Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fé Silvio Dutra DEZ/2015 2 Sumário 1 – Como a Palavra Produz a Fé 3 2 - O Modo Comum de Operação da Fé 7 3 - Aprendendo com Tiago Sobre a Fé Verdadeira 9 4 - Porque Deus Não Aparece de Forma Visível 20 5 - Fé, Não é Fé na Nossa Fé 22 6 - A Viúva Importuna 23 7 - “Eu não Temerei Mal Algum” (Sl 23.4) 29 8 - A Espera da Fé 32 9 - Confie nele em todos os momentos 40 10 - A Fé Que nos Vem de Deus 41 11 - “Volta. E assim por sete vezes.” (I Reis 18.43) 45 12 - “Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23) 47 13 - Fé, Crer e Confiar 49 14 - Alegria e Paz em Crer 53 15 - A Fé Atua Pelo Amor 57 16 - Como Vem a Fé 66 17 - A Corda e a Caçamba 71 18 - O Assunto da Fé que é Aprovada por Deus 74 19 - Aumento da Fé - a Força de Princípios de Paz 77 20 - Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade? 83 21 - A Fé é uma Caminhada Constante 87 22 - Necessitamos Sempre Aumentar a Fé 89 23 - Viver Pela Fé 91 24 - A Fé de Raabe 94 25 - A Relação da Fé com a Bíblia 116 26 - Uma Razão Por que Deus Não se Comunica Visivelmente 119 27 - Oração de Confiança 121 3 1 – Como a Palavra Produz a Fé Lucas 16:29 “... Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.” Na parábola do rico e do mendigo, Jesus usou esta expressão Moisés e os Profetas, que era uma das formas de se referir a todo o conjunto das Escrituras do Antigo Testamento, que foram produzidas por revelação e inspiração de Deus. Não é nosso propósito neste momento comentar toda a parábola, mas destacar um dos seus pontos muito importantes, para que possamos entender o modo designado por Deus para a salvação das nossas almas. O rico, estando no inferno, pensava erroneamente que poderia ter sido salvo por um sinal poderoso que lhe fosse enviado do céu, como o envio do mendigo Lázaro a seus cinco irmãos que ainda viviam na terra, para lhes servir de testemunho, vendo o estado de glória em que ele se encontrava, pois o haviam conhecido muito bem em sua miséria quando vivia na terra, e no entender do rico, isto lhes convenceria de que havia de fato um céu. Foi dado como resposta ao seu pedido, simplesmente que seus irmãos deveriam ouvir Moisés e os profetas, ou seja, as Escrituras, para que fossem salvos. 4 Eles deveriam dar atenção ao testemunho das Escrituras relativamente à santidade de Deus e de Cristo, como também da ruína completa dos homens em face da sua natureza pecaminosa, mas que Deus, em Sua misericórdia afirma que o justo viverá pela fé, ou seja ele terá vida eterna, pela fé na Palavra do Senhor. Este é o significado interior de se ouvir Moisés e os profetas. É o de nos arrependermos de nossa condição caída e buscar refúgio na graça do Senhor Jesus que nos está sendo oferecida gratuitamente por darmos crédito à Sua Palavra. O firme fundamento repousa nisto, a saber, em se honrar a Palavra do Senhor, porque Ele dá muita honra à mesma. Por isso nos deu a revelação da Sua pessoa e vontade nas Escrituras, para que mesmo sem um sinal visível do céu, sem qualquer coisa extraordinária que nos seja enviada por Ele para ser testemunhada pela nossa visão natural, creiamos em tudo o que Ele afirma na Sua Palavra escrita, de modo que demonstramos com isso que damos de fato crédito ao que Ele tem dito. Não foi justamente o oposto disto que aconteceu na queda do jardim do Éden? 5 O homem e a mulher deram crédito à palavra da serpente e desconsideram aquilo que Deus lhes havia falado. Então não seria por nenhum sinal enviado do céu, como o rico da parábola insistiu pedindo que outras pessoas que haviam morrido e ressuscitado, fossem enviadas a seus irmãos para que eles cressem. Mas esta foi a resposta que lhe foi dada: “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.” Não porque fossem duros o bastante para não reconhecer o poder de Deus em ressuscitar, mas porque não foi este o método designado por Deus para a salvação, que é o de ter fé na Sua palavra revelada, de modo que a fé vem pelo ouvir a Palavra. Não será pela visão do arcanjo Miguel, de um Serafim, dos querubins, do próprio Cristo, que alguém será salvo. A salvação sempre ocorrerá somente quando acolhermos com mansidão e fé a Palavra do Senhor. Hoje, temos mais do que Moisés e os profetas, porque por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, temos também as Escrituras do Novo Testamento. 6 Então temos uma maior e melhor razão para crermos, lendo, amando, acolhendo e praticando a Palavra de Deus, pela fé em tudo o que nos tem sido revelado por Ele, para que crendo em Sua Palavra, que nos aponta Cristo, como nossa única esperança, sejamos salvos. Ouvir com fé. Esta é a chave que nos conduz para o céu e para a vida do céu. Lembremos sempre desta afirmação solene, que é a fórmula da salvação: “...Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.” 7 2 - O Modo Comum de Operação da Fé Nós temos fartamente exemplificado na Bíblia, em que consiste a vida prática de fé com Deus, notadamente nas muitas batalhas que a nação de Israel teve que travar no Velho Testamento. Apesar de estarmos na dispensação da graça e nos ser vedado tomarmos da espada aqui, contudo o princípio de operação continua o mesmo, pois se exige de nós que também batalhemos para vermos o cumprimento das promessas de Deus em resposta às nossas orações. É muito comum a ideia errônea de que basta orarmos, porque tudo o mais é por conta de Deus. Podemos dar vários exemplos sobre isto, porém é mais interessante que o façamos no sentido contrário, a saber, na demonstração prática da interação existente entre a ação sobrenatural do Senhor e os passos que devemos dar, para ver a realização do cumprimento das coisas que formos direcionados pelo Espírito Santo a fazer. Primeiro, temos esta direção sobre o que deve ser feito. E oramos incessantemente para que Deus dirija os nossos passos e mova os corações daqueles que Ele levantará para solucionar nossos problemas. 8 Depois saímos em campo para tomar as providências práticas necessárias, sabendo antes de tudo que a nossa paciência, sabedoria e discernimento estarão sendo colocados à prova pelo Senhor, de modo que poderemos encontrar nas portas em que batermos; resistências, e aparentes frustrações, que em vez de nos demoverem de seguir adiante, devem nos estimular a buscar novas alternativas. É possível que tenhamos a solução imediata logo de início, mas não é desta forma que Deus costuma agir para nos fazer vencer nas questões práticas da vida; senão, de outro modo, não aprenderíamos a ser perseverantes. Caso Ele fizesse tudo por nós, e nossa parte fosse apenas a de pedir-Lhe, certamente ficaríamos mimados e inexperientes para lidar com os problemas que a vida nos apresenta, inclusive pela oposição que sofremos da parte de espíritos malignos. Assim, vemos Davi se esforçando, lutando e sofrendo enquanto fugia de Saul, mesmo quando não era rei sobre todo o Israel. Ele era um homem de fé, mas sabia que deveria agir e lutar para que as vitórias fossem alcançadas com a ajuda de Deus. Não pensemos então, que a vida de fé seja cômoda e confortável, e tudo quanto se exige de nós é que 9 apenas confiemos em Deus e fiquemos de braços cruzados esperando que Ele faça tudo por nós sem que precisemos mover sequer uma palha. Portanto, não duvidemos de Seu cuidado, bondade e ajuda quando as coisas não estiverem acontecendo conforme pensávamos que elas ocorreriam, e por estarmos enfrentando mais resistências do que pensávamos que teríamos que enfrentar, ou dificuldades além do pontoque pensávamos que poderíamos suportar. Em todo este processo a nossa fé está sendo refinada, e no final, para a nossa perplexidade e para a glória de Deus, veremos que Ele fará muito mais, além do que possamos imaginar. 10 3 - Aprendendo com Tiago Sobre a Fé Verdadeira O apóstolo Tiago diz o seguinte, no segundo capítulo de sua epístola: “1 Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. 2 Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, 3 E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, 4 Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? 5 Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? 6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? 11 7 Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? 8 Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. 9 Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores. 10 Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. 11 Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei. 12 Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade. 13 Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo. 14 Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? 12 15 E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, 16 E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai- vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? 17 Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. 18 Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. 19 Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem. 20 Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? 21 Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? 22 Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. 23 E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. 13 24 Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé. 25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho? 26 Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.”. Tiago estava zelando pela manutenção da manifestação do poder e do amor de Deus na comunhão de todos os crentes reunidos na congregação para a adoração pública. Ele advertiu para o grande perigo que há em se fazer acepção de pessoas, especialmente em razão da condição social delas. Na igreja de Cristo caíram todas as barreiras ditadas por preconceitos raciais, sociais ou de qualquer outra natureza, de maneira que um escravo com o seu senhor, numa mesma congregação deveriam receber o mesmo tratamento em Cristo, e não permitirem que a comunhão deles na Igreja fosse prejudicada pela distância imposta pela condição social de ambos. Como não é próprio da natureza terrena lembrar dos pobres e dar atenção a eles, senão aos ricos e poderosos, Tiago advertiu a Igreja para evitar o 14 grande pecado de se dar preeminência aos ricos em detrimento dos pobres. É por isso que se ordena aos que são ricos segundo o mundo que se amoldem às coisas humildes e que deem a devida atenção aos seus irmãos que vivem em baixas circunstâncias neste mundo, porque eles são agora ricos em Cristo, e não é raro, que o Senhor distribua a estes até maiores dons e graças espirituais para poderem servir com eles a todos, inclusive aos próprios ricos. A riqueza de bens terrenos não é necessariamente um sinal do favor de Deus, assim como a pobreza não é um sinal do Seu desagrado. Então, os crentes não devem julgar segundo a aparência externa, mas segundo a reta justiça. Não é pelo simples fato de alguém ser rico de bens materiais que deve ser digno de receber uma atenção especial e diferenciada da parte da Igreja. Porque é até muito comum que pelo fato de serem ricos não tenham temor de Deus e sejam opressivos em relação aos pobres, tal como o Senhor Jesus havia padecido nas mãos dos abastados sacerdotes e fariseus de Jerusalém. Além disso, por um mistério que somente Deus conhece, não são de fato muitos os que são de nobre nascimento e que são ricos segundo o 15 mundo, que são os eleitos de Deus, porque aprouve a Ele fazer os Seus eleitos pobres em sua grande maioria, neste mundo, não somente para que ninguém se glorie na Sua presença, como também para abater a todo espírito exaltado. Não devemos desprezar a nenhum rico, antes, temos o dever de amá-los como a quaisquer outros, mas não devemos nos intimidar com a aparência deles, porque são afinal também pecadores necessitados de salvação. Todos os homens, sejam ricos ou pobres, são mendigos da graça de Deus, porque tudo Lhe pertence e é dEle que todas coisas provêm. Como pode então o homem gloriar-se em si mesmo? E se algum crente mostra uma deferência exagerada a um rico, ele está consequentemente diminuindo e tendo em pouca conta a única glória verdadeira e permanente, que é a de nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso portanto vigiar constantemente contra este pecado odioso de dar honra ao rico, e menosprezar o pobre. Devemos lembrar que nos dias do ministério terreno de Jesus, Deus não pôs em honra apostólica a nenhum rico sacerdote ou escriba, mas a homens iletrados, pescadores e publicanos. 16 Não devemos portanto nos deixar levar pela aparência exterior do traje, formação intelectual ou de qualquer outra coisa que o mundo considere elevada, senão avaliar o justo valor espiritual que cada pessoa tem diante de Deus. As riquezas terrenas passarão, e ao sairmos deste mundo nada poderemos levar conosco, de maneira que os ricos fariam bem em atenderem à ordenança que o apóstolo Paulo dirigiu a eles em I Tim 6.9,10: “9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. 10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”. E, nos versos 17 a 19: “17 manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas desfrutarmos; 18 que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos, 17 19 entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida.” Muitos andam pregando equivocadamente que o grande alvo do evangelho é nos tornar pessoas ricas de bens deste mundo, e que é este o segredo de uma fé vitoriosa. Mas, ao contrário, a Bíblia ensina os muitos perigos, tentações e laços que há no desejo de querer ser rico, porque o grandecentro das nossas atenções não será mais o tesouro celestial, senão o tesouro terreno, do qual Jesus ordenou que nos acautelássemos, de maneira que nosso coração não seja encontrado nele, senão no tesouro que é celestial. Os que são ricos não sabem em sua grande maioria, por causa do endurecimento deles em seu egoísmo, que Deus lhes proveu de bens de forma abundante para que fossem generosos e liberais, cheios de boas obras, de modo que o nome do Senhor fosse glorificado pela disponibilidade deles em compartilhar com os necessitados. Mais do que isso, deveriam ser ricos na fé, vivendo de modo agradável a Deus em obediência à Sua Palavra, reconhecendo que o maior e único bem duradouro que eles possuem são as suas próprias 18 almas, as quais, como as de quaisquer outras pessoas, necessitam da salvação de Cristo. Tiago mostra de modo muito claro que uma fé que não é comprovada pelas boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas, é na verdade uma fé morta. Ela pode ser até mesmo uma fé genuína, que está pronta a ser vivificada pelo Espírito, mediante obediência do crente, mas se ele não anda no Espírito, a sua fé estará como se fosse uma fé morta, isto é, inoperante, que não pode produzir os efeitos esperados por Deus no nosso comportamento e vida. Tiago nos ajuda a entender que a verdadeira fé que salva, a verdadeira e única fé genuína que nos é dada como um dom de Deus, não é uma simples questão de afirmar: Eu creio! Eu creio! Mas que ela se demonstra no modo de vida santa e obediente a Deus que ela produz em nós. E não é voltada apenas para nós mesmos mas se move em amor pelo próximo e especialmente pelos irmãos em Cristo. Porque todo o que é nascido de Deus amará também aos demais que são por Ele gerados pelo Espírito Santo, a saber os que nele creem. Sabemos que temos uma fé justificadora, tal como a de Abraão, quando fazemos as obras de Abraão. 19 Sabemos que temos sido justificados pela fé, quando vivemos cheios das obras de justiça do evangelho, e quando sustentamos o nosso testemunho de confiança total em Deus tal como fizera Raabe nos dias de Josué. Quando Tiago diz que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé no verso 24, ele não quer dizer que Deus estabeleceu dois caminhos diferentes pelos quais podemos ser justificados; mas que a verdadeira fé nunca estará sozinha, porque se comprovará em evidência pelas boas obras da fé, em demonstração que de fato possuímos uma fé que é genuína e não morta, ou então como a fé dos demônios que creem em Deus, e tremem. Contudo, qual boa obra os demônios podem fazer? Eles creem em Deus, mas não possuem a verdadeira fé, e não possuem uma natureza justificada, regenerada e santificada, que têm somente aqueles que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos, por causa da fé que lhes foi dada como um dom pelo próprio Senhor, não para que somente creiam nEle como também possam viver do modo pelo qual importa viverem perante Ele, porque devemos viver não por vista, mas por fé. 20 4 - Porque Deus Não Aparece de Forma Visível É uma grande acusação injusta afirmar que Deus criou o mundo e que deixou a todos entregues à própria sorte. Uma terrível dúvida permeia as mentes mais esclarecidas quanto até mesmo sobre a existência de Deus, debaixo do seguinte raciocínio: “Se ele fosse real ele faria questão de aparecer em pessoa, para nos convencer de que é de fato uma pessoa real.” Dizemos que há grande injustiça em tudo isto porque se Deus não se fizesse presente no mundo, especialmente pelas operações de Deus Espírito Santo, já não haveria qualquer criatura sobre a Terra, porque certamente o pecado e o diabo a tudo já teriam destruído há muito tempo. Como a quase totalidade das operações do Espírito Santo são invisíveis, sobretudo nos corações, por conseguinte, somente aqueles que andam em comunhão com Ele em espírito podem discernir o Seu trabalho divino, para que tanto Deus Pai, quanto Deus Filho sejam glorificados. Onde o coração não é convertido à verdade, o Espírito Santo realiza um trabalho de frear o avanço 21 da iniquidade, especialmente naqueles que não têm amor a Deus. Não seria por aparições visíveis da pessoa de Deus que nossos corações seriam transformados segundo a Sua vontade. Tanto isto é verdadeiro, que quando o Filho Unigênito de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, andou neste mundo fazendo o bem por toda a parte, teve poucos que o seguiram, e homens ímpios acabaram por conduzi-lo à morte de cruz. Cumprido o tempo determinado, Deus terá concluído o trabalho da formação de uma nova criação, especialmente pela reunião de todos aqueles, que em todas as gerações, se converteram a Ele e que o conheceram do modo pelo qual importa ser conhecido, a saber, em espírito, porque Ele é espírito. 22 5 - Fé, Não é Fé na Nossa Fé Fé, biblicamente falando, não é meramente crer na existência de Deus, nem tampouco a capacidade de crer no cumprimento ou realização de qualquer coisa; porque é somente a fé verdadeiramente bíblica que pode nos levar ao conhecimento do único Deus verdadeiro, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta fé é também um dom sobrenatural recebido exclusivamente de Deus, pois não se encontra em nossa natureza terrena. Assim, ninguém pode possuir a fé de modo natural, já que é um fruto da graça divina que nos é dado e amadurecido pela manutenção do próprio Deus, para ser aumentada, firmada e aperfeiçoada. Então, quando dizemos: “tenha fé em Jesus”, o sentido real destas palavras é: “fixe o seu pensamento e coração em Jesus, em seu poder e em suas palavras, para que ele gere em você a fé que o ligará a ele em espírito, e assim, lhe capacite a ser, pensar, orar e a agir, conforme a Sua santa vontade.” 23 6 - A Viúva Importuna “Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.6-8) Não há dever mais fortemente enfocado na Escritura do que o da oração; nem há qualquer outro que necessite ser mais inculcado na consciência. Para aqueles que nunca se envolveram nesta tarefa com espiritualidade real de mente, pode parecer ser de fácil realização, mas aqueles que são mais sérios no seu desempenho, encontram muitas dificuldades para serem enfrentadas. Para nos encorajar a perseverar na oração, a despeito de todas as dificuldades, nosso Senhor falou a parábola diante de nós. Devemos considerar o que diz o juiz injusto. Havia uma viúva laborando sob alguma pesada opressão. 24 O pecado tem universalmente armado os homens contra seus semelhantes. O mundo está cheio de roubo e opressão de todos os tipos, Sl 74.20, e os que são mais indefesos geralmente sofrem os maiores danos. Cada um está pronto para se aproveitar do órfão e da viúva. Então é o conforto deles, saber que a par de terem inimigos na Terra, que têm um amigo no céu. A viúva foi a um magistrado para apresentar suas queixas. A nomeação de magistrados é uma bênção rica para a comunidade, e eles deveriam ser considerados com muito respeito e gratidão. Nós não deveríamos de fato recorrer à lei por ninharias. Devemos sim resolver nossas disputas, se possível, por meio de arbitragem, mas nas circunstâncias da viúva, era correto solicitar a interferência do magistrado. O juiz, por um longo tempo, não deu qualquer atenção ao seu pedido. O juiz demonstrou não ser uma pessoa de caráter: ele não temia o santo, onisciente, onipotente Deus; e nem sequer considerava a boa opinião dos homens. Assim, ele não possuía qualquer regra de conduta, mas o seu próprio capricho ou interesse. Certamente, ao lado de um ministro vicioso, não pode haver maior maldiçãopara um bairro do que um magistrado desleixado como este. Nós temos 25 motivos para bendizer a Deus, no entanto, apesar de tais caracteres serem muito comuns, são raramente encontrados entre a magistratura. Não é à toa que o tal juiz era surdo aos clamores da equidade e da compaixão. Finalmente, ele agiu sob a importunação da viúva. Ele se gloriava em seu desprezo a todas as leis humanas e divinas; mas não podia suportar os constantes apelos da viúva. Portanto, apenas para se livrar dela, atendeu à sua petição, e fez para sua própria comodidade, aquilo que deveria ter feito a partir de um melhor motivo. Assim, infelizmente! proclamou sua própria vergonha, mas declarou, de forma muito marcante, a eficácia da importunação. Sua fala, ímpia como foi, pode ser vista como rentável para as nossas almas; conforme a aplicação feita por nosso Senhor. Todos nós, do ponto de vista espiritual, nos assemelhamos a esta viúva indefesa. Estamos cercados de inimigos no nosso interior e também externamente: nossos conflitos com a corrupção do pecado que habita em nós são grandes e múltiplos. Temos, sobretudo, que lutar com todos os poderes das trevas; e não temos em nós mesmos qualquer força para resistir aos nossos adversários. 26 Mas Deus, o juiz de todos, nos ajudará se apelarmos a ele. Deus tem prometido ouvir as súplicas de seu povo; ele tem declarado que não irá lançar fora a qualquer pessoa que vier a ele. Ele pode, de fato, por razões sábias atrasar as respostas à oração; pode suportar tanto tempo com a gente, como para nos fazer pensar que ele não irá ouvir, mas nunca vai deixar de nos socorrer em qualquer época. Isto pode ser fortemente deduzido a partir da citada parábola. A viúva era uma estranha sem qualquer relacionamento com o juiz; mas nós somos eleitos de Deus, seu povo peculiar e favorito. O juiz injusto não estava interessado na concessão de seu pedido; mas a honra de Deus se preocupa em aliviar as necessidades das pessoas do seu povo. Podemos até tratá-lo na língua de Davi, Sl 74.22. Havia pouca esperança de prevalecer com tal juiz injusto e não misericordioso, mas nós tratamos com um compassivo Pai de amor. Além disso, a viúva não tinha ninguém para interceder por ela, mas temos um advogado justo e todo-suficiente. Ela estava em perigo de irritar o juiz por suas súplicas; mas quanto mais importunos somos, mais Deus se agrada de nós, Isa 62.7. Ela, apesar de todas 27 as suas dificuldades, obteve resposta ao seu pedido. Quanto mais, iremos nós, que em vez de suas dificuldades, temos esses incentivos abundantes! Certamente esta dedução é tão consoladora quanto simples e óbvia, e nosso Senhor, com sinceridade peculiar, o confirma: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça.“. Há muito pouco de tal importunação para ser achada; nem é de se admirar, uma vez que há tão pouca "fé sobre a Terra". A fé é o princípio de onde a oração sincera procede. Se nós cremos nas declarações de Deus, devemos nos sentir fracos e indefesos; se cremos nas suas promessas, vamos reconhecer a sua prontidão para nos ajudar, e se cremos na realidade e importância das coisas eternas, vamos fervorosamente buscar a ajuda de Deus; nem estaremos indispostos por esperar até que ele nos responda. Mas quão pouco há de tal fé no mundo! Quão poucos são fiéis às convicções de suas próprias consciências! Quão poucos mantêm essa constância santa e fervor na oração! Quão poucos podem ser realmente chamados de um povo íntimo de Deus! Se Cristo viesse agora para juízo, iria encontrar esta fé em nós? Alguns vivem sem qualquer reconhecimento de Deus na oração; eles parecem ter esquecido de que 28 haverá um dia de julgamento; outros se envolvem com seus deveres habituais e ficam satisfeitos com um recital sem sentido de certas palavras. Há outros ainda que sob a pressão da aflição irão clamar a Deus, mas logo se cansarão de um serviço no qual eles não têm prazer. Poucos, muito poucos, é para ser lamentado, se assemelham à viúva importuna. Poucos oram, como se eles cressem completamente na eficácia da oração. Se Cristo viesse agora ele encontraria tal fé em nós? Ele certamente irá investigar o que diz respeito à nossa fé, como às nossas obras, e se nós não temos a fé que nos estimula à oração, ele lançará a nossa parte com os infiéis. Tradução, adaptação e redução feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público 29 7 - “Eu não Temerei Mal Algum” (Sl 23.4) Seria presunçoso ao extremo para qualquer um usar uma expressão como essa, se ele olhasse apenas para o braço de carne; porque "não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa," 2 Cor 3.5, mas, tendo como protetor nosso Senhor Jesus Cristo, nós podemos rir de todos os nossos inimigos espirituais com desprezo. Sabemos quão poderoso, quão sutil, quão maligno é este "leão que ruge, que busca nos devorar", e sabemos que somos muito fracos e impotentes em nós mesmos como ovelhas, mas se Davi, um homem como nós, matou um leão e um urso que atacaram o rebanho de seu pai, o que Jesus não fará em nossa defesa? Quem poderá escapar de seu olho, ou quem poderá suportar o seu braço? Ouça o que o próprio Senhor diz: "O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranquilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.”, Is 32.18,19. Deixe então o tímido lançar fora os seus temores, a partir de qualquer fonte que possa surgir. "Eu não temerei mal algum", disse o salmista; e nós, à vista de nossos inimigos, podemos adotar a mesma linguagem triunfante se sabemos em quem temos crido, podemos ter a certeza de que ele continuará nos guardando até aquele 30 glorioso dia, quando todo o seu rebanho será reunido em um só rebanho com um só Pastor. A minha felicidade não terá fim. Eis como confiantemente o salmista fala sobre este assunto! "Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida." O quê! Tu não tens nenhuma dúvida sobre este grande assunto? Não. Certamente será assim. Não és presunçoso, portanto, em falar deste modo em relação a ti mesmo? Não. Será assim comigo. Mas não seria suficiente dizer que a bondade e a misericórdia não devem se afastar de ti? Não. Elas me seguirão, e também "todos os dias da minha vida" elas me seguirão, assim como a minha sombra, onde quer que eu vá. Bondade, para suprir as minhas necessidades, e misericórdia, para cobrir os meus defeitos. E tu és corajoso o bastante para levar esta confiança além túmulo? Sim: "habitarei na casa do Senhor para sempre", não somente para servi-lo em sua casa aqui embaixo, mas para admirá-lo e glorificá-lo em sua casa lá em cima. Eis aqui a felicidade dos santos. Todo o resto do mundo está procurando pela felicidade, e ela escapa de seu alcance; mas aqueles que creem em Jesus têm a felicidade lhes seguindo: "bondade e misericórdia "são os seus anjos atendentes, que nunca por um momento se desviam deles, ou que relaxam sua atenção sobre eles. 31 Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon em domínio público. 32 8 - A Espera da Fé “Deus se lembrou de Noé" (Gênesis 8.1) Existem heróis, cujo monumento de honra não é em nenhuma construção terrena, ao molde das que eram erigidas para os vencedores de batalhas no passado, que nunca receberam uma medalha do tipo Vitória da Cruz, paciente, povo fiel, que tem aprendido a trabalhar ou a esperar, que teme a Deus e guarda os seus mandamentos, em meio às más línguas e dias maus; pessoas que amam a Deus e que procedem retamente, que veem seu dever diante deles, e partem diretamente para a execução, que se sacrificam a si mesmos para o bem de outros, que passam fome para que possam dar o pão das crianças, que vestem trapos para que possam vestir mulheres indignasou maridos bêbados: esses são heróis de Deus. Muitos deles são desprezados e desconhecidos. Seus nomes nunca serão escritos no noticiário do jornal, ou esculpidos em mármore, estão escritos no céu. Deus conhece os que são Seus. Eles viveram em todas as épocas e em todos os países. Eles foram encontrados nas fileiras dos reis e mendigos, profetas e servos, porque Deus não faz acepção de pessoas. Vamos olhar para trás agora na distância cinza- escuro do velho mundo, e tomar Noé como nosso exemplo de paciência, na espera da fé. Eu chamo herói Noé de Deus porque ele foi corajoso o 33 suficiente para acreditar que Deus disse para fazer o que Deus disse a ele, e esperar pacientemente pelo cumprimento da promessa de Deus, apesar do ridículo e da oposição de um mundo incrédulo. Eu chamo qualquer homem de herói de Deus hoje a quem faz o mesmo. O homem que acredita que Deus quer tê-lo acreditando nEle, que obedece o que Deus lhe ordena obedecer, que confia em Deus para o futuro, e nunca perde a fé, apesar de ele ser julgado e tentado e afligido; o homem que não perde o coração e a coragem de fazer o bem apesar de todos os seus companheiros estarem contra ele, que se atreve a ler a Bíblia e faz suas orações, apesar de risos e perseguição, este homem é um dos heróis de Deus. Eu aprendo com a história de Noé, que em todas as gerações Deus tem tido Seus heróis, suas testemunhas para a verdade. No meio do deserto de um mundo que tinha perdido de vista a Deus, está Noé, o herói, a fiel testemunha, ele e sua família formando a pequena Igreja de Deus, cercado por um povo de idólatras. No meio das abominações inomináveis de Sodoma se levanta Ló, o fiel que se afligia com a conversação suja dos ímpios. Na selvageria do pecado e da tristeza se levanta Moisés, a mansa e paciente testemunha de Deus. Na corte de falsidade de 34 Acabe está Elias, o tisbita. No meio de um mundo hostil estão aqueles poucos homens e mulheres fiéis que se reuniram no cenáculo em Jerusalém. Quando, mais tarde, o mundo corria o risco de ser contra a verdade, se levanta Atanásio para responder, "Então eu estou contra o mundo." Embora homens pecaminosos possam ser achados em qualquer época, Deus tem sempre algum fiel, que não dobrou os joelhos diante do Baal da época, ou que não se ajoelhou para a imagem de ouro que a imaginação tem criado. Eu aprendo também da história de Noé, que é uma coisa boa ter uma arca de salvação para fugir quando vem o dilúvio. Deus providenciou tal Arca de salvação para nós, a Sua Igreja é o nosso refúgio. Jesus, a Cabeça da Igreja da qual somos os membros, é um lugar para nos escondermos, nossa fortaleza e o nosso Libertador, um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade. Há sempre uma enchente de um tipo ou de outro nos ameaçando neste mundo. Agora isto é um dilúvio de tristeza que parece mesmo cobrir a nossa alma. Ainda, é um dilúvio de tentação varrendo contra nós, e prometendo nos levar junto com ele. Logo se torna um dilúvio de dúvidas e ansiedade que parece nos engolir. 35 Se queremos estar a salvo do dilúvio, devemos estar na Arca. Se quisermos aprender a suportar as nossas tristezas, nossas provações e lutos, pacientemente, se devemos vencer a tentação, se quisermos guardar a nossa fé forte e limpa, devemos buscar segurança em Cristo, devemos utilizar os meios da graça, devemos guardar a Arca da Igreja que é Cristo. As pessoas do velho mundo não iriam acreditar em Noé ou na arca. Eles duvidaram da promessa de Deus que a inundação viria, ou confiaram em seus próprios recursos para escapar caso ela viesse. Assim, nestes dias há muitos que se recusam a acreditar na Arca da Igreja. Eles tentam passar através das ondas deste mundo problemático em alguma arca de sua própria elaboração. Um homem confia na sua filosofia e sua aprendizagem, ele pensa que sabe mais sobre o mundo e os homens do que Deus que o criou; ele é muito inteligente para entrar na Arca da Igreja, ou para acreditar nas palavras da Bíblia, então ele tenta atravessar as cheias de perigo, julgamento e tentação em seu pequeno barco, e orienta o seu curso por seu próprio conhecimento, em vez de fazê-lo pela Palavra de Deus. Outro faz para si mesmo uma pequena arca, e toma para ser seu lema: "Eu não sei." Se você lhe perguntar se existe um Deus, ou a vida após a morte, ou uma condição de céu ou inferno, ele responde: "Eu não sei.” E ele se recusa a crer que ele faz o que não sabe, e com um tipo de insensatez como esta espera passar pelo dilúvio. Outro tenta fazer a viagem em algum barco 36 de sua própria concepção, e toma para o seu lema, "Eu não me importo." Ele não diz que descrê das promessas de Deus, ou de suas ameaças de punição, ele é simplesmente indiferente, ele não se importa. Estes naufragam na enchente de dúvidas, ou problemas, ou pecado. Em seguida, eu aprendo com essa história que Noé não teve medo de ser ridicularizado. Podemos estar certos que as pessoas ímpias que viram Noé se movendo dia após dia, na construção da arca, e o ouvindo pregar sobre a justiça e o juízo vindouro, escarneciam dele, e riam de suas palavras. Agora, há algumas armas mais poderosas do que o ridículo. Muitos jovens que suportariam a dor real sem um grito, têm tanto medo do riso dos seus companheiros, que abandonam suas orações e suas Bíblias, e vão se arruinar na companhia de zombadores ímpios. Muitos jovens ao entrarem no exército ou marinha, ou em algum lugar grande de negócio, têm se determinado a levar uma vida boa, para orar, ler a Bíblia, para se manterem sóbrios e castos, mas não foram capazes de se levantar diante das vaias e risos de seus companheiros, e por isso caíram. Muitas almas têm sido ridicularizadas para a perdição. Conheço muitos casos de jovens que entraram na vida, que desejavam viver como parte do povo de Cristo, e que tinham medo de mostrar suas cores por causa da zombaria de seus vizinhos. 37 Sempre haverá pessoas más, insensatas e impensadas para rirem de alguém como Noé, que continua fazendo o seu dever para com Deus. Algumas vezes os inimigos do homem são os da sua própria casa. Os parentes de Ló zombaram de suas advertências e não creram em suas palavras. Em muitas famílias, entre nós, as boas resoluções e zelo santo de um membro são desativadas e destruídas pelas zombarias dos outros. Se Noé tivesse medo do riso ele nunca teria terminado a arca e sido salvo. Se Colombo temesse o ridículo ele nunca teria perseverado, e descoberto o novo mundo. Se Stephenson tivesse temido a zombaria dos ignorantes ele nunca teria iniciado a fabricação de uma estrada de ferro. Meu irmão, não deixe que ninguém zombe de você fora da Arca da Salvação, nem levá-lo de volta para buscar um lugar melhor, isto é algo Celestial. Jovens e donzelas, vocês que temem mais o ridículo do que qualquer outra coisa, orem para que possam ser corajosos para fazer o que é justo a qualquer custo. Não sejam covardes, mas sejam como homens e mulheres maduros e lutem. Se outros lhes tentam para pecar, para seguir os maus caminhos deles, tome a firme decisão de ficar de pé e diga: "não", e aqueles que quiserem rir de você, deixe que o façam. Deus vai lhe dar a força necessária. Noé nunca poderia ter se mantido como ele fez, ano 38 após ano, mas pôde pela graça de Deus. Tente ser como Noé, e o Deus de Noé, que lembrou dele vai se lembrar de você. Também, eu aprendo com a história de Noé o dever de levar outros à salvação. Noé não pensava apenas em si mesmo e em sua própria segurança, ele teve o cuidado de obedecer ao mandamento de Deus "Vem tu e toda a tua casa na arca". Irmãos, não sejam egoístas em sua religião, que não pode ser a verdadeira religião, se é egoísta. Se você está apenas ansioso para garantir um lugar para si mesmo na Arca da Salvação, e indiferente se os seus vizinhos e parentes perecerem no dilúvio, a sua religião é falsa. Alguns de vocêsestão seguros na Arca da Igreja de Cristo, vocês obedecem aos mandamentos, vocês se professam cristãos, mas que será de sua família, ou seus amigos? Vocês estão contentes em estarem seguros na Arca, e os deixarão no terrível dilúvio do pecado do lado de fora? Os pais, empregadores, maridos, esposas, você tenta conduzir outros na Arca? Você, como Noé, oferece um sacrifício ao Senhor, em que sua família pode participar? Não podemos esperar que nossa casa seja piedosa, se a oração e louvor e ação de graças nunca são ouvidos dentro delas. Uma criança, certa vez perguntou a seu pai: "Deus está morto?" 39 "Não", foi a resposta, "por que você pergunta?" "Porque, quando mamãe estava viva, costumava orar a Deus, agora nós nunca o fazemos, e eu pensei que, talvez, Deus estivesse morto, assim como a mamãe." Ó, irmãos, coloquem suas casas sem oração em ordem, reúnam suas famílias para a oração, "venha e toda a sua família na Arca," Deus se lembrou de Noé, Deus vai se lembrar de você. Tradução e adaptação do Pr Silvio Dutra de um sermão de Harry John Wilmot – Buxton, em domínio público. 40 9 - “Confie nele em todos os momentos." (Salmo 62.8) A fé é quase como o governo tanto da vida temporal quanto da espiritual; devemos ter fé em Deus para os nossos assuntos terrenos, bem como para os celestiais. É somente à medida que aprendemos a confiar em Deus para o provimento de toda a nossa necessidade diária que iremos viver acima do mundo. Nós não devemos ser ociosos, porque isto revelaria que não confiamos em Deus, que trabalha até agora, mas no diabo, que é o pai da preguiça. Não devemos ser imprudentes ou precipitados; que confiam no acaso, e não no Deus vivo, que é Deus cuidadoso e ordeiro. Agindo com toda a prudência e honestidade, estamos confiando de forma simples e inteiramente no Senhor em todos os momentos. Deixe-me recomendar a você uma vida de confiança em Deus nas coisas temporais. Confiando em Deus, você não será compelido a se entristecer porque você usou meios pecaminosos para enriquecer. Sirva a Deus com integridade, e se você não conseguir nenhum sucesso, pelo menos nenhum pecado irá residir sobre sua consciência. 41 Confiando em Deus, você não será culpado de contradizer a si mesmo. O que confia na tripulação, navega desta forma hoje, e também depois, como um navio sacudido pelo vento inconstante; mas aquele que confia no Senhor é como um navio movido a vapor, que corta as ondas, desafia o vento, e faz uma brilhante pista prateada atrás de si rumando para o seu porto de destino. Seja uma pessoa que vive com princípios interiores; nunca se curve aos diferentes costumes da sabedoria mundana. Ande em seu caminho de integridade com passos firmes, e mostre que você é invencivelmente forte na força que a confiança somente em Deus pode conferir. Assim, você será livrado de cuidados ansiosos, você não será incomodado com a má notícia, o seu coração estará firme, confiando no Senhor. Como é agradável flutuar ao longo do córrego da Providência! Não há nenhuma maneira mais abençoada de vida do que uma vida de dependência de um Deus que guarda a aliança. Nós não temos ansiedades, porque ele tem cuidado de nós; nós não temos nenhum problema, porque lançamos todos os nossos fardos sobre o Senhor. Texto de Spurgeon traduzido e adaptado por Silvio Dutra. 42 10 - A Fé Que nos Vem de Deus A fé não consiste apenas no assentimento da mente para com a verdade das promessas de Deus. Sem isto, não há fé. Mas isto por si só não é a fé da qual a Bíblia fala. Esta fé de mero assentimento é a fé que Satanás e os demônios possuem, porque eles sabem e creem que Deus é fiel em cumprir tudo o que tem prometido. E isto lhes causa dor porque não podem deixar de acreditar nisto. A verdadeira fé além de demandar o assentimento da mente, também exige o consentimento da vontade com toda a palavra revelada de Deus. O tipo de confiança em Cristo que a fé verdadeira possui é confiança em qualquer circunstância, tendo ou não tendo, sendo honrado ou humilhado, na saúde ou na enfermidade, nas perseguições sofridas por causa da prática ao evangelho e obediência à vontade de Deus. A fé verdadeira habitando na alma não gera obediência mecânica a Deus, mas por amor a Ele e à sua Palavra, no poder do Espírito Santo. A fé que nos vem como dom de Deus é purificada e aumentada nas experiências que temos com a 43 fidelidade, amor e poder de Deus em nós, nas tribulações e tentações que sofremos. Esta fé ilumina a nossa mente e espírito para entendermos a Palavra de Deus. A fé genuína nos leva a conhecermos a nossa pecaminosidade e a nossa necessidade da aceitação de Cristo para ser a nossa justiça, que é o único meio de sermos livrados da maldição, da condenação eterna e da ira de Deus. Por tudo o que foi afirmado até este ponto, podemos concluir que a fé não pode ser produzida pela vontade do homem, e por isso é necessário recebê-la como um dom de Deus, que não somente dá a fé, como também a mantém, aumenta e prova para que seja refinada. Esta fé que é dom de Deus é a única que nos habilita a recebermos a Cristo da forma pela qual convém ser recebido por nós, em todos os aspectos relacionados à nossa justificação, regeneração, santificação, comunhão e tudo o mais que temos por estarmos unidos a Ele pela fé. Todavia, ainda que uma pequena fé nos habilite a receber a justificação e a regeneração, somente pelo aumento da fé em graus podemos fazer progresso na santificação e no aumento da nossa comunhão com Deus. 44 Este aumento da fé em graus se refere ao seu fortalecimento, e isto não é obtido por meio de esforço mental para crer na fidelidade de Deus em suas promessas, especialmente em circunstâncias difíceis, mas no fechamento com a vontade Deus, sem recuar em praticar o que seja do Seu desagrado em toda e qualquer circunstância, por ter sido aperfeiçoado no conhecimento íntimo e pessoal com Jesus Cristo, experimentando de Sua presença fortificadora e consoladora em todas as situações da vida. Assim, o crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Cristo depende de nossas experiências com a Palavra de Deus, sendo aplicada em nossas vidas pelo Espírito Santo, no decurso de nossa jornada terrena. Portanto, a firmeza nas tentações será tanto maior quanto maior for a nossa fé. Uma fé fraca nos levará a cair até mesmo em pequenas tentações. 45 11 - “Volta. E assim por sete vezes.” (I Reis 18.43) O sucesso é certo quando o Senhor o tem prometido. Embora você possa ter suplicado mês após mês sem evidências de resposta, não é possível que o Senhor seja surdo quando seu povo é sincero numa questão que diz respeito à Sua glória. O profeta no cume do Carmelo continuou a lutar com Deus, e nunca por um momento deu lugar ao medo de que ele fosse rejeitado nos átrios de Jeová. Seis vezes o servo voltou, mas em cada ocasião, nenhuma palavra foi dita, apenas "Vá novamente." Nós não devemos sonhar com incredulidade, mas manter a nossa fé até mesmo setenta vezes sete. A fé manda a esperança voltar e olhar, expectante, do cume do Carmelo, e se nada for visto, ela a envia outra vez. Assim, longe de ser esmagada pelo desapontamento repetido, a fé é animada para pleitear com mais fervor com seu Deus. Ela é mantida humilde, mas não é envergonhada: seus gemidos são mais profundos, e seus suspiros mais veementes, mas ela nunca relaxa nem retira sua mão. Seria mais agradável à carne e ao sangue ter uma resposta rápida, mas as almas crentes aprenderam 46 a ser submissas, e acham bom esperar pelo Senhor e no Senhor. Respostas adiadas, muitas vezes põem o coração a sondar a si mesmo, e assim levam à contrição e à reforma espiritual: golpes mortais são assim desferidos na corrupção de nossa natureza decaída no pecado, e as câmaras de imagens mentais são purificadas. O grande perigo éque os homens desfaleçam e percam a bênção. Leitor, não caia nesse pecado, mas continue em oração e vigie. Por fim, a pequena nuvem foi vista, a indicação certa de torrentes de chuva, e assim também com você - certamente será dado o sinal para o bem, e você subirá como um príncipe que prevalece para desfrutar a misericórdia que você buscou. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós: o seu poder com Deus não estava em seus próprios méritos. Se a sua oração da fé pôde tanto, por que não a sua? Suplique sob a cobertura do sangue precioso com insistência incessante, e lhe será feito de acordo com seu desejo. Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido e adaptado por Silvio Dutra. 47 12 - “Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23) Muitos cristãos professos estão sempre duvidando e temendo, e desalentados pensam que é esta, necessariamente, a condição dos crentes. Isso é um erro, pois "tudo é possível ao que crê", e é possível para nós, alcançarmos um estado no qual haverá a dúvida ou o medo, mas como um pássaro esvoaçando a alma, e nunca permanecendo na mesma. Quando você lê sobre as elevadas e doces comunhões experimentadas por santos agraciados, você suspira e sussurra no recôndito do seu coração: "Ai de mim! isto não é para mim." Oh alpinista, se tu tens fé, tu porás o teu pé sobre o pináculo ensolarado do templo, porque "tudo é possível ao que crê." Você ouve sobre proezas que homens santos têm feito para Jesus - pelo que alcançaram testemunho de tê-lo agradado; ouve sobre o quanto eles têm sido semelhantes a ele, como foram capazes de suportar grandes perseguições por causa dele, e você diz: "Ah! Quanto a mim, eu sou apenas um verme, nunca poderei alcançar isto." Mas não há nada que um santo tenha sido que você não possa ser. Não há nenhum crescimento na graça, 48 nenhuma realização espiritual, nenhuma certeza de segurança, nenhuma atribuição de dever, que não estejam abertos para você caso tenha apenas o poder de crer. Deixe de lado a sua veste de saco e cinzas, e suba para a dignidade da sua posição verdadeira, você é pequeno em Israel, porque você se fez assim, não porque haja alguma necessidade para isso. Não é bom que tu deverias ser achado rastejando no pó, ó filho de um Rei. Eleve-se! O trono de ouro da segurança está esperando por você! A coroa da comunhão com Jesus está pronta para ornamentar a tua fronte. Vista-se de fino linho escarlate, e caminhe suntuosamente todos os dias, porque se cresses, tu poderias comer do melhor; tua terra manaria leite e mel, e a tua alma se fartaria, como de tutano e de gordura. Reúna feixes dourados da graça, pois eles esperam por ti no campo da fé. "Tudo é possível ao que crê." Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra. 49 13 - Fé, Crer e Confiar O texto de Habacuque 2.4, no qual se diz que o justo viverá pela sua fé, tem esta palavra “fé” vertida do hebraico emunah, que ocorre em outras 48 passagens do Velho Testamento com o significado de ofício ministerial ou fidelidade, e isto é muito instrutivo para entendermos que a qualidade de fé aludida pelo profeta, e que nos justifica para a vida eterna que está em Cristo Jesus, tem este caráter de fidelidade a Deus e de o servirmos ministerialmente conforme o ofício que tiver designado a nós. A fé salvífica bíblica, que é um dom de Deus, tem sempre a propriedade de gerar em nós esta ligação com Deus para que o sirvamos em fidelidade. Daí, etimologicamente, nossa palavra portuguesa fé vem do latim fides, raiz de fidelidade. Mas no original grego do Novo Testamento temos pistis, cujo sentido é bem mais amplo, pois significa crer, confiar, assentir e concordar com algo como sendo verdadeiro, ficar firme e seguro Então, sempre que pensarmos na fé, ou falarmos da fé que procede de Deus, devemos ter em conta que não estamos tratando com algo que seja simplesmente nocional, ou uma afirmação de crença em algo ou alguém que não opere eficazmente no nosso interior, e que não nos 50 conduza a buscar um aumento progressivo desta fé, pois ela sempre tem este caráter de busca de crescimento, pois o crescimento na graça e no conhecimento de Jesus é proporcional ao crescimento na fé, porque ela é o instrumento de recepção das graças e da intimidade com Deus. O povo de Israel nos dias do Velho Testamento, apesar de ser o povo da aliança, e ter recebido a revelação da Palavra de Deus, não chegou a alcançar em sua grande maioria, e em todas as gerações, o descanso de Deus, ou seja, a salvação da alma pela comunhão com Ele, pois segundo o autor de Hebreus, “a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.”(Hebreus 4.2). Quantas vezes se afirma no texto bíblico que eles creram em Deus e nos sinais que Ele fazia, e no entanto isto de nada lhes aproveitou porque tinham uma fé morta, uma crença nocional, e não uma confiança e certeza interna na pessoa de Deus, que os levasse a observar os Seus mandamentos, a temê-lo e a Sua Palavra, por um firme impulso espiritual em seus corações. Por isso Deus não se fiava a eles pois bem conhecia a incredulidade dos seus corações. Tinham uma fé de boca mas não de coração. 51 O apóstolo Paulo ensina em Romanos 10 que é por se crer em Cristo no coração que somos salvos, e não simplesmente por confessar com nossos lábios que Ele é o Salvador e Senhor. Não é forçoso pois reconhecer que a vida de fé em toda a sua plenitude, em todas as nações da terra, e não apenas em Israel, estava reservada para a dispensação da graça - para a glória e honra de Jesus Cristo, por quem recebemos a bênção de habitação do Espírito que fora prometida desde os dias de Abraão (Gál 3.14). Esta fé evangélica é fruto do Espírito Santo que habita nos crentes (Gál 4), de modo que pode-se dizer que a rigor, a vida de fé dos crentes esperada por Deus haveria de ter cumprimento somente depois que o Espírito Santo fosse derramado para que o evangelho fosse anunciado em todas as nações. De modo que se afirma em Gálatas 3.23: “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.” Temos então a fé no Novo Testamento não apenas ligada à ideia de crer e confiar, pois ela é apresentada como algo que recebemos do alto, algo que não se encontrava inerentemente em nós, algo vivo e operante que realiza toda a dinâmica da vida espiritual e celestial em nós. 52 Tal é o caráter da fé no Novo Testamento que em muitas passagens bíblicas ela é citada como fé objetiva, a saber, como sendo o próprio sistema do evangelho em sua totalidade, como incorporado à vida do crente, e não apenas como sendo o dom subjetivo que opera no interior do crente levando-o a experimentar o que é espiritual, celestial e divino. Graças a Deus, portanto, por nos ter dado Jesus Cristo e esta fé que nos mantém firmemente ligados a Ele em espírito. Graças a Deus por nos ter dado o Espírito Santo porque é Ele quem opera esta fé em nós. Sem a habitação do Espírito Santo não poderíamos ter esta qualidade de fé que nos desvenda e introduz aos mistérios da pessoa de Deus. 53 14 - Alegria e Paz em Crer Parte introdutória de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzida e adaptada pelo Pr Silvio Dutra. "O Deus de esperança vos encha de toda alegria e paz no vosso crer." (Romanos 15.13) A alegria e a paz, embora eminentemente desejáveis, não são evidências infalíveis de segurança. Há muitas pessoas que têm grande alegria e muita paz, e que não são salvas. Sua alegria brota de um erro, e sua paz é a paz falsa que não descansa sobre a rocha da Verdade Divina, mas sobre a areia de sua própria imaginação. Eu não devo inferir porque o calor do sol está em tal e tal grau, que, portanto, devo necessariamente saltar de alegria. E, por outrolado, temos tido dias muito frios, e assim, a alegria e a paz são como dias bem ensolarados que vêm para aqueles que não têm fé e que estão no inverno de sua incredulidade, e dias estes que podem nem sempre visitar vocês que creem. Ou se tais dias ensolarados vêm, eles não podem perdurar, pois pode haver tempo frio em alguma tristeza e aflição de espírito, mesmo para uma verdadeira alma que crê em Cristo. Entenda que você não deve olhar para a posse da alegria e da paz como sendo uma consequência absolutamente necessária da sua salvação. Um 54 homem pode estar no bote salva-vidas, mas este bote pode ser tão sacudido que ele ainda pode sentir-se extremamente angustiado e pensar que ainda se encontra em perigo. Não é o seu senso de segurança que o torna seguro – ele está seguro porque está no bote salva-vidas - se ele está sensato disto ou não. Entenda, então, que a alegria e a paz não são infalíveis ou evidências indispensáveis de segurança, e que elas não são certamente evidências imutáveis. Os cristãos mais brilhantes perdem a sua alegria - e alguns daqueles que se destacam bem nas coisas de Deus, e que, no entanto, entretêm muitas suspeitas acerca de si mesmos. Alegria e paz são os elementos de um cristão, mas ele está, por vezes fora do seu elemento. Alegria e paz são o seu estado normal, mas há momentos quando, com lutas por dentro e guerras por fora, sua alegria se vai e a sua paz é quebrada. As folhas da árvore provam que a árvore está viva, mas a ausência de folhas não vai provar que a árvore está morta. A verdadeira alegria e paz podem ser evidências muito satisfatórios, mas a ausência de alegria e de paz, durante determinadas épocas do ano, muitas vezes pode ser contabilizada em alguma outra hipótese do que a de não haver fé. E, mais uma vez, peço-vos, queridos amigos, para não buscarem a 55 alegria e a paz como a primeira e principal coisa. Seja vossa oração: "Senhor, dá-me conforto, mas dá-me segurança em primeiro lugar. Impeça que eu ache conforto com exceção de Sua mão direita." Acredite que seria melhor para você seguir toda a sua vida na escuridão e terminar na vida eterna e na luz, do que desfrutar muito do que você pensava ser a alegria celeste aqui, e, em seguida, ir para as trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes. Não andem ansiosos para serem felizes, mas sejam mais ansiosos para serem santos. Sejam desejosos da paz, mas sejam mais desejosos, ainda, de ter uma boa esperança através de Cristo - Aquele através do qual a paz pode fluir. (Nota do tradutor: Entendemos, portanto, que a alegria e a paz que eram esperadas pelo apóstolo que fossem concedidas por Deus àqueles que creem em Cristo, são aquelas que são decorrentes da esperança que temos por meio da fé no Senhor, a qual é firme e segura (Hb 6.18,19); por conseguinte, são constantes e eternas, independentemente de nossas circunstâncias presentes – daí o apóstolo se referir a Deus no texto de Romanos 5.13, como sendo o Deus de esperança. Não se trata de uma alegria e paz que são geradas por nós mesmos, por nossos sentimentos e emoções, mas a certeza interior da bem-aventurança que recebemos da parte de Deus pela Sua graça e misericórdia, e mediante e simplesmente pela nossa fé em Cristo – 56 alegria e paz que percebemos que possuímos quando andamos por fé e não por vista – daí o apóstolo afirmar que isto nos é concedido no nosso crer – alegria e paz que são fruto do Espírito Santo, e cuja evidência atestamos portanto, quando andamos no Espírito.) 57 15 - A Fé Atua Pelo Amor Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra. "A fé que atua pelo amor." (Gálatas 5.6) Todas as formas de justificação pelas obras humanas e as formas exteriores são deixadas de lado pelo Apóstolo. Em uma única frase ele fecha cada estrada que é moldada pelo homem e abre o caminho do Senhor, o único caminho da salvação que é pela graça mediante a fé em Cristo Jesus. Alguns esperam ser salvos pelo ritualismo, mas suas esperanças são quebradas com estas palavras: "nem a circuncisão para nada aproveita." Por outro lado, muitos estão confiando em sua liberdade de todas as cerimônias e colocam a sua confiança em uma espécie de antiritualismo, eles são atingidos pelas palavras, "nem a incircuncisão." Se pensarmos que as coisas exteriores irão nos salvar porque elas são biblicamente simples, vamos errar tanto quanto aqueles que multiplicam os seus cultos lindos e procissões pomposas. Paulo diz: "nem a circuncisão para nada aproveita", mas ele não para por aí, pois acrescenta, "nem a incircuncisão." O exterior, seja decorado ou sem adornos, seja fixo ou livre, não pode salvar - a única 58 coisa que pode nos salvar é a fé em Jesus Cristo, a quem Deus propôs como propiciação pelo pecado. A fé nos põe em contato com a fonte de cura e por isso a nossa doença natural é removida. Ela se apropria, em nosso favor, do resultado do serviço e sacrifício do Redentor e por isso nos tornamos aceitos nEle. Mas qualquer coisa menos do que isso deve ser deixada - isto é o rompimento do vestuário, enquanto o coração está inquebrantável - a lavagem do exterior do copo e do prato, enquanto a parte interna está cheia de imundícia. O Apóstolo, no entanto, faz mais do que simplesmente condenar outros fundamentos além do da fé, pois distingue aqui entre a fé, em si, e suas muitas imitações. Não é todo o tipo de fé que vai salvar a alma. A verdadeira fé, sem dúvida, salvará um homem ainda que ela seja como um grão de mostarda. Mas deve ser a verdadeira fé - a prata genuína e não um mero artigo banhado em prata. "O dinheiro responde a todas as coisas", diz o sábio, mas então deve ser a moeda corrente do reino, porque o dinheiro falso para nada servirá, exceto para condenar o homem que o tem em sua posse! A verdadeira fé nos salvará, mas falsificações irão aumentar a nossa conta e risco. A Segurança é de Deus, mas a presunção é do diabo. A prova da verdadeira fé é que ela trabalha - "a fé que atua", diz o texto. Para o efeito, deve, antes de tudo, ser 59 viva, pois está claro que uma fé morta não pode trabalhar. Deve haver coração em nossa fé e o sopro do Espírito de Deus nela, ou não será a fé viva de um filho vivo de Deus. Sendo viva, a verdadeira fé não dormirá, mas deve estar desperta, uma vez que o sono é um primo da morte. A fé torna-se ativa e vigilante, e em sua atividade encontra-se muito de sua prova. "Pelos seus frutos os conhecereis" é uma das próprias regras de Cristo para os homens – conhecemos a fé por aquilo que resulta dela - pelo que ela faz por nós e em nós e através de nós. Não vale a pena ter fé, se é infrutífera. Ela tem um nome de que vive mas está morta. Se ela não funciona não pode justificar a sua posse. Um deus morto pode ser servido por uma fé morta, mas apenas uma viva, despertada e atuante fé pode agradar ao sempre vivo e operante Jeová. "Não foi somente por palavras que custou ao Senhor comprar o perdão para o seu povo. Tampouco será uma alma restaurada somente por palavras do Salvador.” Uma outra distinção também é apresentada, ou seja, que a verdadeira fé "opera pelo amor." Há alguns que fazem muitas obras como o resultado de uma espécie de fé que, no entanto, não são justificados. Como por exemplo, Herodes, que acreditou em João e fez muitas coisas e ainda matou seu ministro. Sua fé funcionou, mas funcionou por 60 medo e não por amor e ele temia a linguagem do segundo Elias e os julgamentos que viriam sobre ele se ele rejeitasse as suas advertências, e assim sua fé trabalhou através do medo. O grande teste do funcionamento da fé salvadora é este: que "opera pelo amor." Se você é conduzido por sua fé em Jesus Cristo por amá-Lo e assim servi- Lo, então você tem a fé dos eleitos de Deus. Você é, então, sem dúvida, um homem salvo e pode seguir o seu caminho ese alegrar na liberdade com que Cristo o libertou. Será uma alegria para você servir ao Senhor, porque o amor é a mola mestra do seu serviço. Então, a FÉ sempre produz AMOR - "A fé que opera pelo amor." As duas graças divinas são inseparáveis. Como Maria e Marta, elas são irmãs e permanecem juntas em sua casa. A fé, como Maria, senta-se aos pés de Jesus e ouve as Suas palavras e então o amor vai atuar diligentemente sobre a casa e alegrar-se em honrar o Senhor Divino. A fé é a luz, enquanto o amor é o calor e em cada feixe da Graça do Sol da Justiça, você vai encontrar uma medida de cada um. A verdadeira fé em Deus não pode existir sem o amor a Ele, nem o amor sincero, sem a fé. Eles estão unidos como gêmeos siameses, e onde você encontra um pode ter a certeza de que o outro está presente. 61 Isso acontece por uma necessidade da própria natureza da fé. No momento em que um homem crê em Jesus Cristo, ele o adora em consequência disto. Porque confiar no Cordeiro que sangrou por nós e não amá-lo é uma coisa que não se pode imaginar! Assim, a fé recebe as promessas e o amor alimenta o fruto delas. Ela faz isso ainda mais docemente pela familiaridade com Deus que ela gera no coração, pois a fé é o hábito de ir a Deus com todas as suas cargas e voltar com a sua carga removida. A fé tem a prática diária de suplicar promessas junto a Deus, falar com Ele face a face como um homem fala com seu amigo e recebe favores da mão direita do Altíssimo! A fé começa com Deus pela manhã, como Abraão fez, e caminha com Ele no campo à noite, como Isaque. A fé abriga-se com Deus como a andorinha que construiu seu ninho sob o beiral do telhado do templo. A vida da fé está em Deus, assim como a vida de um peixe está no mar. O seio de Jesus Cristo é o travesseiro da fé e o coração de Deus é o pavilhão da fé. Porque a fé assim nos mantém perto de Deus, é que nos leva a amá-Lo. Oh, pobre alma cega, se você pudesse ver Jesus, você iria amá-Lo! Vocês que mais se opõem a Ele se tornariam Seus amigos! Não é possível para um crente estar na companhia de Cristo por uma hora que seja sem sentir seu coração aquecido. 62 Porque a fé, portanto, faz-nos familiarizados com o nosso Senhor Divino, deve inevitavelmente produzir amor na alma. Assim, o santo e o Salvador crescem unidos depois de anos de convivência –crescemos nEle em todas as coisas, pois é a Cabeça. Oh que nossa semelhança a Cristo seja tão clara e completa como nossa semelhança com os nossos queridos companheiros aqui embaixo! Você vê como o amor é assim nutrido na alma por uma semelhança cada vez maior de disposição. Onde quer que haja simpatia de gosto, mente, visão, e espírito, o amor torna-se forte e bem estabelecido. E, assim, a fé, por gerar em nós semelhança a Cristo, leva-nos a amar a Cristo para se tornar um grande poder na alma! O amor deve ser livre, ele não pode ser comprado ou forçado. Se você crê, você vai adorar. Se você não crê, nunca vai amar até que você creia. Vá à raiz da questão. Não tente fazer crescer o jacinto de amor sem o bulbo da fé. Deixe-me agora fazer uma observação – o AMOR é totalmente dependente da FÉ. "A fé que atua pelo amor." O amor, então, não funciona por si só, exceto na força da fé. O amor é tão inteiramente dependente da fé que, como eu já disse, não pode existir sem ela! Pode haver uma admiração do caráter de Cristo, mas a emoção que a Escritura trata como "amor", só vem ao coração quando nós 63 confiamos em Jesus. "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro." O amor a Jesus não pode existir sem a fé nEle. Certamente o amor não pode desabrochar exceto quando a fé floresce. Se você duvidar de seu Senhor, você vai pensar em coisas duras acerca dEle e deixará de amá-lo como deveria. Se você cair em apuros e você duvidar de Sua sabedoria, ou da Sua bondade, a próxima coisa que vai ocorrer é que seu coração vai ficar frio em relação a Ele - você vai começar a pensar que seu Senhor é tirânico e cruel e lutará com Ele. As duas Graças devem diminuir ou aumentar juntas! Se você alcançar uma confiança simples e infantil que se apoia em Cristo como um bebê no colo de sua mãe repousa inteiramente no seu cuidado, então o seu amor será perfeito! Como Jesus nos amou, assim também devemos amar uns aos outros. E como Ele amou o Pai e por amor do Pai, para que Ele pudesse glorificá-Lo, cumprindo a Lei e fazendo-se um sacrifício por nós, assim também, devemos estar dispostos a dar nossa vida pelos irmãos e para a glória e honra do Pai. O amor é a essência de toda boa obra. Se há alguma virtude, zelo, consagração ou santa ousadia, sua essência é o amor. Todas as grandes obras que os heróis da Cruz apresentaram são compostas do metal sólido de amor a Jesus Cristo. Seja ela grande ou pequena, aquele que tem servido a Deus 64 corretamente sempre trouxe para dentro do santuário uma oferenda de amor puro comparável ao ouro de Ofir. A falta de confiança mútua na vida conjugal é a morte do amor, mas o amor expulsa qualquer suspeita relativa ao amado querido e fiel. Mesmo quando se supõe que há um erro, o amor o coloca para baixo e conclui que pode haver uma sensação de que ele está certo, pois o amor tudo crê, tudo suporta e não vai tolerar a desconfiança que sabe ser um verme no âmago do coração. Então você vê, que onde há um grande amor de Cristo, ele proíbe a dúvida e, assim, mata as raposas de desconfiança que estragam as vinhas da fé. O amor a Jesus sente que seria melhor desconfiar de todos os homens e anjos do que duvidar do querido Redentor, que derramou Seu sangue para provar o seu amor! Além disso, o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo tem tormento e o perfeito amor lança fora o medo - a fé tem espaço para mostrar a sua força. O amor não aprendeu a ter medo, nem vai permitir que o trabalho da fé diminua e se torne o trabalho de um escravo. O amor dá coragem e é ainda muito reverente – reverência familiar. Calafrios não são para os filhos de Deus – eles são chamados à íntima comunhão com o Pai celestial e o lugar de encontro deles não é no Sinai, mas no Calvário! 65 Oh Amado, esta é a alegria do amor, que nos traz a tão estreita comunhão pessoal com Deus em Jesus Cristo! Estamos familiarizados com Ele e confiamos nEle implicitamente. Oh, queridos amigos, confiem no seu Deus em tudo! Confiem nEle nas pequenas coisas! Confiem nEle em grandes coisas! Confiem nEle em suas alegrias para mantê-los sóbrios! Confiem nEle em suas tristezas para mantê-los livres de desespero! 66 16 - Como Vem a Fé Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra. "E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra de testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito. Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam- lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias. Muitos outros creram nele por causa da sua palavra, e diziam à mulher: já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo. (João 4.39-42) Onde existe fé, é dom de Deus. É uma planta que nunca brota espontaneamente do solo da natureza humana corrompida. Quer se trate de pouca fé ou uma grande fé, é igualmente de origem divina, e onde quer que seja encontrada: se no filho de pais piedosos que foi criado com o maior cuidado, ou em alguém que viveu toda a primeira parte de sua vida no mais vil pecado é igualmente o fruto do Espírito Santo, e o efeito da Graça de Deus. Lançando os olhos sobre todo o mapa da Palestina, poderia ser dito que Samaria era provavelmente um lugar tão improvável como qualquer outro em todo o país no qual pudéssemos esperar encontrar 67 seguidores do Senhor Jesus, pois, os samaritanos, por preconceito, não acreditariam em um judeu. Eles nem sequer ouviam um judeu, pois,enquanto os judeus não se comunicavam com os samaritanos, os samaritanos retribuíam o sentimento e não tinham relações com eles. No entanto, foi entre os samaritanos, em que o judaísmo se deteriorou, que Cristo encontrou um grande número de seus seguidores! O Senhor sabe que o solo onde a semente do Reino é semeada pode estar na melhor condição para a fecundidade, mesmo quando imaginamos que não pode nos dar qualquer retorno para o nosso trabalho. Se a fé é a obra de Deus, uma coisa sobrenatural, como certamente é, o que você tem e eu de julgarmos de acordo com as aparências naturais? A fé genuína pode, por timidez, ficar escondida por um tempo, ou, possivelmente, o amor carnal pode levar alguns a esconderem a sua fé em Cristo. Mas é da própria natureza da fé que ela deve fazer a sua aparição conhecida e sentida. Nosso Senhor sempre colocou, lado a lado com a fé que salva, o dever de confissão de fé. Suas palavras são: "Aquele que crer e for batizado será salvo." E Paulo, guiado pelo Espírito Santo, escreveu: "Se você confessar com a sua boca o Senhor Jesus, e em 68 teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação." Então, esses samaritanos, quando vieram a crer em Jesus, confessaram sua fé e eles fizeram isso, dizendo: "Agora nós acreditamos." Evidentemente, essas pessoas não receberam o testemunho da mulher, embora outros o fizeram. Eles a ouviram e foram suficientemente movidos por ela para sair e ver o Mestre de quem ela falava, mas eles não foram levados à fé por ela. Talvez eles até lutaram com ela e levantaram questões, mas, enfim, para sua grande alegria, disseram-lhe: "Agora nós acreditamos." Temos deixado a escuridão, a dúvida e a dificuldade. E “agora nós acreditamos." Creio que havia lágrimas nos olhos daquela pobre mulher quando ela disse aos homens: "Você se lembra que tipo de pessoa eu costumava ser, e você vê a mudança que foi trabalhada em mim. Você sabe que eu sempre falava diretamente o que eu acreditava, e este homem abençoado, que leu a minha própria alma, é o Cristo! Sei que Ele é. Então, por que você não acredita no que eu digo sobre ele?" 69 Neste anúncio de fé, eu quero que você observe, também, que foi muito rápido. O Senhor Jesus Cristo esteve naquele lugar, somente durante dois dias, de modo que aqueles que disseram: "Agora, nós acreditamos", devem ter testemunhado muito rapidamente depois que eles acreditaram. De acordo com o claro ensino da Escritura: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus." Mas a fé não é sempre criada no coração do homem pelo mesmo tipo de instrumentalidade. Ela é sempre o fruto do Espírito de Deus, mas opera de maneiras diferentes. Alguns desses samaritanos creram por causa da palavra da mulher e, suponho que na Igreja cristã, um número muito grande deriva sua fé através do poder do Espírito de Deus, a partir do testemunho pessoal de outras pessoas que foram convertidas. Agora olhem, queridos amigos, todos vocês, para esta mulher, e sejam encorajados a usar o seu testemunho pessoal de Cristo! Ela era a mãe espiritual de muitos crentes Samaritanos, no entanto, ela fora uma mulher de mau caráter. Um mau cheiro estivera sobre seu nome, todo mundo em Sicar deve ter olhado para ela como uma pessoa perigosa, de amor inconstante e de falta de maneiras e ainda, depois de ter encontrado Cristo, ela não hesita em dizer a seus vizinhos sobre Ele e Deus não se recusou a abençoar o seu testemunho! 70 Aqui estava uma pobre mulher caída e ainda, depois de sua conversão, ela se tornou um missionário de Cristo para a cidade de Sicar! Se você perguntar: "Qual será a minha mensagem?" Deixe sua mensagem ser o seu próprio testemunho pessoal, o que você tem, você mesmo, viu, ouviu, provou, manuseou e sentiu da boa Palavra de Deus. Eu não suponho que essa mulher arrumou um sermão com três divisões, ou que ela tinha uma introdução e uma conclusão e tudo o mais, mas ela só foi aos homens da cidade e disse: "Vinde ver um homem que me disse tudo que eu tenho feito –não é este o Cristo?" Esse era o seu pequeno sermão e quantas vezes ela repetiu uma e outra vez, ela falou e deu à luz o seu testemunho pessoal, e por isso ela trouxe os homens de Sicar a Cristo. Você vai ter ouvintes atentos quando você falar sobre suas próprias relações com Cristo, as maravilhas que Cristo tem trabalhado em você e para você, e que você pode testemunhar, porque são a sua própria experiência! Entretanto, muitos não creram por este meio, senão por ouvirem a Palavra de Deus ungida pelo Espírito, como ocorreu com muitos em Samaria, ao ouvirem o Evangelho de dos próprios lábios de nosso Senhor Jesus Cristo, naqueles dois dias em que havia permanecido com eles. 71 17 - A Corda e a Caçamba “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento”. I Pe 1.15 É a fé que misturada com a boa nova na palavra do evangelho, que produz os efeitos esperados por Deus na transformação do nosso viver. Portanto, estas duas coisas devem caminhar juntas, a saber: a fé e a Palavra, porque se ajudam mutuamente, porque não há fé sem ouvir a pregação da Palavra, e não há verdadeira pregação da Palavra que não seja acompanhada pela fé. E esta mistura de fé com Palavra mistura-se também com a alma do crente transformando-se em graça e poder que santificam a sua vida. Portanto, quando alguém não é santificado na Igreja, não é porque haja falta de poder inerente na própria Palavra, mas porque não há fé naquele que a ouve. Ou então não há nenhuma Palavra verdadeira sendo pregada com vida pela unção do Espírito. Esta fé não se resume apenas ao ato de crer naquilo que está escrito, nas promessas do Senhor na Bíblia, mas incorporá-las à nossa vida, por uma santa 72 disposição em se consagrar inteiramente a Deus para honrá-lo e fazer a Sua vontade. É requerida, uma união da mente com a verdade da Palavra, para que haja uma verdadeira santidade. Onde isto não estiver presente as pessoas continuarão vivendo de acordo com as próprias imaginações e vontades, sem qualquer conhecimento verdadeiro experiencial de Deus em suas vidas. A mente natural não pode receber os dons de Deus porque se manifestam somente numa mente renovada pelo Espírito, que pode discernir as coisas espirituais. Daí a necessidade da existência de uma fé viva, operante, ativa, para que se possa conhecer e praticar a vontade de Deus. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam. Estas coisas que são esperadas, são também aquelas que se esperam de nós conforme a verdade revelada. Estão incluídas, também e principalmente, a plena certeza quanto às promessas contidas nas Escrituras sobre o poder do Espírito que nos transformará e operará toda a vontade de Deus para a Sua Igreja através da nossa instrumentalidade pelo canal da fé. 73 Não se pode portanto, viver aquilo que Deus espera de nós, sem uma fé autêntica e que seja aumentada cada vez mais em graus. Porque uma fé pequena não poderá nos conduzir a toda a plenitude de Deus, conforme é a Sua expectativa para todos os Seus filhos. Devemos ter em consideração que uma fé que aumente em graus destruirá o pecado na mesma proporção do tamanho progressivo que esta fé alcance, e daí entendermos que à medida que avance o tamanho da fé, maior é a intensidade da comunhão com Deus e da santificação da vida. À medida que ocorre o despojamento progressivo do velho homem, pelo aumento da fé, e pela renovação da mente pela Palavra da verdade, aumenta também a manifestação da nova vida recebida, a vida da nova criatura em Cristo, e isto se traduz em aumento da plenitude de Deus no nosso próprio ser. Permanecer vivendo na carne, segundo o homem natural, que está em inimizade contra Deus, impossibilita portanto, o aumento da fé e da santificação.
Compartilhar