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Li m ay E di to ra ISSN 0100-7254 Vo l 4 6 - n º2 - 2 01 8 Publicação oficial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia REVISTA CONTEMPORÂNEA DE GO Recados do TEGO e da Residência Médica Veja os planos das Comissões em busca de maior excelência e competência Imunização é prática essencial Artigo CNEs justifica esta importância na gravidez, puerpério e amamentação Novos textos para seu conhecimento Violência na gestação (perfil do agressor), Doppler no CIUR e atualização Essure® Seus direitos e depoimento Associada ganha recurso e por que abandonei a Obstetrícia Crescem a prevalência e a resistência antimicrobiana. Como enfrentar? N. gonorrhoeae no Brasil e no mundo 71Femina®. 2018; 46(1): 000-000 Nova FEBRASGO Diretoria P R E S I D E N T E César Eduardo Fernandes (SP) D I R E T O R A D M I N I S T R A T I V O / F I N A N C E I R O Corintio Mariani Neto (SP) D I R E T O R C I E N T Í F I C O Marcos Felipe Silva de Sá (SP) D I R E T O R D E D E F E S A E V A L O R I Z A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L Juvenal Barreto Borriello de Andrade (SP) V I C E - P R E S I D E N T E D A R E G I Ã O C E N T R O - O E S T E Alex Bortotto Garcia (MS) V I C E - P R E S I D E N T E D A R E G I Ã O N O R D E S T E Flávio Lucio Pontes Ibiapina (CE) V I C E - P R E S I D E N T E D A R E G I Ã O N O R T E Hilka Flávia Espirito Santo (AM) V I C E - P R E S I D E N T E D A R E G I Ã O S U D E S T E Agnaldo Lopes da Silva Filho (MG) V I C E - P R E S I D E N T E D A R E G I Ã O S U L Maria Celeste Osório Wender (RS) P R E S I D Ê N C I A Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 3421 - conj. 903 CEP 01401-001 - São Paulo - SP - Tel. (011) 5573-4919 S E C R E T A R I A E X E C U T I V A Avenida das Américas - 8.445 - sala 711 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22793-08 Tel. (21) 2487-6336 - Fax (21) 2429-5133 www.febrasgo.org.br editorial.office@febrasgo.org.br --------------- Femina® é uma revista disponível para os sócios da FEBRASGO Produção de Conteúdo/Projetos Especiais e de Comercialização. Tel. (11) 4858-2392 - assef@limay.com.br - Diretor-Presidente: José Carlos Assef - Editor: Walter Salton Vieira/ MTB 12.458 - Diretor de Arte: Andre Chiodo Silva - Tiragem: 15.000 exemplares. Cartas Redação: Rua Geórgia, 170 - Brooklin - São Paulo - SP - CEP: 04559-010 - e-mail: editora@limay.com.br. Não é permitida reprodução total ou parcial dos artigos, sem prévia autorização da Revista Femina®. ISSN 0100-7254 C O R P O E D I T O R I A L Editor-Chefe Sebastião Freitas de Medeiros Coeditor Gerson Pereira Lopes Editor Científico de Honra Jean Claude Nahoum Ex-Editores-Chefes Jean Claude Nahoum Paulo Roberto de Bastos Canella Maria do Carmo Borges de Souza Carlos Antonio Barbosa Montenegro Ivan Lemgruber Alberto Soares Pereira Filho Mário Gáspare Giordano Aroldo Fernando Camargos Renato Augusto Moreira de Sá Li m ay E di to ra ISSN 0100-7254 Vo l 4 6 - n º2 - 2 01 8 Publicação oficial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia REVISTA CONTEMPORÂNEA DE GO Recados do TEGO e da Residência Médica Veja os planos das Comissões em busca de maior excelência e competência Imunização é prática essencial Artigo CNEs justifica esta importância na gravidez, puerpério e amamentação Novos textos para seu conhecimento Violência na gestação (perfil do agressor), Doppler no CIUR e atualização Essure® Seus direitos e depoimento Associada ganha recurso e por que abandonei a Obstetrícia Crescem a prevalência e a resistência antimicrobiana. Como enfrentar? N. gonorrhoeae no Brasil e no mundo #2 Publicação oficial da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia REVISTA CONTEMPORÂNEA DE GO 72 C O N S E L H O E D I T O R I A L FEMINA® não é responsável por afirmações contidas em artigos assinados, cabendo aos autores total responsabilidade pelas mesmas. Aderson Tadeu Berezowski (São Paulo) Agnaldo Lopes da Silva Filho (Minas Gerais) Alberto Carlos Moreno Zaconeta (Distrito Federal) Alex Sandro Rolland de Souza (Pernambuco) Almir Antonio Urbanetz (Pará) Ana Bianchi (Uruguai) Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva (São Paulo) Angela Maggio da Fonseca (São Paulo) Antonio Carlos Vieira Lopes (Bahia) Antonio Chambô Filho (Espírito Santo) Aurélio Antônio Ribeiro da Costa (Pernambuco) Bruno Ramalho de Carvalho (Distrito Federal) Carlos Augusto Faria (Rio de Janeiro) César Eduardo Fernandes (São Paulo) Claudia Navarro Carvalho D. Lemos (Minas Gerais) Coridon Franco da Costa (Espírito Santo) Corintio Mariani Neto (São Paulo) Cristiane Alves de Oliveira (Rio de Janeiro) Dalton Ávila (Equador) David Barreira Gomes Sobrinho (Distrito Federal) Denise Araújo Lapa Pedreira (São Paulo) Denise Leite Maia Monteiro (Rio de Janeiro) Edmund Chada Baracat (São Paulo) Eduardo Sérgio V. Borges da Fonseca (Paraíba) Eduardo de Souza (São Paulo) Edson Nunes de Morais (Rio Grande do Sul) Eduardo Leme Alves da Motta (São Paulo) Fabrício Costa (Austrália) Fernanda Campos da Silva (Rio de Janeiro) Fernanda Polisseni (Minas Gerais) Fernando Maia Peixoto Filho (Rio de Janeiro) Fernando Marcos dos Reis (Minas Gerais) Fernando Monteiro de Freitas (Rio Grande do Sul) Frederico José Amedeé Péret (Minas Gerais) Frederico José Silva Corrêa (Distrito Federal) Garibalde Mortoza Junior (Minas Gerais) Geraldo Duarte (São Paulo) Gian Carlo Di Renzo (Itália) Hélio de Lima Ferreira F. Costa (Pernambuco) Henrique Moraes Salvador Silva (Minas Gerais) Hugo Miyahira (Rio de Janeiro) Ione Rodrigues Brum (Amazonas) Jorge de Rezende Filho (Rio de Janeiro) José Eleutério Júnior (Ceará) José Geraldo Lopes Ramos (Rio Grande do Sul) José Mauro Madi (Rio Grande do Sul) José Mendes Aldrighi (São Paulo) Julio Cesar Rosa e Silva (São Paulo) Juvenal Barreto B. de Andrade (São Paulo) Karen Soto Perez Panisset (Rio de Janeiro) Laudelino Marques Lopes (Canadá) Laudelino de Oliveira Ramos (São Paulo) Luciano Marcondes Machado Nardozza (São Paulo) Luciano de Melo Pompei (São Paulo) Luiz Camano (São Paulo) Luiz Gustavo Oliveira Brito (São Paulo) Luiz Henrique Gebrim (São Paulo) Manoel João Batista Castello Girão (São Paulo) Marcelo Zugaib (São Paulo) Marco Aurélio Albernaz (Goiás) Marco Aurélio Pinho de Oliveira (Rio de Janeiro) Marcos Felipe Silva de Sá (São Paulo) Maria do Carmo Borges de Souza (Rio de Janeiro) Marilza Vieira Cunha Rudge (São Paulo) Mário Dias Corrêa Jr. (Minas Gerais) Mário Palermo (Argentina) Mario Silva Approbato (Goiás) Mario Vicente Giordano (Rio de Janeiro) Mary Ângela Parpinelli (São Paulo) Masami Yamamoto (Chile) Mauri José Piazza (Paraná) Maurício Simões Abrão (São Paulo) Miguel Routi (Paraguai) Olímpio Barbosa de Moraes Filho (Pernambuco) Paulo Roberto Nassar de Carvalho (Rio de Janeiro) Rafael Cortes-Charry (Venezuela) Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar (Minas Gerais) Renato de Souza Bravo (Rio de Janeiro) Ricardo de Carvalho Cavalli (São Paulo) Roberto Eduardo Bittar (São Paulo) Roberto Noya Galuzzo (Santa Catarina) Rosa Maria Neme (São Paulo) Rossana Pulcineli Vieira Francisco (São Paulo) Roseli Mieko Yamamoto Nomura (São Paulo) Rosiane Mattar (São Paulo) Sabas Carlos Vieira (Piauí) Sérgio Flávio Munhoz de Camargo (Rio Grande do Sul) Silvana Maria Quintana (São Paulo) Soubhi Kahhale (São Paulo) Suzana Maria Pires do Rio (Minas Gerais) Tadeu Coutinho (Minas Gerais) Vera Lúcia Mota da Fonseca (Rio de Janeiro) Vicente Renato Bagnoli (São Paulo) Walquiria Quida Salles Pereira Primo (Distrito Federal) Wellington de Paula Martins (São Paulo) Zuleide Aparecida Félix Cabral (Mato Grosso) 73 E D I T O R I A L Nesse volume, Femina® traz a você vários textos interessantes. A possível falha no tratamento da gonorreia por resistência do agente causal aos antimicrobianos é assunto de capa. Claro que esse espaço é dado pela sua relevância na nossa prática clínica diária. Naseção CNEs, a Comissão Especializada de Vacinas da Febrasgo atualiza os principais aspectos relacionados à imunização em todo o ciclo grávido puerperal e lactação. Há um texto fascinante acerca do que é ser obstetra na essência da palavra. O texto disseca alegrias, frustrações e mostra por que muitos de nós abandonamos a obstetrícia, apesar do primeiro amor na escolha da especialidade. Femina® revisa ainda os aspectos relacionados à violência na gestação, o papel do Doppler na avaliação do crescimento fetal restrito e a elegância da esterilização tubária histeroscópica. Em texto precioso, a tolerância materna ao implante do embrião é descrita com a leveza de um filósofo. Femina® traz também duas entrevistas esclarecedoras. A primeira é com o Presidente da Comissão Nacional de Residência Médica da Febrasgo, respondendo a várias questões pensadas na formatação das matrizes de competência, destacando sua importância para os programas e dificuldades atuais, e habituais, na avaliação. Mais importante, aponta caminhos para a primazia técnica e equalização da residência médica em GO por todo o país. A segunda é com a Presidente da Comissão do TEGO, que comenta o grande esforço de mobilização dos seus membros para o fortalecimento dos conteúdos das questões teóricas e práticas a serem aplicadas aos futuros especialistas. Um desafio permanente pois com a popularização do uso da internet, por exemplo, as pacientes acabam incorporando conceitos de saúde sem base cientifica, cabendo aos GOs a missão do esclarecimento ético e técnico. Boa leitura! E esperamos suas sugestões de pauta pelo e-mail editorial.office@febrasgo.org.br. Sebastião Freitas de Medeiros Editor-Chefe de Femina® Reforçando nosso papel de informar e de promover conhecimentos MATÉRIA DE CAPA A resistência da Neisseria gonorrhoeae a antimicrobianos na prática clínica é um desafio em escala mundial. Artigo mostra visão contemporânea sobre o tema e como o Brasil está neste contexto. 110. O feto é um ser alogênico de sucesso 115. Violência na gestação:prevalência e perfil do agressor 124. Papel do Doppler no ducto venoso na restrição do crescimento intrauterino 131. Esterilização tubária histeroscópica – uma atualização sobre o dispositivo Essure® ARTIGOS DE REVISÃO 110 ARTIGOS CNEs 90 Imunização na gravidez, puerpério e amamentação: o papel essencial desempenhado pelos GOs Depoimento Relato importante de quem deixou de ser Obstetra98 COMISSÃO TEGO Confira as principais mudanças desta tradicional prova da especialidade 100 COMISSÃO DE RESIDÊNCIA MÉDICA Conheça as novidades propostas para residentes, preceptores e supervisores 104 Í N D I C E 76 74 Vol. 46 - n º2 - 2018 75 I N F O R M E F E B R A S G O No dia 2 de fevereiro, o STJ anulou o acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e reconheceu que a Justiça Estadual de Minas Gerais - que já definiu e validou a cobrança destes honorários médicos - é o fórum adequado para a discussão do tema. Na ocasião, o Ministro do STJ declarou também que a Justiça Federal é incompetente para processar e julgar esse tipo de ação, excluindo a Agência Nacional de Saúde (ANS) do processo judicial. A decisão reforça que essa é uma questão privada dos ginecologistas e obstetras mineiros e representa um capítulo importante da luta pela disponibilidade obstétrica, que teve início em 2004 e várias etapas judiciais. Vale ressaltar, no entanto, que essa não é uma decisão definitiva e cabe recursos. O próximo passo é conseguir vencer o processo no recurso apresentado ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a fim de que seja reafirmada a permissão para que o médico, ao fazer o livre exercício de sua profissão, possa cobrar seus honorários de forma transparente e honesta. A SOGIMIG defende que não há nada de indevido quando a gestante deseja escolher um médico específico para auxiliá-la no seu parto, desde que essa decisão seja acordada nas primeiras consultas do pré-natal. O atendimento personalizado com a escolha de horários além dos estabelecidos previamente integra a medicina privada e, por isso, a precificação é de autonomia de cada profissional. É função do médico pré-natalista deixar claro para o casal que a contratação é voluntária, esclarecendo todas as dúvidas, inclusive o valor destes honorários. O pré-natal será feito da mesma forma, com a anotação dos dados relevantes sobre a evolução da gestação no cartão de pré-natal, as orientações e discussões sobre o parto e, até mesmo, a visita à maternidade escolhida para o parto. Defendemos que os honorários médicos do parto (vaginal ou cesárea) podem ser pagos pelas Operadoras aos médicos credenciados, conforme as negociações e as previsões da CBHPM (Classificação Hierarquizada de Procedimentos Médicos). Mas a Disponibilidade Obstétrica é um honorário médico distinto e separado, que remunera o sobreaviso permanente do Obstetra ao longo de uma gestação, quando combinado e acordado com sua paciente. Por ser de livre escolha, as Operadoras de Planos de Saúde não são responsáveis por oferecer a cobertura assistencial e não devem ser responsabilizadas pelo reembolso destes valores. Em Belo Horizonte e em outras cidades mineiras, essa relação ocorre, na maioria das vezes, sem problemas e é isso que devemos buscar: uma relação transparente que garanta a opção de escolha, contribuindo para que cada paciente opte pela forma da assistência médica que quer em seu parto. Carlos Henrique Mascarenhas Silva Presidente - SOGIMIG SOGIMIG vence etapa importante na luta pela disponibilidade obstétrica A SOGIMIG (Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais) comemora vitória no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em relação à disponibilidade obstétrica. Vol. 46 - n º2 - 2018 76 M A T É R I A D E C A P A Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 Resumo Estima-se que um milhão de infecções sexualmen- te transmissíveis (IST) sejam adquiridas por dia no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Elas podem ser causadas por diversos micro-orga- nismos pelo contato sexual. Embora tratáveis, as infecções, como a clamidiana, sífilis, tricomonía- se e gonorreia, são responsáveis por 350 milhões de novos casos de IST anualmente no mundo. A gonorreia é a segunda IST bacteriana mais preva- lente no planeta e tem chamado atenção nos úl- timos anos em decorrência da baixa eficácia em seu tratamento. O agente etiológico é a Neisseria gonorrhoeae. Na maioria das mulheres, a infecção por esse micro-organismo é assintomática, dificul- tando ainda mais seu diagnóstico e tratamento e, portanto, aumentando o risco de desenvolvimento de suas complicações associadas. Mesmo quando diagnosticada, essa infecção está sujeita a um alto índice de insucesso terapêutico que se deve, prin- cipalmente, à grande plasticidade genética da N. gonorrhoeae para aquisição de genes cromossô- micos ou plasmidiais de resistência. O aumento da resistência desse micro-organismo a antimicrobia- nos comumente utilizados no tratamento, como penicilina, tetraciclina e ciprofloxacina, tem sido relatado em diversos países. No Brasil, poucos estu- dos estão disponíveis, mas em alguns estados já fo- ram relatadas linhagens resistentes à ciprofloxaci- na. Dessa forma, deve-se ressaltar a importância de novos estudos que visem descrever o perfil da re- sistência da N. gonorrhoeae a antimicrobianos. Tais achados certamente nortearão a implementação de sistemas de vigilância epidemiológica no país visto que, até o momento, as infecções por N. go- norrhoeae sequer estão incluídas na lista nacional de doenças e agravos de notificação compulsória. Descritores: Neisseria gonorrhoeae; Gonorreia; Resistência; Antimicrobianos; IST Abstract According to the World Health Organization, appro- ximately one million sexually transmitted infections (STI) are acquired daily in the world. These infec- tions can be caused by several microorganisms via sexual contact. The treatable STI, such as chlamydia,syphilis, trichomoniasis and gonorrhea, account for 350 million new cases of STI each year worldwide. Gonorrhoea is caused by Neisseria gonorrhoeae and is the second most common bacterial STI in the world. It has drawn more attention in the last ye- ars due to the low efficacy in its treatment. Most women with this infection are asymptomatic, whi- ch makes its diagnosis and treatment troublesome increasing the risk for its associated complications. Even when diagnosed, this infection is subject to a high rate of therapeutic failure mainly due to the great genetic plasticity of N. gonorrhoeae for the Resistência de Neisseria gonorrhoeae a antimicrobianos na prática clínica: como está o Brasil? Antimicrobials resistance of Neisseria gonorrhoeae in clinical practice: where Brazil stands? Thaiz Fernandes1, Fernando Bortolozzi1, Keite Nogueira1, Camila Marconi1, Cristina Leise Bastos Monteiro1 1. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil. Autor correspondente: Thaiz Fernandes. Rua XV de Novembro, 1299, 80060-000, Cen- tro, Curitiba, PR, Brasil. thaizf7@gmail.com. Data de Submissão: 29/09/2017. Data de Aprovação: 24/11/2017. Fernandes T, Bortolozzi F, Nogueira K, Marconi C, Monteiro CL 77Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 tos com assistência à saúde, tanto de forma direta para o diagnóstico e tratamento, mas também para o manejo das diversas consequências oriundas dessas infecções como a infertilidade, mau desfe- cho gestacional, infecções perinatais e morte. O impacto social é inquestionável, visto que os por- tadores de IST podem se sentirem estereotipados, envergonhados e vulneráveis, o que prejudica a saúde psicológica dos mesmos, além dessas infec- ções estarem associadas à violência de gênero e doméstica.(1-4) Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente um milhão de IST são adquiridas por dia em todo o mundo. Destas, estima-se que, por ano, 357 milhões sejam novos casos de IST tra- táveis, como sífilis, infecção clamidiana, tricomonía- se e gonorreia.(5) As primeiras linhas de tratamento preconizadas para a maioria dessas infecções são efetivas, com exceção da gonorreia, cujo agente etiológico é a Neisseria gonorrhoeae. Nas últimas décadas, muitos autores têm apontado para a emergência de linhagens resistentes aos antimi- crobianos mais utilizados para seu tratamento; por este fato, a gonorreia vem se tornando um proble- ma de saúde pública em muitos países.(6-8) IST: 350 milhões de novos casos/ ano pelo mundo acquisition of chromosomal or resistance plasmid genes. Increased resistance of this microorganism to antimicrobials commonly used in treatment such as penicillin, tetracycline and ciprofloxacin has been reported in several countries. In Brazil, few studies are available, but in some states strains re- sistant to ciprofloxacin were already reported. The- refore, it is important to highlight the importance of new studies aimed at describing the resistance profile of N. gonorrhoeae to antimicrobials in Bra- zil context. These findings will certainly guide the implementation of epidemiological surveillance systems in the country, since until now N. gonor- rhoeae infections do not figure into the national list of compulsorily notifiable diseases. Keywords: Neisseria gonorrhoeae; Gonorrhea; Re- sistance; Antimicrobials; STI Infecções Sexualmente Transmissíveis As infecções sexualmente transmissíveis (IST) po- dem ser causadas por diversas espécies de bacté- rias, vírus e protozoários adquiridas pelo contato sexual. Tais infecções acarretam o aumento de gas- 78 M a t é r i a d e C a p a pulsória. Dessa forma, as informações disponíveis atualmente são baseadas em estudos envolvendo determinadas parcelas da população, o que certa- mente não reflete o cenário do território brasileiro. Patogênese A N. gonorrhoeae infecta tanto homens como mu- lheres e tem uma afinidade às células da uretra e colunares da endocérvix, respectivamente. Para que a adesão a tais células seja realizada com su- cesso, o micro-organismo deve resistir à remoção mecânica pelo fluxo urinário e da secreção cervical. Diversas estruturas presentes na superfície da célu- la bacteriana conferem essa grande capacidade de adesão da N. gonorrhoeae. Dentre elas, devem ser mencionadas as pili tipo VI, as proteínas da família Opa e as porinas.(13) Após essa etapa inicial de adesão às células do hos- pedeiro, o micro-organis- mo inicia seu processo de invasão tecidual pelo pro- cesso de transcitose me- diada pelas proteínas Opa. (14) Dessa forma, a infecção, ora restrita às células epi- teliais da superfície, atinge a lâmina própria e o espaço intraepitelial. Nesse local, será reconhecido pelas células inflamatórias, ativando a liberação do fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa). A liberação desse mediador acarre- tará o processo de apoptose das células epiteliais levando, portanto, à lesão tecidual local. Além dis- so, o TNF-alfa deflagra a liberação de citocinas no local, dentre as quais se deve destacar o papel da interleucina-8, que é responsável pela quimiotaxia neutrofílica para o local. Dessa forma, instala-se um processo infeccioso piogênico no local. O principal mecanismo de resistência à fagocitose se dá pela sinalização da molécula de lipoligossacarídeo (LOS) presente na membrana externa do micro-organismo, dificul- tando, portanto, seu reconhecimento pelas células do sistema imune.(13) Embora as evidências do aumento da resistência da N. gonorrhoeae sejam achados relativamente novos, a infecção causada por esse agente é uma das do- enças mais antigas da Humanidade. São relatados si- nais clínicos e sintomas compatíveis com processos infecciosos associados a essa bactéria desde o Anti- go Testamento da Bíblia. Tal infecção acompanhou a história da Humanidade e atualmente ocupa, se- gundo a OMS (2008),(3) a segunda posição dentre as IST bacterianas mais prevalentes no planeta. Epidemiologia A prevalência das infecções por N. gonorrhoeae é a segunda mais alta dentre as IST bacterianas, sendo o primeiro lugar ocupado pelas infecções por Chlamy- dia trachomatis. Durante 2005 a 2008, o número mundial de casos reportados de infecções gono- cócicas aumentou em 21% em adultos entre 15 e 49 anos. Além disso, estimou- -se que ocorreram 106,1 milhões de casos novos de infecção por N. gonorrhoeae em 2008 no mundo. Tal inci- dência varia de acordo com as diferentes regiões geo- gráficas, sendo que a região do Pacífico Ocidental, que abriga países como Cam- boja, Vietnã, Filipinas, República da Coreia, os quais possuem um baixo índice de desenvolvimento eco- nômico, possui a maior incidência com 42 milhões de novos casos em 2008.(3) Com relação à prevalência mundial da infecção por N. gonorrhoeae, ela é estimada em 0,8%.(9) A comparação dessa prevalência com aquela encon- trada no Brasil é dificultada pelos poucos estudos disponíveis, bem como seus resultados conflitan- tes, variando entre 0,7% e 18% de infecções por N. gonorrhoeae em homens e mulheres em diversos estudos realizados no país.(10-12) A escassez de in- formação acerca da epidemiologia das infecções por N. gonorrhoeae também se deve ao fato de tais infecções não serem compreendidas na lista na- cional de doenças e agravos de notificação com- Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 Estima-se em 8% a prevalência mundial da doença. No Brasil, varia entre 0,7% e 18%. 79 A sintomatologia da gonorreia é principalmente decorrente da inflamação dos epitélios uretrais e endocervicais. No homem, os sintomas de disúria e secreção purulenta estão presentes em 90% dos casos.(15) Entretanto, as mulheres são majoritaria- mente assintomáticas, visto que o principal achado é a presença de uma secreção purulenta endocer- vical, que é frequentemente interpretada como um corrimento vaginal inespecífico. A porcentagem de mulheres assintomática varia entre 50 e 80% dos casos.(16) Como consequência, o não reconhe- cimento e tratamento adequado dessacondição pode permitir sua evolução na infecção do trato genital para quadros de maior severidade como: doença inflamatória pélvica, gravidez ectópica, aborto, oftalmia neonatal, infertilidade e infecção gonocócica disseminada.(2,6,8,17) Microbiologia Neisseria gonorrhoeae é um diplococo Gram-nega- tivo levemente achatado em uma das extremida- des, conferindo um aspecto reniforme típico, que infecta principalmente as células do trato genital inferior e, em casos mais raros, o epitélio do reto, orofaringe e conjuntiva.(18) A observação de esfre- gaços confeccionados diretamente de materiais clínicos evidencia a presença de tais diplococos tanto no ambiente extracelular quanto no interior de neutrófilos, sendo que sua presença sempre é considerada patogênica, independentemente do local de isolamento. São micro-organismos aeróbios podendo crescer em condições anaeróbias se houver baixas con- centrações de um aceptor alternativo de elétrons, não formam esporos, não possuem cápsula dife- renciando-a da espécie de N. meningitides e têm, como principais fatores de virulência, estruturas envolvidas na adesão ao epitélio do hospedeiro.(19) Os pili e fímbrias apresentam um papel fundamen- tal na adesão gonocócica ao epitélio do trato geni- tal inferior dos hospedeiros. Além disso, a presença e a movimentação dos pili conferem uma capaci- dade de invasão ao epitélio e vantagens na aquisi- ção de material genético exógeno. Os pili tipo IV são um dos fatores de virulência mais importantes da N. gonorrhoeae, constituídos prin- cipalmente por subunidades de proteína, a pilina, arquitetada em uma fibra helicoidal polimérica que possui aproximadamente 6 a 8 nm de largura e al- guns micrometros de comprimento.(19-21) Essa estru- Fernandes T, Bortolozzi F, Nogueira K, Marconi C, Monteiro CL Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 80 M a t é r i a d e C a p a tura extracelular está relacionada com a motilidade, transformação, formação de biofilmes, aderência e sinalização celular.(22) Para a realização dessas ações, é necessário a retra- ção física dos pili, a qual é promovida por meio de seis subunidades de ATP-ases associadas à proteína PilT. A hidrólise de ATP pelas subunidades ocasiona alterações conformacionais do hexâmero que li- bera energia mecânica.(23,24) Muitas pesquisas mos- tram que a N. gonorrhoeae mutante com ausência de PiIT é incapaz de se movimentar, de sofrer a transformação de DNA e formar biofilmes.(25,26) Somado a isso, a ausência dos pili impede a formação de colônias gonocócicas, pois o principal mecanismo de agregação das mesmas é por meio da comunicação pili-pili, o que prejudica as primeiras etapas da forma- ção de biofilmes.(27) A influ- ência dos pili tipo IV na ade- são e sinalização celular foi comprovada pelo estudo de Plant e Jonsson (2006),(28) no qual confirmaram que linhagens gonocócicas pilli- -positivas possuem uma maior interação, ativação e proliferação dos leucócitos T CD4+, estimulando a produção de interleucina-10. Em suma, o pili são estruturas extracelulares multifuncionais na qual sua ausência influencia diretamente na perda da infectividade da N. gonorrhoeae sobre as células do hospedeiro.(29,30) Em relação ao seu metabolismo energético, a res- piração celular é realizada com a participação da enzima citocromo oxidase que, juntamente com a capacidade de produção da enzima catalase, é útil para a rápida identificação dessa espécie na rotina dos laboratórios de microbiologia clínica, visto que tais características as diferenciam de outros cocos Gram-negativos.(31,32) Provas bioquímicas também auxiliam na identificação da N. gonorrhoeae por di- ferenciá-la de outras espécies de Neisseria em de- corrência da capacidade da bactéria em fermentar diversos carboidratos, produzindo ácido com au- sência de gás.(19,32) Quanto à sua sobrevivência no ambiente, tal espé- cie é extremamente lábil, pois torna-se suscetível ao ressecamento, temperatura, incidência de luz ultravioleta, desinfetantes, quimioterápicos, dentre outros agentes estressantes.(19) Tal labilidade deve ser levada em conta durante a fase de coleta e transporte de materiais clínicos, visto que, se não observados os devidos cuidados, a análise micro- biológica resultará em casos falso-negativos. Além disso, a N. gonorrhoeae é exigente nutricionalmente e, portanto, apresenta me- lhor crescimento em meios de culturas ricas em subs- tâncias complexas, como sangue ou proteínas de animais.(19) Dessa forma, tal espécie apresenta desvan- tagens competitivas com outros micro-organismos presentes na microbiota do hospedeiro. Sendo assim, meios de cultura seletivos são utilizados para sua recuperação a partir de materiais clínicos polimicrobianos. Os principais meios utilizados são Thayer-Martin ou Martin- -Lewi, que, suplementados com os antimicrobia- nos vancomicina, colistina e nistatina, suprimem o crescimento das espécies encontradas na micro- biota do indivíduo, favorecendo a recuperação da N. gonorrhoeae.(33) Em contrapartida, os produtos tóxicos derivados do meio de cultivo, como ácido graxo ou sais, podem inibir a N. gonorrhoeae facilmente, dificultando o pro- cesso de identificação da mesma. As culturas gono- cócicas devem ser incubadas entre 35°C e 37°C em uma atmosfera constituída de 10% de CO 2 durante 18 a 24 horas; se o tempo de incubação exceder 48 horas, poderá ocorrer o processo de autólise da N. gonorrhoeae, pois a mesma não consegue sobreviver em cultura por períodos prolongados.(19,32) A vigilância ineficaz da bactéria in vitro e falhas terapêuticas clínicas ocasionam a seleção inadequada de antimicrobianos Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 81 Resistência a antimicrobianos Os isolados de Neisseria gonorrhoeae foram origi- nalmente descritos com alta susceptibilidade para muitas classes de antimicrobianos, e vários com- postos já foram utilizados para tratar a gonorreia de forma eficaz. No entanto, desde que os primeiros agentes antimicrobianos, as sulfonamidas, foram adotados como estratégia de tratamento, a N. go- norrhoeae demonstrou uma grande capacidade de desenvolver resistência a tais antimicrobianos, bem como aos posteriormente introduzidos na rotina clínica.(34) Isso se deve principalmente à habilidade da N. go- norrhoeae em alterar o seu material genético, uma vez que é naturalmente competente para a trans- formação de todo o seu ciclo de vida. Além disso, pode efetivamente ter seu genoma alterado por mutações e, inclusive, adquirir plasmídeos por con- jugação.(6) A grande plasticidade genética desse micro-orga- nismo contribui para aquisição de genes determi- nantes da resistência a antimicrobianos. Tais ge- nes podem estar localizados em cromossomos ou plasmídeos. As alterações cromossômicas afetam frequentemente os “sítios-alvos” dos antimicrobia- nos ou o funcionamento das porinas e bombas de efluxo, enquanto que os plasmídeos podem conter genes que codificam enzimas modificado- ras de antimicrobianos, entre outros.(35) Assim, verifica-se que a N. gonorrhoeae evoluiu, ad- quirindo ou desenvolvendo quase todos os meca- nismos fisiológicos conhecidos de resistência aos antimicrobianos recomendados e/ou utilizados para tratamento, por exemplo, (i) destrui- ção ou modificação antimicrobiana por meios enzimáticos, (ii) modificação ou proteção do alvo com redução da afinida- de pelos antimicrobianos, (iii) redução da permeabilidade e (iv) aumento do efluxo de antimicrobianos.(34) Atualmente, a prevalência internacional de resistência em N. gonorrhoeae é ele- vada para todos os antimicrobianos previamente utilizados para o tratamento, incluindo sulfona- midas, penicilinas, tetraciclinas, fluoroquinolonas, bem como cefalosporinas e macrolideos. Além disso, a prevalência de linhagens gonocócicas multirresistentes (MDR) aumentou substancial- mente durante a última década.(6) Além da capacidade intrínseca de evolução do micro-organismo, podem ter contribuídopara a emergência da resistência antimicrobiana na N. gonorrhoeae o uso excessivo e indevido de antimi- crobianos. As espécies comensais de Neisseria spp., frequentemente, habitam o corpo humano e, con- sequentemente, são expostas, com maior incidên- cia, aos antimicrobianos do que a N. gonorrhoeae. Assim, a resistência pode emergir inicialmente nas espécies comensais de Neisseria, que atuam como um reservatório de genes de resistência, podendo ser facilmente transferidas para N. gonorrhoeae atra- vés de transformação, particularmente na gonor- reia faríngea.(34,36) Além disso, a vigilância ineficaz de N. gonorrhoeae in vitro e de falhas terapêuticas clínicas são, provavelmente, uma causa de seleção e de uso inadequado de antimicrobianos.(6,34) A persistência também pode ser favorecida pelo fato de determinantes de resistência não afetarem significativamente a aptidão biológica, podendo, em alguns casos, tornarem os clones resistentes mais bem sucedidos na transmissão e virulência que os sensíveis.(37,38) Por exemplo, estudos em mu- rinos mostraram que a N. gonorrhoeae possuem aumento da expressão da bomba de efluxo de re- sistência a múltiplos fármacos MtrC-MtrD-MtrE de- vido à maior atividade do promotor da transcrição Fernandes T, Bortolozzi F, Nogueira K, Marconi C, Monteiro CL Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 82 M a t é r i a d e C a p a (MtrA), ou que a deleção do repressor (MtrR) apre- sentaram aumento de aptidão em comparação com N. gonorrhoeae de tipo selvagem.(38) De forma semelhante, as mutações em gyrA91/95, que codi- ficam uma subunidade GyrA alterada de DNA-gi- rase e causam susceptibilidade diminuída à cipro- floxacina, aumentaram a aptidão em comparação com N. gonorrhoeae de tipo selvagem no mesmo modelo murino.(37) Estes exemplos sugerem porque os mecanismos são mantidos apesar da descontinuação de antimi- crobianos específicos nos regimes de tratamento. Assim, os clones gonocócicos resistentes, altamen- te bem sucedidos, possuem determinantes adicio- nais de virulência ou aptidão biológica melhorada, o que lhes permitem evadir ou tornar ineficazes as defesas do hospedeiro mucoso e se espalharem amplamente para predominar nas populações lo- cais, com subsequentes emergências em popula- ções nacionais e mesmo internacionais.(37,38) A N. gonorrhoeae pode desenvolver mecanismos de resistência aos diferentes antimicrobianos, como, por exemplo, as sulfonamidas, aos beta-lactâmicos, tetraciclinas, quinolonas e macrolídeos. Resistência às sulfonamidas: As sulfonamidas agem nas enzimas dihidropteroato sintase (DHPS) bacteria- nas, inibindo assim a síntese de ácido fólico na bac- téria. A resistência à sulfonamida pode ser mediada pelo aumento na síntese do ácido p-aminobenzói- co, que compete com o agente antimicrobiano, ou por alterações no gene folP. As alterações podem ser devidas a mutações pontuais ou a presença de um gene mosaico contendo sequências de DNA de Neis- seria spp. saprófitas, modificando o alvo do fármaco, ou seja, DHPS, o que resulta numa afinidade significa- tivamente diminuída para com a sulfonamida.(39) Resistência aos beta-lactâmicos: Os antimicrobia- nos beta-lactâmicos, tais como penicilinas e cefa- losporinas, inibem a formação de ligações cruzadas de peptidoglicano na parede celular bacteriana através da ligação do anel-lactâmico a enzimas transpeptidases, às proteínas de ligação à penicili- na (PBPs). A resistência pode ser mediada por ge- nes localizados em cromossomos ou plasmídeos. O mecanismo mediado por plasmídeos mais fre- quente são genes blaTEM-1, codificando uma beta- lactamase do tipo TEM-1. Esta enzima hidrolisa a ligação amida cíclica de penicilinas susceptíveis a essa beta-lactamase, abrindo o anel beta-lactâmi- co e tornando a penicilina inativa. Ainda não foram relatadas beta-lactamases de espectro estendido (ESBLs) em N. gonorrhoeae. No entanto, o gene bla- TEM-135, que difere por um único polimorfismo de nucleótidos (SNP) de blaTEM-1, foi encontrado em linhagens circulantes.(39) A resistência à penicilina mediada por cromossomo na N. gonorrhoeae é devida a mutações que modi- ficam as proteínas alvo (PBPs), em interações com- plexas com determinantes de resistência que au- mentam o efluxo e diminuem a permeabilidade da bactéria à penicilina. As mutações mais frequentes ocorrem no gene penA, que codifica PBP2, o prin- cipal alvo para os antimicrobianos beta-lactâmicos. Em geral, encontram-se entre 5 e 9 mutações no que, em conjunto, diminuem as taxas de acilação de PBP2 e, consequentemente, diminuem a sus- ceptibilidade à penicilina de 6 a 8 vezes.(40) Estas mutações são adquiridas de Neisseria spp comen- sais por transformação. A mais comum em PBP2 é a in- serção de um aspartato (denominado Asp345a), sen- do que as outras mutações são mais frequentemente encontradas na região carboxilo-terminal. A mutação Asp345a está localizada próximo ao sítio-alvo, assim como as mutações na região C-terminal.(41) Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 83 Durante a última década, muitos mosaicos de genes penA também foram descritos. Esses genes mosai- cos contêm entre 60 e 70 alterações de aminoácidos em comparação com um gene penA de tipo selva- gem, e podem resultar em resistência tanto às peni- cilinas como às cefalosporinas de amplo espectro.(42) Embora a alteração de PBP2 seja o principal meca- nismo para a resistência à penicilina mediada por cromossomas em N. gonorrhoeae, a resistência de alto nível à penicilina também pode ser causada por uma única mutação no gene ponA (denomina- do alelo de ponA1) que codifica PBP1, que tem uma taxa de acilação de penicilina aproximadamente 16 vezes inferior à da PBP2 de tipo selvagem. O alelo ponA1 codifica uma alteração de Leu421Pro em PBP1, o que reduz a taxa de acilação de penicilina de PBP1 entre 3 e 4 vezes.(43) Além disso, as CIM de pe- nicilina podem ser aumen- tadas ainda mais por muta- ções específicas, resultando num aumento do efluxo por superexpressão do sis- tema de bomba de efluxo MtrCDE (mtrR), que expor- ta a penicilina para fora da célula, e por mutações que resultam numa diminuição da permeabilidade do poro de canal da membrana ex- terna PorB1b (penB).(43) Finalmente, permanece pelo menos uma determi- nante de resistência à penicilina desconhecida e não transformável, o "fator X", que pode aumentar as CIM da penicilina aproximadamente 3-6 vezes.(34) As alterações genéticas (penA, porB1b, mtrR e ponA) associadas à resistência cromossômica à pe- nicilina em N. gonorrhoeae ou à produção de pe- nicilinase não afetam sozinhas a susceptibilidade das linhagens de N. gonorrhoeae às cefalosporinas, a ponto de ameaçar a eficácia dos regimes de ce- falosporina atualmente recomendados para o tra- tamento da gonorreia. O principal mecanismo são os mosaicos dos alelos de penA, particularmente aqueles de espécies comensais de Neisseria comu- mente residentes na orofaringe, tais como Neisse- ria perflava, Neisseria sicca, Neisseria polysaccharea, Neisseria cinerea e ou Neisseria flavescens.(41) Esta transferência horizontal intragenérica in vivo de genes penA inteiros ou parciais ocorre muito prova- velmente durante infecções gonocócicas faríngeas. A aquisição de um alelo de mosaico penA parece aumentar as CIM de cefixima mais do que as de cef- triaxona, o que pode ser causado por relações estru- tura-função devido à cadeia lateral C-3 mais longa do esqueleto cefem da ceftriaxona. Várias mutações fre- quentemente observadas nos mosaicos foram estu- dadas para distinguir os pontos críticos de mutações que alteram a CIM de cefalosporinas de amplo espec- tro de forma mais eficaz, porém a maioria dos estudos chega à conclusão de que o conjunto de mutações deve ser respon- sável pela resistência.(44) Resistência às tetraciclinas: As tetraciclinas inibem a ligação do tRNA ao complexo mRNA- -ribossomo, principalmente por ligação à subunidade ri- bossomal 30S e, consequen- temente, inibem a síntese de proteínas,o que resulta num efeito bacteriostático. A resis- tência de alto nível à tetracicli- na (CIMs de > 16 µg /ml) me- diada por plasmídeos na N. gonorrhoeae é devida ao gene tetM, inicialmente descrito para o gênero Streptococcus. TetM confere resistência de alto nível à tetraciclina devido sua semelhança com o fator de alongamento G (EF-G), envolvido na síntese de proteínas, e também sua atividade de GTPase de- pendente de ribossomas. Sua ligação aos ribosso- mos causa a liberação da molécula de tetraciclina e a continuação da síntese de proteínas. O plasmídeo contendo o gene TetM pode conter genes de be- ta-lactamase e ser transferido por conjugação para diferentes linhagens gonocócicas, Neisseria menin- gitidis, Haemophilus influenzae e Escherichia coli.(45) Fernandes T, Bortolozzi F, Nogueira K, Marconi C, Monteiro CL Muitos mosaicos de genes penA apresentam alterações de aminoácidos, resultando resistência às penicilinas e às cefalosporinas Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 84 M a t é r i a d e C a p a A resistência à tetraciclina mediada por cromosso- mo é devida a mutações que modificam a estru- tura da proteína ribossomal (alvo), associadas ao aumento do efluxo e redução da permeabilidade à tetraciclina. Linhagens gonocócicas resistentes à tetraciclina possuem a mutação tet-2, além das mutações mtrR e penB. Tet-2 é um alelo rpsJ mu- tado que codifica uma forma alterada de proteína ribossômica S10. O alelo mutado de rpsJ contém um SNP que altera Val57 a Met57 em S10 e as subs- tituições de Leu57 e Gln57 conferiam níveis idênti- cos de resistência. Val57 em S10 está localizado no vértice de um pe- queno ciclo perto da região, que forma o sítio de ligação à tetraciclina no aminoacil-tRNA, e tem sido sugerido que a substituição do Val57 nativo por aminoácidos grandes não carregados altera a estrutura de rRNA, reduzindo assim a afinidade de tetraciclina pelo ribossoma. Além destas modifi- cações alvo, assim como para a penicilina, um au- mento do efluxo e a diminuição da entrada de te- traciclina na célula devido aos genes mtrR e penB, respectivamente, resultam numa resistência maior à tetraciclina.(34,45) Resistência às quinolonas: A enzima bacteriana DNA girase e topoisomerase IV são topoisomerases altamente conservadas do tipo II, essenciais para o metabolismo do DNA. Eles agem quebrando e ligando a fita de DNA de cadeia dupla em uma reação, que é acoplada com hidrólise de ATP du- rante a replicação do DNA. As quinolonas atuam por inibição da DNA girase e topoisomerase IV, resultando em atividade bactericida. As bactérias desenvolvem resistência às quinolonas através de mutações que alteram enzimas com redução da afinidade por quinolonas. DNA girase consiste num heterodímero de duas subunidades de GyrA e duas subunidades de GyrB.(34,46) Na N. gonorrhoeae, as mutações iniciais no gene alvo primário (gyrA) estão associadas com resistên- cia. A topoisomerase IV é um tetrâmero de duas subunidades ParC e duas ParE, codificadas pelos genes parC e parE, respectivamente. A atividade enzimática da topoisomerase IV pode também ser inibida por quinolonas, embora sejam necessárias concentrações mais elevadas do que as necessárias para inibir a DNA girase in vitro. SNPs específicos em gyrA sozinhos fornecem resistência de nível baixo a intermediário, mas a resistência de alto nível requer uma ou várias mutações concomitantes específi- cas em parC. Estas mutações podem ser facilmente selecionadas por exposição a concentrações subi- nibitórias de ciprofloxacina e também transferidas para outras N. gonorrhoeae por transformação.(45) Resistência aos macrolídeos: Os macrolídeos ini- bem a síntese de proteínas, ligando-se à subunida- de ribossomal 50S (rRNA 23S), impedindo a trans- locação do peptidil-tRNA e fazendo com que os ribossomas libertem polipeptideos incompletos, o que resulta num efeito bacteriostático. A resistência bacteriana aos macrolídeos pode resultar da modi- ficação do alvo ribossômico por mutações específi- cas no rRNA 23S ou por metilação devido à produ- ção de uma rRNA metilase.(47) Pode ainda ser devida a um sistema de bomba de efluxo superexpresso.(48) As rRNA metilases podem causar resistência ao ma- crolídeo por meio do bloqueio da ligação do macro- lídeo ao rRNA 23S por metilação de um resíduo de adenosina na posição 2058 (sistema de numeração de E. coli), que está localizado no domínio da peptidil transferase V. Os genes que codificam a rRNA metila- se (ermB, ermC e ermF), referida como genes de re- sistência macrolideos-lincosamida-estreptogramina B, podem ser transportados por transposons conju- gativos.(49) Na N. gonorrhoeae, os genes erm podem conferir resistência elevada à eritromicina (CIMs de 4 a 16 μg/Ll) e redução da suscetibilidade ou resistên- cia à azitromicina (CIMs de 1 a 4 µg/mL) na ausência de outros determinantes de resistência, tais como mutações mtrR ou uma bomba de efluxo codificada por mef.(50) Mutações específicas do alvo macrolídeo, 23S rRNA, podem resultar tanto em resistência de bai- xo nível (mutação C2611T) como em resistência de alto nível (mutação A2059G) à eritromicina e à azitromicina. As CIMs de macrolídeos nestes isola- dos dependem de quantos dos quatro alelos do gene rRNA 23S contêm a mutação específica. Por exemplo, as mutações de A2059G em três ou todos os quatro alelos do gene rRNA 23S resultam em re- sistência ao alto nível de azitromicina (CIMs > 256/ µg/ml), enquanto que as linhagens com apenas Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 85 um alelo mutante A2059G podem ter uma CIM de azitromicina semelhante àquela para linhagens de tipo selvagem. As linhagens com uma única mutação A2059G, embora susceptíveis à azitromicina, desenvolvem rapidamente uma resistência de alto nível à azitro- micina (CIM > 256 μg/mL) após a passagem em série com concentrações subinibitórias de macro- lídeos.(47) A resistência gonocócica aos macrolídeos devido aos sistemas de efluxo superexpressos, par- ticularmente a bomba de efluxo MtrCDE, mas tam- bém MacAB e codificadas por mef, podem afetar as CIMs de macrolídeos.(48,50) Distribuição geográfica das linhagens resistentes a antimicrobianos Embora pouco numerosas, algumas pesquisas rea- lizadas em diferentes países já confirmaram a resis- tência das linhagens de N. gonorrhoeae aos agen- tes antimicrobianos recomendados para prática terapêutica.(7,8,51) O quadro 1 mostra os dados atuais disponíveis na literatura sobre a resistência aos an- timicrobianos da N. gonorrhoeae. No Brasil, a primeira linhagem de N. gonorrhoeae resistente à penicilina foi isolada em 1985 em São Paulo.(64) Com o passar dos anos, a resistência da N. gonorrhoeae se estendeu para outros antimicrobia- nos, como tetraciclina, cloranfenicol, azitromicina, ofloxacina e ciprofloxacina.(65-69) Em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, foram detectadas linhagens de N. gonorrhoeae com re- sistência superior a 5% à ciprofloxacina, ultrapas- sando o limite internacional aceitável para uso de um antimicrobiano.(65,70-73) Para esses estados, o Mi- nistério da Saúde (2015)(74) não recomenda a uti- lização de ciprofloxacina e sugere a utilização de ceftriaxona como opção terapêutica. CIPRO - Ciprofloxacina; CEFTR - Ceftriaxona; AZITRO - Azitromicina; PENICILINA; TETRA - Tetraciclina; NA - Não Avaliado País Período n. linhagens Resistência (%) Referência CIPRO CEFTR AZITRO PENICILINA TETRA Argentina 1995 – 1996 81 0 0 0 10 58,5 Famiglietti et al. (2001)(52) Cuba 1995 – 1996 50 0 0 NA 52 34 Llanes Caballero et al. (1999)(53) França 2001 – 2012 8649 37 NA NA 14 56 La Ruche et al. (2014)(54) Alemanha 2004 – 2015 434 70,3 0 5,5 25,6 48,4 Regnath et al. (2016)(55) Taiwan 2006 – 2013 1090 83,89 2,39 NA 61,01 NA Cheng et al. (2014)(56) China 2007 – 2011 107 100 NA NA NA NA Zhao e Zhao (2013)(57) Venezuela 2008 – 2009 20 25 0 NA 95 90 Flores Fernández et al. (2012)(58) Canadá 2009 – 2013 1183 29,3 NA NA 18,9 33 Martin et al. (2015)(59) Líbano2010 – 2016 47 38,3 NA 40,4 NA 23,4 Hamze et al. (2016)(51) Espanha 2013 329 49,2 0,6 4,3 28 NA Serra-Pladevall et al. (2016)(60) Austrália 2014 4804 36 0 2,5 29 NA Lahra (2015)(61) Estados Unidos 2014 5093 19,2 NA NA 16,2 25,3 Kirkcaldy et al. (2016)(62) Etiópia 2015 21 28,6 0 NA 100 100 Ali et al. (2016)(63) Quadro 1. Panorama atual da resistência da Neisseria gonorrhoeae aos antimicrobianos utilizados na prática terapêutica. Fernandes T, Bortolozzi F, Nogueira K, Marconi C, Monteiro CL Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 Entretanto, nesse mesmo ano, a Portaria n° 58 do Ministério da Saúde (2015)(74) incorpora a ceftriaxo- na (500 mg) injetável como forma de tratamento para gonorrreia resistente à ciprofloxacina no âm- bito nacional do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, no estado do Amazonas também já foram identificadas linhagens de N. gonorrhoeae isoladas de homens com uretrite resistentes à ci- profloxacina.(66) Dessa forma, mostra-se a necessidade de mais estu- dos relacionados a esse tema em outras regiões do Brasil, visto que pesquisas com essa finalidade são escassas no país.(65,71.75) Somando a isso, o ideal seria a criação de sistemas de vigilância que visam estu- dar a epidemiologia da resistência da N. gonorrhoeae aos antimicrobianos em cada região, pois as caracte- rísticas populacionais diferem em torno do território brasileiro, influenciando diretamente nos padrões de resistência da N. gonorrhoeae.(71,73) Tratamento Atualmente, é indicada a terapia dupla para o tra- tamento da gonorreia utilizando dois antimicrobia- nos com mecanismos de ação distintos com obje- tivo de melhorar a eficácia do tratamento e retardar o desenvolvimento de resistência. Para essa finalidade, recomenda-se uma única dose de 250 mg de ceftriaxona pela via intramuscular e 1 g de azitromicina pela via oral, os quais interrom- pem a infecção, porém não reparam qualquer lesão definitiva causada pela doença.(76) A utilização da azitromicina no tratamento de go- norreia também se deve ao fato de que pessoas infectadas com a N. gonorrhoeae possuem alta pro- babilidade de estarem infectadas com C. trachoma- tis concomitantemente. Dessa forma, a terapia dupla se torna eficaz tanto para o tratamento de gonorreia como também para o tratamento da coinfecção pela clamídia.(76,77) Conforme a N. gonorrhoeae adquiriu genes de re- sistência contra aos antimicrobianos, os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas referentes à go- norreia sofreram alterações. Em 1999, o Ministério da Saúde brasileiro preconizou a utilização de uma ampla variedade de antimicrobianos para o trata- mento da gonorreia, dentre os quais, a ofloxacina dose única (400 mg) pela via oral; dose única de cefixima (400 mg) via oral; dose única de ciproflo- xacina (500 mg) por meio da via oral; dose única de ceftriaxona (250 mg) pela via intramuscular; ou uma única dose de tianfenicol (2,5 g) via oral.(78) M a t é r i a d e C a p a 86 Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 87 No entanto, o Ministério da Saúde(79) publicou, em 2006, um novo manual que alterou tais opções te- rapêuticas para terapia dupla, recomendando duas possíveis opções para o tratamento da gonorreia e da clamídia concomitantemente. A primeira opção consistia no uso de uma única dose de ciprofloxacina (500 mg) via oral ou dose única de ceftriaxona (250 mg) intramuscular junta- mente com dose única de azitromicina (1 g) via oral ou doxicilina (100 mg) via oral por 7 dias. Já a segunda opção de tratamento compreendia o uso de uma única dose de cefixima (400 mg) via oral, dose única de ofloxacina (400 mg) via oral ou dose única de 2 g espectinomicina via intramuscu- lar juntamente com eritromicina (500 mg) via oral, tetraciclina (500 mg) via oral ou ofloxacina (400 mg) via oral.(79) Quase dez anos depois, o Ministério da Saúde (2015)(70) modificou a terapia dupla, recomendan- do que a primeira opção para o tratamento fosse uma dose única de ciprofloxacina (500 mg), via oral, juntamente com uma dose única de 2 comprimi- dos de azitromicina (500 mg) via oral; ou uma úni- ca dose de ceftriaxona (500 mg) via intramuscular mais uma dose única de 2 comprimidos de azitro- micina (500 mg) via oral. A segunda opção consis- tia na utilização de dose única de cefotaxima (1000 mg) intramuscular mais dose única de 2 comprimi- dos de azitromicina (500 mg) via oral.(70) Em todos os protocolos publicados pelo Ministério da Saúde (1999, 2006, 2015)(70,78,79) ressaltavam que a ofloxacina e a ciprofloxacina não eram recomendadas para menores de 18 anos; no último manual publica- do, há a sugestão da ceftriaxona como opção tera- pêutica para essa faixa etária e para gestantes, além de indicar apenas a azitromicina como forma de tra- tamento para os pacientes alérgicos às cefalosporinas. A implementação de programas de monitora- mento e vigilância é primordial para a obtenção de dados e informações sobre linhagens resisten- tes e sobre a gonorreia, assim como o controle de N. gonorrhoeae resistentes aos antimicrobianos e para a atualização dos protocolos de tratamento dessa infecção.(7,8,51,56,80) A importância do desenvolvimento de sistemas de vigilância para gonorreia foi comprovada nos Esta- dos Unidos, onde houve uma diminuição de 80% nos casos de gonorreia entre as décadas de 70 e 90 após a criação de programas de controle para essa enfermidade.(81) Com isso, a criação de programas nacionais que visam o controle da gonorreia contri- buiria para a diminuição da prevalência da mesma no território brasileiro. Fernandes T, Bortolozzi F, Nogueira K, Marconi C, Monteiro CL Conclusão A existência de linhagens de N. gonor- rhoeae resistente aos antimicrobianos utilizados no regime terapêutico foi com- provada em diferentes países nos últimos anos, sendo que a resistência à penicilina, tetraciclina e ciprofloxacina foram as mais prevalentes. Essa tendência se estendeu para o Brasil, apesar dos poucos estudos, e a resistência à ciprofloxacina foi confirmada em deter- minados estados brasileiros. Tendo em vista a extensa área territorial do país assim como os diferentes hábi- tos comportamentais e culturais, esses estudos não refletem o Brasil como um todo. Além disso, pelo fato da gonorreia não pertencer à lista nacional de doenças e agravos de notificação compulsória, há uma carência de informações sobre essa doença em relação à população brasileira. Em decorrência da elevada capacidade da N. gonorrhoeae em adquirir resistência aos antimicrobianos pela maioria dos meca- nismos existentes, faz com que se torne uma preocupação para as autoridades de saúde pública. Femina®. 2018; 46 (2): 76-89 88 M a t é r i a d e C a p a Referências 1. Amin A, Garcia Moreno C. Addressing gender-based violence to reduce risk of STI and HIV. Sex Transm Infect. 2013;89(Suppl 1):A8. doi: 10.1136/sex- trans-2013-051184.0022 2. Gewirtzman A, Bobrick L, Conner K, Tyring SK. Epidemiology of sexually trans- mitted infections. In Gross G, Tyring SK, editors. Sexually transmitted infec- tions and sexually transmitted diseases. Cham: Springer; 2011. p. 13-34. 3. World Health Organization [Internet]. Global incidence and prevalence of selected curable sexually transmitted infections; Geneva: WHO; 2008 [cited 2016 Sep 26] Available from: http://www.who.int/reproductivehealth/publica- tions/rtis/stisestimates/en/ 4. World Health Organization [Internet]. 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Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. 2. Faculdade de Medicina, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. 3. Setor de Colposcopia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PR, Brasil. 4. Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. 5. Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, Capítulo São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. RESUMO A vacinação materna representa uma ferramenta promissora na melhoria da saúde materna e infantil para diversas condições infecciosas. A maior susceptibilidade das gestantes às condições infecciosas, assim como a capacidade da mãe transferir anticorpos através da placenta, ofere- cendo proteção vital a seus conceptos antes que os mesmos sejam vacinados, têm despertado atenção maior à imunização materna. A FEBRASGO, em conformidade com a Sociedade Brasileira de Imunizações e Ministério da Saú- de, recomenda três vacinas de rotina para todas gestantes: influenza, difteria - tétano - coquelu- che acelular (dTpa), além da vacina de hepatite B, disponíveis no sistema público na totalidade. Esta revisão descreve as vacinas recomendadas na gestação, além de vacinas e imunoglobulinas de uso específico, e contraindicações da imunização na gestação e puerpério. Aborda, ainda, estratégias de melhoria de adesão à imunização pela gestante, visando alcançar altas taxas de cobertura vacinal, uma estratégia fundamental em saúde pública, com objetivo de reduzir a morbimortalidade infecciosa de gestantes e recém-nascidos. Descritores: Vacina; Imunização, Gravidez; Doenças infecciosas; Puerpério; Amamentação Femina®. 2018; 46(2): 90-96 Como citar: Lajos GJ, Fialho SC, Teixeira JC, Maia AF, Neves NA, Roteli Martins CM. Imunização na gravidez, puerpério e amamen- tação. In: Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. Cap.14, p.128-38. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO; no.13/Comissão Nacional Especializada de Vacinas). 91 CNES Lajos GJ, Fialho SC, Teixeira JC, Maia AF, Neves NA, Roteli Martins CM Femina®. 2018; 46(2): 90-96 INTRODUÇÃO As doenças infecciosas representam a maior causa de morbidade e mortalidade em adultos. Estima-se que mais de 50.000 adultos morrem a cada ano por doenças infecciosas e suas complicações, que seriam evitáveis através da vacinação.(1) As recomendações nacionais de imunização contem- plam mais de 25 vacinas durante a vida útil, sendo 17 disponíveis no PNI.(2,3) Porém, a cobertura vacinal na vida adulta é muito abaixo do esperado. A incorporação da vacinação do adulto na rotina da prá- tica clínica é uma medida efetiva e altamente recomen- dada nos programas de promoção de saúde.(4) Neste contexto, o Ginecologista e Obstetra têm um papel im- portantíssimo através da incorporação da vacinação nas mulheres sob seus cuidados.(4) A imunização da gestante desempenha um papel signi- ficativo na melhoria da saúde materna e neonatal para diversas doenças infecciosas. A susceptibilidade própria da gestante para condições infecciosas, assim como a capacidade do anticorpo materno oferecer proteção neonatal, através da sua transferência transplacentária, tornam a gestação um momento ímpar em que a prática vacinal deve ser garantida.(5,6) A imunização materna é particularmente importante ao considerarmos doenças evitáveis pela vacinação, para as quais não há opções na proteção de bebês, como nos casos de influenza e pertussis.(6,7) Os anticorpos maternos podem proteger seus bebês por mais de seis meses de vida, período em que ainda não há uma imunidade efeti- va pela vacinação dos mesmos.(7) Este trabalho apresenta as recomendações nacionais de vacinação durante a gravidez, puerpério e amamentação. METODOLOGIA Realizou-se uma revisão bibliográfica em bases de dados de periódicos no PubMed, considerando publicações no período entre 2007 e 2017, e utilizando-se as palavras- -chaves: maternal immunization. A pesquisa foi restrita à língua inglesa e em humanos. Nessa consulta, foram encontrados 2.406 artigos, dos quais foram selecionados 63 trabalhos potencialmente relevantes, especialmente revisões sistemáticas e reco- mendações de sociedades médicas internacionais repre- sentativas e relevantes ao tema. As listas de referências bibliográficas mais recentes foram revistas em busca de artigos adicionais. Após esta fase, as publicações escolhidas foram obtidas na íntegra para reavaliação da metodologia e dos resul- tados. Além disto, foram avaliadas as recomendações nacionais de vacinação, através da busca eletrônica dos Manuais de Vacinação da Federação Brasileira das Asso- ciações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), da So- ciedade Brasileira de Imunização (SBIm) e do Ministério da Saúde (MS). Na lista final, foram incluídos os estudos que avaliaram aspectos da vacinação de gestantes e puérperas com metodologia adequada, consoante a cri- tério de relevância e nível de recomendação. Valor clínico da vacinação As vacinas têm sido uma das ferramentas mais úteis na redução efetiva da mortalidade infantil. Contudo, o pro- gresso na redução das mortes tem
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