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HISTORIA DO BRASIL IMPERIO E REPUBLICA

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA DO 
BRASIL: IMPÉRIO E 
REPÚBLICA
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; PEREIRA, Luciene Maria Pires.
História do Brasil : Império e República. Luciene Maria Pires 
Pereira. 
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 
293 p.
“Graduação - EaD”.
1. Brasil. 2. História. 3. Império. 4. República EaD. I.Título.
ISBN: 978-85-459-0129-7 CDD - 22 ed. 981
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Design Educacional
Rossana Costa Giani
Iconografia
Amanda Peçanha dos Santos
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
André Morais de Freitas
Editoração
Robson Yuiti Saito
Revisão Textual
Simone Limonta
Viviane Favaro Notari
Ilustração
André Luís Onishi
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Pró-Reitor de 
Ensino de EAD
Diretoria de Graduação 
e Pós-graduação
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
Graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá (2005).
Especialização em História Econômica pela Universidade Estadual de Maringá 
(2008).
Mestrado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita 
Filho/FCL de Assis (2011).
Especialização em Educação Especial pelo Instituto Paranaense de Ensino – 
Maringá/PR (2013).
Especialização em Psicopedagogia Institucional pelo Instituto Paranaense de 
Ensino-Maringá/PR (em andamento).
Especialização em Atendimento Educacional Especializado – UniCesumar 
(em andamento).
Membro da Sociedade Internacional de Estudos Jesuíticos.
A
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TO
R
A
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a) do curso de Licenciatura em História da UniCesumar, o livro que 
você está prestes a estudar foi elaborado com muito carinho e satisfação e tem por obje-
tivo auxiliá-lo(a) no processo de aprendizagem sobre a formação e a evolução do Brasil, 
do período imperial à contemporaneidade.
Antes de iniciarmos nosso estudo, gostaria de fazer uma breve apresentação sobre mi-
nha formação. Sou formada em História pela Universidade Estadual de Maringá, no Pa-
raná, na qual também realizei uma especialização em História Econômica. Possuo uma 
especialização em Educação Especial, realizada no Instituto Paranaense de Ensino – Ma-
ringá/PR e sou mestre em História, na linha de Políticas: ações e representações, pela 
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Além do Ensino Supe-
rior, trabalho na Educação Básica, na rede regular e na educação especial.
Feita a apresentação, gostaria de ressaltar que o objetivo deste livro é possibilitar que 
você adquira o conhecimento necessário sobre o período abordado para que possa 
atuar como professor(a) de História. Nesse sentido, o livro conta com informações fun-
damentadas em autores clássicos, especialistas no período e que você deve conhecer. 
Além disso, traz sugestões de livros, documentos históricos, filmes, sites e atividades de 
análise e de reflexão que vão enriquecer a sua aprendizagem.
Compreender o processo de formação do Brasil desde a independência de Portugal até 
a (re)construção da sociedade após o período da ditadura militar (1964-1985) não é ta-
refa simples. Por essa razão, é importante que você tenha disciplina e dedicação para 
vencer os assuntos e as atividades propostas ao longo de todo o livro, além de aprovei-
tar ao máximo os recursos eas dicas apresentados aqui e, também, aqueles oferecidos 
pela UniCesumar.
Com o livro que apresento e com o seu esforço e a sua dedicação, tenho certeza de que 
nossa viagem pela história do Brasil ocorrerá de maneira prazerosa e você apreenderá 
as nuances que caracterizaram esse rico período da nossa história.
Ao longo deste livro, caro(a) acadêmico(a), discorreremos acerca das conjunturas que 
permearam o processo de emancipação política do Brasil em 1822, evidenciando o pro-
cesso de construção da identidade nacional do país recém-emancipado até a segunda 
metade do século XX.
Iniciamos nossa primeira unidade com uma análise do processo de independência do 
Brasil e buscamos a compreensão de como o novo país se organizou enquanto nação 
independente. Entender como os projetos e as ideologias presentes nas lutas pela inde-
pendência se organizaram e se articularam após 1822 também é uma preocupação so-
bre a qual nos debruçaremos nessa primeira unidade, que discute as relações políticas, 
econômicas e sociais até o período das regências.
Na segunda unidade, nosso objetivo é compreender as conjunturas que caracterizaram 
o reinado de D. Pedro II e que possibilitaram a discussão sobre a mudança do regime
imperial para o republicano. Analisar o contexto e as circunstâncias que permitiram que 
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DO BRASIL: IMPÉRIO E REPÚBLICA
os movimentos abolicionista e republicano ganhassem espaço na sociedade brasi-
leira é fundamental para que sejamos capazes de apreender as mudanças nas bases 
sobre as quais o Brasil se sustentava.
A terceira unidade é dedicada ao estudo da consolidação da República no Brasil e 
à análise das rupturas e das continuidades das características das forças políticas, 
econômicas e sociais no país. Compreender a ideia de democracia que a sociedade 
do final do século XIX e início do século XX tinha contribui para que possamos en-
tender as transformações pelas quais o país passou ao longo do século XX.
Na quarta unidade, nosso objeto de estudo é a ascensão dos regimes autoritários 
no Brasil a partir do governo de Getúlio Vargas e do golpe de 1964 que instaurou a 
ditadura militar no Brasil. Nesse momento, o objetivo é verificar como o conceito de 
democracia foi manipulado a partir dos interesses de uma minoria e como a socie-
dade reagiu a essa manipulação.
Na quinta e última unidade de nosso livro, discutiremos o período da ditadura mili-
tar brasileira, com o objetivo de conhecermos e compreendermos a realidade bra-
sileira numa época na qual as liberdades, os direitos e a democracia deixaram de 
existir para a maioria da população. Conhecer essa parte da história do Brasil é vital 
para que, em tempos de turbulências políticas, econômicas e sociais, não se evoque 
um passado que deixou marcas indeléveis nos brasileiros. Terminamos nosso estu-
do sobre nosso país analisando o processo de redemocratização do Brasil e a sua 
organização a partir de 1985.
Espero, caro(a) acadêmico(a), que você aprecie o livro que recebe e que o aproveite 
ao máximo para conhecer nossa história, enriquecendo o seu conhecimento, e que 
você leve o conhecimento aqui adquirido para as salas de aula, contribuindo para 
a formação de cidadãos críticos e conscientes. Espero, também, que o desejo de 
se aprofundar nas temáticas aqui apresentadas desperte o interesse pela pesquisa 
acadêmica, essencial para nossa completa formação.
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O IMPÉRIO DO BRASIL: ESTUDO DO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO 
BRASIL E A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO
15 Introdução
16 Análise do Processo de Independência do Brasil 
25 Aspectos da Formação do Estado Brasileiro Pós-Independência: O 
Primeiro Reinado 
38 A Crise do Primeiro Reinado e a Abdicação de D. Pedro I 
47 O Período Regencial (1831-1840) 
58 Considerações Finais 
UNIDADE II
O SEGUNDO REINADO NO BRASIL: 
ANÁLISE DO PROCESSO DE TRANSIÇÃO DO FIM DA MONARQUIA PARA 
O INÍCIO DA REPÚBLICA BRASILEIRA
67 Introdução
68 O Segundo Reinado: O Governo de D. Pedro II 
79 A Economia no Período Imperial Brasileiro 
86 O Movimento Abolicionista no Brasil Imperial 
96 O Movimento Republicano e o Fim da Monarquia no Brasil 
104 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
DA REPÚBLICA DA ESPADA AO GOLPE DE 1930: A CONSOLIDAÇÃO DA 
REPÚBLICA
NO BRASIL E AS TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE BRASILEIRA NO 
INÍCIO DO SÉCULO XX
111 Introdução
112 República Velha ou República da Espada 
135 Aspectos da Imigração Europeia e a Consolidação do Trabalho 
Assalariado: As Transformações Econômico-Sociais na Primeira República
151 Fim da República Oligárquica: O Golpe de 1930 
161 Considerações Finais 
UNIDADE IV
A ASCENSÃO DOS REGIMES AUTORITÁRIOS NO BRASIL 
E A SUPRESSÃO DA “DEMOCRACIA” BRASILEIRA: DA ERA VARGAS À 
DITADURA MILITAR
169 Introdução
170 Os Primeiros Anos do Governo de Getúlio Vargas (1930-1937) 
186 A Ditadura de Vargas: O Estado Novo (1937-1945) 
201 Enfim Democracia? As Esperanças Renovadas e o Novo Golpe: Início da 
Ditadura Militar no Brasil
218 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
OS ANOS DE CHUMBO: A DITADURA MILITAR NO BRASIL E O LONGO 
PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO
225 Introdução
226 A Consolidação do Golpe de 1964 e a Organização do Estado Militar 
235 O “Endurecimento” do Regime e a Resistência Popular: Manifestações e 
Organizações Populares Contra a Repressão
247 As Esperanças Renovadas: O Longo Caminho da Redemocratização do País 
268 Considerações Finais 
275 Conclusão
277 Referências
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Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
ESTUDO DO PROCESSO DE 
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E A 
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO
Objetivos de Aprendizagem
■ Analisar o processo de Independência do Brasil.
■ Compreender o processo de formação do Estado brasileiro após a
separação de Portugal.
■ Entender as discussões acerca da organização política e econômica
do Estado em formação.
■ Verificar a constituição social do Brasil pós-independência e suas
relações e participações na construção do Estado brasileiro.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Análise do processo de Independência do Brasil
■ Aspectos da formação do Estado brasileiro pós-independência: o
Primeiro Reinado
■ A crise do Primeiro Reinado e a abdicação de D. Pedro I
■ O Período Regencial (1831-1840)
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), ao longo da disciplina de Brasil Colônia, você se debruçou 
sobre o início da ocupação e da colonização do território brasileiro por parte de 
Portugal e sobre a formação de uma sociedade baseada nos princípios do Pacto 
Colonial. Após conhecer e analisar o desenvolvimento do Brasil durante todo o 
período em que esse esteve sob domínio de Portugal, você analisará o desenvol-
vimento do país enquanto Estado e nação independente.
Nesta primeira unidade, discorreremos acerca do contexto no qual se desen-
volveu o projeto de emancipação política do Brasil, analisando os fatores políticos, 
econômicos e sociais que permearam esse processo e compreenderemos a ação 
dos atores sociais que atuaram e/ou contribuíram para a concretização do pro-
jeto de separação entre Brasil e Portugal.
Ao abordarmos o pretenso fim da dependência política do Brasil em relação 
a Portugal, é imprescindível nos atentarmos para a maneira como o recém-in-
dependente país buscou constituir suas bases e construir uma identidade que 
representasse a miscelânea de povos e de culturas que aqui se encontravam, levan-
do-se em consideração a influência de ideias largamente difundidas na Europa 
naquele momento que se contrapunham à realidade política e social do Brasil.
Nesse sentido, nossa análise sobre esse primeiro momento do Brasil enquanto 
país independente irá se fundamentar na discussão sobre as rupturas e/ou as 
permanências de ideias e de instituições presentes no contexto do processo de 
emancipação política do Brasil e na fundamentação das bases organizacionais 
do país, contrapondoo discurso adotado ao longo das lutas de independência à 
estrutura colocada em prática após a separação de Portugal.
Compreendendo essa primeira unidade da evolução histórica do Brasil 
enquanto Estado, você, caro(a) aluno(a), terá dado o primeiro passo para um 
melhor entendimento das instituições e dos conceitos vigentes em nosso país na 
atualidade. Pronto para começarmos?
Introdução
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ANÁLISE DO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO 
BRASIL
Embora o marco da emancipação política do Brasil tenha sido definido em 7 
de setembro de 1822, a ideia ou antes o desejo de uma ruptura com Portugal 
configurou-se no interior da colônia muito antes dessa data. Analisando a histo-
riografia a respeito desse tema, é possível observar a corroboração de inúmeros 
estudiosos à ideia de que a transferência da família real portuguesa para as ter-
ras brasileiras, no início do século XIX, contribuiu para o estabelecimento de 
uma conjuntura que fez nascer – ou que intensificou – o vislumbre da formação 
de um país livre do julgo dominador de Portugal.
Tais conjunturas dizem respeito à configuração de uma estrutura governa-
mental que representou uma modificação do papel da colônia dentro do contexto 
do antigo sistema colonial, na medida em que o Brasil adquiriu status de sede 
do governo imperial, este estabelecido em um primeiro momento na Bahia e, 
posteriormente, na cidade do Rio de Janeiro. Essa nova condição da colônia 
exigiu uma série de investimentos na criação de uma estrutura condizente com 
sua nova realidade que suscitou o debate acerca da relevância do país diante do 
cenário que se desenhava.
Monumento à Proclamação da Independência – São Paulo
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Conforme aponta Faoro (1976, p. 249), as consequências imediatas da chegada 
e da instalação da família real portuguesa no Brasil traduziu-se no fechamento 
dos portos da metrópole, fato que a impossibilitava de exportar produtos e/ou 
adquirir bens e produtos necessários à sua subsistência, na ruptura do Pacto 
Colonial a partir da abertura dos portos brasileiros à Inglaterra e às nações amigas 
e, por fim, na centralização do poder que aglutinava as “dispersas e desarticu-
ladas capitanias”.
Diante do estabelecimento desse novo cenário que, no entendimento de mui-
tos historiadores, representava um prolongamento das instituições existentes em 
Lisboa – antiga sede do governo colonial português – e que não respeitava as 
características próprias da colônia, os conflitos entre essas duas partes do império 
português se acentuaram, levando ao início de uma guerra política e ideológica 
que teve como consequência as lutas pela emancipação da colônia.
As revoltas ocorridas ao longo do período colonial, sobretudo a Inconfidência 
Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798), ambas com caráter separatista, já 
demonstravam a insatisfação de setores da sociedade brasileira com a adminis-
tração portuguesa, insatisfação essa que ganhou corpo quando da transferência 
da família real para esse território e das consequências decorrentes desse evento 
durante a primeira metade do século XIX.
No momento em que o Brasil foi elevado à condição de reino, passando a 
integrar o Reino Unido de Portugal e Algarves (1815), as divergências ideológi-
cas entre os que viviam deste e do outro lado do Atlântico foram acentuadas e a 
manutenção da ordem vigente até então tornou-se cada vez mais difícil.
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Carta de Lei elevando o Brasil a Reino Unido ao de Portugal e do Algarves, RJ, Arquivo Nacional, 1815
Fonte: MultiRio (online). 
Inseridos nesse quadro de instabilidade e de dificuldades da monarquia portu-
guesa em conciliar diferentes interesses em uma sociedade composta por grupos 
sociais diversificados, aqueles que, entre as décadas finais do século XVII e iní-
cio do século XVIII, esboçaram o ideal separatista e tiveram que articular seus 
interesses a uma discussão e a um movimento que, para além de questões polí-
ticas, perpassava o entendimento e – conforme veremos após a declaração de 
independência – a adaptação das ideologias presentes nos discursos que emba-
savam a concepção de uma emancipação política do Brasil.
A presença de instituições portuguesas em solo brasileiro e a constante 
intervenção das Cortes de Lisboa na administração do Brasil, impedindo o seu 
progresso, deram aos intelectuais do período os motivos para elaborarem um 
discurso influenciado pelos últimos acontecimentos da Europa e da América, 
quais sejam: a Revolução Francesa e as independências dos Estados Unidos e 
das colônias espanholas. 
Análise do Processo de Independência do Brasil
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A esse fato somou-se uma realidade na qual os portugueses que aqui se ins-
talaram a partir de 1808 eram nomeados para cargos na administração joanina 
ou enriqueciam devido aos privilégios a eles concedidos pela coroa, aumentando 
a insatisfação dos brasileiros. Além dessa insatisfação, o incremento do comér-
cio, ocorrido a partir da abertura dos portos e do fim dos monopólios impostos 
pelo Pacto Colonial, fez com que brasileiros de diferentes setores sociais passas-
sem a apoiar os intelectuais e seus ideais liberais, embora com uma interpretação 
própria desse conceito, voltada para a defesa de seus próprios interesses. 
Nesse sentido, de acordo com Faoro (1976, p. 246), o liberalismo que embalava 
os ideais separatistas no Brasil entre os séculos XVII e XVIII era mais justifica-
dor do que doutrinário, visto que aqueles que compunham o estrato mais rico 
da sociedade brasileira defendiam uma política liberal em prol de seus próprios 
interesses, combatendo uma possível participação política das classes menos pri-
vilegiadas de nossa sociedade. 
Corroborando com a análise de Faoro sobre a concepção de liberalismo no 
Brasil, Emília Viotti da Costa destaca que
Na Europa, o liberalismo era uma ideia burguesa voltada contra as Ins-
tituições do Antigo Regime, os excessos do poder real, os privilégios da 
nobreza, os entraves do feudalismo ao desenvolvimento da economia. 
No Brasil, as ideias liberais teriam um significado mais restrito, não se 
apoiariam nas mesmas bases sociais, nem teriam exatamente a mes-
ma função. Os princípios liberais não se forjaram, no Brasil, na luta 
da burguesia contra os privilégios da aristocracia e da realeza. Foram 
importados da Europa. Não existia no Brasil da época uma burguesia 
dinâmica e ativa que pudesse servir de suporte a essas ideias. Os adep-
tos das ideias liberais pertenciam às categorias rurais e sua clientela. As 
camadas senhoriais empenhadas em conquistar e garantir a liberdade 
de comércio e a autonomia administrativa e judiciária não estavam, no 
entanto, dispostas a renunciar ao latifúndio ou à propriedade escrava 
(COSTA, 2010, p. 28).
O que esse contexto nos permite observar é que, embora com a instalação da 
família real no Rio de Janeiro e a elevação do Brasil à condição de Reino Unido 
de Portugal e Algarves o país tenha recebido investimentos que contribuíram 
para a melhoria das condições econômicas e sociais – mesmo que estas tenham 
sido sentidas de maneiras diferentes pelos diferentes setores da sociedade bra-
sileira –, a administração joanina precisou lidar com a fragilidade do seu poder 
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereirode 1998.
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real, visto que setores e ideias distintas em relação à situação vigente começa-
ram a emergir tanto no interior do Brasil quanto em Portugal.
As revoluções de 1817 (Pernambuco) e 1820 (Lisboa) mostram que os rumos 
adotados por D. João VI na condução da administração de seus domínios não 
satisfaziam os interesses de muitos. A primeira, representada pela “aliança entre 
propriedade agrária e as concepções liberais definiu um ideário com o liberalismo 
forrado de energia republicana” (FAORO, 1976. p.263) e a segunda, era repre-
sentada pelo questionamento da elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal 
e Algarves, questionamento esse suscitado pelo desenvolvimento do Brasil em 
detrimento de Portugal.
Em 1817, no Campo das Princesas, em Recife, os revoltosos dominaram o antigo Palácio do Governo 
Fonte: MultiRio (online).
Diante do crescente antagonismo que caracterizava a manutenção da relação 
dependente entre Portugal e Brasil, já invertida em seu sentido mais profundo 
no início do século XIX, tornou-se quase impossível evitar o fortalecimento e 
a defesa das ideias e dos movimentos emancipatórios ao longo desse período. 
Desse modo, a elite brasileira chegou ao poder em 1822 na figura de D. Pedro 
com a tarefa de organizar uma nação independente, com bases nos princípios 
liberais, sem, no entanto, ferir seus interesses.
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A figura de D. Pedro, regente do Brasil após a volta de D. João VI para Portugal 
diante da pressão das cortes lisboetas, aglutinou em torno de si as 
principais mentes do processo de emancipação política do Brasil. A crise que 
se instalou no Brasil após a partida de D. João VI tem no seu interior o medo 
de uma pos-sível retomada da exploração e do atraso resultantes da condição 
de colônia do país e acentuaram o discurso pela independência. Nesse contexto, 
D. Pedro apro-ximou-se dos brasileiros e, gradativamente, deixou-se 
influenciar pela ideia do rompimento com seu pai e Portugal. 
Percebendo as ações em torno de D. Pedro no Brasil, as cortes 
portugue-sas o pressionavam para que retornasse a Portugal, fato que levou 
um dos mais expressivos defensores da independência, José Bonifácio, a 
intervir junto ao regente e convencê-lo a permanecer no Brasil e conduzir a 
libertação e a reor-ganização do país.
O Dia do Fico (09 de janeiro de 1822) desencadeou os movimentos que 
levaram ao rompimento oficial entre Portugal e Brasil, com a declaração de inde-
pendência deste último em 7 de setembro de 1822.
O fim das relações coloniais entre 
Portugal e Brasil foi analisado sob 
vários ângulos e aspectos, o que 
significa que o processo de eman-
cipação política do Brasil recebeu 
inúmeras interpretações, que 
variavam – e ainda variam – de 
acordo com o momento histórico 
em que foram elaboradas.
“A independência de uma sociedade é o conjunto de condicionamentos his-
tóricos e político que não se confundem com um único evento”
Fonte: Oliveira (2009 apud GRINBERG; SALLES, 2009).
Os intelectuais brasileiros e as abordagens sobre a 
independência do Brasil
D. Pedro I
Fonte: Revista de História (online). 
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E22
Logo após o 7 de setembro de 1822, José da Silva Lisboa, o Visconde de 
Cairu, procurou legitimar o novo Estado por meio da continuidade da dinastia 
dos Bragança, colocando a independência do Brasil como o marco fundador do 
país, realizada sob o singular regime monárquico de um herdeiro dos Bragança 
(NEVES, 2009, apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 98). 
Em sua análise sobre a independência do 
Brasil, Varnhagem demonstrou que essa sig-
nificou uma “continuidade entre o passado 
colonial e o novo projeto nacional, enfatizando 
a influência civilizadora da colonização portu-
guesa sobre o novo país nos trópicos” (NEVES, 
2009 apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 99). 
O liberal e amigo próximo da família imperial 
Joaquim Manuel de Macedo, ao tratar do assunto, 
considerou o processo e a independência do Brasil 
como um período de criação de “uma nação como 
memória coletiva e idealizada de acontecimentos 
e personagens excepcionais, organizados em nar-
rativa linear” (NEVES, 2009 apud GRINBERG; 
SALLES, 2009, p. 99). 
Além de intensa participação na política do período imperial, Joaquim Ma-
nuel de Macedo foi também professor, jornalista, poeta e escritor, cujo o ro-
mance de maior expressão foi A Moreninha, publicado em 1844.
Para conhecer mais sobre a biografia desse intelectual do período imperial, 
acesse o conteúdo disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/
cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=905&sid=218>. Acesso em: 10 abr. 2015.
Fonte: a autora.
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Como é possível observar, caro(a) aluno(a), até a década de 1850, as análises 
sobre a independência do Brasil adotaram um viés que destacava a continui-
dade das características da colonização portuguesa no Brasil, isto é, apontavam 
para uma herança colonial que fortalecia a imagem da família real portuguesa 
e ressaltava a importância de D. Pedro I para a constituição do novo país, numa 
tentativa de forçar uma união da sociedade em torno dos Bragança.
Essa ideia de herança portuguesa vai dominar as análises sobre a indepen-
dência até a década de 1860, quando uma nova corrente de intelectuais defendeu 
a ideia de ruptura com as instituições portuguesas e o nosso passado colonial. 
Para esses intelectuais, a independência do Brasil ocorreu de fato em 07 de abril 
de 1831, quando D. Pedro I abdicou do trono e retornou a Portugal.
No início do século XX, a ideia de ruptura e da construção de uma nação 
caracterizada por algo além das influências portuguesas foi reforçada pelo Instituto 
Histórico e Geográfico do Brasil, visando uma aproximação entre os processos 
de independência do Brasil e dos demais países da América Latina (NEVES, 
2009 apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 100).
Nesse mesmo período, as análises de Caio Prado Jr. realçaram a abordagem 
marxista, evidenciando os aspectos econômicos do processo de emancipação 
política do Brasil e enquadrando-o no contexto da falência do sistema colonial. 
A tese de Caio Prado Jr. foi corroborada por muitos intelectuais a partir da 
década de 1970 e do crescimento dos cursos de pós-graduação no Brasil. Nomes 
como Fernando Novais e Guilherme Motta também analisaram a independên-
cia do Brasil no contexto da crise do antigo sistema colonial. Para esses autores, 
a independência foi o momento inicial de um longo processo de ruptura, resul-
tado da desagregação do sistema colonial e da montagem do Estado Nacional 
(NEVES, 2009 apud GRIMBERG; SALLES, 2009, p. 101).
Os intelectuais do século XX produziram inúmeras análises sobre a inde-
pendência do Brasil e a historiografia passou a contar com uma diversidade de 
ideias e de opiniões sobre esse assunto que contribuíram para o alargamento das 
discussões acerca não só do período colonial brasileiro, mas também do con-
texto que se instalou com a Proclamação da República.
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
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Além da questão da continuidade ou da permanência da herança portuguesa 
ou, ainda, de uma ruptura com as instituições coloniais, essas análises possibili-
taram o conhecimento de outros aspectos do início do Brasil imperial, trazendo 
para o cerne do debate a participação de outros setores da sociedade que não 
aqueles que compunham a elite, considerando o papel desses na formação de 
uma identidade nacional.
As discussões acerca das conjunturas que marcaram o processode indepen-
dência do Brasil ainda despertam o interesse de historiadores renomados 
que buscam, por meio da análise de documentos, compreender os interes-
ses por trás dos discursos e movimentos emancipatórios. Em 2015, os histo-
riadores José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basile publicaram 
uma obra na qual apresentam uma documentação inédita que remonta aos 
anos de 1820 a 1823 e permite novas abordagens sobre esse período de 
nossa história.
Para maiores detalhes, acesse o conteúdo disponível em: 
<http://oglobo.globo.com/cultura/livros/livro-reune-panfletos-que-permi-
tem-novas-interpretacoes-da-independencia-do-brasil-15720391>. Acesso 
em: 10 abr. 2015.
Fonte: a autora.
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ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO 
PÓS-INDEPENDÊNCIA: O PRIMEIRO REINADO 
Caro(a) aluno(a), após a análise apresentada no tópico anterior, você pode se 
perguntar: qual é o papel do povo brasileiro durante todo o processo de eman-
cipação política do Brasil? 
Para responder a essa questão, recorreremos a Emília Viotti da Costa, a qual 
afirma que a independência do Brasil foi articulada e levada a cabo por uma 
elite composta de 
fazendeiros, comerciantes e membros de sua clientela, ligados à eco-
nomia de importação e exportação e interessados na manutenção das 
estruturas tradicionais de produção cuja base era o sistema de trabalho 
escravo e a grande propriedade (COSTA, 2010, p. 11).
Essa elite, ao longo dos primeiros anos da independência, reivindicou a participa-
ção, senão o comando do país, acentuando os conflitos e as divergências políticas 
e ideológicas que fizeram parte das lutas pela independência até o momento da 
abdicação de D. Pedro I em 1831.
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
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Os demais indivíduos que compunham a sociedade brasileira, como os 
escravos e os indígenas, foram deixados à margem do processo e, após a inde-
pendência, o entendimento próprio que a elite tinha do conceito de liberalismo 
não permitiu que esses indivíduos tivessem uma maior participação nos enca-
minhamentos do novo período.
O 07 de setembro de 1822 entrou para a história do Brasil como o início da 
organização de uma sociedade não mais presa aos laços do Pacto Colonial ou de 
fidelidade para com Portugal. Significou, ainda, a ascensão de D. Pedro como o 
primeiro imperador do Brasil, o qual, em teoria, conduziria o país recém-liberto 
à reestruturação política, econômica e social, orientado pelos princípios liberais.
Para Oliveira, o uso do termo independência tinha por objetivo
(...) construir a “independência nacional”, articulando a monarquia a 
uma Constituição que estabelecesse limites ao poder real e garantisse 
direitos e liberdades civis e políticas aos cidadãos do império. Preten-
dia-se, por essa via, entre outras exigências, contestar o absolutismo 
representado por D. João VI e o “despotismo” exercido por ministros, 
por conselheiros e pela corte radicada no Rio de Janeiro desde 1808. 
(OLIVEIRA, 2009 apud GRIMBERG; SALLES, 2009, p. 18-19).
Portanto, 07 de setembro de 1822 deveria representar, ao menos no imaginá-
rio de parte daqueles que lutaram pela emancipação, sobretudo os intelectuais 
brasileiros, um novo período da história do Brasil caracterizado pelo fim das ins-
tituições absolutistas que estiveram presentes nesse território desde a chegada 
da família real portuguesa e sua corte. 
Não foi o que aconteceu. De acordo com a mesma autora, o período que 
abrange a chegada da corte portuguesa (1808) até a abdicação de D. Pedro I 
(1831) “se configurou como uma das balizas definidoras do surgimento e do 
perfil do Estado monárquico e da nação no Brasil do século XIX” (OLIVEIRA, 
2009 apud GRIMBERG; SALLES, 2009, p. 17).
D. Pedro I, realizada a independência, enfrentou o conflito oriundo das dife-
renças entre os grupos que participaram das discussões e dos desdobramentos 
do processo de independência e que estavam divididos entre os radicais e os 
moderados. José Bonifácio, importante articulador da emancipação, mostrou-
-se nesse momento novamente ao lado do imperador, buscando garantir a união 
dos diferentes grupos em torno da lealdade ao império e à figura do imperador.
José da Silva Lisboa (Visconde de Cairu)
Fonte: Matta (online) 
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A elite que ajudou a colocar D. Pedro I como imperador do Brasil, atingido 
o seu objetivo de livrar o Brasil das amarras impostas pela submissão a Portugal, 
buscou consolidar o poder em suas mãos, subjugando o próprio imperador na
defesa de seus interesses. Por essa razão, o Brasil pós 1822 se constituiu sob as
mesmas bases das instituições tradicionais de ordem econômica dos tempos do
período colonial, moldando e manipulando os conceitos de liberalismo e nacio-
nalismo à sua própria realidade.
O que a historiografia brasileira tem demonstrado é a fidelidade não 
apenas do príncipe regente D. Pedro, mas da cúpula política “modera-
da” que o cercava, ao modelo político da monarquia dual. A evolução 
da conjuntura política ao longo desses dois anos evidencia que foi a 
ação das lideranças políticas nas Cortes portuguesas, inclusive neutra-
lizando a atuação de D. João VI, que colocou o Brasil diante do impasse 
da recolonização ou independência (WEHLING, 2004, p. 239).
Essa adaptação e manipulação dos conceitos de liberalismo e de nacionalismo à 
realidade brasileira e sua articulação com os interesses das elites locais nos aju-
dam a compreender por que uma nação, que no desenrolar do seu processo de 
independência baseava seu discurso na construção de uma sociedade constitu-
ída sob o liberalismo, manteve viva a escravidão por várias décadas, relutando 
em abrir mão das “vantagens” da manutenção 
desse modo de produção. 
O grupo composto pelos modera-
dos, que tinha nomes como José Bonifácio 
Joaquim Gonçalves Ledo, Januário da Cunha 
Barbosa e José da Silva Lisboa (Visconde 
de Cairu), defendia a organização do país 
sob uma monarquia constitucional e tinha o 
apoio dos proprietários rurais do país, inte-
ressados em manter a salvo seus interesses 
pessoais. Esse grupo buscou o fortalecimento 
da imagem da D. Pedro I, tendo nas ideias 
de José da Silva Lisboa a expressão de seus 
ideais de união do país, exaltando a figura 
do imperador.
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Contrapondo-se a esse grupo, estavam os defensores da República e da 
democracia. Os indivíduos que compunham esse grupo desenvolviam ativida-
des relacionadas às cidades, estando distantes dos proprietários rurais do Rio 
de Janeiro e de São Paulo na defesa de interesses como a manutenção da escra-
vidão. Conforme analisa Wehling (2004, p. 240), 
(...) não foi apenas a força do poder central do Imperador Pedro I que 
os derrotou, mas o apoio a este de vastos setores da propriedade rural 
nordestina. Faltava a esse grupo, ademais, um projeto de estado e de 
nação, afora os princípios mais gerais dessa forma de governo.
Havia ainda um terceiro grupo na disputa pelo comando do Brasil e com ideias 
que iam em direção contrária ao ideal de independência. Esse grupo era com-
posto por portugueses e defendiam a recolonização do Brasil com a volta das 
conjunturas que marcaram as relações entre Brasil e Portugal até 1808.
A organização do país passava pela articulação das correntes ideológicas diver-
gentes em seu interior, numa tentativa de equilibrar os interesses de D. Pedro I e 
os anseios da população. Para tanto,os deputados que compunham a Assembleia 
Constituinte – convocada antes da independência, mas quando esta já se deline-
ava na cabeça dos brasileiros – começaram a elaborar a primeira Constituição 
do Brasil, à qual deveria D. Pedro I submeter sua forma de governo.
A CONSTITUIÇÃO OUTORGADA DE 1824
A Assembleia Constituinte encarregada de elaborar a primeira Constituição do 
Brasil era composta por 
sacerdotes (...), funcionários públicos ou profissionais liberais: advoga-
dos, médicos, professores diplomados na Universidade de Coimbra ou 
em alguma outra instituição europeia, uma vez que não existiam uni-
versidades no Brasil. Havia também comerciantes e fazendeiros. Mas, 
qualquer que fosse sua condição social ou profissional, os deputados à 
Assembleia Constituinte estavam unidos por laços de família, amizade 
ou patronagem a grupos ligados à agricultura e ao comércio interno. 
Não é, pois, de espantar que tenham organizado a nação de acordo com 
os interesses desses grupos (COSTA, 2010, p. 134).
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Esse grupo de indivíduos estabeleceu que a forma de governo no Brasil seria a 
monarquia constitucional, que tinha como objetivo limitar o poder de D. Pedro 
I e, também, manter o controle sobre a população. A Constituição que resultou 
dessa Assembleia foi inspirada nos ideais do liberalismo, mas, como já dito ante-
riormente, em um liberalismo adaptado à realidade brasileira, ou seja, entendido 
“a partir das peculiaridades da burguesia local e da ausência das duas classes que 
na Europa constituíram o seu ponto de referência obrigatório: a aristocracia e o 
proletariado” (COSTA, 2010, p. 136).
As discussões travadas entre os deputados que compunham a Assembleia 
Constituinte tinham, em primeiro lugar, a tarefa de definir quem eram de fato os 
brasileiros que aqui viviam, ou seja, quem, diante da inegável miscelânea de povos 
e culturas que ocupou esse território desde a sua “descoberta” e do início da colo-
nização portuguesa, teria seus direitos enquanto brasileiro realmente assegurados.
Os deputados Souza França e Araújo Lima defendiam que o termo cidadão 
não poderia designar todos os indivíduos que se encontravam em terras brasileiras, 
devendo excluir dessa denominação os crioulos ou filhos de escravos. Nesse sen-
tido, a concessão de direitos políticos também deveria ser limitada, haja vista que 
nem todos estavam aptos a desempenhar as atividades decorrentes da participa-
ção política (RIBEIRO; PEREIRA, 2009 apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 151). 
Rocha Franco defendia que, para ser considerado cidadão brasileiro, era 
necessário ser residente do Brasil e possuir propriedade, comprovando, dessa 
maneira, a participação em uma cidade e, consequentemente, na sociedade. Já 
o deputado Nicolau Campos Vergueiro ia na contramão desses argumentos e
defendia que todos aqueles que vivessem em solo brasileiro eram considerados
cidadãos brasileiros, sendo que apenas no que dizia respeito aos direitos políti-
cos é que deveria se estabelecer uma condição ou diferenciação. Essa condição
residiria no valor da renda do indivíduo, isto é, àquele que possuísse determi-
nada renda seria garantido as prerrogativas políticas (RIBEIRO; PEREIRA, 2009 
apud GRINBERG; SALLES, 2009, p. 152-153).
Na tentativa de determinar a quem serviria o título de cidadão no Brasil, o 
deputado Montezuma discursou dividindo os brasileiros em cidadãos ativos e 
passivos. Os cidadãos ativos seriam os brancos e os passivos os negros e seus des-
cendentes. Seguindo essa linha de raciocínio, os direitos políticos ficariam restritos 
Membros da Assembleia Constituinte na abertura dos trabalhos
Fonte: MultiRio (online) 
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
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aos cidadãos ativos, enquanto os cidadãos passivos ficariam à margem dos acon-
tecimentos (MARTINS, 2007, p. 45).
O que podemos observar das discussões ocorridas na Assembleia Constituinte 
sobre o tema é que a parcela dos brasileiros que não correspondiam aos europeus 
ou a seus descendentes foi excluída do processo de constituição do Estado brasi-
leiro, em uma negação da cultura dos povos que aqui já se encontravam antes da 
chegada do branco europeu – como os índios – bem como a negação da hetero-
geneidade que caracterizava a sociedade brasileira.
Sendo assim, o projeto de Constituição previa a restrição da designação do 
termo de cidadão e, como resultado, da concessão de direitos civis e políticos a 
uma parcela significativa da sociedade brasileira, representada pelos estrangei-
ros, índios, mestiços, crioulos e escravos, esses últimos entendidos como uma 
mercadoria, uma “coisa” que, embora necessária para a organização e para a 
estruturação do trabalho, não eram vistos 
como pessoas.
Ao “coisificar” o negro escravo e ao 
negar-lhe a prerrogativa de cidadão e a 
concessão dos direitos civis e políticos, 
o projeto de Constituição elaborado pela 
Assembleia Constituinte em 1823 defen-
dia a manutenção do regime escravocrata 
no país, protegendo os interesses dos pro-
prietários de terra do Brasil e garantindo 
as condições sobre as quais se apoiava a
economia brasileira do período.
Além da polêmica em torno da defi-
nição do cidadão brasileiro, os deputados 
reunidos em 1823 divergiam sobre os 
limites do poder de D. Pedro I. Divididos 
entre o Partido Português e o Partido 
Brasileiro, os deputados tentaram estabe-
lecer as bases sobre as quais o imperador 
deveria conduzir o seu governo.
Sede da Assembleia Constituinte no Rio de Janeiro
Fonte: MultiRio (online).
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O Partido Português defendia que a D. Pedro I cabia o poder absoluto, sendo 
indispensável que o imperador tivesse autonomia para fazer os encaminhamentos 
necessários para a organização do novo Estado. Indo de encontro a essa ideia, o 
Partido Brasileiro defendia a divisão do poder – a exemplo das constituições euro-
peias – em três níveis, que tinham, por objetivo restringir o poder do imperador.
Como resultado desse debate, optou-se pela adoção de um sistema político 
estruturado e a divisão do poder foi feita em Poder Executivo, Poder Legislativo 
e Poder Judiciário. De acordo com essa divisão, o Poder Executivo seria exercido 
pelo imperador D. Pedro I, o Poder Legislativo pelos deputados e senadores e o 
Poder Executivo pelos juízes. A novidade estava no fato de que o poder Executivo 
estaria submetido ao Legislativo, ou seja, o poder do imperador D. Pedro I esta-
ria limitado pela sanção dos deputados e dos senadores aos seus projetos.
A submissão do Poder Executivo ao Poder Legislativo e a consequente limi-
tação do poder de ação de D. Pedro I desagradou o imperador, que planejara 
exercer o comando do Brasil de forma absolutista e centralizadora. Diante do 
cenário imposto pela Assembleia, D. Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte 
e convocou o Conselho de Estado para a elaboração de uma Constituição que 
preservasse seus interesses.
A dissolução da 
Assembleia Constituinte 
ocorreu na noite de 12 de 
novembro de 1823, num 
episódio que ficou conhe-
cido como Noite da Agonia, 
quando o brigadeiro José 
Manuel de Moraes inva-
diu a sede da Assembleia no 
Rio de Janeiro a mando de D. 
Pedro I e decretou o fim dos 
trabalhos dos deputados ali 
reunidos.
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
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Após a dissolução da Assembleia Constituinte e a nomeação de um Conselho de 
Estado, D. Pedro I retomou a elaboração da Constituição do Brasil. O Conselhode Estado nomeado por ele manteve alguns dos pontos expostos no projeto 
ela-borado pelos deputados da Assembleia Constituinte, garantindo a 
manutenção dos privilégios das classes dominantes e a divisão dos brasileiros 
em cidadãos ativos e passivos (ROMPATTO, 2001, p. 190). 
O ponto mais importante desse novo projeto de Constituição que se deli-
neava corresponde à aproximação de D. Pedro I ao absolutismo, na medida em 
que esse articulou para garantir que seus interesses políticos fossem sobrepostos 
aos dos liberais. Nesse sentido, a Constituição, embora mantivesse os poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário, adicionou um quarto poder que garantia ao 
imperador a submissão do corpo político às suas decisões. Tratava-se do Poder 
Moderador, que seria exercido exclusivamente pelo imperador e garantia-lhes 
poderes absolutos (ROMPATTO, 2001, p. 191). 
Os principais jornais do período eram utilizados para divulgar as notícias das 
discussões que ocorriam na Assembleia, demonstrando o importante papel 
da imprensa para os desdobramentos dos trabalhos da Assembleia. 
Fonte: a autora.
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PODER MODERADOR
PODER EXECUTIVO
CONSELHO DE ESTADO
CÂMARA DOS DEPUTADOS
PODER JUDICIÁRIO
IMPERADOR
CONSELHOS PROVINCIAIS
SUPREMO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
PRESIDENTE DAS
PROVÍNCIAS
PODER LEGISLATIVO
ASSEMBLEIA GERAL
SENADO
Figura 1: Organograma da Constituição de 1824
Fonte: a autora.
A Carta Constitucional foi outorgada à população brasileira em 25 de março de 
1824, a qual não viu com bons olhos o documento que não representava os 
anseios de uma parcela significativa daquela sociedade. Diante disso, 
algumas províncias do Brasil recusaram-se a jurar a Constituição, iniciando 
um período de manifestações contrárias à sua imposição.
Nesse contexto de revolta contra a outorga de uma Constituição que conce-
dia poderes sem limites ao imperador, destaca-se o movimento conhecido 
como Confederação do Equador, que teve início quando as ideias centrali-
zadoras e absolutistas de D. Pedro I começaram a esboçar-se após a inde-
pendência. O movimento de caráter separatista iniciou-se em Pernambuco, 
liderado por Cipriano Barata e Frei Caneca e teve o apoio de várias provín-
cias do Nordeste.
A historiadora Amy Caldwell de Farias, em seu livro Mergulho no Letes: 
uma reinterpretação político-histórica da Confederação do Equador, 
de 2006, faz uma análise do movimento, objetivando questionar a historio-
grafia tradicional sobre o movimento e trazer à cena novos fatos e atores, 
por meio de novas abordagens.
Fonte: a autora.
A região da Cisplatina
Fonte: MultiRio (online).
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
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A GUERRA DA CISPLATINA
O governo de D. Pedro I foi marcado por agitações políticas no âmbito interno 
e externo do Império do Brasil. Do momento de sua coroação como Imperador 
do Brasil até a sua abdicação em 1831, o Brasil esteve envolvido em confl itos que 
contribuíram para abalar a confi ança e o poder do imperador.
Ainda envolvido nos confl itos decorrentes da outorga da Constituição de 
1824, D. Pedro I precisou voltar sua atenção para uma disputa envolvendo o 
Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, que teve início em 1825 e perdu-
rou até o ano de 1828.
Esse confl ito começou a desenrolar-se 
muito antes de D. Pedro tornar-se impera-
dor do Brasil. Pouco depois da chegada da 
família real portuguesa ao Brasil, as tropas 
de Napoleão Bonaparte tomaram a Espanha 
destituindo a coroa dos Bourbons. Carlota 
Joaquina era irmã de Fernando VII, o rei 
espanhol deposto por Napoleão e, portanto, 
herdeira da coroa espanhola, a qual objeti-
vava ocupar e defender, objetivo esse que não 
foi alcançado, na medida em que a princesa 
não foi capaz de tecer alianças e conquistar 
o apoio necessário para ascender ao trono 
espanhol (PEREIRA, 2012).
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No período que abordamos, a Espanha possuía o controle das Províncias 
Unidas do Rio da Prata, atuais territórios da Argentina, Paraguai e Uruguai (na 
época, denominado de Banda Oriental do Uruguai), regiões importantes para 
o desenvolvimento comercial devido à proximidade com rios que facilitavam o 
escoamento de produtos. Por essa razão, D. João VI tinha interesse em domi-
nar a região, mas devido às relações pouco amigáveis com a princesa Carlota 
Joaquina e não acreditando na sua lealdade ao assumir o comando da Espanha, 
optou por ocupar ele próprio a região e garantir sua submissão ao Reino de 
Portugal, Brasil e Algarves.
A conquista da região deu-se em 1821, quando o general Carlos Frederico 
Lecor, a serviço de D. João VI, derrotou as tropas de José Gervasio Artigas e os 
territórios foram anexados ao reino português.
Destacamos, caro(a) aluno(a), que manter a região sob o domínio português 
significou lidar com os conflitos políticos existentes na região, conflitos esses que 
agravaram-se ainda mais durante o processo de emancipação do Bra-
sil, quando houve uma alteração no balanço de poder do local. Lecor 
apoiou nossa independência e manteve-se fiel à D. Pedro I. Porém, a 
conjuntura platina alterou-se profundamente “com um movimento 
militar que prenunciava deflagrar em conflito armado”, quando muitos 
dos habitantes se mantiveram fiéis a Portugal (PEREIRA, 2012, p. 86).
O chefe militar D. Álvaro da Costa defendia que as Províncias Unidas do Rio 
da Prata deveriam permanecer ao lado de Portugal e a este submeter-se após a 
independência do Brasil. Contando com o apoio de boa parte da população da 
região, D. Álvaro da Costa incitava os habitantes das Províncias Unidas do Rio 
da Prata à rebelar-se contra a dominação brasileira e manter-se fiel a D. João VI 
e Portugal. Em seus discursos, pregava que
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Quando os laços de mútua conveniência não prendem os povos uns 
aos outros, não desata por si. Não acrediteis a doutrina contrária que 
vos pregam. Vós só podeis tirar dessa luta as tristes recordações do pai, 
do irmão, do parente morto e dos míseros filhos desamparados que 
uma infernal política sacrificou. Abandonai a odiosa pretensão em que 
vossos chefes se empenharam; eles só defendem seus interesses e não 
vossos direitos, porque aqui não há ninguém que os pretenda usurpar; 
[...] Recordai o amor, a obediência, a fidelidade que vossos pais sem-
pre tiveram aos nossos reis: voltai aos vossos lares e pregai a doutrina 
do homem justo e convidai todos os vossos concidadãos a reentrar na 
obediência e fidelidade que deveis ao benigno de todos os monarcas, ao 
nosso Augusto Rei, o senhor d. João VI [...] (ARQUIVO NACIONAL 
apud PEREIRA, 2012, p. 88).
Os conflitos na Cisplatina somaram-se ao enfrentamento entre as tropas brasileiras 
e as portuguesas que se encontravam na Bahia, região que também questionava a 
separação de Portugal. Desse modo, observamos, caro(a) aluno(a), que garantir 
a soberania nacional após 1822 representou um trabalho árduo para D. Pedro I e 
seus aliados. De norte a sul do país, eclodiram manifestações contrárias à inde-
pendência e de apoio à Portugal.
Desse conflito entre o Brasil e as Províncias do Rio da Prata resultou a incor-
poração da Banda Oriental do Uruguai ao território brasileiro e o reconhecimento 
da independência do Brasil pelas Províncias Unidas do Rio da Prata em 1824. No 
entanto, já em 1825, desenrolava-se um novo conflito envolvendo essa região.
A Banda Oriental do Uruguai, também denominada de Cisplatina,tornou-
-se alvo de uma disputa entre o Império do Brasil e a Argentina. A região da 
Cisplatina pertencia ao Brasil, mas a Argentina reivindicava sua reincorpora-
ção às Províncias Unidas do Rio da Prata. O conflito desenrolou-se quando o 
representante do governo argentino Manoel José Garcia enviou um documento 
para o governo brasileiro no qual reivindicava a reincorporação da Cisplatina, 
chamada por ele de Província Oriental (PEREIRA, 2012, p. 90).
Em resposta a esse documento, D. Pedro I declarou guerra à Argentina, jus-
tificando tal ação no argumento de que a região da Cisplatina fora anexada de 
maneira legal, não sendo fundamentada a tentativa de sua usurpação por parte 
da Argentina.
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O confronto entre as duas regiões foi mais um fator a colaborar com o des-
gaste da imagem do imperador. A crise que se estabeleceu nos negócios entre a 
Bahia e a Cisplatina com o fechamento do porto da Prata, os gastos com a guerra, 
o recrutamento e o alistamento forçado dos homens para lutarem na guerra e o 
saldo de mortes abalaram a imagem de D. Pedro I. 
A situação chegou ao fim em 1828 com a assinatura de acordo de paz entre 
Brasil e Argentina, em um momento em que ambos os países encontravam-se 
desgastados e fragilizados economicamente. Por esse acordo, intermediado pela 
Inglaterra, Brasil e Argentina, reconheciam a criação do Estado Independente 
do Uruguai.
Principais locais de batalha, povoações e fortes durante a Guerra da Cisplatina (1825-1828)
Fonte: Universidade Federal do Paraná (online). 
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A CRISE DO PRIMEIRO REINADO E A ABDICAÇÃO DE D. 
PEDRO I
Manchete sobre a abdicação de D. Pedro I em 1831
Fonte: Arquivo Nacional (online).
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Como podemos notar até o momento, caro(a) acadêmico(a), desde que assu-
miu a condição de defensor perpétuo do Brasil e, posteriormente, imperador do 
Brasil, D. Pedro I precisou lutar e coordenar diferentes interesses e situações na 
busca pela construção do Estado brasileiro.
Em seu caminho, deparou-se com ideologias e conflitos cujos desdobra-
mentos contribuíram para que o imperador fosse perdendo aliados e apoio da 
população brasileira. Nesse cenário, sua reputação e capacidade de estar à frente 
de uma nação que buscava sua afirmação diante de outras e de si mesma foi ques-
tionada e colocada à prova.
Somadas essas questões às tendências monarquistas e absolutistas de D. 
Pedro I, seu governo foi marcado por uma intensa agitação no país que refletia 
os anseios dos “cidadãos” brasileiros e, também, a influência dos acontecimen-
tos externos tanto no âmbito político quanto no econômico e no cultural.
Internamente, eclodiram manifestações e motins contrários ao governo de 
D. Pedro I e à repressão sofrida por aqueles que se opunham à administração 
do imperador. A situação de descaso com a maioria dos brasileiros, os de cama-
das inferiores e a concessão de privilégios a portugueses imigrados distanciavam 
D. Pedro I da população local. Além disso, o seu amplo poder conquistado por 
meio da criação do Poder Moderador e sua política externa não agradavam a 
elite da época.
Externamente, a influência da Inglaterra ao longo de todo o Primeiro Reinado 
gerou desconfiança e preocupações por parte das elites brasileiras, que temiam que 
o imperador cedesse à pressão inglesa pelo fim da escravidão no Brasil, fato que 
prejudicaria essa camada social, colocando em risco seus interesses e privilégios.
Nesse contexto, instalou-se um cenário de insatisfação com o governo e com 
a figura de D. Pedro I, que foi o ponto de partida para a sua abdicação em 1831. 
Na defesa pelo afastamento de D. Pedro, indivíduos, embora com ideias, interes-
ses e propostas diversas, uniram-se para acabar de vez com o poder de D. Pedro I. 
O amplo descontentamento que levou à revolução da Abdicação em 
1831 foi pouco coeso no que diz respeito aos atores, formas de conce-
ber a política e a sociedade, haja vista a profunda diversidade e hierar-
quização social, política e étnica que caracterizava a sociedade imperial 
brasileira nas primeiras décadas do século XIX. Por um lado, havia 
uma massa populacional pobre formada em sua maioria por libertos e 
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mestiços que vivia em acentuada pobreza. A esta população livre pobre 
se somavam os escravos de ganho que circulavam pelas ruas da Corte 
em seus diversos ofícios e atividades. Tal população trouxe sempre pre-
ocupações para as autoridades, que, através da Intendência de Polícia e 
legislação punitiva e coercitiva – com rondas noturnas e revistas – pro-
curava manter, embora com dificuldades, a ordem nas ruas (RAUTER, 
2011, p. 98).
Chamamos sua atenção, caro(a) aluno(a), para o fato de que, mais uma vez, a 
sociedade, embora unida no desejo de ver afastado o imperador, dividia-se na 
defesa de ideologias distintas e que representavam, cada uma ao seu modo, os 
interesses de apenas alguns indivíduos.
De um lado, estavam os chamados liberais moderados, que defendiam a 
redução do poder de D. Pedro I em benefício do poder da Assembleia. Embora 
considerados liberais, não defendiam o fim da escravidão, visto que isso iria 
contra seus interesses econômicos e eram contrários à adoção do sistema repu-
blicano. O liberalismo a que se referiam dizia respeito apenas à questão do fim 
do absolutismo de D. Pedro I.
No outro lado, encontravam-se os liberais exaltados, que defendiam a república 
mesmo que fosse preciso uma revolução. De acordo com Rauter (2011, p. 100),
Ao contrário dos moderados, os exaltados eram francamente revolu-
cionários. Até a abdicação, eram mais discretos no seu republicanismo 
e no seu federalismo, mas, no governo regencial, o propalaram aber-
tamente. A insurreição era para eles um “direito dos povos” na luta 
contra a tirania e o despotismo, e a república a melhor forma de go-
verno. Porém, a revolução era considerada um recurso extremo, a que 
se recorrer em situações limite onde imperava o despotismo absoluto, 
o que, na visão dos exaltados estava acontecendo naquele momento, 
tanto no final do primeiro reinado, quanto nos primeiros anos da re-
gência. Tratava-se de uma revolução de caráter popular que instauraria 
um governo liberal e diversas outras transformações de caráter social.
Gravura anônima, Maria da Glória, filha de D. Pedro I
Fonte: MultiRio (online).
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A SUCESSÃO DO TRONO PORTUGUÊS
Uma questão que acentuou os conflitos nas relações entre D. Pedro I e os bra-
sileiros esteve relacionada com a sucessão do trono português, após a morte de 
D. João VI, em 1826.
Com a morte do monarca português, 
D. Pedro I assumiu o lugar de seu pai 
no comando de Portugal. Entretanto sua 
ideia era abdicar do trono português em 
favor de sua filha D. Maria II e, enquanto 
esta não pudesse assumir o trono, visto 
que era ainda uma criança, seria nome-
ada uma regência liderada pela irmã de 
D. Maria II, D. Isabel Maria, que gover-
naria Portugal até que a herdeira legítima 
do trono pudesse se casar com D. Miguel 
– irmão de D. Pedro I – e este assumisse, 
então, a coroa portuguesa (VIANNA, 
2013, p. 43-44).
A solução para essa questão não saiu 
de acordo com os desejos de D. Pedro 
I e este foi aclamado ReiAbsoluto de 
Portugal em 1828. Essa nomeação interferiu diretamente na situação política 
do Brasil, agravando ainda mais as já complicadas relações entre o imperador e 
os brasileiros. A situação agravou-se quando D. Miguel usurpou o trono portu-
guês e autodeclarou-se rei de Portugal, anulando a Constituição outorgada por 
Nesse momento de agitação política e social, as elites intelectuais do Brasil e 
os demais indivíduos da sociedade brasileira uniram-se independentemen-
te de suas condições sociais em torno de um objetivo comum, o que não 
significava que as barreiras e as diferenças sociais haviam sido superadas. 
Fonte: a autora. 
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D. Pedro I à Portugal. Diante da atitude de D. Miguel, D. Pedro precisou voltar 
suas atenções para Portugal, na tentativa de expulsar seu irmão do trono e devol-
vê-lo à sua legítima herdeira, D. Maria II.
Honoré Daumier, Caricatura, D. Pedro e D. Miguel, “Dois Hipócritas Que Não Se Farão Grande Mal
Fonte: MultiRio (online).
A elite política brasileira acusava D. Pedro I de dedicar maior atenção às questões 
que envolviam a sucessão do trono português do que os problemas internos do 
Brasil. Somaram-se a essa crítica as manifestações contrárias ao fato de que, ao 
invés de se dedicarem aos assuntos brasileiros, os ministros, deputados e diplo-
matas brasileiros precisavam voltar suas atenções para a solução do problema 
dinástico português, haja vista que esse assunto envolvia a infanta brasileira D. 
Maria e significava o envolvimento de outros países como Inglaterra e Áustria 
– ambos visando defender seus próprios interesses – no desenvolvimento da dis-
cussão. Além disso, o fantasma da recolonização do Brasil voltou a assombrar 
a sociedade diante da coroação de D. Pedro I como rei de Portugal.
Jornal A Aurora Fluminense
Fonte: MultiRio (online).
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A ABDICAÇÃO DE D. PEDRO I.
A oposição a D. Pedro I ganhava força com a ação da imprensa, representada 
pelos jornais A Astréia, fundado em 1826 por Antônio José do Amaral e José 
Joaquim Vieira Souto; Aurora Fluminense, fundado em 1827 e que teve em 
Evaristo Ferreira da Veiga sua voz mais expressiva; o Malagueta, que voltou à 
ativa em 1828 com críticas ferozes ao imperador, que levaram à repressão de 
Luiz Augusto May, redator do jornal (VIANNA, 2013, p. 50).
Diante do crescente ataque de seus opo-
sitores por meio da imprensa, D. Pedro I 
reprimiu legalmente as publicações, além 
de continuar promovendo perseguições e 
ataques utilizando-se também de periódi-
cos escritos por seus aliados.
Esse cenário foi se consolidando e, em 
1830, a divergência entre os brasileiros e os 
portugueses que apoiavam D. Pedro I tor-
nara-se insustentável, resultando em uma 
troca de acusações entre representantes das 
duas nacionalidades por meio da imprensa 
e no aumento do número de deputados de 
oposição a D. Pedro I. 
Após uma viagem a Minas Gerais, rea-
lizada no final de 1830, da qual retornou 
em abril de 1831, D. Pedro I foi recebido 
por seus aliados, dentre eles, portugueses e 
alguns brasileiros que ainda enxergavam no 
imperador a figura do defensor do Brasil, 
com manifestações de apoio (VIANNA, 
2013, p. 53).
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No entanto, durante a recepção de D. Pedro I, brasileiros de oposição ao 
governo e contrários aos portugueses que aqui viviam, chamados de exaltados, 
promoveram ataques aos portugueses que ovacionavam D. Pedro I. Durante 
as festividades pela chegada de D. Pedro I, os exaltados atacavam os portugue-
ses que usavam de garrafas e outros artifícios para se defender. Os conflitos 
que marcaram esses eventos ficaram conhecidos como a Noite das Garrafadas 
(VIANNA, 2013, p. 54).
A noite das garrafadas representou o auge das diferenças entre brasileiros 
e portugueses e a crescente oposição a D. Pedro I. Os eventos que se seguiram 
àqueles dias levaram ao extremo as relações entre o imperador, os liberais e os 
demais brasileiros. Não havia mais respeito por aquele que um dia representou 
o início e a defesa de um novo capítulo na história do Brasil. Suas tentativas de 
moldar e de manipular a sociedade e a Constituição para restaurar a monarquia 
absolutista e governar sem a interferência da Assembleia minaram gradativa-
mente a confiança nele antes depositada.
As críticas e as acusações diárias, nem todas verdadeiras, publicadas na 
imprensa provocaram uma agitação social a qual os ministros da guerra e da 
justiça de D. Pedro I não conseguiam conter. A situação era clara: o imperador 
perdera o apoio, a confiança e a lealdade de seus súditos brasileiros.
Quando D. Pedro I nomeou para ministros nomes impopulares, como o 
marquês de Paranaguá, o visconde Alcântara, o marquês de Baependi, o conde 
de Lages e o marquês de Aracati, os brasileiros saíram às ruas para manifestarem 
sua insatisfação e contavam com o apoio dos soldados do quartel de infantaria. 
O senador Vergueiro, Evaristo da Veiga e Odorico Mendes – organizadores do 
movimento liberal contra o imperador – endossaram os discursos e os protes-
tos contra D. Pedro I (LUSTOSA, s.d., p. 613).
Em reposta a essa manifestação, D. Pedro enviou um comunicado à popu-
lação, no qual dizia:
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Brasileiros! Uma só vontade nos una. Para que tantas desconfianças, 
que não podem trazer à pátria senão desgraças? Desconfiais de mim? 
Assentais que poderei ser traidor àquela mesma pátria que adotei para 
minha? Ao Brasil? Àquele mesmo Brasil por quem tenho feito tantos 
sacrifícios? Podereis querer atentar contra a Constituição, que vos ofe-
reci e que convosco jurei? Ah, brasileiros! Sossegai. Eu vos dou minha 
imperial palavra de que sou constitucional de coração e sempre sus-
tentarei essa Constituição. Confiai em mim e no ministério: ele está 
animado dos mesmos sentimentos que eu; aliás, [se assim não fosse] eu 
não o nomearia. União e tranqüilidade, obediência às leis, respeito às 
autoridades constituídas (LUSTOSA, s. d., p. 614-615).
As palavras de D. Pedro I não tiveram efeito sobre os manifestantes, que exi-
giam a demissão dos novos ministros, os quais não eram dignos de confiança. 
D. Pedro I recusou-se a satisfazer o desejo da população e manteve-se firme em 
sua posição. Porém, o imperador já dava sinais de compreender que sua per-
manência como chefe de Estado do Brasil não mais se sustentaria. Diante disso, 
escreveu ao antigo aliado José Bonifácio pedindo que este aceitasse o cargo de 
tutor de seu filho D. Pedro de Alcântara. 
No dia 07 de Abril de 1831, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor 
de seu filho D. Pedro de Alcântara, então com cinco anos de idade. Chegava ao 
fim o Primeiro Reinado, com uma ruptura dramática entre o Brasil e o impe-
rador, que afirmava: “entre mim e o Brasil tudo está acabado e para sempre” 
(LUSTOSA, s.d., p. 618).
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D. Pedro entregando o ato de renúncia
Fonte: MultiRio (online).
Para os opositores de D. Pedro I, a sua abdicação significou uma ruptura defi-
nitiva com Portugal, uma vez que o Brasil não mais seria governado por um 
representante que possuía também direitos monárquicos sobre aquela nação. A 
sensação de liberdade tomou conta dos brasileiros naquele momento e essa sen-
sação era expressa na imprensa como a felicitar os indivíduos pela conquista. 
No jornal Nova Luz Brasileira, de EzequielCorrêa dos Santos, era possí-
vel encontrar o que a abdicação de D. Pedro I representou para seus opositores:
Abdicou o tirano; e nas mãos da liberdade existe hoje o cetro d´ouro 
que o monstro havia convertido em virga-férrea. Os Brasileiros come-
çam finalmente a possuir uma pátria; e o Brasil vai-se querendo situar 
na América Livre (MATTOS apud GRIMBERG; SALLES, 2009, p. 19).
Para alguns historiadores estudiosos do período, 1831 é considerada a data da 
verdadeira independência do Brasil, data em que o país passa a ser de fato dos 
brasileiros, governado por brasileiros.
O Período Regencial (1831-1840)
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O PERÍODO REGENCIAL (1831-1840)
Com a abdicação de D. Pedro I, em 07 de abril de 1831, caro(a) aluno(a), encer-
rou-se o primeiro capítulo da história da formação do Brasil enquanto Estado 
independente. A partir dessa data, o processo de evolução da sociedade brasi-
leira entrou em uma fase em que as divergências políticas e ideológicas ganharam 
novo fôlego e por todo país assistimos a eclosão de movimentos que buscavam 
a consolidação de projetos distintos para o país.
Mais uma vez, cabe ressaltar que as discussões acerca dos encaminhamen-
tos políticos do país ganhavam destaque e dividiam a sociedade. As palavras de 
um contemporâneo do período mostram o clima na sociedade brasileira a par-
tir de 1831:
Nasci e me criei no tempo das regências; e nesse tempo o Brasil vivia, 
por assim dizer, muito mais na praça pública do que mesmo no lar 
doméstico; ou em outros termos, vivia em uma atmosfera tão essen-
cialmente política que o menino, que em casa muito depressa aprendia 
a falar liberdade e pátria, quando ia para a escola, apenas sabia soletrar 
a doutrina cristã, começava logo a ler a aprender a constituição política 
do Império (RESENDE, 1944 apud GRIMBERG; SALLES, 2009, p. 28).
Tal era o clima nas ruas do Brasil a partir de 1831. As ideologias e os projetos 
políticos presentes no momento após a abdicação de D. Pedro I eram represen-
tados pelos liberais moderados – que eram a maioria na Câmara dos Deputados 
–, pelos liberais exaltados – que, embora tivessem ajudado no processo que levou 
à abdicação de D. Pedro I, tiveram seus interesses e ideais colocados de lado 
após o 07 de abril, quando os moderados assumiram o controle do governo – 
e pelos restauradores (também chamados de caramurus), que apoiavam a volta 
de D. Pedro I.
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REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA (1831) E REGÊNCIA TRINA 
PERMANENTE (1831-1835)
Nesse momento da história do Brasil, o primeiro ponto a ser resolvido era a 
questão da sucessão de D. Pedro I no comando do país, uma vez que o príncipe 
herdeiro D. Pedro de Alcântara tinha apenas cinco anos de idade. Mesmo sendo 
imediatamente após a renúncia de D. Pedro I, coroado imperador do Brasil com o 
nome de D. Pedro II, Pedro de Alcântara não tinha como governar o país devido 
à sua pouca idade. Os moderados assumiram a frente das discussões em busca 
da solução para a questão que se apresentava. 
De acordo com a Constituição de 1824, até que o novo imperador atingisse 
a idade necessária para assumir o comando do país, este deveria ser governado 
por um membro da família imperial com mais de 25 anos de idade, o que não 
existia no Brasil, visto que as irmãs de D. Pedro II que aqui viviam também eram 
menores de idade (VIANNA, 2013, p. 59).
 “Os moderados seguiam os postulados clássicos do liberalismo, tendo em 
Locke, Montesquieu, Guizot e Constant suas principais referências; preten-
diam, e conseguiram, efetuar reformas político-institucionais que reduziam 
os poderes do imperador, conferiam maiores prerrogativas à Câmara dos 
Deputados e autonomia ao Judiciário, e garantiam a observância de direi-
tos previstos na Constituição, almejando uma liberdade moderna, que não 
ameaçasse a ordem imperial. Já os exaltados, adeptos de um liberalismo ra-
dical de feições jacobinistas, inspirado sobretudo em Rousseau, buscavam 
conjugar princípios liberais clássicos com ideais democráticos, pleiteando 
profundas reformas políticas e sociais, como uma república federativa, a ex-
tensão da cidadania política e civil a todos os segmentos sociais livres, o fim 
gradual da escravidão, uma relativa igualdade social e até um tipo de refor-
ma agrária. Por sua vez, os caramurus filiavam-se à vertente conservadora 
do liberalismo, tributária de Burke; críticos ferozes da Abdicação e avessos 
a qualquer reforma na Constituição, vistas como quebra arbitrária do pacto 
social, almejavam uma monarquia constitucional fortemente centralizada, 
ao estilo do Primeiro Reinado e, excepcionalmente, nutriam anseios restau-
radores”. 
Fonte: Basile (2006, p. 31-57). 
O Período Regencial (1831-1840)
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Diante desse cenário, ainda de acordo com o que estabelecia a Constituição 
de 1824, cabia aos senadores e aos deputados que compunham a Assembleia 
Geral eleger uma Regência composta por três membros que seria presidida pelo 
membro mais velho. Essa solução também não pôde ser colocada em prática de 
imediato, na medida em que muitos membros da Assembleia Geral encontra-
vam-se ausentes do Rio de Janeiro por conta do período de férias (VIANNA, 
2013, p. 59).
Levando-se em consideração a urgência de se definir um novo comando para 
o Brasil, os senadores e deputados que se encontravam no Rio de Janeiro reuni-
ram-se e elegeram uma Regência Provisória até que a Assembleia Geral tivesse 
condições de eleger uma Regência Permanente. 
Os senadores e deputados que permaneceram no Rio de Janeiro elegeram os 
senadores José Joaquim Carneiro de Campos (Marquês de Caravelas), Nicolau 
Pereira de Campos Vergueiro e o brigadeiro Francisco de Lima e Silva para com-
por a Regência Trina Provisória. A escolha desses três nomes para a Regência 
Trina Provisória reafirmou a liderança dos moderados nesse período de transição.
Francisco de Lima e Silva representava o 
Exército no Governo
Fonte: MultiRio (online).
Nicolau P. de Campos, um senador 
moderado com ideias liberais
Fonte: MultiRio (online).
O IMPÉRIO DO BRASIL: 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A Regência Trina Provisória governou por um curto período de tempo, sendo 
eleita em abril de 1831 e dissolvida em 17 de junho de 1831, quando os mem-
bros da Assembleia Geral elegeram os nomes que compunham a Regência Trina 
Permanente. Para formar a Regência Trina Permanente, foram escolhidos os 
deputados José da Costa Carvalho e João Bráulio Muniz, além de manter-se o 
brigadeiro Francisco de Lima e Silva. Mais uma vez, todos os membros repre-
sentavam os liberais moderados.
O Padre Diogo Antônio Feijó foi nomeado Ministro da Justiça e adotou 
medidas radicais para conter a agitação social que dominava o país desde os tem-
pos de oposição ao imperador D. Pedro I e que não diminuíram após a renúncia 
dele. Os liberais exaltados e os restauradores (ou caramurus) demonstravam sua 
insatisfação com o governo, promovendo ataques pela imprensa e instigando a 
população contra as atitudes da Regência, o que levou ao surgimento de vários 
motins ao longo do período de governo da Regência Trina Permanente.
O ministro da Justiça Padre Diogo Antônio Feijó acusava José Bonifácio, que 
integrava o grupo dos restauradores, de liderar as manifestações e os protestos 
contra o governo. Assim, passou a articular para que ele fosse retirado do cargo 
de tutor do jovem D. Pedro II, desejo que realizou em 1833, após uma acusa-
ção de conspiração de Bonifácio contra o governo. Em seu lugar, foi nomeado 
para tutor do jovem imperador Aureliano Coutinho, marquês de Intanhaém

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