento para promoção da produção regional e 
como forma de articulação para uma nova modalidade de inserção 
internacional à luz dos princípios do regionalismo aberto. 
5 Todas as informações sobre acordos regionais de comércio do Brasil constam em documentos 
do site oficial do MDIC: www.mdic.gov.br. 
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- Chile-Mercosul
Na agenda sub-regional, em junho de 1996, o Chile firmou com 
o Mercosul o Acordo de Complementação Econômica (do tipo País-
ARC) visando à futura formação de Área de Livre Comércio aplicado 
aos produtos originários da partes signatárias. Quanto ao Regime de 
Origem, obedece à mesma taxa de 60% entre os países do Mercosul.
- Bolívia-Mercosul 
É acordo de complementação econômica, assinado em 
dezembro de 1996, objetivando a formação de uma Área de Livre 
Comércio com liberalização progressiva das tarifas de importação 
para um prazo de 10 anos. Este acordo está composto por diversas 
listas de produtos, mais de 1.400 itens, com seus respectivos 
cronogramas de desgravação. A regra de origem é idêntica ao Acordo 
Chile-Mercosul. Entretanto, para um grupo reduzido de produtos, as 
regras são mais flexíveis por se tratar de país de menor 
desenvolvimento econômico relativo. 
- Brasil-países da Comunidade Andina
O acordo de comércio, como primeiro passo para uma futura 
zona de livre comércio, assinado em agosto de 1999 estabelece 
preferências fixas pelo prazo de dois anos entre o Brasil, Colômbia, 
Equador, Peru e Venezuela. A Bolívia, uma vez que firmou acordo 
com o Mercosul, não é signatária deste acordo.
O regime de origem é de 50% de conteúdo nacional, exceto 
países com menor grau de desenvolvimento econômico, que poderão 
ter 40%.
- Brasil-Cuba
Acordo firmado em dezembro de 1999 entre Brasil e Cuba, com 
vigência de três anos, a partir de janeiro de 2000. Trata-se de um 
acordo de cooperação econômica parcial de produtos. O índice de 
nacionalização estabelecido é de 50%.
- ALADI
 A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), 
assinado em agosto de 1980 é um acordo comercial que visa a 
implantação, de forma gradual e progressiva, de um mercado comum 
latino-americano, caracterizado pela adoção de preferências tarifárias 
e pela eliminação de restrições não-tarifarias.
Os países que compõem a ALADI estão classificados em três 
categorias:
 de menor desenvolvimento econômico relativo: Bolívia, Equador e 
Paraguai;
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 de desenvolvimento intermediário: Chile, Colômbia, Cuba, Peru, 
Uruguai e Venezuela;
 demais países: Argentina, Brasil e México.
Os acordos da ALADI podem ser do tipo bilateral, em que seus 
direitos e obrigações são aplicados exclusivamente aos países que os 
subscrevem e, de nível regional em que todos os países participam. 
Ainda a nível Regional, tem o chamado Lista de Abertura de Mercado 
(LAMs) que visa promover um nivelamento econômico regional por 
meio de concessões unilaterais outorgadas aos países de menor 
desenvolvimento econômico relativo, pelos demais. Para que os 
produtos possam fazer parte do acordo, o índice de nacionalização tem 
que ser no mínimo de 50% e para países de menor desenvolvimento 
econômico é de 40%.
- ALCA
Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi formalizada 
em 1994, com a reunião de 34 países do hemisfério, menos Cuba, na 
chamada Reunião de Cúpula das Américas. A finalidade era de 
elaborar metas e definir prazos para a concretização de um projeto de 
integração comercial em nível continental, que já iniciara com mais 
ênfase no final da década de 80.
O resultado dessa reunião foi uma Declaração de Princípios e 
um Plano de Ação para formação de uma área de livre comércio que 
entrará em vigor até 2005. Além disso, foram definidos nove grupos 
de negociações (acesso à mercados; agricultura; serviços; 
investimentos; compras governamentais; solução de controvérsias; 
direitos de propriedade intelectual; subsídios, antidumping e medidas 
compensatórias e políticas de concorrência). Cada grupotornou-se 
responsável em compilar informações, identificar problemas e fazer 
recomendações de como proceder nas suas respectivas áreas.
Essa rede de acordos, acima descritos, pode ser mais bem 
visualizada na Figura 1. 
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Figura 1
Nota-se que o Brasil está comprometido com uma União 
Aduaneira (Mercosul), quatro acordos de Cooperação Econômica, 
com objetivação futura de Livre Comércio (Bolívia e Chile com o 
Mercosul; Cuba, Colômbia, Venezuela Peru e Equador com o Brasil), 
ALADI que é um acordo eminentemente comercial e visa a formação 
de um Mercado Comum latino-americano, a ALCA ainda em 
negociação, visa a formação de uma Área de Livre Comércio. 
Além dos ARC de iniciativa latino-americanas, acima descritos, 
o Brasil, através do Mercosul, encontra-se em negociações com novos 
acordos além-continente que incluem iniciativas do tipo Inter-regional 
com a União Européia e a África do Sul.
Políticas Comerciais Internas
Os incentivos às exportações têm sido um dos elementos 
fundamentais da política comercial brasileira, destinado em parte a 
compensar as insuficiências nacionais. O desenvolvimento do 
processo de integração no Mercosul se apresenta como um dos 
principais objetivos no plano de acordos regionais. 
Em 1998, o antigo Ministério da Indústria e do Comércio (MIC) 
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Rede de ARC do Brasil na América Latina 
 
 
 
 
 
 
 
 Acordo sob ALADI União Aduaneira Acordo tipo Acordo 
 Negociação País-ARC entre países 
Fonte: Elaborado a Partir do trabalho de Estevadeordal, 2002, p.4. 
(*) Cuba não faz parte da ALCA. 
 
 Mercosul 
ALADI 
Brasil 
Argentina 
Paraguai 
Uruguai 
 Comunidade Andina 
 
Colômbia,Venezuela,Peru 
Equador 
 
• Bolívia 
Chile• 
Outras redes 
envolvendo 
demais países 
e ARC da 
América 
ALCA 
Cuba(*) 
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foi transformado em Ministério do Desenvolvimento, Indústria e 
Comércio Exterior (MDIC), com objetivos voltados para o 
crescimento da competitividade. As atribuições do novo MDIC, são as 
seguintes:
 Política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos 
serviços;
 Propriedade intelectual e transferência de tecnologia;
 Qualidade industrial;
 Políticas de comércio exterior;
 Aplicação dos mecanismos de defesa comercial;
 Participação em negociações internacionais e;
 Execução das atividades de registro do comércio.
Foram desenvolvidos diversos programas no âmbito do MDIC com 
vistas ao aumento da competitividade. Entre elas estão as medidas de 
incentivo às exportações brasileiras, adotadas a partir de 2001: 
 Implantação do Comitê de Gestão do Comércio Exterior – 
GECEX: tem o objetivo de implantar uma política de estímulo às 
exportações através do esforço conjunto de órgãos públicos e 
setores privados;
 Defesa Comercial: tem o objetivo de investigar ocorrência de 
dumping/subsídios e de dano nas exportações para o Brasil;
 Avaliação sobre barreiras: tem a finalidade de identificar e listar as 
barreiras às exportações brasileiras nos EUA, UE e no Japão;
 Convênio de Crédito Recíproco – CCR: conta com recursos do 
tesouro;
 Suplementação Orçamentária para o Programa de Financiamento 
às Exportações – Proex;
 Divulgação do Sistema Geral de preferências – SGP
 Missões comerciais ao exterior: têm o objetivo de promover o 
comércio e os investimentos;
 Estudos de mercados;
 Criação do Programa de Mercados e Produtos Prioritários para 
Exportação: tem a finalidade de incentivar os produtos que o Brasil 
possui vantagens comparativas;
 Portal de Exportador6 e Alice Web7, entre outras medidas.
Mas, apesar do esforço da política comercial brasileira, a 
mudança da política cambial, em 1999, desvalorizando a moeda, a 
6Portal do Exportador: disponível em www.portaldoexportador.gov.br – tem o objetivo de 
incentivar as exportações brasileiras através de informações e serviços.
7Alice Web: disponível em www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br – sistema de informação de 
dados estatísticos do comércio exterior brasileiro.
Rev. REPPIL@, v.1, n. 1, p. 31-46, 2003.
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http://www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br/
http://www.portaldoexportador.gov.br/
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crise da Argentina, o aumento do preço do petróleo e a falta de crédito 
externo, ocasionaram alterações nas previsões sobre juros e 
crescimento interno.
De acordo com MDIC (2001), um acompanhamento da situação 
econômica do Brasil e da América Latina feito pelos principais órgãos 
multilaterais, tais como BIRD, OMC e CEPAL acabam 
conseqüentemente interferindo no nosso comércio exterior. As 
principais idéias são:
Para o Banco Mundial (BIRD), em decorrência de uma possível 
crise americana, combinando queda na demanda e um aumento das 
taxas de juros, a América Latina é a região que mais seria afetada 
devido à elevada vulnerabilidade externa típica dos países desta 
região. O BIRD também aponta como fator restritivo do crescimento 
dos países da AL, as barreiras comerciais às importações de produtos 
agrícolas, nos países industrializados. 
Para a Organização Mundial do Comércio (OMC), 20% do 
valor exportado entre 2000/2001, na América Latina, vem do setor 
agrícola. Os países exportadores agrícolas, como é o caso do Brasil, 
estarão em melhores condições quando os preços forem determinados 
por condições mais justas de concorrências, devido ao elevado uso de 
subsídios à exportação por parte dos países centrais. Segundo a OMC 
o ideal seria que fosse dado um tratamento especial para os produtos 
agrícolas procedentes dos países em desenvolvimento.
Já, para a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe 
(CEPAL), o Brasil, em 2001, como também a Argentina, tiveram uma 
redução no nível de crescimento em relação a 2000. Essa redução foi 
ocasionada principalmente pelo menor acesso ao financiamento 
externo. No Brasil, destaca-se a crise energética e na Argentina a 
grave crise na política econômica. 
Comércio com a Argentina
O Brasil tem um papel fundamental no Mercosul, é a maior 
economia e o principal país comerciante da região em produtos 
agrícolas. Os mercados mais importantes para o Brasil são os Estados 
Unidos e o Mercosul, a Argentina principalmente, depois vem a União 
Européia.
Neste contexto, o Mercosul tem sido cada vez mais percebido 
como um bom instrumento para promoção da produção regional e 
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como forma de articulação para uma nova modalidade de inserção 
internacional para os países membros. 
Em apenas uma década de existência, o Mercosul produziu 
benefícios significativos na forma de criação de comércio, acelerou e 
ampliou as relações comerciais entre os países participantes. 
Machado (2000) analisa o impacto do processo de integração no 
Mercosul através de uma simulação que define o indicador agregado 
dos fluxos comerciais intra-regionais entre Argentina-Brasil, para o 
período que vai de 1985 a 1997, no qual ele chama de “efeito 
integração”. Os resultados obtidos desta simulação mostram que os 
acordos Argentina-Brasil e a implementação do Mercosul permitiram 
multiplicar por três o comércio bilateral entre os principais países da 
região. Ainda, ressalta a importância do Mercosul como negociador à 
crescente abertura comercial em relação a terceiros mercados.
O gráfico a seguir revela o importante papel que as importações 
brasileiras tiveram no desempenho comercial argentino. As 
exportações da Argentina para o mundo, exceto Brasil, não 
ultrapassaramo índice de 186,7%, no período de 1990 a 2001. Já, no 
que se refere às exportações para o Brasil, atinge um índice 
acumulado de exportações de 573,8%, até o final de 1998. Este 
percentual representa um total aproximado de exportações Ar-Br de 
US$ 1,4 bilhões, em 1990, para US$ 8,0 bilhões, em 1998. Nos anos 
seguintes, apresenta uma queda ficando em US$ 6,2 bilhões. Esta 
queda reflete o abalo nas relações comerciais entre os dois países e um 
retrocesso nos acordos do Mercosul, ocasionados pela mudança do 
regime cambial brasileiro.
Gráfico 1- Exportações Argentinas - 1990-01
0
100
200
300
400
500
600
700
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1988 1999 2000 2001
Ín
di
ce
Exp.Mundiais da Argentina menos Brasil Exp. da Argentina para Brasil
Fonte: Sistema Alice
Mas, para Machado (2000), o Mercosul já apresentava sinais de 
deterioração nas relações intra-regionais e uma falta de avanço nas 
negociações entre os quatro países. Medidas unilaterais de 
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licenciamento prévio e de restrições às importações e de subsídios, por 
parte dos gestores da política econômica, abalavam as relações e os 
fluxos de comércio intra-Mercosul dos maiores parceiros. 
Segundo Pereira (2000), o comércio entre Argentina-Brasil em 
1999 caiu US$10,44 bilhões, uma queda de 20,5% nas exportações e 
de 27,6% nas importações brasileiras com a Argentina, numa 
comparação de 1998 e 1999. As importações diminuíram nesses dois 
anos, de 16,3% para 13,7%. A desvalorização do real contribuiu para 
acirrar a crise da Argentina e aumentar as dificuldades nas indústrias, 
porém não pode limitar somente a este fator. Para as empresas 
exportadoras, a existência de barreiras não-tarifárias tem dificultado o 
comércio entre os países-membros, diminuindo o nível de venda das 
empresas do bloco. 
O cenário de crises no Mercosul acaba por abalar de forma mais 
profunda a economia da Argentina, pois apresenta uma maior 
dependência das suas exportações em relação ao Brasil. Observa-se, 
conforme Gráfico 2, no final de 1990 o mercado brasileiro 
representava em torno de 11,3% das exportações da Argentina e passa 
a representar 30,4%, no final de 1998. Nota-se um alto grau de 
dependência em relação ao comércio brasileiro. No mesmo período, o 
índice de dependência das exportações brasileiras em relação ao 
mercado Argentino é de 13,2%, que, apesar de apresentar um índice 
inferior, não deixa de ter uma importância significativa quando 
compararmos com 1990, que representava apenas 2,0%. 
 
Gráfico 2 - Participação das Exportações - 1990-01
0
5
10
15
20
25
30
35
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
94
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
Participaçãodas Exp. da Ar. no Br. Participação das Exp. Br. na Ar.
Fonte: Sistema Alice
Ainda, além de o mercado brasileiro representar um índice 
elevado no destino das exportações argentinas, aquele país é um dos 
poucos parceiros comerciais importantes com o qual a Argentina 
apresenta superávits comerciais (Pereira, 2000). 
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De acordo com o quadro abaixo, a participação da Argentina na 
balança comercial brasileira, em 2000, apresentava um déficit de 
US$610 Milhões; em 2001, um déficit de US$1204 Milhões e; em 
janeiro de 2002, os dados mostram um déficit de US$228 Milhões. O 
endividamento interno, a crise da Argentina e a falta de crédito 
exterior podem ser os motivos do déficit comercial.
Quadro 1. Intercâmbio Comercial Brasileiro com a Argentina
– em US$ Milhões FOB
2000 2001 2002*
Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo
Argentina 6.233 6.843 -610 5.002 6.206 -1.204 143 371 -228
Fonte: Secex
* Apenas o mês de janeiro
Pela importância comercial que o Mercosul representa para os 
países-membros, em nosso caso Argentina-Brasil, faz-se necessário 
um empenho ainda maior, por parte das autoridades competentes, no 
sentido de fortalecer, ampliar e aprofundar o acordo de integração, 
através da coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, da 
harmonização da legislação e a conquista de novos sócios. 
Embora existam muitos desafios a serem superados, o Mercosul 
possui vários fatores que convergem a seu favor. O bloco possui as 
duas bacias hidrográficas mais caudalosas do planeta: a da Amazônica 
e a da Prata. A Bacia da Prata abriga duas importantes hidrovias, a 
Paraná-Paraguai e a Paraná-Tietê, importantíssimas para a circulação 
de bens e a promoção do desenvolvimento econômico regional, 
Balloussier (2002).
Atualmente, o maior desafio do Mercosul é coordenar as 
estratégias de desenvolvimento entre os países do bloco. Ainda existe 
grande divergência nos produtos agrícolas, na tarifa externa comum, 
os Estados atuam individualmente, e não como entidade única 
representativa. O Mercosul não chegou ao estágio de integração em 
todos os níveis, por isso é considerada uma união aduaneira 
imperfeita.
Mas, se não houver esse aprofundamento, o Mercosul corre o 
risco de ser substituído por um acordo mais amplo, é o caso da ALCA 
que entra em vigências em 2005, deixando de ser um importante, 
talvez a função mais importante, instrumento de negociação junto aos 
demais países e blocos. 
Rev. REPPIL@, v.1, n. 1, p. 31-46, 2003.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após quase uma década de negociações multilaterais, o mundo 
opta por formar acordos regionais de comércio, bilaterais ou 
plurilaterais, com as mais variadas características e níveis de 
aprofundamento. 
Os Acordos Regionais de Comércio tornaram-se um processo 
efetivo para aumentar a competitividade dos países participantes e 
cultivar novos mercados através de políticas de integração 
preferenciais e por outras políticas de liberalização e de 
desregulamentação gradual de suas economias. 
O Brasil, no contexto América Latina, está envolvido em um 
processo de redes de acordos comerciais de convergência entre 
iniciativas de Acordos regionais e sub-regionais, com preferências ao 
Mercosul e de alianças menos rígidas e não exclusivas com os demais 
acordos. 
No entanto, as negociações com a ALCA, que prevêem uma 
área de livre comércio em 2005, podem gerar disputas internas com o 
Mercosul e inconsistências nas ligações do Mercosul e demais blocos 
que estão sendo pretendidos. 
Quanto às políticas do MDIC, o Brasil, procurou desenvolver 
diversos instrumentos visando aumentar o nível de crescimento do 
setor comercial. Nossos produtos, como o suco de laranja, açúcar e 
carnes em geral, tem barreiras por parte dos EUA, UE e Japão que vão 
desde imposição de tarifas, concessão de subsídios, medidas 
sanitárias, até quotas de exportação. O caso do açúcar é um dos mais 
preocupantes. O MDIC adotou algumas medidas de incentivo às 
exportações, como a Implantação do Comitê de Gestão do Comércio 
Exterior e a Defesa Comercial que tem o objetivo de investigar a 
ocorrência de dumping nas exportações para o Brasil.
O Mercosul ainda não está consolidado e as políticas comerciais 
com os membros do bloco e com outros países necessita de vários 
ajustes. 
Estas inconsistências nas regras e procedimentos adotados 
podem agir como barreiras à ampliação do comércio brasileiro, mas 
também, vir a anular os esforços de integração já alcançados pelos 
quatro países. 
O surpreendente incremento nas relações comerciais Argentina-
Brasil confirma a importância do Mercosul para países que buscam 
uma inserção ainda maior junto ao mercado mundial, ao contrário do 
Rev. REPPIL@, v.1, n. 1, p. 31-46, 2003.
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que muitos imaginavam de que o Mercosul serviria como um entrave 
à liberalização e ampliação do comércio. 
Para finalizar, percebe-se o Mercosul como um importanteinstrumento de política de negociação junto aos grandes blocos 
internacionais e como um alicerce para a inserção ao livre-comércio 
de forma gradual. Com isso, defende-se o aprofundamento dos 
acordos, não só econômicos, mas, principalmente, institucionais 
capazes de fortalecer as relações entre os países membros e com isso 
superar as ameaças internas e externas face às turbulências hoje 
vividas.
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