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9 TÍTULOS DE CRÉDITO

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DIREITO EMPRESARIAL
TÍTULOS DE CRÉDITO
Sumário
1	FASES DO DIREITO CAMBIÁRIO	5
2	A FUNÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO	5
3	NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL	6
4	TÍTULOS CAMBIAIS E TÍTULOS CAMBIARIFORMES	9
5	RIGOR CAMBIÁRIO	9
5.1.	LEGISLAÇÃO APLICÁVEL	9
5.2.	CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO	11
5.3.	PRINCÍPIOS CAMBIÁRIOS	11
5.3.1.	Cartularidade ou documentalidade ou da incorporação (cártula = documento = título). “O que importa é a cártula!”	12
5.3.2.	Princípio da literalidade	14
5.3.3.	Princípio da autonomia	15
5.3.4.	A informática e o futuro do direito cambiário	19
6	CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO	20
6.1.	OBRIGAÇÃO QUESÍVEL	20
6.2.	OBRIGAÇÃO PRO SOLUTO E PRO SOLVENDO	20
6.2.1.	Np pro soluto x Np pro solvendo	21
7	CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO	21
7.1.	QUANTO AO MODELO	21
7.2.	QUANTO À ESTRUTURA	21
7.3.	QUANTO À HIPÓTESE DE EMISSÃO	22
7.4.	QUANTO À CIRCULAÇÃO	23
8	LETRA DE CÂMBIO	25
8.1.	CONCEITO	25
8.2.	SAQUE	26
8.3.	REQUISITOS	27
8.4.	ACEITE	28
8.5.	ENDOSSO	31
8.5.1.	Conceito	31
8.5.2.	Formalidade e Efeitos do Endosso:	32
8.5.3.	Como se dá o endosso	33
8.5.4.	Espécies de endosso	33
8.5.5.	Modalidades de endosso	36
8.6.	AVAL	37
8.6.1.	Conceito	37
8.6.2.	Equivalência obrigacional	38
8.6.3.	Características	38
8.6.4.	Como se dá o aval	38
8.6.5.	Quem pode ser avalista	39
8.6.6.	Formas de aval	39
8.6.7.	Tipos de aval	39
8.6.8.	Diferença entre aval e fiança	41
8.7.	ESPÉCIES DE VENCIMENTO DE UMA LETRA DE CÂMBIO	43
8.8.	PRAZO PRESCRICIONAL	43
8.9.	PAGAMENTO	44
9	PROTESTO CAMBIAL	45
9.1.	MODALIDADES DE PROTESTO	46
9.2.	PRAZOS DE PROTESTO	47
10	AÇÃO CAMBIAL	49
11	RESSAQUE	50
12	NOTA PROMISSÓRIA	51
12.1.	CONCEITO	51
12.2.	REQUISITOS	53
12.3.	COMPARATIVO: NOTA PROMISSÓRIA (NP) X LETRA DE CÂMBIO(LC)	54
12.4.	A CLÁUSULA DE JUROS NOS TÍTULOS DE CRÉDITO	56
12.5.	A CLÁUSULA-MANDATO (SÚMULA 60 DO STJ)	57
13	CHEQUE	58
13.1.	CONCEITO	58
13.2.	PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DO CHEQUE	62
13.3.	TIPOS DE CHEQUE	64
13.4.	SUSTAÇÃO DO CHEQUE	65
13.5.	AÇÕES CABÍVEIS PARA COBRANÇA DO CHEQUE	66
13.6.	PAGAMENTO	66
13.7.	ASPECTOS CRIMINAIS	67
14	DUPLICATA	69
14.1.	LEGISLAÇÃO APLICÁVEL	69
14.2.	CARACTERÍSTICAS	70
14.3.	ELEMENTOS PESSOAIS	70
14.4.	A DUPLICATA E O PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE	70
14.5.	ACEITE OU RECUSA DO ACEITE	70
14.6.	PROTESTO DA DUPLICATA	72
14.7.	EXECUÇÃO DA DUPLICATA (ART.15)	72
14.8.	PRESCRIÇÃO	73
15	TÍTULOS DE CRÉDITO E FINANCIAMENTO RURAL, INDUSTRIAL, COMERCIAL E IMOBILIÁRIO	76
16. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	77
ATUALIZADO EM 10/01/2019[footnoteRef:1]
TÍTULOS DE CRÉDITO[endnoteRef:1]
	1 FASES DO DIREITO CAMBIÁRIO
São 04 (quatro fases).
a) Período Italiano – até 1650: mercadores das cidades italianas / necessidade de operar com moedas diferentes em praças diversas (letras de câmbio);
b) Período francês: (1650 até 1848): surge o endosso / a letra de câmbio deixou de ser instrumento de pagamento para instrumento de crédito (podia ser repassado);
c) Período Germânico: (1848=1930): codificadas as normas disciplinadoras da cambial, separando-as das normas de direito comum / proteção especial ao terceiro adquirente de boa-fé, como forma de garantir a circulação do título;
d) Período Uniforme: aprovação, em 1930, das leis uniformes genebrinas sobre letras de câmbio e notas promissórias, e, em 1931, sobre cheques. 
	2 A FUNÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
A função primordial dos títulos de crédito é a mobilização do crédito. Sua finalidade é a circulação. O título de crédito só é verdadeiramente tal quando circula. Fora daí ele deve ser visto mais como documento, do que como título propriamente dito. Essa visão, aliás, vem sido tida pela jurisprudência, que não mais aceita o documento formal, como meio de o credor se beneficiar de uma situação de abstração ou autonomia. Assim é que em muitos casos, demonstrado que o título foi criado não para atender sua função primordial de circulação e mobilização do crédito, tem-se deixado de aplicar certos princípios favoráveis ao credor.
São conhecidos acórdãos que veem em notas promissórias emitidas unicamente como garantia de certos contratos de financiamento, ou de abertura de crédito, não mais um título abstrato, mas um documento representativo de um direito, para cujo exercício se impõe a demonstração da origem do débito. Por exemplo: as notas promissórias emitidas em branco pelos titulares de contas com cheque especial, modalidade do contrato de abertura de crédito. A cártula é preenchida pela instituição financeira (tal prática é vedada – ver Súmula 60 do STJ), englobando todos os débitos constantes da conta, com os encargos contratuais. Ao executar apenas o título, está na verdade o banco não se utilizando do mesmo em sua função, mas com forma de impedir ou dificultar ao extremo a defesa do executado, pois se executasse o contrato teria de anexar os demonstrativos contábeis.
Por isso, muitos comercialistas não veem como incorretas decisões que não aceitam o título para execução, exigindo a comprovação dos débitos mediante a anexação do contrato e dos demonstrativos contábeis. Súmula 258 do STJ – A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. Súmula 233 do STJ - O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado do demonstrativo do débito, não constitui título executivo extrajudicial, porquantocarece da liquidez característica dos títulos de crédito.
	3 NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL
A obrigação cambiária resulta de declaração unilateral de vontade por parte do subscritor do título e não de contrato celebrado com o beneficiário. 
Os devedores de um título de crédito são solidários. Esta regra encontra-se no artigo 47 da Lei Uniforme de Genebra. O devedor solidário que paga ao credor a totalidade da dívida pode exigir, em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada um.
Porém, na obrigação cambial há hierarquia entre os devedores de um mesmo título. Em relação a cada título, a lei irá escolher um para a situação jurídica de devedor principal, reservando aos demais a de co-devedores. Mesmo os co-devedores só terão direito de cobrar dos co-devedores que lhes antecederam.
Várias teorias tentam explicar a natureza dos títulos de crédito. Ex.:teorias contratualistas (existem contratos entre os envolvidos na relação cambiária) versusteorias da declaração unilateral de vontade (A fonte da obrigação cambiária reside na mera declaração unilateral de vontade de quem apõem sua assinatura no título).
Direito Brasileiro: O Código Civil Brasileiro incluiu os títulos ao portador entre as Obrigações por Declaração Unilateral de Vontade. Resta saber se foi adotada a sub-teoria da emissão (exige para a perfeição do vínculo cambiário que o título saia voluntariamente das mãos do subscritor) ou da criação (obrigação cambiária do sacador nasce no momento em que apõe sua assinatura no título). O art. 896 do CC reza que “o título de crédito não pode ser reinvindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação”. Essa norma adota a teoria da criação porque considera legitimado o portador ainda que o título tenha sido posto em circulação sem ou contra a vontade do emitente, dispondo da mesma maneira que o artigo 26, al.2a da LUG.
Resumo - Brasil adotou a teoria da declaração unilateral de vontade e a subteoria da criação.
Demais: 
Teoria do Contrato com Incerta Pessoa: Esta teoria foi adotada por Savigny, seguido por Jolly, Goldschmidt e Unger. Conforme seu enunciado, se contrata com alguém que não se sabe quem é, só o vindo a saber no momento da apresentação do título, ou seja, quando da sua exigibilidade. Nesse momento se descobrirá quem é o credor do título. Parte Savigny da ideia de que quem emite o título geralmente o faz em massa, estando a posse de fato sempre unida à presunção de propriedade.
Teoria do Germe: enunciada pelo famoso jurista Von Ihering, para esta teoria, o título seria como um germe que surge em mãos do devedor, mas que se formava quando circulava, essa era o momento da concepçãodo germe. O título só tem sentido para circular, é esse o seu objetivo, sua razão. O credor é o último portador. Rubens Requião, ao comentar a teoria do germe, afirma: “a declaração de vontade do emissor produz imediatamente um vínculo passivo da obrigação, porém não o direito de crédito correspondente; durante a circulação este existe em germe, em potencial, não pertence, porém, ao patrimônio de ninguém. Amadurece quando deixa de circular. Vivante a classificou como artificiosa, e pergunta: os milhões de títulos nas Bolsas, objeto do comércio, não existem?”.
Teoria da Personificação do Título: formulada por Schweppe, declara que o título é bastante em si, como se ele mesmo fosse o credor. Quando se assina um título, o devedor passa para ele um pouco de si, de sua personalidade, credibilidade, imagem. Como o título personifica o devedor, quem vai pagá-lo, paga a ele mesmo, ou seja, quando se paga o título é porque se quer resgatá-lo, não importando nas mãos de quem ele esteja. A pessoa se reintegrava com a aquisição do título que emitiu. Essa teoria foi contestada sob o argumento de que não pode haver crédito sem credor, uma vez que as coisas materiais não podem ser sujeitos de direitos.
Teoria da Promessa Unilateral: segundo essa teoria, que tem como precursores Einnert e Kuntze, o devedor promete sozinho, unilateralmente. Essa teoria inspirou um pouco o pensamento moderno no sentido de que o título não é simples documento probatório: a) é veículo de promessa; b) a promessa de pagamento é abstrata; independe da relação fundamental; c) não se trata de contrato, mas de promessa unilateral. Assim, surgiu a dúvida se o título é válido quando é emitido ou quando é criado, pois ele poderia ser extorquido.
As próximas teorias são as mais expressivas:
Teoria da Emissão: abraçada por Stobbe e Windscheid, preconiza que o emitente do título dele se desvincula quando o põe em circulação. Só após o abandono voluntário da posse, seja por ato unilateral, seja por tradição, é que nasce a obrigação do subscritor. Sem emissão voluntária não se forma o vínculo.
Teoria da Criação: formulada por Siegel e Kuntze, defende que o direito deriva da criação do título. A vontade do devedor já não importa para tal efeito obrigacional. É o título que cria a dívida. Observa Rubens Requião que “a consequência da teoria da criação é severa e grave. O título roubado ou perdido, antes da emissão, mas após a criação, leva consigo a obrigação do subscritor”. 
Teoria do duplo sentido da vontade: segundo Vivante, autor desta teoria, há dois mundos, que não se comunicam: o mundo dos contratos e o mundo dos títulos. O devedor fica no meio dos dois. Não se pode trazer o fato de um contratante ter deixado de cumprir sua obrigação (no mundo dos contratos) para não pagar aquele que lhe apresentou o título (no mundo dos títulos). Assim, em relação ao seu credor, o devedor do título se obriga por uma relação contratual, motivo por que contra ele mantém intatas as defesas pessoais que o direito comum lhe assegura; em relação a terceiros, o fundamento da obrigação está na sua firma (do emissor), que expressa sua vontade unilateral de obrigar-se, e essa manifestação não deve defraudar as esperanças que desperta em sua circulação.
Para os defensores da chamada teoria da criação, a obrigação cambial nasce a partir da mera criação do título de crédito, ou seja, a partir da sua confecção material, que se consuma com a respectiva assinatura do sacador. Em contrapartida, para os adeptos da teoria da emissão, a obrigação cambial nasce apenas com a entrega voluntária do título de crédito ao tomador, o seu beneficiário.
A grande importância da distinção entre os pontos de vista das duas correntes se manifesta para a solução de casos em que o título seja extraviado ou posto em circulação contra a vontade do sacador. Para a teoria da criação, como a obrigação cambial já havia nascido desde a confecção do título, o sacador estará obrigado nessas situações. Por outro lado, para a teoria da emissão, a obrigação cambial ainda não teria se aperfeiçoado, e, portanto, o sacador não assumiria, nesses casos, obrigação cambial alguma.
O código Civil parece ter adotado a teoria da criação, uma vez que em seu art. 905, parágrafo único, determina que “a prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente”. Por outro lado, em seu art. 896, o Código Civil previu que “o título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação”.
	4 TÍTULOS CAMBIAIS E TÍTULOS CAMBIARIFORMES
Títulos cambiais, genuínos, são a letra de câmbio e a nota promissória. Todos os demais títulos de créditos, como o cheque, a duplicata etc., são considerados apenas assemelhados ou cambiariformes, conforme leciona Pontes de Miranda. Contudo, as regras da letra de câmbio e da nota promissória aplicam-se aos títulos cambiariformes, em tudo que lhes for adequado, inclusive a ação de execução.  
No direito brasileiro, leis especiais regulam os títulos de crédito, alguns usados em larga escala, outros sem grande utilização nas práticas comerciais. Podem ser mencionados: a letra de câmbio; a nota promissória; o cheque; a duplicata; os títulos de crédito rural (nota promissória rural, duplicata rural, cédula rural pignoratícia, cédula rural hipotecária, cédula rural pignoratícia e hipotecária e nota de crédito rural); os títulos de crédito industrial (cédula de crédito industrial e nota de crédito industrial); as debêntures; o warrant; o conhecimento de transportes; as ações; os títulos da dívida pública; a letra imobiliária; e a cédula hipotecária. Alguns destes são civis e outros empresariais.
	5 RIGOR CAMBIÁRIO
Os títulos de crédito para valerem como tal devem obedecer a certos requisitos legais.
A Súmula 387 do Supremo Tribunal Federal diz que“a cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.” (vide art. 891, CC/2002).
O Novo Código Civil adotou o princípio da liberdade de criação e emissão de títulos atípicos ou inominados, resultantes da criatividade da praxe empresarial, com base no princípio da livre iniciativa, pedra angular da ordem econômica (Constituição de 1988, arts. 1º e 170), visando a atender às necessidades econômicas e jurídicas do futuro, tendo em vista a origem consuetudinária da atividade mercantil.
5.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
· Letra de câmbio/nota promissória = Decreto 57663/66 ou Lei uniforme de Genebra;
· Cheque = lei 5474/68;
· Duplicata = 7357/85
ATENÇÃO: Lei Uniforme de Genebra incorporada ao Brasil. STF disse ser sua forma de incorporação legítima e com status de lei ordinária, sendo apta a modificar a legislação ordinária já existente.
Obs.: O CC tem aplicação subsidiária. 
Obs.: O CC/02 não está valendo para: letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata, porque o artigo 903 dispõe que estão ressalvadas as leis especiais. As regras do CC/02 são supletivas às leis especiais. Exemplo: aval parcial, pelo CC/02, não é possível, mas a lei especial permite.
Entendemos, ainda, que as normas do CC/02, aplicam-se:
a) Aos títulos de crédito cuja legislação de regência não determine a aplicação subsidiária da legislação sobre letra de câmbio e nota promissória ou de qualquer outra lei sobre determinado título;
b) Aos títulos nominados, quando a lei de regência for silente sobre determinada matéria, como, por exemplo, título escritural (art. 889, § 3º).
Comentando o art. 903 do CC(salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código), Tepedino (Código Civil Interpretado), afirma que há duas possibilidades para interpretação do presente artigo:
a) O CC pretendeu regular os chamados títulos de crédito atípicos ou inominados, isto é, aqueles que não encontram regulamentação expressa nas leis, fixando requisitos mínimos dos títulos de crédito (na realidade quer o autor referir-se aos títulos não regulados,na conceituação de Fabio Ulhoa Coelho);
b) O CC quis estabelecer uma teoria geral dos títulos de crédito, de modo que, quando não são aplicáveis as normas constantes da legislação especial, seriam aplicáveis as normas do CC. Crítica: quase todas as matérias que o CC regula já se encontram previstas em leis especiais; regulou de forma contraditória em relação, por exemplo, à proibição de aval parcial.
Fabio Ulhoa Coelho sustenta que as normas sobre títulos de crédito encontradas no CC se aplicam apenas aos títulos que não possuírem na lei específica a definição das regras a aplicar (art. 903). É o que ele chama de título de crédito não regulado. Observa, contudo, que não há atualmente no direito brasileiro nenhum título em tais condições.
As normas do CC sobre títulos de crédito diferem-se das aplicáveis às letras de câmbio quanto ao seguinte: (i)proibição das cláusulas de juros (Q - A legislação especial da LC e NP admite expressamente cláusula de juros exclusivamente quando seu vencimento for a vista ou a certo tempo da vista),“não à ordem”, e exoneração de despesas; (ii) admissibilidade de títulos ao portador, se autorizado pela lei específica; (iii) não-vinculação do endossante ao pagamento do título como regra; (iv) não cabimento de aval parcial; (v) títulos nominativos são os emitidos em favor de pessoa cujo nome conste do registro do emitente (art. 921), não se cuidando de identificação do credor no próprio título, como ocorre com a letra de câmbio, mas sim em assentamento externos à cártula.
Em resumo, pode-se dizer que as normas relativas aos títulos de crédito trazidas no CC/02 só serão utilizadas há hipótese em que não venham a contrariar a lei especial, e em particular os tratados internacionais que disciplinam a matéria (Marcelo Bertoldi).
5.2. CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO
Cesare Vivante (seu conceito já foi cobrado em prova objetiva)- É o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. O próprio CC adotou o conceito de Vivante – Art. 887 CC - O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
Estão tratados junto com o Direito das Obrigações no artigo 887 e seguintes do NCC. Representam obrigações de natureza pecuniária. Não se confundem com a própria obrigação. As obrigações representadas em um título de crédito ou têm origem extracambial, como é o caso das originadas de contratos, ou têm origem exclusivamente cambial, como na obrigação do avalista.
5.3. PRINCÍPIOS CAMBIÁRIOS
Obs.: resumo do livro de questões
a) Cartularidade. Exceção: protesto da duplicata por indicação;
b) Literalidade. Exceção: aceite informado por escrito;
c) Autonomia. SUB – Abstração e inoponibilidade
Obs.: os títulos de crédito também possuem atributos:
· Executividade (são títulos executivos extrajudiciais, portanto, poderão ser objeto de ação de execução em caso de inadimplência);
· Negociabilidade (circulação. Foi criado para substituir a moeda, por isso eles têm grande poder de circulação).
5.3.1. Cartularidade ou documentalidade ou da incorporação (cártula = documento = título). “O que importa é a cártula!”
Por isso é chamado de documento dispositivo – imprescindíveis para o exercício do direito dele decorrente.
Resume-se em três frases:
1ªO crédito deve estar materializado em um documento (título). ex. Cheque de sete mil reais representa o crédito de sete mil reais.
2ªPara a transferência do crédito é necessária a transferência do documento (título). O crédito está então documentado. Por isso,para a transferência de um cheque não é suficiente o endosso (escrever que é para alguém). É necessária a tradição.
3ªNão há que se falar em exigibilidade do crédito sem a apresentação do documento. Posse. O exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe sua posse. Quem não se encontra com o título em sua posse, não se presume credor. O princípio da cartularidade é garantia de que o sujeito que postula a satisfação do crédito é mesmo o seu titular (É uma garantia de que o credor não negociou o seu crédito.)
Implicações: (ii) a posse do título pelo devedor presume o pagamento; (ii) só é possível o protesto mediante apresentação do título; (iii) só é possível a execução mediante apresentação o do título.
Obs.:pelo princípio da cartularidade não se pode ajuizar a execução com cópia autenticada de título de crédito = regra geral. Há uma presunção de que quem tem a posse do título é o seu credor. O STJ, no entanto, admitiu excepcionalmente a execução com cópia autenticada de título, no caso de cheque que integra o inquérito policial ou uma ação penal.
Obs.: arquivo de processo civil (execução): O STJ afirma que se não houver risco de circulação, a inicial pode ser instruída por cópia (STJ 712.334/RJ). Não há necessidade de protesto do título de crédito para fins de executabilidade. O direito material cambiário pode substituir um requisito formal pelo protesto. Quem cria essa indisponibilidade é a lei (exemplo: duplicata sem aceite – precisa do protesto para executar).
#IMPORTANTE: Registre-se interessante decisão do Superior Tribunal de Justiça, que entendeu ser título executivo extrajudicial duplicatas virtuais – emitidas por meio magnético ou de geração eletrônica, não se exigindo, para o ajuizamento da execução judicial, a exibição do título. Também os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais.
Já o mero borderô (contrato de desconto bancário) não é considerado por si só um título executivo extrajudicial. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a executabilidade nesse caso dependerá do título de crédito dado em garantia ou à assinatura do devedor e de duas testemunhas. Temática importante.
Obs.: mitigações – duplicata virtual. O §3º do art. 889 do CC admite o título de créditos eletrônico: O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo. Como funciona a duplicata virtual? Há um formulário eletrônico, há a assinatura, aval e endosso digitais. Se quero cobrar, realiza-se um aviso de cobrança. Na prática: empresa A (credora) preenche a duplicata eletrônica de 70 mil para daqui a 90 dias. Ela precisa antes desse dinheiro. Procura o banco e vende a duplicata por 67 mil (deságio). A empresa A transfere a duplicata para o banco. O banco (novo credor) emite o boleto bancário para que o devedor C pague. Se o devedor não pagar? O banco debita da conta da empresa A (antigo credor) o valor de 70 mil. A empresa A então emite um aviso de cobrança. Ex. Petrobrás forneceu combustível para o posto X, que ficou devendo 100 mil. A Petrobrás emitiu uma duplicata virtual. A duplicata foi transferida para o banco do Brasil que emitiu o boleto para o posto x. O posto x não pagou o boleto. O BB debitou da conta da Petrobrás o valor da duplicata. A Petrobrás vai cobrar a duplicata. Ela vai então ajuizar ação de execução. Cadê a duplicata se ela é eletrônica? Como vai ajuizar essa execução sem documentação? Se o processo for eletrônico não haverá problema. Se não for eletrônico - a Petrobrás junta então o boleto, o protesto e o comprovante de entrega da mercadoria. Faz o protesto (a lei de protesto admite o protesto por indicações – quando não tenho a duplicata vou até o tabelionato de protesto e informo os dados da duplicata eletrônica, respondendo civil e penalmente por essas informações). Esse protesto comprova a inadimplência. O posto X apresenta então embargos aduzindo que não foi observado o princípio da cartularidade, que foram acolhidos pelo juiz. O TJ/PR reformou essa decisão, afirmando a possibilidade deexecução de título de crédito eletrônico nos moldes documentados. Essa questão chegou ao STJ (Inf 467), que chancelou o entendimento do TJ/PR, afirmando que a documentação supre a ausência física do título. RESUMO: Requisitos para executar duplicata virtual: boleto, protesto, comprovante de entrega da mercadoria.
*#ATUALIZAÇÃOLEGISLATIVA #DIZERODIREITO: A Lei 13.775/2018: regulamenta a duplicata sob a forma escritural ("duplicata virtual"). Foi publicada ontem (21/12/2018) uma importantíssima lei tratando sobre Direito Empresarial. Trata-se da Lei nº 13.775/2018, que regulamente a duplicata sob a forma escritural.
Vamos entender sobre o que trata a lei. Antes, no entanto, acho importante fazermos uma revisão sobre os principais aspectos da duplicata.
NOÇÕES GERAIS SOBRE DUPLICATA
Conceito de duplicata
Duplicata é...
- um título de crédito
- que consiste em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor
- por conta de mercadorias que ele vendeu ou de serviços que prestou
- e que estão representados em uma fatura
- devendo ser paga pelo comprador das mercadorias ou pelo tomador dos serviços.
Título de crédito genuinamente brasileiro
A duplicata foi criada pelo direito brasileiro, sendo considerada um título genuinamente brasileiro.
Regulamentação
A duplicata é regida pela Lei nº 5.474/68 e, agora, também pela Lei nº 13.775/2018.
O que é a fatura?
A fatura é um documento emitido pelo vendedor ou prestador de serviços no qual são discriminadas as mercadorias que foram vendidas ou os serviços prestados.
Na fatura constam a descrição e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado.
Todas as vezes que for celebrado um contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor é obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº 5.474/68).
No caso de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30 dias, a emissão de fatura é facultativa.
Duplicata e fatura são documentos diferentes
A fatura não é título de crédito. O título é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência do contrato.
Exemplo de emissão de duplicata
O distribuidor “SILVA & SOUZA Ltda.” vendeu para a loja “Bompé” 70 pares de sapatos.
O distribuidor (vendedor) extrai uma fatura dos produtos e emite uma duplicata mercantil dando uma ordem à loja (compradora) para que ela pague ao próprio vendedor o preço dos pares de sapato e eventuais encargos contratuais.
Espécies de duplicata
• Duplicata mercantil: emitida por causa da compra e venda mercantil.
• Duplicata de serviços: emitida por causa da prestação de serviços.
Características da duplicata
a) Título causal: a duplicata só pode ser emitida para documentar o crédito decorrente de dois negócios jurídicos: a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. Essa causa da duplicata é mencionada no próprio título. Por conta dessa característica, alguns autores afirmam que se trata de um título impróprio. Obs: o contrário dos títulos causais são os “não causais” ou “abstratos”, como o caso da nota promissória.
b) Ordem de pagamento.
c) Título de modelo vinculado (título formal): os padrões de emissão da duplicata são fixados pelo Conselho Monetário Nacional. A duplicata somente produz efeitos cambiais se observado o padrão exigido para a constituição do título.
Emissão da duplicata
O vendedor ou prestador dos serviços emite a fatura discriminando as mercadorias vendidas ou os serviços prestados. Com base nessa fatura, esse vendedor ou prestador poderá emitir a duplicata.
Toda duplicata sempre terá origem em uma fatura.
Uma duplicata só pode corresponder a uma única fatura (art. 2º, § 2º, da Lei nº 5.474/68).
Remessa da duplicata para aceite
Aceite é o ato por meio do qual o sacado se obriga a pagar o crédito constante do título na data do vencimento.
Assim, emitida a duplicata, nos 30 dias seguintes, o sacador (quem emitiu o título) deve remeter o título ao sacado (comprador ou tomador dos serviços) para que ele assine a duplicata no campo próprio para o aceite, restituindo-a ao sacador no prazo de 10 dias.
O aceite na duplicata é obrigatório
Na duplicata, o título documenta uma obrigação surgida a partir de um contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços.
Desse modo, se o vendedor/prestador do serviço, que no caso foi o sacador, cumpriu as suas obrigações contratuais, não há motivo para o devedor recusar o aceite.
Em virtude dessa circunstância, a doutrina afirma que o aceite na duplicata é, em regra, obrigatório, somente podendo ser recusado nas hipóteses previstas nos arts. 8º e 21 da Lei nº 5.474/68.
Recusa do aceite
Como vimos, o aceite é, em regra, obrigatório.
As hipóteses previstas na lei em que o aceite pode ser recusado estão relacionadas com situações em que o sacador (vendedor ou prestador dos serviços) não cumpriu corretamente suas obrigações contratuais ou em que há divergência entre aquilo que foi combinado no contrato e o que consta da duplicata. Vejamos:
Recusa do aceite na duplicata mercantil:
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Recusa do aceite na duplicata de serviços:
Art. 21. O sacado poderá deixar de aceitar a duplicata de prestação de serviços por motivo de:
I - não correspondência com os serviços efetivamente contratados;
II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Tipos de aceite
a) aceite ordinário: ocorre quando o sacado (comprador ou tomador dos serviços), não encontra nenhum problema em aceitar e, por isso, assina em um campo próprio localizado na frente (anverso) do título, devolvendo-o em seguida.
b) aceite presumido: ocorre quando o sacado resolve não assinar ou não devolver a duplicata assinada, no entanto, ao receber as mercadorias compradas ele assinou o comprovante de recebimento, sem fazer qualquer ressalva quanto aos bens adquiridos. Ora, se ele recebeu normalmente as mercadorias é porque se presume que o vendedor cumpriu sua obrigação contratual. Logo, esse comprador deveria ter feito o aceite da duplicata. Nesses casos, o sacador deverá fazer o protesto do sacado por falta de aceite ou por falta de pagamento.
Diante disso, é admitido como aceite presumido da duplicata:
O comprovante de entrega das mercadorias assinado pelo sacado acompanhado do instrumento do protesto do título por falta de aceite ou falta de pagamento.
c) aceite por comunicação: ocorre quando o sacado retém o título e expressa o aceite em carta ou comunicado. Essa comunicação, mesmo escrita fora do título, produz os mesmos efeitos do aceite.
Protesto
Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião de protesto, com a finalidade de provar:
i) a inadimplência do devedor
ii) o descumprimento de obrigação constante de título de crédito; ou
iii) qualquer outro ato importante relacionado com o título (ex: falta de aceite).
No caso da duplicata, para que serve o protesto?
O protesto poderá servir para provar três situações distintas:
i) a falta de pagamento;
ii) a falta de aceite da duplicata;
iii) a falta de devolução da duplicata;
Protesto por indicações
O procedimento para que haja o protesto de um título de crédito é, resumidamente, o seguinte:
1) O credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que haja o protesto, e informando os dados e endereço do devedor;
2) O tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) Se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no endereço apresentado pelo credor;
4) A intimaçãoé realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado.
5) Se o devedor ficar inerte ou tentar e não conseguir sustar o protesto, será lavrado e registrado o protesto.
O procedimento do protesto da duplicata é exatamente este acima explicado, havendo, no entanto, uma diferença: o chamado protesto por indicações. Como vimos acima, na etapa 1, para que haja o protesto, é necessário que o credor leve o título original. Assim, em regra, para o protesto de títulos de crédito, exige-se a apresentação do original em razão do princípio da cartularidade. Ocorre que, como já vimos também, existe a possibilidade de o sacado (comprador ou tomador dos serviços) receber a duplicata para fazer o aceite e acabar não devolvendo o título para o sacador. Desse modo, além de não apor o aceite, o devedor não devolve o título. Nesse caso, se fosse exigida a apresentação do título, o protesto seria impossível, já que o título ficou em poder do devedor. Logo, se o sacado não devolveu a duplicata, o sacador (vendedor ou prestador dos serviços) poderá fazer o protesto da duplicata por indicações (dando apenas as informações do título), ou seja, sem apresentar a duplicata no Tabelionato de Protesto. Se a duplicata foi remetida para aceite e não foi devolvida pelo sacado, poderá haver protesto mediante simples indicações dos dados do título, ou seja, são fornecidas ao Tabelionato de Protesto as informações do título retiradas do Livro de emissão de duplicatas, livro que é obrigatório para os empresários que emitem duplicata. Essas indicações da duplicata poderão ser encaminhadas, inclusive, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas (art. 8º, parágrafo único, da Lei n.° 9.492/97). O protesto por indicações somente pode ser feito no caso de falta de devolução ou também nas hipóteses de falta de aceite ou de falta de pagamento?
1ª corrente: o protesto por indicações somente pode ser feito no caso de falta de devolução. Posição tradicional defendida por Wille Duarte Costa.
2ª corrente: o protesto por indicações pode ser feito em qualquer hipótese. É defendida pela doutrina mais moderna, como Fábio Ulhoa Coelho e Marlon Tomazette.
DUPLICATA VIRTUAL
Espécies de duplicata
Conforme explica Marcelo Augusto de Barros, na prática, existem hoje em dia, três espécies de duplicatas:
1) as assinadas em papel. São as tradicionais, porém atualmente em desuso;
2) as assinadas por certificado digital, conforme autoriza a MP 2.200-2/2001. Chamadas no mercado de securitização de recebíveis de “duplicata digital”;
3) as que sequer são emitidas formalmente, correspondentes às informações presentes nos boletos bancários. Ficaram conhecidas pela denominação “duplicata virtual” a partir do julgamento do EREsp 1024691 pelo STJ em 2012.
Lei nº 13.775/2018
A Lei nº 13.775/2018 “dispõe sobre a emissão de duplicata sob a forma escritural”.
“Duplicata sob a forma escritural” nada mais é do que aquilo que a doutrina e a jurisprudência chamaram de “duplicata virtual” (o terceiro grupo acima exposto). Outro sinônimo para o instituto é “duplicata eletrônica”.
Assim, o objetivo da Lei nº 13.775/2018 foi o de regulamentar a prática da duplicata virtual, utilizando, contudo, uma nomenclatura mais técnica, qual seja, “duplicata sob a forma escritural”.
Como funciona uma “duplicata virtual” (duplicata sob a forma escritural)
1) O contrato de compra e venda ou de prestação de serviços é celebrado.
2) Em vez de emitir uma fatura e uma duplicata em papel, o vendedor ou fornecedor dos serviços transmite em meio magnético (pela internet) a uma instituição financeira os dados referentes a esse negócio jurídico (partes, relação das mercadorias vendidas, preço etc.).
3) A instituição financeira, também pela internet, encaminha ao comprador ou tomador de serviços um boleto bancário para que o devedor pague a obrigação originada no contrato. Ressalte-se que esse boleto bancário não é o título de crédito. O título é a duplicata que, no entanto, não existe fisicamente. Esse boleto apenas contém as características da duplicata virtual.
4) Se chegar o dia do vencimento e não for pago o valor, o credor ou o banco (encarregado da cobrança) encaminharão as indicações do negócio jurídico ao Tabelionato, também em meio magnético, e o Tabelionato faz o protesto do título por indicações.
5) Após ser feito o protesto, se o devedor continuar inadimplente, o credor ou o banco ajuizarão uma execução contra ele, sendo que o título executivo extrajudicial será: o boleto de cobrança bancária + o instrumento de protesto por indicação + o comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços.
Previsão legal
A Lei de Duplicatas (Lei nº 5.474/68) não previu as chamadas duplicatas virtuais, até mesmo porque naquela época os sistemas informatizados ainda não estavam tão desenvolvidos. A Min. Nancy Andrighi afirmava, contudo, mesmo antes da Lei nº 13.775/2018, que as duplicatas virtuais tinham previsão legal no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.492/97 e no art. 889, § 3º do CC-2002. Agora, a Lei nº 13.775/2018 disciplinou a duplicata sob forma escritural (duplicata virtual).
Antes da Lei nº 13.775/2018, a duplicata virtual já era considerada válida?
SIM. Em 2012, o STJ pacificou o entendimento que é válida a duplicata virtual. Confira a ementa:
(...) 2. Embora a norma do art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 permita o protesto por indicação nas hipóteses em que houver a retenção da duplicata enviada para aceite, o alcance desse dispositivo deve ser ampliado para harmonizar-se também com o instituto da duplicata virtual, conforme previsão constante dos arts. 8º e 22 da Lei 9.492/97.
3. A indicação a protesto das duplicatas mercantis por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados encontra amparo no artigo 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97. O art. 22 do mesmo Diploma Legal, a seu turno, dispensa a transcrição literal do título quando o Tabelião de Protesto mantém em arquivo gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento da dívida.
4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata virtual, deve-se considerar que o que o art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 admite, essencialmente, é o protesto da duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante simples indicação de seus elementos ao cartório de protesto. Daí, é possível chegar-se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por indicação na hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como expressamente previsto no referido artigo, mas também na de duplicata virtual amparada em documento suficiente.
5. Reforça o entendimento acima a norma do § 2º do art. 15 da Lei 5.474/68, que cuida de executividade da duplicata não aceita e não devolvida pelo devedor, isto é, ausente o documento físico, autorizando sua cobrança judicial pelo processo executivo quando esta haja sido protestada mediante indicação do credor, esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria e o sacado não tenha recusado o aceite pelos motivos constantes dos arts. 7º e 8º da Lei.
(...)
7. O protesto de duplicata virtual por indicação apoiada em apresentação do boleto, das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados não descuida das garantias devidas ao sacado e ao sacador.
8. Embargos de divergência conhecidos e desprovidos.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1024691/PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/08/2012.
Assim, segundo decidiu o STJ, as duplicatas virtuais emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento da execução, conforme previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº9.492/97.
Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual, devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços, suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais.
REGULAMENTAÇÃO DA LEI 13.775/2018
Como vimos acima, a jurisprudência do STJ já admitia a duplicata sob a forma escritural (chamada de “duplicata virtual” ou “eletrônica”).
No entanto, como ainda havia resistência por parte de alguns doutrinadores e Tribunais, fez bem o legislador ao disciplinar o tema, fixando a possibilidade expressa dessa prática.
Vejamos agora um resumo dos principais pontos tratados pela Lei nº 13.775/2018:
Duplicata sob a forma escritural
Conforme já mencionado, a Lei nº 13.775/2018 opta por não utilizar o nome “duplicata virtual”, falando, portanto, em duplicata sob a forma escritural.
Assim, a Lei nº 13.775/2018 dispõe sobre a emissão de duplicata sob a forma escritural.
Autorização expressa para duplicata sob a forma escritural
A Lei inicia enunciando, em seu art. 2º, que:
A duplicata (Lei nº 5.474/68) pode ser emitida sob a forma escritural, para circulação como efeito comercial, devendo observar as regras da Lei nº 13.775/2018.
Assim, não há mais dúvidas de que a “duplicata virtual” é admitida pelo Direito brasileiro.
Entidades que irão exercer a atividade de escrituração
A Lei prevê que a atividade de escrituração de duplicatas escriturais será feita por entidades que irão se especializar nisso. No entanto, tais entidades somente poderão prestar esse serviço após serem autorizadas “por órgão ou entidade da administração federal direta ou indireta a exercer a atividade de escrituração de duplicatas” (art. 3º, § 1º).
Essas entidades, muito provavelmente, serão instituições financeiras.
A Lei não diz qual será esse órgão ou entidade da administração federal, no entanto, muito provavelmente, será o Banco Central ou o Conselho Monetário Nacional.
Tais entidades deverão manter um sistema eletrônico de escrituração onde serão feitos os lançamentos das emissões de duplicata sob a forma escritural.
Emissão
Como dito acima, a emissão de duplicata sob a forma escritural deve ser feita mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por uma das entidades que exerçam a atividade de escrituração de duplicatas escriturais.
Apresentação
A apresentação da duplicata escritural será efetuada por meio eletrônico, observados os prazos determinados pelo órgão ou entidade da administração federal que regulamentar a Lei nº 13.775/2018 (provavelmente o BACEN ou o CMN).
Enquanto não houver prazo fixado na regulamentação, este será de 2 dias úteis contados de sua emissão.
Recusa
O devedor poderá, por meio eletrônico, recusar, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º da Lei nº 5.474/68 (Lei das Duplicatas), a duplicata escritural apresentada ou, no mesmo prazo acrescido de sua metade, aceitá-la.
Veja o que dizem os arts. 7º e 8º da Lei das Duplicatas:
Art. 7º A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.
§ 1º Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção.
§ 2º - A comunicação de que trata o parágrafo anterior substituirá, quando necessário, no ato do protesto ou na execução judicial, a duplicata a que se refere.
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Protesto
Um dos requisitos da duplicata tradicional (chamada de “cartular” ou “não escritural”) é que ela deverá conter “a praça de pagamento” (art. 2º, § 1º, VI, da Lei nº 5.474/68).
Essa informação é importante porque o protesto da duplicata deverá ser tirado na praça de pagamento constante do título (art. 13, § 3º da Lei nº 5.474/68).
E no caso das duplicatas virtuais?
A Lei nº 13.775/2018 diz que:
Para fins de protesto, a praça de pagamento das duplicatas escriturais deverá coincidir com o domicílio do devedor, ou seja, a praça de pagamento é o domicílio do devedor.
O que é o domicílio do devedor?
O domicílio das demais pessoas jurídicas é o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos (art. 75, caput, do Código Civil).
Se a pessoa jurídica tiver diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados (art. 75, § 1º, do CC).
Exceção:
As partes podem combinar, de forma expressa, que o protesto será tirado em outro local que não é o domicílio do devedor segundo as regras fixadas no art. 75 do Código Civil. Para isso, no entanto, é necessário que fique demonstrada a concordância inequívoca do devedor.
Essa exceção é prevista no art. 12, § 3º da Lei nº 13.775/2018 e no art. 327 do Código Civil:
Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Resumindo:
• protesto da duplicata escritural deve ser tirado na praça de pagamento.
• em regra, a praça de pagamento das duplicatas escriturais é o domicílio do devedor.
• assim, em regra, o protesto da duplicata escritural deve ser realizado no domicílio do devedor.
• as partes poderão convencionar (combinar) de modo diverso. No entanto, isso deve ser feito de forma expressa e desde que se demonstre a concordância inequívoca do devedor.
Central Nacional de RTD
A Lei nº 13.775/2018 prevê que deverá ser criada uma “Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos”.
Esta Central será, então, autorizada a fazer a escrituração de duplicadas.
No caso de escrituração de duplicata feita pela Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos, a referida escrituração será de responsabilidade do oficial de registro do domicílio do emissor da duplicata.
Se o oficial de registro ainda não estiver integrado ao sistema central (ex: algum Município do interior), a competência para a escrituração será transferida para o oficial de registro da Capital do Estado.
O valor total dos emolumentos cobrados pela Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos para a prática de escrituração de duplicatas será fixado pelos Estados e pelo Distrito Federal, observado o valor máximo de R$ 1,00 (um real) por duplicata.
Aspectos do título que deverão ser, obrigatoriamente, escriturados
Como vimos acima, a emissão de duplicata sob a forma escritural será feita mediante lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por entidade autorizada.
O art. 4º da Lei nº 13.775/2018 diz então que, neste sistema eletrônico, deverá haver a escrituração, no mínimo, dos seguintes aspectos:
I - apresentação, aceite, devolução e formalização da prova do pagamento;
II - controle e transferência da titularidade;
III - prática de atos cambiais sob a forma escritural, tais como endosso e aval;
IV - inclusão de indicações, informações ou de declarações referentes à operação com base na qual a duplicata foi emitida ou ao próprio título; e
V - inclusão de informações a respeito de ônus e gravames constituídos sobre as duplicatas.
Responsabilidade pelas comunicações dos atos
As comunicações dos atos da duplicata ao devedor e aos demais interessados deverão ser realizadas pelo gestor do sistema eletrônico de escrituração. A forma e os procedimentos que deverão ser observados para a realizaçãodessas comunicações serão definidos em regulamento a ser editado pelo Poder Público. A comprovação da entrega e do recebimento das mercadorias ou a comprovação da prestação dos serviços deverão ser feitas também em meio eletrônico
O sistema eletrônico de escrituração deverá ter e mecanismos que permitam ao sacador e ao sacado comprovarem, por quaisquer meios de prova admitidos em direito, a entrega e o recebimento das mercadorias ou a prestação do serviço, devendo a apresentação das provas ser efetuada em meio eletrônico.
Endossantes e avalistas
Os endossantes e avalistas indicados pelo apresentante ou credor como garantidores do cumprimento da obrigação constarão como tal dos extratos.
Liquidação do pagamento é prova de pagamento
Constituirá prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata emitida sob a forma escritural a liquidação do pagamento em favor do legítimo credor, utilizando-se qualquer meio de pagamento existente no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
A prova de pagamento deverá ser informada no sistema eletrônico de escrituração com referência expressa à duplicata amortizada ou liquidada.
Extrato do registro eletrônico da duplicata
Os gestores dos sistemas eletrônicos de escrituração ou os depositários centrais, na hipótese de a duplicata emitida sob a forma escritural ter sido depositada, expedirão, a pedido de qualquer solicitante, extrato do registro eletrônico da duplicata.
O extrato de que trata o caput deste artigo pode ser emitido em forma eletrônica, observados requisitos de segurança que garantam a autenticidade do documento.
Conteúdo do extrato
Deverão constar do extrato expedido, no mínimo:
I - a data da emissão e as informações referentes ao sistema eletrônico de escrituração no âmbito do qual a duplicata foi emitida;
II - os elementos necessários à identificação da duplicata (art. 2º da Lei nº 5.474/68);
III - a cláusula de inegociabilidade; e
IV - as informações acerca dos ônus e gravames.
Cópia dos extratos
O sistema eletrônico de escrituração deverá manter em seus arquivos cópia eletrônica dos extratos emitidos.
Informação sobre inadimplementos
Será gratuita a qualquer solicitante a informação, prestada por meio da rede mundial de computadores, de inadimplementos registrados em relação a determinado devedor.
Título executivo
A duplicata emitida sob a forma escritural e o extrato são títulos executivos extrajudiciais, devendo-se observar, para sua cobrança judicial, o disposto no art. 15 da Lei nº 5.474/68.
Esse art. 15 traz as regras para o processo de cobrança da duplicata.
Vale ressaltar, mais uma vez, que, neste ponto, a lei positiva aquilo que já era admitido pela jurisprudência do STJ:
(...) 1. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de ser possível o ajuizamento de execução de duplicata virtual, desde que devidamente acompanhada dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria e da prestação do serviço. (...)
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1559824/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/12/2015.
Lançamentos no sistema eletrônico equivalem ao livro de duplicatas
Os lançamentos no sistema eletrônico de escrituração substituem o Livro de Registro de Duplicatas, previsto no art. 19 da Lei nº 5.474/68.
Nulas cláusulas que proíbam as duplicatas sob a forma cartular ou escritural
São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta, a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural (art. 10 da Lei nº 13.775/2018).
Regulamentação
O Governo Federal irá definir um o órgão ou entidade da administração pública federal para autorizar o funcionamento das entidades responsáveis pela escrituração de duplicatas escriturais.
Este órgão ou entidade irá também regulamentar a Lei nº 13.775/2018.
Sanções para o descumprimento
Em caso de descumprimento da Lei nº 13.775/2018 ou de sua regulamentação, serão aplicáveis as disposições da Lei nº 13.506/2017 (Lei que trata sobre o processo administrativo sancionador nas esferas de atuação do Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários).
O responsável pelas sanções será o órgão ou entidade da administração federal que ficar responsável pela regulamentação das escriturações.
Aplicação subsidiária da Lei nº 5.474/68
As duplicatas escriturais são regidas pela Lei nº 13.775/2018, mas devem ser aplicadas, de forma subsidiária, as disposições da Lei nº 5.474/68.
ALTERAÇÕES NA LEI DO PROTESTO
A Lei nº 9.492/97 regulamenta o protesto de títulos.
A Lei nº 13.775/2018 promoveu duas alterações nesta Lei.
A primeira delas foi a inserção do § 2º ao art. 8º da Lei:
Art. 8º Os títulos e documentos de dívida serão recepcionados, distribuídos e entregues na mesma data aos Tabelionatos de Protesto, obedecidos os critérios de quantidade e qualidade.
(...)
§ 2º Os títulos e documentos de dívida mantidos sob a forma escritural nos sistemas eletrônicos de escrituração ou nos depósitos centralizados de que trata a Lei nº 12.810, de 15 de maio de 2013, poderão ser recepcionados para protesto por extrato, desde que atestado por seu emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem com o que consta na origem.
A segunda foi o acréscimo do art. 41-A com a seguinte redação:
Art. 41-A. Os tabeliães de protesto manterão, em âmbito nacional, uma central nacional de serviços eletrônicos compartilhados que prestará, ao menos, os seguintes serviços:
I - escrituração e emissão de duplicata sob a forma escritural, observado o disposto na legislação específica, inclusive quanto ao requisito de autorização prévia para o exercício da atividade de escrituração pelo órgão supervisor e aos demais requisitos previstos na regulamentação por ele editada;
II - recepção e distribuição de títulos e documentos de dívida para protesto, desde que escriturais;
III - consulta gratuita quanto a devedores inadimplentes e aos protestos realizados, aos dados desses protestos e dos tabelionatos aos quais foram distribuídos, ainda que os respectivos títulos e documentos de dívida não sejam escriturais;
IV - confirmação da autenticidade dos instrumentos de protesto em meio eletrônico; e
V - anuência eletrônica para o cancelamento de protestos.
§ 1º A partir da implementação da central de que trata o caput deste artigo, os tabelionatos de protesto disponibilizarão ao poder público, por meio eletrônico e sem ônus, o acesso às informações constantes dos seus bancos de dados.
§ 2º É obrigatória a adesão imediata de todos os tabeliães de protesto do País ou responsáveis pelo expediente à central nacional de serviços eletrônicos compartilhados de que trata o caput deste artigo, sob pena de responsabilização disciplinar nos termos do inciso I do caput do art. 31 da Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994.
Vigência
A Lei nº 132.775/2018 foi publicada em 21/12/2018 e entra em vigor no dia 20/04/2019 (120 dias depois de sua publicação oficial).
RESUMO
Regra geral: só pode executar com título original. Nem cópia é admitida.
Mitigações (STJ):
· Não houver risco de circulação;
· Caso de cheque que integra o inquérito policial ou uma ação penal;
· Duplicata virtual: boleto, protesto, comprovante de entrega da mercadoria.
Atualmente, o Brasil já possui regulamentação legal da matéria: trata-se da Medida Provisória 2.200/2, de 2001, a qual instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP - Brasil) e que dispôs, em seu art. 1.º, o seguinte: “Fica instituída a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP – Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras”.
Obs. Só pode haver protesto com a posse da duplicata? NÃO. Pode ser feito por indicações.
Enunciado 462 da 5ª Jornada de Direito Civil: dos títulos de crédito, foram editados os Enunciados 460 e 461 do CJF, que possuem a seguinte redação,respectivamente: “Art. 889. As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo extrajudicial, mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços”; “Art. 889, § 3º. Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as exceções previstas em lei”.
Exceções ao princípio da cartularidade: nos negócios mercantis, necessidade de maior informalidade - possível executar o crédito representado pela duplicata, em alguns casos, mesmo sem apresentação da cártula;
5.3.2. Princípio da literalidade
Esse princípio tem por objetivo assegurar certeza quanto à natureza, conteúdo e modalidade de prestação prometida ou ordenada, impedindo que meros ajustes verbais possam influir no exercício do direito ali mencionado. O que não consta no título não está no mundo cambiário.
Só tem eficácia para o direito cambiário aquilo que está literalmente consignado no título de crédito.Não vale de nada o aval feito em apartado (ex. contrato de aval não existe). O aval tem que estar no título.
Obs.:a quitação do título deve ser dada no título e não em documento em separado. Ex.:João paga 10 mil da duplicata (à construtora) e recebe declaração de quitação, sem constar na duplicata. Essa duplicata é transferida para um terceiro. O terceiro (há discussão sobre essa legitimidade. Veremos adiante) cobra de João. João mostra o documento de quitação, mas não vale de nada. Como o terceiro iria saber dessa quitação? Quem paga mal paga duas vezes.
Atos documentados em instrumentos apartados, ainda que válidos e eficazes entre os sujeitos diretamente envolvidos (ex.:aval concedido fora do título poderá ser tido como fiança),não produzirão efeitos perante o portador do título, mas vigoram entre os signatários originais como qualquer obrigação civil.
E quando falta algum dado essencial de um título de crédito? STF diz que as lacunas podem ser preenchidas. Súmula 387 do STF (cai muito) = a cambial emitida ou aceita com omissões ou em branco pode ser completada pelo credor de boa fé, antes da cobrança e do protesto. Ex.:faltou a data e ele completa. Q – nulo o título que depois é preenchido ou completado – FALSO.
Obs.: algumas exceções: Ex.: a quitação da duplicata pode ser dada em documento em separado.Conferido no livro de questões - admite-se como relativização do princípio da liberalidade o aceite informado por escrito e a quitação da duplicata em documento separado.
5.3.3. Princípio da autonomia
Frases:
· As relações jurídico-cambiais são autônomas e independentes entre si;
· O devedor não poderá opor exceções pessoais a terceiros de boa fé.
Ex.:Clebão vende o celular para Nestór (compra e venda de celular). Acertam o valor de 300 reais. Nestor emite uma nota promissória com vencimento para 25/11/14. Nestor passa a ser o devedor da nota promissória e Cleber o credor. O celular apresentou vício e Nestor não pagou.Cleber ajuizou execução e nos embargos Nestor pode sim apresentar a exceção pessoal de falha no produto. Mas vamos supor queCleber passe a nota promissória para Novelino (terceiro de boa-fé – novo credor). Novelino procura Nestor para o pagamento e ele alega que o celular está com defeito. Isso pode? NÃO. Aí é que está a autonomia, que é a grande garantia do crédito. Pouco importa o que ocorreu nas relações anteriores.
Obs.:o vício de uma das relações não compromete as demais. Assim, o endosso ou o aval dado por pessoa incapaz não atinge as demais obrigações assumidas no título. O possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser restringido ou destruído pelas relações ocorridas entre os possuidores anteriores e o devedor.
Obs.:relativização do princípio da autonomia.Contrato de abertura de crédito (conta corrente – cheque especial) entre João e Bradesco. João emite cheque de 20 mil. Ele não paga e desconta do cheque especial. Banco então ajuíza uma ação de execução contra João? Súmula 233 STJ o contrato de abertura de crédito ainda que acompanhado de extrato da conta corrente não é título executivo. Súmula 247 – Só cabe ação monitória.
Obs.:João então assina uma nota promissória em branco e autoriza, por meio de contrato, que o Banco preencha a nota promissória com o saldo negativo. O banco coloca o valor da dívida, juros, honorários. O banco vai executar. João em sede de embargos pode apresentar a exceção pessoal (discutir juros abusivos, honorários, o valor acordado, etc.). O banco A passa a nota promissória para o banco b. O João agora não poderia mais opor essa exceção ao banco B (não poderia nem discutir o valor), em razão da autonomia do título. Por isso O STJ editou a súmula 258: a nota promissória vinculada ao contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.
Obs.:instrumento de confissão de dívida em substituição à nota promissória – é título executivo. O contrato de abertura de crédito continua não sendo título executivo. Súmula 300 STJ.
Por consequência, quando um único título representa mais de uma obrigação (do emitente, do avalista, do endossante e outros) a eventual invalidade de qualquer delas não prejudica as demais. Assim, por exemplo, a obrigação do avalista subsiste ainda que seja nula a obrigação do avalizado, salvo se a nulidade decorrer de vício de forma (art.32, al.2LC, art.31 e CCB de 2002, art. 889, p.2o), porque o avalista não tem a mesma obrigação do avalizado, mas obrigação autônoma, com existência própria.
O princípio da autonomia se desdobra em dois subprincípios:
I. Abstração;
É a desvinculação, o desprendimento do título da causa subjacente. Esse fenômeno só ocorre em caso de circulação. Muitas bancas erroneamente chamam o princípio da autonomia de abstração. CUIDADO.
Quando Nestor emite o título temos a compra e venda e a nota promissória. Quando Cleber transfere a nota para Novelino ela se desprende da causa de origem. A relação de compra e venda continua entre Cleber e Nestor.
O título de crédito se desvincula da relação causal-base que lhe deu origem. A abstração somente se verifica quando o título circula para um terceiro de boa-fé, que não tem ciência do defeito existente no negócio que originou o título. 
Obs.: As relações causais e cartular não se confundem, embora coexistamharmonicamente porque a criação do título de crédito não implica novação no que se refere à relação causal, vez que esta não se extingue. A relação causal enseja uma ação extracambiária, ao passo que a relação cartular enseja uma ação cambiária.
Obs.: todos os títulos são autônomos. Mas, alguns títulos não são classificados como abstratos: determinados títulos de crédito podem resultar de qualquer causa, mas dela se libertam após a sua criação, o que não ocorre com os títulos causais (duplicata), que, embora circulem, mantêm vínculo com a causa que os gerou.
II. Inoponibilidade de exceções a terceiro de boa fé
Para o credor primitivo é possível apresentar a exceção pessoal, mas não pode para o terceiro de boa-fé. O crédito do terceiro deve ser protegido. Essa questão tem uma natureza processual. Esse impedimento para o devedor de apresentar exceção para terceiro envolve apenas a exceção pessoal. Se a exceção não for pessoal, é possível ser alegada, mesmo contra o terceiro de boa-fé.
Questão de prova: explique duas exceções pessoais e duas exceções não pessoais oponíveis ao terceiro de boa-fé: 
· Pessoais: compensação e vício da relação causal (celular);
· Não pessoais: prescrição do título e nulidade do título.
Vale ressaltar que a boa-fé do portador do título se presume. Por essa razão, se o devedor quiser opor exceções pessoais contra ele, deverá se desincumbir do ônus de provar a sua má-fé, demonstrando, por exemplo, que houve conluio entre o atual portador do título e seu antigo titular. Não demonstrada a má-fé, todavia, as exceções pessoais, como já frisamos, são inoponíveis ao terceirode boa-fé, que exercerá seu direito de crédito sem ser atingido por nenhum vício ligado a relações anteriores.
As defesas que o devedor pode opor a um terceiro de boa-fé, portanto, resumem-se, basicamente, àquelas que digam respeito a relações diretas entre eles, bem como eventuais alegações relativas a vício de forma do título, ao próprio conteúdo literal da cártula, a prescrição, a falsidade, entre outras.
Não custa lembrar, ainda, que essa abstração, decorrente do princípio da autonomia dos títulos de crédito, desaparecerá com a prescrição do título. A prescrição do título opera, pois, não apenas a perda da sua executividade, mas também a perda da sua cambiaridade, ou seja, o título perde as suas características intrínsecas de título de crédito, dentre elas a abstração. Por isso, caberá ao credor, na cobrança de título prescrito, demonstrar a origem da dívida, o locupletamento ilícito do devedor etc., conforme tem decidido o Superior Tribunal de Justiça:
Direito comercial e processual civil. Agravo no agravo de instrumento. Embargos à ação monitória. Nota promissória prescrita. Propositura de ação contra o avalista. Necessidade de se demonstrar o locupletamento. Precedentes. Prescrita a ação cambial, desaparece a abstração das relações jurídicas cambiais firmadas, devendo o beneficiário do título demonstrar, como causa de pedir na ação própria, o locupletamento ilícito, seja do emitente ou endossante, seja do avalista. Agravo não provido. (STJ, AgRg no AG 549.924/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 05.04.2004, pg. 260).
Direito Comercial. Recurso Especial. Embargos à ação monitória. Cheque prescrito. Propositura de ação contra o avalista. Necessidade de se demonstrar o locupletamento. Precedente. – Prescrita a ação cambial, desaparece a abstração das relações jurídicas cambiais firmadas, devendo o beneficiário do título demonstrar, como causa de pedir na ação própria, o locupletamento ilícito, seja do emitente ou endossante, seja do avalista. – Recurso especial a que não se conhece (STJ, REsp 457.556/SP. Rel. Min. Nancy Andrighi. DJ 16.12.2002, p. 331).
Art. 17 da Lei Uniforme e art. 916 do CC – O executado em virtude de um título de crédito não pode alegar matéria de defesa estranha à sua relação direta com o exequente, salvo, provando a má-fé dele.
Não pode ser oposto vício da relação causal contra o terceiro de boa-fé. Se o título não circular, ele está preso à relação causal.
#INFO. 564, STJ – 2015:A pessoa que está obrigada a pagar o título de crédito poderá invocar exceções pessoais que tenha contra o beneficiário original para evitar o pagamento mesmo que este título tenha circulado e já se encontre nas mãos de terceiro? A pessoa, para não pagar, pode alegar que o negócio subjacente não aconteceu? 
Regra: NÃO. Se o título circulou e se encontra nas mãos de terceiro de boa-fé, este poderá cobrar o valor do devedor. O devedor, por seu turno, não poderá invocar contra o portador exceções pessoais que tenha e que estejam relacionadas com o beneficiário original. 
Exceção: Factoring. Se o título tiver sido cedido para uma empresa de factoring: SIM. Na operação de factoring, há verdadeira cessão de crédito, e não mero endosso, razão pela qual fica autorizada a discussão da causa debendi, conforme prevê o art. 294 do CC. A faturizadora (factoring) não pode ser equiparada a um terceiro de boa-fé porque ela tem uma relação mais profunda com a faturizada, devendo fazer uma análise do crédito que lhe está sendo transferido. O sacado pode opor à faturizadora a qual pretende lhe cobrar duplicata recebida em operação de factoring exceções pessoais que seriam passíveis de contraposição ao sacador, ainda que o sacado tenha eventualmente aceitado o título de crédito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.439.749-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2015 (Info 564). 
O STJ decidiu que é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé, após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação cambial de execução, ainda que, em momento anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula. STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info 528).
O contrato de conventional factoring é um contrato de mútuo? NÃO. Em verdade, consiste em uma compra e venda de créditos (direitos), por um preço ajustado entre as partes. O conceito legal de instituição financeira está previsto no art. 17, da Lei nº 4.595/64, e a factoring não se enquadra em tal definição. A factoring não faz a captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os bancos, nem realiza contratos de mútuo. A empresa de factoring utiliza recursos próprios em suas atividades. Logo, a factoring não integra o Sistema Financeiro Nacional nem necessita de autorização do Banco Central para funcionar.
5.3.4. A informática e o futuro do direito cambiário
Refere-se, a doutrina, à noção dedesmaterialização do título de crédito.
É certo que as informações arquivadas em banco de dados magnéticos são a base para a expedição de alguns documentos (em papel) relativos à operação (os bancos emitem documentos de quitação de dívida; os cartórios de protesto geram intimação ao devedor e lavram o instrumento de protesto). Contudo, nenhum desses papéis é título de crédito.
Diante desse quadro, vale a pena conferir se são compatíveis os princípios do direito cambiário com o processo de desmaterialização do título de crédito.
O princípio da cartularidade: se o documento nem sequer é emitido, não há sentido algum em se condicionar a cobrança de crédito à posse de um papel inexistente.
O princípio da literalidade: não se pode prestigiá-lo, na medida em que não existe mais o papel, a limitar fisicamente os atos de eficácia cambial.
O princípio da autonomia das obrigações cambiais: apresenta-se compatível. Será a partir dele que o direito poderá reconstruir a disciplina da ágil circulação do crédito, quando não existirem mais registros de sua concessão em papel.
	6 CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
a) É título de resgate- pressupõe futuro pagamento em dinheiro;
b) É título de circulação;
c) É título executivo extrajudicial;
d) É título de apresentação – por ser necessário;
e) Natureza de bem móvel;
f) Documento formal;
g) Natureza essencialmente comercial.
6.1. OBRIGAÇÃO QUESÍVEL
Cabe ao credor dirigir-se ao devedor para exigir o pagamento do título no lugar nele consignado. Compete ao credor procurar o devedor, afinal o devedor não tem como saber quem é o credor após tantas transferências do crédito.
6.2. OBRIGAÇÃO PRO SOLUTO E PRO SOLVENDO
2ª Fase TJ/MG: O que diferencia a nota promissória emitida em caráter pro soluto da nota promissória emitida pro solvendo? Aponte os efeitos de cada uma delas em decorrência da falta de pagamento quando emitidas em razão de compra e venda de imóvel.
Pro solvendo (para pagamento) É A REGRA: o título pro solvendo não implica novação no que se refere à relação causal que subsiste com a relação cambiária, porque as duas coexistem.
Obs.: a relação causal só será extinta com o pagamento do título. ex. A compra imóvel e dá entrada de 200 mil e nota promissória de 20 mil para 20.12.14 (nota promissória pro solvendo). O ato de entrega da nota para a construtora não provoca novação. Só se pode falar na extinção do contrato depois que A quitar a obrigação.Se a nota não for paga a construtora poderá ajuizar execução ou optar pela rescisão do contrato de compra e venda.
Pro soluto (em pagamento): Emitido e entregue ao credor visando a extinção da obrigação que gerou a sua criação. Quando dado em pagamento da relação causal. Nesse caso, o título opera novação, pois extingue a relação causal. ex. Quando A entrega a nota extingue o contrato de compra e venda. Efeitos: Se a nota não for paga – ajuizar execução, mas não poderá pedir a rescisão do contrato, pois só pode falar em rescisão quando o contrato estiver quitado, mas se entrega a nota firmou a quitação deste.
Emresumo, no pro soluto só há possibilidade de execução, enquanto no pro solvendo cabe a execução e a rescisão.
6.2.1. Np pro soluto x Np pro solvendo
NP Pro Soluto é a nota em pagamento. Quando você faz a tradição (entrega), a tradição faz a novação. A simples entrega provoca a novação da obrigação. Quando entrego a NP estou provocando a quitação da obrigação que a originou. Ex.: compra e venda de imóvel. Se não pago a NP, a construtora vai poder fazer a rescisão do contrato. Quando entrego a NP, quitei a compra e venda, não é possível rescindir. A construtora só terá à disposição a execução.
NP Pro Solvendo é a nota para pagamento. A entrega do título não provoca a quitação da obrigação. A quitação somente se opera com o pagamento do título. Só vou ter a quitação da obrigação quando pagar a NP. Se eu não pagar a NP no vencimento, a construtora pode ajuizar ação de execução, mas também pode optar pela rescisão do contrato, porque o contrato não está quitado.
	7 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
Há mais de doze classificações. Vamos ver as mais importantes:
7.1. QUANTO AO MODELO
· Título vinculado
Além dos requisitos, existe padronização (padrão normativamente estabelecido). Ex.: cheque, duplicata.
· Título livre
Formato não segue um rigor absoluto. Letra de cambio e nota promissória
7.2. QUANTO À ESTRUTURA
· Ordem de pagamento
Possui três intervenientes:
a) Aquele que dá a ordem = sacador;
b) Aquele que recebe a ordem = sacado;
c) Tomador∕ Beneficiário (o credor do título) = tomador
Ex.: duplicata, letra de câmbio, cheque.
· Promessa de pagamento
Possui dois intervenientes:
a) Promitente: aquele que faz a promessa;
b) Tomador∕ Beneficiário (que será o credor)
Ex.: nota promissória
7.3. QUANTO À HIPÓTESE DE EMISSÃO
· Causal
É o título que necessita de uma causa especifica para sua emissão, ou seja, ele só poderá ser emitido mediante uma ocorrência de uma causa específica. Ex: duplicata (só pode ser emitida em caso de: compra e venda mercantil ou uma prestação de serviços).
· Não Causal∕ Abstrato
É o título que não necessita de uma causa específica para sua emissão. Ex.: cheque (pode ser emitido para qualquer causa); nota promissória (pode ser emitida por qualquer motivo).
Pode ser chamado de abstrato porque o título se desvincula da causa que o deu origem. 
Nesse ponto, é preciso reforçar observação que já fizemos anteriormente: não se deve confundir a abstração como subprincípio do regime jurídico cambial com a abstração ora analisada. Aquela, como visto, é um predicado de qualquer título de crédito, já que todos eles podem circular e, consequentemente, se desprender da relação que lhes deu origem. Esta significa tão somente um atributo que alguns títulos ostentam, o de não ter sua emissão submetida a causas preestabelecidas na legislação.
No entanto, é preciso deixar claro que essa é uma opinião particular nossa, a qual, a despeito de ser compartilhada por alguns autores de renome, não é seguida, ao que nos parece, pela doutrina majoritária. Muitos autores, pois, tratam a abstração com um único sentido, razão pela qual defendem que os títulos causais, como a duplicata, não se desvinculariam da relação original, ainda que postos em circulação.
7.4. QUANTO À CIRCULAÇÃO
· Ao Portador – MERA TRADIÇÃO
É aquele que não identifica o beneficiário, ou seja, não se sabe quem é o credor do título. No tocante a circulação do título do portador, esta se dá pela mera tradição. São os títulos nos quais não consta o nome do beneficiário do direito nele incorporado. É transmitido por mera tradição.
OBS.: desde edição da lei 8.021∕90, não é permitido à emissão de título ao portador, exceto se tiver previsão expressa em Lei Especial. 
Ex.: Lei 7.347/1985 Art. 8º Pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito: I - a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa "à ordem"; II - a pessoa nomeada, com a cláusula "não à ordem", ou outra equivalente; III - ao portador. 
Cumpre ressaltar que, em se tratando dos principais títulos de crédito próprios ou típicos, eles são títulos nominais à ordem, com exceção do cheque até o valor de R$ 100,00 (cem reais), que pode ser emitido ao portador por força de autorização legal expressa (art. 69 da Lei do Cheque).
· Nominal – TRADIÇÃO + ENDOSSO OU CESSÃO CIVIL
É aquele que identifica o beneficiário, ou seja, identifica quem é o credor do título. 
Quanto à circulação do título nominativo devemos saber se este é:
a) NOMINATIVO À ORDEM: nesse caso ele precisará de endosso + tradição;
b) NOMINATIVO NÃO À ORDEM: só vai circular por meio de cessão civil + tradição. Nesse caso o cedente se obriga apenas com o cessionário, não em relação aos posteriores possuidores do título.
OBS: ENDOSSO X CESSÃO CIVIL - quem endossa um título responde pela solvência, isto é, responde pelo pagamento daquele título; é muito mais garantido para o credor. Ao passo que se eu transfiro o cheque por meio de cessão civil, não respondo pela solvência; é menos garantido para o credor.
ENDOSSO x CESSÃO: Não se confunde com a cessão de crédito, tendo em vista apresentarem as seguintes distinções:
a) Oendosso é ato unilateral de declaração de vontade, enquanto a cessão é um contrato bilateral;
b) Anulidade de um endosso não afeta os endossos posteriores; na cessão, a nulidade de uma acarreta a das posteriores;
c) Oendossatário não pode opor exceção senão diretamente contra o endossante que lhe transferiu o título; na cessão, o devedor pode opor ao cessionário a mesma defesa que teria contra o cedente (de acordo com o art. 294 do Código Civil, o devedor pode opor tanto ao cessionário como ao cedente as exceções que lhe competirem no momento em que tiver conhecimento da cessão);
d) No endosso, o endossante passa a ser co-devedor da dívida; já na cessão, o cedente somente responde pela existência do crédito cedido.
Obs.: Art. 914, CC diz quem endossa não responde pelo pagamento do título. Lembre-se que só utilizaremos o CC se não existir Lei Especial regulamentando o título.
Obs.: há uma presunção que os títulos são a “à ordem”, isto é, para que um título seja não “à ordem” tem que estar expressa a expressão “não à ordem” no título.
Em outros termos, enquanto o título à ordem se transfere por endosso, o título não à ordem transfere-se por cessão civil de crédito.
· Nominativo – art. 921, CC = TERMO NO REGISTRO
É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome (credor) conste no registro∕ livro do emitente. Questão - só são transferidos mediante registro em livro próprio.
O título que for emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente e que for transferido mediante termo assinado pelo proprietário e pelo adquirente constituirá título nominativo. Ex.: Gialuca vai dar uma ordem de pagamento para o Adrian pagar Afonso (credor do título), logo o nome de Afonso estará no livro de Gialuca. Se Afonso transferir o título para Mariana este terá que fazer um termo para Gialuca, informando que Mariana é a nova credora devendo Giualuca por no livro o nome de Mariana e retirar o de Afonso (na prática isso não ocorre).
Obs.: em regra, os títulos de crédito são nominais (beneficiário expresso) à ordem (circulam por meio de endosso e tradição). A exceção é do cheque até o valor de 100,00 reais, que é caso de título ao portador (sem mencionar o beneficiário).
	8 LETRA DE CÂMBIO
8.1. CONCEITO
Origem = câmbio trajetício = comerciante sempre que deixava cidade entregava todo o dinheiro ao banqueiro e este lhe entregava uma carta (letra de câmbio), ordenando que outro banqueiro pagasse a quantia nele fixada.
É mais utilizada em negócios internacionais (comércio exterior) e no Brasil é substituída pela duplicata. Está prevista no Decreto 57663/66 (Lei Uniforme de Genebra). Ler a lei com calma, ler o anexo I que está em vigor, sendo que o anexo II estabelece as reservas do que não vige no Brasil, devendo ser aplicado o Decreto 2.044/1908.
Ordem dada, por escrito, a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada

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