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2 ANTI-HIPERTENSIVOS: DIURÉTICOS ANTI-HIPERTENSIVOS: DIURÉTICOS O tratamento da hipertensão, de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, pode iniciar-se com um diurético tiazídico isolado. Caso não haja controle, são associados outros fármacos de outras classes farmacológicas, como IECAS (inibidores da ECA), BRAs (Bloqueadores do Receptor de Angiotensina), BCC (Bloqueadores de Canais de Cálcio) e por aí vai. Por óbvio, para as associações deve-se levar em conta as demais condições clínicas do paciente. Isso não quer dizer que obrigatoriamente a sub classe farmacológica de diurético que um hipertenso deve fazer uso é a dos tiazídicos. Caso o hipertenso apresente outra situação clínica, como por exemplo, um edema associado à insuficiência cardíaca, outras classes de diuréticos deverão ser utilizadas, no caso um diurético de alça + poupador de potássio. Sendo assim, aproveitaremos esse momento para estudar TODAS as classes de diuréticos Lembre-se que ao reduzir o volume plasmático, aumentando a excreção de Na+ e consequentemente água, se reduz o Débito Cardíaco, e, portanto, a Pressão Arterial. 3 Para entender o mecanismo de ação dos fármacos diuréticos é necessário relembrar a fisiologia da função renal. Vamos relembrar os diferentes segmentos do néfron, unidade funcional do rim. Cada classe de diuréticos atuará em um dos segmentos. Veja na figura abaixo: Falando um pouco da fisiologia, diariamente, 1.200 Litros de sangue passam pelos rins. Destes, apenas 180 Litros são filtrados e destes, em uma situação fisiológica, apenas 1 a 2 Litros são eliminados na urina. Ou seja, 99% do filtrado formado é REABSORVIDO -> Volta do néfron para o sangue. Lembre-se que o filtrado é formado no GLOMÉRULO, no interior da Cápsula de Bowman. A partir daí, é transportado pelos diferentes segmentos do néfron, sendo que, em cada um destes segmentos há a reabsorção de determinados componentes e a secreção de outros. Atenção! REABSORÇÃO -> Retorno do NÉFRON para o SANGUE Para nós, do ponto de vista farmacológico, e focado para concursos, nos interessa saber como e em que quantidade ocorre a REABSORÇÃO de SÓDIO nos diversos segmentos, pois o mecanismo de ação dos fármacos é dependente disto. Por quê? Ao impedir a reabsorção de Na+, impede-se a volta de água para o sangue. Mais água fica nos túbulos renais e, portanto há um aumento da excreção de sódio 4 (propriedade natriurética) e aumento do volume de urina (propriedade diurética), com consequente DIMINUIÇÃO do volume plasmático, DIMINUIÇÃO de Débito Cardíaco e DIMINUIÇÃO de P.A. (lindo né? Rs) Em cada um dos segmentos do néfron, a porcentagem de REABSORÇÃO de sódio é diferente. Veja na figura abaixo: A potência dos fármacos é dependente do local onde atuam, sendo que, um fármaco que atue na alça de Henle, por exemplo, será mais potente que um que atue no Túbulo Contorcido Distal, já que, no primeiro compartimento há uma maior reabsorção de sódio do que no segundo. A exceção é o Túbulo Contorcido proximal, e será explicada a seguir. Para que seja mais compreensível o entendimento do mecanismo de ação de cada fármaco lembre-se que: 5 Agora, vejamos quais diuréticos agem em cada segmento do néfron: TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL (TCP) Agentes INIBIDORES DA ANIDRASE CARBÔNICA como a Acetazolamida • No interior do TCP, a enzima Anidrase Carbônica é a responsável pela conversão de H+ e CO2 em H2CO3 (ácido carbônico). O ácido carbônico, por sua vez, dissocia-se em HCO3- (bicarbonato) e H+. • Este H+ formado dentro da célula do TCP é trocado pelo Na+ que está no Lúmem. Ou seja, H+ sai da célula e vai para o Lúmem do túbulo. E o Na+ sai do Lúmem do túbulo e vai para dentro da célula e posteriormente volta para a circulação sanguínea. Perceba que está ocorrendo REABSORÇÃO de SÓDIO. • Assim, ao bloquear a Anidrase Carbônica (A), não há a troca de Na+ e H+, e o Na+ fica no LÚMEM. Na+ no Lúmem = Água no Lúmem = Poder diurético 6 Como o Túbulo Contorcido Proximal é o segmento em que há a maior porcentagem de reabsorção de sódio, poderíamos pensar que os fármacos que agem nesse segmento inibindo a Anidrase Carbônica, seriam os mais potentes. Porém, isto não é verdade! Como após o TCP ainda há uma grande quantidade de espaço a ser percorrido (Alça de Henle, Túbulo Contorcido Distal, Ducto Coletor), o néfron consegue compensar e reabsorver grande quantidade de Na+, diminuindo o poder diurético desses fármacos. Na prática clínica, a ACETAZOLAMIDA, que é o protótipo dos fármacos inibidores da Anidrase Carbônica, praticamente NÃO é utilizada como DIURÉTICO e sim como fármaco para o controle do glaucoma, atuando na anidrase carbônica presente no globo ocular, diminuindo a quantidade de humor aquoso. Observe na tabela abaixo as principais características dessa classe de fármacos: 7 ALÇA DE HENLE No ramo ascendente espesso da Alça de Henle, há um co-transporte de Na+/ K+/2Cl-, que são transportados do lúmem da ALÇA para o interior da célula, e que, posteriormente é transportado ao sangue. O mecanismo de ação de fármacos que atuam nesse segmento nada mais é do que bloquear a proteína transportadora, inibindo este co-transporte, possibilitando, desta forma, que o Na+ e consequentemente a água mantenham-se no Lúmem, e, portanto, sejam excretados na urina posteriormente. Fármacos que atuam na Alça de Henle são os que têm MAIOR poder diurético de todos os fármacos (veja que neste segmento há uma grande reabsorção de Sódio – 33%). Por isso, tais fármacos são chamados diuréticos de alça. Fármacos desta classe são indicados em condições de • EDEMA (já que tem grande potencial diurético), associado a outras condições clínicas, como insuficiência cardíaca, por exemplo. • HIPERCALEMIA – Já que tais fármacos causam grande depleção de potássio. Isto se dá porque o Túbulo Contorcido Discal e o Ducto Coletor são os segmentos onde há maior SECREÇÃO de Potássio (Potássio jogado no lumem). Quanto maior a quantidade de Sódio no lúmem, maior a quantidade de Potássio Secretada. Como os diuréticos de teto promovem um bloqueio potente da reabsorção de Sódio, nestes segmentos há grande oferta desse íon, promovendo, assim, aumento de secreção e consequente excreção de Potássio. 8 Os protótipos desta classe são a FUROSEMIDA (muito mais usado na prática clínica) e o ÁCIDO ETACRÍNICO. Veja na tabela abaixo as principais características dessa classe de fármacos: Vamos pensar: se temos um paciente HIPERTENSO, que está apresentando edema associado à outra condição clínica, é viável a troca de um diurético tiazídico (menor potencia diurética) por um diurético de alça (maior poder diurético)? SIM, o volume é diminuído, diminui a P.A. e ao mesmo tempo diminui o edema. Além disso, em casos de hipertensão de difícil controle, os diuréticos de alça também são utilizados. São particularidades dos diuréticos de alça: • Mais eficientes • Hipercalciúria • Hiperuricemia • Hipovolemia aguda • Hipomagnesemia • Hipocalemia 9 TÚBULO CONTORCIDO DISTAL Neste seguimento do néfron, a reabsorção de Na+ é mediada por um CO- TRASNPORTE de Na+/Cl-. Tais fármacos são os chamados TIAZÍDICOS, sendo os principais fármacos utilizados para hipertensão em decorrência de sua potência moderada, tendo como protótipos a hidroclorotiazida e a clortalidona. Também levam à depleção de potássio (hipocalemia), porém em menor grau do que os diuréticos de alça. São particularidades dos tiazídicos: • Mais toleráveis • Hiperuricemia • Hiperglicemia • Hipomagnesemia • Hipocalemia • Diminui excreção de cálcio 10 DUCTO COLETOR Neste ramo, há DOIS mecanismos de ações: Inibidores dos Canais de Sódio • Inibindo tais canais, o sódio mantém-se no lúmem do túbulo e é excretado na urina; Antagonistas da Aldosterona • A aldosterona induz a expressão de várias proteínas envolvidas na REABSORÇÃO de Sódio. Assim, antagonizando a aldosterona, INIBE-SE a reabsorção de sódio, o qualmantem-se no lúmen do túbulo e é eliminado na urina. A espironolactona também é bastante utilizada na Insuficiência Cardíaca por seu efeito protetor de hipertrofia cardíaca. Fármacos que atuam no ducto coletor Inibidores dos canais de sódio Amilorida/ Triantereno Antagonistas de Aldosterona Espironolactona 11 Veja na tabela abaixo as principais características destes fármacos: FÁRMACOS QUE AGEM EM TODOS OS SEGMENTOS DO NEFRON O principal fármaco que age em todos os segmentos do néfron é o MANITOL. Trata- se de uma substância de pequeno peso molecular, sendo, portanto, livremente filtrada no néfron. Como é não absorvível, reduz a quantidade de água reabsorvida (mais água fica no lúmen do túbulo e é excretada na urina). É utilizada principalmente em casos de intoxicação, urgência, profilaxia de IRA (como no caso de protocolos de quimioterapia que utilizam cisplatina), e preparo para procedimentos. 12 A tabela abaixo apresenta um resumo desta apostila. LOCAL DE AÇÃO MECANISMO DE AÇÃO PODER DIURÉTICO USO CLÍNICO PROTÓTIPO EFEITOS ADVERSOS PRINCIPAIS TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL Inibição da Anidrase Carbônica Pequeno Glaucoma Acetazolamida Sonolência e parestesia ALÇA ASCENDENTE DE HENLE Inibição do co- transportador de Na+, K, 2Cl Muito grande Condições de EDEMA diversas; Hipercalemia Furosemida Hipocalemia (redução de K+ sérico); Ototoxicidade; Gota Hipomagnesia TÚBULO CONTORCIDO DISTAL Inibição do co- trnsportador de Na+/ 2Cl- Moderado Hipertensão Hidroclorotiazida Aumento da resistência à insulina; DUCTO COLETOR Inibição de canais de Sódio Pequeno Poupadores de Potássio Amilorida e Triantereno Hipercalemia Antagonismo de aldosterona Pequeno Poupadores de Potássio Espirinolactona Efeitos anti- androgênicos (é comum homens apresentarem ginecomastia, por exemplo) TODOS OS SEGMENTOS DO NÉFRON Livremente filtrada no néfron Muito grande Intoxicação, urgência, profilaxia de IRA Manitol Aumento da osmolaridade sanguínea (muita perda de água) Autora: Profa Cá Cardoso
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