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O NASCER DO AUDITOR PROFISSIONAL - UMA ANÁLISE DA HISTÓRIA DA AUDITORIA E A IMPORT NCIA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
 
 FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E 
CONTABILIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
O NASCER DO AUDITOR 
PROFISSIONAL 
UMA ANÁLISE DA HISTÓRIA DA AUDITORIA E A IMPORTÂNCIA 
DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
 
 
 
 
DAVI MELAMED GEMIO 
N° USP: 9813563 
 
 
SÃO PAULO 
2019 
 
 
2 
DAVI MELAMED GEMIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O NASCER DO AUDITOR PROFISSIONAL: UMA 
ANÁLISE DA HISTÓRIA DA AUDITORIA E A 
IMPORTÂNCIA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia entregue ao Curso de Ciências Contábeis da 
Faculdade de Economia e Administração da Universidade 
de São Paulo. 
 
Área de concentração: Auditoria 
 
Orientador: Prof. Edgard Bruno Cornacchione Junior 
 
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Dedico este trabalho: 
- a minha família, que sempre me apoiou 
em todos os momentos da minha vida; 
- a meus colegas na universidade com 
quem dividi ótimos momentos. 
 
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“​The study of the history of a 
subject will often illuminate 
its present condition” 
- A. H. Millichamp 
6 
O NASCER DO AUDITOR PROFISSIONAL: ​UMA ANÁLISE DA 
HISTÓRIA DA AUDITORIA E A IMPORTÂNCIA DA REVOLUÇÃO 
INDUSTRIAL 
 
Resumo: ​A auditoria sofreu um desenvolvimento vertiginoso entre os séculos XVIII e XX na 
Inglaterra, resultando em sua transformação no que conhecemos hoje quando ouve-se da 
atividade. O seguinte trabalho objetiva detalhar a história da profissão através de análise 
bibliográfica e, posteriormente, descrever e justificar a importância da Primeira Revolução 
Industrial para o desenvolvimento da atividade auditorial. Pretende-se elaborar uma conclusão 
que relacione as mudanças econômicas durante esse período histórico e a legislação tributária 
característica inglesa, que, vagarosamente, com o passar do tempo, desencadearam mudanças 
técnicas no processo auditorial realizado pelos profissionais das empresas, após uma análise das 
práticas de auditoria durante o período entre os séculos XVIII e XX e relacionando-as com uma 
análise do período da Revolução Industrial. 
 
Palavras-chave: ​história da auditoria, Revolução Industrial, contabilidade 
7 
Abstract: ​The auditing process has suffered a great development between The XVIII and XXI 
centuries in England, resulting in its transformation in what we know today when heard about the 
activity. The following work has the objective to detail the history of the profession through 
bibliographical analysis and, posteriorly, describe the importance of the First Industrial 
Revolution to the auditing activity’s development. It is intended to elaborate a conclusion that 
relate the economic changes during this historical period and the peculiar tax legislation, which 
slowly, as time passed, unleashed technical changes in the auditing process done by the 
professionals, after an analysis of the audit practices during the XVIII and XX centuries and 
relating them with an analysis of the industrial Revolution period. 
 
Key Words: ​history of auditing, Industrial revolution, Accounting 
8 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………....…..…10 
a. Objetivos…………………………………………………………………………………….…11 
1. Objetivos 
Gerais…………………………………………………………………....….….11 
2. Objetivos 
Específicos……………………………………………………………………..11 
b. Justificativa…………………………………………………………………………………….12 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA……………………………………………………………..12 
 
3. PROCESSOS METODOLÓGICOS………………………………………………………...…12 
a. Leitura de bibliografia e coleta de dados………………………………….………………...…12 
b. Análise das Mudanças nos Métodos Auditoriais……………………...……………………….13 
c. Análise da Importância da Revolução Industrial...…………………………………………….13 
d. Redação...……………………………………………………………………………………....13 
e. Revisão...…………………………………………………………………………………….....13 
 
4. A HISTÓRIA DA 
CONTABILIDADE……………………………….....………………….....14 
a. A Contabilidade na Antiguidade………………………………………....………………….....14 
b. A Contabilidade na Idade Média e Moderna, até a Revolução Industrial…………………......15 
 
5. A HISTÓRIA DA AUDITORIA, ATÉ A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL…............................17 
 
6. O TRABALHO DO AUDITOR DA INGLATERRA NO SÉC. 
XIX........................................19 
 
7. O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA ECONOMIA BRITÂNICA E NA 
AUDITORIA…………………………………………………………………………..................22 
 
8. CONCLUSÃO………………………………………………………………………................23 
 
9. BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………....................24 
9 
1. INTRODUÇÃO 
 
A partir do momento em que surgiu a noção de propriedade privada, nos primórdios da 
civilização, existe a contabilidade para registrar o direito da posse. Acredita-se até que a 
contabilidade seja tão antiga quanto o próprio ​homo sapiens​, tendo sua origem datada por 
historiadores de ter ocorrido em 20000 a.C., período cujo sistema econômico baseado na 
subsistência dependia da contagem e do controle de recursos para a distribuição entre os 
indivíduos das comunidades. 
Com o passar do tempo, a complexidade das relações intersociais e da organização 
humana, assim como as transações econômicas foi aumentando, exigindo um certo controle e 
verificação dos registros contábeis, dando início à atividade da auditoria. No entanto, a profissão 
não é tão recente quanto acredita-se. Há registros de sua prática por subordinados do imperador 
persa, datados por volta de 500 a.C., que tinham a função de fiscalizar as ações dos governantes 
das províncias do antigo Império Persa, além da coleta de impostos. 
Durante o curso da História, a atividade auditorial desempenhou papel importante não só 
no Império Persa, mas também no Romano, onde os imperadores nomeavam funcionários para 
desempenhar função semelhante à desempenhada pelos persas, assim como na França, por volta 
do século XII. Porém, o termo “auditor”, proveniente do latim ​audire​, que significa ouvir, foi 
somente utilizado pelo rei inglês Eduardo I, durante o século XIII. 
Foi em território inglês, entretanto seis séculos depois, em meio a Primeira Revolução 
Industrial, que a profissão do auditor mais desenvolveu-se. Em meio ao fervoroso cenário 
econômico da Inglaterra mercantilista, com o crescimento das companhias e da circulação de 
capital, além de uma legislação tributária infrequente na época para as empresas, a auditoria 
passou por um processo de ampliação e aprimoração jamais visto anteriormente. 
Cardoso e Rodante (2007), destaca que, a partir do momento da Revolução Industrial, a 
existência de um mercado de capitais e a expansão dos mercados, de modo que os interesses de 
outros agentes econômicos além do empresário passaram a adquirir importância, exigiam a 
apresentação de demonstrações contábeis relevantes e fidedignas com a realidade da companhia, 
e com isso a inerente necessidade de verificação de tais demonstrações. 
Deste modo, a auditoria foi sendo moldada na atividade que atualmente conhecemos, as 
mudanças provenientes das novas exigências provenientes da expansão econômica inglesa 
surtiram efeito na profissão de modo que seu uso propagou-se e a qualidade e abrangência de sua 
aplicação evoluíram consideravelmente. 
Desde então, a atividade disseminou-se ao redor do globo, primeiramente pela Europa, 
acompanhando o crescimento econômico e industrial das empresas dos países desse continente, 
além da expansão do mercado de ações, seguido pelos Estados Unidos da América, local cujo a 
profissão também desenvolveu-se consideravelmente,principalmente após a crise de 1929. 
Os eventos ocorridos no ano de 1929 que resultaram na quebra da bolsa de valores de 
Nova Iorque, impactaram profundamente no modo que praticava-se tanto a contabilidade quanto 
a auditoria. A partir de 1930, foram criadas normas para as empresas de capital aberto, entre elas 
10 
uma que tornava obrigatória a verificação de suas demonstrações por uma auditoria independente, 
expandindo a atuação do profissional. 
Embora a atividade auditorial em território brasileiro esteja datada desde antes da 
Revolução Industrial, a partir da colonização do país pelos portugueses, com profissionais que 
registravam e verificavam a produção e exportação de bens para a metrópole, é incorreto afirmar 
que o impacto do desenvolvimento da profissão na Inglaterra não afetou diretamente sua 
atividade no Brasil. A administração de empresas, principalmente das ferroviárias de origem 
inglesa, passaram a seguir o padrão de administração predominante na Inglaterra, acarretando na 
modelação da atividade como ela é praticada hoje em dia e em uma maior popularização dos 
métodos auditoriais em território brasileiro. 
Para atingir um entendimento maior sobre o tópico proposto, precisamos não só entender 
a origem da atividade auditorial, mas também temos que passar brevemente sobre a história da 
contabilidade em si, que será abordada inicialmente neste trabalho, de modo a ilustrar a evolução 
das civilizações humanas e como a necessidade por contabilidade sempre existiu, assim como a 
mesma evoluiu, permitindo o surgimento da auditoria e sua transformação no que conhecemos 
hoje da atividade. 
 
a. Objetivos: 
 
Este trabalho possui objetivos gerais e específicos, sendo eles: 
 
1. Objetivos gerais: 
 
Delinear a história da auditoria, passando pela história da contabilidade, uma vez 
que ambas as atividades estão diretamente conectadas uma a outra, explicando a origem 
de ambas as profissões, e também explicando a importância das transformações 
econômicas ocorridas durante o período da Revolução Industrial para a Auditoria na 
inglaterra. 
 
2. Objetivos específicos: 
 
Os objetivos específicos do trabalho de pesquisa podem ser resumidos em duas 
questões: 
i -​ Como surgiu a auditoria como a conhecemos atualmente? 
ii - ​Como as transformações econômicas ocorridas na Revolução Industrial 
impactaram a atividade da auditoria? 
 
11 
b. Justificativa: 
 
Como o tema, mais especificamente, o aprofundamento da questão da evolução técnica da 
auditoria durante o período da Primeira Revolução Industrial, possui poucas referências, é válido 
que esse trabalho seja realizado, adicionando à literatura existente. Ademais, sendo um ofício 
essencial para o funcionamento das empresas, até da própria economia como um todo, é útil a 
retomada da história da profissão, apontando seu objetivo primeiro ao surgir e as mudanças 
sofridas com o passar do tempo. 
Matthews (2006) afirma que pouco estuda-se no campo da auditoria sobre as 
transformações técnicas propriamente ditas que a profissão sofreu durante sua existência, 
especialmente o período da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, entre os séculos XIX e XX. 
Tendo os pontos supracitados acima em vista, a monografia desenvolvida torna-se um 
instrumento para compreendermos melhor as origens da profissão e talvez conjecturar seu futuro. 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
O referencial teórico utilizado para a realização dessa pesquisa baseia-se principalmente 
na publicação de Matthews (2006) e uma pesquisa publicada também pelo autor em parceria com 
o ICAEW (Instituto de Contadores Públicos da Inglaterra e do País de Gales), em , que descreve 
as mudanças técnicas no processo auditorial entre os séculos XVIII e XIX. As informações sobre 
as transformações quanto a auditoria durante a época descrita pela publicação tornará possível 
uma análise do impacto causado pela Primeira Revolução Industrial na atividade da profissão. 
É realizada, em Matthews (2006), uma análise de demonstrações econômicas de empresas 
inglesas divulgadas durante os séculos XVIII e XX, assim como entrevistas com profissionais 
atuantes na área no período estudado, manifestando seu parecer sobre as mudanças 
socioeconômicas e de sua área de atuação, evidenciando as modificações ocorridas no método 
auditorial. 
Com a utilização dessa bibliografia, seguida de uma leitura da Revolução Industrial, será 
possível compreender exatamente como que esse momento histórico e as mudanças econômicas 
vindas com ele impactaram o desenvolvimento da atividade auditorial. 
 
3. PROCESSOS METODOLÓGICOS 
 
A abordagem adotada no trabalho é a qualitativa, e os passos seguidos para a realização 
da pesquisa serão os descritos abaixo: 
 
a. Leitura de bibliografia e coleta de dados 
 
O procedimento de coleta de dados principal do trabalho é bibliográfico, que são tanto 
livros teóricos sobre a história da contabilidade e da auditoria propriamente ditas, assim como a 
12 
história da própria humanidade, projetos da ICAEW e um livro publicado por Derek Matthews, 
em 2006, referente a tal pesquisa do instituto britânico, retratando as diferenças nos métodos 
auditoriais durante os séculos XVIII e XX na Grã-Bretanha. 
 
b. Análise das Mudanças nos Métodos Auditoriais 
 
Para esta etapa, será utilizada principalmente Matthews (2006), que descreve o objeto de 
análise, assim como a pesquisa da ICAEW em conjunto com Matthews (2006) também, citada 
anteriormente. 
 
c. Análise da Importância da Revolução Industrial 
 
Nesta etapa, serão utilizadas principalmente Crafts (1985) e Crump (2010), como 
referenciais teóricos, por tratarem-se de pesquisadores renomados sobre tal período histórico. 
 
d. Redação 
 
A redação da pesquisa levará não só em conta as análises realizadas descritas acima, mas 
também uma descrição breve da origem da contabilidade e, em seguida, da história da auditoria, 
até o período da Revolução Industrial, para que possamos ter um embasamento sobre como 
exatamente que as áreas de conhecimento descritas acima tomaram a forma que tinham na época 
citada, de modo a ficar mais claro seu desenvolvimento durante tal período. 
Na conclusão é esperado que fique clara a inter relação entre entre as mudanças 
econômicas ocorridas durante a Revolução Industrial e seu impacto nas empresas da época na 
Inglaterra durante os séculos XVIII e XX e o desenvolvimento impetuoso da auditoria durante tal 
período histórico. 
 
e. Revisão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
CRONOGRAMA 
 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 
a. 
b. 
c. 
d. 
e. 
 
4. A HISTÓRIA DA CONTABILIDADE 
 
a. A Contabilidade na Antiguidade 
 
A Contabilidade é tão antiga quanto a existência humana, segundo Cardoso e Rodante 
(2007). Na gruta de D’Aurignac, na França, foram encontrados registros pré-históricos de 
pinturas rupestres que mostram a capacidade do hominídeo primitivo de registrar os fatos 
relacionados a sua própria atividade de busca de provisão, resquícios do que hoje chamamos de 
registros contábeis. 
Campos (1998) cita as diferentes atividades praticadas pelos humanos pré-históricos como 
a caça, a pesca e a coleta de frutos, ovos,moluscos e mel, com a necessidade frequente de 
armazenamento das matérias coletadas para utilização posterior. Em conjunto, havia a 
necessidade de manter o controle das quantidades de alimento estocadas, para medir a 
necessidade de busca de tais bens, nas sociedades que viviam sob o sistema de economia de 
subsistência. 
Com o advento da agricultura e a sedentarização das comunidades a acumulação de 
insumo tornou-se cada vez mais frequente e imperativa para o sucesso e continuidade das 
mesmas. Engels (1884) explica que o cultivo de plantas e a criação de animais fez com que o 
humano adotasse novas estruturas socioeconômicas, assim como, consequentemente, novas 
formas de governo também. 
Lentamente, os conjuntos de poucas casas metamorfosearam-se em cidades muito mais 
populosas do que as que havia anteriormente. Lopes de Sá (1999) explica que da mesma maneira 
que as sociedades evoluíram e tornaram-se mais complexas, em conjunto com a o aumento da 
quantidade e da variedade de insumos produzidos e armazenados, os próprios registros contábeis 
inevitavelmente adaptaram-se à sua nova realidade com cada transformação, com o surgimento 
da necessidade de alguma forma de registro, representada pela escrita, assim como novos 
recursos para a mensuração contábil e novas técnicas de contagem. 
14 
A partir do momento em que formaram-se civilizações, segundo Cardoso e Rodante 
(2007), surgiram meios de assegurar e proteger “os direitos do homem, tanto de natureza jurídica 
quanto econômica”. Na região da Mesopotâmia, já havia leis para tal, assim como evidências de 
registros contábeis baseada na escrita. 
Os povos mesopotâmicos utilizavam-se de escrita cuneiforme em placas de argila para 
registrar eventos contábeis, como entregas, inventário ou transações econômicas. Rede (2007) 
explica como o sistema teocêntrico favoreceu o acúmulo de territórios, insumos e riquezas por 
parte dos templos, acarretando em uma grande concentração de poder pelo mesmo, favorecendo 
também o desenvolvimento de técnicas avançadas de contabilidade, uma vez que o trabalho de 
registrar contabilmente esses bens era função dos sacerdotes e escribas dos santuários, treinados 
desde seu início em técnicas baseadas na aritmética e sua aplicação em situações rotineiras. 
Assim como na antiga Mesopotâmia, o dever de registrar contabilmente as 
movimentações de insumos produzidos no antigo Egito era dever dos escribas, subordinados ao 
faraó em um governo teocrático, de acordo com Klein (1954). Os egípcios utilizavam-se, além da 
escrita hieroglífica (e posteriormente a hierática), de papiro, uma espécie de papel, e cálamo, que 
era o instrumento de escrita, facilitando o registro e o controle das operações financeiras 
ocorridas. 
Segundo Cardoso e Rodante (2007), na Índia, 2300 anos atrás, já utilizavam-se normas e 
registros contábeis avançados, por conta de um elevado nível de produtividade agrícola, assim 
como uma organização social elevada frente o restante das civilizações da época. Por volta dessa 
época que surgiu a obra ​Artaxastra​, do sábio Kautilya, onde há estudos ligados a tópicos 
contábeis, como a separação do lucro operacional e não operacional e elaboração de impostos por 
parte do governo, relata Olivelle (2013). Além disso, a comercialização com civilizações do 
Ocidente e o grande volume de transações financeiras geradas por tal forneceu ambiente propício 
para o desenvolvimento da contabilidade na região. 
Nas sociedades da Antiguidade Ocidental, discutia-se questões contábeis, evidenciado na 
obra ​“A República”​, de Aristóteles, que refletia sobre o valor monetário das mercadorias, e 
também havia noção da diferenciação entre os patrimônios público e privado, com a utilização de 
métodos contábeis inspirados nos utilizados pelos egípcios, segundo Cardoso e Rodante (2007). 
A contabilidade era essencial para a administração da ​pólis grega, com a confrontação 
entre despesas e receitas estatais, com apuração de saldo final, posteriormente divulgadas em 
pedras de mármore para visualização da população em geral, explica Lopes de Sá (1999), 
pertinentes e simbólicas para a democracia grega da antiguidade. Os contadores públicos eram 
formados em colégios especializados em contabilidade, e realizavam tais funções a serviço do 
Estado, entre elas o pagamento de salário a funcionários públicos e a elaboração de 
demonstrativos contábeis e administrativos. 
 
b. A Contabilidade na Idade Média e Moderna, até a Revolução Industrial 
 
Após o período que marcou a crise da capital romana, as sociedades passaram por um 
processo de ruralização, segundo Cardoso e Rodante (2007), onde grandes latifúndios foram 
15 
formados, junto a reinados, iniciando o período conhecido como medieval. Huberman (2010) 
afirma que nessa época, quem era detentor de grandes quantidades de dinheiro o mantia parado, 
pois não havia como gerar a movimentação da moeda, meios de investimento, e todos os bens 
para a subsistência dos feudos era neles mesmos produzida, tornando o capital da época estático e 
a existência de moeda irrelevante. 
Com o fim da chamada Alta Era Medieval, em torno do século X, Klein (1954) descreve 
como o corpo social vigente sofreu bruscas transformações, de modo a acomodar uma nova 
classe que despontava: a burguesia. A grande intensificação da quantidade de transações 
financeiras e monetárias geradas pelo advento do comércio na Europa causaram um 
ressurgimento da importância da Contabilidade, com, como afirma Cardoso e Rodante (2007), “o 
reaparecimento da moeda, a atividade creditícia e a entrada em circulação de letras de câmbio, 
realçando as atividades bancárias”. 
Durante esse período de grande prosperidade econômica, conhecido como a Baixa Idade 
Média (entre os séculos XI e XV) que a Contabilidade passou de um instrumento isolado de 
informações simples que os comerciantes utilizavam, para um instrumento de gerenciamento de 
negócios, segundo Hansen (2001). O autor também afirma que durante o século XIII surgiram os 
primeiros registros da utilização do método de partidas dobradas, na Itália, método qual Luca 
Pacioli é creditado como propagador, por conta de sua obra ​Tractatus de Computis et Scripturis​. 
Hansen (2001) descreve o período entre 1494 e 1800, que encerra-se com o início da 
Revolução Industrial, como “A Era da Falsa Estagnação da Contabilidade”, em seu artigo para a 
revista Pensar Contábil, por conta de uma crença no fato de que a contabilidade não 
desenvolveu-se durante esse período como anteriormente visto, no entanto, foi um período, 
descrito por ele, como de consolidação de muitas descobertas e técnicas desenvolvidas 
anteriormente, como o Método das Partidas Dobradas. 
Um grande advento do período, que surgiu após a criação da Companhia das Índias 
Orientais, em 1602, foi um mecanismo que antecede o que conhecemos atualmente como 
dividendos de ações e a divulgação dos resultados, utilizados pela companhia para conseguir 
arrecadar recursos para a realização de novos empreendimentos marítimos. A companhia 
divulgava os resultados obtidos após cada empreendimento e, com o auxílio de umsistema de 
contabilidade complexo para o apuramento dos resultados sobre participações de seus diversos 
investidores. 
No entanto, se para a Contabilidade o período foi de consolidação, Hansen (2001) 
argumenta que o avanço nas artes e nas ciências contemporizaram a Revolução Industrial que 
vinha em seguida, com diversas inovações tecnológicas que eventualmente foram aplicadas na 
produção de bens, assim como de alimentos. Não se sabe ao certo a data que deu início ao 
período, mas Crafts (1985) explica que um aumento da produtividade de alimentos na Inglaterra, 
em conjunto com um período de prosperidade econômica, favoreceram o crescimento 
populacional e consequentemente o aumento da demanda por alimentos e bens de consumos. 
Como resultado também, as fazendas e fábricas aumentaram de tamanho, necessitando de mais 
recursos financeiros, logo houve o surgimento dos bancos para suprir a demanda por capital. 
A partir de então, a Contabilidade passou a ser reconhecida como ciência (a Ciência 
Contábil). Cardoso e Rodante (2007) afirma que desde a primeira metade do século XIX, após a 
publicação da obra ​La Contabilitá Applicatta alle Amministrazioni Private e Publiche​, por Fabio 
16 
Besta, grande teórico espanhol, estudiosos passaram a formular doutrinas que regessem as 
transações contábeis e desde então, a Contabilidade têm evoluído até o como a conhecemos hoje, 
ainda em constante transformação. 
 
5. A HISTÓRIA DA AUDITORIA, ATÉ A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
A palavra Auditoria tem sua origem do latim ​audire​, que significa escutar, ouvir, 
enquanto em inglês o verbo ​to audit ​exprime o significado de examinar, ajustar. Crepaldi (2002), 
define auditoria como: 
 
De forma bastante simples, pode-se definir auditoria como o 
levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, 
procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações 
financeiras de uma entidade. (CREPALDI, 2002). 
 
Desde a existência da contabilidade a atividade da auditoria existe, e suas competências e 
atribuições foram evoluindo conforme a atividade contábil evoluiu, embora formalmente a 
profissão tenha surgido na Inglaterra, no século XIX. Sá (1999) evidencia que há registros 
arqueológicos da prática sendo feita 4500 anos antes de Cristo, entre a família real Urukagina e o 
templo sacerdotal sumeriano. 
Cardoso e Rodante (2007), afirmam que Dario I, imperador persa que governou entre os 
anos 521 e 486 a.C., idealizador e responsável por uma grande reorganização e reforma estrutural 
e legislativa do Império Persa, criou a função de “olhos e ouvidos do rei”, que eram funcionários 
responsáveis por vigiar a ação dos governadores das províncias persas, além de, segundo os 
autores, “garantir o cumprimento das ordens imperiais, fiscalizar a cobrança de impostos e o uso 
do tesouro real”. 
Sá (1998) também destaca o uso da atividade durante o Império Romano, onde os 
imperadores nomeavam funcionários para exercer funções similares às encontradas sob o governo 
de Dario I na Pérsia antiga, os quais supervisionavam os administradores das províncias romanas 
e suas operações financeiras, posteriormente reportando verbalmente seus achados ao imperador. 
Não é surpreendente a origem latina da palavra, considerando a natureza da atividade praticada 
em território romano. 
A Idade Média também foi marcada pela presença da auditoria, como um grande exemplo 
sendo os ​mici dominici​, funcionários a comando do rei Carlos Magno, que reinou durante os anos 
768 e 814. Os ​mici dominici (ou enviados do senhor), eram inspetores das atividades dos condes e 
marqueses em relação a aplicação da legislação real e a cobrança dos impostos reais, assim como 
a imposição do juramento de fidelidade e lealdade ao rei, segundo Cardoso e Rodante (2007). 
Vale ressaltar a similaridade entre as atividades exercidas pelos profissionais da 
Antiguidade e Idade Média em relação a auditoria: a fiscalização do cunprimento das medidas 
adotadas pelos legisladores vigentes por seus subordinados responsáveis por territórios do 
17 
governo. Uma outra similaridade encontrada, que remete ao estado atual da profissão, é a 
fiscalização específica sobre aspectos financeiros e tributários das atividades dos subordinados 
dos governantes, como a taxação de impostos e o equilíbrio das contas públicas, além da 
aplicação correta das diretrizes dos governantes. 
Sá (1999) relata a utilização do termo “auditor” pelo rei Eduardo I, na Inglaterra, em torno 
do século XIII. Os profissionais de auditoria do rei eram responsáveis pela verificação das contas 
públicas, e até mesmo, após o falecimento de sua esposa, a conferência das contas de seu 
testamento. Os documentos denominados ​Probatur sobre as Contas​, são considerados por muitos 
historiadores os primeiros relatórios de Auditoria, que para sua realização, era imperativa a 
contribuição e aprovação pelos auditores nomeados pelo rei. 
Durante a Idade Média, há diversos registros da atividade auditorial, como relata Cardoso 
e Rodante (2007): 
 
Por toda a Idade Média e após o Renascimento, nas diversas 
regiões da Europa, surgiram associações profissionais com a 
missão de executar as funções de Auditoria, como os 
conselhos londrinos, em 1310; o Tribunal de Contas, em 
1640, em Paris; o Collegio dei Raxonati, em 1581, na 
cidade de Veneza; e a Academia dei Ragionieri, em 1658, 
nas cidades de Milão e Bolonha (CARDOSO E 
RODANTE, 2007). 
 
Embora os marcos comentados anteriormente, que retratam as origens da profissão da 
auditoria, segundo Santi (1988), o primeiro auditor propriamente dito possivelmente tratava-se de 
um guarda-livros, “a serviço de algum mercador italiano” entre os séculos XV e XVI, supõe o 
autor, que por seu grande conhecimento sobre as regras de escrituração e a mecânica das 
transações, deixou eventualmente de exercer a função contábil e passou a atuar como um assessor 
ou consultor para especialistas na área contábil ou até mesmo outros mercadores. 
Todavia, o cenário de grande prosperidade econômica britânico, citado no capítulo 
anterior, foi primordial para o desenvolvimento da Auditoria. A Inglaterra, como grande força 
econômica e marítima, dominadora das rotas comerciais sob o mar e terra de origem da Primeira 
Revolução Industrial no final do século XVII, onde surgia e prosperavam grandes indústrias de 
diferentes ramos de produção de bens, além de detentora de uma legislação de tributação sobre o 
lucro das empresas, foi onde a atividade do auditor mais se desenvolveu. 
Dentro do contexto da Revolução Industrial, em torno dos séculos XVIII e XIX a 
necessidade por crédito por parte das empresas assim como a formação do mercado de capitais 
fez com que surgissem outros agentes econômicos, além dos próprios donos das indústrias. Desse 
modo, as demonstrações de resultado ganharam relevância para um novo público: os investidores 
(e futuros investidores), e tendo em vista a valia de tais documentos, para garantir a maior 
acuracidade o possível, equipes de profissionais com a capacidade técnica e conhecimento 
18 
contábil passaram a analisar e conferir as demonstraçõesdas empresas, dando origem ao trabalho 
auditorial moderno como o conhecemos hoje. 
 
6. O TRABALHO DO AUDITOR DA INGLATERRA NO SÉC. XIX 
 
Embora a responsabilidade e as incumbências do auditor estivessem muito bem 
delineadas na época, pouco estuda-se sobre o trabalho efetivamente realizado pelo auditor inglês 
durante a época da Revolução Industrial, onde surgiu a profissão como a conhecemos atualmente, 
e as décadas seguintes a seu surgimento, segundo Matthews (2006), em contraste com a grande 
quantidade de estudos sobre as inovações técnicas em relação a indútria e as grandes 
transformações socioeconômicas ocorridas em território britânico durante o período. 
Vale ressaltar também a grande quantidade de processos jurídicos em casos de erros por 
parte da auditoria ou corrupção dentro das próprias empresas, que são tão antigos quanto a 
própria profissão, segundo Mitchell (1993), com registros datando desde o século XIX na 
Inglaterra, que curiosamente não chamaram a atenção dos historiadores da Contabilidade para o 
tema do trabalho auditor anteriormente ao século XX. Isso pois, insolitamente, o trabalho do 
auditor inglês exercido no século XIX era o mesmo que o do contador da empresa. 
A ​Bookkeeping Audit (ou Auditoria de Escrituração Contábil), descrita por Matthews 
(2006) em seu artigo publicado em parceria com a ICAEW, é a metodologia com que grande 
parte dos auditores ingleses operava durante o século XIX, que basicamente se resume em 
realizar o trabalho de contabilidade das empresas, negligenciando em parte a função central do 
auditor, de conferir os lançamentos e os saldos finais das contas empresariais, confirmado 
também pelos livros didáticos de Auditoria da época. Abaixo temos um trecho do livro didático 
de Auditoria de Pixley (edição de 1881): 
 
“In many companies, the duties of the Book-keeper 
terminate with the preparation of the “Trial Balance”, the 
manipulation of this document, represented by the drawing 
up of the Revenue Account and the Balance Sheet, being 
frequently entrusted to the Auditor, when that official is a 
Chartered Accountant”​ (PIXLEY, 1881) 
 
Do trecho acima, destaca-se a porção onde o autor confirma serem geralmente confiados 
ao auditor o trabalho não só de elaborar o Balanço Patrimonial, mas também de fechar as contas 
de Receitas e Despesas da empresa, mesmo afirmando anteriormente ser dever do “​Book-keeper​”, 
o contador. 
Em outro livro didático, há reportes de casos jurídicos que evidenciam a natureza contábil 
do trabalho do auditor inglês da época. Dentre os 26 casos de tribunal relacionados a auditoria 
reportados pelo livro de Dicksee (2010) entre 1897 e 1936, em 19 deles o auditor era o 
responsável por elaborar as contas finais das empresas. Matthews (2006) cita em seu artigo o caso 
19 
ocorrido com o ​London General Bank em 1895, cujo registro do jornal ​London Times datado do 
ano contém o parecer do jurado sobre a função do auditor responsável: 
 
“Mr Theobold’s duty as auditor was confined to framing 
the balance sheets” (LONDON TIMES, 7 de Agosto de 
1895) 
 
Além dos registros no livro didático Dicksee e Pixley, Matthews (2006) cita que diversos 
artigos da revista ​the Accountant (revista britânica fundada em 1874), entre os anos 1880 e 1890, 
indicam o papel do auditor como contador. Chandler e Edwards (1994), em entrevista com um 
dos associados de uma das maiores companhias de Auditoria de Birmingham do século XIX, 
comentam que era de dever do auditor elaborar o livro de balanço ele mesmo, e, em algumas 
instâncias, também escrever o ​Private Ledger​, que corresponde ao livro fiscal oficial da empresa, 
ilustrando a atuação não condizente com sua função dos auditores da época. 
Outra evidência da pesquisa conduzida por Matthews (2006), referente a função de 
contador do auditor inglês, é um questionário aplicado em membros da ICAEW (Instituto de 
Contadores Públicos da Inglaterra e do País de Gales), é que em torno de dois terços dos 
respondentes que atuaram na área entre os anos 1920 e 1950 afirmaram realizar o trabalho 
contábil frequentemente. Nota-se a época de atuação dos entrevistados sendo no século XX, no 
entanto, segundo o autor, evidências mostram uma estagnação no desenvolvimento das técnicas 
de Auditoria desde os anos 1860, assim como a função do próprio auditor, até os anos 1960. 
Além disso, na época de elaboração do estudo, não foram encontrados membros que tivessem 
atuado em atividades auditoriais no século XIX. 
Além disso, o autor afirma que grande parte dos entrevistados em seu projeto em conjunto 
com a ICAEW afirmaram a existência de uma “simbiose entre a Contabilidade e a Auditoria” na 
época, além de afirmarem que seus clientes enxergavam o papel do auditor como contador 
conjuntamente. 
Chandler e Edwards (1994) retomam um outro artigo publicado na revista ​the Accountant​, 
de 1876, onde seu autor argumenta que era positivo que o auditor realizasse o trabalho contábil de 
seu cliente desde o início, e em seguida, superintender o restante das contas do balanço, sob a 
visão da Auditoria. 
Além dos artigos publicados pela revista ​the Accountant e os registros em livros didáticos 
de Auditoria, há também evidências da natureza do trabalho realizado pelos auditores ingleses 
nas próprias notas dos auditores após o trabalho realizado para as companhias da época. No 
estudo publicado por Matthews (2006), há um trecho de um relatório de auditoria feito pela 
companhia ​Brewis & Rainie’s ​sobre as demonstrações de uma pequena empresa de papelaria, 
Andrew Whyte & Son, Limited​, referente ao ano de 1901, que segue abaixo: 
 
“We have examined the Books of Andrew Whyte & Son, 
Limited, for the Year ended 30th June, 1901, in connection 
with the Stock Sheets as certified by the Managing 
20 
Directors, vouchers, and other instructions, and ​have 
prepared the foregoing Balance Sheet and Profit and Loss 
Account, which exhibit respectively a correct state of the 
Company’s affairs as at 30th June 1901, and the result of 
the trading for the period mentioned, as shown by the 
Books.”​ (BREWIS & RAINIE’S, 1901) 
 
 
É importante destacar no trecho acima a expressão em negrito, onde é confirmada a 
atuação dos auditores da ​Brewis & Rainie’s como realizadores tanto do Balanço Patrimonial da 
empresa, assim como da demonstração de Receitas e Despesas. 
Observando as evidências apresentadas pelos autores acima, fica claro que a função do 
auditor na Inglaterra, principalmente no século XIX, não era somente exercer o desígnio da 
atividade da Auditoria, mas sim realizar o trabalho de contador da empresa, além de também 
garantir a acuracidade nas demonstrações financeiras das empresas sob a perspectiva auditorial. 
Em sua pesquisa, Matthews (2006), mostra diversos outros trechos de entrevistas com ex 
profissionais de Auditoria que confirma a existência deste chamado “duplo trabalho” realizado 
pelos auditores da época, sendo tanto advindo de pequenas como grandes empresas. 
Há perigos perceptíveis quanto a qualidade da verificação financeira quando é realizado 
esse tipo de trabalhomencionado acima, especialmente quando analisamos sob a ótica do 
princípio da independência do auditor, base para a imparcialidade e objetividade das conclusões 
de Auditoria. Como um auditor encontrará erros nos balanços que ele mesmo elaborou, sendo que 
os fez com a convicção de representar fidedignamente a realidade? 
Há um trecho da revista ​the Accountant​, do ano de 1921, sobre o caso de fraude do 
Farrow’s Bank​, onde o auditor/contador responsável pela conferência das contas do banco, 
Gilbert Gansley, é questionado se há alguma objeção sobre o mesmo contador que registrou as 
transações durante o ano realizar a auditoria da empresa no final do ano, ao qual ele responde: 
 
“Yes, there is really. I am perfectly open to admit there are 
a number of cases where it is done, but it is really 
objectionable because you cannot audit the same books that 
you keep yourself” (THE ACCOUNTANT, 9 de Julho de 
1921) 
 
Embora seja um registro de um período posterior à Primeira Revolução Industrial, como 
denotado anteriormente, algumas práticas da atividade da Auditoria se mantiveram desde os anos 
1860 até os anos 1960, em algumas firmas, segundo Matthews (2006). O caso acima é ilustrativo 
de muitos outros que aconteceram durante o período abordado por esse trabalho, e elucida os 
pontos supracitados durante o capítulo: não só que o trabalho de Auditoria era feito em conjunto 
com o de Contabilidade, mas também as consequências negativas disso. 
21 
O motivo pelo qual esse “duplo trabalho” ocorria é simples: muitas das empresas 
formadas durante o século XIX não tinham a mão de obra necessária para realizar tais atividades 
sozinhos, tanto em relação a especialização, o conhecimento da Contabilidade propriamente dito, 
como em quantidade, não havia funcionários o suficiente designados para tais tarefas, ou, em 
alguns casos, havia funcionário nenhum desempenhando tal função, o que levava às firmas de 
Auditoria realizarem tal serviço para seus clientes. 
Embora fosse numerosa a quantidade de casos em que isso ocorria, não era por via de 
regra, como aponta as entrevistas conduzidas por Matthews (2006). Em alguns casos, 
especialmente envolvendo empresas de maior porte, o trabalho do auditor era “puro”, como o 
denominavam e em outros casos era contratada uma empresa de auditoria para realizar a apuração 
das transações e elaborar o Balanço Patrimonial, enquanto outra era contratada posteriormente 
para realizar a verificação das demonstrações anuais publicadas pela empresa. No entanto, estes 
casos onde a empresa era estruturada suficientemente para comportar equipes de contadores 
exclusivamente designadas para o trabalho contábil era raro. O que ocasionou uma grande 
mudança na estrutura das empresas na época, e consequentemente no trabalho do auditor inglês 
durante os séculos XIX e XX foi o crescimento intenso crescimento do país durante a Revolução 
Industrial. 
 
7. O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA ECONOMIA BRITÂNICA E NA 
AUDITORIA 
 
O crescimento econômico durante a Revolução Industrial, como supracitado 
anteriormente, foi essencial para o desenvolvimento da atividade auditorial na Inglaterra do 
século XIX. Com o crescimento das empresas, considerando seu aumento de produtividade e de 
porte físico, assim como o aumento de receita, que possibilitou todo seu crescimento estrutural, 
assim como o crescimento da profissão de auditor. 
Durante o período, houve um crescimento vertiginoso da quantidade de companhias e de 
seu tamanho, como evidenciado por Crafts (1995). Em seu artigo, o autor pontua que entre 1809 e 
1839, havia em território inglês aproximadamente 31 imóveis de companhias dos setores de 
manufatura, extração de minerais, comércio, finanças ou administração pública 
não-desembarcados de valor superior a £500.000, enquanto entre os anos de 1840 e 1879, a 
quantidade desses imóveis aumentou para 157, e posteriormente entre os anos de 1880 e 1919, 
este número teve um crescimento considerável para 574 imóveis. 
Crafts (1985) ilustra o crescimento das indústrias em detrimento da economia 
predominantemente rural britânica do século XVIII, mostrando que em 1800, 40,8% da 
população masculina inglesa estava empregada em ambiente rural, enquanto 29,5% estava 
empregada na indústria. Já em 1840, o cenário se inverte: 47,3% está empregada na indústria, 
enquanto apenas 28,6% estavam empregados no trabalho rural. 
Matthews (1997) aponta o desenvolvimento das companhias ferroviárias como essencial 
para o desenvolvimento da economia industrial britânica no século XIX, assim como o 
desenvolvimento da Auditoria na Inglaterra. Segundo o autor, a demanda pela presença no 
mercado de ações cresceu intensamente em torno das década de 1850 e 1860, intensificando 
22 
também a demanda por auditoria. O pesquisador afirma que antes dos anos 1880, cerca de 85% 
das empresas de capital aberto tinham suas demonstrações auditadas por um contador certificado. 
Dentro desse contexto vale ressaltar a importância da Lei das Sociedades Anônimas de 
1856, ou ​Joint Stock Companies Bill​, em conjunto com a de 1862, que facilitaram a abertura de 
capital pelas empresas, que na época, aponta Matthews (2006), era majoritariamente composta 
por ferroviárias, gerando uma grande demanda pelo trabalho de Auditoria e resultando em um 
boom​ do mercado de ações da época. 
Durante esse período, as companhias usualmente contratavam auditores externos para a 
não só a verificação de seus balanços, mas também para a elaboração de seus demonstrativos 
financeiros como um todo, como demonstrado anteriormente. O próximo passo para tais 
companhias, como afirma Jones (1981), foi que, em conjunto com os crescentes lucros das 
empresas no geral na época, empresários passaram a reduzir custos contratando terceiros para a 
realização do trabalho contábil e passaram a contratar profissionais certificados em Contabilidade 
como funcionários das empresas, constituindo áreas ocupadas por contadores, com tal função em 
mente, permitindo que auditores externos realizassem o trabalho de verificação que é intitulado à 
profissão. 
A hipótese de Jones (1981) é confirmada pelos registros encontrados por Matthews (2006) 
sobre as mudanças na estruturação de algumas companhias inglesas datando no final do século 
XIX e início do século XX, como a empresa elétrica Ferranti, que em 1889 passou a ter um 
“contador chefe” e um departamento de Contabilidade. A empresa produtora de vidros 
Pilkingtons tinha uma área dedicada a Auditoria interna perto dos anos 1910. A Lever Bros e a 
Courtaulds já haviam nomeado contadores certificados como gerentes de Contabilidade por volta 
da mesma época. 
Em resumo, o desenvolvimento econômico das empresas permitiu com que elas 
tornassem mais complexas, com a criação de áreas especializadas para a realização da apuração 
dos resultados do exercício, delegando a função da Auditoria para o auditor externo, permitindo 
que as técnicas da profissão se desenvolvessem assim como o papel do profissional para o 
mercado, uma vez que a demanda por seu trabalho teria aumentado exponencialmente desde ogrande avanço do mercado de ações inglês. 
 
8. CONCLUSÃO 
 
A função do auditor é tão antiga quanto a própria existência da Contabilidade, assim como 
a existência do próprio ​homo sapiens​. Desde os primórdios da humanidade houve a necessidade 
de se mensurar os recursos acumulados e , desde que esses recursos passaram a ser relativamente 
numerosos, surgiu também a necessidade de conferir se a mensuração dos recursos foi realizada 
corretamente. 
Porém, Matthews (2006) argumenta que a função do auditor durante o decorrer dos 
séculos XVIII, XIX e XX passou por transformações derivadas das grandes transformações 
econômicas que a indústria britânica passou durante a Primeira revolução Industrial. Fato é que a 
função do auditor profissional, como mostram evidências datadas do século XX, não 
23 
correspondia com o escopo da função do Auditor, mas sim com um trabalho híbrido entre a 
elaboração dos demonstrativos financeiros das companhias e a auditoria propriamente dita. 
Vale ressaltar a grande cultura em torno dessa dupla função do auditor que destacava-se 
durante o período relatado, com a prática sendo disseminada por grande parte dos profissionais da 
área, sendo inclusive registrada em livros didáticos, referências na Auditoria. 
Isso se devia muito ao baixo nível de profissionalismo dos cliente das firmas de Auditoria 
da época, que não tinham recursos humanos e intelectuais o suficiente para manter organizados 
seus registros contábeis, de modo que o auditor ficava responsável por tal. 
A grande importância da Revolução Industrial veio por meio do voluptuoso aumento de 
recursos circulados durante a época, assim como o grande crescimento do ramo industrial na 
Inglaterra durante o século XIX, de modo que as empresas passaram a tornarem-se cada vez mais 
complexas, adotando em suas estruturas áreas responsáveis pela escrituração contábil, permitindo 
que os auditores pudessem exercer a atividade da Auditoria sem a preocupação e o trabalho de 
apurar os lançamentos de seus clientes, assim ocasionando em uma das principais mudanças 
técnicas da história da Auditoria moderna. 
Matthews (2006) exprime em seu artigo científico o sentimento de que a evolução da área 
de Auditoria é pouco explorada pelos historiadores contábeis, tendo em conta a reputação de 
controversa da profissão e os inúmeros casos associando-a com grandes fraudes na esfera 
corporativa. Tendo isso em vista, vale a pena afirmar que a grande mudança de caráter da 
profissão durante a Revolução Industrial não apenas ajudou a moldar a área do conhecimento e a 
profissão para como a conhecemos atualmente, graças ao avanço financeiro das empresas 
inglesas nos séculos XVIII e XIX e da mudança pontual da legislação britânica em 1856, mas 
também permitiu que ela se perpetuasse até os dias de hoje. 
 
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