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10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 1/20 O CONTEXTO HISTÓRICO- FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA • analisar o espaço da educação brasileira como local de continuidade e descontinuidade, ou rupturas e permanências em termos de teorias, modelos, explicações, métodos, normas e leis educacionais; • estudar o contexto histórico e as estruturas educacionais do período colonial brasileiro, em especial o sistema de ensino da Companhia de Jesus; • conhecer as condições históricas e sociais do período político denominado de Brasil Império, no que diz respeito a instituições políticas e políticas públicas em educação para a época; • analisar as principais diretrizes educacionais que se instalaram no Brasil a partir da Proclamação da República e nos primeiros anos do século XX; • identi�car e compreender os novos rumos e tendências que se con�guraram na educação brasileira a partir da Constituição de 1988. Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 2/20 Tópico 1 CONTEXTO HISTÓRICO- FILOSÓFICO EDUCACIONAL NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL Tópico 2 CONTEXTO HISTÓRICO- FILOSÓFICO EDUCACIONAL A PARTIR DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA E NOS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XX Tópico 3 CONTEXTO HISTÓRICO E INTELECTUAL DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 3/20 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Agora chegou o momento de analisarmos em linhas gerais como se deu a estruturação do ensino e das instituições educacionais no Brasil. Isso signi�ca reconhecer o que adaptamos de outras regiões e países, como a Europa e os Estados Unidos, e o que desenvolvemos de forma genuína, ou seja, o que a intelectualidade brasileira foi capaz de pensar e realizar a partir do contexto de desa�os da realidade que se apresentava. Antecipamos que o Brasil, em termos de políticas de governo em educação, por muito tempo não se preocupou em pensar uma estrutura educacional coesa e sólida que envolvesse ensino, pesquisa e extensão. Isto passou a ser uma realidade somente a partir do século XX e, hoje, no descortinar das primeiras décadas do século XXI, ainda não representa uma prática sólida e autônoma, ainda nos encontramos numa posição de dependência no que diz respeito a matrizes teóricas e metodológicas do que é produzido no exterior. Gostaríamos que estas re�exões não sejam responsáveis por desmerecer toda a jornada e luta que foi travada pelas gerações anteriores, pois sem o trabalho deles não estaríamos hoje aqui, revisitando e re�etindo o seu legado, e muito menos teríamos o ponto de partida no qual nos situamos; assim como não desestimulem ou desmotivem as superações que você, sua turma e sua geração podem fazer pelo contexto educacional atual, seja em meio à sua comunidade, região, país e/ou mundo. Neste momento, nos dedicaremos mais a descrever e explicar as estruturas políticas, as instituições e os movimentos educacionais, os métodos e os principais idealizadores de teorias pedagógicas brasileiras. Fique atento aos tópicos que compõem esta unidade, procure identi�car as continuidades e semelhanças que perpassaram cada época e, em especial, as mudanças e rupturas que possibilitaram a renovação do pensamento pedagógico no Brasil. O que compreendemos por período colonial brasileiro se refere a uma temporalidade iniciada em 1500, quando da viagem de Pedro Álvares Cabral, até a Independência do Brasil, em 1822. Todavia, estes marcos cronológicos da história brasileira não correspondem, necessariamente, aos períodos de maior intensidade nas transformações sociais que permitiram ao Brasil sua composição socioeconômica presente; de modo sistemático e cronológico, a história política brasileira se divide em três períodos: período colonial, período imperial e período republicano (FAUSTO, 2000). Votos de uma boa leitura e apropriação de conhecimentos pela frente! Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 4/20 2 O EXEMPLO DE PORTUGAL A educação brasileira, no período colonial, se relaciona às dinâmicas educacionais da metrópole; na colônia obrigatoriamente vigoraria a con�ssão religiosa da metrópole, portanto, muitas das decisões relativas às questões educacionais durante o período colonial brasileiro se relacionam às políticas portuguesas em relação às suas colônias. Por isso, devemos, antes de compreender o Brasil, analisar os antecedentes portugueses na educação. Portugal surge como nação por volta do século XIII, quando se tem no poder os reis da dinastia afonsina. Durante a chamada Revolução de Avis, de 1385, surge uma nova dinastia homônima ao movimento revolucionário. Com os reis da Dinastia Avis temos o auge das grandes navegações portuguesas. Expansão ultramarina iniciada em 1415, quando os lusitanos, liderados pelo infante D. Henrique, conquistaram a cidade de Ceuta, no norte da África. Depois tivemos as chamadas grandes viagens de Gil Eanes, que ultrapassou o Cabo Bojador; de Bartolomeu Dias, que descobriu o Cabo da Boa Esperança, e Vasco da Gama, que descobriu o caminho marítimo para as Índias. Dois anos após, as embarcações comandadas por Pedro Álvares Cabral alcançaram as praias de Porto Seguro, sendo a data “o�cial” da primeira chegada dos portugueses ao Brasil (MATOSO, 2001). Portugal confessava-se cristã católica, sendo assim o modelo antropológico e cosmovisão tomista, cuja matriz encontra-se nas obras de São Tomás de Aquino. Segundo Lauand e Sproviero (1999), a doutrina de São Tomás centra-se na noção de participação, no sentido de que os indivíduos comungam dos ideais, congregam, fazem parte do grupo ou do movimento. O que nos leva a interpretar que os novos adeptos e convertidos da fé católica deveriam ser catequizados e posteriormente demonstrá-la e professá-la de forma íntegra e convincente. Lauand e Sproviero (1999) acrescentam que o pensamento de São Tomás de Aquino foi responsável por sustentar �loso�camente as alianças que a Igreja Católica realizou com as instituições políticas e econômicas ao longo da era das grandes navegações, descobertas, colonização e catequização do Novo Mundo. A relação das grandes navegações portuguesas com a educação é um ponto de discórdia entre diversos historiadores, pois, para alguns, existiu uma instituição formada com o objetivo de educar jovens marinheiros para a “faina marítima”, isto é, para as lidas cotidianas navais. A escola teria como local de sede o promontório de Sagres, no sul da Península Ibérica. Teria como principal diretor o infante D. Henrique, que seria o principal responsável pela fundação e manutenção de uma instituição de ensino para a Marinha. Todavia, existem outros historiadores, que não concordam com a existência de tal “escola de aprendizes-marinheiros”. Isto porque as navegações, em seus aspectos Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 5/20 de maior materialidade, como a construção naval, ou teóricos, como a navegação astronômica, tiveram seu desenvolvimento ligados a uma empiria no trato com o mar, e da tradição de povos que habitam a Península Ibérica e que possuíam o hábito tradicional de contemplar as estrelas, como os judeus e árabes. Uma instituição de ensino que pode ser considerada um ponto de concórdia entre os historiadores da educação emlíngua portuguesa foi a Universidade de Coimbra. Fundada ainda no período medieval, a universidade foi formada para ser um centro intelectual do reino português. Enquanto Guimarães e posteriormente Lisboa foram as capitais políticas de Portugal, Coimbra foi a sua capital cultural, pois está nesta cidade a mais antiga universidade. Não apenas por sua tradição, mas também por sua condição enquanto universidade, Coimbra se destacou. Em geral, a principal carreira a ser seguida era a de Direito. Os letrados de Coimbra eram as principais �guras da burocracia do Império Marítimo Português. Com isso, podemos compreender algumas questões ligadas às instituições educacionais do Brasil Colonial. No Brasil, ao contrário da América Espanhola, não havia universidades (HOLANDA, 1995). Isto é, ao invés de investir em universidades no ultramar, o governo português centralizava a educação superior em uma única instituição. O Império Espanhol, ao contrário, instituiu universidades em diversos pontos de sua colônia americana, sendo a mais antiga a Universidade de São Marcos, no Peru. Tal política de educação superior da realeza lusitana possuiu pontos positivos e negativos. Os pontos negativos podem ser enumerados na di�culdade de acesso ao Ensino Superior aos súditos lusitanos na América Portuguesa, além da pouca produção intelectual, algo que a presença de uma universidade pode fomentar, porém, entre os pontos positivos, está a de uma mentalidade uniforme entre os burocratas do reino português, pois alguns homens teriam de exercer, em uma mesma existência, cargos de poder em pontos distintos do globo, como na Ásia, na África e no Brasil. A educação desde os tempos mais longínquos consiste em um dos principais vetores na divulgação de novas ideias políticas, �losó�cas e cientí�cas. Por isso, os Estados nacionais, durante o Antigo Regime, possuíam um profundo controle não apenas nas instituições universitárias, como também sobre todas as produções intelectuais. Em Portugal existiu a denominada Mesa de Consciência e Ordem, órgão responsável pela censura de livros, peças teatrais e demais obras a serem publicadas no reino e nos domínios de ultramar. Todavia, para se estabelecer o “certo” e o “errado” do ponto de vista intelectual, temos de compreender as disputas intelectuais no interior do reino português quinhentista. No Portugal dos Quinhentos, dois grupos sociais lutavam pela hegemonia das ideias: os erasmianos e os neoescolásticos. Os erasmianos eram os intelectuais Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 6/20 ligados às ideias de Erasmo de Roterdã. Tal postura intelectual era ligada a in�uências agostinianas e humanísticas, típicas do Renascimento europeu: o pensamento neotomista. A concepção erasmiana era in�uenciada pelo platonismo agostiniano, enquanto os neoescolásticos eram ligados ao pensamento de São Tomás de Aquino. O pensamento erasmiano foi fecundo em Portugal na primeira metade do século XVI. Damião de Góis foi um dos principais intelectuais erasmianos portugueses. O termo erasmiano é oriundo de Erasmo de Roterdã, intelectual importante no século XVI, autor de um clássico do pensamento ocidental chamado Elogio da Loucura. Os erasmianos realizaram uma obra educacional interessante no afamado Colégio das Artes de Coimbra. Todavia, são expulsos e colocados sob suspeita. Em Portugal, assim como na Espanha, se debateu qual é o melhor método �losó�co, e os neoescolásticos ganharam a disputa. Os jesuítas eram os principais neoescolásticos e foram os religiosos que substituíram os erasmianos no colégio coimbrão. Esta substituição é um marco na mudança de rumos da educação durante a Idade Moderna portuguesa. Um dos marcos da colonização portuguesa nos trópicos da América foi a instalação do Governo Geral em 1550. Este foi acompanhado por religiosos jesuítas, que se instalaram no Brasil e marcaram profundamente a história brasileira nos séculos XVI e XVII, a ponto de se atribuir uma máxima ao historiador Capistrano de Abreu, cuja História do Brasil dos dois primeiros séculos é a história da Companhia de Jesus. Na tentativa de explicar a instauração dos modelos de civilização, educação e aculturação da metrópole na colônia, Saviani (2004, p. 123) colabora descrevendo que “[...] no caso da educação instaurada no âmbito do processo de colonização tratava-se, evidentemente, de aculturação, já que as tradições e costumes que se busca inculcar decorrem de um dinamismo externo, isto é, que vai do meio cultural do colonizador para a situação objeto de colonização”. Segundo Paiva (1978), havia o projeto de transformação de costumes, que deveria alcançar e sensibilizar desde as organizações familiares, a estrutura de governo, a geogra�a das aldeias e as relações no interior das mesas, entre outros aspectos, almejando a superação dos costumes autóctones sob o pretexto de obter a salvação das almas. Em outras palavras, os hábitos selvagens dos povos nativos deveriam ser suprimidos e em seu lugar cultivados os valores da civilização, aqueles ainda da antiguidade clássica de Aristóteles e Platão, de superar os vícios por meio do hábito constante das virtudes. Segundo Saviani (2007, p. 41), diversas ordens religiosas, tais como franciscanos, beneditinos, carmelitas, mercedários, oratorianos e capuchinhos desenvolveram Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 7/20 ações educativas e religiosas em terras brasileiras, mas foram os jesuítas que as consolidaram ao longo da maior parte do período colonial. Logo, se faz necessário aprofundar os conhecimentos sobre elas. A Companhia de Jesus foi fundada por volta de 1530, por Inácio de Loyola, um basco que, desejando se tornar cavaleiro, �cou ferido e, se tratando em um mosteiro, solicitou ler sobre aventuras da cavalaria, mas acabou lendo a única literatura disponível no mosteiro, as hagiogra�as, isto é, a escrita sobre a vida de santos. Inspirado por esta literatura religiosa, acabou por fundar uma Companhia de Soldados de Cristo. Possuem os mesmos o lema Ad Majorem Gloriam Dei (Para a Maior Glória de Deus), como sigla as letras SJ, além de uma regra de vida comum própria. Dois livros são marcas do pensamento inaciano: Os exercícios espirituais e a Ratium Studiorum (SEBE, 1981). A Companhia de Jesus tinha como �nalidade traduzir em ações a fé que professava; não lhe bastando meditar e orar, daí o fervor missionário, de caráter militante e combatente, que moveu os seguidores a considerar a cruz e a espada como faces de uma mesma moeda. A Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e Organização de Estudos da Companhia de Jesus) foi publicada no ano de 1599, continha as regras que orientavam todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao ensino. Abrangia desde as regras do Provincial, passando pelas do Reitor, do Prefeito de Estudos, dos professores de modo geral e de cada matéria de ensino, abrangendo as regras da prova escrita, da distribuição de prêmios, do bedel, chegando às regras dos alunos e concluindo com as regras das diversas academias. BEDEL: ou disciplinador; nome dado ao responsável por aplicar a disciplina no interior dos espaços escolares, é comum também o nome ser utilizador para referir e denominar os pro�ssionais que são responsáveis pelas atividades burocráticas. Tobias (1987) explica que, além da �nalidade de aculturar e converter os nativos brasileiros, a educação desenvolvida no Brasil almejava formar padres, e que a estrutura familiar do Brasil, que se caracterizava por ser numerosa, fornecia condições favoráveis para tal, sendo que: “o primeiro �lho tinha que ser o herdeiro da herança material do pai; o segundo, o intelectual da família; o ‘terceiro �lho’ ‘entrava para a Igreja” (TOBIAS, 1987,p. 80). Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 8/20 3 FUNDAMENTOS DO MODELO E MÉTODO JESUÍTICO DE ENSINO Os portugueses que gradualmente chegaram ao Brasil traziam os modelos e concepções que estavam em voga em Portugal e na Europa medieval. Os jesuítas se instalaram em diversos pontos do país. Dois dos mais afamados jesuítas que atuaram no Brasil colonial foram os padres José de Anchieta e Antônio Vieira. A importância da educação jesuítica para a história brasileira é incontável, pois foram eles os fundadores do Colégio de São Paulo de Piratininga, que deu origem à atual cidade de São Paulo, a maior metrópole brasileira. Os jesuítas possuíam como método de estudo o Ratium Studiorum, pelo qual os estudantes eram disciplinados, ligando as ideias de Inácio de Loyola com o cotidiano dos alunos. Na colônia, as principais instituições eram as vinculadas ao ideal jesuítico. O Colégio de Salvador possuiu grande qualidade acadêmica, a ponto de as autoridades coloniais solicitarem uma equiparação do Colégio Jesuíta de Salvador com a Universidade de Coimbra. Equiparação esta que não ocorreu por questões políticas. Quanto aos indígenas, a ação jesuítica foi muito intensa. Eles organizaram sua ação com relação às maneiras de catequizar através das reduções, formas de atrair os indígenas e nelas também explorar sua mão de obra, em especial nas denominadas “drogas do sertão”, isto é, as especiarias brasileiras, como castanhas. No interior da América do Sul, entre os territórios do Paraguai, Paraná e Rio Grande do Sul, a ação dos jesuítas com os indígenas foi grande, nas chamadas missões, nas quais os jesuítas in�uenciaram a cultura. Os padres traduziram as histórias bíblicas para o idioma guarani, até hoje a língua o�cial dos paraguaios, ao lado do espanhol. Em relação ao idioma, em muitas localidades do Brasil Colonial, a chamada língua geral, uma forma de tupi-guarani padronizado pelos jesuítas, era língua corrente. As reduções que foram edi�cadas no interior do Rio Grande do Sul, quando da expulsão dos jesuítas do Brasil, passaram por um longo período de declínio e decadência e hoje restam apenas ruínas das estruturas edi�cadas, que abrigavam as unidades de educação, trabalho e moradias. As edi�cações mais expressivas encontram-se na cidade de São Miguel das Missões, que foi reconhecida como sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo e, em 1983, declarado patrimônio mundial pela Unesco. Observe a imagem a seguir da estrutura que a redução possuía, bem como uma imagem do local na atualidade: FIGURA 23 - ESTRUTURA DA REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO, SIMULAÇÃO DA ESTRUTURA ORIGINAL Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 9/20 FONTE: Disponível em: <http://compartilhandoescritas.blogspot.com.br/2012/06/missoes- jesuiticas-os-sete-povos-das.html>. Acesso em: 30 out 2016. FIGURA 24 - REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES-RS, IMAGEM ATUAL FONTE: Disponível em: <http://portaldasmissoes.com.br/site/view/id/406/ruinas-de-sao- miguel-arcanjo-sitio-arqueologico.html>. Acesso em: 29 out. 2016. Silva (2012) procura explicar que: A didática dos jesuítas era �el aos fundamentos de sua pedagogia, reproduzindo, quase que completamente, o modelo medieval escolástico. Conteúdos e formas de ensino, assim, manteriam os professores e os estudantes sob a tutela magisterial da igreja, principalmente porque a livre interpretação das escrituras e a salvação pela fé eram bandeiras protestantes que atribuíam liberdades exageradas aos �éis, do ponto de vista católico. Se nos séculos XVI e XVII os jesuítas se destacaram nos aspectos educacionais da colônia, tal assertiva não corresponde ao século XVIII, no qual a ordem inaciana perdeu grande parte de seu prestígio, e em 1759 os jesuítas foram expulsos do Brasil. Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 10/20 Por reformas pombalinas ou reformas ilustradas são denominadas as transformações político-sociais empregadas por um conselheiro do rei D. José I, José Sebastião de Carvalho Mello, que tinha o título de nobreza Marquês de Pombal. De maneira geral, possuíam caráter iluminista, racionalista e defendiam o estado laico, ou seja, o governo político sem a in�uência da Igreja. A partir daquele momento foram organizadas as aulas régias, avulsas e que seriam ministradas por um professor pago pela Coroa portuguesa. Ao tentar modernizar o Estado português, Pombal in�uiu em diferentes campos da sociedade, com re�exos na educação, pois uma de suas medidas em relação ao contato do Estado português com os indígenas brasileiros foi instituída em um dispositivo legal, o Diretório dos Índios do Grão-Pará e Maranhão. Nesta lei, Pombal instituiu que as reduções deveriam ser comandadas não mais por religiosos, mas por funcionários do Estado. Com isto, o poder dos jesuítas diminuiu. Este poder jesuítico acabou com a expulsão desta ordem religiosa dos territórios portugueses (FAUSTO, 2000). Para substituir os Soldados de Cristo foram denominados irmãos da Ordem do Oratório, como substitutos dos inacianos nas instituições religiosas. Em grande parte, pela similaridade do carisma das duas ordens em pregar o evangelho, além dos interesses econômicos por parte da monarquia portuguesa, que via na Companhia de Jesus uma concorrente comercial. A expulsão dos jesuítas signi�cou uma profunda alteração, pois eles eram os principais promotores da educação brasileira. PARA REFLETIR: Caro acadêmico, ao longo de todo o período do Brasil Colonial não existiram universidades em nosso país. Até que ponto esta característica de nossa colonização nos prejudicou no que diz respeito ao desenvolvimento educacional? O período colonial foi um tempo de forte controle sobre a estruturação e o desenvolvimento do Brasil; o país não era impedido somente de criar universidades, como também de estruturar atividades industriais. Para compreender o grau de controle que Portugal exercia sobre o Brasil e os alcances do domínio que exercia, observe a passagem a seguir, que ilustra uma das determinações da rainha Maria I, que governou o Brasil e Portugal entre os anos de 1777 e 1815: O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da terra. Os seus habitantes têm, por meio da cultura, não só tudo quanto lhes é necessário para o sustento da vida, mais ainda artigos importantíssimos, para fazerem, como fazem, um extenso comércio e navegação. Ora, se a estas incontáveis vantagens reunirem as das indústrias e das artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, �carão os mesmos totalmente independentes da metrópole. É, por conseguinte, de absoluta Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 11/20 necessidade acabar com todas as fábricas e manufaturas no Brasil (Alvará de 05.01.1785 in Fonseca, 1961- D. Maria I- A louca). Tendo em vista as implicações destas determinações ao processo histórico de desenvolvimento do Brasil, passam a fazer sentido muitos dos problemas em termos de desenvolvimento e justiça social que ainda se apresentam em nossa época. Caro acadêmico! Vamos adiante nos estudos. O cenário histórico, social, político e �losó�co passa por signi�cativas alterações a partir da mudança do sistema colonial ao sistema monárquico. Prossiga na leitura. 4 FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NA ÉPOCA IMPERIAL Nos mais de 80 anos em que o Brasil foi governado pelo regime de monarquia (1808-1889), o sistema educacional atuava em três níveis: o ensinoelementar (ou primário), o ensino secundário e o ensino superior. Piletti (2006) destaca que o ensino no Brasil Império era fragmentado em aulas avulsas (e dispersas), caracterizando conteúdos totalmente desconexos para o ensino elementar e o ensino secundário. Deve-se considerar ainda que não havia exigência de conclusão de uma forma de ensino para alcançar a outra fase, ou seja, mesmo sem concluir o ensino elementar, o ensino secundário poderia ser acessado. A con�guração social do Brasil no século XIX não favorecia investimentos à educação primária. A Constituição, outorgada em 1824, destacava que “A instrução primária é gratuita para todos os cidadãos [...]”, mas o número de escolas era reduzido. Foi somente em 15 de outubro de 1827 que a Assembleia Legislativa aprovou a primeira lei sobre a instrução pública nacional do Império Brasileiro. Esta lei estabelecia que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras letras [ler, escrever, contar] que forem necessárias” (WEREBE, 1994, p. 63). A Constituição do Brasil também determinava os conteúdos das disciplinas a serem ministradas nas escolas primárias e secundárias. Destacavam- se os princípios da moral cristã e de doutrina da religião católica e apostólica romana. A preferência acerca dos temas, para o ensino de leitura, era para a Constituição do Império e História do Brasil (AZEVEDO, 1971). O Ato Adicional, de 6 de agosto de 1834, instituiu as Assembleias Legislativas Provinciais, com o poder de elaborar o seu próprio regimento, desde que não ferissem as imposições gerais do Estado. Cada província passava a responder pelas diretrizes e pelo funcionamento das suas escolas de ensino elementar e secundário. Di�culdades surgiram quanto aos moradores dos lugares distantes, devido à falta de escolas e de professores. Outro Ato Adicional, em 1835, instituiu Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 12/20 as Escolas Normais, que objetivavam formar docentes. Embora houvesse muitas leis, na prática os investimentos na área educacional por parte do governo eram mínimos e atendiam somente a população elitizada (NASCIMENTO, 2004). O surgimento das Escolas Normais (em Niterói, Bahia, Ceará e São Paulo) ampliou um pouco a formação docente. No entanto, o título de bacharel, necessário para acessar o Ensino Superior, só era frequentado pela sociedade abastada, que se formava para manter a elite como dirigente social. Em 1840 existiam 441 escolas primárias, sendo o Colégio Pedro II considerado escola modelo no país (AZEVEDO, 1971). O governo imperial estabeleceu, em 1854, algumas normas para o exercício da liberdade de ensino e de um sistema de preparação do professor primário, bem como a criação do ensino para cegos e surdos-mudos. A iniciativa privada foi responsável pela criação do Liceu de Artes e Ofícios, em 1856. Embora essas normas tivessem sido ideias produtivas e que geraram avanços na área educacional, não produziram resultados satisfatórios (NASCIMENTO, 2004). A partir de 1843, mesmo sem permissão o�cial, a Companhia de Jesus retoma a missão no Brasil e funda o Colégio Catarinense, em Florianópolis, e a Escola de Latim, em Porto Alegre. No Recife, em 1873, um colégio jesuíta é fechado pela hostilidade da maçonaria e do imperador D. Pedro II. Com o passar do tempo, a Companhia de Jesus fundou novos colégios e faculdades em todo o país (WEREBE, 1994). Em 1879, a reforma de Leôncio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, possibilitando o surgimento de colégios protestantes e positivistas, além de colégios privados. Ainda assim, o período do governo imperial brasileiro terminou deixando muitas lacunas quanto à acessibilidade, qualidade e interesse no sistema educacional, pois a população analfabeta ultrapassava 67% dos brasileiros (NASCIMENTO, 2004). Embora a educação sempre tenha sido pensada no Brasil como instrumento de domínio, desde que os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal, a educação teve como característica a simpli�cação e abreviação dos estudos. O ensino secundário deixou de ser organizado em cursos e passou a ser aplicado em aulas avulsas, ou seja, um processo rápido e básico de ensino, em que o aluno ia até o professor para obter conteúdos para sua formação (HAIDAR, 1972). Em nível mundial, em 1827 ocorreu a criação da escola das primeiras letras, idealizada por Andrew Bell, pastor anglicano, e Joseph Lancaster, pastor Quacker. De maneira geral, ambos propunham uma metodologia em que prevalecia a disciplina e hierarquização do espaço, no qual o professor supervisionava a classe e indicava o estudante mais avançado para auxiliá-lo; além disso, as preocupações Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 13/20 e os objetivos das atividades restringiam-se em silabar e soletrar, e o método avaliativo centrava-se no aproveitamento e no comportamento do estudante. FIGURA 25 - JOSEPH LANCASTER FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Lancaster#/media/File:Joseph_Lancaster_by_John_Hazlitt.jpg>. Acesso em: 30 out. 2016. Tais diretrizes foram adaptadas ao Brasil, por meio de aulas régias, nas quais usava-se o Método Lancaster (1789), em que as crianças tinham noção de leitura, cálculo, escrita e catecismo. Devido à falta de professores, um professor atendia cerca de 100 alunos e escolhia seus melhores discípulos para auxiliar outros dez alunos (chamado de método decúria, em que o ajudante era um decurião). Apesar das evidentes di�culdades e falhas, considerando-se que a aprendizagem girava em torno do conhecimento de colegas da própria classe, esse método prevaleceu por 15 anos no país (FÁVERO, 2002). Com professores mal preparados e mal remunerados, com a di�culdade de locomoção dos alunos e com o total desinteresse do governo, a educação permaneceu estagnada. As aulas régias foram extintas em 1857 por não abrangerem as disciplinas necessárias para acessar o Ensino Superior (latim, comércio, geometria, francês, retórica e �loso�a) (AZEVEDO, 1984). Como alternativa a este cenário existiam, desde 1835, os liceus provincianos, que funcionavam nas capitais brasileiras e que tinham como objetivo reunir todas as aulas avulsas em um mesmo lugar, construindo assim os primeiros currículos seriados. Os liceus atendiam aos alunos de 10 a 18 anos, pertencentes ao ensino secundário, que hoje corresponde à faixa etária que vai do sexto ano ao Ensino Médio. Receberam este nome para diferenciar-se dos colégios que ofereciam o ensino primário. Nos liceus, o aluno poderia escolher a ordem e a quantidade de disciplinas que quisesse cursar ao mesmo tempo, formando uma reunião de aulas avulsas, mas que atendiam às disciplinas exigidas nos exames preparatórios para o Ensino Superior (HAIDAR, 1972). Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 14/20 Muitos liceus surgiram e se tornaram importantes, mas no Rio de Janeiro foi criado, em 1837, o Colégio Pedro II (também chamado de Colégio Imperial Pedro II e de Ginásio Nacional), considerado o liceu modelo em todo o país. FIGURA 26 - COLÉGIO D. PEDRO II , DESENHO DE 1856 Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_educa%C3%A 7%C3%A3o_no_Brasil#/media/File:Colegio_Pedro_II_(1856).jpg>. Acesso em: 5 nov. 2016. De 1835 até 1959 foram criadas 21 instituições de ensino secundário, e destas, 17 foram chamadas de liceu (FÁVERO, 2002). Nos liceus, sobretudo no Colégio Pedro II, após estudar por sete anos conteúdos variados, embora fragmentados, o estudante (masculino, pois as mulheres não podiam cursar o ensino secundário, a pro�ssão de professorera exclusivamente masculina) recebia a carta de bacharel em Letras. Depois de prestar juramento perante ao Ministro do Império, o estudante tinha o direito de lecionar para o primário. Estas escolas tinham a intenção de disponibilizar mão de obra que aceitasse os salários pagos pelo Estado. No entanto, embora sanasse a carência de professores, começaram a faltar alunos devido ao alto preço dos materiais didáticos, que não eram gratuitos (AZEVEDO, 1984). Proibidas de criarem cursos de nível superior, prerrogativa exclusiva do governo nacional, as províncias passaram a tentar estabelecer liceus técnicos, dando ênfase a disciplinas como Química, Física, Botânica e Agricultura. Assim, efetivaram-se as escolas técnicas voltadas a mercados como enfermagem, contabilidade, agricultura, pedagogia, desenho, artí�ces, costura, prática manual, música, artes plásticas etc. (HAIDAR, 1972). O retorno dos jesuítas ao Brasil em 1842, ainda que sem autorização do governo, proporcionou a fundação de vários colégios particulares de ensino secundário Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 15/20 (para meninos, e mais tarde para meninas). Diante disso, criou-se rapidamente uma rede amplamente disputada pela elite brasileira e seguida por outras instituições que também investiram na formação particular. Assim, essas instituições supriram parte da necessidade de formação educacional que deveria ser atribuição do Estado (HAIDAR, 1972). Data deste contexto a criação de instituições como o Colégio Caraça de 1820, em Minas Gerais; o Colégio Mackenzie, de 1870, na cidade de São Paulo; o Colégio São Luís, que iniciou as atividades em Itu, em 1867, e que em 1919 foi transferido para São Paulo; o Colégio Internacional, de 1873, em Campinas; o Colégio Americano, de 1885, em Porto Alegre, entre outros. O desprezo que a elite nutria pelo trabalho, sobretudo pelo trabalho manual que estava bem de acordo com a estrutura social e econômica vigente, explica em parte o abandono do ensino no primário e o total desinteresse pelo ensino pro�ssional. A repulsa pelas atividades manuais levava essa elite a considerar vis as pro�ssões ligadas às artes e aos ofícios. Só mesmo o descaso com que o ensino primário era tratado e a falta de visão na busca de soluções para os problemas educacionais permitem entender a adoção por tanto tempo do método lancasteriano nas escolas brasileiras. (WEREBE, 1974, p. 369). A fundação de escolas particulares não garantiu um ensino de qualidade ao Brasil Imperial, pois o objetivo da iniciativa privada era o êxito �nanceiro. Sem, no entanto, se preocupar em discutir ou tentar melhorar as condições econômicas e sociais do país ou ajudar no desenvolvimento nacional (FÁVERO, 2002). O Ensino Médio gratuito para as mulheres só foi conquistado no �m do Império, antes, somente as escolas particulares ofereciam a modalidade. Ainda assim, no setor privado, as mulheres eram mantidas em escolas ou salas separadas, com ensinamentos diferenciados, voltados à vida doméstica, à maternidade e à religião. O conteúdo intelectual e cientí�co ainda era exclusivamente masculino (NASCIMENTO, 2004). Vale destacar ainda que a chegada de imigrantes ao país também fez surgir escolas voltadas aos imigrantes. Algumas eram comunitárias, outras eram particulares, geralmente mantidas por entidades religiosas do país de origem ou laicas. No entanto, essa iniciativa não ocorreu com todos os imigrantes. Destacaram-se, nesse sentido, alemães, italianos, poloneses e japoneses (TRAVERSINI, 1998). ENSINO SUPERIOR: No período colonial, existiam no Brasil apenas cursos superiores de Filoso�a e Teologia, oferecidos pelos jesuítas, pois Portugal Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 16/20 impedia o desenvolvimento do Ensino Superior nas suas colônias, temendo contribuir com os movimentos de independência. Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, a partir de 1808, o Ensino Superior passou a existir em instituições formais. Foram criadas as escolas de Cirurgia e Anatomia em Salvador (hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia), a de Anatomia e Cirurgia, no Rio de Janeiro (atual Faculdade de Medicina da UFRJ) e a Academia da Guarda Marinha, também no Rio de Janeiro. Dois anos depois foi fundada a Academia Real Militar (atual Escola Nacional de Engenharia da UFRJ). Seguiram-se o curso de Agricultura em 1814 e a Real Academia de Pintura e Escultura. Foram propostos 24 projetos para criação de faculdades [e não universidades] no período 1808-1882, mas nenhum deles foi aprovado. Ao Brasil não interessava formação superior, que não trazia mais que formação a poucos pro�ssionais liberais e prestígio social. Depois de 1850 observou-se uma discreta expansão do número de instituições de Ensino Superior, mas a capacidade de investimentos dependia do governo central e de sua vontade política (inexistente). Até o �m do século XIX existiam somente 24 estabelecimentos de Ensino Superior no Brasil, com cerca de 10 mil estudantes, em que se destacava a Faculdade de Medicina (CUNHA, 2007). Em 19 de abril de 1879, o ministro do Império, Leôncio de Carvalho, propôs a reforma do ensino primário e secundário no município da Corte, e do Ensino Superior em todo o Império, publicando o Decreto de nº 7.247/1879. Todavia, o decreto somente rea�rmou a liberdade de criação de escolas particulares quanto à oferta de Ensino Superior no país. Cabia ao Império a �scalização para a garantia de moralidade e de condições de higiene nesses cursos (MOROSINI, 2005). As faculdades privadas que funcionassem regularmente pelo período consecutivo de sete anos, com outorga de grau acadêmico para 40 alunos no mínimo, receberiam do governo o título de “faculdade livre”, com todos os privilégios e vantagens outorgadas às escolas o�ciais (BRASIL, 1879), § 1º, art. 21 do Decreto 7.247). Conforme Morosini (2005), a criação de cursos superiores no Brasil Império foi marcada por cursos isolados e pro�ssionalizantes, desvinculando teoria e prática. Os principais cursos eram voltados ao ensino médico, engenharia, direito, agricultura e artes. A revisão e valorização do Ensino Superior só teve amplitude no país após a Proclamação da República. Ressalta-se ainda que essas instituições não eram universidades, estas só foram criadas a partir do século XX (CUNHA, 2007). Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 17/20 Resumo do Tópico Caro acadêmico! Apresentamos acima como se deu a formação das primeiras faculdades e universidades do Brasil; estas nomenclaturas são muito ouvidas em nossa época e, muitas vezes, não se sabe ao certo o que cada uma signi�ca; agora, neste momento, aproveitamos para diferenciar no que consiste uma instituição de Ensino Superior que é denominada de ‘Universidade’, a que é chamada de ‘Faculdade’ e o que leva o nome de ‘Centro Universitário’. UNIVERSIDADE: oferece atividade de ensino, pesquisa e extensão à comunidade; não precisam de autorização do MEC (Ministério da Educação) para abrir cursos; precisam ter 1/3 do corpo docente de mestres e doutores, 1/3 dos docentes com carga horária integral e pelo menos quatro cursos de pós-graduação stricto sensu. CENTRO UNIVERSITÁRIO: possui curso de graduação em várias áreas do conhecimento e autonomia para criar cursos no Ensino Superior, 1/3 do corpo docente de mestres e doutores e 1/5 dos docentes com carga horária integral. FACULDADE: instituições que oferecem um número mais reduzido de cursos e em uma determinada área do saber, não possuem autonomia para criar cursos sem a autorização do MEC e o corpodocente precisa ter pelo menos pós-graduação lato sensu. Agora lançamos o desa�o para que você pesquise as diferenças que existem no que diz respeito às modalidades de pós-graduação, que são lato sensu e stricto sensu. Para tanto, acesse o site do Ministério da Educação, disponível em: <http://www.mec.gov.br/>. Neste tópico você viu que: • A educação que prevaleceu na época colonial era oriunda do modelo institucional da Companhia de Jesus, idealizado por Santo Inácio de Loyola, por volta de 1534, a �m de expandir os dogmas e converter �éis à Igreja Católica. Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 18/20 Autoatividades • Os integrantes da Companhia de Jesus eram chamados de jesuítas e o método que utilizavam foi o da catequese, no qual a função social da educação era de caráter religioso, sendo os clérigos os principais educadores. • Com a expulsão dos jesuítas e o cumprimento das reformas pombalinas foram implantados, no Brasil, os modelos de educação que se encontravam em voga na época na Europa, que eram os dos pastores Andrew Bell e Joseph Lancaster, que haviam formulado uma modalidade de ensino que previa a indicação e a participação de estudantes mais avançados para atuar como tutores em meio às atividades pedagógicas realizadas pelos professores. • As reformas pombalinas estavam alinhadas aos valores iluministas, racionalistas e advogavam em defesa do Estado laico. • A estrutura educacional da época imperial pode ser sintetizada no modelo de aulas régias e liceus; as aulas régias correspondiam ao ensino primário, e os liceus ao ensino secundário; havia pouco interesse e investimento por parte do governo, pois as elites enviavam seus �lhos para estudar na Europa. • Na época imperial formaram-se diversas instituições de ensino, porém extremamente elitistas, que desvalorizavam os trabalhos manuais e as artes, apresentavam restrições às mulheres, que eram mantidas em salas separadas e com conteúdos que tratavam da vida doméstica, maternidade e ensinamentos religiosos. • Tanto no período colonial como no imperial, o Brasil possuía um Ensino Superior insu�ciente, isso se deve ao fato de que no período colonial foi impedida a criação de universidades. Somente no período imperial, a partir da existência de escolas normais, foram emitidos os primeiros títulos em Ensino Superior. UNIDADE 3 - TÓPICO 1 1 As ordens religiosas mantidas pela Igreja Católica possuem uma incomensurável importância para o desenvolvimento educacional do Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 19/20 A) Os jesuítas foram apenas mais uma das ordens católicas a pisar o solo brasileiro, sem maior importância que as demais ordens religiosas que aqui trabalharam. B) Os jesuítas foram os principais religiosos a pregar o evangelho no Brasil colonial, respeitando a diversidade cultural e desejando catequizar os indígenas. C) Os jesuítas foram os principais religiosos a catequizar os indígenas. Sua ação os fez aprender o idioma tupi-guarani. A sua e�cácia nas ações na América Portuguesa chegou a rivalizar com a Coroa, o que explica sua expulsão dos territórios ultramarinos portugueses no século XVIII. D) Os jesuítas não obtiveram êxito na sua pregação evangélica, em grande parte por se negarem a aprender o idioma indígena. Sua pouca produtividade no processo colonizador foi patente. Por isso, foram expulsos dos territórios ultramarinos portugueses pelo Marquês de Pombal, no século XX. Responder A) A criação de cursos superiores possibilitou a construção de um pensamento brasileiro autônomo, não mais ligado à antiga metrópole, a Inglaterra. B) A criação de cursos superiores no Brasil Império não alterou o panorama da educação brasileira. C) A criação de cursos superiores no Brasil, durante o século XIX, possibilitou uma ampliação do acesso dos brasileiros às faculdades. Ocidente. Assim compreendendo, pergunta-se: qual é a importância dos jesuítas para a educação brasileira colonial? Assinale a alternativa correta: 2 As instituições de Ensino Superior foram criadas no Brasil apenas após a vinda da família real portuguesa, em 1808. Assim compreendendo, pergunta- se: qual é a importância da criação dos cursos superiores no Brasil, a partir da vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro? Assinale a alternativa correta: Unidade 3 - Tópico 1 10/09/2020 Livro Digital - Contexto Histórico-Filosófico da Educação https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade3.html?topico=1 20/20 acu dades. D) A criação de cursos superiores no Brasil só aconteceu com a fundação da Universidade de São Paulo, nos anos 1930. Responder Unidade 2 Tópico 2 Conteúdo escrito por: Todos os direitos reservados © 2019 Prof. Graciela Márcia Fochi Prof. Thiago Rodrigo da Silva Unidade 3 - Tópico 1 https://livrodigital.uniasselvi.com.br/FIL17_contexto_historico_filosofico_da_educacao/unidade2.html?topico=3
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