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NEOLOGISMOS EM UNDENGUE, DE JACINTO DE LEMOS - PARA UM GLOSSÁRIO

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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO 
FACULDADE DE LETRAS 
Departamento de Língua e Literaturas em Língua Portuguesa 
 
 
 
 
NEOLOGISMOS EM “UNDENGUE”, DE JACINTO DE LEMOS: 
PARA UM GLOSSÁRIO 
 
TRABALHO DE FIM DE CURSO DE LICENCIATURA APRESENTADO PARA A 
OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIADO EM LÍNGUA E LITERATURAS EM 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 
Por: 
João Fernando André 
Tutor: Jordão Buaza Caculo, Me. 
 
 
Luanda/2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEOLOGISMOS EM “UNDENGUE”, DE JACINTO DE LEMOS: 
PARA UM GLOSSÁRIO 
 
 
 
 
 
 
Por: 
João Fernando André 
Tutor: Jordão Buaza Caculo, Me. 
 
 
Luanda/2019 
 
 
ÍNDICE 
DEDICATÓRIA………...…………………………….…….……………..………iii 
AGRADECIMENTOS………………………..…………..……………….………iv 
RESUMO……....…………………….……………………...………………...…….v 
ABSTRACT…....…………………….……………….…………….………...……vi 
ÍNDICE…....…………………….……………….………………..……...………..vii 
0. INTRODUCÃO…………….……………….………………....……………….1 
0.1. Razão da escolha do tema…. …………...……….………………..…………….1 
0.2. Problema….…………………………. ……………………...………………….1 
0.3. Objectivos……………………………. ……………..………………………….1 
0.3.1. Geral….…………………………………...………………………….……….2 
0.3.2. Específicos….……...………………………………………………………….2 
0.4. Metodologia……………….……….……………..……………………………..2 
0.5. Relevância do estudo……………...…………..………………………………...3 
0.6. Delimitação do estudo………..…………..………...…………………………...3 
0.7. Estrutura do Trabalho………….…..…………..…………………...…………...4 
0.8. Dificuldades encontradas………..…………………..……………...…………...4 
0.9. Estudos anteriores………...……..…………………..………………...………...4 
CAPÍTULO I – O ESCRITOR E A SUA OBRA «UNDENGUE» ...............……5 
1.1.Escritor…………………….…...……………...……………...…….………........5 
1.1.1.Atribuições honrosas……………..………….……………...…….…………...5 
 1.2. Obras Publicadas………..…………….………………...……...……………….5 
 1.3. Resumo da obra ‘‘Undengue’’………..……..……….……....…….……….…..6 
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ……………………………..7 
2.1. Diferença Palavra vs Termo....………………………….….……..…….......…..7 
2.1.1. Palavra………..………………. ……..………..…………….………….....….7 
2.1.2.Termo.......…………………..…………...…..………………….…..…….........7 
2.2. Conceitos de neologia e neologismo ……...……………..………………...…...8 
2.2.1. Neologia……....……………………………............................................…….8 
2.2.2. Conceito de neologismos………...…………..……….……………………….8 
2.2.2.1. Tipos de neologismos…………….…..…………………………………….9 
2.3. Criação de neologismos…………..……………………….………………...….9 
2.3.1. Neologismo de forma …………………………………..….………...….…..10 
2.3.1.1. Derivação……………………………………..……………………………10 
2.3.1.2. Composição………………………………….…………………………….11 
2.3.1.2.1. Compostos por justaposição……..…………..…………………………..11 
2.3.1.2.2. Compostos por aglutinação…………………...….…..……………….…11 
2.3.1.3. Hibridismos………..………………………….…………………………...12 
2.3.1.4. Empréstimos……………………………..…………………………..…….12 
2.3.2. Neologismo semântico…………………………..…………………………..13 
2.4. Neologismos na Literatura……………………..………………………………14 
2.4.1. Lexicalização……………...…………. ……………...……………………...14 
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS 
DADOS………………………..………………......………..…..………………….17 
3.1. Conceito de corpus………….………………………...….……………………17 
3.2. Constituição do Corpus………………….…………...…..……………………17 
3.3. Análise e interpretação dos dados …...…..……….……………...……………18 
CAPÍTULO IV – GLOSSÁRIO …………………….…………………………...28 
4.1. Conceito de glossário…………………………..……………….……………...28 
4.2. Estrutura de glossário…………………………….…………….……………...28 
4.2.1. Modelo de glossário ……………………..…………………………………..29 
CONCLUSÃO……………………………..……………….……………………...45 
SUGESTÕES ……………………………….…………..………………………...46 
BIBLIOGRAFIA………………………….………...…..…………………...……47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
Aos meus pais: Francisco Domingos André e Engrácia Fernandes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 “Só conta história quem sofre.” 
 (Engrácia Fernandes, minha amada mãe) 
 
O meu sincero obrigado ao Mestre Jordão Caculo, aos professores do 
Departamento de Língua e Literaturas em Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da 
Universidade Agostinho Neto e a todos os meus professores do Ensino Geral. A todos 
eles devo, acima de tudo, a descoberta de que “as árvores, os rios, as pedras são cousas 
que verdadeiramente existem”. 
O meu muito obrigado também aos meus colegas, àqueles que percorreram este 
caminho comigo e que viveram com a mesma intensidade esta aventura, àqueles que já 
o tinham percorrido e que me ajudaram a perceber quais os trilhos certos e, sobretudo, 
ao Gonçalo Domingos Kizela, meu irmão e amigo: foi a ele, entre estes, que coube a 
maior fatia de paciência para me aturar e quem mais colaborou com o que fiz. 
Nada disto teria ainda sido possível sem a ajuda do INAGBE (Instituto Nacional 
de Gestão de Bolsas de Estudos) e da minha família. Aos meus pais, aos meus irmãos, 
aos meus tios, o meu maior obrigado. Os meus sinceros agradecimentos também 
àqueles que me são mais próximos; ao Joaquim Vieira Dias, pelo apoio; ao Manuel da 
Costa Gil; à Jandira, claro, por tudo, mesmo tudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Este trabalho científico, «Neologismos em “Undengue”, de Jacinto de Lemos, 
para um glossário», tem o intento de descrever e classificar, do ponto de vista 
morfossemântico, os neologismos encontrados na obra “Undengue”; destacar o 
processo de formação de palavras mais produtivo na referida obra, resumir a mesma e 
propor a constituição de um glossário. Assim, com base nos pensamentos dos teóricos já 
conhecidos no estudo dos neologismos e outros recursos de formação de palavras em 
língua portuguesa, ficou sabido que os neónimos, naquela obra, são símbolo de 
angolanidade e dão expressividade a ela. Também ficou patente que os neologismos 
mais frequentes, nela, são os criados por empréstimo, propriamente, os kimbundismos, 
ilustrando, desta feita, a relação entre a lexicologia e a literatura. 
Palavras-chave: Neologismo, Undengue, Expressividade, Angolanidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
This work, «Neologisms in“Undengue”, of Jacinto de Lemos, for a Glossary», 
has the aim of describe and classify, according to morphology and semantics, the 
neologisms found into the work “Undengue”, summarize it, and propose the 
constitution of a glossary. So, based on the theoretical regarding in studies of 
neologisms and another resources of word formation in portuguese language, remain 
known that the neologisms, in that work of art, are symbol of angolanity and they give 
expressiveness to that book. Also remain evident that the most frequent neologisms, in 
the work, are the servants starting from the borrowing resource, in particular, the 
kimbundisms, illustrating, that way, the relationship between Linguistics and Literature. 
Key-words: Neologisms, Undengue, Expressiveness, Angolanity 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
0. INTRODUÇÃO 
A língua é um sistema aberto. Na medida em que o tempo vai passando e vão 
surgindo novas realidades, ela permite que se lhe insiram novos vocábulos no seu 
repositório lexical. 
O léxico de uma língua pode ser enriquecido com a criação de novas palavras. 
Ora, as novas unidades lexicais podem surgir através da utilização dos processos 
morfológicos de criação de palavras que a língua fornece ou, também, por meio de 
outros processos não-morfológicos. 
Desta feita, a partir do uso artístico de novos vocábulos, fazemos a nossa 
monografia, isto é, por meio dos neónimos que existem na obra literária «Undengue», 
do escritor angolano Jacinto de Lemos. 
0.1. Razão da escolha do tema 
Sendo amantes da linguística e da literatura, queríamos fazer um estudo que 
unisseas duas áreas de conhecimento. Assim, pensamos que o campo da neologia seria 
o melhor para o nosso intento. Ora, lemos a obra «Undengue» e procuramos fazer uma 
recolha dos neologismos que nela se encontram para, então, resumirmos a mesma e 
analisarmos as unidades neológicas mais frequentes nela do ponto de vista 
morfossemântico. 
0.2. Problema 
O léxico de uma língua actualiza-se com novas palavras. Estas novas palavras 
podem surgir da sociedade ou, também, por meio dos escritores, como podemos constar 
na obra «Undengue». Assim, vamos apresentar os neologismos mais frequentes na 
referida obra e sugerir a criação de um glossário. Porém, antes, vamos procurar dar 
resposta à seguinte questão de partida: 
- Qual é o processo de formação de palavras mais produtivo entre as criações de 
neónimos em «Undengue»? 
0.3. Objectivos 
0.3.1. Geral 
- Entender os processos morfossemânticos existentes na construção dos 
neologismos. 
0.3.1. Específicos 
- Resumir a obra onde são retirados os neologismos; 
- Salientar os processos de formação de palavras mais produtivos na referida 
obra literária; 
- Constituir um glossário com os neologismos mais frequentes em aquela obra. 
0.4. Metodologia 
A recolha de dados foi feita com base na frequência dos neónimos na obra, ou 
seja, tendo em conta o número de vezes que cada nova unidade lexical foi utilizada pelo 
escritor de «Undengue». 
No que concerne à análise dos dados obtidos no corpus da nossa monografia, 
usamos o método indutivo. Neste método, «Os pesquisadores tendem a analisar a 
informação de uma forma indutiva, desenvolvendo conceitos e chegando à compreensão 
dos fenómenos a partir dos padrões convenientes de recolha de dados. Não procuram 
informação para verificar hipóteses». Utilizamos, ainda, corpus de exclusão para a 
análise dos dados, como o Dicionário Electrônico Houaiss da Língua Portuguesa 2.0a 
e o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, porque estas obras serviram de 
meios para verificarmos se a acepção utilizada pelo escritor do livro já está atestada. 
Ora, para darmos sustento à nossa monografia, recorremos à pesquisa bibliográfica ou 
documental. Esta «assenta na busca de ferramentas bibliográficas para a explicação do 
assunto em causa e visa seleccionar, tratar e interpretar informação bruta existentes em 
suportes estáveis com o objectivo dela extrair algum sentido, ou seja, este tipo de 
pesquisa pressupõe recolha de testemunho de todo um trabalho antes feito, onde 
inserimos algum valor aumentado com fito de que futuros pesquisadores possam 
desempenhar o mesmo papel». 
 
 
 
0.5. Relevância do estudo 
 Em o nosso entender, o estudo da obra «Undengue» é de tamanha importância, 
porquanto não existe, de acordo com as nossas investigações, um estudo sobre as 
neologias desta benquista obra. Desta feita, é relevante fazer este estudo, pois uma obra 
literária tem o condão de ser um local de propagação e repositório de neónimos. 
0.6. Delimitação do estudo 
O estudo baseia-se na obra «Undengue», do escritor angolano Jacinto de Lemos, 
cujo teor é sobre a adolescência e a juventude de Janeiro, personagem principal da obra, 
e as vivências nas periferias de Luanda. 
0.7. Estrutura do trabalho 
 No que concerne à estrutura do nosso trabalho, fizemos uma abordagem 
apresentada em duas partes: 
- Na primeira, encerramos os elementos pré-textuais: a dedicatória, os 
agradecimentos, o resumo do trabalho, e o índice. 
- A segunda parte guarda quatro capítulos: o primeiro é reservado ao autor e a sua 
obra como fonte do nosso objecto de investigação. 
- O segundo capítulo é reservado à fundamentação teórica de alguns conceitos 
ligados ao nosso tema, como: o conceito de palavra, termo, neologia, neologismo, tipos 
de neologismos, etc. 
- O terceiro capítulo encerra a apresentação dos neologismos encontrados na 
referida obra, o corpus do nosso trabalho e, em seguida, a análise e interpretação dos 
dados. 
- O quarto capítulo encerra a proposta de elaboração de um glossário com os 
neologismos encontrados em «Undengue» e, mais para lá, a conclusão e a bibliografia. 
0.8. Dificuldades encontradas 
Durante a feitura do nosso trabalho, deparamo-nos com dificuldades de 
encontrar falantes que tenham o kimbundu como língua materna que nos queriam ajudar 
a compreender, com naturalidade, os empréstimos, kimbundismos, que o escritor 
Jacinto de Lemos utiliza na composição do seu romance e, por outro lado, deparamo-
nos com a escassez de dicionários bilingues, isto é, kimbundu-português. 
0.9. Estudos anteriores 
 No campo dos estudos das neologias em obras literárias, temos alguns estudos, 
como o de COSTA, João (2010), «Análise de Neologismos em Mia Couto: a utilização 
da derivação e o caso particular da amálgama» (Porto). E o de JÚLIO, António Gunza 
(2016), «Neologismos em ‘‘O Cão e os Caluandas’’ de Pepetela» (Luanda). Porém, 
como já salientamos, não encontramos um estudo sobre as neologias da obra literária 
«Undengue», do escritor angolano Jacinto de Lemos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I – O ESCRITOR E A SUA OBRA «UNDENGUE» 
1.1. Escritor 
Jacinto de Lemos nasceu em Ícolo e Bengo, a 2 de Janeiro de 1961, fez os seus 
estudos primários e secundários na mesma localidade. 
Sobre Jacinto de Lemos, diz o crítico literário Kanjimbo que a sua narrativa 
caracteriza-se pelo modo como apresenta a paisagem social suburbana luandense e as 
personagens que tipificam o seu universo social, feito, nomeadamente, de humor e 
relações conflituosas, destacando-se entre os intervenientes crianças, mulheres e 
homens ociosos ou marginais. Do ponto de vista da linguagem, os diálogos, a narração 
dos factos, e a descrição dos ambientes em que interagem aquelas personagens, são os 
aspectos mais visíveis. 
Por seu turno, o escritor Cristóvão afirma que Jacinto de Lemos é um verdadeiro 
operário da palavra, um griot, um prosador de palavras simples, límpidas, fluindo como 
a água da fonte. Ele considera o belo, o ligeiro, cativante e recriado discurso em prosa, 
assente no linguajar popular. 
1.1.1. Atribuições honrosas 
Como escritor, Jacinto de Lemos teve as seguintes atribuições honrosas: 
- Menção honrosa do Prémio Sonangol de Literatura pela obra‘‘Undengue’’, em 
1986; 
- Prémio Sonangol de Literatura pela obra ‘‘A Dívida da Peixeira’’, em 2002. 
1.2. Obras Publicadas 
O escritor publicou as seguintes obras: 
1. Undengue (1989); 
2. O Pano Preto da Velha Mabunda (1997); 
3. A Dívida da Peixeira (2001); 
4. Chico Nhô (2008). 
 
 
 
 
1.3. Resumo da obra «Undengue» 
Na obra «Undengue», Jacinto de Lemos narra a história de um homem, desde a 
sua infância (como o diz o título em kimbundu) até a juventude, as suas aventuras, a sua 
fase de escolarização, e o seu namoro com uma jovem, Joaninha. 
No meio das aventuras de Janeiro (personagem principal), o escritor consegue 
fotografar a periferia de Luanda dos anos 1980 a 1986, ocomportamento daspessoas que 
habitavam as zonas que perfaziam a periferia de Luanda, as brigas entre as peixeiras e 
os jovens e, também, o comércio nos mercados informais e o escritor procura denunciar 
o hábito que os jovens, naquela época, tinham: de ir receber feitiço para vencerem as 
lutas e serem respeitados pela população das suas zonas e das zonas circunvizinhas. 
Trata-se de uma obra que marca um tempo, uma sociedade e, em particular, a 
vida de dois jovens enamorados: Janeiro e Joaninha. Joaninha, moça mulata que era 
desejada por muitos jovens do seu bairro, e Janeiro, um jovem brincalhão, atrevido e 
inteligente. 
Encerrado o primeiro capítulo, onde mostramos o escritor e a obra «Undengue», 
a biobibliografia e o resumo da obra «Undengue», fonte de obtenção do nosso objecto 
de estudo, pensamos que podemos partir para o próximo capítulo, onde vamos 
fundamentar a nossa monografia com conceitos que apoiarão a análisedos dados 
atinentes ao nosso tema: ‘‘Neologismos em «Undengue», de Jacinto de Lemos: para um 
Glossário’’. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
Aqui, vamos apresentar alguns conceitos que servirão de suporte para a nossa 
monografia, tendo em conta a visão de alguns estudiosos conhecidos no campo da 
neologia. 
2.1. Diferença Palavra vs. Termo 
 2.1.1. Palavra 
Villalva (2007:11) afirma que a definição de palavra é uma questão complexa e 
tem dado origem a variados debates, dado que os diversos níveis de análise linguística 
usam critérios e procuram respostas não necessariamente coincidentes. 
Em o nosso entender, a palavra é todo o item linguístico com um lado sono, 
outro físico e que se refere a uma realidade do mundo extralinguístico. 
Ora, na visão da mesma estudiosa (2007:11), para a morfologia, as palavras são 
estruturas, ou seja, são formas analisáveis em unidades menores a que se dá o nome de 
constituintes morfológicos. 
Segundo Undolo (2019:47), o termo palavra, em rigor, deverá designar uma 
unidade significativa, podendo, pelo menos, ser resultado da associação entre morfema 
lexical e morfema gramatical. O autor afirma ainda que aquelas que são indivisíveis 
chamam-se palavras simples. E as divisíveis em partes menores chamam-se palavras 
complexas. 
Nascimento e Pinto (2006:18) salientam que as palavras não são as pessoas, as 
coisas, os factos, as ideias, os sentimentos, as intenções; são, isso sim, os seus 
substitutos, os seus símbolos, sinais ou signos 
2.1.2. Termo 
Os neónimos e os termos, unidades lexicais especializadas das ciências e das 
técnicas, representam os conceitos, que, em muitas áreas do conhecimento, não têm um 
carácter internacional, mas são sensíveis à cultura de um determinado país ou 
comunidade (cf. Lino et. al., 2010). 
De acordo com Cíntia (2016), o Termo é a unidade linguística num conceito 
oracional. 
Segundo a nossa visão, baseada em alguns autores, se, por um lado, a palavra é 
polissémica, do outro lado, o termo é monossémico, apresenta um significado específico 
em uma determinada área técnica, científica ou artística. 
2.1. Conceitos de Neologia e Neologismos 
2.2.1. Neologia 
Porque a língua não é estática e os falantes estão em constantes mudanças de 
pensamentos e, com o passar dos tempos, vão surgindo novas realidades no mundo 
extralinguístico, têm surgido as novas unidades lexicais. 
Para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2013), a neologia é a 
criação ou o uso de palavras novas ou de novas acepções. Por outro lado, o dicionário 
define-a também como o estudo dessas palavras ou dessas acepções novas. 
Na visão do Dicionário Online de português (2009), a neologia é (i) o processo 
através do qual novas unidades léxicas (palavras, expressões, vocábulos) são formadas, 
utilizadas ou empregadas e (ii) o registro de novas unidades léxicas, de novas palavras, 
expressões. 
Pensamos que o termo neologia surge da língua grega. À partida, une-se o 
elemento néos (novos) à unidade logos (discurso, tratado ou ciência). De aí funde-se o 
termo neologia, significando o estudo de os neónimos de forma ou de sentido. 
2.2.2. Conceito de Neologismo 
Por ser uma realidade dinâmica, a língua está em constante renovação, através, 
nomeadamente, da criação de novos vocábulos que, assim, enriquecem o seu léxico. 
Estes vocábulos novos são chamados neologismos. (cf. Estrela, 2013:219). 
Nos dizeres de (Villalva, 2008:50), neologismos são, pois, palavras que, num 
dado momento da existência de uma língua são consideradas palavras novas, como 
telemóvel, cujo aparecimento no final do século xx motivou a integração da palavra no 
léxico do Português. 
Assim, com base nos dizeres destas autoras, podemos inferir que todas as 
palavras que integram o léxico de qualquer língua num determinado momento, quer 
sejam criadas ou emprestadas de outras línguas, acabam por ser consideradas como 
neónimos, pois não existem desde a génese da língua. 
 
2.2.2.1. Tipos de neologismos 
A formação de neologismos ocorre por meio de processos morfológicos e, não-
morfológicos. 
Tendo em conta tais mecanismos, pode-se encontrar diversificados tipos de 
neónimos na obra literária «Undengue», do escritor angolano Jacinto de Lemos. 
Sendo assim, abaixo, apresentamos vários tipos de neologismos nas palavras de 
Vitorino (2018): 
a) Neologismo lexical, aquele que surge quando nós damos um novo conceito a 
uma determinada palavra. 
b) Neologismo semântico, o que surge quando atribuímos uma nova dimensão 
linguística a uma palavra já existente. 
c) Neologismos sintático, o que dá uma nova significação a um conjunto de 
palavras, expressões. 
d) Neologismo literário, o que está dentro das linguagens poéticas, mais 
utilizados pelos poetas 
e) Neologismo popular, o que é criado pelas populações de dadas regiões, o 
mais comum, utilizado na linguagem popular. 
f) Neologismo completo, o que é criado dentro da língua. 
g) Neologismo incompleto, aquele que é muito próximo do neologismo 
semântico, 
2.3. Criação de Neologismos 
Estrela (2013:220) dá-nos a seguinte lição sobre a criação de neologismos: 
Neologismo é, não só uma palavra ou expressão de criação recente, mas 
também uma nova acepção atribuída a uma palavra já existente no léxico, que, 
assim, sofre um alargamento semântico. A criação de neologismos é inevitável e 
até desejável, quando é necessário nomear uma nova realidade, mas deve fazer-se 
no respeito pela estrutura própria da língua. Os neologismos só devem ser aceites, 
quando ocupam um campo semântico até aí vazio. 
A prazo, a tendência normal dos neologismos é a da sua integração total na 
língua, à medida que o seu uso se vai tornando mais frequente e o falante vai, 
assim, perdendo a sensação de estranheza que, de início, tais palavras novas lhe 
provocavam. Actualmente, por exemplo, já não é fácil conservar a consciência de 
que automóvel ou aeroporto tenham sido neologismos. 
A condição de neologismo de uma dada palavra representa uma das facetas 
mais transitórias de uma língua. Torna-se, por isso, difícil, marcar, num dado 
momento, o que é neologismo, o que já deixou de o ser e o que está a tentar entrar 
na língua, mas, provavelmente, irá ser rejeitado. 
2.3.1. Neologismo de forma 
Do ponto de vista da construção da palavra, podemos destacar dois processos: a 
composição e a derivação. 
Sobre estes dois processos de formação de palavras morfologicamente, Bechara 
(2009) diz que a composição consiste na criação de uma palavra nova de significado 
único e constante, sempre e somente por meio de dois radicais relacionados entre si. E a 
Derivação consiste em formar palavras de outra primitiva por meio de afixos. 
2.3.1.1. Derivação 
No que diz respeito à derivação, Estrela et. al. (2013) consideram que as 
palavras derivadas formam-se por sufixação, por prefixação, por derivação regressiva e 
por derivação imprópria. 
À luz dos pensamentos de Pinto (2007), chamam-se palavras derivadas as que se 
formaram a partir de outra, à qual se juntou um ou vários prefixos e sufixos. 
Podemos confirmar as teorias desses autores com as seguintes palavras: 
(1) sociável (2) intramuscular (3) abotoar (4) o jantar 
Porém, Bechara (2009) explica que na língua literária e técnica, os derivados 
formam-se dos radicais de tipo latino em vez dos de tipo português quando este sofreu a 
evolução própria da história da língua: áureo (e não ouro), capilar (e não cabelo), 
aurícula (e não orelha). 
Os afixos se dividem, em português, em prefixos (se vêm antes do radical) ou 
sufixos (se vêm depois). Daí a divisão em derivação prefixal e sufixal. 
Derivação sufixal: livraria, livrinho, livresco. 
Derivação prefixal: reter, deter, conter. 
 
Matos (2012) defende a ideia de que a derivação é um processo de formação de 
palavras a partir de outras já existentes onde as palavras derivadas estabelecem com apalavra base uma relação semântica e formal. 
2.3.1.2. Composição 
Segundo Villalvaat. al. (2003:45), a composição é um processo de formação de 
palavras que consiste na concatenação de duas ou mais variáveis lexicais, que podem 
ser radicais ou palavras. 
Noslen (2016) entende que a composição é um processo de formação de novas 
palavras, unindo palavras que já existem. Segundo o mesmo autor, normalmente, a 
composição trabalha com dois radicais. Há dois tipos de composição: por justaposição e 
por aglutinação. 
Para Matos (2012), a composição é o processo de formação de palavras em que 
se associam duas ou mais formas de base. 
2.3.1.2.1. Compostos por justaposição 
Para Pinto (2006:63), a composição por justaposição acontece quando os 
elementos constituintes continuam a manter uma independência de acentuação, mas o 
significado já é diferente do que tinham inicialmente. 
Na visão de Noslen (2016), na composição por justaposição, nenhuma das 
palavras formadoras perdem fonemas ou letras.Como podemos ver em (6), (7) e (8): 
(6) passatempo (7) girassol (8) guarda-chuva 
2.3.1.2.2. Compostos por aglutinação 
Nos dizeres de Borregana (2003), são compostas por aglutinação as palavras em 
que os dois termos se unem tao estreitamente que ficam sujeitas ao mesmo acento – o 
da segunda. 
Por outro lado, o estudioso Noslen (2016) afirma que na aglutinação pelo menos 
uma das palavras formadas perdem fonemas ou letras.Como se pode constatar em (9), 
(10) e (11): 
(9) planalto (10) planície (11) vinagre 
 
 
 2.3.1.3. Hibridismos 
Os hibridimos são as palavras formadas por elementos de línguas distintas. Eles 
surgem por causa do contacto de povos que falam línguas diferentes ou, normalmente, 
em países onde o multiguismo existe. 
 Segundo Chicuna (2015:59), entende-se por híbridos as unidades lexicais 
compostas por elementos provenientes de línguas diferentes. 
2.3.1.4. Empréstimos 
Villalva (2008:64) afirma: ‘‘A introdução de palavras de uma língua de origem 
numa língua alvo é um processo antigo e frequentemente atestado. A recepção destas 
palavras estrangeiras é que nem sempre é idêntica. Não é raro encontrar gramáticos e 
falantes que criticam ou rejeitam o uso de palavras não vernáculas, tendo até termos 
como estrangeirismo, decalque ou galicismo uma certa conotação pejorativa. Assim se 
explica que o uso de uma palavra como detalhe (do Francês détail) ou gafe (do Francês 
gaffe) seja desaconselhado por puristas, que recomendam, em sua substituição, 
pormenor e deslize, respectivamente. Por vezes, a introdução de empréstimos suscita 
mesmo polémica, dado que se trata de um processo relacionado com a história social da 
comunidade linguística que os veicula e daquela que os acolhe.’’ 
Segundo o Dicionário electrônico Houaiss da língua portuguesa 2.0a (2007), o 
empréstimo é a incorporação ao léxico de uma língua de um termo pertencente a outra 
língua [Dá-se por diferentes processos, tais como a reprodução do termo sem alteração 
de pronúncia e/ou grafia (know-how), ou com adaptação fonológica e ortográfica 
(garçom, futebol).] 
No que concerne àgénese dos empréstimos, Sablayrolls (ApudChicuna, 2015) 
aventa a seguinteteoria: «le classment des emprunts se fait solvente selon les sources 
auxquelles les lexies sont empruntéens. Il ne faut cependant pas confrondre langue 
d´origine de la lexie et langue à laquele la langue emprunteuse l´emprunte: certaines 
lexies passent par plusieurs langues». 
Na visão de Villalva (2008:65), a ocorrência de empréstimos é, no entanto, um 
fenómeno incontornável e muitas vezes difícil de evitar, dada a inexistência de léxico 
autóctone com idêntico valor referencial. A sua introdução pode ocorrer por via directa 
ou pode ser mediada por uma outra língua; e pode ser objecto de (maior ou menor) 
conformação fonética e morfológica ao Português tomando como base a realização 
fonética da palavra na língua de origem ou a sua forma gráfica. Os empréstimos que 
transitam directamente são empréstimos directos, como os seguintes: 
Castelhano: mantillaPortuguês: mantilha 
Os que são introduzidos na língua de chegada por intermédio de uma outra 
língua são empréstimos indirectos. É o que se verifica nos seguintes casos: 
Grego: pharmakéiaLatim: pharmaciaPortuguês: farmácia 
Atenta-se que a conformação dos empréstimos às propriedades morfológicas e 
fonológicas do Português e, consequentemente, a sua realização fonética e o modo 
como são grafados, não são sistemáticas (ibidem). 
Verificam-se hesitações tão mais frequentes quanto mais recente for a 
introdução do empréstimo, relacionadas com o facto de a adaptação poder privilegiar a 
sonoridade da palavra de origem (alterando-se a grafia na forma de chegada) ou a sua 
forma gráfica (alterando-se a pronúncia e fazendo apenas alguns ajustes na grafia da 
forma de chegada): 
 Inglês - lunch>lanche 
As propriedades gramaticais das palavras, nomeadamente o género dos nomes, 
também podem ser modificadas. É frequente que o género atribuído a um empréstimo 
seja o masculino, mesmo que na língua de origem essas palavras tivessem género 
feminino, mas também se regista o caso inverso (ibidem): 
Francês - une robe >um robe 
2.3.2. Neologismo semântico 
A língua, não sendo estática, mas sim dinâmica, vai permitindo com que, com o 
passar dos anos, uma dada unidade lexical ganhe outros significados, ou seja, outros 
valores semânticos, de acordo com a comunidade linguística que a utiliza. 
Também, no lugar de Neologismo semântico, podemos chamar de Extensão ou 
derivação semântica. Que, segundo Villalva (2008:57), consiste na atribuição de um 
novo significado a uma palavra já existente: papel (do Latim PAPÝRUS, nome de uma 
planta), por exemplo, começa por referir uma ‘substância formada por matérias vegetais 
ou de trapos reduzidos a massa, e disposta em folhas, para se escrever, embrulhar, etc’. 
Posteriormente, passou a ser usado como sinónimo de ‘obrigação, dever’, mas também 
passou a referir a ‘parte de uma peça teatral que cabe a cada actor’. 
Para Pinto (2007), há neologismo semântico quando atribuímos a uma palavra 
um sentido novo, que antes não tinha. Acontece, portanto, um alargamento ou extensão 
de sentido. 
Matos (2012) salienta que «dada a necessidade de referenciar novas realidades, 
as palavras podem adquirir novas significações, alargando o âmbito do seu significado». 
2.4. Neologismos na Literatura 
Os escritores são, por natureza, pessoas que têm muito a dizer. Ao escreverem, 
muitas vezes, as palavras já existentes nas línguas não são, para eles, suficientes para 
expressarem dadas emoções. Ora, com o intuito de enriquecerem os léxicos das línguas 
naturais e demonstrarem as suas capacidades de recriação, eles vão, ao longo do curso 
da história, criando novas unidades lexicais. Porém, na maioria das vezes, todas as 
unidades lexicais criadas por estes não chegam a sair das obras para serem utilizadas 
pelos falantes das sociedades. Assim, os seus neónimos ficam encerrados, meramente, 
nas suas obras literárias para fins estilísticos ou de catarse. 
2.4.1. Lexicalização 
Fato com que nos devemos acostumar no estudo do léxico de uma língua é o que 
se chama lexicalização, idiomatização ou desmotivação, isto é, um processo de 
opacificação que as palavras vão sofrendo ao longo da sua permanência e uso na língua. 
(cf. Sandmann, 1997:67) 
Segundo Villalva (2007:34), a existência de uma palavra complexa é 
frequentemente afectada por fenómenos de natureza formal ou semântica, como as 
assimilações fonéticas, o desrespeito pelas propriedades gramaticais dos constituintes ou as 
alterações do significado. A intervenção de um ou mais destes fenómenos provoca um 
efeito de erosão na palavra complexa, conduzindo à sua 
lexicalização, ou seja, à perda da informação sobre a sua estrutura interna, e, em última 
análise, à sua progressiva transformação em palavra simples. As palavras lexicalizadaspodem ser analisadas morfologicamente, mas não podem determinar padrões de formação 
de palavras. 
Continuando o seu pensamento, a mesma autora (2007:44) diz que formas como 
bezidróglio, que teve uma vida efémera num concurso de televisão dos anos 70 do 
século XX, ou como escanifobético, podem ser inventadas, sendo o produto da 
criatividade dos falantes, basta que a sequência fonética resultante seja reconhecível 
como uma palavra dessa língua e que a sua categorização sintáctica seja plausível. Este 
tipo de invenção de palavras, totalmente imotivado, é um processo por vezes utilizado 
na criação literária. 
Como podemos ver em um dos textos de Mário Cesariny e em algumas unidades 
lexicais criadas pelo escritor moçambicano Mia Couto: 
(12) meumaresperantotòtémico 
minhamàlanimatógrafurriel 
minhanoivadiagem serpente 
meuèliòtròpolipo polar 
meu fiambre de sol de roseira 
minha musa amiantulipálida 
meulustrefrenado céu grande 
minhaafiàurora manhã 
minhafôgoécia de estátuas 
minhalabrioquimia cerrada 
minha ponta na terra meu arsgrima 
meudiamantermita acordado! 
Urânia, de Jorge de Sena 
Puríliaamancivalvaemergidanto, 
imarculado e rósea, alviridente, 
naazúreajuventilconquinomente 
transcurva de aste o fido corpo tanto... 
Tenras nadáguas que oculvivam quanto 
palidiscuro, retradito e olente 
é mínimo desfincta, repente, 
rasga e sedente ao duro latipranto. 
Adónica se esvolve na ambolia 
de terso antena avante palpinado. 
Fímbril, filível, viridorna, gia 
emtúlidamancia, vaivinado. 
Transcorre uníflo e suspentreme o dia 
noturno ao lia e luçardente ao cado. 
 
(13) Abensonhada, argumentiras, destremido e vivibundo 
 (COSTA, João, 2010:73) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS 
DADOS 
3.1. Conceito de corpus 
O corpus é determinante para uma investigação, pois dele dependem os objectivos e 
a descrição a afectuar. (cf. Chicuna, 2015) 
Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa (2007), o corpus é 
o conjunto de documentos sobre determinado tema. 
Para Galisson e Coste (apud Chicuna 2012:125), corpus é o conjunto finito de 
enunciados tomados como objecto de análise. Frey (1997) diz que os objectivos do 
trabalho condicionam a constituição e a dimensão do corpus. 
3.2. Constituição do corpus 
No presente subcapítulo, apresentamos o corpus da nossa monografia, composto 
por meio das várias leituras que fizemos e pelas ocorrências, ou seja, o número de vezes 
que cada unidade neológica ocorre no romance. Por meio das quais, constituímos um 
inventário dos neologismos encontrados na obra ‘‘Undengue’’, do escritor angolano 
Jacinto de Lemos. Ora, a partir do levantamento feito, organizamos 28 unidades 
neológicas, que podem ser verificadas na lista abaixo. 
1. Buááá 
2. Capata 
3. Cavalona 
4. Chá sem açúcar 
5. Chumbação 
6. Dicutumonar 
7. Difunzas 
8. Distraíção 
9. Disuka 
10. Fitucada 
11. Fuefuetar 
12. Fuma 
13. Jingongo 
14. Matriale 
15. Mbuuaaaummmm 
16. Muzangala 
17. Nguzo 
18. Quinamas 
19. Sá 
20. Sabotação 
21. Safua-safua 
22. Sengar 
23. Testar 
24. Tumates 
25. Ualalááááá 
26. Uenji 
27. Ulumba 
28. Vingação 
3.3. Análise e interpretação dos dados 
(1) Buááá 
A presente unidade é um neologismo fonológico, construído a partir da abordagem 
das normas neolúdicas, criação onomatopaica. Tendo em conta o contexto, é uma 
onomatopeia que o escritor Jacinto de Lemos cria para imitar o som do rasgar de um 
objecto, no caso, vestuário. 
Como se pode ver na seguinte passagem da obra: 
«A calça buááá, se dividiu no meio…» (p. 94) 
(2) Capata 
Capata é um neologismo morfológico. A sua formação é feita por malabarismo 
lexical, ou seja, o escritor aproveita-se dos recursos imagéticos para o criar. Na obra, é 
um substantivo feminino e tem significado de coragem, bravura. 
Como se pode verificar no contexto: 
«Monandengue também com capata dele de homem estava chorar comporrada, mas 
a fazer cansar a sá Berta». (p. 39) 
«Senhoras cavalonas, cheias de capata de lutar, lhe fecharam no meio com outras 
galhetas, lhe levantaram e lhe arrumaram no chão». (p. 57) 
(3) Cavalona 
O item neológico cavalona está formado por derivação sufixal: caval– + –ona. 
Trata-se de um nome feminino, tendo em conta o seu determinante e pela razão de o 
referido sufixo nominal latino –ona ocorrer, quando usado na Língua Portuguesa, nos 
nomes femininos. Na obra «Undengue», ele aparece como um substantivo feminino e 
significabruta, forte. 
Vejamos as seguintes passagens da obra: «Nga Zefa, peixeira e cavalona dali da 
quitanda das Corridas, presenciou uma vez esta confiança dos monas e lhe falou p´ra 
xingar as mães deles com puta que parius, filhos daisso e daquilo». (p. 16) 
«Vocês não têm fama de cavalonas desta quitanda? Porquê que não bate?» (p. 52) 
(4) Chá sem açúcar 
O neologismo Chá sem açúcar é um neologismo sintagmático. É feito por meio da 
combinação dos elementos sintagmáticos. Chá sem açúcar, não se referindo ao acto de 
tomar chá sem açúcar, metaforiza apenas um significado a estes elementos, no caso, 
réplica, contestação. Na visão de Alves (2004:50), há neologismo sintagmático 
«quando os membros integrantes de um segmento frasal encontram-se em uma intima 
relação sintáctica, tanto morfológica quanto semanticamente, de forma a constituírem 
uma única unidade léxica». Como ocorre neste caso, em (4). 
Como se pode verificar no contexto: 
«Bem dizer já andava com sede de dar um chá sem açúcar no professor». (p. 85) 
(5) Chumbação 
A unidade neológica chumbação é um neologismo morfológico, formado por 
derivação sufixal: chumb– + –ação. No radical do verbo chumbar (chumb–) é 
adicionado o elemento posposto –ação. Na obra, a referida unidade, significa 
reprovação. De realçar que o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 
(versão 2.0a- Abril de 2007) traz uma acepção do verbo chumbar com o significado de 
reprovar em exame. 
Atentemos para a seguinte passagem do romance: 
«E começou a citar o nome daqueles que iam nos exames e também daqueles que já 
estavam na chumbação e a explicar do porquê que uns estavam na lista da chumbação e 
outros na lista da proposta». (p. 86) 
(6) Dicutumonou 
O neologismo dicutumonou, pretérito perfeito do verbo dicutumonar (enervar, 
zangar),está formado por duas partes, uma base, radical, kimbundu dicutumon–e a 
desinência portuguesa –ou. Trata-se de um verbo formado por hibridismo. O elemento 
dicutumon– foi importado da unidade dikutu (dobrar), do kimbundu. Na obra, ele 
significa agir de modo diferente, mudar de atitude, enervar-se. 
Verifiquemos o seguinte contesto: 
«Cota com este fala-fala dos assistentes dicutumonou». (21) 
(7) Difunzas 
A referida unidade é um empréstimo. A importação ocorreu a partir do substantivo 
kimbundu difunza (grande confusão, briga, luta). O escritor pluraliza o nome difunza do 
kimbundu, adicionando-o o morfema «-s» no final. Segundo a norma da língua 
portuguesa, o grafema «s» é a marca do plural das palavras do português, normalmente. 
Podemos verificar no seguinte contesto: 
«As viagens pararam, as difunzas também foram reduzindo no seu número». (p. 59) 
(8) Distraíção 
Em (8), trata-se de um neologismo morfológico. Formado por lexicalização de 
forma, ou seja, o autor recorre aos recursos imagéticos para o criar. Ao invés de 
distracção, o autor escreve distraíção, alterando a fonologia do contínuo sonoro, e, 
consequentemente, o sistema morfológico da palavra vernácula, ou seja, adiciona o 
segmento «í»à palavra distracção. Pelo contexto, ela significa desatenção, desleixo. 
Constata-se nos trechos abaixo: 
«Foi nesta distraíção que o mais-velho carvalho aproveitou pôr fim àquela luta. 
Cota, assim que largou o muzangala, bateu os pés no chão, fez voz grossade bandido 
antigo». (p. 28) 
«Tinhas de lhe apanhar na distraíção. Caso contrário, não lhe conseguias». (p. 69) 
(9) Disuka 
Esta é uma unidade do kimbundu. Trata-se de um empréstimo, da língua kimbundu 
para o português. Jacinto de Lemos utiliza o mesmo para dar estilo e angolanidade a sua 
obra «Undengue», mostrando a situação de adestrato (Câmara JR: 1977) do português 
com o kimbundu, língua nacional de Angola. Ora, pelo contexto, porque o escritor 
narrava sobre um acto de Nga Zefa, a protagonista da primeira narrativa que compõe o 
seu romance «Undengue», significa embate. 
Como se pode verificar no contexto: 
 «Senhora já não acabou de falar por causa da disuka com o cota. E tod´ela 
maluca com a disuka, apanhou a banheira de alumínio que trazia e procurou a cabeça do 
cota Carvalho». (p. 18) 
(10) Fitucada 
A presente unidade é um neologismo morfológico. É o particípio do verbo 
fitucar (exaltar, zangar) e também é um adjectivo. É formada por meio de hibridismo, 
uma parte, o radical, do verbo fituka, do kimbudu (zangar-se, revoltar-se), fituka–, e o 
elemento –da, que é, normalmente, marca dos particípios dos verbos regulares da língua 
portuguesa. 
Como se pode verificar no contexto: 
«Mais-velho, sentado num luando ali no quarto, contou os casos desde a 
começada da luta até no fim. Nga Zefa, toda fitucada, inda foi contra ele porque andou 
lhe dizer p´ra ele xingar os monas». (p. 55) 
(11) Fuefuetar 
Em (11), temos um neologismo morfológico, propriamente, um hibridismo. 
Formado com um radical, fuefuet– , do verbo kimbundu kufwefweta(murmurar). A este 
radical é acrescido a desinência dos verbos regulares da primeira conjugação em 
português: –ar. No contexto, semanticamente, significa segredar, confidenciar. 
Podemos constatar esse facto no seguinte passagem da obra: 
«- Ah, vocês ainda não sabem? – perguntou a velha na vizinha, na medida em 
que lhe encostava p´ra fuefuetar bem os casos». (p. 66) 
«Velha olhou na direcção onde estava a nora, depois na porta do quintal e voltou 
a fuefuetar». (p. 67) 
(12) Fuma 
Esta unidade lexical é um kimbundismo, pois, na língua kimbundu, segundo o 
nosso informante (João Gaspar, professor de língua kimbundu) a unidade 
lexicalfumaestá ligada ao acto de ser famoso, ter fama. Na obra, este verbo tem o 
significado de: fama, respeito, honra. 
Pode-se verificar no seguinte contexto: 
«Era mesmo da fuma. Tinha fama de verdade». (p. 59) 
«A fuma dessas peixeiras começou já mesmo em Malanji e veio descendo, 
descendo até Luanda». (p. 59) 
«E se não se porem a pau, esta derrota vai terminar com a fuma deles. 
Conhecidos como a malta do ZÉ». (p. 75) 
(13) Jingongo 
Em (13), trata-se de uma importação. O escritor faz empréstimo do item lexical 
jingongu (dores)- da língua kimbundu- para causar mais estilo e dar angolanidade 
literária a sua obra, aportuguesando-o, porquanto esta palavra, em kimbundu, deriva de 
ngongu (dor, sofrimento). 
Como se pode verificar no seguinte contexto: 
«Mateus não podia morrer ainda agora. Porque o jingongo que ´stou apanhar 
com estes filhos, esta hora podia…» (p. 18) 
(14) Matriale 
A referida unidade é um neologismo fonológico. É formado por meio das 
normas neolúdicas, ou seja, trata-se da utilização do malabarismo lexical numa unidade 
já existente, no caso, «material». Em nosso entender, o escritor faz a sincope do fone 
«e», e o acresce, no fim do referido item lexical para obter um outro significado, em 
forma de paragoge. Na obra, podemos concebê-la, semanticamente, como pénis. 
Podemos constatar no seguinte estrato: 
«A calça buááá, se dividiu no meio, matriale todo p´ra fora, pessoas ali, 
UÓÓÓÓ». (p. 94) 
«- Pessoa mesmo que não quer ver matrialedo home da outra, mas, deixa. Estes 
miúdos t´obrigam a ver essas coisas…» (p. 95) 
(15) Mbuuaaaummmm 
Qual em (1), mbuuaaaummmmn é um neologismo fonológico, construído a 
partir da abordagem das normas neolúdicas, criação onomatopaica. Ora, se nos atermos 
ao contexto, é uma onomatopeia que o escritor Jacinto de Lemos criou para imitar o 
som da buzina de um caminhão. 
Como se pode verificar no contexto: 
«Assustou só ali no meio da estrada, mbuuaaaummmmn o berro do carro 
grande». (p. 96) 
(16) Muzangala 
Muzangala é, qual em alguns neologismos que vamos analisando por aqui, um 
empréstimo da língua kimbundu. Ele tem a significação de jovem, moço. 
Podemos constar no seguinte estrato: 
 «Muzangala Isidro, que não contou com aquela queda, tanto ele como o 
companheiro, não teve tempo de desarmar. Os pés varreram o chão, levaram pedrinhas, 
papeis, cascas de canas, caroços de mangas…» (p. 24) 
«Sem perder tempo, deu um acalco no muzangala que estava lhe socar. Este foi 
parar na gentada.» (p. 25) 
(17) Nguzo 
O referido item lexical é emprestado da língua kimbundu. É sabido que Angola é 
uma nação multilingue. Jacinto de Lemos, na obra «Undengue», aportuguesa algumas 
unidades lexicais da língua kimbundu para maior expressividade e estilo a sua obra. 
Ngunzu, em kimbundu, significa força, energia. 
 Como podemos visualizar no seguinte estrato: 
«Ah, aqui ´stou à pega! Se não fazer nguzo, que chega, estes gajos vão me 
varrer, mais, do bom varrer… - pensou o dicota». (p. 23) 
(18) Quinamas 
Em (18), trata-se de um empréstimo. O escritor aportuguesa a unidade lexical 
kinama (singular deinama,pernas), da língua kimbundu, dando-a, assim, características 
do sistema morfológico da língua portuguesa. Sabido é que o morfema «s», quando 
colocado no final das palavras, em português, é marca do plural. Ora, para indicar duas 
pernas, o autor aportuguesa o referido vocábulo. 
Como podemos observar o uso da referida unidade neológica no seguinte estrato 
retirado do romance: 
«Zé e o Chiquinho tinham já se pegado nas quinamas p´ra se vumunarem». (p. 
131) 
(19) Sá 
A presente unidade é um neologismo morfológico. É formado por meio das 
normas neolúdicas, ou seja, trata-se de uma lexia inusitada. Pelo seu uso seguido de um 
nome próprio, na obra, tem o significado de senhora, dona. É uma forma de tratamento. 
Vejamos as seguintes passagens do romance: 
«Na tarde do dia seguinte, sá Berta como tinha raiva de bater no miúdo Janeiro, 
quando lhe apareceu ali na frente, lhe provocou mesmo até que lhe bateu». (p. 38) 
«Sá Berta ficou maluca com as dores, grito de socorro apareceu». (p. 40) 
(20) Sabotação 
Sabotaçãoé um neologismo morfológico, formado por derivação sufixal: sabot– 
+ –ação. No radical do verbo sabotar, sabot–é acrescido um elemento posposto, –ação. 
Pelo contexto, refere-se ao acto de sabotar, sabotagem. 
Por exemplo, no seguinte contesto: 
«Muitos queriam ouvir o Professor, começaram ficar chateados com esta 
sabotação». (p. 85) 
(21) Safua-safua 
Esta é uma unidade formada por meio do redobro ou reduplicação. Pode ser 
visto como um neologismo morfológico, formado por elementos não existentes no 
léxico do português, mas sim no kimbundu. Para o nosso informante, Safua-safua, em 
kimbundu, é um ideofone que remete para o acto de fazer algo apressadamente.É uma 
lexia inusitada, tendo em conta as normas neolúdicas. Em nosso conceber, ela foi 
formada por meio da utilização de recursos imagéticos, porquanto ela é usada no 
momento da trama, com o significado de coisa à toa, suja, rasgada, complexa. 
Como podemos ter em conta no seguinte exemplo: 
«Foi então que chegou outro muzangala, amigo chegado do Isidro. Miguel, 
nome dele. Rapaz de olhos vermelhos, cabelo safua-safua, camisa amarrada na banda 
do umbigo, calção esquartejado na bainha, cheios de letras de amor, parecia um calu-
puro, afinal, não. Era mbora do Santomé». (p. 23) 
 (22) Sengar 
Este item lexical é, tal como em (11), um neologismo formado por hibridismo, 
isto é, uma parte da língua kimbundu, seng–, e outra da língua portuguesa, -ar, a 
desinência. Na obra, Sengar é um verbo, no infinitivo, significando comprar. Realça-se 
que o elementoseng– foi importado, propriamente, do verbo kusenga (Separar, 
divorciar, desprezar). É sabido que, linguisticamente, o português, em Angola, está em 
situação de adestrato, ou seja, convive com as línguas nativas ou nacionais. 
Como se pode verificar no seguinte contexto: 
«Agora com loja de madeira a servir todos populares do bairro, às vezes pessoas 
doutros bairros vão também sengar aí na loja, ninguém podia mesmo com ele». (p. 144) 
(23) Testar 
Trata-se de um neologismo semântico, pois que o significante testar já existe no 
léxico do português, porém com outros significados (segundo o Dicionário Eletrônico 
Houaiss da língua portuguesa, 2007, testar poderá significar legar, atestar, encher, 
provar ou golpear a bola com a testa). Pelo contexto de utilização, refere-se a atirar ou 
deitar. 
Como exemplo, temos o contesto abaixo: 
«Lhe pegou e lhe testou no chão. Lhe levantou de novo pronto p´ra lhe testar 
segunda vez, mas nesta hora rapaz também não estava mais se conhecer só de raiva». (p. 
39) 
 (24) Tumates 
A referida unidade é um neologismo morfológico. Formado por meio de 
elementos, fonético-morfológicos, que constam da língua portuguesa, o referido 
significante, criado no plural, significa testículos. Ela é formada por meio da alteração 
no segmento da palavra tomates, isto é, ocorre dissimilação no fone «o», 
transformando-se em«u». 
No seguinte contexto, temos o exemplo: 
«Mais-velho, sem mais saída […] apertou os tumates do gajo.» (p. 25) 
«Todos se trapalharam e um deles é que domou a mão do cota a puxar os 
tumates do muzangala». (p. 26) 
(25) Uenji 
Esta é uma unidade proveniente da língua kimbudu. Trata-se de um empréstimo 
directo do Kimbundu, língua de partida, para o português, língua de chegada. Ela não 
altera o seu significado do kimbundu, esta mantém o seu significa denotativo: negócio. 
«Sá Berta senhora rabujenta, mas, boazinha no fundo, fez jantar p´ra os doze 
muzangalas que estavam aí presentes, apesar dalguns rejeitarem o convite da funjada, 
preferiram varrer aqueles abacates meio bons do uenji. Negocio que lhe fracassou neste 
dia». (p. 37) 
(26) Ulumba 
Tal e qual em (27), trata-se de um empréstimo directo, da língua kimbundu para 
a língua portuguesa. Mantendo o seu significado denotativo: juventude, mocidade. 
Podemos constatar no contexto abaixo: 
«Uma coisa que na vida não espera, é o tempo. O tempo vem e passa. Arrasta 
tudo que encontrar. De bom, de mau, leva. Só deixa ficar no coração da pessoa, a 
lembrança de um dia. Desta infância. 
Desta infância que vou vos contar. Infância do meu amigo Janeiro, que fez Nga 
Zefa, irmã do cota Carvalho, voltar nos seus tempos de ulumba». (p. 16) 
(27) Vingação 
Qual em (5), vingação é um neologismo morfológico, formado por derivação 
sufixal, a partir do radical ving– (do verbo vingar) mais o elemento posposto –ação: 
ving– +–ação. Na obra, ele é criado para ser utilizado, estilisticamente, no lugar do 
tradicional vocábulo que expressa a acção de se vingar: vingança. 
Vejamos a utilização do neologismo no seguinte estrato: 
«Miúdos com raiva deles de monandengues rabujentos e assanhados, fizeram 
vingação no professor, no dia dos exames». (1009) 
(28) Ualalááááá 
Trata-se de uma unidade tida como neologismo fonológico, formado por meio 
das normas neolúdicas, ou seja, é uma criação onomatopaica. De acordo com o 
contexto, foi criada para imitar o barulho do movimento rápido de Janeiro (protagonista 
do romance) quando este não foi agarrado por Mário (que lhe queria dar uma surra). O 
nosso informante afirma que este item lexical, nas sociedades ambundu, é utilizado para 
irritar alguém durante uma dada brincadeira. 
Como se pode verificar no contexto: 
«Miúdo só fez dessa, depois dessas, ualalááááá…» (70) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO IV – GLOSSÁRIO 
4.1. Conceito de glossário 
Para o Dicionário Electrónico Houaiss da Língua Portuguesa (2007), um 
glossário é um pequeno léxico agregado a uma obra, principalmente para esclarecer 
termos pouco usados e expressões regionais ou dialetais nela contida; vocabulário. 
Segundo Correia (apud Júlio 2016), um glossário é uma lista restrita de 
vocábulos de um determinado domínio do conhecimento, de um determinado registo 
linguístico, específicos da obra de um autor, constituída por neologismos, arcaísmos e 
regionalismos. Muitas vezes, essa lista pode ser apresentada, por exemplo, como anexo 
a uma obra. 
Nos dizeres do Dicionario Universal (2006), um glossário é um vocabulário em 
que se explicam palavras pouco conhecidas. 
4.2. Estrutura de glossário 
Para a feitura de o glossário de neologismos, evidenciámos Bimbi (apud Júlio 
2016:50), que «propõe uma estrutura por meio de uma ficha lexicográfica, que dispõem 
de um conjunto estruturado de campos, permitindo armazenar conteúdos de cariz 
linguístico». 
Para alguns estudiosos citados por Bimbi (apud Júlio 2016), a ficha constitui um 
meio indispensável para a consecução de um produto lexicográfico, no sentido de 
permitir o registo de dados linguísticos. Trata-se de um documento multifuncional e 
complexo que está subdividido em campos. 
Desta feita, abaixo mostramos o formato da ficha lexicográfica para o glossário 
de neologismos em «Undengue»: 
Entrada lexicográfica 
Categoria Gramatical 
Definição 
Contexto 
Fonte 
Nota 
Etimologia 
 
1. A parte da Entrada lexicográfica indica o neónimo; 
2. A área categoria gramatical apresenta as informações morfológicas dos 
neónimos contextualizados; 
3. A parte da definição encerra a significação do neónimo; 
4. A área contexto dá indicações do uso do referido neónimo, facultando o seu 
entendimento; 
5. A parte fonte contém informações ligadas ao escritor e a obra onde 
encontramos o neónimo; 
6. O campo nota pode apresentar algumas informações históricas, ortográfica 
ou fonética, atinentes ao neónimo em situação; 
7. O campo etimologia contém informações da origem da palavra nova, pois 
com a etimologia podemos conhecer o étimo e a evolução da palavra desde a 
sua origem até hodiernamente. 
4.2.1. Modelo de glossário 
Neste ponto, preenchemos o quadro acima ilustrado. Outrossim, mostramos uma 
microestrutura do glossário com os neónimos mais frequentes na obra «Undengue». 
(10) Buááá 
Entrada lexicográfica Buááá 
Categoria Gramatical Substantivo onomatopaico (s. onom.) 
Definição Nome atribuído ao rasgo da calça. 
Contexto «A calça buááá, se dividiu no meio […], pessoas ali na 
gritaria». (p. 94) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Item neológico formado com base nas normas 
neolúdica: criação onomatopaica 
Etimologia 
 
(11) Capata 
Entrada lexicográfica Capata 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s.m.) 
Definição O acto de ter coragem, vontade ou bravura. 
Contexto «Monandengue [miúdo Janeiro] também com capata 
dele de homem estava chorar comporrada, mas a fazer 
cansar a sá Berta». (p. 39) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Trata-se de um item neológico formado com base na 
lexicalização. 
Etimologia 
 
(3) Cavalona 
Entrada lexicográfica Cavalona 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Nome atribuído a uma pessoa pela sua força e a 
brutalidade. 
Contexto «Nga Zefa, peixeira e cavalona dali da quitanda das 
Corridas, presenciou uma vez esta confiança dos monas 
e lhe falou p´ra xingar as mães deles com puta que 
parius, filhos daisso e daquilo». (p. 16) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Neologismo feito por meio da derivação sufixal. 
Etimologia 
 
(12) Chá sem açúcar 
Entrada lexicográfica Chá sem açúcar 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s. m.) 
Definição Nome dado ao desejo decontestar. 
Contexto «Senhora não era do grupo da senhora Sabrita, mas 
também veio bem disposta. Bem dizer já andava com 
sede de dar um chá sem açúcar no professor».(p. 85) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Neologismo sintagmático, formado por meio da 
combinação dos elementos sintagmáticos. 
Etimologia 
 
(13) Chumbação 
Entrada lexicográfica Chumbação 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Acto ou efeito de reprovar, constar da lista de 
reprovados. 
Contexto «E [o professor Jandombo] começou a citar o nome 
daqueles que iam nos exames e também daqueles que já 
estavam na chumbação e a explicar do porquê que uns 
estavam na lista da chumbação e outros na lista da 
proposta». (p. 86) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Substantivo criado a partir da derivação sufixal. 
Etimologia De chumb+-ação 
 
(14) Dicutumonou 
Entrada lexicográfica Dicutumonou 
Categoria Gramatical Verbo transitivo (v. tr.) 
Definição Aportuguesamento do vocábulo kimbundudikutu 
(dobrar), 3ª pessoa do singular no pretérito perfeito do 
verbo (neologismo) dicutumonar (enervar, zangar) 
Contexto «Cota com este fala-fala dos assistentes dicutumonou». 
(21) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Formação híbrida, radical kimbundu e desinência 
portuguesa. 
Etimologia Da palavra kimbundu dikutumon mais o morfema 
português -ou 
 
(15) Difunzas 
Entrada lexicográfica Difunzas 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Aportuguesamento do substantivo kimbundudifunza 
(confusão, briga), no plural. 
Contexto «Agora estão já bocado cansadas. As viagens pararam, 
as difunzas também foram reduzindo no seu número». 
(p. 59) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Empréstimo do kimbundu, kimbundismo. 
Etimologia Do Kimbundu difunza 
 
(16) Distraíção 
Entrada lexicográfica Distraíção 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Acto de estar distraído, distrair (-se). 
Contexto «Tinhas de lhe apanhar na distraíção. Caso contrário, 
não lhe conseguias». (p. 69) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Formado de acordo com a lexicalização de forma. 
Etimologia De distração 
 
(17) Disuka 
Entrada lexicográfica Disuka 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição O mesmo que embate, choque ou encontro impetuoso. 
Contexto «Senhora já não acabou de falar por causa da disuka 
com o cota. E tod´ela maluca com a disuka, apanhou a 
banheira de alumínio que trazia e procurou a cabeça do 
cota Carvalho». (p. 18) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Empréstimo, Kimbundismo. 
Etimologia Do Kimbundu disuka 
 
(10) Fitucada 
Entrada lexicográfica Fitucada 
Categoria Gramatical Adjectivo (adj.) 
Definição O mesmo que ficar enervada, zangada ou aborrecida. 
Contexto «Mais-velho, sentado num luando ali no quarto, contou 
os casos desde a começada da luta até no fim. NgaZefa, 
toda fitucada, inda foi contra ele porque andou lhe dizer 
p´ra ele xingar os monas». (p. 55) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Formado por hibridismo: kimbundu e português. 
Etimologia Do Kimbundu kufituka 
 
(11) Fuefuetar 
Entrada lexicográfica Fuefuetar 
Categoria Gramatical Verbo transitivo (v. tr.) 
Definição Segredar, dizer coisas em voz baixa. 
Contexto «- Ah, vocês ainda não sabem? – perguntou a velha na 
vizinha, na medida em que lhe encostava p´ra fuefuetar 
bem os casos». (p. 66) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Norma neolúdica, neo-humor 
Etimologia 
 
(12) Fuma 
Entrada lexicográfica Fuma 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição O mesmo que fama ou reputação. 
Contexto «Afuma dessas peixeiras começou já mesmo em 
Malanji e veio descendo, descendo até Luanda». (p. 59) 
 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Kimbundismo 
Etimologia Do Kimbundu kufuma 
 
(13) Jingongo 
Entrada lexicográfica Jingongo 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s. m.) 
Definição O mesmo que sofrimento, dor. 
Contexto «Mateus não podia morrer ainda agora. Porque o 
jingongo que ´stou apanhar com estes filhos, esta hora 
podia…» (p. 18) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Empréstimo, kimbundismo 
Etimologia Do Kimbundu jingongu 
 
(14) Matriale 
Entrada lexicográfica Matriale 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s. m.) 
Definição Pénis, órgão genital masculino. 
Contexto «- Pessoa mesmo que não quer ver matrialedo home da 
outra, mas, deixa. Estes miúdos t´obrigam a ver essas 
coisas…» (p. 95) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Voltado às normas neolúdicas e a fonologia. 
Etimologia De material 
 
(15) Mbuuaaaummmm 
Entrada lexicográfica Mbuuaaaummmm 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s.m.) 
Definição Imitação do som da buzina deum camião). 
Contexto «Assustou só ali no meio da estrada, mbuuaaaummmmn 
o berro do carro grande». (p. 96) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Criação onomatopaica, voltada às normasneolúdicas. 
Etimologia 
 
(16) Muzangala 
Entrada lexicográfica Muzangala 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s. m.) 
Definição Jovem ou moço. 
Contexto «Muzangala Isidro, que não contou com aquela queda, 
tanto ele como o companheiro, não teve tempo de 
desarmar. Os pés varreram o chão, levaram pedrinhas, 
papeis, cascas de canas, caroços de mangas…» (p. 24) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Empréstimo do kimbundu (língua angolana). 
Etimologia Do kimbundu muzangala 
 
 
 
 
(17) Nguzo 
Entrada lexicográfica Nguzo 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s.m.) 
Definição Força, fúria. (tentativa de aportuguesamento de ngunzu) 
Contexto «Ah, aqui ´stou à pega! Se não fazer nguzo, que chega, 
estes gajos vão me varrer, mais, do bom varrer… - 
pensou o dicota». (p. 23) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Kimbundismo, empréstimo. 
Etimologia Do Kimbundu ngunzu 
 
(18) Quinamas 
Entrada lexicográfica Quinamas 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Aportuguesamento do substantivo kimbunduKinama 
(perna). Pernas. 
Contexto «Zé e o Chiquinho tinham já se pegado nas 
quinamasp´ra se vumunarem». (p. 131) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Empréstimo, Kimbundismo. 
Etimologia Do Kimbundu kinama 
 
 
(19) Sá 
Entrada lexicográfica Sá 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Senhora, dona. 
Contexto «Sá Berta ficou maluca com as dores, grito de socorro 
apareceu». (p. 40) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Lexia inusitada, norma neolúdica. 
Etimologia De senhora 
 
(20) Sabotação 
Entrada lexicográfica Sabotação 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição Acto de sabotar. 
Contexto «Muitos queriam ouvir o Professor, começaram ficar 
chateados com esta sabotação». (p. 85) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Formação por derivação sufixal. 
Etimologia De sabot+-ação 
 
(21) Safua-safua 
Entrada lexicográfica Safua-safua 
Categoria Gramatical Adjectivo (adj.) 
Definição À-toa, sujo. 
Contexto «Rapaz de olhos vermelhos, cabelo safua-safua, camisa 
amarrada na banda do umbigo, calção esquartejado na 
bainha». (p. 23) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Formação por composição justaposta. 
Etimologia 
 
(22) Sengar 
Entrada lexicográfica Sengar 
Categoria Gramatical Verbo transitivo (v. tr.) 
Definição Comprar, acto de ir às compras. 
Contexto «Agora com loja de madeira a servir todos populares do 
bairro, às vezes pessoas doutros bairros vão também 
sengar aí na loja, ninguém podia mesmo com ele». (p. 
144) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Em Angola, esta unidade é um regionalismo, 
compreendido como o acto de divórcio ou separação 
entre os conjugues. Ora, no romance, Jacinto de Lemos 
dá outro significado a este verbo, a dizer: comprar. 
É um neologismo formado por hibridismo. 
Etimologia 
 
(23)Testar 
Entrada lexicográfica Testar 
Categoria Gramatical Verbo transitivo (v. tr.) 
Definição Extensão semântica do verbo testar: Atirar ou Deitar. 
Contexto «Lhe pegou e lhe testou no chão. Lhe levantou de novo 
pronto p´ra lhe testar segunda vez, mas nesta hora rapaz 
também não estava mais se conhecer só de raiva». (p. 
39) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Neologismo semântico. 
Etimologia De atestar 
 
(24) Tumates 
Entrada lexicográfica Tumates 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s. m.) 
Definição Testículos, cada uma das duas gônadas masculinas, de 
formato ovóide. 
Contexto «Mais-velho, sem mais saída […] apertou os tumates do 
gajo.» (p. 25) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Norma neolúdica, malabarismo lexical. 
Etimologia De tomates 
 
(25) Uenji 
Entrada lexicográfica Uenji 
Categoria Gramatical Substantivo masculino (s. m.) 
Definição O mesmo que negócio, comércio. 
Contexto « […] Apesar dalguns rejeitarem o convite da funjada, 
preferiram varrer aqueles abacates meio bons do uenji. 
Negocio que lhe fracassou neste dia». (p. 37) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota É um empréstimo do kimbundu. 
Etimologia Do Kimbundu wenji 
 
(26) Ulumba 
Entrada lexicográfica Ulumba 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição O mesmo que juventude, mocidade. 
Contexto «Infância do meu amigo Janeiro, que fez NgaZefa, irmã 
do cota Carvalho, voltar nos seus tempos de ulumba». 
(p. 16) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Kimbundismo, Empréstimo. 
Etimologia Do Kimbundu ulumba 
 
(27) Vingação 
Entrada lexicográfica Vingação 
Categoria Gramatical Substantivo feminino (s. f.) 
Definição O mesmo que desforra. 
Contexto «Miúdos com raiva deles de monandengues rabujentos 
e assanhados, fizeram vingação no professor, no dia dos 
exames». (109) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Formado por derivação sufixal. 
Etimologia De vingança. 
 
(28) Ualalááááá 
Entrada lexicográfica Ualalááááá 
Categoria Gramatical Substantivo onomatopaico (s. onom.) 
Definição Nome atribuído ao som produzido porum movimento 
rápido. 
Contexto «Miúdo só fez dessa, depois dessas, ualalááááá…» 
(70) 
Fonte Jacinto de Lemos, in Undengue, 2015 
Nota Norma neolúdica, onomatopeia. 
Etimologia 
 
 
CONCLUSÃO 
Depois de várias leituras meticulosas à obra «Undengue» de Jacinto de Lemos, e 
das questões de partida que deram origem a essa monografia, percebemos que os 
neologismos mais frequentes na obra são os informais, onde o recurso mais utilizado é o 
empréstimo, propriamente, os kimbundismos (com 13 neónimos). Em «Undengue», os 
neologismos servem como meio de expressividade, angolanidade e deleite, usados pelo 
escritor para marcar o seu estilo de escrita. 
Para além dos kimbundismos, o recurso mais frequente na obra, vimos ainda 
outros processos de formação de palavras - morfológicos e não-morfológicos – como 
são os casos da derivação sufixal (com quatro neónimos), da extensão semântica (com 
dois neónimos), de alguns processos ligados à lexicalização de forma, às normas 
neolúdicas, onomatopeias, malabarismos lexicais, lexias inusitadas (com oito neónimos) 
e a composição por justaposição (curiosamente, o recurso menos utilizado na referida 
obra, com um neónimo). 
Destarte a literatura, utilizando a função poética da linguagem, tem o condão de 
levar os indivíduos leitores, seus eternos amantes, ao deleite, à informação, formação, 
consciencialização e, por fim, ao domínio dos diferentes modos de como a língua é 
utilizada pelos escritores, em particular, e pelos falantes, em geral, numa determinada 
sociedade (dialectos, socioletos, gírias, calão). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUGESTÕES 
Feito o nosso trabalho científico, gostaríamos de apresentar, meramente, três 
sugestões, a dizer: 
 Que sejam feitos mais trabalhos linguísticos (nas áreas da Fonética, Fonologia, 
Morfologia, Sintaxe, Semântica e Lexicologia) dentro da obra literária 
«Undengue», de Jacinto de Lemos; 
 Sabendo que só há literatura porque existem as línguas, sugerimos que sejam 
feitos mais trabalhos que interliguem a Linguística à Literatura, propriamente, 
relacionados ao enriquecimento do léxico das respectivas línguas naturais; 
 E, por último, que a Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto crie, 
nos seus cursos de línguas e literaturas, um «Plano de Leitura» de obras de 
escritores angolanos lidos no país e na diáspora, visto que a cultura livresca 
ainda é um problema no seio de muitos estudantes universitários em Angola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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