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0 FSP – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Campus Sertãozinho Engenharia Mecânica Leonardo Molero Clemente Francisco Walter Schmidt Neto APROVEITAMENTO DA ENERGIA TÉRMICA DA VINHAÇA Sertãozinho – SP 2019 1 Leonardo Molero Clemente Francisco Walter Schmidt Neto APROVEITAMENTO DA ENERGIA TÉRMICA DA VINHAÇA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Engenharia Mecânica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – campus Sertãozinho como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Mecânica. Orientador: Prof. Dr. Flávio Tambellini Sertãozinho - SP 2019 2 Ficha catalográfica Ficha catalográfica elaborada com os dados fornecidos pelos autores C626a Clemente, Leonardo Molero Aproveitamento da energia térmica da vinhaça. / Leonardo Molero Clemente, Francisco Walter Schmidt Neto. – Sertãozinho, SP: [s.n.], 2019. 65 f. : il. ; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Mecânica). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Câmpus Sertãozinho. Orientador: Prof. Dr. Flávio Tambellini. Inclui bibliografia. 1. Vinhaça (Indústria). 2. Aproveitamento energético. 3. Caldeira (Indústria). 4. Radiador (Engenharia). I. Schmidt Neto, Francisco Walter. II. Tambellini, Flávio, orient. III. Título. CDD 620.1 Catalogação na publicação: Gisele Machado da Silva – CRB 8/8554 3 LEONARDO MOLERO CLEMENTE FRANCISCO WALTER SCHMIDT NETO APROVEITAMENTO DA ENERGIA TÉRMICA DA VINHAÇA Trabalho de Conclusão de Curso apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Mecânica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) – Campus Sertãozinho. Data da aprovação: 13/11/ 2019. Sertãozinho – SP 2019 4 Dedicamos esse trabalho aos nossos pais e familiares, pela grande atenção deles por nós. A nossas esposas e filhos, pelo total carinho e compreensão em todos os momentos em que não estivemos presentes. 5 AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus pelo dom da vida, por sua presença constante e por nos abençoar em todos os momentos. Em especial aos nossos pais, as pessoas mais importantes em nossas vidas, que acreditaram e deram forças para esta conquista, enfrentando junto todas as dificuldades ao longo desses anos, renunciando aos seus sonhos em favor dos nossos. Aos amigos que conquistamos, e às pessoas que em alguns instantes nos apoiaram nessa caminhada. Aos familiares que sempre deram força para continuar. Ao nosso orientador Professor Doutor Flávio Tambellini, pela atenção e orientação dedicada a este trabalho. Um exemplo de profissionalismo. Aos professores do curso de Engenharia Mecânica que contribuíram em nossa formação, sempre incentivando e sempre prontos a ajudar. Ao engenheiro mecânico Renan Saccomani, profissional de uma indústria de caldeiras situada na cidade de Sertãozinho – SP que nos auxiliou na realização e conclusão desse trabalho e a todos que, de alguma maneira, estiveram conosco e contribuíram para a realização deste trabalho de pesquisa. 6 RESUMO O objetivo desse trabalho é demonstrar o potencial energético ainda não explorado advindo da vinhaça utilizando como base de estudo a vinhaça, resíduo obtido ao término da produção de etanol na qual ela sai a temperatura de aproximadamente 100ºC. É proposto o aproveitamento dessa energia térmica no aquecimento do sistema de ar primário de caldeira, feito por radiadores, melhorando o desempenho e economizando bagaço. A caracterização da vinhaça foi feita por dados obtidos de uma usina de etanol e açúcar no interior do estado de São Paulo. A análise de aproveitamento de energia da vinhaça foi feita através de simulações obtidas de empresa fabricante de caldeiras e equipamentos industriais. Dessa forma, demonstrando sua viabilidade energética. Palavras-chave: Vinhaça. Aproveitamento energético. Caldeira. Radiador. 7 ABSTRACT The objective of this work is to demonstrate the untapped energy potential coming from vinasse using as a basis of study of the vinasse, residue obtained at the end of ethanol production in which it leaves the temperature of approximately 100ºC. It is proposed to harness this thermal energy in heating the boiler primary air system, made by radiators, improving perfomance and saving bagasse. The characterization of vinasse was made by data obtained from an ethanol and sugar plant in the interior of the state of São Paulo. The analysis of energy use of vinasse was made through simulations obtained from a manufacturer of boilers and industrial equipment. Thus, demonstrating its energy viability. Keywords: vinasse. energy utilization. boiler, radiator. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Torre de resfriamento da vinhaça. 20 Figura 2 Tanque em concreto para o recebimento e distribuição da vinhaça. 21 Figura 3 Diagrama simplificado de caldeiras. 22 Figura 4 Desenho representativo dos componentes de uma caldeira a vapor. 25 Figura 5 Esquema do sistema de cogeração de contrapressão. 31 Figura 6 Esquema do sistema de cogeração de extração-condensação. 32 Figura 7 Classificação dos trocadores de calor. 33 Figura 8 Trocador de Calor Casco e Tubo. 36 Figura 9 Representação trocador casco e tubos com um passe no casco e um passe nos tubos. 36 Figura 10 Trocador de calor tubo duplo. 37 Figura 11 Trocador de calor serpentinas. 38 Figura 12 Trocador de calor placas. 39 Figura 13 Radiador aletado. 40 Figura 14 Fluxograma do Radiador x Caldeira. 41 Figura 15 Cálculo do radiador pelo software HTRI. 42 Figura 16 Balanço Térmico Caldeira sem Radiador. 43 Figura 17 Balanço Térmico Caldeira com Radiador. 44 Figura 18 Cálculo combustão biomassa sem Radiador. 45 Figura 19 Cálculo combustão biomassa com Radiador. 50 Figura 20 Caldeira Aquatubular 170t/h. 58 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Produção de vinhaça em litros por litro de álcool produzido. 16 Tabela 2 Composição da vinhaça em kg/m³. 18 Tabela 3 Principais componentes das caldeiras a vapor. 25 Tabela 4 Principais resultados obtidos do memorial de cálculo. 59 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS m³ Metro Cúbico % Porcentagem ºC Graus Celsius ºGL Grau Gay Lussac atm Pressão atmosférica Cetesb Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental CO Monóxido de Carbono CO2 Dióxido de Carbono H2O Água Kg/h Quilograma por hora Kg/cm² Quilograma por centímetro ao quadrado kJ/kgºC Quilojoule por quilograma graus Celsius kPa Quilopascal l Litros mg Miligramas mg/l Miligramas por Litros MPa Megapascal NR Norma Regulamentadora PCI Poder Calorifico Inferior PCS Poder Calorifico Superior ph Potencial Hidrogeniônico 11 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURA E SÍMBOLOS SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................13 2. OBJETIVO..........................................................................................................15 2.1. Objetivo geral.........................................................................................152.2. Objetivo específico................................................................................15 3. JUSTIFICATIVA...............................................................................................16 4. A VINHAÇA......................................................................................................16 4.1. Produção / Composição........................................................................17 4.2. Meio ambiente........................................................................................18 4.3. Aplicação................................................................................................19 4.4. Volume....................................................................................................19 4.5. Potencial energético..............................................................................20 5. A CALDEIRA....................................................................................................22 5.1. Caracterização.......................................................................................23 5.2. Turbinas..................................................................................................29 12 6. TROCADORES DE CALOR.............................................................................33 7. O RADIADOR...................................................................................................39 7.1. Dimensionamento do radiador............................................................41 7.2. Comparativo radiadores caldeiras......................................................43 7.3. Comparativo combustão biomassa....................................................45 7.3.1. Sem Radiador.........................................................................................45 7.3.2. Com Radiador.........................................................................................50 8. METODOLOGIA..............................................................................................55 9. DADOS OBTIDOS............................................................................................57 10. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................59 11. CONCLUSÃO..................................................................................................60 12. REFERÊNCIAS................................................................................................61 13 1. INTRODUÇÃO De acordo com o Ministério de Minas e Energia / Empresa de Pesquisa Energética (MME/EPE, 2007, p.108-114): O cultivo da cana no Brasil acarreta um elevado volume de resíduos que, em sua maioria, não são aproveitados completamente em termos energéticos. O bagaço é utilizado em grande parte das usinas para produção de energia elétrica na própria instalação, entretanto a maioria da biomassa resultante é subutilizada, como a vinhaça que muitas vezes é dispersa no solo a fim de irrigar e fertilizar, mas devido a composição química acaba por causar prejuízos ao ambiente. O beneficiamento energético da biomassa requer investimento em rotas tecnológicas e em equipamentos para que haja recuperação adequada. Conforme Borsol (2016), calcula- se que 28,65 milhões de m³ de etanol tenham gerado 286 milhões de m³ de vinhaça na safra 2014/15 no Brasil. Elia Neto (2016) diz que a vinhaça é um resíduo reaproveitável como fertilizante, com temperatura alta (80-100ºC), elevada quantidade de matéria orgânica, há concentrações de sólidos (aprox. 2,5% em média), teores de nitrogênio e micronutrientes interessantes para o solo e rica em potássio e para fertirrigação da lavoura canavieira, normalmente há na saída da indústria, um tratamento prévio da vinhaça onde utiliza-se de torres de resfriamento para a diminuição de sua temperatura. Ainda segundo Elia Neto (2016), a vinhaça é reutilizada também para aquecer vinho de 65ºC para 95ºC (segundo estágio do trocador de calor “k” na destilaria) e a redução da temperatura da vinhaça para abaixo de 60ºC, ideal 45ºC, possibilita o uso de materiais de menor custo como tanques e tubulações de fibra e o uso de geomembranas sintéticas de impermeabilização que não suportam a alta 14 temperatura da vinhaça que sai da destilaria (cerca de 100ºC, caso não haja reaproveitamento regenerativo de seu calor). Segundo Dantas (2010) a busca por alternativas de geração de energia elétrica que não sejam através de combustíveis fósseis tem se desenvolvido bastante nos últimos anos. Muitas pesquisas em diversas partes do mundo vêm sendo feitas nesse sentido, com o objetivo de aumentar e diversificar a produção de energia, garantindo a sustentabilidade e o mínimo de impacto no meio ambiente. Nessa perspectiva, diante da enorme quantidade de energia térmica disponível na vinhaça, percebe-se a possibilidade / necessidade do aproveitamento dessa energia. Portanto, indaga-se: é possível aproveitar a energia térmica da vinhaça? Então, o objetivo geral da presente pesquisa é avaliar / propor o aproveitamento da energia térmica da vinhaça em uma usina sucroalcooleira. Para tanto, foram delineados os seguintes objetivos específicos: descrever a vinhaça e sua disponibilidade em termos de energia térmica, descrever o funcionamento de uma caldeira para produção de energia elétrica e descrever uma possibilidade de aproveitamento da energia térmica da vinhaça em uma caldeira obtendo a melhoria de seu rendimento, ou seja, obtendo economia. Parte-se da hipótese de que o aproveitamento da energia térmica da vinhaça é viável pois economiza-se bagaço de cana que é usado na caldeira, consequentemente aumentando a capacidade de produção de energia elétrica. Assim, para viabilizar o teste da hipótese, realiza-se uma pesquisa de finalidade básica estratégica com objetivo descritivo exploratório sob o método hipotético dedutivo, com abordagem qualitativa e realizada com registros bibliográficos e documentais. No capítulo vinhaça, faz-se uma descrição da vinhaça, como e em que condições ela é obtida e seu uso atualmente. Na sequência, é descrito o funcionamento de uma caldeira alimentada por bagaço de cana, trocadores de calor e o radiador. Em metodologia, descreve-se uma possibilidade de aproveitamento da energia térmica da vinhaça na caldeira através de um trocador de calor do tipo radiador. Por software, foram produzidos por empresa fabricante de caldeiras 15 memoriais de cálculo de combustão de biomassa e memoriais de cálculo do radiador (balanço térmico) com e sem o aproveitamento da energia térmica da vinhaça, comprovando o aumentando da relação Vapor / Combustível, trazendo economia de combustível (bagaço). 2. OBJETIVO 2.1. Objetivo geral O presente trabalho tem por objetivo avaliar o aproveitamento da energia térmica da vinhaça pela caldeira de vapor, conseguido por radiador aquecendo o ar primário, embasado em cálculos computacionais, onde os estudos termodinâmicos e energéticos partem da Primeira Lei da Termodinâmica. No estudo foram abordados parâmetros tais como: composição, massa, umidade, densidades, condições ambientais, consumos, gerações e principalmente a relação vapor / combustível. 2.2. Objetivos Específicos ➢ Caracterizar a vinhaça; ➢ Volume produzido no Brasil; ➢ Potencial energético (calor); ➢ Mostrar uso atual; ➢ Caracterizar caldeira; ➢ Bagaço; ➢ Vapor; ➢ Apresentar possibilidade de aproveitamento da energia térmica da vinhaça. 16 3. JUSTIFICATIVA O estudo do aproveitamento da energia térmica da vinhaça justifica-se pelo aumento da demanda de energia elétrica. Para tanto, é necessário entender o que é vinhaça, como é produzida, onde é aproveitada. Entender caldeira e a cogeração de energia elétrica.4. A VINHAÇA Para Silva et al (2007) a vinhaça é um resíduo gerado após a fermentação do melaço e do caldo da cana-de-açúcar, obtido nos processos que antecedem a produção do álcool e é considerado um líquido poluente devido aos altos teores de potássio e riqueza em matéria orgânica. De forma geral, vinhaça é um efluente da fabricação de álcool. A legislação vigente proíbe seu descarte diretamente no ambiente, devendo seu destino estar de acordo com a mesma. De acordo com Lopes (2011), a produção de álcool etílico por meio da destilação de um mosto fermentado gera uma série de efluentes e entre os mais importantes é a vinhaça. Esse efluente deve ter um destino ambientalmente correto, pelo grande volume, além da elevada carga poluidora. Seu inconveniente é a temperatura, próxima de 100°C, e que, portanto, deve ser resfriado antes de ser utilizado em algum local do processo. Tabela 1: Produção de vinhaça em litros por litro de álcool produzido. Teor alcoólico do vinho (°GL) Aquecimento da Coluna A Sistema de borbotagem Aquecimento da Coluna A Sistema indireto Trocador K1 6 16,7 14,7 7 14,3 12,3 8 12,5 10,5 9 11,1 9,1 10 10,0 8,0 Fonte: Coleção UAB-UFSCar, 2011 17 Pode-se ver pela Tabela 1 que a cada litro de álcool produzido, concomitantemente são produzidos de 8 a 16,7 litros de vinhaça. Isso mostra que a produção da efluente vinhaça é elevada em relação ao produto principal, o álcool. De acordo com Lopes (2011), o efluente da operação de destilação retirado pela base da coluna de esgotamento do vinho (A) é designado vinhaça que consiste no vinho que foi retirado do álcool. Denomina- se borbotagem quando no aquecimento da coluna de esgotamento do vinho (A), o vapor condensado utilizado no aquecimento dessa coluna é incorporado à vinhaça. O aquecimento da coluna de esgotamento (A) feito por sistema de aquecimento indireto por meio de um trocador de calor, aquece a coluna sem incorporar o condensado à vinhaça, diminuindo assim o seu volume. 4.1. Produção / Composição De acordo com Elia Neto (2016), o nome vinhaça é empregado indistintamente para o resíduo da destilação de uma solução alcoólica chamada vinho, obtida do processo de fermentação alcoólica. O vinho é o produto ou subproduto da fermentação alcoólica a partir de uma solução açucarada chamada mosto. O mosto pode ser obtido do suco de vários produtos agrícolas como uva, frutas, beterraba, cana-de-açúcar ou do próprio açúcar, mel e melaço da indústria canavieira. Assim como da palavra vinho derivou-se vinhaça, da flegma, uma solução hidro alcoólica de aproximadamente 40 a 50 ºGL a ser retificada, derivou- se a palavra flegmaça, que é o resíduo da retificação. A vinhaça, e a mistura vinhaça mais flegmaça, é chamada indiscriminadamente de vinhaça, vinhoto, restilo, garapão e outras denominações regionais. Segundo Elia Neto (2016), a vinhaça se apresenta como uma solução com porcentagem de 2% a 8% de sólidos dissolvidos, dos quais 70% são formados por matéria orgânica. Do material mineral que compõe a vinhaça, 30% é formado pelo elemento potássio. A alta porcentagem de matéria orgânica nos sólidos dissolvidos 18 é a responsável pela elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) desse efluente, que torna seu descarte em corpos d’água proibido. A Tabela 2 apresenta a composição da vinhaça típica originária de uma destilaria autônoma (mosto de caldo de cana) e de uma usina de açúcar (mosto de melaço). Tabela 2: Composição da vinhaça em kg/m³. Componente Mosto (Melaço) Mosto (Caldo) Carbono 19,2 5,9 Nitrogênio 1,2 0,3 Fósforo 0,2 0,2 Potássio 7,8 1,2 Cálcio 3,5 0,7 Magnésio 1 0,2 Sulfato 6,4 0,6 Matéria orgânica 63,4 19,5 Relação C/N 16 19,7 Fonte: Coleção UAB-UFSCar, 2011 Segundo Assis et al. (2006), os teores de carbono e de nitrogênio totais são reduzidos pelo cultivo do solo quando comparado com a mata nativa. A relação C/N é um indicador importante da decomposição da matéria orgânica do solo. 4.2. Meio ambiente Lopes (2011), diz que a vinhaça possui características altamente poluidoras em razão de sua elevada DBO (Demanda Biológica de Oxigênio), que apresenta valores ao redor de 20.000 mg/l a 20°C. Se compararmos, por exemplo, ao esgoto sanitário doméstico, ela é cem vezes maior, pois o valor da DBO do esgoto está em torno de 200 mg/l. A legislação e os órgãos ambientais vetam o seu descarte em corpos d’água superficiais ou subterrâneos, e, assim, deve-se prever outro destino para ela. 19 As unidades brasileiras produtoras de álcool optaram pelo descarte da vinhaça nas lavouras de cana-de-açúcar, pois esse composto é rico em matéria orgânica e potássio, sendo, portanto, fonte de nutrientes e agente de fertilização da plantação. 4.3. Aplicação Encontra-se na literatura uma vasta gama de aplicações para a vinhaça, dentre elas: na alimentação animal após a vinhaça ser concentrada, no uso de gás metano gerado por ela para utilização como geração de energia e calor pela sua queima. No entanto, no Brasil a vinhaça tem sido utilizada em sua totalidade como agente de fertilização e irrigação nas lavouras de cana. Lopes (2011), diz que para a fertirrigação do solo a vinhaça é pobre em nitrogênio, cálcio, fósforo e magnésio, necessitando de uma complementação desses componentes. A aplicação da vinhaça in natura na lavoura deve ser realizada com o conhecimento das dosagens adequadas e com um controle da quantidade aplicada, principalmente no que diz respeito ao potássio, cuja concentração elevada poderá criar problemas nutricionais na cana. No Estado de São Paulo, de acordo com Lopes (2011), a aplicação da vinhaça no solo é regulamentada pela Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), que solicita o seu monitoramento conforme a Norma Técnica de janeiro de 2005, nos itens: pH, resíduo não filtrável total, dureza, condutividade elétrica, nitrogênio nitrato, nitrogênio nitrito, nitrogênio amoniacal, nitrogênio Kjeldhal total, cálcio, potássio, magnésio, sulfato, fósforo total, DBO e Demanda Química de Oxigênio (DQO). 4.4. Volume produzido Com a criação do Proálcool, diz Lopes (2011) que a produção brasileira desse combustível cresceu de 1 bilhão de litros, em 1975, para uma média de 20 bilhões de litros, em 2009. Do total de álcool produzido no Brasil, cerca de 80% é 20 destinado ao uso como combustível, 10% é exportado e 10% é utilizado internamente para aplicações em outras áreas, como a indústria química, de bebidas, perfumaria entre outros. 4.5. Potencial energético A vinhaça, quando sai do ciclo produtivo do álcool, apresenta uma temperatura em torno de 90°C, impossibilitando seu uso como agente de fertirrigação dos canaviais. Para proceder o seu resfriamento utiliza-se um equipamento em que a vinhaça é aspergida na parte superior, descendo em contracorrente com o ar impulsionado por um ventilador. Dessa forma, parte da água presente na vinhaça, de 5% a 8%, evapora, provocando um pequeno aumento da concentração. O calor latente necessário para evaporar a água provoca uma redução da temperatura da vinhaça. Um exemplo de um equipamento desse tipo, que possui o formato de torre, pode ser visto na Figura 1. Figura 1 - Torre de resfriamento da vinhaça. Fonte: Tecniplas, disponível em: https://www.tecniplas.com.br/produtos/torres-de-resfriamento-de- vinhaca-9, acessado em agosto/2019. https://www.tecniplas.com.br/produtos/torres-de-resfriamento-de-vinhaca-9 https://www.tecniplas.com.br/produtos/torres-de-resfriamento-de-vinhaca-9 21 Para Elia Neto (2016), os sistemas utilizados para fertirrigação da lavoura canavieira com vinhaça podem ser separados emdois blocos, o transporte da vinhaça até o campo e a sua distribuição nas lavouras. Além disto, há normalmente um tratamento prévio da vinhaça na saída da indústria visando diminuir a sua temperatura, utilizando-se torres de resfriamento de forma cilíndrica, sem enchimento interno e com insuflamento de ar em contracorrente para que a vinhaça não entre em contato com o ventilador conforme exemplo mostrado na Figura 2. Figura 2 - Tanque em concreto para o recebimento e distribuição da vinhaça. Fonte: Elia Neto, 2016, disponível em: https://docplayer.com.br/51075325-Estado-da-arte-da- vinhaca.html, acesso em agosto/2019. Elia Neto (2016) diz que a redução da temperatura da vinhaça para abaixo de 60°C, ideal 45°C, possibilita o uso de materiais com menor custo como tanques e tubulações de fibra e o uso de geomembranas sintéticas de impermeabilização (PEAD, Asfáltica, PVC e geotêxtil), que não suportam a alta temperatura da vinhaça que sai da destilaria (cerca de 100°C, caso não haja reaproveitamento regenerativo do seu calor). Vê-se que uma grande quantidade de energia térmica é desperdiçada. Isso é provado pelo simples uso de torres de resfriamento, onde grande quantidade de calor é transferido para o meio ambiente, apenas com a finalidade de esfriar o líquido vinhaça para que possa ser usado na lavoura, sem nenhuma forma de https://docplayer.com.br/51075325-Estado-da-arte-da-vinhaca.html https://docplayer.com.br/51075325-Estado-da-arte-da-vinhaca.html 22 aproveitamento dessa energia. Dessa forma revela- se um grande potencial energético. 5. A CALDEIRA De acordo com Vergnhanini Filho (2018), as caldeiras são equipamentos comumente encontrados na indústria para a geração de vapor, seja para aquecimento, seja para a geração de energia elétrica. No caso mais comum, a caldeira é um trocador de calor onde há a transferência de calor dos gases quentes - produzidos pela queima de um combustível (no caso, o bagaço) - para a água. A água, ao receber calor, aquece-se e vaporiza-se, daí o nome “caldeira de vapor”, “gerador de vapor” ou, simplesmente, “caldeira” Figura 3. Figura 3 - Diagrama simplificado de caldeiras. Fonte: Vergnhanini Filho (2018). 23 Caldeira ou gerador de vapor é o equipamento destinado ao processamento da água, isto é, seu aquecimento, vaporização e superaquecimento, usando como fonte primária de energia, o calor dos gases de combustão gerados na queima de um combustível. Nas caldeiras usadas apenas para aquecimento, não há o superaquecimento do vapor, gerando-se apenas vapor saturado. O superaquecimento é imprescindível quando o vapor for utilizado para a geração de energia elétrica. 5.1. Caracterização De acordo com Martinelli Jr. (1998), componente essencial de um sistema de cogeração, os geradores de vapor são aparelhos térmicos que produzem vapor a partir do aquecimento de um fluido vaporizante. Com isso, temos alguns tipos de geradores de vapor: as caldeiras de vapor, as caldeiras de recuperação, as caldeiras de água quente e os geradores reatores nucleares. As caldeiras de vapor são os geradores de vapor mais simples e utilizados, queimando algum tipo de combustível como fonte geradora de calor. Segundo a NR13, que estabelece as normas para caldeiras e vasos de pressão, as caldeiras a vapor são equipamentos destinados a produzir e acumular vapor a uma pressão acima da pressão atmosférica utilizando qualquer fonte de energia. Considera-se como caldeiras todos os equipamentos que simultaneamente geram e acumulam vapor de água ou outro fluido. Para Martinelli Jr. (1998), existem dois principais tipos de caldeiras, aquatubulares e flamotubulares. Nesta última, os produtos da combustão circulam por dentro dos tubos, vaporizando a água que fica por fora. Já nas caldeiras aquatubulares, os gases circulam por fora dos tubos e a vaporização da água acontece dentro deles. Segundo Leme (2005), a geração de vapor em sistemas de cogeração é realizada em caldeiras aquatubulares, utilizando bagaço de cana como combustível. 24 A queima do bagaço pode ser realizada em leito fixo ou em suspensão, sendo esta última a que apresenta maior eficiência e maior capacidade de operação. Para Dantas (2010), o vapor produzido nas caldeiras, em uma usina de cogeração, tem a função de ativar a geração de potência dos turbo- geradores, das turbo- moendas e de outros equipamentos da indústria que necessitam da energia gerada. De acordo com Dantas (2010), geralmente, as caldeiras que utilizam bagaço de cana como combustível para geração de vapor, possuem equipamentos estratégicos para recuperar calor. Dentre eles, existem trocadores de calor, como o preaquecedor de ar, que tem a função de elevar a temperatura do ar antes de entrar na caldeira, e o economizador, que promove o aquecimento da água de alimentação da caldeira. Além disso, Dantas (2010) expressa que a utilização de secadores de bagaço é outra opção bastante encontrada em plantas de cogeração, pois reduzem a umidade do bagaço e, consequentemente, melhoram o poder calorífico inferior (PCI) desse combustível. O PCI do bagaço está relacionado a vários fatores, porém a umidade é o parâmetro que influencia mais significativamente na variação do poder calorífico. O bagaço ideal para ser queimado na caldeira seria um bagaço seco, ou seja, sem umidade. No entanto, para se alcançar esse nível, é necessário um alto investimento no sistema de produção de bagaço, com a adição de vários secadores de bagaço, um aumento no número de ternos de moenda, entre outras modificações. Portanto, a diminuição da umidade do bagaço muitas vezes se torna inviável ou não recomendável em aplicações no setor sucroalcooleiro, pois não se torna compensável o investimento necessário para tais modificações. Segundo Martinelli Jr. (1998), os principais componentes de caldeiras a vapor são: aquecedor de ar, câmara de combustão, tambor de vapor, chaminé, cinzeiro, condutos de fumo, economizador, fornalha, grelhas, queimadores, preaquecedor de ar, retentor de fuligem e superaquecedor. A Figura 4 mostra um desenho representativo contendo os componentes de uma caldeira a vapor. Já os componentes revelados na Figura 4 por números são descriminados na Tabela 3. 25 Figura 4 – Desenho representativo dos componentes de uma caldeira a vapor. Fonte: Martinelli Jr. (1998), disponível em: https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/8141/1/TCC%20Janilson%20Andr%C3%A9 %20Final%202018_2.pdf, acesso em setembro/2019. Tabela 3: Principais componentes das caldeiras a vapor. Item Componente 1 Transportador de combustível 2 Alimentador de combustível 3 Grelhas 4 Ventiladores de ar 5 Caldeira a vapor 6 Fornalha 7 Tubos de água da caldeira 8 Cinzeiro 9 Superaquecedor 10 Economizador 11 Pré aquecedor de ar 12 Conduto de gás 13 Precipitador eletrostático 14 Exaustores 15 Chaminé 16 Desaerador 17 Tanque de água de alimentação 18 Bomba de água de alimentação 19 Sala de controle Fonte: Martinelli Jr. (1998) https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/8141/1/TCC%20Janilson%20Andr%C3%A9%20Final%202018_2.pdf https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/8141/1/TCC%20Janilson%20Andr%C3%A9%20Final%202018_2.pdf 26 Conforme Martinelli Jr. (1998), um destes componentes, a fornalha, é o principal equipamento para queima de combustível. Entre as suas funções estão incluídas a mistura ar / combustível, a atomização e vaporização de combustível e a conservação de uma queima contínua da mistura. Às vezes a fornalha é confundida com a câmara de combustão, sendo que, em algumas caldeiras, são independentes uma da outra. A câmara de combustão é um volume que tem a função de manter a temperatura da chama elevada com duração suficiente para que o combustível queime totalmenteantes que os produtos cheguem aos dutos de troca de calor. Abaixo da fornalha se localiza o cinzeiro, local de deposição das cinzas e restos de combustível que caem da fornalha. Ainda dentro da fornalha se encontram as grelhas, utilizadas para amparar o material, ou seja, o combustível que está sendo queimado na fornalha. Na parte superior da caldeira, acima da fornalha, temos o superaquecedor, que consiste de um ou mais feixes tubulares, destinados a aumentar a temperatura do vapor gerado na caldeira, evitando que esse vapor passe para o processo seguinte com qualquer gotícula de água que possa danificar outros equipamentos. O reaquecedor possui função equivalente ao superaquecedor, porém se torna necessário apenas quando se deseja elevar a temperatura do vapor em estágios intermediários de uma turbina. Após o superaquecedor, normalmente é instalado o economizador, que utiliza o calor residual dos gases para aquecer a água de alimentação. Além de melhorar o rendimento da caldeira, minimiza o choque térmico entre a água de alimentação e a água já existente no tambor. O tambor de vapor é um vaso de pressão fechado contendo água que será transformada em vapor. Já o preaquecedor de ar aproveita o calor residual dos gases de combustão pré-aquecendo o ar utilizado na queima de combustível. Após a combustão, os condutos de fumo levam os gases de combustão até a chaminé. Antes dos gases saírem pela chaminé, passam pelo retentor de fuligem, que tem como função separar a fuligem, resultante da queima não estequiométrica do combustível, dos gases de combustão. Por fim, os gases vão para a chaminé que retira os gases da instalação, lançando-os na atmosfera. De acordo com a NR-13, as caldeiras são classificadas em 2 (duas) categorias: a) caldeiras da categoria A são aquelas cuja pressão de operação é igual ou superior a 1.960 kPa (19,98 kgf/cm²), com volume superior a 100 L (cem 27 litros); b) caldeiras da categoria B são aquelas cuja a pressão de operação seja superior a 60 kPa (0,61 kgf/cm²) e inferior a 1 960 kPa (19,98 kgf/cm2), volume interno superior a 100 L (cem litros) e o produto entre a pressão de operação em kPa e o volume interno em m³ seja superior a 6 (seis). Para Martinelli Jr. (1998) a combustão é definida como uma reação química entre duas substâncias ditas, comburente e combustível, ocorrendo à alta velocidade e alta temperatura, onde acontece uma grande liberação de calor com a emissão simultânea de luz. De acordo com Martinelli Jr. (1998) nas reações de combustão, a oxidação rápida do combustível promove a liberação de energia à medida que os produtos de combustão são formados. Segundo Moran (2002), costuma-se fazer uma distinção entre as duas formas de reações de combustão, completa e incompleta. Diz-se que a combustão é completa quando o combustível queima em sua totalidade, ou seja, os reagentes são levados ao seu grau de oxidação máxima, sendo a combustão completa mais eficiente com relação à liberação de calor, do que a combustão incompleta. Normalmente, o comburente utilizado é o oxigênio do ar, por outro lado, os combustíveis dependem bastante do seu tipo e qualidades para determinada aplicação. A cada uma das reações elementares de combustão completa está associada uma quantidade de calor liberada característica, denominada calor da reação. Para combustíveis industriais, geralmente, se costuma determinar a quantidade de calor liberada (poder calorífico) por uma amostra mediante a realização de ensaio em laboratório em condições padronizadas. Assim, entende-se por poder calorífico de um combustível o calor liberado durante a combustão completa de um quilograma ou um metro cúbico desse combustível. Se durante o ensaio para determinação da quantidade de calor liberada, a água se condensa, esse calor liberado e medido é denominado poder calorífico superior (PCS). Caso não se considere a possibilidade de condensação, teremos poder calorífico inferior (PCI). O poder calorífico é dito a pressão constante quando adotarmos pressão de 1 atm e temperatura de 20°C como condições padrão para os reagentes e produtos. 28 De acordo com Moran et al (2002), a quantidade mínima de ar que fornece oxigênio suficiente para alcançar a combustão completa do combustível é chamada de quantidade de ar teórico. Na combustão completa, são formados como produtos CO2 e H2O, no caso de hidrocarbonetos. Quando a quantidade de oxigênio é maior, fala-se em excesso de ar. Em caso contrário, fala-se em falta de ar, situação na qual acontece combustão incompleta, formando além de gás carbônico e água, CO e até partículas de carbono, denominadas fuligem. Martinelli Jr. (1998), relata que o excesso de ar muito alto, abaixando a temperatura da chama, diminui sensivelmente a troca de calor por radiação, diminuindo a eficiência dos equipamentos. Por essa razão, o excesso de ar deve ser mantido sempre que possível em níveis mínimos, compatíveis com a exigência de combustão completa. Para tanto, a análise dos produtos de combustão é de singular importância, já que pode fornecer a qualidade da combustão. Segundo Silva (2008), a qualidade da água deve ser controlada e tratamentos devem ser feitos para compatibilizar suas propriedades físico-químicas com os parâmetros de operação da caldeira. Para a alimentação de caldeiras, a água deve possuir características compatíveis com as especificações do equipamento. Por isso, um dos requisitos necessários é a água ter sempre uma alta pureza, sendo que quanto maior for a pressão de trabalho, mais alta deve ser a pureza da água de alimentação. Geralmente, as águas naturais captadas em mananciais, tais como rios, lagos, represas, poços artesianos, rede pública, etc., possuem uma série de contaminantes, cuja composição e proporção estão relacionadas com a constituição geológica dos terrenos atravessados pelas águas e pelas variações climáticas no decorrer do ano. Martinelli Jr. (1998) mostra que os contaminantes podem ser classificados em três tipos principais: sólidos dissolvidos, como cálcio, magnésio, ferro, sílica, bicarbonatos, carbonatos, cloretos e sulfatos; sólidos em suspensão, constituídos de material particulado e responsáveis pela turbidez da água; e gases dissolvidos, como oxigênio, gás carbônico, amônia, gás sulfídrico e cloro. Conforme Martinelli Jr. (1998), a água considerada ideal para alimentação de caldeiras é aquela que não deposita substâncias incrustantes, não corrói os 29 materiais da caldeira e seus acessórios e não ocasiona arraste ou espuma. Por isso, se faz necessário um tratamento da água antes de entrar na caldeira que permita reduzir as impurezas a um nível compatível, de modo a não prejudicar o funcionamento da caldeira. De acordo com Silva (2008), a análise físico-química da água a ser utilizada fornece informações muito importantes para identificação dos contaminantes, permitindo a escolha de um ou mais métodos de tratamento externo, cuja finalidade é alterar a qualidade da água antes de ser usada na caldeira. Além disso, a análise deve ser feita regularmente para se verificar eventuais alterações na qualidade da água, fornecendo os recursos necessários para as correções posteriores e controle das dosagens de produtos químicos adicionado. Segundo Trovati (2009), caldeiras de grande porte possuem uma estação de tratamento de água de alimentação, onde os tratamentos realizados na água variam de acordo com os requisitos e qualidade que essa água deve ter para entrar na caldeira. Além de tudo, as caldeiras de alta pressão, por exigirem água de alimentação com altíssima pureza, fazem o processo de desmineralização da água por meio de resinas catiônicas e aniônicas. 5.2. Turbinas De acordo com Dantas (2010), com relação as máquinas térmicas utilizadas, geralmente, para o processo de cogeração, existem as turbinasa vapor, turbinas a gás e motores de combustão interna. Elas se diferenciam entre si pela relação entre as necessidades de potência, os custos de instalação e operação e os níveis de emissões e ruídos. Para Del Campo (1999), as turbinas de vapor são uma opção bastante difundida, com parâmetros de entrada de vapor entre 2 e 12 Mpa e de saída entre 0,2 e 2 Mpa e possuindo uma longa vida útil. A vantagem econômica da utilização desse tipo de máquina térmica é a facilidade de resposta dos sistemas de controle (velocidade, carga e pressão). Conforme Del Campo (1999), nas instalações de cogeração com turbinas de gás, pode-se converter 25% da energia em eletricidade, recuperando 75% dos 30 gases de exaustão. Essas turbinas apresentam grande flexibilidade de operação e facilidade de instalação e expansão, porém os custos de operação são altos, por causa do baixo rendimento térmico e da necessidade de usar combustíveis de alta qualidade. Perrella (1994) diz que um projeto de central de cogeração adequado é aquele que não só atende às demandas operacionais prescritas pelo processo, mas também consegue atingir o nível de excedente planejado com confiabilidade e eficiência. Quando esses conceitos não são alcançados, causam aumentos nos custos de operação e manutenção devido ao pagamento de multas contratuais e aumento nos custos dos combustíveis utilizados. Segundo Del Campo (1999), os principais ciclos utilizados em plantas de cogeração são: o ciclo de Rankine ou a vapor, o ciclo Brayton ou a gás, o ciclo combinado e o ciclo Diesel. Del Campo (1999) afirma que, dentre esses ciclos, o mais utilizado em plantas de cogeração de usinas de produção de açúcar e álcool é o ciclo de Rankine ou a vapor. Ele corresponde à produção de vapor a partir de combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos, que posteriormente movimentará uma turbina a vapor e produzirá eletricidade através de um gerador. Segundo Van Wylen (1995), o rendimento térmico desse ciclo depende das temperaturas médias em que o vapor é fornecido e rejeitado. Dessa maneira diz Vieira (1997), diz Vieira (1997), uma das formas de aumentar a eficiência desse ciclo é elevando a temperatura de fornecimento de vapor através da sua passagem por um trocador de calor chamado superaquecedor, que tem a função de fornecer um aquecimento adicional ao vapor saturado, transformando-o em vapor superaquecido. Assim, além de fornecer um razoável ganho de eficiência, o superaquecimento melhora as condições de trabalho nas turbinas a vapor, pois o “vapor seco” favorece o escoamento através delas. No entanto, esse aumento da temperatura do vapor tem limitações por questões metalúrgicas, ou seja, temperaturas altas podem provocar sobreaquecimento das superfícies dos tubos da caldeira e radiação dos produtos da combustão. Outro fator que ajuda no aumento do rendimento térmico é a diminuição da temperatura de rejeição de vapor, que está relacionado à redução de pressão de saída da turbina. Porém, essa redução também aumenta o teor de umidade do 31 vapor que pode causar graves danos nas palhetas por erosão. Para evitar esses problemas, tanto do superaquecimento, quanto do resfriamento, podem-se utilizar os procedimentos de reaquecimento e de regeneração. De acordo com Del Campo (1999), os sistemas de cogeração, em relação aos tipos de turbinas a vapor utilizadas, podem ser classificados em: sistemas de cogeração com turbinas de contrapressão; sistemas de cogeração com turbinas de extração-contrapressão; e sistemas de cogeração com turbinas de extração-condensação. Os sistemas que utilizam turbinas de contrapressão são os mais utilizados na indústria açucareira, onde a pressão de vapor na saída da turbina é maior que a pressão atmosférica. Para Lozano (1998) essas turbinas são características de sistemas que visam, principalmente, a autossuficiência. A figura 5 mostra um desenho esquemático do sistema de cogeração com turbina de contrapressão. Figura 5 - Esquema do sistema de cogeração de contrapressão. Fonte: Del Campo (1999) De acordo com Del Campo (1999), os sistemas com turbinas de extração- contrapressão são pouco difundidos na indústria sucroalcooleira e estão associados a esquemas em que consumidores de outros níveis de pressão podem ser beneficiados com as extrações feitas na turbina (turbo-moendas, turbo-bombas, etc.). Contudo, esse esquema é característico de sistemas que trabalham somente no período de safra e são limitados pela contrapressão da turbina. Por fim, os sistemas de cogeração com turbinas de extração-condensação são utilizados por 32 sistemas que trabalham em períodos de entressafra também, e as extrações estão ligadas, da mesma forma, a consumidores de outros níveis de pressão. A figura 6 exibe um desenho representativo do sistema de cogeração com turbina de extração- condensação. A existência de um condensador permite condensar o vapor que chega à saída da turbina e misturada à água fornecida no desaerador, formam a água de alimentação da caldeira, permitindo que durante o período de entressafra, esse sistema funcione como uma central termoelétrica. O combustível utilizado nesse período pode ser o próprio bagaço em excesso, ou um combustível auxiliar, como carvão mineral ou óleo combustível. Figura 6 - Esquema do sistema de cogeração de extração-condensação. Fonte: Del Campo (1999) Nos últimos anos, algumas indústrias vêm adotando um sistema combinado que possui turbinas a vapor de contrapressão e de extração-condensação, podendo ser aplicado quando uma mesma indústria necessita estabilizar o fornecimento de energia elétrica às concessionárias. Lozano (1998), relata que essa combinação permite uma maior flexibilidade com relação à entrega de energia elétrica e calor para o processo, mesmo que tenha um custo maior como consequência. Segundo Del Campo (1999), a seleção da tecnologia mais adequada para determinada aplicação deve ser feita analisando os mais diferentes aspectos. Porém, talvez o mais importante desses fatores seja a relação potência/calor, parâmetro característico de cada tecnologia de cogeração, que deve ser a melhor possível 33 para a aplicação desejada. No entanto, geralmente, a escolha de uma tecnologia em detrimento das demais, implica em não atender plenamente uma das duas formas de demanda energética, calor ou potência. Outro aspecto importante é a disponibilidade de combustível a custo relativamente baixo para poder operar determinada tecnologia. Além disso, temos os aspectos relacionados aos impactos ambientais, que podem ter efeitos positivos ou negativos, dependendo da seleção da tecnologia feita, assim como os custos dos investimentos necessários, os gastos de operação e manutenção e a disponibilidade de operação de sistemas de cogeração, que influencia a confiabilidade de operação do sistema elétrico. Ainda existem outros aspectos que precisam ser considerados, como a eficiência de conversão de combustível em energia elétrica, onde se mostram as vantagens do sistema de cogeração em relação aos sistemas termoelétricos do ponto de vista da utilização da energia. 6. TROCADORES DE CALOR Segundo Irrazabal (2014), os trocadores de calor podem ser classificados de diversas maneiras, conforme a figura 7. Figura 7 - Classificação dos trocadores de calor. Fonte: Mundo Mecânico, disponível em: http://www.mundomecanico.com.br/wp- content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf, acesso em: outubro/2019. http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf 34 Para Irrazabal (2014), de acordo com os processos de transferência, há trocadores de contato direto e de contato indireto. Nos trocadores de calor de contato direto, os fluidos se misturam.Aplicações comuns de um trocador de contato direto envolvem transferência de massa além de transferência de calor, todavia existem aplicações que envolvem somente transferência de calor. Comparado a recuperadores de contato indireto e regeneradores, são alcançadas taxas de transferência de calor muito altas. Sua construção é relativamente barata. As aplicações são limitadas aos casos onde um contato direto de dois fluxos é permissível. Irrazabal (2014) diz que em um trocador de calor de contato indireto, os fluidos permanecem separados e o calor é transferido continuamente através de uma parede, pela qual se realiza a transferência de calor. Os trocadores de contato indireto classificam-se em: transferência direta e armazenamento. Para Irrazabal (2014) no tipo de trocadores de contato direto, há um fluxo contínuo de calor do fluido quente ao frio através de uma parede que os separa. Não há mistura entre eles, pois cada corrente permanece em passagens separadas. Este trocador é designado como um trocador de calor de recuperação, ou simplesmente como um recuperador. Como exemplo temos os trocadores de placa, tubulares ou de superfície estendida. Conforme Irrazabal (2014) já em um trocador de armazenamento, ambos os fluidos percorrem alternativamente as mesmas passagens de troca de calor. A superfície de transferência de calor geralmente é de uma estrutura chamada matriz. Em caso de aquecimento, o fluido quente atravessa a superfície de transferência de calor e a energia térmica é armazenada na matriz. Posteriormente, quando o fluido frio passa pelas mesmas passagens, a matriz “libera” a energia térmica (em refrigeração o caso é inverso). Este trocador também é chamado regenerador. De acordo com Irrazabal (2014) na classificação de acordo com o tipo de construção há os trocadores tipo placa e os tipos tubulares que são subdivididos nos tipos carcaça e tubo, tubo duplo e serpentina. O tipo tubular geralmente construído com tubos circulares, existindo uma variação de acordo com o fabricante. São usados para aplicações de transferência de calor líquido / líquido (uma ou duas fases). Eles trabalham de maneira ótima em aplicações de transferência de calor 35 gás/gás, principalmente quando pressões e/ou temperaturas operacionais são muito altas, onde nenhum outro tipo de trocador pode operar. Estes trocadores podem ser classificados como carcaça e tubo, tubo duplo e de espiral. Ainda para Irrazabal (2014) nos trocadores de carcaça e tubo, os mesmos são construídos com tubos e uma carcaça. Um dos fluidos passa por dentro dos tubos, e o outro pelo espaço entre a carcaça e os tubos. Existe uma variedade de construções diferentes destes trocadores dependendo da transferência de calor desejada, do desempenho, da queda de pressão e dos métodos usados para reduzir tensões térmicas, prevenir vazamentos, facilidade de limpeza, para conter pressões operacionais e temperaturas altas, controlar corrosão, etc. São os mais usados para quaisquer capacidade e condições operacionais, tais como pressões e temperaturas altas, atmosferas altamente corrosivas, fluidos muito viscosos, misturas de multicomponentes, etc. Estes são trocadores muito versáteis, feitos de uma variedade de materiais e tamanhos e são extensivamente usados em processos industriais. Segundo Evacon (2017), suas principais aplicações são: ➢ Em unidades hidráulicas; ➢ No resfriamento de óleo em máquinas injetoras, motores de caixa de engrenagens, redutores, etc.; ➢ Em resfriadores de ar ou gases, de óleo de transformadores, de fluidos para têmperas; aquecedores de água com vapor; condensadores de vapor; resfriamento de água com água; ➢ Motores ou conversores marítimos: com feixe tubular em cuproníquel, espelhos em latão naval e tampas em bronze industrial com ânodos; ➢ Com fluido refrigerante Amônia (NH3): construídos totalmente em aço carbono; ➢ Projetos especiais: construídos em aço inox. 36 Figura 8 - Trocador de Calor Casco e Tubo. Fonte: Evacon, disponível em: http://www.evacon.com.br/uploads/files/MjAxNzA4MjMxNDE5MDFfRXZhY29uX0NhdGFsb2dvX1B ERmMucGRm.pdf, acesso em novembro/2019. Figura 9 - Representação trocador casco e tubos com um passe no casco e um passe nos tubos. Fonte: CDC Equipamentos, disponível em: http://www.cdcequipamentos.com/tipos-de-trocador-de- calor.html, acesso em novembro/2019. O trocador de tubo duplo consiste de dois tubos concêntricos. Um dos fluidos escoa pelo tubo interno e o outro pela parte anular entre tubos, em uma direção de contra fluxo. Este é talvez o mais simples de todos os tipos de trocador de calor pela fácil manutenção envolvida. É geralmente usado em aplicações de pequenas capacidades. http://www.evacon.com.br/uploads/files/MjAxNzA4MjMxNDE5MDFfRXZhY29uX0NhdGFsb2dvX1BERmMucGRm.pdf http://www.evacon.com.br/uploads/files/MjAxNzA4MjMxNDE5MDFfRXZhY29uX0NhdGFsb2dvX1BERmMucGRm.pdf http://www.cdcequipamentos.com/tipos-de-trocador-de-calor.html http://www.cdcequipamentos.com/tipos-de-trocador-de-calor.html 37 Figura 10 - Trocador de calor tubo duplo. Fonte: Mundo Mecânico, disponível em: http://www.mundomecanico.com.br/wp- content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf, acesso em: outubro/2019 Os trocadores de calor tipo serpentina são construídos por uma ou mais serpentina (de tubos circulares) ordenadas em uma carcaça. A transferência de calor associada a um tubo espiral é mais alta que para um tubo duplo. Além disso, uma grande superfície pode ser acomodada em um determinado espaço utilizando as serpentinas. As expansões térmicas não são nenhum problema, mas a limpeza é muito problemática. http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf 38 Figura 11 - Trocador de calor serpentinas. Fonte: Mundo Mecânico, disponível em: http://www.mundomecanico.com.br/wp- content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf, acesso em: outubro/2019. Trocador tipo placa normalmente é construído com placas lisas ou com alguma forma de ondulações. Geralmente, este trocador não pode suportar pressões muito altas, comparado ao trocador tubular equivalente http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf 39 Figura 12 - Trocador de calor placas. Fonte: Mundo Mecânico, disponível em: http://www.mundomecanico.com.br/wp- content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf, acesso em: outubro/2019 7. O Radiador Segundo TERMO-TEK (2019), os radiadores aletados são tipos de trocador de calor destinados a fazer troca térmica entre um gás, normalmente ar, e outro fluido, que pode ser tanto líquido quanto gasoso. Esse tipo de trocador é comumente utilizado por grandes indústrias, como as navais, químicas, petroquímicas, automobilísticas entre outras e têm como finalidade principal o aquecimento ou o resfriamento do ar em geral. O funcionamento dos trocadores de calor tipo radiador ocorre pelo contato do ar com os tubos por onde passam um fluido gasoso, capaz de aquecer ou resfriar um ambiente. No entanto, nos trocadores de ar tipo radiador não há contato entre o ar e o fluido. Sendo assim, os trocadores de calor tipo radiador são classificados como sendo de contato indireto. Este tipo de equipamento é bastante versátil, e dependendo da aplicação à qual será destinado, pode ser fabricado a partir de um projeto especial, http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf http://www.mundomecanico.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Trocadores-de-calor.pdf 40 desenvolvido sob medida, a fim de que o mesmo trabalhe conforme as condições técnicas específicas do processo em que será empregado.A utilização mais comum dos radiadores aletados é na forma de aquecedores, resfriadores, condensadores, secadores, economizadores ou recuperadores. Os radiadores aletados tem formas construtivas variadas e podem ser fabricados, dependendo de sua aplicação, com câmaras fixas ou removíveis e espelhos fixos ou flutuantes. Os radiadores aletados com espelho flutuante, por exemplo, garantem a absorção das dilatações ocorridas em detrimento dos processos onde a diferença de temperatura é mais elevada, em contrapartida, os radiadores aletados com espelho fixo, embora sejam mais baratos, são indicados apenas para utilização em casos de menos discrepância de temperatura, e que não exigem tanta dilatação. Já os radiadores aletados construídos com câmaras removíveis são mais vantajosos quando comparado com os construídos com câmaras fixas, uma vez que facilitam a limpeza dos equipamentos, proporcionando a eles maior durabilidade. Por serem completamente adaptáveis, os radiadores aletados são projetados de acordo com a necessidade do cliente; deste modo, não há uma dimensão padrão, mas sim, específica para cada caso. Figura 13 - Radiador aletado Fonte: TERMO-TEK, disponível em: http://www.termotek.com.br/radiadores-aletados, acesso em novembro/2019. http://www.termotek.com.br/radiadores-aletados 41 7.1.Dimensionamento do Radiador Para a troca térmica entre a vinhaça quente e o ar ambiente, na entrada do sistema de ar primário da caldeira Figura 14, será usado um radiador aletado, que por sua vez, aproveitará a energia térmica da vinhaça. Figura 14 - Fluxograma do Radiador x Caldeira Fonte: Elaborado pelo autor. Foi utilizado um software de engenharia denominado como HTRI para um pré-dimensionamento do radiador como demonstrado a seguir: 42 Figura 15 - Cálculo do radiador pelo software HTRI. Fonte: Adaptado pelo autor. 43 Vemos que a vinhaça entra a 85°C e sai a 78,73°C, portanto diminuindo sua temperatura onde parte dessa energia perdida foi transferida para o ar que entra na caldeira que a princípio estava em temperatura ambiente. 7.2. Comparativo radiadores caldeiras Figura 16 - Balanço Térmico Caldeira sem Radiador Fonte: Saccomani, 2019. 44 Figura 17 - Balanço Térmico Caldeira com Radiador Fonte: Saccomani, 2019. Esses memoriais mostram que com o radiador, a vinhaça entra a 85°C e sai a 78,63°C e a principal observação é que o ar de entrada principal da caldeira elevou- se de 27°C para 60°C. Essa elevação de temperatura do ar (aumento de entalpia) é que levará a economia de combustível, no caso, economia do bagaço de cana. 45 7.3. Comparativo combustão biomassa 7.3.1. Sem Radiador Fig. 18 - cálculo combustão biomassa sem radiador 46 47 48 49 Fonte: Saccomani, 2019. 50 7.3.2. Com Radiador Figura 19 - cálculo combustão biomassa com radiador 51 52 53 54 Fonte: Saccomani, 2019 Na comparação entre os memoriais de cálculo de biomassa, a principal observação é o aumento da relação Vapor / Combustível que elevou- se de 2,050 para 2,081 comprovando uma economia de combustível na caldeira. 55 8. METODOLOGIA Esse estudo constitui-se de pesquisa aplicada, de cunho descritivo e exploratório, com base em leituras bibliográficas e documentais, que procura relacionar não só os parâmetros principais de análise, mas também apresentar dados de informações que possam nortear possíveis ações para a melhoria do futuro. Nessa visão, adquirindo informações de fontes primárias e secundárias, obtém-se resultados que serão apresentados sobre forma qualitativa e quantitativa. O planejamento da pesquisa inclui, em primeiro lugar, dados de campo, de fontes pessoais, conseguido de empresa particular fabricante de caldeiras, e posterior levantamento de dados e a revisão da literatura. A fim de cumprir o papel científico deste projeto, no sentido de se chegar aos objetivos propostos, a apresentação dos resultados quantitativos e qualitativos serão acompanhadas de análise direcionada ao contexto que configura o objeto de estudo. Através da passagem da vinhaça quente pelo radiador ocorre uma troca de calor entre o ar ambiente e a vinhaça, aquecendo o ar que alimenta a caldeira no sistema de ar primário (ar de combustão), causando a economia de bagaço. Em termos de temperatura dos gases versus eficiência térmica em caldeira, de acordo com SECAMAQ (2019), assim como a temperatura dos gases de combustão, a temperatura ambiente também tem grande importância, já que pode se comportar como um verdadeiro “vilão” da eficiência. De acordo com SECAMAQ (2019) estudos indicam que variações de 5ºC na temperatura do ambiente terão como consequência perda na eficiência de 1% ou até mais. Assim, quando o cálculo de eficiência é analisado, é interessante que ele seja realizado tomando como base condições de temperatura do ambiente De acordo com Bazzo (1995), todo o tipo de trocador de calor deve ser dimensionado conforme as taxas reais de transferência de calor, com suas condições de contorno em si. O conhecimento dos parâmetros e variáveis corretos 56 durante a etapa de cálculos é de extrema importância, de maneira que o funcionamento do equipamento depende fundamentalmente disso. Porém, como os mecanismos de combustão são, muitas vezes, complexos demais para cálculos analíticos e também as formas construtivas do trocador que são irregulares, ou em parte desconhecidas, alguns cálculos foram feitos utilizando a combinação de conceitos básicos, científicos e informações empíricas extraídas de bibliografias especializadas, sendo possível obter um resultado satisfatório. Considerando a fornalha da caldeira como um sistema adiabático, em condições de combustão completa e livre de cinzas, tem-se: 𝑇𝑎𝑑 = 𝑇𝑜 + 𝑞𝑑 (𝑚𝑔 ∙ 𝑐𝑝,𝑔 +𝑚𝑐𝑧 ∙ 𝑐𝑝,𝑐𝑧) onde, 𝑇𝑎𝑑 = temperatura adiabática dos gases (K) 𝑇𝑜 = temperatura ambiente (K) 𝑞𝑑 = energia disponível na fornalha (kJ/kgcomb) 𝑚𝑔 = massa real de gases (kg/kgcomb) 𝑚𝑐𝑧 = massa real das cinzas leves arrastadas pelos gases (kg/kgcomb) 𝑐𝑝,𝑔 = calor especifico médio dos gases (kJ/kg.K) 𝑐𝑝,𝑐𝑧 = calor especifico médio das cinzas (kJ/kg.K) A energia disponível na fornalha é calculada pela equação abaixo, que define a quantidade total de energia inserida, incluindo a entalpia do combustível, do ar e umidade do ar de combustão. 𝑞𝑑 = 𝑃𝐶𝐼 + ∆ℎ𝑐𝑏 +𝑚𝑎𝑟(∆ℎ𝑎𝑟 +𝜔𝑎𝑟 ∙ ∆ℎ𝑣𝑝) Onde: 𝑃𝐶𝐼 = poder calorífico inferior do combustível (kJ/kg) ∆ℎ𝑐𝑏 = entalpia do combustível (kJ/kg) 𝑚𝑎𝑟 = massa real de ar de combustão (kg/kgcomb) 𝜔𝑎𝑟 = umidade do ar de combustão (kJ/kg) ∆ℎ𝑎𝑟 = entalpia do ar da combustão (kJ/kg) ∆ℎ𝑣𝑝 = entalpia da umidade do ar (kJ/kg) 57 Considerando tais informações, pode-se dizer que quando se eleva a temperatura do ar na entrada da caldeira (ar ambiente), melhora-se a eficiência dela. 9. DADOS OBTIDOS Local: Usina de açúcar e álcool na região de Ribeirão Preto – SP. Altitude do local: 516m. Umidade relativa do ar: 70%. Combustível da caldeira: bagaço de cana com 52% umidade Produção de vapor pela caldeira: 170.000 kg/h. Pressão do vapor: 68,0 bar. Temperatura do vapor: 515ºC. Temperatura da água na entrada da caldeira: 115ºC. Temperatura da vinhaça: 85ºC a 90ºC. Produção de etanol: Etanol Anidro: 600m³/dia. Etanol Hidratado: 600*1,04202 = 625m³/dia. Teor alcoólico: 8,5%. Produção da vinhaça: 10,8l / 1l de Etanol Hidratado. Período da safra2019: 250 dias. 58 Figura 20 - Caldeira Aquatubular 170t/h. Fonte: Adaptado pelo autor. 59 10. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 4: Principais resultados obtidos do memorial de cálculo. Caldeira com Radiador Caldeira sem Radiador Fluxo mássico – combustível (kg/h) 81.679 82.910 Relação Vapor / combustível 2,081 2,050 Entalpia do ar saída radiador (KJ/kg) 35,21 2,01 Temperatura saída do radiador (ºC) 60 27 Fonte: Elaborado pelo autor Com dados obtidos verifica-se que o uso de radiadores aletados, abastecidos pela vinhaça em sistema do ar primário de caldeiras pode ser viável pois, pode haver economia de bagaço a uma usina, porém a sua implantação / instalação e seus custos devem ser pré analisados para que o retorno financeiro seja garantido. Para uma safra com 250 dias podemos observar uma economia de: 82.910 – 81.679 = 1.231 kg/h × 24h × 250 dias = 7.386.000 kg, o que corresponde a aproximadamente: 7.400 toneladas de bagaço. Através da figura 17, verifica-se que se precisa de 281 mil quilogramas por hora de vinhaça para aquecer 224 mil quilogramas de ar por hora. Para aquecer a caldeira nessas condições precisa-se de 3,4293 quilogramas de ar para cada 1,0 quilograma de combustível. Assim, pela tabela 4,82 mil quilogramas por hora de combustível consomem 280 mil quilogramas por hora de ar e 351 mil quilograma por hora de vinhaça. Considerando- se a densidade da vinhaça próxima à da água (1kg/l) e que para cada um litro de etanol produzido são produzidos (por borbotagem) aproximadamente 16,7 litros de vinhaça, então conclui-se que a produção mínima aproximada de etanol em uma usina deve ser de 500 mil litros de etanol por dia. Como exemplo, de acordo com Pedra Agroindustrial S/A (2019), em suas três unidades (usinas) são produzidos anualmente 674 milhões de litros de etanol, 60 portanto, são produzidos aproximadamente 224,6 milhões de litros de etanol por ano em cada uma das três usinas, que equivale a aproximadamente 615 mil litros de etanol por dia, que é maior que 500 mil demonstrando a viabilidade técnica do uso da vinhaça no radiador. O consumo energético para bombear a vinhaça no radiador é zero porque é feito por gravidade aproveitando a energia potencial da coluna de esgotamento. 11. CONCLUSÃO A conclusão do presente trabalho permite dizer que os objetivos foram alcançados com êxito. Pode-se concluir do ponto de vista energético, que uma caldeira com aproveitamento de energia térmica da vinhaça opera com uma maior eficiência na relação vapor/combustível dentro dos parâmetros almejados para caldeiras geradoras de vapor. Utilizando o método de memorial de cálculo simulado observou-se a economia de combustível de 1,5%. De uma maneira geral, foi estudado a viabilidade do uso mais racional da vinhaça, através de simulações computacionais, economizando o combustível bagaҫo de cana-de-açúcar. 61 12. REFERÊNCIAS ASSIS, C. P.; JUCKSCH, I.; MENDONÇA, E. S.; NEVES, J. C. L. Carbono e Nitrogênio em Agregados de Latossolo Submetido a Diferentes Sistemas de Uso e Manejo. Rev. 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