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Revista de comercio e contabilidade, Lisboa, 1926

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DLca
·~+CONTÀ8ILID~E·:·
-----
LIIBOA
~1926~~,N. 1 .\
~
REVISTA DE COMERCIO E CONTABILIDADE
DutECT ,R. AO .'oIINISnAOOR E ED ITOR ; tRANClSCO CAETANO DIAS
P/K)PRfEDADE DA I:: ,WPREZA DA REI'ISTA DE CO.wENC/O
Rcdacçi o e Admini~traçio (pro'iisorias): RUI Coelho da Rocha, 16, 1.0 LISBOA
SUMÁRIO DO N.o 1 (JANE IRO, 1926) : Palavras Iniciais A Essencia do Comercio
- A Cctaçãc Ccl. f. inclui as Despesas emn. Factura Consu.lar? A Avaliaçio
das Mercadorias no lnventano Como 0$ Ou tros nos Vêem - A Inutilidade dos
Co nselhos fiscais e dos Co miss ãríos do Governe nos B:IO COS t' nas Socieda des
An611infas Conta bilidade; Proble mas de Lançamentos.
SAI NO DIA 2S DO MEZ A QUE:: DI Z RESPEITO.
N ummJ arulso ; Esc, 1S00; Assinoluro (por 6 nUf//t'TOs) : Esc. "$00.
(Paro as Colonias (' &trangn"ro Ol'l'tSn, rm ambol> os l'a$(l~ o porlt).
ES CREVER
MAR CA
DE
SUADA
UMA MAQUINA
DIGNA
5 ANOS DE OARANlJA
Pkt'ÇO ; 100 DOLLAkS
• RUA DOS RETROZElkOS. 58
LISBOA
TELEl: c. /020
EM 18.75
-
MAQUINA DE ESCREVER
A ' ~SMITIi PREMIER" foi a primeira verdadeira
!
EM 192 6
I A "SMITIi PREMIER" i a primeira
MAQUINA DE ESCREVER
O NOVO MODELO No. 60, DE
TECLADO REDUZIDO. TEM 46
TECLAS COM 92 CARACTERES,
MAIS 6 '/0 DE MAQUINA QUE
QU ALQ UE R OUT RA MARC'A.
O f iCINA DE REPARACOES - A
PRIMEIRA QUE SE ESTABELE·
CEU EM PO RTUGAL, HA 20
ANOS.
CONCESSIONI\RIOS EM PORTUGI\L E ILHI\S
H. B raamcamp Sobral, Lda.
LISBOA - 86, Rua do Arsenal, 90- -- - - - -
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duplicadores e de escritorio
RUA DOS FANQ UEIROS, 376, 2.", D.
l Telefone N.'e 3536 LIS B OA End.Tel.jOSANÃO
A
REVISTA
E Co
DE COMERCIO
TABILIDADE
ENCARREGA·SE, DESEMPE·
NHANDG-SE COM PLENA COM-
PETENCIA E PERfEiÇÃO. DE
TR ABALHOS DE REDACÇÃO
E TRADUCÇÃO EM PORTU·
GUES, FRANCEZ E INGLEl, IN-
CLUINDO A CONfECÇÃO DE
PROSPECTOS E IMPRESSOS PU-
BLlCITARIOS, E A EXECUÇÃO
DE CORRESPONDENCIA CO-
M ERCIAL; DE ORIENTAR E
ACONSELHAR EM MATERIA DE
PUBLICIDADE; E DE TODA A
ESPECIE DE ESCRITURAÇÃO
COME RCIAL, INDUSTRIAL E
AGRICOLA - ABERTURAS, SE-
GUIMENTOS E fECHOS DE ES-
CRITAS, EXAMES E VERifiCA·
ÇÕES.
REVISTA DE COMERCIO
E CONTABILIDADE
•
REVISTA DE COMERCIO
E CONTABILIDADe ;.
!íI;. !J 130 'i'
DIRECTOR
FRANCISCO CAETANO D IAS
VOL. I.
JANEIRO A JUNHO, 1926
1926
IMPREN SA B EL EZ A
RUA DA ROSA, 99 - 107
u saox
'.
PALAVRAS INICIAIS
rv;sTINA-SE esta Revista, conforme o seu titulo indica. ao estudo dos
U problemas fundamentais do comercio e ria contabilidade. Propriamente
falando. não ha em comercio, nem em contabilidade, problemas que não se-
jam fundamentais, pois é sabido Que, tanto em uma coisa como em outra -
em tudo que envolve método, - um lapso de detalhe pode acarretar con-
'sequencias desastrosas. Por isso os problemas que aqui se estudarão, em-
bora uma ou outra vês pareçam, e s6 á primeira vista, ser de pouca impor-
tancia, serão sempre dos primaciais, ou por essencia ou por oportunidade,
nas rnaterias a cujo estudo esta Revista se dedica.
N:'Io é nos so intuito entrar dema siadamente no Que se pode chamar
a sociologia do comercio, nem carregar demasiado, e tecnicamente de mais,
a nota [uridica, ou outra qualquer nota especial, onde quer que tenha que
ser ferida. Mas, se nos afastaremos da especialidade extrema, tambem nos
não prenderemos á generalidade abstrusa. Seremos, quanto possa ser, con-
cretos dentro da abstra cção natural das teorias e das doutrinas.
•
Toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a
prática deve obedecer a uma teoria. Só os espiritos superficiais desligam a
teoria da prática, não olhando a que a teoria não é senão uma teoria da
prática, e a prática não é senão a prática de uma teoria. Quem não sabe nada
dum assunto, e consegue alguma coisa nêle por sorte ou acaso, chama eteô-
rico. a quem sabe mais, e, por igual acaso, consegue menos. Quem sabe,
mas não sabe aplicar,-isto é, quem afinal não sabe, porque não saber aplicar
é uma maneira de não saber-tem rancor a quem aplica por instinto, isto é.
sem saber que realmente sabe. Mas, em ambos os casos, para o homem são
REVISTA DE COMERC IO E CONTABILIDADE
de espírito e equilibrado de inteligencla, ha uma separação abusiva. Na vida
superior a teoria e a prática completam-se. f ôram feitas uma para a outra.
A indole desta Revista, tanto em materia de comercio, como em matéria
de contabilidade, é provar Que a teoria e a prática fôram feitas uma para a
outra.
•
Cada problema Que tratarmos, faremos por tratá-lo sempre aprofun-
damente, e em toda a sua extensão. Tratar um problema é isto. Mas, assim
como variaremos o estudo dos problemas, não teremos só um estilo para
descrever as soluções Que lhes encontrarmos. Se em certo artigo formos so-
lenes, em outro se-Io-hemos menos. Isso não importa A maneira de tratar os
assuntos é como o tom de voz em Que se fala : tanto se pode dizer a ver-
dade em voz baixa como em voz alta. Os americanos, Que são Quem mais
profundamente estuda os problemas tecnicos, expõe-nos, muitas vêses, hu-
moristicamente. Levam, até, esse genero de exposição, em alguns casos, a
pontos quasi inconcebíveis para nós europeus, tantas vêses solenemente
incompetentes.
Isto é dito em previsão de Que se estranhe Que não ponhamos na ex-
pos ição .de todas as materias o ar grave de Quem tem uma missão transcen-
dente a cumprir. Não forçaremos~ porêm, essa nota, como não forçaremos
nenhuma outra. O nosso intuito é expõr de modo Que nos possam lér co-
merciantes feitos e comerciantes por fazer, contabilistas que o são e conta-
bilistas que o não são. Uma ou outra afirmação será excusada para um co-
merciante ou para um contabilista; é Que é para o estudante do comercio ou
da contabilidade. Outras irão um pouco além do interêsse a supõr no prin-
cipiante nestas materias: é que são para os Que já não são principiantes
nelas. Assim, doseando, procuraremos expôr num estilo e numa maneira Que
correspondam á media dos públicos vários a quem nos dirigimos. A êsses
públicos pertence o decidir, apoiando-nos ou não, se atingimos ou errámos
o alvo que nos propuzemos.
----------__e••••-----------
Cartas a Bancos e Sociedades Anónimas, quando se
dirigem aos Bancos ou Sociedades impessoalmente, empre-
gam o tratamento de c V. S.(J.S~ e abrem com c/l.mDJ Srs»
{nunca com cAmigos e Srs.•) . Quando, porêm, sejam dirigi-
das â Dlrecção ou Dtreaores, abrem com cá .mo, Srs», e o
tratamento é de cá .an .
•
A ESSENCIA DO COMERCIO
A QUI ha Anos, antes da Grande Guerra. correu os meios ingí êses, comoexemplo demonstrativo da insinuação comercial alemã, a noticia do
caso curioso das «taças para ovos> (qJg-cups) Que se vendiam na lndia.
O inglês cos tuma comer os ovos>, a que nós chamamos «quentes>, não
em copos e partidos, mas em pequenas taças de louça, do fei tio de meio
ovo, e em que o ovo portanto entra até metade; partem a extremidade livre
do ovo, e comem-no assim, com uma colher de chá, depois de lhe ter dei-
tado sal e pimenta Na India, colonia britânica, assimse comiam, e natu ral-
mente ainda se comem, os ovos <quentes>. Como é de supôr, eram casas
inglêsas as que, por tradição aparentemente inquebravel, exportavam para a
India as taças para este fim.
Sucedeu, porêm, Que, alguns Anos antes da Guerra, as firmas inglesas
exportadoras dêste artigo notaram que a proc ura dêle na India decrescera
quasi até zero. Estranharam o fado, buscaram saber a causa, e não tardou
que descobrissem que estavam sendo batidas por casas exportadoras alemãs,
que vendiam identico artigo ao mesmo preço.
Se as casas alemãs houvessem entrado no mercado indio com o artigo
a preços mais baixos, sem duvida que os agen tes dos exportadores inglêses
teriam advertido estes sem demora. Mas, como o preço era igual, e a quali-
dade igual tambem, não era necessário o aviso; nem houve receio senão
quando se verificou que havia rasão para mais que receio - isto é, quando
se verificou que, nestas condições de duvidosa vantagem para um novo con-
corrente, o artigo alemão vencêra por completo.
Feita a averiguação ansiosa da causa dêste mistério, não tardou que se
descobrisse. Os ovos das galinhas indianas eram - e naturalmente ainda
são - ligeiramente maiores que os das galinhas da Europa, ou, pelo menos,
das da Gr ã-Bretanha. Os fabricantes inglêses exportavam as taças de tipo
unico que produ ziam para o consumo domestico. Essas taças, evidentemente,
serviam de um modo imperfeito aos ovos das galinhas da India. Os alemães
notaram isto, e fizeram taças ligeiramente maiores, proprias para receber esses
ovos. Não tinham que alterar qualidade (podiam, até, baixá-Ia), nem que di-
minuir preço: tinham certa a victoria por o que em linguagem scientifica se
7
REnSl'.-t DE CO.IIERCIO E CO .VT.HIll.ID,u)E
chama a adaptação ao meio. Tinham resolvido, na India e para si, o pro-
blema de comer o ovo de Colombo.
•
Esta história, em aparencia tão simples, encerra um ensinamento Que
todo comerciante, que o não seja s implesmente por brincar às vendas, devia
tomar a peito compreender na sua essencia. Um comerciante, qualquer que
seja, não é mais que um servidor do publico, ou de um publico; e recebe
uma paga, a que chama o seu <lucro>, pela prestação dêsse serviço. Ora
toda a gente que serve deve, parece-nos, buscar agradar a quem serve. Para
isso é preciso estudar a quem se serve - mas estudá-lo sem preconceitos
nem anticipações ; partindo, não do principio de Que os outros pensam como
nós, ou devem pensar como nós - porque em geral não pensam como nós
- mas do principio de Que, se queremos servir os outros (para lucrar com
isso ou não), nós é que devemos pensar como êles : o que temos que vêr
é como é que êles efectivamente pensam, e não como é que nos seria agra-
davel ou conveniente que êles pensas sem.
Nada revela mais uma incapacidade fundamental para o exercicio do
comercio que o habito de concluir o Que os outros querem sem estudar os
outros, fechando-nos no gabinete da nossa propria cabeça, e esquecendo
que os olhos e os ouvidos - os sentidos, enfim - é que fornecem os ele-
mentos que o nos so cerebro ha de elaborar, para com essa elaboração for-
mar a nossa experiencia.
•
o estudo do púb lico, isto é, dos mercados, é de três ordens - econó-
mico, psicológico, e propriamente socia l. Isto é, para entrar num mercado,
seja domestico ou est ranho, é preciso (1) saber as cond ições de aceitação
eco nômica do artfgo, e aquelas em que trabalha, e em que oferece, a concor-
rencia; (2) conhecer a indole dos compradores, para, ãparte questões de
preço, sabe r qual a melhor fôrma de apresentar, de dist ribuir e de reclamar
o artigo; (3) averiguar quais são as circunstancias especia is, se as houver,
que, de ordem profunda e social ou politica, ou superficia l e de moda ou de
momento, obrigam a determinadas correcções no resultado dos dois est udos
anteriores.
•
É espantoso - não: é pavoroso - o numero de comerciantes que co-
tam para um mercado, est rangeiro e até nacional, espontaneamente ou solici-
tados, sem averiguar se não estarão cotando um preço que seja um disparate
8
REVISTA DE COMERCIO E COSTABILIDADE
de tal orde m que os desqualif ique intelectualmente - e a desqualificação in-
telectual é por vêses pior que a moral- no espirito dos que recebem a oferta.
Quando um comerciante, que use a cabeça para fins mais interiores
que a colocação do chapéu, verifica que lhe é impossivel cotar con veniente-
mente para certo mercado, deve responder a um pedido de cotação que, dada
estas ou aquelas circu nstancias, não pode cotar nesse momento; ou q ue
oferece a um preço mais alto que o do mercado (mas mostre que conheça o
preço do mercado), porém que o artigo, se é mais caro, é porque é melhor;
ou que, por não ter nesse momento disponível senão um tipo dêsse artigo,
não pode cotar senão em determinadas condições.
A maioria dos comerciantes - s im, e infelizmente, a maioria! - não faz
isto, nem nada que disto se aproxime. Cota um preço, porque êsse preço
lhe dará certo lucro, e não olha a mais. Não lhe passa pela cabeça. sequer,
que é preciso, ás vêses, não cotar com lucro, sendo essa ausencia de lucro
uma autentica despeza de publicidade. E porque não lhe passa isto pela ca-
beça? Porque vive só no presente, e tem casa comercial sem ãmanhã. Por-
que não pensa que, mesmo quando se não possa cotar convenientemente,
se deve atrair convenientemente; e que a demonstração de inteligencia e de
estudo das conveniencias e necessidades alheias é uma demonstração da
posição sobre os ombros de uma cabeça que contêm miolos.
•
o estudo psicológico do mercado é tambem importante, mas, ao passo
que o seu estudo económico é essencial e funda mental em qualquer genero
de comercio, é o comercio de retalho, e as formas do outro comercio (de
origem directamente indust rial) que com êle lêem similhança, que mais têem
que atender a este elemento. A maneira de fabricar, de apresentar, de distr i-
buir e de rêclarnar um artigo varia conforme a indole gera l dos individuas
que compõem O mercado o nde se pretende vendê-lo. Num meio de ge nte
educada as co ndições são diferentes, para lodos es tes casos, do que num
meio de ana lfabetos . Um meio pro vinciano -educado ou não - tem uma
psico logia dist inta da de um meio de cidade.
O modo de enca rar a vida, ou, pelo menos, certos aspectos da vida,
varia de pais para pais, de região para região. A humanidade, sem duvida, é
a mesma em toda a parte. Sucede, porê m, Que em toda a parte é diferente.
É a mesma nas coisas essenciais, nos sentimentos fundamentais ; mas, as
mais das vezes, não são as coisas realmente essenciais que ela tem por essen-
cias, nem os sentimentos fundamen tais que a preocupam como fundamen-
9
RE1'l5TA DE CO.lIERCIO E COXTABILlDADE
tais. Em todos os tempos, em todas as terras, é o local, o superficial, o oca-
sionai o que mais tem preocupado a humanidade. Ora é ao que mais preo-
cupa a humanidade, e constitue portanto as suas necessidades, que o
comercio essencialmente se dirige. E é por isso que o comerciante, que de-
veras o seja, tem para consigo mesmo o dever de estudar psicologicamente,
e um a um, os agrupamentos humanos a que destina os seus artigos .
•
o estudo propriamente social do meio é aparentado com o seu estudo
psicol ógico, mas, ao mesmo tempo, distinto dêle. O estudo psicol6gico tem
por objecto a mentalidade típica dos componentes de um determinado meio
comerciavel; o estudo propriamente social tem por objecto os hábitos pura-
mente exteriores, as convenções, permanentes ou de acaso (e a estas últimas
chama-se modas), e os capr ichos Incaracteristicos dêsses mesmos individuas.
É claro que êsses hábitos e essas convenções formam parte da indole dessa
gente; mas é uma parte eextema>, que não pode ser adivinhada através de
um estudo cuidadoso dos individuas, mas tem que ser conhecida, mais pro-
priamente, através do estudo do meio em que êles ...-ívem, considerado como
destacado dêles.
Suponhamos que temos Que introduzir determinado artigo na Itália.
Nem para todos os artigos se dará - mas sem duvida haverá alguns para
cujacolocação importe considerar {âparte as circunstancias econ6micas, de
que não estamos agora tratando) o italiano como italiano; o italiano como
romano, venesiano, genovês, etc.; o italiano como governado pelo regíme
fascista ; o italiano como crescentemente detes tador da França ; e assim inde-
finida, mas, ao mesmo tempo, muito definidamente.
Um industrial, que inventasse e prod uzisse um typo de whisky novo,
bom e barato, teria um mercado certo nas ilhas britânicas; mas, se tivesse
a lembrança de ornar as garrafas dêsse liquido de um rotu lo com a bandeira
daqu êle império, não deveria admirar-se de vêr a maioria dos habitantes do
Estado Livre da Irlanda impôr-se o horroroso sacrifício de o não beber. O
producto estava psicologicamente certo para esse meio, mas estava <social-
mente" errado. Parece-nos que assim transmitimos claramente ao leitor a
ideia da distinção entre o criterio psicológico, e o, por ass im dizer, socioló-
gico no estudo comercial dos mercados.
•
Em resumo: O comerciante é um servidor do público ; tem que estu-
10
•
RErI.H.-t o« COJI ERCIO E COST.4RILlDADE
dar esse público, e as diferenças de público para público se o artigo que
vende ou explora não é limitado a um mercado s6. O comerciante não pode
ter opiniões como comerciante, nem deve fazer comercialmente Qualquer coisa
que leve a crêr que as lemo Um comerciante português que faça um rotulo
encarnado e verde, ou azul e branco, comete um erro comercial: quem segue
a política das côres do rotulo não lhe compra o produto por isso, e quem
segue a política oposta deixa muitas vêses de o comprar. Por um lado não
ganha, por o outro perde.
Mais incisivamente ainda: O comerciante não tem personalidade, tem
comercio; a sua personalidade deve estar subordinada, como comerciante.
ao seu comercio; e o seu comercio está fatalmente subordinado ao seu mer-
cado, isto é, ao público que o fará comercio, e não brincadeira de crianças
com escritório e escrita.
-----------e. e ••---------
Nenhuma carta deve estar sem resposta mais de 5 dias,
sendo nacional, ou /0 dias, sendo estrangeira. Uma demora
maior obrilla legitimamente a apresentar uma desculpa, em
geral falsa, e que, ao contrário do que em geral julgam os
que pedem desculpa, I quasi sempre tida por falsa, mesmo
que seja verdadeira. Ou a carta não tem resposta, e não se
lhe responde; ou tem resposta, e se lhe responde logo .. ou
não pode ter resposta logo, e então escreve-se dizendo isso.
A fama de ser atencioso e corles vale mais que uma estam-
pilha. t uma publiddade barata.
Nas cartas comerciais onde seja essencial sér-se muito
preciso, I conveniente evitar-se aquela precisão verbal exces-
síva que parece jurídica. Nenhum comerciante gosta de ter,
ainda que momentaneamente, a impressão de que lo advo-
gado do correspondente que lhe está escrevendo. A precisão
comercial deve ter sempre um ar casual e despreocupado -e-
o da conversa dum homem inteligente.
No fecho das cartas onde se dá tratamento de Exalen-
da nunca se emp"ga a paio lira <estima» As Excelendas
compete <amsíderação» ou crespeito.~ Estima lsó para as
Senhorias.
"
•
A COTAÇÃO C. I. F.
INCLUI AS DESPEZAS COM A FACTURA
CONSULAR ?
COM O toda a gente sabe, é elemento necessário em todas as cotações co-merciais a indicação do logar de entrega da mercadoria.
São de facil compreensão as indicações usuais para transacções na
mesma praça, ou dentro do pafs, não surgindo, em geral, mal-entendidos se-
não por lapso de redacção ou omissão involuntária ou propositada. Quando,
porém, se trata de importadores, e de cotações, para estes, de exportadores
estrangeiros, é conveniente saber-se bem o que abrange o sentido das abre-
viaturas Que em geral se empregam para esses fins.
A mais simples, e a Que menos se presta a complicações, é a vulgaris-
sima f. O. B. Urre on board}, que como toda a gente sabe, indica que a
mercadoria é posta divre a bordo», isto é, que todas as despezas desd e Que
ela entra a bordo, começando pelo frete e pelo segu ro, são de conta do com-
prador.
Menos vulgar é a cotação f . A. S. (jree aíong slde), que quer dizer cli_
vre ao lado» do navio -- isto é, a mercado ria posta no cais, ou em batelão,
junto do barco em que ha de ser carregada. São, em geral, os americanos
que usam - e, ainda assi m, poucas vêses - esta formula, que importa, em
todo o caso, não ignora r.
É porêm com a cotação C. I. f ., que indica, como todos sabem, que
a cotação inclui o custo da mercadoria, o seu frete, e o seu seguro, que póde
surgir um ponto de dúvida i e tanto pode surgir que efectivamente surgiu,
sendo ass unto de uma consu lta feita o âno passado á Associação Comercial
de Lisbõa , e de uma op inião interessante e decisiva de um dos membros da
sua Secção de Importação e Exportação - opinião essa que a Dlrecção desta
Cama ra de Comercio aceitou e fês sua por unanimidade.
Traia-se de saber se o certificado de origem e a factura consular -
no caso da consulta tratava-se especialmente da factura consular - se de-
vem cons iderar incluidos na cotação C. 1. f. A so lução seria indiferente se
a Iactura cons ular não ascendesse por vêses a uma percentagem relativa-
12
R ErI5TA DE CO.l fE RCIO E CO XTABILlDADE
mente alta sobre o preço de factura da mercadoria. E, mesmo que assim não
fõsse, nunca haveria mal em se compreender bem o assunto.
Salvo entend imento em contrário, as casas exportadoras estrangeiras,
e nomeadamente as americanas, facturam àparte - ist o é, fóra do preço C. I. F.
- as despezas com a factura consular ou com o certificado de origem. É
bom saber-se que assim fazem. Mas lambem interessa saber se assim na
verdade deve ser.
•
Em Julho de 1924 uma firma importadora de Lisbõa formu lou á As-
sociação Comercial esta pergunta : <se a cotação C. I. F. (sem outra indica-
ção) para qualquer mercadoria de um porto estrangeiro para Portugal com-
preende as despezas com a factura consular, ou devem essas despezas ficar
a cargo do comprador Pe
Consultada a Secção de Importação e Exportação sobre êste problema
deu um dos membros dessa secção, o Sr. Carlos Moilinho d'Almeida, a se-
guinte resposta, que, devidamente autorisados, transcrevemos:
cA indicação C. I. f. {cost, insurana, !"ieht, isto é, custo, seguro, frete)
deve entender-se evidentemente como abrangendo apenas aquilo que expli-
citamente indica. O problema pos to pelo nos so consocio consiste pois em
determinar se a factura cons ular se pode presu mir incluida em qualquer das
designações componentes da formula C. I. F. Pondo de parte o <segu ro>
que nada pode ter para o caso, temos que considerar se a factura consular
se pode ter por parte necessariamente componente, quer do -cus to-, quer do
-tretes, da mercadoria.
<Ora a factura consular é proveniente de uma exigencia oficial do país
importador, em cuja alfandega tem que ser apresentada; é natural pois que
a consideremos, não como parte do ecustoe , ou mesmo do efretee, da mer-
cadoria, mas como uma espécie de anticipação, ou primeiro documento, das
despezas aduaneiras de importação.
<Se assim é-e assim parece dever ser,-a factura consular deve ficar
fóra da designação C. I. f ., como ficam todas as despezas aduaneiras no
paiz importador. E o uso abona em absoluto este critério: o normal é o
vendedor pagar a factura consular por conta do comprador, lançando a dé-
bito dêste, ordinariamente na propria factura que lhe envia, a importancia
dela.
IA meu vér, pois, e salvo o caso de designação em contrario. a despeza
"
REn5TA DE CO .UERCIO E CO.VrABIUDADE
com a factura con sular não deve en tender-se como incluida na designação
C. I. f .'
foi este o parecer que a Direcçâo da Associação Comercial de Lisbôa
adotou, e Que parece realmente fixar. de um modo inequivoco, a verdadeira
doutrina sobre o assunto.
Cumpre porêm advertir que ha certos ramos do comercio - o de car-
vão, por exemplo - em que a «íeaignação em contr ário>, a que a opinião
transcrita se refere, é sube ntendida. São casos, contudo, de ramos especiais
de comercio, que obedecem tradicionalmente a condições especiais;e esta
é uma délas.
•
o assunto do ambito da cotação C. I. f . f icará completamente escla-
recido com a tradução seguinte (dos parágrafos que interessam) das -con-
dições> impressas de uma grande firma indus trial exportadora dos Estados
Unidos:
<Salvo especificação em contrario ao dar-se a cotação, o seguro nas
vendas C. I. f . entend e-se ser unicamente o seguro marítimo, e apenas para
o destino a que o preço de venda se refere, livre de avaria part icular . .. Ou-
tras f6rmas de segu ro, quando se desejem, terão que ser explicitamente de-
signadas pelo comprador antes de fechado o negocio, e o custo adicional
será de conta dêle.
cTodas as despezas consulares para legalisar as Iacturas, selar os co-
nhecimentos ou ou tros documentos exigidos pelas leis do país a que as
mercadorias são destinadas, serão pagas pelo comprador, e não serão in-
c1u idas no preço de venda, Salvo combinação em contrário, subentende-se
que o vendedor fica autor isado a pagar estas despezas por conta do cem-
prador, adiciona ndo-as ao custo da factura. O vendedor obterá os documen-
tos consulares na qualidade de agente do comprador, tendo este pr éviarnen-
te explicado a forma pela qual as mercadorias devem ser declaradas j e, no
caso que êste o não tenha feito, o vendedo r fará as declarações conforme
julgar melhor, não sendo em caso algu m responsavel por multas ou ou-
tras despezas motivadas por qualquer êrro, em que a falta de instruções ne-
cessariamente o tenha induzido.e
Estes parágrafos, considerados juntamente com o parecer do Sr. Moi·
tinha d'Almeida (que não s6 estabelece, mas justifica, a doutrina sobre o as-
sunto), envolvem, a nos so vêr uma explicação suficiente da matéria.
14
A AVALIAÇÃO DAS MERCADORIAS
NO INVENTARIO
O PROBLEMA da avaliação das mercadorias é dos mais discutidos em con-tabilidade. Da sua longa discussão não saiu ainda, até hoje, um criterio
definitivo, pelo qual todos os comerciantes e contabilistas concordem em se
orientar.
e Código Ferreira Borges (art. 654.0 ) estipulava para as sociedades
que as mercadorias e objectos se avaliassem no inventário pelo preço da
compra ou acquisição, ou por menos, se na ocasião do inventário o seu va-
lor fôsse menor. O atua l Código, porêm, não se refere a êste ass unto, da ndo
assim ampla liberdade ao comerciante para confeccionar como entender o
seu inventár io. Este critério, ou, antes, esta ausência de critério, or igina a
possibilidade de falsos resultados, propos itados ou não: as sociedades, por
vezes, valorisam o seu activo sem que essa avaliação corresponda ao valôr
verdadeiro dête, e seguem-se as consequencias lamentáveis que todos temos
tido ocasião de observar. Urge, pois, que se olhe para êste assunto com al-
gum cuidado, e se adote, depois do devido estudo. um critério uniforme na
matéria.
Há, aliás, na nossa legislação já uma indicação nêste sentido. O Código
Civil (art. 2092 e seg.) estabelece a fórma por que se devem fazer as avalia-
ções nos inventários judiciais; não havendo razão para existir essa norma em
direito civil e não haver nenhuma em direito comercial, onde é tão precisa,
ou mais, do que naquêle.
•
Vejamos alguns dos critérios propostos para a avaliação das existen-
elas. São cinco os principais:
1.0 - pelo valõr do preço do custo;
2.° - pelo valôr do preço corrente no mercado i
3.0 - pelo valôr do preço do custo ou do preço corrente no mercado,
conforme o que fôr menor;
I5
RErISTA DE CO.\lERCI D E CO.VTABI LI DADE
4.0 - pelo valôr médio entre o preço do cus to e o preço corrente no
mercado ;
5.° - pelo valôr do preço do cus to para obter o lucro, e do preço cor-
rente para a avaliação das mercadorias.
Todos êstes critérios teem defensores, abu ndando os dos dois primei-
ros. Esta diversidade de opiniões entre tratadistas, a quem se não póde negar
a competeneia, vem mostrar que, se na legislação comercial ha a falta de um
critério a êsse respeito, não é contudo muito fáeil obter um número suficiente
de op iniões autor isadas para fazer preferir um dos critérios a todos os outros.
•
Para se avaliar devidamente do resultado prático da aplicação dos cinco
critérios expostos, e tornar a expos ição o mais concreta, e por isso o mais
clara, possível, vamos resolver um problema simples pela aplicação sucessiva
d êsses critérios.
Um comerciante ' comprou 5.000 metros de pano a 2$00 o metro, não
tendo efectuado nêsse âno nenhuma venda. O seu balanço, abs traindo de
outros valores, é o segu inte :
ACTIVO
Fazendas Gerais Capital
PASSIVO
5.000 metros a 2.000..... . 10.000$00 si enlrada 10.000Soo
No âno segu inte vendeu a pronto paga mento pano da importancia
total de 9.000$00.
Procedendo em 31 de Dezembro ao seu balanço, verificou a existencia
de 2000 metros e de 9.000$00 em numerário.
A conta Razão cfazendas Gerals> apresenta um saldo devedor da imo
eortancia de 1.000$000.
Aplicando os critérios aeima referidos, temos :
1.0 - Dando às fazendas existentes o preço do custo, o balanço será :
REJ!15Ttl DE CO.\fERClO E CON T, IBI LlD..tDE
ACTIVO
Fazendas Gerais
2.000 metros a 2$00 (pre-
ço do custo}.' .
Caixa
Numerário em cofre .
4.000$00
9.000$00
13.1)00$1)0
PASS IVO
Capital
s{ entrada .
Lucros e Perdas
Lucro .
10.000$00
aooosoo
13.oooS00
2.0-Avaliando as fazendas existentes pelo preço corrente no mer-
cado, e supondo que êste preço seja 25500, o balanço apresenta-se da se-
guinte fórma :
ACTIVO PASS IVO
9.000$00
14.000$00
Fazendas Gerais
2.000 metros a 2$50 (pre-
ço corrente no mer-
cado) .... ... . 5.000Soo
Caixa
Numerário em cofre..
Capital
sI entrada .. ...... .. . .. ... ..... 10.000Soo
Lucros e Perdas
Lucro.... .. .. .. .. ... ... . .. .... 4.000S00
14.oooS00
3.0 - Valorisando as fazendas pelo menor preço - do custo ou o cor-
rente no mercado-e sendo aquêle de 2$00, e o menor, o balanço é o seguinte:
ACTIVO
Fazendas Gerais
2.000 metros a 2$00 (o
menor preço que tem
no mercado) .
Caixa
Numerário existente .
4.000$00
9.000$00
13.000$OQ
PASSIVO
Capital
sI entrada .
Lucros e Perdas
Lucro .
10.000$00
3.000$00
11 ·000S00
17
REI'IST:t DE COMERCIO E CO.'iTA BI L ID,4DE
4.0 - Valorisação das fazendas pela média dos preços do custo e cor-
rente no mercado.
Supondo que aqueles preços são respectivamente 2$00 e 2$50,a média
ser" 2$2S; de onde o balanço seguinte:
9.000SOQ
13.5OOS00
3.5OOSoo
13.500S00
ACTIVO
Fazendas Gerais
2.000 metros a 2$25 ,.. ... 4.500$00
Caixa
Numerário em cofre .
PASS IVO
Capital
si enlrada.... .. ........ .. .. .. 10.000$00
Lucros e Perdas
Lucro .
5.0- Dar às fazendas o valôr do preço da compra para obter o lucro
e o valõr do preço corrente para a valorisaçâo das existencias.
Sendo aquêles preços respectivamente 2$00 e 2$50, emprega-se uma
nova conta que se pôde designar <Resultados a liquidar», e o balanço apre-
senta-se da maneira seguinte:
3.000S00.
14.000$00
ACTIVO
Fazendas Gerais
2.000 metros a 2550 ... ... 5.000$00
Caixa
Numerário em cofre..... . 9.000$00
14.000$00
PASSIVO
Caoíkü
s/ entrada... ... .. ..... .. .. ... 10.000$00
Resultados a liquidar
Pela avaliação dada aos
valores de inventário.. 1.000$00
Lucros e Perdas
lucro .
Recapitulando, compararemos, pelo quadro seguinte, os diversos lucros
e valõres dados à existencia das fazendas obtidos pela aplicação dos diver-
sos critérios :
18
REI'l51'A DE COMERCIO E CO.VTAB I LID ADE
ValC>r
Crllerl.- da lMi.cen(;i.
d.. fuend..
1.0- Valôr do preço do custo ... .. . .. . 4.000$00
2 .0 - Valôr do preço corrente no
mercado 5.000$00
3.0 - Valôr do preço do custo ou do
preço corrente no mercado,
conforme o que fõr menor.,.,; 4.000$00
4.0 - Valôr médio entre os preços do
custo e o corrente no mercado 4.500$00
5.0- Valôr do preço do custo para
obter o lucro, e do preço cor-
rente no mercado para avalia-
ção das mercadorias .. ... .. ... .. 5.000$00
~c:ro
3.000$00
4.000$00
3.000$00
3.500$00
3.000$00 1.000$00
-======="=="===~==
Qual d êstes critérios é que será preferfvel seguir?
Examinemos, pela mesma ordem, as vantagens e desvantagens que nos
parecem apresentar:].0 - A vantagem de avaliar as existencias pelo valôr do preço do custo
é obter a exactidâo dos resultados durante certo período; a desvantagem é
de não dar a conhecer a verdadeira posição do comerciante no momento em
que efectuou o seu balanço.
2.0 - Já êste critério tem como vantagem o expr imir no preço corrente
no mercado o valõr das existencias, mostrando portanto a situação do comer-
ciante no momento de fazer o seu balanço; mas apresenta como desvanta-
gem o ter que incluir como resultados o que só se p ôde obter depois da
venda.
3.0 - A avaliação pelo menor preço, Quer seja o do custo, quer o cor-
rente no mercado, tem a vantagem, para o comerciante cauteloso, de o ga-
rantir contra qualquer surpresa, e, para as sociedades an ônimas, de inhibir as
dírecç ões de valorisar o seu activo com o único fim de dar bons dividendos
aos accionistas; mas tem a desvantagem de não dar a conhecer ao comerciante
a sua situação verdadeira, ou os resultados certos que obteve.
4.0 - Dar às mercadorias o valôr médio dos preços do custo e corrente
no mercado apresenta a vantagem, e ao mesmo tempo a desvantagem, de se
19
RErI.'\TA DE CO.\lERClO E CO.\'TARIUD.4DE
aproximar da situação verdadeira do comerciante e dos resultados obtidos
sem contudo exprimir a pos ição exata, pois se aproxima da verdade mas
não chega a éla.
5.0- Dar dois preços - o do custo para obter os resultados, e o cor.
rente no mercado para avaliar as mercadorias - tem a grande vantagem de
traduzir resultados certos e de dar situações verdadeiras. Tem a desvantagem
de dar dois preços às existências, e portanto mais trabalho.
É, contudo, êste último critério o que, a nosso vêr, apresenta melhor
excesso de vantagens sobre desvantagens, Do melhor grado, po rêrn, recebe-
remos as opiniões dos nossos leitores sõbre o assunto, e com prazer as pu-
blicaremos, desde que venham fundamentadas, de modo a esclarecer bem o
ponto de vista que se adota.
O nosso fim é vêr se se p6de chegar, pelo menos por maioria de op i-
niões, a escolher o critério que é preferível seguir.
---------.......... . ..----------
Escreve-se sempre em breves palavras - nas mais bre-
res que seja possivel- a uma casa inglisa, e desenvolvida-
mente a uma casa americana. Os inglises querem vir tudo
depressa .. os americanos querem vir tudo.
A uma firma ingiisa, que não seja individual, abre-se
a carta com «Dear Sírs», e fecha-se com c Vours faithfully,»
A uma casa americana nas mesmas condições, abre-se a
carta com «Gentlemen», e fecha-se com c V"urs vay truly,»
N o caso de firmas individuais, a diferença de fecho perma-
nece, mas a abertura é a mesma- «Dear Sir» - para o in-
glês e para o americano.
Uma carta áspera ou violenta é sempre injustificada,
porque é sempre inútil. Indispõe, e não dá resultado. Qu~m
não paga porque não quere, não passa a pagar por lhe di-
zerem que não paga porque não quere. Isso jd ite sabe. E
Quem não paga porque não pode não fim contente que se
lh~ diga ou se lhe ínsínúe que não paga porque não quere.
COMO OS OUTROS NOS VÊEM
A OPINIÃO dos estrangeiros - quando não sejam daquêles que não nasce-ram para poder ter op iniões - é sempre interessante, ainda que seja er-
ronea, porque representa um pon to de vista Que a n ós, nacionais, não é
possivel conseguir, por isso mesmo que somos nacionais. Ah, se nos fôsse
dado vermo-nos a nós como os outros nos vêem! diz o poeta escocês. Não
que os outros vejam necessariamente mais certo que nós ; mas vêem diferen-
temente. E é conjugand o as impressões de quem vê de perto e de quem vê
de longe Que se pode conseguir Qualquer coisa Que se aproxime de uma
opini ão justa sôbre um conjunto e as suas partes componentes.
Com êste fim, e a devida vénia, traduzimos da Brítísh Expor! Oaxette O
seguinte artigo sobre A Situaç ão Comercial em Portugal. Com este título,
e o subtítulo A Expans ão Tolhida e o Crédito Prejudicado por Constantes
Mu danças Administrativas, diz aquêle mensário inglês:
-Se em verdade se não pôd e dizer que a situação comercial em Portu-
gal "dê quaisqu er indicia s claros de melhoria , ha porem, que notar, como ele-
ment o compensado r, o esfôrço que por fim o Govêmo está fazendo para re-
media r a s ituação. Ãquêles dos nossos leitores, que tratam co m es te mero
cada ou por ele exportam, interessará sabe r que se elabo rou recentemente um
plano de largo auxílio ao comercio e á ind ústr ia pela expansão do ambito
de operações do Banco de Desconto de Portu gal. Esta, e outras propostas
de melhoria, resultaram de uma discussão franca, abrangendo toda a situação,
entre o Primeiro Ministro e os homen s de negocio, representados no lance
pela Ca mara de Comercio de Lisboa. O que, porem, é urgentemente pre-
ciso, e mais que tudo preciso, é uma garantia de estabilidade ad ministrativa,
pois as mudanças frequentes de govêruo, mot ivadas em gera l por questões
minimas, se teem revelado extremamente desequil ibradoras e altamente preju-
diciais para o comercio. Continuam tambêrn as tran sacções a ressentir-se
gravemente da desvalorisação da moeda, e o crédito comercial do mercado
tem sido ser iamente comprometido pela inabilidade, em muitos casos, de pa-
gar-nos devidos prasos.
-O vulto do comercio português importa, em números redondos, em
entre 27 e 28 milhões esterlinos. No âno passado atingiu ~ 28.0 39.1 24. Po-
21
h
RErISTA DE COMERCIO E CO.vTABlLIDADE
rêm mais de três-quartos désta so ma representam importações, e menos de
um-quarto significa exportações. A balança adversa é, po is, realmente de
mais do dobro do dinhe iro recebido pela Républica em paga dos produtos
ex portados. É duvidoso se há qualquer outro pafs do mundo que apresen-
te uma balança comercia l tão pouco satisfatoria. Este deploravel estado de
coisas é dev ido, na maior parte, á mudança constante de critérios adminis-
trativos. Se não Iõssem estas influencias estranhas e inibitivas, que em rá-
pida sucessão intervêem, com proibições de importação e de exportação,
mudanças pautais co nstantes, mod ificação de taxas marítimas, impostos sõ-
bre transacções, etc, o comercio de Portugal estaria incontestavelmente em
melhor pé e em condições de maior desenvolvimento. Apesar de desvantagens
desta ordem, é realmente de pasmar que um país nêste apêrto comercial e
em co nsta nte desassocego não tenha quasi nenhuns desempregados.
cPortuga l devia estar em situação de exportar infinitamente mais do
que exporta. Mesmo a sua indústria básica, a agricultura, é conduzida petcs
processos mais primitivos e com maquinismos e implementes não menos
imperfeitos. Calculou-se já que, com a devida irrigação, o emprego de sis-
temas modernos, e um regime melhor de transportes, os resultadus agríco-
las subiriam, pelo menos, a mais 100 por cento do que são. Quanto á in-
du str ia mineira, o facto é que a exploração dos valiosos jazigos de carvão,
de ferro , de pirites de cobre, etc, nunca recebeu coisa que se pareça com
uma atenção sistemática, dada a falta de energia barata e de facilidades de
tran sport e. O cap ital inglês figura preaominantemente em varias das emprê-
sas mineiras, e, se êsse capita l tivesse qualquer incentivo para as desenvol-
ver, res ultariam vantagens incalculaveis para o país e para o seu comercio.
Present emente apenas estão aproveitados 15.000 cavalos dos provaveis 500.000
que se calcula que as quedas de agua possam fornecer ; e dos jazigos de
ferro , cujo vulto se calcula em 75 milhões de toneladas, s6 30.000 se tiram
anu almente.
<Com o estfmul o proveniente de con dições administrativas de maior
estabilidade, não só aumentaria muito o Interêsse do capita l inglês por êste
mercado, mas com êle aumentaria o interêsse dos importadores e comercian-
tes portugu êses pelos pro dutos do Reino Unido. A Inglaterra é, com grande
avanço sôbre os outros países, o melhor cliente de Port ugal, pois lhe com-
pra quasi dois-terços do vinho que ele exp orta, três-quartos do figo, amen-
doa e alfarroba, e uma parte considerável da produção de cor tiça, sardinhas,
e minério. Portugal présa muito as suas longas, quasi vetustas,relações co-
merciais com a Grã-Bretanha, e, mesmo na s ituação presen te, a maioria dos
22
RErJSTA. DE COMERCIO E CO.'HABI LIDADE
tecidos impo rtados , toda a Iclha-de-Flandres para as latas de sardinhas, e
uma grande percentagem das outras manufacturas compradas são de ori-
ge m ingtêsa. Mas as 'casas comerciais portuguêsas encontram grande difi-
culdade em fazer compenetrar os fabricantes e exportadores inglêses da ex i-
gentissima legislação que regula a importação de mercadorias nês te merca-
do, e, em especial, dos regulamentos asfixiantes que dizem respeito ás decla-
rações de -carga e aos certificados de origem ... Que o intercambio anglo-por.
tuguês tenderá a desenvolver-se em condições de maior estabilidade e de
melhoria financeira, é o que ha toda rasãc para prevêr, considerando, sobre-
tudo, os planos governamentais a que nos referimos. É porêm muito de de-
sejar que os meios comerciais portuguêses continuem a exercer pressão so-
bre as instancias oficiais para que se efectuem mais reformas e se restabe-
leça a confiança dos carregadores britânicos na estabilidade de muitos dos
negociantes que não fazem agora face aos seus compromissos com aquéla
costumada prontidão que dêles era de esperare .
------------e .. ~~-----------
Um comerciante nunca ofída. Mesmo dirigindo-se ás
instandas afícíais, não abdica da fórmula camertiai-« a que
para o caso seja mais apropriada - de abrir e fedtar a carta.
É do pior gôsto, e do pior efelto, desculpar-se um chefe
com «um irra dum emtnegado:» Não ha aros de emprrga-
dos. Todo o érro dum empregado é apenas o êrro dI ter em-
prt'llados que fazem érros.
Uma carta em francês nunca fecha com a inclusão da
palavra «cons íderatíon» quando seja para iguais ou para
superiores. «Cansidtration» é só para inferiores. O equiva-
lente francês do emprego portuguis da palavra «considera-
ção- é o emprego ou de «salutatíons distinguées» ou de «sm-
timents dístíngues» , O ponto é digno de referir-se porque Ita
até muitos francéses que o ignoram.
A INUTILIDADE DOS CONSELHOS FISCAIS E DOS
COMISSARIOS DO GOVERNO NOS BANCOS
E NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
J-SCANDALOS ainda recentes. que se tomaram conhecidos do público
L através do s relatórios publicados no Diario do Oovrmo, vieram pôr
mais uma vês em evidencia a inutilidade prática dos Conselhos fiscais e
dos Comis sários do Governo - inutilidade essa reconhecida no estrangeiro
pela substituição a essas entidades, realmente ficticias, de outras mais 5US·
ceptiveis de se desempenhar do mistér que a nossa legislação impõe àquelas,
Os Con selhos fiscais e os Comissários do Govêrno - aqueles mais do que
estes - são pontos de apoio da confiança do accionista, que julga que neles
encontra o contrôle da aplicação e a salvaguarda dos capitais Que confiou ao
Banco ou á Sociedade Anónima a dentro ou junto, da qual êles funcionam.
Reconhecendo as Sociedades Anónimas que a melhor fórma de chamar
o capital é a distribuição ruidosa de grandes dividendos, proc uram freqüen-
temente, por meio de lançamentos artificiais, encobrir um estado verdadeiro .
de pouco desafógo; publicam, para dar uma aparencia de prosperidade, rela-
tórios de prosa literária no fim dos quais os accionistas são definitivamente
ludibriados pela confiança que lhes trás o inevitável «parecer> do Conselho
fiscal , com o costumado voto de louvor á Dlrecç ão, e a indicação aos accio-
nistas que aprovem o Relatório de contas e a distribuição de dividendo que
êle consigna.
Os accionistas aprovam tudo - umas vezes porque o dividendo é ma-
gnifico, outras porque simplesmente confiam na indicação que lhes é dada.
E a Direcção e o Consel ho fi scal recebem os respect ivos louvores. São ho-
mens habeis, uns j são homens sérios , outros . Tudo está, pois, necessaria-
mente certo.
Acontece, porem, que muitas vezes está errado . E é isso que os relató-
rios recentemente publicados põem em evidencia.
Quando se cai na suspe nsão de pagamentos, os accionistas acordam.
Mas, como espe ravam que o Conselho Fiscal os acordasse, e o Conselho
Fiscal dorme por naturesa, acordam sempre tarde, e perdem ... não o com-
boio mas o dinheiro.
24
RErJ.',fA In CO ."ERCIU E CUSTAHI Ll DADE
Ha Sociedades Anónima s em que não aco ntece isto. Mas ha porven-
tura alguma Sociedade Anónima em que, tanto Quanto o sabe o acdonista, não
possa acontecer isto ? Que elementos tem o accionis ta para poder saber ao
certo que isso lhe não póde acontecer ? A prosperidade do Banco ou da
Companhia? Mas a prosperidade é a que lhe é dada pelos dividendos, e que
sabe êle se êsses dividendos não são o seu próprio capital, e o dos crédores
da Sociedade Anón ima, em vez do lucro autent ico da prosperidade verdadeira
de uma sociedade progresaiva P Sabe o accionista ao certo se não é assim?
Não sabe, porque aqueles elemen tos em qu em delega a fiscalisação, 1.0 não
íiscalisnm, 2.0 mesmo que Iiscalisern, não sabe m Iiscalisar. Quantos são os
membros dos Co nse lhos Fiscais que exam inam a valer as conta s da Socie-
da de Anónima? Quantos são os membros dos Conselhos f iscais que teem
as habilitações precisas, de contabilistas, para êsse exame? Salvo casos ex-
cep cionais, os membros dos Conselhos Fiscais são escolhidos por serem
homens sér ios e de boa posição socia l. Não co nsta, por êm, que a seriedade
se ja a contab ilidade, nem que a boa posição so cial seja um curso intuitivo
de guarda-livros .
Escolhem-se homens sér ios para os Co nsel hos Fiscais. Mas os homens
sé rios podem ser estup idos - ha muitos -; os homens sérios podem ser
co nfiados - ha muitissimos -, os homens sérios podem ser desleixados -
ha imensos -, e o accionista perde o seu dinheiro, sem que os homen s rnul-
to sérios deixem de ser muito sérios, o que é uma consolação insuficiente
para Quem perdeu o dinheiro que fiou da fiscalisaçâo incompetente, senão
inexistente, dos homens de muita seriedade.
Tudo isto , no fundo, é uma comédia sem graça . A Direcção de uma
Sociedade Anónima é, por naturesa, um conselho tecnico de gerencia; o
Conselho Fiscal de uma Sociedade Anónima é, por nature sa, um conselho
técnico de fiscalisação. A Direcçãc prod uz resultados; o Co nselho Fiscal
verifica êsses resultados. E co mo os resultados se traduzem por números,
isto é, por con tas, parece que o Conselho f iscal deve ser constituido por
gente especialisada no exame e conferencia de contas. E parece tambem que
o Conselho Fiscal deve ser con stituido por gente suficientemente indepen-
dente da Gere nciá para poder fiscalisar essas contas com independencia. O
que se faz entre nós ? Elege-se um Conselho f iscal de pessoa s de probidade
e incompetencia, e, é claro, de pessoas em magníficas relações de amisade
co m a Gerenciá, e portanto com toda a conf iança nela. Em resumo : o me-
Ihor fiscal dos actos de alguem é um amigo incompetente. E' ou não uma
comédia?
RErISl'A DE CUJIERCIU E CO ....'T.-IIIILlDJDE
Dos Comissá rios do Govêrno nem é bom fala r, Dos membros do Con-
selho Fiscal ainda se póde presumir, visto que são accionistas, um certo inte-
resse pela Sociedade Anónima a que pertencem, se bem que que o interesse
não crie competencia, nem pese mais, na maioria dos casos, que o desleixo
natural de quem é incompetente e confiado. Mas dos Comissários do 00-
vêmo nem esse presum ivel interesse se pode presumir. São funcionarias do
Estado, que é, como toda a gente sabe, o mais mal servido de todos os pa-
trões. São nomeados por obscuros lances do xadrês partidário, em prémic
de serviços políticos e para que veraneiem todo o âno no seu comissariado ;
são nomeados para não fazer nada, e é efectivamente o que fazem. Dêles,
pois, é o Reino dos Céus ... Deixemo-los e volvamos á terra.
lndependencia e competencia são as duas qualidades que se exigem
em quem Iiscalisa, O ter interesse em fiscalisar é secundário : o doente não
percebe mais da doença que o médico, embora seja quem tem mais interesse
na cura. Ora, se independencia e competencia são as qualidades a exigir ao
fiscal, está naturalmente indicado que a fiscalização das Sociedades Anóni-
masdeve ser entregue a peritos contabilistas inteiramente alheios à socie-
dade que fiscalizam. Assim se faz, por exemplo, em Inglaterra. Não ha ali
Conselhos Fiscais, ou outros quaisquer mitos da mesma espécie. As contas
de gerência das Sociedades Anónimas são examinadas, e por fim aprovadas,
por peritos contabilistas estranhos às Sociedades, e com responsabil idade
penal directa. ~sses peritos (auditors) teem poderes para examinar toda a
escrita, para verificar todas as tran sacções, para fazer à Direcção todas as
pergun tas que entenderem dever fazer para cabal desempenho do seu misté r.
E ass im é que deve ser. De todas as fórmas das sociedades comerciais
as Sociedades Anónimas são as que mais se prestam ao abuso e ao desleixo
da Gerenciá, pois que nelas ha uma intervenção já teoricamente periódica, mas,
em geral, praticamente nula dos sacias (isto é, dos accionistas) na gerência.
Ha mist ér, pois, que deleguem em alguem a Iiscalisação que nem podem,
nem em geral sabem, exercer. Delegá-Ia em Conselhos Fiscais equivale a
delegá-Ia em ninguém, ou a delegá-la na própria gerenciá a fiscalisar. Não,
não ha outra solução senão os auditors, os peritos contabilistas - compe-
tentes porque são técnicos, independentes porque não pertencem à Socie-
dade, e responsáveis criminalmente por abuso, ou mesmo desleixo, no exer-
ereto do seu cargo.
---------__i�� " ......----------
Uma {irmo, embora individual, ganha sempre em falar
no plural,
26
CONTABILIDADE
PROBLEMAS DE LANÇAMENTOS
I
TRANSfORMAÇÃO DUMA SOCIEDADE EM NOME COLECTIVO
EM SOCIEDADE ANONIMA
A sociedade em nome colectivo Morais 8t: Fernandes resolveu trans-
formar-se em sociedade anonima sobre a designação <Sociedade de Viveres>.
O balancete do Razão relativo a 30 de Junho de 19... é o seguinte:
- - -
SALDOS
Conlas ~bito creanc
De'lledores I Credores
Capital. ...................... I I 1200.000$00- 1200.000$00, -
Caixa................... ..... 585.341$251 567.491$00 17.850$25 -
Armação e Moveis•...... 23.500$00 - 23.500$001 -
Viaturas ....... .... .......... 75.000$00, - 75.000$001 -
Gado ........................ 13.500$00 - 13.500$001 -
Depósitos à Ordem ._... 834.2765201 732.174$80· 102.101S40
1
-
Mercadorias Gerais ...... 1.395.827$401 5932535551 802.573$85 -
Devedores Gerais... ._.0 .. 145.910525 .743.891S10
1
597.980$85
1 -
Credores Gerais .......... 174.260$00 250.080$00 - 75.820$00
Gas tos Gerais.... ... .. .. .. 95.384$25 - 95.384$25 -
Soma...... .... .. 3.940.980S20 3.940.980$20 1.275.820S00 1.275.820$00
o capital da sociedade an6nima é de 1.500.000 escudos, dividido em
15.000 acções de 100 escudos cada.
A sociedade Morais 8r: Fernandes recebe 11.000 seções, as resta ntes
4.000 accões subscritas encontram-se já liberadas .
27
RErrsT..l tn: C().~/fiRCfO fi COXTt1ll1Uf).tlJf.·
A Sociedade de Vr-,reres aceita como pagamen to das 11 .000 seções en-
tregues a Morais 81 Fernandes, os saldos do balancete acima citado que não
sejam numerário, dívidas ou encargos, e não faz inventário senão no fim de
Dezembro.
Passar ao Diário os lançamentos de liquidação da sociedade em nome
colectivo e de abertura da sociedade an6ni ma.
SOLUÇÃO
Lançamentos no Dlâsio da sociedade em nome calectívo
Màrais (; Fernandes
Capital . .. ... .. 1.200.000S00
a Diversos
a saber:
a Luis Morais d capítat: .
a Antonio Fernandes cf capital .
000.000$00
600.000$00
Sendo as 11.000 acções en tregues em troca dos saldos do balancete
que não sejam numerário, dívidas ou encargos , temos :
• Mercadorias .
Armação e Moveis .
Viaturas .
Gado .
Valor das acções .
Excesso a favor .
802.573S85
23.500S00
75.oooS00
13.5OOSoo
914.573S85
1.1 00.000$00
185.426S15
donde o seguinte lançamento da passagem do Activo para a Sociedade de
Viveres.
28
HEI"I .'l"r... DE ('OIIEH('lO E COXT.HHLID..JDE
Saaiedade de Vú'ert"s . ... ... .. .. . .. ... . 1.365.861$90
a Diversos
a saber :
a Caixa .
a Depósitos à Ordem .
a ArmaçOo e Aloveis .
a Vioturas .
a Gado .
a Itfrrcadodas Gerais . .. . .
a Devedores Gerais .. _ _ _ .
a Lucros e Perdas .
17.850525
102.101540
23.500500
75.000500
13.500500
802.573585
145.910 25
185.426515
Diversos
o Sociedade Viveres 1.365.86 1$90
a saber:
Credores Gerais
tomadas do n/ passivo . .. .. .. .... 75.820S00
Luís Morais c ' capital
valor de 5.000 acções 550.000$00
valor do trespasse ... 95.020$95 645.020$95
Antonio Fernandes ci
capital
valor de 5.000 acções 550.000$00
valor do trespasse . .. 95.020S95 645.020$95
Lucros e Perdas .
a Diversos
a saber:
a Gastos Gerais . .
a Luís Morais cl capital .
a Antonio Fernandes c/ capital .
185.425515
95.384525
45.020595
45.020595
29
REns T.. DE COJIERCIO E COXTA.IHLlDADE
Lançamento no Diário da sociedade anânima «Sociedade d e Viveres _
A4*s 1.500.000S00
a Capital
Emissão de 15.000 acções de
100$00cada umae representativas
do capital da «Sociedade de VI-
veres. 1.500.000$00
Diversos
a Ac{õts .
a sabe r :
Morais .(o Fernandes
valor de 11.000 accões tomadas.
Aaionístas
valor de 4.000 accões subscritas
Caixa .
a Accionistas
valor recebido das acções subs-
critas .
Diversos
a Morais & Fernandes .
Tornada do 51actlvo :
Caixa .
Depósitos à Ordem .. '._ "', .
Armação e Moveis " .
Viaturas ..
Gado .
Mercadorias Gerais .
Devedores Oerats ..
Trespasse , .
30
1.1oaooosoo
400.000$00
400.000Soo
17.8; OS2;
102.101 S40
23500$00
7;.000$00
13.;00$00
802573 8;
14;.9IOS2;
18;.426$1;
1.500.000$00
400.000S00
1.36;.861S90
REVIS1'A DE CO.UE RCIO E CO STA BILlDA DE
Morais (7 Fernandes .
a Credores Gerais
Tomada do passivo ..
M orais (7 Fernandes .
a Diversos
Liquidação do saldo ..
a Caixa
Pagamento .
a Depósitos à Ordem
nl cheque n.c ..
75.820500
190.041$90
75.820500
90 .041$90
100.000$00
------------99 .. .. _
Evite-se sempre dar a uma casa estrangeira referendas
no flOSSO pais ou na nossa praça que não sejam bancarias.
E mesmo as referendas bancarias, convém dá-las de um
modo a que se pôde chamar transíato. Faça-se com que o
banco local que !lOS conhece, e nos serve portanto de referen-
da , transmita ao seu correspondente no pais estrangeiro res-
pectivo as informações Que póde dar a nosso respeito; clte-se
depois como referenda o banco por intermédio désse seu cor-
respondente. Deve sempre facilitar-se a consulta de referen-
das , a não ser, é claro, que estas sejam falsas. Isso, porém,
já não é comercio.
31
32
REnsl'A DE CO.\IERCIO E COXTAlUl.IDADE
Uma carta vísivdntmte circular-sobretudo se fãr im-
pressa ou caoiografada - é o pior meio de propaganda ou
de publicidade que se conhece. El'ilt'-se, em todo impresso de
propaganda, a fórma de carta. Faca-se um pequeno pros-
preto, um folheto dimínuto; empregue-se um postal sem
forma epistotar ; mas não se faça uma paramça de carta,
porque uma carta implica atenção ou consideração, e uma
coisa impressa implica o contrario. Uma consideração geral,
uma consideração ás séries, não se entende. Ha só um caso
em Que a circular impressa é aceítavet: é Quando anuncia ou
de/ama um livro, ou outra qualquer publicação. A identidade
de natuma entre o objecto rrdamado e a fórma do ridame
esbate o contra-efeito da circular.
Um anuncio difere dum cartaz em que o cartaz dele
ch,!mar a atenção t' prendi-la no mesmo acto, isto é, de
um só golpe, ao passo que o onuttcío deve chamar a atenção
para depois prendi-Ia, Ha , pois, muitos anuncias que são
simples cartazes em miniatura. Só por qualquer dramstan-
cio particular-estranha portanto á indole do onundo-
pâde um anund o deste gênero servir o f im a que se destina.
E é singular Que os alemães, tão notavelmente especialistas
por indote e educação, tão constantemente empreguem o
anuncio-cartas, isto ê, o anuncio em Que o interesse reside
no simples aspecto e disposição tipográfica. É o unico lapso
- mas é um lapso gra ve- da temica publicitaria alemã.
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AS ALGEMAS
SUPON HA o leitor que lhe dizíamos :- Ha um paiz em que, depois das oito horas da noite, é crime pre-
visto e pun ido o comprar maçãs, bananas, uvas, ananazes e tamaras, sendo
porém permitida a compra de damascos, figos, pecegos e passas. Depois
das oito horas não se pode ali legalmente comprar arenque, mas podem
comprar-se salmão e linguado. Nêsse paiz é crime comprar, depo is das oito
horas, um pastelão cosinhado, se estiver frio ; mas a lei permite a sua venda
se, conforme os seus dizeres, «estiver quente ou momo s, A sopa em latas,
que varios fabricantes fornecem, não pode ser comprada depois das oito
horas, a não ser que o mercieiro a aqueça. Chocolates, doces, sorvêtes não
podem ser comprados depois das nove e meia da noite, estando porêm aber-
tas as lojas Que os fornecem. O camarão é, nessa terra, um problema iuri-
dico tremendo, pois existe um camarão em latas que se não sabe se tecnlca-
mente é camarão ou conserva; e os jurisconsultos e legisladores dêsse paiz
já uma vez reuniram em conc lave solene para determ inar a categoria juridica
do camarão nêsse estado. Tambem nêsse paiz se não pode comprar aspirina,
ou outro qualquer analgésico, depois das oito horas da noite, a não ser, diz
a lei, que o Iarmaceutico fique convencido Que -ha motivos razoaveis para
supôr. Que algué m tenha dores de cabeça. Não se pode, ainda nêsse paiz,
comprar, depois das oito horas da noite, um charuto ou um maço de cigar-
ros num bufete de caminho de ferro, salvo se se comprar também comida
para consumo no comboio. Na agencia de publicações, Que ha ali em qual-
quer gare, não é legal comprar, depois da mesma hora fatidica, um livro ou
uma revista, ainda que a agencia esteja, como em geral está, aberta. Nêsse
peiz ...
Nesta altura o leitor, irritado, interrompe...
33
R E I'/ ,:, l'A DE COMERCIO E CO NTABILIDA DE
- Não ha paiz nenhum onde isso aconteça !... A não ser que se chame
epaiz> a qualquer reino de revista de âno, ou a qualquer nação sonhada en-
tre os quatro muro s de Rilhafoles .. .
Enganar- se-ia o leitor que efectivamente fizesse esse reparo. Existe,
em verdade, o paiz onde se dão aquelas circunstancias legais. Esse paiz é a
Inglaterra - a livre e prática Inglaterra. E a lei que prescreve aquilo tudo,
promulgada durante a Guerra e ainda em vigor, é a Defence or the Realm
Act (lei de Oefeza do Reino O, popularmente conhecida, das iniciais do seu
nome, pela designa ção de <Dota».
•
fixemo-nos um pouco nêste exemplo fantastico. Atentemos um mo-
mento nêste caso espantoso. O que temos diante de nós é um sinal dos
tempo s. O ter-se chegado a promulgar, e o co ntinuar-se a manter, num paiz
de que se diz, não sem motivo, que está na vanguarda da civilização, uma
lei da natureza delirante daquela cujas prescrlpções citárnos, revela flagran-
temente a Que ponto se chegou no emprego legis lativo da restrlcção do co-
mercio e do consumo.
A legislação restr ictiva do comercio e do co nsumo, a regulamentação
pelo Estado da vida puramente individual, era corrente na civilização monar-
quica da Edade Media, e no Que dela permaneceu na subseqüen te. O seculo
XIX con siderou sempre seu titulo de gloria o ter libertado, ou o ir libertan-
do, progressivamente o individuo, socia l e eco nomicamente, das peias do Es-
tado. No fund o, a doutrina do seculo XIX- representada em seu relevo ma-
ximo nas teorias sociais de Spencer -r- é uma reversão á politica da Grecia
Antiga, expressa ainda para nós na Politica de Aristoteles -- que o Estado
existe para o individuo, e não o individuo para o Estado, excep to quando
um manifesto interêsse colectivo, co mo na guerra, compele o individuo a
abdicar da sua liberdade em proveito da defeza da sociedade, cuja exls tencie,
aliás, é a garantia do exercício dessa sua mesma liberdade.
Mas de ha um tempo para cá - já desde antes da Guerra, mas sobre-
tud o depois da Guerra, que teve porconseqüencia acentuar certas tendencias,
e entre elas estas, esboçadas anteriormente -a tendencia legislativa começou
a ser exactamente contrária á do secu lo anterior na prática, e dos seculos
anteriores na teoria. Recomeçou-se a res tringir, social e eco nomicamente, a
liberdade do individuo. Começou a tolher-se, social e eco nomicamente, a vida
do comerciante.
34
REVISTA. DE CO.\/ERCIO E COXTABIUDJ.DE
o problema divide-se, evidentemente, em dois problemas - o social e
político, e o comercial. O problema pro priamente social resume-se nisto: que
utilidade, geral ou part icular, para a sociedade ou para o individuo, tem o
emprego da legislação desta ordem? E o problema propriamente político é o
da questão das funções legitimas do Estado, e dos seus naturais Iimites -
um dos problemas mais graves, e porventura menos soluveis, da sociolog ia
Não pertence porêrn á indo le des ta Revista o tratar d êstes problemas, nem,
portanto, seq uer determinar as causas intimas do fenomeno legislativo cuja
evolução acabámos de sumariamente descrever.
É o problema comercial que tem que preocupar-nos. E o problema
comercial é este: Quais são as consequencias comerciais, e economicas, da
aplicação da legislação rest rictiva P E se as ccnsequencias não são comercial
e economica mente benéficas, em proveito de quê, ou de quem, é que se julga
legitimo, necessário, ou conveniente produzir esse maleficio comercial e eco-
nomico? E dar -se-há efectivamente esse proveito?
É o que vamos examinar.
•
A legislação restrictiva ass ume cinco aspectos, consoante o elemento
socia l que prete nde beneficiar. Ha, (1), a legislação restrictiva q ue pretende
beneficiar a cotectividade, o paiz: é a que proíbe a importação de determl-
nados artigos, em geral os chamados <de luxos , com o fito de evitar um
desequilíbrio cambial. Ha, (2), a legislação restrictiva que pretende beneficiar
o consumidor colectivo; é a que proíbe a exportação de determinados arti-
gos, em gera l os chamados -de primeira necessidade», para que não escas-
seiem no mercado. Ha, (3), a legislação restrictiva que pretende beneficiar o
consumidor individual : é a que proibe ou cerceia a venda de determinados
artigos - desde a cocaína ás bebidas a1coolicas - por o seu uso, ou Iacil
abuso, ser nocivo ao individuo; e aquela legislação corrente que proíbe, por
exemplo, o jogo de azar é exactamente da mesma natureza. Ha, (4), a legis-
lação restrictíva que pretende beneficiar o operário e o empregado: é a que
restringe as horas de trabalho, e as de abert ura de estabelecimentos, e põe
limites e condições ao exercido de determinados comercias e de determina-
das industrias. Ha, (5), a legislação restrictiva que pretende beneficiar o in-
dustrial: é a legislação pautai na sua generalidade proteccionista.
fixemos, desde já, o primeiro ponto; tiremos, desde iá, a primeira con-
clusão, que é inevit ável. Todos estes tipos de legislação restrictiva - bene-
ficiem ou não a quem pretendem beneficiar - prejudicam aq uela desgraçada
35
RE VISTA DE COMERC IO E CON TAB/U DADE
entidade chamada o comerciante. A La espécie de legislação restrictiva limi-
ta-lhe as importações ; a 2.- limita-lhe as exportações; a 3.- limita-lhe as
vendas; a 4.- limita-lhe as condições de produção. se é tambem indus-
trial, e as horas de venda. se é simples comerciante; a 5.a restringe-Ihe a
liberdade de concorrer. Não consideremos agora se seria socialmente legitima
ou ilegítima a liberdade que êle teria se essa vária legislação lha não restrin-
gis se. fixemos apenas este ponto : toda esta legislação prejudica o comer-
ciante, toda esta legislação tende a diminuir e afogar o comercio dum palz,
e, na proporção em que o faz, a cercear a expansão da sua vida economica.
Este ponto fica assenle, fica irrevogavelmente assente. Resta saber se ha
qualquer proveito social neste desproveito comercial, se qualquer dos ele-
mentos sociais, que se procura beneficiar com este preju izo ao comercio,
efectivamente beneficía com êsse prejuizo.
•
A restrlccão das importações, e sobretudo a dos artigos I de luxo"
não ocorreu nunca a qualquer cerebro lucido co mo processo directo, ou
fundamental, para melhorar o cambio. Todos sabe m que a melhoria cambial
tem que partir de origens mais vitais e mais profundas. Essa medida é tão-
somente um processo acessorio, ou auxiliar, de tentar co nseg uir esta me-
lhoria.
Mas essas importações, que se restr ingem, de alguma parte hão de vir.
E não é de supôr que o paiz, ou paizes, de onde elas veern, aceitem de bom
grado essa limitação, por pequena que seja, da sua ex portação. Exercerão
represallas - as chamadas represálias eco nomicas. Restringirão, por sua vez,
a nossa exportação para êles. E assi m a limitação da nossa importação re-
dundará numa limitação da nossa exportação. O imped ir que saia ouro dará
em impedir tambe m Que êle entre. Resultado final, pelo melhor : preju izo
para o comerciante importador; nenhu ma influencia real no cambio j preju izo
para o comerciante exportado r; perturbação da vida eco nomica gera l j irrita-
ção do consumidor. Resumo: prejuízo e nada.
•
A restricção da exportação, para Que o artigo não falte no mercado,
exerce-se evidentemente ape nas quando se manifeste a tendencia de exportar
esses artigos, de preferencia a vendê-los no paiz. Ora essa Iendencia só se
36
REVISTA DE COMERCIO E CONTABIUDADE
manifesta rá se a exportação fôr mais remu neradora. E. havendo realmente
cons umo no paiz, a exportação serâ mais remuneradora só quando a moeda
d ête estiver desvalorisada. Ora num paiz de moeda desvalorisada um dos
primeiros propositos dos dirigentes deve ser o valorisá-Ia; provocar e estimu-
lar a exportação é um dos processos mais direc:tos para consegui-lo ; mas
proibir a exportação não é a maneira mais recomendavel de a estimular. Isto,
porêm, é o menos. Limitar a exportação é limitar a produção. Obrigando o
produtor, ou o comerciante seu agente, a vender abaixo do Que pode ven-
der desconsola-se a produção e o comercio. Resulta Que o produtor e o
comerciante ou procuram a porta falsa do contrabando, com o que se lesa
o Estado, e portanto a colectividade; ou baixam instintivamente a produção
e a actividade de venda por verem limitados os seus interêsses primarios.
Ninguem exerce de graça uma profissão, por generoso que seja fóra do
exerc ício déla. Depois, proibir a exportação é proíbi r o comercio de expor-
tação. Como, quando se exporta, se exporta para alguma parte. e essa al-
goma parte, se não pode comprar a nós, comprará a outrem, segue Que a
limitação da nossa exportação é, muitas vezes, não só a limitação da expor-
tação presente, mas lambem a da exportação futura, pois perdemos merca-
dos, que, mais tarde, Quando a nossa exportação estiver reliberada, talvez já
estejam conquistados por outrem, e se nos não abram de novo com Iacili-
dade. Asssim a legislação restrictiva que visa a abastecer o mercado nacio-
nal tende, no fim, para desabastecê-lo, e, quando visa a restringir tempora-
riamente a exportação, consegue, muitas vezes, restringi-la definitivamente.
•
Chegámos ao ponto comico des ta travessia legislativa. C hegârnos ao
exame daquela legislação restrictiva que visa a beneficiar o individuo, im-
pedindo que êle faça mal á sua preciosa saude moral e fisica. É este o caso
de legislação rest rictiva que se acha tipicamente exe mplificado no diploma
que é o exemplo maximo de toda a legislação restrictiva, Quer quanto á sua
natureza, Quer quanto aos seus efeitos - a famosa l ei Sêca dos Es tados
Unidos da America. Vejamos em que deu a ope ração déssa lei.
Não olhemos ao caso social; tratá-lo não es tá na indole dés ta Revista,
nem, portanto, na dês le artigo. Não consideremos o que ha de deprimente e
de ignobil na circunstancia de se prescrever a um adulto, a um homem, o
Que há de beber e o que não há de beber; de lhe pôr açaimo, como a um
cão, ou colête de fôrças, como a um doido. Nem co nsideremos que, indo
37
RErI5TA DE COJIERCIO E CO.'·TABIUDADE
por êsse caminho, não ha lagar certo onde logicamentese deva parar : se o
Estado nos indica o que havemos de beber, porque não decretar o que ha-
vemos de comer, de vestir, de fazer? porque não prescrever onde havemos
de morar, com Quem havemos de casar ou não casar, com quem havemos
de dar-nos ou não dar-nos? Todas estas coisas teem importancia para a
nossa saúde física e moral ; e se o Estado se dispõe a ser medico, tutor e
ama para uma délas, porque razão se não disporá a sê-lo para todas?
Não olhemos, tambem, a Que êste interêsse paternal é exercido pelo
Estado, e que o Estado não é uma entidade abstrata, mas se manifesta atra-
vez de ministros, burocratas e fiscais - homens, ao Que parece, e nossos
semelhantes, e incompeten tes portanto, do ponto de vista moral, senão de
todos os pontos de vista, para exercer sobre nós qualquer vigilancia ou tu-
téla em que sintamos uma autoridade plausiveL Não olhemos a isto tudo,
Que indigna e repugna; olhemos só ás con seq üencias rigorosamente mate-
riais da Lei Sêca, Quais fôram elas? Fôram trez,
(1) Dada a criação necessária, para o ecumprimentoe da Lei, de vastas
legiões de fiscais - mal pagos, como quasi sempre são os funcionarias do
Estado, relativamente ao meio em que vivem - a facil corruptibilidade dêsses
elementos, nêste caso tão so licitados, tornou a lei nula e inexistente para as
pessoas de dinhe iro, ou para as dispostas a gastá-lo. Assim esta lei dum
paiz democratico é, na verdade, restrictiva apenas para as classes menos
abastadas, e, particularmente, para os mais poupados e mais sobrios dentro
délas. Não ha lei socialmente mais imoral que uma que produz êstes resul-
tados. Temos, pois, como primeira conseqüencia da Lei Sêca, o acréscimo
de corruptibilidade dos funcionários do Estado, e, ao mesmo tempo, o dos
privilegia s dos ricos sobre os pobres, e dos Que gastam facilmente sobre os
Que poupam .
(2) Paralelamente a esta larga corrupção dos fiscais do Estado, pagos,
quando não para directamente fornecer bebidas alcoólicas, pelo menos para
as não vêr fornecer, estabeleceu-se, a dentro do Estado propriamente dito,
um segundo Estado, de contrabandistas, uma organização extensissima,
coordenada e disciplinada, com serviços complexos perfeitamente distribui-
dos, destinada á tecnica variada da violação da Lei. Ficou definitivamente
criado e organizado o comercio ilegal de bebidas alcoolicas. E dá-se o caso,
maravilhoso de ironia, de serem estes elementos contrabandistas Que energi-
camente se opõem á revogação da Lei Sêca, pois que é dela que vivem. Afir-
ma-se, mesmo, que, dada a poderosa influencia, eleitoral e social, do Estado
dos Contrabandistas, não poderá ser revogada com facilidade essa lei. Te-
38
RErISTA DE CO.UERC/O E CO....TABILIDADE
mos, pois, como segunda conseqüencia da lei Sêea, a substituição do co-
mercio normal e honesto por um comercio anormal e deshonesto, com a
agravante de êste, por ter que assumir uma organização poderosa para p0-
der exercer-se, se tornar um Segundo Estado, anti-social, dentro do proprio
Estado. E, como derivante desta segunda conseqâencia, temos, é claro, o
prejuízo do Estado, pois não é de supõr que êle cobre impostos aos contra-
bandistas.
(3) Quais fôram, porém, as ccnseqüencias da Lei Sêca quanto aos fins
que directamente visava? Já vimos que quem tem dinheiro, seja ou não al-
coolico, continúa a beber o que quizer. É igualmente evidente que quem
tem pouco dinheiro, e é alcoolico, bebe da mesma maneira e gasta mais-
isto é, prejudica-se fisicamente do mesmo modo, e financeiramente mais. Ha
ainda os casos, tragicamente numerosos, dos alcoólicos que, não podendo
por qualquer razão obter bebidas aleoolicas normais, passaram a ingerir es-
pantosos sucedaneos -loções de cabelo, por exemplo - , com resultados
pouco moralisadores para a própria saúde. Surgiram tambem no mercado
americano varias drogas não alcoólicas, mas ainda mais prejudiciais que o
alcool; essas são livremente vendidas, pois, se é certo que arruinam a saúde,
arruinam-na contudo a dentro da lei, e sem aleool. E o facto é que, segundo
informação recente de fonte boa e autorisada, se bebe mais nos Estados
Unidos depois da Lei Sêca do que anteriormente se bebia. Conceda-se, p0-
rêm, aos que votaram e defendem este magno diploma que numa secção do
publico ele produziu resultados beneficos - aqueles resultados que êles
apontam no acrescimo de depositos nos bancos populares e caixas ecooo-
micas. Essa secção do publico, composta de individuos trabalhadores, pou-
pados e pouco aleoolicos, não podendo, com efeito, beber qualquer cousa
alcoolica sem correr varies riscos e pagar muito dinheiro, passou, visto não
ser dada freneticamente ao aleool, a abster-se dêle, poupando assim dinheiro.
Isto, sim, conseguiram os legisladores americanos - -morallsar> quem não
precisava ser moralisado. Temos, pois, como ultima conseqüencia da
lei Sêca, um efeito excusado e inutil sobre uma parte da população, um
efeito nulo sobre outra, e um efeito daninho e prejudicial sobre uma
terceira.
A Lei Sêca é certo, é um caso extremo. Mas um caso extremo é como
que um caso típico visto ao microscopia: revela flagrantemente as falhas e
as irregularidades dêle. O caso da lei Sêca é extremo por duas raztes -
porque a Lei Sêca é uma lei absolutamente radical, e porque, principalmente
em virtude disso, o Estado se viu obrigado a esforçar-se para que ela efec-
3'
R EYISTA DE COJIER CIO E CONTABiLIDADE
tivamente se cumprisse. As leis menos radicais desta ordem - como, entre
n ôs, a que pretendeu restringir as horas de consumo das bebidas alcoolicas
- naufragam na reacção surda e insistente do publico, que as desdenha e
despreza, e no desleixo de fiscalisação do pr óprio Estado. Nascem mortas;
e, como no caso dos monstros, o melhor é que assi m aconteça, pois, se vi-
vem, vivem a vida inutil e daninha da Lei Sêca dos Estados Unidos.
•
A legislação que restringe as horas de trabalho dos operarios e dos
empregados, e que, derivadamente, limita, por exemplo, as horas de estarem
abertos os estabelecimentos comerciais e indu striais, seria aceitável se para
a sua promulgação se estudasse devidamente o equilibrio a estabelecer entre
as concessões legitimas a fazer aos operarias e empregados, e as necessida-
des, não menos legitimas, da produção e do consumo. Em quas! nenhu ma
lei des ta ordem se atende a este equilíbrio. O ope rário ou empregado é con-
siderado como um ente à-parte, fóra do giro economico da sociedade onde
vive, misteriosamente desligado do industrial ou comerciante que o emprega.
e do consumidor a quem este serve. Legisla-se, em favor do operário ou em-
pregado, contra o comerciante e o industrial, e contra o consu midor ; e su-
põe-se que sobre êsse mesmo empregado ou operaria não recairão nunca
os efeitos dessa legislação. limita-se a producção com restricções sobre res-
írlcções das horas e das cond ições de trabalho ; irrita-se o consumidor com
limitações sobre limitações das horas e das condições de compra e de con-
sumo. Quando, depois, a producção baixa, o consumo se perturba e decresce,
e a estructura social inteira (incluindo o operaria e o empregado) se sente
variadamente disso, olha-se para essas conseqüencias como para um ciclone
ou um terremoto, uma coisa vinda de f6ra e inteiramente imprevisivel.
Expõr o assunto é, neste caso, já criticá-lo. A legislação restrictiva desta
especie é responsavel por grande parte das crises industri ais e comerciais
com que o mundo inteiro hoje se vê a braços . E como a classe dos empre-
gados e operarias não é em geral composta de gente rica, é de supõr que
seja essa classe uma das que finalmente mais veem a sofrer com os resulta-
dos ultimas da legislação que foi feita para seu exclusivo beneficio.
• •
A legislação pautai, que visa a proteger industrias nacionais, enferma..
REI'ISTA DE CO.\fERC/O E CONTABILIDADE
o rdinariamente de um mal parecido com o de que sofre a legislação operá.
ria, a que acabámos de referir-nos. Raras vezes se est uda devidamente o
e quilibrio a estabelecer entre os interêsses dessas industrias e os interêsses
do consumidor.

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