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1 Nota de aula da disciplina Imunorradiobiologia Clínica -2020-1 INTRODUÇÃO A HORMÔNIOS CONCEITO: Hormônios são substâncias químicas que transferem informações e instruções entre as células, em animais e plantas. Também chamados de "mensageiros químicos do corpo", pois coordenam atividades de várias partes do corpo. Os hormônios regulam o crescimento, o desenvolvimento, controlam as funções de muitos tecidos, auxiliam as funções reprodutivas, e regulam o metabolismo (o processo usado pelo organismo para produzir energia a partir dos alimentos). Os hormônios desempenham um papel importante na determinação da qualidade de vida, e muitos são absolutamente essenciais para nossa sobrevivência. Diferentemente das informações enviadas pelo sistema nervoso, que são transmitidas via impulsos elétricos, se deslocam rapidamente, têm um efeito quase imediato e de curto prazo, os hormônios são mais vagarosos e seus efeitos mantêm-se por um período mais longo de tempo. Portanto, os dois sistemas apresentam diferenças quanto à velocidade das respostas e quanto à duração da ação. Eles foram identificados pela primeira vez em 1902, pelos fisiologistas britânicos William Bayliss e Ernest Starling. Atualmente, já foram identificados mais de 100 hormônios. Os hormônios são produzidos por glândulas ou tecidos especializados, que os segregam conforme as necessidades do organismo. A maioria dos hormônios é produzida pelas glândulas do sistema endócrino. O sistema endócrino, que, em conjunto com o sistema nervoso, coordena e controla as reações do organismo, buscando manter o equilíbrio interno. O sistema nervoso percebe o ambiente, controla e integra as informações. O sistema endócrino também executa ações de controle do organismo, atuando por meio dos hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas. Os sistemas Nervoso e Endócrino são coordenados como um supersistema interligado, chamado sistema neuroendócrino. Os principais órgãos do sistema endócrino são o hipotálamo, a hipófise, a glândula tireóide, as glândulas paratireoides, o pâncreas, as glândulas suprarrenais, os testículos e os ovários. As glândulas endócrinas produzem e segregam os hormônios diretamente na corrente sanguínea. Porém, nem todos os hormônios são produzidos pelas glândulas endócrinas. As mucosas do intestino delgado produzem hormônios que estimulam a secreção de sucos digestivos do pâncreas. Outros hormônios são também produzidos pela placenta, um órgão formado durante a gravidez, com a finalidade de regular alguns aspectos do desenvolvimento do feto. Os hormônios são classificados com base na sua composição química. Quase todos os hormônios são peptídios, ou derivados de aminoácidos, que incluem os hormônios produzidos pela parte anterior da hipófise, pela tireóide, paratireóides, placenta e pâncreas. Os hormônios peptídicos são normalmente produzidos na forma de proteínas maiores. Quando seu trabalho é exigido, esses peptídios são decompostos em hormônios biologicamente ativos e secretados no sangue, para que circulem em todo o organismo. Os hormônios esteróides (sexuais) incluem os hormônios secretados pelas glândulas suprarrenais, ovários e testículos. São sintetizados a partir do colesterol e modificados por uma série de reações químicas, até que um hormônio fique pronto para ser posto em ação imediatamente. FUNÇÃO E MECANISMO DE AÇÃO: A maioria dos hormônios é lançada diretamente no sangue, onde circulam através do corpo e exercem seu efeito em concentrações muito baixas. Alguns hormônios trafegam intactos (livres) pela corrente sanguínea, sendo responsáveis pela ação hormonal, propriamente dita, sobre as células. Outros já precisam de uma substância transportadora, como uma molécula de proteína, para se manterem dissolvidos no sangue. As substâncias transportadoras também funcionam como reservatórios de hormônios, mantendo constante a concentração hormonal e protegendo o hormônio ao que estão ligadas contra decomposição química no decorrer do tempo. Os hormônios circulam pelo sangue até atingirem seus tecidos-alvos, onde eles ativam uma série de alterações químicas. Para cumprir sua função o hormônio precisa ser reconhecido por uma proteína especializada nas células do tecido-alvo, chamada de “receptor”. Portanto, os hormônios ligam-se aos receptores localizados sobre a superfície da célula ou no seu interior. Na ligação de um hormônio a um receptor, as moléculas de ambos passam por alterações estruturais que ativam mecanismos no interior da célula (aumenta, diminui ou altera a velocidade do funcionamento da célula) e produzem os efeitos especiais induzidos pelos hormônios. Havendo concentrações anormais de hormônios, a célula pode responder, se necessário, através de um aumento ou diminuição do número de receptores. Caso a concentração de um hormônio no sangue aumente, o número de receptores pode ser diminuído a fim de manter o nível de interação hormonal na célula. Ocorrendo o contrário, esse mecanismo de regulagem aumenta o número de receptores. Existem diversos mecanismos através dos quais os hormônios agem em suas respectivas células-alvo e fazem- nas executar alguma função. Destes, dois mecanismos são bastante importantes: Ativação da adenilciclase e formação de AMP-cíclico intracelular – é o mecanismo geralmente utilizado pela grande maioria dos hormônios protéicos. O hormônio, uma vez ligado a um receptor específico localizado na 2 membrana celular de uma célula-alvo, provoca a ativação de uma enzima intracelular (adenilciclase). Esta enzima converte parte do ATP intracelular em AMP-cíclico. O AMP-cíclico, enquanto presente no interior da célula executa na uma série de alterações fisiológicas como: ativação de enzimas; alterações da permeabilidade da membrana celular; ativação de síntese protéica; aumento na secreção celular. Ativação de genes – é o mecanismo como agem, geralmente, os hormônios esteróides. Através deste mecanismo o hormônio, de encontro à sua respectiva célula-alvo, penetra em seu interior e então se liga a um receptor específico. Ligado ao receptor o hormônio atinge o núcleo da célula, onde genes específicos seriam então ativados. Com a ativação de determinados genes, moléculas de RNA mensageiro se deslocam para o citoplasma da célula e determinam a síntese de determinadas proteínas. Estas proteínas, então aumentam atividades específicas da célula. Alguns hormônios são entregues diretamente ao tecido-alvo, em vez de circularem pela corrente sanguínea. É o caso dos hormônios do hipotálamo que são entregues diretamente à glândula hipófise, onde sua concentração é bem mais elevada que no sistema circulatório. Em última instância, os hormônios controlam a função de órgãos inteiros. Eles controlam o crescimento e o desenvolvimento, a reprodução e as características sexuais. Eles influenciam a maneira como o organismo utiliza e armazena a energia. Além disso, os hormônios controlam o volume de líquido e as concentrações de sal e de açúcar no sangue. Alguns hormônios afetam somente um ou dois órgãos, enquanto outros afetam todo o organismo. Por exemplo, o hormônio estimulante da tireoide (TSH) é produzido na hipófise e afeta apenas a tireóide. Em contraste, o hormônio tireoidiano é produzido na tireóide, mas afeta células de todo o organismo. A insulina, produzida pelas células das ilhotas pancreáticas, afeta o metabolismo da glicose, das proteínas e das gorduras em todo o organismo. REGULAÇÃO HORMONAL: Quando as glândulas endócrinas funcionam mal, as concentrações séricas dos hormônios podem tornar-se anormalmente altas ou baixas, alterando as funções orgânicas. Ocasiona aumento ou perda de peso corporal, osteoporose, doenças cardíacas, perda de desejo sexual, envelhecimento precoce, entre outros, que afetam a saúde e a estética. Para controlar as funções endócrinas,a secreção de cada hormônio deve ser regulada dentro de limites precisos. O organismo precisa detectar a cada momento a necessidade de uma maior ou menor quantidade de um determinado hormônio. O hipotálamo e a hipófise secretam seus hormônios quando detectam que a concentração sérica de outro hormônio por eles controlado encontra-se muito alta ou muito baixa. Os hormônios hipofisários então circulam na corrente sanguínea para estimular a atividade de suas glândulas alvo. Quando a concentração sérica do hormônio alvo é a adequada, o hipotálamo e a hipófise deixam de produzir hormônios, uma vez que eles detectam que não há mais necessidade de estimulação. Este sistema de retroalimentação regula todas as glândulas que se encontram sob controle hipofisário. CONTROLE POR RETROALIMENTAÇÃO ("Feedback") – No controle da parte glandular estão envolvidos os hormônios hipotalâmicos que agem sobre glândulas “alvo” tais como tireóide, adrenais, testículo e ovário. Essas glândulas recebem uma informação “de volta” sobre a necessidade (ou não) da liberação de novos estímulos. Esse mecanismo de ajuste ou correção chama- se retroalimentação ou feedback e tem como finalidade manter a homeostasia, ou seja, informa ao hipotálamo sobre a necessidade de mandar mais estímulo ou menos estímulo. Retroalimentação, portanto é um mecanismo que regula as glândulas endócrinas. O nível de hormônio na corrente sanguínea controla a estimulação ou inibição do exercício da glândula. Uma via em que a resposta se opõe ou remove o sinal é denominada retroalimentação negativa (feedback negativo). Os circuitos de retroalimentação negativa estabilizam a variável fisiológica que está sendo regulada, a fim de que o parâmetro sob controle permaneça dentro de limites normais. O controle feedback ocorre no hipotálamo e na hipófise. Dependendo da sua concentração no sangue, hormônios esteróides podem exercer um feedback positivo ou negativo. Na retroalimentação negativa, a ação dos hormônios procura equilibrar a quantidade de uma substância no organismo. Se ela estiver em excesso, haverá um alerta ao sistema endócrino para diminuir sua concentração. Ao contrário, se a quantidade estiver insuficiente, haverá um alerta para aumentar a produção dessa substância. Esses alertas geram um efeito oposto e trazem de volta o equilíbrio. Em um circuito de retroalimentação positiva, a resposta reforça o estímulo em vez de diminuí-lo ou removê-lo. Na retroalimentação positiva ocorre uma resposta continuamente crescente e que leva a um descontrole temporário do sistema. Um sinal de alerta de aumento de uma substância estimulará o sistema de controle a gerar ainda mais essa substância, intensificando o seu efeito. É necessário uma intervenção ou um evento externo para interrompê-lo. Um exemplo de retroalimentação positiva 3 é a ação da ocitocina. Durante o parto, ao pressionar fortemente as paredes do útero, o bebê estimula a glândula hipófise da mãe a liberar o hormônio ocitocina. Esse hormônio tem a função de estimular ainda mais as contrações do útero a fim de favorecer a saída do bebê. Assim, quanto maior for o estímulo do bebê sobre a parede uterina, maior a liberação de ocitocina, aumentando o efeito inicial. Após o parto, cessa o estímulo sobre a parede uterina e o hormônio ocitocina deixa de ser secretado. Os hormônios produzidos pela hipófise e pelo hipotálamo não se segregam todos eles, de uma forma contínua. Cada hormônio circulante apresenta seu pico de máxima produção e secreção em momentos diferentes do dia de acordo com as necessidades típicas de cada espécie. A maioria é liberada em períodos de uma a três horas, alternando períodos de atividade e de inatividade. Alguns destes hormônios, como a adrenocorticotropina (que controla as glândulas suprarrenais), o hormônio do crescimento (que controla o crescimento) e a prolactina (que controla a produção de leite), seguem um ritmo circadiano. Os ritmos biológicos se referem às mudanças cíclicas que se repetem regularmente em um determinado tempo e estão relacionadas às alterações dos processos fisiológicos. Os ritmos podem ser classificados em circadianos, associados com o dia solar, que se referem às variações que se repetem a cada 24 horas, ultradianos com menos de 24 horas e infradianos com mais que 28 horas. RITMO CIRCADIANO ou ciclo circadiano designa aproximadamente o período de 24 horas, sob o qual se baseia todo o ciclo biológico do corpo humano e qualquer outro ser vivo influenciado pela luz. É um ciclo metabólico que envolve o ciclo de sono e vigília, atividade digestiva, produção de hormônios, regulação térmica e outros processos que se repetem diariamente nos seres vivos. Este ritmo dura cerca de 24 horas e cada um dos processos regulados pelo relógio biológico se repete diariamente aproximadamente nos mesmos horários. Existem outros fatores que também estimulam a produção de hormônios. O sistema nervoso pode controlar a liberação de hormônios através de caminhos neurológicos. A prolactina, um hormônio secretado pela hipófise, faz com que as glândulas mamárias produzam leite. O lactente, ao sugar o mamilo, estimula a hipófise a secretar mais prolactina. A sucção também aumenta a secreção de ocitocina, a qual provoca a contração dos canais lactíferos, conduzindo o leite até o mamilo para alimentar o lactente. A estimulação do mamilo também pode levar a liberação de hormônio luteinizante após a cópula. As concentrações de corticosteróides e do hormônio do crescimento são mais elevadas pela manhã e mais baixos no meio da tarde. EFEITOS Os efeitos dos hormônios são complexos. À medida que um indivíduo se desenvolve mudam as necessidades hormonais de cada órgão, que precisam de hormônios em quantidades precisas e em momentos específicos, os quais variam em diferentes períodos da vida. Alguns hormônios alteram a permeabilidade da membrana celular. Outros podem alterar a atividade de enzimas. E alguns estimulam a liberação de outros hormônios. Um mesmo hormônio pode afetar um tecido de forma diferente daquela com que ele afetaria outro tecido, pois os tecidos celulares estão programados para responder de forma diferente a um mesmo hormônio. Um mesmo hormônio pode também ter efeitos diferentes sobre um mesmo tecido em diferentes épocas da vida. Para aumentar ainda mais essa complexidade, alguns efeitos induzidos por hormônios podem exigir a ação de mais de um hormônio. Este complexo sistema propicia controles de segurança, de forma que, em caso de deficiência de um hormônio, outros o compensarão. COLETA DA AMOSTRA Em geral, a coleta da amostra para dosagem hormonal é feita com o indivíduo em jejum, sempre anotar sexo e idade, a data da última menstruação ou o mês de gestação. Alguns hormônios necessitam que o paciente esteja em repouso antes da coleta, enquanto para outros hormônios segue-se o ritmo circadiano. DETERMINAÇÕES LABORATORIAIS Os testes laboratoriais medem as condições fisiológicas em que um indivíduo se encontra em determinado momento. Os valores encontrados acima ou abaixo de valores de referência têm seus resultados considerados anormais, sugerindo uma condição patológica. 4 AS DISFUNÇÕES ENDÓCRINAS SÃO: 1. Hiperfunção – Excesso de produção hormonal 2. Hipofunção – Deficiência de produção hormonal 3. Patologia Primária ou Secundária – Decréscimo na capacidade de resposta das células alvo FORMAS DE AVALIAÇÃO DA DOENÇA ENDÓCRINA Dosagens hormonais: Exemplo: hormônio total e livre - T4 total e livre Testes de estímulo - Exemplo: Teste de estímulo com insulina para avaliação da deficiência de HGH Testes de supressão – Exemplo: Teste de supressão de cortisol por dexametasona Outros exames que demonstrem a função da glândula - o Exemplo: Glicemia e HbA1c x Insulina ; Cálcio e fósforo x PTH-Renina e Aldosterona Avaliação genética – Exemplo:Mutações nas Neoplasias endócrinas múltiplas INTERFERENTES As dosagens hormonais são especialmente susceptíveis a certas variáveis que ocorrem devido a fatores pré- analíticos, metodológicos e pós-analíticos. Os fatores pré-analíticos são aqueles que ocorrem antes da análise e podem interferir no resultado final da mesma. Refletem as condições do indivíduo, o procedimento de coleta da amostra e sua manipulação. Os fatores metodológicos são aqueles que incidem durante a execução da dosagem. Os fatores pós- analíticos estão relacionados a problemas de comunicação de dados e resultados. Na análise do resultado de uma dosagem hormonal levam-se em consideração algumas observações: - Os valores de referência utilizados não devem ser tomados como absolutos, mas devem ser avaliados dentro da situação clínica em questão; - Dependendo da dosagem, quesitos como sexo, idade, horário da coleta, jejum, uso de medicamentos e outras informações pertinentes devem ser de conhecimento do laboratório; - Os limites de normalidade variam entre laboratórios, metodologia empregada, população atendida, região geográfica, dependência da situação clínica em questão, etc.; - Níveis hormonais precisam, em muitos casos, ser interpretados em conjunção com outros testes que refletem o status hormonal; - Resultados laboratoriais estão sujeitos a interferências de condições anômalas e substâncias estranhas; - Um resultado incompatível com a clínica ou que apresente resultados numericamente surpreendentes deve ser sempre confirmado. As variações fisiológicas que podem afetar os resultados ou a interpretação dos mesmos são dieta, ritmos biológicos, estresse físico ou emocional, doenças não endócrinas e efeitos gerados por medicamentos hormonais. Alguns hormônios apresentam variações significativas com a ingesta alimentar (por exemplo, insulina, hormônio do crescimento, cortisol), outros pouco ou nada são afetados pelo jejum. Uma refeição copiosa pode induzir a um estado de hipertrigliceridemia e interferir nas dosagens, em especial de esteróides. Jejum muito prolongado pode alterar as condições fisiológicas, levando a uma condição de estresse que pode elevar ou baixar valores de alguns hormônios. A atividade física de alta intensidade é um tipo de stress, pois causa lesão tecidual e alterações na intensidade metabólica, podendo desencadear liberação de determinado hormônio. Variações fisiológicas relativas aos ritmos biológicos são induzidas por ritmos circadianos (diários) – cuidado no horário da coleta – fase do ciclo menstrual e ritmos circanuais (restrita a regiões onde as estações são mais marcadas). Além das alterações provocadas por estresse nos hormônios denominados de “hormônios de estresse”, outras condições podem levar a alterações nos níveis séricos de outros hormônios, tais como: postura ereta por um tempo significativo, garroteamento prolongado. O uso de medicações hormonais causa alterações nas dosagens dos hormônios relacionados, daí ser fundamental o conhecimento sobre o uso ou não de hormônios, bem como o horário de tomada da última dose. Para dosagens hormonais sanguíneas utilizam-se em geral amostras de origem venosa. Amostras de outra origem devem ser cuidadosamente identificadas. Em pacientes internados e com infusão de líquidos via endovenosa, a retirada de amostras sanguíneas para a execução de análises laboratoriais deve ser feita em veia afastada do local da infusão (no braço oposto). Amostra de soro com hemólise pode causar problemas técnicos. A hemólise, liberando o conteúdo eritrocitário, transfere para o soro entre outras coisas uma quantidade significativa de enzimas proteolíticas, e desta maneira as determinações potencialmente mais susceptíveis são as dos hormônios peptídicos. Dentre estes se destacam: insulina, glucagon, PTH, ACTH, calcitonina. Um dado importante é que a hemólise por causar um aumento dos níveis de potássio sérico, pode ter importância numa avaliação de função adrenal. O tipo de tubo empregado na coleta da amostra deve estar em conformidade com a metodologia empregada na determinação e com as características do analito. Alguns anticoagulantes são incompatíveis com algumas metodologias, como por exemplo, o EDTA e ensaios imunofluorométricos, isto porque o európio (traçador desses ensaios) é quelado pelo EDTA presente na amostra, invalidando o método. A utilização de gel separador é bastante conveniente, permite uma separação rápida e segura do soro, mas a estocagem a longo prazo traz alguns problemas, sendo necessária a transferência da amostra para outro tubo limpo, pois o gel deteriora com o tempo e pode causar contaminação da amostra. 5 Há interferentes também relacionados ao acondicionamento das amostras no laboratório e para envio para outros laboratórios. É comum a “Síndrome do Bolso do Avental”, caracterizada pelo esquecimento de amostras no bolso do avental (ou dentro das caixas coletoras) em condições nada ideais para a sua preservação. Os fatores metodológicos são aqueles que, presentes na amostra, podem levar a resultados falsos, e a causa mais comum deste tipo de interferência é a presença de anticorpos heterófilos e de anticorpos anti-hormônios. Anticorpos heterófilos são anticorpos contra imunoglobulinas de diferentes espécies (camundongo, carneiro, galinha). Estes anticorpos interferem principalmente por sua capacidade de ligar os dois anticorpos que compõe o ensaio, o de captura e o de revelação, na ausência do antígeno específico, gerando então um falso sinal. No entanto, os métodos imunométricos têm evoluído no sentido de se tornarem mais imunes a este tipo de fenômeno. Anticorpos heterófilos podem causar tanto falsas elevações quanto falsas reduções de hormônios em ensaios de dois sítios. Anticorpos endógenos anti-hormônios são aqueles dirigidos contra outro hormônio levando a valores inesperadamente elevados deste hormônio. OUTROS INTERFERENTES: DISRUPTORES ENDÓCRINOS: Desde o século passado (década de 50), biólogos e naturalistas têm documentado estranhos problemas com animais em distintas partes do mundo. Estes problemas incluem a perda da capacidade reprodutora, mortalidade em massa, deformações em órgãos reprodutores, comportamentos sexuais anormais e diminuição do sistema imunológico de espécies afetadas por variadas substâncias químicas. Alguns destes problemas também foram observados em seres humanos. Os primeiros relatos de substâncias químicas disruptoras endócrinas indicam o Dietilestilbestrol (DES), medicamento usado por mulheres entre os anos 50 e 70, que apresentou resultados desastrosos, dentre eles o câncer da vagina, infertilidade e deformações irreversíveis do útero nas filhas nascidas de mães que o usaram. Em estudo realizado com homens de todo o mundo mostrou que entre 1938 e 1990, aumentaram as anormalidades em espermatozóide e diminuiu a contagem de espermatozóides. Todos eram problemas controlados largamente pelos hormônios. Todas estas espécies sofriam alterações de seu sistema hormonal ou endócrino, ocasionado pela exposição prenatal a substâncias químicas sintéticas. Disruptores endócrinos ou desreguladores endócrinos são agentes e substâncias químicas capazes de alterar o sistema endócrino humano e o equilíbrio hormonal. Um agente "disruptor" hormonal é um agente exógeno que interfere na síntese, reserva/liberação, transporte, metabolismo, ligação, ação ou eliminação de hormônios naturais do organismo responsáveis pela regulação da homeostase e dos processos de desenvolvimento (Kavlock et al. 1996). Atuam em doses muito pequenas, apresentam diferentes mecanismos de ação e incluem um grande número de substâncias com estruturas químicas muito diferentes. No Brasil se usam várias terminologias, como desreguladores endócrinos, disruptores endócrinos e interferentes endócrinos. Os disruptores podem ser substâncias orgânicas ou inorgânicas. Incluem desde produtos químicossintetizados pelo homem até substâncias que se encontram naturalmente no meio ambiente. Seu uso pode se dar tanto em áreas urbanas ou rurais, e podem aparecer como resíduos ou subprodutos derivados de usos industriais dos mais diversos. Nas áreas hospitalares, o uso de alguns tipos de medicamentos e produtos para esterilização de equipamentos cirúrgicos já são comprovadamente citados como interferentes endócrinos e oferecem risco aos profissionais da área. Os disruptores endócrinos agem por mecanismos fisiológicos pelos quais substituem os hormônios do nosso corpo, ou bloqueiam a sua ação natural, ou ainda, aumentando ou diminuindo a quantidade original de hormônios, alterando as funções endócrinas. Mecanismo de ação dos disruptores endócrinos: • Imitando os hormônios endógenos - podendo gerar excesso de envio de mensagens ou mensagens enviadas no tempo errado; • Simulando a formação de mais receptores - os sinais hormonais são multiplicados e conferem um efeito amplificado em hormônios naturais e “sintéticos”; • Atuando como bloqueadores - por ocupação dos sítios receptores na célula, bloqueando o hormônio natural; • Atuando como desativadores de hormônios - acelerando a quebra e eliminação dos hormônios diretamente; • Atuando como desativadores de enzimas - desativando as enzimas responsáveis pela eliminação de hormônios, causando aumento desnecessário de hormônios ativos e enviando mais sinais que o normal e/ou sinais em tempos impróprios; • Atuando como desestruturadores - por reação direta ou indireta com o hormônio alterando sua estrutura ou influenciando as sínteses hormonais. Muitas das substâncias químicas disruptoras endócrinas conseguem ultrapassar a barreira protetora da placenta durante a gestação e atingir o feto. O chumbo, por exemplo, atravessa prontamente a placenta, indo para o feto. Também são encontradas substâncias químicas disruptoras endócrinas que se fixam no leite materno e são passadas ao bebê por ingestão. 6 INTERPRETAÇÃO CLÍNICA DAS DOSAGENS HORMONAIS: • Níveis hormonais devem ser interpretados sob a luz do conhecimento de seu controle e mecanismo de liberação. • Níveis hormonais precisam, em muitos casos, ser interpretados em conjunção com outros testes que refletem o status hormonal. • Os limites de normalidade variam entre laboratórios, técnicas diferentes, regiões diferentes, dependência da situação clínica em questão, etc. • Os limites de normalidade utilizados sejam compatíveis com o paciente. • Resultados laboratoriais estão sujeitos a interferências de condições anômalas e substâncias estranhas. • Dependendo da dosagem: sexo, idade, horário da coleta, jejum e outras variáveis devem ser levados em consideração. • Um resultado incompatível com a clínica ou que apresente resultados numericamente surpreendentes deve ser sempre confirmado. FONTES: BASIC MEDICAL ENDOCRINOLOGY -4ª Ed - H. Maurice Goodman 2009 Avaliação dos Potenciais Problemas Pré-Analíticos e Metodológicos em Dosagens Hormonais – J.G.H.Vieira- Arq Bras Endocrinol Metab 46/1:9-15-2002. Interferentes Endócrinos no Meio Ambiente – PUC-Rio http://acpo94.sites.uol.com.br/interferentes_hormonais.htm Psiconeuroendocrinologia do transtorno de estresse pós-traumático- J.E.Ruiz e cols.- Rev Bras Psiquiatr.;29(Supl I):S7-12- 2007. Kavlock, R.J., 1996. Research needs for risk assessment of health and environmental effects of endocrine disruptors: A review of the U.S. EPA-sponsored workshop. Environ. Health Perspect. 104:715-740. XELEGATI, R.; ROBAZZI, M.L.C.C. Riscos químicos a que estão submetidos os trabalhadores de enfermagem: uma revisão de literatura. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto: v.11 n.3, maio/jun. 2003. SANTAMARTA, J. A ameaça dos disruptores endócrinos. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre: v.2, n.3, jul.2001 GUIMARÃES J.R.P.F. Disruptores endócrinos no meio ambiente: um problema de saúde pública e ocupacional. Publicado pela Associação de Consciência à Prevenção Ocupacional (ACPO) em seu site (http://www.acpo.org.br). ANDREA C. GORE e cols. Introdução aos disruptores endócrinos (DEs) Um guia para governos e organizações de interesse público. Endocrine Society e Ipen-intro-edc-v1.2019. http://www.acpo.org.br/ http://acpo94.sites.uol.com.br/interferentes_hormonais.htm
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