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Aula1-GIDDENS,Anthony-Sociologia,p-1-19a348834

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Anthony Giddens
Sociologia
6.a Edição
Tradução de 
Alexandra Figueiredo
Ana Patrícia Duarte Baltazar
Catarina Lorga da Silva
Patrícia Matos
Vasco Gil
Coordenação e revisão científica de 
José Manuel Sobral
F U N D A Ç Ã O CALOUSTE GULBENKIAN
Serviço de Educação e Bolsas
Tradução
do original inglês intitulado
SOCJOLOGY
4'h Edition
Copyright O Anthony Giddens 2001
publicado por Polity Press
em associação com Blackwell Publishers Ltd.
Reservado todos os direitos de harmonia com a lei
Edição da
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av.de Bema I Lisboa
2008
Depósito Legal 273409/08
ISBN 978-972-31-1075-3
O que é a Sociologia?
I S 
K.
*
ii-
'X . 
• U-
V-
Desenvolvendo uma perspectiva sociológica
Estudar Sociologia
Como pode a Sociologia ajudar-nos na nossa vida?
Consciência de diferenças culturais
Avaliação dos efeitos políticos
Auto-consciencialização
O desenvolvimento do pensamento sociológico
Os primeiros teóricos
Auguste Comte
Émile Durkheim
Karl Marx
Max Weber
Olhares sociológicos mais recentes
Funcionalismo
Perspectiva do conflito
Perspectivas da acção social
Conclusão
Sumário
2
4
5
5
5
6
6
7
8
11
13
15
16
17
17
18
18
Capítulo 1: O que é a Sociologia?
Vivemos hoje - no começo do século vinte e um -
num mundo intensamente inquietante e, ao mesmo
tempo, repleto das maiores promessas para o futuro.
É um mundo inundado pela mudança, marcado por
graves conflitos, tensões e divisões sociais, bem como
pelo assalto destrutivo ao meio ambiente natural pro-
movido pela tecnologia moderna. Não obstante,
temos mais possibilidades de controlar melhor os nos-
sos destinos e de dar um outro rumo às nossas vidas
do que era imaginável pelas gerações anteriores.
Como se desenvolveu este mundo? Porque são as
nossas condições de vida tão diferentes das dos nos-
sos pais e avós? Que rumo tomarão no futuro os pro-
cessos de mudança? Estas questões são as principais
interrogações da Sociologia, um campo de estudos
que tem um papel fundamental a desempenhar na
cultura intelectual moderna.
A Sociologia é o estudo da vida social humana,
grupos e sociedades. É uma tarefa fascinante e cons-
trangedora, na medida em que o tema de estudo é o 
nosso próprio comportamento enquanto seres sociais.
A esfera de acção do estudo sociológico é extrema-
mente abrangente, podendo ir da análise de encontros
casuais entre indivíduos que se cruzam na rua até à 
investigação de processos sociais globais.
A maior parte de nós vê o mundo em termos das
características das nossas próprias vidas, com as
quais estamos familiarizados. A Sociologia mostra
que é necessário adoptar uma perspectiva mais abran-
gente do modo como somos e das razões pelas quais
agimos. Ensina-nos que o que consideramos natural,
inevitável, bom ou verdadeiro pode não o ser, e que o 
que tomamos como «dado» nas nossas vidas é forte*
mente influenciado por forças históricas e sociais.
Compreender as maneiras ao mesmo tempo subtis,
complexas e profundas, pelas quais as nossas vidas
individuais reflectem os contextos da nossa experiên-
cia social é essencial à perspectiva sociológica.
Desenvolvendo uma perspectiva sociológica
Aprender a pensar sociologicamente - por outras
palavras, olhar mais além - significa cultivar a ima-
ginação. Estudar Sociologia não pode ser simples-
mente um processo rotineiro de acumulação de
conhecimentos. Um sociólogo é alguém capaz de se
libertar do quadro das suas circunstâncias pessoais e 
pensar as coisas num contexto mais abrangente.
O trabalho sociológico depende do que o autor ame-
ricano C. Wright Mills, numa frase famosa, denomi-
nou de imaginação sociológica (Mills, I970).
A imaginação sociológica implica, acima de tudo.
abstrairmo-nos das rotinas familiares da vida quoti-
diana de maneira a poder olhá-las de forma diferente.
Tenha-se em consideração o simples acto de beber
uma chávena de café. O que há a dizer, do ponto de
vista sociológico, acerca de um comportamento apa-
rentemente tão desinteressante? Imenso.
Podemos começar por notar que o café não é 
meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas
actividades sociais quotidianas possui um valor sim-
bólico. O ritual associado ao acto de tomar café é fre-
quentemente muito mais importante do que o consu-
mo de café propriamente dito. Duas pessoas que
combinam encontrar-se para tomar café estarão pro-
vavelmente mais interessadas em estarem juntas e 
conversarem do que em beber, de facto, café. Em
todas as sociedades, na realidade, beber e comer pro-
porcionam ocasiões para a interacção social e o 
desempenho de rituais - e tal fornece temáticas ricas
para o estudo sociológico.
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois con-
tém cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimu-
lante. Os adictos em café não são vistos pela maioria
das pessoas no Ocidente como consumidores de
droga. O café, tal como o álcool, é uma droga social-
mente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo,
não o é. No entanto, há sociedades que permitem o 
consumo de marijuana e mesmo de cocaína, mas
desaprovam tanto o café como o álcool. Os sociólo-
gos estão interessados nas razões pelas quais estes
contrastes existem.
Em terceiro lugar, um indivíduo que bebe uma
chávena de café está envolvido numa complicada
rede de relações sociais e económicas de dimensão
internacional. O café é um produto que liga as pes-
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 3 
Tomar uma simples chávena de café é uma experiência social bastante familiar, mas o sociólogo pode analisá-la de forma 
surpreendente.
soas de algumas das partes mais ricas e mais pobres
do planeta: é consumido em grande quantidade nos
países ricos, mas cultivado fundamentalmente nos
pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria
mais valiosa do comércio internacional, representan-
do a principal exportação de muitos países. A produ-
ção, transporte e distribuição do café implicam tran-
sacções constantes que envolvem pessoas a milhares
de quilómetros dos consumidores. Estudar estas tran-
sacções globais é uma tarefa importante da Sociolo-
gia, na medida em que muitos aspectos das nossas
vidas são hoje afectados por influências sociais e 
comunicações a nível mundial.
Em quarto lugar, o acto de beber uma chávena de
café pressupõe todo um processo de desenvolvimento 
social e económico passado. Com outros artigos hoje
familiares nas dietas ocidentais - como o chá, as
bananas, as batatas e o açúcar - o café tornou-se um
produto de consumo generalizado somente nos finais
do século XIX. Embora seja uma bebida originária do
Médio Oriente, o seu consumo maciço data do perío»
do da expansão colonial ocidental, há cerca de um
século e meio atrás. Praticamente todo o café que se
bebe nos países ocidentais provém de áreas (América
do Sul e Africa) colonizadas pelos europeus; não é, de
maneira nenhuma, um elemento «natural» da dieta
ocidental. A herança colonial teve um impacto enorme
sobre o desenvolvimento do comércio mundial de
café.
Em quinto lugar, o café é um produto que está no
centro do debate actual em torno da globalização, do
comércio mundial, dos direitos humanos e da des-
truição ambiental. À medida que o café aumentou a 
sua popularidade, tomou-se um produto politizado e 
um assunto de marketing: as escolhas dos consumi-
dores sobre que tipo de café beber e onde comprar
tomaram-se opções de estilo de vida. As pessoas
podem escolher beber apenas café orgânico, café des*
cafeinado naturalmente ou café comerciado a preços
«justos» (através de esquemas que pagam o total do
preço de mercado a pequenos produtores de café em
países em vias de desenvolvimento). Podem optar
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 4 
O café significa o sustento destes trabalhadores de uma cooperativa de comércio justo na América do Sul.
por apoiar cafetarias «independentes», em vez das
cadeias internacionais de cafetarias como a «Star-
bucks». Os consumidores de café podem decidir boi-
cotar café proveniente de determinados países onde
haja pouco respeito pelos direitos humanos e o 
ambiente natural. Para os sociólogos, é interessanteperceber de que forma a globalização aumenta a 
consciência das pessoas acerca de questões que se
passam em pontos remotos do planeta, incentivando-
-as a actuar no dia-a-dia em função desse novo
conhecimento.
Estudar Sociologia
A imaginação sociológica permite*nos ver que mui-
tos dos fenómenos, que parecem dizer respeito ape-
nas ao indivíduo, na verdade, reflectem questões
mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um
processo muito complicado para quem o atravessa -
aquilo a que Mills chama «problema pessoal». Mas,
como ele refere, o divórcio é também uma questão
pública e na ordem do dia numa sociedade como a 
britânica nos dias de hoje, onde mais de um terço dos
casamentos acaba ao fim de dez anos. O desemprego,
para dar outro exemplo, pode ser uma tragédia pes-
soal para quem foi despedido de um emprego e não
consegue arranjar outro. Contudo, é uma questão que
vai além do desespero privado, quando dez milhões
de pessoas de uma sociedade estão nessa mesma
situação: é uma questão pública que expressa grandes
tendências sociais.
Tente aplicar esta maneira de ver as coisas à sua
própria vida. Não é necessário pensar unicamente em
fenómenos inquietantes. Considere, por um momen*
to, as razões pelas quais folheia as páginas deste livro
- porque é que está a estudar Sociologia. Pode ser um
estudante relutante de Sociologia, que tenta fazer o 
curso apenas por ter de obter uma licenciatura. Ou
pode ser um entusiasta que procura saber mais acerca
da matéria. Sejam quais forem as suas motivações, é 
provável que, sem que o saiba necessariamente, tenha
muito em comum com outros que estudam Sociolo-
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 5 
gia. A sua decisão privada reflecte a sua posição na
sociedade.
As seguintes características aplicam*se a si? É 
novo? É branco? De um estrato social de profissio-
nais qualificados ou colarinhos-brancos? Teve ou tem
algum «part-time» que lhe permita ganhar mais
algum dinheiro? Deseja encontrar um bom emprego
quando acabar a escola, embora não esteja especial-
mente interessado nos estudos? Não tem a certeza do
que é a Sociologia, embora pense que tem algo a ver
com o comportamento das pessoas em grupos? Mais
de três quartos de vocês responderá afirmativamente
a estas perguntas. Os estudantes universitários não
são uma amostra típica da população no seu todo,
pois tendem a ser oriundos de meios sociais mais pri*
vilegiados. E as suas atitudes, por norma, reflectem
as dos seus amigos e conhecidos. Os meios sociais de
onde provimos têm muito a ver com o tipo de deci-
soes que consideramos adequadas.
Mas suponha que respondeu negativamente a uma
ou mais destas questões. Poderá ser oriundo de um
grupo minoritário ou pobre. Poderá andar pela meia-
-idade ou ser ainda mais velho. É provável que tenha
tido que lutar para chegar onde chegou; pode ter sido
obrigado a ultrapassar reacções hostis por parte de
amigos e de outros quando anunciou que pretendia ir
para a faculdade; ou pode ser ao mesmo tempo aluno
do ensino superior e pai ou mãe.
Embora todos sejamos influenciados pelo contex-
to social em que nos inserimos, nenhum de nós tem o 
seu comportamento determinado unicamente por
esses contextos. Nós possuímos, e criamos, a nossa
própria individualidade. É tarefa da Sociologia inves-
tigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e 
o que nós fazemos de nós próprios. O que nós faze-
mos tanto estrutura - dá forma a - o mundo social
que nos rodeia como, simultaneamente, é estruturado
por esse mesmo mundo social.
O conceito de es t ru tura social é um conceito
importante para a Sociologia. Refere-se ao facto de
os contextos sociais das nossas vidas não consistirem
apenas em acontecimentos e acções ordenados alea-
toriamente; eles estão estruturados, ou padronizados, 
de diferentes maneiras. Há regularidades no modo
como nos comportamos ou nas relações que temos
com outras pessoas. Mas a estrutura social não é 
como uma estrutura física, como um edifício, que
existe de forma independente das acções humanas.
As sociedades humanas nunca deixam de estar em
processo de es t ru turação. Elas são reconstruídas a 
todo o momento pelos vários «blocos» que as com-
põem - seres humanos como nós.
Como exemplo, pense novamente no caso do café.
Uma chávena de café não aparece automaticamente
nas nossas mãos. Tem de decidir, por exemplo, ir a 
um determinado café, optar entre uma bica ou um
garoto, e por aí adiante. À medida que vai tomando
essas decisões, juntamente com outros milhões de
pessoas, está a configurar o mercado do café e a afec-
tar a vida dos produtores de café que vivem possivel-
mente do outro lado do mundo, a milhares de quiló-
metros de distância.
Como pode a Sociologia ajudar-nos
na nossa vida?
A Sociologia tem muitas implicações práticas para as
nossas vidas, tal como Mills sublinhou quando de-
senvolveu o seu conceito de imaginação sociológica.
Consciência de diferenças culturais
Em primeiro lugar, a Sociologia permite que olhemos
para o mundo social a partir de muitos pontos de
vista. Muito frequentemente, se compreendermos
correctamente o modo como os outros vivem, adqui-
rimos igualmente uma melhor compreensão dos seus
problemas. As medidas políticas que não se baseiam
numa consciência informada dos modos de vida das
pessoas que afectam têm poucas hipóteses de suces-
so. Deste modo, um assistente social branco que tra-
balhe numa comunidade predominantemente negra
não irá ganhar a confiança dos seus membros, a não
ser que desenvolva uma sensibilidade face às dife-
renças de experiência social que frequentemente
separam brancos e negros.
Avaliação dos efeitos das políticas
Em segundo lugar, a pesquisa sociológica fornece
uma ajuda prática na avaliação dos resultados de ini-
ciativas políticas. Um programa de reformas práticas
pode simplesmente falhar a consecução dos objecti-
vos que os seus autores pretendiam, ou produzir con-
sequências não intencionais de cariz prejudicial.
A título de exemplo, refira-se que nos anos que se
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 6 
seguiram à Segunda Guerra Mundial construíram-se
grandes blocos habitacionais de iniciativa pública no
centro das cidades de muitos países. A intenção era
providenciar um bom nível de habitação, com zonas
comerciais e outros serviços públicos à mão, para os
moradores dos bairros degradados e com baixos ren-
dimentos. Contudo, a investigação mostrou que mui-
tos dos que se mudaram para esses blocos habitacio-
nais se sentiam isolados e infelizes. Em muitos casos
os grandes blocos habitacionais e as áreas comerciais
em zonas pobres depressa se degradaram, tendo-se
transformado em viveiros para a ladroagem e outros
crimes violentos.
A u t o - consc ien cia lizaça o 
Em terceiro lugar, e em alguns aspectos o mais
importante, a Sociologia pode permitir-nos uma
auto-consciencializaçâo - uma auto-compreensão
cada vez maior. Quanto mais sabemos acerca das
razões pelas quais agimos como agimos e como fun-
ciona, de uma forma global, a nossa sociedade, tanto
mais provável é que sejamos capazes de influenciar o 
nosso futuro. Não devemos conceber a Sociologia
como algo que apenas ajuda os decisores políticos -
ou seja, os poderosos - a tomar as melhores medidas.
Não se pode presumir que aqueles que estão no
poder, ao tomarem decisões, tenham sempre em con-
sideração os interesses dos grupos menos poderosos
ou desfavorecidos. Os grupos com autoconsciência
podem, com frequência, beneficiar da investigação
sociológica, para assim poder responder de uma
forma eficaz às medidas políticas governamentais ou
para promover as suas próprias iniciativas políticas.
Grupos de auto-ajuda, como os Alcoólicos Anóni-
mos, e movimentos sociais, como os ecologistas, são
exemplos de grupos sociais que lograram introduzir
reformas práticas com um sucesso considerável.
O desenvolvimento do pensamento
sociológico
Quando começam a estudar Sociologia, muitos alu-
nos ficam perplexos com a diversidade de aborda-
gens existentes. A Sociologia nunca foi uma daquelas
disciplinas com um corpo de ideias unanimementeaceites como válidas. Os sociólogos discutem entre si
frequentemente acerca da melhor maneira de estudar
o comportamento humano e da forma como os resul-
tados das pesquisas devem ser interpretados. Porque
é que isto se passa assim? A resposta está relaciona-
da com a própria natureza do campo de estudos.
A Sociologia debruça-se sobre as nossas vidas e o 
nosso próprio comportamento, e estudar-nos a nós
próprios é a mais difícil e complexa tarefa que pode-
mos empreender.
Os primeiros teóricos
Nós, os seres humanos, sempre sentimos curiosidade
pelas razões do nosso próprio comportamento, mas
durante milhares de anos as tentativas de nos enten-
dermos dependeram de formas de pensar transmiti-
das de geração em geração. Estas ideias eram expres-
sas frequentemente em termos religiosos, ou em
mitos bem conhecidos, superstições ou crenças tradi-
cionais. O estudo objectivo e sistemático da socieda-
de e do comportamento humano é uma coisa relati-
vamente recente, cujos inícios remontam aos finais
do século XVIII. Um desenvolvimento-chave foi o 
uso da ciência para se compreender o mundo - a 
emergência de uma abordagem científica teve como
consequência uma mudança radical nas formas de ver
e entender as coisas. As explicações tradicionais
baseadas na religião foram suplantadas, em sucessi*
vas esferas, por tentativas de conhecimento racional
e crítico.
Tal como a Física, a Química, a Biologia e outras
disciplinas, a Sociologia surgiu como parte deste
importante processo intelectual. As origens da disci-
plina inserem-se no contexto de uma série de mudan-
ças radicais introduzidas pelas «duas grandes revolu-
ções» da Europa dos séculos XVIII e XIX. Estes
acontecimentos profundos transformaram irreversi-
velmente o modo de vida que os seres humanos leva-
vam há milhares de anos. A Revolução Francesa de
1789 representou o triunfo das ideias e valores secu-
lares, como a liberdade e a igualdade, sobre a ordem
social tradicional. Foi o início de um movimento
dinâmico e intenso que a partir de então se espalhou
pelo globo, tornando-se algo inerente ao mundo
moderno. A segunda grande revolução teve início na
Grã-Bretanha em finais do século XVIII, antes de se
verificar noutros locais da Europa, na América do
Norte e noutros continentes. Ficou conhecida como
O O U E E A S O C I O L O G I A ? 7 
Revolução Industrial - o conjunto amplo de trans-
formações económicas e sociais que acompanharam
o surgimento de novos avanços tecnológicos como a 
máquina a vapor e a mecanização. O surgimento da
indústria conduziu a uma migração em grande escala
de camponeses, que deixaram as suas terras e se
transformaram em trabalhadores industriais em fábri-
cas, o que causou uma rápida expansão das áreas
urbanas e introduziu novas formas de relacionamento
social. A Revolução Industrial mudou de forma dra-
mática a face do mundo social, incluindo muitos dos
nossos hábitos pessoais. A maior parte da comida que
ingerimos e das bebidas que tomamos - o café, por
exemplo - são hoje em dia produzidos através de
meios industriais.
A destruição dos modos de vida tradicionais levou
os pensadores a desenvolver uma nova concepção
dos mundos natural e social. Os pioneiros da Socio-
logia confrontaram-se com os eventos que acompa-
nharam essas revoluções, tentando compreender
tanto as razões da sua emergência como as suas con-
sequências potenciais. O tipo de questões a que estes
pensadores do século XIX procuraram responder - O 
que é a natureza humana? Porque é que a sociedade
está estruturada assim? Como mudam as sociedades e 
por que razão o fazem? - são as mesmas a que os
sociólogos procuram responder actualmente.
Auguste Comte
Ninguém pode, por si só, como é óbvio, fundar sozi-
nho todo um novo campo de estudos, e foram muitos
aqueles que contribuíram para os começos do pensa-
mento sociológico. Contudo, é frequentemente atri-
buído um lugar de destaque ao autor francês Auguste
Comte (1798-1857), nem que seja porque foi ele
quem de facto inventou o termo «Sociologia». Origi-
nalmente, Comte usou a expressão «física social»,
mas alguns dos seus rivais intelectuais da altura tam-
bém a usavam. Comte queria distinguir o seu ponto
de vista da visão dos seus rivais, de modo que criou o 
termo «Sociologia» para descrever a disciplina que
pretendia estabelecer.
O pensamento de Comte reflectia os acontecimen-
tos turbulentos do seu tempo. A Revolução Francesa
havia introduzido uma série de mudanças importantes
na sociedade e o crescimento da industrialização
tinha alterado o modo tradicional de vida da popula-
ção francesa. Comte procurou criar uma ciência da
sociedade que pudesse explicar as leis do mundo
social, à imagem das ciências naturais que explica»
vam como funcionava o mundo físico. Embora reco-
nhecesse que cada disciplina científica tem o seu
próprio objecto de análise, Comte acreditava que
todas partilham uma lógica comum e um método
científico, o que visa revelar leis universais. Tal como
a descoberta das leis do mundo natural nos permite
controlar e prever os acontecimentos à nossa volta,
também desvendar as leis que governam a sociedade
humana nos pode ajudar a configurar o nosso destino
e a melhorar o bem-estar da humanidade. Comte
acreditava que a sociedade se submete a leis invariá-
veis, de um modo muito semelhante ao que sucede no
mundo físico.
Comte via a Sociologia como uma ciência positi-
va. Acreditava que a disciplina devia aplicar ao estu-
do da sociedade os mesmos métodos científicos e 
rigorosos que a Física ou a Química usam para estu-
dar o mundo físico. O positivismo defende que a 
ciência deve preocupar-se apenas com factos obser-
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 25 
váveis que ressaltam directamente da experiência.
Com base em cuidadosas observações sensoriais,
podemos inferir as leis que explicam a relação exis-
tente entre os fenómenos observados. Compreenden-
do o relacionamento causal entre acontecimentos, os
cientistas podem então prever o modo como futuros
acontecimentos poderão ocorrer. A abordagem positi-
vista da Sociologia acredita na produção de conheci-
mento acerca da sociedade com base em provas
empíricas retiradas da observação, da comparação e 
da experimentação.
A lei dos três estádios de Comte postula que as
tentativas humanas para compreender o mundo pas-
saram pelos estádios teológico, metafísico e positivo.
No estádio teológico, as ideias religiosas e a crença
que a sociedade era uma expressão da vontade de
Deus eram o guia do pensamento. No estádio metafí-
sico, que se afirmou pela época do Renascimento, a 
sociedade começou a ser vista em termos naturais, e 
não sobrenaturais. O estádio positivo, desencadeado
pelas descobertas e feitos de Copérnico, Galileu e 
Newton, encorajou a aplicação de técnicas científicas
ao mundo social. Comte, ao adoptar esta última pers-
pectiva, considerava a Sociologia como a última das
ciências a desenvolver-se - depois da Física, da Quí-
mica e da Biologia embora também a mais impor-
tante e complexa das ciências.
Já na fase final da sua carreira, Comte concebeu
planos ambiciosos para a reconstrução da sociedade
francesa em particular e das sociedades humanas em
geral, com base nos seus pontos de vista sociológi-
cos. Reclamou a fundação de uma «religião da huma-
nidade», que deveria abandonar a fé e o dogma em
favor de um fundamento científico. A Sociologia
estaria no centro desta nova religião. Comte estava
perfeitamente consciente do estado da sociedade em
que vivia: estava preocupado com as desigualdades
que a industrialização produzia e a ameaça que elas
constituíam para a coesão social. A solução a longo
prazo, de acordo com a sua perspectiva, consistia na
produção de um consenso moral que ajudaria a regu-
lar, ou unir, a sociedade, apesar dos novos padrões de
desigualdade. Embora o caminho de Comte para a 
reconstrução da sociedade nunca se tivesse concreti-
zado, a sua contribuição para a sistematização e uni-
ficação da ciência da sociedade foi importante para a 
posterior profissionalização da Sociologia enquanto
disciplinaacadémica.
E m i l e D u r k h e i m
A obra de outro autor francês, Émile Durkheim
(1858-1917), teve um impacto mais duradouro na
Sociologia moderna do que a obra de Comte. Embo-
ra se apoiasse em determinados aspectos da obra de
Comte, Durkheim pensava que muitas das ideias do
seu predecessor eram demasiado especulativas e 
vagas, e que Comte não realizara com sucesso o seu
programa - dar à Sociologia um carácter científico.
Durkheim via a Sociologia como uma nova ciência
que podia ser usada para elucidar questões filosóficas
tradicionais, examinando-as de modo empírico. Dur-
kheim, como anteriormente Comte, acreditava que
devemos estudar a vida social com a mesma objecti-
vidade com que cientistas estudam o mundo natural.
O seu famoso princípio básico da Sociologia era
«estudar os factos sociais como coisas». Queria com
isso dizer que a vida social podia ser analisada com o 
mesmo rigor com que se analisam objectos ou fenó-
menos da natureza.
A obra de Durkheim abrange um vasto espectro de
tópicos. Três dos principais temas que abordou
foram: a importância da Sociologia enquanto ciência
Émile Durkheim (1958-1917)
O QUE E A S O C I O L O G I A ? 9 
empírica; a emergência do indivíduo e a formação de
uma ordem social; e as origens e carácter da autori-
dade moral na sociedade. Encontraremos as ideias de
Durkheim repetidas vezes nas nossas discussões teó*
ricas acerca da religião, do desvio e do crime, do tra-
balho e da vida económica.
Para o autor, a principal preocupação intelectual
da Sociologia reside no estudo dos factos sociais. Em
vez de aplicar métodos sociológicos ao estudo de
indivíduos, os sociólogos deviam antes analisar fac*
tos sociais - aspectos da vida social que determinam
a nossa acção enquanto indivíduos, tais como o esta-
do da economia ou a influência da religião. Dur-
kheim acreditava que as sociedades tinham uma rea-
lidade própria - ou seja, a sociedade não se resume às
simples acções e interesses dos seus membros indivi-
duais. De acordo com o autor, factos sociais são for-
mas de agir, pensar ou sentir que são externas aos
indivíduos, tendo uma realidade própria exterior à 
vida e percepções das pessoas individualmente.
Outra característica dos factos sociais é exercerem
um poder coercivo sobre os indivíduos. No entanto, a 
natureza constrangedora dos factos sociais raramente
é reconhecida pelas pessoas como algo coercivo, pois
de uma forma geral actuam de livre vontade de acor-
do com os factos sociais, acreditando que estão a agir
segundo aç suas opções. Na verdade, afirma Dur-
kheim, frequentemente as pessoas seguem simples*
mente padrões que são comuns na sociedade onde se
inserem. Os factos sociais podem condicionar a 
acção humana de variadas formas, que vão do casti-
go puro e simples (no caso de um crime, por exem-
plo) a um simples mal-entendido (no caso do uso
incorrecto da linguagem).
Durkheim reconhecia que os factos sociais são
difíceis de estudar. Os factos sociais não podem ser
observados de forma directa, dado serem invisíveis e 
intangíveis. Pelo contrário, as suas propriedades só
podem ser reveladas indirectamente, através da aná-
lise dos seus efeitos ou tendo em consideração tenta-
tivas feitas para as expressar, como leis, textos reli-
giosos ou regras de conduta estabelecidas. Durkheim
sublinhava a importância de pôr de lado os precon-
ceitos e a ideologia ao estudar factos sociais. Uma
atitude científica exige uma mente aberta à evidência
dos sentidos e liberta de ideias preconcebidas prove-
nientes do exterior. O autor defendia que os conceitos
científicos apenas podiam ser gerados pela prática
científica. Desafiou os sociólogos a estudar as coisas
tal como elas são e a construir novos conceitos que
reflectissem a verdadeira natureza das coisas sociais.
Tal como os outros fundadores da Sociologia,
Durkheim estava preocupado com as mudanças que
transformavam a sociedade do seu tempo. Estava
particularmente interessado na solidariedade social e 
moral - por outras palavras, naquilo que mantém a 
sociedade unida e impede a sua queda no caos. A soli-
dariedade é mantida quando os indivíduos se inte-
gram com sucesso em grupos sociais e se regem por
um conjunto de valores e costumes partilhados. Na
sua primeira grande obra, A Divisão Social do Traba-
lho (1893), Durkheim expôs uma análise da mudan-
ça social, defendendo que o advento da era industrial
representava a emergência de um novo tipo de soli*
dariedade. Ao desenvolver este argumento, o autor
contrastou dois tipos de solidariedade - mecânica e 
orgânica relacionando-os com a divisão do traba-
lho e o aumento de distinções entre ocupações dife-
rentes.
Segundo Durkheim, as culturas tradicionais com
um nível reduzido de divisão do trabalho caracteri-
zam-se pela solidariedade mecânica. Em virtude da
maior parte dos membros da sociedade estar envolvi-
da em ocupações similares, eles estão unidos em
tomo de uma experiência comum e de crenças parti-
lhadas. A força destas últimas é de natureza repressi-
va - a comunidade castiga prontamente quem quer
que ponha em causa os modos de vida convencionais.
Desta forma resta pouco espaço para dissidências
individuais. A solidariedade mecânica baseia-se, por
conseguinte, no consenso e na similaridade das cren-
ças. No entanto, as forças da industrialização e da
urbanização conduziram a uma maior divisão do tra*
balho, o que contribuiu para o colapso desta forma de
solidariedade. A especialização de tarefas e a cada
vez maior diferenciação social nas sociedades desen-
volvidas haveria de conduzir a uma nova ordem
caracterizada pela solidariedade orgânica, defendia
Durkheim. Este tipo de sociedades estão unidas pelos
laços da interdependência económica entre as pes*
soas e pelo reconhecimento da importância da contri-
buição dos outros. À medida que a divisão do traba-
lho aumenta, as pessoas tornam-se cada vez mais
dependentes umas das outras, dado que cada uma
necessita dos bens e serviços que só outras pessoas
com ocupações diferentes podem fornecer. Relações
•10 O O U E É A S O C I O L O G I A ?
O estudo de Durkheim sobre o suicídio
Um dos estudos clássicos da Sociologia que expio*
ra a relação entre o individuo e a sociedade é a 
análise de Durkheim sobre o suicídio (Durkheim,
1952; originalmente publicado em 1897). Embora o s
seres humanos se vejam a si próprios como Indiví-
duos livres na sua vontade e opções, o s s e u s com-
portamentos s á o muitas vezes padronizados e 
determinados pelo mundo social. O estudo de Dur-
kheim demonstrou que mesmo um acto tão pessoal
como o suicídio é influenciado pelo mundo social.
Tinha havido anteriormente pesquisas sobre o 
suicídio, mas Durkheim foi o primeiro autor a insistir
numa explicação sociológica para o fenómeno As
obras anteriores tinham reconhecido a influência de
factores sociais no suicídio, embora destacando
factores como a raça, o clima ou perturbações merv
tais, para explicar a probabilidade de alguém come*
ter suicídio. Contudo, segundo Durkheim, o suicídio
era um facto social que apenas podia ser explicado
por outros factos sociais. O suicídio era algo mais
do que um simples conjunto de actos individuais -
era um fenómeno com características padroniza-
das.
Ao examinar registos oficiais sobre o suicídio em
França, Durkheim descobriu que determinadas
categorias de p e s s o a s eram mais propensas a 
cometer suicídio do que outras. Descobriu, por
exemplo, que se verificavam mais suicídios entre
os homens do que entre a s mulheres, mais entre
os protestantes do que entre os católicos, mais
entre o s ricos do que entre o s pobres, e mais entre
os solteiros do que entre o s casados. Durkheim
percebeu também que a s taxas de suicídio tendiam
a ser menores durante épocas de guerra e mais
elevadas em alturas de mudança económica ou de
instabilidade.
Estes a d i a d o s levaram Durkheim a concluir que
existem forças sociais externas ao indivíduo que
influenciam as taxas de suicídio. O autor relacionou
a sua explicação com a ideia de solidariedade
social e com dois tipos de laços nasociedade - a 
integração social e a regulação social. Durkheim
acreditava que a s pessoas que estavam solidamen-
te integradas em grupos sociais, e cujos desejos e 
aspirações se regiam pelas normas sociais, tinham
uma menor probabilidade de s e suicidar. Identificou
quatro tipos de suicídio, em função da presença ou
ausência da integração e da regulação
Os suicídios egoístas caracterizam-se por uma
fraca integração na sociedade e ocorrem quando o 
indivíduo es tá sozinhor ou quando os laços que o 
prendem a um grupo estão enfraquecidos ou que-
brados. As baixas taxas de suicídio entre o s católi-
cos, por exemplo, podem explicar-se pela sua forte 
de reciprocidade económica e de mútua dependência gião, são destruídos em larga medida pelo desenvoU
vêm substituir as crenças partilhadas na função de vimento social moderno, o que deixa em muitos indi-
criar um consenso social. víduos das sociedades modernas um sentimento de
No entanto, os processos de mudança no mundo ausência de sentido na sua vida quotidiana,
moderno são de tal maneira rápidos e intensos que Um dos estudos mais famosos de Durkheim (ver
dão origem a problemas sociais importantes. Podem caixa de texto) dizia respeito à análise do suicídio,
ter efeitos dissolventes sobre os estilos de vida tradi- O suicídio parece ser uma acção puramente pessoa],
cionais, a moral, as crenças religiosas e os padrões do o resultado de uma infelicidade pessoal extrema,
quotidiano, sem no entanto fornecerem novos valores O autor mostrou, contudo, que factores sociais exer-
de forma evidente. Durkheim relacionou este contex- cem uma influência fundamental no comportamento
to conturbado com a anomia , um sentimento de suicidário - sendo a anomia uma dessas influências,
ausência de objectivos ou de desespero provocado As taxas de suicídio mostram padrões regulares de
pela vida social moderna. Os padrões e meios de con- ano para ano, e esses padrões devem ser explicados
trolo tradicionais, fornecidos anteriormente pela reli- sociologicamente.
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 11
noção de comunidade social, enquanto que a líber*
dade moral e pessoal dos protestantes significa que
«estão sozinhos» perante Deus. O casamento iun-
ciona como uma protecção em relação ao suicídio,
ao integrar o indivíduo num relacionamento social
estável, ao contrário das pessoas solteiras, que per-
manecem mais isoladas no seio da sociedade.
A menor taxa de suicídios em tempo de guerra,
segundo Durkheim, pode ser vista como um sinal
de uma maior integração social.
O suicídio anómico é causado por uma ausência
de regulação social. Para Durkheim, tal reportava*
-se à s condições sociais de anomia, quando a s
p e s s o a s se vêem «sem normas» em contextos de
mudança súbita ou de Instabilidade na sociedade.
A perda de um ponto de referência fixo no que diz
respeito à s normas e desejos - como sucede em
tempos de convulsões económicas ou de conflitos
pessoais como o divórcio - pode perturbar o equilí-
brio entre a realidade da vida das pessoas e o s
s e u s desejos.
O suicídio altruísta tem lugar quando um indiví-
duo se encontra «excessivamente integrado» - os
vínculos sociais são demasiado fortes - e valoriza
mais a sociedade do que a si próprio. Neste caso, o 
suicídio trànsforrna-se numa espécie de sacrifício
por um «bem maior». Os pilotos kamikase japone-
s e s ou o s «bombistas suicidas» islâmicos são exem-
plos de suicidas altruístas. Para Durkheim, este tipo
de suicídio é característico das sociedades tradicio-
nais, onde prevalece a solidariedade mecânica.
O último tipo de suicídio é o suicídio fatalista. 
Embora para Durkheim este tipo de suicídio fosse
pouco relevante na sociedade contemporânea, o 
autor acreditava que este s e verificava quando um
indivíduo e m excessivamente regulado peta socie-
dade. A opressão do indivíduo traduz-se num senti-
mento de impotência perante o destino ou a socie-
dade.
Embora variem de sociedade para sociedade, a s
taxas de suicídio apresentam padrões reguladores
em cada sociedade ao longo dos anos. Para Dur-
kheim, tal provava que existem forças sociais con-
sistentes que influenciam o comportamento suícidá»
rio. Uma análise das taxas de suicídio revela até
que ponto podem ser identificados padrões sociais
gerais em acções individuais.
Desde a publicação de O Suicídio* foram levan-
tadas muitas objecções a es te estudo de Dur-
kheim, especialmente acerca da sua utilização nas
estatísticas oficiais, da sua rejeição de influências
de carácter não-social sobre o suicídio, e da sua
insistência em classificar em conjunto todos o s
tipos de suicídio. De qualquer maneira, esta obra
continua a ser um estudo clássico e a sua asserção
fundamental permanece válida: mesmo um acto
tão pessoal como o suicídio exige uma explicação
sociológica.
K a r l M a r x
As ideias de Karl Marx (1881-83) contrastam radi-
calmente com as de Comte e Durkheim, embora, tal
como eles, também Marx tenha tentado explicar as
mudanças que ocorriam na época da Revolução
Industrial. As actividades políticas de Marx, quando
jovem, tiveram como consequência um conflito com
as autoridades alemãs; após uma breve estadia em
França, fixou-se, para sempre, no exílio na Grã-Bre-
tanha. Marx assistiu ao aumento do número de fábri-
cas e da produção industrial, bem como às desigual-
dade daí resultantes. O seu interesse pelo movimento
operário europeu e pelas ideias socialistas reflectiu-
-se na sua obra, que abrange uma grande diversidade
de assuntos. A maior parte dos seus escritos centra-se
em questões económicas, mas, como sempre teve
como preocupação relacionar os problemas económi-
cos com as instituições sociais, a sua obra era, e é,
rica em reflexões sociológicas. Mesmo os seus críti-
cos mais implacáveis consideram a sua obra de
importância para o desenvolvimento da Sociologia.
Capitalismo e luta de classes 
Embora escrevesse acerca de várias fases da história,
Marx concentrou-se na mudança nos tempos moder-
nos. Para ele, as mudanças mais importantes estavam
12 O Q U E E A S O C I O L O G I A ?
ligadas ao desenvolvimento do capitalismo - um sis-
tema de produção que contrasta de forma radical com
sistemas económicos historicamente anteriores,
implicando a produção de bens e serviços para serem
vendidos a uma grande massa de consumidores.
O autor identificou dois elementos cruciais nas
empresas capitalistas. O primeiro é o capital - qual-
quer activo, incluindo dinheiro, máquinas, ou mesmo
fábricas, que possa ser usado ou investido para reali-
zar futuros bens. A acumulação do capital está inti-
mamente ligada ao segundo elemento, o trabalho 
assalariado - por tal entende-se o conjunto de traba-
lhadores que não detém a propriedade dos meios de
produção, mas que tem de procurar emprego, forne-
cido pelos que detêm o capital. Marx acreditava que
aqueles que detêm o capital, ou capitalistas, consti-
tuem uma classe dominante, enquanto a grande
massa da população constitui uma classe de trabalha-
dores assalariados, ou classe operária. A medida que
a industrialização se propagou, um grande número de
camponeses, que anteriormente subsistiam do traba-
lho agrícola, mudou-se para as cidades em expansão,
ajudando a formar uma classe operária industrial
urbana. Esta classe de trabalhadores é também apeli-
dada de proletariado. 
Segundo Marx, o capitalismo é inerentemente um
sistema de classes, sendo as relações entre as classes
caracterizadas pelo conflito. Embora os proprietários
do capital e os trabalhadores dependam uns dos
outros - os capitalistas necessitam da mão-de-obra e 
os trabalhadores necessitam dos salários - a depen-
dência é extremamente desequilibrada. O relaciona-
mento entre as classes assenta na exploração, na
medida em que os trabalhadores têm pouco ou
nenhum controlo sobre o seu trabalho e os patrões
têm a possibilidade de gerar lucro apropriando-se do
produto do esforço dos trabalhadores. Marx acredita-
va que o conflito de classes em torno dos recursos
económicos se iria acentuar com a passagem do
tempo.
Mudança social: a concepçãomaterialista 
da história 
A perspectiva de Marx assentava no que denominava
concepção materialista da história. De acordo com
esta perspectiva, não se encontram nas ideias ou nos
valores humanos as principais fontes de mudança
social. Pelo contrário, a mudança social é promovida
acima de tudo por factores económicos. Os conflitos
entre classes fornecem a motivação para os desenvol-
vimentos históricos - eles são o «motor da história».
Nas palavras de Marx, «toda a história humana é, até
à data, a história da luta de classes». Embora o autor
centrasse a maior parte da sua atenção no capitalismo
e na sociedade moderna, analisou igualmente a forma
como as sociedades se desenvolveram ao longo da
história. Segundo Marx, os sistemas sociais transitam
de um modo de produção para outro - às vezes de
forma gradual, outras vezes por via de uma revolução
- em resultado das contradições dos seus sistemas
económicos. O autor delineou uma progressão por
etapas históricas, com início nas sociedades comu-
nistas dos caçadores-recolectores > passando pelos sis-
temas esclavagistas antigos e pelos sistemas feudais
baseados na distinção entre senhores das terras e ser-
vos. A emergência de comerciantes e artesãos marcou
o início de uma classe comercial ou capitalista que
acabou por substituir a nobreza fundiária. De acordo
com esta perspectiva da história, Marx defendeu que
tal como os capitalistas se haviam unido para derru-
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 13
bar a ordem feudal, também os capitalistas seriam
suplantados e uma nova ordem instalada.
Marx acreditava na inevitabilidade de uma revolu-
ção da classe trabalhadora que derrubaria o sistema
capitalista e abriria portas a uma nova sociedade onde
não existissem classes - sem grandes divisões entre
ricos e pobres. Marx não queria dizer que todas as
desigualdades entre os indivíduos iriam desaparecer,
mas que as sociedades não mais iriam ser divididas
entre uma pequena classe que monopoliza o poder
político e económico, por um lado, e, do outro, uma
grande massa de indivíduos que pouco benefício reti*
ram da riqueza gerada pelo seu trabalho. O sistema
económico assentaria na posse comum, sendo estabe-
lecida uma forma de sociedade mais justa do que a 
que conhecemos hoje. Marx acreditava que na socie-
dade do futuro a produção seria mais evoluída e efi-
caz do que na sociedade capitalista.
A obra de Marx teve um efeito de enorme relance
no mundo do século XX. Até muito recentemente,
mais de um terço da população humana vivia em paí-
ses cujos governos reivindicavam ser inspirados
pelas ideias de Marx, como a União Soviética e os
países da Europa de Leste.
Max Weber (1864-192C)
M a x W e b e r
Tal como Marx, Max Weber (1864-1920) não pode
ser simplesmente rotulado como sociólogo; os seus
interesses e preocupações abrangem muitas áreas.
Nascido na Alemanha, onde passou a maior parte da
sua carreira académica, Weber era um indivíduo de
grande erudição. As suas obras cobrem os campos da
Economia, do Direito, da Filosofia e da História
Comparada, bem como da Sociologia. Grande parte
da sua obra dava também particular atenção ao
desenvolvimento do capitalismo moderno e à forma
como a sociedade moderna era diferente de outros
tipos anteriores de organização social. Através de um
conjunto de estudos empíricos, Weber explicitou
algumas das características básicas das sociedades
industriais modernas e identificou debates sociológi»
cos fundamentais, que ainda hoje permanecem cen-
trais para os sociólogos.
Tal como outros pensadores do seu tempo, Weber
tentou compreender a natureza e as causas da mudan-
ça social. Foi influenciado por Marx, mas mostrou-se
também muito crítico em relação a alguns dos princi-
pais pontos de vista de Marx. Weber rejeitou a con-
cepção materialista da história e deu ao conflito de
classes um significado menor do que Marx. Na pers-
pectiva de Weber, os factores económicos eram
importantes, mas as ideias e os valores tinham o 
mesmo impacto sobre a mudança social. Ao contrário
dos primeiros pensadores sociológicos, Weber defen-
deu que a Sociologia devia centrar-se na acção 
social, e não nas estruturas. Argumentava que as
ideias e as motivações humanas eram as forças que
estavam por detrás da mudança - as ideias, valores e 
crenças tinham o poder de originar transformações.
Segundo o autor, os indivíduos têm a capacidade de
agir livremente e configurar o futuro. Ao contrário de
Durkheim ou Marx, Weber não acreditava que as
estruturas existiam externamente aos indivíduos ou
que eram independentes destes. Pelo contrário, as
estruturas da sociedade eram formadas por uma com-
plexa rede de acções recíprocas. A tarefa da Sociolo*
gia era procurar entender o sentido por detrás destas
acções.
Algumas das obras mais importantes de Weber
preocuparam-se com a análise das características
14 O Q U E É A S O C I O L O G I A ?
Uma fundadora esquecida
Embora Comte, Durkheim, Marx e Weber sejam,
sem dúvida alguma, as figuras fundadoras da
Sociologia, existem outros pensadores importantes
do mesmo período histórico cuja contribuição deve
também ser tomada em conta. A Sociologia, como
muitas outras áreas académicas, nem sempre teve
a postura ideal de reconhecer a importância de
cada um dos autores cu|a obra tenha um mérito
intrínseco. No período «clássico» do fim do século
XIX e princípios do século XX, muito poucas
mulheres ou membros de minorias étnicas tiveram
a possibilidade d e s e tornarem sociólogos profis-
sionais á tempo inteiro. Além disso, os poucos que
tiveram a possibilidade de conduzir pesquisas
sociológicas d e importância maior foram muitas
vezes esquecidos pelo meia Gente como Harriet
Martâneau merece a atenção dos sociólogos con-
temporâneos. Harriet Martineau (1802-1876)
próprias da sociedade Ocidental, em comparação
com as outras grandes civilizações. Estudou as reli-
giões da China, índia e Próximo Oriente, e no decor-
rer dessas pesquisas fez grandes contribuições para a 
Sociologia da religião. Comparando os principais sis-
temas religiosos da China e índia com os do Ociden-
te, Weber concluiu que alguns aspectos das crenças
cristãs influenciaram grandemente o aparecimento do
capitalismo. Este não emergira, como Marx acredita-
va, apenas graças às mudanças económicas. Segundo
Weber, os valores e as ideias culturais contribuem
para moldar a sociedade e as nossas acções indivi-
duais.
Um elemento importante da perspectiva sociológi-
ca de Weber era a ideia de tipo ideal - modelos con-
ceptuais ou analíticos que podem ser usados para
compreender o mundo. Na vida real, é raro existirem,
se é que existem, tipos ideais - muitas vezes existem
apenas algumas das suas características. Estas cons-
truções hipotéticas podem, no entanto, revelar-se
muito úteis, na medida em que se pode compreender
qualquer situação do mundo real através da sua com-
paração com um tipo ideal. Desta forma, os tipos
ideais servem como pontos de referência fixos.
É importante sublinhar que por tipo «ideal» Weber
não entendia que essa concepção fosse algo de per-
feito ou desejável, sendo antes uma forma «pura» de
determinado fenómeno. Weber utilizou os tipos
ideais nas suas obras sobre a burocracia e o mercado.
Racionalização
Segundo Weber, a emergência da sociedade moderna
foi acompanhada por importantes mudanças ao nível
dos padrões de acção social. O autor acreditava que
as pessoas estavam a afastar-se das crenças tradicio-
nais baseadas na superstição, na religião, no costume
e em hábitos enraizados. Em vez disso, os indivíduos
envolviam-se cada vez mais em cálculos racionais e 
instrumentais que tinham em consideração a eficiên-
cia e as consequências futuras. Na sociedade indus-
trial, havia pouco espaço para os sentimentos e para
fazer certas coisas só porque sempre tinham sido fei-
tas assim desde há muitas gerações. O desenvolvi-
O O U E E A S O C I O L O G I A ? 15
Harriet Martineau
Harriet Martineau (1802-1876) foi já chamada a 
«primeira mulher socióloga», mas, tal como Marx
ou Weber, não pode ser vista apenas como uma
socióloga.Ela nasceu e cresceu em Inglaterra,
tendo escrito mais de cinquenta livros, bem como
numerosos ensaios. Martineau é hoje considerada
como tendo introduzido a Sociologia na Grã-Breta-
nha, por via da sua tradução da Filosofia Positiva de
Comte, tratado fundador da disciplina (Rossi, 1973).
Além disso, Martineau conduziu um estudo siste-
mático em primeira mão sobre a sociedade ameri-
cana no decurso das suas extensas viagens pelo
interior dos Estados Unidos da América, na década
de 30 do século XIX, das quais resultou o seu livro
A Sociedade na América. A autora tem importância
para os sociólogos de hoje em dia por diversas
razões. Em primeiro lugar, defendia que quando
alguém estuda uma sociedade deve centrar-se em
todos o s s e u s aspectos, incluindo a s principais ins-
tituições politicas, religiosas ou sociais. Em segun-
do lugar, insistia em que a análise de uma socieda-
de deve incluir a vida das mulheres. Em terceiro, foi
a primeira a olhar de uma forma sociológica para
assuntos anteriormente ignorados, como o casa-
mento, a s crianças, a vida pessoal e religiosa, e a s
relações raciais. Como escreveu a autora, «o quar-
to das crianças, o s aposentos femininos, e a cozi-
nha são escolas excelentes, onde podemos ficar a 
conhecer a moral e o s modos de uma povo» (Mar*
tineau, 1962, p. 53). Por último, a autora defendia
que os sociólogos não devem limitar-se apenas a 
observar, mas devem igualmente agir em prol de
uma sociedade. Consequentemente, Martineau foi
uma figura activa tanto na defesa dos direitos das
mulheres como na luta pela emancipação dos
escravos.
mento da ciência, da tecnologia moderna e da buro-
cracia foi colectivamente descrito por Weber como
racionalização - a organização da vida económica e 
social segundo princípios de eficiência e tendo por
base o conhecimento técnico. Se nas sociedades tra-
dicionais a religião e os hábitos enraizados definiam
os valores e as atitudes das pessoas, a sociedade
moderna caracterizava-se pela racionalização de cada
vez mais campos, da política à religião, passando
pela actividade económica.
De acordo com o autor, a Revolução Industrial e a 
emergência do capitalismo eram provas de uma ten-
dência maior no sentido da racionalização. O capita-
lismo não era dominado pelo conflito de classes,
como Marx defendia, mas pelo avanço da ciência e 
da burocracia - organizações de grande dimensão.
Para Weber, o carácter científico era um dos traços
mais característicos do Ocidente. A burocracia, o 
único modo de organizar eficientemente um grande
número de pessoas, expandiu-se com o crescimento
económico e político. O autor utilizou o termo desen» 
caruamento para descrever a forma pela qual o pen-
samento científico no mundo moderno fez desapare-
cer as forças sentimentais do passado.
Weber não era, no entanto, totalmente optimista
em relação às consequências da racionalização.
Temia uma sociedade moderna que fosse um sistema
que, ao tentar regular todas as esferas da vida social,
destruísse o espírito humano. Receava, em particular,
os efeitos potencialmente sufocantes e desumanizan-
tes da burocracia e as suas implicações no destino da
democracia. A agenda do Iluminismo do século
XVIII, da promoção do progresso, da riqueza e da
felicidade através da rejeição da tradição e da supers-
tição em favor da ciência e da tecnologia, produz os
seus próprios perigos.
Olhares sociológicos mais recentes
Os primeiros sociólogos partilhavam o desejo de con-
ferir sentido à sociedade em mudança em que viviam.
Todavia, queriam fazer algo mais do que limitar-se a 
descrever e interpretar os acontecimentos momentâ-
neos do seu tempo. Mais importante do que isso, pro-
16 O Q U E É A S O C I O L O G I A ?
curavam desenvolver formas de estudar o mundo
social que pudessem explicar o funcionamento das
sociedades em geral e a natureza da mudança social.
No entanto, como já pudemos observar, Durkheim,
Marx e Weber utilizaram abordagens muito diferen-
tes entre si nos estudos do mundo social. Por exem-
plo, enquanto Durkheim e Marx se centraram no
poder de forças externas aos indivíduos, Weber adop*
tou como ponto de partida a capacidade que os indi-
víduos têm de agir de forma criativa sobre o mundo
exterior. Enquanto Marx apontava a predominância
das questões económicas, Weber tomou em conside*
ração um leque muito mais vasto de factores que con-
siderou significantes. Tais diferenças de abordagem
têm continuado a veríficar-se ao longo da história da
Sociologia. Mesmo quando os sociólogos estão de
acordo em relação ao objecto da análise, esta é con-
duzida muitas vezes a partir de perspectivas teóricas
diferentes.
Três de entre as mais importantes correntes teóricas
recentes: o funcionalismo, a perspectiva do conflito, e 
o interaccionismo simbólico, estão directamente rela-
cionadas com Durkheim, Marx e Weber, respectiva-
mente (ver figura 1.1). Ao longo da presente (Ara irão
encontrar-se discussões e ideias que derivam destas
abordagens teóricas e lhes servem de ilustração.
Auguste
Comíe
(1798-1857) Kart
Marx
{1816-1803)
t
Êmfte
Duricheim
(1858*1917)
Max
Weber
(1884-1920) George
Herbert Mead
(1863-1931)
t T 
Funcionalismo Marxismo
Interaccionismo
dmbóBco
As linhas contínuas indicam uma influência directa» as s 
linhas a tracejado uma relação indirecta. Mead não é discí- « 
pulo de Weber, ainda que as posições deste último autor - ? 
sublinhando a natureza intencional e significativa da acção ti 
humana - tenham afinidades com os temas estudados peto f 
Interaccionismo Simbólico. í 
Figura 1.1 Abordagens teóricas da Sociologia
F u n c i o n a l i s m o
O funcionalismo defende que a sociedade é um sis-
tema complexo cujas partes se conjugam para garan-
tir estabilidade e solidariedade. Segundo esta pers-
pectiva, a Sociologia, enquanto disciplina, deve
investigar o relacionamento das partes da sociedade
entre si e para com a sociedade enquanto um todo.
Podemos analisar as crenças religiosas e costumes de
uma sociedade, por exemplo, ilustrando a forma
como se relacionam com outras instituições, pois as
diferentes partes de uma sociedade estão intimamen-
te relacionadas entre si.
Estudar a função de uma instituição ou prática
social é analisar a contribuição dessa instituição ou
prática para a continuidade da sociedade. Os funcio-
nalistas, incluindo Comte ou Duricheim, usaram mui-
tas vezes uma analogia orgânica para comparar a 
actividade da sociedade com a de um organismo
vivo. Defendem que, à imagem dos vários compo-
nentes do corpo humano, as partes da sociedade con-
jogam-se em benefício da sociedade enquanto um
todo. Para estudar um órgão humano como o coração
é necessário demonstrar a forma como se relaciona
com outras partes do corpo. Ao bombear sangue pelo
corpo inteiro, o coração desempenha um papel vital
na perpetuação da vida no organismo. Da mesma
forma, analisar a função de um item social significa
demonstrar o papel que desempenha na perpetuação
da existência e prosperidade de uma sociedade.
O funcionalismo enfatiza a importância do con-
senso moral na manutenção da ordem e da estabili-
dade na sociedade. O consenso moral verifica-se
quando a maior parte das pessoas de uma sociedade
partilham os mesmos valores. Os funcionalistas con-
cebem a ordem e o equilíbrio como o estado normal
da sociedade * este equilíbrio social assenta na exis*
tência de um consenso moral entre os membros da
sociedade. Por exemplo, Durkheim acreditava que a 
religião reitera a adesão das pessoas a valores sociais
nucleares, pelo que contribui para a solidez da coesão
social.
Durante um longo período, o pensamento funcio-
nalista foi provavelmente a principal corrente teórica
da Sociologia, em particular nos Estados Unidos da
América. Tanto Talcott Parsons como Robert Merton,
considerados dois dos seus aderentes mais proemi-
nentes, inspiraram-se muito na obra de Durkheim.
O Q U E E A S O C I O L O G I A ? 17
Nos últimos anos a sua popularidade começou a 
decrescer, à medida que as suas limitações vieram ao
de cima. Uma crítica feita recorrentementeao fun-
cionalismo é a de que este realça excessivamente o 
papel de factores que conduzem à coesão social, em
detrimento de factores que produzem conflito e divi-
são. Aênfase na estabilidade e na ordem significa que
as divisões ou as desigualdades - com base em facto-
res como a classe social, a raça ou o género - são
minimizadas. O funcionalismo confere também uma
ênfase menor ao papel da acção social criativa na
sociedade. Para muitos críticos, este tipo de análise
atribui às sociedades atributos que estas não pos-
suem. Os funcionalistas faiaram muitas vezes das
sociedades como se estas tivessem «necessidades» e 
«objectivos», apesar de estes conceitos só fazerem
sentido quando aplicados aos seres humanos.
P e r s p e c t i v a d o C o n f l i t o
Ta) como os funcionalistas, os sociólogos que adop-
taram as teorias de conflito sublinham a importância
das estruturas na sociedade. Defendem também um
«modelo» abrangente para explicar a forma como a 
sociedade funciona. Os teóricos do conflito rejeitam,
no entanto, a ênfase que os funcionalistas dão ao con-
senso. Pelo contrário, preferem sublinhar a importân-
cia das divisões na sociedade. Ao fazê-lo, centram a 
análise em questões de poder, na desigualdade e na
luta. Tendem a ver a sociedade como algo que é com-
posto por diferentes grupos que lutam pelos seus pró-
prios interesses. A existência desta diferença de inte-
resses significa que o potencial para o conflito está
sempre presente e que determinados grupos irão tirar
mais benefício do que outros. Os teóricos do conflito
analisam as tensões existentes entre grupos dominan-
tes e desfavorecidos da sociedade, procurando com-
preender como se estabelecem e perpetuam as rela-
ções de controlo.
Os pontos de vista de muitos teóricos do conflito
remontam aos escritos de Marx, cuja obra enfatizava
o conflito de classes, muito embora outros sejam
igualmente influenciados por Weber. Um bom exem-
plo disto é o sociólogo alemão contemporâneo Raif
Dahrendorf (1929 - ). No clássico Class and Class 
Conflict in Industrial Society (1959), Dahrendorf
defende que os pensadores funcionalistas só tomam
em consideração uma parte da sociedade - aqueles
aspectos da vida social onde existe harmonia e con-
cordância. Mas tão ou mais importantes são os cam-
pos que se caracterizam pelo conflito e pela divisão.
De acordo com Dahrendorf, o conflito surge princi-
palmente do facto de os indivíduos e grupos terem
diferentes interesses. Marx concebia as diferenças de
interesses sobretudo em função das classes, mas Dah-
rendorf relaciona-as de uma forma mais vasta com a 
autoridade e o poder. Em todas as sociedades há uma
separação de interesses entre aqueles que detêm auto-
ridade e aqueles que estão em grande medida excluí-
dos dela, uma separação entre governantes e gover-
nados, portanto.
P e r s p e c t i v a s d a a c ç ã o social
Se o funcionalismo e a perspectiva do conflito colo-
cam a tónica nas estruturas que sustentam a socieda-
de e influenciam o comportamento humano, as teo-
rias da acção social dão uma atenção muito maior ao
papel desempenhado pela acção e pela interacção dos
membros da sociedade na formação dessas estrutu-
ras. Aqui, o papel da Sociologia é visto como sendo
mais o da procura do significado da acção e da inte-
racção social, do que o da explicação das forças
externas aos indivíduos que os compelem a agir da
forma que agem. Se o funcionalismo e as perspecti-
vas do conflito desenvolvem modelos relativos ao
modo de funcionamento global da sociedade, as teo-
rias da acção social centram-se na análise da maneira
como os actores sociais se comportam uns com os
outros e para com a sociedade.
Weber é frequentemente apontado como um dos
primeiros defensores das perspectivas da acção
social. Embora reconhecendo a existência de estrutu-
ras sociais - como as classes, os partidos, os grupos
de prestígio, entre outras Weber afirmava que essas
estruturas eram criadas pelas acções sociais dos indi-
víduos. Esta posição foi desenvolvida de uma forma
mais sistemática pelo interaccionismo simbólico, 
uma corrente de pensamento que se tomou particu-
larmente importante nos Estados Unidos da América.
O interaccionismo simbólico foi apenas influenciado
de forma indirecta por Weber. As suas origens mais
directas residem na obra do filósofo americano G. H.
Mead (1863-1931).
18 O Q U E É A S O C I O L O G I A ?
hUcraccionism o simbólico 
O interaccionismo simbólico nasce de uma preocu-
pação com a linguagem e o sentido. Mead defendia
que a linguagem permite tornarmo-nos seres auto-
conscientes - cientes da nossa própria individualida-
de e capazes de nos vermos a partir de fora, como os
outros nos vêem. Neste processo o elemento-chave
reside no símbolo. Um símbolo é algo que represen-
ta algo. Por exemplo, as palavras que usamos para
aludir a determinados objectos são, na verdade, sím-
bolos que representam o que queremos transmitir.
A palavra «colher» é o símbolo que usamos para des-
crever o utensílio a que recorremos para comer sopa.
Gestos não-verbais ou outras formas de comunicação
são também exemplos de símbolos. Acenar a alguém
ou fazer um gesto grosseiro tem um valor simbólico.
Mead defendia que os seres humanos dependem de
símbolos partilhados e entendimentos comuns nas
suas interacções uns com os outros. Dado os seres
humanos viverem num universo altamente simbólico,
praticamente todas as interacções entre os indivíduos
implicam um fluxo de símbolos.
O interaccionismo simbólico dirige a nossa aten-
ção para os detalhes da interacção interpessoal, e para
a forma como esses detalhes são usados para conferir
sentido ao que os outros dizem e fazem. Os sociólo-
gos influenciados por esta corrente teórica centram
muitas vezes a sua atenção na interacção face-a-face
e nos contextos da vida quotidiana, realçando a 
importância do papel dessas interacções na criação da
sociedade e das suas instituições.
Muito embora a perspectiva interaccionista simbó-
lica possa incluir muitas reflexões em torno da natu-
reza das nossas acções na vida social quotidiana, já
foi criticada por ignorar questões mais amplas rela-
cionadas com o poder e a estrutura na sociedade e a 
forma como ambos servem para constranger a acção
individual.
Conclusão
Como já vimos, a Sociologia engloba uma variedade
de perspectivas teóricas. Por vezes a discordância
entre as diferentes posições teóricas é bastante exten-
sa, mas esta diversidade é um sinal da força e vitali-
dade da disciplina, e não uma fraqueza.
Todos os sociólogos concordam que a Sociologia é 
uma disciplina em que nós pomos de lado os nossos
próprios modos de ver o mundo, para observarmos
cuidadosamente as influências que dão forma às nos-
sas vidas e às dos outros. A Sociologia emergiu, como
um esforço intelectual distinto, com o desenvolvi-
mento das sociedades modernas, e o estudo desse tipo
de sociedades permanece a sua principal preocupação.
Mas os sociólogos estão igualmente interessados num
leque mais vasto de assuntos acerca da natureza da
interacção social e das sociedades humanas em geral.
A Sociologia não é apenas um campo intelectual
abstracto, mas algo que pode ter implicações práticas
importantes na vida das pessoas. Aprender a tornar-
mo-nos sociólogos não devia ser um esforço acadé-
mico aborrecido. A melhor maneira de nos assegurar-
mos que tal não acontece é abordar a disciplina de
uma forma imaginativa e relacionar ideias e conclu-
sões com situações da nossa própria vida.
Uma maneira de fazermos isso é tornarmo-nos
conscientes das diferenças entre os modos de vida que
nós nas sociedades modernas consideramos como
normais e os dos outros grupos humanos. Embora os
seres humanos tenham muito em comum, existem
muitas variações entre diferentes sociedades e cultu-
ras. Veremos algumas dessas semelhanças e diferen-
ças no capítulo seguinte, «Cultura e Sociedade».
1 Pode definir-se a Sociologia como sendo o estudo sistemático das sociedades
humanas, dando ênfase especial aos sistemas modernos, industrializados.
2 A prática da Sociologiaimplica a capacidade para pensar de forma imaginativa e 
nos distanciarmos de ideias preconcebidas acerca da vida social.
3 A Sociologia é uma disciplina com grandes implicações práticas. Pode contribuir
de várias formas para a critica social e para a aplicação de reformas sociais. Para
começar, uma melhor compreensão de um determinado conjunto de circunstân-
cias sociais oferece-nos muitas vezes a possibilidade de o controlar. Ao mesmo
O QUE E A S O C I O L O G I A ? 19
tempo, a Sociologia fornece os meios para melhorarmos a nossa sensibilidade
cultural, criando condições para que as políticas se baseiem numa consciência de
valores culturais diferentes. Em termos práticos, podemos investigar as conse-
quências da adopção de determinadas linhas de orientação política. Por último, e 
talvez o mais importante, a Sociologia permite auto-conhecimento, oferecendo
aos grupos e aos indivíduos mais oportunidades para alterar as condições em que
decorrem as suas próprias vidas.
4 A Sociologia surgiu como uma tentativa para compreender as mudanças radicais
que ocorreram nas sociedades humanas durante os últimos dois ou três séculos.
As mudanças em causa não foram apenas mudanças em grande escala, mas tam-
bém transformações nas características mais pessoais e íntimas da vida das pes-
soas.
5 Entre os fundadores clássicos da Sociologia, quatro figuras são particularmente
importantes: Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Comte
e Marx, que trabalharam em meados do século XIX, estabeleceram algumas das
questões essenciais da Sociologia, mais tarde desenvolvidas por Durkheim e 
Weber. Estas questões dizem respeito à natureza da Sociologia e ao impacto das
mudanças resultantes da modernização no mundo social.
6 Há diversas abordagens teóricas em Sociologia. Se as discussões teóricas são difí-
ceis de solucionar mesmo no caso das ciências naturais, em Sociologia estamos
perante dificuldades acrescidas, dados os problemas complexos que envolvidos
quando se trata de estudar o nosso próprio comportamento.
7 O funcionalismo, a perspectiva do conflito e o interaccionismo simbólico consti-
tuem as principais abordagens teóricas na Sociologia. Existem algumas diferen-
ças básicas entre elas, diferenças que muito influenciaram o desenvolvimento da
disciplina durante o período que se seguiu ao pós-guerra.

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