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Jornalismo Ecológico em Cubatão

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1 
 
CUBATÃO E O JORNALISMO ECOLÓGICO:ESTUDO DE TRÊS MOMENTOS 
 
Renata Egydio de Carvalho 
 
Resumo 
Esse trabalho aborda o acompanhamento da imprensa em três episódios ambientais marcantes da história da 
cidade de Cubatão. O incêndio de Vila Socó. O Programa de Controle da Poluição de Cubatão e, a semeadura 
aérea para a recuperação da Mata Atlântica. Esses três episódios interligados, mais o sensacionalismo da 
imprensa, propiciaram a Cubatão a mudança da imagem de “Vale da Morte” para cidade “ Símbolo da 
Ecologia” . 
 
Introdução 
 
 Nos países em desenvolvimento, onde a necessidade de crescimento é uma grande 
preocupação, há um grande potencial de danos ao meio ambiente, as questões ambientais 
adquirem matizes mais carregadas. Cubatão significou um prelúdio aos rumos da ação 
política em torno da qualidade ambiental no Estado de São Paulo. 
 Cubatão é o município brasileiro que retrata, com perfeição, a desorganização 
social do País. Se, por um lado, ostenta uma das maiores taxas e impostos, resultantes da 
intensa atividade industrial do maior pólo petroquímico e siderúrgico da América Latina, 
por outro, apresenta índices de miserabilidade que o aproxima dos países mais atrasados do 
globo. Graves problemas na área da habitação afetam a população cubatense, ao lado de 
outros como educação e abastecimento. 
 As causas que tornaram famoso o município de Cubatão estão menos ligadas à sua 
importância como gerador de empregos e riquezas e mais à poluição. Houve um 
crescimento industrial muito rápido em Cubatão, e durante a fase principal da implantação 
das indústrias - realizadas em apenas duas décadas - não houve qualquer previsão dos 
impactos sociais e ambientais relacionados direta ou indiretamente com a industrialização. 
 A industrialização de Cubatão teve início em 1949 com a construção da Refinaria 
Presidente Bernardes, da Petrobrás - Petróleo do Brasil S.A. Em 1962 começou a operar a 
COSIPA- Companhia Siderúrgica Paulista. Essas duas empresas estimularam a 
implantação de 21 outras indústrias, que utilizavam os seus produtos e subprodutos. Todo 
esse imenso complexo que, de certa forma, depende da Refinaria, constitui o chamado “ 
Pólo Petroquímico de Cubatão” . 
 No seu gigantismo o pólo industrial era, em 1984, responsável pela produção de 
47% do hidrogênio brasileiro, 40% do aço, 38% dos fertilizantes, 32% do ácido fosfórico, 
30% do polietileno, 18% do gás de cozinha e 12% da gasolina consumida no território 
nacional. Em 1983, além de abastecer o mercado interno, Cubatão exportou produtos no 
2 
 
valor de um bilhão de dólares. Hoje, continua no pódio da participação na produção 
nacional. 
 
Características Geográficas 
 
 O município de Cubatão, no Estado de São Paulo, está situado a 60 Km da maior 
metrópole do País - São Paulo - e a 20 Km do principal porto paulista, em Santos. Estende-
se ao longo da costa e é contornado por colinas e montanhas na forma de “ U” , cujos lados 
são formados a Oeste, ao Norte e a Leste pela Serra do Mar, e ao Sul pela região estuarina 
e depois o mar. 
 Possui um território de 160 Km2, composto de morros e serras (58%), manguezais 
(24%) e planícies e mangues aterrados (18%). A planície constitui uma faixa de 11 Km de 
comprimento, com largura variável entre 2 e 4 Km. Nessa estreita faixa de terras planas e 
submersíveis estão construídas as indústrias, o centro administrativo e comercial do 
município e os bairros residenciais operários. O rio Cubatão é o mais importante da rede 
hidrográfica da região, mas outros cursos d’água atravessam o município. 
 O clima é quente e úmido apresentando características de tropicalidade. Os ventos 
provenientes do mar têm o papel de desviar parte do ar estagnado e contaminado que cobre 
Cubatão para os lados da serra, os ventos marítimos empurram o ar quente e poluído para 
as suas encostas, onde encontra uma massa de ar quente ascencional e provoca o fenômeno 
de chuvas orográficas ( da montanha para baixo) depositando o grande volume de 
poluentes no solo, afetando profundamente a cobertura vegetal das encostas da serra. 
 Nos períodos de inverno, há formação de camadas de inversões térmicas de 
superfície que pode estender-se por vários dias, deixando a cidade numa situação difícil, 
com a qualidade do ar bastante comprometida, pois concentra todos os tipos de poluentes - 
dos processos industriais e do trânsito de veículos - próximos ao solo. 
 Nenhum planejamento orientou a instalação das indústrias, que foram se 
localizando ao sabor das vantagens imobiliárias ou pré-requisitos para o seu 
funcionamento, perto ou longe do núcleo urbano, a favor ou contra os ventos, acarretando, 
ao longo dos anos, problemas sérios de poluição do ar, do solo e das águas. 
 
O que aconteceu em Cubatão 
 
 Porém, começaram a aparecer os resultados dessa atividade industrial não 
controlada. A primeira descoberta alarmante foi a presença de altas concentrações de 
mercúrio no rio Cubatão ( que provoca o “ Mal de Minata” ). A incidência de 
malformações congênitas, de câncer no pulmão e doenças mentais começou a ser estudada. 
3 
 
Mas a partir da década de 80 a anencefalia, uma doença que produz natimortos sem 
cérebro, e os poluentes químicos emitidos pelas indústrias de Cubatão começaram a ser 
relacionados, chamando a atenção da comunidade científica. 
 No caso da poluição de Cubatão, o seu controle tem demonstrado que, antes de ser 
um processo técnico, é um processo político. Dentro da postura de “ desenvolvimento a 
qualquer custo” definida pelo Brasil, na Conferência de Meio Ambiente, Estocolmo 72, a 
expansão do pólo industrial teve um impulso efetivo, sem nenhuma preocupação de 
preservação ambiental. Por décadas, as implacáveis e constantes emissões líquidas e 
gasosas de indústrias químicas petroquímicas, emissões de uma gigantesca siderúrgica e de 
sete fábricas de fertilizantes, confirmaram que os recursos naturais se esgotam e são 
saturáveis. A contaminação ambiental levou vários ecossistemas à morte e as ações do ser 
humano transformaram a dinâmica da vida desse centro industrial. 
 Era necessário que grupos de pesquisadores se unissem e apresentassem propostas 
de estudos sobre a fauna e a flora de Cubatão, a ecologia dos mangues e do estuário, e um 
estudo sistemático dos diferentes poluentes encontrados nos efluentes líquidos, sólidos e 
gasosos. Era fundamental que esses estudos fossem feitos em conjunto com diferentes 
grupos de pesquisa e, que as iniciativas de despoluição e os empresários teriam que 
começar a aceitar e executar as resoluções, até mesmo sob a imposição da lei. Em 1983, o 
ponto de partida - a decisão política para despoluir Cubatão. 
 Interceptando o andamento dos entendimentos, em 25 de fevereiro de 1984, um 
episódio marcou profundamente a história de Cubatão: o vazamento de um oleoduto da 
Petrobrás causou um trágico incêndio na Vila Socó, um bairro operário (favela) de 
Cubatão. 
 Essa favela era formada por barracos sustentados por palafitas no manguezal. A 
gasolina vazada se espalhou sobre a água e uma faísca de fogo incendiou as casas dessa 
vila. O incêndio ocorreu por volta de uma hora da manhã, num sábado, enquanto 1.200 
famílias dormiam em seus barracos de madeira. Foram estimadas mais de 300 mortes. 
 Foi, então, em julho de 84, com a implantação do Programa de Controle da 
Poluição de Cubatão, com o levantamento e controle das fontes que poluiam, que 
começou uma ação mais efetiva no caso. Além de enfrentar o problema ambiental, era 
preciso também enfrentar a desinformação da comunidade e sua consequente manipulação, 
tão danosa quanto o próprio problema. 
 No Programa de Controle da Poluição de Cubatão estavam também estabelecidas 
avaliações trimestrais dos resultados adquiridos das ações praticadas conforme um 
cronograma planejado e a sua divulgação através da imprensa. Isso propiciou o 
desencadeamento de ações corretivas dentrodo tempo disponível e o adequado 
enfrentamento do “ lobby” industrial nas questões ambientais, possibilitando a prestação 
4 
 
de informações para várias facções políticas e opinião pública. As indústrias poluidoras 
eram autuadas e a imprensa construia a imagem da mesma perante a opinião pública, 
quando não cumpriam algum item proposto no cronograma. 
 Em 1990, foi concedido o valor de 80% de melhoria na qualidade do ar de Cubatão, 
e a recuperação das águas do rio Cubatão teve como prova o reaparecimento dos peixes. 
 Em 1989, outro projeto foi implantado para revegetar as encostas da Serra do Mar, 
remediando mais um problema que afligia Cubatão: o desmoronamento da serra que 
comprometia a sobrevivência tanto física como econômica do município. Esse projeto e 
seus resultados chamou a atenção da grande imprensa do Brasil e também da imprensa 
internacional. Porém, o sucesso do reflorestamento da serra dependia do monitoramento do 
sucesso do Programa de Despoluição de Cubatão. 
 A semeadura aérea foi uma estratégia de regeneração natural de diversas espécies 
da Mata Atlântica designada por “ chuva de sementes” . 
 Como as sementes e os esporos apresentavam tamanho e peso extremamente 
pequenos ( em um grama de sementes seriam viáveis mais de 5.000 plantas para espécies 
como Tibouchina holosericea ou Tibouchina pulchra, por exemplo) , foi desenvolvido uma 
técnica de envolvimento das sementes em pellets de material gelatinoso, para viabilizar a 
semeadura aérea, solução encontrada para o plantio das grandes áreas de difícil acesso por 
terra, nas escarpas da Serra do mar. 
 A semeadura aérea com pellets surgiu num cenário onde não se tinha perspectivas 
para a recuperação da Serra do Mar, como uma alternativa criativa, totalmente concebida 
com a observação da natureza. Era um modelo natural, diferente e tinha, sobretudo, um 
aspecto lúdico e um significado simbólico que mexia com a consciência coletiva da 
criação. 
 
Objetivos 
 
 Com o objetivo de traçar um perfil do jornalismo ambiental no Brasil, foi escolhido 
o caso Cubatão como cenário de investigações, por ser uma cidade que sofreu muitos 
prejuízos ambientais com a instalação de um pólo petroquímico em seu perímetro urbano. 
Isso teve como consequência, um desenvolvimento econômico selvagem, que a levou a ser 
conhecida, mundialmente, como o “ Vale da Morte”. Porém, uma transformação, 
consequência do plano de despoluição, avaliado trimestralmente pela opinião pública, 
através de balanços abertos à comunidade e acompanhado pela imprensa, fez com que a 
cidade chegasse a ser considerada “ Símbolo da Ecologia “. 
5 
 
 Três fatos importantes marcaram Cubatão, mostrando ângulos diferentes e 
abrangentes das implicações ambientais: o lado científico, político e sócio-econômico, que 
permitem analisar o comportamento da imprensa em relação a assuntos de meio ambiente. 
 Num primeiro momento para estudo, o incêndio de Vila Socó, apesar de ter sido 
uma tragédia muito mais humana do que ambiental, começou com um vazamento de 
gasolina dentro de uma favela que foi consumida pelo fogo. 
 Num segundo momento de estudo, o tema analisado foi o Programa de Controle da 
Poluição de Cubatão, implementado pelo Governo do estado, foi um ato político para 
amenizar a poluição que contaminava o ar, a água e o solo da região. 
 E, num terceiro momento de estudo, a semeadura aérea, foi uma das medidas 
emergenciais para reduzir os riscos de desmoronamentos da Serra do mar na região de 
Cubatão, devido à morte da vegetação expostas as emissões de poluentes das indústrias. 
 A análise quantitativa e qualitativa das matérias divulgadas em cada um desses três 
momentos possibilitou concluir que apesar da boa intenção de se fazer um jornalismo 
ecológico crítico, ainda existem muitas deficiências. O comportamento da imprensa 
ecológica no Brasil continua sendo sensacionalista, superficial, não se dando tempo ou 
trabalho para checar o que apura, e nem refletir sobre a informação que está veiculando. E, 
principalmente, a imprensa só se interessa por casos de impactos e não tem o hábito de 
concluir os assuntos que noticia. 
 
Material e Método 
 
 O levantamento das matérias divulgadas nesses três momentos foi feito em quatro 
grandes jornais de São Paulo: Folha de São Paulo, A tribuna de Santos, Jornal da Tarde e 
Gazeta Mercantil. 
- Folha de São Paulo (FSP) - jornal de maior tiragem no País. Aproximadamente 1.500.000 
exemplares diários. 
- A Tribuna (AT) - jornal regional e por isso dá mais continuidade aos assuntos 
relacionados à Cubatão. Cobre toda a Baixada Santista, incluindo Cubatão. A tiragem é de 
15.000 exemplares diários. 
- Jornal da Tarde (JT) - pertence ao grupo O Estado de São Paulo, com uma linha editorial 
diferenciada do grupo FOLHA. Foi pioneiro no jornalismo ambiental, dedicando um 
espaço maior e constante para o tema. Possuiu, temporariamente, uma editoria 
especializada, na qual Cubatão foi muito divulgado. Tiragem média de 15.000 exemplares. 
- Gazeta Mercantil (GM) - jornal direcionado para a área financeira e indústria, cujo 
público alvo são empresários. Único jornal paulista que mantém uma editoria de meio 
ambiente diária, mesmo depois da ECO 92. Tiragem de 82.000 exemplares. 
6 
 
 O período determinado para o estudo foi de junho de 1983 a outubro de 1993, 
determinado pelo início do Programa de Controle da Poluição, motivado pelo incêndio de 
Vila Socó, até a implantação dos bosques experimentais da Serra do mar, que tem como 
objetivo aumentar a biodiversidade das áreas anteriormente semeadas pelos pellets. 
 Num universo de 137 matérias divulgadas pelos quatro jornais, no referido período, 
nos três momentos pesquisados, as análises forma realizadas obedecendo as seguintes 
etapas: 
1- análise quantitativa das matérias divulgadas por cada jornal; 
2- análise quantitativa das matérias classificadas por tipo de fonte, para cada jornal; 
3- análise qualitativa de uma amostra significativa do universo de 137 matérias divulgadas, 
classificadas pelo seu conteúdo. 
 As fontes forma agrupadas pela seguinte classificação: 
(A) moradores de Cubatão 
(B) cientistas/pesquisadores 
(C) profissionais liberais ( médicos, advogados, etc.) 
(D) órgãos do governo ( Prefeitura, IML, FIESP, CIESP, CODESP, TEDEP, IF, SMA) 
(E) políticos ( de Presidente da República a vereador) 
(F) ONG’s, associações, sindicatos 
(G) CETESB 
(H) IPT 
( I )Universidades 
(J) indústrias 
(K) imprensa 
(L) prevenção/segurança ( bombeiro, delegado, polícia, promotor de Justiça, etc.) 
(M) fontes não identificadas 
(N) editoriais 
(O) artigos assinados 
 Na análise qualitativa foram verificadas a tendência das matérias ao 
sensacionalismo, o rigor científico, a diversidade das fontes, os rivanchismos, a 
multidisciplinaridade das informações, a ética, etc. 
Tabela 1 - Matérias divulgadas em cada momento e suas fontes 
 NÚMERO DEMATÉRIAS NÚMERO DE FONTES 
1º Momento 
2º Momento 
3º Momento 
79 
35 
23 
269 
104 
81 
Total 137 454 
 
7 
 
Primeiro Momento 
 
 O incêndio de Vila Socó aconteceu na madrugada do dia 25 de fevereiro de 1984, e 
os jornais editaram cadernos especiais sobre a tragédia, todos fazendo uma retrospectiva 
para chegar à razão do acidente. 
 Para não ficar muito repetitivo, pois as matérias sobre o incêndio se estenderam por 
vários dias, foram analisados os quatro dias posteriores ao acidente ( dias 26, 27, 28 e 29). 
Como “ notícia ruim vende jornal” , forma inúmeros os títulos e subtítulos sobre o assunto. 
 Foram analisadas 79 matérias dos quatro jornais, em que foram citadas 269 fontes. 
A distribuição das matérias divulgadas por jornal pode ser vista no gráfico abaixo: 
 
26/2/84 27/2/84 28/2/84 29/0284
0
5
10
15
20
25
26/2/84 27/2/84 28/2/84 29/0284
FSP A Tribuna JT GM
 
As fontes mais procuradas pelos jornalistas foram: 
PRIMEIRO MOMENTO
TIPOS DE FONTES
0
10
20
30
40
5060
70
80
90
A B C D E F G H I J K L M N O 
 Como era de se esperar, A Tribuna foi a recordista no número de publicações, 
criando inclusive um suplemento, cujo título era “ Tragédia da Vila Socó” que circulou 
por vários dias. Tanto na A Tribuna, quanto na Folha de São Paulo e no Jornal da Tarde as 
fontes mais procuradas foram os políticos, depois os seguranças e os moradores da favela. 
Já A Tribuna procurou ouvir também os órgãos do governo, a CETESB - Companhia de 
Tecnologia e Saneamento ambiental, a indústria e os cientistas, dando maior enfoque 
técnico para as soluções que estavam sendo adotadas. O JT se fixou mais nas opiniões das 
ONG’s. A Gazeta Mercantil só se interessou pela multa aplicada à Petrobrás e sua fonte 
principal foi a CETESB. 
8 
 
 Apesar de ter sido uma tragédia muito mais humana do que ambiental, a situação 
do ambiente poderia ter sido explorada , mas a imprensa não se preocupou com a 
contaminação do local e muito pouco com os assuntos referentes à saúde pública. 
 
Segundo Momento 
 
 O Programa de Controle da Poluição foi implantado no dia 27 de fevereiro de 1984 
e foi divulgado, através de nove balanços trimestrais, realizados em sessões públicas em 
Cubatão, para que a sociedade pudesse acompanhar, passo a passo, a evolução dos 
cronogramas de implantação de equipamentos antipoluentes e, consequentemente, a 
redução das emissões dos diversos poluentes que degradavam o ambiente de Cubatão. 
 
IMP 1B 2B 3B 4B 5B 6B 7B 8B 9B FSP
AT
0
1
2
3
4
5
6
PROGRAMA DE CONTROLE DA POLUIÇÃO
NÚMERO DE MATÉRIAS PUBLICADAS
FSP
JT
AT
GM
 
 A pesquisa feita nas datas específicas dos balanços nos quatro jornais foi muito 
decepcionante, com exceção de A Tribuna, que acompanhou todos os resultados. Os outros 
jornais se interessaram mais pela notícia da implantação do programa e pelo primeiro 
balanço. 
 Foram publicadas 35 matérias pelos quatro jornais e consultadas 104 fontes no 
total. Dessas 35 matérias, 19 foram publicadas em A Tribuna. O Jornal da Tarde foi o 
segundo veículo que mais acompanhou os cronogramas e também o que mais ouviu 
diferentes fontes. Ambos os jornais usaram a CETESB como fonte principal, mas também 
os políticos da região argumentavam sobre todas as decisões. Também cientistas forma 
procurados para explicações mais técnicas. 
 A FSP só acompanhou os cronogramas quando estes estavam atrelados a alguma 
notícia de maior impacto, como por exemplo os estragos causados pelas chuvas de 85. 
 A grande surpresa desse momento foi a falta de interesse da Gazeta Mercantil - 
publicou só uma matéria no dia da implantação do programa - que, mesmo só tendo criado 
uma editoria de meio ambiente a partir de 1990, é um jornal dirigido a empresários 
supostamente interessados nos problemas das indústrias de Cubatão, nos investimentos e 
no desenvolvimento tecnológico para sanar os problemas de poluição. 
9 
 
PERCENTUAL DAS MATÉRIAS PUBLICADAS PELOS JORNAIS
FSP
30%
A.TRIBUNA
60%
J.TARDE
10% G.M
0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%
 
 
A B C D E F G H I J K L M N O
S1
S3
0
5
10
15
20
25
30
35
SEGUNDO MOMENTO
TIPOS DE FONTES
 
 
Terceiro Momento 
 
 A semeadura aérea foi realizada em duas etapas. O primeiro plantio foi em 
fevereiro de 1989, quando foram lançadas, via helicóptero, 750 milhões de sementes 
peletizadas de plantas pioneiras e resistentes à poluição, em 70 ha fortemente degradados, 
distribuídos numa área de 15 Km2. O segundo plantio foi em janeiro de 1990, com o 
lançamento de 1.5 bilhões de sementes peletizadas. Essa segunda etapa da semeadura foi 
feita com avião agrícola, abrangendo uma área de 140 ha de vegetação degradada. Entre os 
dois plantios houve uma revisão dos resultados do primeiro. 
 Esse assunto foi amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional, por 
constituir em uma tecnologia inédita e por ter exercido um fascínio coletivo de estar 
recuperando a natureza. 
 Em abril de 1991, uma denuncia contra a veracidade dos dados divulgados do 
projeto foi levantada pelo jornal Folha de São Paulo, em confronto com os dados sugeridos 
por uma tese de mestrado de um pesquisador que não deu nenhuma declaração para os 
jornais. O mais intrigante ponto da questão é que a pesquisa foi feita em conjunto em 
várias etapas, das quais houve a participação efetiva de vários órgãos de pesquisas, 
inclusive o qual o mestre trabalhava. E, o ponto suspeito é que o repórter que levantou a 
polêmica assumiu, depois de contestar a eficácia da semeadura, o cargo de assessor de 
imprensa, um cargo político do instituto onde trabalhava o pesquisador. 
10 
 
 A credibilidade do projeto ficou comprometida, a imagem da equipe de cientistas 
que trabalhavam no projeto desgastada perante a opinião pública e a sociedade científica e, 
a confusão que se fez na formação do leitor - até porque os resultados forma confirmados 
com a volta da vegetação na serra - decorreram devido a falta de ética de um jornalista. 
 O jornal que mais divulgou o programa de recuperação da Serra do Mar foi o 
Jornal da Tarde. Foram publicadas 23 matérias sobre os temas do terceiro momento e 
solicitadas 81 fontes. 
NÚMERO DE MATÉRIAS PUBLICADAS POR JORNAL
FSP
17%
A.TRIBUNA
44%
J.TARDE
30%
G.M.
9%
0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%
 
 As fontes mais procuradas pelos jornais foram: a CETESB, depois os outros órgãos 
participantes do projeto (IPT, IF), também as ONG’s e as universidades, oferecendo aos 
leitores uma cobertura, apesar da polêmica criada, com cunho bastante científico. 
A B C D E F G H I J K L M N O
S1
S3
0
5
10
15
20
25
30
35
TERCEIRO MOMENTO
TIPOS DE FONTES
 
 
Discussões e Conclusões 
 
 O Brasil é um país que convive entre o anacrônico e o moderno, entre o velho e o 
novo, um país que convive com dificuldades não equacionadas da ecologia humana. Por 
isso tem que absorver a realidade, dando respostas para ter seriedade. 
 Não basta ser técnico para lidar com o meio ambiente. São muitas as variáveis não 
controláveis envolvidas na questão. É muito importante que os profissionais que trabalham 
com a questão ambiental tenham sensibilidade e perspectiva política sobre tudo o que estão 
fazendo. 
 O jornalismo ambiental precisa interagir na política e na economia. Precisa 
ultrapassar as fronteiras científicas, conscientizar para transpor os limites sociais, manter-
11 
 
se atento às tecnologias do futuro, ser precursor no geral, ser observador e, principalmente 
crítico. 
 A cobertura de meio ambiente precisa, impreterivelmente, estar engajado em bases 
científicas, porque a questão ambiental é eminentemente política, e vem sendo tratada de 
maneira partidária. O jornalismo ambiental pode ser considerado passageiro se não estiver 
sedimentado em bases científicas, pois o jogo de interesses prevalecentes que visam 
sucatear, depreciar ou ridicularizar a cobertura de meui ambiente, não conseguem rotular 
ou provar o falseamento da própria evolução da ciência. 
 A questão ecológica se consolidou no Brasil com a participação polêmica na 
Conferência de Estocolmo, em 1972, quando adotando a postura de “desenvolvimento a 
qualquer custo” , o governo priorizou a vinda das indústrias poluidoras para o país, desde 
que elas significassem empregos e divisas. Época da ditadura militar, o jornalismo 
ambiental só se valia de pesquisas bibliográficas pois as fontes e os porta-vozes que 
deveriam ser os cientistas, tinham que ser preservados por causa das casacões. 
 Em 1983 iniciou-se uma estratégia diferente no tratamento das questões ambientais. 
Se antes a atitude era de intimidação e boicote às manifestações, a partir da chamada 
abertura democrática o governo convida os ambientalistas e a imprensa para participarem 
das políticas governamentais. 
 As questões ambientais começaram então a entrar em evidência. A necessidade de 
fazer alarde levou jornalistas atentos ao tema a utilizarem manchetes escandalosas e ase 
especializarem em denuncias. Tornaram-se infindáveis na imprensa as reclamações sobre 
as péssimas condições ambientais. 
 Porém, o alarde fez efeito. Aos poucos a preocupação com o ambiente ganhou 
espaços nos jornais. E, com a realização da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento Sustentável - ECO 92 - houve um aumento fabuloso no volume de 
matérias sobre meio ambiente, quando a informação massificada foi um fator determinante 
para despertar o interesse da população. Os termos técnicos exaustivamente explicados e 
veiculados pela mídia entravam finalmente no vocabulário comum dos brasileiros. Muitas 
editorias foram abertas para tratar exclusivamente do assunto ambiental no Brasil. A ECO 
92 levou a imprensa a informar e a formar as pessoas. 
 Infelizmente, depois da Conferência do Rio houve um refluxo na cobertura 
jornalística de questões ambientais. Mais uma vez, a cobertura ambiental foi dominada 
pela cobertura política. Novamente, as matérias primam muito pouco pela qualidade 
técnico-científica, pela informação, pelo dado, e muito mais por frases levianas, que são 
ditas ou pelo político partidário ou pelo ambientalista mal-informado e tendencioso. 
12 
 
 Enfim, como jornalistas ambientais ainda erramos muito e nossos erros não são 
inócuos. Muitas vezes, a divulgação inexata do que deveria se revestir de um rigor 
científico atrasa ou altera as providências práticas e as políticas de conservação. 
 Mentiras muitas vezes repetidas ao vivo, em cores, em grandes manchetes e via 
satélite, tornam-se verdades muito mais rápidas do que poderiam supor os filósofo. É o 
caso da Floresta Amazônica que por anos a fio tida como o pulmão do mundo, o que 
sabemos não ser verdade e, de repente se transformou na maior vilã do efeito estufa, por 
causa de suas queimadas. 
 O mesmo acontece com Cubatão. Cubatão continua sendo o Vale da Morte, a 
cidade onde nascem bebes sem cérebro na concepção de muitas pessoas. Brasileiros e 
estrangeiros continuam associando Cubatão com poluição. Culpa de quem? Da imprensa, é 
claro, que só se interessa por casos de impactos e não tem o hábito de concluir os assuntos 
que noticia. 
 Cubatão se transformou num grande laboratório de testes para diversas pesquisas e 
proporcionou muitas contribuições científicas como resultado dos grandes impactos e das 
grandes transformações que sofreu. Problemas existem, problemas pertinentes a um pólo 
industrial do porte de Cubatão. Mas melhorias transformaram Cubatão numa cidade 
industrial normal, com problemas cotidianos, principalmente pela sua localização indevida. 
Novos monitoramentos estão sendo planejados. 
 
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