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________________________________________________________________ 1 INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – IBET CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO IBET/TERESINA - MÓDULO III – EXIGIBILIADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO João Eudes Soares de Araújo Turma ECT-THE Mar/2020 SEMINÁRIO I - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL 1. Recurso administrativo protocolado intempestivamente tem o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário? Fundamentar sua decisão observando o que dispõe o art. 35 do Decreto Federal n. 70.235/72: “Art. 35. O recurso, mesmo perempto, será encaminhado ao órgão de segunda instância, que julgará a perempção.” O STJ firmou entendimento de que o recurso administrativo, mesmo quando interposto intempestivamente, suspende a exigibilidade do credito tributário, bem como o curso do prazo prescricional, que somente volta a fluir da notificação do contribuinte, acerca do trânsito em julgado da decisão administrativa (arts. 151, III e 174, CTN). A intempestividade da interposição do recurso administrativo não perfaz contexto fático juridicamente relevante para afastar o entendimento do referido Tribunal acerca do tema. Mesmo assim, embora o recurso intempestivo não suspenda a exigibilidade, o crédito já se encontra com a sua exigibilidade suspensa, em razão da impugnação anteriormente feita pelo contribuinte. Também é cediço que impera o poder de autotutela da administração pública, garantindo- lhe a possibilidade de rever de ofício suas ações, inclusive autuações fiscais, nos termos da Súmula nº 473 do STF, que dispõe que “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.” 2. Considerando a presunção de legitimidade dos atos administrativos, a quem compete o ônus da prova nos recursos e impugnações? Até que momento o contribuinte (recorrente) pode juntar aos autos do processo administrativo provas documentais? Diante do que dispõem os arts. 9º e 10º do CPC/15, apresentadas novas provas pelo contribuinte o julgador administrativo deverá dar oportunidade ao Fisco para se manifestar a respeito antes de afetar o processo para julgamento? (Vide anexo I, II e III). Rezam as normas que regulamentam o procedimento administrativo tributário que a produção probatória no processo administrativo tributário compete, de forma concorrente, às partes e ao Julgador. Assim, mesmo produzidas de forma intempestiva pelo impugnante, as provas podem ser analisadas e consubstanciar a decisão, visto que para o julgador não ocorre o instituto da preclusão, devendo, este portanto motivar, haja visto haver o amparo do princípio da livre apreciação das provas desde que motivado, bem como o princípio da segurança jurídica. O contribuinte, segundo a lei, deve apresentar provas até o prazo para defesa, após esse prazo apenas excepcionados pela lei, ou seja, como regra geral, o contribuinte apresenta as provas aos autos (documentais) junto com a impugnação, vez que preclui desse direito em outro momento processual. ________________________________________________________________ 2 Mesmo assim, o julgador deverá valorar as provas a eles apresentadas livremente, sempre buscando a verdade dos fatos e norteado, sempre pelo princípio da proporcionalidade, não se afastando, obviamente da formalidade processual. À luz dos arts. 9º e 10º do CPC/15, “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida” e “o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”. Há, assim, a consagração de regra geral que estipula a prévia oitiva da parte antes de decisões que lhe possam ser prejudiciais, sob pena pena de ferir os princípios do contraditório e da ampla defesa. Contudo, não se aplica no contencioso administrativo as normas aplicadas na função jurisdicional típica, haja vista ser esta regulamentada de forma mais restrita no tocante a legalidade e vinculariedade, cabendo as exceções apenas nos casos previstos em lei, aplicando, quase sempre, nas decisões, o princípio da realidade formal. Na seara administrativa, aplica-se o princípio da legalidade, mas de forma mais amena no tocante a formalidade, pois consubstanciada no informalismo procedimental, bem como no princípio da verdade material, onde o julgador não está adstrito às provas carreadas aos autos pelas partes, mas o próprio julgador, em busca da aplicação mais justa, poderá e deverá produzir provas, bem como analisar provas existentes nos autos, valorando-as, mesmo anexadas extemporaneamente pelas partes. Atualmente entende-se que não se aplica a presunção de legitimidade dos atos administrativos de forma arbitrária e tampouco a administração pública fica exonerada de provar as ocorrências por ela apontada em fiscalização/autuação. Dessa forma, após comprovada a legitimidade do ato da fazenda pública, cabe ao contribuinte em impugnação contestar a fiscalização/autuação, revertendo novamente o ônus à Fazenda Pública, gerando este ciclo de inversão de ônus da prova, não sendo intangível a palavra/acusação fazendária. No que se refere ao momento de juntada das provas documentais no processo administrativo, adrede mencionado, via de regra, alega-se que o momento de juntada dos documentos é até a apresentação da defesa, salvo comprovada justificativa para juntada em momento posterior – motivo de força maior ou ocorrência de fato superveniente. Assim, em caso de apresentação de novos documentos nos autos e comprovadamente alegado o motivo da sua apresentação em determinado momento, deve-se dar a oportunidade de manifestação da parte contrária, sob pena de se ferir o princípio do contraditório e da ampla defesa. Caso não seja possível a manifestação, deverá haver o ‘sopesamento’ dos princípios para válida admissão do mesmo. 3. Os tribunais administrativos exercem “jurisdição”? Justifique sua resposta definindo “jurisdição”. Podem, no ato de julgar, afastar a aplicação de Decreto sob a alegação de sua ilegalidade para com a Lei. Pode a decisão administrativa inovar o feito, agravando o lançamento por ocasião do julgamento da defesa do contribuinte? Jurisdição, segundo Paulo César Conrado, “é dever estatal que objetiva a composição de conflito de interesses”. Nessa acepção, a jurisdição seria também exercida nos denominados processos administrativos tributários. O exercício da jurisdição seria dever cometido predominantemente ao Poder Judiciário, mas não exclusivamente a ele, visto que a ideia de jurisdição não privativa do Poder Judiciário, pois as outras funções políticas (legislativa e executiva), além de suas funções precípuas exercem também de forma atípica a função judicante. Contudo, é cediço que para o exercício de jurisdição é imprescindível que haja imparcialidade material, combinada com independência administrativa. A imparcialidade, que se afere pelos interesses que constituem o objeto do processo, difere da independência, que se mede frente à posição ocupada pelo órgão julgador perante ________________________________________________________________ 3 os demais órgãos do Estado. Os órgãos de julgamento do Fisco são imparciais, material e formalmente. Todavia, os órgãos do Fisco não possuem independência, na medida em que estão integrados a uma das partes do conflito, fazendo parte da Administração Pública ativa (Poder Executivo) e, ainda, seus atos não possuem, ainda, força de coisa julgada. Diferentemente, os Tribunais são integrados a um Poder autônomo e independente (Poder Judiciário), cujas decisões são proferidas em processo sujeito àampla defesa e contraditório, analisadas com independência por seus membros, dotadas de força e autoridade de coisa julgada. Mas, frise-se que o fato dos "Tribunais" administrativos não exercerem jurisdição, em sentido estrito, é uma das razões apontadas para que eles não possam, por si sós, fixar a interpretação das normas jurídicas vinculando os demais órgãos e, tampouco, afastar a aplicação de dispositivo legal (Decreto, por exemplo) por inconstitucionalidade, ou seja, não podem inovar no feito. Súmula CARF nº 2: “O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária” Inobstante o dito adrede, entendemos que na atípica função de julgar, os tribunais administrativos podem afastar a aplicação de lei sob a alegação de sua incompatibilidade com a Constituição, pois lhes compete aplicar aos casos concretos sob julgamento o estabelecido nos princípios constitucionais, nas leis que regem o procedimento administrativo e no direito, como integração da doutrina, jurisprudência e da norma posta. Por fim, não pode a decisão administrativa inovar o feito, agravando o lançamento por ocasião do julgamento da defesa do contribuinte, pois o direito de impugnar atos do poder público é uma garantia do administrado, sendo que essa garantia se esvaziaria se permitido fosse o agravamento do lançamento inicial, quer seja pelo órgão da administração judicante ou mesmo pelo órgão da administração ativa (órgãos de lançamento), quando do exercício, pelo contribuinte, de seu direito de impugnação. O Princípio do Reformatio in Pejus está inserido no Direito Administrativo Fiscal, e essa proibição atinge os próprios órgãos de lançamento, que não poderão praticar um novo lançamento mais gravoso do que aquele que foi objeto de um processo já instaurado, por iniciativa do particular, no exercício de seu direito de impugnar. Isto posto, apesar de ser possível o pleno exercício de Jurisdição, mesmo de forma não precípua, por parte dos Tribunais Administrativos, estes não podem, contudo, sob o manto dessa Jurisdição, agravar o lançamento por ocasião de qualquer julgamento de defesas dos contribuintes. 4. Qual a aplicabilidade do CPC/15 ao processo administrativo tributário? Os enunciados das súmulas vinculantes devem ser observados pela Administração Pública? E os demais enunciados das súmulas do STF em matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional? E os acórdãos em incidente de resolução de demandas repetitivas (vide art. 928, II, do CPC/15)? Com o advento do novo Código de Processo Civil, Lei nº 13.105/2015, que entrou em vigência em 17/03/16, houve alteração positiva quanto à perspectiva de sua aplicação no âmbito administrativo. Em seu art. 15 é expresso ao determinar que na ausência de normas, aplicar-se-á supletivamente e subsidiariamente nos processos eleitorais, trabalhistas ou ADMINISTRATIVOS. Sendo a aplicação subsidiaria e supletiva, devem ser aproveitadas as regras processuais do novo código não só na ausência de norma do processo administrativo, mas também para complementação de matérias já previstas. ________________________________________________________________ 4 E ainda que não houvesse tal determinação expressa, não poderia o julgador se esquivar de seus munus ao argumento de não existir solução legal ao caso posto sob análise, pois a aplicação do CPC se impõe no Processo Administrativo Fiscal por força de outros critérios para preenchimento das lacunas na lei e não somente pelo comando expresso previsto atualmente em seu bojo normativo. Nesse diapasão, vejamos a leitura do acórdão proferido pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, no qual recentemente e de forma expressa se determinou a aplicação subsidiária do NCPC. Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal Período de apuração: 25/06/1999 a 24/09/1999 NORMAS PROCESSUAIS. ADMISSIBILIDADE DO RECURSO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. LEGITIMIDADE PASSIVA Aplicam-se, subsidiariamente, ao processo administrativo fiscal as normas do Código de Processo Civil, como a do seu art. 485 (antigo 267) que permite o conhecimento de ofício das matérias de ordem pública ali expressamente enumeradas, entre as quais consta a legitimidade das partes. (Acórdão 9303-003.834. Processo 16327.001353/2004- 16. Data de Publicação 11/08/2016. Relator Henrique Pinheiro Torres). Os enunciados das Súmulas vinculantes, como o próprio adjetivo diz, vinculam os todos os órgãos do Poder Judiciário (vincula todos os juízes, os tribunais e até mesmo as Turmas do próprio STF), assim como a administração pública, direta ou indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Vincula também o legislativo em sua atividade atípica (de administração). Por isso, a sua aplicação ou não aplicação, enseja reclamação direta ao STF, órgão jurisdicional autor. No que se refere às demais súmulas do STF e STJ, tratam-se de meras jurisprudências uniformes, não gerando qualquer vinculação ou compulsoriedade a sua aplicação. O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas previsto no Novo Código de Processo Civil é instrumento que visa: a) agilizar a prestação jurisdicional; b) diminuir o número de processos judiciais e c) gerar uniformidade na jurisprudência. O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas efetivamente irá permitir uma agilização da prestação jurisdicional e irá gerar uniformidade na jurisprudência. Todavia, tal instituto jurídico não irá servir para diminuir o número de processos judiciais, uma vez que os indivíduos ainda serão obrigados a ajuizarem ações individuais para outorga do bem jurídico mesmo após a fixação de tese jurídica favorável no âmbito do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. A bem da verdade, é necessário observar que o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas padece de algumas idiossincrasias próprias de um instituto novo e que foi muito pouco estudado pelo Direito Brasileiro. Certamente, a amplitude de aplicação do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas irá depender do uso que lhe for dado pelos operadores do direito. Assim, tais institutos é de observação aos mesmos e não de aplicação obrigatória pelos tribunais administrativos, nos termos do Art. 927 do CPC/15. Tais institutos, portanto, não vinculam os órgãos da Administração Pública. 5. A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) é aplicada ao procedimento/processo administrativo fiscal? Quais as implicações da aplicação da LINDB no PAF? Analisar especificamente os arts. 24 e 28 da referida lei (vide Acórdãos do CARF nºs 9202-006.996, 1301-003.284, 9101-003.839). A desconsideração de negócios jurídicos para requalificação dos efeitos tributários por consideração de inexistência de propósito negocial pode ensejar a aplicação do art. 28 da LINDB? A LINDB não se aplica ao procedimento administrativo fiscal, visto que a mesma se refere a atos administrativos e não a procedimentos administrativos fiscais. ________________________________________________________________ 5 O art. 24 da LINDB, no caso, assegura aos contribuintes o princípio da segurança jurídica, de patamar constitucional, que deve nortear todas as decisões administrativas, contudo a norma em comento é direcionada mais para contratos, por isso a não possibilidade da retroatividade. No tocante o que preconiza o art. 28 da referida lei, este sim se aplica, vez que o agente por erro grosseiro deverá responder pelo ato praticado, pois este consubstancia em negligência, o que leva a responsabilidade, mesmo subjetiva. 6. A existência de processo judicial e administrativo concomitantes implica renúncia às instâncias administrativas? (Vide anexos IV, V e VI). Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenasa apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial (Súmula nº 1 do CARF). Segundo o então ministro Joaquim Barbosa, a tramitação simultânea de processos administrativo e judicial é antieconômica e ignora a prevalência dos atos jurisdicionais, independentemente se a instauração do feito judicial precedeu à do processo administrativo. E, ainda, a decisão judicial com trânsito em julgado, ainda que posterior ao término do contencioso administrativo, prevalece sobre a decisão administrativa, mesmo quando a decisão judicial tenha sido desfavorável ao contribuinte e a decisão administrativa lhe tenha sido favorável. Também, é irrelevante que o processo judicial tenha sido extinto sem resolução de mérito, pois a renúncia às instâncias administrativas, em decorrência da opção pela via judicial, insuscetível de retratação (v. art. 38, LEF). Art. 38 - A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos. Parágrafo Único - A propositura, pelo contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto. (grifou-se) Vejamos ementa da ADN Cosit nº 7/2014: Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ementa: CONCOMITÂNCIA ENTRE PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL E PROCESSO JUDICIAL COM O MESMO OBJETO. PREVALÊNCIA DO PROCESSO JUDICIAL. RENÚNCIA ÀS INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVAS. DESISTÊNCIA DO RECURSO ACASO INTERPOSTO. A propositura pelo contribuinte de ação judicial de qualquer espécie contra a Fazenda Pública com o mesmo objeto do processo administrativo fiscal implica renúncia às instâncias administrativas, ou desistência de eventual recurso de qualquer espécie interposto. Quando contenha objeto mais abrangente do que o judicial, o processo administrativo fiscal deve ter seguimento em relação à parte que não esteja sendo discutida judicialmente. A decisão judicial transitada em julgado, ainda que posterior ao término do contencioso administrativo, prevalece ________________________________________________________________ 6 sobre a decisão administrativa, mesmo quando aquela tenha sido desfavorável ao contribuinte e esta lhe tenha sido favorável. A renúncia tácita às instâncias administrativas não impede que a Fazenda Pública dê prosseguimento normal a seus procedimentos, devendo proferir decisão formal, declaratória da definitividade da exigência discutida ou da decisão recorrida. É irrelevante que o processo judicial tenha sido extinto sem resolução de mérito, na forma do art. 267 do CPC, pois a renúncia às instâncias administrativas, em decorrência da opção pela via judicial, é insuscetível de retratação. A definitividade da renúncia às instâncias administrativas independe de o recurso administrativo ter sido interposto antes ou após o ajuizamento da ação. 7. A Administração lavra contra determinado contribuinte auto de infração imputando duas condutas que resultaram em ausência de recolhimento de imposto. Em face do auto, o contribuinte se insurge contra apenas uma das imputações, mantendo-se inerte em relação à remanescente. Pode o Fisco segregar o auto de infração para cobrança da parte não expressamente impugnada? O STJ, Segunda Turma, decidiu que é possível o desmembramento de crédito tributário para a cobrança da parte do débito que não foi impugnado e que não está mais sujeito à modificação no processo administrativo fiscal. Contudo, o Fisco deverá aguardar o término da discussão para a cobrança do Auto de Infração lavrado. Caso entendesse de cobrar cada infração de forma autônoma, poderia ter lavrado dois autos de infrações distintos. 8. Analise os acórdãos lavrados no RE nº 601.314 e na ADIN 2859 e responda, em relação à quebra de sigilo bancário: a) Há diferença entre envio de Declaração de Movimentação Financeira (DIMOF), atual e- FINANCEIRA, pelos bancos à RFB, e a obtenção de extratos bancários pela RFB junto aos bancos, sem autorização judicial. (Vide anexos VII e VIII). b) A declaração efetuada para fins de aproveitamento do Programa que recebeu o nome de “Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária” – RERCT, criado pela Lei n. 13.254/16 está protegida pelo sigilo fiscal? a) Para verificar uma possível diferença entre a e-FINANCEIRA de extratos bancários emitidos pela RFB e o caminho inverso, obtenção de extratos bancários pela RFB junto aos bancos, primeiro precisamos conceituar. Sobre a e-FINANCEIRA, destaca-se que: “Dentro de um processo de evolução tecnológica contínua, foi instituída, pela Instrução Normativa nº RFB 1.571, de 2 de julho de 2015, a e-Financeira, que faz parte do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). Este instrumento passa a ser o único canal de prestação de informações pelas instituições financeiras à Receita Federal, tendo incorporado além das informações prestadas na antiga Dimof, dados sobre aplicações financeiras, seguros, planos de previdência privada e investimentos em ações. (...) Destaque-se que tais informações são protegidas pelo sigilo fiscal, nos termos do art. 198 do Código Tributário Nacional. Quebrar sigilo, seja ele bancário ou fiscal, é tornar algo que não poderia ser divulgado em informação pública. A Constituição Federal estabelece que apenas o Poder Judiciário e as Comissões Parlamentares de Inquérito têm esse poder no País. Não há, portanto, como querem fazer crer alguns, quebra de sigilo de qualquer espécie, mas transferência de informações sigilosas, que permanecem protegidas pelo sigilo fiscal, sob pena de o agente público responder penal e administrativamente. ________________________________________________________________ 7 Desde 2001, ano da edição da Lei Complementar nº 105, o mundo mudou. Os países perceberam a necessidade de atuar em cooperação global para transparência de informações tributárias. Com o patrocínio inicial dos países do G20 e no âmbito do Fórum Global de Transparência, diversas ações foram implementadas para permitir que as administrações tributárias troquem informações para combater de forma eficaz a sonegação, a corrupção, a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo. Acreditar que o Fisco brasileiro não possa participar deste processo é admitir que o Brasil se torne um paraíso para recursos ilícitos e seja classificado como uma jurisdição não transparente, com consequências negativas diretas para os investimentos estrangeiros e para a concorrência e livre iniciativa, ensejando prejuízos para a sociedade brasileira.” Diante das informações acima, verificamos que trata-se de uma transferência de dados sigilosos de determinado portador (Banco ou RFB) que tem o dever de sigilo para outro portador (RFB ou Banco) que mantém a obrigação de sigilo, permanecendo resguardadas a intimidade e a vida privada da pessoa que teve as informações verificadas. Referida verificação cujo acesso da Administração Pública à relação de bens, renda e patrimônio de determinados indivíduos já é amplamente realizada. b) A Lei de repatriação em seu art. 7º, § 1º e § 2º, dispõem que: Art. 7o A adesão ao RERCT poderá ser feita no prazo de 210 (duzentos e dez) dias, contado a partir da data de entrada em vigor do ato da RFB de que trata o art. 10, com declaração da situação patrimonial em 31 de dezembro de 2014 e o consequente pagamento do tributo e da multa. §1o A divulgação ou a publicidade das informações presentes no RERCT implicarão efeito equivalente à quebra do sigilo fiscal, sujeitando o responsável às penas previstas na Lei Complementar no105, de 10 de janeiro de 2001, e no art. 325 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e, no caso de funcionário público, à pena de demissão. §2o Sem prejuízo do disposto no § 6o do art. 4o, é vedada à RFB, ao Conselho Monetário Nacional (CMN), ao Banco Central do Brasil e aos demais órgãos públicos intervenientes do RERCT a divulgação ou o compartilhamento das informações prestadas pelos declarantes que tiverem aderido ao RERCT com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, inclusive para fins de constituição de crédito tributário. Assim, referida declaração encontra-se protegida pelo sigilo fiscal. Ainda, nos termos do Art. 9º, §2º da mesma lei, dispõe que mesmo na hipótese de exclusão do contribuinte do RERCT em face da constatação de apresentação de declarações ou documentos falsos relativos à titularidade e à condição jurídica dos recursos, por si só, não poderá lastrear o procedimento investigatório contra o contribuinte: “Art. 9o Será excluído do RERCT o contribuinte que apresentar declarações ou documentos falsos relativos à titularidade e à condição jurídica dos recursos, bens ou direitos declarados nos termos do art. 1o desta Lei ou aos documentos previstos no § 8º do art. 4º. § 1o Em caso de exclusão do RERCT, serão cobrados os valores equivalentes aos tributos, multas e juros incidentes, deduzindo-se o que houver sido anteriormente pago, sem prejuízo da aplicação das penalidades cíveis, penais e administrativas cabíveis. §2o Na hipótese de exclusão do contribuinte do RERCT, a instauração ou a continuidade de procedimentos investigatórios quanto à origem dos ativos objeto de regularização somente poderá ocorrer se houver evidências documentais não relacionadas à declaração do contribuinte.” ___________________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 8 Outra questão discutida: 9. Existem limitações dos meios de prova no processo administrativo tributário? Podem ser aplicadas no processo administrativo tributário as disposições dos §§ 1º e 2º, do art. 373, do CPC? Relacionar o princípio do contraditório com o primado da busca da verdade no processo administrativo. Trata-se de verdade material ou formal? Como fica a questão da verdade material em face da imposição de prazos à apresentação de impugnação e recursos administrativos, bem como da proibição de emprego de provas obtidas ilicitamente? Em todo e qualquer procedimento/processo, administrativo ou judicial, há limitações dos meios de prova, seja de caráter formal ou material. Aplicáveis ao procedimento administrativo tributário o contido nos §§ 1º e 2º do CPC. O estabelecido no § 1º aplica-se de modo parcial, onde o juiz pode, de forma motivada, distribuir o ônus da prova, não desincumbindo o ônus de cada parte, utilizando-se, sempre, da proporcionalidade ampla. No que se refere o estatuído no § 2º este pode ser aplicado integralmente. Mesmo aplicando-se a passos largos o verdade material dos fatos, prevalece no processo administrativo tributário a verdade formal, haja vista seguir os princípios que norteiam todo e qualquer ato da administração pública, mormente o da legalidade restrita. __________________________________
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